Archives janeiro 2017

Quando Terence McKenna fumou DMT pela primeira vez

Escrito por Graham St John (PhD, Antropólogo)

Em 1967, com 16 anos Dennis Mckenna visitou seu irmão mais velho em Berkeley (Califórnia), Terence afirmou saber o que era a pedra filosofal. “Está naquele frasco, bem ali na prateleira.”(1) Anteriormente, numa noite de primavera em 1965, Terence McKenna havia sido visitado, em seu quarto de pensão na Avenida Telegraph 2894, por “um amigo muito estranho que vivia em Palo Alto”. Até então, Terence, que havia começado seus estudos em U.C. Berkeley, estava familiarizado com os efeitos psicodélicos das sementes de Morning Glory, e havia provado LSD da Sandoz por meio do vizinho Barry Melton, guitarrista principal do Country Joe and the Fish. Mas tais experiências ofereceram pouca preparação para o que aconteceu naquela noite.

Vestindo um pequeno terno preto abotoado até a garganta, seu amigo quem Terence referia-se como “uma espécie de ameaça social e criminoso intelectual”; a quem ele tinha como sua “grande inspiração”, e era sempre aquele que “chegava lá em em primeiro lugar, seja lá o que fosse, para fazer, para não fazer, e para ser absolutamente impertinente até mesmo quando ninguém havia chegado na cena do crime”—aproximou-se com um pequeno cachimbo de vidro e algo parecido com bolas de naftalina alaranjadas. “Talvez você tenha interesse nisso.” Divertindo os que estavam reunidos na Fundação Ojai da Califórnia, com informação talvez nunca antes declarada publicamente, Terence deixou a entender que, de acordo com o relato de seu amigo, o material havia sido roubado de uma operação de pesquisa química do Exército dos EUA, no Instituto de Pesquisa de Stanford em Menlo Park (Stanford Research Institute, SRI). “Alguém conseguiu pegar do inventário um tambor de 55 galões deste material, sem que ninguém ficasse sabendo.” Terence queria saber do que se tratava. Seu amigo, que há poucos meses havia declarado que “devemos viver como se o apocalipse já tivesse ocorrido”, disse: “é chamado DMT.”(2)

“Independentemente da proveniência do material fumado, o mundo de Terence McKenna virou do avesso naquela noite de primavera em 1965”

O amigo visitante de Terence era ninguém menos que Rick Watson, que conhecemos nos capítulos anteriores. Juntamente com John Parker, Watson e Terence eram amigos próximos desde 1963 na Awalt High School em Mountain View (Califórnia). As informações de Terence parecem ser incompletas, já que o material fumado na Av. Telegraph não provia do Exército, mas sim, de acordo com o próprio Watson, do “círculo de Kesey”(3)—e assim, possivelmente do trabalho de Bear Stanley. Além disso, a referência a um “tambor de 55 galões” é uma decoração espetacular dos “containers metálicos cilíndricos de 6 polegadas de altura” que, na imaginação de Watson, poderia como também não poderia ter armazenado DMT no SRI.

Independentemente da proveniência do material fumado, o mundo de Terence McKenna virou do avesso naquela noite de primavera em 1965. Algumas tragadas da “bola de naftalina”, e ele foi imediatamente transportado para uma outra dimensão: “uma iluminação brilhante, não-tridimensional, autodeformante, linguisticamente intencionando modalidade que não podia ser negada.”

Eu afundei no chão. Eu tinha a alucinação de estar caindo para frente em fractais geométricos espaciais feitos de luz, e então eu me encontrei no equivalente à capela privada do Papa, e havia máquinas de elfo-inseto oferecendo estranhos tabletes pequenos com estranhas escrituras neles, e eu estava aterrorizado, completamente assustado, porque numa questão de segundos… todas minhas suposições da natureza do mundo estavam simplesmente sendo rasgadas em pedaços na minha frente. Na verdade, eu nunca superei isso. Essas criaturas duende de máquinas autotransformadoras, falavam num idioma colorido que condensava-se em máquinas rotativas, semelhantes a ovos Fabergé, porém feitos de cerâmica supercondutora-luminiscente e géis de cristais líquidos. Toda essa coisa era tão esquisita e tão alienígena e tão não-português-ável, que foi um choque completo—digo, o avesso literal do meu universo intelectual…! É como ser atingido por um raio noético.(4)

Duplo escorpião no final de sua adolescência, ele se considerava intelectualmente preparado para qualquer coisa. Era formado em História da Arte, um fã de Hieronymus Bosch, leu Moby-Dick, William Burroughs, todos os trabalhos de Huxley. Mas, a experiência foi tão “não-português-ável”, que o colocou num estado de choque.(5)  Abalado pelo impossível, iria em seguida viajar o globo declarando como “o mundo ordinário é quase instantaneamente substituído não apenas por uma alucinação, mas por uma alucinação cujo seu caráter alienígena é sua total alienigenidade”. Não havia “nada neste mundo”, ele alertou, que “poderia preparar alguém para as impressões que enchem a sua mente quando você entra no sensório do DMT”.(6) Igualmente a Burroughs, que havia declarado “Yagé, é isto!” a Ginsberg em 1953, McKenna entendeu que havia sido exposto ao segredo. “Existe um segredo e é isto”, ele comentou ao pessoal reunido no Ojai. “É o segredo de que o mundo não é apenas não do jeito que você pensa que é, mas que o mundo é do jeito que você não é capaz de pensar que é.” Além disso, este segredo não era “algo não narrado,” mas algo “inenarrável”. Convencido de que havia descoberto a mais poderosa de todas as alucinações (diferentemente de Burroughs que, tendo convocado o gênio “Dim-N” em 1961, concluiu que havia sido exposto ao “alucinógeno pesadelo”), McKenna, armado do conhecimento de seu status endógeno, pronunciou o “paradoxo de que o DMT é a mais poderosa, e ainda assim a mais inofensiva” de todas as substâncias.(7)

“A mente humana não é capaz de suportar tanta beleza”

Enquanto, ao longo dos anos 1980 e 1990, ele talvez tenha vivido o seu próprio paradoxo, comunicando o incomunicável, seus discursos de turnê não eram proezas miraculosas tão capazes de transpor o inefável quanto feitiços lançados através de uma palavra idiomática são contagiantes. Se, por fim, “a casa de razão constipada deve ser infiltrada pela arte, por sonhadores e por visões”,(8) ele era um para-raios para uma arte visionária e um movimento de dança neo-hermético. O que estava em jogo era “nada menos que a redenção da humanidade caída através da reespiritualização da matéria”(9), e DMT era o agente espiritual.

Enquanto isso, retornando no fim do Verão do Amor, de Berkeley para Paonia (Colorado), onde ele ainda morava com seus pais, Dennis trouxe 50 gramas de maconha, 28 gramas de haxixe, algumas doses de ácido, algo que ele pensava ser mescalina e “o Santo Graal—meio grama de DMT”. Após sua estréia com DMT em 1967, Dennis recontou em seu diário de visões “sobre uma beleza bizarra e de outro mundo, tão alienígena e ainda assim tão bonita. A mente humana não é capaz de suportar tanta beleza (e aquele tipo de beleza) sem perder suas concepções do que é a realidade”.

Embora eu não pudesse eu mesmo falar, eu ouvi, senti, vi, escutei também, talvez me comuniquei com, um som que não era um som, uma voz que era mais que uma voz. Eu encontrei outras criaturas cujo ambiente era este universo alienígena que eu tinha atravessado. Eu me tornei consciente de (talvez tenha entrado em comunicação com) consciências verdadeiramente distintas e separadas, membros de uma raça de seres que vivia naquele lugar, onde quer que este lugar seja. Estes seres pareciam ser feitos parte de pensamento, parte de expressão linguística, parte de conceito abstrato tornado concreto, parte de energia. Eu não posso dizer mais nada sobre a natureza destes seres, exceto que eles existem.(10)

A dança de Dennis com a dimetiltriptamina marcou uma profunda transição de vida, eventualmente tornando-se um etnofarmacologista cujo romance com a ayahuasca o fez abraçar a bebida visionária como a chave para evitar uma catástrofe ecológica global.(11) Enquanto destinados para carreiras dramaticamente variadas—um como frontman tagarela dos duendes de máquinas do hiperespaço, o outro como um renomado cientista—cada um dos irmãos McKenna foi profundamente impactado por suas experiências com DMT entre 1965 e 1967. E em quatro anos, eles seriam atraídos para uma importante fronteira: a Amazônia…


Este artigo é um excerto do livro de Graham St John, “Mystery School in Hyperspace: A Cultural History of DMT” (North Atlantic Books/ Evolver, 2015).
(1) Dennis J. McKenna, The Brotherhood of the Screaming Abyss: My Life with Terence McKenna (St. Cloud, MN: Polaris, 2012), 156.

(2) Terence McKenna, “Under the Teaching Tree,” apresentado na Fundação Ojai (Ojai Foundation), 1993; Terence McKenna, “Understanding and the Imagination in the Light of Nature,” apresentado em Los Angeles, 17 de Outubro, 1987.

(3) Rick Watson, comunicação pessoal, 28 de Fevereiro, 2015.

(4) Terence McKenna, “Psychedelics Before and After History,” apresentado no Instituto de Estudos Integrais da Califórnia em São Francisco, 2 de Outubro, 1987.

(5) T. McKenna, “Understanding and the Imagination in the Light of Nature.”

(6) Em Richard Gehr, “Omega Man: A Profile of Terence McKenna,” Village Voice, 5 de Abril, 1992, www.levity.com/rubric/mckenna.html.

(7) Ibid.

(8) Terence McKenna, “Shamanism, Alchemy, and the 20th Century,” apresentando em Mannheim, Alemanha, 1996.

(9) Terence McKenna, True Hallucinations: Being an Account of the Author’s Extraordinary Adventures in the Devil’s Paradise (San Francisco: Harper, 1993), 77.

(10) D. McKenna, The Brotherhood, 158.

(11) Dennis J. McKenna, “Ayahuasca and Human Destiny,” Journal of Psychoactive Drugs 37, no. 2 (2005): 231–234.

FONTE chacruna.net


Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaborador Canonical Commutation.
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DERRETA EM TECHNICOLOR

A magia do mundo macro de fluidos coloridos é mostrada em seu maravilhoso e psicodélico último vídeo do designer e cineasta russo Ruslan Khasanov.

Para La La La, Khasanov combinou dois de seus trabalhos anteriores — trechos em vídeo de Odyssey e fotografias de seu projeto Lucidity — em um glorioso experimento de movimentos tecnicolor .

Líquidos e óleos se atraem e repelem, girando e brilhando, explodindo e dividindo, dançando em um mar cromático que poderia ser, bem, o que você quiser que seja. Às vezes parece CGI, outras vezes, parece uma estranha paisagem Yellow Submarine girando. Khasanov filmou em 4K com uma Sony a7R II usando as lentes Sony FE 90mm f / 2.8 Macro GSonnar T * 55mm f / 1.8 ZA , em seguida, um polimento final no Photoshop e After Effects. Veja os resultados hipnóticos abaixo.

 


La La La de Ruslan Khasanov no Vimeo.

Conheça mais do trabalho de Ruslan Khasanov em seu site aqui ou em seu portfólio aqui.

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Macro Footage of Liquid Morphs in Susi Sie’s New Music Video

Patterns of Life Emerge in Petri Dish Macro Videography

Psychedelic Neon Fluids Float in a Stunning 4K Video

Pergunte ao Dr. Shulgin #1

Já imaginou ter suas cartinhas respondidas pelo pai do MDMA?
Sim, isso já aconteceu na internet a um tempo atrás.
Separamos para vocês umas bem legais…

foto por Bruno Torturra
Alexander Shulgin e seu jardim de cactus mágicos – foto por Bruno Torturra

LSD duradouro e “Flashbacks”

Caro Dr. Shulgin:

Eu ouvi falar que o LSD nunca sai do corpo, e pode ficar no seu cérebro por vários anos? Isso é verdade? E seria a causa dos chamados “flashbacks”? Obrigado

Shulgin:

O mito da “molécula persistente” do LSD teve início pela Drug Enforcement Administration em uma reunião de dois dias em San Francisco, no final de 1991. O DEA convidou cerca de 200 participantes de grupos de aplicação de lei (nacionais e estrangeiros) para trocar informações relativas aos LSD. Os agentes foram informados de que não era apenas o local de armazenamento conhecido (os lobos frontais do cérebro), mas também a duração do tempo em que a substância ficava ali (até vinte anos).

“A evidência está toda sobre nós”, eles foram informados. “O uso indiscriminado do LSD do Verão do Amor (nos anos 60) levou diretamente, através do relançamento dessas moléculas escondidas e dos flashbacks resultantes, para as hordas de sem-teto, os psicóticos, e os desprivilegiados aqui das ruas de San Francisco”.
Uma pista auditiva ou visual pode trazer de volta uma memória de uma experiência anterior. O resíduo de qualquer quantidade tangível do produto químico em si, no cérebro ou no sangue do utilizador depois de 24 horas, é, no entanto, totalmente sem sentido.


PMA um perigo nas Raves?

Caro Dr. Shulgin:
Eu ouvi dizer que há vários PMA sendo vendidos em raves é que pode matar. O que está acontecendo?

Shulgin:
Você está absolutamente certo. PMA é a sigla para parametoxianfetamina, que é uma droga bastante perigosa na cena rave.

Em níveis razoáveis (talvez 60 miligramas mais ou menos por via oral) é um estimulante modesto, dá uma ligada.

A uma dose de dois comprimidos, duas vezes essa dosagem, se torna um estimulante forte e é uma ameaça para o sistema cardiovascular. Mas as pessoas em raves podem ser vistas tomando seis pílulas de uma vez, e com PMA isso pode colocá-los em uma situação perigosa, que pode ser letal.

Tenha cuidado, essa é uma droga potencialmente prejudicial.


Educação e Enteógenos

Caro Dr. Shulgin

Qual o caminho que você recomendaria para um cidadão formado nos Estados Unidos que esteja interessado em prosseguir com a Química e a exploração de substâncias alteradoras de consciência assim como o senhor tem feito?

Shulgin:
Eu recomendaria fortemente a obtenção de um grau acadêmico avançado e uma educação abrangente.

O grau, um Ph.D. seria o mais desejável, mas a disciplina específica que você vai seguir para obter, não é tão importante quanto se poderia pensar. Se a química é para ser uma grande área científica de curiosidade, procure um departamento de química, mas se inscreva em um programa de graduação que permita a tomada de cursos não-químicos também. Isto pode levar a uma A.B. na graduação em vez de um B.S. A escolha de seu orientador de pós-graduação deve ser feita, em parte, para desenvolver sua compreensão do conceito de pesquisa. O que sua pesquisa real levará ao seu Ph.D. ainda é bastante inconseqüente. Quando você desejar compartilhar suas descobertas, é a aquisição desse doutorado que permitirá que sua voz seja ouvida por um público maior.

Mas para ter sucesso na troca de informações você tem que se comunicar, e isso requer um amplo vocabulário. Esta é a recompensa por ter feito cursos sobre tudo em seus anos de graduação, desde a psicologia até a teologia. Muitos estudiosos jovens ficam presos mergulhando cada vez mais profundamente em um campo, aonde sua disciplina vai ficando cada vez mais estreita. A emoção da descoberta de tal pesquisa é tão gratificante, mas há um público cada vez menor que podem compreender ou sequer se preocupam com suas descobertas. Se você não pode se comunicar com muitas pessoas, você vai perder o feedback inestimável que é essencial em sua busca por um entendimento pessoal dos efeitos das drogas que alteram a mente.

 


Enteógenos – Significado e Futuro

Caro Dr. Shulgin:

Qual a sua opinião sobre o verdadeiro significado do conceito moderno sobre os enteógenos ? Quais as futuras aplicações que os mesmos possam ter na nossa sociedade? Eu trabalho com idéias filosóficas e eu estou tentando ver onde toda essa exploração irá chegar.

 

Shulgin:

Você perguntou duas questões, e eu não estou certo de que eu possa responder a qualquer uma delas. Mas eu vou tentar. Você tem abordado a área dos enteógenos e gostaria de saber exatamente onde estamos agora, e onde poderíamos ir?

Pra começar, o que o nome “enteógenos” quer dizer? Eu sou um pouco antiquado e ainda uso a expressão carregada (e um pouco fora de moda) “Psicodélicos”. Eu recebi um pouco de críticas por esse velho hábito. Anos atrás, um jornal científico insistiu no termo “Psicotomiméticos”, então relaxaram no sinônimo aceito “Alucinógenos”, e finalmente concordaram(por alguns anos) que a palavra “Psicodélicos” deveria ser usada nos títulos e resumos dos relatórios médicos e comentários. Mas isso sempre causou uma intimadora e condenatória associação entre a cena farmacológica (estados alterados de consciência, autoconhecimento, exploração do inconsciente) com a cena social (A multidão Hippie no Golden Gate Park no final dos anos 60, amor livre e o Grateful Dead). Um novo eufemismo para esses componentes era necessário, e algumas incomuns entraram na cena literária da medicina.

O que você faz com uma classe de drogas que lhe dê uma posição inicial limpa em uma área que foi manchada por associações negativas com pessoas e histórias do passado? Você encontra um novo nome. Uma das primeiras tentativas foi com “Entactogens”, que remeteu as origens de “Tátil”, alusão ao toque. Para tocar dentro. E, na verdade muitos materiais podem ser usados dessa forma. Este é o coração do valor psicoterapêutico destes compostos. Você pode realmente fazer contato com o inconsciente oculto de um paciente, utilizando agentes tais como MDMA.

Houve uma proposta do nome “Empathogens”, trazendo uma ênfase ao estado de empatia gerada por alguns desses materiais. Mas para aqueles que achavam que a ênfase no sacramental superava a ênfase psiquiátrica, o termo “Enteógenos” era mais atrativo. A existência de Deus dentro da gente. “Em dentro, and “Theo” Deus, e “Gen” que é abreviação pra Genesis, Origem ou Criação. Uma nova droga fantástica pode revelar que há um Deus dentro da gente. Mas a droga não o cria dentro de nós.

E então, vamos para o futuro. Isso é difícil de responder, e é com certeza total especulação. Nós não sabemos o que ira vir no futuro. Qualquer previsão é irremediavelmente enredada com os desejos do vidente. Mas, eu tenho minha própria agenda, e eu prevejo uma aceitação cada vez mais ampla da exploração humana com estes materiais. Seu valor intrínseco será visto a serem superiores aos riscos. Eles serão encontrados para ter valor sacramental a mais e mais pessoas. Haverá uma maior apreciação do seu valor de entretenimento. E a partir deles, tenho a certeza, haverá o desenvolvimento de novas ferramentas de investigação para o estudo científico dos processos mentais humanos.


Música Favorita

Caro Dr. Shulgin:

Em primeiro lugar, eu só quero dar-lhe os meus agradecimentos e apreço por tudo o que você tem dado e sacrificado para a nossa comunidade. Em segundo lugar, eu queria saber quais as suas peças de músicas favoritas para ouvir ao ser iluminado pelas substâncias?

Shulgin:

A música que Ann e eu escolhemos como companhia para qualquer experiência é geralmente vinda de um de três grupos de compositores, e das categorias de tanto familiares quanto desconhecidas.

No grupo dos compositores, há o clássico, o Russo e do Leste Europeu, e algo moderno. O clássico contém principalmente Bach( o Brandenburg Concerti, French and English Suites, Musical Offering e qualquer coisa tocada por Gleen Gould). Os grupos Russos são em grande parte Prokofiev, Shostakovich e Stravinsky. Aqui nós adoramos ficar nos cantos menos conhecidos. Quantas vezes tais gemas como The Prodigal Son, The Symphonic Song ou The Soldier’s Tale são tocadas nas estações locais de música? E há a riqueza de Poulenc, de Bartok e de Dohnanyi, que são tesouros individuais.

Tambores africanos, pássaros da natureza até os corações do Espaço. Se ele pega você, você tem um amigo e vai aprender com ele. Se isso não acontecer, vire o disco e tente novamente. Recebemos um monte de CDs que são interessantes e descartáveis, mas ocasionalmente um acontece de ser mágico e se torna um item permanente em nossa coleção.


MDMA (Ecstasy) e o Reagente Marquis

Caro Dr. Shulgin:

Olá. Eu estou escrevendo um ensaio de 7000 palavras sobre o ecstasy, e eu não consigo achar informação que eu preciso sobre o reagente Marquis. Você pode me dizer o que ele é e o que faz? Obrigado

Shulgin:
O reagente Marquis é um ensaio de mancha de alcalóides que foi relatado pela primeira vez em 1896. O agente de teste original era uma mistura de 2 gotas de 40% de formaldeído e 3 ml de ácido sulfúrico concentrado. Ele foi originalmente usado para a detecção de pequenas quantidades de certos alcalóides, e para distinguir entre eles. A assinatura do alcalóide é tanto a cor inicial produzida, bem como a seqüência de alterações de cor que ocorrem ao longo do tempo. Nos primeiros dias do reagente Marquis foi usado principalmente para distinguir os alcalóides do ópio. Cada alcalóide tinha um padrão de mudança de cor. Ele está sendo usado hoje como uma das ferramentas de identificação, na tentativa de estabelecer apenas o que pode estar presente em algo que é vendido como ecstasy. Os compostos da família do MDA, MDMA, MDE dão uma cor roxo-negro, enquanto que com a anfetamina é geralmente uma cor castanho alaranjado.

 

À medida que o teste é muito sensível, nenhuma estimativa pode ser facilmente feita em relação à quantidade de alcalóide presente. E, claro, uma cor escura tende a esconder uma cor clara. Tal como acontece com todos os ensaios que exige interpretação subjetiva, a experiência é tudo. Infelizmente, com a nossa presente orientação restritiva em matéria de drogas Agendadas, é quase impossível obter amostras documentadas de alcalóides de referência, limitando ainda mais a precisão deste tipo de testes de campo.


MDMA (ecstasy) e Buracos no cérebro?

Caro Dr. Shulgin:

Ultimamente eu tenho ouvido muita conversa sobre o fato de que cada vez que você tomar ecstasy ele irá causar danos permanentes no cérebro. Eu também ouvi que o ecstasy coloca buracos no cérebro. Estas afirmações são verdadeiras?

Shulgin:

Não, elas não são. A “lesão cerebral permanente” baseia-se totalmente em estudos realizados com animais experimentais e com os resultados extrapolados para abranger o sujeito humano. Em uma declaração simples, não houve estudos no homem que indicaram lesão cerebral.

Os “buracos no cérebro” é um engano ainda mais ultrajante. Estes buracos populares são áreas em exames cerebrais que aparecem menos ativo em atrair agentes radiomarcados que são agonistas para certas áreas do site receptor.

As imagens que são mostradas para comparação não são da mesma pessoa, com ou sem MDMA neles, mas de pessoas diferentes, um dos quais tem usado uma grande quantidade de ecstasy e o outro sem qualquer tipo de registro de uso. A quintessência desta linha de mitologia é um artigo que apareceu recentemente na Willamette Week. Ela não só garantiu o leitor de que havia buracos gerados pela perda de serotonina, mas que ficou inundado com dopamina (neurotransmissor padrão) e, sendo atacado por peróxido de hidrogênio, produzidos ferrugem.

Desculpe guerreiros antidrogas. Nenhum dano, sem buracos, sem ferrugem.


Tolerância MDMA (ecstasy)

Caro Dr. Shulgin:

Você pode me explicar por que MDMA tem o que parece ser uma ocorrência tão prolongada de tolerância? Eu ouvi um monte de meus amigos “ravers” me dizerem que eles simplesmente não sentem o efeito tão forte como eles costumavam sentir, e acho que é difícil acreditar que isto pode ser simplesmente apagado como uma diminuição da qualidade de comprimidos. Muitos dos meus amigos me disseram que nas primeiras vezes foram as melhores, mas eles simplesmente não sentem os efeitos tanto quanto antes.

Eu me sentiria muito mais confiante em suas garantias de que o MDMA não é neurotóxico, se eu percebesse uma tolerância ao MDMA que é semelhante a psilocibina ou ao LSD… mas eu não consigo. Você pode me ajudar Sasha? Estou preocupado!

Caro Dr. Shulgin:

Depois dos meus primeiros 150 comprimidos de MDMA, qualquer pílula MDMA que eu tomei depois eu senti que os efeitos positivos eram muito baixos e os negativos muito altos. Eu ainda estava tentando fazer com que esse sentimento adorável voltasse, mas eu não consigo absolutamente nada a não ser uma ressaca desagradável. Eu parei por um par de meses, então tentei novamente e nada mais que uma ressaca horrível… Eu nunca mais vou ter a sensação adorável de novo ou se foi para sempre?

 

Shulgin:

Eu combinei essas cartas em que ambos estão experimentando a mesma propriedade que o MDMA invoca com o uso repetido, e que ambos estão fazendo a mesma pergunta à procura de alguma explicação.

A propriedade que você está enfrentando é a que eu chamo de perda da magia dessa primeira experiência. Minha primeira experiência com este fármaco foi realmente mágico. De repente eu estava um com eu mesmo, um com o mundo; Eu era uma pessoa que não tinha segredos para si mesmo, e que podia confiar em outras pessoas para ser tão honesto com ele como ele estava sendo consigo mesmo.

Quase todo mundo tem uma lembrança vívida de sua primeira experiência. Isso é o que eu chamo de “mágica”. Mas que normalmente é perdida depois de algumas experiências e, eu acredito, nunca é recuperada. As propriedades estimulantes ainda estão lá, olhos tremendo e os dentes rangendo ainda estão lá, um pouco do calor e interações confortáveis, mas a magia se foi.

Esta não é a tolerância do ponto de vista farmacológico. A tolerância é perdida com o tempo. Eu não acredito que esta perda “mágica” é em si recuperada. Parece que, após certo número de drogas utilizadas, a magia vai para longe. O número exato varia provavelmente com a pessoa.

O que nos leva ao segundo ponto, a que se refere aos relatórios que o MDMA pode ser neurotóxico. Apesar da extensa pesquisa que foi gasto em cima dele, ainda não há evidência objetiva de que MDMA danifica os nervos humanos. Mas eu certamente não posso argumentar, mas que há mudanças cerebrais que poderiam ser atribuíveis. Tome esta “perda da mágica” como um exemplo. Alguma mudança no cérebro ocorreu, e não parecem ser reversíveis. Isso é uma evidência de “dano?” Eu não penso assim, mas eu não sei. Alterar? Sim. Nunca podemos trilhar o mesmo caminho duas vezes para a atribuição de responsabilidade e de causalidade, é incerto. Definições que distinguem entre o dano e a mudança podem ajudar.


Fazendo MDMA (II): “Ecstasy, MDMA & Safrol

Caro Dr. Shulgin:
Do que o Ecstasy é feito?

 

Shulgin:

Antes de eu começar a responder à sua pergunta, deixe-me reformular isso apenas um pouco. Como eu havia mencionado em um par de escritos anteriores, o termo “Ecstasy” tem uma série de sinônimos. É um eufemismo para qualquer droga que é vendida em uma rave. Pode ser MDMA, mas é mais provável que seja alguma outra droga como o DXM, PMA, MDA, PMMA, GHB, Speed, ou Deus sabe lá o quê. Pode ser “ecstacy” (ouvi dizer que esta grafia incorreta foi com direitos de autor), o que sugere que poderia ser efedrina, pseudoefedrina, efedra, Ma Huang, ou Deus sabe lá o quê. Ou ele pode realmente ser MDMA. Então me deixe reformular a pergunta: Do que o MDMA é feito?

Então, de onde vem esse Safrol ? Duas das principais fontes são botanicamente óleos sassafrás distintos. Não é o óleo de sassafrás norte-americano feito a partir da casca da raiz da árvore de sassafrás albidum da Costa Leste, que cresce em estado selvagem no Maine até a Flórida, e no Oeste do Mississipi. E há o óleo de sassafrás brasileiro feito a partir das partes lenhosas acima do solo da árvore Ocotea pretiosa, que é encontrado nas florestas do Brasil central e no Oeste da Colômbia. Há alguns relatos de Safrol sendo componentes consideráveis ​​de Óleo de Anise (Illicium verum, I. parviflorum), mas o principal composto nestes óleos é anetol, não Safrol. E se o Óleo de Anise era para ser utilizado em erro como uma suposta fonte de Safrol, este material poderia dar origem a PMA, o qual tem sido mostrado ser muito tóxico. PMA tem sido visto como um substituto do “Ecstasy”, e eu gostaria de saber se o uso leviano de Óleo de Anise como fonte presumida de Safrol, poderia ter sido a origem da PMA na cena Rave do Ecstasy. Uma fonte adicional de Safrol é Óleo de cânfora. Foi convertido em “óleo de sassafrás sintético” por congelação e subseqüente destilação, e tem o nome alternativo de “óleo de cânfora amarelo.” É uma pobre, mas teoricamente disponível, fonte de Safrol.

Mas se a sua pergunta é sobre as origens botânicas de MDMA, deixe-me impor várias advertências. Em primeiro lugar, a síntese de MDMA é um ato ilegal e, se documentado no tribunal, irá colocá-lo na prisão por muitos anos. E até mesmo a busca inocente para algumas dessas fontes botânicas pode ser desagradável. Há uma lista de produtos químicos que são usados ​​no fabrico de substâncias controladas, (chamada lista 1 pela DEA), que fazem a posse de qualquer destes produtos químicos uma razão para perguntar se você teve a intenção de fabricar MDMA. Nessa lista não estão explicitamente nomeado piperonal, 3,4-metilenodioxifenil-2-propanona (este é um sinônimo para piperonylacetone), isosafrol e safrol. Estes são os exatos compostos citados acima que estão implicados na síntese de MDMA.

As armas de aplicação da lei que podem ser utilizados neste domínio são muito fortes e muito bem definidos. Nem sequer pense sobre a criação de um laboratório em seu porão para fazer essas coisas. Você poderia ser gravemente ferido.


Pergunte ao Dr. Shulgin é um serviço publico feito por Dr. Alexander Shulgin e o Center for Cognitive Liberty & Ethics(CCLE). Dr. Shulgin é químico e autor. Ele criou mais de 200 novas substancias químicas com propriedades visionárias.
Todas as perguntas podem ser encontradas aqui.

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Foto por Renata Mein

Agradecemos imensamente a tradução feita pelo colaborador Kaio Shimanski.
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