Thomas Kuhn e a Revolução Psicodélica

Por Peter Webster
Uma palestra apresentada à
Sociedade Italiana de Estudo dos Estados de Consciência
Perinaldo, Itália, agosto de 2006

Traduzido da Psychedelic Library

 

 

Introdução

A descoberta, ou melhor dizendo, a redescoberta de drogas psicodélicas no meio do século 20 foi essencialmente uma descoberta científica; no entanto, pouca atenção tem sido dada ao contexto dessa descoberta em relação à história e filosofia da própria ciência. Uma grande quantidade de atenção foi, ao contrário, concentrada nas conexões entre o conhecimento moderno sobre psicodélicos e as tradições xamânicas, a longa história do uso religioso de plantas e preparações psicoativas e as possíveis extensões modernas dessas antigas tradições psicodélicas para fins médicos. É claro, de se esperar que esse seja o caso – foi o curso natural que a pesquisa psicodélica seguiu.

Mas, para entender mais plenamente certas peculiaridades que se seguiram à redescoberta psicodélica, podemos nos beneficiar de uma verificação de como essa descoberta se encaixa na história da tradição científica em si. Acredito que é SOMENTE a partir de tal observação que podemos entender nossa situação atual, onde parece que apenas pequenos grupos de pessoas, muitas vezes profissionalmente isolados, levam a sério o legado e as implicações da redescoberta psicodélica, onde a esmagadora maioria dos cientistas atualmente ativos não tem qualquer conhecimento preciso sobre drogas psicodélicas e, de fato, se opõe e rejeita ativamente a ideia de que as drogas servem para algo.

Para muitos, aparentemente, essa rejeição e repressão é algo incomum na ciência, algo que os pioneiros psicodélicos não mereciam. Para muitos, aparentemente, parece que quando verdades são reveladas pela pesquisa – mesmo quando são revolucionárias e talvez chocantes para muitos – essas verdades devem, pela natureza da ciência, serem aceitas e desenvolvidas pelo mainstream.

No entanto, um exame da história do avanço científico revela algo bem o oposto, e um estudo de como a ciência realmente opera na prática pode nos dar um pouco mais de coragem para persistir no que tantos outros consideram uma mera tolice.

 

Thomas Kuhn e a Revolução Psicodélica

Thomas Kunh

Pelo que posso dizer, Thomas Kuhn não tinha nada a dizer sobre drogas psicodélicas ou os vários usos que podem ser dados a elas. O título da minha palestra de hoje pode, portanto, parecer um tanto inadequado, não fosse o fato de que Kuhn TEVE MUITO A DIZER sobre revoluções – revoluções científicas, ou seja, o tipo de agitação geral dos conceitos fundamentais que ocorre em várias disciplinas científicas de tempos em tempos. Thomas Kuhn, como você pode saber, construiu toda uma teoria das revoluções científicas: o que elas são, como e por que ocorrem, quem as provoca – e, ao fazê-lo, redefiniu o que é a ciência de muitas maneiras.

O que conecta Kuhn aos psicodélicos é que a redescoberta dos psicodélicos no meio do século 20 prometeu mudanças revolucionárias em vários campos de investigação científica e medicina e, como afirmarei mais adiante, uma revolução no conceito de estudo científico em si. Refiro-me à redescoberta dos psicodélicos, é claro, porque como todos sabemos, o uso dessas substâncias é muito antigo, global e provavelmente remonta ao início da existência humana. Os psicodélicos tiveram que ser REDESCOBERTOS porque a civilização industrial moderna vem sendo uma das muito poucas sociedades humanas quase que totalmente inconscientes das plantas psicodélicas e sem qualquer uso geral delas para cura¹, iniciação, práticas religiosas e heurísticas, e assim por diante. (Nota do tradutor ¹: da data do texto para cá, inúmeros estudos médicos vem sendo testados e aplicados por instituições como Berkeley, Johns Hopkins e MAPS)

As potenciais mudanças revolucionárias que essa redescoberta deveria ter trazido teriam sido bem descritas e sua gênese e crescimento bem previstos pela teoria de Kuhn se não fosse pelo fato de que praticamente todas essas promessas revolucionárias ainda permanecem não cumpridas, sufocadas por uma longa reação antipsicodélica. Essa reação foi provocada pela primeira vez no final da década de 1960 por forças sociais e governamentais nos EUA, perpetuando uma longa e sombria tendência puritana nos Estados Unidos que trouxe ao mundo a grande loucura das políticas proibitivas modernas. Mas logo depois, o próprio establishment científico pareceu ser infectado com essa situação semelhante a uma doença, de modo que hoje é raro o cientista que tem qualquer indício de que a redescoberta de drogas psicodélicas pode ser algo não apenas interessante, mas extremamente importante e potencialmente revolucionário. Apesar da verdade do assunto, tão óbvia para aqueles que sabem, dizer que a redescoberta psicodélica foi um dos desenvolvimentos sociais e científicos mais importantes do século XX seria algo ridicularizado pela grande maioria dos cientistas vivos hoje.

Essa resistência reacionária à revolução científica, embora seja uma grande decepção e, em geral, um descrédito aparente à legitimidade do chamado progresso científico, é, no entanto, o estado normal das coisas, como mostram as descobertas de Kuhn. Quando examinado de perto da perspectiva de Kuhn sobre a história da ciência, o empreendimento científico é visto como quase arrogantemente conservador — uma história repleta de repressão de ideias novas e revolucionárias. Todos nós estamos familiarizados com exemplos de repressão como a cruzada do Vaticano contra Galileu, mas Kuhn mostra como a própria comunidade científica tem sido frequentemente tão repressiva da inovação científica quanto qualquer grupo religioso ou social.

Não há melhor professor do que Thomas Kuhn, portanto, para nos instruir sobre como e por que a revolução psicodélica foi paralisada por tanto tempo, aparentemente um fracasso e sem influência significativa em mais de quatro décadas de avanço científico e intelectual. A teoria geral da revolução científica de Kuhn pode até nos ajudar a entender como finalmente trazer uma pesquisa psicodélica significativa para o mainstream científico, onde ela certamente merece estar. Refiro-me aqui à pesquisa científica “significativa” porque também é óbvio para aqueles que conhecem, que limitar a pesquisa ao uso de psicodélicos como medicamentos para o tratamento de condições de doença e anormalidade rejeita a maior parte de seu potencial. Claro, a entrada da pesquisa psicodélica no “mainstream científico” alteraria necessariamente a própria natureza da ciência, talvez levando a um abandono dos piores aspectos de seu reducionismo convencido por uma maneira mais pragmática de estudar e entender os fenômenos mais complexos do universo, entre os quais, o próprio cientista. E todos nós somos, até certo ponto, cientistas. Quem foi Thomas Kuhn, então? Ele foi professor emérito de filosofia e linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts até sua morte em 1996, e foi talvez o maior historiador da ciência dos últimos tempos. Sua obra seminal, The Structure of Scientific Revolutions, mesmo em virtude das longas e acaloradas críticas que recebeu desde sua primeira publicação em 1962, deve ser classificada como talvez o livro mais importante sobre o assunto já publicado.

“The Structure of Scientific Revolutions” é importante não apenas para historiadores ou filósofos, mas para todas as pessoas que se acreditam capazes de investigação científica ou pensamento analítico, mesmo em nível amador. Muito foi escrito e ensinado até mesmo em nossas escolas secundárias e universitárias sobre o método científico, sobre como os cientistas conduzem pesquisas e praticam seu ofício. Mas Thomas Kuhn, com um tratado magnífico, revolucionou o próprio conceito do que é uma ciência e como ela procede. Kuhn até questiona a noção amplamente difundida de que o conhecimento científico faz algum tipo de progresso cumulativo em direção à compreensão final.

A Estrutura das Revoluções Científicas não é longa nem difícil por si só, mas contém ideias tão novas e radicalmente brilhantes que leva algum tempo e várias leituras para ser absorvida completamente. Muitos escritores, incluindo o próprio Kuhn, tentaram compor um resumo conciso da teoria que o livro apresenta, mas em vista do debate animado e às vezes acalorado a favor e contra suas ideias, deve ser óbvio que nenhum tratamento superficial pode fazer justiça a ele. Esta cautela deve incluir minha própria apresentação hoje, e os aspectos de sua teoria que discutirei não são de forma alguma tudo o que há na teoria de Kuhn. Eu apenas escolhi algumas características-chave da teoria com as quais podemos entender melhor o tópico em questão, a redescoberta científica de drogas psicodélicas.

Talvez o mais procurado ao tentar resumir Kuhn seja uma definição precisa daquela famosa palavra que ele introduziu na filosofia da ciência, aquela palavra que se tornou tão frequentemente ouvida em referência a conceitos ou ideias fundamentais, o paradigma. O próprio Kuhn define um paradigma como “uma ou mais conquistas científicas passadas que alguma comunidade científica particular reconhece por um tempo como fornecendo a base para sua prática futura”. Mas como uma aproximação próxima que podemos entender mais facilmente no contexto, podemos pensar em um paradigma como um conjunto inter-relacionado de conceitos, valores, crenças e técnicas fundamentais que definem uma maneira obrigatória de abordar problemas científicos em um determinado momento e em uma determinada disciplina. O paradigma é o palco no qual o jogo da investigação científica acontece – uma plataforma que define o cenário, o contexto, as limitações e os limites para a agenda de pesquisa. Embora o paradigma possa ser pensado como uma descrição precisa de um aspecto da realidade, na verdade o paradigma é mais como um mapa ou modelo, uma aproximação ou estrutura para organizar dados atualmente disponíveis e definir pesquisas permitidas.

Pode parecer estranho falar sobre “pesquisa permitida” na ciência, pois a imagem que podemos ter da ciência e dos cientistas é de liberdade de investigação — a ideia de que pelo menos alguns cientistas exploram a realidade sem barreiras, onde quer que sua busca pela verdade os leve. Mas Kuhn mostra que isso é um mito. Operando dentro da estrutura de um determinado paradigma científico, a situação real é bem diferente do mito. Kuhn escreve:

“Um paradigma suprime a inovação, pode até isolar a comunidade daqueles problemas socialmente importantes que não são redutíveis à forma de quebra-cabeça típica da ciência normal, porque não podem ser declarados em termos das ferramentas conceituais e instrumentais que o paradigma fornece.”

Nesta citação, Kuhn se refere à “ciência normal”, e agora devemos considerar este e outros dois conceitos-chave.

Ciência normal é o que praticamente todos os cientistas fazem o tempo todo quando nenhuma revolução científica é iminente, e na descrição pode soar um tanto banal para os não iniciados: consiste essencialmente em uma operação de “limpeza” onde os detalhes de um determinado paradigma e suas aplicações permitidas são elaborados com mais e mais. Parece, como diz Kuhn,

“… uma tentativa de forçar a natureza na caixa pré-formada e relativamente inflexível que o paradigma fornece. Nenhuma parte do objetivo da ciência normal é evocar novos tipos de fenômenos; na verdade, aqueles que não se encaixam na caixa geralmente não são vistos. Nem os cientistas normalmente visam inventar novas teorias, e eles geralmente são intolerantes com aquelas inventadas por outros. Em vez disso, a pesquisa científica normal é direcionada à articulação desses fenômenos e teorias que o paradigma já fornece.”

Pelo que acabamos de aprender sobre ciência e seus paradigmas, já podemos ver claramente a ameaça à ciência normal que a redescoberta de psicodélicos e estados alterados de consciência forneceu. Foi uma ameaça direta a várias disciplinas científicas e médicas, uma inovação destruidora de paradigmas que estava destinada a ser reprimida por um longo tempo.

Dois outros conceitos importantes da teoria de Kuhn são a mudança de paradigma e a revolução científica. Resumidamente, todos os paradigmas científicos eventualmente enfrentam problemas, quando descobertas experimentais anômalas se acumulam a ponto de esse paradigma começar a mostrar suas falhas. Se os problemas persistirem e não puderem ser resolvidos sob os ditames do paradigma existente, uma mudança de paradigma deve então eventualmente ocorrer, onde um novo paradigma, definindo de uma nova maneira os conceitos fundamentais e a agenda de pesquisa a serem seguidos, então substitui o antigo paradigma. Como esse processo tem precedência sobre a continuação da ciência normal, diz-se que uma revolução científica está ocorrendo.

Para entender na prática o que Kuhn quer dizer com paradigma e o que é uma mudança de paradigma, nos ajuda observar o que os termos significam em relação a uma revolução científica específica. O exemplo mais usado de uma revolução científica e sua mudança de paradigma associada foi a revolução copernicana na astronomia.

Nicolau Copérnico

Copérnico, como você certamente sabe, foi o primeiro a promover a ideia herética de que o Sol, e não a Terra, era o centro do nosso sistema planetário. A astronomia centrada na Terra de Ptolomeu, que existia desde a época de Cristo, funcionou admiravelmente bem por um longo tempo, sendo capaz de prever as posições de estrelas e planetas com uma precisão que foi suficiente até o século XVI. Mas com a invenção e o aprimoramento do telescópio e a melhoria das habilidades científicas dos astrônomos, anomalias experimentais começaram a aparecer, especialmente para entender e prever o movimento dos planetas.

Dois pontos importantes a serem observados neste exemplo são:

  1. Os conceitos de paradigma e mudança de paradigma são claramente ilustrados. A revolução copernicana teve como raiz a mudança de paradigma do conceito de um sistema planetário geocêntrico para um heliocêntrico. Mas, ao examinarmos mais exemplos de revoluções científicas, descobriremos que um paradigma científico pode ser um pouco mais complexo, envolvendo um grupo ou conjunto de conceitos fundamentais intimamente relacionados ou realizações científicas passadas.
  2. O segundo ponto-chave no exemplo copernicano é o surgimento de resultados experimentais cada vez mais importantes em conflito com a teoria e a expectativa aceitas – este é o sinal de uma crise iminente, mudança de paradigma e revolução científica.

Outra observação que podemos fazer com base neste exemplo é que, enquanto uma ciência parece estar funcionando, fazendo previsões satisfatoriamente precisas e fornecendo perguntas suficientes para os cientistas trabalharem durante um período de ciência normal, pouco importa se o paradigma pode ser baseado em uma ideia completamente falsa, derivada não da ciência, mas neste caso de ditames religiosos, a saber, que a Terra era o centro do universo. Podemos sentir que hoje a ciência é muito mais imune a esse erro, mas o exemplo da repressão científica dos resultados da pesquisa psicodélica argumenta o contrário.

Vou apenas mencionar brevemente mais alguns exemplos de revoluções científicas e suas mudanças de paradigma associadas para que você tenha uma ideia melhor do que está envolvido, e então continuaremos a considerar como a redescoberta dos psicodélicos deve se qualificar como o iniciador de várias revoluções científicas ainda a se concretizarem.

Na geologia, temos uma das revoluções científicas mais recentes a ter ocorrido. Este exemplo também envolve uma mudança de paradigma fácil de entender, consistindo na transformação de um único conceito. Antes de meados do século XX, os continentes da Terra eram considerados estacionários, em um sentido travados em suas posições para a crosta da Terra. Esta era a crença fundamental ou paradigmática ensinada a todos os estudantes de geologia. Na realidade, o conceito nem precisava ser ensinado, pois parecia ser completamente autoevidente. A acumulação de anomalias experimentais na evolução, geografia, paleoantropologia e outros campos, no entanto, rapidamente levou à teoria da tectônica de placas, na qual os continentes eram entendidos como flutuando em um interior global líquido e, portanto, livres para derivar, colidir uns com os outros e assim por diante. Este novo paradigma expandiu a agenda de pesquisa e, portanto, permitiu a explicação de muitos fenômenos geológicos, evolutivos e geográficos observados que permaneceram misteriosos e inexplicáveis, e em grande parte ignorados, durante o reinado do paradigma do continente estacionário.

Na física, é claro, temos uma das mais importantes revoluções científicas que já ocorreram, da física lógica de bola de bilhar de Newton à paradoxal, complicada de entender e quase impossível de visualizar a física relativística e quântica de Einstein, Heisenberg, Bohr e seus contemporâneos. Neste exemplo, é claro, a mudança de paradigma envolveu um conjunto complexo de princípios e conceitos fundamentais inter-relacionados, incluindo a natureza da luz e da radiação, do espaço-tempo, da própria matéria.

Na química, a teoria sobre o processo de combustão, a queima que os homens observavam tão de perto desde a domesticação do fogo em tempos pré-históricos, passou por uma mudança de paradigma com a descoberta do oxigênio por Lavoisier. Até então, e provavelmente devido à longa observação do que o fogo parecia ser, a queima era considerada um processo pelo qual algo era liberado do objeto em questão. Afinal, as chamas que emanavam de um objeto em chamas devem ter levado, desde tempos imemoriais, a uma ideia fixa de que algo estava saindo da substância. Até meados do século XVIII, uma teoria cada vez mais complexa da queima foi elaborada, uma teoria que postulava uma substância chamada flogisto como o transportador de calor e, portanto, a substância que era liberada de um objeto em chamas. À medida que os balanços químicos se tornavam mais precisos, no entanto, anomalias experimentais começaram a aumentar: descobriu-se que pelo menos algumas substâncias sob combustão pareciam ficar mais pesadas, em vez de mais leves, se o flogisto realmente emanasse delas. Em um último esforço para salvar a teoria do flogisto, alguns cientistas eminentes até propuseram que o flogisto deve ter massa negativa! Com a descoberta do oxigênio por Lavoisier, no entanto, a teoria da oxidação da combustão logo colocou o flogisto em seu túmulo, fosse de massa negativa ou não!

Acho que a partir desses poucos exemplos você pode agora entender a natureza básica de uma revolução científica e sua mudança de paradigma subjacente. Você também pode ter notado que em cada um desses casos a mudança de paradigma envolveu uma mudança de visão geral do que poderia ser pensado como uma ideia arcaica para uma esotérica, onde uma percepção geral e antiga baseada em observação simples teve que ser substituída por conceitos que simplesmente não eram óbvios para o homem primitivo nem para o observador ingênuo. A ideia de que a Terra era o centro do universo, que as massas de terra eram fixas no lugar no globo, que os objetos físicos eram duros e sólidos, que as chamas indicavam que algo estava emanando de um objeto em chamas — tudo isso poderia ser derivado do que podemos pensar como simples observação primitiva ou ingênua. Essas ideias, os paradigmas de seu tempo, tiveram que ser substituídos por ideias anti-intuitivas e aparentemente paradoxais, e vemos isso em abundância quando se trata da redescoberta psicodélica. Não menos importante entre as crenças ingênuas que a redescoberta psicodélica desacreditou está a ideia de que o homem cientista poderia sempre e confiavelmente ser um observador independente e objetivo dos fenômenos, e é um delicioso paradoxo que suas próprias investigações científicas supostamente objetivas com psicodélicos tenham exigido essa conclusão. Também é interessante que as ideias ingênuas que precisavam ser substituídas não eram antigas e primitivas como nos outros casos que acabei de mencionar, mas sim a base da era da investigação científica.

 

Agora, vejamos alguns exemplos específicos de como a redescoberta psicodélica pode ter revolucionado alguns campos da ciência e da medicina.

Para começar, é apropriado considerar o campo da psiquiatria e da psicoterapia, pois foi aqui que a pesquisa com psicodélicos começou, em Saskatchewan, Canadá, sob a direção de Humphrey Osmond, Abram Hoffer e seus associados, e quase simultaneamente com Stanislav Grof e seus associados na República Tcheca

Stan Grof relata em seu livro “Beyond the Brain” o quão difícil foi para ele aceitar os dados de pesquisa que estavam inundando o trabalho de seu grupo com LSD. Grof tinha sido um psicanalista freudiano bastante rigoroso, como se poderia esperar de alguém treinado em medicina e psiquiatria no início dos anos 1950 — talvez o auge do movimento psicanalítico. No entanto, Grof descobriu que, um por um, os principais princípios da visão freudiana — poderíamos chamá-lo de paradigma freudiano — tiveram que ser abandonados como resultado de sua pesquisa sobre LSD. Nesse longo e árduo processo, um novo paradigma para pesquisa e compreensão no campo da saúde e doença mental humana, e na própria consciência humana começou a tomar forma. Em seu livro “Beyond the Brain”, Grof apresenta uma estrutura para esse novo paradigma e até dedica um capítulo introdutório à consideração da teoria da revolução científica de Kuhn como uma forma de mostrar ao leitor a natureza do processo de mudança que estava começando. Hoffer e Osmond no Canadá estavam ao mesmo tempo chegando a uma visão radicalmente nova do que a psicoterapia poderia ser — não uma cura médica análoga ao tratamento de uma infecção com um antibiótico, mas algo mais parecido com uma viagem de autodescoberta pessoal onde o uso de drogas psicodélicas agia como um complemento ou catalisador para a produção de uma mudança radical e rápida de personalidade. A mudança de personalidade tinha sido em tempos antigos muito mais associada à experiência religiosa e conversão do que à ciência ou medicina. Tal ideia era, naturalmente, outro teste severo para a teoria psicanalítica freudiana e para o próprio conceito médico de tratamento medicamentoso.

Um importante princípio organizador na pesquisa psicoterapêutica de Hoffer e Osmond foi derivado de sua observação do uso de peiote pelos nativos americanos em suas observâncias religiosas e do fato observado de alcoolismo muito reduzido em membros da Igreja Nativa Americana. Eles observaram repetidamente a iniciação de novos membros que antes eram severamente alcoólatras e que posteriormente foram curados de seus problemas com bebida com uma confiabilidade que superava em muito qualquer tratamento de alcoolismo que a medicina ocidental pudesse oferecer. Assim nasceu um projeto ambicioso e bem-sucedido de usar tanto mescalina quanto LSD, não como uma clássica “cura medicamentosa” para o alcoolismo, mas como uma forma de catalisar a mudança de personalidade em seus pacientes ou clientes, o que levou essas pessoas a “se curarem”, por assim dizer — a aceitarem suas vidas de maneiras que não poderiam ter alcançado antes. Claro, os métodos desenvolvidos por Hoffer e Osmond foram, em alguns aspectos, um retrocesso ao paradigma xamânico de cura, onde o médico não é um cientista independente e objetivo usando medicamentos específicos para doenças que funcionam apenas com base em suas propriedades farmacêuticas. O xamã faz uma jornada de autodescoberta psicológica e espiritual junto com seu cliente para que ambos possam experimentar a fonte dos problemas e, assim, efetuar uma cura.

Foi observado, que na medicina ocidental é o paciente que toma os medicamentos, enquanto na tradição xamânica é o médico que toma a medicina. O trabalho de Hoffer e Osmond tratando alcoólatras dependia necessariamente de dar medicamentos psicodélicos aos próprios pacientes, mas é interessante notar que esses psiquiatras outrora tradicionais rapidamente chegaram à conclusão de que, para dar psicodélicos efetivamente aos pacientes, era indispensável que os médicos, e até mesmo os enfermeiros presentes, estivessem o mais familiarizados possível com os estados alterados de consciência produzidos pelos medicamentos. E havia apenas uma maneira eficaz de fazer isso: como na tradição xamânica, os médicos tomavam os medicamentos, muitas vezes.

Lenta, mas seguramente, um novo paradigma para a psiquiatria e a psicoterapia estava tomando forma, mas a resistência do establishment científico e médico era esperada, como Kuhn mostra ser o estado normal das coisas. Críticas à terapia com LSD — especialmente depois que o uso de psicodélicos por estudantes universitários se tornou um escândalo nos EUA (Tim Leary e Richard Alpert em Harvard)— se tornaram outro tipo de escândalo, um escândalo científico de grandes dimensões. Em uma análise particularmente convincente da situação em seu livro “The Hallucinogens”, Hoffer e Osmond demolem habilmente seus críticos no espaço de algumas páginas. No entanto, completamente de acordo com as previsões de Thomas Kuhn, aqueles que introduziriam um novo paradigma enfrentam não apenas uma batalha difícil, mas consequências muito mais sérias, não importa quão necessária a nova perspectiva possa ser baseada no fracasso revelado do antigo paradigma.

Hoffer e Osmond estavam cientes do trabalho de Thomas Kuhn e das previsões de grande hostilidade à sua pesquisa? Eles não deixam pista, mas citam o filósofo Michael Polanyi, que em seu artigo de 1956 na The Lancet, parece ter pressagiado alguns dos principais pontos de Thomas Kuhn. Polanyi escreve,

“Na medida em que a descoberta muda nossa estrutura interpretativa, é logicamente impossível chegar a ela pela aplicação contínua de nossa estrutura interpretativa anterior. Em outras palavras, a descoberta é criativa… no sentido de que não deve ser alcançada pela aplicação diligente de nenhum procedimento previamente conhecido e especificável…”

Vemos aqui que Polanyi está, em termos kuhnianos, falando sobre o tipo de descoberta que representa descobertas anômalas que levam o descobridor a propor um novo paradigma. Quando Polanyi diz que a descoberta revolucionária não pode ser alcançada por procedimentos previamente existentes, ele está dizendo a mesma coisa que Kuhn, que o processo da ciência normal não pode levar por si só à mudança de paradigma e à revolução científica. O próprio Kuhn afirmou com bastante firmeza que “Paradigmas não são corrigíveis pela ciência normal de forma alguma”.

Michael Polanyi continua,

“Agora podemos ver a grande dificuldade que pode surgir na tentativa de persuadir outros a aceitar uma nova ideia na ciência. Na medida em que representa uma nova maneira de raciocínio, não podemos convencer os outros por meio de argumentos formais, pois enquanto argumentarmos dentro de sua estrutura, nunca poderemos induzi-los a abandoná-la. A demonstração deve ser suplementada, portanto, por formas de persuasão que possam induzir uma conversão. A recusa em entrar na maneira de argumentar do oponente deve ser justificada fazendo-a parecer completamente irracional.

“Tal rejeição abrangente não pode deixar de desacreditar o oponente. Ele será feito parecer completamente iludido, o que no calor da batalha facilmente implicará que ele era um tolo, um excêntrico ou uma fraude… Em um choque de paixões intelectuais, cada lado deve inevitavelmente atacar a pessoa do oponente.”

E foi exatamente isso que aconteceu com muitos pesquisadores que trabalharam com drogas psicodélicas. Hoje, a comunidade científica convencional rotineiramente e ignorantemente classifica toda a fraternidade de pioneiros psicodélicos na mesma categoria de Tim Leary, ou pior.

Obviamente, nenhuma revolução científica ocorreu ainda na psiquiatria e psicoterapia tradicionais, mas os experimentos anômalos e os contornos de um novo paradigma permanecem na literatura científica e nas mentes de alguns cientistas e médicos.

Como teria sido uma revolução na psicoterapia? Isso é algo difícil de prever, como qualquer mudança revolucionária deve necessariamente ser. Mas certamente seria amplamente reconhecido agora que Hoffer e Osmond estavam certos em insistir que a experiência pessoal de estados de consciência alterados psicodélicos é indispensável e “absolutamente essencial” para a compreensão não apenas dos pacientes, mas para a compreensão da própria consciência. Treinado em estados alterados de consciência, um psiquiatra ou psicoterapeuta se torna um paralelo muito mais próximo dos curandeiros xamânicos do passado distante, algo desejável, pelo seguinte motivo: a ciência reducionista funciona bem com coisas inanimadas, plantas e até mesmo com animais primitivos, mas com humanos, que nunca podem ser considerados “apenas” como objetos, a ciência objetiva deve permanecer para sempre incompleta.

No campo da ciência da computação e tecnologia, uma revolução parece ter ocorrido, e a princípio podemos ser tentados a atribuir isso às alegações frequentemente ouvidas de que muitos dos inventores pioneiros do computador moderno não só estavam familiarizados com drogas psicodélicas, mas as usaram como um caminho para a criatividade que levou às suas invenções. Seja como for, teríamos que dizer com mais precisão que a revolução não estava, portanto, nos computadores em si, mas no uso de drogas psicodélicas como uma ferramenta psicológica, como uma forma de aumentar a criatividade. A chamada revolução dos computadores não se qualifica como uma revolução científica, primeiro porque estamos lidando mais com uma tecnologia do que com uma ciência, e segundo porque não passamos por uma mudança de paradigma. Os princípios fundamentais da computação digital permaneceram os mesmos por muito tempo.

No entanto, a ideia de que as drogas poderiam aumentar a criatividade era certamente revolucionária e ameaçadora de paradigma. É uma ideia que vai contra as convicções gerais, embora não científicas, de que as drogas são exclusivamente substâncias usadas na medicina para restaurar a normalidade; é uma ideia que desacredita a convicção de que a consciência normal é o summum bonum² (Nota do tradutor²: ‘sumo bem’ ou ‘bem maior, em latim) é uma expressão latina usada na filosofia — particularmente, em Aristóteles,[1] na filosofia medieval e na filosofia de Immanuel Kant — para descrever o bem maior que o ser humano deve buscar), o melhor, mais eficiente e desejável estado da consciência humana e que sua alteração não pode levar a nenhum bom fim; é uma ideia que mostra o absurdo da noção de que a consciência drogada DEVE ser um estado degradado e delirante, abaixo da dignidade de qualquer pessoa civilizada, que o uso aborígene de drogas para qualquer propósito meramente ilustra o atraso e a natureza primitiva de tais povos. Essas observações ingênuas, assim como as observações ingênuas do universo centrado na Terra, chegam até nós como “verdades” pouco questionadas de eras passadas. No caso das drogas, tais ideias representam um paradigma muito antigo da psicologia humana ocidental cuja origem remonta à Santa Inquisição, quando as potências europeias assumiram a responsabilidade de perseguir os habitantes das Américas, supostamente para salvar suas almas, mas, mais realisticamente, para confiscar todo o hemisfério. Os inquisidores tomaram o uso nativo de drogas que alteram a consciência como um sinal claro de que eles deveriam ser considerados subumanos e indignos da propriedade de suas terras. Esse legado chegou até nós pouco alterado, de modo que hoje parece uma opinião automática sobre os usuários de drogas que eles são de alguma forma degradados, não estão em seu perfeito juízo e precisam de correção e tratamento. Propor que as drogas podem ser capazes não apenas de alterar benignamente as capacidades humanas, mas de realmente melhorá-las é obviamente uma heresia, uma ameaça à atitude colonial e paternalista que tipifica a visão da ciência moderna sobre os povos antigos e seus costumes.

As sementes da revolução neste ramo da psicologia certamente já haviam sido plantadas em 1964, quando Frank Barron apresentou um artigo em um simpósio na Califórnia intitulado “O processo criativo e a experiência psicodélica“. A pesquisa de Willis Harman e James Fadiman logo começou a documentar as provas experimentais da conexão, e seu artigo “Agentes psicodélicos na resolução criativa de problemas: um estudo piloto” provavelmente teria sido um ponto de virada revolucionário no estudo psicológico da criatividade se sua pesquisa não tivesse sido interrompida no meio do caminho por decreto do governo. Se você simplesmente fizer uma pesquisa no Google por Harman e Fadiman, poderá encontrar facilmente seus artigos de pesquisa, que valem a pena ler. O título do artigo deles no livro de Aaronson e Osmond, Psychedelics, é ainda mais indicativo de uma mudança revolucionária de paradigma: “Aprimoramento seletivo de capacidades específicas por meio do treinamento psicodélico”. Desde o final da década de 1960, nenhuma pesquisa foi permitida nesse sentido, e mais uma potencial revolução científica foi suprimida.

 

Embora as mudanças notáveis ​​na tecnologia de computadores não se qualifiquem estritamente como uma revolução kuhniana, um resultado primário de avanços em computadores pode ainda ilustrar para nós outra potencial e genuína revolução científica que foi suprimida. Desde os primeiros experimentos neurológicos em que os nervos que levam aos músculos da perna de um sapo foram estimulados eletricamente, levando à contração muscular, o paradigma da computação digital no sistema nervoso se consolidou, lenta mas seguramente.

Devido à grande demanda por computadores cada vez mais avançados para empreendimentos de alta tecnologia, como aeronáutica, exploração espacial, modelagem de sistemas complexos — sem mencionar aplicações militares e hardware — tem havido dinheiro de pesquisa praticamente ilimitado disponível para aqueles que estudam computação digital e para aqueles que se esforçam para descrever as propriedades e operações de vários sistemas físicos e biológicos em termos de computação digital. A neurociência e a ciência cognitiva têm sido grandes beneficiárias desse dinheiro de pesquisa, e a corrente principal dessas ciências aceita quase sem questionamentos ou análises profundas que os processos digitais são responsáveis ​​pelo que o cérebro faz. Afinal, as bolsas de pesquisa dependem da adoção desse paradigma.

A maneira mais fácil de ver o “paradigma digital” da operação cerebral é talvez por meio da consideração da visão da operação dos neurônios que temos e o que essas atividades dos neurônios significam. Embora as propriedades e ações dos receptores químicos de um neurônio e do espaço sináptico entre os neurônios tenham se mostrado incrivelmente complexas, quando tudo é dito e feito, o que acontece no neurônio é um simples pulso elétrico liga-desliga que transmite o chamado “sinal” pelo eixo do neurônio, ou axônio, em direção à próxima sinapse e neurônio na linha. Um simples pulso liga-desliga, tudo ou nada, só pode ser interpretado em termos digitais, não importa quantas camadas de complexidade alguém tente carregar em cima deste mais simples dos processos.

Enquanto isso, é bem conhecido por que o cérebro não pode ser um computador digital. Primeiro, ele não é rápido o suficiente. Nem complexo o suficiente, apesar da grande multidão de neurônios que contém. Uma tarefa como reconhecimento facial, que uma pessoa equipada com um cérebro pode fazer quase instantaneamente e sem qualquer sensação de ter concluído uma tarefa difícil, não pode ser alcançada de forma tão confiável com os computadores mais poderosos operando em velocidades de processador de vários Gigahertz e com velocidades de transferência de dados se aproximando da velocidade da luz. O cérebro opera a alguns hertz e com “taxas de transferência de dados” muito letárgicas. Outros exemplos semelhantes são fáceis de encontrar. Claramente, o paradigma de “transferência digital de bits de dados” da operação cerebral, como eu o chamo, com o potencial de ação do neurônio representando a unidade fundamental de “informação”, deve ser um paradigma aguardando um funeral bem merecido, se ao menos um novo paradigma pudesse ser criado primeiro para ampliar a agenda de pesquisa. Como Kuhn deixa claro em seu livro, não importa quais problemas um paradigma possa enfrentar, ele nunca é abandonado até que um novo paradigma esteja pronto para tomar seu lugar. Mesmo assim, muitos defensores do antigo paradigma continuam como os cientistas eminentes que atribuíram uma massa negativa ao flogisto, defendendo o que muitas vezes é o trabalho de suas vidas até o amargo fim — suas próprias mortes.

Um novo paradigma para a neurociência está de fato esperando nos bastidores há algum tempo. Algumas das ideias básicas do paradigma foram propostas pela primeira vez em parte por Karl Lashley já em 1942. Dando continuidade ao trabalho de Lashley após uma associação de uma década com ele, Karl Pribram publicou vários artigos sobre sua nova visão da operação cerebral e, finalmente, uma obra-prima de um livro sobre o assunto intitulado “Brain and Perception: Holonomy and Structure in Figural Processing”. As visões de Pribram, popularizadas em um livro de 1982 intitulado “The Holographic Paradigm and Other Paradoxes”, editado por Ken Wilber, realmente representam um paradigma inteiramente novo e revolucionário para a neurociência e a neurociência cognitiva. A agenda de pesquisa ampliada que o paradigma justificaria pode muito bem ser capaz de esclarecer muitos dos mistérios atuais da mente, como a forma como a recuperação instantânea da memória associativa pode funcionar, ou como todos os processos modulares do cérebro, como os múltiplos aspectos da visão, audição, olfato, todos parecem se combinar em uma experiência unitária, o chamado “problema de ligação” que os pesquisadores da consciência têm arrancado os cabelos tentando explicar.

Não tenho tempo hoje para contar os detalhes dessa nova abordagem ao cérebro e à consciência, mas, novamente, você deve conseguir encontrar artigos e livros interessantes na internet seguindo os links para “Karl Pribram”.

É interessante notar, e é isso que conecta essa mudança de paradigma particular aos psicodélicos, que Karl Pribram era muito próximo de outros cientistas e pesquisadores interessados ​​em psicodélicos e se inspirou em muitas dessas pessoas. O trabalho de Pribram tem todas as características de ter surgido por meio, pelo menos, da potencialização indireta da criatividade excepcional derivada do treinamento psicodélico, conforme o trabalho de Harman e Fadiman. Essa pode muito bem ser uma das principais razões pelas quais seu trabalho é amplamente ignorado pela corrente principal da neurociência e criticado ignorantemente até mesmo por grandes figuras científicas como Francis Crick.

 

Alguém poderia facilmente propor que a redescoberta psicodélica teria efeitos revolucionários ainda maiores em outras disciplinas científicas, como antropologia e paleoantropologia, como propus em minha palestra aqui há dois anos, ou mesmo economia, … poucas ciências permaneceriam intocadas se a resistência indesejada não tivesse suprimido a própria revolução psicodélica.

Os psicodélicos e suas descobertas associadas possivelmente exigem revoluções científicas não apenas em vários campos científicos, mas no próprio conceito de exploração e descoberta científica. É por essa razão talvez que essas revoluções tenham sido tão longa e tão efetivamente reprimidas. Ter uma revolução científica em um determinado período da história já é um empreendimento difícil e às vezes há muito reprimido. Mas ter múltiplas revoluções em campos científicos até mesmo díspares exigiria uma grande convulsão científica E social, especialmente dada a maneira como a ciência é financiada hoje por grandes organizações corporativas e governamentais. E a revolução não pararia por aí: uma reorganização tão imensa na ciência levaria inevitavelmente a uma revolução nos costumes sociais, atitudes e, finalmente, na própria civilização e na política pela qual ela é dirigida. Se uma revolução tão multifacetada pode ser realizada é talvez o maior teste da humanidade desde o que ocorreu há tanto tempo, quando ele teve que decidir o que fazer com aquela primeira experiência do fruto proibido psicodélico no Jardim do Éden.

FAQ da Crise Psicodélica

Ajudando alguém através de uma bad trip, de uma crise psíquica ou de uma crise espiritual.

:!: Este FAQ não é mantido nem atualizado regularmente. Pode incluir informação defasada. Por favor verifique a data da versão para ver quando ela foi mais recentemente revisada. Para dados atuais, veja no sumário sobre a substância no site Erowid.

ÍNDICE
(se sublinhado, clique para ir)​
  1. Isenção de Responsabilidade
  2. Créditos
    • Histórico de Revisões
  3. Introdução
  4. Avaliação
  5. Situações que requerem Ajuda Profissional
  6. Situação Crítica ou de Ameaça à Vida
  7. Situação de Crise (Emocional, Mental, Espiritual)
    • Lista Rápida
    • Armadilhas a evitar
    • O que fazer
    • Resumo
  8. Apêndices

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1. Isenção de Responsabilidade
Este FAQ é trazido apenas para fins informativos. Não defendemos quaisquer tipo de atividades ilegais. No entanto, nós realmente acreditamos no direito ao livre acesso a informações e ideias. Por fim, recomendamos enfaticamente que se informe sobre a legislação aplicável a você sobre o assunto. Este FAQ pode ser redistribuída desde que o texto não seja alterado e sejam mantidos os créditos. Se você criar cópias deste FAQ na internet, por favor tente mantê-lo atualizado com a última versão.

2. Créditos
A informação contida neste FAQ foi retirada de diversas fontes. A coleção, organização, formatação e escrita da informação para este documento foram feitas pelo Erowid.

Histórico de Revisões

0.5 – 09/10/97 – Confeccionados e-mails e enviados para comentários.
1.0 – 05/03/98 – Criado o HTML básico do FAQ.
1.1 – 11/07/98 – Adicionado índex, isenção de responsabilidade, créditos e melhorada de forma significativa a organização.
1.2 – 12/18/99 – Atualizada a seção de antídotos.
2.0 – 08/22/01 – Reorganizado para uma perspectiva de uso em tempo real. Adicionada a seção de Avaliação.
2.1 – 08/01/05 – Alterada referência para RCP/Respiração de Resgate na sessão de “Situação Crítica ou de Ameaça à Vida”.
2.2 – 02/17/14 – Adicionado link para o site Tripsit.​
3. Introdução
Há muitas situações diferentes nas quais uma pessoa pode precisar de ajuda enquanto estiver sob efeito de psicoativos. Decidir o que fazer em uma situação particular requer calma, pensamento claro e a habilidade de tomar decisões. Este FAQ é voltado a fornecer ideias do que alguém pode fazer para ajudar. Qual(is) método(s) em particular deve(m) ser usado(s) será algo único para cada tipo de situação. Lembre-se, apesar de não ser fácil nas situações mais extremas, a coisa mais importante que você pode fazer para ajudar alguém em crise psicodélica é permanecer calmo e com a maior lucidez possível.4. Avaliação
A ajuda a alguém em situação de crise deve ser dividida em dois estágios: avaliação e ação. O primeiro passo é avaliar a situação e tentar determinar o tipo de ação que precisa ser tomada.5. Tipo de Situação

  • Existe perigo físico imediato ou potencial? [Crítico] A pessoa está consciente? A respiração está reduzida ou acelerada? Ritmo cardíaco? Há qualquer descoloração da pele? Se inconsciente, há resposta apropriada à dor?
  • A pessoa é um perigo para si mesma ou para os outros? [Crítico] Ela está violenta e agindo de forma ameaçadora contra terceiros? Quais são as chances de que ela ataque alguém? E de se machucar sem querer? Entrar num carro e dirigir? Tentar se matar?
  • A pessoa está tendo uma crise espiritual, mental ou emocional? [Crise] Ela lhe parece excessivamente assustada, deprimida ou irritada? Mudanças de humor? Agindo como louca? Acordada mas não responde?

6. Informação Útil
A seguinte informação pode ser útil em determinar qual ação deve ser tomada. Tente não deixar a pessoa sozinha enquanto estiver coletando os dados. Em casos de crises espiritual e/ou emocional, é com frequência melhor perguntar a amigos ou pessoas próximas do que tentar obter tais informações diretamente da pessoa em crise.

  • Qual foi a substância utilizada? Se possível, aprenda qual(ais) substância(s) a pessoa tomou e por qual meio (oral, fumado, injetado). O quanto ela tomou? Quando tomou? Estará ela fazendo uso de outros medicamentos ou suplementos?
  • Quem é essa pessoa? Possui amigos por perto? Onde mora? Possui um histórico prévio deste tipo de problema ou similar?

Descubra tudo o que puder. Sem uma boa avaliação do que está ocorrendo, é mais provável a incidência de erros críticos ao lidar com a situação (bombear desnecessariamente alguém cheio de benzodiazepínicos, falhar em ligar pra emergência a tempo, etc.). Com o máximo destas informações quanto possível em mãos, decida sobre a gravidade da crise e aja de acordo com o tipo de situação:

  • Crítica – perigo físico imediato ou potencial da pessoa a si mesma ou a outros, possivelmente requerendo atenção médica;
  • de Crise – favorável para comportamento psicótico extremo, repetições de pensamentos negativos, ataques de pânico.

7. Situações que Requerem Ajuda Profissional

1) Se você sentir que vidas estão em risco.2) Se você sentir que a situação está fora de controle e que ninguém mais deseja assumir a responsabilidade pela pessoa.​


8. Situação Crítica ou de Ameaça à Vida

  1. Quem está disponível para ajudá-lo? Ache alguém com experiência médica em emergências. Quanto mais, melhor, mas alguém com treinamento na Cruz Vermelha é bem melhor do que alguém sem noção de primeiros socorros.
  2. Se a pessoa está tendo convulsões. Afrouxe as roupas, coloque uma almofada e posicione o corpo dela de forma a prevenir ferimentos e sufocamento. Convulsões podem ser muito, muito sérias; são mais arriscadas quanto mais frequentes e mais longas forem, e podem causar dano cerebral permanente nos piores casos.
  3. Se a pessoa está consciente. Olhe para sinais reveladores do que ela tomou: tensão forte na mandíbula é normalmente associada a MDMA ou outros estimulantes. Observe se está nistagma (olhos agitados), também sinal de uso de estimulantes. Procure por suor – que é um bom sinal neste momento. Atente para calafrios, cubra-a com um cobertor se aparentar estar com tremores.
  4. Se a pessoa está inconsciente. Tente acordá-la gentilmente. Balance-a com jeito, dirija-lhe a palavra com voz firme (“Você está bem? Devo chamar um médico?”). Se estiver vomitando, vire-a de lado para que o vômito possa fluir pra fora da boca (e assim ela não irá se sufocar). Tente determinar se a pessoa está em coma ou em um estado dissociado [veja abaixo – definição de coma].
  5. Se a pessoa não estiver respirando, tente fazê-la voltar a respirar. Afrouxe as roupas. Sacuda-a com gentileza. Desobstrua as vias aéreas, especialmente se houve vômitos. A respiração de resgate pode ser realizada por alguém certificado para tanto.
    • Nota da tradução: no Brasil, a respiração de resgate pode ser executada por qualquer pessoa enquanto os profissionais de emergência não chegarem ao local.
  6. Se o coração da pessoa não está batendo. A reanimação cardiopulmonar (RCP) pode ser realizada por alguém certificado para tanto.
    • Nota da tradução: no Brasil, a reanimação cardiopulmonar pode ser executada por qualquer pessoa enquanto os profissionais de emergência não chegarem ao local.
  7. Ligue para a Emergência – SAMU (192), Bombeiros (193) ou outro número com socorro médico em sua localidade. Lembre-se que irá demorar um pouco para o assistente responder às perguntas, e esteja pronto para a chegada dos veículos de emergência e dos possíveis policiais. Limpe o caminho para o pessoal da emergência até a pessoa. Se você estiver em uma festa, desligue a música e faça um anúncio para localizar amigos… se algum ainda estiver disponível.
  • Esta pode ser uma decisão difícil em muitas situações, mas neste momento estamos falando de eventos com perigo de vida. As consequências de chamar ajuda externa serão bem menos severas do que as consequências da perda de uma vida.
  • Nota da tradução: no original, a ligação é para o 911 dos Estados Unidos, que une emergência médica e polícia, enquanto no Brasil estes números são separados. Contudo, a depender da situação encontrada, poderá a equipe de emergência que chegar ao local acionar a polícia. De qualquer forma, e nunca será demais repetir: em primeiro lugar a vida, sempre.

9. Situação de Crise (Emocional, Mental, Espiritual)
Situações de crise podem se manifestar de múltiplas maneiras, desde explosões beligerantes potencialmente violentas, até a completa supressão de estímulos externos, bem como paranoia ou medo debilitantes, ou ainda comportamentos psicóticos ou compulsivos relativamente inofensivos. Como alguém lida com esta situação depende muito dos sintomas que a pessoa está experimentando.

Na maioria das situações, você não está tentando forçar nenhuma ação ou reação em particular da parte da pessoa em crise. A questão não é de “acalmá-la” com palavras, uma vez que isto normalmente só piora as coisas. Tenha certeza de que ela saiba que tudo no mundo externo está em perfeita ordem… Você está com ela, cuidando dela. Garanta que ela não se machuque nem a outros, e se as coisas saírem de controle, chame por ajuda. Seja lá o que você decida fazer, atente para as reações dela. Se o que você está fazendo parece piorar as coisas, parta para outra solução.

Muitos guias e conselheiros que possuem experiência com este tipo de crise emocional/espiritual aguda dizem que a melhor coisa a se fazer é dizer para deixar fluir e relaxar nos sentimentos. O mantra “respire, relaxe, deixe fluir” foi desenvolvido nas décadas de 1960 e 1970 para terapias psicodélicas e argumenta-se que muito da dissonância emocional e do estresse mental advém de lutar e resistir contra processos internos desconfortáveis. Guias sugerem que normalmente o medo é a força dominante a precipitar uma crise e o papel principal de um gerenciador de crise é ajudar a criar um espaço no qual a pessoa possa se sentir segura.

Lista Rápida
Tente ter noção do “quão longe” a pessoa está. Ela pensa estar no mesmo lugar em que você? Ela sabe que horas são, ou como se chama? Ela sabe que ingeriu um psicoativo?

  • Tranquilize-a, em tom de voz calmo e prosaico, de que você está com ela e cuidando dela.
  • Lembre-lhe de que este é um estado mental induzido por substância, de que irá acabar.
  • Lembre-lhe de respirar e relaxar.
  • Deixe-a saber que crises espirituais são normais.
  • Permaneça tão calmo quanto possível enquanto estiver falando com a pessoa, e use um tom de voz normal mesmo que você esteja ansioso.
  • Se possível, traga-lhe um pouco de água ou um pedaço de pão. Pergunte-lhe se gostaria de um gole ou de uma mordida.
  • Sente e converse. Passe o tempo com ela.
  • Se você sabe o nome dela, use-o algumas vezes: “Hey, Fulano(a), como você está?”
  • Se apresente, diga seu nome e como você chegou até ali.
  • Olhe para coisas bonitas.
  • Cante (qualquer coisa, mas especialmente músicas infantis).
  • Cuide de um animal, ou brinque com um.
  • Vá caminhar.
  • Recorde boas memórias (praia, crianças, etc.).
  • Dance.
  • Deem as mãos.

Armadilhas a Evitar

  • Não tente demais trazer a pessoa em crise “de volta à Terra”. Isto frequentemente piora as coisas.
  • Não a confunda com perguntas repetidas sobre questões que não pode responder.
  • Não a faça se sentir ainda mais isolada agindo de foma preocupada e nervosa perto dela.
  • Evite qualquer atividade física complexa, como tentar fechar o zíper de uma jaqueta, ou concertar o som, ou ainda acender a luz piloto do fogão.
  • Respeite suas necessidades e fronteiras:
    • Não toque nela se não quiser ser tocada.
    • Dê espaço à pessoa se ela aparentar que o deseja.

O Que Fazer

  1. Se uma pessoa parece estar passando por um momento difícil, gentilmente lhe pergunte se tem alguém que ela gostaria que estivesse junto para ajudar. Se ela parecer perturbada com a ideia de ter outrem ao lado de si, tenha alguém por perto para ficar discretamente de olho nela.
  2. Relacione-se com a pessoa no espaço em que ela se encontra. Muitas vezes, o que a isola e cria um senso de paranoia ou perda é que ela está tão além da consciência normal que as pessoas tentam excessivamente trazê-la de volta. Parta para, ao contrário, estar ali por ela e mais nada. Tente ver o mundo através dos olhos dela.
  3. De quais formas diferentes você pode mudar o cenário/setting (nível de ruído, temperatura, exterior contra interior, etc.)? Um cenário do tipo festa-rave ou concerto pode agravar o estado mental da pessoa. Considere encontrar um local o mais quieto possível se isto parecer ajudar (depende das pistas dadas pela pessoa em crise), e peça aos demais presentes para não se amontoarem à volta. Reassegure-a de que a situação está sob controle, anotando quem oferecer ajuda caso esta seja necessária depois.
  4. Como você pode reduzir o risco de prejuízo emocional ou físico? Lembre-se de que a sua preocupação deve ser com os sentimentos da pessoa em crise, e não com a situação em si (como em “ah, Jesus, Maria, José! Nós temos que fazer alguma coisa”).
  5. Paranoia: se a pessoa não quer ninguém por perto, retroceda, vire-se de forma que não a encare; mas a mantenha sob sua vista da forma mais discreta possível. Pense em como seria estar em um estado de paranoia, tendo ainda um estranho (irrelevante se você o é de fato ou não) te seguindo e vigiando.
  6. Que tipo de objetos, atividades e/ou distrações ajudarão a pessoa a superar um momento difícil (brinquedos, animais, música, etc.)?
  7. Sem pressão: apenas esteja com ela. A menos que haja risco de lesão corporal, tão-somente deixe claro que você está ali no caso dela precisar de alguma coisa.
  8. Toque. O toque pode ser muito poderoso, mas também pode ser muito violador. Em regra, não toque a menos que a pessoa diga que pode, ou que lhe toque primeiro. Se parecer que ela precisa de um abraço, pergunte-lhe. Se ela está além da comunicação verbal, tente ser sensível a qualquer reação negativa ao toque. Tente evitar ser arrastado para qualquer contato sexual. Frequentemente, dar as mãos é um meio muito efetivo e não ameaçador de deixar que uma pessoa saiba que você está ali para ajudá-la se for preciso.
  9. A intensidade pode vir em ciclos ou ondas. Também pode funcionar como um sistema – um movimento através de espaços transpessoais que pode ter um começo, um meio e um fim. Não tente forçar demais para movê-lo.
  10. Vai acabar: se a pessoa está conectada o suficiente para se preocupar com a própria sanidade, assegure-lhe de que está em estado alterado devido a um psicoativo e que depois de um tempo retornará ao seu estado mental “normal”.
  11. Indução normal por drogas: conte à pessoa em crise que ela está experimentando os efeitos agudos de um psicoativo (se você souber qual, diga-lhe), que é normal (apesar de incomum) passar por crises espirituais e que ela (assim como outros milhares que a antecederam) estará bem se relaxar e deixar a substância seguir seu curso.
  12. Respiração: respire com a pessoa. Se ela estiver conectada o suficiente para colaborar com sua assistência, faça-a se juntar a você em respirações profundas, longas e cheias. Se estiver dócil a este ponto ou se estiver realmente distante e surtando, colocar uma mão na barriga dela e dizer “respire por aqui por baixo”, “apenas continue respirando, você pegou o jeito”, pode ajudar.
  13. Relaxamento: pode ser muito difícil relaxar enquanto se morre ou se é despedaçado por demônios, mas lhe diga que você está ali para garantir que nada ocorra com seu corpo físico. Uma das coisas mais importantes durante processos internos realmente difíceis é aprender a estar bem com a ocorrência destes, para “relaxar” da tentativa de frear a experiência e apenas a deixar acontecer.
  14. Ficando meditativo: sugerir-lhe gentilmente que feche os olhos e se foque no próprio interior pode, às vezes, mudar o curso da experiência em andamento.
  15. Descalço no chão: uma das coisas que mais centraliza e traz de volta à Terra é tirar os tênis e meias e deixar seu pé tocar diretamente no chão duro. Tenha cuidado ao fazer isso em locais com riscos de danos aos dedos.
  16. Contato visual: se a pessoa não está agindo de forma paranoica ou com medo de você, tenha certeza de adicionar bastante contato visual.
  17. Tudo está bem comigo: deixe claro que o mundo pode desabar para ela, mas que está tudo bem com você.
  18. Processo saudável: crises são uma parte normal dos processos psicológicos humanos, e uma forma de aproveitá-las melhor é tomá-las como um método de cura, não como um “problema” a ser concertado. Veja Grof, Bill Richards, et al.

Pode ser extremamente difícil conversar, se relacionar, ou sequer estar totalmente ciente da presença de outras pessoas durante o pico de experiências intensas. Se você está cuidando de uma pessoa que está nesta situação, ouça o que ela diz e (se parecer apropriado ou útil) poderá fazer-lhe indagações bem simples sobre suas experiências: “que cor é esta?”, “você está triste?”, “qual a sua idade?”, etc.

É provável que as respostas sejam metafóricas e vagas: “todas as cores”, “sou mais velho que o rio”, etc. Não espere conseguir travar uma conversação normal.

A coisa mais confortadora que algumas pessoas reportaram ter ajudado durante uma experiência aguda foi um cobertor enrolado em torno delas. Não podemos recomendar o suficiente que se tenha um cobertor pesado e espesso para emergências.

Resumo
Apesar de que lidar com uma crise psicodélica possa ser igualmente enervante para os participantes, cuidadores/sitters e observadores, a maioria dos eventos são gerenciáveis através de uma avaliação cuidadosa seguida de uma resposta calma e decisiva. Para a pessoa que estava em crise, integrar a experiência uma vez que a fase aguda tenha passado é tão importante quanto encarar a própria crise.

Apêndices

Antídotos
Esta seção é para discussão de substâncias que são usadas no tratamento de crises psicodélicas. A droga mais usada por profissionais de emergência é a Clorpromazina (Amplictil), apesar de que seu uso foi reduzido em parte porque parece ser psicologicamente extremamente árduo para quem o toma.

A maioria das crises agudas que terminam em atendimento de um profissional de emergência são resultado de extrema ansiedade. Psicodélicos podem e de fato precipitam sentimentos incontroláveis de paranoia, ansiedade, medo e outros estados agitados. De acordo com profissionais médicos que possuem experiência em lidar com psicodélicos, os fármacos principais usados para tratar destes estados agitados agudos são os benzodiazepínicos como Rivotril, Diazepan, Lexotam e outros.

“Se todas as abordagens psicológicas falharem e se tranquilizantes tiverem de ser usados, é muito melhor começar com Librium (30-60 mg) ou Valium (10-30 mg), o que parece aliviar emoções dolorosas sem interferir no curso da sessão. O quanto antes, o paciente deve retomar uma posição reclinada com tapa-olhos e fones de ouvido, para continuar com a abordagem introspectiva da experiência”.
– Stan Grof, LSD Psychotherapy

Haloperidol – Uma droga antipsicótica usada para tratar psicoses agudas e crônicas e que é considerada “particularmente efetiva no gerenciamento de hiperatividade, agitação e mania”.
[mentalhealth.com]

Risperdal (risperidine / risperidone) – Antipsicótico relativamente novo frequentemente considerado como a primeira opção entre os antipsicóticos para tratamento de episódios psicóticos agudos e extremos induzidos por alucinógenos por conta de sua afinidade com receptores 5HT2a. Antipsicóticos não costumam ser usados para tratar reações de pânico e outras crises psicodélicas que não envolvam atitudes externas.
[TraumaSurvival.org]

Amplictil (clorpromazina) – Um antipsicótico com um grande rol de efeitos colaterais desagradáveis, é uma distante terceira ou quarta opção no tratamento da maioria das psicoses e ansiedade. “Amplictil e Melleril são agentes antipsicóticos de uma classe chamada fenotiazinas. Eles são excluídos do uso em idosos porque não possuem um perfil favorável de efeitos colaterais. Se um agente tiver a necessidade de controlar episódios agudos de comportamentos ameaçadores ou de agressões, antipsicóticos mais recentes como Risperdal ou Haldol são preferíveis”.
[Geriatric Drug Review]

Amplictil e outros tranquilizantes principais não são neutralizadores específicos de efeitos do LSD. Usados em altas dosagens, tais medicamentos têm um efeito geral inibidor que suprime e mascara a ação psicodélica do LSD. Uma análise detalhada em retrospectiva desta situação normalmente mostra que o paciente experimenta a ação de ambas drogas simultaneamente, e que o efeito combinado é bem desagradável”.
– Stan Grof, LSD Psychotherapy

O tratamento de uma crise psicodélica com Amplictil deve ser evitado e é considerado uma forma de tortura mental extrema, além de ser conhecido por resultar em semanas ou meses de trauma psicológico para a pessoa tratada por meio desta “camisa de força mental” durante o ocorrência de uma crise psicodélica.
[Thorazine Vault]

Valium (diazepam) – Usado no tratamento de ansiedade e de espasmos musculares, tanto quanto em geral para acalmar as pessoas. A dosagem usada é entre 2 a 10 mg para baixa ansiedade, e de 10 a 30 mg para ataques agudos ou extremos. O Valium é substância controlada nos EUA porque algumas pessoas acreditam que os efeitos sejam agradáveis o suficiente para o uso recreativo. Valium, Xanax e outros equivalente benzodiazepínicos são considerados pela comunidade psicodélica como o melhor tratamento químico para crises psicodélicas extremas.
[Valium Vault]

Xanax (alprazolam) – Mais um benzodiazepínico (como o Valium) usado para tratar ansiedade, espasmos musculares e para acalmar as pessoas. O Xanax faz efeito mais rapidamente do que o Valium e é considerado mais útil para tratar episódios agudos. Pílulas de Xanax são às vezes mastigadas para acelerar os efeitos, apesar de que o gosto pode ser desagradável; e refrigerante, água ou fruta podem ser necessários para reduzir o amargor. A dosagem para Xanax é de 0,25 a 1 mg para baixa ansiedade, e de 1 a 3 mg para ataques extremos e agudos. Veja Valium, acima. Xanax pode ser um pouco mais sedativo do que Valium.
[Xanax Vault]

Definições
Coma – Considera-se “coma” a ocorrência simultânea de inconsciência e baixa ou nenhuma reação a estímulos, e é algo que deve ser levado muito a sério. Comas são uma reação normal a overdoses de GHB, opiáceos, quetamina e DXM; sendo que já se ouviu falar também de sua ocorrência com outras substâncias (2C-T-7, DMT, 5-MeO-DMT e possivelmente outras) e algumas combinações; mas é extremamente incomum com a vasta maioria dos enteógenos/psicodélicos. Se a pessoa estiver inconsciente, diga seu nome, tente despertá-la de forma gentil e pergunte-lhe se está dormindo. Verifique seu pulso e sinta sua testa para ver a temperatura. Cheque a resposta à dor – aperte o músculo ao longo da clavícula e o torça ou belisque com força na base de uma unha; olhe a resposta física a isto (no mínimo as pupilas irão dilatar temporariamente). Se você não tiver resposta pra nada disto, então parece ser um coma. Estados dissociativos fortes podem se assemelhar a um coma, mas assim como alguém que desmaia com álcool, a maioria dos estados dissociados irão incluir algum tipo de movimentação, alguma resposta a estímulos (você a belisca e ela diz “ai”, ou tenta afastar a sua mão, ou rola).


FONTE EROWID 

Agradecemos imensamente a tradução feita pelo colaborador ExPoro.
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Nós não podemos erradicar as drogas, mas podemos fazer que as pessoas parem de morrer por causa delas

Há algo muito especial sobre as drogas ilícitas. Se elas nem sempre fazem o usuário se comportar irracionalmente, elas certamente fazem muitos não-usuários se comportarem dessa maneira. – Leister Grinspoon, Professor de Psiquiatria em Harvard.

O Jornal Four Corner da noite passada focou nas drogas usadas em festas e nas políticas que a Austrália está implementando para combater seu uso. Não só o que estamos fazendo não funciona, como nós(EUA) estamos ficando para trás do resto do mundo e as evidências mostram que é melhor assegurar que tenhamos menos mortes devido ao uso de drogas ilícitas.

Voltando algumas décadas nas atitudes globais, drogas eram ruins, usuários eram maus e as mortes dos consumidores eram a prova do perigo inerente das drogas e um inevitável resultado das pessoas insistirem em violar a lei.

Agora, se nós observarmos as políticas de drogas de outros países, Cannabis medicinal e recreacional tem sido aceitas, tanto como salas seguras de injeção e uso.

A união europeia continua a desenvolver programas de testes de drogas (onde drogas recreativas são testadas em relação a seus efeitos em festivais de música eletronica e outros ambientes onde são consumidas). Em abril, a sessão especial da Assembleia Geral da ONU considerou descriminalizar o uso pessoal de drogas.

Enquanto isso, Austrália continua trabalhando com ideais punitivas e proibicionistas, apesar das mudanças no resto do mundo. Quer seja com uso de cães farejadores em festivais (o que se mostra ineficaz em detectar traficantes), ou testes de drogas em beira de estrada (para os quais não há evidência de prevenção de acidentes), nós parecemos felizes em adotar intervenções que tenham poucas comprovações em detrimento das que as possuem.

A mudança mais fundamental na política de drogas mundial foi de mudar o foco do moralismo em relação ao uso para manter os jovens seguros. Mais pessoas estão começando a aceitar que jamais estaremos “livre de drogas”. Uma década depois, a especialista em política de drogas Marsha Rosenbaum em “Segurança em Primeiro Lugar” ensina aos pais substituir “Apenas diga não” (just say no) por “apenas diga que sabe” (just say know).

A guerra mundial contra as drogas

Embora muitos tenham sido convencidos de que seria uma questão de saúde pública, o início da guerra às drogas foi amplamente ideológico. Isso ficou muito claro tanto na Austrália como no resto do mundo.

Cães farejadores de drogas em festivais são ineficazes e potencialmente perigoso. Então, por que ainda insistem em seu uso? Tracey Nearmy / AAP
Cães farejadores em festivais são ineficazes e potencialmente perigoso. Então, por que ainda insistem em seu uso? Tracey Nearmy / AAP

A comissão nacional para o abuso de Maconha e Drogas, também conhecida como o Relatório Shafer de 1972, foi abandonada pois concluiu que havia “poucas provas de dano físico ou psicológico devido à experimentação ou uso intermitente de preparações naturais de Cannabis”. Isso não era o que o presidente Nixon queria ouvir.

Quando o MDMA foi proibido, o professor de psiquiatria da Universidade de Harvard argumentou com sucesso que teria utilidade como um medicamento, até que o presidente Ronald Reagan forçou a proibição por uma ação executiva. E então a política continuou a prevalecer sobre a ciência.

Desde que a guerra às drogas começou, o mercado inteiro mudou. Drogas agora são procuradas pela internet, encomendada de químicos industriais produzindo com pureza farmacêutica, pagas usando criptomoedas e entregues pelo correio. As mais novas nunca são identificadas nem por cães nem por testes toxicológicos de rotina.

Isso não quer dizer que o mercado seja seguro – longe disso. Mas drogas são atualmente mais fáceis de obter e muitas não podem ser detectadas.

Porque não mudamos?

Há alguma sugestão que em New South Wales (Austrália), ao menos, todo capital político que existia para ser gasto já foi utilizado para a maconha medicinal, então não há motivos para abrir um outro front no combate a “guerra às drogas”.

Mais precisamente, políticos australianos estão temerosos pelas suas carreiras – eles temem que uma guinada perceptível na política de drogas possa levantar questões sobre sua capacidade de julgamento.

Entretanto, com significantes mudanças provavelmente emergindo da sessão especial da Assembleia Geral da ONU sobre drogas de abril de 2016, questões difíceis serão provavelmente feitas àqueles que historicamente perseguiram, contra toda evidência em contrário, a guerra mundial contra as drogas.

A mais provável e desapontadora razão para os políticos australianos estarem envergonhados em fazer qualquer debate sobre a política de drogas é o “custo afundado” da ordem de vários bilhões de dólares da guerra contra as drogas. Tanto foi gasto na atual e falida abordagem que eles são pressionados a manter o status quo, independente das evidências.

Cães farejadores em festivais – o que o Ombudsman de New South Wales classificou como desperdício de dinheiro e mesmo potencialmente perigoso – custam em torno de um milhão de dólares australianos por ano em cada jurisdição. Com essa quantidade de dinheiro, dez programas de checagem de drogas podem ser implantados na Austrália dentro de semanas obtendo muito mais efeito que o já observado com cães farejadores.

Se nossos políticos desejam continuar com uma pequena credibilidade em política de drogas, agora seria um excelente e politicamente recompensador momento para começar a escutar as evidencias.

FONTE


Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaborador Antonio Dias.
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Psicodélicos – Uso Responsável e Evitando Bad Trips

Esse artigo está escrito com ênfase em psicodélicos, mas é relevante para qualquer experiência com qualquer substância. Ele é dedicado a providenciar um guia de instruções compreensivas nas variedades de fatores que devem ser considerados antes de ter uma experiência com substâncias psicoativas de uma maneira segura e responsável. Esses fatores individuais são listados abaixo:

Efeitos dos Psicodélicos

É importante saber com antecedência e de forma detalhada e compreensível, a duração, farmacologia, efeitos subjetivos e potenciais efeitos adversos que a substância ou a mistura de substâncias poderá induzir. Existem muitas fontes online para o aprendizado e referências em relação a esse aspecto do uso de psicodélicos. Se uma análise completa de sua substância específica foi escrita, você irá encontrá-la na Biblioteca de Substâncias. Você também pode pesquisar alguns relatos de viagens em fóruns e grupos na internet.

Se você já conhece os efeitos exatos da droga com antecedência, então você já sabe o que esperar. Isso é algo que reduz significativamente as chances de uma experiência negativa através da prevenção de circunstâncias não esperadas.

Dosagem dos Psicodélicos

Uma regra extremamente importante quando se trata de usar psicodélicos com responsabilidade é evitar ao máximo dosagens com as quais você não está familiarizado ou confortável. Um usuário sem experiência deve sempre começar com baixas dosagens com o objetivo de aumentar para dosagens maiores gradativamente, assim que ele se sentir confortável para tanto. Isso deve ser feito aumentando levemente a dosagem em cada experiência separada, e não dando passos grandes para o desconhecido. Agir dessa maneira permite que as pessoas tenham uma sensação da substância que elas estão utilizando em um setting controlado antes que elas mergulhem em estados mais profundos. Isso minimiza o risco acidental de uma experiência negativa enormemente, e embora guias de dosagens existam, todo mundo reage de uma maneira diferente para cada substância dependendo de sua tolerância pessoal e neuroquímica.

Setting

Esse com certeza é um ótimo setting :)
Esse com certeza é um ótimo setting 🙂

Escolher um local apropriado e seguro para uma pessoa ter a experiência com a substância é extremamente importante e lidera um grande fator em determinar o resultado da viagem. O melhor local para um usuário sem experiência é um ambiente familiar, seguro e abrigado que é completamente livre de alguns fatores que podem causar uma influência negativa direta. Esses fatores incluem:

  • Ter certeza que o usuário esteja completamente livre de responsabilidades durante a experiência e no dia seguinte, uma vez que a tarefa mais simples irá se tornar extremamente difícil e algumas vezes estressantes sob a influência de certas substâncias. O usuário deve estar relaxado e permanecer confortável, sem realizar nenhuma atividade que exige concentração. Isso inclui dirigir e operar maquinaria pesada por razões óbvias.
  • Evitar pessoas que são irrelevantes e que não devem estar presentes durante a experiência. Isso inclui pais que estão dormindo na mesma casa e amigos que não são de extrema confiança e compreensão. A mera presença de pessoas pode ser uma indutora de ansiedade para muitos indivíduos.
  • Evitar ambientes potencialmente perigosos, barulhentos, não familiares, e ambientes públicos. Essa medida é muito óbvia, porém com frequência ignorada. Você como um usuário não-experiente não deve estar sob a influência de substâncias alteradoras da mente em um centro urbano, festas ou em bares sob nenhuma circunstância.
  • Evite vibrações negativas de qualquer tipo. Isso pode parecer óbvio, mas não assista a filmes assustadores ou desagradáveis, e não escute música desagradável. Se vibrações negativas estão envolvendo a experiência, elas podem ser suprimidas mudando-se rapidamente o ambiente. Por exemplo, se alguém estiver com a luz apagada, levante-se e ligue as luzes, mude a música ou mova-se para uma área diferente e pensamentos negativos serão imediatamente reduzidos.

Uma vez que a pessoa tenha se tornado familiar com a sua substância de escolha e consciente de seus próprios limites,  cabe inteiramente a ela como indivíduo decidir se elas estarão confortáveis viajando em ambientes mais recreativos como a natureza, encontros sociais, festar, raves, etc. O usuário sem experiência, entretanto, deve sempre procurar um quarto seguro e confortável, em sua própria casa ou na de amigos. A experiência deve ser privada, com músicas calmas, assentos confortáveis e comida/água disponíveis.

Estado da Mente

Um dos fatores mais importantes para serem considerados como um usuário inexperiente é o seu estado de mente atual. Muitos psicodélicos aumentam o estado mental, emoções e perspectiva geral do mundo do indivíduo, de formas que muitas vezes podem ir em uma direção positiva e eufórica, ou em uma direção negativa, terrível e cheia de ansiedade. É por causa disso que muitas substâncias não devem ser utilizadas pelo usuário sem experiência durante períodos estressantes ou negativos de sua vida, e os eles devem estar completamente conscientes dos meios em que psicodélicos e outras drogas, particularmente alucinógenos, consistentemente forçam a pessoa a encarar e lidar com os problemas introspectivos pessoas com os quais todos os seres humanos são atormentados.

Durante a experiência em si o usuário deve deixar ir e permitir que os efeitos tenham o controle. O usuário deve tomar o assento metafórico do passageiro, e nunca tentar controlar qualquer parte da experiência. É extremamente importante que as pessoas simplesmente relaxem e absorvam as coisas na medida em que surgem. O usuário deve entender que o ato de viajar é com frequência inefável e incompreensível em dosagens elevadas, o que significa que a aceitação de não ser capaz de entender o cenário completo do que está acontecendo deve estar presente todo o tempo. Deve-se abraçar o fato que os processos de pensamento, embora mais perspicazes em locais físicos, serão sempre prejudicados, juntamente com o controle motor, habilidades de conversação e funcionamento geral. Isso é algo que o usuário deve visualizar como normal e não se sentir auto-consciente ou inseguro na presença de outros.

Acompanhantes das viagens

A presença de um acompanhante sóbrio e responsável é fortemente recomendada quando um indivíduo inexperiente ou um grupo de indivíduos inexperientes experimentam com um psicodélico não-familiar. É responsabilidade dessa pessoa auxiliar o indivíduo ou o grupo mantendo um estado mental racional e responsável. Isso deve ser feito simplesmente assistindo os viajantes e calmamente os tranquilizando se eles experimentarem qualquer ansiedade ou estresse, ao mesmo tempo em que eles são prevenidos de acidentes ou ferimentos. Muitas vezes, acompanhar usuários de psicodélicos se assemelha muito a cuidar de crianças como uma babá, pois é uma responsabilidade que deve ser levada com a mesma seriedade.

Um bom acompanhante de viagens deve estar seguro de uma série de coisas durante a experiência. Eles devem permanecer sóbrios e devem ser capazes de simpatizar com a situação dos membros do grupo através de experiências pessoais com o psicodélico, substâncias similares ou pelo menos muita pesquisa sobre seus efeitos. É importante entender que quando uma pessoa está viajando, ela muitas vezes não poderá se comunicar como geralmente fazem. Além disso, o equilíbrio e localização espacial podem estar prejudicados, então dar assistência na realização de tarefas físicas pode reduzir a ansiedade.

Uma vez que o indivíduo tenha se familiarizado com a experiência, cabe a ele decidir se se sente confortável o suficiente para viajar sem a presença do acompanhante.

Âncoras

 

Algumas âncoras são visíveis em torno de Terence Mckenna.
Algumas âncoras são visíveis em torno de Terence Mckenna. Âncoras são objetos ancestrais na cultura dos psicodélicos.

Uma âncora, no contexto do uso de alucinógenos pode ser definida como uma atividade ou objeto físico que mantêm o indivíduo conectado à realidade durante momentos de alta supressão e distorção do senso de tempo, espaço, linguagem, ego e memórias de curto/longo prazo. Em dosagens mais elevadas, isso pode resultar em extrema desorientação e confusão. Âncoras são geralmente usadas para evitar esse fenômeno e manter o conceito de “situação real” , ou seja, mostrar para o viajante que ele está em outra realidade. Alguns exemplos de âncoras incluem:

Música familiar e animadora.

Um objeto ou gravura extremamente pessoal.

Repetição contínua de uma palavra ou som como um mantra.

Escrever um lembrete legível em um pedaço largo de papel e deixá-lo perto do campo de visão durante a viagem. Lembretes comuns incluem o nome da substância juntamente com a sua dosagem e frases como “Você está apenas viajando”. O mesmo princípio pode ser usado para escrever no corpo ao invés de pedaços de papel.

Um item da vestimenta ou acessório que somente é utilizado durante as viagens psicodélicas, e portanto está associado com o ato de viajar.

Tolerância e abuso

Se uma pessoa for utilizar um psicodélico responsavelmente, a frequência que ele utiliza deve ser monitorada com atenção, embora muitos dos psicodélicos clássicos são fisicamente benignos independentemente da frequência de uso, por que vêm com uma tolerância embutida que previne o uso mais frequente que uma vez por semana. Porém, isso não ocorre com todos os alucinógenos, delirantes e dissociativos e alguns psicodélicos podem vir com efeitos adversos na saúde. Esses psicodélicos por sua vez devem ser individualmente pesquisados antes do consumo. Sem mencionar que qualquer psicodélico pode causar problemas na saúde psicológica do indivíduo se usado com frequência. Lembre que o uso de substâncias se torna um vício quando os efeitos negativos começam a ofuscar os positivos, mas mesmo assim o usuário continua a utilizá-la.

É importante notar que o indivíduo deve prestar mais atenção em não somente ter a certeza que as drogas não fiquem no caminho de suas responsabilidades. O abuso de substâncias pode ser evitado entendendo que a vide não deve ser composta por um único interesse. Se a vida de uma pessoa se torna exclusivamente dedicada para qualquer coisa, incluindo drogas e tudo o mais, ela começa a se tornar sem sentido. O objetivo é se manter interessado nessas substâncias ao mesmo tempo garantindo que hobbies e interesses sejam ampliados para outras áreas, tais como a pessoal, intelectual e criativa. As drogas devem ser auxiliadoras na apreciação das coisas que já existem na vida, e não substituir as coisas que existem na vida.

Conclusão

Em resumo, uma consideração cuidadosa deve ser tomada antes de ingerir qualquer tipo de psicodélico. Seguindo essas instruções simples minimiza os riscos de uma forma efetiva, permitindo que as pessoas viajem responsavelmente e com pouca sensação de medo.

Inconstitucionalidade da criminalização do porte de drogas.

Post retirado de:  http://www.psicotropicus.org/noticia/5879 >   http://jus2.uol.com.br/pecas/texto.asp?id=917

Elaborado em 09.2009.

Princípio da alteridade.

Sentença absolve acusado de porte de drogas para uso próprio, por afronta ao princípio da alteridade, pois pune conduta inofensiva a bem jurídico de terceiro.

Elaborado por Bruno Cortina Campopiano, Juiz de Direito..

Autos n.

Vistos.

A denúncia deve ser rejeitada, porquanto a lei incriminadora é inconstitucional no particular.

A criminalização do porte de drogas para uso próprio afronta o princípio da alteridade, na medida em que pune conduta inofensiva a bem jurídico de terceiro, lesando, outrossim, o direito fundamental à liberdade, já que subtrai do indivíduo a prerrogativa inalienável deste de gerenciar sua própria vida da maneira que lhe aprouver, independentemente da invasiva e moralista intervenção estatal.

Ora encarado como princípio autônomo, ora visto como decorrência do princípio da ofensividade, a alteridade é assim resumida por Luiz Flávio Gomes, em obra coletiva na qual é também um dos coordenadores:

Só é relevante o resultado que afeta terceiras pessoas ou interesses de terceiros. Se o agente ofende (tão-somente) bens jurídicos pessoais, não há crime (não há fato típico). Exemplos: tentativa de suicídio, autolesão, danos a bens patrimoniais próprios etc”. (Legislação Criminal Especial. Coleção Ciências Criminais, Volume 6. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2.009, p. 174).

Na hipótese em comento, a opção do Estado em etiquetar como criminosa conduta cujos resultados deletérios não transcendem a esfera de direitos da pessoa supostamente lesada por sua própria conduta é altamente reprovável, pois faz tábula rasa de ensinamentos jurídicos seminais em matéria penal, guardando estreita similaridade com práticas incriminadoras encontradiças em períodos sombrios da história da humanidade, como durante o regime nazista, no qual o sujeito era punido pelo que era, não pelo que fazia (o chamado direito penal do autor).

É como sabiamente adverte o citado Luiz Flávio Gomes:

“Se em direito penal só deve ser relevante o resultado que afeta terceiras pessoas ou interesses de terceiros, não há como se admitir (no plano constitucional) a incriminação penal da posse de drogas para uso próprio, quando o fato não ultrapassa o âmbito privado do agente. O assunto passa a ser uma questão de saúde pública (e particular), como é hoje (de um modo geral) na Europa (onde se a política de redução de danos). Não se trata de um tema de competência da Justiça penal. A polícia não tem muito o que fazer em relação ao usuário de drogas (que deve ser encaminhado para tratamento, quando o caso)”. (ob. citada, p. 174).

Na mesma toada Luciana Boiteux, para quem, “Do ponto de vista teórico, de forma coerente, a descriminalização funda-se ainda na defesa do direito à privacidade e à vida privada, e na liberdade de as pessoas disporem de seu próprio corpo, em especial na ausência de lesividade do uso privado de uma droga, posição essa defendida por vários autores, e que foi reconhecida pela famosa decisão da Corte Constitucional da Colômbia” (Aumenta o consumo. O proibicionismo falhou. Le Monde Diplomatique Brasil. Setembro de 2009. p10).

Aliás, não é de hoje que doutrinadores de tomo levantam-se contra a incriminação do uso de drogas. Ainda sob a égide da Lei de 6.368/76, Nilo Batista afirmava que o art. 16 do referido diploma “incrimina o uso de drogas, em franca oposição ao princípio da lesividade e às mais atuais recomendações político-criminais“. (Introdução crítica ao direito penal brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 1.996, p. 92/93).

Ao contrário do que os mais inocentes possam imaginar, a proibição do uso de drogas não se fia, historicamente, na proteção de uma amorfa, pouco delimitada e imprecisa saúde pública, como açodadamente se supõe e como gostam de contra-argumentar os defensores do proibicionismo.

Em relevante artigo publicado na edição brasileira de setembro de 2.009 do periódico francês Le Monde Diplomatique, Thiago Rodrigues traçou importante histórico, a partir do qual se vê, com clareza, as raízes podres do movimento proibicionista de origem norte-americana:

“Na passagem do século XIX para o século XX, drogas como a maconha, a cocaína e a heroína não eram proibidas. Ao contrário, elas eram produzidas e vendidas livremente, com muito pouco controle. No entanto, passaram a ser alvo de uma cruzada puritana, levada adiante por agremiações religiosas e cívicas, dedicadas a fazer lobby pela proibição. Nos Estados Unidos, as campanhas contra certas drogas psicoativas foram, desde o início, mescladas a preconceitos, racismo e xenofobia. Drogas passaram a ser associadas a grupos sociais e minorias, considerados perigosos pela população branca e protestante majoritária no país: mexicanos eram relacionados à maconha; o ópio vinculado aos chineses; a cocaína aos negros; e o álcool aos irlandeses”. (artigo intitulado Tráfico, guerras e despenalização. p. 6.)

Para Jonh Gray, professor de Pensamento Europeu da London School of Economics (segundo muitos, o maior filósofo vivo da atualidade), o proibicionismo conecta-se à quimérica e artificial busca pela felicidade patrocinada pela sociedade ocidental, e sua conseqüente denegação de qualquer prática que, diretamente ou não, implique a negação de obtenção de tal objetivo por vias ordinárias:

Proibir as drogas torna seu comércio fabulosamente lucrativo. Gera crimes e aumenta consideravelmente a população nas prisões. A despeito disso, existe uma pandemia de drogas de alcance mundial. A proibição às drogas falhou. Por que então nenhum governo contemporâneo as legalizará? Alguns dizem que o crime organizado e a lei estão unidos numa simbiose que bloqueia reformas radicais. Pode haver alguma verdade nisso, mas a explicação real é outra. Os mais implacáveis guerreiros contra as drogas têm sido sempre os progressistas militantes. Na China, o ataque mais selvagem ao uso de drogas ocorreu quando o país foi convulsionado por uma doutrina ocidental moderna de emancipação universal – o maoísmo. Não é acidental que a cruzada contra as drogas seja liderada hoje por um país comprometido com a busca da felicidade – os Estados Unidos. Pois o corolário dessa improvável busca é uma guerra puritana ao prazer. O uso de drogas é uma admissão tácita de uma verdade proibida. Para a maior parte das pessoas, a felicidade encontra-se fora do alcance. A satisfação é encontrada não na vida diária, mas em fugir dela. Como a felicidade não está disponível, a maioria da humanidade busca o prazer. Culturas religiosas podiam admitir que a vida terrena era difícil, pois prometiam outra na qual todas lágrimas seria secadas. Seus sucessores humanistas afirmam algo ainda mais inacreditável – que no futuro, mesmo no futuro próximo, todo mundo poderá ser feliz. Sociedades baseadas em uma fé no progresso não podem admitir a infelicidade normal da vida humana. Como resultado estão destinadas a abrir guerra contra aqueles que buscam uma felicidade artificial nas drogas“. (Cachorros de palha. Reflexões sobre humanos e outros animais. Tradução de Maria Lucia de Oliveira. 6ª edição. Editora Record. 2009, pp. 156/157).

A realidade é que, desde tempos imemoriais, os seres humanos buscam artifícios que os conduzam a diferentes sensações, à transcendência da mesmice cotidiana, ao encontro de um alter ego de alguma forma mais agradável, não revelado senão a partir de influxos externos.

Por tal razão, inata à existência humana, é uma quimera imaginar um mundo sem drogas. Focault já se pronunciou sobre o tema: “…as drogas são parte de nossa cultura. Da mesma forma que não podemos dizer que somos ‘contra’ a música, não podemos dizer que somos ‘contra’ as drogas”. (Michel Focault, uma entrevista: sexo, poder e política. Tradução de Wanderson Flor do Nascimento. Em Verve, São Paulo, Nu-Sol, v. 5, 2004, pp. 264-65).

Não compete ao direito penal fazer juízo de valor sobre ditos artifícios, anatemizando alguns e comprazendo com outros (como as bebidas alcoólicas, por exemplo). Pouco importa, para fins de manejo da justiça criminal, indagar sobre os possíveis efeitos nocivos que tais estratagemas possam causar em seus adeptos. Com imensa sabedoria, Alice Bianchini já asseverou que “sempre que o direito criminal invade as esferas da moralidade ou do bem–estar social, ultrapassa os seus próprios limites em detrimento das suas tarefas primordiais (…). Pelo menos do ponto de vista do direito criminal, a todos os homens assiste o inalienável direito de irem para o inferno à sua própria maneira, contanto que não lesem diretamente [ao alheio]”. (Pressupostos materiais mínimos da tutela penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 33).

A possibilidade de fazer escolhas, por mais esdrúxulas ou inexplicáveis que possam parecer aos terceiros expectadores e a despeito da enorme carga de condicionantes advinda do “mundo exterior”, deve ser encarada como uma prerrogativa inexorável do homem, umbilicalmente ligada à autonomia da vontade.

Em passagem de uma de suas mais memoráveis obras, Dostoievski, diretamente do subterrâneo da alma humana, faz verdadeira ode à liberdade:

“E isso pela mais insignificante razão, que, dir-se-ia, nem vale a pena mencionar: tudo porque o homem, por toda parte e em todos os tempos, seja qual for, sempre gostou de agir segundo sua vontade e não segundo lhe determinam a razão e o interesse: pode e, às vezes mesmo positivamente, deve (é minha idéia) escolher o que é contrário ao próprio interesse. Nossa livre vontade, nosso arbítrio, nosso capricho, por louco que seja, nossa fantasia excitada até a demência, eis precisamente aquele ‘interesse interessante’ que deixamos de lado, que não se enquadra em nenhuma classificação e manda para o inferno todos os sistemas, todas as teorias. Onde esses sábios descobriram que o homem necessita de não sei que vontade normal e virtuosa? O que os levou a imaginar que o homem aspira a uma vontade racionalmente vantajosa? O homem só aspira a uma vontade independente, qualquer que seja o preço a pagar por ela, e leve aonde levar. E que vontade é essa, só o diabo sabe…” (Notas do subterrâneo. Tradução de Moacir Werneck de Castro. 6ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. p. 35).

Por fim, saliento que o Tribunal de Justiça de São Paulo, por meio da 6ª Câmara de Direito Criminal, em acórdão relatado pelo Desembargador José Henrique Rodrigues Torres, recentemente esposou posição no mesmo sentido da ora defendida:

“1.- A traficância exige prova concreta, não sendo suficientes, para a comprovação da mercancia, denúncias anônimas de que o acusado seria um traficante. 2.- O artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 é inconstitucional. A criminalização primária do porte de entorpecentes para uso próprio é de indisfarçável insustentabilidade jurídico-penal, porque não há tipificação de conduta hábil a produzir lesão que invada os limites da alteridade, afronta os princípios da igualdade, da inviolabilidade da intimidade e da vida privada e do respeito à diferença, corolário do principio da dignidade, albergados pela Constituição Federal e por tratados internacionais de Direitos Humanos ratificados pelo Brasil”. (Apelação Criminal n. 993.07.126537-3; Data do julgamento: 31/03/2008; Data de registro: 23/07/2008).

Ante o exposto, por ofensa ao princípio da alteridade, declaro, incidentalmente, a inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei 11.343/06, e, conseqüentemente, rejeito a denúncia, por atipicidade manifesta do fato.

P.R.I.

Cafelândia,………………..de 2.009.

BRUNO CORTINA CAMPOPIANO

Juiz de Direito

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Just Say “KNOW” – Timothy Leary

por Timothy Leary

*Estou reproduzindo um post muito interessante do blog http://avisospsicodelicos.blogspot.com. O título deste artigo é uma sátira com a campanha anti-drogas norte americana, denominada “Just Say No”.

A “guerra contra as drogas” é absolutamente indecente. A proibição do uso de substâncias psicotrópicas beneficia a violência do tráfico às custas do dinheiro público, além de não impedir na prática a utilização de drogas, que devido a procedência duvidosa e adulteração, ficam ainda mais perigosas. Neste texto procurarei destrinchar a ideologia duvidosa que proíbe coisas como a maconha e os alucinógenos, ignorando o uso milenar dessas substâncias com fins religiosos, hedonistas ou medicinais.

A raiz da proibição de substâncias está na igreja medieval, que por razões dogmáticas proibia o uso de todo o tipo de especiarias (não só psicotrópicos) como perfumes, açúcar, etc. O que quer que causasse prazer era controlado pelo clero. Mesmo a música demorou anos para se livrar da proibição da dissonância e mesmo da polifonia, a base de toda a música ocidental após o período renascentista.

O sexo até hoje é desconsiderado pela igreja como um ato sublime e religioso por si só, sem a reprodução como finalidade precípua, e a proibição de anticoncepcionais pelo Papa só endossa esta afirmação. Mesmo drogas medicinais eram atacadas, principalmente por serem utilizadas por “bruxos”, que não passavam de médicos camponeses, parteiras, etc., que tinham o conhecimento das ervas. O descobrimento da América, já numa época onde essas substâncias eram toleradas, criou nações, como o Brasil, que dependiam e criavam sua riqueza (que, claro, ia para os colonizadores) quase que unicamente de uma substância psicotrópica que causa dependência, o café, e do açúcar, especiarias antes com o uso restringido na Europa. Isso sem falar no tabaco, hábito dos índios americanos que se espalhou pelo mundo com uma velocidade alarmante, apesar das restrições da Igreja, que não poderia tolerar uma coisa “infernal” como aquela, que queimava e produzia fumaça.

No século passado, já com o iluminismo absolutamente consolidado, em pleno positivismo, fez-se a descoberta de inúmeras drogas, entre elas os anestésicos, que revolucionaram a cirurgia. Intelectuais faziam uso de Absinto (uma bebida com um efeito ligeiramente diferente do álcool), cocaína, ópio, tabaco sob a forma de rapé e cigarros, e o uso dessas substâncias (com exceção talvez do ópio) era requintada e dândi. Mas entre as classes populares ainda havia o preconceito (além da falta de dinheiro, claro) reminiscente da Igreja, principalmente entre os Protestantes, mas o álcool sempre foi largamente utilizado.

O século XX entrou com a psicanálise do Dr. Freud, que era um notável usuário de tabaco e cocaína, que na época não era considerado, como normalmente se entende hoje, um ponto negativo para ele. Na Sears, loja de departamentos Norte-Americana, se podia comprar um kit com um seringa e diversas substâncias para o senhor de família relaxar ou se divertir. A antropologia estava em alta e diversos estudiosos viajavam para lugares remotos e experimentavam as drogas religiosas de diversos povos.

De fato quase toda cultura têm uma droga específica. Alguns casos chegam ao extremo, como algumas tribos vikings, que usavam um cogumelo extremamente tóxico. Eles faziam o guerreiro mais forte tomar uma poção com o cogumelo e depois toda a tribo bebia a urina do guerreiro, que mantinha o efeito psicotrópico mas não o efeito tóxico, o guerreiro passava mal alguns dias. Os índios mexicanos que usam cactus Peyote vomitam por dias a fio, com a boca lanhada e seca, apenas para ter alucinações. Normalmente quem faz o uso dessas substâncias é o xamã, ou pagé, da tribo, e ele a partir disso faz previsões ou curas.

Zoroastrismo, Igreja Cóptica, esquimós da Sibéria, índios por toda a América (aliás 80% das plantas alucinógenas se concentra na América), sufis do islã, tribos africanas, todos usam ou usavam substâncias psicotrópicas, sem contar o álcool, com fins religiosos, de prazer ou medicinais. Acredita-se que na Grécia antiga, nos ritos de Eleusis, se utilizava um derivado do Ergot, o mofo do centeio, como um alucinógeno semelhante ao LSD. Se isso for verdade, gregos ilustres como Platão, que participavam das cerimônias utilizavam (ou viam pessoas utilizar) alucinógenos.

Mas com tudo isso, a maior nação Protestante do mundo, os Estados Unidos, em 1914 resolveram baixar uma lei proibindo o uso de diversas substâncias psicotrópicas, feito imitado por todo o mundo algum tempo depois. Além disso, na década de 30, talvez devido a depressão econômica, tentaram proibir o álcool. O tráfico foi tanto, a violência tanta, que voltaram atrás.

Enquanto isso se descobria o LSD e Aldous Huxley fazia experimentos com a mescalina e escrevia um livro muito influente até hoje “As portas da percepção”. As bases estavam lançadas para o primeiro movimento contracultural, os Beatniks, nos anos 50. Usuários de drogas pesadas, intelectuais, apreciadores do Jazz, este grupo razoavelmente pequeno de pessoas foi a base cultural da revolução dos anos 60. Através de seus livros uma geração inteira de pessoas direcionadas para o uso sem preconceitos, e até exagerado, de drogas foi criada. E com ela a revolução sexual e cultural que todos conhecemos.

As pesquisas com o uso psiquiátrico do LSD caminhavam (com resultados controversos até hoje) muito bem, quando o governo percebeu havia toda uma geração não voltada para o consumo, despreocupada com o trabalho e pacifista (isso em plena e inútil guerra do Vietnã). Esse foi o ultimato para as drogas. O governo americano proibiu o LSD em 1966, e acabou com as verbas para sua pesquisa (o estudo psiquiátrico do LSD continua apenas na Suíça). O tráfico internacional de drogas começou. Ouve toda uma campanha de desinformação sobre drogas. O usuário de drogas não podia confiar em nenhuma informação técnica sobre a substância, reportagens exageradas mostravam fatos duvidosos, etc. Até hoje existe algo disso, embora seja muito mais fácil conseguir informação confiável sobre drogas.

É isso mesmo. Você achava que o governo proíbe as drogas porque elas “fazem mal”, mas na verdade o governo as proíbe porque elas são contraproducentes numa sociedade de zumbis consumistas, trabalhadores incansáveis de corporações sem rosto e pessoas naturalmente deprimidas e sem religião. É verdade que algumas drogas fazem mal e provocam uma dependência terrível, como a heroína, é verdade que se pode morrer de overdose de cocaína, e é verdade que uma pessoa despreparada e deprimida, num ambiente desfavorável, pode se suicidar pelo efeito do LSD. Mas o álcool e o tabaco também provocam muitos malefícios e são liberados. Você não acha que o cidadão é que deveria decidir o que utilizar? Você gosta de ser tratado como um bebê que não pode comer um doce porque papai não quer? Você, cidadão respeitável, gosta de pagar a busca e apreensão de drogas, que podiam render impostos para o governo e ainda ter uma qualidade bem melhor, o que evitaria muitas mortes? Você acha que seu filho merece a informação dos amigos e traficantes ou a de uma bula? Você não confia nas pessoas?

Não prego aqui a liberação de heroína ou cocaína, o que seria impossível aqui, embora a experiência da Holanda não seja o que pregam. Lá pelo menos os Junkies, que são doentes, têm o auxílio do governo. E sempre vão haver Junkies, pesquisas mostram que pelo menos 10% da população desenvolve algum tipo de dependência que não seja café ou tabaco. Mas alucinógenos não provocam dependência e geralmente são experiências enriquecedoras. Quase não existe tráfico de LSD, simplesmente porque ele não vicia, a pessoa sequer sente uma vontade reincidente (como na cocaína, outra droga que não causa dependência física, apenas uma forte dependência psicológica) – ou seja, drogas seguras não são normalmente traficadas, e o lugar comum chega a pensar (já me vieram com essa diversas vezes) que o “Ácido” é muito mais perigoso do que a cocaína. Sem falar na maconha, que nunca deveria ter sido proibida, e que leva a fama de quase tudo que não é, aditiva, destruidora de cérebro, etc. E as pessoas que falam isso bebem todo o dia, ou todo o fim de semana.

Não prego aqui que todos devam usar drogas. Apenas os xamãs modernos, os artistas e os intelectuais, as pessoas criativas em geral é que normalmente se beneficiam, e que arcam o pequeno preço que algumas drogas cobram. Mas todos temos o direito de experimentar. Todos temos o direito de saber.

Drogas – Just Say “Know”.

Pequeno Dicionário Psicodélico

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Dicionário rápido de termos e conceitos aplicados aos psicodélicos

 


 

AYAHUASCA:

ayahuasca-4Bebida Sacramental principalmente, fruto da infusão do cipó Banisteriopsis Caapi(iMAO) e a folha Psycotria Viridis(DMT). Outras espécies de cipó e folha também são utilizadas em algumas regiões. Também conhecida por Caapi, Nixi Honi Xuma,Oasca,Vegetal, Santo Daime, Kahi, Natema, Mihi, etc. Seu nome mais conhecido, AYAHUASCA é de origem quechua, que significa “Cipó dos Espíritos “. é chamada também de “O Vinho da Alma ” ou “Pequena Morte”. Utilizada por povos pré-colombianos, incas, e muito utilizada, por pelo menos, 72 tribos indígenas diferentes da Amazônia. É empregada extensamente no Peru, Equador, Colômbia, Bolívia, Brasil. Foi usada provavelmente na Amazônia por milênios, e está expandindo-se rapidamente na América sul e em outras partes do mundo com o crescimento de movimentos religiosos organizados tais como Santo Daime, União do Vegetal (UDV), Barquinha que a consagram como sacramento de seus rituais.

Ingerindo essa bebida mágica, os sentidos são expandidos, os processos mentais e as emoções tornam-se mais profundos. A jornada pode mover-se em muitas dimensões. A experiência pode em algum ponto revelar visões notáveis, insights, produzir catarses, produzindo experiências de renovação, de renascimento positivas. Efeito comum a outras substâncias como a psilocibina. A jornada com Ayahuasca, leva a exploração tanto deste mundo ordinário, como mundos paralelos, que estão além de nossa percepção corrente. Libera os limites normais de espaço-tempo.

Quimicamente, os efeitos da ayahuasca são consequência da ação da molécula DMT contida nas folhas, que se torna oralmente ativo em função dos inibidores de MAO contidos no cipó. Sem os iMAOs, o DMT ingerido oralmente seria metabolizado pelas enzimas, tornando-se inativo.


 

BUFOTENINA:

bufo_alvariusA bufotenina (N-dimetil-5-hidroxitriptamina) é um alcalóide com efeitos alucinogénos, derivado da serotonina, por dimetilação do seu grupo amina.
Pode ser encontrado na pele de determinados sapos do gênero Bufo, como oBufo marinus ou o Bufo Alvarius. Pode também ser encontrada em pelo menos duas espécies do gênero Anadenanthera, árvore que cresce no noroeste da Argentina, sul da Bolívia, Peru e provavelmente em outras regiões da América. É um potente enteógeno, que actua por via inalatória ou digestiva, sobre os receptores específicos do córtex cerebral.
A bufotenina, é uma substância controlada. Trata-se do mesmo produto que o veneno do sapo-cururu brasileiro contém.


 

CONSCIÊNCIA:

human-consciousness2É uma qualidade da mente considerando abranger qualificações tais como subjetividade, auto-consciência, sentiência, sapiência, e a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente. É um assunto muito pesquisado na filosofia da mente, na psicologia, neurologia, e ciência cognitiva. Consciência é uma qualidade psíquica, isto é, que pertence à esfera da psique, por isso diz-se também que ela é um atributo do espírito, da mente, ou do pensamento. Ser consciente não é exatamente a mesma coisa que perceber-se no mundo, mas ser no mundo e do mundo, para isso, a intuição, a dedução e a indução tomam parte. Joseph Campbell, ao ser indagado por Bill Moyers no documentário “O poder do mito”, invocou um significado mais abrangente e profundo a este termo, expandindo o conceito de consciência para toda a dinâmica exitente na natureza, ao dar a seguinte perspectiva. Rupert Sheldrake elabora  ainda mais sobre consciência e causalidade dando esta outra perspectiva.


 

DMT:

dmt_crystal2Conhecido quimicamente como N,N-dimethyltryptamine (C12H16N2), é talvez o mais poderoso enteógeno existente. Está presente naturalmente em diversas plantas e até em animais, inclusive em nós, humanos, onde é metabolizado pela enzima MAO. Entre as plantas fontes de DMT, temos: Acacia maidenii, phlebophylla. Anadenanthera peregrina, colubrina, excelsa, macrocarpa. Desmanthus illinoensis, Phalaris Grass , Psychotria viridis ,Mimosa hostilis (Jurema) ,Virola theiodora, calophylla, calophylloidea, surinamensis cuspidata, elongata, lorentensis, peruviana, rufula, sebifera (Epeña) , Arundo donax , Diplopterys cabrerana. Geralmente o DMT se encontra nas raízes e/ou folhas dessas plantas. Para o uso oral de DMT é necessário certa quantidade de iMAOs, ou seja, inibidores de monoamina oxidase. O DMT também pode ser fumado em forma de extrato, não necessitando de iMAOs, porém os relatos são de experiências diferentes e menos duradouras deste modo


 

ENTEÓGENO:

hqdefault2Ou enteogênico é um neologismo que vem do inglês: entheogen ou entheogenic, cunhado pela primeira vez por Gordon Wasson, foi proposto no ano de 1973 por investigadores como sendo o termo apropriado para descrever estados xamânicos ou de possessão extática induzidas pela ingestão de substâncias alteradoras da consciência. A palavra enteógeno significa literalmente: “manifestação interior do divino”, deriva de uma palavra grega obsoleta, que se refere à comunhão religiosa com drogas visionárias, ataques de profecia, e paixão erótica, e está relacionada com a palavra entusiasmo pela mesma raiz. Entretanto este termo foi proposto como uma forma elegante de resolver o problema de se encontrar um termo culturalmente apropriado e não pejorativo para descrever o uso destas substâncias.


 

EXPERIÊNCIA PSICODÉLICA:

Gnosis-Falkirk-2É caracterizada pela percepção de aspectos mentais originalmente desconhecidos por parte do indivíduo em questão. Os estados psicodélicos fazem parte do espectro de experiências induzidas por substâncias psicodélicas e tem origem na própria mente. Neste mesmo campo de estados, encontram-se a percepção sensorial, a sinestesia e estados alterados de consciência. Nem todos que experimentam substâncias psicodélicas (como o LSD e a Psilocibina) têm uma experiência psicodélica e muitos alcançam estados alterados de consciência através de outros meios, como pela meditação, yoga, privação sensorial, etc.

 


 

GNOSE:

spiritual_bodyO termo gnose deriva do termo grego “gnosis” que significa “conhecimento”. É um fenômeno de conhecimento espiritual vivenciado pelos gnósticos (cristãos primitivos sectários do gnosticismo). Para os gnósticos, gnose é um conhecimento que faz parte da essência humana. É um conhecimento intuitivo, diferente do conhecimento científico ou racional. Gnose é o caminho que pode guiar à iluminação mística através do conhecimento pessoal que conduz à salvação. A existência de um Deus transcendente não é questionada pelos gnósticos, pelo contrário, veem no conhecimento divino um caminho para atingir um conhecimento mais profundo da realidade do mundo.
O gnosticismo cristão designa um conjunto de crenças de natureza filosófica e religiosa cujo princípio básico assenta na ideia de que há em cada homem uma essência imortal que transcende o próprio homem.


 

iMAO’s (inibidores de monoamina oxidase):

esquemaOs inibidores da MAO inibem a enzima MAO, que degrada as monoaminas e aumentam assim a concentração sináptica de noradrenalina, dopamina e serotonina, neurotransmissores importantes no cérebro. Aumentam assim a excitação de determinados grupos de neurónios. Quando ingeridos combinados com o DMT, produzem o efeito de inibir a metabolização do mesmo, gerando a “trip”.

 


 

INTUIÇÃO:

Em filosofia, é o nome dado ao processo de apreensão racional não-discursiva de um fenômeno ou de uma relação. Se a razão discursiva se caracteriza por um processo paulatino que culmina numa conclusão, a intuição é compreensão direta, imediata de algo.

 


 

JUREMA PRETA:

2737a5_1Jurema-preta (Mimosa hostilis.) é uma árvore pertencente à família Fabaceae, da ordem das Fabales típica da caatinga, ocorrendo praticamente em quase todo nordeste brasileiro. Bem adaptada para um clima seco possui folhas pequenas alternas, compostas e bipinadas com vários pares de pinas opostas. Possui espinhos e apresenta bastante resistência às secas com grande capacidade de rebrota durante todo o ano. Usada pelos índios da etnia xucurus-cariris em conjunto com a Jurema Branca (Mimosa verrucosa). É utiliza tradicionalmente para fins medicinais e religiosos. Sua casca é usada para fins medicinais e a casca de sua raiz é a parte da planta usada nas cerimônias religiosas pois possui maior parte dos alcalóides psicoativos. Muitas vezes é utilizada em conjunto com iMao’s, como  um análogo a Ayahusca. Seu princípio ativo é a mesma triptamina presente no “vinho das almas”, o DMT, presente em toda a planta, mas em quantidade significativa apenas nas cascas das raízes.


 

KAMBÔ:

sapo1A rã (Phyllomedusa bicolor), é encontrada na Amazônia, estendendo-se desde norte da Bolívia, oeste e norte do Brasil, sudeste da Colombia, leste do Peru, sul e leste da Venezuela, e nas Guianas. Ocasionalmente é encontrada na vegetação ribeirinha do Cerrado.  A secreção produzida pela rã Kambo inclui dermorfina e deltorfina que atuam nos receptores neuronais sensíveis aos opiácios, podendo levar a uma alteração no nível de consciência. Possui uma longa tradição de uso medicinal por populações indígenas. Sintomas  mais graves porém, podem incluir forte diarréia, vômito, taquicardia, colapso sistêmico, podendo  em casos raros, levar ao óbito adultos saudáveis.

 


 

LSA:

argyreia_nervosa_seeds1Em português, Amina do Acido Lisérgico, é uma triptamina natural, presente nas sementes de algumas plantas, conhecidas como Hawaiian Baby Woodroose e Morning Glory. O uso das sementes  é feito oralmente e pruduz efeitos enteógenos similares aos do LSD 25. Todas as Morning Glory que contem LSA são da família Ipomea violacea, porém nem todas as espécies são psicoativas. Essas sementes foram muito utilizadas pelos Astecas, em rituais. As plantas conhecidas como Hawaiian Baby Woodroose são cientificamente identificadas como Argyreia nervosa. As sementes dessa planta possuem uma quantidade maior de LSA do que nas sementes de Morning Glory, prudizindo efeitos com uma dose menor. O LSA é um “parente” do LSD.


 

LSD:

lsd-kid1Dietilamida do ácido lisérgico, que é uma das mais potentes substâncias alucinógenas conhecidas. O LSD, ou mais precisamente LSD25, é um composto cristalino, que ocorre naturalmente como resultado das reações metabólicas do fungo Claviceps purpurea, relacionado especialmente com os alcalóides do ergot podendo ser produzido a partir do processamento das substâncias do esporão do centeio. Foi sintetizado pela primeira vez em 1938 e, em 1943, o químico suíço Albert Hofmann descobriu os seus efeitos de uma forma acidental. O LSD foi inicialmente utilizado como recurso psicoterapêutico e para tratamento de alcoolismo e disfunções sexuais. Com o movimento psicodélico na Inglaterra na década de 1960, passou a tomar conta das noites londrinas e do cenário musical inglês. O consumo do LSD difundiu-se nos meios universitários norte-americanos, hippies, grupos de música pop, ambientes literários, etc.


 

MENTE DE GAIA:

Alex Grey Gaia WTCNosso planeta possui um tipo de inteligência organizada. Ele é muito diferente de nós. Ele teve cinco ou seis milhões de anos para criar uma mente que funciona lentamente, que é feita de oceanos, rios, florestas e gelo. Ele está se tornando consciente de nós, a medida em que nos tornamos conscientes dele. E porque a vida de um depende da vida do outro, temos um sentimento sobre essa imensa, estranha, sagaz, velha, neutra, esquisita coisa, e tentamos descobrir por que seus sonhos estão tão atormentados, e por que tudo está tão desequilibrado. A Terra tem uma forma de inteligência capaz de abrir um canal de comunicação com os seres humanos individualmente. A experiência psicodélica é muito mais do que psicoterapia instantânea ou regressão, mais do que um simples tipo de superafrodisíaco, mais do que uma ajuda para formular idéias ou descobrir conceitos artísticos. A experiência psicodélica é, na verdade, o corredor que nos leva a um continente perdido da raça humana, um continente do qual não temos mais nenhuma conexão. E a natureza deste continente perdido da mente humana é o próprio intelecto de Gaia. Se confiamos nas evidências da experiência psicodélica descobrimos que não somos a única forma de vida inteligente neste planeta; descobrimos que compartilhamos com a Terra um tipo de consciência. A mente de Gaia é o que chamamos a experiência psicodélica. É uma experiência sobre o fato de que o intelecto do planeta está vivo, e que sem esta experiência nós vagamos num deserto de ideologias furadas. Com esta experiência o compasso do Eu Superior existente em cada ser humano pode ser acertado. (Terence Mckenna)


 

MESCALINA:

4ca99011017086edc8c01cd22e0b1a91A mescalina é uma substância alucinógeno extraída do cacto Peiote (Lophophora williamsii), é um pequeno cacto cuja região nativa estende-se do sudoeste dos Estados Unidos (incluindo os estados do Texas e Novo México) até o centro do México, e o cacto San Pedro (Trichocereus Panachoi) originário dos Andes. Ambos tem sido usado por séculos pelos efeitos psicodélicos experimentados quando ingeridos.. Sua formula química 3,4,5-trimetoxifeniletilamina. Era usada inicialmente em rituais de várias tribos pré-hispânicas. Ela foi isolada em 1896 e sintetizada em 1919. Seus efeitos alucinógenos na mente humana foram descritos em 1927. Por volta da década de 60 ela se torna popular, impulsionada pela obra de Carlos Castañeda. A obra “As portas da percepção” de Aldous Huxley também teve como base este alucinógeno.


 

PEIOTE:

Lophophora_williamsii3Desde os tempos mais antigos, o peiote foi usado por povos indígenas, tais como os huichol do norte do México e os Navajos no Sudoeste dos Estados Unidos, como uma parte dos rituais religiosos tradicionais. No século XIX, a tradição começou a se espalhar como forma de reviver a espiritualidade nativa, e utiliza-se para combater o alcoolismo e outros males sociais. A Igreja Americana Nativa é uma entre diversas organizações religiosas que usam o peiote como parte de sua prática religiosa.

O uso da mescalina popularizou-se nos anos 1970 entre clientes dos trabalhos avançados do escritor Carlos Castañeda. Don Juan Matus, o pseudônimo para o instrutor de Castañeda no uso do peiote, usou o nome “Mescalito” para se referir a uma entidade que possa ser detectada por aquelas que usam o peiote como forma de introspecção e de compreender como viver a própria vida.


 

PSICONAUTA:

Pill1Um psiconauta (do Grego ψυχοναύτης, significa literalmente um navegador da mente/alma) é uma pessoa que usa os estados alterados de consciência, intencionalmente induzidos, para investigar a própria mente e, possivelmente, encontrar respostas para questões espirituais através de experiências diretas. Psiconautas são pluralistas e buscam explorar tradições místicas de religiões variadas, meditação, sonho lúcido, tecnologias como brainwave entrainment e privação sensorial, e frequentemente drogas psicodélicas e enteógenas.

O objetivo de tais práticas pode ser responder questões sobre como a mente trabalha, melhorar um estado psicológico, responder questões existenciais ou espirituais, ou melhorar o desempenho cognitivo do dia a dia.


 

PSICODÉLICO:

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Composição das palavras gregas psiké (mente/alma) e deloun/delous (sensorial). Refere-se a uma manifestação da mente que produz efeitos profundos sobre a experiência consciente. Termo largamente utilizado na década de 1960 para descrever os efeitos de substancias enteógenas como o LSD, a mescalina (peiote), a psiclocibina (cogumelos mágicos), DMT, entre outros. Pode ser traduzida como “o que faz brilhar a alma” ou “o que manifesta a mente”

 

 


 

PSILOCIBINA:

78cbc1Está presente em cogumelos usados na medicina tradicional asteca-nahuatl da Meso-América. Os Astecas o chamavam genericamente de Teonanacatl ou “carne dos deuses”, os mazatecos o denominam ntsi-si-tho onde ntsi é um diminutivo carinhoso e o restante da palavra poderia ser traduzido como “aquele que brota”. A elevada freqüência de provas arqueológicas, na forma de estatuetas de cogumelos, encontrados na Guatemala evidenciam seu uso da cultura Maia. Os fungos superiores dos gêneros “Psilocybe”, “Panaeolus” e “Conocybe” perfazem uma série de mais de 180 espécies, são utilizados há pelo menos 3000 anos na cultura dos povos do México Asteca-Náhuatl possuindo características comuns à utilização xamânica, ainda mais antiga, do cogumelo Amanita muscaria nas populações siberianas.


 

SÁLVIA DIVINORUM:

salvia-d-divinorum1A Salvia divinorum, também chamada de “Ojos de la pastora” e “Herba de los dioses“, é a única entre milhares de espécies do gênero Salvia que apresenta efeitos psicoativos (embora suspeite-se que outras espécies possam conter essas propriedades). Originária do México na Sierra Mazateca, é considerada rara, o que torna difícil a sua obtenção. Dificilmente se reproduz por sementes, sendo multiplicada através de cortes enraizados (propagação vegetativa). Seu efeito é extremamente forte, principalmente quando usados extratos potencializados, que nada mais são do que folhas concentradas com a substância psicoativa. É extremamente recomendável que os futuros usuários venham a se informar sobre seus efeitos antes de se aventurarem. Não é uma erva a ser usada em festas, raves ou com multidões, pois exige uma certa discrição da parte do usuário para que ele se sinta à vontade. Não é uma droga recreativa e pode ser traumática quando usada nestas condições. Tem como pricípio ativo a Salvinorina A, que, no entanto, não se trata de alcalóide, mas de um diterpeno, com ação diferente da maioria das substâncias psicoativas. Pesquisas atuais sobre o efeito da salvinorina no organismo revelaram que esta, além de não ser uma substância que leva à dependência, apresenta propriedades antidepressiva, analgésica e ainda mostra-se promissora para o desenvolvimento de fármacos para o tratamento da esquizofrenia e dependencia química.


 

SAN PEDRO:

1182130.largeTambém conhecido como Wachuma (Trichocereus Panachoi) é o nome de uma planta originária dos Andes, da família dos cactus.  Wachuma significa, na língua Quechua “Ébrio e Consciente”. O nome São Pedro tem origem no catolicismo, quando fala-se de morte, em alusão à transcendência que a planta proporciona com o papel de São Pedro (do cristianismo).
O nome San Pedro, lhe é atribuído por dar ao iniciado a “chave” para entrar no Céu. Trata-se de um cacto que chega a atingir a mais de dois metros de altura, tendo a mescalina (assim como o Peiote) como princípio ativo. Tem sido utilizado há séculos pelos índios do Peru e do Equador. O uso atual do San Pedro concentra-se nas regiões costeiras do Peru e nos Andes do Peru e Bolívia, e tem recebido forte influência cristã. É aplicado para curar enfermidades, incluindo o alcoolismo e problemas mentais, para adivinhações, poções amorosas, para combater feitiçaria,purificação, etc. É conhecido também por huachuma, achuma, agua colla, cardo, huando hermoso, gigantón, San Pedrito, San Pedrillo.


 

SINCRONICIDADE:

imagev05É um conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung para definir acontecimentos que se relacionam não por relação causal e sim por relação de significado. Desta forma, é necessário que consideremos os eventos sincronísticos não a relacionado com o princípio da causalidade, mas por terem um significado igual ou semelhante. A sincronicidade é também referida por Jung de “coincidência significativa”.
Em termos simples, sincronicidade é a experiência de ocorrerem dois (ou mais) eventos que coincidem de uma maneira que seja significativa para a pessoa (ou pessoas) que vivenciaram essa “coincidência significativa”, onde esse significado sugere um padrão subjacente.
Acredita-se que a sincronicidade é reveladora e necessita de uma compreensão, essa compreensão poderia surgir espontaneamente, sem nenhum raciocínio lógico. A esse tipo de compreensão instantânea Jung dava o nome de “insight”.


 

TEONANACATL:

Mushroom_stones_RichardRose_lgEm Nahuatl, o idioma dos astecas, teonanacatl pode ser traduzido como “carne dos deuses” ou “cogumelo sagrado”.
Há indicações de que o uso cerimonial de tais cogumelos cresceu rapidamente em tempos précolombianos muito distantes. Foram achadas pedras em forma de cogumelo em El Salvador, Guatemala, e nos distritos montanhosos contíguos do México. Estas são esculturas de pedra no formato de cogumelo, em cujo talo são esculpidas a face ou a forma de um deus ou um demônio do tipo animal. A maioria é de aproximadamente 30 cm de altura. Os exemplos mais antigos, de acordo com arqueólogos, datam de antes de 500 A.C.


 

TRIPTAMINAS:

2007_Xiao1As triptaminas são alcaloides indólicos estruturalmente relacionados ao aminoácido triptofano – constituem um grupo de compostos encontrados em plantas, fungos e animais. Algumas triptaminas, como a serotonina e a melatonina, atuam como neurotransmissores e participam da regulação fisiológica em animais. Outras, como a psilocibina, presente nos chamados “cogumelos mágicos” do gênero Psilocybe, possuem propriedades alucinógenas em humanos. A dimetiltriptamina (DMT), curiosamente, ao mesmo tempo em que atua como um neurotransmissor em animais apresenta propriedades alucinógenas quando administrada em grandes quantidades e em determinadas condições em humanos. A DMT está presente em todas as plantas, sendo mais abundante em gêneros comoAcacia, Mimosa, Anadenanthera, Chrysanthemum, Psy chotria, Desmanthus, Pilocarpus, Virola, Prestonia, Diplopterys, Arundo, Phalaris, dentre outros.


 

TROMBETA:

brugmansiawhiteÉ o nome popular dado no Brasil às plantas das espécies Brugmansia suaveolens e Datura stramonium. São também conhecidas como Canudo, Lírio, Zabumba, Saia-Branca e Trombeteira. É possível encontrá-la em várias regiões do país. Na medicina, são usadas como fitoterápicos, para combater distúrbios intestinais. A trombeta é uma planta anticolinérgica conhecida pela sua flor, que é utilizada para elaborar chás alucinógenos. Os efeitos mentais produzido pelo uso do chá são delírios e alucinações.  É considerado como droga de abuso, seu uso, é muito freqüente em baladas como “Boa noite, Cinderela”, pois a vítima após o uso, não se lembra do ocorrido no dia anterior. Entre os entusiastas da psicodelia há muita discussão sobre a trombeta ser ou não considerada um enteógeno, por causa de seus efeitos muito particulares e da ausência de lembrança da experiência. Há relatos também de prejuízos na visão durante alguns dias após o uso.


 

XAMÃ:

xama_lobo(pronuncia-se saman), ou shaman, é um termo proveniente do idioma tungue. Os tungues meridionais identificam no xamã os portadores de função religiosa que mantêm relação próxima com os espíritos e têm capacidade de entrar em êxtase (com enteógenos como ayahuasca e a psilocibina). A conceituação antropológica de xamã ainda não é consensual. Diz-se ser uma espécie de sacerdote, médico, curandeiro, conselheiro e advinho. Terence Mckenna falava que o Xamã é aquele que conhece o início e o fim de todas as coisas e consegue comunicar isso. É um líder espiritual com funções e poderes de natureza ritualística, que tem a capacidade de, por meio de êxtase provocado por substâncias enteógenas ou outras técnicas, entrar contato com o universo natural e com as forças da natureza.

Drogas nem morto!


DROGAS, NEM MORTO. Essa é uma das campanhas publicitárias mais idiotas que eu já vi. Pior que isso são as pessoas que apoiam essa merda de campanha. Existe uma comunidade no orkut.
As pessoas conseguem ser extremas e superficiais. Irei dar uma prévia aqui do fórum de discursão.

R.A.F.A.E.L

vc prefere morrer ou usar drogas? 7/30/2005 12:32 AM
eu prefiro morrer
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Chuck

MorreR? 9/29/2005 6:46 PM

prefiro morre dignamente trabalhando e vicendo, do que morrer drogadu, fumanu erva…..
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Anônimo

Morrer ou usar drogas? 10/24/2005 7:11 AM

Prefiro morrer dignamente do q ser escravo das drogas e desonrrar a minha família. A droga só tras coisas ruins pra gente mais olha só:
se eu morrer, vou acabar com a minha família do mmsmo jeito
mais se eu usar drogas, eu posso tentar parar e não vou deixar tantas mágoas para a minha família

To em duvida, não sei.
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Dulce Carolzinha

meu!   4/16/2006 10:27 AM

é lógico que é morrer!
sabem pq??
pq dos dois jeitos vc morre!
eu prefiro morrer normalmente.
pq morrer com drogas é mto pior!
pelo menos vc morre em paz sem usar drogas!

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Mr.Sandino: A palavra DROGA já é errada por si própria.
O que é DROGA? Bem, deixa-me procurar no dicionário.

droga
dro.ga
sf (fr drogue) 1 Designação comum a todas as substâncias ou ingredientes aplicados em tinturaria, química ou farmácia.
2 gír Coisa ruim, imprestável.
3 Reg (Nordeste) Diabo.
interj Excla­mação que exprime frustração no que se está fazendo.
Dar em drogas: dar em nada; ter mau êxito; arruinar-se; malograr-se.

sf (fr drogue) 1 Designação comum a todas as substâncias ou ingredientes aplicados em tinturaria, química ou farmácia. : Ou seja, nada de novalginas, cebions, aspirinas e nem pensem em pintar suas casas
com tinta coral.
Ao pé da letra: Remédios, nem morto!

2 gír Coisa ruim, imprestável. : Isso é tão amplo e relativo. Uma coisa ruim pode variar de nazismo até o pai da sua namorada, porém a sua namorada adora o pai dela. Depende do interpretador e do objeto em questão.
Ao pé da letra: Coisa ruim, nem morto.

3 Reg (Nordeste) Diabo. : Sem comentários.
Ao pé da letra: Diabo, nem morto.

Conclusão: Como vocês puderam ver, a palavra droga já meio fora de contexto e desvirtuada. Dizer que Cogumelo e Cocaína são DROGAS é querer deixar tudo muito igual,
seria o mesmo que falar que, Coelho e Urubu são iguais pois são ANIMAIS.