Thomas Kuhn e a Revolução Psicodélica

Por Peter Webster
Uma palestra apresentada à
Sociedade Italiana de Estudo dos Estados de Consciência
Perinaldo, Itália, agosto de 2006

Traduzido da Psychedelic Library

 

 

Introdução

A descoberta, ou melhor dizendo, a redescoberta de drogas psicodélicas no meio do século 20 foi essencialmente uma descoberta científica; no entanto, pouca atenção tem sido dada ao contexto dessa descoberta em relação à história e filosofia da própria ciência. Uma grande quantidade de atenção foi, ao contrário, concentrada nas conexões entre o conhecimento moderno sobre psicodélicos e as tradições xamânicas, a longa história do uso religioso de plantas e preparações psicoativas e as possíveis extensões modernas dessas antigas tradições psicodélicas para fins médicos. É claro, de se esperar que esse seja o caso – foi o curso natural que a pesquisa psicodélica seguiu.

Mas, para entender mais plenamente certas peculiaridades que se seguiram à redescoberta psicodélica, podemos nos beneficiar de uma verificação de como essa descoberta se encaixa na história da tradição científica em si. Acredito que é SOMENTE a partir de tal observação que podemos entender nossa situação atual, onde parece que apenas pequenos grupos de pessoas, muitas vezes profissionalmente isolados, levam a sério o legado e as implicações da redescoberta psicodélica, onde a esmagadora maioria dos cientistas atualmente ativos não tem qualquer conhecimento preciso sobre drogas psicodélicas e, de fato, se opõe e rejeita ativamente a ideia de que as drogas servem para algo.

Para muitos, aparentemente, essa rejeição e repressão é algo incomum na ciência, algo que os pioneiros psicodélicos não mereciam. Para muitos, aparentemente, parece que quando verdades são reveladas pela pesquisa – mesmo quando são revolucionárias e talvez chocantes para muitos – essas verdades devem, pela natureza da ciência, serem aceitas e desenvolvidas pelo mainstream.

No entanto, um exame da história do avanço científico revela algo bem o oposto, e um estudo de como a ciência realmente opera na prática pode nos dar um pouco mais de coragem para persistir no que tantos outros consideram uma mera tolice.

 

Thomas Kuhn e a Revolução Psicodélica

Thomas Kunh

Pelo que posso dizer, Thomas Kuhn não tinha nada a dizer sobre drogas psicodélicas ou os vários usos que podem ser dados a elas. O título da minha palestra de hoje pode, portanto, parecer um tanto inadequado, não fosse o fato de que Kuhn TEVE MUITO A DIZER sobre revoluções – revoluções científicas, ou seja, o tipo de agitação geral dos conceitos fundamentais que ocorre em várias disciplinas científicas de tempos em tempos. Thomas Kuhn, como você pode saber, construiu toda uma teoria das revoluções científicas: o que elas são, como e por que ocorrem, quem as provoca – e, ao fazê-lo, redefiniu o que é a ciência de muitas maneiras.

O que conecta Kuhn aos psicodélicos é que a redescoberta dos psicodélicos no meio do século 20 prometeu mudanças revolucionárias em vários campos de investigação científica e medicina e, como afirmarei mais adiante, uma revolução no conceito de estudo científico em si. Refiro-me à redescoberta dos psicodélicos, é claro, porque como todos sabemos, o uso dessas substâncias é muito antigo, global e provavelmente remonta ao início da existência humana. Os psicodélicos tiveram que ser REDESCOBERTOS porque a civilização industrial moderna vem sendo uma das muito poucas sociedades humanas quase que totalmente inconscientes das plantas psicodélicas e sem qualquer uso geral delas para cura¹, iniciação, práticas religiosas e heurísticas, e assim por diante. (Nota do tradutor ¹: da data do texto para cá, inúmeros estudos médicos vem sendo testados e aplicados por instituições como Berkeley, Johns Hopkins e MAPS)

As potenciais mudanças revolucionárias que essa redescoberta deveria ter trazido teriam sido bem descritas e sua gênese e crescimento bem previstos pela teoria de Kuhn se não fosse pelo fato de que praticamente todas essas promessas revolucionárias ainda permanecem não cumpridas, sufocadas por uma longa reação antipsicodélica. Essa reação foi provocada pela primeira vez no final da década de 1960 por forças sociais e governamentais nos EUA, perpetuando uma longa e sombria tendência puritana nos Estados Unidos que trouxe ao mundo a grande loucura das políticas proibitivas modernas. Mas logo depois, o próprio establishment científico pareceu ser infectado com essa situação semelhante a uma doença, de modo que hoje é raro o cientista que tem qualquer indício de que a redescoberta de drogas psicodélicas pode ser algo não apenas interessante, mas extremamente importante e potencialmente revolucionário. Apesar da verdade do assunto, tão óbvia para aqueles que sabem, dizer que a redescoberta psicodélica foi um dos desenvolvimentos sociais e científicos mais importantes do século XX seria algo ridicularizado pela grande maioria dos cientistas vivos hoje.

Essa resistência reacionária à revolução científica, embora seja uma grande decepção e, em geral, um descrédito aparente à legitimidade do chamado progresso científico, é, no entanto, o estado normal das coisas, como mostram as descobertas de Kuhn. Quando examinado de perto da perspectiva de Kuhn sobre a história da ciência, o empreendimento científico é visto como quase arrogantemente conservador — uma história repleta de repressão de ideias novas e revolucionárias. Todos nós estamos familiarizados com exemplos de repressão como a cruzada do Vaticano contra Galileu, mas Kuhn mostra como a própria comunidade científica tem sido frequentemente tão repressiva da inovação científica quanto qualquer grupo religioso ou social.

Não há melhor professor do que Thomas Kuhn, portanto, para nos instruir sobre como e por que a revolução psicodélica foi paralisada por tanto tempo, aparentemente um fracasso e sem influência significativa em mais de quatro décadas de avanço científico e intelectual. A teoria geral da revolução científica de Kuhn pode até nos ajudar a entender como finalmente trazer uma pesquisa psicodélica significativa para o mainstream científico, onde ela certamente merece estar. Refiro-me aqui à pesquisa científica “significativa” porque também é óbvio para aqueles que conhecem, que limitar a pesquisa ao uso de psicodélicos como medicamentos para o tratamento de condições de doença e anormalidade rejeita a maior parte de seu potencial. Claro, a entrada da pesquisa psicodélica no “mainstream científico” alteraria necessariamente a própria natureza da ciência, talvez levando a um abandono dos piores aspectos de seu reducionismo convencido por uma maneira mais pragmática de estudar e entender os fenômenos mais complexos do universo, entre os quais, o próprio cientista. E todos nós somos, até certo ponto, cientistas. Quem foi Thomas Kuhn, então? Ele foi professor emérito de filosofia e linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts até sua morte em 1996, e foi talvez o maior historiador da ciência dos últimos tempos. Sua obra seminal, The Structure of Scientific Revolutions, mesmo em virtude das longas e acaloradas críticas que recebeu desde sua primeira publicação em 1962, deve ser classificada como talvez o livro mais importante sobre o assunto já publicado.

“The Structure of Scientific Revolutions” é importante não apenas para historiadores ou filósofos, mas para todas as pessoas que se acreditam capazes de investigação científica ou pensamento analítico, mesmo em nível amador. Muito foi escrito e ensinado até mesmo em nossas escolas secundárias e universitárias sobre o método científico, sobre como os cientistas conduzem pesquisas e praticam seu ofício. Mas Thomas Kuhn, com um tratado magnífico, revolucionou o próprio conceito do que é uma ciência e como ela procede. Kuhn até questiona a noção amplamente difundida de que o conhecimento científico faz algum tipo de progresso cumulativo em direção à compreensão final.

A Estrutura das Revoluções Científicas não é longa nem difícil por si só, mas contém ideias tão novas e radicalmente brilhantes que leva algum tempo e várias leituras para ser absorvida completamente. Muitos escritores, incluindo o próprio Kuhn, tentaram compor um resumo conciso da teoria que o livro apresenta, mas em vista do debate animado e às vezes acalorado a favor e contra suas ideias, deve ser óbvio que nenhum tratamento superficial pode fazer justiça a ele. Esta cautela deve incluir minha própria apresentação hoje, e os aspectos de sua teoria que discutirei não são de forma alguma tudo o que há na teoria de Kuhn. Eu apenas escolhi algumas características-chave da teoria com as quais podemos entender melhor o tópico em questão, a redescoberta científica de drogas psicodélicas.

Talvez o mais procurado ao tentar resumir Kuhn seja uma definição precisa daquela famosa palavra que ele introduziu na filosofia da ciência, aquela palavra que se tornou tão frequentemente ouvida em referência a conceitos ou ideias fundamentais, o paradigma. O próprio Kuhn define um paradigma como “uma ou mais conquistas científicas passadas que alguma comunidade científica particular reconhece por um tempo como fornecendo a base para sua prática futura”. Mas como uma aproximação próxima que podemos entender mais facilmente no contexto, podemos pensar em um paradigma como um conjunto inter-relacionado de conceitos, valores, crenças e técnicas fundamentais que definem uma maneira obrigatória de abordar problemas científicos em um determinado momento e em uma determinada disciplina. O paradigma é o palco no qual o jogo da investigação científica acontece – uma plataforma que define o cenário, o contexto, as limitações e os limites para a agenda de pesquisa. Embora o paradigma possa ser pensado como uma descrição precisa de um aspecto da realidade, na verdade o paradigma é mais como um mapa ou modelo, uma aproximação ou estrutura para organizar dados atualmente disponíveis e definir pesquisas permitidas.

Pode parecer estranho falar sobre “pesquisa permitida” na ciência, pois a imagem que podemos ter da ciência e dos cientistas é de liberdade de investigação — a ideia de que pelo menos alguns cientistas exploram a realidade sem barreiras, onde quer que sua busca pela verdade os leve. Mas Kuhn mostra que isso é um mito. Operando dentro da estrutura de um determinado paradigma científico, a situação real é bem diferente do mito. Kuhn escreve:

“Um paradigma suprime a inovação, pode até isolar a comunidade daqueles problemas socialmente importantes que não são redutíveis à forma de quebra-cabeça típica da ciência normal, porque não podem ser declarados em termos das ferramentas conceituais e instrumentais que o paradigma fornece.”

Nesta citação, Kuhn se refere à “ciência normal”, e agora devemos considerar este e outros dois conceitos-chave.

Ciência normal é o que praticamente todos os cientistas fazem o tempo todo quando nenhuma revolução científica é iminente, e na descrição pode soar um tanto banal para os não iniciados: consiste essencialmente em uma operação de “limpeza” onde os detalhes de um determinado paradigma e suas aplicações permitidas são elaborados com mais e mais. Parece, como diz Kuhn,

“… uma tentativa de forçar a natureza na caixa pré-formada e relativamente inflexível que o paradigma fornece. Nenhuma parte do objetivo da ciência normal é evocar novos tipos de fenômenos; na verdade, aqueles que não se encaixam na caixa geralmente não são vistos. Nem os cientistas normalmente visam inventar novas teorias, e eles geralmente são intolerantes com aquelas inventadas por outros. Em vez disso, a pesquisa científica normal é direcionada à articulação desses fenômenos e teorias que o paradigma já fornece.”

Pelo que acabamos de aprender sobre ciência e seus paradigmas, já podemos ver claramente a ameaça à ciência normal que a redescoberta de psicodélicos e estados alterados de consciência forneceu. Foi uma ameaça direta a várias disciplinas científicas e médicas, uma inovação destruidora de paradigmas que estava destinada a ser reprimida por um longo tempo.

Dois outros conceitos importantes da teoria de Kuhn são a mudança de paradigma e a revolução científica. Resumidamente, todos os paradigmas científicos eventualmente enfrentam problemas, quando descobertas experimentais anômalas se acumulam a ponto de esse paradigma começar a mostrar suas falhas. Se os problemas persistirem e não puderem ser resolvidos sob os ditames do paradigma existente, uma mudança de paradigma deve então eventualmente ocorrer, onde um novo paradigma, definindo de uma nova maneira os conceitos fundamentais e a agenda de pesquisa a serem seguidos, então substitui o antigo paradigma. Como esse processo tem precedência sobre a continuação da ciência normal, diz-se que uma revolução científica está ocorrendo.

Para entender na prática o que Kuhn quer dizer com paradigma e o que é uma mudança de paradigma, nos ajuda observar o que os termos significam em relação a uma revolução científica específica. O exemplo mais usado de uma revolução científica e sua mudança de paradigma associada foi a revolução copernicana na astronomia.

Nicolau Copérnico

Copérnico, como você certamente sabe, foi o primeiro a promover a ideia herética de que o Sol, e não a Terra, era o centro do nosso sistema planetário. A astronomia centrada na Terra de Ptolomeu, que existia desde a época de Cristo, funcionou admiravelmente bem por um longo tempo, sendo capaz de prever as posições de estrelas e planetas com uma precisão que foi suficiente até o século XVI. Mas com a invenção e o aprimoramento do telescópio e a melhoria das habilidades científicas dos astrônomos, anomalias experimentais começaram a aparecer, especialmente para entender e prever o movimento dos planetas.

Dois pontos importantes a serem observados neste exemplo são:

  1. Os conceitos de paradigma e mudança de paradigma são claramente ilustrados. A revolução copernicana teve como raiz a mudança de paradigma do conceito de um sistema planetário geocêntrico para um heliocêntrico. Mas, ao examinarmos mais exemplos de revoluções científicas, descobriremos que um paradigma científico pode ser um pouco mais complexo, envolvendo um grupo ou conjunto de conceitos fundamentais intimamente relacionados ou realizações científicas passadas.
  2. O segundo ponto-chave no exemplo copernicano é o surgimento de resultados experimentais cada vez mais importantes em conflito com a teoria e a expectativa aceitas – este é o sinal de uma crise iminente, mudança de paradigma e revolução científica.

Outra observação que podemos fazer com base neste exemplo é que, enquanto uma ciência parece estar funcionando, fazendo previsões satisfatoriamente precisas e fornecendo perguntas suficientes para os cientistas trabalharem durante um período de ciência normal, pouco importa se o paradigma pode ser baseado em uma ideia completamente falsa, derivada não da ciência, mas neste caso de ditames religiosos, a saber, que a Terra era o centro do universo. Podemos sentir que hoje a ciência é muito mais imune a esse erro, mas o exemplo da repressão científica dos resultados da pesquisa psicodélica argumenta o contrário.

Vou apenas mencionar brevemente mais alguns exemplos de revoluções científicas e suas mudanças de paradigma associadas para que você tenha uma ideia melhor do que está envolvido, e então continuaremos a considerar como a redescoberta dos psicodélicos deve se qualificar como o iniciador de várias revoluções científicas ainda a se concretizarem.

Na geologia, temos uma das revoluções científicas mais recentes a ter ocorrido. Este exemplo também envolve uma mudança de paradigma fácil de entender, consistindo na transformação de um único conceito. Antes de meados do século XX, os continentes da Terra eram considerados estacionários, em um sentido travados em suas posições para a crosta da Terra. Esta era a crença fundamental ou paradigmática ensinada a todos os estudantes de geologia. Na realidade, o conceito nem precisava ser ensinado, pois parecia ser completamente autoevidente. A acumulação de anomalias experimentais na evolução, geografia, paleoantropologia e outros campos, no entanto, rapidamente levou à teoria da tectônica de placas, na qual os continentes eram entendidos como flutuando em um interior global líquido e, portanto, livres para derivar, colidir uns com os outros e assim por diante. Este novo paradigma expandiu a agenda de pesquisa e, portanto, permitiu a explicação de muitos fenômenos geológicos, evolutivos e geográficos observados que permaneceram misteriosos e inexplicáveis, e em grande parte ignorados, durante o reinado do paradigma do continente estacionário.

Na física, é claro, temos uma das mais importantes revoluções científicas que já ocorreram, da física lógica de bola de bilhar de Newton à paradoxal, complicada de entender e quase impossível de visualizar a física relativística e quântica de Einstein, Heisenberg, Bohr e seus contemporâneos. Neste exemplo, é claro, a mudança de paradigma envolveu um conjunto complexo de princípios e conceitos fundamentais inter-relacionados, incluindo a natureza da luz e da radiação, do espaço-tempo, da própria matéria.

Na química, a teoria sobre o processo de combustão, a queima que os homens observavam tão de perto desde a domesticação do fogo em tempos pré-históricos, passou por uma mudança de paradigma com a descoberta do oxigênio por Lavoisier. Até então, e provavelmente devido à longa observação do que o fogo parecia ser, a queima era considerada um processo pelo qual algo era liberado do objeto em questão. Afinal, as chamas que emanavam de um objeto em chamas devem ter levado, desde tempos imemoriais, a uma ideia fixa de que algo estava saindo da substância. Até meados do século XVIII, uma teoria cada vez mais complexa da queima foi elaborada, uma teoria que postulava uma substância chamada flogisto como o transportador de calor e, portanto, a substância que era liberada de um objeto em chamas. À medida que os balanços químicos se tornavam mais precisos, no entanto, anomalias experimentais começaram a aumentar: descobriu-se que pelo menos algumas substâncias sob combustão pareciam ficar mais pesadas, em vez de mais leves, se o flogisto realmente emanasse delas. Em um último esforço para salvar a teoria do flogisto, alguns cientistas eminentes até propuseram que o flogisto deve ter massa negativa! Com a descoberta do oxigênio por Lavoisier, no entanto, a teoria da oxidação da combustão logo colocou o flogisto em seu túmulo, fosse de massa negativa ou não!

Acho que a partir desses poucos exemplos você pode agora entender a natureza básica de uma revolução científica e sua mudança de paradigma subjacente. Você também pode ter notado que em cada um desses casos a mudança de paradigma envolveu uma mudança de visão geral do que poderia ser pensado como uma ideia arcaica para uma esotérica, onde uma percepção geral e antiga baseada em observação simples teve que ser substituída por conceitos que simplesmente não eram óbvios para o homem primitivo nem para o observador ingênuo. A ideia de que a Terra era o centro do universo, que as massas de terra eram fixas no lugar no globo, que os objetos físicos eram duros e sólidos, que as chamas indicavam que algo estava emanando de um objeto em chamas — tudo isso poderia ser derivado do que podemos pensar como simples observação primitiva ou ingênua. Essas ideias, os paradigmas de seu tempo, tiveram que ser substituídos por ideias anti-intuitivas e aparentemente paradoxais, e vemos isso em abundância quando se trata da redescoberta psicodélica. Não menos importante entre as crenças ingênuas que a redescoberta psicodélica desacreditou está a ideia de que o homem cientista poderia sempre e confiavelmente ser um observador independente e objetivo dos fenômenos, e é um delicioso paradoxo que suas próprias investigações científicas supostamente objetivas com psicodélicos tenham exigido essa conclusão. Também é interessante que as ideias ingênuas que precisavam ser substituídas não eram antigas e primitivas como nos outros casos que acabei de mencionar, mas sim a base da era da investigação científica.

 

Agora, vejamos alguns exemplos específicos de como a redescoberta psicodélica pode ter revolucionado alguns campos da ciência e da medicina.

Para começar, é apropriado considerar o campo da psiquiatria e da psicoterapia, pois foi aqui que a pesquisa com psicodélicos começou, em Saskatchewan, Canadá, sob a direção de Humphrey Osmond, Abram Hoffer e seus associados, e quase simultaneamente com Stanislav Grof e seus associados na República Tcheca

Stan Grof relata em seu livro “Beyond the Brain” o quão difícil foi para ele aceitar os dados de pesquisa que estavam inundando o trabalho de seu grupo com LSD. Grof tinha sido um psicanalista freudiano bastante rigoroso, como se poderia esperar de alguém treinado em medicina e psiquiatria no início dos anos 1950 — talvez o auge do movimento psicanalítico. No entanto, Grof descobriu que, um por um, os principais princípios da visão freudiana — poderíamos chamá-lo de paradigma freudiano — tiveram que ser abandonados como resultado de sua pesquisa sobre LSD. Nesse longo e árduo processo, um novo paradigma para pesquisa e compreensão no campo da saúde e doença mental humana, e na própria consciência humana começou a tomar forma. Em seu livro “Beyond the Brain”, Grof apresenta uma estrutura para esse novo paradigma e até dedica um capítulo introdutório à consideração da teoria da revolução científica de Kuhn como uma forma de mostrar ao leitor a natureza do processo de mudança que estava começando. Hoffer e Osmond no Canadá estavam ao mesmo tempo chegando a uma visão radicalmente nova do que a psicoterapia poderia ser — não uma cura médica análoga ao tratamento de uma infecção com um antibiótico, mas algo mais parecido com uma viagem de autodescoberta pessoal onde o uso de drogas psicodélicas agia como um complemento ou catalisador para a produção de uma mudança radical e rápida de personalidade. A mudança de personalidade tinha sido em tempos antigos muito mais associada à experiência religiosa e conversão do que à ciência ou medicina. Tal ideia era, naturalmente, outro teste severo para a teoria psicanalítica freudiana e para o próprio conceito médico de tratamento medicamentoso.

Um importante princípio organizador na pesquisa psicoterapêutica de Hoffer e Osmond foi derivado de sua observação do uso de peiote pelos nativos americanos em suas observâncias religiosas e do fato observado de alcoolismo muito reduzido em membros da Igreja Nativa Americana. Eles observaram repetidamente a iniciação de novos membros que antes eram severamente alcoólatras e que posteriormente foram curados de seus problemas com bebida com uma confiabilidade que superava em muito qualquer tratamento de alcoolismo que a medicina ocidental pudesse oferecer. Assim nasceu um projeto ambicioso e bem-sucedido de usar tanto mescalina quanto LSD, não como uma clássica “cura medicamentosa” para o alcoolismo, mas como uma forma de catalisar a mudança de personalidade em seus pacientes ou clientes, o que levou essas pessoas a “se curarem”, por assim dizer — a aceitarem suas vidas de maneiras que não poderiam ter alcançado antes. Claro, os métodos desenvolvidos por Hoffer e Osmond foram, em alguns aspectos, um retrocesso ao paradigma xamânico de cura, onde o médico não é um cientista independente e objetivo usando medicamentos específicos para doenças que funcionam apenas com base em suas propriedades farmacêuticas. O xamã faz uma jornada de autodescoberta psicológica e espiritual junto com seu cliente para que ambos possam experimentar a fonte dos problemas e, assim, efetuar uma cura.

Foi observado, que na medicina ocidental é o paciente que toma os medicamentos, enquanto na tradição xamânica é o médico que toma a medicina. O trabalho de Hoffer e Osmond tratando alcoólatras dependia necessariamente de dar medicamentos psicodélicos aos próprios pacientes, mas é interessante notar que esses psiquiatras outrora tradicionais rapidamente chegaram à conclusão de que, para dar psicodélicos efetivamente aos pacientes, era indispensável que os médicos, e até mesmo os enfermeiros presentes, estivessem o mais familiarizados possível com os estados alterados de consciência produzidos pelos medicamentos. E havia apenas uma maneira eficaz de fazer isso: como na tradição xamânica, os médicos tomavam os medicamentos, muitas vezes.

Lenta, mas seguramente, um novo paradigma para a psiquiatria e a psicoterapia estava tomando forma, mas a resistência do establishment científico e médico era esperada, como Kuhn mostra ser o estado normal das coisas. Críticas à terapia com LSD — especialmente depois que o uso de psicodélicos por estudantes universitários se tornou um escândalo nos EUA (Tim Leary e Richard Alpert em Harvard)— se tornaram outro tipo de escândalo, um escândalo científico de grandes dimensões. Em uma análise particularmente convincente da situação em seu livro “The Hallucinogens”, Hoffer e Osmond demolem habilmente seus críticos no espaço de algumas páginas. No entanto, completamente de acordo com as previsões de Thomas Kuhn, aqueles que introduziriam um novo paradigma enfrentam não apenas uma batalha difícil, mas consequências muito mais sérias, não importa quão necessária a nova perspectiva possa ser baseada no fracasso revelado do antigo paradigma.

Hoffer e Osmond estavam cientes do trabalho de Thomas Kuhn e das previsões de grande hostilidade à sua pesquisa? Eles não deixam pista, mas citam o filósofo Michael Polanyi, que em seu artigo de 1956 na The Lancet, parece ter pressagiado alguns dos principais pontos de Thomas Kuhn. Polanyi escreve,

“Na medida em que a descoberta muda nossa estrutura interpretativa, é logicamente impossível chegar a ela pela aplicação contínua de nossa estrutura interpretativa anterior. Em outras palavras, a descoberta é criativa… no sentido de que não deve ser alcançada pela aplicação diligente de nenhum procedimento previamente conhecido e especificável…”

Vemos aqui que Polanyi está, em termos kuhnianos, falando sobre o tipo de descoberta que representa descobertas anômalas que levam o descobridor a propor um novo paradigma. Quando Polanyi diz que a descoberta revolucionária não pode ser alcançada por procedimentos previamente existentes, ele está dizendo a mesma coisa que Kuhn, que o processo da ciência normal não pode levar por si só à mudança de paradigma e à revolução científica. O próprio Kuhn afirmou com bastante firmeza que “Paradigmas não são corrigíveis pela ciência normal de forma alguma”.

Michael Polanyi continua,

“Agora podemos ver a grande dificuldade que pode surgir na tentativa de persuadir outros a aceitar uma nova ideia na ciência. Na medida em que representa uma nova maneira de raciocínio, não podemos convencer os outros por meio de argumentos formais, pois enquanto argumentarmos dentro de sua estrutura, nunca poderemos induzi-los a abandoná-la. A demonstração deve ser suplementada, portanto, por formas de persuasão que possam induzir uma conversão. A recusa em entrar na maneira de argumentar do oponente deve ser justificada fazendo-a parecer completamente irracional.

“Tal rejeição abrangente não pode deixar de desacreditar o oponente. Ele será feito parecer completamente iludido, o que no calor da batalha facilmente implicará que ele era um tolo, um excêntrico ou uma fraude… Em um choque de paixões intelectuais, cada lado deve inevitavelmente atacar a pessoa do oponente.”

E foi exatamente isso que aconteceu com muitos pesquisadores que trabalharam com drogas psicodélicas. Hoje, a comunidade científica convencional rotineiramente e ignorantemente classifica toda a fraternidade de pioneiros psicodélicos na mesma categoria de Tim Leary, ou pior.

Obviamente, nenhuma revolução científica ocorreu ainda na psiquiatria e psicoterapia tradicionais, mas os experimentos anômalos e os contornos de um novo paradigma permanecem na literatura científica e nas mentes de alguns cientistas e médicos.

Como teria sido uma revolução na psicoterapia? Isso é algo difícil de prever, como qualquer mudança revolucionária deve necessariamente ser. Mas certamente seria amplamente reconhecido agora que Hoffer e Osmond estavam certos em insistir que a experiência pessoal de estados de consciência alterados psicodélicos é indispensável e “absolutamente essencial” para a compreensão não apenas dos pacientes, mas para a compreensão da própria consciência. Treinado em estados alterados de consciência, um psiquiatra ou psicoterapeuta se torna um paralelo muito mais próximo dos curandeiros xamânicos do passado distante, algo desejável, pelo seguinte motivo: a ciência reducionista funciona bem com coisas inanimadas, plantas e até mesmo com animais primitivos, mas com humanos, que nunca podem ser considerados “apenas” como objetos, a ciência objetiva deve permanecer para sempre incompleta.

No campo da ciência da computação e tecnologia, uma revolução parece ter ocorrido, e a princípio podemos ser tentados a atribuir isso às alegações frequentemente ouvidas de que muitos dos inventores pioneiros do computador moderno não só estavam familiarizados com drogas psicodélicas, mas as usaram como um caminho para a criatividade que levou às suas invenções. Seja como for, teríamos que dizer com mais precisão que a revolução não estava, portanto, nos computadores em si, mas no uso de drogas psicodélicas como uma ferramenta psicológica, como uma forma de aumentar a criatividade. A chamada revolução dos computadores não se qualifica como uma revolução científica, primeiro porque estamos lidando mais com uma tecnologia do que com uma ciência, e segundo porque não passamos por uma mudança de paradigma. Os princípios fundamentais da computação digital permaneceram os mesmos por muito tempo.

No entanto, a ideia de que as drogas poderiam aumentar a criatividade era certamente revolucionária e ameaçadora de paradigma. É uma ideia que vai contra as convicções gerais, embora não científicas, de que as drogas são exclusivamente substâncias usadas na medicina para restaurar a normalidade; é uma ideia que desacredita a convicção de que a consciência normal é o summum bonum² (Nota do tradutor²: ‘sumo bem’ ou ‘bem maior, em latim) é uma expressão latina usada na filosofia — particularmente, em Aristóteles,[1] na filosofia medieval e na filosofia de Immanuel Kant — para descrever o bem maior que o ser humano deve buscar), o melhor, mais eficiente e desejável estado da consciência humana e que sua alteração não pode levar a nenhum bom fim; é uma ideia que mostra o absurdo da noção de que a consciência drogada DEVE ser um estado degradado e delirante, abaixo da dignidade de qualquer pessoa civilizada, que o uso aborígene de drogas para qualquer propósito meramente ilustra o atraso e a natureza primitiva de tais povos. Essas observações ingênuas, assim como as observações ingênuas do universo centrado na Terra, chegam até nós como “verdades” pouco questionadas de eras passadas. No caso das drogas, tais ideias representam um paradigma muito antigo da psicologia humana ocidental cuja origem remonta à Santa Inquisição, quando as potências europeias assumiram a responsabilidade de perseguir os habitantes das Américas, supostamente para salvar suas almas, mas, mais realisticamente, para confiscar todo o hemisfério. Os inquisidores tomaram o uso nativo de drogas que alteram a consciência como um sinal claro de que eles deveriam ser considerados subumanos e indignos da propriedade de suas terras. Esse legado chegou até nós pouco alterado, de modo que hoje parece uma opinião automática sobre os usuários de drogas que eles são de alguma forma degradados, não estão em seu perfeito juízo e precisam de correção e tratamento. Propor que as drogas podem ser capazes não apenas de alterar benignamente as capacidades humanas, mas de realmente melhorá-las é obviamente uma heresia, uma ameaça à atitude colonial e paternalista que tipifica a visão da ciência moderna sobre os povos antigos e seus costumes.

As sementes da revolução neste ramo da psicologia certamente já haviam sido plantadas em 1964, quando Frank Barron apresentou um artigo em um simpósio na Califórnia intitulado “O processo criativo e a experiência psicodélica“. A pesquisa de Willis Harman e James Fadiman logo começou a documentar as provas experimentais da conexão, e seu artigo “Agentes psicodélicos na resolução criativa de problemas: um estudo piloto” provavelmente teria sido um ponto de virada revolucionário no estudo psicológico da criatividade se sua pesquisa não tivesse sido interrompida no meio do caminho por decreto do governo. Se você simplesmente fizer uma pesquisa no Google por Harman e Fadiman, poderá encontrar facilmente seus artigos de pesquisa, que valem a pena ler. O título do artigo deles no livro de Aaronson e Osmond, Psychedelics, é ainda mais indicativo de uma mudança revolucionária de paradigma: “Aprimoramento seletivo de capacidades específicas por meio do treinamento psicodélico”. Desde o final da década de 1960, nenhuma pesquisa foi permitida nesse sentido, e mais uma potencial revolução científica foi suprimida.

 

Embora as mudanças notáveis ​​na tecnologia de computadores não se qualifiquem estritamente como uma revolução kuhniana, um resultado primário de avanços em computadores pode ainda ilustrar para nós outra potencial e genuína revolução científica que foi suprimida. Desde os primeiros experimentos neurológicos em que os nervos que levam aos músculos da perna de um sapo foram estimulados eletricamente, levando à contração muscular, o paradigma da computação digital no sistema nervoso se consolidou, lenta mas seguramente.

Devido à grande demanda por computadores cada vez mais avançados para empreendimentos de alta tecnologia, como aeronáutica, exploração espacial, modelagem de sistemas complexos — sem mencionar aplicações militares e hardware — tem havido dinheiro de pesquisa praticamente ilimitado disponível para aqueles que estudam computação digital e para aqueles que se esforçam para descrever as propriedades e operações de vários sistemas físicos e biológicos em termos de computação digital. A neurociência e a ciência cognitiva têm sido grandes beneficiárias desse dinheiro de pesquisa, e a corrente principal dessas ciências aceita quase sem questionamentos ou análises profundas que os processos digitais são responsáveis ​​pelo que o cérebro faz. Afinal, as bolsas de pesquisa dependem da adoção desse paradigma.

A maneira mais fácil de ver o “paradigma digital” da operação cerebral é talvez por meio da consideração da visão da operação dos neurônios que temos e o que essas atividades dos neurônios significam. Embora as propriedades e ações dos receptores químicos de um neurônio e do espaço sináptico entre os neurônios tenham se mostrado incrivelmente complexas, quando tudo é dito e feito, o que acontece no neurônio é um simples pulso elétrico liga-desliga que transmite o chamado “sinal” pelo eixo do neurônio, ou axônio, em direção à próxima sinapse e neurônio na linha. Um simples pulso liga-desliga, tudo ou nada, só pode ser interpretado em termos digitais, não importa quantas camadas de complexidade alguém tente carregar em cima deste mais simples dos processos.

Enquanto isso, é bem conhecido por que o cérebro não pode ser um computador digital. Primeiro, ele não é rápido o suficiente. Nem complexo o suficiente, apesar da grande multidão de neurônios que contém. Uma tarefa como reconhecimento facial, que uma pessoa equipada com um cérebro pode fazer quase instantaneamente e sem qualquer sensação de ter concluído uma tarefa difícil, não pode ser alcançada de forma tão confiável com os computadores mais poderosos operando em velocidades de processador de vários Gigahertz e com velocidades de transferência de dados se aproximando da velocidade da luz. O cérebro opera a alguns hertz e com “taxas de transferência de dados” muito letárgicas. Outros exemplos semelhantes são fáceis de encontrar. Claramente, o paradigma de “transferência digital de bits de dados” da operação cerebral, como eu o chamo, com o potencial de ação do neurônio representando a unidade fundamental de “informação”, deve ser um paradigma aguardando um funeral bem merecido, se ao menos um novo paradigma pudesse ser criado primeiro para ampliar a agenda de pesquisa. Como Kuhn deixa claro em seu livro, não importa quais problemas um paradigma possa enfrentar, ele nunca é abandonado até que um novo paradigma esteja pronto para tomar seu lugar. Mesmo assim, muitos defensores do antigo paradigma continuam como os cientistas eminentes que atribuíram uma massa negativa ao flogisto, defendendo o que muitas vezes é o trabalho de suas vidas até o amargo fim — suas próprias mortes.

Um novo paradigma para a neurociência está de fato esperando nos bastidores há algum tempo. Algumas das ideias básicas do paradigma foram propostas pela primeira vez em parte por Karl Lashley já em 1942. Dando continuidade ao trabalho de Lashley após uma associação de uma década com ele, Karl Pribram publicou vários artigos sobre sua nova visão da operação cerebral e, finalmente, uma obra-prima de um livro sobre o assunto intitulado “Brain and Perception: Holonomy and Structure in Figural Processing”. As visões de Pribram, popularizadas em um livro de 1982 intitulado “The Holographic Paradigm and Other Paradoxes”, editado por Ken Wilber, realmente representam um paradigma inteiramente novo e revolucionário para a neurociência e a neurociência cognitiva. A agenda de pesquisa ampliada que o paradigma justificaria pode muito bem ser capaz de esclarecer muitos dos mistérios atuais da mente, como a forma como a recuperação instantânea da memória associativa pode funcionar, ou como todos os processos modulares do cérebro, como os múltiplos aspectos da visão, audição, olfato, todos parecem se combinar em uma experiência unitária, o chamado “problema de ligação” que os pesquisadores da consciência têm arrancado os cabelos tentando explicar.

Não tenho tempo hoje para contar os detalhes dessa nova abordagem ao cérebro e à consciência, mas, novamente, você deve conseguir encontrar artigos e livros interessantes na internet seguindo os links para “Karl Pribram”.

É interessante notar, e é isso que conecta essa mudança de paradigma particular aos psicodélicos, que Karl Pribram era muito próximo de outros cientistas e pesquisadores interessados ​​em psicodélicos e se inspirou em muitas dessas pessoas. O trabalho de Pribram tem todas as características de ter surgido por meio, pelo menos, da potencialização indireta da criatividade excepcional derivada do treinamento psicodélico, conforme o trabalho de Harman e Fadiman. Essa pode muito bem ser uma das principais razões pelas quais seu trabalho é amplamente ignorado pela corrente principal da neurociência e criticado ignorantemente até mesmo por grandes figuras científicas como Francis Crick.

 

Alguém poderia facilmente propor que a redescoberta psicodélica teria efeitos revolucionários ainda maiores em outras disciplinas científicas, como antropologia e paleoantropologia, como propus em minha palestra aqui há dois anos, ou mesmo economia, … poucas ciências permaneceriam intocadas se a resistência indesejada não tivesse suprimido a própria revolução psicodélica.

Os psicodélicos e suas descobertas associadas possivelmente exigem revoluções científicas não apenas em vários campos científicos, mas no próprio conceito de exploração e descoberta científica. É por essa razão talvez que essas revoluções tenham sido tão longa e tão efetivamente reprimidas. Ter uma revolução científica em um determinado período da história já é um empreendimento difícil e às vezes há muito reprimido. Mas ter múltiplas revoluções em campos científicos até mesmo díspares exigiria uma grande convulsão científica E social, especialmente dada a maneira como a ciência é financiada hoje por grandes organizações corporativas e governamentais. E a revolução não pararia por aí: uma reorganização tão imensa na ciência levaria inevitavelmente a uma revolução nos costumes sociais, atitudes e, finalmente, na própria civilização e na política pela qual ela é dirigida. Se uma revolução tão multifacetada pode ser realizada é talvez o maior teste da humanidade desde o que ocorreu há tanto tempo, quando ele teve que decidir o que fazer com aquela primeira experiência do fruto proibido psicodélico no Jardim do Éden.

O Apocalipse Psicotecnológico: Evolução Segundo a Psilocibina

A História humana é um período caótico de transição metamórfica. É um portal no qual entramos macacos e sairemos alguma outra coisa impossível de ser prevista.

O que hoje chamamos de “tecnologia” não é simplesmente uma escolha histórico-evolucionária e nem mesmo uma produção do homem, é simplesmente parte de um processo de transformação pelo qual estamos passando e nem sequer temos controle. Apenas pensamos que temos. Somos primatas numa montanha-russa cujas dimensões e direções estão fora do nosso campo de visão. Mas gostamos de brincar de sermos os maquinistas dessa coisa.

Com a tecnosfera em estado avançado de desenvolvimento, tendemos a pensar na tecnologia em termos de sistemas e máquinas avançadas, mas é importante lembrar que, o que quer que seja “isso”, é parte de nós no mínimo desde que construímos as primeiras ferramentas de pedra lascada para caçar, na pré-história. Dissolvendo por um momento nossas atuais concepções históricas e culturais, vemos que esse é o próprio processo que caracteriza nossa espécie; é o que permite nos vermos com orgulho como diferentes dos demais primatas. Não é algo que estamos “fazendo”, é algo que estamos passando, e que nos modifica em um ritmo cada vez mais acelerado.

Na medida em que avança, esse processo também acelera, pois cada avanço destranca um novo campo de potencialidade que antes não poderia ser vislumbrado. É um processo análogo ao da evolução biológica, já que a vida se desenvolve num regime de complexificação orgânica exponencial, como representado em símbolos mitológicos como a “árvore da vida”.

Num sobrevoo mais distanciado da nossa realidade cotidiana, vemos que não trata apenas de um processo análogo, mas de fato do mesmo processo. Não existe uma separação realmente rígida entre evolução tecnológica e evolução biológica, ambos podem ser vistos como estágios diferentes do mesmo movimento evolutivo. Aquilo que fez organismos unicelulares se agregarem para formar organismos complexos, iniciando a evolução da vida no planeta, agora invade o âmbito da evolução epigenética através da cultura e da tecnologia humanas, anunciando a emergência de uma nova dimensão evolucionária na Terra.

Mas isso é apenas a continuação avançada do que sempre ocorreu. À medida em que esse processo se complexifica em miríades de ramificações, cada novo salto carrega um potencial maior de transformação e acontece em um intervalo de tempo menor que o anterior, rumo a uma concrescência onde o desenvolvimento tecnológico, que é atual fio de navalha do processo, se dará de forma automática e instantânea. Nesse ponto, é como se a tecnologia assumisse as rédeas do seu próprio desenvolvimento – como o nascimento de uma nova criatura completamente imprevisível e fora dos domínios de controle humano. O mito futurista da máquina que adquire vida própria ganha aqui um fundamento lógico. E a explosão das atividades epigenéticas nos últimos 50 mil anos (que representam nada mais que o último segundo da nossa história evolutiva) é um sintoma de estamos nos aproximando disso.

O que geralmente não é levado em conta nesse tipo de história à la ficção científica é a verdadeira implicação disso na natureza da realidade humana. Considerando que a nossa percepção do tempo é um produto da exposição e processamento de informações pelo cérebro, isso significa que, nesse ponto de infinitas transformações instantâneas, em nossa percepção subjetiva, o que se passa no atual microssegundo de existência será, no próximo, tão antigo quanto a idade da pedra é hoje para nós, e o próximo será tão novo e transformador que nem sequer poderíamos imaginá-lo antes, assim como um primata em evolução nunca poderia imaginar a invenção da internet.

O passado não mais nos preparara para o futuro em nenhum nível, pois mesmo nosso futuro mais imediato é inteiramente desconhecido e imprevisível. Não há mais “farol” para iluminar o caminho à frente. Em outras palavras: Nossas faculdades cognitivas normais entram em colapso.

O tempo é a nossa rota de colisão e fusão com essa estranha entidade psicotecnológica que mantivemos contato ao longo da história. Não apenas nós estamos nos tornando máquinas, mas do ponto de vista das máquinas, elas estão se tornando nós. É um processo simbiótico que dará origem a uma criatura transhumana totalmente diferente de qualquer coisa possível de ser imaginada.

A Matriz Transcendental do Universo

O mergulho intelectual de Aldous Huxley na galáxia mitológica das grandes religiões do mundo resultou no livro “A Filosofia Perene”, de 1964. Baseado nos “relatos em primeira mão” dos ditos “homens santos” ou “profetas”, a obra expõe a ideia de uma doutrina comum e estável como base de toda diversidade desses sistemas religiosos que emergiram em diferentes tempos e lugares ao longo da história humana – a essa doutrina universal Huxley chamou de “Filosofia Perene”.

Na visão de Huxley, a Filosofia Perene representa o conhecimento deixado por alguns sábios e profetas que conheceram diretamente a natureza da “Realidade substancial ao mundo multiforme”, o “Princípio Absoluto de toda existência”. A experiência direta desses reconhecidos expoentes com a natureza da realidade apontaria persistentemente para um consenso acerca de uma base eterna e transcendental do ser. A ideia central da Filosofia Perene é, portanto, um retrato da sua característica histórica – ou seja, o fator perene em toda mitologia religiosa é a referência a um fator perene como origem de toda manifestação temporal. Em outras palavras, a ideia persistente de toda religiosidade humana é sobre uma dimensão una e eterna no centro de toda existência multiforme e transitória, sendo o conhecimento direto desse fato – claramente expresso na fórmula sânscrita “tat tvam asi” (Tu és Aquilo) – a finalidade de todo ser humano, para assim “encontrar Aquilo que realmente é”.

No ocidente, costumamos nos referir a algo semelhante através da palavra “alma”. Originada no latim anima, é equivalente da palavra grega psyché, que significa “sopro”, e foi tomada por Platão como metáfora para um princípio universal de movimento da vida. Mas, à luz dessas observações, a visão comum de “alma” utilizada no ocidente começa a parecer distorcida, já que normalmente é entendida como indicativo de individualidades eternas, isoladas e independentes “habitando” os seres orgânicos. Esse caráter universal, não-local e multiforme da alma, enfatizado pelos xamãs, sábios e profetas do passado, é deixado de lado em nossa cultura obcecada com a preservação da individualidade.

Mas, dentro da visão original da Filosofia Perene, a Alma – ou a Base do SER – é a matriz transcendental de todo Universo; uma unidade transdimensional multifacetada de onde tudo vem, para onde tudo vai e onde tudo está – antes, após e além da existência transitória no mundo ordinário -, e que contém em si própria todas as possibilidades da existência universal. Cada uma das miríades de manifestações do nosso universo pode ser vista como a amplificação – ou a “canalização” – de um aspecto muito específico dessa Alma universal, se aproximando daquilo que o biólogo Rupert Sheldrake, na sua tentativa de compreender a origem das formas no mundo natural, chamou de “campos morfogenéticos”.

O legado dos sábios e profetas nos diz que é possível para a consciência conhecer diretamente a natureza transcendental da Alma, mas esse conhecimento superior apenas pode ser expresso em metáforas – que no terreno religioso se transformam em mitos. A noção de um substrato eterno que dá suporte a toda manifestação temporal está presente em todos os tempos e lugares, e já foi expressa de muitas formas diferentes, variando de acordo com a cultura em que é modulada. Joseph Campbell disse que a origem e a finalidade central de qualquer mitologia é a experiência de integração entre esses dois aspectos paradoxais da existência. Huxley parece seguir a mesma lógica, afirmando que os verdadeiros ensinamentos espirituais representam relatos daqueles que “conheceram diretamente a Deus”. A idéia de “contato com Deus” é, precisamente, uma referência metafórica sobre a experiência direta de integração entre o reino da eternidade e a dimensão do tempo/espaço, ou entre o mundo perene e o mundo perecível.

“Ver o Universo num grão de areia, e o Céu em uma flor silvestre, ter o infinito nas palmas das mãos e a Eternidade em uma hora.” – William Blake.

“Para medir a alma temos que medi-la com Deus, pois a Base de Deus e a Base da Alma são unas e idênticas” – Eckhart

Referências:

– A Filosofia Perene – Aldoux Huxley

– Joseph Campbell – O Poder do Mito

– Rupert Sheldrake e o os “campos morfogenéticos”

Arqueólogos da Mente – Conectando Passado e Futuro

Nos locais mais inóspitos da Terra, homens obstinados buscam pistas sobre as nossas misteriosas origens. Ruínas, fósseis, restos de objetos humanos e pinturas em cavernas que sobreviveram no ambiente por milênios são meticulosamente garimpados e escrutinados, buscando juntar os cacos que ajudem a reconstruir a história que a nossa memória coletiva parece ter perdido. O homem, acumulador de conhecimentos, construtor de megalópoles, inventor de naves espaciais e colisores de hádrons que buscam a centelha inicial do universo, paradoxalmente não sabe de onde veio. É um estranho para si próprio. Diante dessa amnésia crônica, os raros restos deixados no mundo físico pelos nossos antepassados parecem ser as únicas pegadas do caminho tempestuoso que a nossa espécie trilhou até aqui. E, embora tenham certo êxito em encontrar e datar as pegadas do homem pré-histórico, os sacerdotes da cultura moderna parecem ter muito pouco a dizer sobre o suas reais implicações e significados.

O dogma científico atual diz que os seres humanos anatomicamente modernos – fisicamente iguais a qualquer um de nós – já estavam plenamente formados cerca de 200 mil anos atrás. Apesar disso, os primeiros vestígios de todas as características que hoje nós consideramos como a assinatura diferenciada da nossa espécie – todas as atividades “culturais”, como religião, arte e comunicação avançada por símbolos –  surgiram “do nada” somente  cerca de 50 mil anos atrás. Muito pouco se sabe sobre as formações iniciais dessas atividades culturais, e praticamente nada sobre o grande hiato de cerca de 150 mil anos, quando foi preparado o terreno para nosso mergulho nos domínios da evolução epigenética. Considerado como “o maior enigma da nossa história”, esse é um dos grandes motores da arqueologia e paleontologia.

Do pouco que se sabe, uma coisa é certa: esses vestígios foram deixados pelos praticantes da primeira religião da humanidade, que muito recentemente ganhou o pomposo nome de “xamanismo”. Os artistas das cavernas eram, nas palavras de Joseph Campbell, “os primeiros contadores de histórias” entre os homens; os primeiros a expressar uma compreensão do mundo em linguagem inteligível para os demais; os primeiros criadores de mitos sobre o universo e o lugar da nossa espécie nele.  E a força-motora dessas novas formas de expressão foram – como continuam sendo nos locais onde ainda sobrevive a prática arcaica do xamanismo – os estados de transe nos quais os xamãs mergulham sistematicamente por meio de variadas técnicas.

A informação de que pelo menos uma grande parte dessas obras de arte primitivas representa visões e outras formas de percepção obtidas pelos xamãs durante os estados de transe é uma verdade que já passou pelo limiar de ser ridicularizada e violentamente combatida para ser finalmente reconhecida pela sua autoevidência*. Nossa dificuldade é avançar a partir daí, já que o reino das visões, seres teriantrópicos e forças mágicas que os xamãs afirmam ser a fonte primordial do seu conhecimento é um território não só desconhecido, mas completamente rejeitado pela única forma de conhecimento sancionada pela cultura ocidental moderna. Assim como 90% do DNA humano já foi declarado como “DNA lixo” porque os cientistas não conheciam suas funções (hoje se sabe que o “DNA lixo”, de lixo não tem nada), a dimensão visionária da qual os falam eloquentemente os xamãs de todas as épocas e lugares é considerada como um mero subproduto de uma anomalia mental, ou seja, sem qualquer significado ou utilidade real. Essa suposição tomada como fato ergueu uma muralha na trilha do nosso autoconhecimento histórico.

Tentar entender o que se passava milênios atrás, quando nossos ancestrais começaram a apresentar os primeiros traços dos comportamentos que agora consideramos com orgulho como aqueles que nos diferenciam dos outros animais, é uma viagem de volta no tempo em busca do que quer que seja a controversa “natureza humana” – nada mais do que o momento evolutivo em que estabelecemos as bases psicossociais para o tipo de organização que hoje chamamos de “civilização”.  Esse não pode ser um domínio restrito aos representantes oficiais das instituições culturalmente sancionadas – se fosse, já poderíamos ter declarado seu fracasso. Estamos tratando sobre os corações e mentes de seres humanos iguais a nós, quando começaram a adquirir consciência e dar significado ao mundo. Para isso, é preciso mergulhar de verdade na mente do homem pré-histórico, penetrando na natureza das experiências que catalisaram essa transformação – muito além do mero registro de dados frios.

Isso significa atravessar a trilha das cavernas físicas para as cavernas interiores, que continuam tão abandonadas quanto quando foram deixadas para trás pelos nossos ancestrais.  Significa dar voz aos arqueólogos da mente – aqueles que são capazes de atravessas as camadas de sedimentos psíquicos acumuladas por milênios e alcançar de volta a mente ancestral do homem. Pois, assim como pinturas rupestres e fósseis se ocultam nos sedimentos interiores de antigas rochas, a mente do homem pré-histórico ainda habita as camadas mais profundas da nossa psique.  Carl Jung e outros diriam que não apenas “habita”, mas exerce uma função estrutural muito maior do que gostaríamos de admitir, influenciando de forma determinante desde a formação da nossa personalidade pessoal até as mitologias de todas as épocas e lugares (Jung chamou de “arquétipos” as dinâmicas organizacionais autônomas – ou “moldes psíquicos” – que deram forma à nossa estrutura mental desde tempos imemoriais).

Tal qual a forma do nossos corpos, a estrutura das nossas mentes é uma herança do longo caminho evolutivo trilhado pelos homens primitivos durante os milhares de anos que antecederam a corrida louca da História humana. Uma complexa construção em camadas que, se explorada com seriedade, promete nos levar, passo-a-passo, de volta ao coração do macaco no momento em que ele começou a sonhar com o futuro.

Numa Era em que a civilização humana sofre com uma crise de consciência e falta de sentido sem precedentes que nos levaram à beira de uma catástrofe global, refazer essa conexão perdida com a nossa história psíquica coletiva se torna um imperativo para encontrarmos um novo lugar possível para o homem no mundo.

* “Toda verdade passa por três estágios: No primeiro, ela é ridicularizada; no segundo, é rejeitada com violência; no terceiro, é aceita como evidente por si própria.” (Schopenhauer)

Referências:

– HANCOCK, Graham.  Sobrenatural: Os Mistérios que cercam a origem da religião e da arte

– JUNG, C G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo

– CAMPBELL, Joseph.  O Poder do Mito

– MCKENNA, Terence. O Alimento dos Deuses

A Teoria do Símio Chapado

O símio chapado, teoria de Terence McKenna não é uma das que ganhou mais suporte entre a comunidade científica, mas qualquer um pode argumentar que é tão plausível como tantas das outras teorias evolucionárias, especialmente quando se considera o nível superior de consciência e desenvolvimento da linguagem.

McKenna teoriza que a inteligência pode ter chegado ao nosso planeta através de esporos provindos do espaço que viajaram para a Terra na radiação cósmica, semelhantemente ao que é descrito na teoria da Panspermia Cósmica de Francis Crick.

Conforme alguns Homo sapiens deixaram as florestas para as planícies e começaram a se mover através da África depois da última era glacial, 18.000 anos atrás, de acordo com McKenna, as espécies adquiriram uma dieta mais onívora. Essa mudança levou-os a seguir bandos de animais para alimentação e caça, e, subsequentemente, encontrando cogumelos mágicos no esterco e os adicionando à dieta.

Essa teoria parece um tanto absurda de início, mas dando a prevalência de psilocibina, ou misturas à base de DMT como a Ayahuasca entre culturas ancestrais, não parece tão absurda a ponto de ser descartada.

Como McKenna disse em entrevistas desde a publicação de sua teoria, ela é melhor entendia por aqueles que experimentaram a psilocibina, do que pelos típicos cientistas de roupas brancas.

Se você já experimentou cogumelos mágicos, você sabe que a maior parte do que se diz sobre a experiência psicodélica é exagerado. “Eu vi dragões, o mundo virou de ponta cabeça, eu fiquei cinza, minhas orelhas esticaram metros…” Talvez, mas provavelmente não.

O que é tipicamente experimentado é uma distorção da percepção, onde as alucinações visuais e auditivas ocorrem. A severidade dessas alucinações varia baseada na dosagem e na potência. Em doses elevadas pode parecer ao usuário que ele está em outro lugar do que onde realmente está, e sob circunstâncias corretas essa sobrecarga sensorial pode resultar em introspecção e os sentidos são induzidos para novas experiências. Em doses baixas, objetos planos podem desenvolver uma terceira dimensão, e serem acompanhados por flashes de luz e manipulação de cor. Até mesmo essas reações são dependentes do estado mental da pessoa que está tomando.

Se você está com medo de ser pego e punidos por utilizar psilocibina por que em muitos lugares, como os EUA, é ilegal utilizar substâncias naturais para explorar sua própria psique, você pode experimentar flashes de luz produzidos por carros de polícia.

Na teoria de McKenna, ele sugere que o consumo de psilocibina foi feito em doses baixas, onde os efeitos não atingiram realmente o ponto de alucinação, mas ao invés atingindo o ponto de sentidos intensificados, e energia elevada. É similar ao que alguns podem experimentar após dar algumas baforadas em maconha de boa qualidade.

A acuidade visual melhorada era boa para identificar predadores, assim como presas; e a acuidade auditiva, até mesmo uma leve paranóia, a do tipo bom, não a geradora de pânico, os fizeram mais conscientes de perigos que se aproximavam.

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O verdadeiro impacto veio com dosagens elevadas, de acordo com a teoria de McKenna, por que foram as dosagens elevadas que inspiraram o homem a utilizar sons para colocar imagens na mente de outros. O desenvolvimento da linguagem teve um crescimento imenso nesse período, e a Teoria do Símio Chapado insinua que experiências com cogumelos ajudaram ainda mais esse desenvolvimento.

Foi aqui que nossas mentes foram abertas para conceitos abstratos que eventualmente levaram a humanidade a se tornar a força dominante no reino animal. Nossa habilidade de compreender conceitos abstratos, os comunicar, entender o que foi comunicado, e construir baseado nesses conceitos, se tornou a fundação da nossa civilização.

Essa inteligência continuou a crescer até mesmo quando mudanças ambientais fizeram o acesso aos cogumelos menos comum. A semente já estava plantada, e foi repassada através da genética e da educação.

O tamanho do cérebro do Homo sapiens também cresceu tremendamente durante os 6.000 anos que se seguiram desde a última era glacial. Durante os próximos milhares de anos, começando por volta de 12.000 anos atrás, os homens se tornaram agricultores, pastores, e desistiram da existência nômade.

Enquanto McKenna atribui esse crescimento aos cogumelos mágicos, alguns na comunidade científica acreditam que o aumento da quantidade de peixe como parte da dieta foi um fator mais dominante através da mágica do óleo de peixe. De qualquer modo, acredita-se que a mudança na dieta é um fator de grande contribuição.

Como nós atingimos um nível de super-inteligência e consciência elevada quando comparados aos outros animais do planeta, é ainda um tanto misterioso, e a teoria de McKenna é somente uma dentre tantas outras que tentam explicar.

Precisa ou não, essa teoria é pelo menos, uma das mais interessantes lá fora. A teoria poderia ter um aumento na credibilidade se a teoria da Panspermia provasse ter algum mérito. Se os esporos podem realmente viajar pelo espaço, ultrapassar uma atmosfera como a nossa, e ainda assim serem frutíferos, então poderíamos explicar nossa inteligência como sendo um presente do mundo alienígena.

Abaixo, uma pequena animação com base na teoria:

Misticismo Molecular – Ralph Metzner

Misticismo molecular: O papel das substancias psicoativas na transformação da consciência
um ensaio exibido em “The Gateway to Inner Space”,Christian Rätsch, editor. Publicada por Prism Press, Dorset, Reino Unido, 1989.

Traduzido do original Molecular Misticism por Ralph Metzner

Existe uma questão que atormentou a mim, e sem dúvida a outros, desde o início das pesquisas psicodélicas nos anos 60, quando muitos grupos de indivíduos estavam preocupados com os problemas de assimilar novas e poderosas substancias alteradoras de consciência na sociedade ocidental. As questões, de forma simples, eram as seguintes: Porque os nativos americanos tiveram tanto sucesso ao integrar o uso do peyote em sua cultura, incluindo seu uso legal nos dias atuais como sacramento, enquanto os interessados em prosseguir a pesquisa da consciência com drogas na cultura dominante branca, só conseguiram transformar o campo inteiro de pesquisa em um tabu, e qualquer uso dessas substâncias em uma ofensa criminal passível de pena de prisão? O uso do Peyote se espalhou do México para as tribos de nativos norte americanos na segunda metade do século XIX, a encontrou aceitação como sacramento em cerimônias da Native American Church. É reconhecido como um tipo de ritual religioso que algumas das tribos praticam; bem como destacado pelos sociólogos pelo papel importante que tem como um antídoto para o abuso de álcool.

Esta intrigante charada da etnopsicologia e da história, era pessoalmente relevante para mim, desde que fui um dos pesquisadores psicodélicos que viu os enormes potenciais transformativos das drogas “expansoras da consciência”, como as chamávamos, e estávamos ansiosos para continuar a investigação sobre a sua significância psicológica. Seria justo afirmar que nenhum dos primeiros exploradores neste campo, nos anos 1950 e início dos anos 1960, tinha alguma noção da crise social que estava por vir, nem da veemência da reação jurídico-política. Certamente o Dr. Albert Hofmann, um exemplo de cientista cuidadoso e conservador, testemunhou a sua consternação e preocupação com a proliferação de padrões de abuso de maneira tão pungente daquilo que ele chamou de seu “filho problema” (Sorgenkind). Assim, resultou o estranho paradoxo que as substâncias consideradas como um mal social e um problema de aplicação da lei na cultura dominante é também o sacramento de uma sub-cultura particular dentro dessa sociedade em geral. Partindo de que a cultura dos nativos americanos é bem mais antiga e ecologicamente mais sofisticada que a cultura branca européia que tentou absorvê-la ou eliminá-la, e uma vez que muitos indivíduos sensíveis têm sustentado que devemos aprender com os índios, não exterminá-los, o exame profundo da questão colocada acima poderia levar a algumas conclusões muito interessantes.

Temazcal

Assim, a reação da sociedade dominante era o medo, seguido pela proibição, mesmo sem pesquisas aprofundadas. Nenhuma das três profissões estabelecidas queria estes instrumentos de expansão da consciência, e também não queriam que mais ninguém os obtivesse por livre escolha. A suposição implícita era de que as pessoas eram muito ignorantes e ingênuas para fazer, de forma razoável, escolhas informadas a respeito de como tratar suas doenças, resolver os seus problemas psicológicos, ou praticar a sua religião. Assim, a condição fragmentada de nossa sociedade se reflete de volta para nós através dessas reações. Para os Nativos Americanos, por outro lado, cura, adoração e resolução de problemas são classificados como o mesmo caminho; o caminho do Grande Espírito, o caminho da Mãe Terra, o caminho tradicional. O entendimento integrativo recebido sob as visões do Peiote não é temido, mas aceito e respeitado. Aqui, a suposição implícita é que cada um tem a capacidade, na verdade o dever, de sintonizar-se às fontes espirituais mais elevadas de conhecimento e de cura, e à finalidade da cerimônia, que com ou sem substâncias medicinais, é considerada como um facilitador da tal sintonia.A resposta do quebra-cabeças etnopsicológico se tornou clara para mim somente após eu ter começado a observar e participar de uma série de cerimônias dos índios americanos, como o círculo de cura (healing cicle), a cabana do suor (the sweat lodge), ou a dança dos espíritos (spirit dance), que não envolvia o uso do Peyote. Pude notar o que muitos etnólogos já haviam reportado: que estas cerimônias eram simultaneamente religiosas, medicinais e psicoterapêuticas. A cabana do suor (Temazcal), como o ritual do Peyote, é considerada uma cerimônia sagrada, como forma de adoração ao Criador; também são ambas vistas e praticadas como uma forma de cura física, e são realizadas para resolver problemas psicológicos pessoais e coletivos. Assim, seria natural às tribos que já tomaram Peyote, adicionarem este meio aos outros quais eles já eram familiarizados, como uma cerimônia que expressa e reforça a integração do corpo, da mente e do espírito. Na sociedade branca dominante, em contraste, medicina, psicologia e espiritualidade religiosa, estão separadas por diferenças paradigmáticas aparentemente intransponíveis. As profissões médicas, psicológicas e religiosas e seus grupos criados, cada um separadamente, considerou o fenômeno das drogas psicodélicas e se assustou com as transformações imprevisíveis de percepção e visão de mundo que elas pareciam desencadear.

 

Psicodélicos como Sacramento ou Recreação

Vários observadores, por exemplo, Andrew Weil (1985), tem chamado atenção para o padrão histórico que, à medida que a sociedade colonial ocidental adotou plantas psicoativas ou outras substancias de culturas nativas (a maioria das quais agora consideradas pertencentes ao “3º mundo”), o padrão de uso desses materiais psicoativos tem se reduzido de sacramental para recrativo. O tabaco era tido como sagrado, uma planta de poder, pelos índios das Américas Do Sul, Central e do Norte (Robiseck 1978); e ainda é sagrado pelos nativos americanos, apesar de na cultura branca ocidental e países influenciados por esta cultura dominante, fumar cigarro ser obviamente recreacional e tem se tornado até um problema de saúde pública. A planta da coca, cultivada e utilizada pelas tribos Andinas, era tratada como divindade – Mama Coca – e valorizada por suas propriedades de manutenção de saúde; a cocaína, por outro lado, é uma droga puramente recreativa e seu uso indiscriminado ainda causa numerosos problemas de saúde. Nessa e em outras instâncias, a dessacralização da planta psicoativa vem sendo acompanhada de criminalização. O Café é outro exemplo: aparentemente descoberto e utilizado pelos Sufi islâmicos, que valorizavam suas propriedades estimulantes para longas noites de oração e meditação, se tornou a bebida recreativa da moda na sociedade européia do século XVII, e foi até banido por um período por ser considerado muito perigoso (cf. Emboden 1972; Weil & Rosen 1983). Mesmo a cannabis, a epítome do “barato recreacional”, é usada por algumas seitas do Tantrismo Hindu como um aplificador da visualização e da meditação.

Uma vez que plantas medicinais, originalmente sacramentais, foram tão rápida e completamente dessacralizadas ao serem adotadas pela cultura cada vez mais materialista do Ocidente, não deveria ser surpresa que recém-descobertos medicamentos psicoativos sintéticos têm sido geralmente muito rapidamente categorizados como recreativos, ou “narcóticos”, ou ambos. Concomitantemente ao uso indiscriminado, excessivo e não sacramental das plantas psicoativas e seus análogos sintetizados, cresceram os padrões de uso abusivo e dependência; previsivelmente, a sociedade estabelecida reagiu com proibições que levaram a atividades de crime organizado. Isto, apesar do fato de que muitos dos descobridores originais dos novos psicodélicos sintéticos, pessoas como Albert Hofmann e Alexander Shulgin, são pessoas de profunda integridade espiritual.Nem eles, nem os esforços dos filósofos como Aldous Huxley e psicólogos como Timothy Leary que advogaram uma respeitosa e sagrada attitude em relação a essas substâncias, foram capazes de evitar a mesma profanação de acontecer.

O recém descoberto MDMA fornece um exemplo instrutivo desse fenômeno. Dois padrões de uso parecem ter se estabelecido durante os anos 70: alguns psicoterapeutas e pessoas inclinadas à espiritualidade começaram a explorar suas possíveis aplicações como adjuvante terapêutico e como um amplificador de prática espiritual; outro grupo muito maior de indivíduos comaçou a utilizá-lo para propósitos puramente recreativos, como droga social comparável em alguns aspectos à cocaína. A disseminação do uso irresponsável desta segunda categoria para um número crescente de pessoas, naturalmente deixou as autoridades fármaco-legais preocupadas, e a reação previsível aconteceu: O MDMA foi classificado como droga de Categoria I nos Estados Unidos, que o coloca no mesmo grupo da heroína, cannabis e o LSD, tornando seu uso ou venda uma ofensa criminosa, e dando um sinal de claros limites aos pesquisadores médicos e farmacêuticos.

Quando Hofmann retornou à xamã mazateca Maria Sabina com a psilocibina sintética objetivando que ela lhe apontasse o quão distante o ingediente sintetizado estava da substância natural, ele estava seguindo o caminho apropriado de reconhecer a primazia do botânico sobre o sintético. O argumento poderia ser feito, e foi feito que, talvez, para cada um dos psicodélicos sintéticos importantes, existe alguma planta natural que tem os mesmos ingredientes e que esta planta é a nossa conexão com o perdido conhecimento mais amplo das culturas indígenas. Talvez isto devesse ser nossa estratégia de pesquisa – achar o hospedeiro botânico para os psicodélicos nascidos no laboratório. No caso do LSD. Pesquisas sobre o uso de sementes de Ipomoea Violacea (Morning Glory) e Argyreia Nervosa (Baby Woodrose) no Havaí, cada uma das quais contém análogos ao LSD, nos permitiria descobrir o complexo xamânico que envolve esta molécula. Se Wasson, Hofmann, e Ruck estiverem corretos em sua perspectiva que alguma bebida similar ao LSD, derivada do ergot (fungo que ataca o centeio), era uma bebida utilizada como sacramento iniciatório em Eleusis, as implicações são profundas (Wasson et al 1978). Utilizando a teoria dos campos morfogenéticos de Rupert Sheldrake, pode-se supor que recriando ou resintetizando uma planta particular, estaríamos reativando o campo morfogenético dos Mistérios de Eleusis, o antigo e mais inspirador ritual místico do mundo.

Não há nenhuma razão intrínseca para que o uso sacramental e uso recreativo de uma substância, com moderação, não possa coexistir. Na verdade, entre os Nativos Americanos, o tabaco eventualmente tem um papel duplo: após o ritual do cachimbo sagrado com tabaco e outras ervas, os participantes as vezes fumam um cigarro pra relaxar. Conhecemos o uso sacramental do vinho no rito da comunhão católica; e certamente conhecemos o uso recreacional do vinho. Conseguimos manter estes dois contextos em separado, e somos capazes de reconhecer quando um uso recreativo de torna uso abusivo e dependência. Pode-se imaginar sofisticação semelhante no desenvolvimento em relação aos vegetais psicoativos. Poderiam ser reconhecidas aplicações sacramentais e terapêuticas; e certos padrões de uso poderiam desenvolver o que fosse de mais lúdico, exploratório, hedonista e ainda pode estar contido dentro de uma estrutura social razoável e aceitável que minimiza danos.

O abuso de uma droga, neste sistema relativamente iluminado, não seria função de quem a usa, ou onde ela se origina, ou se as autoridades médicas a condenam, mas sim nas consequências comportamentais no usuário da droga. Alguém se torna reconhecido como alcoólatra, ou seja, aquele que abusa do álcool, quando suas relações interpessoais e sociais são visivelmente prejudicadas. Não deveria haver dificuldade em estabelecer um critério similar para o abuso de substâncias psicoativas.

 

Psicodélicos como catalisadores de Gnose

Em 1968, em um artigo “Sobre o significado evolutivo dos psicodélicos”, publicado nas principais correntes do pensamento moderno, sugeri que os resultados da investigação LSD nas áreas de psicologia, religião e as artes poderiam ser analisadas no contexto da evolução da consciência: Se o LSD expande a consciência e se, como muito se acredita, a próxima evolução se dará na forma de uma ampliação na consciência, não podemos então olhar para o LSD como um possível instrumento evolucionário?… Temos aqui um dispositivo que, alterando a composição química do meio de processamento de informação cerebro-sensorial, inativa temporariamente os filtros genéticos e culturais, que dominam de forma completamente despercebido nossas percepções habituais do mundo.

Da perspectiva de quase 20 anos de reflexões, eu proponho agora amplificar essa afirmativa em 2 caminhos: (1) a evolução da conciência é um processo de transformação que consiste primeiramente na obtenção de uma intuição e compreensão, ou gnosis; e (2) a aceleração deste processo por meio de moléculas catalisadoras é não só uma consequência das novas tecnologias, mas também um componente integral de sistemas tradicionais de transformação, como o xamanismo, a alquimia e a yoga.

Na pesquisa de psicodélicos, a hipótese do “set & setting”, formulada por Timothy Leary no início dos anos 60, foi aceita pela maioria dos que trabalhavam neste campo. A teoria refere que o conteúdo de uma experiência psicodélica é uma função do conjunto (set: intenção, atitude, personalidade, humor) e a configuração (setting: interpessoal, social e ambiente), e a droga atua como uma espécie de gatilho, ou catalisador, ou amplificador não espécífico, ou sensibilizador. A hipótese pode ser aplicada para a compreensão de qualquer estado de consciência alterado, quando reconhecemos que outros tipos de estímulos podem ser disparadores, por exemplo, a indução hipnótica, a técnica de meditação, o mantra, um som ou música, a respiração, o isolamento sensorial, o movimento, o sexo, paisagens naturais, uma experiência de quase-morte, e assim por diante. Generealizar a hipóteses do set & setting desta forma, nos ajuda a entender as substâncias psicodélicas como uma classe de “gatilhos” dentro de toda uma gama de possíveis catalisadores de estados alterados (Tart 1972; Zinberg 1977).

Um importante e esclarecedor resultado de ter em mente a distinção entre um estado (de consciência) e um traço psicológico; entre mudanças de estado e mudanças de características. Por exemplo, a distinção dos psicólogos entre ansiedade-estado e ansiedade-traço. William James, no seu livro “Varieties of Religious Experience” (1961), discutiu esta questão em termos de saber se uma experiência religiosa ou de conversão levaria necessariamente a mais “santidade”, a traços mais iluminados. Esta distinção é crucial para a avaliação do valor ou significância dos estados alterados induzidos quimicamente. Somente observando ambas as mudanças de estado (visões, insights, sentimentos) e as consequências de longro prazo, ou mudanças comportamentais ou de traço, podemos alcançar uma compreensão abrangente destes fenômenos.

Ter um insight não é o mesmo que ser capaz de aplicar este insight. Não existe conexão inerente entre a experiência mística de unidade e a expressão ou manifestação dessa unidade nos afazeres do dia a dia. Este ponto é provavelmente óbvio, no entanto é frequentemente negligenciada por aqueles que argumentam que, em princípio, uma droga não poderia gerar uma verdadeira experência mística ou desempenhar qualquer papel na vida espiritual. Os fatores internos do “Set”, que incluem a preparação, a expectativa e a intenção, são os determinants de saber se uma determinada experiência é autenticamente religiosa; e de forma igual, a intenção é crucial para saber se estados alterados resultam em mudanças duradouras de personalidade. A intenção é como uma ponte do mundo ordinário, ou a realidade consensual, para o estado de uma consciência mais elevada (de maior estágio de organização); e pode também prover uma ponte deste estado de consciência mais ampla de volta ao estado de realidade ordinária.

Este modelo nos permite entender porque as mesmas drogas são consideradas por alguns, capazes de induzir o nirvana, ou visões religiosas, e para outros (alguém como Charles Manson, por exemplo) podem induzir às violências mais perversas e sádicas. A droga é apenas uma ferramenta, um catalisador, para alcançar certos estados alterados; quais estados alterados, dependerá da intenção.  Ainda, mesmo que o estado quimicamente induzido seja benigno e expansivo, se leva ou não a mudanças positivas e duradouras, também é uma questão de intenção, ou mind-set.

Estas drogas, de fato parecem revelar ou liberar algo que está na pessoa; o que é o fator implícito no termo “psicodélico” — mente manifestada. Na minha opinião, o termo “Enteógeno” é uma escolha infeliz, pois sugere que o deus interios, o princípio divino é de alguma forma “gerado” nesses estados. Minhas experiências me levaram a conclusão oposta: o deus interior é o gerador, a fonte de energia da vida, o despertar e o poder de cura. Para aqueles cuja intenção consciente é uma transformação psicoespiritual, o psicodélico pode ser um catalisador que revela e liberta insights ou conhecimentos de aspectos mais elevados do nosso ser. Isto é, creio eu, o que se entende por Gnose, o sagrado conhecimento sobre as realidades espirituais fundamentais do universo em geral e no destino particular de casa indivíduo.

O potencial das substâncias psicodélicas para agir como catalisadores para uma transformação gnóstica,ou para uma consciência contínua direta da realidade divina, mesmo que apenas em um pequeno número de pessoas, parece ser de extrema importância. Tradicionalmente, o número de indivíduos que costumam ter experiências místicas tem sido muito pequeno; o número daqueles que são capazes de realizar aplicações práticas destas experiências provavelmente tem sido ainda menor. Assim, a descoberta de psicodélicos, no sentido de facilitar tais experiências e processos, poderia ser considerado como um fator muito importante para um despertar espiritual geral da consciência humana coletiva. Outros fatores quepoderiam ser mencionados neste contexto são as mudanças de paradigmas revolucionários nas ciências físicas e biológicas, o crescente interesse em filosofias orientais e disciplinas espirituais, e a crescente consciência da unidade multi-cultural da família humana provocada pela rede de comunicações globais.

 

Psicodélicos nos Sistemas Tradicionais de Transformação

Em meus primeiros escritos, eu enfatizei a novidade das drogas psicodélicas, seus potenciais inimagináveis a serem realizados pela sua aplicação construtiva; e eu pensei neles como primeiro produto de uma nova tecnologia voltada para o espírito humano. Enquanto eu ainda acredito que esses potenciais existem, e que os psicodélicos sintéticos têm um papel a desempenhar na pesquisa da consciência, e talvez na evolução da consciência, minhas opiniões mudaram sob a influência das descobertas e escritos de antropólogos culturais e etnobotânicos, que chamaram a atenção para o papel da alteração da mente, e de elementos botânicos visionários em culturas ao redor do mundo.

Não se pode ler as obras de R. Gordon Wasson sobre os cultos mesoamericanos ao cogumelo (1980), ou o trabalho de Richard E. Schultes e Albert Hofmann (1979) sobre a profusão de alucinógenos nas Américas, ou o trabalho multi cultural de autores como Michael Harner (1973), Joan Halifax (1982), Peter Furst (1976), e Marlene Dobkin de Rios (1984), ou os pesquisadores médicos e psiquiátricos interculturalmente orientados tais como Andrew Weil (1980), Claudio Naranjo (1973), e Stanislav Grof(1985), ou contas pessoais, tais como os escritos de Carlos Castañeda, ou Florinda Donner (1982), ou osirmãos McKenna (1975), ou a biografia de Bruce Lamb de Manuel Cordova (1971), sem obter um forte senso da difusão da busca de visões, idéias e estados incomuns de consciência; e além disso, o senso que plantas psicoativas são usadas em muitas (mas não todas) culturas xamânicas que perseguem tais estados de consciência.Assim, fui levado para um ponto de vista mais próximo à de culturas aborígenes, uma visão da humanidade em uma relação de co-consciência, comunicação e cooperação com o reinoanimal, o reino vegetal, e o mundo mineral.Em tal visão de mundo, a ingestão de preparados de plantasalucinógenas a fim de obter conhecimento para a cura,para a profecia, para a comunicação com os espíritos, para antecipar perigos,ou para a compreensão do universo,aparece como uma das mais antigas e mais valorizadas tradições.

As várias culturas xamânicas por todo o mundo conhecem uma vasta variedade formas para entrar em realidades não ordinárias. Michael Harner (1980) nos mostrou que a “condução auditiva” com batidas prolongadas de tambor, é talvez uma tecnologia para entrar em estados xamanicos alucinógenos tão difundida quanto a ingestão de substâncias. Em algumas culturas, a hiperventilação rítimica produzida por certos tipos de canto podem ser outra forma de disparador de um estado alterado. O espíritos animais tornam-se guias e aliados na iniciação xamânica. Espíritos das plantas podem se tornar “ajudantes” também mesmo quando a planta não é ingerida pelo médico ou pelo paciente. A fumaça do tabaco é usada com purificador, bem como um suporte para a oração. Cristais são usados para focar energia para visões e para cura. Há sintonia, através da oração e meditação, com divindades e espíritos da terra, as 4 direções, os 4 elementos, o Espírito Criador. Através de muitas e diferentes formas, existe uma busca pelo conhecimento oriundo de outros estados, outros mundos, conhecimento que é usado para melhorar a maneira que nós vivemos neste mundo (através da cura, resoluções de problemas, etc.). O uso de plantas alucinógenas, quando ocorre, é parte de um complexo integrado de inter-relações entre a Natureza, o Espírito e a Consciência Humana.
Assim me parece que, as lições que devemos aprender com essas plantas e drogas expansoras da consciência tem a ver não só com o reconhecimento de outras dimensões da psique humana, mas com uma forma de ver o mundo radicalmente diferente; uma forma de ver o mundo que vem sendo mantida nas crenças, práticas e rituais de culturas xamânicas, e quase completamente esquecidas ou suprimidas pela cultura materialista do século XX. Existe, naturalmente, uma deliciosa ironia no fato de uma substância material ser responsável por despertar uma consciência adormecida de muitos de nossos contemporâneos para a realidade de energias, formas e espíritos não materiais.

Ao discutir a alquimia como o segundo dos três sistemas tradicionais de transformação da consciência mencionei acima, eu gostaria de enfatizar primeiro que temos apenas fragmentos de evidências mínimas de que a ingestão de alucinógenos tenha desempenhado qualquer papel na tradição alquímica Europeia. O uso de alucinógenos de solanáceas na bruxaria européia, que está relacionado tanto a xamanismo e alquimia, foi documentado por Harner (1973:125-130). Assim como, na alquimia taoísta chinesa, o uso de preparados vegetais e minerais para induzir o vôo do espírito e outras formas de estados alterados, foi analisado por Strickmann (1979). Um relato completo do papel dos alucinógenos na alquimia ainda não foi escrito. Possivelmente a nossa ignorância neste campo ainda é uma conseqüência do sigilo intencional por parte dos escritores alquímicos.

Mircea Eliade, em seu livro “The Forge and the Crucible” (1962), fez um forte argumento para a derivação histórica da alquimia dos tempos iniciais dos ritos e práticas da metalurgia, mineração e do forjamento de armas, nas Idades do Bronze e do Ferro. Pode-se argumentar que a alquimia é uma forma de xamanismo: o xamanismo dos que trabalhavam com minerais e metais, os fabricantes de ferramentas e armas. Muitas das preocupações dos alquimistas encontram paralelos em temas xamânicos. A o forte interesse na purificação e na cura, em descobrir ou fazer uma “tintura” ou “elixir” que dará saúde e longevidade. Há visões e encontros com espíritos de animais, alguns claramente de reinos imaginários. Há histórias de visões de figuras divinas ou do semi-divinas geralmente personificadascomo deidades da mitologia clássica. Há o reconhecimento da sacralidade, do espírito que anima, em toda a matéria. E há uma visão de mundo integral, que vê a espiritualidade, a religião, saúde e doenças, seres humanos, o mundo natural e seus elementos, todos inter-relacionados em uma totalidade.

Pode-se objetar que parece não haver equivalêcia entre a jornada xamânica e a alquímica; não há indicação clara de estados alterados de consciência nas quais, visões, poderes ou habilidades de cura são obtidos. Parece para mim que o equivalente na alquimia, à jornada xamânica é o opus, o trabalho, a experiência com suas diversas operações, como solutio, sublimatio, martificatio, e assim por diante. O foco é mais nas mudanças físicas e de personalidade à longo prazo que o inciado na alquimia tem que se submeter, assim como o xamã em treinamento também faz. Os experimentos na alquimia eram considerados como rituais meditativos, durante os quais visões poderiam ser vistas na retorta ou no forno, e mudanças interiores psicofisiológicas de estado eram desencadeadas pela observação de processos químicos.

Além disso, num recente e interessante trabalho, R.J. Stewart (1985) argumentou que na tradição occidental de magia e alquimia, que tem raízes na mitologia e crenças Celtas pré-cristãs, cujos traços ainda podem ser encontrados em baladas folclóricas, canções populares e cantigas de roda, a experiência trasnformadora central era uma viagem ao submundo. Esta iniciação ao submundo, ou outro mundoenvolvia fazer uma jornada para outros “reinos”, onde havia encontros com animais e seres espirituais, a sintonia com a terra e os ancestrais, rituais meditativos centrados em torno do simbolismo da árvore da vida, e outras características e colocam essa tradição claramente no fluxo da antiga tradição xamânica encontrada em todas as partes do globo.

Passando agora pasa a Yoga como o terceiro dos sistemas tradicionais de transformação evolutiva da consciência, não precisamos nos preocupar com a questão de saber se o uso de plantas visionárias é uma forma decadente e degradada de yoga, como Eliade (1958) parece acreditar; ou se o uso de alucinógenos era primário no culto do Soma, da antiga tradição Védica Indiana, como Wasson (1968) propôs. Às vezes, como no último ponto de vista, o corolário é proposto que os métodos de Yoga foram desenvolvidos quando a droga já não estava mais disponível, como uma forma alternativa de alcançar estados similares. Basta dizer que nas tradições do Yoga indiano, em particular nos ensinamentos do Tantra, temos um sistema de práticas para provocar uma transformação da consciência com muitos paralelos nas idéias xamânicas e alquímicas.

 

O uso de alucinógenos, como adjuvante das práticas de Yoga é conhecido até hoje na Índia, entre certas seitas Shivaite em particular, (Aldrich 1977). As escolas e seitas que não utilizam drogas tendem a considerer aquelas que usam como decadentes, como pertencentes assim chamado “caminho da mão esquerda” do Tantra, que também incorpora rituais de comida e de sexo (maithuna) como aspectos válidos do caminho da yoga. Sob a influência do ocultismo ocidental do século XIX e as idéias teosóficas, esse caminho do lado esquerdo tende a ser equiparado a “magia negra” ou a “feitiçaria”. Na realidade, a desinação “caminho da mão esquerda” deriva do princípio iogue que o lado esquerdo do corpo é o lado receptivo feminino, e assim, o caminho da esquerda é o caminho daqueles que adoram a Deusa (Shakti), como os tântricos fazem, e incorporam o corpo, o prazer dos sentidos, a nutrição e a sexualidade em seu Yoga. Assim, como no xamanismo e de alquimia, encontramos aqui uma vertente da tradição que envolve respeito e devoção ao princípio feminino, a deusa-mãe, a terra e seus frutos, o corpo de carne e sangue, e a busca de estados visionários extáticos.

É verdade que as tradições do Yoga indiano parecem não ter a mesma preocupação com o mundo natural dos animais, cristais e plantas, como é encontrado no xamanismo e de alquimia. A ênfase aqui, é mais em vários estados internos e sutis de consciência. No entanto, existem paralelos interessantes entre as três tradições. Uma energia de luz/fogo interior em diferentes centros e orgãos do corpo, como praticadas na Yoga Agni e na Kundalini, é similar à pratica alquímica da purificação pelo fogo, e às noções xamânicas de encher o corpo de luz (Metzner 1971, 1986). A tradição alquímica tântrica Indiana possui o conceito de rasa, que se assemelha ao coneito europeu de “tintura” ou “elixir”. Rasa tem significados internos — sentimento, humor, “alma”, e referents externos — essência, sumo, líquido. Rasayano era o caminho do Rasa., o caminho fluido da energia,  que envolve tanto as essencias externa e internas.[1] Como um terceiro paralelo, só vou mencionar o sistema budista tibetano Vajrayana, que é uma fusão notável de idéias budistas tântricas com o original xamanismo Bon dos tibetanos: um sistema onde os vários espíritos animais e demônios dos xamãs e feiticeiros se transformaram em personificações de princípios budistas e guardiões do dharma (Govinda 1960).

Conclusões

Parece incontestável que alucinógenos desempenharam algum papel, de forma imprevisível, nas tradições transformativas do xamanismo, alquimia e yoga. Se considerarmos a psicoterapia como um morderno descendente destes sistemas tradicionais, cooperativamente, de forma controlada, a aplicação de alucinógenos poderia ser usada em muitos aspectos da psicoterapia. E isso de fato já aconteceu, como os vários estudos de psicodélicos em casos de alcoolismo, cancer terminal, neurose obssessiva, depressão e outras condições testemuhadas (Grof 1985; Grinspoon e Bakalar 1979). Parece provável que estes tipos de aplicações de psicodélicos como coadjuvantes para a psicoterapia vão continuar, se não com o LSD e outras drogas de Categoria I, com outros mais novos e talvez mais seguros psicodélicos.

O que parece improvável para mim é que este tipo de aplicação psiquiátrica controlada nunca será suficiente para satisfazer as inclinações e as necessidades daqueles indivíduos que desejam explorar os psicodélicos no seu papel mais antigo, como ferramentas de busca para estados visionários e formas ocultas de conhecimento. O fato de o uso sério de alucinógenos, fora do quadro psiquiátrico, continuar apesar das suas graves sanções legais e sociais, sugere que este é um tipo de liberdade individual que não vai ser fácil de abolir. Sugere também que há uma necessidade forte, em certas pessoas, de restabelecer suas conexões com antigas tradições de conhecimento em que estados visionários de consciência e exploração de outras realidades, com ou sem alucinógenos, eram a preocupação central.

Pode ser que tal caminho seja sempre perseguido apenas por um número muito limitado de pessoas, tanto quanto as iniciações e práticas xamânicas, alquímicas e de yoga era seguidas por poucos indivíduos em cada sociedade. Acho que é um sinal de esperança que alguns, mesmo que poucos, estejam dispostos a explorar como se reconectar com essas fontes perdidas de conhecimento porque, como muitos outros, eu sinto que nossa sociedade material-tecnológica, com sua fragmentada visão de mundo, em grande parte perdeu-se em seu caminho, e não pode se dar ao luxo de ignorar as possíveis ajudas para um maior conhecimento da mente humana. O quadro ecologicamente equilibrado e humanisticamente integrado de entendimento que as tradições antigas certamente tem a nos oferecer.

Além disso, é muito claro que as visões e insights dos indivíduos que buscam estes caminhos são visões para o presente e para o futuro, não apenas de interesse historico ou antropológico. Este sempre foi o padrão: o indivíduo busca uma visão para compreender o seu lugar, ou seu destino, como um membro da comunidade. O conhecimento derivado dos estados alterados tem sido, podem ser, e precisam ser aplicados para a solução dos problemas de escalonamento que confrontam as nossas espécies. É por isso que as descobertas de Albert Hofmann tem imensa importância – para a compreensão do nosso passado, para a consciência da nossa presença, e o salvo-conduto do nosso futuro. Pois, nas palavras da Bíblia: “Onde não há visão, o povo perece.”

 

Nota de rodapé

1. Pode-se dizer que os processos fisico-químicos do rasayana servem como o veículo para operações psíquicas e espirituais. O elixir obtido pela alquimia corresponde à “imortalidade” perseguida pela Yoga Tantrica (Eliade 1958 283).

Ralph Metzner Ph.D. é um psicólogo alemão, escritor e pesquisador, tendo participado das pesquisas de psicodélicos na Universidade de Harvard no início dos 60 com Timothy Leary e Richard Alpert (Ram Dass). Dr. Metzner é um psicoterapeuta, e professor emérito de Psicologia no California Institute of Integral Studies em São Francisco, onde já foi vice presidente acadêmico.

DMT e a Pineal: fato ou ficção?

Excelente trabalho de tradução da Equipe DMT Brasil , enviado ao micélio
Somos imensamente gratos pelo suporte

Texto original: Hanna J. “DMT and the Pineal: Fact or Fiction? Jun 3 2010.
Fonte:  Erowid
Tradução: Equipe DMT Brasil
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Um fato bem conhecido entre os usuários de drogas psicodélicas é a idéia de que o DMT, ou outro psicoativo derivado da triptamina, é produzido pela glândula pineal.

Quando essa idéia se originou? Ela é realmente verdade?

DMT_spirit-moleculeDurante sua fala “Psychoactive Drugs Troughout Human History” (Drogas Psicoativas Através da História Humana), numa conferência em 1983 na Universidade da Califórnia em Santa Barbara, o pesquisador Andrew Weil mencionou em uma passagem: “A Dimetiltriptamina […] é quase certamente feita pela glândula pineal no cérebro”. Enquanto isso, na Universidade da Califórnia em San Diego, Rick Strassman começou a se perguntar se a pineal poderia ou não produzir compostos psicodélicos. No mesmo ano, em seu livro “Eros e a Pineal: O guia do leigo do cérebro solitário”, Albert Most afirmou que “Um par de enzinas que ocorrem naturalmente na pineal […] é capaz de converter a serotonina em vários alucinógenos potentes.” A maioria dos pesquisadores indica que a pineal pode transformar serotonina em 5-metoxi-N-metiltriptamina e em seguida fazer com que esse composto se transforme em N,N-dimetiltriptamina. Infelizmente, não há referências fornecidas para suportar a descrição dada por Albert Most para o metabolismo da pineal. No entanto, parece provável que esta linha geral de pensamento – a de que algumas triptaminas psicoativas são produzidas na pineal – nasceu no início dos anos 80.*

Demorou duas décadas para a notícia se espalhar pelo resto da cultura psicodélica, mais recentemente e rapidamente devido à Internet, e após a publicação em 2001 do popular livro do Dr. Rick Strassman: “DMT – A molécula do Espírito”. Considere a seguinte transcrição do discurso de rádio dado em 2005-2006, do ator e comediante Joe Rogan, apresentador do Fear Factor TV Show:

“É chamada dimetiltriptamina. É produzida pela glândula pineal. É realmente uma glândula […] está no centro de seu cérebro. É a droga mais louca de todas. É o mais potente psicodélico conhecido pelo homem. Literalmente. Mas a coisa mais bizarra é que ele é natural, e o seu cérebro produz a cada noite enquanto você dorme. Você sabia, quando você dorme, durante o tempo que você está em R.E.M profundo, dormindo… e quando você está a beira da morte, o seu cérebro produz quantidades bombásticas de dimetiltriptamina. Ninguém sabe o que o sono representa realmente. Ninguém sabe por que sonhar é importante. Mas sonhar é extremamente importante. Se você não sonhar, você vai ficar realmente louco e vai morrer. Enquanto você está sonhando, enquanto você está em sono REM profundo, você está passando por uma viagem psicodélica. E poucas pessoas sabem sobre isso. Mas tem sido documentado.

book DMT spirit moleculeHá um grande livro sobre ele chamado DMT: The Spirit Molecule escrito por um médico chamado Dr. Rick Strassman. E ele fez todos os estudos clínicos na Universidade do Novo México sobre ele. E você toma essa coisa, e, literalmente, você é transformado para uma outra dimensão extraordinária. Não quero dizer que é como se você se sentisse em outra dimensão, eu quero dizer, você está em outra dimensão. […] Há complexos padrões geométricos movendo-se sincronicamente por todo o ar em torno de você no espaço tridimensional; e é como se fossem artérias, exceto porque não há sangue pulsando dentro deles, eles são luzes pulsantes, luzes sem limites. E você realmente não consegue entender aquilo. E há uma comunicação alienígena comigo. Tem um garoto que se parece, se parece como um Buda Tailandês, exceto porque ele é completamente feito de energia e não há, não há como delineá-lo – ele é uma só coisa. E ele está concentrado em mim, e está me dizendo para eu não me assombrar. Relaxe simplesmente, e tente experienciar isso. E eu penso, ‘você só pode estar zombando de mim’. E eu sou um comediante de stand up, você sabe, como um comediante de stand up, nós nos orgulhamos em ser capazes de descrever as coisas. Então eu pensei, ‘Como diabos eu vou falar sobre isso?!'”

Rogan fez um excelente trabalho expressando vários pontos chaves do livro de Strassman de maneira bem humorada. Mas o problema é que nenhum desses pontos são comprovados verdadeiramente. E apesar do fato de Strassman claramente afirmar que as suas idéias sobre o DMT e a glândula pineal não são comprovadas**, muitas pessoas tem as aceitado como um fato. Até junho de 2010 não havia evidências científicas de que a glândula pineal produz DMT, muito menos evidências há sobre as especulações que Strassman fez sobre o DMT ser um modulador químico da alma humana. Quando Strassman examinou a glândula pineal de dez cérebros de pessoas falecidas, havia apenas um traço pequeno de DMT. Isso não invalida sua teoria, visto que o DMT é metabolizado rapidamente, e nenhum dos cérebros foi congelado rapidamente. Outros testes em cérebros frescos e congelados poderiam ser feitos. Algum dia haverá mais evidências de que o DMT é produzido na glândula pineal, mas tal dia ainda não chegou.

Até o final do seu livro, Strassman propõe que o DMT pode fornecer acesso a universos paralelos (e seres alienígenas) via computação quântica supercondutora no cérebro humano à temperatura ambiente, ou via interações com a matéria escura. Strassman afirma: “Porque eu sei tão pouco sobre física teórica, há menos constrangimento da minha parte em fazer tais especulações.” E para aqueles que não sabem virtualmente nada sobre nenhum dos tópicos, parece não haver restrições em fazer especulações. É exatamente por essa razão que as teorias de Strassman foram ambas aceitas como fato por muitas pessoas, e expandida criativamente em novas direções. Algumas teorias especulativas incluem a idéia que os antigos profetas produziram mais DMT, que os campos eletro-magnéticos aumentam a produção de DMT, que passando duas semanas na escuridão total aumenta a produção de DMT, e que água fluoretada suprime a produção de DMT. Uma busca na Internet vai mostrar como tem muito maluco querendo recompensas, o qual todos buscam nas especulações de Strassman os fatos por detrás do que dizem.

O DMT é realmente produzido pela glândula pineal? Talvez…

Addendum:

Rick Strassman RickStrassman“Eu fiz o possível no meu livro sobre DMT para diferenciar entre o que é conhecido e o que eu estava conjecturando (baseado no que é conhecido), relativo a certos aspectos da dinâmica do DMT. No entanto, é fantástico quão inefetivo meus esforços se fizeram. Assim muitas pessoas me escreveram, ou escreveram em algum lugar, sobre o DMT e a pineal, assumindo que as coisas que eu tinha conjecturado eram verdadeiras. Quando eu estava escrevendo o livro, eu pensei que estava sendo claro o suficiente, e ficar me repetindo isso teria se tornado tedioso.

Nós não sabemos se o DMT é feito na pineal. Eu reuni um grande grupo de evidências circunstanciais suportando a razão para olhar com calma e profundamente para a pineal, mas nós não sabemos ainda. Há estudos sugerindo aumento de DMT na urina de paciente psicóticos quando suas psicoses estão no pior grau. No entanto, nós não sabemos se o DMT aumenta durante os sonhos, meditação, experiências de quase-morte, morte, nascimento ou qualquer outro estado alterado endógeno. Na medida em que estes estados se assemelham àqueles produzidos pela ingestão de DMT, certamente faz sentido se você imaginar que o DMT endógeno possa estar envolvido, e se estiver, iria explicar muita coisa. Mas nós não sabemos ainda. Mesmo se a pineal não estiver envolvida, isso teria pouco impacto nas minhas teorias que sugerem um papel para o DMT nos estados alterados endógenos, porque nós já sabemos que o gene envolvido na síntese do DMT está presente em vários órgãos, especialmente do pulmão. Se a pineal também produz DMT, isso iria amarrar um monte de pontas soltas sobre este enigmático órgão. Apesar de que pessoas podem viver normalmente sem a glândula pineal, por exemplo quando ela teve que ser removida por causa de um tumor.

Em ambos os aspectos – a conexão DMT-pineal, e a dinâmica do DMT endógeno – nós saberemos muito mais com os próximos anos de estudos graças aos esforços de um grupo de pesquisa liderado por Steven Barker da Louisiana State University. Ele, junto com seu estudante de graduação Ethan McIlhenny estão desenvolvendo um estudo inovador para DMT, 5-MeO-DMT, bufotenina, e metabólitos. Esse estudo será capaz de detectar esses compostos muito mais sensivelmente do que as gerações anteriores de pesquisas. Eles estão olhando o nível de DMT normal em indivíduos acordados e sóbrios, para avaliar os valores iniciais desses compostos. Nós teremos alguns dados sobre esses ensaios em um ano. Eles também estarão olhando para o tecido da pineal. Uma vez que tenhamos alguns dados de base em humanos normais em estados de vigília, comparações podem ser feitas entre esses níveis e os níveis dos estados alterados endógenos, como sonhos, EQM, e outros.”

Rick Strassman

Notas:

* Albert Most é talvez mais conhecido pelo seu livro de 1984 Bufo alvarius: The Psychedelic Toad of the Sonoran Desert (Bufo alvarius: o sapo psicodélico do deserto de Sonora), no qual explica como coletar e fumar o 5-MeO-DMT- contido nas secreções deste animal. Coincidentemente, Most foi um dos dois primeiros voluntários na pesquisa do Rick Strassman com o DMT, iniciada em 1990 e terminada em 1995. E durante o período que Strassman estava pesquisando o DMT, Andrew Weil foi co-autor de dois artigos com Wade Davis sobre as secreções psicoativas do Bufo alvarius.

** Strassman comentando sobre o DMT na pineal:

Estas hipóteses não são confirmadas, mas elas derivam de estudos científicos combinados com observações e ensinamentos religiosos e espirituais. […]
A hipótese mais geral é que a pineal produz quantidades psicodélicas de DMT em momentos extraordinários da nossa vida. A produção de DMT na pineal é a representação física de processos energéticos não-materiais. Ele nos fornece o veículo para conscientemente experimentarmos o movimento da força vital nas suas mais extremas manifestações. Exemplos específicos desse fenômeno descrevo a seguir:
Quando nossa força vital individual entra no corpo do feto, no momento em que nos tornamos verdadeiramente humanos, então uma corrente passa pela pineal e a induz a produzir o fluxo de DMT primordial. De maneira óbvia, tudo que é mencionado é alcançado mais eficientemente com o uso de diversas estratégias de marketing, onde a gamificação é hoje um elemento inovador para envolvimento no processo de leitura, compra e uso. A Jogos Friv na liderança da implementação de técnicas de gamificação, justamente se destacou, com seu foco sendo o desenvolvimento de jogos online gratuitos e a promoção dos mesmos em sua plataforma de jogos.
Depois, no nascimento, a pineal produz mais DMT.
Em alguns de nós, o DMT da pineal media experiência de pico como meditação profunda, psicoses e experiências de quase morte.
Quando morremos, a força vital dos nossos corpos sai através da glândula pineal, provocando outra enxurrada dessa molécula psicodélica do espírito. (páginas 68-69, DMT: The Spirit Molecule, 2001)

v1.0 – Jun 3, 2010 – Jon Hanna – Does the pineal gland really produce psychoative tryptamines?
v1.1 – Jun 29, 2010 – Addendum por Rick Strassman


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Rupert Sheldrake: Consciência, Tempo & Espaço (legendado)

‘Quando olhamos para uma estrela distante, não estamos também nos projetando para o passado?’

Rupert Sheldrake, biólogo inglês, é conhecido por sua teoria da morfogênese. Pesquisador em bioquímica e fisiologia vegetal, descobriu junto com Philip Rubery, o mecanismo de transporte da auxina. Participou, na Índia, do desenvolvimento de técnicas de cultivo no semi-árido hoje usadas amplamente.

De volta à Grã-Bretanha, tem-se dedicado a escrever, dar palestras e pesquisar um modelo de desenvolvimento teleológico, do qual faz parte a teoria dos campos morfogenéticos. Entre seus livros estão O renascimento da naturezaCães sabem quando seus donos estão chegando e A sensação de estar sendo observado.

Ligou-se, como pesquisador, ao Institute of Noetic Sciences, dos EUA (Califórnia).

“Neste vídeo  Rupert Sheldrake nos explica a sua concepção de como a consciência influencia a nossa realidade, em um sentido causal diferente de outras formas de causalidade.”


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