Archives 2016

Nós não podemos erradicar as drogas, mas podemos fazer que as pessoas parem de morrer por causa delas

Há algo muito especial sobre as drogas ilícitas. Se elas nem sempre fazem o usuário se comportar irracionalmente, elas certamente fazem muitos não-usuários se comportarem dessa maneira. – Leister Grinspoon, Professor de Psiquiatria em Harvard.

O Jornal Four Corner da noite passada focou nas drogas usadas em festas e nas políticas que a Austrália está implementando para combater seu uso. Não só o que estamos fazendo não funciona, como nós(EUA) estamos ficando para trás do resto do mundo e as evidências mostram que é melhor assegurar que tenhamos menos mortes devido ao uso de drogas ilícitas.

Voltando algumas décadas nas atitudes globais, drogas eram ruins, usuários eram maus e as mortes dos consumidores eram a prova do perigo inerente das drogas e um inevitável resultado das pessoas insistirem em violar a lei.

Agora, se nós observarmos as políticas de drogas de outros países, Cannabis medicinal e recreacional tem sido aceitas, tanto como salas seguras de injeção e uso.

A união europeia continua a desenvolver programas de testes de drogas (onde drogas recreativas são testadas em relação a seus efeitos em festivais de música eletronica e outros ambientes onde são consumidas). Em abril, a sessão especial da Assembleia Geral da ONU considerou descriminalizar o uso pessoal de drogas.

Enquanto isso, Austrália continua trabalhando com ideais punitivas e proibicionistas, apesar das mudanças no resto do mundo. Quer seja com uso de cães farejadores em festivais (o que se mostra ineficaz em detectar traficantes), ou testes de drogas em beira de estrada (para os quais não há evidência de prevenção de acidentes), nós parecemos felizes em adotar intervenções que tenham poucas comprovações em detrimento das que as possuem.

A mudança mais fundamental na política de drogas mundial foi de mudar o foco do moralismo em relação ao uso para manter os jovens seguros. Mais pessoas estão começando a aceitar que jamais estaremos “livre de drogas”. Uma década depois, a especialista em política de drogas Marsha Rosenbaum em “Segurança em Primeiro Lugar” ensina aos pais substituir “Apenas diga não” (just say no) por “apenas diga que sabe” (just say know).

A guerra mundial contra as drogas

Embora muitos tenham sido convencidos de que seria uma questão de saúde pública, o início da guerra às drogas foi amplamente ideológico. Isso ficou muito claro tanto na Austrália como no resto do mundo.

Cães farejadores de drogas em festivais são ineficazes e potencialmente perigoso. Então, por que ainda insistem em seu uso? Tracey Nearmy / AAP
Cães farejadores em festivais são ineficazes e potencialmente perigoso. Então, por que ainda insistem em seu uso? Tracey Nearmy / AAP

A comissão nacional para o abuso de Maconha e Drogas, também conhecida como o Relatório Shafer de 1972, foi abandonada pois concluiu que havia “poucas provas de dano físico ou psicológico devido à experimentação ou uso intermitente de preparações naturais de Cannabis”. Isso não era o que o presidente Nixon queria ouvir.

Quando o MDMA foi proibido, o professor de psiquiatria da Universidade de Harvard argumentou com sucesso que teria utilidade como um medicamento, até que o presidente Ronald Reagan forçou a proibição por uma ação executiva. E então a política continuou a prevalecer sobre a ciência.

Desde que a guerra às drogas começou, o mercado inteiro mudou. Drogas agora são procuradas pela internet, encomendada de químicos industriais produzindo com pureza farmacêutica, pagas usando criptomoedas e entregues pelo correio. As mais novas nunca são identificadas nem por cães nem por testes toxicológicos de rotina.

Isso não quer dizer que o mercado seja seguro – longe disso. Mas drogas são atualmente mais fáceis de obter e muitas não podem ser detectadas.

Porque não mudamos?

Há alguma sugestão que em New South Wales (Austrália), ao menos, todo capital político que existia para ser gasto já foi utilizado para a maconha medicinal, então não há motivos para abrir um outro front no combate a “guerra às drogas”.

Mais precisamente, políticos australianos estão temerosos pelas suas carreiras – eles temem que uma guinada perceptível na política de drogas possa levantar questões sobre sua capacidade de julgamento.

Entretanto, com significantes mudanças provavelmente emergindo da sessão especial da Assembleia Geral da ONU sobre drogas de abril de 2016, questões difíceis serão provavelmente feitas àqueles que historicamente perseguiram, contra toda evidência em contrário, a guerra mundial contra as drogas.

A mais provável e desapontadora razão para os políticos australianos estarem envergonhados em fazer qualquer debate sobre a política de drogas é o “custo afundado” da ordem de vários bilhões de dólares da guerra contra as drogas. Tanto foi gasto na atual e falida abordagem que eles são pressionados a manter o status quo, independente das evidências.

Cães farejadores em festivais – o que o Ombudsman de New South Wales classificou como desperdício de dinheiro e mesmo potencialmente perigoso – custam em torno de um milhão de dólares australianos por ano em cada jurisdição. Com essa quantidade de dinheiro, dez programas de checagem de drogas podem ser implantados na Austrália dentro de semanas obtendo muito mais efeito que o já observado com cães farejadores.

Se nossos políticos desejam continuar com uma pequena credibilidade em política de drogas, agora seria um excelente e politicamente recompensador momento para começar a escutar as evidencias.

FONTE


Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaborador Antonio Dias.
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Hipnotizante Arte do Mestre Surrealista Jacek Yerka

Jacek Yerka é um artista polonês que artista que usa suas técnicas ilustrativas afiadas para dar vida as surrealistas, sci-fi concepções de sua imaginação. Inspirando-se na atmosfera pastoral do campo Polaco, as obras de Yerka oferecem uma sensação única de confusão e clareza; apesar da natureza estranha e sedutora dos ambientes, cada um dos seus quadros transmite uma sensação indescritível de harmonia e tranquilidade.

Nascido em 1952, Yerka tem trabalhado como artista em tempo integral desde 1980. Em 1995, ele foi premiado com o prestigiado World Fantasy Award como o melhor artista. Atualmente, Yerka exibe suas obras internacionalmente na Polônia, França, Alemanha e Estados Unidos, entre outros. Suas obras continuam a inspirar muitas pessoas em suas respectivas áreas de trabalho, incluindo autores, cineastas e mais.

Para saber mais sobre Yerka e seu trabalho:

YarkaLand.com | facebook |

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FONTE

Como a droga de festas Ketamina combate a depressão.

A popular droga de festa ketamina — ou ‘Special K’ — também é um antidepressivo de rápida ação, mas seu funcionamento tem iludido os cientistas. Agora um time relata na Nature que o efeito elevador de humor pode não ser causado pela droga em si, mas por um dos produtos formados quando o corpo quebra a droga em moléculas menores.

Se os achados, de um estudo em ratos, permanecerem válidos em humanos, eles podem sugerir um caminho para fornecer um alívio rápido para pessoas com depressão — sem que os pacientes tenham que experimentar a onda da ketamina. Tal droga seria uma notícia bem vinda para muitas pessoas com depressão profunda que não encontram alívio nos antidepressivos disponíveis atualmente. Ketamina também alivia a depressão em questão de horas, enquanto as outras drogas demoram semanas para atingirem a totalidade de seus efeitos.

“O campo todo se interessou na ketamina,” diz Todd Gould, um neurocientista na Escola de Medicina da Universidade de Maryland em Baltimore que liderou o estudo. “Ela faz algo diferente nos pacientes do que qualquer outra droga que nós temos disponíveis.”

Mas a Ketamina tem seus inconvenientes: algumas pessoas são desligadas pela onda — uma sensação de dissociação e distorção sensorial que dura por cerca de uma hora. Para outros, o efeito é um incentivo para o mal uso da droga. Ketamina ainda não foi aprovada para tratar depressão nos Estados Unidos, mas clínicas de ketamina floresceram por todo país para que seja administrada off-label (N.T. forma de administração de medicamento diferente daquela recomenda na bula)

Pesquisadores têm corrido para encontrar outras drogas que produzem o efeito antidepressivo da ketamina sem sua onda, mas têm encontrado dificuldades para faze-lo sem possuírem uma ideia clara sobre como a ketamina combate a depressão. Muitos desses esforços têm se concentrado em drogas que possuem como alvo os receptores celulares no cérebro chamados receptores NMDA. Eles eram tidos com o alvo da ketamina, mas os estudos clínicos que também visavam atingir esses receptores com outras drogas tiveram efeitos amplamente decepcionantes na depressão, diz Gould.

Elevação Metabólica

“A ketamina provavelmente representa um novo capítulo no tratamento da depressão,” diz Roberto Malinow, um neurocientista na Universidade da Califórnia, San Diego. “Mas têm havido algumas grandes questões à respeito de como ela funciona.”

Gould se juntou a clínicos, químicos analistas e neurofisiologistas para preencher as lacunas na compreensão. Gould e seus colegas usaram uma bateria de testes comportamentais em ratos para demonstrar que um dos produtos gerado pela quebra da ketamina — um composto chamado (2R,6R)-hydroxynorketamine — é responsável por muito dos efeitos antidepressivos da droga.

E para surpresa de Gould, o metabolito não causou efeitos colaterais em ratos mesmo em doses cerca de 40x maiores que a dose antidepressiva de ketamina. Os ratos também não tenderam a apertar a alavanca para receber o metabolito quando dada a opção de auto-administração.

Os pesquisadores planejam recolher dados sobre a segurança necessários para levar o metabolito para os testes clínicos em humanos, um processo que, alerta Gould, pode ainda levar anos.

Mas Husseini Manji, chefe de pesquisa e desenvolvimento neurocientífico na Janssen Pharmaceutical Companies em Titusville, Nova Jersey, alerta sobre presumir que os resultados em ratos irão se repetir em humanos. “Nós temos que nos lembrar que os dados clínicos são de roedores“, ele diz. Janssen desenvolveu uma forma especifica de ketamina, chamada esketamina, que estão sendo testada em cinco grandes estudos clínicos.

Alvos Receptivos

O estudo de Goul em ratos apresentou uma outra surpresa: o metabolito que é ativo nos ratos não agiram pelos receptores NMDA. O grupo não encontrou seu alvo direto, mas encontraram evidências que ele estimula outro grupo de receptores chamados receptores AMPA. Se o mesmo resultado se repetir com humanos, ele poderá fornecer uma explicação do porque drogas que possuem como alvo os receptores NMDA falharam ao capturas todos os efeitos da ketamina. “Isso pode balançar as janelas e abalar as paredes dessas companhias que vêem colocando muito dinheiro nessa pesquisa”, diz Malinow.

Manji, que descreve o estudo como elegante, não está pronto para abrir mão dos receptores NMDA até os resultados forem confirmados em estudos humanos. Mas ele está junto com outros pesquisadores que acreditam que os receptores AMPA podem sem igualmente importantes. Janssen e outros têm considerados esses receptores e proteínas associadas à eles como alvos de drogas em potenciais. “Esse estudo nós dá ainda mais impeto para ir atrás deles,” diz Manji.


Texto escrito por Heidi Ledford em 04/05/2016 na Nature.

 

Psilocibina, o cogumelo, e Terence McKenna

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A psilocibina é uma triptamina psicodélica encontrada em aproximadamente 200 tipos de cogumelos no mundo todo. Em um workshop de 1998 de título “O Vale da Novidade”, Terence McKenna a chamou de “a forma fosforilada do DMT” e observou que tanto a psilocibina quanto o DMT “particularmente pareciam afetar as porções do cérebro responsáveis pela formação da linguagem, e isso produz estados mentais realmente bizarros, pois é a sua porção de formação de linguagem que está explicando a cada momento o que está acontecendo.” Para McKenna, a psilocibina providenciava “o mesmo confronto com uma inteligência alienígena e complexos translinguísticos de informação extremamente bizarros” quanto o DMT.

O cogumelo que continha psilocibina mais estudado e discutido por McKenna, Stropharia cubensis (foi reclassificado como Psilocybe cubensis), se apresentou para ele quando tinha apenas 10 anos de idade, em uma reportagem chamada “Procurando o Cogumelo Mágico”, publicada em 13 de maio de 1957 na revista LIFE. O irmão de Terence, Dennis, com 6 anos na época, escreveu em “A Irmandade do Abismo Gritante” (2012) que ele lembra de seu irmão “seguindo nossa mãe enquanto ela fazia o trabalho de casa, chacoalhando a revista e exigindo saber mais. Mas claro, ela não tinha nada a acrescentar.”

Catorze anos depois, McKenna estava na Amazônia colombiana com Dennis e 3 amigos procurando por uma misteriosa bebida de plantas que continha DMT chamada oo-koo-hé. Ao invés disso, em La Chorrera, eles encontraram (e consumiram) Stropharia cubensis, ou como McKenna posteriormente o chamou, “o cogumelo mágico nascido das estrelas”. Em Alucinações Reais (1993) McKenna escreveu:

“Eu nunca tinha tomado psilocibina antes e fiquei impressionado com o contraste com o LSD, que parecia mais abrasivamente psicoanalítico e social. Em contraste, os cogumelos pareciam tão cheios de energia de energia élfica feliz que chegar num trance visionário era o mais interessante.”

A Psilocibina, McKenna descobriu, o permitiu dialogar com uma entidade aparentemente alienígena que ele chamou, entre outros nomes, de “o cogumelo”, “a voz que ensina” e “os Logos”. Durante o workshop de 1998 mencionado acima, McKenna explicou:

“Psilocibina e DMT invocam o Logos, apesar do DMT ser mais intenso e curto na sua duração. Isso significa que eles trabalham diretamente nos centros de linguagem do cérebro, então um aspecto importante da experiência é o diálogo interior. Assim que alguém descobre isso sobre a psilocibina e sobre triptaminas em geral, essa pessoa deve decidir se quer ou não entrar no diálogo e tentar entender o sinal que está vindo. É isso que eu tentei.”

McKenna trouxe esporos do cogumelo pra América e, com seu irmão, aprendeu a cultivá-lo. “Desde a primavera de 1975 eu não estive sem um suprimento contínuo de Stropharia”, ele escreveu em “Alucinações Reais”. Naquela primavera e verão, ele comeu Stropharia “em doses de 5 gramas secos” uma vez a cada duas semanas. De todas as experiências ele escreveu:
“O cogumelo sempre retornava ao tema de que ele era esperto em termos de evolução e então solidário para a união simbiótica ao que ele referiu como ‘seres humanos’.”

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The McKenna brothers published their mushroom-growing guide using the pseudonyms O.T. Oss and O.N. Oeric. Also shown are audiobook/foreign editions of ‘Food of the Gods’ (1992).

Psilocibina: O Guia de Cultivo para Cogumelos Mágicos (1976)

Em 1976 os irmãos McKenna publicaram um livro que fornecia “instruções precisas e sem falhas para cultivar e preservar o cogumelo mágico” – Stropharia cubensis – “não só um dos mais fortes cogumelos alucinógenos, mas também um dos mais difundidos e disponíveis. Psilocibina: O Guia de Cultivo para Cogumelos Mágicos, que era do tamanho de uma coleção moderna de poesia, começa com um prefácio de 3 páginas explicando que, apesar dos métodos no livro serem científicos, “nossas opiniões sobre Stropharia cubensis não são.” As páginas continuam:

“Nossa opinião no assunto não deriva da opinião de outros nem de nada escrito em qualquer livro, ao invés disso se baseia na experiência de tomar 5 gramas secas desse cogumelo; nesse nível um fenômeno peculiar ocorre. É o surgimento de uma relação Eu-Tu entre a pessoa que toma a psilocibina e o estado mental que ela induz . Jung chamou isso de ‘transferência’ e é uma condição necessária dos primeiros homens primitivos e suas relações com seus deuses e demônios. O cogumelo fala, e nossas opiniões são formadas pelo que ele diz eloquentemente de si próprio na noite fresca da mente.”

O prefácio então citou integralmente o cogumelo. A citação, que McKenna disse em “A Sintaxe do Tempo Psicodélico” (1993) foi uma “transcrição direta”, e que ele descreveu como “as reivindicações do cogumelo” em Alucinações Reais – incluindo esses excertos:

“Sou velho, mais velho que o pensamento na sua espécie, que é por si próprio 50 vezes mais velho que sua história. Apesar de estar na Terra por um grande tempo, eu venho das estrelas. Meu lar não é um planeta, já que muitos mundos espalhados pelo disco brilhante da galáxia têm condições que permitem a sobrevivência dos meus esporos. O cogumelo que você vê é a parte do meu corpo dada pra aventuras sexuais e banhos de sol, meu corpo verdadeiro é uma sofisticada rede de fibras crescendo no solo. Essas redes podem cobrir acres de terra e podem possuir mais conexões que as que existem no cérebro humano.”

“O espaço, veja bem, é um vasto oceano para as formas de vida que tem a habilidade de se reproduzir por esporos, já que os esporos são cobertos com a substância orgânica mais resistente que se é conhecida. Através da eternidade do tempo e espaço existem muitas formas de vida formadoras de esporos à deriva, em animação suspensa, por milhões de anos até que ocorra o contato com um ambiente propício.”

“Simbiose é uma relação de mútua dependência e benefícios positivos para ambas espécies envolvidas. A relação simbiótica entre eu e formas civilizadas de animais superiores foi estabelecida muitas vezes e em muitos lugares ao longo do vasto tempo de meu desenvolvimento.”

Uma cronologia dos cogumelos com Psilocibina

Psilocibina: O Guia de Cultivo para Cogumelos Mágicos, que em 1981 já tinha vendido “mais de cem mil cópias”, de acordo com uma edição posterior, conclui com uma seção de nome “Uma Cronologia dos Cogumelos com Psilocibina” – uma lista de observações arranjadas em 37 datas, desde 3500 a.C. até 1984, incluindo:

– c. 3500 a.C: Pinturas de xamãs dançando e segurando cogumelos na presença de vacas brancas foram feitas na superfície de pedras do Tassili Plateau, sudeste da Algeria.

– c. 1100 – 400 a.C: Rituais de iniciação chamados mistérios Eleusinos usavam trigo contaminado com ergot ou cogumelos contendo psilocibina para focar nas aspirações místicas do Mundo Antigo.

– 1502: Cogumelos com psilocibina foram servidos na festa de coroação de Moctezuma II e foram usados recreacionalmente.

– 1958: Dr. Albert Hoffman, um químico da Sandoz de Basel, Suíça, isolou dois agentes ativos e deu a eles o nome de psilocibina e psilobina, já devido ao gênero Psilocybe.

– 1975: Oss e Oeric (nesse volume) bravamente arriscaram parecer ridículos ao serem os primeiros a sugerir a origem extraterrestre de Stropharia cubensis.

 

Teoria do Símio Chapado

Em 1992 McKenna publicou O Alimento dos Deuses, que, entre outras coisas, discutia a Teoria do Símio Chapado, expandindo a história da psilocibina de um contexto temporal de 6000 anos, como mostrado acima, para pelo menos 100 mil anos em termos de Stropharia e possivelmente mais de 1 milhão de anos em termos de cogumelos que contenham psilocibina em geral. A teoria cuidadosamente, de uma forma densa e elegante, sugere que os compostos psicodélicos presentes naturalmente – especificamente a psilocibina – “tiveram um papel decisivo na emergência da nossa humanidade essencial, a característica humana de auto-reflexão.”

A teoria observa que, em pequenas doses, a psilocibina melhora a acuidade visual, especialmente a detecção de bordas. Em doses altas, existe uma estimulação do SNC (Sistema Nervoso Central), e portanto uma estimulação sexual. Em doses maiores ainda, existe a dissolução de barreiras levando a orgias, e ainda existe uma certa capacidade de falar em línguas desconhecidas. “Nossa habilidade de formação de linguagem”, McKenna escreve, “pode ter se tornado ativa através da influência mutagênica de alucinógenos trabalhando diretamente em organelas que estão preocupadas em processar e gerar sinais.”

Os cogumelos como extraterrestres

A ideia que Stropharia não se originou na Terra foi proposta logo no início da carreira de McKenna, no prefácio de Psilocibina: O Guia de Cultivo para Cogumelos Mágicos (1976), mas McKenna continou a sugerir e escrever isso – tanto brincando quanto falando sério, pungentemente – por toda a vida. “Uma das razões que me fazem gostar de utilizar esse argumento sobre o cogumelo e o extraterrestre é pra mostrar às pessoas como alguém pode pensar diferente.” Ele disse, como você pode relembrar pelos memes de Terence McKenna.

Por continuar a falar, pensar e escrever sobre o cogumelo e o extraterreste – um tópico multidisciplinar envolvendo, entre outros assuntos, evolução, nanotecnologia, biologia, botânica, química, química, psicologia, linguagem, narrativa, o eu, o outro, o outro dentro do eu, história mundial, ficção científica, cência espacial – McKenna aumentou a história da psilocibina de 1 milhão de anos para pelo menos 1 bilhão de anos, um aumento na grandeza de 1000. “Eu penso que é possível que certos compostos desses possam ser “genes semente” injetados nos eons ecológicos planetários por uma sonda espacial automatizada, vinda de uma civilização em algum outro lugar da galáxia.” McKenna escreveu em Alucinações Reais. Ele elaborou:

“Espécies que vagam pelas estrelas pode se presumir que possuam um sofisticado conhecimento de genética e funcionamento do DNA e portanto não seria necessário que possuíssem a forma que a evolução em um planeta nativo os deu. Eles bem que podem se parecer do jeito que querem. O cogumelo, com seu hábito de sobreviver por matéria orgânica não-viva e sua rede frágil como teia de aranha de micélio efêmero embaixo da terra, parece um organismo planejado com valores budistas de não-interferência e baixo impacto ambiental.”

De O Renascimento Arcaico:

“O maior problema em procurar extraterrestes é reconhecê-los. O tempo é tão vasto e as estratégias evolutivas e ambientes tão variados que o truque é saber se o contato está de fato sendo feito. O cogumelo Stropharia cubensis, se alguém conseguir acreditar o que ele diz em um de seus humores, é simbionte, e ele deseja uma simbiose ainda mais profunda com a espécie humana. Ele atingiu simbiose com a sociedade humana logo no início por se associar com gado domesticado e a partir deles com homens nômades. Assim como as plantas e animais que homens e mulheres cuidaram, o cogumelo conseguiu se inserir na família humana, para que os humanos carregassem consigo não somente genes humanos mas também esses outros genes.”

E, dois parágrafos depois:

“A pessoa deve balancear essas explicações. Agora vou parecer que não acredito que o cogumelo seja extraterrestre. Pelo contrário, isso pode ser algo que recentemente tenho suspeitado – que a alma humana é tão alienada de nós pela nossa cultura que os tratamos como extraterrestres. Para nós, a coisa mais alienígena do cosmos é a alma humana. Alienígenas estilo Hollywood poderiam chegar na Terra amanhã que o transe do DMT continuaria a ser algo estranho e continuaria a carregar mais promessas de informação útil para o futuro humano. É tão intenso assim.”

Algumas coisas que o cogumelo disse a Mckenna:

McKenna, desde 1971 até o fim de sua vida em 2000, esboçou e compartilhou um bilhão de anos da possível história do cogumelo com “os seres humanos” por meio de livros e palestras. Em um retorno possivelmente gracioso, alguém pode dizer, o cogumelo permitiu a McKenna se envolver em um diálogo – a única condição era que ele ingerisse 5 gramas secos, preferencialmente sozinho em um lugar escuro e silencioso. “Eu não necessariamente acredito no que os cogumelos me dizem; ao invés, temos um diálogo” McKenna escreveu em O Renascimento Arcaico. Abaixo são algumas amostras do grande alcance das coisas que o cogumelo disse a McKenna:

  1. “Você é um cogumelo, você vive sem muitos custos.”

McKenna disse, em Novos Mapas do Hiperespaço, que ele uma vez perguntou ao cogumelo “o que você faz na Terra?” O cogumelo respondeu: “Ouça, se você é um cogumelo, você vive sem muitos custos; além disso, estou te dizendo, essa era uma vizinhança boa até que os macacos ficaram fora de controle.”

  1. “Se você não tem um plano, você se torna parte do plano de outras pessoas.”
  2. “Ninguém sabe nada do que está acontecendo.”
  3. “A natureza adora coragem.”
  4. Como salvar o mundo

Em O Vale da Novidade, McKenna diz que uma vez alguém o desafiou a perguntar ao cogumelo como salvar o mundo. A próxima vez que ele tomou os cogumelos ele perguntou, e o cogumelo, “sem hesitar por um momento”, respondeu “cada pessoa deve ter filhos somente uma vez.” McKenna observou:

“Essa é uma ideia surpreendente. Não é zerar o crescimento populacional, isso é diminuir em 50% a população a cada 20 anos. Se as pessoas de democracias industriais com alta tecnologia se limitassem a uma criança, quase imediatamente a destruição dos ecossistemas e recursos da Terra cessariam. Nós pregamos controle populacional no terceiro mundo, mas as estatísticas mostram que quando uma mulher de primeiro mundo tem um filho, esse filho irá consumir entre 800 a 1000 vezes mais recursos em sua vida o que uma criança nascida em Bangladesh, ou outro local de terceiro mundo.”

  1. Teoria Timewave

Em termos do impacto do trabalho de McKenna, esse foi provavelmente o ensinamento mais importante do cogumelo. McKenna elaborou os aspectos dessa teoria em Alucinações Reais:

“Os tempos estão relacionados consigo mesmos – as coisas acontecem por uma razão e não é uma razão casual. Ressonância, o misterioso fenômeno em que uma corda vibrante parece magicamente invocar uma vibração semelhante em outra corda ou objeto que está desconectado fisicamente, se sugeriu como um modelo para a propriedade misteriosa que relaciona um tempo à outro apesar de poderem estar separados por dias, anos, ou até milênios. Eu me convenci que existe uma onda, um sistema de ressonâncias, que as condições acontecem em todos os níveis. Essa onda é fractal e auto-referencial , assim como muitas das mais interessantes novas curvas e objetos sendo descritos nas barreiras da pesquisa matemática. Essa onda eletromagnética (timewave) é expressa através do universo em um número de níveis extremamente discretos. Ela causa que átomos sejam átomos, células sejam células, mentes sejam mentes, e estrelas sejam estrelas.”

Mas o cogumelo não contou tudo – até mesmo nada – que ele queria saber. Em Novos Mapas do Hiperespaço, McKenna descreveu seu relacionamento com o cogumelo:

“As vezes é bem humano. Minha aproximação a isso é Hassídica. Eu deliro à ele, ele delira à mim. Nós discutimos sobre o que será expelido de repente e o que não será. Eu digo ‘bem, olhe, eu sou o propagador, você não pode deixar de me mostrar coisas’, e ele diz ‘mas se eu mostrasse um disco voador por 5 minutos, você descobriria como funciona’, e eu digo ‘bem, vamos lá’. Ele tem muitas manifestações. As vezes é como Dorothy de Oz; as vezes é como um tipo de penhorista extremamente detalhista.”

As coisas que o cogumelo não disse a McKenna incluem o que acontece com a consciência humana após a morte biológica (“O Logos não quer ajudar aqui”) e o que ele realmente é por si só. McKenna explicou posteriormente em “Voz do Cogumelo”:

“A coisa mais assustadora pra dizer para ele é ‘me mostre o que você realmente é por si só’. Nesse ponto, ele começa a se mostrar, e você não consegue suportar. Após 40 segundos você diz ‘desculpe por perguntar’. Sabe, certifique-me, pois você tem um senso, meu deus, essa coisa é o que parece ser. É uma inteligência galáctica. Tem bilhões de anos de existência. Tocou 10 milhões de mundos. Ele sabe a história de 150 mil civilizações.”

O tópico da próxima semana será Cannabis. “Meu interesse na Cannabis é intenso e pra vida toda, devo dizer” McKenna disse em “Triálogo da Cannabis” em 1991, chamando-a de “um assunto que interessa um vasto número de pessoas, apesar de ser pouco discutido e de fato parece ter ganhado o status de tabu na sociedade civilizada.”

livros que amo muito
Livros do Mckena foram publicados aqui no Brasil, todos pela Editora NOVA ERA. Hoje em dia é raridade encontrar um deles em algum sebo. Mas temos estes três para você baixar e ler em casa. Não deixe de entrar em nossa Biblioteca Virtual

 

FONTE VICE

Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaboradora Raphaela Lancellotti.
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Usos Espirituais do MDMA nas Religiões Tradicionais

A maioria dos professores espirituais são fortemente contra o uso de qualquer droga. Alguns alertam que as drogas irão desfazer anos de progresso árduo em direção a iluminação, enquanto outros dizem que o estado induzido pela droga pode parecer o mesmo, mas está em um nível inferior, e isso pode induzir as pessoas ao erro. Alguns poucos acreditam que um verdadeiro estado místico possa ser induzido por drogas, mas pensam que seu resultado é diminuído.

Entretanto, existem alguns professores que acreditam no valor do MDMA, tanto para a iluminação pessoal, quanto para o treinamento de outros. Eu entrevistei quatro: um monge Beneditino, um rabino, um monge Rinzai Zen e um monge Soto Zen. Também obtive comentários de outro monge Beneditino. Esses são lideres religiosos ativos que escrevem livros espirituais, ensinam prática espirituais e dão palestras públicas sobre assuntos espirituais, mas, exceto pelo último, nunca admitiram publicamente suas visões sobre o valor espiritual do MDMA. O monge Soto Zen, Pari, concorda que “Drogas não combinam com meditação. ” Entretanto, ele diz “Meditação combina maravilhosamente bem com drogas. ” Não há contradição: drogas perturbam padrões adquiridos na meditação, mas sob o efeito de MDMA é fácil meditar. “Ficar quieto enquanto toma MDMA te ajuda a aprender a sentar, provendo um conhecimento experiencial. ” Mas é um bom método para aprender? “É como um remédio. Se olharmos para o nosso estado mental e do planeta, devemos ser gratos por quaisquer meios que possam ajudar. Entretanto, assim como todo bom medicamento, também pode ser mal-usado. ” Todos eles acreditam que se beneficiaram do uso do MDMA, que pode ajudar a produzir uma experiência mística válida, não causa dano a mente e é útil para ensinar os estudantes. A razão para que eles não promovam seu uso é que eles devem seguir as politicas de suas ordens religiosas, e essas naturalmente obedecem a lei. Eu achei fascinante ouvir o quão similar suas experiências eram, ainda que diferentes para qualquer outra pessoa. Quando perguntei sobre o que eles achavam sobre o uso de MDMA por ravers, suas opiniões divergiram. O Beneditino sente que é profano pessoas tomarem drogas ao não ser que sejam espiritualmente orientadas, enquanto o rabino pensa que o sentimento de unidade e enxergar a vida por uma nova perspectiva é uma experiência igualmente válida para os ravers.

Holotropics (4256)

Eu levei Bertrand, o monge Rinzai Zen, para uma festa rave onde ele tomou MDMA—anteriormente ele só havia tomado enquanto meditava. Quando sentiu o efeito, ele brilhou e anunciou “Isso é meditação! ” Longe de ser estranho para a sua experiência, ele viu que todos estavam totalmente absortos em suas danças sem consciência própria ou dialogo interno, e isso era a verdadeira essência da meditação.

O rabino não estava apenas ciente de que dançar sob o efeito do MDMA podia ser uma experiência espiritual, mas também que o misticismo estava agora mais prontamente disponível nas pistas de dança do que em igrejas, mesquitas ou sinagogas. Ele sugeriu que se sacerdotes experimentassem a droga, eles não somente apreciariam seu valor espiritual, mas seriam capazes de entender melhor os jovens. Pari fez a seguinte analogia: “É como um escalador andando pelas montanhas que está perdido na névoa e impedido de ver o pico que se dispôs a escalar. De repente a névoa se dissipa e ele experiência a realidade do pico, e ganha senso de direção. Mesmo que a névoa surja outra vez, e ainda que o caminho seja longo e árduo, o vislumbre é geralmente uma enorme ajuda e encorajamento.

Entrevista com um monge Beneditino

Holotropics (4260)

Irmão Bartholemew é um monge que usou MDMA cerca de 25 vezes num período de 10 anos como ajuda para sua experiência religiosa. Normalmente ele toma sozinho, mas também tomou junto a um pequeno grupo de pessoas com objetivos semelhantes. Ele descreve o efeito como uma abertura de uma ligação direta com Deus. Enquanto usando o MDMA, ele experienciou uma compreensão muito profunda da compaixão divina. Ele nunca perdeu a claridade deste insight, e permanece como um reservatório onde ele pode recorrer. Outro beneficio de seu uso de MDMA foi que a experiência da presença divina lhe vinha sem esforço. O efeito se manifestava em sua forma elemental na respiração, o sopro divino. Após seu despertar, ele começou a descobrir a validade de todas as outras grandes experiências religiosas.

Ele acredita que a “ferramenta” do MDMA pode ser usada em níveis diferentes como uma ferramenta de pesquisa ou espiritual. Quando usado apropriadamente, é quase um sacramento. Tem a capacidade de lhe colocar no caminho certo para a união divina com ênfase no amor, amor vertical, num sentido de ascendência. Entretanto, esse ganho só é possível quando se olha na direção correta. Não deveria ser usado ao não ser que esteja realmente a procura de Deus, e não é apropriado para hedonistas ravers adolescentes. O lugar onde é ingerido deve ser quieto e sereno. Deve haver também uma ligação intima entre aqueles que compartilham a experiência. A experiência deve ser perseguida com uma certa dose de supervisão porque o MDMA produz uma tendência de que sua atenção se disperse. Existe também o perigo de delapidar a experiência ao ficar preso em sentimentos de euforia, ao invés de alcançar o reino espiritual. Entretanto, embora possa ser inestimável, não deve se tornar necessário, uma vez que a necessidade de uma droga lhe nega a liberdade.

[ Eu enviei ao Irmão Bartholemew uma cópia do texto acima para sua provação, e ele adicionou o seguinte: ]

Um elemento que você pode querer adicionar é o da intimidade da voz na conversação. MDMA sempre me empurra em um espaço de intimidade na conversação. Existe uma qualidade especial nela. Você sente uma sensação de peso, uma sensação de peso nesta conversação, de algo profundo, tão sério quanto a própria vida. É um espaço interno onde não há máscaras, sem pretensões, absolutamente aberto e honesto. Não é uma intimidade erótica, mas sim filosófica e mística. Isso faz algum sentido? Você tem consciência de que se trata de uma comunicação interna raramente alcançada na conversa comum. Realmente não há palavras adequadas para descrever esse estado de percepção, bastando dizer que é essencial em minha experiência.

Entrevista com o rabino na Sinagoga Oeste de Londres

Após uma conversa que tocou na necessidade da preparação para a morte, eu perguntei ao rabino uma questão sobre o valor do MDMA para os pacientes terminais (referência ao estudo do Dr. Charles Grob em Los Angeles.) Ele respondeu que o MDMA possui tanto valor para os moribundos, quanto aos ravers, permitindo assim a sensação de unidade, possibilitando ver a vida de uma nova perspectiva. A proibição não é a melhor maneira de se lidar com uma substância que pode ser sacramental da mesma forma como a comunhão do vinho. Essas substâncias podem despertar sensações estranhas que podem ser desconfortáveis, mas são essenciais para uma compreensão mais profunda de nós mesmos. Entretanto, existem outros métodos para alcançar esses sentimentos, como aqueles descritos em um livro chamado Mind Aerobics.

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No final, o rabino me chamou para vir para o palco. Ele me levou em uma escada da saída de incêndio, fora dos ouvidos de sua comitiva, e me disse que ele não podia arcar com o risco de prejudicar o seu projeto, apoiando publicamente o uso de drogas ilegais, mas que ele tinha o meu livro (ele o elogiou.) Ele acreditava que o MDMA e outros psicodélicos poderiam ser usados para um imenso beneficio, não apenas para a consciência pessoal, mas pelo bem de Gaia e o bem-estar cósmico do planeta. Ele deu a entender que a experiência com MDMA possuía a mesma qualidade e valor potencial que outras experiências místicas, e sugeriu que os sacerdotes experimentassem a droga, tanto para entender os jovens, como para validar as experiências espirituais produzidas por drogas. Ele se referiu à conclusão de Abraham Maslow a respeito das “experiências de pico”: que tomar uma droga é como atingir o topo da montanha por um teleférico ao invés da labuta da escalada—pode ser visto como trapaça, mas te leva ao mesmo lugar. Ele finalizou me dando um grande abraço e me encorajando em meu trabalho.

Visita ao monge e professor Rinzai Zen

Bertrand é um monge Zen budista e professor de meditação na casa dos 70 anos. Seguindo uma carreira convencional, ele teve uma experiência de despertar com mescalina quando ele tinha 47 que o fez reavaliar sua e buscar um caminho espiritual. Isso o levou a encarar o Rinzai Zen com um mestre japonês rigoroso. Embora tenha achado o treino extremamente difícil, ele eventualmente se tornou o abade de um monastério Zen.

Bertrand tomou MDMA cerca de 25 vezes nos últimos 10 anos. Ele geralmente usou-o no segundo dia de uma meditação de sete dias, e descobriu que a droga permitiu que ele prestasse atenção de todo coração, sem qualquer distração. Como estudante, ele também usou uma vez quando praticava um exercício Zen chamado Koan. Durante os Koans, o mestre nomeia a tarefa que o aluno deve contemplar, como o clássico “compreender o som de um bater de palmas. ” O estudante tem de demonstrar compreensão, normalmente após um tempo considerável, e muitas vezes é lhe dito para tentar de novo.

Sob efeito do MDMA, Bertrand atravessou por entre os Koans com uma impressionante facilidade. Ele, inclusive, se sentiu iluminado em duas ocasiões, apesar dele não confiar que essas experiências sejam do nível mais alto. Ele também conhece um monge Zen suíço que usa MDMA, mas ele nunca contou ao seu mestre. Ele sente que a experiência seria de grande valor para alguns de seus devotos e rígidos companheiros monges Zen, embora ele conheça apenas um outro monge Zen que faça uso de MDMA.

Perguntado se a experiência com MDMA tinha igual valor quanto chegar “lá” da maneira difícil, ele respondeu que o MDMA simplesmente permite que usuário foque, de todo coração, em sua tarefa atual, e o resultado é real em todos os aspectos porque são os mesmos. De fato, o MDMA permitiu que ele fosse mais longe do que ele era capaz sem a substância. Eu o pressionei para descobrir os aspectos negativos, e ele me disse que uma vez ele cometeu o erro de tomar o MDMA pouco antes de liderar uma meditação. Isso abriu seus olhos para o quão tensos e necessitados seus alunos eram. Ele expressou aquilo que sentia muito livremente: que eles pareciam como cadáveres, todos alinhados com seus chales negros! Isso era inapropriado, e ele não usou novamente o MDMA quanto ensinava. Ele sentiu que seu erro estava em não respeitar que seus alunos se encontravam em um espaço diferente.

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Entretanto, Bertrand acredita que o MDMA seria uma ferramenta extremamente útil para ensinar os estudantes que também estivessem sob efeito. Na verdade, ele se perguntou se viveria o bastante para poder usa-lo legalmente. Pressionado sobre os possíveis problemas, ele disse que sempre haverá pessoas que chegam querendo a iluminação em uma bandeja, e a notícia de que existe uma nova técnica usando uma droga atrairia aqueles que esperam que “seja feito por eles”. A festa rave foi a primeira vez que Bertrando tomou MDMA exceto quando estava meditando, e ele foi surpreendido pelo quão diferente a experiência era. De antemão, ele disse que mal suportava ao barulho e volume do som. Depois que o MDMA fez efeito, ele pode ver o valor do volume ao “afogar” as distrações. A batida monótona era semelhante a algumas cerimônias de índios americanos que também fornecem a sensação de união tribal pelo uso de uma droga—embora tenha sentido que a rave perdeu a estrutura cultural e foco dos indígenas. (Bertrand já foi convidado de um ritual Indigena Americano, embora não tenha tomado nenhuma droga.) Ele podia ver o valor dessa nova experiência para o Budismo como expansiva — meditação era contrativa, mas ambos foram essenciais.

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Sua primeira reação após o MDMA começar a fazer efeito foi tristeza por sua posição como parte de uma instituição de uma religião restritiva, e a realização de que o treinamento Zen não era adequado para os ocidentais em sua presente forma. Mais tarde, ele entrou na dança. Conforme sua face mudava de severa para feliz, ele exclamou: “Isso é meditação — estar realmente no presente e não em sua cabeça”. No dia seguinte, ele disse que sentiu como se a experiência havia deixado uma impressão em sua vida, e ele não tinha certeza onde isso o levaria. Enfatizou o que ele já sabia: que seus estudantes eram muito contraídos, e essa experiência expansiva da rave era o que eles precisavam, e era uma pena que ele não poderia advogar sobre isso em sua posição.
No dia seguinte, ele me disse que isso podia ser um ponto de virada muito importante em sua vida. Ele tinha que passar um tempo para digerir o que havia aprendido, mas sua resposta imediata era que ele não podia continuar sendo parte de uma instituição de sua escola na sua presente forma. Ele podia ver que o aspecto contrativo do treino havia sido muito enfatizado em sua escola, na crença de que os ocidentais já eram muito expansivos. Na verdade, aqueles que buscavam mestres Zen no Oeste realmente precisavam da habilidade de ser expansivos — e a rave proporcionava isso. Um mês depois, Bertrand me telefonou para dizer que ele acabará de ministrar um retiro de uma semana, que foi mais leve e positivo, quase como uma sensação de alegria. Ele atribuiu isso ao efeito da experiencia da rave, que por sua vez afetou os participantes. Também, ele se sentiu muito mais jovem e mais flexível. De fato, um problema de coluna que havia lhe causado dores por anos parecia estar completamente curado, o que fez ele suspeitar que especificamente esse problema na coluna era causado pela mente. Eu enviei os rascunho das entrevistas com o rabino e o monge Beneditino à Bertrand. Ele comentou que sua experiência se assemelhava com a do rabino sobre estar em um estado mental aberto. Divergia com o Beneditino, que dizia que o MDMA lhe permitia focar totalmente sem distração, e com atenção prolongada. Ele sentiu que a base do estado mental era enfatizada. Perguntei como ele sugeria usar o MDMA. Ele recomendou meditação após a abertura como uma forma de canalizar a energia liberada. Bertrando descreveu o MDMA como uma “experiência nutridora”

Visita a um monge e professor Soto Zen

Pari tomou LSD na universidade. Na verdade, ele mudou-se para uma comuna que tomava LSD em rituais semanais regulares, porém mais tarde essa busca por conhecimento o levou para longe das drogas para a Yoga, a qual ele praticou por muitos anos. Entã ele viajou e se envolveu com o Zen, vivendo em uma comunidade Soto Zen por 10 aos até ser ordenado monge. Ele havia sido feito desde então Abade pelo seu mestre; isso é, lhe é dado o poder para ordenar novos monges Zen. Ele agora vive em uma bela e tranquila casa Vitoriana na cidade com sua esposa e filho, onde ele tem um pequeno zendo (sala de meditação). Ele também tem um centro de retiro nas montanhas. Ele divide seu tempo entre o Budismo e ativismo social/ecológico. Nos últimos 5 anos, Pariu tomou MDMA cerca de 15 vezes, geralmente sozinho ou com sua esposa e amigos íntimos. Aquilo lhe fornecia uma grande clareza e tranquilidade, muito parecido com seshin— prática que dura 1 semana — quando tudo se torna mais claro, mais desperto.

Tradicionalmente, ensinamentos orientais são fortemente contra às drogas. Mas sua tradição em particular possui uma exceção a essa regra, e seu professor no Japão havia usado peyote, LSD e MDMA. Certa vez Pari irritou o professor Budista vietnamita Thich Nhat Hanh por apontar que a maioria dos estudantes ocidentais o procuravam pelas experiências com as drogas, então não era certo para ele ter uma posição forte contrária ao uso de drogas, especialmente já que ele não havia experimentado por si mesmo.

Ele havia usado MDMA para ensinar com alguns estudantes, incluindo um que já fora sido ordenado monge. Esse era um homem extremamente intenso e colocava um esforço tremendo para fazer o seu melhor na meditação. O MDMA o ajudou a ver que o tentar em si era o seu principal obstáculo. Outro estudante era um homem de negócios bem sucedido e mão de ferro. MDMA simplesmente o parou — ele mudou dramaticamente em uma pessoa calorosa e satisfeita que apenas queria se sentar tranquilamente no zendo.

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Quando perguntei se o sucesso com o MDMA era válido tanto quanto sem, ele respondeu : “É a experiência que importa, não como você chega lá. Olhe para a história das grande religiões. Muitos dos seus fundadores e santos tiveram uniões místicas durante febre causada por ferimentos, durante o qual, como sabemos hoje, o corpo produz substâncias psicodélicas. Um bom exemplo seria Inácio de Loyola, fundador da ordem Jesuíta.

Eu perguntei a Pari se pensava que haviam alguns tipos de pessoas que não se beneficiariam ou seriam enganados pelo MDMA. “Pode ser um problema para aqueles que não estão suficientemente aterrados, aqueles com tendencia a flutuar em outros mundos facilmente, de qualquer modo. Entretanto, a maioria de nós somos muito ligados a terra, presos demais nessa realidade em particular e uma pequena ajuda de um amigo pode ser de grande valor.” Ao contrário do LSD e outras drogas, o MDMA age em termos de relacionamentos — consigo, Deus, natureza. Ele ainda abre um terreno comum com outras pessoas as quais ainda não conhece.

Eu perguntei se havia algum motivo para usar o MDMA uma vez a iluminação ter sido atingida. “Atingir a iluminação para a maioria de nós é transitório e raro. Depois de um tempo, a experiência direta é substituída pela lembrança dela e uma experiência direta de tempos em tempos ajuda e revigora.” Mas, eu perguntei, a experiência induzida pela droga era realmente a mesma? Após certa hesitação Pari respondeu, “Sim, o estado da mente é idêntico, ainda assim há uma diferença sútil, talvez em razão dos efeitos físicos da droga no corpo. Sem a droga, há apenas um fator a menos. Isso é simples, e talvez implique em ser melhor. O valor desse estado é o mesmo: poder olhar para trás e ver o estado da mente “normal” com uma perspectiva clara mas diferente.

Qual a situação ideal? “Para um iniciante, um amigo confiável e mais experiente é altamente recomendável. Você deve criar um ambiente que ache convidativo. Faça a prática espiritual que você tiver. Para alguns pode ser cantar, rezar, pintar, meditar ou sentar em uma catedral; para outros é andar sozinho pelas montanhas.” Porém, ele alertou que nem toda tentativa é positiva. Ele sentiu mal e tremulo em sua última experiência com MDMA, embora depois de uma hora ele vomitou e então se sentiu melhor.

Texto publicado originalmente por Nicholas Saunders na Newsletter MAPS – Volume 6 Número 1 de 1995

O que o LSD pode nos ensinar sobre a natureza humana.

Eu estava em São Francisco semana passada, visitando meu irmão e revisitando os anos que passei lá quando jovem. Nós andamos pelo parque Golden Gate, dois caras na casa dos 60, admirando as gigantes sequoias, jardins exóticos, e as pastagens verde-douradas em cascata ao oeste, em direção ao oceano. E relembramos a nossa viagem de ácido épica em 1969, neste mesmo lugar, quando estávamos preparados para aventura e autodescoberta.

Nós éramos em quatro. Cada um de nós engoliu nossos pequenos comprimidos roxo — Feliz aterrizagem, pessoal!” — então começamos andar em direção ao oeste pelo parque. Cerca de meia hora depois vieram os surtos de energia em nossos estômagos, antecipação de algo enorme prestes a acontecer, entusiasmo e medo como se aproximar à beira de uma cachoeira desconhecida. O parque estava tão bonito. O canto dos pássaros estava por toda parte, com mais nuances do que havia alguma vez percebido.

E então o mundo se transformou. Os padrões dos galhos, o aroma do eucalipto, a confusão das outras pessoas, cachorros latindo, pássaros cantando, misturado e desintegrado ao mesmo tempo. Meu senso de “Eu” esticou, estendendo os limites da minha percepção como um desabrochar de um bouquet. Perdi a noção de quem eu era, onde estava, onde eu terminava e o mundo exterior começava… e então tudo isso se desintegrando, reconvergindo e se embaralhando de alguma formou se colapsou em uma sonora unicidade, o zumbido ensurdecedor de um universo totalmente pacífico.

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LSD era assustador, belo, e incompreensivelmente, transformador de vidas —  você pode dizer “educacional” com um sorriso irônico — para os não iniciados. Não apenas isso. Juntamente com outras drogas psicodélicas que formaram nossa subcultura, tornou-se símbolo de um momento e lugar únicos. Era um farol para um bando de crianças com intenção de descobrir algo verdadeiro e universal subjacente aos absurdos políticos e sociais da sociedade mainstream, Nixon, a guerra do Vietnã, e todo o resto.

O que nós procuramos no LSD era o que os humanos sempre haviam procurado — o significado oculto por trás da estupidez transitória dos esforços humanos que não levam a nada. O que buscávamos era a iluminação que Buda ansiava em nos mostrar, e que por milhares de anos permaneceu tão elusiva.

Era isso apenas uma loucura idealista, uma febre de droga? Temos nossas cabeças enfiadas até nossos traseiros, imaginando a beleza suprema porque estávamos tão completamente no escuro, tão narcisistamente especializados, tão sem inspiração pelos desafios que nossos pais e mentores desejavam que nós enfrentássemos?

 

“O BÓSON DE HIGGS DA NEUROCIÊNCIA”

Quando cheguei em casa novamente, três dias atrás, alguns experimentos neurocientíficos haviam sido publicados em dois jornais simultaneamente, alegando mostrar exatamente o que ocorria no cérebro quando alguém toma LSD. Em dois dias, essas descobertas migraram de publicações cientificas para jornais e mídia pelo mundo, incluindo o The Guardian. Um dos autores líderes da pesquisa, David Nutt, um respeitado neurofarmacologista, foi citado dizendo “Isso foi para a neurociência o que o bóson de Higgs foi para a física de partículas. ”

Embora isso possa exagerar seu caso, nós podemos perdoar o entusiasmo de Nutt: os achados são, de fato, extraordinários. Voluntários saudáveis foram injetados com LSD enquanto deitavam em um scanner MRI, e submetidos a diversos outros métodos de neuroimagem ao mesmo tempo. Isso somou um arsenal de medidas que os pesquisadores psicodélicos de décadas passadas podiam apenas sonhar. Com certeza não era o parque Golden Gate, mas deitados naquela câmara magnética, com os seus olhos fechados e cérebros abertos, com fluxos de números espirrando de seus lobos em arquivos de dados que logo seriam traduzidos em imagens, esses indivíduos observaram intrincadas alucinações do LSD se desdobrarem por trás de suas pálpebras. E ao mesmo tempo reportaram experiências de “dissolução do ego” muito parecida com aquela que experimentamos no parque.

O que foi mais notável sobre a pesquisa foi que o nível de dissolução de ego relatada pelos participantes se correlacionava com uma transformação neural especifica. Para enfrentar o dia-a-dia pragmático e as demandas da sobrevivência, a atividade cerebral naturalmente se diferencia em diversas redes distintas, cada uma responsável por uma função cognitiva particular.

As três redes mais intimamente examinadas por esses cientistas incluem a rede que presta atenção no que é mais notável, a rede para solução de problemas, e a rede para refletir sobre o próprio passado e futuro. Existe também uma segregação natural entre área de cognição de alto nível (abstrato) e área de percepção baixo nível (concreto), mais notavelmente no córtex visual. Essas distinções são tidas como um design essencial de um cérebro humano funcional.

O impacto do LSD era para diminuir a conexão dentro de cada uma dessas redes, relaxando os laços que as mantinha intactas e distintas, enquanto aumenta a conversa cruzada entre elas. Em outras palavras, a etiqueta normal do cérebro requer segregação entre as redes que possuem diferentes funções, e essa etiqueta foi explodida em pedaços.

Agora a maioria das partes do cérebro estavam se comunicando com a maioria das outras partes do cérebro. Experiências sensoriais completas, como a visão, misturadas com a cognição abstrata, e as abstrações cognitivas reformulou as imagens visuais. Talvez seja isso que explique o intrincado padrão fractal que as pessoas enxergam nos galhos de um arbusto quando estão viajando no ácido. A percepção de relevância e o refinamento do senso de “eu” foram misturadas juntas como batatas e molho. O cérebro e seu proprietário não mais distinguiam o que era mais importante, como realizar tarefas, e quem de fato julga a importância daquilo que precisa ser feito.

 

Os cérebros dos participantes permanecendo despertos com os olhos fechados, sob um placebo, esquerda, e a droga LSD, direita, visualizadas usando MRI funcional. Foto: Imperial College London-The Beckley Foundation/Reuters

RELIGIÃO VS. PSICODÉLICOS

Há alguns milhares de anos, o Buda definiu a personalidade humana como um ciclo recursivo de hábitos — hábitos de aquisição, de desejo e apego. Eles levam à busca de prazeres que temos certeza que vão evanescer-se e a evitar o sofrimento que não pode ser evitado num ciclo de vida, envelhecimento e morte. Em resposta, seus seguidores escolheram o asceticismo, a prática de excesso de controle. Dos monges Budistas que se livraram do conforto e os sadhus Hindus com seus rituais de auto-mortificação novas religiões evoluíram.

Houve intermináveis listas de editais Judeus, Muçulmanos, e Cristãos que ainda impõe-se: o que não era permitido fazer, em quais dias, quais as consequências de seu fracasso. Nossas tentativas de libertar-se do hábito, da universalidade do costume local, verdade da ilusão, de modo geral juntaram-se a um conjunto de regras para aumentar o controle, particionar e segregar, desenhar hierarquias e obedecer códigos.

Parece que nossos cérebros, com sua tendência intrínseca para analisar e segregar, foram projetados para inclinar-se em direção ao controle excessivo em resposta às dificuldades da existência. Ou, mais precisamente, nós temos a tendência de ter controle excessivo, porque se manifesta como um principio fundamental do design cerebral.

Mas a natureza nos proveu com diferente antídotos para o isolamento e irrelevância. LSD foi criado em um laboratório na Suíça em 1930. Mas outros químicos com as mesmas propriedades psicodélicas habitam a carne de cactos por toda a America do Norte (mescalina), cogumelos encontrados na maior parte do hemisfério norte (psilocibina), e a vinha da Amazônia (DMT-ayahuasca). Esses compostos químicos evoluídos desfaz as travas que nossos cérebros constroem para nos manter limitados, buscando vitórias de curto prazo sobre fracassos inevitáveis. Os humanos se reuniram, cultivaram, destilaram, e produziram todo tipo de drogas por milhares de anos. Algumas delas aliviam a dor e conferem conforto. Outras fornecem energia que as vezes precisamos pra completar nossas tarefas. E nosso velho amigo álcool nos ajuda a relaxar e se divertir. Mas os psicodélicos não contribuem em nada para o nosso funcionamento diário. Pelo contrário, nós usamos para enxergar o quadro maior, para conectar-se com uma realidade que é difícil de ver usando nosso cérebro em funcionamento normal. Nós somos literalmente “mentes-pequena” na maior parte do tempo. E embora meditação e mindfulness (atenção plena) no coloca em direção à abertura, aceitação e abandono de nossos egos, os humanos continuam a se voltar para os psicodélicos para despertar-nos para as possibilidades de uma perspectiva universal.

Nem todas as drogas são criadas iguais, e eu nunca vou encorajar ninguém a aliviar seu desconforto existencial com heroína ou anfetaminas, ambas as quais eu já tomei. Mas os psicodélicos possuem um valor que não posso evitar de admirar. E agora nós entendemos mais sobre como eles fazem o que fazem. Um simples código libera os portões em nossos cérebros, portões que normalmente agem como muralhas.

Eu espero que essas descobertas dissipem apenas o suficiente para encorajar-nos a continuar explorando.


Matéria escrita originalmente por Marc Lewis para o The Guardian em 15/04/2016

Os efeitos do LSD sobre Cromossomos, Mutação Genética, Desenvolvimento Fetal e Malignidade

 

Apêndice II do LSD Psychotherapy,

© 1980, 1994 por Stanislav Grof
Hunter House Publishers, Alameda, Califórnia.
ISBN 0-89793-158-0 (edição de 1994, paperback)


Na última década, uma nova dimensão grave foi adicionado à controvérsia sobre o LSD. Uma série de trabalhos científicos foram publicados indicando que LSD pode causar mudanças estruturais nos cromossomos, mutações genéticas, distúrbios do desenvolvimento embrionário, e degeneração maligna das células. No entanto, um número comparável de publicações contestam a veracidade dessas alegações. Alguns são estudos experimentais independentes que mostraram resultados negativos, outros criticam os documentos originais por graves deficiências conceituais e metodológicas. Apesar de todo o trabalho experimental feito nesta área, em que há grande dispêndio de tempo e energia, os resultados são ambíguos e contraditórios. Parece oportuno incluir neste livro uma revisão crítica de toda a pesquisa relevante, porque a questão é extraordinariamente importante para o futuro da psicoterapia com LSD.

A discussão a seguir é baseada quase que exclusivamente no estudo cuidadoso da literatura existente. Tenho muita experiência de pesquisa em primeira mão nesta área, e a genética não é a minha área primária de interesse e experiência. No estudo realizado com LSD no Instituto de Pesquisa Psiquiátrica em Praga, nós não examinamos o efeito do LSD nos cromossomos ou suas implicações para a hereditariedade; naquele tempo não havia observações experimentais ou clínicas que sugerissem a necessidade de tais estudos. O primeiro trabalho que atraiu a atenção dos cientistas para esta área não apareceu até o final dos anos 1960. Após minha chegada nos Estados Unidos, participei de um grande estudo concentrando-me em alterações estruturais dos cromossomos nas células brancas do sangue após a administração de LSD. Este foi um dos poucos estudos genéticos, utilizando LSD puro farmacêutico, numa abordagem duplo-cego, e comparação das amostras antes e após a administração do fármaco.

O material discutido nesta revisão será dividido em vários grupos temáticos. O primeiro grupo inclui artigos descrevendo as alterações estruturais dos cromossomas produzidos por LSD ‘in vitro’, nestas experiências várias concentrações de LSD foram adicionadas às culturas de células de tecidos vegetais humana, animal, ou em um tubo de ensaio. O segundo grupo envolve estudos ‘in vivo’ de LSD; neste tipo de investigação do efeito, o LSD é estudado após a substância ter sido ingerida ou injetada em animais ou em seres humanos. Os trabalhos do terceiro grupo descrevem os resultados de experimentos que estudam a influência do LSD sobre os genes, e seus efeitos mutagênicos. Ele inclui um pequeno número de trabalhos relacionados com o mecanismo pormenorizado da ação de LSD no ácido desoxirribonucleico (DNA), o constituinte mais importante dos cromossomas. O quarto grupo consiste de publicações que descrevem as consequências da administração do LSD no crescimento, desenvolvimento e diferenciação de embriões humanos e animais. Finalmente, o quinto grupo compreende documentos sobre a possível ligação entre o LSD e o desenvolvimento de alterações malignas nas células, especialmente no caso de leucemia.

Nas seções seguintes, os achados mais relevantes destas cinco categorias temáticas serão brevemente revisados e avaliados criticamente.

 

O EFEITO DO LSD NA ESTRUTURA CROMOSSÔMICA

A possibilidade de indução de alterações estruturais nos cromossomas por agentes exógenos, tais como radiação, vírus, e uma variedade de produtos químicos, tem sido um assunto de grande interesse científico por um longo tempo. A controvérsia sobre genética e LSD começou em 1967, quando Cohen, Marinello e Back publicaram um artigo sugerindo que LSD deveria ser adicionado à lista de substâncias capazes de causar anormalidades nos cromossomos. Por causa do uso generalizado de LSD, esta informação criou vívido interesse no meio científico, e um número de investigadores concentraram sua atenção sobre esta área. Duas abordagens principais foram utilizadas nestes estudos; em alguns foi estudado o efeito do LSD nos cromossomas no tubo de ensaio (in vitro), em outras no organismo vivo (in vivo). As células que foram estudadas na maioria dos casos, foram as células brancas do sangue (linfócitos).

Nos estudos ‘in vitro’, as amostras de sangue foram retiradas de pessoas normais e saudáveis, sem histórico de uso de drogas por injeção, exposição à radiação, ou infecção viral recente. Após incubação a 37 ° centígrados, em meios apropriados, colcemide foi adicionado para parar a divisão celular na fase de metáfase. As células foram então colhidas, transformadas em preparações citológicas especificamente coradas e examinadas por microscopia de contraste de fase. Durante o período de incubação, o LSD dissolvido em água destilada estéril foi adicionado às culturas experimentais em várias concentrações.

Nos estudos ‘in vivo’, as amostras de sangue foram retiradas de indivíduos que haviam sido expostos a qualquer um ‘street acid’ (material ilícito supostamente contendo LSD) ou LSD farmacêutico puro. Na maioria desses estudos, os cromossomos foram examinados após a exposição ao LSD (abordagem retrospectiva); numa minoria destes estudos, os exames foram realizados antes e depois da administração do fármaco (abordagem potencial). O procedimento técnico empregue nos estudos ‘in vivo’ não diferiu significativamente do que foi descrito para a abordagem ‘in vitro’. Um subgrupo especial e bastante importante dos estudos ‘in vivo’ são os relatórios sobre a influência do LSD sobre os cromossomos das células germinativas (cromossomos meiose).

 

OS ESTUDOS ‘IN VITRO’

Cohen, Marinello e Back adicionaram LSD para leucócitos humanos cultivados obtidos a partir de dois indivíduos saudáveis. Usaram cinco concentrações variando, 001-10,0 microgramas de LSD por centímetro cúbico (cc), e o tempo de exposição foi de 4, 24, e 48 horas. A incidência de quebras cromossômicas para células tratadas foi de pelo menos o dobro de células de controle para todos os tratamentos, exceto na concentração mais baixa em tempo (0,001 microgramas de LSD por cc, durante quatro horas), onde não houve diferença entre as células tratadas e controle. Não houve relação linear simples entre a frequência dessas aberrações e a dosagem de LSD ou duração da exposição. Em um estudo posterior, Cohen, Hirschhorn e Frosch descreveram os resultados de um estudo mais amplo, no qual utilizaram culturas de leucócitos periféricos de seis pessoas normais, saudáveis; as concentrações de LSD e os tempos de exposição foram os mesmos que no estudo original. Eles encontraram uma inibição significativa da divisão celular (mitose) em adição do fármaco, em qualquer concentração. A supressão da mitose foi diretamente proporcional à duração da exposição. A menor frequência de quebra cromossômica entre os controles foi de 3,9 por cento das células; entre as culturas tratadas, a menor frequência foi quase duas vezes o controle (7,7 por cento) e variou de mais de quatro vezes o valor controle (17,5 por cento).

Em 1968, Jarvik et al. tentaram replicar algumas das experiências ‘in vitro’ do grupo de Cohen. Além de LSD, eles usaram como teste as substâncias ergonovina (a droga comumente usada na prática obstétrica), aspirina e streptonigrine. Eles encontraram uma maior incidência de quebras de cromossomas nas amostras de LSD (10,2 por cento com a gama de 0,0-15,0), em comparação com as amostras de controle (5,2 por cento, com a gama de 0,0-9,0). Eles descobriram, no entanto, aproximadamente a mesma taxa de ruptura com aspirina (10,0 por cento) e ergonovina (9,6 por cento). A concentração de LSD em sangue utilizadas neste estudo se aproxima do nível alcançado uma a quatro horas após a injeção de 1.000 microgramas de LSD. Por outro lado, o nível de aspirina utilizada foi consideravelmente abaixo do nível terapêutico comum. Streptonigrine, uma substância com um efeito dramático bem conhecido nas cromossomas, promoveu uma ruptura induzida em 35 por cento das células examinadas de cromossomas. É interessante notar que dois dos oito casos descritos neste documento não responderam ao LSD com um aumento de quebras cromossômicas.

Corey et al. realizaram um estudo ‘in vitro’, em dez indivíduos; 1 micrograma por cc de LSD foi adicionado à cultura durante as últimos vinte e quatro horas de incubação. Os autores encontraram um aumento de quebras cromossômicas em todos os dez indivíduos. Embora a concentração ‘in vitro’ de LSD tenha sido muito maior do que qualquer dosagem ingerida comparavelmente conhecida, o aumento significativo de 4,65 quebras por 100 células foi pequena em comparação com a gama de frequências (0,0-15,2) observada nas culturas não tratadas.

Neste contexto, é interessante mencionar que Singh, Kalia e Jain encontraram uma maior incidência de quebras cromossômicas nas células da raiz cevada como resultado da exposição ao LSD na concentração de 25 microgramas por cc. Por outro lado, MacKenzie e Stone relataram resultados negativos das experiências com linfócitos, fibroblastos de hamsters e sobre a planta ‘Vicia faba’.

Os achados de alterações estruturais nos cromossomos após a administração de LSD acima mencionados se tornou a base de especulações sobre a possível influência dessa droga sobre mutações genéticas, desenvolvimento fetal e malignidade. Na atmosfera de histeria nacional então existente, o relatório original de Cohen, Marinello e Back que foi amplamente divulgado pelos meios de comunicação de massa. Como resultado, o significado de suas descobertas foram consideravelmente mais enfatizados, e muitas conclusões prematuras foram atraídas para as quais não havia justificativa científica suficiente.

Vários fatos importantes têm de ser levados em consideração antes de podermos tirar conclusões substanciais dos achados de aumento de quebras cromossômicas associadas com LSD nos experimentos ‘in vitro’. Deve-se ressaltar que as próprias conclusões não foram completamente consistentes. Em vários estudos não havia indícios de aumento de quebras cromossômicas após a exposição ao LSD. Além disso, as concentrações de LSD e durações de exposição utilizadas nestes estudos eram geralmente muito maiores do que aqueles que ocorrem no organismo humano depois da ingestão de LSD em dosagens normalmente utilizadas. Cohen, Marinello e Back, eles próprios não encontraram aumento de ruptura dos cromossomas na concentração mais baixa em tempo (0,001 microgramas de LSD por cc, durante quatro horas). Loughman et al. salientou que é precisamente a concentração mais baixa e a duração de exposição utilizado neste estudo que mais se aproxima da concentração esperada no sangue, fígado e outros órgãos após uma dose de 100 microgramas de LSD ingeridas por um homem de 70 kg. Se a degradação metabólica do LSD é considerada, então a concentração eficaz ‘in vivo’ do LSD inalterado seria consideravelmente inferior a este, aproximando 0,0001 microgramas por cc, uma concentração utilizada apenas por Kato e Jarvik, que não encontrou nenhum aumento na quebra desta dosagem.

Em geral, todo cuidado é necessário na extrapolação dos resultados ‘in vitro’ para a situação no organismo vivo. O organismo humano intacto difere de células isoladas no tubo de ensaio em sua enorme complexidade e na sua capacidade de desintoxicar e excretar compostos nocivos. As substâncias que são tóxicas ‘in vitro’ não têm necessariamente o mesmo efeito ‘in vivo’. Além disso, algumas das técnicas utilizadas nos estudos em vitro pode criar uma situação artificial e introduzir fatores que não existem no organismo vivo. Esta questão tem sido discutida em detalhes em uma excelente revisão sobre LSD e dano genético por Dishotsky et al. Estes autores apontam para o fato de que todos os estudos em culturas de linfócitos foram utilizadas modificações de uma técnica na qual os linfócitos são estimulados por fito-hemaglutinina para entrar no ciclo celular reprodutivo. No estado normal ‘in vivo’, linfócitos pequenos se encontram numa fase de crescimento que precede a síntese de DNA; eles não crescem, se dividem ou entram no ciclo celular. Assim, nos estudos ‘in vitro’, os linfócitos são expostos a agentes químicos durante a fase de desenvolvimento do ciclo celular, incluindo a síntese de DNA, o qual normalmente não ocorrem nessas células do corpo. Danos a um linfócito nesta fase geralmente não se manifestará como no tipo cromátide de mudança de uma divisão subsequente. A maioria, se não todas as alterações do tipo de cromatídeos, são iniciadas por processos técnicos, e a grande maioria de lesões relatados na ‘in vitro’ e ‘in vivo’ eram do tipo cromatídeos. As conclusões de um aumento da taxa de ruptura cromossômica em linfócitos expostos ao LSD ‘in vitro’ deve, portanto, ser interpretados com grande cautela.

Muitos estudos recentes acerca das mudanças estruturais causadas nos cromossomos por LSD deram a impressão de que este efeito foi algo específico e único. A maioria desses relatórios têm silenciosamente ignorado um fato que teria feito a questão muito menos interessante e sensacional. As alterações na estrutura cromossômica descrita não são exclusivamente causada por LSD; que pode ser induzida por uma variedade de outras condições e substâncias. Os fatores que têm sido conhecidos por causar a ruptura cromossômica ‘in vitro’ incluem radiação, mudanças de temperatura, variações de pressão de oxigênio, impurezas na água da torneira, a menos que seja destilada duas vezes, e uma variedade de vírus comuns. A longa lista de substâncias químicas que aumentam as taxas de ruptura cromossômicas contém muitos medicamentos comumente usados, incluindo a aspirina e outros salicilatos, adoçantes artificiais, o inseticida DDT, morfina, cafeína, teobromina, teofilina, tranquilizantes do tipo phenothiazine, algumas vitaminas e hormônios, e muitos antibióticos tais como aureomicina, cloromicetina, terramicina, estreptomicina e penicilina.

Neste contexto, é interessante citar Sharma e Sharma, que escreveram um resumo alargado da literatura sobre quebras cromossômicas induzidas quimicamente: “Desde a primeira indução de mutações cromossômicas por produtos químicos e a demonstração de definitivas quebras cromossômicas por Oehlkers, uma vasta multidão tão grande de produtos químicos têm mostrado possuir propriedades que quebram os cromossomos, que o problema tornou-se cada vez mais complexo”. Jarvik, discutindo o papel por Judd, Brandkamp e McGlothlin, foi ainda mais explícito: “… e é provável que qualquer composto adicionado no momento oportuno, na quantidade adequada, para o tipo de célula apropriada, irá causar quebras cromossômicas”.

Devido às limitações da abordagem ‘in vitro’, os estudos ‘in vivo’ são preferidos para avaliar os possíveis perigos genéticos associados com a administração de LSD. Infelizmente, dos vinte e um relatórios que foram publicados por dezessete laboratórios, muitos têm graves deficiências metodológicas e são mais ou menos inadequados, enquanto os relatórios individuais contradizem uns aos outros e os seus resultados globais são inconclusivos. Duas principais abordagens têm sido utilizadas em estudos ‘in vivo’. Em catorze desses projetos, os indivíduos foram expostos a substâncias ilícitas de composição e potências desconhecidas, alguns dos quais foram alegados como LSD. Em onze estudos, os indivíduos foram expostos a quantidades conhecidas de LSD farmacêutico puro em ambientes experimentais ou terapêuticos.

Dishotsky et al. publicaram uma revisão em que apresentou uma sinopse dos estudos desse tipo realizadas antes de 1971. De acordo com essa avaliação, de um total de 310 indivíduos estudados, apenas 126 foram tratados com LSD puro; os outros 184 indivíduos foram expostos a ilícitos ou “suposto” LSD. Dezoito dos 126 indivíduos (14,29 por cento) no grupo que recebeu LSD puro mostrou uma maior frequência de aberrações cromossômicas do que os controles. Em contraste, 89 dos 184 indivíduos (48,9 por cento) no grupo que tomou LSD ilícito mostrou um aumento na incidência de aberrações de mais de três vezes a frequência relatada por matérias dados como LSD farmacologicamente puro. Apenas 16,67 por cento (18 de 108) de todos os entrevistados que disseram ter danos cromossômicos receberam LSD puro. Há, portanto, uma boa razão para discutir as duas categorias de estudos ‘in vivo’, aqueles com puro e aqueles com “suposto” LSD, separadamente.

 

LSD ILÍCITO E O DANO CROMOSSÔMICO

Os resultados iniciais de danos cromossômicos em usuários de LSD ilícito foram relatados por Irwin e Egozcue. Eles compararam um grupo de oito utilizadores de LSD ilícito com um grupo de nove controles. Os usuários tiveram uma taxa de quebra média de 23,4 por cento, mais que o dobro da taxa de 11,0 por cento nos controles. Apenas dois dos oito usuários não tiveram aumentada as taxas de ruptura. Em um estudo posterior e mais extenso realizado por Egozcue, Irwin e Maruffo, a taxa de quebra média de quarenta e seis usuários de LSD ilícito foi 18,76 por cento (com um intervalo entre 8 e 45 por cento); este foi mais que o dobro da taxa de 9,03 por cento encontrados em células de controle. Apenas três dos quarenta e seis usuários não tiveram uma taxa de ruptura maior do que a taxa média de controle. Além disso, os autores estudaram os cromossomos de quatro crianças expostas ao LSD no útero. Todos os quatro apresentaram taxas de ruptura acima do valor de controle de média. Não houve evidência de doença ou malformação física em qualquer destas crianças.

Estes resultados foram apoiados por Cohen, Hirschhorn e Frosch, que estudaram dezoito indivíduos expostos ao LSD ilícito. Eles descreveram um aumento da quebra cromossômica neste grupo (média de 13,2 por cento), o que era mais do que o triplo do grupo controle (3,8 por cento). Os autores também examinaram os cromossomos de quatro filhos de três mães que tomaram LSD durante a gravidez. A frequência de quebras cromossômicas foi elevada em todos os quatro, e foi maior nas duas crianças que foram expostas ao LSD durante o terceiro e quarto meses de gravidez do que nos dois bebês expostos a baixas doses de LSD no final da gravidez.

Num artigo posterior, Cohen et al. relataram que treze adultos expostos a LSD ilícito apresentaram taxas de quebras cromossômicas que estavam acima da média controle. Em nove crianças expostas ao LSD ilícito ‘in utero’, eles encontraram uma quebra média de 9,2 por cento, em comparação com 4,0 por cento em quatro crianças cujas mães haviam usado LSD ilícito antes, mas não durante a gravidez. A taxa de ruptura no grupo controle foi de 1,0 por cento. Todos, mais dois filhos, tinham sido expostos a outras drogas durante a gravidez; todos estavam em boas condições de saúde e não apresentaram defeitos de nascimento.

Nielsen, Friedrich e Tsuboi constataram que os seus dez indivíduos expostos ao LSD ilícito tiveram uma taxa de quebra média de 2,5 por cento; esta foi significativamente maior do que a do grupo de controle (0,2 por cento). No entanto, a taxa de 2,5 por cento alegadamente patológica, é menor do que a dos controles em outros estudos positivos.

Um número de pesquisadores não foram capazes de demonstrar o aumento quebras cromossômicas em usuários de LSD. O papel sinóptico feito por Dishotsky et al., cita nove grupos de pesquisadores que relataram resultados negativos dos estudos semelhantes. No presente momento, por conseguinte, os resultados dos estudos ‘in vivo’ são considerados bastante controversos, e no melhor dos casos, inconclusivos.

Muitos investigadores têm tentado oferecer explicações para as discrepâncias existentes entre os relatórios positivos e negativos. Alguns criticaram a taxa de ruptura para os controles nos estudos de Cohen et al. (3,8 por cento) e Irwin e Egozcue (11,9 por cento e 9,03 por cento) como sendo anormalmente elevada. Outros sugeriram que os altos valores de controle poderiam ter resultado de contaminação viral das culturas, meios que interferem com o reparo do cromossomo, variação técnica em cultura de células, e a abordagem da avaliação de cromossomo insuficientemente fortificada. Também foi apontado que nesses estudos, do tipo de cromossomos e do tipo cromátide nas mudanças não foram relatados separadamente, mas foram combinados e então convertidas em “números equivalentes de pausas”. A combinação dos dois tipos de aberrações em um único índice obscurece a distinção entre danos nos cromossomas real que ocorrem ‘in vivo’ e danos que surgem no decurso da cultura de células.

No entanto, esses fatores não podem explicar as discrepâncias entre os resultados de várias equipes de investigadores. Se o fizessem, as aberrações decorrentes desses efeitos seriam distribuídos aleatoriamente entre os grupos expostos ao LSD ilícito e os grupos controle. Como a distribuição é desigual, esses fatores não explicam as taxas de ruptura significativamente elevadas em oitenta dos oitenta e seis indivíduos expostos ao LSD ilícito estudados por Cohen et al. e por Irwin e Egozcue.

Uma pista muito mais importante para a compreensão desta controvérsia parece estar relacionada a determinadas características do grupo dos “usuários de LSD”. Nesse tipo de pesquisa, os investigadores dependem da recordação e confiabilidade dos sujeitos na determinação do tipo de drogas que eles usaram no passado, o número e a frequência das exposições, as alegadas doses e intervalo desde a última exposição. Mesmo nos casos em que os relatórios são precisos, os indivíduos geralmente não sabem o conteúdo e a qualidade das amostras que estão usando. O conteúdo de LSD puro nas amostras de LSD ilícitas é quase sempre questionável, há várias impurezas e adições bastante frequentes. As amostras analisadas no passado tem demonstrado que contêm anfetaminas, mescalina, DOM (4-metil-2, 5-dimethoxyamphetamine, também chamado STP), fenilciclidina (phenylcyclohexylpiperidine, PCP ou “pó de anjo”), benactizina e mesmo estricnina. Além disso, todos os sujeitos testados utilizaram ou abusaram de outras drogas além do LSD. Estes medicamentos incluíram, entre outros, Ritalina, fenotiazinas, álcool, anfetaminas, cocaína, barbitúricos, heroína e outros opiáceos, e várias substâncias psicodélicas, como a maconha, haxixe, a psilocibina, a mescalina, STP, metilenodioxianfetamina (MDA), e dimetiltriptamina (DMT) . Dadas as circunstâncias, se questiona a lógica de se referir a este grupo em trabalhos científicos como “usuários de LSD”. A maioria destes pacientes eram, na verdade, os utilizadores de múltiplas drogas ou abusadores expostos a uma variedade de produtos químicos de composição, qualidade e potências desconhecidas.

Além disso, tem sido repetidamente relatado que essa população sofria de desnutrição e tinha muito elevadas as taxas de doenças venéreas, hepatite e várias outras infecções virais. Foi mencionado acima que os vírus são um dos fatores mais comuns a causarem lesões cromossómicas; o possível papel da desnutrição continua a ser avaliado. Dishotsky et al. concluíram suas revisões dos estudos ‘in vivo’ envolvendo LSD ilícito, relacionando os achados de aumento de quebras cromossômicas a uma combinação de fatores, como ao longo prazo excessivo de exposição a agentes químicos ilícitos, a presença de contaminantes tóxicos, a via de administração intravenosa e a debilidade física de muitos usuários de drogas. De acordo com eles, os resultados positivos, quando encontrados, estão relacionados com os efeitos mais gerais do abuso de drogas e não, como inicialmente relatado, especificamente para o uso de LSD.

 

LSD PURO E O DANO CROMOSSÔMICO

Estudos cromossômicos de pessoas que receberam LSD farmacêutico puro num quadro experimental ou terapêutico são muito mais relevantes e confiáveis como fonte de informação do que os estudos de usuários de drogas ilícitas. Nestes estudos, não há incerteza quanto a pureza, a dosagem, frequência de exposição e o intervalo entre a última exposição e amostragem de sangue. Duas abordagens diferentes podem ser distinguidas nos estudos cromossômicos usando LSD puro. Os estudos do primeiro tipo são retrospectivos e usaram um design “post hoc”; examinam as alterações cromossômicas em indivíduos que foram expostos ao LSD puro no passado. Os estudos do segundo tipo são em perspectiva; os padrões cromossômicos são examinados antes e após a exposição ao LSD, e cada sujeito serve como seu próprio controle.

‘Estudos Retrospectivos de Mudanças Cromossômicas nos Usuários de LSD Puro’. Uma revisão dos estudos nesta categoria revela que apenas dois grupos de investigadores relataram um aumento da taxa de quebras cromossômicas em seus assuntos. Cinco outras equipes não conseguiram confirmar estes resultados positivos.

Cohen, Marinello e Back relataram em seus estudos iniciais que eles encontraram danos cromossômicos nas células brancas do sangue de um paciente esquizofrênico paranoico que tinha sido tratado quinze vezes no passado com LSD em doses entre 80 e 200 microgramas. Nielsen, Friedrich e Tsuboi examinaram os cromossomos de cinco pessoas tratadas com LSD e não encontraram “nenhuma correlação entre qualquer medicamento específico e a frequência de falhas, quebras, e células hiperdiploide”. Os autores mais tarde reagruparam seus dados, formando pequenos grupos em função da idade e do sexo. Após esta revisão do material original, eles concluíram que o LSD induzia danos cromossômicos. Tjio, Pahnke e Kurland criticaram este estudo com base no número insuficiente de células analisadas para uma determinação fiável de taxas de ruptura. Três dos cinco indivíduos/LSD estudados não tinham aberrações cromossômicas, e os dois indivíduos restantes foram responsáveis por todas as seis quebras encontradas. Além disso, a taxa de quebra de 1,7 por cento ainda está dentro dos valores reportados para a população em geral. Outro estudo realizado pela Nielsen, Friedrich e Tsuboi, que geraram um aumento da taxa de quebra de 4,3 por cento em um grupo de nove ex-usuários de LSD tem sido criticado por Dishotsky et al., com base na sua abordagem diferente para a análise de dados.

Sparkes, Melnyk e Bozzetti não encontraram um aumento na quebra de cromossomas em quatro pacientes tratados com LSD no passado por razões médicas, resultados negativos também foram relatados por Bender e Siva Sankar, que examinaram os cromossomos de sete filhos esquizofrênicos que tinham sido tratadas no passado, por administração prolongada de LSD. Estas crianças receberam diariamente LSD em duas doses divididas de 100 a 150 microgramas por um período de semanas ou meses. A frequência de ruptura dos cromossomas neste grupo foi inferior a 2 por cento e não diferiu da do grupo de controle.

Siva Sankar, Rozsa e Geisler estudaram os padrões de cromossomos em quinze crianças com problemas psiquiátricos que receberam LSD, UML ou uma combinação de ambos. LSD foi administrado diariamente; a dose média para a totalidade do grupo foi de 142,4 microgramas por dia por paciente, e a duração do tratamento variou de 2 a 1366 dias. A taxa de ruptura para o grupo tratado com o LSD foi de 0,8 por cento, para o grupo tratado com ambos LSD e UML 1,00 por cento. Isto não foi significativamente mais elevada do que a taxa de quebra nos controles. Os pacientes neste estudo receberam LSD dois a quatro anos antes de os estudos cromossômicos. Os autores admitiram que os efeitos do LSD sobre os cromossomos de leucócitos pode ter sido retificado por um longo período de tempo. Em qualquer caso, isto indica que a terapia de LSD e seus efeitos sobre os cromossomas não é duradoura.

Tjio, Pahnke e Kurland publicaram os resultados da análise dos cromossomos de um grupo de oito indivíduos “normais” que receberam LSD puro em experimentos de pesquisa 1-26 vezes, dois a quinze meses antes de dar a amostra de sangue. A taxa de aberração cromossômica total média para este grupo foi de 2,8 por cento, e a taxa individual em nenhum deles ultrapassou o pré-LSD médio de 4,3 por cento encontrados nas amostras por pacientes.

Corey et al. relataram o resultado de um estudo cromossômico retrospectivo de dezesseis pacientes, cinco dos quais tinham sido tratados apenas com LSD, cinco com mescalina, e seis com LSD mais mescalina. Nos onze indivíduos que foram tratados clinicamente com doses de LSD que variam de 200 microgramas para 4.350 microgramas, a frequência de quebras cromossômicas não diferiu daquela encontrada nos treze controles. As respectivas frequências foram de 7,8 por cento para o LSD, 5,6 por cento para a mescalina, 6,4 por cento para LSD mais mescalina, e 7,0 por cento para o grupo controle.

Em um estudo inédito, Dishotsky et al. examinaram os cromossomos de cinco indivíduos expostos no passado com LSD puro. A taxa de ruptura média neste grupo (0,40 por cento) não foi significativamente diferente do das oito pessoas de controle (0,63 por cento). Em seu artigo de revisão, Dishotsky et al. indicam que cinquenta e oito de setenta (82,9 por cento) dos indivíduos estudados após o tratamento com LSD puro não tiveram danos cromossômicos. Por causa de dados incompletos sobre nove dos restantes doze sujeitos, eles não foram capazes de calcular a percentagem exata de indivíduos com taxas de ruptura elevadas. No entanto, eles estimaram que este valor se situaria entre 17,1 por cento e 4,9 por cento. Todos, exceto um dos doze temas, foram relatados por uma única equipe de investigadores. Os autores concluíram que, em vista dos procedimentos, dados incompletos, reanálise questionável dos dados, e as taxas de ruptura relatados como baixos, não há nenhuma evidência definitiva deste tipo de experimento que o LSD puro provoca danos cromossômicos.

‘Estudos Prospectivos de Mudanças Cromossômicas em Usuários de LSD Puro’. Os estudos que compararam as alterações cromossômicas, antes e após a exposição ao LSD puro, representam a abordagem científica mais adequada para o problema do ponto de vista metodológico, e são a fonte mais confiável de informações científicas. O primeiro relatório nesta categoria foi publicado em 1968 por Hungerford et al. que examinou os cromossomos de três pacientes psiquiátricos antes e após administrações terapêuticas repetidas de LSD. Amostras de sangue foram coletadas de todos os pacientes antes de qualquer terapia de LSD, uma hora antes e uma hora e 14 horas após cada dose; amostras de acompanhamento foram feitas em intervalos de um a seis meses. Observou-se um aumento de aberrações cromossômicas após cada uma das três injeções intravenosas de LSD. O aumento foi pequeno em dois dos três indivíduos; Contudo, os números dicêntricos e multiradial apareceram somente após o tratamento, e fragmentos acêntricos apareceram com mais frequência após o tratamento. No estudo que deu seguimento, um retorno aos níveis anteriores foi observado em todos os três pacientes. Os dados deste estudo indicam que o LSD puro pode produzir aumentos transitórios de anormalidades cromossômicas, mas que estes não são mais evidentes depois de um mês após a administração da dose final. Os resultados foram ligeiramente complicados pela administração de clorpromazina (Torazina), que por si só pode produzir aberrações cromossômicas. É interessante notar que o estudo de Hungerford é o único em que o LSD foi administrado por via intravenosa.

 

AS ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS EM CÉLULAS GERMINAIS

No passado, os resultados positivos de alguns estudos cromossômicos foram usados como uma base de longo alcance para especulações sobre os perigos hereditários associados ao LSD. Jornalistas, e também vários trabalhadores científicos, descreveram suas visões apocalípticas sobre a descendência de usuários de LSD. Tais especulações eram bastante prematuras, e insuficientemente fundamentadas em dados experimentais. O raciocínio que se refere a alterações estruturais dos cromossomos como “dano” e relaciona-os automaticamente para riscos genéticos tem graves lacunas na sua lógica. Na realidade, não é muito claro se ou não as mudanças estruturais nos cromossomos das células brancas do sangue têm qualquer significado funcional, e se eles estão associados com anormalidades genéticas. Existem muitas substâncias químicas que causam quebras cromossômicas, mas não têm efeitos adversos sobre a mutação genética ou o desenvolvimento fetal. A complexidade deste problema pode ser ilustrado com o caso de vírus. Uma variedade de doenças virais (como herpes simplex e herpes, sarampo, catapora, gripe, febre amarela, e, possivelmente, caxumba) induziram dano cromossômico marcado sem causar malformações fetais. De acordo com Nichols, uma das exceções é a rubéola (sarampo alemão), uma doença que é conhecida por causar malformações fetais graves, quando adquirida pela mãe no primeiro trimestre da gravidez.

Além dos problemas metodológicos envolvidos e a inconsistência das conclusões acima discutidas, um fato mais importante tem de ser levado em consideração. Em todos os estudos citados, o efeito de LSD ilícito ou puro, ‘in vitro’ ou ‘in vivo’, foi avaliado nos cromossomas das células brancas do sangue. Sem conclusões diretas sobre os perigos hereditários associados com a administração de LSD pode ser desenhado com base nestes estudos que os linfócitos não estão envolvidos nos processos reprodutivos. Especulações sobre tais perigos poderiam ser feitas apenas com base em achados cromossômicos em células germinativas, tais como os espermatozoides e óvulos, ou as células precursoras. Infelizmente, os poucos estudos existentes sobre os cromossomos de células germinativas (os chamados cromossomos meióticos) apresentaram resultados inconclusivos tanto quanto os estudos dos cromossomos de células somáticas.

Skakkebaek, Phillip e Rafaelsen estudaram cromossomos meióticos de seis camundongos saudáveis do sexo masculino injetados com altas doses de LSD (1.000 microgramas por kg); o número de injeções e os intervalos entre as exposições foram variadas. Várias quebras cromossômicas, lacunas e fragmentos não identificáveis foram encontrados nos animais tratados, mas, com poucas exceções, não nos animais de controle. Os autores consideram que a sua tentativa de encontrar evidências de que altas doses de LSD podem influenciar cromossomos meióticos em camundongos. Eles admitiram que o número de anormalidades foram pequenas e os erros técnicos não podem ser excluídos, mas concluíram que as alterações encontradas poderiam ter influência sobre a fertilidade, o tamanho da maca, e o número de malformações congênitas. Num estudo posterior, Skakkebaek e Beatty injetaram em quatro camundongos, por via subcutânea, doses de 1.000 microgramas de LSD por kg duas vezes por semana durante cinco semanas. Análise realizada numa base cega mostrou uma frequência elevada de anormalidades em dois dos ratos tratados. Além disso, os espermatozoides de ratinhos tratados com LSD também mostraram diferenças morfológicas, com um lado convexo mais arredondado da cabeça, cabeças mais amplas, em geral. O significado prático destes resultados é consideravelmente reduzido pelo fato de que as dosagens usadas superam qualquer coisa usada na prática clínica. Uma dose comparável em humanos viria a 60,000-100,000 microgramas por pessoa, o que é 100 a 1000 vezes mais do que as doses normalmente utilizadas em trabalho experimental e clínica com LSD.

Outro resultado positivo de danos cromossômicos meióticos induzidos por LSD foi relatado por Cohen e Mukherjee. Estes autores injetaram em treze ratinhos machos uma única dose de LSD a uma concentração de 25 microgramas por kg. Neste estudo as células meióticas foram aparentemente menos vulneráveis do que as células somáticas. No entanto, houve um aumento de dez vezes em danos nos cromossomos óbvios entre os ratinhos tratados com o LSD. Este atingiu um máximo entre dois e sete dias após a injeção, com uma diminuição subsequente e retorno a níveis quase normais depois de três semanas. Com base nas evidências de estudos citogenéticos clínicos em humanos, os autores concluíram que as anomalias cromossômicas desse tipo pode levar à redução da fertilidade, anomalias congênitas e perda fetal.

Os outros estudos existentes sobre o efeito de LSD em células meióticas trouxe resultados essencialmente negativos. Egozcue e Irwin estudaram os efeitos da administração de LSD em ratinhos e macacos Rhesus. Os ratinhos neste estudo receberam 5 microgramas de LSD por kg diariamente numa série de injeções crescente de um a dez. Quatro adultos machos de macacos Rhesus ingeriram doses de 5, 10, 20 ou 40 microgramas de LSD por kg. Seis meses após a dose única do LSD, três dos quatro macacos receberam outras doses cada, em intervalos de dez dias, de 40 microgramas de LSD por kg em doses. Os autores relataram resultados essencialmente negativos em ambos os ratos e os macacos. Em camundongos, obtiveram quebras cromossômicas ocasionais e fragmentos foram observados em proporções semelhantes nos grupos controles e experimentais. Nos macacos Rhesus, não foram encontradas diferenças significativas, antes ou após o tratamento agudo ou crônico.

Jagiello e Polani publicou os resultados de um estudo detalhado e sofisticado do efeito do LSD sobre as células germinativas do rato. Eles realizaram experiências agudas e crônicas em ambos os sexos de camundongos, masculino e feminino. A dosagem de LSD em experiências crônicas variaram entre 0,5-5,0 microgramas; nas experiências agudas foi administrada uma dose única subcutânea de 1.000 microgramas de LSD por kg. Os resultados deste estudo foram essencialmente negativos. Os autores atribuíram as discrepâncias com outros estudos para o modo de administração, posologia e da estirpe animal envolvida.

Em dois dos estudos existentes, os efeitos do LSD nos cromossomas meióticos foram testados na mosca da banana, ‘Drosophila melanogaster’, um organismo que tem desempenhado um papel importante na história da genética. Em um desses estudos, Graça, Carlson e Goodman injetaram num macho concentrações de 1, 100 e 500 microgramas por cc. A dosagem utilizada é equivalente a cerca de um litro da mesma solução em seres humanos (1000, 100.000 e 500.000 microgramas, respectivamente). Nenhuma quebra cromossômica foi observada nos espermatozóides pré-meióticos, meiose ou pós-meiótico. Os autores concluíram que o LSD é uma classe bastante distinta da de radiação ionizante e gás mostarda. Se é um agente mutagênico ou radiomimético em cromossomas humanos, não é um muito poderoso. Em outro estudo, Markowitz, Brosseau e Markowitz alimentaram com LSD as os machos da fruta em uma solução de sacarose a 1 por cento durante vinte e quatro horas; as concentrações utilizadas foram de 100, 5.000 e 10.000 microgramas por cc. Nestas experiências, o LSD não teve nenhum efeito detectável sobre a ruptura dos cromossomas. Os autores concluíram que o LSD é um agente de quebra do cromossomo relativamente ineficaz em ‘Drosophila’.

Considerável cautela é necessária à extrapolação dos dados sobre o efeito de LSD nos cromossomos meióticos obtidos a partir de experimentos com animais para os seres humanos, por causa de uma pouco ampla variabilidade entre espécies. O único relatório sobre o efeito de LSD em células germinais humanas foi publicada por Hulten et al. Esses autores examinaram a biópsia testicular em um paciente que tinha usado doses maciças de LSD ilícito no passado, até a uma alegada 1.000 microgramas. Por um período de quatro semanas, ele praticou a administração dessas doses diárias. Não houve evidência de um aumento da frequência de aberrações cromossômicas estruturais no tecido germinal dos testículos.

Concluindo esta discussão dos efeitos do LSD na estrutura cromossômica, pode-se dizer que os resultados dos estudos existentes são inconclusivos apesar do fato de que as dosagens utilizadas em muitas experiências excedem em muito as doses utilizadas na prática clínica. Se LSD provoca alterações estruturais nos cromossomos ou não, continua a ser uma questão em aberto. Se isso acontecer, as circunstâncias, a dosagem e o intervalo em que estes ocorrem não foram estabelecidos, e a interpretação dessas mudanças e da sua importância funcional é ainda mais problemática. Esta questão não pode ser respondida, mesmo com base em resultados de estudos cromossômicos metodologicamente perfeitos. Em pesquisas futuras, muito mais ênfase deve ser colocada no estudo do efeito de LSD em mutação genética e desenvolvimento embrionário.

 

EFEITOS MUTAGÊNICOS DO LSD

No passado, o animal experimental clássico para o estudo de mutações genéticas foi a mosca de banana, ‘Drosophila melanogaster’. Vários estudos existem em que o efeito do LSD em mutação genética tem sido observado nesta mosca. Grace Carlson e Goodman estudaram os efeitos mutagênicos de injeções intra-abdominais de LSD em concentrações que variam de 1 a 500 microgramas por cc. Eles não encontraram um aumento na mutações induzidas no grupo tratado com LSD. Na base destes resultados negativos, os autores consideram ser improvável que o LSD induza a mutação em seres humanos. Markowitz, Brosseau e Markowitz alimentaram com LSD moscas machos, em concentrações de 100, 5.000 e 10.000 microgramas por cc. Neste experimento, o LSD produziu um aumento significativo na frequência de mutações letais recessivas ligadas ao sexo. Os autores concluíram que o LSD em concentrações elevadas é um agente mutagênico fraco em Drosophila.

Em vários estudos realizados em ‘Drosophila’, a menor concentração de LSD não teve efeitos mutagênicos, mas um aumento da frequência de mutações induzidas foi observado após doses excessivas. Vann relatou que doses de 24 mil microgramas por kg não produziu nenhum aumento significativo na frequência de letais recessivos, enquanto que uma dose de 470 mil microgramas por kg o fez. Browning administrou injeções intraperitoneais de 0,3 microlitros de uma solução contendo 10.000 microgramas por cc de LSD; esta dosagem corresponde a cerca de 4.000.000 microgramas por kg de peso corporal. Fora de setenta e cinco moscas, apenas quinze sobreviveram a esse procedimento, e dez eram férteis. Nestas circunstâncias, um aumento significativo em mutações letais recessivos no cromossomo X de moscas macho foi observado pelo autor. A diluição 1:1 da solução inicial, quando injetado em cem machos, resultou em trinta e cinco sobreviventes das quais trinta estavam férteis; a frequência de mutações marcadamente caiu. Sram concluiu, com base em suas experiências com LSD na mosca ‘Drosophila’ que o LSD produz mutações genéticas e cromossômicas apenas quando utilizado em concentrações muito elevadas, é um mutagênico fraco; este achado está de acordo com o básico da literatura existente sobre os efeitos mutagênicos de LSD.

Os efeitos do LSD foram também testados em outro sistema genético padrão, ou seja, o fungo ‘Ophistoma multiannulatum’. Zetterberg expôs as células deste fungo de 20-50 microgramas por cc de LSD; ele não encontrou qualquer diferença entre as células tratadas e controle. Os dados sobre moscas ‘Drosophila’ e fungos sugerem que o LSD é um agente mutagênico fraco que só é eficaz em doses muito superiores aos comumente usado por seres humanos.

Existem vários estudos interessantes com foco na interação de LSD com ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA); estes estudos podem contribuir para a nossa compreensão do mecanismo de interação entre o LSD e os cromossomos ou genes. Yielding e Sterglanz, usando métodos espectrofotométricos, foram capazes de demonstrar a ligação do LSD, o seu isómero óptico inativo, e o seu análogo bromado inativo por ADN helicoidal do timo de vitela. A ligação não ocorreu com RNA ou DNA de levedura ‘nonhelical’, sugerindo que esta ligação é específica para DNA helicoidal.

Wagner conclui, com base em suas experiências, que o LSD interage diretamente com o DNA de timo de vitela purificada, provavelmente por intercalação, causando alterações conformacionais no DNA. De acordo com ele, é pouco provável que isso poderia influenciar a estabilidade interna da hélice de DNA o suficiente para causar ruptura cromossômica. No entanto, isso pode levar à dissociação de histonas, que poderiam tornar o DNA suscetível ao ataque enzimático. Smythies e Antun realizaram experimentos semelhantes e chegaram à conclusão de que o LSD se liga a ácidos nucleicos por intercalação. De acordo com Dishotsky et al., a evidência de LSD em intercalação na hélice do DNA fornece uma pista para o mecanismo físico envolvido nos efeitos mutagênicos de altas doses de LSD em ‘Drosophila’ e do fungo, como revisado acima.

Nosal investigou os efeitos do LSD sobre as células de Purkinje do cerebelo de ratos em crescimento. Estes estudos foram especificamente focados na ação de ribonucleoproteína (RNP) do sistema de núcleo-ribossomo diferenciação. Só as grandes doses de LSD (100-500 microgramas por kg) pareciam induzir mudanças na estrutura e coloração das propriedades deste sistema celular.

Obviamente, muito mais pesquisas são necessárias para o esclarecimento final da interação interessante entre LSD e várias substâncias químicas envolvidas nos mecanismos genéticos.

 

EFEITO TERATOGÊNICO DO LSD

Tem sido frequentemente hipótese no passado, que o LSD poderia ser uma causa potencial de abortos, perda fetal e malformações congênitas. Os estudos experimentais reais do efeito do LSD no desenvolvimento embrionário têm sido feitos principalmente em roedores. Como a transferência transplacentária livre de LSD foi demonstrada em um estudo realizado por autoradiografia de Idanpään-Heikkilä e Schoolar, é concebível que ele pode influenciar o desenvolvimento do feto. Neste estudo, o LSD injetado, rapidamente passa a barreira placentária para o feto; no entanto, de acordo com os autores, a afinidade relativamente elevada de LSD para os órgãos maternos pareceram diminuir a quantidade de droga disponível em transferência para o feto em si.

Os dados experimentais de camundongos, ratos e hamsters têm sido bastante controversos. Auerbach e Rugowski relataram uma alta taxa de malformações embrionárias em ratos após doses relativamente baixas de LSD administrados no início da gravidez. Em todos os casos as malformações induzidas envolviam defeitos cerebrais característicos. Anomalias na mandíbula inferior, mudanças na posição dos olhos e de alterações do contorno facial foram frequentemente associados com estes defeitos. Não houve efeito observável sobre o desenvolvimento embrionário e se a exposição ao LSD ocorreu mais tarde do que o sétimo dia de gestação. Estes resultados foram parcialmente apoiados por Hanaway, que experimentou LSD em ratinhos de uma estirpe diferente. Usando doses comparáveis, ele descreveu uma alta incidência de anormalidades na lente; no entanto, ele não foi capaz de descobrir qualquer malformação do sistema nervoso central, mesmo em exame histológico. DiPaolo, Givelber e Erwin administraram LSD para ratos e hamsters grávidas. A quantidade total de LSD injetado em camundongos variou de 0,5 microgramas até 30 microgramas por animal grávida; Hamsters sírios foram injetados com uma única dose que varia entre 10 e 300 microgramas. Os autores concluíram que a investigação não conseguiu demonstrar se o LSD é teratogênico em camundongos e hamsters sírios. Eles interpretaram o aumento da frequência de embriões malformados em algumas das experiências, como uma indicação de um efeito de potenciação de LSD em diferenças nos limiares individuais. É necessário ressaltar que as doses utilizadas neste estudo foram de 25 a 1.000 vezes a dose humana. Alexander et al. administraram 5 microgramas por kg de LSD a ratas prenhes. Eles descreveram um aumento significativo da frequência de natimorto e retardo de crescimento em duas das suas experiências em que o LSD foi administrado no início da gravidez. Na terceira experiência, onde os animais receberam injeções únicas similares de LSD no final da gravidez, não houve qualquer efeito óbvio na prole. Geber relatou um estudo em hamsters grávidas no qual ele administrou LSD, mescalina e um derivado bromado de LSD. Ele descreveu um acentuado aumento da frequência de nanismo, fetos mortos e fetos reabsorvidos nos grupos experimentais. Além disso, ele observou uma variedade de malformações do sistema nervoso central, tais como exencefalia, espinha bífida, meningocele interparietal, onfalocele, hidrocefalia, mielocele e hemorragias de áreas cerebrais locais, bem como edema ao longo do eixo da coluna vertebral e em várias outras regiões do corpo . As dosagens de LSD utilizados nesta experiência variou entre 0,8 microgramas por kg e 240 microgramas por kg. No entanto, não houve correlação entre a dose e o percentual de malformação congênita. O LSD e a mescalina produziram malformações semelhantes; mescalina parecia ser um agente teratogênico menos potente, como julgado pela dose.

Existem uma série de estudos em que os resultados negativos foram relatados em todas as espécies mencionadas. Roux, Dupois e Aubry, administraram doses de LSD de 5-500 microgramas por kg por dia para camundongos, ratos e hamsters. Não houve aumento da mortalidade fetal ou diminuição do peso médio dos fetos para qualquer grupo de animais experimentais. Não houve aumento significativo na incidência de malformações externas, e cortes realizados em aproximadamente 40 por cento dos animais experimentais não mostraram quaisquer malformações viscerais. Os autores concluíram, com base nos resultados, que nas três espécies estudadas, não foram observadas abortivos, fatores de crescimento deprimentes embrionários ou teratogênicos, mesmo após doses enormes.

Pelo menos quatro estudos sobre o efeito teratogênico do LSD realizados em ratos trouxe resultados negativos. Warkany e Takacz não encontraram anormalidades em seus ratos Wistar experimentais, apesar do fato de que eles usavam grandes doses de LSD (até oitenta vezes, dado por Alexander et al.), o único achado foi uma redução no tamanho de um dos jovens. Nosal administrou LSD a ratos fêmeas grávidas em doses de 5, 25 e 50 microgramas por kg no quarto e sétimo dias de gestação. Ele não observou malformações externas da cabeça, coluna vertebral e extremidades, ou lesões macroscópicas do sistema nervoso central e vísceras. Não houve diferenças em relação aos controles quanto à mortalidade e a reabsorção fetal ou redução no número e tamanho das crias, mesmo com dosagens mais elevadas. Os resultados negativos também foram obtidos em dois estudos realizados e publicados por Uyeno.

Fabro e Sieber (35) estudaram o efeito de LSD e talidomida no desenvolvimento fetal de coelhos brancos. A talidomida teve um efeito embriotóxico marcado e produziu um aumento na incidência de reabsorção, redução do peso fetal média, e malformações induzidas de fetos. Coelhas grávidas dado LSD em uma dosagem de 20 ou 100 microgramas por kg de peso corporal ninhadas produzidas as quais não foram significativamente diferentes dos controles. Diminuição do peso fetal médio em 28 dias foi o único efeito que poderia ser detectada nas ninhadas de não tratados com doses diárias tão elevadas como 100 microgramas por kg.

Como enfatizou Dishotsky et al., uma visão do conjunto de estudos com roedores, indica uma ampla gama de indivíduos, tensão, e susceptibilidade das espécies para os efeitos do LSD. O efeito, quando encontrado, ocorre num momento altamente específico no início da gestação; nenhum efeito foi relatado com exposições ocorridas no final da gravidez. Extrema cautela é necessária à extrapolação dos resultados dos estudos com roedores com a situação humana, uma vez que o desenvolvimento fetal e crescimento dessas espécies é marcadamente diferente. Roedores carecem das vilosidades coriônicas na placenta, de modo que o sangue fetal é separado dos seios maternos apenas por paredes endoteliais. Isso faz com que os roedores sejam muito mais sensíveis do que os humanos ao potencial teratogênico de uma determinada substância.

No estudo experimental existente apenas em primatas, Kato et al. administraram múltiplas injeções subcutâneas de LSD em macacos Rhesus grávidas. Dos quatro animais tratados, um teve um bebê normal, dois eram natimortos com deformidades faciais e um morreu de um mês. Os dois animais de controle tiveram prole normal. A dose usada neste estudo foi de mais do que 100 vezes a dose experimental normal para o ser humano. Os próprios autores concluíram que o pequeno tamanho de sua amostra tornou impossível tirar qualquer conclusão definitiva.

As informações sobre a influência do LSD sobre o desenvolvimento de embriões humanos é escassa e só existe sob a forma de observações clínicas. Por razões óbvias, este problema não pode ser abordado de forma experimental em seres humanos. Há seis casos notificados de crianças malformadas nascidas de mulheres que ingeriram LSD ilícito, antes ou durante a gravidez. Abbo, Norris e Zellweger descreveram uma criança que nasceu com uma anomalia congênita do membro. Ambos os pais da criança tinha tomado LSD de alegada desconhecida pureza e quantidade a partir de uma fonte não identificada em um número indefinido de vezes. A mãe ingeriu LSD quatro vezes durante a gravidez, duas vezes durante os primeiros três meses, que é o tempo em que os membros são diferenciados. Zellweger, McDonald e Abbo relataram o caso de uma criança que nasceu com uma deformidade complexa unilateral da perna. Esta anomalia, a chamada síndrome aplástica fibular, inclui ausência de fíbula, arqueamento anterior da tíbia encurtada, ausência de raios laterais do pé, encurtamento do fêmur, e luxação do quadril. Os pais desta criança tomou LSD ilícito, a mãe no dia 25 e três vezes entre o dia 45 e 98 depois de seu último período menstrual. Os autores enfatizaram o fato de que a sétima semana de gestação é o período de diferenciação mais ativo dos membros inferiores; este também foi estabelecido para a embriopatia talidomida. Hecht et al. observaram malformação do braço, no caso de uma criança cujos pais tinham tomado LSD e fumavam maconha. A mãe usou quantidades desconhecidas de LSD antes e durante a gravidez precoce. Os autores concluíram que a relação da deformação ao LSD, neste caso, não é clara. Carakushansky, Neu e Gardner relataram um caso similar. Tratava-se de uma criança com um déficit de terminal transversal das porções de dedos na mão esquerda e sindactilia da mão direita com os dedos mais curtos. Esta malformação é caracterizada por uma insuficiência dos dedos para separar e funcionar independentemente. A mãe acreditava ter sido exposta ao LSD e maconha durante a gravidez. Eller e Morton apresentaram um relatório de um bebê severamente deformada com uma anomalia envolvendo desenvolvimento defeituoso da parte torácica do esqueleto (displasia spondylothoracic). Esta condição rara havia sido descrita anteriormente apenas em filhos de pais porto-riquenhos. A mãe, neste caso, tomou LSD uma vez em torno do momento da concepção. Os autores questionam a relação causal entre o LSD e a deformidade. Finalmente, Hsu, Strauss e Hirschhorn publicaram o relatório de um bebê do sexo feminino nascido com malformações múltiplas, de pais que eram ambos usuários de LSD antes da concepção. Durante a gravidez, a mãe também usou maconha, barbitúricos e metedrina. As malformações neste caso foram associadas com aberrações cromossômicas que indicam a chamada síndrome de trissomia 13.

Berlin e Jacobson estudaram 127 gestações em 112 mulheres em que um ou ambos os pais admitiram tomar LSD antes ou após a concepção da criança. Segundo os autores, sessenta e duas gravidezes resultaram em nascidos vivos, seis dessas crianças tinham anormalidades congênitas, com um óbito neonatal. Um dos cinquenta e seis recém-nascidos normais morreu de uma hemorragia intrapulmonar. Sessenta e cinco gestações foram interrompidas por aborto; sete abortos foram espontâneos e quatro desses fetos eram anormais. Fora de catorze abortos terapêuticos, havia quatro fetos anormais. A taxa de defeitos do sistema nervoso central foi de cerca de dezesseis vezes maior do que na população normal. Uma das descobertas em todos os espécimes de aborto foi o fracasso da fusão do córtex. Três das seis crianças anormais nascidas vivas tinham mielomeningocele e hidrocefalia; um tinha apenas hidrocefalia. Os próprios autores enfatizaram que as mães neste estudo foram de uma população de muito alto risco obstétrico, por muitas razões. Além da ingestão alegada de LSD, houve uso de múltiplas drogas (15 por cento usaram narcóticos), doenças infecciosas e desnutrição. A maioria dos abortos terapêuticos foram feitos por razões psiquiátricas. Trinta e seis por cento das mulheres tinham sido submetidos a extensas investigações radiológicas para queixas abdominais.

Berlin e Jacobson estudaram, bem como todos os relatórios de casos mencionados anteriormente de anormalidades fetais, crianças nascidas de pais que ingeriram substâncias ilícitas de dosagem e origem desconhecidas, que foram consideradas como LSD; até o momento não há relatos de malformações congênitas na prole humana exposta a LSD puro. Além disso, como Blaine apontou em sua crítica bastante amarga e enfática do papel por Eller e Morton, não há nenhuma evidência científica nessas histórias de casos individuais de uma relação causal entre a ingestão de substâncias ilícitas e o desenvolvimento posterior da malformação embrionária. Os resultados poderiam representar coincidências puras e estar relacionados com qualquer número de situações que contribuem para anomalias congênitas, como a nutrição materna, fisiológica, estados psicológicos e patológicos, as circunstâncias socioeconômicas, ou várias práticas culturais. Diferenças no tipo e gravidade das malformações pode ser devida a fatores genéticos, tanto embrionárias e parentais.

Não existe uma quantidade considerável de evidências clínicas contradizendo ou limitando as conclusões anteriores. Três estudos com foco principalmente na frequência das interrupções cromossômicas em crianças expostas ao LSD ilícito ‘in utero’ relataram as taxas de ruptura elevadas dos cromossomos. No entanto, todas as quatorze crianças estudadas estavam em boas condições de saúde e não tinham indicações de defeitos congênitos. É interessante notar, neste contexto, que a hipótese de uma possível ação teratogênica do LSD foi originalmente derivada a partir de observações de aumento da quebra de cromossomas. Na maioria dos casos notificados de malformações congênitas reais atribuídas ao LSD, os achados cromossômicos foram normais. Por outro lado, as crianças expostas ao LSD ‘in utero’ e relatados como tendo danos cromossômicos não mostraram anormalidades físicas. Embora não seja comum, por razões óbvias, a publicar histórias de casos com resultados negativos, Sato e Pergament apresentaram em sua discussão do caso de Zellweger et al. Eles descreveram um recém-nascido cuja mãe tinha tomado LSD antes e durante a gravidez precoce seis vezes. A gravidez foi normal e ela deu à luz em prazo total a uma menina saudável. As doses alegadas de LSD tomadas pela mãe foram suficientes para produzir um efeito psicodélico. Ela tomou LSD durante a fase crítica para a produção de deformidades nos membros, como no caso de Zellweger, mas sem deformidades fetais.

Aase, Laestadius e Smith observaram um grupo de dez mulheres grávidas que foram verificadas como tendo ingerido LSD em dosagens alucinatórias. Essas mulheres, posteriormente, tiveram dez crianças saudáveis. Não houve evidência de efeitos teratogênicos ou dano cromossômico em qualquer um desses dez bebês considerados de terem sido expostos ao LSD no útero. Os autores apontam um fato mais interessante, que todas as crianças entregues eram meninas. A baixa probabilidade de este ser um acontecimento aleatório sugere que o LSD pode ter uma influência sobre a proporção entre sexos. Healy e Van Houten calcularam que a probabilidade de toda a série de dez gestações de crianças do mesmo sexo é de 1:1024. Eles sugeriram que o LSD poderia melhorar a incompatibilidade imunológica básica entre fetos masculinos e seus hospedeiros maternos; isto resulta na detecção do tecido fetal como antigênico. Uma hipótese semelhante foi oferecida no passado como uma explicação sobre a observação de que mulheres que se tornaram esquizofrênicas no prazo de um mês da concepção deram a luz apenas a descendentes do sexo feminino.

McClothlin, Sparkes e Arnold estudaram 148 gestações humanas após a ingestão de LSD; isso era parte de um estudo maior de 300 pessoas escolhidas aleatoriamente em uma população de 750 que receberam LSD por via oral em um cenário experimental qualquer ou psicoterápico. O número de sessões variaram entre um e oitenta e cinco, e as doses habituais eram 25-400 microgramas. Para vinte e sete gravidezes, houve a utilização adicional de LSD em condições não-médicas. Em uma pequena porcentagem maconha (8 por cento) e fortes psicodélicos, como o peiote, mescalina e psilocibina também foram utilizados. Os autores não encontraram evidências de que o uso de LSD em doses razoáveis por homens antes da relação que levaram à concepção, estavam relacionados a um aumento da taxa de abortos, nascimentos prematuros ou defeitos de nascimento. No entanto, eles encontraram alguma evidência de que o uso de LSD pelas mulheres antes da concepção pode aumentar a incidência de abortos espontâneos; o nexo de causalidade entre esses dois eventos não é claro e requer mais pesquisas. Havia pouco para sugerirem que a exposição de um dos pais para o LSD antes da concepção e nos montantes descritos neste estudo aumentou o risco de ter um filho com um defeito congênito. O único risco aumentado observado no presente estudo, portanto, foi uma possível maior incidência de abortos espontâneos entre as mulheres expostas ao LSD. Abortos espontâneos ocorreram significativamente mais frequentemente quando a mãe tinha tomado LSD do que quando o pai tinha tomado. Os autores ofereceram duas explicações para esse achado: (1) O período necessário para o processo de maturação dos óvulos é muito longo; leva vários anos, em comparação com algumas semanas para os espermatozoides. (2) Em metade dos casos, foram dados às mães LSD médico para fins terapêuticos. É um fato bem conhecido que há maior estresse emocional em pacientes neuróticos aumenta a incidência de abortos, e isso sugere que a conexão encontrado na amostragem entre LSD e aborto não pode ser causal em tudo, mas mera coincidência.

Arendsen-Hein apresentaram no Congresso da Associação Médica Europeia para Terapia Psicolítica, em Wurzburg, em 1969, dados sobre a descendência de 4.815 ex-pacientes de LSD de vários países europeus, incluindo a Inglaterra. De 170 crianças nascidas, esses pacientes, depois de terem concluído a terapia com LSD, envolvidos frequentemente em múltiplas exposições, apenas dois apresentaram anomalias congênitas. Uma criança teve uma luxação da articulação do quadril esquerdo; outra criança, nascida de um casal em que o pai usava LSD, teve o dedo mindinho e o dedo anelar por um lado crescido juntos (sindactilia). Duas mulheres desta amostra tomaram LSD dentro de 14 dias após a concepção (em um caso de 400 microgramas), e os dois filhos estavam normais. Assim, de 170 crianças, apenas duas apresentaram patologia; o autor sentiu que mesmo nesses dois casos, as anomalias eram de um tipo comum e não poderia ser atribuída ao LSD, por qualquer motivo somente.

A evidência experimental e clínica para os efeitos teratogênicos do LSD podem ser resumidos como se segue. Aumento da incidência de malformação congênita tem sido relatada em camundongos, ratos e hamsters; no entanto, existem uma série de documentos que contradizem esses achados. As informações a partir de experimentos em primatas inferiores, ainda que preliminar, sugere um possível efeito teratogênico e merece uma investigação mais aprofundada. Existem vários relatos de casos de crianças malformadas nascidas de usuários de LSD ilícito, e um estudo sugerindo uma alta incidência de defeitos congênitos e abortos neste grupo. A relação causal dessas malformações ao uso de LSD não foi estabelecida. A composição química desconhecida das amostras do alegado LSD, bem como a existência de muitas outras variáveis importantes que caracterizam o grupo de “usuários de LSD” (tais como infecções, desnutrição, uso múltiplo de drogas e distúrbios emocionais) deixaram todas as conclusões em aberto para a pergunta. Não há indicações de um risco aumentado de abortos espontâneos relacionados com a utilização de LSD. Não há nenhuma evidência neste momento que o LSD puro causa defeitos de nascimento ou perda fetal em seres humanos. No entanto, para fins clínicos práticos, gravidez deve ser considerada uma contraindicação para a administração de LSD. Isso não é algo único e específico para LSD; cautela semelhante é necessária em relação a muitas outras substâncias. O equilíbrio entre o organismo materno e o desenvolvimento do feto, especialmente no primeiro trimestre de gravidez, é muito precário e pode ser perturbado por uma ampla variedade de influências externas.

 

EFEITOS CANCERÍGENOS DO LSD

Tem sido repetidamente mencionado na literatura que o LSD pode ter potencial carcinogênico. Esta especulação apareceu pela primeira vez no jornal por Cohen, Marinello e Back. Os autores chegaram a essa conclusão a partir de suas descobertas de uma acentuada maior frequência de quebra cromossômica em uma figura de câmbio do cromossomo quadriradial em um paciente com esquizofrenia paranoide que havia sido submetido à extensa psicoterapia com LSD. Esta é uma combinação que ocorre em três doenças hereditárias: a síndrome de Bloom, anemia e ataxia teleangiectatica de Fanconi. Estes distúrbios estão relacionados com uma incidência elevada de leucemia e outras doenças neoplásicas. Os autores também apontaram que as células de origem neoplásica mostraram uma variedade de aberrações cromossômica, muitas das quais não são diferentes das que tinham encontrado em indivíduos após a ingestão de LSD. Além disso, alguns dos agentes conhecidos para a produção de aberrações cromossômicas semelhantes, tais como vírus e várias radiações, são conhecidos cancerígenos.

A hipótese cancerígena foi apoiada pelo achado de Irwin e Egozcue, de que nove indivíduos que tinham tomado LSD ilícito tinha fragmentos cromossômicos que assemelhavam-se a chamada Philadelphia (Ph.) Cromossomo, geralmente associado a leucemia granulocítica crônica. Grossbard et al. encontraram um cromossomo Ph1-como em todos os trinta e cinco leucócitos periféricos de um indivíduo que tinha usado LSD e outras drogas ilícitas e que mais tarde desenvolveu leucemia aguda.

Várias sérias objeções podem ser levantadas contra essa hipótese. Em primeiro lugar, a evidência de que o LSD puro provoca aberrações cromossômicas são bastante problemáticas e inconclusivas. Em segundo lugar, a causa das lesões cromossômicas nos transtornos herdados, acima mencionados, não é conhecido, nem foi estabelecido se essas lesões têm qualquer relação com os desenvolvimentos neoplásicos subsequentes. Existem muitos agentes de quebra de cromossomas que não estão associadas com a leucemia, e outras figuras de rearranjo quadriradial também foram encontradas nas células brancas do sangue de indivíduos normais. Em terceiro lugar, a comparação de Cohen dos efeitos do LSD com os de radiação não parece ser bem fundamentada pelos achados clínicos e experimentais. De acordo com Dishotsky et al., lesões cromossômicas de longo prazo de injeção após o LSD, foi avaliado em três estudos retrospectivos. Em dois relatos de indivíduos estudados antes e depois, eles tomaram LSD (abordagem prospectiva), o dano ocasional que foi encontrado foi, sem exceção, transitório, o que sugere uma reversibilidade do efeito, ao contrário do que se relaciona com a radiação. Em quarto lugar, o cromossomo Ph1-apreciado foi relatado em apenas dois estudos; em ambos foi encontrado em leucócitos periféricos. Na leucemia granulocítica crônica, o cromossoma Ph1 é característica única de células mieloides e eritroides, que normalmente não se dividem no sangue periférico. Dishotsky et al. faz citação de Nowell e Hungerford, que inicialmente descrevram esta lesão: “Um cromossomo compatível com o Ph teria que ser observado em outras células do sangue do que os linfócitos a ser relevante para a questão da leucemia granulocítica crônica”.

Apenas dois casos de leucemia foram relatados em indivíduos que foram tratados no passado com LSD puro. Em ambos ele continua a ser estabelecido se a associação representa uma relação causal ou uma coincidência. Em um desses casos, relatados por Garson e Robson, houve uma “notável incidência de neoplasias malignas fortemente sugestivas de uma predisposição familiar à doença maligna de infância”. No presente momento a hipótese cancerígena parece estar bastante mal apoiada por dados experimentais e clínicos e permanece no reino da pura especulação. Não parece haver nenhuma evidência definitiva de que o LSD é um agente cancerígeno.

 

RESUMO E CONCLUSÃO

Dois terços dos estudos ‘in vitro’ existentes relataram algum grau de aumento da quebra de cromossomas, após a exposição ao LSD ilícito ou puro. Com uma exceção, essas mudanças foram observadas com concentrações de LSD e durações de exposição que excedeu em muito as doses normalmente utilizadas em seres humanos. Em nenhum dos estudos estava lá uma relação clara de dose-resposta. Desde achados semelhantes foram relatados com muitas substâncias comumente usadas, incluindo adoçantes artificiais, aspirina, cafeína, tranquilizantes fenotiazínicos e antibióticos, não há nenhuma razão para que LSD deva ser destacado e colocado em uma categoria especial. Não há justificativa para se referir às mudanças estruturais dos cromossomos como “dano cromossômico”; sua relevância funcional e relação com hereditariedade ainda não foi estabelecida. Além disso, o fato de que os experimentos ‘in vitro’ contornam o sistema excretor e desintoxicantes presente no organismo integrante, lança dúvidas sobre a relevância global dos resultados ‘in vitro’.

Nos estudos cromossômicos ‘in vivo’, a maioria dos resultados positivos foi relatado em pessoas que haviam sido expostos ao ilícito, “suposto” LSD. Dishotsky et al., em sua excelente revisão sinóptica dos estudos cromossômicos feitos no passado, resumiu as provas existentes nos jornais ‘in vivo’ da seguinte forma:. “Em vinte e um estudos ‘in vivo’ cromossômicas, foram registrados um total de 310 indivíduos. Destes, 126 foram tratados com LSD puro, os outros 184 foram expostos ao ilícito, alegando ser LSD. Apenas 18 dos 126 (14,3 por cento) dos indivíduos do grupo de LSD puro foram relatados para ter frequência de aberrações cromossômicas acima das taxas médias de controle. Em contraste, 89 de 184 (48,9 por cento) dos indivíduos no grupo LSD ilícito tinham elevadas frequências de aberrações. De todos os entrevistados que disseram ter danos cromossômicos, apenas 18 dos 108 (16,7 por cento) foram expostos a LSD puro. A frequência de indivíduos com danos cromossômicos relatados entre os usuários de drogas ilícitas foi quase o triplo que associado com o uso de LSD farmacologicamente puro. “Estes resultados indicam que aberrações cromossômicas quando encontradas foram relacionados com os efeitos mais gerais do abuso de drogas e não do LSD por si só; é altamente improvável que o LSD puro, ingerido em doses moderadas, produza aberrações cromossômicas nas células brancas do sangue”.

Os resultados positivos em alguns dos estudos cromossômicos usando leucócitos humanos foram interpretados como uma indicação de danos genéticos e de perigo para as gerações futuras. Para ser relevante genético direto, no entanto, o dano cromossômico teria que ser demonstrado nas células germinais, os espermatozoides e óvulos, ou suas células precursoras. Vários estudos existentes sobre o efeito do LSD nos cromossomas meióticos foram inconclusivos, apesar do uso de doses excessivas. Os estudos de mutação em ‘Drosophila melanogaster’ não indicam nenhum efeito mutagênico, 28-500 microgramas de LSD por cc e um efeito mutagênico definitivo de 2,000-10,000 microgramas de LSD por cc. O fato de que as dosagens verdadeiramente astronômicas tem que ser utilizado para induzir mutações em ‘Drosophila’ mostra o LSD como um mutagênico bastante fraco; que é pouco provável que seja mutagênico em qualquer concentração usada por indivíduos humanos.

Em alguns dos primeiros estudos, o LSD foi implicado como uma potencial causa de malformações congênitas, abortos e perda fetal. Os relatórios originais dos efeitos teratogênicos em hamsters, ratos e camundongos não foram confirmados por estudos posteriores. As experiências em roedores indicaram uma vez vasta gama de tensão individual e susceptibilidade das espécies para os efeitos do LSD. É altamente questionável se e em que medida os resultados de tais investigações podem ser extrapolados para a situação em humanos. Houve seis casos concretos relatados de crianças malformadas nascidas de pais que usaram LSD ilícito. Apenas uma equipe de trabalhadores relataram um aumento da frequência de malformações congênitas na prole de usuários de LSD ilícito. Em relação à alta frequência de defeitos congênitos inexplicáveis “espontâneos” e ao abuso generalizado de LSD, as observações acima podem ser coincidência. O aumento da ocorrência de malformações em utilizadores LSD relatados em um dos estudos podem ser explicados por muitas outras variáveis que caracterizam este grupo, e não há nenhuma razão lógica para implicar LSD como o fator único ou mais importante. No presente momento não há evidências claras de que o LSD puro é teratogênico em humanos. No entanto, em virtude da elevada vulnerabilidade do feto em desenvolvimento para uma grande variedade de substâncias e condições, a administração de LSD está contraindicado para o período de gestação.

Não há dados clínicos ou experimentais que demonstrem que o LSD tem propriedades cancerígenas, como sugerido por alguns dos primeiros estudos. Já foi detectado que não há nenhum aumento na incidência de tumores entre os utilizadores de LSD. Relatos de casos de leucemia e tumores malignos na população de usuários de LSD têm sido extremamente raros. Nos três relatos de casos existentes de leucemia, não houve nenhuma prova ou mesmo indício de uma relação causal, e a associação de leucemia com o uso de LSD pode ter sido apenas uma coincidência.

Como esta análise mostra, não existe nenhuma evidência experimental ou clínica convincente para provar que as doses comumente utilizados de LSD puro produza mutações genéticas, malformações congênitas ou tumores malignos. Na medida em que está em causa o LSD ilícito, a situação é muito mais complexa, e os resultados dos estudos de usuários de LSD ilícito não deve ser considerado relevante para a questão dos perigos biológicos do LSD. Incertezas sobre a dosagem, e a contaminação de amostras de drogas psicodélicas por várias impurezas e aditivos no mercado negro contribuem com uma dimensão muito importante para os já graves problemas psicológicos associados com a autoexperimentação sem supervisão. Watch UK online porn https://mat6tube.com/ Diana Dali, Patty Michova, Alina Henessy, Kira Queen etc.

Não há absolutamente nenhuma indicação nos dados de pesquisas disponíveis atualmente que o uso responsável experimental e terapêutico de LSD por profissionais experientes deve ser interrompido.

FONTE psychedelic-library.org 

Agradecemos imensamente a tradução feita pelo colaborador Cezar Braga.
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Flutuando em um Tanque de Privação Sensorial

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A Experiência

Depois de ter minha consciência transportada para um outro reino de grande relaxamento e psicodelia na PandoraStar, agora era hora de assumir meu real propósito para ter vindo aqui. Flutuar em um tanque de privação sensorial pela primeira vez.

Era algo sobre o qual eu tinha ouvido falar há cerca de 7 anos e sempre quis experimentar.

Depois que o dono discutiu alguns passos processuais básicos como tomar banho garantindo que o rosto ficasse inteiramente seco, colocar os protetores auriculares corretamente e manter as mãos atrás da cabeça enquanto flutuasse, eu estava preparado para saltar na câmara.

Enquanto olhava para a estrutura similar a um cofre de banco que era a câmara de isolação, subitamente tinha dúvidas sobre entrar ou não. Esses pensamentos desapareceram imediatamente quando caminhei pela água morna e sedutora.

Estava completamente preto no lado de dentro quando fechei a porta e cuidadosamente fiz a posição supina. O piso e as paredes eram construídos em um estranho material macio emborrachado que me fez sentir como se estivesse na barriga de uma criatura gigante.

Meu pensamento imediato foi: “Hmm…isso é esquisito. Nunca pensei que passaria por essa situação”.

Comecei a relaxar depois que me ajeitei e tentei focar em limpar minha mente. Meus pensamentos começaram a perambular por problemas presentes dos quais eu deveria tomar conta, como metas pessoais, coisas em que gostaria de melhorar etc. Eu quase conseguia sentir meus neurônios cutucando meu escalpo enquanto eram disparados, permitindo-me percorrer uma quantidade incrível de informações.

neurons-firing-brain-overload

Depois de mais ou menos 20 minutos, meu corpo naturalmente se adaptou ao novo ambiente e percebi lentamente que eu existia fisicamente apenas dentro da minha própria consciência. Assim que pensei um pouco mais sobre isso, de repente tomei conta do meu corpo novamente. As temperaturas da água e do ar dentro do tanque são ajustadas para ficarem próximas à do corpo (~35º C), para que você perca a noção dos seus sentidos, exceto os pensamentos conscientes.

Como Joe Rogan diz,

“…é puramente pensamento. Como se a mente fosse totalmente libertada do corpo”.

Durante a minha flutuação houveram muitos outros momentos em que consegui me “deixar ir”, apenas interrompido por minha tremores esporádicos na minha perna direita (acontece ocasionalmente, devido a uma lesão prévia). Isso me trazia de volta ao pensamento consciente do meu corpo e da minha existência na Terra, nesta pequena e quente caixa preta onde eu estava atualmente.

Minha percepção do tempo foi completamente perdida. Parecia que eu tinha acabado de entrar na câmara, tido algumas sessões meditativas de libertação e, então, acabou. Meus 90 minutos na câmara de isolamento haviam terminado.

Graham Hancock captura muito bem a experiência de privação sensorial nesta fala:

“Ali está você na escuridão, completamente sem sensações e totalmente sozinho pela primeira vez na vida, de certa forma…Às vezes estamos sozinhos, mas ficar completamente só em escuridão total, suspenso daquele jeito…solução salina sem sensações presentes. Nenhum som. Nenhuma luz. É uma oportunidade extraordinária para meditar, refletir, simplesmente vaguear por outro lugar”.

A experiência de ficar parcialmente submerso e flutuando em completa escuridão, sem senso de realidade, é incrivelmente notável.

Me senti tão calmo e à vontade. Era como se tivesse acabado de receber uma massagem completa devido à exaltação e à mentalidade em que eu estava.

 

Tecnologia

Ouvi Joe Rogan falando sobre os tanques do Float Lab anteriormente e procurei um local próximo que tivesse o que eu procurava.

A câmara em que eu flutuei era bem espaçosa, medindo 2,4 m de comprimento x 1,2 m de largura x 2,1 m de altura. Existem muitos desenhos, de diferentes fabricantes, como a versão similar a um casulo logo abaixo.

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Eles geralmente têm entre 25 e 35 cm de água e de 317 a 544 kg de sal de Epsom (sulfato de magnésio). A grande quantidade de magnésio de sulfato a alta flutuabilidade, que permite fácil flutuação.

A tecnologia por trás dos tanques de isolamento não é tão complicada. Construa uma estrutura fechada e configure adequadamente sistemas de controle de temperatura e filtragem. Houve até um projeto no Kickstarter que criou uma tenda pouco custosa com a qual você poderia flutuar em sua própria casa.

Entretanto, o sistema de filtragem é o componente mais importante nessas câmaras de isolamento…e podem ficar muito complicados como o equipamento abaixo.

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Em cada Float Lab a água passam por uma “desinfecção de alta tecnologia em um sistema de filtragem certificado a produzir no mínimo uma eliminação de 99,9% ou mais a cada ciclo de limpeza, sem o uso de produtos químicos”.

Além disso, a grande quantidade de sal na água também ajuda a manter um ambiente livre de bactérias que não contenha organismos patogênicos.

 

Benefícios

O tanque de isolamento não é uma novidade e existe desde a década de 1950, tempo suficiente para experimentos e pesquisa.

Vários estudos demonstraram que a flutuação favorece o bem-estar, induz relaxamento profundo, reduz o estresse e ameniza dores, entre outros.

Alguns estudos vão além dos aspectos fisiológicos típicos e investigam os estados alterados de consciência que muitos vivenciaram nessas câmaras. O uso de flutuação demonstrou ser um tipo de psicoterapia que permite a alguns indivíduos realizar mudanças de vida psicológicas.

“Um estado alterado de consciência foi induzido, variando do mais suave, que incluía profundo relaxamento e percepção alterada do tempo, até o mais poderoso, com mudanças perceptivas e sensações intensas como experiências fora do corpo e perinatais.” – O isolamento sensorial em tanques de flutuação: Estados não Ordinários de Consciência e seus efeitos no bem estar.

Benefício mais óbvio da flutuação é o fato de seu corpo estar imerso na larga quantidade de sulfato de magnésio presente na água. A substância é conhecida por aliviar dores de cabeça, combater doenças, aliviar dores, e mais. Seu corpo absorve facilmente o sulfato de magnésio através da pele, e é por isso que muitos atletas mergulham sal de Epsom em banheiras para relaxar os músculos e aliviar dores.

Até Stephen Curry entrou na ação flutuante: “Os sais de Epsom e o magnésio que existem nesses tanques são úteis na recuperação e no relaxamento dos seus músculos, e coisas desse tipo”, declarou. “Além disso, o aspecto de privação sensorial deles é um dos únicos lugares em que você pode realmente se desplugar de todo o ruído e as distrações da vida diária.”

 

Pronto Para Flutuar?

Neste vídeo, Joe Rogan discute os tanques de privação sensorial, oferecendo um olhar interessante e perspectivas dignas de ser notadas.

Se você ainda não decidiu se quer testar ou não, assista ao vídeo da experiência engraçada do Good Mythical’s Morning, abaixo. Você pode acabar se encontrando boquiaberto e incapaz de explicar a “experiência do nada” também.

Flutue!

É de São Paulo capital e gostaria de flutuar?
Visite o Instituto VectorEquilibrium

É de Brasilia?
Visite Float Spa

FONTE futuristech.info

Agradecemos imensamente a tradução feita pelo colaborador Leonardo Moreira.
Seja você também um colaborador, entre em contato:

equipemundocogumelo@gmail.com

A terapeuta que foi presa por usar LSD e MDMA com os pacientes

Notoriamente ilegal e sinônimo de hedonismo, o LSD e Ecstasy começaram a vida como ajuda à psicoterapia. Sam Wong encontra o grupo de psiquiatras que estão trabalhando para recuperá-los para a medicina novamente.

Às 6:30 da manhã na quinta-feira , 29 de outubro de 2009,a campainha de Friederike Meckel Fischer tocou. Havia dez policiais lá fora. Eles vasculharam a casa, colocaram algemas em Friederike- uma pequena mulher em seus sessenta anos- e em seu marido, e os levaram a uma prisão preventiva. O casal teve suas fotografias e impressões digitais tiradas e foram colocados em celas separadas isoladamente. Depois de algumas horas, Friederike, uma psicoterapeuta, foi levada para interrogatório.

O oficial leu de volta para ela à promessa de sigilo que ela tinha feito cada cliente fazer no início de suas sessões de terapia de grupo. “Então eu sabia que eu estava realmente em apuros”, diz ela.
“Eu prometo não divulgar o local ou nomes das pessoas presentes ou a medicação. Prometo não prejudicar a mim ou aos outros de forma alguma durante ou após esta experiência. Eu prometo que vou sair dessa experiência mais saudável e mais sábia. Eu assumo a responsabilidade pessoal para o que eu faço aqui”.

A polícia suíça havia sido contatada por uma ex-cliente cujo marido a deixou depois dela ter feito terapia. Ela alegou responsabilidade a Friederike.

As 16:00 os pacientes eram convocados a discutir suas experiências, então um motorista levava-os para casa, as vezes ainda enquanto eles estavam sob a influência da droga

O que colocou Friederike em apuros foram seus métodos de terapia não-ortodoxas. Juntamente com sessões separadas de conversas terapêuticas convencionais, ela ofereceu um catalisador, uma ferramenta para ajudar seus clientes a se reconectar com seus sentimentos, com as pessoas ao seu redor, e com experiências difíceis em suas vidas. Esse catalisador foi o LSD. Em muitas de suas sessões, eles também usariam outra substância: MDMA, ou Ecstasy.

Friederike foi acusada de colocar seus clientes em perigo, tráfico de drogas para lucro próprio, e pondo em risco a sociedade com “drogas intrinsecamente perigosas”. Tal terapia psicodélica está na periferia de ambos: psiquiatria e sociedade. No entanto, o LSD e MDMA começaram a vida como medicamentos para a terapia e novos ensaios estão testando se eles poderiam ser usados novamente.


 

Em 1943, Albert Hofmann, um químico no laboratório de farmacêutica Sandoz, em Basileia, na Suíça, estava tentando desenvolver drogas para contrair os vasos sanguíneos, quando ele acidentalmente ingeriu uma pequena quantidade de dietilamida do ácido lisérgico, o LSD. Os efeitos o sacudiram. Como ele escreve em seu livro LSD: Minha Criança Problema:

“Os objetos, bem como a forma de meus colegas no laboratório começaram a sofrer mudanças ópticas… A luz era tão intensa a ponto de ser desagradável. Eu tirei as cortinas e imediatamente caí em um estado peculiar de “embriaguez”, caracterizada por uma imaginação exagerada. Com os olhos fechados, imagens fantásticas de extraordinária plasticidade e cor intensa pareciam surgir para mim. Depois de duas horas, este estado gradualmente desapareceu e eu era capaz de comer o jantar com um bom apetite”.

Intrigado, ele decidiu tomar o medicamento uma segunda vez na presença de seus colegas, um experimento para determinar se era realmente a causa. Os rostos de seus colegas logo apareceram “como máscaras coloridas grotescas”, ele escreve:

“Eu perdi todo o controle de tempo: o espaço e o tempo tornaram-se mais e mais desorganizados e eu fui tomado com um medo de que eu estava ficando louco. A pior parte era que eu estava claramente consciente da minha condição que eu era incapaz de parar. Às vezes eu senti como estando fora do meu corpo. Eu pensei que eu tinha morrido. O meu ‘ego’ foi suspenso em algum lugar no espaço e vi meu corpo morto no sofá. Eu observei e registrei claramente que o meu ‘alter ego’ estava se movendo ao redor da sala, gemendo”.

Mas ele parecia particularmente impressionado com o que ele sentia na manhã seguinte: “O café da manhã tinha um sabor delicioso e foi um prazer extraordinário. Quando mais tarde eu saí para o jardim, onde o sol brilhava, depois de uma chuva de primavera, tudo brilhava em uma nova luz. O mundo era como se tivesse sido recém-criado. Todos os meus sentidos vibrando em uma condição de maior sensibilidade que persistiu durante todo o dia”.

Hofmann sentiu que era de grande importância que ele poderia lembrar a experiência em detalhes. Ele acreditava que a droga poderia de ser um enorme valor para a psiquiatria. Os laboratórios Sandoz, depois de assegurar que era não-tóxico para ratos, camundongos e seres humanos, logo começaram a oferecê-los para uso científico e médico.

Um dos primeiros a começar a usar a droga foi Ronald Sandison. O psiquiatra britânico visitou Sandoz em 1952 e, impressionado com a pesquisa de Hofmann, voltou com 100 frascos do que foi então chamado Delysid. Sandison imediatamente começou dando a pacientes no Hospital Powick em Worcestershire, que estavam deixando de fazer progressos na psicoterapia tradicional. Após três anos, os chefes do hospital estavam tão satisfeitos com os resultados que eles construíram uma nova clínica LSD. Os pacientes que chegavam na parte da manhã, tomavam o seu LSD, em seguida, deitavam-se em salas privadas. Cada um tinha um toca-discos e um quadro negro para desenhar, e enfermeiras ou registradores iam verificar-los regularmente. Ás 16:00 os pacientes eram convocados a discutir suas experiências, e em seguida, o condutor os levava para casa, por vezes, enquanto eles ainda estavam sob a influência da droga.

Dra. Friederike Meckel Fischer
Dra. Friederike Meckel Fischer

Na mesma época, outro psiquiatra britânico, Humphrey Osmond, trabalhando no Canadá, fez experiências com o uso de LSD para ajudar alcoólicos a parar de beber. Ele relatou que a droga, em combinação com a psiquiatria de suporte, alcançou taxas de abstinência de 40-45 por cento, muito maior do que qualquer outro tratamento no momento, ou antes. Em outros lugares, os estudos de pessoas com câncer terminal mostraram que a terapia com o LSD poderia aliviar a dor, melhorar a qualidade de vida e aliviar o medo da morte.

Nos EUA, a CIA tentou dar LSD para membros inocentes do público para ver se era possível fazê-los desistirem de segredos. Enquanto isso na Universidade de Harvard, Timothy Leary, incentivado por, entre outros, o poeta beat Allen Ginsberg distribuiu a substância para artistas e escritores, que, então, descrevem as suas experiências. Quando surgiram rumores de que ele estava dando drogas para estudantes, oficiais da lei começaram a investigar e a universidade alertou os estudantes contra a tomar o medicamento. Leary aproveitou a oportunidade para pregar sobre o poder da droga como uma ajuda para o desenvolvimento espiritual, e logo foi demitido de Harvard, o que alimentou ainda mais a sua notoriedade e a da droga. O escândalo chamou a atenção da imprensa e logo todo o país tinha ouvido falar de LSD.

Em 1962, a Sandoz teve a sua distribuição de LSD cortada, devido ao resultado das restrições ao uso de drogas experimentais provocadas por um escândalo de drogas completamente diferente: defeitos congênitos ligados à droga contra enjôos matinais – talidomida. Paradoxalmente, as restrições coincidiram com um aumento da disponibilidade do LSD- a fórmula não foi difícil ou dispendiosa de obter, e aqueles que foram determinados para sintetizar poderiam realizar com dificuldade moderada e em grandes quantidades.

Ainda assim, o pânico moral em cima dos efeitos sobre as mentes dos jovens eram abundantes. As autoridades também estavam preocupados com a associação de LSD com o movimento de contracultura e a disseminação de pontos de vista anti-autoritários. Logo em seguida foram solicitadas proibições pra toda a nação, e muitos psiquiatras deixaram de usar o LSD à medida que sua reputação negativa ia crescendo.

Uma das muitas histórias na imprensa falou de Stephen Kessler, que assassinou sua sogra e afirmou mais tarde que ele não se lembrava do que tinha feito enquanto estava “voando com o LSD”. No julgamento, foi revelado que ele havia tomado LSD um mês antes, e no momento do assassinato estava embriagado apenas com álcool e comprimidos para dormir, mas milhões acreditavam que o LSD o tinha transformado em um assassino. Outro relatório contava de estudantes universitários que ficaram cegos depois de olharem para o sol no LSD.

Duas subcomissões do Senado dos Estados Unidos, realizadas em 1966, ouviram de médicos que afirmaram que o LSD causava psicose e “a perda de todos os valores culturais”, bem como de apoiadores do LSD como Leary e do senador Robert Kennedy, cuja esposa Ethel foi dito ter sido submetida a terapia de LSD . “Talvez, em certa medida, perdemos de vista o fato de que ele pode ser muito, muito útil em nossa sociedade, se usado corretamente”, disse Kennedy, desafiando a Food and Drug Administration para fechar programas de investigação sobre o LSD.

A posse de LSD se tornou ilegal no Reino Unido em 1966 e nos EUA em 1968. O uso experimental por pesquisadores ainda era possível com licença, mas com o estigma associado ao status legal de drogas, estes se tornaram extremamente difíceis de obter. As pesquisas pararam, mas o uso recreativo ilegal continuou.


 

Na idade de 40, após 21 anos de casamento, Friederike Meckel Fischer se apaixonou por outro homem. Infelizmente, como ela logo descobriu, ele estava usando ela para sair de seu próprio casamento. “Eu tinha uma dor dentro de mim com o fato desse homem ter me deixado, e com o meu marido que eu não conseguia me conectar”, diz ela. “Foi como se eu estivesse fora de mim mesmo.”

Sua solução era se tornar uma psicoterapeuta. Ela diz que nunca pensou em ir fazer terapia, que na Alemanha Ocidental em 1980, foi reservada apenas para as condições mais graves. Além do que, sua educação lhe ensinou a fazer as coisas por si mesmas, em vez de procurar a ajuda de outros.

Friederike na época trabalhava como médica do trabalho. Ela reconheceu que muitos dos problemas que ela viu em seus pacientes foram enraizados em problemas com seus chefes, colegas ou familiares. “Eu vim à conclusão de que tudo o que eles estavam tendo problemas estava ligado a questões de relacionamento”, diz ela.

Um ex-professor dela recomendou que ela tentasse uma técnica chamada respiração holotrópica. Desenvolvido por Stanislav Grof, um dos pioneiros da psicoterapia com o LSD, esta é uma forma de induzir estados alterados de consciência através respirações aceleradas e profundas, como a hiperventilação. Grof tinha desenvolvido a respiração holotrópica em resposta à proibição de consumo de LSD ao redor do mundo.

Ao longo de três anos, viajou várias vezes para os EUA em feriados, e Friederike foi submetida a treinamento com Grof como facilitador na respiração holotrópica. No final do mesmo, Grof a encorajou a tentar psicodélicos.

No último seminário, um colega lhe deu duas pequenas pílulas azuis como um presente. Quando ela voltou para a Alemanha, Friederike partilhou uma das pílulas azuis com seu amigo Konrad, que mais tarde se tornou seu marido. Ela diz que se sentiu levantada por uma onda e jogada em uma praia branca, capaz de acessar partes de sua psique que antes estavam fora dos limites. “A primeira experiência foi impressionante para mim”, diz ela. “Eu só pensei: ‘É isso. Eu posso ver as coisas. “E comecei a sentir. Isso foi, para mim, inacreditável. ”

As pílulas eram MDMA, uma droga que tinha sido o centro das atenções em 1976 quando o químico americano Alexander ‘Sasha’ Shulgin redescobriu 62 anos depois que foi patenteado pela Merck e depois esquecido. Em uma história com as origens parecidas com a do LSD, após tomá-lo, Shulgin observou sentimentos de “euforia pura” e “força interior sólida”, e sentiu que podia “falar sobre assuntos profundos ou pessoais com clareza especial”. Ele apresentou a seu amigo Leo Zeff, um psicoterapeuta aposentado que trabalhou com LSD e acreditava que a obrigação de ajudar os pacientes tomou prioridade sobre a lei. Zeff tinha continuado a trabalhar com LSD secretamente após a sua proibição. O potencial de MDMA tirou Zeff da aposentadoria. Ele viajou ao redor do EUA e na Europa para instruir terapeutas em terapia com MDMA. Ele o chamou de “Adão”, por colocar o paciente em um estado primordial de inocência, mas, ao mesmo tempo, ele havia adquirido outro nome em casas noturnas: Ecstasy.

O MDMA tornou-se ilegal no Reino Unido por uma decisão em 1977 que pôs toda a família química na categoria mais rigorosamente controlada: classe A. Nos EUA, a Drug Enforcement Administration (DEA), criado por Richard Nixon em 1973, declarou uma proibição temporária, em 1985. Em uma audiência para decidir seu status permanente, o juiz recomendou que ele devesse ser colocado no “Schedule III”, o que permitiria o uso por terapeutas. Mas a DEA anulou a decisão do juiz e colocou MDMA no Schedule I, a categoria mais restritiva. Sob a influência americana, a Comissão das Nações Unidas sobre Narcóticos deu ao MDMA uma classificação semelhante dentro da lei (embora um comitê de peritos formado pela Organização Mundial da Saúde argumentou que tais restrições graves não eram justificadas).

Substâncias em Schedule I são permitidas o uso em pesquisas no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre Substâncias Psicotrópicas. Na Grã-Bretanha e nos EUA, os pesquisadores e suas instituições devem solicitar licenças especiais, mas estes são caros para obter, e encontrar fabricantes que irão fornecer drogas controladas é difícil.

Mas, na Suíça, que na época não fazia parte da convenção, um pequeno grupo de psiquiatras persuadiram o governo a permitir o uso de LSD e MDMA em terapia. De 1985 até meados da década de 1990, foi autorizado aos terapeutas licenciados dar a droga para quaisquer pacientes, para treinar outros terapeutas no uso das drogas, e para uso próprio, com pouca supervisão.

Ele o chamou de “Adão”, porque coloca o paciente em um estado primordial de inocência

Acreditando que o MDMA podia ajudá-la a ganhar uma compreensão mais profunda de seus próprios problemas, Friederike procurou por um lugar onde tivesse um curso de “terapia psicolítica” na Suíça. Em 1992, ela e Konrad foram aceitos em um grupo de treinamento executado por um terapeuta licenciado chamado Samuel Widmer.

O curso acontecia no fim de semana a cada três meses na casa de Widmer em Solothurn, uma cidade a oeste de Zurique. A formação central consistia em tomar as substâncias um número de vezes, 12 no total, para conhecer os seus efeitos e passar por um processo de auto-exploração. Friederike diz que as experiências com drogas mostraram-lhe como toda a sua vida tinha sido colorido pela perda de seu pai com a idade de cinco anos e as dificuldades de crescer em pós-guerra na Alemanha Ocidental.

“Eu posso detectar relações, interconexões entre coisas que eu não podia ver antes”, diz ela sobre suas experiências com MDMA. “Eu poderia olhar para as experiências difíceis em minha vida sem ser imediatamente atirada para elas novamente. Eu poderia, por exemplo, ver uma experiência traumática, mas não se conectar a sensação horrível do momento. Eu sabia que era uma coisa horrível, e eu podia sentir que eu tive medo, mas eu não senti o medo.”


 

Pessoas em experiências psicodélicas, muitas vezes falam de experiências profundas e espirituais. Voltando na década de 1960, Walter Pahnke, um estudante de Timothy Leary, realizou uma experiência notória em Chapel Marsh da Universidade de Boston mostrando o que os psicodélicos poderiam induzir.

Ele deu a dez voluntários uma grande dose de psilocibina- o ingrediente ativo nos cogumelos mágicos – e deu a dez voluntários um placebo ativo, ácido nicotínico, o que causou uma sensação de formigamento, mas sem efeitos mentais. Oito pessoas do grupo da psilocibina tiveram experiências espirituais, comparado com uma pessoa do grupo de placebo. Em estudos posteriores, os investigadores identificaram características fundamentais de tais experiências, incluindo inefabilidade, a incapacidade de colocar em palavras; paradoxalidade, a crença de que as coisas contraditórias são verdadeiras ao mesmo tempo; e a sensação de se sentir mais ligado a outras pessoas ou coisas.

“Eu sinto que há espaço em torno de mim. Parecia quando minha mãe ainda estava viva, quando eu conheci o meu parceiro, e tudo era uma espécie de OK, e foi tão perceptível porque eu não tinha tido isso em um bom tempo.”

“A experiência pode ser realmente útil quando eles sentem uma conexão mesmo com alguém que lhes causou ferida, e uma compreensão de que o que pode ter causado a eles para se comportarem da maneira que eles fizeram”, diz Robin Carhart-Harris, pesquisador de psicodélicos no Imperial College London. “Eu acho que o poder de alcançar esses tipos de realizações realmente mostra o incrível valor de psicodélicos e captura o porquê eles podem ser tão eficazes e valiosos na terapia. Eu acho que só pode realmente acontecer quando as defesas se dissolverem. Defesas que ficam no caminho dessas realizações”.

Ele compara o sentimento de conexão com coisas além de si mesmo ao “efeito de visão geral” sentida pelos astronautas quando eles olham para trás na Terra. “De repente, eles pensam: ‘Que bobagem minha e das pessoas em geral a ter conflitos bobos que achamos que são enormes e importantes.” Quando você está no espaço, olhando para a totalidade da Terra, o coloca em perspectiva. Eu acho que um tipo semelhante de visão geral é engendrado por psicodélicos. ”

Carhart-Harris está a realizar o primeiro ensaio clínico para estudar a psilocibina como um tratamento para a depressão. Ele é um dos poucos pesquisadores em todo o mundo que estão indo adiante com a pesquisa sobre terapia psicodélica. Doze pessoas participaram no seu estudo até agora.

Eles começam com uma varredura do cérebro, e uma longa sessão de preparação com os psiquiatras. No dia da terapia, eles chegam às 9 da manhã, preenchem um questionário e fazem testes para se certificar de que eles não tenham tomado outras drogas. A sala de terapia foi decorada com cortinas, enfeites, luzes brilhantes coloridas, velas elétricas, e um aromatizador. Um estudante PhD, que também é músico, preparou uma lista de reprodução, que o paciente pode ouvir através de fones de ouvido ou de alto-falantes de alta qualidade na sala. Eles passam a maior parte da sessão deitados em uma cama, explorando os seus pensamentos. Dois psiquiatras sentam com eles e interagem quando o paciente quer falar. Os pacientes têm duas sessões de terapia: um com uma dose baixa, em seguida, uma com uma dose alta. Depois disso, eles têm uma sessão de acompanhamento para ajudá-los a integrar as suas experiências e cultivar maneiras mais saudáveis de pensar.

Eu encontrei Kirk, um dos participantes, dois meses após a sua sessão de alta dose. Kirk tinha estado depressivo, especialmente desde a morte de sua mãe há três anos. Ele experimentou repetitivos padrões de comportamento, dando voltas e voltas em uma pista de pensamentos negativos, diz ele.

“Eu não estava tão motivado, eu não estava fazendo tanto, eu não estava exercendo mais, eu não estava tão social, eu estava tendo um pouco de ansiedade. Apenas foi se deteriorando. Cheguei ao ponto em que eu me senti bastante desesperado. Não se encontrava realmente o que estava acontecendo na minha vida. Eu tinha um monte de coisas boas acontecendo na minha vida. Eu estou empregado, eu tenho um trabalho, eu tenho família, mas realmente era como um atoleiro que você afunda.”

No auge da experiência com drogas, Kirk foi profundamente afetado pela música. Ele entregou-se a música e sentiu-se tomado de temor. Quando a música estava triste, ele pensou na sua mãe, que estava doente há muitos anos antes de sua morte. “Eu costumava ir para o hospital e vê-la, e uma grande parte do tempo que ela estava dormindo, então eu não a acordava; Eu tinha acabado de se sentar na cama. E ela estaria ciente de que eu estava lá e acordaria. Foi uma sensação muito amorosa. Eu passei por esse momento muito intensamente. Eu acho que foi muito bom em uma maneira. Eu acho que ajudou a deixar ir.”

Durante as sessões de terapia, houve momentos de ansiedade quando os efeitos da droga começaram a tomar conta, quando Kirk sentiu frio e tornou-se preocupado com a sua respiração. Mas ele foi tranqüilizado pelos terapeutas, e o desconforto passou. Ele viu cores brilhantes, “como estar no parque de diversões”, e sentiu vibrações permear seu corpo. Em um ponto, ele viu o deus elefante hindu Ganesha olhando para ele, como se estivesse olhando uma criança.

Embora a experiência tivesse o afetado, ele notou pouca melhora em seu estado de espírito nos primeiros dez dias depois. Então, enquanto estava fazendo compras com amigos em um domingo de manhã, ele sentiu uma agitação.

“Eu sinto que há espaço em torno de mim. Parecia quando minha mãe ainda estava viva, quando eu conheci a minha parceira, e tudo era uma espécie de OK, e foi tão perceptível porque eu não tinha tido isso em um bom tempo.”

Houve altos e baixos desde então, mas no geral, ele se sente muito mais otimista. “Eu não tenho mais aquela negatividade. Estou sendo mais social; Eu estou fazendo coisas. Esse tipo de peso, que suprimiu o sentimento se foi, o que é incrível, realmente. Isso levantou uma pesada capa de cima de mim”.

Fischer dando uma palestra sobre psicoterapia com psicodélicos.

Outro participante, Michael, vinha lutando contra a depressão há 30 anos, e tentou quase todos os tratamentos disponíveis. Antes de tomar parte no julgamento, ele tinha praticamente desistido. Desde o dia de sua primeira dose de psilocibina, ele se sentiu completamente diferente. “Eu não podia acreditar o quanto ela tinha me mudado tão rapidamente”, diz ele. “A minha abordagem à vida, a minha atitude, a minha maneira de olhar o mundo, apenas tudo, dentro de um dia.”

Uma das partes mais valiosas da experiência o ajudou a superar o medo arraigado de morte. “Eu senti como se estivesse sendo mostrado o que acontece depois da vida após a morte”, diz ele. “Eu não sou uma pessoa religiosa e eu me sinto pressionado a dizer que eu era nada espiritual também, mas eu senti como se tivesse experimentado alguma coisa disso, e experimentei a sensação de uma vida futura, quase como uma pré-visualização, e eu me senti totalmente calmo, totalmente relaxado, totalmente em paz. Para que, quando chegar esse momento para mim, eu não tenha medo nenhum”


 

Durante seu treinamento com Samuel Widmer, Friederike também trabalhou em uma clínica de dependência. O insight de suas experiências com drogas deu-lhe nova empatia. “De repente, eu poderia entender meus clientes na clínica com sua dependência de álcool”, diz ela. “Eles estavam lidando de forma diferente do que eu tinha feito. Eles tinham quase os mesmos problemas ou sintomas que eu tinha só que eu não tinha começado a beber. “Mas só alguns deles foram capazes de se abrir sobre como essas experiências os fizeram sentir. Ela perguntou-se: poderia uma experiência com MDMA ajudá-los a liberar essas emoções?

MDMA é um parente mais doméstico dos clássicos psicodélicos-psilocibina, LSD, Mescalina, DMT. Eles têm efeitos que podem ser perturbadores, como distorções sensoriais, a dissolução do senso de si mesmo, e o reviver vívido de memórias assustadoras. Os efeitos do MDMA são mais curtos na duração, tornando-o mais fácil de manusear em uma sessão de psicoterapia.

Friederike abriu seu próprio consultório particular de terapia psicodélica em Zurique no ano de 1997. Durante os próximos anos, ela começou a hospedar sessões de terapia com grupos aos fins de semana com psicodélicos em sua casa, convidando os clientes que tinham falhado a fazer progressos na terapia de fala convencional.

Desde os anos 1950, os psiquiatras têm reconhecido a importância do contexto para determinar que tipo de experiência o usuário de LSD teria. Eles enfatizaram a importância de “set” – mentalidade do usuário, suas crenças, expectativas e experiências e “setting” – o meio físico onde a droga é tomada, os sons e as características do ambiente e as outras pessoas presentes.

Um ambiente de apoio e um terapeuta experiente podem diminuir o risco de uma bad trip, mas experiências assustadoras ainda acontecem. De acordo com Friederike, elas são parte da experiência terapêutica. “Se um cliente é capaz de passar por ou deixa-se conduzir através e trabalhar com, a bad trip se transforma no passo mais importante no caminho para si mesmo”, diz ela.

“Mas sem uma definição correta, sem um terapeuta que sabe o que está fazendo e sem o compromisso do cliente, acabamos em uma bad trip“.

Seus clientes iam pra sua casa numa sexta-feira à noite, falar sobre seus problemas recentes e discutir o que eles queriam alcançar na sessão de drogas. No sábado de manhã, eles sentavam-se em um círculo no tatame, faziam a promessa de sigilo, e cada um tomava uma dose pessoal de MDMA proposto por Friederike com antecedência. Friederike iria começar com o silêncio, em seguida, tocar música, e falar com os clientes individualmente ou como um grupo para trabalhar através de seus problemas. Às vezes, ela pedia a outros membros do grupo para assumir o papel de membros da família de um cliente, e juntos a discutir os problemas em seu relacionamento. Na parte da tarde eles iriam fazer o mesmo com o LSD, o que muitas vezes permitem que os participantes se sintam como se estivessem revivendo memórias traumáticas. Friederike os guiava através da experiência, e ajudava-os a entender isso de uma maneira nova. No domingo, eles discutiam as experiências do dia anterior e como integrá-los em suas vidas.

A prática de Friederike, no entanto, era ilegal. As licenças terapêuticas para usar as drogas foram retiradas pelo governo suíço por volta de 1993, após a morte de um paciente na França sob o efeito da ibogaína, outra droga psicotrópica. (Determinou-se mais tarde que ele morreu de uma doença cardíaca não diagnosticada).


 

Os primeiro pesquisadores do LSD não tinham nenhuma maneira de olhar para o que estava fazendo dentro do cérebro. Agora temos scans cerebrais. Robin Carhart-Harris realizou esses estudos com a psilocibina, LSD e MDMA. Ele me diz que há dois princípios básicos de como os psicodélicos clássicos operam. A primeira é a desintegração: as partes que compõem redes diferentes no cérebro tornam-se menos coesivas. A segunda é a desagregação: os sistemas que se especializam em funções específicas de como o cérebro se desenvolvem, tornam-se, em suas palavras, “menos diferentes” uns dos outros.

Estes efeitos de alguma forma podem explicar como os psicodélicos poderiam ser terapeuticamente úteis. Certas doenças, como depressão e dependência, estão associados a padrões característicos de atividade cerebral que são difíceis de romper.

“O cérebro entra por esses padrões, padrões patológicos e os padrões podem se enraizarem. O cérebro gravita facilmente por esses padrões e fica preso neles. Eles são como redemoinhos, e a mente é sugada para dentro destes redemoinhos e fica presa. “

Psicodélicos dissolvem padrões e organizações, e introduzem “uma espécie de caos”, diz Carhart-Harris. Por um lado, o caos pode ser visto como uma coisa ruim, ligada com coisas como psicose, uma espécie de “tempestade na mente”, como ele diz. Mas você também pode ver o caos como tendo valor terapêutico.

“A tempestade poderia vir e lavar alguns dos padrões patológicos e padrões arraigados que se formaram e estão na base da desordem. Os psicodélicos parecem ter o potencial através deste efeito sobre o cérebro para dissolver ou desintegrar-se padrões patologicamente arraigados de atividade cerebral.”

O potencial terapêutico sugerido por Carhart-Harris através de estudos com scans no cérebro persuadiu o Conselho de Pesquisa Médica do Reino Unido a financiar o tratamento com psilocibina para a depressão. É muito cedo para avaliar o seu sucesso, mas os resultados até agora têm sido encorajadores. “Alguns pacientes agora estão em remissão meses depois de ter tido o seu tratamento”, diz Carhart-Harris.

“Anteriormente suas depressões eram muito graves, então eu acho que esses casos podem ser considerados transformações. Eu não tenho certeza se existem quaisquer outros tratamentos lá fora, que realmente tenha esse potencial para transformar a situação de um paciente depois de apenas duas sessões de tratamento.”


 

No caminho da proibição de MDMA, o psicólogo americano Rick Doblin fundou a Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos (MAPS) para apoiar a investigação com o objetivo de restabelecer o lugar dos psicodélicos na medicina. Quando o psiquiatra suíço Peter Oehen ouviu que eles estavam financiando um estudo sobre o uso de MDMA para ajudar as pessoas com transtorno de estresse pós-traumático (PTSD), ele pulou em um avião para conhecer Doblin, em Boston.

Como Friederike, Oehen foi treinado em terapia psicodélica, enquanto ela ainda era legal na Suíça no início de 1990. Doblin concordou em apoiar um pequeno estudo com 12 pacientes no consultório particular de Oehen em Biberist, uma pequena cidade cerca de meia hora de trem da capital suíça, Berna.

Oehen acha que a elevação de humor do MDMA, a redução do medo e os efeitos pró-sociais tornam uma ferramenta promissora para facilitar a psicoterapia para PTSD. “Muitas dessas pessoas traumatizadas foram traumatizadas por algum tipo de violência interpessoal e perderam a sua capacidade de se conectar, estão desconfiados, distantes”, diz Oehen. “Isso os ajuda a recuperar a confiança. Isso ajuda a construir uma relação sonora e respeitável no relacionamento terapêutico”. E também coloca o paciente em um estado de espírito onde eles podem enfrentar as suas memórias traumáticas sem tornar-se angustiados, diz ele, ajudando a começar a reprocessar o trauma de uma maneira diferente.

O primeiro estudo PTSD da MAPS nos EUA foi publicado em 2011, e os resultados foram de abrir os olhos. Depois de duas sessões de psicoterapia com MDMA, 10 dos 12 participantes já não preenchiam os critérios para PTSD. Os benefícios ainda eram evidentes quando os pacientes foram acompanhados de três a quatro anos após a terapia.

Os resultados de Oehen eram menos dramáticos, mas todos os pacientes que tiveram a terapia assistida por MDMA sentiram alguma melhoria. “Eu ainda estou em contato com quase metade das pessoas”, diz ele. “Eu posso ver as pessoas ainda ficarem melhores depois de anos durante o processo e resolvendo os seus problemas. Vimos isso no acompanhamento em longo prazo, que os sintomas melhoram após o tempo, porque as experiências lhes permitiam melhorar de uma maneira diferente à psicoterapia normal. Estes efeitos- estar mais aberto, mais calmo, mais disposto a enfrentar difíceis problemas – isso continua.”

Em pessoas com PTSD, a amígdala cerebral, uma parte primitiva do cérebro que orquestra respostas de medo, é hiperativa. O córtex pré-frontal, uma parte mais sofisticada do cérebro que permite que pensamentos racionais substituam o medo, é menos ativo. Estudos de imagem cerebral com voluntários saudáveis demonstraram que o MDMA tem os efeitos de aumento de opostos na resposta do córtex pré-frontal e diminuindo a resposta da amígdala.

“Eu fui abençoada por um advogado compreensivo e um juiz inteligente.”

Ben Sessa, um psiquiatra que trabalha em torno de Bristol, no Reino Unido, está se preparando para realizar um estudo da Universidade de Cardiff para testar se as pessoas com PTSD respondem ao MDMA da mesma forma. Ele acredita que as experiências negativas iniciais estão na raiz não apenas de PTSD, mas também de muitos outros transtornos psiquiátricos, e nisso os psicodélicos dão aos pacientes a capacidade de reprocessar essas memórias.

“Eu tenho estado na psiquiatria há quase 20 anos agora e cada um dos meus pacientes tem uma história de trauma”, diz ele. “Maus-tratos de crianças é a causa da doença mental, na minha opinião. Uma vez que a personalidade de uma pessoa ter sido formada na infância e adolescência e na idade adulta precoce, é muito difícil para incentivar o paciente a pensar o contrário. “O que psicodélicos fazem, mais do que qualquer outro tratamento, diz ele, é oferecer uma oportunidade para “pressionar o botão de reset” e dar ao paciente uma nova experiência de uma narrativa pessoal.”

Sessa está a planejar um estudo separado para testar MDMA como um tratamento para a síndrome de dependência do álcool – pegando o rastro de pesquisa de Humphrey Osmond com o LSD há 60 anos.

Ele acredita que a psiquiatria seria muito diferente hoje, se a pesquisa com psicodélicos tivesse procedido de uma forma livre desde os anos 1950. Psiquiatras, desde então, viraram-se para os antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos. Estas drogas, diz ele, ajudam a gerir a condição do paciente, mas não são curativos, e também carregam efeitos colaterais perigosos.

“Nós nos tornamos tão acostumados à psiquiatria sendo um campo de cuidados paliativos da medicina”, diz Sessa. “Que nós estamos com você para toda a vida. Você vem para nós em seus 20 e poucos anos com grave transtorno de ansiedade; Eu ainda estarei cuidando de você em seus 70 anos. Estamos acostumados a isso.”

Será que as drogas psicodélicas vão ser medicamentos legais de novo? O MAPS está a apoiar ensaios de psicoterapia assistida com MDMA para PTSD nos EUA, Austrália, Canadá e Israel, e eles esperam ter provas suficientes para convencer os reguladores para aprová-lo até 2021. Enquanto isso, ensaios utilizando psilocibina para tratar a ansiedade em pessoas com câncer vêm ocorrendo na Johns Hopkins University e da Universidade de New York desde 2007.

Eu pedi para alguns psiquiatras darem suas opiniões sobre o uso legal de psicodélicos em terapia. Um dos poucos que o fizeram, Falk Kiefer, diretor médico do Departamento de Comportamento de Vício e Dependência Medicina no Instituto Central de Saúde Mental de Mannheim, na Alemanha, diz que ele é cético sobre a capacidade de as drogas mudarem comportamento dos pacientes. “O tratamento psicodélico pode resultar na obtenção de novos conhecimentos, ‘ver o mundo de uma maneira diferente”. Isso é bom, mas se ele não resultar em aprendizado de novas estratégias para lidar com o mundo real, a evolução clínica será limitada. ”

Carhart-Harris diz que a única maneira de mudar a mente das pessoas é para a ciência ser tão boa que os financiadores e reguladores não podem ignorá-la. “A idéia é que podemos apresentar dados que realmente se tornam irrefutáveis para essas autoridades que têm reservas, e podemos começar a mudar suas perspectivas e trazê-los ao redor para levar isso a sério.”


 

Após 13 dias em prisão, Friederike foi solta. Ela apareceu no tribunal em julho de 2010, acusada de violar a lei de narcóticos e colocando em risco seus clientes, o último dos quais poderia significar até 20 anos de prisão. Um número de neurocientistas e psicoterapeutas testemunharam em sua defesa, argumentando que uma porção de LSD não é uma substância perigosa e não tem efeitos prejudiciais significativos quando tomado em um ambiente controlado (MDMA não foi incluído no caso da acusação).

O juiz aceitou que Friederike tinha dado seus medicamentos aos clientes como parte de um quadro terapêutico, com uma análise cuidadosa para a sua saúde e bem-estar, e a declarou culpada de posse de LSD, mas não a culparam de pôr em perigo as pessoas. Para o crime de narcóticos, ela foi multada em 2.000 francos suíços e dada uma sentença suspensa de 16 meses de liberdade condicional de dois anos.

“Eu fui abençoada por um advogado muito compreensivo e um juiz inteligente”, diz ela. Ela ainda considera a mulher que relatou ela à polícia uma bênção, uma vez que o caso lhe permitiu falar abertamente sobre seu trabalho com psicodélicos. Ela dá palestras ocasionais em conferências psicodélicas, e escreveu um livro sobre sua experiência, que ela espera guiar outros terapeutas em como trabalhar com as substâncias de forma segura.

FONTE VICE

Agradecemos imensamente a tradução feita pelo colaborador Kaio Shimanski.
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