Nigel McCourry não conseguia dormir, e quando dormia, era acordado pelos pesadelos do que havia feito no Iraque.
McCourry, que foi ao Iraque como um arvorado (cabo) em um pelotão de armas do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA (U.S. Marine Corps), ficava parado na janela de seu apartamento em Asheville, Carolina do Norte, até 4 ou 5 da manhã, convencido de que alguém estava vindo para pegá-lo.
Nigel McCourry toca guitarra em sua nova casa em Asheville, Carolina do Norte em uma Quinta-Feira, 21 de Maio de 2015. McCourry, um ex-fuzileiro naval, sofreu de problemas de sono e ansiedade aguda provocados pelo Transtorno do Estresse Pós-Traumático, mas participou de um estudo clínico na Carolina do Sul combinando terapia e a droga MDMA, e reduziu dramaticamente seus sintomas.
Multidões o aterrorizavam. Em outras ocasiões, ele tinha a estranha sensação de viver sua vida numa perspectiva de terceira pessoa, como se estivesse assistindo um filme sobre si mesmo. E poderia facilmente tornar-se num filme de terror, especialmente quando relembrava aquele momento de 2004, durante um tiroteio ao sul de Bagdá, em que ele e um artilheiro abriram fogo num caminhão que se recusava a parar enquanto aproximava-se de seu pelotão.
Nigel McCourry senta-se para um retrato em seu antigo apatamento enquanto se muda para Asheville, Carolina do Norte.
Duas pequenas meninas, não mais que 4 e 6 anos de idade, estavam no caminhão junto ao pai. Este sobreviveu, mas as filhas não, e McCourry não conseguiu tirar de sua mente as imagens encharcadas de sangue consequentes daquele dia.
Nigel McCourry limpa e arruma seu antigo apartamente em Asheville.
Diagnóstico de TEPT (Transtorno do Estresse Pós-Traumático)
Levou sete longos anos para receber um diagnóstico da Administração de Veteranos (Veteran Administration, VA) de que ele sofria de transtorno do estresse pós-traumático. Nessa altura, em 2011, ele estava afastado da maioria de sua família e amigos e havia se isolado cada vez mais. Ele estava bebendo muito, o que “amenizava” mas não abordava a culpa, raiva e medo subjacente que ele sentia.
A VA prescreveu terapia e uma série de medicamentos — antidepressivos, antipsicóticos e ansiolíticos — que pareciam causar mais problemas do que resolvê-los.
Então sua irmão ouviu falar sobre um estudo em que um par de psicólogos estavam dando terapia intensiva a veteranos em conjunção a uma droga chamada MDMA, também conhecida como ecstasy.
McCourry havia tomado metade de um ecstasy certa vez antes, durante seu último ano de escola em um clube de dança com amigos.
“Eu não posso dizer com certeza se era MDMA, mas não foi uma noite desagradável,” disse ele.
Nigel McCourry deixa sua nova casa em Asheville.
Acontece que o estudo estava sendo conduzido na Carolina do Sul, não distante da Universidade Furman (Furman University) em Greenville, onde McCourry estava estudando bioquímica. Ele se inscreveu, e em maio de 2012 teve sua primeira sessão, que envolveu engolir uma dose de MDMA e passar as próximas seis horas conversando com dois psicoterapeutas sobre suas experiências no Iraque.
“Foi extraordinário,” McCourry disse. “Meus problemas de sono melhoraram depois da primeira sessão. Três anos depois, eu ainda tenho a garrafa de Ambien de pílulas de dormir que a VA me deu. Eu não precisei usá-las.”
McCourry fez mais quatro das sessões de seis horas de psicoterapia assistida com MDMA nos cinco meses sequentes.
“As sessões eram muito cansativas e muito desafiadoras,” ele disse. “Eu confrontei alguns de meus maiores medos subjacentes e problemas psicológicos. Depois, eu me senti exausto.”
Olhando para trás, disse McCourry, “eu não me sinto curado do TEPT, mas agora eu consigo manejar meus sintomas de uma maneira muito melhor. Agora minhas ações não causam grandes interrupções no trabalho, na escola ou com família e amigos. … Agora, eu posso ter uma namorada. Antes, eu terminava depois de duas semanas.”
McCourry agora trabalha para uma pequena empresa farmacêutica em Asheville. Ele acredita que o MDMA lhe deu uma maior compreensão de seus problemas, mas também que a droga funciona por “balancear a química do cérebro”.
“[O MDMA] prepara o cérebro para ter uma experiência de cura,” ele disse. “Quando eu estava sob o efeito do MDMA, eu senti pela primeira vez que era capaz de ver claramente os componentes individuais que trabalhavam juntos para criar o TEPT. Antes, parecia apenas um amontoado bagunçado de lixo psicológico do qual eu não conseguia trabalhar. Foi como se o MDMA me deu uma vista aérea do terreno.”
Estudo mostra bons resultados
McCourry não estava sozinho. A pesquisa da Carolina do Sul, liderada pelo psiquiatra Michael Mithoefer, descobriu que 80% dos 20 pacientes do estudo não tinham sintomas de TEPT dois meses depois da conclusão do tratamento, comparado com 25% dos que tomaram uma pílula placebo.
Estudos complementares têm mostrado sucesso a longo prazo, então a Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos (Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies, MAPS), que financiou a pesquisa, planeja mais pesquisas extensivas que irão eventualmente enlistar centenas de pacientes em todo país.
O projeto está sendo observado de perto por oficiais federais, que lutam contra uma explosão de pacientes de TEPT. Em 2013, 535.000 veteranos, incluindo 141.000 das guerras do Iraque e Afeganistão, buscaram tratamento de TEPT da VA. Muitos deles não responderam bem às drogas e terapias convencionais.
“Esta não é uma área onde já temos ótimos tratamentos,” disse o Dr. Thomas Insel, diretor da Instituto Nacional de Saúde Mental (National Institute of Mental Health). “Nós precisamos de algo diferente. Precisamos de algo novo.”
A Dr. Paula Schnurr, diretora executiva do Centro Nacional para PTSD (National Center for PTSD), um braço do Departamento de Interesses dos Veteranos dos EUA (U.S. Department of Veterans Affairs), citou estudos mostrando que 60 a 80% dos pacientes “mostravam melhoras clínicas significativas” com tratamentos existentes. Mas ela diz que os estudos da MAPS com terapia abastecida com ecstasy têm produzido descobertas que sugerem “a importância de mais pesquisas.”
A ideia básica é que, no contexto da psicoterapia, a droga de alguma forma lhe ajuda a aprender coisas ou sentir coisas que de outra maneira você não conseguiria,” disse ela. “Então eu consigo ver como as pessoas sentiriam isto como uma experiência transformadora.”
Don Lattin é um escritor aposentado do San Francisco Chronicle e o autor de cinco livros, incluindo “The Harvard Psychedelic Club.” Para mais informação sobre seu trabalho, acesse www.donlattin.com.
Nigel McCourry deixa sua nova casa em Asheville.
texto por Don Lattin publicado originalmente em sfgate.
Golias venceu, mas Davi está pronto para o segundo round
Era julho de 1984 e a agência antidrogas americana (DEA) nãoesperava qualquer resistência quando anunciou que pretendia tornar o MDMA uma substância controlada do tipo I – a categoria mais restrita de drogas ilícitas.
Mas enquanto a agência foi pega com a guarda baixa, seus oponentes não. Durante anos, uma comunidade de psiquiatras, terapeutas e ativistas haviam estado se preparando para a batalha silenciosamente, reunindo as evidências que precisariam para provar o caso de que a 3,4-metilenodioximetanfetamina é relativamente segura e contém potencial terapêutico significativo. Ninguém previu quão perto o pequeno grupo de defensores chegaria de superar o Golias contra quem lutavam.
Na primavera seguinte, um desfile de médicos e pesquisadores testemunhou diante de um juiz de direito administrativo, insistindo que aconselhasse a DEA a colocar o MDMA em uma classe de drogas menos restritiva, ou a evitar a restrição. “Centenas de psiquiatras e psicoterapeutas que usavam [o MDMA] informalmente, e eles o usavam para todos os tipos de coisas em ocasiões privadas”, conta Rick Doblin à Inverse. “Ele estava sendo usado para o TEPT [Transtorno de Estresse Pós-Traumático], estava sendo usado para terapia de casais, estava sendo usado para o crescimento pessoal, estava sendo usado para a espiritualidade”.
Rick Doblin faz uma selfie do lado de fora do escritório do DEA em Washington D.C. Para marcar a apresentação de um desafio legal contra a proibição do MDMA.
Doblin encabeçou a organização sem fins lucrativos que liderou a batalha contra a DEA, e fundou a Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos (MAPS), que continua a pressionar para o uso legal da MDMA e da maconha na medicina e em outros contextos. A MAPS mantém um acervo impressionante de documentos da prolongada luta legal contra a DEA.
Doblin previu que a repressão ao MDMA viria quando a droga começou a vazar das sessões terapêuticas para o público, onde foi vendido como a droga recreativa Ecstasy. Na época da audiência judicial em 1985, Doblin tinha reunido um grupo de profissionais para falar publicamente dos benefícios médicos da substância. George Greer, um psiquiatra do Novo México, disse ao juiz que ele havia orientado 79 pacientes através de sessões de terapia assistida por MDMA, e que todos eles relataram benefícios significativos sem reações adversas graves. Outro médico, Joseph Downing, relatou suas próprias experiências oferecendo terapia a pacientes sob a influência de MDMA, incluindo uma mulher que relatou que ela foi finalmente capaz de superar seu trauma de uma agressão sexual brutal somente após esse tratamento. O renomado psiquiatra de Harvard, Lester Grinspoon, instou o juiz a não proibir precipitadamente uma substância com potencial significativo para o tratamento das condições de saúde mental, o que efetivamente encerraria toda pesquisa médica, como acontecera anteriormente com o LSD.
DEA apresenta a corte evidencias de que o MDMA está sendo usado em festas. Para a agencia, uso recreacional e abusivo são a mesma coisa.
Foi uma exibição impressionante, mas os próprios defensores não tinham muita esperança em influenciar a opinião do juiz. “Nós não sabíamos que os juízes administrativos da DEA às vezes contradiziam o que a DEA queria – pensávamos que esta seria uma batalha que discutiríamos na mídia e atrasaríamos um pouco, mas no final nós perderíamos “, declarou Doblin.
O juiz Francis Young rejeitou os argumentos da DEA de que a MDMA era uma droga com alto potencial de abuso sem uso médico aceito e recomendou que fosse colocado no Anexo III dentro de um ano. Esse nível é reservado para substâncias com utilidade médica e um potencial de abuso baixo a moderado – drogas atuais nesse cronograma incluem quetamina, esteróides anabolizantes e Tylenol com codeína. “Quando o juiz disse que deveria ser o Anexo III, e que deveria permanecer disponível para os terapeutas, ficamos simplesmente chocados”, conta Doblin.
Difusor do LSD Timothy Leary celebra com Rick Doblin nos anos oitenta.
O juiz foi inequívoco ao concluir que a MDMA deveria ainda ser permitida como um dispositivo terapêutico. Ele discordou com a DEA de que uma substância deve ter aprovação da FDA para satisfazer os critérios de “uso médico aceito”. “A FDA regula o comércio de drogas, não a forma como os médicos fazem seus trabalhos”, escreveu Young. “Só se pode concluir que, no contexto da batalha sobre a maconha, a FDA perdeu temporariamente de vista a sua reconhecida falta de autoridade estatutária para regular a prática da medicina”. O juiz alertou sobre os perigos de combinar a aprovação da FDA com uso médico. Para fazer isso iria equiparar valor comercial com valor terapêutico, ignorando que alguns medicamentos úteis são por vezes não patenteáveis e não rentáveis.
O fato de uma “minoria respeitável” de médicos realmente usar MDMA em sua prática é suficiente para apoiar o “uso médico aceito”, escreveu Young. “Nenhuma evidência foi produzida de quaisquer casos onde MDMA foi usado em terapia com menos segurança do que a totalmente aceitável.”
A opinião do juiz era condenatória, mas não era o fim da história. Um juiz administrativo só tem o poder de recomendar um curso de ação – a última palavra cabe ao administrador. E o administrador da DEA, John Lawn, simplesmente incluiu o MDMA no Anexo I de qualquer maneira.
Isso levou a uma série de apelações dos advogados, e enquanto o tribunal de recurso tem o poder de obrigar a DEA, eles normalmente vão ordenar a administração de volta para a prancheta, em vez simplesmente falar o curso de ação a tomar. Assim, se o tribunal de apelações decidir que as razões da DEA para colocar MDMA no Anexo I são inválidas, a DEA pode simplesmente chegar a um novo conjunto de razões para chegar à mesma conclusão.
“As agências administrativas têm grandes oportunidades para atrasar e atrasar e atrasar, ao chegar com todos os tipos de coisas falsas, porque leva muito tempo para discuti-las nos tribunais”, diz Doblin. Se o atraso foi a estratégia, então funcionou. Embora o processo de apelações tenha resultado em que a MDMA fosse brevemente retirada do cronograma das substâncias controladas, a DEA a colocou de volta em menos de um mês depois, em fevereiro de 1988, decisão que se mantém até hoje.
Nesse ponto, os advogados voltaram sua energia para casos judiciais semelhantes envolvendo maconha, diz Doblin, em vez de apresentar um pedido de apelação. Ele já havia se separado do grupo devido a diferenças políticas – enquanto Doblin defendia publicamente a legalização completa da MDMA, muitos dos profissionais médicos do grupo preferiam a tática menos radical de pedir à DEA para manter o uso recreativo ilegal sem colocar restrições indevidas sobre o uso terapêutico e a pesquisa.
Nancy Reagan implora para a America “apenas dizer não” as drogas em 1987.
Trinta anos depois, o debate sobre os usos terapêuticos do MDMA, da maconha e de outras drogas proibidas foi revigorado graças a resultados promissores de pesquisa, uma perspectiva cultural em processo de mudança e ao trabalho árduo de defensores contra a fracassada Guerra Contra as Drogas. A organização de Doblin, MAPS, funciona como uma empresa farmacêutica sem fins lucrativos, financiando os longos e dispendiosos ensaios clínicos necessários para obter MDMA e maconha aprovados como medicamentos pela FDA.
A organização espera a aprovação para iniciar os ensaios de Fase III, a etapa final e mais árdua, até o final deste ano. Ensaios anteriores, que testaram a terapia assistida com MDMA para ansiedade e depressão em pacientes com câncer terminal e TEPT, mostraram resultados notavelmente positivos, com benefícios positivos duradouros após apenas uma ou duas sessões com o medicamento. Se os testes da Fase III forem tão bem, o uso de MDMA na psicoterapia poderia ser aprovado pela FDA até 2021, de acordo com a MAPS. Isso forçaria a mão da DEA, fazendo agência finalmente remover permanentemente a MDMA do restritivo Anexo I e reconhecendo seu uso médico aceito.
Para Doblin, já faz muito tempo, mas ele é sempre otimista. “Parece bom! Parece promissor! Está bem ao virar da esquina! “A verdadeira vergonha, diz ele, é que estamos 30 anos atrás de onde estaríamos se a DEA não tivesse imposto sua agenda proibicionista.
Doblin não acredita que a DEA tenha o interesse público e a segurança pública como motivações primárias para a proibição do MDMA. “Eu não acho que eles estavam realmente pensando que esta é uma droga terrivelmente perigosa. Acho que eles estavam pensando: esta é uma droga que causa alteração na consciência, as pessoas estão gostando, e isso fica no caminho da proibição de drogas. Não se tratava dos perigos terríveis do MDMA, e os danos cerebrais relacionados ao ecstasy foram vastamente exagerados, como podemos dizer agora, mais de 30 anos depois. Não há um monte de pessoas feridas com danos cerebrais.”
Há montanhas de evidências para apoiar a posição de que a Guerra Contra as Drogas falhou como política, e há até indícios de que, desde o início, ela foi projetada como um ataque contra inimigos políticos, e não os perigos do uso de drogas. Tome esta citação surpreendente de um assistente anterior de Nixon, como disse a um repórter de Harper em 1994:
“A campanha de Nixon, em 1968, e a Casa Branca de Nixon, depois disso, tinham dois inimigos: a esquerda e os negros contrários a guerra. Você entende o que estou dizendo? Sabíamos que não poderíamos tornar ilegal ser contra a guerra ou negro, mas ao fazer com que o público associasse os hippies com maconha e os negros com heroína e, em seguida, criminalizássemos ambos fortemente, poderíamos interromper essas comunidades. Poderíamos prender seus líderes, invadir suas casas, interromper suas reuniões e vilipendiá-los noite após noite no noticiário da noite. Sabíamos que estávamos mentindo sobre as drogas? Claro que sim.”
Dentro de trinta anos, Doblin prevê 35 mil clínicas de terapia psicodélica em todo o país, onde as pessoas possam ir para receber apoio, não só tomando MDMA, mas outras substâncias mentais e potencialmente benéficas como cogumelos mágicos e LSD. Ele ainda acredita que as drogas devem ser legais para uso recreativo, e imagina uma espécie de modelo de carteira de motorista no qual as pessoas primeiro consumiriam as drogas sob supervisão, e, com a aprovação de um profissional, receberiam permissão para comprar e levar para casa drogas para uso pessoal.
Esse é o mundo que Doblin acredita já estaríamos vivendo hoje, não fosse o apoio teimoso do governo dos EUA à proibição de drogas e à criminalização. “Nós não teríamos a crise maciça que temos agora, com 600.000 veteranos que recebem aposentadoria de invalidez da administração de TEPT para veteranos”, diz. “Seria dramaticamente, radicalmente diferente. E será radicalmente diferente daqui a 30 anos “.
Como o uso de plantas de poder e psicodélicos podem ajudar a aliviar o sofrimento humano? Quais são as barreiras para as chamadas medicinas da floresta, como a Ayahuasca, se tornarem parte da Psiquiatria convencional? Como se projeta e conduz pesquisas sobre o uso terapêutico de tais plantas de uma maneira ética e significativa? Como irá aparentar o tratamento de transtornos mentais com estas plantas? Estas são algumas das perguntas básicas as quais eu vim lidando no decorrer dos últimos três anos, enquanto completava residência em Psiquiatria e tentava iniciar uma carreira na ciência psicodélica e sua forma de cura.
Neste breve texto, tentarei esboçar algumas respostas introdutórias para as perguntas acima, bem como discutir os desafios em integrar diferentes áreas do conhecimento com o modelo biológico atual da Psiquiatria. Eu acredito que a adoção de uma perspectiva multidimensional complexa do sofrimento humano e o aproveitamento delicado de maneiras diferentes de entender plantas psicodélicas são fatores-chave para o paradigma emergente de cura psicodélica.
Diferentes perspectivas sobre as Plantas Psicodélicas
Plantas psicoativas e fungos tem se relacionado com humanos por milhares de anos, tendo diferentes e vários papéis na sociedade, na cultura, religião e na medicina. Como resultado dessa complexa e histórica relação, existem inúmeras formas pelas quais podemos entender e falar sobre estas plantas.
A Ayahuasca como um exemplo, uma perspectiva indígena ou antropológica pode ver a bebida como não apenas sagrada, mas como uma “planta de espírito” ou “professora”, com a qual uma pessoa ou um xamã interage para produzir o efeito desejado. Essa compreensão contrasta totalmente com uma visão biomédica da Ayahuasca como uma coleção de alcaloides e outros compostos químicos, principalmente um agonista (quando uma substância química se liga em um receptor e o ativa) do receptor da serotonina 2A e um inibidor da MAO (monoamina oxidase), que alteram a conectividade da rede cerebral e a neuroplasticidade. Talvez entre essas visões existam as perspectivas psicológicas do chá como um “psicodélico”, capaz de provocar estados não-ordinários de consciência que podem trazer o insight psicológico e a mudança.
À medida em que o uso da Ayahuasca se torna mais difundido, existem várias outras maneiras de conceituá-la ou explicá-la. Perspectivas espirituais ou religiosas podem classificar o chá como “enteógeno” ou “sacramento”, capaz de catalisar profundas experiências espirituais ou místicas. Discursos mais recentes consideram a Ayahuasca como uma “ferramenta cognitiva”, ou “ferramenta evolutiva” que pode intensificar a criatividade e ajudar nossa espécie a evoluir ou viver mais harmoniosamente. Finalmente, a Ayahuasca e outras plantas psicodélicas são, muitas vezes, chamadas carinhosamente de medicinas da floresta por usuários da contemporaneidade que desejam destacar seus efeitos de cura profunda.
A Planta Medicinal na Era da Psiquiatria Biológica
Enquanto meu treinamento na psiquiatria enfatizou uma abordagem “biopsicossocial” para diagnóstico e tratamento, parece claro que o campo da psiquiatria como um todo tem, nas últimas décadas, priorizado a compreensão biológica do sofrimento mental. De acordo com este paradigma, doenças mentais como depressão e esquizofrenia, bem como dependências, são consideradas doenças cerebrais resultantes de circuitos neurais aberrantes e desequilíbrios químicos. Essa perspectiva visava servir a múltiplos propósitos: 1) ajudar a psiquiatria a tomar o seu lugar no meio de outras especialidades da medicina fundamentadas nas ciências biológicas; 2) desestigmatizar a doença mental e as dependências, retratando-os como doenças crônicas tratáveis, como diabetes ou algum tipo de doença cardíaca, e não como falhas morais ou resultantes de um caráter fraco; e 3) como o público crítico argumentaria, para ajudar a promover os produtos farmacêuticos como o principal meio de abordar a doença mental e aliviar o sofrimento cotidiano.
Embora não negue que este paradigma levou a avanços no nosso entendimento sobre certas doenças mentais e que pode ser utilizado como uma lente explicativa poderosa para certos pacientes, gostaria de salientar que uma compreensão estritamente biológica da doença mental é inconsistente com a minha compreensão sobre como plantas psicodélicas funcionam para trazer cura.
O paradigma biológico coloca a pessoa em situação de sofrimento como uma vítima relativamente impotente de um cérebro doente, obscurecendo as causas sociais, psicológicas e espirituais mais profundas do sofrimento e prescreve a adesão passiva à medicação como o modo primário de cura.
Em contraste, acredito que a experiência com plantas psicodélicas nos confronta poderosamente com a realidade que existimos como seres multidimensionais complexos, com mentes cerebrais, corpos, corações e espíritos, todos conectados uns aos outros e com nossos seres naturais e sociais. A partir dessa perspectiva, a fonte do sofrimento não é apenas do cérebro; o sofrimento pode surgir da doença em qualquer uma dessas camadas de existência e ser propagado através delas de formas complexas. Isso explicaria, por exemplo, como o stress social é internalizado como sintoma psicológico ou físicos.
O Desafio de Integrar o Conhecimento
A principal implicação de cunho terapêutico em ver o sofrimento mental nesta maneira multidimensional é que os tratamentos adequados devem agora ser capazes de intervir nas múltiplas camadas da existência. O principal argumento que eu gostaria de enfatizar é que esse tipo de cura multidimensional a) requer um engajamento ativo da pessoa em situação de sofrimento (bem como em psicoterapia), e b) pode ser alcançado através do uso de plantas psicodélicas medicinais utilizando as diferentes visões conceituais descritas acima. Assim, como pesquisador clínico e acadêmico, vejo o principal desafio do campo emergente da ciência psicodélica como sendo a integração de modos de conhecimento e abordagens para a cura que, anteriormente, se encontravam desconectados e conflitantes.
Dada a predominância dos quadros biológicos dentro da Psiquiatria acadêmica, desafios significativos relacionados a essa integração manifestam-se tanto ao transmitir tais ideias a colegas e agências financiadoras, quanto ao tentar traduzir essas ideias em ensaios clínicos e protocolos de tratamento. Como estudamos e utilizamos um medicamento com múltiplos ingredientes ativos que funciona de modo complexo, multidimensional e idiossincrática quando a ciência moderna é inerentemente reducionista, ao procurar moléculas únicas que têm mecanismos biológicos de ação específicos para explicar seus efeitos terapêuticos sobre os processos patológicos que podem ser vistos, reconhecidos e medidos? Como a ciência pode explicar a interação entre as propriedades físicas de uma medicina como a Ayahuasca e seus componentes metafísicos de cura que são complementares ao seu uso, como música, dieta, oração e outros aspectos do Xamanismo? Acredito que superar esses desafios de integração representa uma grande oportunidade para o campo da ciência psicodélica e, caso bem-sucedida, pode revolucionar a maneira como pensamos e tratamos a doença mental.
Integração de conhecimento: passado e presente
Felizmente, o processo de integrar diferentes tipos de conhecimento sobre as plantas psicodélicas já foi iniciado. Populações indígenas ao redor do mundo possuem séculos de conhecimento relacionados ao uso de plantas psicoativas para fins espirituais, religiosos e de cura. Relatos antropológicos e interdisciplinares e o engajamento direto entre cientistas, usuários ou praticantes dos rituais e povos indígenas (por exemplo, a Conferência Mundial de Ayahuasca) trazem as partes interessadas com diferentes perspectivas e tipos de conhecimento ao diálogo uns com os outros. No Ocidente, existem modelos “psicodélicos” e “psicolíticos” de uso de substâncias psicodélicas ao lado da psicoterapia para tratar transtornos de humor e dependência de substâncias que remontam aos anos 1950. Esses modelos serviram de base para ensaios clínicos recentes e podem ser modificados e atualizados à medida que se ganha mais conhecimento e que este vá sendo integrado.
A onda atual de pesquisa psicodélica tem sido caracterizada por trazer avançadas ferramentas científicas e métodos para suportar o estudo de substâncias psicodélicas, incluindo a neuroimagem e farmacologia molecular, bem como uma metodologia robusta de ensaio clínico utilizando o controle do placebo duplo-cego. Ao crédito destes investigadores, essa pesquisa não só trouxe novos entendimentos sobre como os psicodélicos afetam o cérebro, mas também começaram a elucidar como tais mudanças biológicas podem ser correlacionadas com a experiência psicológica e espiritual. Por exemplo, Robin Carhart-Harris demonstrou como as mudanças psicodélicas induzidas na conectividade cerebral se correlacionam com experiências específicas de tipo místico e subjetivo. Submetendo-se a tais experiências do tipo místico, tem se mostrado correlacionado com o benefício terapêutico em estudos recentes com psilocibina, o ingrediente ativo dos “cogumelos mágicos”.
O estudo de medicamentos complementares e alternativos seguiu uma trajetória similar. Nos últimos anos, estudos cada vez mais sofisticados começaram a esclarecer como práticas e modalidades que costumavam ser entendidas como espirituais ou energéticas, como meditação e acupuntura, têm efeitos biológicos e psicológicos que contribuem para seu potencial terapêutico.
Rumo à “Integração de Paradigmas Críticos”
Embora esses desenvolvimentos recentes sejam um bom sinal para o futuro da pesquisa e do tratamento com psicodélicos, eu gostaria de concluir argumentando para defender o foco sustentado entre pesquisadores e profissionais neste campo sobre integração do conhecimento, colaboração multidisciplinar e abordagens de tratamento multimodal – o que eu chamo de “integração de paradigmas críticos”.
Os atuais determinantes políticos, econômicos e filosóficos continuarão a puxar a pesquisa e o tratamento com psicodélicos em uma direção biológica. Portanto, é crítico neste tempo ressurgente para a ciência psicodélica que os pesquisadores visam integrar diferentes tipos de conhecimento e planejem protocolos de tratamento que refletem entendimentos multidimensionais complexos de como as plantas psicoativas produzem cura. Este último é crucial pois as diretrizes de tratamento são geralmente baseadas em evidências produzidas por ensaios clínicos. Assim, os modelos que nós construímos e estudamos agora estão aperfeiçoando como as plantas medicinais serão usadas na Medicina nas próximas décadas.
Vamos tratar plantas psicodélicas medicinais como qualquer outra classe de psicofármacos, tomados de modo passivo por pacientes enquanto o medicamento re-conecta com seus cérebros? Procuraremos criar formulações que minimizem seus “efeitos colaterais” psicoativos e somáticos ou purgativos, bem como foi feito com o uso psiquiátrico da ketamina? Ou esses tratamentos, de uma natureza radicalmente diferente, interagindo com nossos corpos-mente-cérebro-espírito de uma forma complexa que requer um engajamento ativo, não só durante o tempo de administração da droga, mas o antes e depois? Acredito que o entusiasmo popular por trás da cura psicodélica e os benefícios terapêuticos profundos e duradouros relatados até agora em ensaios clínicos argumentam para este último. Se a psiquiatria tradicional e as instituições sociais relacionadas irão abraçar este novo paradigma, isto ainda está para ser descoberto.
O autor gostaria de reconhecer as contribuições intelectuais de Jeffrey Guss M.D., Ryan Wallace M.D., e Alexander Belser M.Phil., No desenvolvimento das idéias apresentadas aqui.
Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaboradora Mirella Mochiutti.
Seja você também um colaborador, entre em contato:
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Brewer, J. A., & Garrison, K. A. (2013). The posterior cingulate cortex as a plausible mechanistic target of meditation: Findings from neuroimaging. Annals of the New York Academy of Sciences, 1307(1), 19–27 (+) Garrison, K. A., Scheinost, D., Constable, R. T., & Brewer, J. A. (2014). BOLD signal and functional connectivity associated with loving kindness meditation. Brain and Behavior, 4(3), 337–347(+) Loizzo, J. (2013). Meditation research, past, present, and future: Perspectives from the Nalanda contemplative science tradition. Annals of the New York Academy of Sciences, 1307(1), 43–54. ↩
A ciência por trás da droga mais controversa do cenário musical
Separar música e o cenário de festas de uso drogas não é fácil. Apenas pergunte para o donos da Fabric, uma famosa balada em Londres, que teve sua licença revogada nessa quarta-feira por autoridades locais preocupadas com o uso de drogas no local. Ou os organizadores do Eletric Daisy Festival, Hard Summer e outros eventos que destacaram as manchetes de jornais pelos seus usuários que morreram pelo uso de drogas.
Em muitos desses casos, a droga primária envolvida era ecstasy ou vários químicos misturados vendidos como comprimidos de ecstasy. Apesar de ser considerado menos aditivo que cocaína e heroína; ecstasy está ganhando uma má reputação entre os políticos. O exemplo mais óbvio é o Redução e Vulnerabilidade para o ecstasy da América ( RAVE) Act, que passou no congresso em 2003 como o Ato de Anti-Proliferamento de Drogas.
Deixando os fechamentos de clubes ou a aplicação da lei de lado, há uma terceira opção que está ganhando força silenciosamente , — usando a educação e defendendo medidas de redução de danos para evitar tragédias relacionadas ao ecstasy.
Saiba o que você está tomando. Em um estudo experimental a três anos atrás, a maior balada de Londres, Warehouse Project, convidou uma pesquisadora de criminologia da Universidade de Durham para ir uma vez a cada mês para testar drogas encontradas na festa, tanto confiscadas pelas autoridades ou entregues anonimamente. Se a pesquisadora achasse algum ingrediente preocupante nas amostras, ela notificará os donas da festa, e a mensagem seria espalhada pela mídia social e sinais de LED seriam colocados nas festas para alertar os consumidores. Pela Europa, testagem de drogas no local da festa é bem comum, diz Adam Auctor, fundador do Bunk Police, um serviço de testagem de drogas sediado em Denver, no Colorado; que começou a testagem na Europa esse ano.
Nos Estados Unidos, a testagem no local ainda é muito rara. DanceSafe e Bunk Police oferecem kits de testagem de substâncias em eventos no norte do país. Mas por que as festas e os promotores não querem bater de frente com o Ato de Anti- Proliferamento de Drogas, que bane “manutenções de instalações envolvendo drogas”, a maioria recusa permitir esses serviços de testagem no local uma vez que isso pode ser percebido pelos promotores como encorajamento de uso de drogas.
DanceSafe ainda frequenta um punhado de eventos para fornecer testagem gratuita onde é permitido, mas esses eventos são na maioria menores e mais desorganizados que a maioria dos festivais realizados por promotores empresariais, que estão mais preocupados com a responsabilidade, diz Mitchell Gomez, diretor nacional de divulgação do DanceSafe, uma organização sem fins lucrativos, de Denver. O Bunk Police não faz mais testagem em tempo real, diz Auctor, mas eles ainda vão em festas para vender kits de testagem com descontos, embora nem sempre com a permissão dos organizadores dos eventos.
Ambos os grupos vendem kits de testagem de drogas online por 20 dolares para um teste único e 150$ para ampolas de testes validas para 60 análises. Gomez avisa que esses testes são limitados no que eles podem revelar sobre a droga. Enquanto esses testes podem mostrar se a droga em questão tem MDMA ou Catinona ( vendidos como “sais de banho”), muitas vezes eles não conseguem mostrar se tem certos adulterantes ou outros aditivos, ele disse. Gomez sonha poder mandar um laboratório completo para testagem em tempo real, mas enquanto as leis federais de drogas não são alteradas, ele não vê isso acontecendo.
” Nas ruas, pode ser difícil conseguir compostos puros,” diz Dr. Itau Danovich, presidente do Departamento de Psiquiatria e Neurociências de Comportamento no Cedars- Sinais Medical Center em Los Angeles. ” A cada passo na cadeia de distribuição, tende a haver um corte”.
Tanto Gomez e Auctor acreditam que a chave para implementar medidas para impedir emergências médicas encontram-se na alteração do Ato Americano de Anti-Proliferamento de Drogas, que permita explicitamente promotores e donos de festas a tomarem um passo no quesito de redução de danos. Dede Goldsmith, cuja a filha morreu em 2013 de hipertermia em uma festival de música eletrônica, após ter tomado ecstasy; ela está entre os defensores da mudança da lei porque “Isso está impedindo a implementação de medidas de senso comum de segurança nesses eventos.” A partir dessa semana, Goldsmith juntou mais de 16,300 assinaturas através de seu site online.
” Não existe tal coisa como uso de droga seguro,” diz Gomez. ” Mas há maneiras que nós podemos reduzir os riscos, educando as pessoas sobre o que elas estão tomando e providenciando condições que as façam serem menos danosas.”
Para evitar problemas, em primeiro lugar, é bom entender como a droga afeta seu corpo. Quimicamente, o ecstasy é a forma pura de 3,4-metilenodioxi-metanfetamina, ou MDMA. Mas há muitas variantes de ecstasy no mercado, e a quantidade de MDMA nessas substâncias podem ser altamente variável.
Gomez, que tem uma organização que vem testando drogas e seus componentes químicos em festas há 17 anos, estima-se que 40% das drogas vendidas hoje como ecstasy é na verdade MDPV, metilona ou mefedrona, vendido nas ruas mascaradamente como “sais de banho”.
Uma vez em seu corpo, o MDMA entra na sua corrente sanguínea e começa a fazer seu caminho para o cérebro. Depois de escapar pela sua barreira hematoencefálica destinada a proteger seu cérebro de neurotoxinas, o MDMA desencadeia a liberação de três neurotransmissores: dopamina, norepinefrina e a serotonina, diz Dr. Danovich. É como se você pegasse uma laranja e expresse todo o suco.
Dopamina, é associada com o prazer e resposta de recompensa, é responsável pela euforia e energia que você sente quando toma MDMA. Norepinefrina é uma adrenalina que aumenta seu batimento cardíaco e pressão sanguínea. Enquanto isso, a serotonina libera uma sensação de bem estar, felicidade e conexão emocional (empatia).
Na maioria dos casos, o efeito dura de 3 a 6 horas. Depois disso, muitas pessoas sentem a “síndrome de esgotamento”, de acordo com Danovitch. ” É o chamado crash(bad/deprê). As pessoas se sentem desanimadas, irritadas, depressivas, têm dificuldades de dormir, sentem ansiedade e tem problemas com foco.”
Na maioria dos casos, os efeitos indesejados terminam por aí; Em outros, no entanto, as coisas podem dar muito errado. Entre as reações potencialmente catastróficas estão a hipertermia, rabdomiólise, falência de órgãos, aumento intenso da ansiedade ou ataque de pânico, diz Cathy Lee Rogowski, médica de sala de emergência em San Diego, que tem visto muitos desses sintomas e até mais.
O efeito a longo prazo mais nocivo é o possivel dano cerebral. Porque o MDMA só começou a ser uma droga recreacional popular no meio dos anos 80, pesquisadores ainda estão começando a entender como afeta o cérebro a longo prazo.
Porém, há um aumento de evidências que apoiam a probabilidade que o uso crônico de ecstasy pode causar um dano cerebral duradouro.
Uma das maneiras que o ecstasy prejudica, tem a ver com a forma de como o corpo tenta lidar com o fluxo artificial de substâncias neuroquímicas liberadas pelo MDMA.
” Se há muitos neurotransmissores para o corpo lidar do jeito que ele normalmente metaboliza esses tipos de químicos, então ele usa uma via secundária,” uma que pode deixar metabólitos tóxicos que acumulam com o tempo, diz Dr. Jeffrey Lieberman, presidente de Psiquiatria para Centro Medicinal da Universidade da Columbia do Hospital Presbiteriano de Nova York. O perigo é que esses metabólitos tóxicos tem o potencial de destruir células cerebrais de um jeito parecido com o mal de Parkinson, diz Lierberman.
Em um artigo — “A Psicobiologia Humana do MDMA ou ‘ecstasy’: uma visão geral de 25 anos de pesquisa empírica”– publicada no jornal Psicofarmacologia Humana, de Andrew Parrot do Departamento de Psicologia da Universidade de Swansea, mostrou um déficit significativo na memória e prejuízos sobre uma série de tarefas cognitivas incluindo “processamento executivo, raciocínio lógico, resolução de problemas e inteligência emocional.”
Para adolescentes e jovens adultos, as consequências a longo prazo ainda são desconhecidas. “O cérebro não está totalmente desenvolvido até que você está nos 20 a 30 anos,” Lieberman diz. “Há muito pouca pesquisa em cérebros mais novos. Presumidamente, há um efeito diferente, mas ainda não sabemos.”
O risco é ainda maior quando se trata de gestantes que tomam MDMA. EM 2012, um estudo feito por Lynne Singer, et al., crianças de mães que tomaram ecstasy durante a gravidez, tiveram qualidade de coordenação motora significativamente mais pobre em 4 meses de idade. Levará anos até que os pesquisadores sejam capaz de descobrir como o MDMA afetará essas crianças a longo prazo.
Embora o ecstasy seja frequentemente chamado de a “droga do amor”, seus efeitos psicológicos nem sempre são positivos. Em sua análise de 25 anos como pesquisa medicinal no MDMA, Parrot conclui que “o MDMA é essencialmente um intensificador de humor” que também pode aumentar estados de emoções negativas, assim como as positivas.
Quando combinado com outras drogas, o resultado pode ser fatal. Emily McCaughan tinha tomado uma combinação de MDMA e ácido gama-hidroxibutírico (GBH), antes de contar a seus amigos que ela estava sendo seguida, e pulou do 20º andar do seu hotel em Las Vegas em 2012. Kyle Haigis morreu em 2011 depois de começar a agir irracionalmente, pulando de um carro em movimento e em seguido ser atingido por outro.
Os efeitos mais comuns são calor excessivo do corpo ou hipertermia. A serotonina que ajuda a regular o núcleo da temperatura pelo hipotálamo, age como termóstato do corpo. “Serotonina enerva o hipotálamo” diz Lieberman. “É como setar a temperatura do seu termóstato mais alto.”
Ao mesmo tempo a norepinefrina, o segundo neurotransmissor lançado no seu cérebro pelo MDMA, que faz você sentir energizado, então você acaba dançando e se mexendo muito. Isso cria mais calor no corpo. Agora adicione um lugar quente e abafado como uma balada pouca ventilada ou festival quente com o chão cozinhando, e o seu corpo logo terá dificuldade de resfriar.
O que há de errado com isso? Muita coisa.
Calor corporal em excesso causa a morte das células dos músculos. Os músculos estão tão estressados pelo excesso de adrenalina bombardeado no corpo, graças a norepinefrina lançadas pelo ecstasy. Os músculos ficam tensos e rígidos para a preparação da luta-ou-fuga em resposta para a adrenalina que está sendo lançada.
Pessoas que tomam ecstasy frequentemente dizem que suas mandíbulas ficam tensas. Essa tensão, se constante, ocasiona danos para as fibras musculares, chamadas de rabdomiólise.
A dor no músculo que é relatada por muitos no dia depois de terem tomado ecstasy, é um caso leve de rabdomiólise.
Rabdomiólise sustentada é problemática porque pode de repente se tornar um trem desgovernado que leva à falência de órgãos. Quando as células dos músculos morrem, elas liberam um número de subprodutos no sangue, incluindo íons de potássio, íons de fosfato, mioglobina, creatina quinase e ácido úrico. “Seu fígado tenta filtrar para fora todos esses químicos” diz Lieberman. “Mas seu sangue se torna muito viscoso com todo esse material. É como se fosse um lodo, que entope seu fígado.”
Enquanto isso, o excesso de ácido úrico pode formar cristais nas túbulas do seu fígado, que futuramente pode comprometer seu fígado “Quando começa, é difícil parar,” diz Lieberman. “ Quando os músculos morrem, eles liberam essas substâncias corrente sanguínea. Não tem jeito reverso uma vez que eles estão na sua corrente sanguínea. Pode acontecer muito rápido, em questão de algumas horas.”
Apesar de não ser muito provável, insuficiência cardíaca pode acontecer se existe uma predisposição a problemas do coração que podem ser agravados nos efeitos do MDMA. De 6 dos 24 relatos de mortes relacionados a ecstasy pelo Los Angeles Times, eram de parada cardíaca.
“Seu corpo não pode tolerar um batimento cardíaco rápido por muito tempo.” Rogowski diz. “Ele irá se esgotar.”
“Tudo fica muito acelerado” diz Rogowski. “ Mas na verdade o coração não funciona bem quando está vibrando tão rápido assim, e o resto do seu corpo não recebe o oxigênio que precisa.”
Outro efeito possível a longo prazo causado pelo uso prolongado de ecstasy é hepatite aguda e falha hepática. “Você pode oprimir a habilidade do fígado de quebrar o MDMA, levando a hepatite aguda. ” diz Danovitch.
Agora que você sabe como o MDMA afeta seu corpo e o que pode dar errado, aqui vai uma lista do que você pode fazer para reduzir os risco de emergências e diminuir os danos para seu corpo.
Faça intervalos de descanso com frequência. Isso ajuda o seu corpo a esfriar e minimizar o risco ao seus músculos. Se você é daqueles que gosta de festivais outdoors, procure sombras e tendas com ar condicionado. Se você está em uma balada quente, vá para a área externa para respirar melhor. DanceSafe pressionou os promotores para eles colocarem de 5 a 10 minutos de intervalos entre os DJs, ao invés de fazê-los tocar sem parar horas a fio, diz Gomez.
Se hidrate e coma bem. Dar ao seu corpo fluido suficiente é importante pois você sua para seu corpo esfriar. Mas não beba muito pois tem o risco de você ter uma intoxicação de água, uma condição rara, mas potencialmente fatal. O excesso de água pode oprimir a capacidade do corpo de manter seu balanço eletrolítico. Também não esqueça de comer. Como outros estimulantes, MDMA pode suprimir apetite, mascarando a necessidade do seu corpo por nutrição para seu sustentar, Rogowski diz.
Fique com um amigo de confiança. Faça um pacto com o seu amigo que se, um passar mal, o outro vai ficar cuidando.“ Se você está com seu amigo e ele passar mal, não o deixe sozinho.” diz Danovich. “ Eles poderiam ser vítimas se você deixar ele sozinho. Eles também poderiam precisar atenção médica imediata, especialmente se você não consegue acordá-lo.”
Preste atenção nos sinais de alerta que o seu corpo está te mostrando. Se você está se sentindo muito quente e não está suando é um sinal que o seu corpo não está conseguindo se esfriar sozinho. Dores de cabeça, confusão mental, dificuldade de respirar, náusea, batimento cardíaco forte e delírio também são sinais de alerta. Se você ou um dos seus amigos tiver algum desses sintomas, vá diretamente para tenda médica para ter atendimento imediato.“É incrível a diferença que 10 minutos pode fazer quando se trata de uma socorro médico.”
O maior perigo dos psicodélicos, não são eles em si.
E sim a desinformação sobre eles.
Adulterações, erros de dosagem, experiências em lugares tumultuosos, são muitos aspectos a serem pensados para organizar com sucesso uma experiência segura e integrativa. Estudar e prevenir cada um destes aspectos é parte de um conjunto de ações chamado Redução de Danos.
Em parceria com o nosso amigo e artista Kaio Shimanski elaboramos três cartazes que visam espalhar consciência e informação. Junto com cada cartaz deixamos um texto explicativo para você driblar a proibição e cuidar da sua saúde.
Fique a vontade para baixar, imprimir e espalhar estes cartazes por onde quiser!
Tenha uma boa viagem!
LSD
Até pouco tempo atrás era muito difícil de se adulterar LSD, isso porque ele é comumente vendido em forma de gotas liquidas, ou um pedaço minúsculo de papel. Até 2003 era impossível colocar outra substância dentro de um pequeno blotter, a dosagem em microgramas não era suficiente para você sentir os efeitos psicodélicos de qualquer molécula impostora.
Se fosse uma gota, era LSD. Se você um pequeno papelzinho, era LSD!
Até que então, pesquisando sobre as Feniletilaminas Psicodélicas, Ralf Hein cria uma derivação 16 vezes menor da família 2C-X, dando nascimento a serie NBOMe. Molécula pequena suficiente para ser aplicadas em cartelas absorventes (blotters), a cena das drogas psicodélicas muda para sempre. Quem nunca colocou um quadrado de papel (vendido como LSD) e sentiu sua língua amargar e até amortecer?
É caro leitor, este é o pior dos testes, LSD-25 não tem gosto algum. Então você acabou de consumir uma substância que ainda é muito desconhecida pela ciência psicodélica. E infelizmente existe risco de overdose e outros possíveis danos mais graves com a família dos NBOMes. Imitando os efeitos psicodélicos e visuais, a grande maioria das pessoas passou anos comprando gato por lebre, porém alguns efeitos negativos não desejados como dores musculares, confusão mental, vasoconstrição, náuseas, vômitos, dor de cabeça e uma possível ressaca no dia seguinte. Deixa claro que aquele inofensivo papel não era LSD. Ou pior, durante um curto tempo moléculas como DOB e DOI eram usadas como substitutos nas cartelas, levando o curioso buscador psicodélico a uma viagem de até 20 horas. Este teste: se o papel amargar na língua não funciona mais, pois existem cartelas impregnadas de NBOH sem gosto algum.
Então o que fazer?
Compre um kit de testagem! O teste é na verdade uma ampola com um reagente químico, neste caso o Ehrlich.
Para fazer a testagem é fácil: você corta um micro pedaço da sua amostra de papel ou fração da gota, coloca em uma porcelana branca ou na embalagem descartável que vem junto ao kit, pinga uma ou duas gotas do reagente e espera com a tabela em mãos. Imediatamente você verá uma reação química acontecer, se ficar roxo temos LSD! Se ficar amarelo ou verde é um adulterante perigoso!
Infelizmente a senhora ANVISA em conjunto com a Policia Federal complicam a entrada destes testes aqui no Brasil, e só agora nos últimos meses micro empresas nacionais estão aparecendo e vendendo os reagentes pelo Brasil. Faça uma boa busca no Google e adquira já a seu.
Mesmo seu teste dando positivo para o que procura, lembre-se que a dosagem prometida por um vendedor de uma substância ilegal, nunca é 100% de se acreditar. Sempre questione, mesmo se quem te vendeu for seu amigo, ele mesmo pode ter sido enganado pelo mercado ilegal.
Então comece baixo, corte seu papel em 3 ou 4 partes iguais, e comece tomando pequenas doses, depois de conhecer bem este lote, vá aumentando até a dose desejada. Sempre tenha cuidado com a dosagem. Não faça deste momento tão especial, uma roleta russa.
Poucos sabem, mas o Ecsatasy é a droga mais adulterada do mundo. Um levantamento (2012) feito pela Superintendência da Polícia Técnico-Científica de São Paulo em parceria com a Fapesp revela que apenas 45% dos comprimidos apreendidos no Estado em 2011 contêm traços de MDMA.
MDMA é o que buscamos, aquela sensação de pura empatia, conversação sem barreiras, uma euforia que só te deixa com mais vontade de respirar fundo e sentir como a nossa existência é um presente. Infelizmente isso pode ser adulterado com muitas outras substâncias.
Anfetaminas, cocaína, cafeína, metanfetamina, psudo efedrina, quetamina, são as substâncias mais usadas para adulterar os comprimidos que são vendidos com a promessa de 100% MDMA. Algumas não tão danosas, porem tomar uma substância quando se quer outra, é algo que confunde mais ainda o seu plano para a noite. E algumas bem perigosas como PMA, que recentemente mataram alguns jovens pela Europa.
Então o que fazer?
Compre um kit de testagem! O teste é na verdade uma ampola com um reagente químico, neste caso o Marquis.
Para fazer a testagem é fácil: você raspa uma fração minúscula de seu comprimido, coloca em uma porcelana branca ou na embalagem descartável que vem junto ao kit, pinga uma ou duas gotas do reagente e espera com a tabela em mãos. Imediatamente você verá uma reação química acontecer, se ficar roxo escuro quase preto temos MDMA! Se ficar amarelo, laranja ou verde é um adulterante perigoso!
Infelizmente a senhora ANVISA em conjunto com a Policia Federal complicam a entrada destes testes aqui no Brasil, e só agora nos últimos meses micro-empresas nacionais estão aparecendo e vendendo os reagentes pelo Brasil. Faça uma boa busca no Google e adquira já a seu.
Mesmo seu teste dando positivo para o que procura, lembre-se que a dosagem prometida por um vendedor de uma substância ilegal, nunca é 100% de se acreditar. Sempre questione!
Então comece baixo, nunca tome um comprimido novo inteiro, nos últimos tempos laboratórios europeus de ecstasy produziram comprimidos de alta qualidade e altas dosagens. Chegando até 250mg de MDMA, e mesmo sendo esta substância a nossa querida amada molécula procurada, muito nunca é bom. Comece tomando pequenas partes quebradas do comprimido, depois de conhecer bem este lote adquirido, vá aumentando até a sua dose desejada.
Sempre tenha cuidado com a dosagem. Não faça deste momento tão especial, uma roleta russa.
Epa! Pera aí, de Ácido a Ecstasy, como fomos parar em algo da natureza que não tem adulteração? Sim, os cogumelos mágicos não tem um mercado ilegal no Brasil para ser adulterado, porém devemos sempre nos informar, para não acabarmos machucando nosso corpo e estragando uma experiência que pode ser tão especial.
Aqui no Brasil todo ano entre novembro a março, temos a temporada de caça dos Psilocybecubensis. Eles crescem no esterco de rulminantes, lindos cogumelos dourados portadores de Psilocibina. Porém você precisa de um treinamento básico para saber identificar os cogumelos certos.
Não tome uma substância simplesmente porque leu aqui, este conteúdo foi produzido exclusivamente para reduzir os riscos e danos de quem já está procurando e planejando estas auto experiências.
Nós do Mundo Cogumelo acreditamos que sofremos pela falta de informações corretas e claras.
Vamos deixar todo esse tabu de lado, e conversar cada vez mais sobre uso seguro e responsável de substâncias psicodélicas. Para assim juntos mudarmos o cenário atual da proibição. Se cuide!
Agrademos ao leitor Pedro Reis pela tradução do texto! Quer ajudar o blog? Solicite um texto para traduzir através do email equipemundocogumelo@gmail.com
A molécula de MDMA
MDMA – Tudo sobre a molécula
Duração:
Início dos efeitos: 20 – 70 minutos Duração: 3 – 5 horas Duração dos efeitos perceptíveis após o pico:até 24 horas
MDMA (3,4-metilenodioxi-N-metilanfetamina) é uma droga entactogênica (isto é, uma classificação de drogas psicoativas capazes de aumentar o sentimento de empatia) da família da fenetilamina e anfetamina. Foi sintetizado pela primeira vez em 1912 pelo químico Anton Kollisch como um potencial medicamento para a supressão de hemorragia anormal. Pelos 65 anos seguintes, o MDMA foi em grande parte deixado de lado, com os primeiros relatos de uso para fins recreativos por volta de 1970. Foi finalmente classificada como uma substância controlada em 1985, quando seu uso começou a espalhar-se pela a sociedade mainstream e pelas raves.
O MDMA atua como um agente de liberação dos neurotransmissores conhecidos como serotonina, dopamina e norepinefrina, que são responsáveis pelo prazer, motivação e foco. Isso ocorre através da inibição da recaptação e reabsorção dos neurotransmissores depois realizarem sua função de transmissão de um impulso neural. Essencialmente, ele permite que os neurotransmissores sejam acumulados e reutilizados, causando efeitos estimulantes tanto físicos quanto eufóricos.
Muitas pessoas dentre as comunidades psicodélicas on-line pensam que os relatos de efeitos psicodélicos do MDMA não passam de mito, por nunca terem vivenciado a experiência em si. Ele produz efeitos psicodélicos bastante poderosos e alucinações sob as circunstâncias corretas, particularmente em doses elevadas e especialmente quando combinada com maconha. Estes efeitos são similares a cogumelos e LSD, mas diferentes de qualquer outro psicodélico comumente usado. Os efeitos não aparecem de forma consistente mas são rapidamente percebidos por qualquer pessoa, mesmo que não esteja acostumada com os psicodélicos mais tradicionais. Estes podem acontecer durante qualquer ponto da trip, porém são mais comuns durante a “aterrizagem”.
A experiência com MDMA contempla um conjunto complexo e amplo de efeitos que podem ser encontrados aqui, e vou descrevê-los melhor a partir de agora.
Efeitos físicos:
Os efeitos físicos do MDMA podem ser divididos em cinco componentes que se intensificam progressivamente proporcionalmente à dosagem. Estes estão descritos abaixo e incluem geralmente:
Sensações táteis espontâneas– a sensação corporal sob efeito de MDMA pode ser descrita como um formigamento eufórico que vai de moderado a extremo e que abrange todo o corpo. É capaz de se tornar extremamente agradável nas doses mais elevadas. Esta sensação se mantém consistente e aumenta constantemente logo no início e atinge o seu limite uma vez que o pico tenha sido atingido.
Toque mais perceptivo
Estímulos– em termos de seus efeitos sobre os usuários, os níveis de energia físicas do MDMA é comumente considerado extremamente estimulante e enérgico, o que encoraja atividades como corrida, escalada e dança fazendo do MDMA uma escolha popular para eventos musicais, como festas e raves. O estímulo particular do MDMA pode ser descrito como forçoso, isto é, significa que em doses mais elevadas torna-se difícil ou impossível de se manter relaxado, como um apertamento da mandíbula e tremores e vibrações involuntárias pelo corpo, resultando em uma instabilidade extrema das mãos e uma falta geral de controle motor.
Visão vibrando– os globos oculares de uma pessoa podem começar a se mexer espontaneamente num movimento rápido, para frente e para trás, deixando a visão embaçada e temporariamente fora de foco; a isso se dá o nome de nistagmo.
Desidratação– boca seca e desidratação são uma experiência universal com MDMA causando um aumento da frequência cardíaca e uma forte motivação a se envolver em atividades físicas extenuantes. Embora seja MUITO importante evitar a desidratação, especialmente quando se dança num ambiente quente, um número de usuários já sofreram de intoxicação por água por beber demais. Por isso é aconselhável que os usuários bebam água, mas sem grandes exageros.
Dificuldade de urinar– altas doses de MDMA resultam em uma dificuldade geral em urinar, um efeito completamente temporário e inofensivo, devido à promoção da liberação do hormônio antidiurético (ADH), responsável por regular a micção. Este efeito pode ser reduzido ao se relaxar, mas pode ser aliviado significativamente colocando uma flanela quente sobre os órgãos genitais para aquecê-los e incentivar o fluxo de sangue.
Efeitos cognitivos:
Os efeitos cognitivos do MDMA podem ser divididos em dez componentes que se intensificam progressivamente proporcionalmente à dosagem. O efeito geral do MDMA é descrito por muitos como uma estimulação mental extrema, sentimentos de amor ou empatia e poderosa euforia. Ele traz um grande número de efeitos típicos psicodélicos, entactogênicos e estimulantes cognitivos.
Os mais proeminentes destes efeitos cognitivos incluem geralmente,
Euforia– forte euforia emocional e sentimentos de felicidade estão presentes, ocasionadas provavelmente por uma liberação de serotonina e dopamina.
Pensamentos acelerados
Aumento da empatia, amor e sociabilidade– este efeito terapêutico em particular é o mais evidente e poderoso dentre os provocados pelo MDMA, mais do que qualquer outra substância conhecida. É o efeito mais predominante e perceptível de qualquer experiência de MDMA. No entanto, com o passar do tempo e o uso repetido, este efeito torna-se severamente diminuído por passar a se tratar de um lugar comum, logo as pessoas se sentem apenas estimuladas e eufóricas, porém sem a necessidade de comunicar suas novas sensações com os outros. Alguns usuários relatam que o MDMA “perde a sua magia” com apenas 10 experiências, enquanto outros relataram centenas de utilizações antes das qualidades empáticas desaparecerem. No entanto, isto parece não ser verdade para todos os usuários, com muitos relatando que não sofreram qualquer redução na qualidade da experiência após dezenas ou mesmo centenas de vezes.
Atenção Plena
Distorção do tempo– fortes sentimentos de encurtamento e aceleração do tempo são comuns com MDMA.
Estados de unidade e interconexão– experiências de unidade, unicidade e de interconexão são comuns entre os níveis de 2-3. Este componente se manifesta mais consistentemente com altas dosagens, em meio a grandes multidões como raves e eventos musicais de forma que a pessoa “se torna um com o todo”.
Efeitos visuais:
Os efeitos visuais do MDMA ocorrem de forma mais seletiva e menos consistente do que qualquer outro psicodélico tradicional e é por isso que muitas pessoas consideram relatos de outros com MDMA como sendo um “mito” ou um “rumor”. Os efeitos podem nunca se manifestar, mas são mais prováveis de ocorrer em doses altas de MDMA puro, e se o usuário fumar maconha mais ao fim da experiência. Também são mais prováveis de ocorrer caso o usuário tenha alguma experiência prévia com outros psicodélicos, mas nada impede de que os efeitos apareçam para qualquer um.
Aprimoramentos
O MDMA apresenta uma série de aprimoramentos visuais suaves em comparação aos demais psicodélicos tradicionais, mas ainda são facilmente perceptíveis.
Incluem principalmente:
Aperfeiçoamento de cores
Maior facilidade em reconhecer padrões
Distorções
O MDMA apresenta apenas uma alteração visual:
Rastros– este efeito raramente se manifesta além do nível 1-3.
Geometria
A geometria visual presente durante a trip pode ser descrita como mais próxima da psilocina do que do LSD. Pode ser descrita como uma organização estruturada, orgânica do estilo geométrico, intrincada em complexidade, de tamanho grande, com movimentos rápidos e suaves, predominando tons de azul e cinza, de cor brilhante, com bordas borradas e nítidas e cantos arredondados e angulares. Em doses mais elevadas é comum atingir estados de Nível 7A até o Nível 7B. Muitos usuários relatam um sentimento de leve ameaça, seguido de um estilo sinistro com um esquema de cores que geralmente abrange o cinza e o azul.
Estados Alucinatórios
O MDMA é capaz de produz um leque único de estados alucinatórios sutis a altos e de uma forma significativamente menos consistente e reprodutível do que a de muitos outros psicodélicos comumente usados.
Estes efeitos incluem:
Alucinações internas– as alucinações internas induzidas pelo MDMA só acontecem espontaneamente em dosagens extremamente elevadas. A forma mais comum em que se manifestam são através de cenários hipnagógicos, os quais o usuário se encontrar como se estivesse caindo no sono após uma noite de uso e que geralmente podem ser descritos como uma reprodução de uma memória ocorrida várias horas anteriores. São curtos e fugazes, mas frequentes e bastante realistas e convincentes quando acontecem. Geralmente tomam a forma de uma conversa com as pessoas que estiveram com você naquele momento ou podem também se tornar histórias bizarras e completamente sem sentido.
Alucinações externas– são semelhantes aos efeitos encontrados em delirantes mas normalmente são replays de memória e eventos esperados semi realistas. Por exemplo, as pessoas poderiam aparecer casualmente segurando objetos ou executar ações que você esperaria na vida real até que de desaparecem e se dissolvem caso haja uma interação mais concreta com elas. Os exemplos comuns disto incluem ver pessoas usando óculos quando na verdade não estão e confundir objetos na visão periférica com seres humanos. Em doses mais elevadas no entanto, elas são capazes de permanecerem presentes e de natureza delirante.
Efeitos auditivos:
Os efeitos auditivos de MDMA são comuns e exibem uma gama parcial de efeitos que inclui normalmente:
Aprimoramentos
Alucinações – ocorrem geralmente no final da noite, e quase sempre consiste em repetições de memória de horas anteriores. São comumente manifestadas como vídeos da música que foi tocada e vozes distorcidas das pessoas que falaram. Podem tornar-se tão alto em volume como o nível de ruído de qualquer rave ou festa e ocasionalmente podem se tornar complexas o suficiente para se manifestarem como músicas ou sinfonias complicadas, inéditas e completamente coerentes independente do estilo.
Dicas sobre como induzir esses efeitos:
Se você quiser induzir esses efeitos, sugiro que pegue o que considere ser uma dose moderado-forte (150mg). Certifique-se de que você tem MDMA puro e não pílulas variadas de natureza indeterminada. Se for combinado com um bong e uma boa quantidade de maconha, os efeitos psicodélicos quase sempre ocorrem Isso geralmente parece ser o suficiente para a maioria das pessoas, mas umas vez que o MDMA possui características seletivas, pode não funcionar para outras. Outras pessoas e eu já sentimos de vez em quando os efeitos mesmo sem fumar maconha, porém tivemos fortes brisas consistentemente toda vez que fumamos.
Conclusão:
O MDMA é antes de tudo um entactógeno, e depois, uma substância psicodélica. É melhor usado para a resolução de problemas interpessoais, fortalecer os laços afetivos e para dar aquela turbinada na festa. Suas propriedades psicodélicas são extremamente singulares, interessantes e algo que tento induzir toda vez que tomo esta substância.
É importante ter em mente, no entanto, que sua utilização excessiva pode resultar em grave depleção do neurotransmissor e síndrome da serotonina. É por isso que eu recomendo que você faça sua própria pesquisa antes de considerar o uso desta droga. Vindo de uma experiência pessoal, ele nunca deve ser usado mais de uma vez por mês ou, de preferência não mais do que duas vezes por ano.
A maioria dos professores espirituais são fortemente contra o uso de qualquer droga. Alguns alertam que as drogas irão desfazer anos de progresso árduo em direção a iluminação, enquanto outros dizem que o estado induzido pela droga pode parecer o mesmo, mas está em um nível inferior, e isso pode induzir as pessoas ao erro. Alguns poucos acreditam que um verdadeiro estado místico possa ser induzido por drogas, mas pensam que seu resultado é diminuído.
Entretanto, existem alguns professores que acreditam no valor do MDMA, tanto para a iluminação pessoal, quanto para o treinamento de outros. Eu entrevistei quatro: um monge Beneditino, um rabino, um monge Rinzai Zen e um monge Soto Zen. Também obtive comentários de outro monge Beneditino. Esses são lideres religiosos ativos que escrevem livros espirituais, ensinam prática espirituais e dão palestras públicas sobre assuntos espirituais, mas, exceto pelo último, nunca admitiram publicamente suas visões sobre o valor espiritual do MDMA. O monge Soto Zen, Pari, concorda que “Drogas não combinam com meditação. ” Entretanto, ele diz “Meditação combina maravilhosamente bem com drogas. ” Não há contradição: drogas perturbam padrões adquiridos na meditação, mas sob o efeito de MDMA é fácil meditar. “Ficar quieto enquanto toma MDMA te ajuda a aprender a sentar, provendo um conhecimento experiencial. ” Mas é um bom método para aprender? “É como um remédio. Se olharmos para o nosso estado mental e do planeta, devemos ser gratos por quaisquer meios que possam ajudar. Entretanto, assim como todo bom medicamento, também pode ser mal-usado. ” Todos eles acreditam que se beneficiaram do uso do MDMA, que pode ajudar a produzir uma experiência mística válida, não causa dano a mente e é útil para ensinar os estudantes. A razão para que eles não promovam seu uso é que eles devem seguir as politicas de suas ordens religiosas, e essas naturalmente obedecem a lei. Eu achei fascinante ouvir o quão similar suas experiências eram, ainda que diferentes para qualquer outra pessoa. Quando perguntei sobre o que eles achavam sobre o uso de MDMA por ravers, suas opiniões divergiram. O Beneditino sente que é profano pessoas tomarem drogas ao não ser que sejam espiritualmente orientadas, enquanto o rabino pensa que o sentimento de unidade e enxergar a vida por uma nova perspectiva é uma experiência igualmente válida para os ravers.
Eu levei Bertrand, o monge Rinzai Zen, para uma festa rave onde ele tomou MDMA—anteriormente ele só havia tomado enquanto meditava. Quando sentiu o efeito, ele brilhou e anunciou “Isso é meditação! ” Longe de ser estranho para a sua experiência, ele viu que todos estavam totalmente absortos em suas danças sem consciência própria ou dialogo interno, e isso era a verdadeira essência da meditação.
O rabino não estava apenas ciente de que dançar sob o efeito do MDMA podia ser uma experiência espiritual, mas também que o misticismo estava agora mais prontamente disponível nas pistas de dança do que em igrejas, mesquitas ou sinagogas. Ele sugeriu que se sacerdotes experimentassem a droga, eles não somente apreciariam seu valor espiritual, mas seriam capazes de entender melhor os jovens. Pari fez a seguinte analogia: “É como um escalador andando pelas montanhas que está perdido na névoa e impedido de ver o pico que se dispôs a escalar. De repente a névoa se dissipa e ele experiência a realidade do pico, e ganha senso de direção. Mesmo que a névoa surja outra vez, e ainda que o caminho seja longo e árduo, o vislumbre é geralmente uma enorme ajuda e encorajamento. ”
Entrevista com um monge Beneditino
Irmão Bartholemew é um monge que usou MDMA cerca de 25 vezes num período de 10 anos como ajuda para sua experiência religiosa. Normalmente ele toma sozinho, mas também tomou junto a um pequeno grupo de pessoas com objetivos semelhantes. Ele descreve o efeito como uma abertura de uma ligação direta com Deus. Enquanto usando o MDMA, ele experienciou uma compreensão muito profunda da compaixão divina. Ele nunca perdeu a claridade deste insight, e permanece como um reservatório onde ele pode recorrer. Outro beneficio de seu uso de MDMA foi que a experiência da presença divina lhe vinha sem esforço. O efeito se manifestava em sua forma elemental na respiração, o sopro divino. Após seu despertar, ele começou a descobrir a validade de todas as outras grandes experiências religiosas.
Ele acredita que a “ferramenta” do MDMA pode ser usada em níveis diferentes como uma ferramenta de pesquisa ou espiritual. Quando usado apropriadamente, é quase um sacramento. Tem a capacidade de lhe colocar no caminho certo para a união divina com ênfase no amor, amor vertical, num sentido de ascendência. Entretanto, esse ganho só é possível quando se olha na direção correta. Não deveria ser usado ao não ser que esteja realmente a procura de Deus, e não é apropriado para hedonistas ravers adolescentes. O lugar onde é ingerido deve ser quieto e sereno. Deve haver também uma ligação intima entre aqueles que compartilham a experiência. A experiência deve ser perseguida com uma certa dose de supervisão porque o MDMA produz uma tendência de que sua atenção se disperse. Existe também o perigo de delapidar a experiência ao ficar preso em sentimentos de euforia, ao invés de alcançar o reino espiritual. Entretanto, embora possa ser inestimável, não deve se tornar necessário, uma vez que a necessidade de uma droga lhe nega a liberdade.
[ Eu enviei ao Irmão Bartholemew uma cópia do texto acima para sua provação, e ele adicionou o seguinte: ]
“Um elemento que você pode querer adicionar é o da intimidade da voz na conversação. MDMA sempre me empurra em um espaço de intimidade na conversação. Existe uma qualidade especial nela. Você sente uma sensação de peso, uma sensação de peso nesta conversação, de algo profundo, tão sério quanto a própria vida. É um espaço interno onde não há máscaras, sem pretensões, absolutamente aberto e honesto. Não é uma intimidade erótica, mas sim filosófica e mística. Isso faz algum sentido? Você tem consciência de que se trata de uma comunicação interna raramente alcançada na conversa comum. Realmente não há palavras adequadas para descrever esse estado de percepção, bastando dizer que é essencial em minha experiência.”
Entrevista com o rabino na Sinagoga Oeste de Londres
Após uma conversa que tocou na necessidade da preparação para a morte, eu perguntei ao rabino uma questão sobre o valor do MDMA para os pacientes terminais (referência ao estudo do Dr. Charles Grob em Los Angeles.) Ele respondeu que o MDMA possui tanto valor para os moribundos, quanto aos ravers, permitindo assim a sensação de unidade, possibilitando ver a vida de uma nova perspectiva. A proibição não é a melhor maneira de se lidar com uma substância que pode ser sacramental da mesma forma como a comunhão do vinho. Essas substâncias podem despertar sensações estranhas que podem ser desconfortáveis, mas são essenciais para uma compreensão mais profunda de nós mesmos. Entretanto, existem outros métodos para alcançar esses sentimentos, como aqueles descritos em um livro chamado Mind Aerobics.
No final, o rabino me chamou para vir para o palco. Ele me levou em uma escada da saída de incêndio, fora dos ouvidos de sua comitiva, e me disse que ele não podia arcar com o risco de prejudicar o seu projeto, apoiando publicamente o uso de drogas ilegais, mas que ele tinha o meu livro (ele o elogiou.) Ele acreditava que o MDMA e outros psicodélicos poderiam ser usados para um imenso beneficio, não apenas para a consciência pessoal, mas pelo bem de Gaia e o bem-estar cósmico do planeta. Ele deu a entender que a experiência com MDMA possuía a mesma qualidade e valor potencial que outras experiências místicas, e sugeriu que os sacerdotes experimentassem a droga, tanto para entender os jovens, como para validar as experiências espirituais produzidas por drogas. Ele se referiu à conclusão de Abraham Maslow a respeito das “experiências de pico”: que tomar uma droga é como atingir o topo da montanha por um teleférico ao invés da labuta da escalada—pode ser visto como trapaça, mas te leva ao mesmo lugar. Ele finalizou me dando um grande abraço e me encorajando em meu trabalho.
Visita ao monge e professor Rinzai Zen
Bertrand é um monge Zen budista e professor de meditação na casa dos 70 anos. Seguindo uma carreira convencional, ele teve uma experiência de despertar com mescalina quando ele tinha 47 que o fez reavaliar sua e buscar um caminho espiritual. Isso o levou a encarar o Rinzai Zen com um mestre japonês rigoroso. Embora tenha achado o treino extremamente difícil, ele eventualmente se tornou o abade de um monastério Zen.
Bertrand tomou MDMA cerca de 25 vezes nos últimos 10 anos. Ele geralmente usou-o no segundo dia de uma meditação de sete dias, e descobriu que a droga permitiu que ele prestasse atenção de todo coração, sem qualquer distração. Como estudante, ele também usou uma vez quando praticava um exercício Zen chamado Koan. Durante os Koans, o mestre nomeia a tarefa que o aluno deve contemplar, como o clássico “compreender o som de um bater de palmas. ” O estudante tem de demonstrar compreensão, normalmente após um tempo considerável, e muitas vezes é lhe dito para tentar de novo.
Sob efeito do MDMA, Bertrand atravessou por entre os Koans com uma impressionante facilidade. Ele, inclusive, se sentiu iluminado em duas ocasiões, apesar dele não confiar que essas experiências sejam do nível mais alto. Ele também conhece um monge Zen suíço que usa MDMA, mas ele nunca contou ao seu mestre. Ele sente que a experiência seria de grande valor para alguns de seus devotos e rígidos companheiros monges Zen, embora ele conheça apenas um outro monge Zen que faça uso de MDMA.
Perguntado se a experiência com MDMA tinha igual valor quanto chegar “lá” da maneira difícil, ele respondeu que o MDMA simplesmente permite que usuário foque, de todo coração, em sua tarefa atual, e o resultado é real em todos os aspectos porque são os mesmos. De fato, o MDMA permitiu que ele fosse mais longe do que ele era capaz sem a substância. Eu o pressionei para descobrir os aspectos negativos, e ele me disse que uma vez ele cometeu o erro de tomar o MDMA pouco antes de liderar uma meditação. Isso abriu seus olhos para o quão tensos e necessitados seus alunos eram. Ele expressou aquilo que sentia muito livremente: que eles pareciam como cadáveres, todos alinhados com seus chales negros! Isso era inapropriado, e ele não usou novamente o MDMA quanto ensinava. Ele sentiu que seu erro estava em não respeitar que seus alunos se encontravam em um espaço diferente.
Entretanto, Bertrand acredita que o MDMA seria uma ferramenta extremamente útil para ensinar os estudantes que também estivessem sob efeito. Na verdade, ele se perguntou se viveria o bastante para poder usa-lo legalmente. Pressionado sobre os possíveis problemas, ele disse que sempre haverá pessoas que chegam querendo a iluminação em uma bandeja, e a notícia de que existe uma nova técnica usando uma droga atrairia aqueles que esperam que “seja feito por eles”. A festa rave foi a primeira vez que Bertrando tomou MDMA exceto quando estava meditando, e ele foi surpreendido pelo quão diferente a experiência era. De antemão, ele disse que mal suportava ao barulho e volume do som. Depois que o MDMA fez efeito, ele pode ver o valor do volume ao “afogar” as distrações. A batida monótona era semelhante a algumas cerimônias de índios americanos que também fornecem a sensação de união tribal pelo uso de uma droga—embora tenha sentido que a rave perdeu a estrutura cultural e foco dos indígenas. (Bertrand já foi convidado de um ritual Indigena Americano, embora não tenha tomado nenhuma droga.) Ele podia ver o valor dessa nova experiência para o Budismo como expansiva — meditação era contrativa, mas ambos foram essenciais.
Sua primeira reação após o MDMA começar a fazer efeito foi tristeza por sua posição como parte de uma instituição de uma religião restritiva, e a realização de que o treinamento Zen não era adequado para os ocidentais em sua presente forma. Mais tarde, ele entrou na dança. Conforme sua face mudava de severa para feliz, ele exclamou: “Isso é meditação — estar realmente no presente e não em sua cabeça”. No dia seguinte, ele disse que sentiu como se a experiência havia deixado uma impressão em sua vida, e ele não tinha certeza onde isso o levaria. Enfatizou o que ele já sabia: que seus estudantes eram muito contraídos, e essa experiência expansiva da rave era o que eles precisavam, e era uma pena que ele não poderia advogar sobre isso em sua posição.
No dia seguinte, ele me disse que isso podia ser um ponto de virada muito importante em sua vida. Ele tinha que passar um tempo para digerir o que havia aprendido, mas sua resposta imediata era que ele não podia continuar sendo parte de uma instituição de sua escola na sua presente forma. Ele podia ver que o aspecto contrativo do treino havia sido muito enfatizado em sua escola, na crença de que os ocidentais já eram muito expansivos. Na verdade, aqueles que buscavam mestres Zen no Oeste realmente precisavam da habilidade de ser expansivos — e a rave proporcionava isso. Um mês depois, Bertrand me telefonou para dizer que ele acabará de ministrar um retiro de uma semana, que foi mais leve e positivo, quase como uma sensação de alegria. Ele atribuiu isso ao efeito da experiencia da rave, que por sua vez afetou os participantes. Também, ele se sentiu muito mais jovem e mais flexível. De fato, um problema de coluna que havia lhe causado dores por anos parecia estar completamente curado, o que fez ele suspeitar que especificamente esse problema na coluna era causado pela mente. Eu enviei os rascunho das entrevistas com o rabino e o monge Beneditino à Bertrand. Ele comentou que sua experiência se assemelhava com a do rabino sobre estar em um estado mental aberto. Divergia com o Beneditino, que dizia que o MDMA lhe permitia focar totalmente sem distração, e com atenção prolongada. Ele sentiu que a base do estado mental era enfatizada. Perguntei como ele sugeria usar o MDMA. Ele recomendou meditação após a abertura como uma forma de canalizar a energia liberada. Bertrando descreveu o MDMA como uma “experiência nutridora”
Visita a um monge e professor Soto Zen
Pari tomou LSD na universidade. Na verdade, ele mudou-se para uma comuna que tomava LSD em rituais semanais regulares, porém mais tarde essa busca por conhecimento o levou para longe das drogas para a Yoga, a qual ele praticou por muitos anos. Entã ele viajou e se envolveu com o Zen, vivendo em uma comunidade Soto Zen por 10 aos até ser ordenado monge. Ele havia sido feito desde então Abade pelo seu mestre; isso é, lhe é dado o poder para ordenar novos monges Zen. Ele agora vive em uma bela e tranquila casa Vitoriana na cidade com sua esposa e filho, onde ele tem um pequeno zendo (sala de meditação). Ele também tem um centro de retiro nas montanhas. Ele divide seu tempo entre o Budismo e ativismo social/ecológico. Nos últimos 5 anos, Pariu tomou MDMA cerca de 15 vezes, geralmente sozinho ou com sua esposa e amigos íntimos. Aquilo lhe fornecia uma grande clareza e tranquilidade, muito parecido com seshin— prática que dura 1 semana — quando tudo se torna mais claro, mais desperto.
Tradicionalmente, ensinamentos orientais são fortemente contra às drogas. Mas sua tradição em particular possui uma exceção a essa regra, e seu professor no Japão havia usado peyote, LSD e MDMA. Certa vez Pari irritou o professor Budista vietnamita Thich Nhat Hanh por apontar que a maioria dos estudantes ocidentais o procuravam pelas experiências com as drogas, então não era certo para ele ter uma posição forte contrária ao uso de drogas, especialmente já que ele não havia experimentado por si mesmo.
Ele havia usado MDMA para ensinar com alguns estudantes, incluindo um que já fora sido ordenado monge. Esse era um homem extremamente intenso e colocava um esforço tremendo para fazer o seu melhor na meditação. O MDMA o ajudou a ver que o tentar em si era o seu principal obstáculo. Outro estudante era um homem de negócios bem sucedido e mão de ferro. MDMA simplesmente o parou — ele mudou dramaticamente em uma pessoa calorosa e satisfeita que apenas queria se sentar tranquilamente no zendo.
Quando perguntei se o sucesso com o MDMA era válido tanto quanto sem, ele respondeu : “É a experiência que importa, não como você chega lá. Olhe para a história das grande religiões. Muitos dos seus fundadores e santos tiveram uniões místicas durante febre causada por ferimentos, durante o qual, como sabemos hoje, o corpo produz substâncias psicodélicas. Um bom exemplo seria Inácio de Loyola, fundador da ordem Jesuíta.”
Eu perguntei a Pari se pensava que haviam alguns tipos de pessoas que não se beneficiariam ou seriam enganados pelo MDMA. “Pode ser um problema para aqueles que não estão suficientemente aterrados, aqueles com tendencia a flutuar em outros mundos facilmente, de qualquer modo. Entretanto, a maioria de nós somos muito ligados a terra, presos demais nessa realidade em particular e uma pequena ajuda de um amigo pode ser de grande valor.” Ao contrário do LSD e outras drogas, o MDMA age em termos de relacionamentos — consigo, Deus, natureza. Ele ainda abre um terreno comum com outras pessoas as quais ainda não conhece.
Eu perguntei se havia algum motivo para usar o MDMA uma vez a iluminação ter sido atingida. “Atingir a iluminação para a maioria de nós é transitório e raro. Depois de um tempo, a experiência direta é substituída pela lembrança dela e uma experiência direta de tempos em tempos ajuda e revigora.” Mas, eu perguntei, a experiência induzida pela droga era realmente a mesma? Após certa hesitação Pari respondeu, “Sim, o estado da mente é idêntico, ainda assim há uma diferença sútil, talvez em razão dos efeitos físicos da droga no corpo. Sem a droga, há apenas um fator a menos. Isso é simples, e talvez implique em ser melhor. O valor desse estado é o mesmo: poder olhar para trás e ver o estado da mente “normal” com uma perspectiva clara mas diferente.”
Qual a situação ideal? “Para um iniciante, um amigo confiável e mais experiente é altamente recomendável. Você deve criar um ambiente que ache convidativo. Faça a prática espiritual que você tiver. Para alguns pode ser cantar, rezar, pintar, meditar ou sentar em uma catedral; para outros é andar sozinho pelas montanhas.” Porém, ele alertou que nem toda tentativa é positiva. Ele sentiu mal e tremulo em sua última experiência com MDMA, embora depois de uma hora ele vomitou e então se sentiu melhor.
Notoriamente ilegal e sinônimo de hedonismo, o LSD e Ecstasy começaram a vida como ajuda à psicoterapia. Sam Wong encontra o grupo de psiquiatras que estão trabalhando para recuperá-los para a medicina novamente.
Às 6:30 da manhã na quinta-feira , 29 de outubro de 2009,a campainha de Friederike Meckel Fischer tocou. Havia dez policiais lá fora. Eles vasculharam a casa, colocaram algemas em Friederike- uma pequena mulher em seus sessenta anos- e em seu marido, e os levaram a uma prisão preventiva. O casal teve suas fotografias e impressões digitais tiradas e foram colocados em celas separadas isoladamente. Depois de algumas horas, Friederike, uma psicoterapeuta, foi levada para interrogatório.
O oficial leu de volta para ela à promessa de sigilo que ela tinha feito cada cliente fazer no início de suas sessões de terapia de grupo. “Então eu sabia que eu estava realmente em apuros”, diz ela.
“Eu prometo não divulgar o local ou nomes das pessoas presentes ou a medicação. Prometo não prejudicar a mim ou aos outros de forma alguma durante ou após esta experiência. Eu prometo que vou sair dessa experiência mais saudável e mais sábia. Eu assumo a responsabilidade pessoal para o que eu faço aqui”.
A polícia suíça havia sido contatada por uma ex-cliente cujo marido a deixou depois dela ter feito terapia. Ela alegou responsabilidade a Friederike.
As 16:00 os pacientes eram convocados a discutir suas experiências, então um motorista levava-os para casa, as vezes ainda enquanto eles estavam sob a influência da droga
O que colocou Friederike em apuros foram seus métodos de terapia não-ortodoxas. Juntamente com sessões separadas de conversas terapêuticas convencionais, ela ofereceu um catalisador, uma ferramenta para ajudar seus clientes a se reconectar com seus sentimentos, com as pessoas ao seu redor, e com experiências difíceis em suas vidas. Esse catalisador foi o LSD. Em muitas de suas sessões, eles também usariam outra substância: MDMA, ou Ecstasy.
Friederike foi acusada de colocar seus clientes em perigo, tráfico de drogas para lucro próprio, e pondo em risco a sociedade com “drogas intrinsecamente perigosas”. Tal terapia psicodélica está na periferia de ambos: psiquiatria e sociedade. No entanto, o LSD e MDMA começaram a vida como medicamentos para a terapia e novos ensaios estão testando se eles poderiam ser usados novamente.
Em 1943, Albert Hofmann, um químico no laboratório de farmacêutica Sandoz, em Basileia, na Suíça, estava tentando desenvolver drogas para contrair os vasos sanguíneos, quando ele acidentalmente ingeriu uma pequena quantidade de dietilamida do ácido lisérgico, o LSD. Os efeitos o sacudiram. Como ele escreve em seu livro LSD: Minha Criança Problema:
“Os objetos, bem como a forma de meus colegas no laboratório começaram a sofrer mudanças ópticas… A luz era tão intensa a ponto de ser desagradável. Eu tirei as cortinas e imediatamente caí em um estado peculiar de “embriaguez”, caracterizada por uma imaginação exagerada. Com os olhos fechados, imagens fantásticas de extraordinária plasticidade e cor intensa pareciam surgir para mim. Depois de duas horas, este estado gradualmente desapareceu e eu era capaz de comer o jantar com um bom apetite”.
Intrigado, ele decidiu tomar o medicamento uma segunda vez na presença de seus colegas, um experimento para determinar se era realmente a causa. Os rostos de seus colegas logo apareceram “como máscaras coloridas grotescas”, ele escreve:
“Eu perdi todo o controle de tempo: o espaço e o tempo tornaram-se mais e mais desorganizados e eu fui tomado com um medo de que eu estava ficando louco. A pior parte era que eu estava claramente consciente da minha condição que eu era incapaz de parar. Às vezes eu senti como estando fora do meu corpo. Eu pensei que eu tinha morrido. O meu ‘ego’ foi suspenso em algum lugar no espaço e vi meu corpo morto no sofá. Eu observei e registrei claramente que o meu ‘alter ego’ estava se movendo ao redor da sala, gemendo”.
Mas ele parecia particularmente impressionado com o que ele sentia na manhã seguinte: “O café da manhã tinha um sabor delicioso e foi um prazer extraordinário. Quando mais tarde eu saí para o jardim, onde o sol brilhava, depois de uma chuva de primavera, tudo brilhava em uma nova luz. O mundo era como se tivesse sido recém-criado. Todos os meus sentidos vibrando em uma condição de maior sensibilidade que persistiu durante todo o dia”.
Hofmann sentiu que era de grande importância que ele poderia lembrar a experiência em detalhes. Ele acreditava que a droga poderia de ser um enorme valor para a psiquiatria. Os laboratórios Sandoz, depois de assegurar que era não-tóxico para ratos, camundongos e seres humanos, logo começaram a oferecê-los para uso científico e médico.
Um dos primeiros a começar a usar a droga foi Ronald Sandison. O psiquiatra britânico visitou Sandoz em 1952 e, impressionado com a pesquisa de Hofmann, voltou com 100 frascos do que foi então chamado Delysid. Sandison imediatamente começou dando a pacientes no Hospital Powick em Worcestershire, que estavam deixando de fazer progressos na psicoterapia tradicional. Após três anos, os chefes do hospital estavam tão satisfeitos com os resultados que eles construíram uma nova clínica LSD. Os pacientes que chegavam na parte da manhã, tomavam o seu LSD, em seguida, deitavam-se em salas privadas. Cada um tinha um toca-discos e um quadro negro para desenhar, e enfermeiras ou registradores iam verificar-los regularmente. Ás 16:00 os pacientes eram convocados a discutir suas experiências, e em seguida, o condutor os levava para casa, por vezes, enquanto eles ainda estavam sob a influência da droga.
Dra. Friederike Meckel Fischer
Na mesma época, outro psiquiatra britânico, Humphrey Osmond, trabalhando no Canadá, fez experiências com o uso de LSD para ajudar alcoólicos a parar de beber. Ele relatou que a droga, em combinação com a psiquiatria de suporte, alcançou taxas de abstinência de 40-45 por cento, muito maior do que qualquer outro tratamento no momento, ou antes. Em outros lugares, os estudos de pessoas com câncer terminal mostraram que a terapia com o LSD poderia aliviar a dor, melhorar a qualidade de vida e aliviar o medo da morte.
Nos EUA, a CIA tentou dar LSD para membros inocentes do público para ver se era possível fazê-los desistirem de segredos. Enquanto isso na Universidade de Harvard, Timothy Leary, incentivado por, entre outros, o poeta beat Allen Ginsberg distribuiu a substância para artistas e escritores, que, então, descrevem as suas experiências. Quando surgiram rumores de que ele estava dando drogas para estudantes, oficiais da lei começaram a investigar e a universidade alertou os estudantes contra a tomar o medicamento. Leary aproveitou a oportunidade para pregar sobre o poder da droga como uma ajuda para o desenvolvimento espiritual, e logo foi demitido de Harvard, o que alimentou ainda mais a sua notoriedade e a da droga. O escândalo chamou a atenção da imprensa e logo todo o país tinha ouvido falar de LSD.
Em 1962, a Sandoz teve a sua distribuição de LSD cortada, devido ao resultado das restrições ao uso de drogas experimentais provocadas por um escândalo de drogas completamente diferente: defeitos congênitos ligados à droga contra enjôos matinais – talidomida. Paradoxalmente, as restrições coincidiram com um aumento da disponibilidade do LSD- a fórmula não foi difícil ou dispendiosa de obter, e aqueles que foram determinados para sintetizar poderiam realizar com dificuldade moderada e em grandes quantidades.
Ainda assim, o pânico moral em cima dos efeitos sobre as mentes dos jovens eram abundantes. As autoridades também estavam preocupados com a associação de LSD com o movimento de contracultura e a disseminação de pontos de vista anti-autoritários. Logo em seguida foram solicitadas proibições pra toda a nação, e muitos psiquiatras deixaram de usar o LSD à medida que sua reputação negativa ia crescendo.
Uma das muitas histórias na imprensa falou de Stephen Kessler, que assassinou sua sogra e afirmou mais tarde que ele não se lembrava do que tinha feito enquanto estava “voando com o LSD”. No julgamento, foi revelado que ele havia tomado LSD um mês antes, e no momento do assassinato estava embriagado apenas com álcool e comprimidos para dormir, mas milhões acreditavam que o LSD o tinha transformado em um assassino. Outro relatório contava de estudantes universitários que ficaram cegos depois de olharem para o sol no LSD.
Duas subcomissões do Senado dos Estados Unidos, realizadas em 1966, ouviram de médicos que afirmaram que o LSD causava psicose e “a perda de todos os valores culturais”, bem como de apoiadores do LSD como Leary e do senador Robert Kennedy, cuja esposa Ethel foi dito ter sido submetida a terapia de LSD . “Talvez, em certa medida, perdemos de vista o fato de que ele pode ser muito, muito útil em nossa sociedade, se usado corretamente”, disse Kennedy, desafiando a Food and Drug Administration para fechar programas de investigação sobre o LSD.
A posse de LSD se tornou ilegal no Reino Unido em 1966 e nos EUA em 1968. O uso experimental por pesquisadores ainda era possível com licença, mas com o estigma associado ao status legal de drogas, estes se tornaram extremamente difíceis de obter. As pesquisas pararam, mas o uso recreativo ilegal continuou.
Na idade de 40, após 21 anos de casamento, Friederike Meckel Fischer se apaixonou por outro homem. Infelizmente, como ela logo descobriu, ele estava usando ela para sair de seu próprio casamento. “Eu tinha uma dor dentro de mim com o fato desse homem ter me deixado, e com o meu marido que eu não conseguia me conectar”, diz ela. “Foi como se eu estivesse fora de mim mesmo.”
Sua solução era se tornar uma psicoterapeuta. Ela diz que nunca pensou em ir fazer terapia, que na Alemanha Ocidental em 1980, foi reservada apenas para as condições mais graves. Além do que, sua educação lhe ensinou a fazer as coisas por si mesmas, em vez de procurar a ajuda de outros.
Friederike na época trabalhava como médica do trabalho. Ela reconheceu que muitos dos problemas que ela viu em seus pacientes foram enraizados em problemas com seus chefes, colegas ou familiares. “Eu vim à conclusão de que tudo o que eles estavam tendo problemas estava ligado a questões de relacionamento”, diz ela.
Um ex-professor dela recomendou que ela tentasse uma técnica chamada respiração holotrópica. Desenvolvido por Stanislav Grof, um dos pioneiros da psicoterapia com o LSD, esta é uma forma de induzir estados alterados de consciência através respirações aceleradas e profundas, como a hiperventilação. Grof tinha desenvolvido a respiração holotrópica em resposta à proibição de consumo de LSD ao redor do mundo.
Ao longo de três anos, viajou várias vezes para os EUA em feriados, e Friederike foi submetida a treinamento com Grof como facilitador na respiração holotrópica. No final do mesmo, Grof a encorajou a tentar psicodélicos.
No último seminário, um colega lhe deu duas pequenas pílulas azuis como um presente. Quando ela voltou para a Alemanha, Friederike partilhou uma das pílulas azuis com seu amigo Konrad, que mais tarde se tornou seu marido. Ela diz que se sentiu levantada por uma onda e jogada em uma praia branca, capaz de acessar partes de sua psique que antes estavam fora dos limites. “A primeira experiência foi impressionante para mim”, diz ela. “Eu só pensei: ‘É isso. Eu posso ver as coisas. “E comecei a sentir. Isso foi, para mim, inacreditável. ”
As pílulas eram MDMA, uma droga que tinha sido o centro das atenções em 1976 quando o químico americano Alexander ‘Sasha’ Shulgin redescobriu 62 anos depois que foi patenteado pela Merck e depois esquecido. Em uma história com as origens parecidas com a do LSD, após tomá-lo, Shulgin observou sentimentos de “euforia pura” e “força interior sólida”, e sentiu que podia “falar sobre assuntos profundos ou pessoais com clareza especial”. Ele apresentou a seu amigo Leo Zeff, um psicoterapeuta aposentado que trabalhou com LSD e acreditava que a obrigação de ajudar os pacientes tomou prioridade sobre a lei. Zeff tinha continuado a trabalhar com LSD secretamente após a sua proibição. O potencial de MDMA tirou Zeff da aposentadoria. Ele viajou ao redor do EUA e na Europa para instruir terapeutas em terapia com MDMA. Ele o chamou de “Adão”, por colocar o paciente em um estado primordial de inocência, mas, ao mesmo tempo, ele havia adquirido outro nome em casas noturnas: Ecstasy.
O MDMA tornou-se ilegal no Reino Unido por uma decisão em 1977 que pôs toda a família química na categoria mais rigorosamente controlada: classe A. Nos EUA, a Drug Enforcement Administration (DEA), criado por Richard Nixon em 1973, declarou uma proibição temporária, em 1985. Em uma audiência para decidir seu status permanente, o juiz recomendou que ele devesse ser colocado no “Schedule III”, o que permitiria o uso por terapeutas. Mas a DEA anulou a decisão do juiz e colocou MDMA no Schedule I, a categoria mais restritiva. Sob a influência americana, a Comissão das Nações Unidas sobre Narcóticos deu ao MDMA uma classificação semelhante dentro da lei (embora um comitê de peritos formado pela Organização Mundial da Saúde argumentou que tais restrições graves não eram justificadas).
Substâncias em Schedule I são permitidas o uso em pesquisas no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre Substâncias Psicotrópicas. Na Grã-Bretanha e nos EUA, os pesquisadores e suas instituições devem solicitar licenças especiais, mas estes são caros para obter, e encontrar fabricantes que irão fornecer drogas controladas é difícil.
Mas, na Suíça, que na época não fazia parte da convenção, um pequeno grupo de psiquiatras persuadiram o governo a permitir o uso de LSD e MDMA em terapia. De 1985 até meados da década de 1990, foi autorizado aos terapeutas licenciados dar a droga para quaisquer pacientes, para treinar outros terapeutas no uso das drogas, e para uso próprio, com pouca supervisão.
Ele o chamou de “Adão”, porque coloca o paciente em um estado primordial de inocência
Acreditando que o MDMA podia ajudá-la a ganhar uma compreensão mais profunda de seus próprios problemas, Friederike procurou por um lugar onde tivesse um curso de “terapia psicolítica” na Suíça. Em 1992, ela e Konrad foram aceitos em um grupo de treinamento executado por um terapeuta licenciado chamado Samuel Widmer.
O curso acontecia no fim de semana a cada três meses na casa de Widmer em Solothurn, uma cidade a oeste de Zurique. A formação central consistia em tomar as substâncias um número de vezes, 12 no total, para conhecer os seus efeitos e passar por um processo de auto-exploração. Friederike diz que as experiências com drogas mostraram-lhe como toda a sua vida tinha sido colorido pela perda de seu pai com a idade de cinco anos e as dificuldades de crescer em pós-guerra na Alemanha Ocidental.
“Eu posso detectar relações, interconexões entre coisas que eu não podia ver antes”, diz ela sobre suas experiências com MDMA. “Eu poderia olhar para as experiências difíceis em minha vida sem ser imediatamente atirada para elas novamente. Eu poderia, por exemplo, ver uma experiência traumática, mas não se conectar a sensação horrível do momento. Eu sabia que era uma coisa horrível, e eu podia sentir que eu tive medo, mas eu não senti o medo.”
Pessoas em experiências psicodélicas, muitas vezes falam de experiências profundas e espirituais. Voltando na década de 1960, Walter Pahnke, um estudante de Timothy Leary, realizou uma experiência notória em Chapel Marsh da Universidade de Boston mostrando o que os psicodélicos poderiam induzir.
Ele deu a dez voluntários uma grande dose de psilocibina- o ingrediente ativo nos cogumelos mágicos – e deu a dez voluntários um placebo ativo, ácido nicotínico, o que causou uma sensação de formigamento, mas sem efeitos mentais. Oito pessoas do grupo da psilocibina tiveram experiências espirituais, comparado com uma pessoa do grupo de placebo. Em estudos posteriores, os investigadores identificaram características fundamentais de tais experiências, incluindo inefabilidade, a incapacidade de colocar em palavras; paradoxalidade, a crença de que as coisas contraditórias são verdadeiras ao mesmo tempo; e a sensação de se sentir mais ligado a outras pessoas ou coisas.
“Eu sinto que há espaço em torno de mim. Parecia quando minha mãe ainda estava viva, quando eu conheci o meu parceiro, e tudo era uma espécie de OK, e foi tão perceptível porque eu não tinha tido isso em um bom tempo.”
“A experiência pode ser realmente útil quando eles sentem uma conexão mesmo com alguém que lhes causou ferida, e uma compreensão de que o que pode ter causado a eles para se comportarem da maneira que eles fizeram”, diz Robin Carhart-Harris, pesquisador de psicodélicos no Imperial College London. “Eu acho que o poder de alcançar esses tipos de realizações realmente mostra o incrível valor de psicodélicos e captura o porquê eles podem ser tão eficazes e valiosos na terapia. Eu acho que só pode realmente acontecer quando as defesas se dissolverem. Defesas que ficam no caminho dessas realizações”.
Ele compara o sentimento de conexão com coisas além de si mesmo ao “efeito de visão geral” sentida pelos astronautas quando eles olham para trás na Terra. “De repente, eles pensam: ‘Que bobagem minha e das pessoas em geral a ter conflitos bobos que achamos que são enormes e importantes.” Quando você está no espaço, olhando para a totalidade da Terra, o coloca em perspectiva. Eu acho que um tipo semelhante de visão geral é engendrado por psicodélicos. ”
Carhart-Harris está a realizar o primeiro ensaio clínico para estudar a psilocibina como um tratamento para a depressão. Ele é um dos poucos pesquisadores em todo o mundo que estão indo adiante com a pesquisa sobre terapia psicodélica. Doze pessoas participaram no seu estudo até agora.
Eles começam com uma varredura do cérebro, e uma longa sessão de preparação com os psiquiatras. No dia da terapia, eles chegam às 9 da manhã, preenchem um questionário e fazem testes para se certificar de que eles não tenham tomado outras drogas. A sala de terapia foi decorada com cortinas, enfeites, luzes brilhantes coloridas, velas elétricas, e um aromatizador. Um estudante PhD, que também é músico, preparou uma lista de reprodução, que o paciente pode ouvir através de fones de ouvido ou de alto-falantes de alta qualidade na sala. Eles passam a maior parte da sessão deitados em uma cama, explorando os seus pensamentos. Dois psiquiatras sentam com eles e interagem quando o paciente quer falar. Os pacientes têm duas sessões de terapia: um com uma dose baixa, em seguida, uma com uma dose alta. Depois disso, eles têm uma sessão de acompanhamento para ajudá-los a integrar as suas experiências e cultivar maneiras mais saudáveis de pensar.
Eu encontrei Kirk, um dos participantes, dois meses após a sua sessão de alta dose. Kirk tinha estado depressivo, especialmente desde a morte de sua mãe há três anos. Ele experimentou repetitivos padrões de comportamento, dando voltas e voltas em uma pista de pensamentos negativos, diz ele.
“Eu não estava tão motivado, eu não estava fazendo tanto, eu não estava exercendo mais, eu não estava tão social, eu estava tendo um pouco de ansiedade. Apenas foi se deteriorando. Cheguei ao ponto em que eu me senti bastante desesperado. Não se encontrava realmente o que estava acontecendo na minha vida. Eu tinha um monte de coisas boas acontecendo na minha vida. Eu estou empregado, eu tenho um trabalho, eu tenho família, mas realmente era como um atoleiro que você afunda.”
No auge da experiência com drogas, Kirk foi profundamente afetado pela música. Ele entregou-se a música e sentiu-se tomado de temor. Quando a música estava triste, ele pensou na sua mãe, que estava doente há muitos anos antes de sua morte. “Eu costumava ir para o hospital e vê-la, e uma grande parte do tempo que ela estava dormindo, então eu não a acordava; Eu tinha acabado de se sentar na cama. E ela estaria ciente de que eu estava lá e acordaria. Foi uma sensação muito amorosa. Eu passei por esse momento muito intensamente. Eu acho que foi muito bom em uma maneira. Eu acho que ajudou a deixar ir.”
Durante as sessões de terapia, houve momentos de ansiedade quando os efeitos da droga começaram a tomar conta, quando Kirk sentiu frio e tornou-se preocupado com a sua respiração. Mas ele foi tranqüilizado pelos terapeutas, e o desconforto passou. Ele viu cores brilhantes, “como estar no parque de diversões”, e sentiu vibrações permear seu corpo. Em um ponto, ele viu o deus elefante hindu Ganesha olhando para ele, como se estivesse olhando uma criança.
Embora a experiência tivesse o afetado, ele notou pouca melhora em seu estado de espírito nos primeiros dez dias depois. Então, enquanto estava fazendo compras com amigos em um domingo de manhã, ele sentiu uma agitação.
“Eu sinto que há espaço em torno de mim. Parecia quando minha mãe ainda estava viva, quando eu conheci a minha parceira, e tudo era uma espécie de OK, e foi tão perceptível porque eu não tinha tido isso em um bom tempo.”
Houve altos e baixos desde então, mas no geral, ele se sente muito mais otimista. “Eu não tenho mais aquela negatividade. Estou sendo mais social; Eu estou fazendo coisas. Esse tipo de peso, que suprimiu o sentimento se foi, o que é incrível, realmente. Isso levantou uma pesada capa de cima de mim”.
Fischer dando uma palestra sobre psicoterapia com psicodélicos.
Outro participante, Michael, vinha lutando contra a depressão há 30 anos, e tentou quase todos os tratamentos disponíveis. Antes de tomar parte no julgamento, ele tinha praticamente desistido. Desde o dia de sua primeira dose de psilocibina, ele se sentiu completamente diferente. “Eu não podia acreditar o quanto ela tinha me mudado tão rapidamente”, diz ele. “A minha abordagem à vida, a minha atitude, a minha maneira de olhar o mundo, apenas tudo, dentro de um dia.”
Uma das partes mais valiosas da experiência o ajudou a superar o medo arraigado de morte. “Eu senti como se estivesse sendo mostrado o que acontece depois da vida após a morte”, diz ele. “Eu não sou uma pessoa religiosa e eu me sinto pressionado a dizer que eu era nada espiritual também, mas eu senti como se tivesse experimentado alguma coisa disso, e experimentei a sensação de uma vida futura, quase como uma pré-visualização, e eu me senti totalmente calmo, totalmente relaxado, totalmente em paz. Para que, quando chegar esse momento para mim, eu não tenha medo nenhum”
Durante seu treinamento com Samuel Widmer, Friederike também trabalhou em uma clínica de dependência. O insight de suas experiências com drogas deu-lhe nova empatia. “De repente, eu poderia entender meus clientes na clínica com sua dependência de álcool”, diz ela. “Eles estavam lidando de forma diferente do que eu tinha feito. Eles tinham quase os mesmos problemas ou sintomas que eu tinha só que eu não tinha começado a beber. “Mas só alguns deles foram capazes de se abrir sobre como essas experiências os fizeram sentir. Ela perguntou-se: poderia uma experiência com MDMA ajudá-los a liberar essas emoções?
MDMA é um parente mais doméstico dos clássicos psicodélicos-psilocibina, LSD, Mescalina, DMT. Eles têm efeitos que podem ser perturbadores, como distorções sensoriais, a dissolução do senso de si mesmo, e o reviver vívido de memórias assustadoras. Os efeitos do MDMA são mais curtos na duração, tornando-o mais fácil de manusear em uma sessão de psicoterapia.
Friederike abriu seu próprio consultório particular de terapia psicodélica em Zurique no ano de 1997. Durante os próximos anos, ela começou a hospedar sessões de terapia com grupos aos fins de semana com psicodélicos em sua casa, convidando os clientes que tinham falhado a fazer progressos na terapia de fala convencional.
Desde os anos 1950, os psiquiatras têm reconhecido a importância do contexto para determinar que tipo de experiência o usuário de LSD teria. Eles enfatizaram a importância de “set” – mentalidade do usuário, suas crenças, expectativas e experiências e “setting” – o meio físico onde a droga é tomada, os sons e as características do ambiente e as outras pessoas presentes.
Um ambiente de apoio e um terapeuta experiente podem diminuir o risco de uma bad trip, mas experiências assustadoras ainda acontecem. De acordo com Friederike, elas são parte da experiência terapêutica. “Se um cliente é capaz de passar por ou deixa-se conduzir através e trabalhar com, a bad trip se transforma no passo mais importante no caminho para si mesmo”, diz ela.
“Mas sem uma definição correta, sem um terapeuta que sabe o que está fazendo e sem o compromisso do cliente, acabamos em uma bad trip“.
Seus clientes iam pra sua casa numa sexta-feira à noite, falar sobre seus problemas recentes e discutir o que eles queriam alcançar na sessão de drogas. No sábado de manhã, eles sentavam-se em um círculo no tatame, faziam a promessa de sigilo, e cada um tomava uma dose pessoal de MDMA proposto por Friederike com antecedência. Friederike iria começar com o silêncio, em seguida, tocar música, e falar com os clientes individualmente ou como um grupo para trabalhar através de seus problemas. Às vezes, ela pedia a outros membros do grupo para assumir o papel de membros da família de um cliente, e juntos a discutir os problemas em seu relacionamento. Na parte da tarde eles iriam fazer o mesmo com o LSD, o que muitas vezes permitem que os participantes se sintam como se estivessem revivendo memórias traumáticas. Friederike os guiava através da experiência, e ajudava-os a entender isso de uma maneira nova. No domingo, eles discutiam as experiências do dia anterior e como integrá-los em suas vidas.
A prática de Friederike, no entanto, era ilegal. As licenças terapêuticas para usar as drogas foram retiradas pelo governo suíço por volta de 1993, após a morte de um paciente na França sob o efeito da ibogaína, outra droga psicotrópica. (Determinou-se mais tarde que ele morreu de uma doença cardíaca não diagnosticada).
Os primeiro pesquisadores do LSD não tinham nenhuma maneira de olhar para o que estava fazendo dentro do cérebro. Agora temos scans cerebrais. Robin Carhart-Harris realizou esses estudos com a psilocibina, LSD e MDMA. Ele me diz que há dois princípios básicos de como os psicodélicos clássicos operam. A primeira é a desintegração: as partes que compõem redes diferentes no cérebro tornam-se menos coesivas. A segunda é a desagregação: os sistemas que se especializam em funções específicas de como o cérebro se desenvolvem, tornam-se, em suas palavras, “menos diferentes” uns dos outros.
Estes efeitos de alguma forma podem explicar como os psicodélicos poderiam ser terapeuticamente úteis. Certas doenças, como depressão e dependência, estão associados a padrões característicos de atividade cerebral que são difíceis de romper.
“O cérebro entra por esses padrões, padrões patológicos e os padrões podem se enraizarem. O cérebro gravita facilmente por esses padrões e fica preso neles. Eles são como redemoinhos, e a mente é sugada para dentro destes redemoinhos e fica presa. “
Psicodélicos dissolvem padrões e organizações, e introduzem “uma espécie de caos”, diz Carhart-Harris. Por um lado, o caos pode ser visto como uma coisa ruim, ligada com coisas como psicose, uma espécie de “tempestade na mente”, como ele diz. Mas você também pode ver o caos como tendo valor terapêutico.
“A tempestade poderia vir e lavar alguns dos padrões patológicos e padrões arraigados que se formaram e estão na base da desordem. Os psicodélicos parecem ter o potencial através deste efeito sobre o cérebro para dissolver ou desintegrar-se padrões patologicamente arraigados de atividade cerebral.”
O potencial terapêutico sugerido por Carhart-Harris através de estudos com scans no cérebro persuadiu o Conselho de Pesquisa Médica do Reino Unido a financiar o tratamento com psilocibina para a depressão. É muito cedo para avaliar o seu sucesso, mas os resultados até agora têm sido encorajadores. “Alguns pacientes agora estão em remissão meses depois de ter tido o seu tratamento”, diz Carhart-Harris.
“Anteriormente suas depressões eram muito graves, então eu acho que esses casos podem ser considerados transformações. Eu não tenho certeza se existem quaisquer outros tratamentos lá fora, que realmente tenha esse potencial para transformar a situação de um paciente depois de apenas duas sessões de tratamento.”
No caminho da proibição de MDMA, o psicólogo americano Rick Doblin fundou a Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos (MAPS) para apoiar a investigação com o objetivo de restabelecer o lugar dos psicodélicos na medicina. Quando o psiquiatra suíço Peter Oehen ouviu que eles estavam financiando um estudo sobre o uso de MDMA para ajudar as pessoas com transtorno de estresse pós-traumático (PTSD), ele pulou em um avião para conhecer Doblin, em Boston.
Como Friederike, Oehen foi treinado em terapia psicodélica, enquanto ela ainda era legal na Suíça no início de 1990. Doblin concordou em apoiar um pequeno estudo com 12 pacientes no consultório particular de Oehen em Biberist, uma pequena cidade cerca de meia hora de trem da capital suíça, Berna.
Oehen acha que a elevação de humor do MDMA, a redução do medo e os efeitos pró-sociais tornam uma ferramenta promissora para facilitar a psicoterapia para PTSD. “Muitas dessas pessoas traumatizadas foram traumatizadas por algum tipo de violência interpessoal e perderam a sua capacidade de se conectar, estão desconfiados, distantes”, diz Oehen. “Isso os ajuda a recuperar a confiança. Isso ajuda a construir uma relação sonora e respeitável no relacionamento terapêutico”. E também coloca o paciente em um estado de espírito onde eles podem enfrentar as suas memórias traumáticas sem tornar-se angustiados, diz ele, ajudando a começar a reprocessar o trauma de uma maneira diferente.
O primeiro estudo PTSD da MAPS nos EUA foi publicado em 2011, e os resultados foram de abrir os olhos. Depois de duas sessões de psicoterapia com MDMA, 10 dos 12 participantes já não preenchiam os critérios para PTSD. Os benefícios ainda eram evidentes quando os pacientes foram acompanhados de três a quatro anos após a terapia.
Os resultados de Oehen eram menos dramáticos, mas todos os pacientes que tiveram a terapia assistida por MDMA sentiram alguma melhoria. “Eu ainda estou em contato com quase metade das pessoas”, diz ele. “Eu posso ver as pessoas ainda ficarem melhores depois de anos durante o processo e resolvendo os seus problemas. Vimos isso no acompanhamento em longo prazo, que os sintomas melhoram após o tempo, porque as experiências lhes permitiam melhorar de uma maneira diferente à psicoterapia normal. Estes efeitos- estar mais aberto, mais calmo, mais disposto a enfrentar difíceis problemas – isso continua.”
Em pessoas com PTSD, a amígdala cerebral, uma parte primitiva do cérebro que orquestra respostas de medo, é hiperativa. O córtex pré-frontal, uma parte mais sofisticada do cérebro que permite que pensamentos racionais substituam o medo, é menos ativo. Estudos de imagem cerebral com voluntários saudáveis demonstraram que o MDMA tem os efeitos de aumento de opostos na resposta do córtex pré-frontal e diminuindo a resposta da amígdala.
“Eu fui abençoada por um advogado compreensivo e um juiz inteligente.”
Ben Sessa, um psiquiatra que trabalha em torno de Bristol, no Reino Unido, está se preparando para realizar um estudo da Universidade de Cardiff para testar se as pessoas com PTSD respondem ao MDMA da mesma forma. Ele acredita que as experiências negativas iniciais estão na raiz não apenas de PTSD, mas também de muitos outros transtornos psiquiátricos, e nisso os psicodélicos dão aos pacientes a capacidade de reprocessar essas memórias.
“Eu tenho estado na psiquiatria há quase 20 anos agora e cada um dos meus pacientes tem uma história de trauma”, diz ele. “Maus-tratos de crianças é a causa da doença mental, na minha opinião. Uma vez que a personalidade de uma pessoa ter sido formada na infância e adolescência e na idade adulta precoce, é muito difícil para incentivar o paciente a pensar o contrário. “O que psicodélicos fazem, mais do que qualquer outro tratamento, diz ele, é oferecer uma oportunidade para “pressionar o botão de reset” e dar ao paciente uma nova experiência de uma narrativa pessoal.”
Sessa está a planejar um estudo separado para testar MDMA como um tratamento para a síndrome de dependência do álcool – pegando o rastro de pesquisa de Humphrey Osmond com o LSD há 60 anos.
Ele acredita que a psiquiatria seria muito diferente hoje, se a pesquisa com psicodélicos tivesse procedido de uma forma livre desde os anos 1950. Psiquiatras, desde então, viraram-se para os antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos. Estas drogas, diz ele, ajudam a gerir a condição do paciente, mas não são curativos, e também carregam efeitos colaterais perigosos.
“Nós nos tornamos tão acostumados à psiquiatria sendo um campo de cuidados paliativos da medicina”, diz Sessa. “Que nós estamos com você para toda a vida. Você vem para nós em seus 20 e poucos anos com grave transtorno de ansiedade; Eu ainda estarei cuidando de você em seus 70 anos. Estamos acostumados a isso.”
Será que as drogas psicodélicas vão ser medicamentos legais de novo? O MAPS está a apoiar ensaios de psicoterapia assistida com MDMA para PTSD nos EUA, Austrália, Canadá e Israel, e eles esperam ter provas suficientes para convencer os reguladores para aprová-lo até 2021. Enquanto isso, ensaios utilizando psilocibina para tratar a ansiedade em pessoas com câncer vêm ocorrendo na Johns Hopkins University e da Universidade de New York desde 2007.
Eu pedi para alguns psiquiatras darem suas opiniões sobre o uso legal de psicodélicos em terapia. Um dos poucos que o fizeram, Falk Kiefer, diretor médico do Departamento de Comportamento de Vício e Dependência Medicina no Instituto Central de Saúde Mental de Mannheim, na Alemanha, diz que ele é cético sobre a capacidade de as drogas mudarem comportamento dos pacientes. “O tratamento psicodélico pode resultar na obtenção de novos conhecimentos, ‘ver o mundo de uma maneira diferente”. Isso é bom, mas se ele não resultar em aprendizado de novas estratégias para lidar com o mundo real, a evolução clínica será limitada. ”
Carhart-Harris diz que a única maneira de mudar a mente das pessoas é para a ciência ser tão boa que os financiadores e reguladores não podem ignorá-la. “A idéia é que podemos apresentar dados que realmente se tornam irrefutáveis para essas autoridades que têm reservas, e podemos começar a mudar suas perspectivas e trazê-los ao redor para levar isso a sério.”
Após 13 dias em prisão, Friederike foi solta. Ela apareceu no tribunal em julho de 2010, acusada de violar a lei de narcóticos e colocando em risco seus clientes, o último dos quais poderia significar até 20 anos de prisão. Um número de neurocientistas e psicoterapeutas testemunharam em sua defesa, argumentando que uma porção de LSD não é uma substância perigosa e não tem efeitos prejudiciais significativos quando tomado em um ambiente controlado (MDMA não foi incluído no caso da acusação).
O juiz aceitou que Friederike tinha dado seus medicamentos aos clientes como parte de um quadro terapêutico, com uma análise cuidadosa para a sua saúde e bem-estar, e a declarou culpada de posse de LSD, mas não a culparam de pôr em perigo as pessoas. Para o crime de narcóticos, ela foi multada em 2.000 francos suíços e dada uma sentença suspensa de 16 meses de liberdade condicional de dois anos.
“Eu fui abençoada por um advogado muito compreensivo e um juiz inteligente”, diz ela. Ela ainda considera a mulher que relatou ela à polícia uma bênção, uma vez que o caso lhe permitiu falar abertamente sobre seu trabalho com psicodélicos. Ela dá palestras ocasionais em conferências psicodélicas, e escreveu um livro sobre sua experiência, que ela espera guiar outros terapeutas em como trabalhar com as substâncias de forma segura.
Aterrizando na Ilha de Wight, peguei um táxi com mais dois caras de Londres. Íamos todos para o Bestival, o último grande festival britânico do verão, e meus colegas que cada um tinham tomado umas pílulas antes de cruzar o Solent (um estreito que separa Wight da Grã-Bretanha) estavam ansiosos.
“Ainda temos mais um monte sobrando”, me disse com orgulho um deles. “Vou esconder os comprimidos no meio das bolas. Faço isso todo ano. Funciona que é uma beleza.”
Chegando no festival numa sexta-feira, um dia depois de ter começado, e próximo dos portões, passei pelos “amnesty bins” , umas latas parecidas com essas de lixo onde as pessoas deveriam jogar suas drogas e não sofreriam penalidades legais. A maioria deles estavam vazios, ou cheios de papelão. Claramente, aqueles que planejavam esgotar suas reservas de serotonina durante o fim de semana estavam dispostos a se arriscar ao passar pelos seguranças que olhavam as bolsas e pelos cães farejadores.
Eu também estava interessado naquilo que as pessoas estavam trazendo amarrados aos genitais, mas não pela mesma razão que os policiais e seguranças postos à entrada. Eu trouxe comigo vários kits de testar drogas, que te permitem medir a pureza dos narcóticos e ver com o que mais eles estão misturados. Qual a razão: eu queria descobrir exatamente o que os jovens estão colocando em seus organismos frenéticos durante os festivais de música britânicos, e se eles se importam que as drogas estejam cheias de outros agente químicos que são usados até como vermicidas em bois.
Depois de armar minha barraca, fui em direção aos acampamentos, pronto para convencer estranhos de ressaca a me dar um pouco das drogas que estavam usando para que eu pudesse estragá-las colocando dentro de um tubo de teste.
“Você é um policial?” era a maioria das respostas que me davam. “Porque se for, pode dar o fora.”
“Não, não sou policial,” o que convencia – de uma forma surpreendentemente fácil – as pessoas de que eu era confiável; que eu não iria os algemar e confiscar todas as drogas que eles tinham conseguido depois de uma semana no Whatsapp procurando por um traficante e convencê-lo a te encontrar no estacionamento de um supermercado.
Cocaína não parecia muito popular, sendo encontrada com apenas seis grupos dos 35 abordados. Três das amostras eram de Londres, e todas eram exatamente da qualidade que eu esperava – isto é, não muito boa, uma vez que a coca encontrada em Londres é quase nunca de alta qualidade. Cada amostra indicava “conteúdo médio de cocaína”, o que, de acordo com os especialistas que desenharam os testes, corresponde a cerca de 40% de pureza.
Na maioria das amostras, a cocaína estava misturada com benzocaína, uma droga farmacêutica usada para anestesia dental e sprays de garganta. É regularmente misturada com a cocaína porque deixa a gengiva dormente, o que, de acordo com o que se vê na televisão, é um bom sinal de que o produto que você adquiriu é de alta qualidade.
Um cara que olhou o resultado de sua cocaína ficou desagradavelmente surpreso quando viu sua amostra ficar verde, o que indica a presença de Levamisol na farinha que ele tinha comprado por 120 libras a grama. Em 2014, um ministro alegou que ate 80% da cocaína no Reino Unido era misturada com remédio usados na veterinária como vermicida para cavalos e vacas. Os produtores da América Latina o utilizam para aumentar o volume da sua produção porque é mais barato e apresenta efeitos semelhantes quando usados em humanos. O problema é que o medicamento também inibe a nossa produção de leucócitos e faz com que nossa pele apodreça.
“Eu compro desse traficante já fazem meses, e se eu tivesse testado essa merda antes nunca teria chegado perto de novo”, disse o cara da cocaína com Levamisol. “Provavelmente ainda vou usar mais esse fim de semana porque já trouxe, mas assim que eu voltar, vou procurar por algo novo.”
Encontrar outras amostras de cocaína com baixa pureza é bastante comum não só na Ilha de Wight mas em toda a região fora da capital Londres; os outros testes mostraram baixo teor de cocaína e níveis substanciais de lidocaína, que assim como a benzocaína, causa dormência na pele e gengiva. Benzocaína e lidocaína podem ser compradas por 15 libras o quilo, e revendidas a valores que chegam a 77 mil libras quando vendidas como cocaína – o que desperta o interesse dos traficantes.
Quando testei as pílulas, queria saber se elas eram puro ecstasy ou se tinham algum outro composto químico. Três grupos de Brighton apareceram com uns comprimidos amarelos bem coloridos, e que ficaram roxos no tubo de teste, confirmando altos níveis de ecstasy. Duas amostras de Manchester também pareciam estar limpas.
Todos estes gostaram da ideia de que tivesse alguém verificando a qualidade de suas drogas.
Mas nem todo mundo foi assim.
Um tal de Harry de Catford conseguiu uns comprimidos tarde da noite anterior. “Peguei dum cara na Big Top [uma barraca] noite passada enquanto Action Bronson fumava um baseado no palco,” ele me disse.
Pelo preço de 30 libras, suas pílulas tinham o preço mais salgado o que levava a pensar que eram de alta qualidade, mas depois ele tomou uma e disse que não teve efeito nenhum. Depois de vários testes (testei cada amostra do fim de semana três vezes para ter certeza de que estava tendo resultados precisos; só essa, testei seis vezes) e uma visita à farmácia, concluímos que metade era um Rennie sabor laranja, uma espécie de Estomasil da Inglaterra e que nunca fez ninguém abraçar loucamente um desconhecido declarando amor pelo cosmos.
“Para ser honesto, tinha um pouco de gosto de Rennie” admitiu Harry, antes de seguir caminho rumo à multidão na tentativa de revender seu produto.
Um outro comprimido que mostrou uma mistura de ecstasy e DXM (dextrometorfano), o que é um pouco preocupante – DXM é uma substância encontrada em xarope para gripe e que, em altas doses, podem te deixar um pouco mais exaltado, e que quando misturado com ecstasy em uma noite de agito podem te deixar propensos a um ataque cardíaco.
“Para ser honesto, eu certamente não tomarei isso”, disse Sarah de Portsmouth, cujo teste deu positivo para ecstasy e o que pareceu ser traços de PMA – um químico que pode ser responsável por mais de 100 mortes no Reino Unido, três delas no começo deste ano. PMA é bem mais forte, e bem mais tóxico que o composto MDMA (a molécula que você teoricamente encontra no ecstasy), já provado letal em doses baixas. Outro problema é que o PMA pode demorar a bater, o que significa que as pessoas geralmente tomam outra pílula antes de sentir os efeitos da primeira, aumentando o perigo.
Tendo testado 15 amostras ao redor do Reino Unido, a pureza da maioria do MDMA em pó foi alta. Dois grupos vindos de Wales traziam baixo nível de MDMA, mas nenhum dos testes conseguiu detectar o que mais estava misturado ali.
A amostra de Alice que veio de Cornwall não mostrou nenhum traço de MDMA. “Estou um pouco preocupada agora,” ela disse enquanto olhava que o líquido teste não indicava sua droga. “Tomei meio grama disso noite passada e eu senti algo, mas agora não tenho a menor ideia de que porra estou tomando.”
Ao contrário de algumas pessoas com quem conversamos, Alice conhecia bem seu traficante, então ela tirou seu celular do bolso e começou a mandar vários snapchats brava.
Havia anfetaminas numa amostra de MDMA, o que aparentemente fez o dono “reconsiderar” se tomaria ou não – apesar dele não parecer tão convincente.
Planejei testar também cetaminas enquanto estava lá, mas somente duas pessoas que abordei admitiram ter um pouco da droga. Será que os frequentadores do Bestival estavam com vergonha de admitir que ainda tomavam isso? Ou talvez a seca de cetamina de 2014 ainda afeta a disponibilidade de 2015? Ou será que o pessoal que tinha trazido estava ocupado demais usando dentro de suas barracas?
Nunca saberei. No entanto, um coisa que sei é que as duas amostras que testei pareceram não reagir, o que pode significar que elas eram 100% puras ou eram apenas giz moído. Ou que os testes não estavam funcionando. Ou que eu não fiz o teste corretamente. Explicando de forma detalhada e resumida: O teste para cetamina foi um fiasco.
Enquanto forneciam alguma ideia sobre que tipo de drogas as pessoas estavam tomando, meus testes não podem ser encarados de maneira geral, e estes kits que usei são apenas o início; máquinas que custam uma fortuna podem ser usadas para descobrir exatamente o que está em cada composto. De fato, o doutor Adam Winstock do Global Drug Survey argumenta que estes testes caseiros como o que eu estava usando, não são adequados para uma leitura totalmente precisa. “Existem grandes limitações sobre o que ele pode lhe dizer,” ele disse .
Deveriam então os festivais estarem fazendo mais para que os testes acontecessem, providenciando locais específicos para que as pessoas se certificassem de que aquilo que tomam é seguro?
Nick Jones, o diretor do EZTest – a empresa que nos forneceu os kits – sugere que o que ele e outros podem fazer sobre isso ainda é uma área complicada. “Eles poderiam estar disponíveis muito mais rapidamente, mas não investimos tanto com medo que isso nos coloque em risco,” me falou pelo telefone. Disse também que vender testes que explicitamente minimizam os riscos podem ser “considerados como contrários à lei.”
Quando perguntei a Jones o por quê deles não fazerem testes nos festivais do Reino Unido, ele disse que as pessoas não querem perder suas licenças e que conversas tidas com as autoridades locais e a polícia levaram os organizadores a dar um passo atrás. “Ao admitir que se tem um local que se testam drogas, estamos admitindo que temos drogas no festival, o que incomoda a polícia e demais dirigentes,” ele me disse.
É claro que independente do que agrada a polícia ou as autoridades, sempre existiu esse empecilho das drogas e sempre existirá – as pessoas continuarão colocando químicos nos seus organismos que os fazem sentir estranhos, vibrantes ou cheios de amor. E elas vão continuar fazendo isso em festivais em todo o Reino Unido, assim como têm feito há décadas. E sem a existência de algum método de prevenção de danos no lugar, algumas pessoas irão passar por momentos difíceis.
Este ano no Kendal Calling – um festival de três dias para 12 mil pessoas em Lake District – um jovem de 18 anos morreu depois de ter tomado umas pílulas duvidosas. O mesmo lote deixou oito pessoas hospitalizadas. No total, só testamos 22 amostras diferentes, o que corresponde à droga ingerida por 100 participantes do Bestival. Mas mesmo neste número pequeno encontramos resultados alarmantes.
Os kits podem ser comprados de forma direta e legal pela internet por poucas libras. Eles podem até mesmo salvar vidas, e eu encorajo todos os aqueles que consomem alguma droga a adquiri-los antes de engolirem um punhado de comprimidos misteriosos de uma vez.
Mas algo também precisa ser feito pelos organizadores, seguindo o exemplo duma boate em Manchester no chamado Warehouse Project realizado dois anos atrás, que permitia com que os frequentadores passassem com suas drogas pela segurança para que fossem realizados testes de pureza por profissionais. O fato é que a atitude tomada atualmente pelas autoridades responsáveis são o exemplo da ineficiência do controle de drogas no Reino Unido: fazer as pessoas terem medo de falar sobre drogas; fingir que não sabem do assunto; e não fazer nada para apoiar e proteger as pessoas dos potenciais danos ao ingeri-las.
As pessoas com quem conversei se mostraram agradecidas por saberem o que estavam tomando. Alguns jogaram suas compras fora, e sim, alguns usaram de qualquer jeito, mas pelo menos agora eles sabiam o que estavam fazendo e estavam em condições de tomar decisões com embasamento.
Aprendi algumas coisas este ano no Bestival. Os festivais britânicos precisam reconsiderar sua abordagem ao teste de drogas e seguir o exemplo de alguns festivais americanos, os quais já permitem que este tipo de teste. Empresas como a EZTest também precisam saber que não serão processadas por distribuírem kits como este, umas vez que pode prevenir certas mortes.
E não, nunca compre nada de um maluco numa barraca qualquer às três da manhã a menos que esteja com sérios problemas de má digestão.
Mais um estudo falhou em demonstrar uma ligação entre a dietilamida do ácido lisérgico (LSD) ou outras drogas psicodélicas e a depressão, ansiedade e pensamentos ou comportamentos suicidas. Na verdade, os pesquisadores descobriram uma ligação entre psicodélicos e uma diminuição no tratamento psiquiátrico em regime de internamento.
Estes resultados são semelhantes aos de outros estudos recentes e soma-se a um crescente corpo de literatura indicando que as drogas psicodélicas podem não ser apenas seguras, mas na verdade serem terapêuticas quando se trata de saúde mental.
“A pesquisa sugere que os psiquiatras não devem ser preconceituosos contra as drogas psicodélicas e que, se eles têm pacientes que utilizam essas substâncias, não é necessariamente ruim para eles”, disse ao Medscape Medical News a investigadora do estudo Teri Suzanne Krebs, estudante de PhD e colega pesquisadora no Departamento de Neurociências da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, em Trondheim.
“Os médicos devem saber que é possível prescrever drogas psicodélicas agora, hoje, embora possa haver alguma papelada envolvida”, acrescentou.
Isso, acrescentou, está escrito na Convenção das Nações Unidas de 1971 sobre Substâncias Psicotrópicas.
O novo estudo foi publicado online 05 de março no Journal of Psychopharmacology.
SEM LIGAÇÃO COM DOENÇAS MENTAIS
Para o estudo, Krebs trabalhou com Pål-Ørjan Johansen, de EmmaSofia, uma empresa sem fins lucrativos com o objetivo de aumentar o acesso ao 3,4-metilenodioxi-metanfetamina (MDMA) e psicodélicos.
Os pesquisadores utilizaram o anual National Survey on Drug Use and Health (NSDUH — Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde), que recolhe dados sobre o uso de substâncias e saúde mental de uma amostra aleatória representativa da população civil não institucionalizada dos Estados Unidos. Eles reuniram dados de entrevistados com idade superior a 18 anos das pesquisas dos anos 2008 até 2011.
A amostra foi composta por 135.095 entrevistados, dos quais 19.299 (13,6% ponderada) relataram uso durante vida de uma substância psicodélica — incluindo LSD, psilocibina, mescalina ou peyote. Estes são todos psicodélicos serotoninérgicos clássicos cujo mecanismo de ação principal é a do receptor 5-HT2A.
Os pesquisadores examinaram autorrelatos de 11 indicadores de problemas de saúde mental dos últimos 12 meses, incluindo depressão, transtornos de ansiedade e pensamentos, planos e tentativas suicidas.
O estudo descobriu que os usuários de psicodélicos eram mais propensos que os não usuários a serem mais jovens, do sexo masculino, brancos, solteiros, a realizarem atividades de risco, e de terem usado outras drogas. Eles também foram mais propensos a relatarem um episódio depressivo antes dos 18 anos. É possível, disse Krebs, que a depressão infantil motive algumas pessoas a experimentar substâncias psicodélicas.
O uso vitalício de psicodélicos não foi associado com qualquer um dos indicadores de problemas de saúde mental (adjusted odds ratio [aOR] gama, 0,7–1,1), Em vez disso, o uso vitalício de psicodélicos foi associado a uma menor probabilidade de internação para tratamento da saúde mental nos últimos 12 meses (aOR , 0,8; 95% intervalo de confiança, 0,6–0,9; P = 0,01).
Os investigadores também encontraram níveis mais baixos de comportamento suicida entre os usuários de drogas psicodélicas, mas isso não foi estatisticamente significativo, disse Krebs.
Olhando para drogas psicodélicas individualmente, o estudo mostrou uma associação estatisticamente significativa entre o uso de psilocibina e uma menor probabilidade de grave distúrbio psicológico, internação hospitalar para saúde mental e prescrição de medicamentos psiquiátricos (AOR, 0,9; P = 0,007).
Uso de LSD nos últimos 12 meses foi associado a uma menor probabilidade de grave distúrbio psicológico (AOR, 0,8; P = 0,04).
No entanto, o uso de mescalina ou peyote foi associado a uma maior probabilidade de um grande episódio depressivo nos últimos 12 meses.
“Quando você está usando um monte de diferentes comparações estatísticas como esta, você espera encontrar algumas coisas apenas por acaso”, explicou Krebs. Ela observou que a significância estatística foi muito fraca e que o tamanho do efeito foi pequeno.
Assim, ela acrescentou, o uso da mescalina ou peyote não foi associado a um diagnóstico médico de depressão.
Estratificando por idade, sexo, uso de drogas ilícitas nos últimos 12 meses, ou episódio depressivo na infância não se alterou substancialmente os resultados das análises.
“FLASHBACKS” DESMASCARADOS
Os autores também discutiram o conceito de “flashbacks”. Na década de 1960, usuários de LSD relataram ter experiências psicodélicas recorrentes. Mas verificou-se que os pacientes que alegam sofrer dos chamados flashbacks foram diagnosticados com esquizofrenia e já estavam obcecados com sua experiência das drogas.
“A investigação não suporta os flashbacks; não é um fenômeno real”, disse Krebs.
Ela também disse que o conceito de Transtorno Perceptual Persistente por Alucinógenos (HPPD, em inglês), em que os sintomas visuais são vinculados ingestão de psicodélicos, estava errado.
“Se você olhar para isso de perto, é, na verdade, um fenômeno ótico comum que qualquer um poderia ter”, disse ela. “Por exemplo, se você olhar para o céu ou ir de um quarto escuro para um quarto iluminado, pode haver todos os tipos de efeitos visuais. Nunca foi demonstrado que estes sintomas são maiores em pessoas que usam drogas psicodélicas em relação àqueles que não o fazem. “
É importante, disse Krebs, não confiar em anedotas, relatos de caso e perspectivas tendenciosas e para visualizar dados sobre o uso de psicodélicos do ponto de vista estatístico.
O que é bem documentada, porém, é que os psicodélicos provocam experiências espirituais e que os usuários relatam conseguir mais compreensão e aceitação de si mesmos.
Os autores citaram um recente estudo controlado e randomizado de psilocibina em que 67% dos participantes consideraram a experiência como um dos momentos pessoais mais significativos de suas vidas, e 64% relataram melhoria no bem-estar ou satisfação com a vida.
Psicodélicos provavelmente, não apenas não causam mal, mas parecem ser menos arriscados do que outras drogas e comportamentos. Na Holanda, onde os cogumelos psicodélicos são vendidos em lojas a qualquer pessoa maior de 18 anos, ambas as autoridades de saúde e policial relatam pouquíssimos problemas associados ao seu uso, disse Krebs.
“Os especialistas estimam que lá existe uma hospitalização ou ferimento grave a cada 100.000 porções de cogumelos consumidos a cada ano na Holanda”, disse Krebs.
MITO DO VÍCIO
Krebs salientou que os psicodélicos não são viciantes e não levam ao uso compulsivo ou dependência. “Esta é a incompreensão pública mais comum sobre psicodélicos”, disse ela. “As pessoas pensam que por serem substâncias controladas, devem ser viciantes, o que não é verdade.”
Nos Estados Unidos, drogas psicodélicas são classificadas com Nïvel I (Schedule I — ver nota do tradutor no final da matéria) pela Administração do Combate às Drogas (DEA, Drug Enforcement Administration em inglês). Essas substâncias são consideradas sem nenhum valor médico e com um alto potencial de abuso.
Mas este potencial de abuso é apenas um dos mitos que continuam a cercar drogas psicodélicas, disse Krebs. Ela destacou que “abuso” não é definido, e que de acordo com o Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos, o LSD não é considerado uma droga que vicia, pois não produz o comportamento compulsivo em busca de drogas.
“E se você olhar para o texto norte-americano de 1970 da Lei de Substâncias Controladas [CSA, Controlled Substances Act em inglês], não diz nada sobre o vício / dependência.”
Uma cláusula do CSA permite que drogas sejam classificadas de qualquer maneira sem qualquer critério. “Isto foi o que aconteceu com MDMA/Ecstasy. Ele foi colocado como Nïvel I apesar de um juiz do DEA julgar que o MDMA deve ser Nível III (Schedule III) ou sem classificação”, explicou.
De acordo com Krebs, os médicos podem não estar cientes de que, segundo a Convenção de 1971 das Nações Unidas sobre Substâncias Psicotrópicas, é permitido o uso de drogas nível 1 não só para fins científicos, mas também para “fins médicos muito limitados. “Por exemplo, uma clínica licenciada na Suíça na década de 1990 forneceu LSD para mais de 100 pacientes, sem a execução de um estudo clínico formal. ”
Outro equívoco é que o uso de psicodélicos é raro. Estima-se que nos Estados Unidos, cerca de 1 em 6 adultos com menos de 65 anos usaram alguma droga psicodélica, de acordo com Krebs. As pesquisas sugerem que, assim como na década de 60, um número semelhante de pessoas tomam essas drogas nos dias de hoje, disse ela.
No entanto, outro mito que tem atormentado o campo de substâncias psicodélicas é a ideia de que há um risco maior de tentativas de suicídio e morte ou lesão sob o efeito de uma droga psicodélica, disse Krebs. “Com base em outros dados, sabemos que isso é extremamente raro.”
Parece haver um interesse renovado na utilização terapêutica de drogas psicodélicas. Krebs citou um estudo aberto no Novo México que descobriu que entre os nove pacientes dependentes de álcool que tomaram duas doses de psilocibina, o consumo de álcool foi reduzido à metade após 6 meses. Estas substâncias também estão sendo estudadas para determinar seu papel na cessação do tabagismo e dependência de cocaína.
Mas alguns no campo estão preocupados com a falta de apoio da indústria farmacêutica. As empresas farmacêuticas não estão muito interessadas em agentes com patentes que expiraram a muito tempo e que não são administrados diariamente.
Talvez por isso alguns pesquisadores se voltaram para o financiamento público para pagar a pesquisa psicodélica. No Reino Unido, esta tática está sendo usada para arrecadar dinheiro para um estudo de imagem cerebral com LSD. Kregs e seu co-pesquisador Johansen também estão realizando uma campanha de crowd-funding para ajudar a financiar sua pesquisa.
Embora o estudo atual não tenha encontrado uma associação estatisticamente significativa entre o uso de psicodélico e aumento da probabilidade de pensamentos, planos ou tentativas suicidas nos últimos 12 meses, um outro estudo recente fez.
Ambos os estudos usaram dados do NSDUH e abordaram questões muito semelhantes, mas o estudo anterior (Hendricks PS et al. J Psychopharmacol. Publicado on-line 13 de janeiro de 2015) incluiu cerca de 60.000 participantes e um ano adicional de análise.
“Nós encontramos um efeito estatisticamente significativo para redução de danos, e eles não o fizeram simplesmente porque tínhamos mais poder estatístico, pelo contrário, nossos odds ratios foram semelhantes e os nossos resultados são consistentes”, comentou o principal autor desse estudo anterior, Peter Hendricks, PhD, professor assistente do Departamento de Saúde Comportamental da Universidade de Alabama em Birmingham.
O Estudo do Dr. Hendricks focou principalmente no suicídio, ao passo que o estudo Krebs olhou para 11 resultados diferentes.
NOVA PESQUISA
Comentando o estudo para o Medscape Medical News, o Dr. Hendricks disse que era “muito bem feito” e “sólido”.
“Foi um estudo bem conduzido. Esta é a equipe de pesquisa que produziu algumas das pesquisas mais novas e rigorosas no passado”
Embora ele veja a onda de novas pesquisas com psicodélicos como um “renascimento”, ele acredita que poderia muito bem ser uma explosão de novas pesquisas se os fundos fossem mais prontamente disponíveis. No entanto, observou ele, isso significaria a remoção de drogas psicodélicas da classificação Nível 1 do DEA.
O aparente aumento recente dos financiamentos públicos para pesquisas sobre psicodélicos reforça o fato de que a obtenção de financiamento de pesquisa de “agências endinheiradas como o NIH” ainda é um desafio, disse o Dr. Hendricks.
Grande parte da pesquisa que foi financiada parece apontar para a utilidade das drogas psicodélicas no campo de dependência, disse o Dr. Hendricks. Ele acredita que, enquanto terapias medicamentosas como a reposição de nicotina tem como alvo mecanismos específicos, os psicodélicos focam nos processos de ordem superior. “Estamos oferecendo o que pensamos ser uma experiência espiritual significativa que pode fornecer um compromisso com a abstinência, a motivação para deixar que poderia funcionar independentemente da substância específica de abuso.”
Teri Suzanne Kregs é líder de conselho e Pal-Ørjan Johansen é um membro do conselho de EmmaSofia. Dr. Hendricks relata nenhuma relação financeira relevante.
J Psychopharmacol. Publicado on-line 05 de março de 2015. Texto completo.
Nota do Tradutor — Sistema de classificação de substâncias controladas em vigência nos EUA.
Nível/Schedule 1: substâncias com alto potencial de abuso; sem valor medicinal; sem níveis seguros para utilização com supervisão médica. São elas -> Maconha, DMT, LSD, MDMA, Psilocibina, Peyote, Mescalina, Heroína e outras.
Nível/Schedule 2: substâncias com alto potencial de abuso; possuem valor medicinal; seu abuso pode levar a dependência física e psíquica severas. São elas -> Cocaína, Anfetaminas, Oxicodona, Metadona, Ópio, Morfina e outras.
Nível/Schedule 3: substâncias com menor potencial viciante em comparação com as substâncias da Classificação 1 e 2; possui valor medicinal; seu abuso pode levar a dependência física leve à moderada e a dependência psíquica elevada. São elas -> Esteroides Anabolizantes, Ketamina, Marinol, Di-hidrocodeína e outras.
Nível/Schedule 4: substâncias com baixo potencial viciante em comparação com as substâncias da Classificação 3; possuí valor medicinal; seu abuso pode levar a dependência física e psíquica leve em comparação com as substâncias da Classificação 3. São elas as benzodiazepinas como Alprazolam, Clonazepam e Diazepam, análogos Benzodiazepínicos (Droga Z) como Zolpidem e Zopiclone e outras.
Texto postado originalmente em medscape.com em 12 de março de 2.015.