A Segunda Revolução Psicodélica, Parte 1 – O Fim do Ácido

Essa é a primeira parte de uma série de 6 artigos examinando o estado da cultura psicodélica contemporânea através das contribuições de seus principais arquitetos: Alexander Shulgin, Terence McKenna e Alex Grey.

Em novembro de 2000, uma operação do DEA apelidada de “Operação Coelho Branco” prendeu William Leonard Pickard e Clyde Apperson enquanto eles estavam movendo um suposto laboratório de produção de LSD de um silo de mísseis renovado em Wamego Kansas para uma localização não divulgada. Muitas questões permanecem sobre o caso e o envolvimento do informante do DEA, Todd Skinner[1], e o DEA agora afirma que nenhum LSD foi jamais produzido naquele silo. Mas ambas análise estatística e evidência anedótica de rua concordam com a alegação do DEA que essa apreensão resultou na queda de 95% do suprimento de LSD do mundo naquele tempo, fazendo parecer possível que aquele poderia realmente ser “O fim do LSD”.

Um ano depois, quase na mesma data (10 de Novembro de 2001), Ken Kesey, uma das grandes figuras dos experimentos com LSD, morreu. Com as cinzas de Timothy Leary já orbitando no espaço, e com a dissolução da banda Grateful Dead há mais de 6 anos após a morte de Jerry Garcia, poderia se deixar acreditar que a Revolução Psicodélica que tinha começado em algum tempo na década de 1960 – com a introdução social do LSD – tinha finalmente acabado. O mundo tinha mudado de muitas maneiras graças à descoberta dos psicodélicos. Mas como a maioria das revoluções, seus sonhos não foram totalmente completados, e seus heróis estavam virando uma lenda.[2]

Ironicamente, por mais interrompido e antiquado que o “Movimento Psicodélico” possa parecer no momento, as sementes da “Segunda Revolução Psicodélica” já foram plantadas mais de uma década atrás. Essas sementes floresceram no deserto da falta de LSD.

Esse foi um exemplo profundo de como a proibição inefetiva pode agir extinguindo o interesse em uma substância potente. A possibilidade de um mundo sem LSD inspirou uma geração jovem a procurar uma série de psicodélicos alternativos – alguns velhos, outros novos. No processo, eles redescobriram e regeneraram a experiência enteogênica original – o sabor místico do outro lado, as descobertas fora do espaço e temp0 – que o LSD forneceu para os pioneiros de 1960.

Agora, pouco mais de uma década depois, nós podemos presenciar a pesquisa psicodélica entrando vagarosamente mas com firmeza as universidades e laboratórios de pesquisa, graças a: visão e persistência de Rick Doblin e o MAPS[4]; a expansão global do meme Burning Man; o rápido crescimento do entrelaçamento do Movimento de Arte Visionária e a cultura transformadora de festivais de arte e música; Música Eletrônica, que é a primeira forma musical popular a venerar e popularizar os psicodélicos desde a década de 60; o nascimento de centenas senão milhares de websites (Erowid, DMT-Nexus, etc.) que ou promovem psicodélicos ou são diretamente influenciados por eles; o grande número de novos livros sobre psicodélicos nas prateleiras (ou pelo menos na Amazon); e a grande variedade de psicodélicos e enteógenos – tanto naturais quanto feitos pelo homem – que já esteve disponível para qualquer sociedade na história. Podemos dizer que a  revolução psicodélica/enteogênica na cultura ocidental está viva e bem. De fato, agora está entrando em uma renascença.

Então, como essa Segunda Revolução aconteceu? Quais são seus objetivos e ideais? Ela é diferente da Primeira Revolução Psicodélica de 1960, ou somente uma moda que está se re-inventando?

Como alguém que teve acidentalmente sua própria segunda revolução psicodélica em 2003 após fumar o raro enteógeno 5-MeO-DMT comprado ilegalmente da internet, e como o autor de um livro amplamente revisto sobre psicodélicos, e como um dos fundadores da FractalNation[5], um campo BurningMan conhecido por suas performances de música e galeria de arte visionária e palestras (que têm sido o ponto alto da cultura psicodélica no planeta nos últimos 3 anos.. mais sobre isso mais tarde), eu creio que estou em uma boa posição como alguém para examinar e ajudar a definir essa mudança nas atitudes de nossa sociedade a favor do potencial dos psicodélicos, assim como as esperanças, medos, sonhos e aspirações de nosso Movimento.

Fazendo isso, eu espero trazer uma consciência melhorada da oportunidade agora apresentada a nós, juntamente com o aviso que, embora sua popularidade aumente, a Segunda Revolução Psicodélica já está ameaçada. Eu também quero promover a possibilidade que os psicodélicos, que uma vez pareceram ser uma fórmula para a mudança social instantânea na década de 1960, podem ser salva-vidas para toda a sociedade que deseja emergir do caos que a mudança ambiental e o crescimento da população irão gerar na segunda metade do século 21.

Lucent Dossier apresentando com Tipper no Fractal Planet, Burning Man, 2013
Lucent Dossier apresentando com Tipper no Fractal Planet, Burning Man, 2013

O nascimento da Segunda Revolução Psicodélica começou uma década antes do Silo do Texas com a publicação de quatro livros bem diferentes nos anos 90: Espelhos Sagrados: A Arte Visionária de Alex Grey (1990); PiHKAL; Uma História de Amor À Química, por Alexander (Sasha) e Ann Shulgin (1991); e O Retorno à Cultura Arcaica e O Alimento dos Deuses (1992) por Terence Mckenna. Esses livros iriam providenciar a fundação filosófica para esse novo movimento psicodélico. Esse movimento foi em grande parte criado pela popularização de uma nova forma de música eletrônica sem paradas que estava se infiltrando nas festas de lua cheia em Goa, India. Nos anos 90, essa música começou a se espalhar para clubes e locais remotos e distantes ao redor do mundo.[6] Um fator importante foi a popularização da internet, que pela primeira vez permitiu a proliferação da cultura psicodélica sem medos de censura ou repercussão.

Para recapitular, os cinco desenvolvimentos culturais que distinguem a Segunda Revolução Psicodélica da revolução de rock e LSD de 1960 são:

  1. A introdução de um número variado de componentes psicodélicos e análogos, especialmente feniletilaminas da família do 2-C como o 2-CB, 2C-I, e 2C-E.
  2. A redescoberta de plantas enteógenas sagradas, especialmente a ayahuasca, e a publicação de métodos simples para extrair DMT de fontes vegetais.
  3. O nascimento da arte visionária (que é com frequência uma forma deliberadamente sagrada da arte psicodélica), e sua integração de duas décadas nos festivais de cultura contemporâneos (mais notavelmente no Burning Man nos EUA e BOOM! em Portugal).
  4. O crescimento da música trance-psicodélica que integrou cantos sagrados de várias culturas com batidas house ácidas sem paradas.
  5. A popularização da internet, que permitiu a disseminação rápida da cultura psicodélica.

Todos que experimentaram o crescimento mundial dos festivais de cultura transformadora através dos últimos 10 anos, ou tropeçaram na seção “Do Lab’s” do Coachella (um dos últimos festivais bons de ‘rock’), participou de uma das conferências do MAPS na California, ou o Fórum Psicodélico Mundial em Basel, Suíça, ou até mesmo navegou pela internet e descobriu sites de informações psicodélicas como o Erowid e o DMT-Nexus, irá facilmente reconhecer a influência e prevalência de alguns, senão todos novos desenvolvimentos na cultura psicodélica. Entretanto, durante os dias finais do século 20, e no final da Primeira Era Psicodélica se preferir, nenhum desses fatores era popular ou conhecidos comumente. E mesmo que seja de algum modo irrelevante classificar a importância das várias diferentes contribuições dos três principais arquitetos dessa nova era psicodélica – Alex Grey, Terence McKenna, e Alexander ‘Sasha’ Shulgin – eu creio que a maioria dos historiadores e observadores educados concordarão que a contribuição de Sasha – a publicação de PiHKAL e logo após TiHKAL – foi inegavelmente o primeiro ato essencial e ao mesmo tempo bravo.

Essa é a primeira parte de uma série de 5 artigos. Para ler a segunda parte, clique aqui.

NOTAS

[1] Ambos Pickard e Skinner – o ocupante do silo e alegadamente o parceiro de Pickard – tinham a fama de ter inúmeros laços com a CIA e o DEA. Pickard aparentemente teve o final errado desse acordo, recebendo prisão perpétua dupla pela alegada fabricação de 10 gramas de “uma mistura contendo dietilamida do ácido lisérgico”. Apperson recebeu uma sentença de 30 anos, enquanto Skinner saiu livre, para ser preso logo após com uma sentença de 90 anos por sequestro e assalto. Enquanto todas as fontes envolvidas contam histórias muito diferentes do evento, não vale nada que o DEA exagerou demasiadamente a quantidade de LSD encontrada (90 kg de LSD puro, enquanto só foram encontrados 7 quilos de precursor) e nunca achou nenhuma trilha de dinheiro significativa que sugerisse que Pickard fabricou a quantidade de LSD que Skinner afirmou. Pickard, para o registro, afirmou que foi uma vítima das fantasias elaboradas de Skinner.

[1] http://thislandpress.com/gordon-todd-skinner/

[2] Albert Hofmann, o descobridor do LSD, ironicamente viveu mais que todos. Ele morreu em 2008 com a idade marcante de 102 anos.

[3] Esses pioneiros utilizaram LSD em dosagens muito maiores do que as comumente utilizadas na comunidade de música eletrônica. Hoje, uma dose de LSD fica, em média, entre 75-100µg, enquanto uma dose simples de LSD em 1966 era em torno de 400µg. Muitos iniciantes eram encorajados a tomar uma dosagem dupla se eles quisessem experimentar a “luz branca”!

[4] MAPS; Associação Multidisciplinar das Ciências Psicodélicas.

[5] Fractal Planet em 2013.

[6] A primeira festa “Goa-Trance” em Londres foi em 1990. O Burning Man se mudou de Baker Beach, São Francisco, para Black Rock Desert em 1991; haviam 250 participantes.

Fonte

LSD Volta a Ter Uso Terapêutico

Proibido em 1966, LSD volta a psicoterapia como prática e pesquisa

Hoffman-blotterPela primeira vez em mais de quatro décadas a dietilamida do ácido lisérgico, droga mais conhecida como LSD, foi usada como complemento para a psicoterapia experimental em um ensaio clínico controlado, aprovado pelo Food and Drug Administration americano. E um estudo recém-publicado, sobre uma bateria de testes que relata que os efeitos da medicação que combatem a ansiedade em pacientes que enfrentam doenças terminais foram grandes, permanentes e livre de efeitos colaterais preocupantes.

Em suma, tudo era festa.

Em um estudo piloto realizado na Suíça, 12 pacientes que sofrem de ansiedade profunda devido a doenças graves, participaram de várias sessões de psicoterapia sem drogas e em seguida, se juntaram a um par de terapeutas para duas sessões de psicoterapia de um dia inteiro, separados por duas a três semanas, sob a influência do LSD. Após a redução gradual de toda medicação contra a ansiedade ou antidepressivo e evitar álcool por pelo menos um dia, os participantes do estudo receberam ou uma dose de 200 microgramas de LSD ou um “placebo ativo” de 20 microgramas da substância.

Enquanto da dose placebo era esperado que produzisse efeitos curta duração e detectáveis​​, não era esperado que melhorasse o processo psicoterapêutico. A dose maior, por sua vez, “deverá produzir o espectro de uma experiência típica LSD, sem dissolver completamente as estruturas do ego normais”, escreveram os pesquisadores.

Os pacientes que receberam a maior dose de LSD para as duas sessões relataram menos ansiedade depois de suas experiências de ácido, ao passo que a ansiedade permanecia entre os quatro indivíduos que não receberam a dose completa.

Mais importante, os indivíduos que tiveram a dose completa experimentaram melhorias mensuráveis ​​e duradouras em seu “estado” e “traço” (característica) de ansiedade, que refletem os níveis de ansiedade que são fustigados por alteração das circunstâncias (estado) e aqueles que são aspectos estáveis ​​de personalidade (traço). Oito semanas após a intervenção, aqueles que receberam doses plenas de LSD tiveram quedas em ambos traço e estado. Por outro lado, a ansiedade traço aumentou para todos os quatro que tomaram o placebo e o estado subiu em dois dos quatro.

Associação Multidisciplinar para o Estudo de PsicodélicosO estudo, liderado pelo psiquiatra suíço Peter Gasser, M.D., foi publicado online esta semana no Journal of Nervous and Disease Mental. Ele foi patrocinado pelo MAPS (Associação Multidisciplinar para o Estudos de Psicodélicos), um grupo sem fins lucrativos com sede em Santa Cruz, que incentiva a pesquisa sobre os usos terapêuticos legítimos para alucinógenos.

Nos últimos anos, a atenção médica e pública para pacientes terminais e tratamentos paliativos vem aumentando. Contra esse pano de fundo, o governo dos EUA começou a afrouxar sua antiga resistência contra a exploração de drogas como o LSD como um meio de aliviar o que alguns chamaram de “angústia existencial “.

A pesquisa sobre o potencial terapêutico de outras drogas conhecidas por sua popularidade na rua – incluindo a psilocibina, o agente psicoativo em cogumelos psilocybe e o MDMA, ou Ecstasy – também está recebendo sinal verde do governo federal. Além de vários estudos utilizando MDMA junto com a psicoterapia no tratamento da ansiedade terminal, esta droga está em estudo, e tem se mostrado promissora, como um tratamento para o transtorno de estresse pós-traumático.

Não foram observadas flashbacks ou outros efeitos prolongados e apenas seis eventos adversos – incluindo ilusões, sofrimento emocional e sensação de frio ou de anormalidade – foram relatados pelos indivíduos durante a sua experiência, mas os mesmos se resolveram tão logo o efeito do ácido se dissipou.

Albert Hofmann (1906 – 2008) “o pai do LSD”

De certa forma, o estudo piloto foi um retorno do LSD para sua terra natal. Descoberto em 1938 em Basel pelo químico suíço Albert Hofmann da Sandoz Laboratories, efeitos psicoativos do LSD foram rapidamente colocados em uso por psiquiatras que tratavam com ele a dependência de álcool, distúrbios psicossomáticos e neurose. Desta vez, as cápsulas contendo o medicamento experimental foram compostos em Bichsel Labs em Interlaken, na Suíça.

A psicoterapia assistida com LSD foi ampla e abertamente praticada nos Estados Unidos até 1966 – e muito mais tarde no mundo inteiro, como a droga psicodélica de rua, tornou-se o amado objeto do crescente uso “não médico”, que a tornou ilegal em 1966, acabando com todas as pesquisa dos EUA sobre os seus potenciais benefícios terapêuticos.

“Minha experiência com LSD trouxe de volta algumas emoções perdidas e a habilidade de confiar, um monte de insights psicológicos, e um momento fora do tempo quando o universo não parecia como uma armadilha, mas como uma revelação de absoluta beleza” – disse Peter, um indivíduo austríaco participante do estudo.

“Este estudo histórico marca o renascimento da investigação da psicoterapia assistida pelo LSD” comemorou Rick Doblin, Ph.D., Diretor Executivo do MAPS. “Os resultados positivos e evidências de segurança claramente mostram porque estudos adicionais maiores são necessários.”

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– Fonte: L.A. Times (Março 5, 2014)

– Fonte: MAPS (Março 4, 2014)

Estudo Publicado (Março 3, 2014)

Os Efeitos Visuais de Uma Experiência Psicodélica

Esse guia é uma tentativa de categorizar e descrever em termos simples os efeitos subjetivos específicos que drogas psicodélicas causam. Ele descreve não experiências pessoais, mas a universalidade de efeitos que foram sentidos e reportados pela maioria, senão todos os usuários de psicodélicos.

Ele está dividido em três diferentes seções:

I. Os efeitos visuais da experiência psicodélica.
II. Os efeitos cognitivos da experiência psicodélica.
III. Os efeitos diversos da experiência psicodélica.

O primeiro é uma descrição da experiência visual, o segundo é uma descrição da experiência mental e o terceiro é uma descrição dos componentes sensoriais que não se encaixam nem nos efeitos mentais, nem nos visuais. Ele é em referência a todos os psicodélicos clássicos e à grande variedade de modernos e obscuros “químicos de pesquisa” que estão se tornando cada vez mais prevalecentes. Mais especificamente essa lista inclui, mas não é limitada a: LSD, Cogumelos, DMT, Ayahuasca, LSA, Mescalina, Bufotenina, 5meoDMT, AMT, Harmina, Harmalina, MDA, a família 2Cx e a família DOx.

Foi tentado manter o guia o mais preciso e bem escrito possível, mas a maioria desses efeitos não podem ser descritos somente com palavras, especialmente quando passamos de dosagens baixas ou moderadas.

Esse guia fornece exemplos na forma de imagens sempre que possível tal, quebrando as alucinações visuais em quatro categorias básicas, tais quais: melhora na visão, distorções, geometria visual e estados alucinatórios. O guia iniciará com os efeitos mais básicos, adentrando para efeitos mais complexos. A maioria das imagens exemplificatórias foram encontradas na internet. Porém a maioria foi retirada deste Tumblr.

Primeira Categoria de Efeitos Visuais: Aumento na capacidade visual

A primeira categoria de efeitos visuais pode ser classificada como um aumento geral da visão. Isso é reportado consistentemente nos níveis mais baixos das experiências psicodélicas. Pode ser definido genericamente como um aumento na taxa de entrada visual, atribuído ao ambiente externo que uma pessoa experimenta, e é manifestado através de 3 sub-componentes separados.

1. Acuidade visual aumentada:
A acuidade visual é definida pela literatura médica como uma agudeza ou claridade da visão, que é dependende da nitidez do foco da retina no olho e na sensibilidade da faculdade interpretativa do cérebro. O nível mais baixo de uma experiência psicodélica reportado foi de um aumento na nitidez e na acuidade, que pode ser descrita como uma nova habilidade de compreender todo o campo visual de uma vez, incluindo a visão periférica. Em comparação, a visão de um humano durante um estado de consciência padrão é somente capaz de perceber a pequena área que o olho da pessoa está focado. Esse aumento na nitidez e na acuidade visual, atribuído ao ambiente externo, é consistentemente intensificado ao ponto em que as bordas dos objetos se tornam extremamente focadas, claras e definidas. Esse efeito visual não muda necessariamente a aparência do ambiente externo, mas sim o nível de detalhamento que o mesmo é percebido. Até mesmo em uma viajem de baixa dosagem é comum que as pessoas percebam de repente padrões e texturas que nunca antes haviam apreciado, ou prestado atenção. Por exemplo, quando olhando para cenários, a natureza e as texturas do dia-a-dia, a complexidade e a beleza da entrada visual se torna de repente extremamente óbvia.

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2. Melhoramento da cor

Juntamente com o efeito anterior é constantemente reportado que durante uma experiência psicodélica de baixo nível as cores começam a se destacar, se tornando extremamente brilhantes e vívidas. Vermelhos ficam “mais avermelhados”, verdes mais “esverdeados”; todas as cores se tornam muito mais distintas, poderosas e intensas do que poderiam possivelmente ser durante todos os dias, sob um estado sóbrio. Um meio consistente de reproduzir esse efeito é de estar em meio à natureza.

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3. Aumento na capacidade de reconhecimento de padrões

A habilidade de uma pessoa de reconhecer figuras (usualmente faces) em qualquer estímulo vago é aumentado muito durante uma experiência psicodélica de baixo nível. Essa habilidade nata que seres humanos possuem no dia-a-dia é referido na literatura científica como pareidoilia e é muito bem documentado. Exemplos comuns na vida diária incluem descobrir faces em objetos comuns, e visualizar nuvens como objetos imaginários. Esse efeito pode se tornar extremamente intenso durante uma experiência de baixo nível. Por exemplo, todas as folhas de uma árvore podem se assemelhar a pequenos rostos verdes, o cenário pode se tornar muito parecido com pessoas ou objetos, e nuvens podem ser facilmente reconhecidas como objetos imaginários, sem nenhuma mudança visual acontecendo realmente.

Segunda Categoria de Efeitos Visuais: Distorções

A segunda categoria de efeitos visuais encontrados em uma experiência psicodélica é conhecida como distorção ou alteração visual. Essas podem ser facilmente descritas como mudanças na percepção atribuídas ao ambiente externo que está sempre, obviamente, fixo na realidade. Esses efeitos são manifestados através de 6 subcomponentes separados.

1.Flutuação visual

Flutuação na visão é de longe a distorção de olhos abertos mais comum experimentada durante uma experiência psicodélica. Ela pode ser descrita como a sensação de que objetos e o cenário estão parecendo se tornarem cada vez mais deformados e fundidos no campo visual. Essas alterações aumentam gradativamente à medida que a pessoa fixa o olhar, mas são completamente não permanentes – significando que eles voltam ao nível normal quando a pessoa analisa duas vezes a distorção.

O estilo particular desse efeito depende da continuidade da mudança de direção, velocidade e ritmo da distorção, resultando em uma pequena variedade de diferentes manifestações. O vídeo abaixo demonstra esse efeito em uma intensidade moderada e em um nível de detalhes extremamente preciso.

 

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Tranformações – Esse efeito é completamente desorganizado e espontâneo, tanto para ritmo quanto para direção. Ele pode ser descrito como objetos ou cenários aparentarem uma mudança gradual de tamanho, forma, configuração e aparência geral em uma infinidade de maneiras.

Respiração – Esse efeito faz com que objetos ou cenários aparentem expandirem ou contraírem ritmicamente, como se o objeto estivesse respirando de uma maneira semelhante à pulmões de seres vivos.

Derretendo – Não é incomum que objetos e cenários parecerem derreter completamente ou parcialmente. Os efeitos começam em baixas dosagens sob a forma de uma liquidificação gradual de objetos que faz com que eles comecem a inclinar, oscilar e lentemante perderem a sua integridade estrutural. Isso aumenta gradativamente até que se torne impossível ignorar como as linhas, texturas e cores dos objetos sólidos parecem se fundir umas com as outras, de uma maneira extremamente líquida.

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Fluindo – Superfícies fluindo, deslocando-se ou ondulando são um efeito visual forte que parece ocorrer quase que exclusivamente em texturas, particularmente se elas são muito detalhadas, complexas ou ásperas. Um exemplo clássico disso pode ser um piso de madeira fluindo como um rio em uma animação em loop. Um modo consistente de reproduzir esse efeito visual é olhar para um piso de madeira e desfocar a visão.

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Os efeitos acima que compreendem a flutuação visual como um todo se fundem e se misturam constantemente um com os outros. Eles são capazes de se manifestarem através de quatro níveis de intensidade visual que podem ser descritos como:

1. Periférico – A forma de distorção mais básica pode ser descrita como uma agitação de linhas retas no ambiente externo que ocorre exclusivamente dentro do campo de visão periférica e que não pode ser olhado diretamente.

2. Direto – Nesse nível, as distorções não aumentam em intensidade visual necessariamente, mas podem ser diretamente vistas no campo visual de uma pessoa. Esse altera parcialmente a aparência e forma de objetos e cenários no ambiente externo, fazendo com que ele delineie sutilmente, dobre-se e derreta-se.

3. Distinto – Esse é o nível em que as distorções se tornam visualmente poderosas o suficiente para alterar e transformar drasticamente a forma de objetos específicos no ambiente externo, até o ponto em que eles se tornem irreconhecíveis em comparação à sua forma original.

4. Abrangente – No nível mais alto de flutuação visual, a intensidade se torna poderosa o suficiente para distorcer não somente objetos específicos reconhecíveis, mas todo e qualquer ponto da visão de uma pessoa e a totalidade do ambiente externo.

2.Troca de Cores
Frequentemente as cores de vários objetos, particularmente aqueles que possuem uma cor que se destaca das demais, serão submetidas a um efeito que troca as cores através de um ciclo repetido de matizes em um movimento fluido em toda a sua superfície. Por exemplo, musgo em uma pedra pode trocar fisicamente de verde, para vermelho, para azul e então para verde novamente em um curto período de tempo.

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3.Distorções na Percepção de Profundidade
É muito comum experienciar ambas intensas e leves distorções na percepção de profundidade durante uma experiência psicodélica. Aqui é quando as profundidades e camadas do cenário à sua frente podem se tornar exageradas, enviesadas ou completamente bagunçadas. Um exemplo clássico disso é a troca de camadas em um cenário. É quando os objetos no plano de fundo passam para o plano superior e objetos do plano superior passam para o inferior. Outro exemplo de profundidade de campo enviesada é a completa perda dela, quando as diferentes seções de um cenário se aproximam e se distanciam, chegando a virarem uma imagem plana momentaneamente.

4.Rastros
Rastros são a experiência de trilhas sendo deixadas atrás de objetos que se movem, tais como pessoas, pássaros ou carros. Rastros são geralmente muito óbvios e são semelhantes em aparência ao mesmo tipo de trilhas deixadas atrás de objetos em fotografias de longa exposição. Se manifestando como trilhas suaves ou múltiplas camadas da mesma imagem repetida que desaparece gradativamente em cada repetição. As trilhas podem ser exatamente da mesma cor do objeto reproduzido que está se movendo ou podem ser algumas vezes cores randômicas selecionadas do mesmo. Rastros podem ser quebrados em quatro níveis básicos de intensidade visual que podem ser descritos como:

1. Tranparentes – A forma mais básica de rastros pode ser descrita como imagens quase transparentes que desaparecem quase imediatamente e se desenham atrás de objetos em movimento com um comprimento máximo de 4-6 centímetros.

2. Translúcidos – Nesse nível, rastros podem aumentar seu comprimento até aproximadamente metade do comprimento do campo visual em que o objeto seguido está se movendo. Em termos de claridade, os rastros mudam de quase visíveis para distintos e somente parcialmente transparentes em cor.

3. Opacos – Esse é o nível em que rastros se tornam completamente sólidos na aparência e opacos na cor, com bordas distintas e nítidas, que desenham um contraste claro entre o plano de fundo e o próprio rastro. Eles se tornam do mesmo tamanho do campo visual em que o objeto se moveu e podem permanecer por vários segundos.

4. Abrangentes – O nível mais alto ocorre no ponto em que o campo visual de uma pessoa se tornou tão sensitivo à criação de rastros que a totalidade do campo visual mancha-se e borra-se em um único rastro, ao mínimo movimento do olho. Isso pode fazer com que fique extremamente difícil para ver claramente a não ser que os olhos fiquem parados e permaneçam assim por até 20 segundos.

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5.Repetição Simétrica de Texturas
Repetição simétrica de texturas é uma distorção distinta e óbvia que se manifesta especificamente em texturas como grama, carpetes, asfalto, toalhas, macadame, toalhas, tapetes de banheiros, cascalho, vegetação densa, folhas caídas, cascas de árvores e mais.
Pode ser descrita como se a textura se tornasse espelho-repetida na sua superfície e extremamente intrincada e simétrica em si mesma, mantendo um nível alto de detalhes e clareza visual dentro do campo visual de uma pessoa e sua visão periférica. Isso se mantém independentemente de quão perto você olhe para a distorção. Quando essas texturas repetidas estão sendo geradas, elas começam a dar vida para uma grande gama de formas abstratas, figuras, geometria e padrões que são embutidos ao longo da simetria. Algo que é universalmente interpretado como uma maneira complexa de perceber e fisicamente fora do normal de uma maneira indescritível.

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5.Fatiamento do Cenário

O fatiamento de cenário é um efeito que ocorre somente espontaneamente e faz o campo visual aparecer como que cortado muito bem em fatias separadas com uma espécie de lâmina. Essas fatias separadas parecem então se distanciarem lentamente de sua posição inicial e podem ser tão simples quanto três seções, ou tão complexas como múltiplas fatias se movendo em um espiral que foi cortado em seu campo de visão.

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Terceira Categoria de Efeitos Visuais: Geometria

A terceira categoria de efeitos que afetam diretamente a visão podem ser descrita como a sensação de o campo visual de uma pessoa, de olhos abertos e fechados, estar parcialmente ou completamente englobado por padrões geométricos complexos e caleidoscópicos de movimento rápido, formas, fractais, estruturas e cores.

A geometria visual nunca permanece fixa em nenhum ponto e é com frequência extremamente mutável e auto-transformável em termos de suas formas e estilos. Isso acontece enquanto a geometria está flutuando naturalmente lateralmente ou radialmente em relação ao campo visual para criar redes sobreponíveis de muitos padrões geométricos crescentes e decrescentes, que são todos visíveis dentro de um frame perceptivo.

Quando experimentado, cada frame da geometria visual tem de alguma forma um sentido de profundidade e importância atribuído, muitas vezes passando a sensação de que possuem uma geometria que representa perfeitamente o estado mental em que você se encontra.

Existem sete diferentes níveis de visuais psicodélicos, aumentando gradativamente a complexidade e fascínio.

1.Ruído Visual
Esse é o nível mais básico de geometria visual e pode ser experimentado em um estado completamente sóbrio. Ele pode ser descrito como um ruído visual ou estático combinado com luzes aleatórias e regiões vermelho escuras que podem ser vistas sob as pálpebras dos olhos.

2.Movimento e Cores
Esse nível é também facilmente obtido sem psicodélicos e pode ser descrito como o aparecimento de regiões desestruturadas de flashes de luz e nuvens de cores.

3.Geometria Parcialmente Definida
Esse é o nível onde as coisas começam a se tornar distintivamente psicodélicas, e formas complexas indescritíveis e padrões começam a se formar. Nesse nível, entretanto, os padrões podem ser descritos como estritamente bidimensionais. Eles são legais, pequenos, e distantes em tamanho com uma paleta de cores escuras que se limitam a alguns tons diferentes de negros, vermelhos e violetas escuros. Eles se exibem em ambos os campos visuais de olhos fechados e olhos abertos através de um véu de geometria plana, mas significantemente mais detalhados com os olhos fechados em ambientes escuros.

4.Geometria Totalmente Definida
Esse é o nível onde os detalhes em que a geometria se exibe se tornam profundamente complexos mas permanecem estritamente bidimensionais. Nesse ponto os visuais se tornam maiores em tamanho e extremamente intrincados em detalhes com uma paleta de cores sem limites de possibilidade. Eles são dispostos no campo visual de olhos abertos e olhos fechados através de um véu de geometria plana que flutua diretamente em frente aos olhos, se tornando significantemente mais detalhados com os olhos fechados em ambientes escuros.

5.Geometria Tridimensional
Nesse nível a geometria se tornará totalmente tridimensional na sua forma e posições através do campo visual. Isso adiciona uma nova camada de complexidade visual totalmente nova e a deixa espalhada nas superfícies, paredes, objetos e móveis do ambiente, ao invés de ser exibida através de um véu plano.

6.Sobrepondo a Percepção Física
Esse é o ponto em que a geometria se torna tão intensa, vívida e brilhante que ela começa a bloquear e substituir o mundo externo. Nesse nível o ambiente começa a ser substituído por visuais, com os objetos e o cenário se transformando em massas alastradas de geometria. Conforme aumenta, o efeito acaba substituindo completamente o ambiente, criando a sensação que você está participando de outra realidade.

7.Níveis 7A e 7B
Uma vez que a geometria tenha atingido o sétimo e último nível, não há apenas um pináculo da experiência psicodélica mas dois. Parece que dependendo dos fatores subjetivos do ambiente e do psicodélico consumido, os visuais são capazes de se separar em duas versões separadas do seu nível mais elevado possível. O fator decisivo entre as duas opções não é ainda conhecido, mas parece ser completamente randômico, significando que o sétimo nível dos visuais terá de ser separado em duas categorias distintas de intensidade igual. Esses são conhecidos como níveis 7A e 7B. Uma vez que a geometria visual atinge o nível 7A ou 7B, ela começa a se tornar estruturada e organizada de um modo que apresenta informações genuínas para o usuário muito mais avançadas do que os 6 níveis anteriores. Isso é feito através da compreensão de representações geométricas que parecem como se representassem conceitos específicos e componentes neurológicos que existem no cérebro. Nesse ponto, conceitos podem ser vistos não somente embutidos em seu campo visual de olhos abertos ou fechados, mas sentidos simultaneamente através de sensações físicas complexas.

7A.Exposição aos elementos da estrutura neurológica
Esse nível ocorre quando o ambiente foi totalmente substituído por visuais. Quando eles atingem o nível mais elevado possível, a mente se sente como se cada ponto no cérebro se tornasse completamente conectado com cada um dos outros pontos. A sensação é de que você está sendo exposto visualmente e fisicamente a cada conceito armazenado interiormente, a memória e a estrutura neurológica do subconsciente, tudo de uma vez, deixando o usuário com a sensação literal de experimentar tudo que existe no universo simultaneamente; algo que pode ser descrito como um mar infinito de geometria, conceitos, estruturas, memórias e fractais que são percebidos como contenedores de toda a existência, tudo o que já existiu, e tudo o que existirá.

Esse oceano vasto da mente não é só visto na frente dos olhos mas sentido fisicamente em um nível imcompreensível de detalhes através de todo ponto pessoal. A experiência é imediatamente percebida como sendo o “universo inteiro” ou pelo menos “tudo” por quem a experimenta.

Em seus níveis mais baixos esse efeito é algo que flutua descontroladamente, levando os usuários para dentro e fora do quarto de um modo que muitos acham extremamente desorientador. Em vez de permanecer constante e estático, ele é disparado pela presença de um conceito. Por exemplo, se alguém dissesse a palavra “Internet” para uma outra que está nesse estado, ela veria o conceito da mente sobre Internet imediatamente manifestado em uma geometria perfeitamente encaixada no centro de seu campo visual. Essa forma rapidamente se espalha como uma espécie de diagrama em árvore, envolvendo os conceitos que você associa com a Internet e então ramificando novamente para incluir os novos conceitos que você associa com esses. Isso se espalha exponencialmente e dentro de 2-3 segundos se transforma em um flash para incluir cada um dos conceitos dentro de todo o universo, desconectando completamente o usuário do ambiente externo antes de o re-inserir novamente, até que algo inicie o processo novamente, normalmente logo em seguida. O usuário é retirado e colocado novamente no quarto enquanto o processo é gerado continuamente.

Entretanto, esse processo pode ser barrado com o movimento físico constante, impedindo o processo de se ramificar não dando tempo para ele permanecer em um único conceito.

Mas com o aumento da dose, contudo, o processo se torna mais fácil de iniciar se estendendo em duração e comprimento – resultando eventualmente em um estado estável de completa desconexão do ambiente externo e um senso permanente de unidade com o universo.

7B.Exposição aos elementos mecânicos da consciência humana
Esse nível pode ser descrito como o sentimento profundo de se tornar completamente desligado do ambiente externo e indo para um lugar que é universalmente interpretado por qualquer um que passe pela experiência como “os mecanismos de funcionamento do universo”. Esse é um lugar em que parece realmente que você entrou nos mecanismos da realidade ou o centro mais profundo da existência por ela mesma, com a programação fundamental do universo e a natureza real por trás da nossa consciência, se apresentando ao usuário em uma série de formas geométricas legíveis.

Ele pode ser divido em dois subníveis básicos:

-Se tornando os mecanismos internos da mente consciente

No nível mais baixo da geometria visual 7B, a experiência se manifesta se tornando e se sentindo a organização e estrutura de seu pensamento atual. Isso é representado aos usuários na forma de uma rede de geometria condensada infinita e de rápidos movimentos que se ramifica em um nível de organização e interconexão que nunca poderia ser possivelmente experimentado dentro do mundo físico real.

A rede de mudança constante segue o ritmo e a cadência de seu diálogo interno perfeitamente. Isso cria e manifesta novas conexões de um modo que é fisicamente sentido através de uma sensação poderosa, e visto embutido em seu campo visual a cada vez que qualquer peça ou novo insight de conhecimento é obtido.

Essa vasta rede de visuais que representam o pensamento contém representações geométricas de conceitos específicos e abstratos compreendidos naturalmente, embutidos dentro de cada um dos pontos conectores ao longo dela mesma. A experiência da leitura dessas representações geométricas leva a mente a visualizar o conceito perfeitamente em um campo visual interno que existe separadamente desse.

-Se tornando os mecanismos internos da mente subconsciente

Em um nível mais elevado da geometria visual 7B, a experiência se manifesta como uma habilidade recém encontrada de sentir, ver e se tornar um com a arquitetura da mente subconsciente. Isso é apresentado aos usuários na forma de mecanismos auto-mutáveis extremamente vastos e complexos que são imediatamente interpretados por qualquer um que passa pela experiência como os métodos de funcionamento do universo e da realidade.

Esse estado é capaz de inserir peças de informações específicas nos usuários sobre a natureza da realidade e da consciência humana, através da simples experiência deles. Essas peças específicas de informação são sempre sentidas imediatamente e entendidas como sendo uma descoberta profunda inegável no momento, mas que após são consideradas inexpressivas, por causa das limitações humanas de linguagem, ou sem sentido devido à desorientação dos efeitos cognitivos que a acompanham.

Ocasionalmente, entretanto, lições genuínas ou mensagens coerentes são interpretadas através da experiência de se tornar e alcançar as faculdades subconscientes do cérebro. É extremamente importante ressaltar, contudo, que a validade científica dessas lições são extremamente incertas e nunca devem ser aceitas imediatamente como fatos sem uma análise sóbria e minuciosa.

Abaixo há uma coleção de exemplos que podem ser considerados precisos de alguma forma. Porém, a vastidão e complexidade da verdadeira geometria psicodélica é enormemente mais intrincada, significando que na realidade nenhuma imagem física poderia se tornar remotamente próxima à experiência real.

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Clique nos exemplos abaixo para exemplos antropológicos de visuais psicodélicos. Os Shipibos são uma grande tribo na floresta amazônica cuja cultura está pesadamente envolvida com o uso ritualístico da ayahuasca. Esses padrões texturais são feitos deliberadamente pelos Shipibos como artefatos alucinatórios da Ayahuasca, capturando os estilos específicos de formas repetidas de uma forma muito melhor que a maior parte da arte psicodélica moderna.

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Um outro componente extremamente comum na geometria visual são os fractais. São conceitos que existem na matemática e podem ser descritos como padrões complexos que se repetem infinitamente sobre si mesmos permitindo para a mesma imagem similar ser encontrada não importando o quão longe você se afaste de qualquer parte da imagem. Abaixo está uma coleção de fractais psicodélicos similares em aparência àqueles que são encontrados na geometria visual.

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Quarta Categoria de Efeitos Visuais: Estados Alucinatórios

O quarto efeito sensorial é talvez o mais profundamente subjetivo que a experiência psicodélica têm a oferecer. Eles são manifestados como 3 efeitos distintos que vêm em uma variedade de intensidades diferentes.

Imagens

Estados alucinatórios começam em baixas dosagens como imagens embutidas na geometria visual. Essas podem ser descritas como cenas espontâneas que se movem ou não, objetos, animais, pessoas, conceitos, lugares ou qualquer coisa que você possa imaginar. Elas são com frequência formadas fora dos visuais e são exibidas em variados níveis de detalhe abrangendo desde tipos cartunistas até completamente realistas, raramente segurando a forma por mais de alguns segundos antes de sumirem ou se transformarem em outra imagem.

Em certos psicodélicos, as imagens são manifestadas como representações visuais exatas de qualquer coisa que você esteja pensando dentro de sua visão mental, tornando ideias abstratas em imagens concretas e permanecendo consistentemente ilimitadas em suas habilidades. Essa é uma experiência que também é sentida por algumas pessoas durante a hipnagogia (o estado entre o sono e o despertar) ou privação de sono e é conhecida pela comunidade científica como “auto-simbolismo”.

Transformações

Transformações psicodélicas são essencialmente imagens de olho aberto. Elas são progressivas por natureza, o que significa que elas se formam surgindo de padrões ou objetos, então curvando, movendo-se ou ficando com uma aparência totalmente nova de objetos, pessoas, animais, conceitos, lugares ou qualquer coisa que você possa imaginar, fixos ou móveis. Isso é aprimorado e alimentado pelo efeito visual separado de reconhecimento de padrões, causando um vago estímulo que já parece vagamente como conceitos abstratos graças ao nosso senso inerente de paredoilia, as transformando em versões mais detalhadas do que elas já haviam sido percebidas.

O processo de movimento ou de bloqueio, no qual as transformações parecem ser geradas, requere uma certa concentração e foco para se manter. Perder a concentração por um instante pode fazer com que a imagem desapareça ou se torne outra imagem.

Segurar os olhos fixos irá aumentar a intensidade da transformação progressiva.

Alucinações

Quando esses estados de imagens e transformações se tornam gradativamente mais elaborados (proporcionalmente à dosagem), eles eventualmente se tornam alucinações 3D totalmente abrangentes. Elas podem ser qualquer coisa mas geralmente permanecem em arquétipos como contato com identidades autônomas, paisagens imaginadas, dimensões espirituais, e situações que parecem ser tão improváveis com o que foi experimentado anteriormente que são, em todas as probabilidades, impossíveis de expressar com linguagem. Alucinações são descritas com frequência como sendo transcendentais, místicas, espirituais e religiosas em sua natureza, independentemente da religião do usuário. Não é incomum para as pessoas relatarem que alucinações psicodélicas parecem ser infinitamente mais reais do que qualquer coisa que a pessoa experimentou em um estado sóbrio anteriormente.

Em termos de sua aparência estilística geral elas podem variar de alucinações que são estilizadas e compostas de um material com geometria visual condensada, ou elas podem ser completamente sólidas e realísticas em como parecem. Esse estado particular pode ser quebrado em quatro subcomponentes distintos.

Entidades Autônomas

Contatos com entidades autônomas são muito comuns. Essas entidades geralmente parecem ser habitantes de uma realidade independente percebida – elas são expectantes da sua visita e gostam de interagir com você de diversas maneiras. O comportamento de uma entidade típica é de um ser amável, inteligente, professor ou curandeiro que simplesmente quer mostrar a você o espaço dimensional particular deles, concedendo peças de conhecimento específicas para você o mais depressa possível antes que você perca os efeitos ou passe para outra alucinação. Uma vez que a perda dos efeitos inevitavelmente começa a acontecer, eles ficam genuinamente tristes por seu desaparecimento, muitas vezes acenam uma despedida, e o encorajam a visitá-los com mais frequência.

Entidades podem realmente assumir qualquer forma mas arquétipos Junguianos (Carl Jung) são definitivamente presentes, esses incluem:

humanóides super-inteligentes imateriais, alienígenas, elfos, esferas gigantes, insetóides, felinos, seres de luz, plantas, máquinas robóticas, deuses, deusas, demônios, seres humanos e mais.

Essas entidades e criaturas se comunicam com os usuários através de uma combinação de telepatia, linguagem visual, matemática e estruturas coloridas mutantes de diferentes texturas. Essa linguagem visual complexa é capaz de expressar significado puro e conceitos de um modo que nosso sistema atual de classificar conceitos com pequenos sons vocais nunca será capaz de expressar.

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Paisagens, Cenários e Ambientes

Um componente intrínseco de níveis alucinatórios elevados é a experiência de paisagens imaginárias extremamente detalhadas, ambientes e cenários de uma variedade infinita. Esses são manifestados espontaneamente, cercando o usuário e agindo como o ambiente em que a viagem ocorre. Em outros pontos elas agem como algo que seja sobrevoado mas também são muitas vezes experimentadas através do ato de entidades autônomas, manipulando diretamente o que você pode ver, direcionando os usuários em diferentes direções em velocidades desorientadas, os forçando a ver ou passar diretamente através de configurações macro e microscópicas, incluindo tanto paisagens anteriormente experimentadas quanto paisagens nunca vistas antes. Comumente incluem:

sistemas planetários, galáxias, quasares, selvas, florestas amazônicas, desertos, geleiras, cidades, ambientes naturais, cavernas, habitats espaciais, estruturas vastas, civilizações, utopias tecnológicas, ruínas, salas de máquinas, quartos e outros ambientes interiores, neurônios, DNA, átomos, moléculas, mitocôndrias e mais.

Conceitos

Esse componente particular de estados alucinatórios é extremamente comum por todo o imaginário psicodélico típico. Ele pode ser descrito como a experiência visual de uma série infinita de conceitos armazenados interiormente que podem incluir tanto objetos do dia-a-dia, conceitos subjetivos, conceitos não experimentados antes e misturas impossíveis dos três.

Em níveis mais baixos eles são manifestados como imagens espontâneas mas em níveis mais altos eles se tornam embutidos como objetos dentro do cenário, ou como objetos que são apresentados a você por entidades autônomas. Esses conceitos comumente incluem:

objetos do dia-a-dia, coisas vivas, plantas, animais, insetos, arquitetura, estruturas, formas, átomos, moléculas, conceitos e fórmulas matemáticas complexas, conceitos linguísticos, mecanismos, tecnologia, criaturas maquinárias, máquinas auto-replicantes, pessoas, faces, olhos, partes do corpo, órgãos, comida, referências culturais, personagens fictícios, logotipos, simbolismo religioso, criaturas, monstros, demônios, mitologia, móveis e mais.

É importante notar que a experiência alucinatória de conceitos que contém escritos tais como livros imaginários, documentos, sinais de trânsito, websites ou texto flutuante são usualmente representados através de símbolos alienígenas borrados ou dispersos. Entretanto, eles são ainda capazes de conter ocasionalmente linguagem coerente e mensagens legíveis em um nível de detalhe suficiente mas irão sempre resetar, mudar, ou simplesmente desaparecer se uma pessoa tentar lê-los duas vezes. Isso é consistente com o modo em que o comportamento do texto é relatado pela comunidade dos sonhos lúcidos.

Cenários e Enredos

Cada um dos componentes acima pode ser randomicamente trocado e dividido em qualquer um dos infinitos enredos que são capazes de serem experimentados sob a influência de experiências psicodélicas de altas doses. Eles são difíceis de definir mas podem ser divididos em arquétipos extremamente básicos que geralmente implicam em visitar algum tipo de realidade alternativa, ou um número delas as quais contém entidades interativas, múltiplas, ou solitárias entre uma série de conceitos e objetos organizados dependendo do enredo específico.

Os enredos podem ser lineares mas também podem ser completamente sem sentido.

Em termos da perspectiva através da qual eles são percebidos, as alucinações podem ser experimentadas em quatro diferentes formas.

  • Primeira Pessoa: Essa é a forma mais comum de alucinação e pode ser descrita como a experiência completamente normal de perceber a alucinação da perspectiva pessoal.
  • Segunda Pessoa: Pode ser descrita como a experiência de perceber a alucinação da perspectiva de uma fonte externa de consciência tal como outros seres vivos, um animal ou um objeto inanimado.
  • Terceira Pessoa: É essencialmente uma experiência extra-corporal e pode ser descrita como perceber a alucinação de uma perspectiva que está flutuando acima, abaixo, atrás, ou na frente do corpo físico do usuário.
  • Quarta Pessoa: É particularmente rara mas totalmente possível e pode ser descrita como a experiência de perceber a alucinação de uma perspectiva de múltiplos pontos de vantagem e, ocasionalmente, infinitos números de vidas alternadas.

Em termos da quantidade de tempo em que eles são experimentados, enredos alucinatórios e cenários parecem como se estivessem sendo experimentados em tempo real. Isso significa que quando 20 segundos são sentidos na alucinação, a mesma exata quantidade de tempo passou no mundo real.

Em outros pontos, entretanto, distorções temporais podem ocorrer, resultando em enredos e cenários que podem parecer como se durassem dias, semanas, meses, anos, ou até mesmo períodos infinitos de tempo. Quando isso ocorre, contudo, não é sentido como se milhares de anos de experiência tenham se passado dentro dos 15 minutos do tempo no mundo real, mas como se a memória ou sensação de milhares de anos que tenham se passado fosse formada depois da experiência e não durante.

Quanto ao conteúdo desses cenários e enredos alucinatórios, eles podem conter experiências tão diferentes do que existe no mundo real que são completamente impossíveis de traduzir em linguagem, mas eles podem também conter memórias experimentadas anteriormente de qualquer ponto na vida de uma pessoa que parecem verdadeiramente idênticas às que ocorreram. Essas reproduções de memórias são com frequência cenas esquecidas da infância, pessoas que você não viu ou pensou por anos, e a visita a importantes edifícios, lugares e ambientes da vida de uma pessoa. Em outros pontos, porém, o conteúdo dessas alucinações podem ficar entre uma repetição de memória e uma experiência completamente nova, contendo aspectos da vida real mas desviando facilmente do enredo original em que realmente ocorreram. Os efeitos acima podem ser quebrados em cinco níveis simples:

1.Melhoria da visualização mental
O nível mais baixo de alucinação pode ser descrito como um melhoramento poderoso da habilidade de uma pessoa de visualizar conceitos mentalmente. Essa visualização interna parece como uma divagação extremamente vívida, e segue o pensamento de uma pessoa de um modo que pode ser visto como um nível de detalhe moderado dentro do olho da mente.

2.Alucinações parcialmente definidas
Esse nível de alucinação geralmente consiste de movimentos na visão periférica e imagens mal definidas e desbotadas nos visuais, assim como transformações ou vislumbres na visão periférica que desaparecem assim que uma pessoa checa novamente.

3.Alucinações totalmente definidas
Assim que a vividez e a intensidade aumenta, as imagens se tornam eventualmente totalmente definidas na sua aparência e dentro do campo visual direto do usuário. Tranformações irão também se manifestar como totalmente definidas e dentro do campo visual direto de uma pessoa.

4.Avanços parcialmente definidos
Esses começam com flashes randômicos de cenários psicodélicos. São capazes de se tornarem totalmente fixos e duradouros, mas não são completamente definidos na sua aparência. Com frequência se apresentando borrados parcialmente ou totalmente e transparentes, com o corpo do usuário parecendo estar ainda parcialmente conectado com o mundo real.

5.Avanços totalmente definidos
Uma vez que as alucinações se tornem suficientemente elaboradas elas se tornam eventualmente abrangentes, aumentando para realidades alternadas permanentes que parecem ser completamente realísticas, extremamente detalhadas, e altamente vívidas em sua aparência juntamente com uma completa desconexão do corpo físico.

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Efeitos visuais mistos, únicos e raros

Apesar de haverem componentes visuais universalmente experimentados de uma experiência psicodélica, você não deve deixar esse guia lhe dar noções pré-concebidas por duas razões separadas. A primeira razão é que embora essas descrições tenham sido cuidadosamente trabalhadas e pensadas, textos e imagens nunca chegarão perto da experiência real, a coisa real é incompreensível, desafiadora da lógica e impossível de traduzir em imagens e palavras bidimensionais. O fator da ausência de linguagem é uma das poucas coisas que todos os psiconautas podem concordar quando se trata da experiência psicodélica.

A segunda razão é que a experiência psicodélica é ainda uma experiência subjetiva e de modo algum confinada e limitada a esses componentes visuais. Efeitos visuais espontâneos que não são descritos em lugar algum desse artigo irão se manifestar em viagens em ocasiões estranhas. Esses efeitos podem ser qualquer coisa e ocorrem geralmente em dosagens elevadas. Efeitos visuais únicos são completamente pessoais e são algo que ninguém mais no planeta viu anteriormente ou irá experimentar alguma vez. Então lembre, não limite a sua percepção aos componentes descritos acima, porque há mais coisas na experiência psicodélica que palavras nunca irão ser capazes de expressar.

Psicodélicos não prejudicam a saúde mental e podem melhorá-la

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‘Psicodélicos como o LSD e os cogumelos com psilocibina, não apenas não causam problemas de saúde mental, como na verdade podem aumentá-la’
Essas são as conclusões dos pesquisadores de neurociência da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, em Trondheim, que relataram que o LSD, a psilocibina e mescalina não só não causam problemas de saúde mental a longo prazo, mas que, em muitos casos, o uso de psicodélicos é associado a uma menor taxa de problemas de saúde mental.

O estudo colheu dados da ‘Pesquisa Nacional dos EUA sobre Uso de Drogas e Saúde’, observando-se 130.152 respondentes selecionados aleatoriamente a partir da população adulta de os EUA. 13,4% desse grupo (21.967 indivíduos) relataram uso na vida de drogas psicodélicas. Comparando esses dados para medidas de triagem padronizados para a saúde mental, os pesquisadores descobriram que, nem o uso vitálicio de psicodélicos, nem o uso dentro do último ano, foram fatores de risco independentes para problemas de saúde mental e que, de fato, os usuários de psicodélicos tiveram menores taxas de problemas de saúde mental.

Os pesquisadores noruegueses, Teri S. Krebs e Pal-Ørjan Johansen também observaram que “plantas psicodélicas têm sido utilizados para fins comemorativos, religiosos ou de cura por milhares de anos” e que “psicodélicos, muitas vezes provocam profundas experiencias, pessoal e espiritualmente significativas, além de produzir efeitos benéficos”. O LSD e a psilocibina são consistentemente classificados em avaliações de especialistas como causando menos danos a usuários individuais e à sociedade do que o álcool, o tabaco, e a maioria das outras drogas recreativas comuns. Dado que milhões de doses de drogas psicodélicas foram consumidas todos os anos, por mais de 40 anos, relatos de casos bem documentados de problemas de saúde mental a longo prazo após o uso destas substâncias são raros

O estudo também não observou absolutamente nenhuma evidência de que “flashbacks” realmente afligiam os usuários de psicodélicos, matando outra superstição normalmente realizada em torno do uso psicodélico.

psilocybinOs pesquisadores noruegueses trazem uma boa notícia para os mais de 30 milhões de americanos que usaram drogas psicodélicas (em comparação com 100 milhões que usaram maconha). E enquanto a mídia vem comentando sobre a revelação do Dr. Sanjay Gupta que ele “mudou sua mente por causa da maconha”, pode ser hora para as substâncias psicodélicas obterem uma retratação similar.Enquanto psicodélicos ainda evocarem imagens da era dos 60, bad trips, como a filha de Art Linkletter saltar de uma janela em ácido (um mito superestimado, como diz Snopes), poucos arriscam submetê-los a uma investigação significativa e tiveram um lento progresso em direção a aceitação clínica nas últimas décadas. Os pesquisadores ainda trabalham sob a imagem negativa da era de Timothy Leary a respeito dos psicodélicos, mas aos poucos está se desfazendo o impasse cultural criado pelo que muitos vêem como o abuso irresponsável de drogas psicodélicas durante os anos 1960 e 70.

De pé e em contraste com os aspectos negativos desse tempo no entanto, são os imensos benefícios clínicos que psicodélicos estão constantemente se mostrando capazes de oferecer. Outro estudo recente da Universidade do Sul da Flórida , por exemplo , descobriu que a psilocibina apaga respostas de medo condicionado em ratos, sugerindo que poderia ser usado para curar PTSD e que a psilocibina pode até mesmo gerar um crescimento rápido de células cerebrais.

Vários estudos estão sendo conduzidos ( na escola de medicina da Universidade de Nova York e na Johns Hopkins Bayview Medical Center) em usar psicodélicos para aliviar o medo em pacientes com estágio avançado terminal de doença , facilitando a experiência de morte e permitir que as pessoas terminam suas vidas em estados de aceitação em vez de terror.  LSD e psilocibina também surgem com uma promessa para o tratamento da Cefaléia em Salvas(Cluster headache), uma condição tão debilitante e dolorosa que muitas vezes leva os doentes a considerar o suicídio .

Enquanto a maconha degusta a sua estadia no centro das atenções, pode ser hora de seus irmãos mais potentes e ainda mais potencialmente benéficos, participarem da festa.

—> Fonte
—> Estudo

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Misticismo Molecular – Ralph Metzner

Misticismo molecular: O papel das substancias psicoativas na transformação da consciência
um ensaio exibido em “The Gateway to Inner Space”,Christian Rätsch, editor. Publicada por Prism Press, Dorset, Reino Unido, 1989.

Traduzido do original Molecular Misticism por Ralph Metzner

Existe uma questão que atormentou a mim, e sem dúvida a outros, desde o início das pesquisas psicodélicas nos anos 60, quando muitos grupos de indivíduos estavam preocupados com os problemas de assimilar novas e poderosas substancias alteradoras de consciência na sociedade ocidental. As questões, de forma simples, eram as seguintes: Porque os nativos americanos tiveram tanto sucesso ao integrar o uso do peyote em sua cultura, incluindo seu uso legal nos dias atuais como sacramento, enquanto os interessados em prosseguir a pesquisa da consciência com drogas na cultura dominante branca, só conseguiram transformar o campo inteiro de pesquisa em um tabu, e qualquer uso dessas substâncias em uma ofensa criminal passível de pena de prisão? O uso do Peyote se espalhou do México para as tribos de nativos norte americanos na segunda metade do século XIX, a encontrou aceitação como sacramento em cerimônias da Native American Church. É reconhecido como um tipo de ritual religioso que algumas das tribos praticam; bem como destacado pelos sociólogos pelo papel importante que tem como um antídoto para o abuso de álcool.

Esta intrigante charada da etnopsicologia e da história, era pessoalmente relevante para mim, desde que fui um dos pesquisadores psicodélicos que viu os enormes potenciais transformativos das drogas “expansoras da consciência”, como as chamávamos, e estávamos ansiosos para continuar a investigação sobre a sua significância psicológica. Seria justo afirmar que nenhum dos primeiros exploradores neste campo, nos anos 1950 e início dos anos 1960, tinha alguma noção da crise social que estava por vir, nem da veemência da reação jurídico-política. Certamente o Dr. Albert Hofmann, um exemplo de cientista cuidadoso e conservador, testemunhou a sua consternação e preocupação com a proliferação de padrões de abuso de maneira tão pungente daquilo que ele chamou de seu “filho problema” (Sorgenkind). Assim, resultou o estranho paradoxo que as substâncias consideradas como um mal social e um problema de aplicação da lei na cultura dominante é também o sacramento de uma sub-cultura particular dentro dessa sociedade em geral. Partindo de que a cultura dos nativos americanos é bem mais antiga e ecologicamente mais sofisticada que a cultura branca européia que tentou absorvê-la ou eliminá-la, e uma vez que muitos indivíduos sensíveis têm sustentado que devemos aprender com os índios, não exterminá-los, o exame profundo da questão colocada acima poderia levar a algumas conclusões muito interessantes.

Temazcal

Assim, a reação da sociedade dominante era o medo, seguido pela proibição, mesmo sem pesquisas aprofundadas. Nenhuma das três profissões estabelecidas queria estes instrumentos de expansão da consciência, e também não queriam que mais ninguém os obtivesse por livre escolha. A suposição implícita era de que as pessoas eram muito ignorantes e ingênuas para fazer, de forma razoável, escolhas informadas a respeito de como tratar suas doenças, resolver os seus problemas psicológicos, ou praticar a sua religião. Assim, a condição fragmentada de nossa sociedade se reflete de volta para nós através dessas reações. Para os Nativos Americanos, por outro lado, cura, adoração e resolução de problemas são classificados como o mesmo caminho; o caminho do Grande Espírito, o caminho da Mãe Terra, o caminho tradicional. O entendimento integrativo recebido sob as visões do Peiote não é temido, mas aceito e respeitado. Aqui, a suposição implícita é que cada um tem a capacidade, na verdade o dever, de sintonizar-se às fontes espirituais mais elevadas de conhecimento e de cura, e à finalidade da cerimônia, que com ou sem substâncias medicinais, é considerada como um facilitador da tal sintonia.A resposta do quebra-cabeças etnopsicológico se tornou clara para mim somente após eu ter começado a observar e participar de uma série de cerimônias dos índios americanos, como o círculo de cura (healing cicle), a cabana do suor (the sweat lodge), ou a dança dos espíritos (spirit dance), que não envolvia o uso do Peyote. Pude notar o que muitos etnólogos já haviam reportado: que estas cerimônias eram simultaneamente religiosas, medicinais e psicoterapêuticas. A cabana do suor (Temazcal), como o ritual do Peyote, é considerada uma cerimônia sagrada, como forma de adoração ao Criador; também são ambas vistas e praticadas como uma forma de cura física, e são realizadas para resolver problemas psicológicos pessoais e coletivos. Assim, seria natural às tribos que já tomaram Peyote, adicionarem este meio aos outros quais eles já eram familiarizados, como uma cerimônia que expressa e reforça a integração do corpo, da mente e do espírito. Na sociedade branca dominante, em contraste, medicina, psicologia e espiritualidade religiosa, estão separadas por diferenças paradigmáticas aparentemente intransponíveis. As profissões médicas, psicológicas e religiosas e seus grupos criados, cada um separadamente, considerou o fenômeno das drogas psicodélicas e se assustou com as transformações imprevisíveis de percepção e visão de mundo que elas pareciam desencadear.

 

Psicodélicos como Sacramento ou Recreação

Vários observadores, por exemplo, Andrew Weil (1985), tem chamado atenção para o padrão histórico que, à medida que a sociedade colonial ocidental adotou plantas psicoativas ou outras substancias de culturas nativas (a maioria das quais agora consideradas pertencentes ao “3º mundo”), o padrão de uso desses materiais psicoativos tem se reduzido de sacramental para recrativo. O tabaco era tido como sagrado, uma planta de poder, pelos índios das Américas Do Sul, Central e do Norte (Robiseck 1978); e ainda é sagrado pelos nativos americanos, apesar de na cultura branca ocidental e países influenciados por esta cultura dominante, fumar cigarro ser obviamente recreacional e tem se tornado até um problema de saúde pública. A planta da coca, cultivada e utilizada pelas tribos Andinas, era tratada como divindade – Mama Coca – e valorizada por suas propriedades de manutenção de saúde; a cocaína, por outro lado, é uma droga puramente recreativa e seu uso indiscriminado ainda causa numerosos problemas de saúde. Nessa e em outras instâncias, a dessacralização da planta psicoativa vem sendo acompanhada de criminalização. O Café é outro exemplo: aparentemente descoberto e utilizado pelos Sufi islâmicos, que valorizavam suas propriedades estimulantes para longas noites de oração e meditação, se tornou a bebida recreativa da moda na sociedade européia do século XVII, e foi até banido por um período por ser considerado muito perigoso (cf. Emboden 1972; Weil & Rosen 1983). Mesmo a cannabis, a epítome do “barato recreacional”, é usada por algumas seitas do Tantrismo Hindu como um aplificador da visualização e da meditação.

Uma vez que plantas medicinais, originalmente sacramentais, foram tão rápida e completamente dessacralizadas ao serem adotadas pela cultura cada vez mais materialista do Ocidente, não deveria ser surpresa que recém-descobertos medicamentos psicoativos sintéticos têm sido geralmente muito rapidamente categorizados como recreativos, ou “narcóticos”, ou ambos. Concomitantemente ao uso indiscriminado, excessivo e não sacramental das plantas psicoativas e seus análogos sintetizados, cresceram os padrões de uso abusivo e dependência; previsivelmente, a sociedade estabelecida reagiu com proibições que levaram a atividades de crime organizado. Isto, apesar do fato de que muitos dos descobridores originais dos novos psicodélicos sintéticos, pessoas como Albert Hofmann e Alexander Shulgin, são pessoas de profunda integridade espiritual.Nem eles, nem os esforços dos filósofos como Aldous Huxley e psicólogos como Timothy Leary que advogaram uma respeitosa e sagrada attitude em relação a essas substâncias, foram capazes de evitar a mesma profanação de acontecer.

O recém descoberto MDMA fornece um exemplo instrutivo desse fenômeno. Dois padrões de uso parecem ter se estabelecido durante os anos 70: alguns psicoterapeutas e pessoas inclinadas à espiritualidade começaram a explorar suas possíveis aplicações como adjuvante terapêutico e como um amplificador de prática espiritual; outro grupo muito maior de indivíduos comaçou a utilizá-lo para propósitos puramente recreativos, como droga social comparável em alguns aspectos à cocaína. A disseminação do uso irresponsável desta segunda categoria para um número crescente de pessoas, naturalmente deixou as autoridades fármaco-legais preocupadas, e a reação previsível aconteceu: O MDMA foi classificado como droga de Categoria I nos Estados Unidos, que o coloca no mesmo grupo da heroína, cannabis e o LSD, tornando seu uso ou venda uma ofensa criminosa, e dando um sinal de claros limites aos pesquisadores médicos e farmacêuticos.

Quando Hofmann retornou à xamã mazateca Maria Sabina com a psilocibina sintética objetivando que ela lhe apontasse o quão distante o ingediente sintetizado estava da substância natural, ele estava seguindo o caminho apropriado de reconhecer a primazia do botânico sobre o sintético. O argumento poderia ser feito, e foi feito que, talvez, para cada um dos psicodélicos sintéticos importantes, existe alguma planta natural que tem os mesmos ingredientes e que esta planta é a nossa conexão com o perdido conhecimento mais amplo das culturas indígenas. Talvez isto devesse ser nossa estratégia de pesquisa – achar o hospedeiro botânico para os psicodélicos nascidos no laboratório. No caso do LSD. Pesquisas sobre o uso de sementes de Ipomoea Violacea (Morning Glory) e Argyreia Nervosa (Baby Woodrose) no Havaí, cada uma das quais contém análogos ao LSD, nos permitiria descobrir o complexo xamânico que envolve esta molécula. Se Wasson, Hofmann, e Ruck estiverem corretos em sua perspectiva que alguma bebida similar ao LSD, derivada do ergot (fungo que ataca o centeio), era uma bebida utilizada como sacramento iniciatório em Eleusis, as implicações são profundas (Wasson et al 1978). Utilizando a teoria dos campos morfogenéticos de Rupert Sheldrake, pode-se supor que recriando ou resintetizando uma planta particular, estaríamos reativando o campo morfogenético dos Mistérios de Eleusis, o antigo e mais inspirador ritual místico do mundo.

Não há nenhuma razão intrínseca para que o uso sacramental e uso recreativo de uma substância, com moderação, não possa coexistir. Na verdade, entre os Nativos Americanos, o tabaco eventualmente tem um papel duplo: após o ritual do cachimbo sagrado com tabaco e outras ervas, os participantes as vezes fumam um cigarro pra relaxar. Conhecemos o uso sacramental do vinho no rito da comunhão católica; e certamente conhecemos o uso recreacional do vinho. Conseguimos manter estes dois contextos em separado, e somos capazes de reconhecer quando um uso recreativo de torna uso abusivo e dependência. Pode-se imaginar sofisticação semelhante no desenvolvimento em relação aos vegetais psicoativos. Poderiam ser reconhecidas aplicações sacramentais e terapêuticas; e certos padrões de uso poderiam desenvolver o que fosse de mais lúdico, exploratório, hedonista e ainda pode estar contido dentro de uma estrutura social razoável e aceitável que minimiza danos.

O abuso de uma droga, neste sistema relativamente iluminado, não seria função de quem a usa, ou onde ela se origina, ou se as autoridades médicas a condenam, mas sim nas consequências comportamentais no usuário da droga. Alguém se torna reconhecido como alcoólatra, ou seja, aquele que abusa do álcool, quando suas relações interpessoais e sociais são visivelmente prejudicadas. Não deveria haver dificuldade em estabelecer um critério similar para o abuso de substâncias psicoativas.

 

Psicodélicos como catalisadores de Gnose

Em 1968, em um artigo “Sobre o significado evolutivo dos psicodélicos”, publicado nas principais correntes do pensamento moderno, sugeri que os resultados da investigação LSD nas áreas de psicologia, religião e as artes poderiam ser analisadas no contexto da evolução da consciência: Se o LSD expande a consciência e se, como muito se acredita, a próxima evolução se dará na forma de uma ampliação na consciência, não podemos então olhar para o LSD como um possível instrumento evolucionário?… Temos aqui um dispositivo que, alterando a composição química do meio de processamento de informação cerebro-sensorial, inativa temporariamente os filtros genéticos e culturais, que dominam de forma completamente despercebido nossas percepções habituais do mundo.

Da perspectiva de quase 20 anos de reflexões, eu proponho agora amplificar essa afirmativa em 2 caminhos: (1) a evolução da conciência é um processo de transformação que consiste primeiramente na obtenção de uma intuição e compreensão, ou gnosis; e (2) a aceleração deste processo por meio de moléculas catalisadoras é não só uma consequência das novas tecnologias, mas também um componente integral de sistemas tradicionais de transformação, como o xamanismo, a alquimia e a yoga.

Na pesquisa de psicodélicos, a hipótese do “set & setting”, formulada por Timothy Leary no início dos anos 60, foi aceita pela maioria dos que trabalhavam neste campo. A teoria refere que o conteúdo de uma experiência psicodélica é uma função do conjunto (set: intenção, atitude, personalidade, humor) e a configuração (setting: interpessoal, social e ambiente), e a droga atua como uma espécie de gatilho, ou catalisador, ou amplificador não espécífico, ou sensibilizador. A hipótese pode ser aplicada para a compreensão de qualquer estado de consciência alterado, quando reconhecemos que outros tipos de estímulos podem ser disparadores, por exemplo, a indução hipnótica, a técnica de meditação, o mantra, um som ou música, a respiração, o isolamento sensorial, o movimento, o sexo, paisagens naturais, uma experiência de quase-morte, e assim por diante. Generealizar a hipóteses do set & setting desta forma, nos ajuda a entender as substâncias psicodélicas como uma classe de “gatilhos” dentro de toda uma gama de possíveis catalisadores de estados alterados (Tart 1972; Zinberg 1977).

Um importante e esclarecedor resultado de ter em mente a distinção entre um estado (de consciência) e um traço psicológico; entre mudanças de estado e mudanças de características. Por exemplo, a distinção dos psicólogos entre ansiedade-estado e ansiedade-traço. William James, no seu livro “Varieties of Religious Experience” (1961), discutiu esta questão em termos de saber se uma experiência religiosa ou de conversão levaria necessariamente a mais “santidade”, a traços mais iluminados. Esta distinção é crucial para a avaliação do valor ou significância dos estados alterados induzidos quimicamente. Somente observando ambas as mudanças de estado (visões, insights, sentimentos) e as consequências de longro prazo, ou mudanças comportamentais ou de traço, podemos alcançar uma compreensão abrangente destes fenômenos.

Ter um insight não é o mesmo que ser capaz de aplicar este insight. Não existe conexão inerente entre a experiência mística de unidade e a expressão ou manifestação dessa unidade nos afazeres do dia a dia. Este ponto é provavelmente óbvio, no entanto é frequentemente negligenciada por aqueles que argumentam que, em princípio, uma droga não poderia gerar uma verdadeira experência mística ou desempenhar qualquer papel na vida espiritual. Os fatores internos do “Set”, que incluem a preparação, a expectativa e a intenção, são os determinants de saber se uma determinada experiência é autenticamente religiosa; e de forma igual, a intenção é crucial para saber se estados alterados resultam em mudanças duradouras de personalidade. A intenção é como uma ponte do mundo ordinário, ou a realidade consensual, para o estado de uma consciência mais elevada (de maior estágio de organização); e pode também prover uma ponte deste estado de consciência mais ampla de volta ao estado de realidade ordinária.

Este modelo nos permite entender porque as mesmas drogas são consideradas por alguns, capazes de induzir o nirvana, ou visões religiosas, e para outros (alguém como Charles Manson, por exemplo) podem induzir às violências mais perversas e sádicas. A droga é apenas uma ferramenta, um catalisador, para alcançar certos estados alterados; quais estados alterados, dependerá da intenção.  Ainda, mesmo que o estado quimicamente induzido seja benigno e expansivo, se leva ou não a mudanças positivas e duradouras, também é uma questão de intenção, ou mind-set.

Estas drogas, de fato parecem revelar ou liberar algo que está na pessoa; o que é o fator implícito no termo “psicodélico” — mente manifestada. Na minha opinião, o termo “Enteógeno” é uma escolha infeliz, pois sugere que o deus interios, o princípio divino é de alguma forma “gerado” nesses estados. Minhas experiências me levaram a conclusão oposta: o deus interior é o gerador, a fonte de energia da vida, o despertar e o poder de cura. Para aqueles cuja intenção consciente é uma transformação psicoespiritual, o psicodélico pode ser um catalisador que revela e liberta insights ou conhecimentos de aspectos mais elevados do nosso ser. Isto é, creio eu, o que se entende por Gnose, o sagrado conhecimento sobre as realidades espirituais fundamentais do universo em geral e no destino particular de casa indivíduo.

O potencial das substâncias psicodélicas para agir como catalisadores para uma transformação gnóstica,ou para uma consciência contínua direta da realidade divina, mesmo que apenas em um pequeno número de pessoas, parece ser de extrema importância. Tradicionalmente, o número de indivíduos que costumam ter experiências místicas tem sido muito pequeno; o número daqueles que são capazes de realizar aplicações práticas destas experiências provavelmente tem sido ainda menor. Assim, a descoberta de psicodélicos, no sentido de facilitar tais experiências e processos, poderia ser considerado como um fator muito importante para um despertar espiritual geral da consciência humana coletiva. Outros fatores quepoderiam ser mencionados neste contexto são as mudanças de paradigmas revolucionários nas ciências físicas e biológicas, o crescente interesse em filosofias orientais e disciplinas espirituais, e a crescente consciência da unidade multi-cultural da família humana provocada pela rede de comunicações globais.

 

Psicodélicos nos Sistemas Tradicionais de Transformação

Em meus primeiros escritos, eu enfatizei a novidade das drogas psicodélicas, seus potenciais inimagináveis a serem realizados pela sua aplicação construtiva; e eu pensei neles como primeiro produto de uma nova tecnologia voltada para o espírito humano. Enquanto eu ainda acredito que esses potenciais existem, e que os psicodélicos sintéticos têm um papel a desempenhar na pesquisa da consciência, e talvez na evolução da consciência, minhas opiniões mudaram sob a influência das descobertas e escritos de antropólogos culturais e etnobotânicos, que chamaram a atenção para o papel da alteração da mente, e de elementos botânicos visionários em culturas ao redor do mundo.

Não se pode ler as obras de R. Gordon Wasson sobre os cultos mesoamericanos ao cogumelo (1980), ou o trabalho de Richard E. Schultes e Albert Hofmann (1979) sobre a profusão de alucinógenos nas Américas, ou o trabalho multi cultural de autores como Michael Harner (1973), Joan Halifax (1982), Peter Furst (1976), e Marlene Dobkin de Rios (1984), ou os pesquisadores médicos e psiquiátricos interculturalmente orientados tais como Andrew Weil (1980), Claudio Naranjo (1973), e Stanislav Grof(1985), ou contas pessoais, tais como os escritos de Carlos Castañeda, ou Florinda Donner (1982), ou osirmãos McKenna (1975), ou a biografia de Bruce Lamb de Manuel Cordova (1971), sem obter um forte senso da difusão da busca de visões, idéias e estados incomuns de consciência; e além disso, o senso que plantas psicoativas são usadas em muitas (mas não todas) culturas xamânicas que perseguem tais estados de consciência.Assim, fui levado para um ponto de vista mais próximo à de culturas aborígenes, uma visão da humanidade em uma relação de co-consciência, comunicação e cooperação com o reinoanimal, o reino vegetal, e o mundo mineral.Em tal visão de mundo, a ingestão de preparados de plantasalucinógenas a fim de obter conhecimento para a cura,para a profecia, para a comunicação com os espíritos, para antecipar perigos,ou para a compreensão do universo,aparece como uma das mais antigas e mais valorizadas tradições.

As várias culturas xamânicas por todo o mundo conhecem uma vasta variedade formas para entrar em realidades não ordinárias. Michael Harner (1980) nos mostrou que a “condução auditiva” com batidas prolongadas de tambor, é talvez uma tecnologia para entrar em estados xamanicos alucinógenos tão difundida quanto a ingestão de substâncias. Em algumas culturas, a hiperventilação rítimica produzida por certos tipos de canto podem ser outra forma de disparador de um estado alterado. O espíritos animais tornam-se guias e aliados na iniciação xamânica. Espíritos das plantas podem se tornar “ajudantes” também mesmo quando a planta não é ingerida pelo médico ou pelo paciente. A fumaça do tabaco é usada com purificador, bem como um suporte para a oração. Cristais são usados para focar energia para visões e para cura. Há sintonia, através da oração e meditação, com divindades e espíritos da terra, as 4 direções, os 4 elementos, o Espírito Criador. Através de muitas e diferentes formas, existe uma busca pelo conhecimento oriundo de outros estados, outros mundos, conhecimento que é usado para melhorar a maneira que nós vivemos neste mundo (através da cura, resoluções de problemas, etc.). O uso de plantas alucinógenas, quando ocorre, é parte de um complexo integrado de inter-relações entre a Natureza, o Espírito e a Consciência Humana.
Assim me parece que, as lições que devemos aprender com essas plantas e drogas expansoras da consciência tem a ver não só com o reconhecimento de outras dimensões da psique humana, mas com uma forma de ver o mundo radicalmente diferente; uma forma de ver o mundo que vem sendo mantida nas crenças, práticas e rituais de culturas xamânicas, e quase completamente esquecidas ou suprimidas pela cultura materialista do século XX. Existe, naturalmente, uma deliciosa ironia no fato de uma substância material ser responsável por despertar uma consciência adormecida de muitos de nossos contemporâneos para a realidade de energias, formas e espíritos não materiais.

Ao discutir a alquimia como o segundo dos três sistemas tradicionais de transformação da consciência mencionei acima, eu gostaria de enfatizar primeiro que temos apenas fragmentos de evidências mínimas de que a ingestão de alucinógenos tenha desempenhado qualquer papel na tradição alquímica Europeia. O uso de alucinógenos de solanáceas na bruxaria européia, que está relacionado tanto a xamanismo e alquimia, foi documentado por Harner (1973:125-130). Assim como, na alquimia taoísta chinesa, o uso de preparados vegetais e minerais para induzir o vôo do espírito e outras formas de estados alterados, foi analisado por Strickmann (1979). Um relato completo do papel dos alucinógenos na alquimia ainda não foi escrito. Possivelmente a nossa ignorância neste campo ainda é uma conseqüência do sigilo intencional por parte dos escritores alquímicos.

Mircea Eliade, em seu livro “The Forge and the Crucible” (1962), fez um forte argumento para a derivação histórica da alquimia dos tempos iniciais dos ritos e práticas da metalurgia, mineração e do forjamento de armas, nas Idades do Bronze e do Ferro. Pode-se argumentar que a alquimia é uma forma de xamanismo: o xamanismo dos que trabalhavam com minerais e metais, os fabricantes de ferramentas e armas. Muitas das preocupações dos alquimistas encontram paralelos em temas xamânicos. A o forte interesse na purificação e na cura, em descobrir ou fazer uma “tintura” ou “elixir” que dará saúde e longevidade. Há visões e encontros com espíritos de animais, alguns claramente de reinos imaginários. Há histórias de visões de figuras divinas ou do semi-divinas geralmente personificadascomo deidades da mitologia clássica. Há o reconhecimento da sacralidade, do espírito que anima, em toda a matéria. E há uma visão de mundo integral, que vê a espiritualidade, a religião, saúde e doenças, seres humanos, o mundo natural e seus elementos, todos inter-relacionados em uma totalidade.

Pode-se objetar que parece não haver equivalêcia entre a jornada xamânica e a alquímica; não há indicação clara de estados alterados de consciência nas quais, visões, poderes ou habilidades de cura são obtidos. Parece para mim que o equivalente na alquimia, à jornada xamânica é o opus, o trabalho, a experiência com suas diversas operações, como solutio, sublimatio, martificatio, e assim por diante. O foco é mais nas mudanças físicas e de personalidade à longo prazo que o inciado na alquimia tem que se submeter, assim como o xamã em treinamento também faz. Os experimentos na alquimia eram considerados como rituais meditativos, durante os quais visões poderiam ser vistas na retorta ou no forno, e mudanças interiores psicofisiológicas de estado eram desencadeadas pela observação de processos químicos.

Além disso, num recente e interessante trabalho, R.J. Stewart (1985) argumentou que na tradição occidental de magia e alquimia, que tem raízes na mitologia e crenças Celtas pré-cristãs, cujos traços ainda podem ser encontrados em baladas folclóricas, canções populares e cantigas de roda, a experiência trasnformadora central era uma viagem ao submundo. Esta iniciação ao submundo, ou outro mundoenvolvia fazer uma jornada para outros “reinos”, onde havia encontros com animais e seres espirituais, a sintonia com a terra e os ancestrais, rituais meditativos centrados em torno do simbolismo da árvore da vida, e outras características e colocam essa tradição claramente no fluxo da antiga tradição xamânica encontrada em todas as partes do globo.

Passando agora pasa a Yoga como o terceiro dos sistemas tradicionais de transformação evolutiva da consciência, não precisamos nos preocupar com a questão de saber se o uso de plantas visionárias é uma forma decadente e degradada de yoga, como Eliade (1958) parece acreditar; ou se o uso de alucinógenos era primário no culto do Soma, da antiga tradição Védica Indiana, como Wasson (1968) propôs. Às vezes, como no último ponto de vista, o corolário é proposto que os métodos de Yoga foram desenvolvidos quando a droga já não estava mais disponível, como uma forma alternativa de alcançar estados similares. Basta dizer que nas tradições do Yoga indiano, em particular nos ensinamentos do Tantra, temos um sistema de práticas para provocar uma transformação da consciência com muitos paralelos nas idéias xamânicas e alquímicas.

 

O uso de alucinógenos, como adjuvante das práticas de Yoga é conhecido até hoje na Índia, entre certas seitas Shivaite em particular, (Aldrich 1977). As escolas e seitas que não utilizam drogas tendem a considerer aquelas que usam como decadentes, como pertencentes assim chamado “caminho da mão esquerda” do Tantra, que também incorpora rituais de comida e de sexo (maithuna) como aspectos válidos do caminho da yoga. Sob a influência do ocultismo ocidental do século XIX e as idéias teosóficas, esse caminho do lado esquerdo tende a ser equiparado a “magia negra” ou a “feitiçaria”. Na realidade, a desinação “caminho da mão esquerda” deriva do princípio iogue que o lado esquerdo do corpo é o lado receptivo feminino, e assim, o caminho da esquerda é o caminho daqueles que adoram a Deusa (Shakti), como os tântricos fazem, e incorporam o corpo, o prazer dos sentidos, a nutrição e a sexualidade em seu Yoga. Assim, como no xamanismo e de alquimia, encontramos aqui uma vertente da tradição que envolve respeito e devoção ao princípio feminino, a deusa-mãe, a terra e seus frutos, o corpo de carne e sangue, e a busca de estados visionários extáticos.

É verdade que as tradições do Yoga indiano parecem não ter a mesma preocupação com o mundo natural dos animais, cristais e plantas, como é encontrado no xamanismo e de alquimia. A ênfase aqui, é mais em vários estados internos e sutis de consciência. No entanto, existem paralelos interessantes entre as três tradições. Uma energia de luz/fogo interior em diferentes centros e orgãos do corpo, como praticadas na Yoga Agni e na Kundalini, é similar à pratica alquímica da purificação pelo fogo, e às noções xamânicas de encher o corpo de luz (Metzner 1971, 1986). A tradição alquímica tântrica Indiana possui o conceito de rasa, que se assemelha ao coneito europeu de “tintura” ou “elixir”. Rasa tem significados internos — sentimento, humor, “alma”, e referents externos — essência, sumo, líquido. Rasayano era o caminho do Rasa., o caminho fluido da energia,  que envolve tanto as essencias externa e internas.[1] Como um terceiro paralelo, só vou mencionar o sistema budista tibetano Vajrayana, que é uma fusão notável de idéias budistas tântricas com o original xamanismo Bon dos tibetanos: um sistema onde os vários espíritos animais e demônios dos xamãs e feiticeiros se transformaram em personificações de princípios budistas e guardiões do dharma (Govinda 1960).

Conclusões

Parece incontestável que alucinógenos desempenharam algum papel, de forma imprevisível, nas tradições transformativas do xamanismo, alquimia e yoga. Se considerarmos a psicoterapia como um morderno descendente destes sistemas tradicionais, cooperativamente, de forma controlada, a aplicação de alucinógenos poderia ser usada em muitos aspectos da psicoterapia. E isso de fato já aconteceu, como os vários estudos de psicodélicos em casos de alcoolismo, cancer terminal, neurose obssessiva, depressão e outras condições testemuhadas (Grof 1985; Grinspoon e Bakalar 1979). Parece provável que estes tipos de aplicações de psicodélicos como coadjuvantes para a psicoterapia vão continuar, se não com o LSD e outras drogas de Categoria I, com outros mais novos e talvez mais seguros psicodélicos.

O que parece improvável para mim é que este tipo de aplicação psiquiátrica controlada nunca será suficiente para satisfazer as inclinações e as necessidades daqueles indivíduos que desejam explorar os psicodélicos no seu papel mais antigo, como ferramentas de busca para estados visionários e formas ocultas de conhecimento. O fato de o uso sério de alucinógenos, fora do quadro psiquiátrico, continuar apesar das suas graves sanções legais e sociais, sugere que este é um tipo de liberdade individual que não vai ser fácil de abolir. Sugere também que há uma necessidade forte, em certas pessoas, de restabelecer suas conexões com antigas tradições de conhecimento em que estados visionários de consciência e exploração de outras realidades, com ou sem alucinógenos, eram a preocupação central.

Pode ser que tal caminho seja sempre perseguido apenas por um número muito limitado de pessoas, tanto quanto as iniciações e práticas xamânicas, alquímicas e de yoga era seguidas por poucos indivíduos em cada sociedade. Acho que é um sinal de esperança que alguns, mesmo que poucos, estejam dispostos a explorar como se reconectar com essas fontes perdidas de conhecimento porque, como muitos outros, eu sinto que nossa sociedade material-tecnológica, com sua fragmentada visão de mundo, em grande parte perdeu-se em seu caminho, e não pode se dar ao luxo de ignorar as possíveis ajudas para um maior conhecimento da mente humana. O quadro ecologicamente equilibrado e humanisticamente integrado de entendimento que as tradições antigas certamente tem a nos oferecer.

Além disso, é muito claro que as visões e insights dos indivíduos que buscam estes caminhos são visões para o presente e para o futuro, não apenas de interesse historico ou antropológico. Este sempre foi o padrão: o indivíduo busca uma visão para compreender o seu lugar, ou seu destino, como um membro da comunidade. O conhecimento derivado dos estados alterados tem sido, podem ser, e precisam ser aplicados para a solução dos problemas de escalonamento que confrontam as nossas espécies. É por isso que as descobertas de Albert Hofmann tem imensa importância – para a compreensão do nosso passado, para a consciência da nossa presença, e o salvo-conduto do nosso futuro. Pois, nas palavras da Bíblia: “Onde não há visão, o povo perece.”

 

Nota de rodapé

1. Pode-se dizer que os processos fisico-químicos do rasayana servem como o veículo para operações psíquicas e espirituais. O elixir obtido pela alquimia corresponde à “imortalidade” perseguida pela Yoga Tantrica (Eliade 1958 283).

Ralph Metzner Ph.D. é um psicólogo alemão, escritor e pesquisador, tendo participado das pesquisas de psicodélicos na Universidade de Harvard no início dos 60 com Timothy Leary e Richard Alpert (Ram Dass). Dr. Metzner é um psicoterapeuta, e professor emérito de Psicologia no California Institute of Integral Studies em São Francisco, onde já foi vice presidente acadêmico.

Os Psicodélicos Expandem a Mente Reduzindo a Atividade Cerebral?

O que você veria se pudesse olhar dentro de um cérebro em processo alucinatório? Apesar de décadas de investigação científica, nós ainda temos a falta de um entendimento claro de como drogas alucinógenas como o LSD (dietilamida do ácido lisérgico), mescalina e psilocibina (o principal ingrediente ativo em cogumelos mágicos) trabalham no cérebro. A ciência moderna demonstrou que alucinógenos ativam receptores da serotonina, um dos mensageiros químicos chave. Especificamente, dos 15 diferentes receptores de serotonina, o subtipo 2A (5-HT2A), parece ser o que produz alterações profundas do pensamento e da percepção. É incerto, entretanto, por que a ativação do receptor 5-HT2A pelos alucinógenos produz efeitos psicodélicos, mas muitos cientistas acreditam que os efeitos estão ligados a aumentos na atividade cerebral. Embora não seja conhecido porque essa ativação causaria profundas alterações da consciência, uma especulação é que um aumento espontâneo da atividade de algumas células do cérebro levariam a alterações sensoriais e perceptivas, ressurgimento incontrolado de memórias, e a projeção de “ruído” mental no olho da consciência.

 

atividade_cerebral_1O autor Inglês Aldous Huxley acreditava que o cérebro funciona como uma “válvula redutora”, que acabaria por restringir a consciência. Com mescalina e outros alucinógenos, é possível induzir efeitos psicodélicos inibindo esse mecanismo de filtragem. Huxley baseou essa explicação inteiramente em suas experiências pessoais com mescalina, que foi dada a ele por Humphrey Osmond, o psiquiatra que deu origem ao termo “psicodélico”. Apesar de Huxley ter proposto essa ideia em 1954,décadas antes do surgimento da ciência moderna do cérebro, ele pode estar correto. A maioria das opiniões é de que alucinógenos trabalham ativando o cérebro, ao invés de inibi-lo como Huxley disse. Os resultados de um estudo recente de imagens está desafiando essas explicações convencionais sobre a ativação da atividade cerebral.

O estudo em questão foi conduzido pelo Dr. Robin Carhart-Harris em conjunto com o professor David Nutt, um psiquiatra que era assessor científico do governo do Reino Unido na a política de drogas. O Doutor Carhart-Harris, Nutt, e colegas utilizaram ressonância magnética funcional para estudar os efeitos da psilocibina na atividade cerebral de 30 utilizadores experientes de psicodélicos. Nesse estudo, a administração intravenosa de 2mg de psilocibina induziu um estado psicodélico moderado que foi associado a reduções da atividade neural em regiões do cérebro, como o córtex pré-frontal medial e o córtex cingulado anterior.

Os dois córtex em questão estão extremamente inter-conectados com outras regiões do cérebro e acredita-se estarem envolvidos em funções como a regulação emocional, o processamento cognitivo, e a instrospecção. Baseado nas suas descobertas, os autores do estudo concluíram que alucinógenos reduzem atividades em regiões específicas do cérebro, diminuindo potencialmente a sua habilidade de coordenar o funcionamento de regiões cerebrais inferiores. De fato, a psilocibina aparenta inibir regiões do cérebro que são responsáveis por restringir a consciência dentro dos limites normais do estado desperto, uma interpretação que é notavelmente similar ao que Huxley propôs meio século atrás.

Os achados reportados pelo Dr. Carhart-Harris são notáveis porque eles vão de encontro aos resultados de estudos de imagens anteriores com alucinógenos. Geralmente, essas ressonâncias em humanos confirmaram o que estudos prévios em animais sugeriram: alucinógenos agem aumentando a atividade de certos tipos de células em diversas regiões do cérebro, ao invés de diminuir como indicado pelo estudo de ressonâncias do Dr. Nutt. Por exemplo, experimentos com tomografia por emissão de pósitrons conduzidos pelo Dr. Franz Vollenweider em Zurique (vide post: 10 Fatos Surpreendentes sobre Alucinógenos, Psicodélicos e Cogumelos Mágicos) demonstraram que a administração de psilocibina oralmente em humanos aumenta a atividade metabólica nos córtex descritos anteriormente, efeitos que acredita-se estarem correlacionados com a intensidade da resposta psicodélica. Estudos pré-clínicos, utilizando uma variedade de técnicas diferentes, mostraram que alucinógenos aumentam a atividade neural no córtex pré-frontal e em outras regiões corticais ativando neurônios excitatórios e inibitórios, levando a um aumento na liberação de neurotransmissores excitatórios e inibitórios.

Dado a esses achados anteriores, os dados colhidos pelas ressonâncias pelo Dr. Nutt são de certo modo supreendentes. Questões metodológicas (como rota de administração, dosagem, e o espectro e a extensão dos sintomas induzidos pela psilocibina) podem ser pelo menos parcialmente responsáveis por essas diferenças, devido ao processo não ser igualmente medido. É também importante considerar que o receptor 5HT2A não é o único receptor de serotonina que é ativado pela psilocibina. Os experimentos do Dr. Vollenweider confirmaram que o aumento da atividade metabólica detectada pelas tomografias é mediado pelo receptor 5HT2A (o receptor de serotonina responsável pelos efeitos psicodélicos da psilocibina). Como o grupo do Dr. Nutt não conduziu um teste similar para verificar que os efeitos que eles observaram foram mediados pelo receptor 5HT2A, esse com certeza é o próximo passo lógico.

Lophophora cactus flowering (Lophophora williamsii).
Lophophora cactus flowering (Lophophora williamsii).

Esperançosamente, estudos que se seguirão poderão providenciar uma explicação para esses achados discrepantes, e vão resolver o debate sobre se os alucinógenos funcionam reduzindo ou aumentando a atividade cerebral. Ensaios clínicos estão sendo conduzidos para investigar se os alucinógenos podem ser usados para aliviar o estresse e a ansiedade em pacientes com câncer terminal, para atenuar os sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo, para reduzir a frequências de enxaquecas em salvas, entre outros (vide post), então é importante determinar o mecanismo para o efeito terapêutico dos alucinógenos. Além disso, parece haver alguma confusão entre os efeitos dos alucinógenos e os sintomas da psicose, então entendendo como os alucinógenos trabalham pode potencialmente providenciar insights sobre as causas da esquizofrenia e facilitar o desenvolvimento de tratamentos mais efetivos. Em qualquer evento, é importante notar que estudos identificaram que os córtex citados trabalham como peças-chaves na mediação dos efeitos dos alucinógenos. Na luz do que é conhecido sobre as funções base dessas regiões cerebrais, não é sem razão que eles poderiam estar envolvidos na mediação dos efeitos das drogas alucinógenas. Embora não esteja claro ainda se os alucinógenos trabalham na mente humana da maneira proposta por Huxley, parece que nós conseguimos identificar com sucesso algumas das regiões neurais chaves envolvidas nos efeitos desses agentes poderosos.

Traduzido da Scientific American

Alucinógenos que podem curar

Matéria publicada em Janeiro pela ” Scientific American Brasil“, nos foi direcionada por Vinícius Costa.

Em horas, substâncias psicoativas são capazes de induzir realinhamentos psicológicos profundos que exigiriam décadas para serem alcançados no divã.
por Roland R. Griffiths e Charles S. Grob

SANDY LUNDAHL, EDUCADORA EM SAÚDE DE 50 ANOS DE IDADE, chegou ao centro de estudos biológicos comportamentais na Johns Hopkins University School of Medicine em uma manhã de primavera de 2004. Ela se ofereceu para participar de um dos primeiros estudos com drogas alucinógenas nos Estados Unidos em mais de três décadas. Preencheu questionários, conversou com os dois monitores que estariam com ela pelas próximas oito horas e se ajeitou no confortável espaço parecido com uma sala de estar em que a sessão aconteceria. Então, engoliu duas cápsulas azuis e reclinou-se em um sofá. Para ajudá-la a relaxar e focar seu interior, ela usava tapa-olhos e fones de ouvido, que transmitiam música clássica especialmente selecionada.

As cápsulas continham um a alta dose de psilocibina, principal componente dos cogumelos “mágicos”, que, como o LSD e a mescalina, produzem alterações de humor e percepção, mas muito raramente alucinações. Ao final da sessão, quando os efeitos haviam se dissipado, Sandy, que nunca havia tomado um alucinógeno antes, preencheu mais questionários. Suas respostas indicavam que, durante o tempo em que ficou na sala, havia passado por uma profunda
experiência mística.

Em uma visita de acompanhamento mais de um ano depois, ela disse que continuava a pensar na experiência diariamente e – o mais notável – que ela a considerava o evento mais pessoal e espiritualmente significativo de sua vida. Ela sentia que aquilo trouxera mudanças positivas em seu humor, atitudes, comportamento e uma perceptível melhora em sua satisfação com a vida como um todo. “Parece que a experiência levou a uma aceleração do meu desdobramento ou desenvolvimento espiritual”, descreveu. “Lampejos de introspecção ainda ocorrem… Sou muito mais amorosa – compensando as feridas que causei no passado… Sou cada vez mais capaz de perceber as pessoas como tendo a luz do divino fluindo por elas.”

Sandy foi uma de 36 participantes de um estudo conduzido por um de nós de (Griffiths) na Johns Hopkins que começou em 2001 e foi publicado em 2006, seguido por um relatório que saiu dois anos depois. Quando o primeiro trabalho apareceu no periódico Psychopharmacology, muitos membros da comunidade científica saudaram a ressurreição de uma área de pesquisas que estava dormente havia um bom tempo. Os estudos com a psilocibina na universidade continuam por dois caminhos: um explora os efeitos psicoespirituais da droga em voluntários saudáveis. O outro estuda se os estados de consciência alterada induzidos por alucinógenos – e, em particular, experiências místicas – poderiam mitigar os efeitos de vários problemas psiquiátricos e comportamentais, incluindo alguns para os quais as terapias atuais não chegam a ser efetivas. A principal droga usada nesses estudos é a psilocibina, que integra os chamados alucinógenos clássicos. Assim como as outras drogas dessa classe – psilocina, mescalina, DMT e LSD –, a psilocibina age nos receptores de serotonina das células cerebrais. Confusamente, substâncias de outras classes que exercem efeitos farmacológicos diferentes desses dos alucinógenos clássicos também são rotuladas como alucinógenos” pela mídia e por relatórios epidemiológicos. Esses compostos, alguns dos quais também podem oferecer potencial terapêutico, incluem a quetamina, o MDMA (popularizado como “ecstasy”), salviorina A e ibogaína, entre outros.

SUPERANDO LEARY

A PESQUISA TERAPÊUTICA com os alucinógenos se vale de evidências promissoras observadas em estudos iniciados nos anos 50 que, coletivamente, envolveram milhares de participantes. Alguns desses estudos sugeriam que os alucinógenos poderiam ajudar a tratar a dependência química e a aliviar o sofrimento psicológico das doenças terminais. Essa pesquisa parou no início dos anos 70, quando o uso recreativo dos alucinógenos, principalmente o LSD, cresceu e atraiu uma cobertura sensacionalista da mídia. Esse campo de investigação também foi afetado pela demissão amplamente divulgada de Timothy Leary e Richard Alpert da Harvard University em 1963, em resposta à preocupação sobre métodos heterodoxos de pesquisa usando alucinógenos, incluindo, no caso de Alpert, oferecer psilocibina a um estudante fora do campus.

O crescente uso sem supervisão de substâncias pouco compreendidas, em parte resultado do apoio dado a elas pelo carismático Leary, ganhou repercussão. O Ato de Substâncias Controladas, de 1970, pôs os alucinógenos comuns na Lista 1, a categoria mais restritiva. Novas limitações foram impostas à pesquisa com humanos, a subvenção estatal foi suspensa e os pesquisadores envolvidos nessa linha de pesquisa se viram profi ssionalmente marginalizados.

Décadas se passaram antes que as atitudes que bloquearam as pesquisas arrefecessem o bastante para permitir estudos rigorosos com humanos envolvendo o uso dessas substâncias. As experiências místicas permitidas pelos alucinógenos interessam os pesquisadores particularmente porque têm o potencial de produzir mudanças positivas rápidas e duradouras no humor e comportamento – alterações que podem demandar anos de esforço na psicoterapia convencional.

O trabalho feito na Johns Hopkins é emocionante porque demonstra que essas experiências podem ser produzidas em laboratório na maioria das pessoas estudadas. Ele permite, pela primeira vez, pesquisas científi cas rigorosas e avaliações que registram os voluntários antes e depois do uso da droga. Esse tipo de estudo permite aos pesquisadores examinar as causas e efeitos psicológicos e comportamentais dessas experiências extraordinárias.

Pesquisadores da Johns Hopkins usaram questionários originalmente desenvolvidos para avaliar experiências místicas que ocorriam sem drogas. Eles também analisaram os estados psicológicos gerais dos participantes entre dois e 14 meses após a sessão com psilocibina. Os dados mostraram que os participantes experimentaram um aumento na autoconfiança, maior sensação de contentamento interior, melhor capacidade de tolerar frustrações, diminuição do nervosismo e aumento no bem-estar geral. Um comentário típico de um participante: “A sensação de que tudo é Um, que eu experimentei a essência do Universo e o saber que Deus não nos pede nada, exceto receber amor. Não estou sozinho. Não temo a morte. Sou mais paciente comigo mesmo”. Outra participante ficou tão inspirada que escreveu um livro sobre as experiências.

ALÍVIO DO SOFRIMENTO

QUANDO A PESQUISA SOBRE a terapia baseada em alucinógenos foi suspensa, há cerca de 40 anos, deixou uma lista de tarefas que incluía o tratamento do alcoolismo e outras dependências, a ansiedade associada ao câncer, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós- traumático, desordens psicossomáticas, transtornos severos de personalidade e autismo.

No câncer, os pacientes frequentemente se confrontam com ansiedade severa e depressão, e antidepressivos e drogas redutoras de ansiedade podem ter uma atuação limitada para amenizar esses casos. Nos anos 60 e início dos 70, mais de 200 pacientes de câncer receberam alucinógenos clássicos em uma série de estudos clínicos. Em 1964, Eric Kast, da Chicago Medical School, que administrou LSD a pacientes terminais com dores severas, relatou que os pacientes desenvolveram um “desprezo peculiar pela gravidade de sua situação e conversavam livremente sobre sua morte iminente com uma característica considerada não usual pelos costumes ocidentais, mas muito benéfica aos seus estados mentais.” Estudos posteriores, produzidos por Stanislav Grof, William Richards e seus colegas do Spring Grove Psychiatric Hospital próximo a Baltimore (e mais tarde no Maryland Psychiatric Research Center) usaram LSD e outro alucinógeno clássico, o DPT (dipropiltriptamina). Os testes mostraram diminuição na depressão, ansiedade e medo da morte. E pacientes com experiências místicas mostram as melhoras mais significativas na medição psicológica de bem-estar.

Um de nós (Grob) atualizou esse trabalho. Em setembro passando, um ensaio no periódico Archives of General Psychiatry relatou um estudo piloto realizado entre 2004 e 2008 no Harbor-Ucla Medical Center para avaliar se as sessões com psilocibina reduziam a ansiedade em 12 pacientes terminais de câncer. Apesar de o estudo ser pequeno demais para permitir conclusões mais significativas, foi encorajador: os pacientes mostraram diminuição na ansiedade e melhora no humor, mesmo vários meses após a sessão.

Alcoólatras, fumantes e outros dependentes químicos podem relatar vitória sobre suas dependências após uma experiência mística que os afetou profundamente e ocorreu de forma espontânea, sem uso de drogas. A primeira onda de pesquisas clínicas com alucinógenos reconheceu o potencial terapêutico dessas experiências transformadoras. Mais de 1.300 pacientes participaram de estudos sobre dependência que originaram mais de duas dúzias de publicações décadas atrás. Em alguns desses estudos foram administradas altas doses em pacientes pouco preparados e reduzido apoio psicológico, alguns fisicamente presos ao leito. Pesquisadores que compreendiam a importância da preparação e deram apoio a seus pacientes tendiam a obter melhores resultados. Esse trabalho antigo trouxe resultados
promissores, mas inconclusivos.

A nova geração de pesquisa com alucinógenos, com melhores metodologias, deve ser capaz de determinar se essas drogas podem de fato ajudar as pessoas a superar dependências. Além do tratamento da dependência, os estudos mais recentemente começaram a testar se a psilocibina pode mitigar os sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo. Outras substâncias controladas com mecanismos diferentes de ação também estão mostrando potencial terapêutico. Pesquisas evidenciam que a quetamina, administrada em baixas doses (é normalmente usada como anestésico), poderia dar um alívio mais rápido da depressão que os antidepressivos tradicionais, caso do Prozac. Um teste recente, na Carolina do Sul, usou o MDMA para tratar com sucesso o transtorno de estresse pós-traumático em pacientes em que as terapias convencionais não produziram efeito. Testes similares com o MDMA estão a caminho na Suíça e em Israel.

A ESTRADA À FRENTE

PARA QUE AS TERAPIAS COM USO de alucinógenos clássicos ganhem aceitação, terão de superar preocupações que emergiram com os excessos dos “psicodélicos anos 60”. Os alucinógenos podem, às vezes, induzir à ansiedade, paranoia ou pânico, que, em ambientes sem supervisão, podem produzir ferimentos acidentais ou mesmo suicídio. No estudo feito na Johns Hopkins, mesmo após cuidadosa seleção, e ao menos oito horas de preparação com um psicólogo clínico, cerca de um terço dos participantes experimentaram algum período de medo significativo e cerca de um quinto sentiram paranoia em algum momento durante a sessão. Mas no ambiente acolhedor oferecido pelo centro de pesquisas e com a constante presença de guias treinados, os participantes não demonstraram efeitos negativos duradouros.

Outros riscos potenciais dos alucinógenos incluem psicose prolongada, aflição psicológica, distúrbios na visão ou nos outros sentidos, com duração de dias ou mais. Esses efeitos, no entanto, não são muito frequentes e se mostram ainda mais raros em voluntários preparados psicologicamente. Apesar do eventual abuso na utilização dos alucinógenos clássicos (usados de forma a pôr em risco a segurança dos usuários ou de outros), eles não são tipicamente considerados drogas viciantes, porque não levam ao uso compulsivo nem produzem síndrome de abstinência. Para ajudar a minimizar as reações adversas, os pesquisadores da Johns Hopkins publicaram recentemente um conjunto de normas de segurança para a realização de estudos com altas dosagens de alucinógenos. Em função da habilidade dos pesquisadores em tratar com os riscos das drogas, sentimos que os estudos dessas substâncias devem continuar devido ao seu potencial para transformar a vida, digamos, de um paciente de câncer ou dependente químico. Se elas se mostrarem úteis no tratamento do abuso químico, ou da ansiedade existencial associada a doenças que põem a vida em risco, pesquisas posteriores poderiam ser beneficiadas. Os benefícios também podem vir da neuroimagem e de técnicas farmacológicas que não existiam nos anos 60 e que fornecem uma melhor compreensão de como essas drogas atuam.

A visualização das áreas do cérebro envolvidas nas emoções e pensamentos intensos que as pessoas têm sob a influência das drogas dará uma janela para a psicologia por trás das experiências místicas produzidas pelos alucinógenos. Pesquisas adicionais também poderão trazer abordagens não farmacológicas mais eficientes se comparadas às práticas espirituais tradicionais, como meditação ou jejum para produzir experiências místicas e mudanças comportamentais desejadas.

A compreensão sobre como as experiências místicas podem levar a atitudes benevolentes em relação a si mesmo e aos outros deve ajudar a explicar o bem documentado papel de proteção da espiritualidade no bem-estar e saúde psicológica. As experiências místicas podem originar um senso profundo e duradouro da interconexão entre pessoas e coisas – perspectiva que está por trás dos ensinamentos éticos das tradições religiosas e espirituais. Assim, uma compreensão da biologia dos alucinógenos clássicos poderia ajudar a esclarecer os mecanismos por trás do comportamento ético e cooperativo humano – conhecimento que, acreditamos, poderá vir a ser crucial para sobrevivência da nossa espécie.

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Roland R. Griffiths é professor nos departamentos de psiquiatria e neurociências da Johns Hopkins University School of Medicine. Seus principais focos de pesquisa têm sido os efeitos comportamentais e subjetivos das drogas que alteram o humor. Ele é o líder de pesquisas com a psilocibina na Johns Hopkins.

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Charles S. Grob é professor de psiquiatria e pediatria da David Geff em School of Medicine da Ucla e diretor de Divisão de Psiquiatria Infantil e Adolescente no Harbor-Ucla Medical Center. Ele conduziu testes clínicos com várias drogas alucinógenas, incluindo o uso da psilocibina no tratamento da ansiedade em pacientes com câncer.

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Agregado ao Micélio


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Experiência Cósmica com LSD

Stanislav Grof, psiquiatra tcheco, nascido em 1 de Julho de 1931, na cidade de Praga, desenvolveu nos EUA pesquisas sobre os estados alterados de consciência (EAC), através de experiências utilizando o ácido lisérgico, LSD, como meio de atingir tais estados. Segundo ele isso propiciava que os pacientes atingissem outros estados conscienciais tidos como anormais, mas que eram importantes para a recuperação da saúde mental. Quando o paciente voltava da “viagem” era capaz de ter outras compreensões (insights) que ajudavam na sua recuperação. Mais tarde desenvolveu uma técnica chamada Respiração Holotrópica, através da qual é possível atingir os mesmos estados de consciência através da respiração sem o uso do LSD como gatilho.

Neste Vídeo, Grof descreve a experiência que marcou sua vida e inspirou toda a sua carreira profissional.

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Just Say “KNOW” – Timothy Leary

por Timothy Leary

*Estou reproduzindo um post muito interessante do blog http://avisospsicodelicos.blogspot.com. O título deste artigo é uma sátira com a campanha anti-drogas norte americana, denominada “Just Say No”.

A “guerra contra as drogas” é absolutamente indecente. A proibição do uso de substâncias psicotrópicas beneficia a violência do tráfico às custas do dinheiro público, além de não impedir na prática a utilização de drogas, que devido a procedência duvidosa e adulteração, ficam ainda mais perigosas. Neste texto procurarei destrinchar a ideologia duvidosa que proíbe coisas como a maconha e os alucinógenos, ignorando o uso milenar dessas substâncias com fins religiosos, hedonistas ou medicinais.

A raiz da proibição de substâncias está na igreja medieval, que por razões dogmáticas proibia o uso de todo o tipo de especiarias (não só psicotrópicos) como perfumes, açúcar, etc. O que quer que causasse prazer era controlado pelo clero. Mesmo a música demorou anos para se livrar da proibição da dissonância e mesmo da polifonia, a base de toda a música ocidental após o período renascentista.

O sexo até hoje é desconsiderado pela igreja como um ato sublime e religioso por si só, sem a reprodução como finalidade precípua, e a proibição de anticoncepcionais pelo Papa só endossa esta afirmação. Mesmo drogas medicinais eram atacadas, principalmente por serem utilizadas por “bruxos”, que não passavam de médicos camponeses, parteiras, etc., que tinham o conhecimento das ervas. O descobrimento da América, já numa época onde essas substâncias eram toleradas, criou nações, como o Brasil, que dependiam e criavam sua riqueza (que, claro, ia para os colonizadores) quase que unicamente de uma substância psicotrópica que causa dependência, o café, e do açúcar, especiarias antes com o uso restringido na Europa. Isso sem falar no tabaco, hábito dos índios americanos que se espalhou pelo mundo com uma velocidade alarmante, apesar das restrições da Igreja, que não poderia tolerar uma coisa “infernal” como aquela, que queimava e produzia fumaça.

No século passado, já com o iluminismo absolutamente consolidado, em pleno positivismo, fez-se a descoberta de inúmeras drogas, entre elas os anestésicos, que revolucionaram a cirurgia. Intelectuais faziam uso de Absinto (uma bebida com um efeito ligeiramente diferente do álcool), cocaína, ópio, tabaco sob a forma de rapé e cigarros, e o uso dessas substâncias (com exceção talvez do ópio) era requintada e dândi. Mas entre as classes populares ainda havia o preconceito (além da falta de dinheiro, claro) reminiscente da Igreja, principalmente entre os Protestantes, mas o álcool sempre foi largamente utilizado.

O século XX entrou com a psicanálise do Dr. Freud, que era um notável usuário de tabaco e cocaína, que na época não era considerado, como normalmente se entende hoje, um ponto negativo para ele. Na Sears, loja de departamentos Norte-Americana, se podia comprar um kit com um seringa e diversas substâncias para o senhor de família relaxar ou se divertir. A antropologia estava em alta e diversos estudiosos viajavam para lugares remotos e experimentavam as drogas religiosas de diversos povos.

De fato quase toda cultura têm uma droga específica. Alguns casos chegam ao extremo, como algumas tribos vikings, que usavam um cogumelo extremamente tóxico. Eles faziam o guerreiro mais forte tomar uma poção com o cogumelo e depois toda a tribo bebia a urina do guerreiro, que mantinha o efeito psicotrópico mas não o efeito tóxico, o guerreiro passava mal alguns dias. Os índios mexicanos que usam cactus Peyote vomitam por dias a fio, com a boca lanhada e seca, apenas para ter alucinações. Normalmente quem faz o uso dessas substâncias é o xamã, ou pagé, da tribo, e ele a partir disso faz previsões ou curas.

Zoroastrismo, Igreja Cóptica, esquimós da Sibéria, índios por toda a América (aliás 80% das plantas alucinógenas se concentra na América), sufis do islã, tribos africanas, todos usam ou usavam substâncias psicotrópicas, sem contar o álcool, com fins religiosos, de prazer ou medicinais. Acredita-se que na Grécia antiga, nos ritos de Eleusis, se utilizava um derivado do Ergot, o mofo do centeio, como um alucinógeno semelhante ao LSD. Se isso for verdade, gregos ilustres como Platão, que participavam das cerimônias utilizavam (ou viam pessoas utilizar) alucinógenos.

Mas com tudo isso, a maior nação Protestante do mundo, os Estados Unidos, em 1914 resolveram baixar uma lei proibindo o uso de diversas substâncias psicotrópicas, feito imitado por todo o mundo algum tempo depois. Além disso, na década de 30, talvez devido a depressão econômica, tentaram proibir o álcool. O tráfico foi tanto, a violência tanta, que voltaram atrás.

Enquanto isso se descobria o LSD e Aldous Huxley fazia experimentos com a mescalina e escrevia um livro muito influente até hoje “As portas da percepção”. As bases estavam lançadas para o primeiro movimento contracultural, os Beatniks, nos anos 50. Usuários de drogas pesadas, intelectuais, apreciadores do Jazz, este grupo razoavelmente pequeno de pessoas foi a base cultural da revolução dos anos 60. Através de seus livros uma geração inteira de pessoas direcionadas para o uso sem preconceitos, e até exagerado, de drogas foi criada. E com ela a revolução sexual e cultural que todos conhecemos.

As pesquisas com o uso psiquiátrico do LSD caminhavam (com resultados controversos até hoje) muito bem, quando o governo percebeu havia toda uma geração não voltada para o consumo, despreocupada com o trabalho e pacifista (isso em plena e inútil guerra do Vietnã). Esse foi o ultimato para as drogas. O governo americano proibiu o LSD em 1966, e acabou com as verbas para sua pesquisa (o estudo psiquiátrico do LSD continua apenas na Suíça). O tráfico internacional de drogas começou. Ouve toda uma campanha de desinformação sobre drogas. O usuário de drogas não podia confiar em nenhuma informação técnica sobre a substância, reportagens exageradas mostravam fatos duvidosos, etc. Até hoje existe algo disso, embora seja muito mais fácil conseguir informação confiável sobre drogas.

É isso mesmo. Você achava que o governo proíbe as drogas porque elas “fazem mal”, mas na verdade o governo as proíbe porque elas são contraproducentes numa sociedade de zumbis consumistas, trabalhadores incansáveis de corporações sem rosto e pessoas naturalmente deprimidas e sem religião. É verdade que algumas drogas fazem mal e provocam uma dependência terrível, como a heroína, é verdade que se pode morrer de overdose de cocaína, e é verdade que uma pessoa despreparada e deprimida, num ambiente desfavorável, pode se suicidar pelo efeito do LSD. Mas o álcool e o tabaco também provocam muitos malefícios e são liberados. Você não acha que o cidadão é que deveria decidir o que utilizar? Você gosta de ser tratado como um bebê que não pode comer um doce porque papai não quer? Você, cidadão respeitável, gosta de pagar a busca e apreensão de drogas, que podiam render impostos para o governo e ainda ter uma qualidade bem melhor, o que evitaria muitas mortes? Você acha que seu filho merece a informação dos amigos e traficantes ou a de uma bula? Você não confia nas pessoas?

Não prego aqui a liberação de heroína ou cocaína, o que seria impossível aqui, embora a experiência da Holanda não seja o que pregam. Lá pelo menos os Junkies, que são doentes, têm o auxílio do governo. E sempre vão haver Junkies, pesquisas mostram que pelo menos 10% da população desenvolve algum tipo de dependência que não seja café ou tabaco. Mas alucinógenos não provocam dependência e geralmente são experiências enriquecedoras. Quase não existe tráfico de LSD, simplesmente porque ele não vicia, a pessoa sequer sente uma vontade reincidente (como na cocaína, outra droga que não causa dependência física, apenas uma forte dependência psicológica) – ou seja, drogas seguras não são normalmente traficadas, e o lugar comum chega a pensar (já me vieram com essa diversas vezes) que o “Ácido” é muito mais perigoso do que a cocaína. Sem falar na maconha, que nunca deveria ter sido proibida, e que leva a fama de quase tudo que não é, aditiva, destruidora de cérebro, etc. E as pessoas que falam isso bebem todo o dia, ou todo o fim de semana.

Não prego aqui que todos devam usar drogas. Apenas os xamãs modernos, os artistas e os intelectuais, as pessoas criativas em geral é que normalmente se beneficiam, e que arcam o pequeno preço que algumas drogas cobram. Mas todos temos o direito de experimentar. Todos temos o direito de saber.

Drogas – Just Say “Know”.