Albert Hofmann: Uma Carta para Steve Jobs: MAPS e a pesquisa do LSD

O post a seguir é adaptado do livro “This Is Your Country On Drugs: The Secret History of Getting High in America” (ainda sem versão em português). A carta é publicada respeitando os direitos autorais do inventor do LSD, Albert Hofmann. Para maiores informações sobre eventos relacionados ao livro, veja a página no Facebook ou siga Ryan Grim no Twitter.


Steve Jobs nunca se acanhou ao comentar sobre seu uso de psicodélicos e se referir à sua experiência com LSD como “uma das duas ou três coisas mais importantes que já fiz na vida.” Assim, chegando ao fim da sua vida, o inventor do LSD Albert Hofmann decidiu escrever uma carta ao criador do iPhone para ver se este se interessava em dedicar parte de seu patrimônio naquilo que já esteve uma vez na ponta da sua língua.

1976: The discoverer of the drug Lysergic Acid Diethlyamide, or LSD, Dr Albert Hofmann. (Photo by Keystone/Getty Images)1976: The discoverer of the drug Lysergic Acid Diethlyamide, or LSD, Dr Albert Hofmann. (Photo by Keystone/Getty Images)

Hofmann escreveu em 2007 uma carta até então nunca divulgada para Jobs a pedido de seu amigo Rick Doblin, que administra uma organização dedicada ao estudo dos benefícios médicos e psiquiátricos dos psicodélicos. Hofmann, um químico nascido na Suíça, morreu em abril de 2008 com 102 anos.

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A carta de Hofmann pra Jobs se encontra transcrita abaixo caso você tenha dificuldade em compreendê-la:


Caro Sr. Steve Jobs,

Saudações de Albert Hofmann. Soube pela mídia que você se diz ajudado criativamente pelo LSD no desenvolvimento dos computadores Apple e sua jornada espiritual pessoal. Estou interessado em aprender mais sobre como o LSD lhe foi útil.

Escrevo agora, pouco depois do meu 101º aniversário, para requerer-lhe que apoie a pesquisa proposta pelo psiquiatra suíço Dr. Peter Gasser para o estudo de psicoterapia LSD-assistida em pacientes com ansiedade associada a doenças fatais. Este será o primeiro estudo em psicoterapia LSD-assistida em 35 anos.

Espero que me ajude a transformar minha criança problema em minha criança solução.

Sinceramente,

A. Hofmann

Escrita logo após seu 101º aniversário, a carta apresenta uma caligrafia impressionante para um homem de sua idade. Mostrei-a para minha avó, Ruth Grim, que era oito anos mais nova que Hofmann e que fez uma análise amadora sobre a escrita enquanto Hofmann estava viajando. Sem saber de quem se tratava, ela disse por email que “tempo atrás, algo aconteceu que o fez ter uma visão deturpada sobre as coisas. Talvez ele se sentiu ameaçado. E também… criativo com suas mãos, duro consigo mesmo, pensa demais, teimoso, cuidadoso com o jeito que se expressa, não é influenciado pelo o que os outros pensam.”

Doblin diz que Hofmann frequentemente dizia que ele teve uma infância feliz e que não o caracterizaria como deturpado. Hofmann, por sua vez, geralmente se referia ao LSD como sua própria “criança problema” e em sua carta ele pede a Jobs que o “ajude a transformar a criança problema numa criança solução.”

Ele pede especificamente a Jobs que financie as pesquisas propostas pelo psiquiatra suíço Peter Gasser e direciona Jobs para a Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos de Doblin (MAPS).
Doblin e Hofmann eram próximos; Doblin deu ao doutor seu primeiro ecstasy nos anos 80 quando ainda era legal, e de acordo com ele, Hofmann amou, dizendo que finalmente ele havia encontrado uma droga que poderia usar com sua mulher, que não era fã do LSD.

Doblin me providenciou uma cópia da carta; o filho de Hofmann, Andreas Hofmann, encarregado das propriedades de seu pai, autorizou sua publicação.

De acordo com Doblin, a carta resultou numa conversa de uns 30 minutos entre ele e Jobs mas nenhuma contribuição à causa. “Ele ainda pensava ‘Vamos colocar no abastecimento de água e assim fica todo mundo louco,” se lembra um desapontado Doblin, que diz ainda não ter perdido a esperança de que Jobs viria até ele com sua contribuição.

O fato de Jobs ter usado LSD e ter afirmado do quanto isso contribuiu à sua forma de pensar está longe de ser uma exceção no mundo da tecnologia. Os psicodélicos influenciaram alguns dos principais cientistas da computação nos Estados Unidos. A história por trás destas conexões está registrada em vários livros, o melhor deles sendo provavelmente “What the Dormouse Said: How the 60s Counterculture Shaped the Personal Computer”, pelo repórter da área de tecnologia John Markoff.

De acordo com Markoff, os psicodélicos aceleraram as revoluções nos computadores e na internet ao mostrar para as pessoas que a realidade pode ser profundamente alterada por uma forma de pensar inconvencional e altamente intuitiva. Douglas Engelart é um exemplo de um psiconauta que fez isso: ajudou a inventar o mouse. Jobs da Apple disse que Bill Gates da Microsoft seria “um cara mais aberto caso tivesse tomado ácido uma vez.” Numa entrevista em 1994 para a Playboy, no entanto, Gates não negou uso de drogas quando jovem.

O pensamento diferenciado — ou aprender a Pensar Diferente, como já dizia o slogan de Jobs — é a principal característica da experiência com ácido. “Quando estou sob efeito do LSD e ouvindo algo que é puramente ritmo, sou levado para um outro mundo e para um outro estado mental onde eu paro de pensar e passo a saber,” contou Kevin Herbert para a revista Wired num simpósio que comemorava o centésimo aniversário de Hofmann. Hebert, empregado de longa data da Cisco System que com sucesso baniu o teste de drogas de tecnólogos na companhia, comenta que “resolveu seus maiores problemas técnicos enquanto viajava ao ouvir os solos de bateria do Greatful Dead.”

“Isso deve estar mudando alguma coisa na comunicação interna do meu cérebro,” disse Herbert. “O processo dentro de mim que me permite resolver problemas passa a trabalhar de forma diferente, ou talvez partes diferentes do meu cérebro passam a ser usadas.”

O Burning Man, fundado em 1986 pelos entusiastas em tecnologia de São Francisco, sempre teve a intenção de fazer um grande número de pessoas usarem diferentes partes de seus cérebros para um fim não específico, mas aparentemente esclarecedor e que beneficiasse o bem de todos. O evento foi rapidamente realocado para o deserto de Nevada pois passou a ser grande demais para a cidade. Hoje, é mais provável que você encontre por lá um engenheiro de software do que um ex-hippie. Larry Page e Sergey Brin, os fundadores do Google, participam do evento por um bom tempo, e a influência de São Francisco e Seattle na cultura tech está em todos os lugares, nos acampamentos e nas exibições montadas para os oito dias de festival. O site na internet diz lisergicamente que “tentar explicar o que é o Burning Man pra alguém que nunca esteve lá é como tentar explicar como é uma determinada cor para alguém que é cego.”

No evento em 2007, fiquei acampado no Camp Shift — Shift que em inglês significa “mudar”, “mudar sua consciência” — perto de quatro carros alegóricos alugados por Alexander e Ann Shulgin e seus amigos septo e octogenários vindo do norte da Califórnia. Estes respeitáveis senhores, os pais e mães espirituais do Burning Man, passam as noites sentados numa cadeira de plástico e sorrindo até o amanhecer. Perto da gente, um cara que eu conhecia de Eastern Shore — e que ocupava um cargo público — havia montado um mini campo de golfe com nove buracos e meio. Por que nove buracos e meio? “Porque é o Burning Man,” ele explicou. Nosso acampamento contava com palestras sobre psicodélicos e um “passeio” chamado “Dance, Dance, Immolation.” (o que em português seria “Dança, Dança, Sacrifício”). Os participantes vestiam uma roupa antiinflamável e tentavam dançar junto das luzes que piscavam. Cometa um erro, e você é engolido pelas chamas. A primeira pergunta no FAQ era, “É seguro? Resposta: Provavelmente não.”

John Gilmore foi o quinto empregado da Sun Microsystems e registrou o domínio Toad.com em 1987. O conhecido psiconauta é um dos ricaços, veterano do festival. Hoje um ativista das liberdades civis, e talvez mais conhecido por conta da Lei Gilmore, observa que “a Rede interpreta a censura como um dano e dá um jeito de contorná-la.” Ele me disse que a maioria dos seus colegas dos anos 60 e 70 usavam psicodélicos. “Os psicodélicos me ensinaram que a vida não é racional. A IBM era uma empresa muito racional,” ele disse, explicando porque a gigante do mundo corporativo foi ultrapassada por empresas até então sem grandes investimentos externos como a Apple. Mark Pesce, coinventor da LMRV (Linguagem para Modelagem de Realidade Virtual) e dedicado comparecedor do Burning Man, concordou que há uma certa relação entre expansão da mente através de químicos e avanços na tecnologia: “Os homens e mulheres, as pessoas por trás [da realidade virtual] eram todas chapadas,” ele disse.

Gilmore, no entanto, duvida que um relação direta causa-efeito entre drogas e a Internet possa ser comprovada. O tipo de pessoa que é inspirada pela possibilidade de criar novos modos de armazenar e compartilhar conhecimento, ele disse, geralmente é o mesmo tipo que se interessa pela exploração da consciência. Num nível básico, ambos são uma busca por algo fora da realidade convencional — a mesma abordagem que muitos processos criativos e espirituais têm, sendo que grande parte destes é estritamente livre de drogas. O que não deixa de ser verdade, nota Gilmore, é que muitas pessoas chegam a conclusões e certas revelações durante uma viagem. Talvez uma dessas revelações acabou se tornando um código de programação.

E talvez em outras áreas científicas também. De acordo com Gilmore, o inconformista químico/surfista Kary Mullis, famoso entusiasta do LSD, lhe disse que o ácido o ajudou a desenvolver a reação em cadeira da polimerase (PCR), um avanço crucial para a bioquímica. A descoberta lhe rendeu o Prêmio Nobel em 1993. E de acordo com o repórter Alun Reese, Francis Crick, descobridor da estrutura em dupla hélice da molécula de DNA juntamente de James Watson, disse a seus amigos que a primeira vez que ele visualizou a forma de dupla-hélice foi durante uma viagem de doce.

Não é nenhum segredo que Crick tomava ácido; ele também apoiou publicamente a legalização da maconha. Reese, que divulgou a história para uma agência de notícias depois da morte de Crick, disse que quando ele conversou com Crick sobre o que os amigos do cientista haviam lhe contado, ele “escutou atentamente, mesclando encanto e êxtase” e “não demonstrou nenhum sinal de surpresa. Quando terminei ele disse ‘Imprima uma palavra sobre isso e eu lhe processo.'”

* * * * *

Caro Ric,

Obrigado por tudo o que faz pela minha criança problema. Estou contente por contribuir com o que puder de minha parte.

Aprendi muito com sua maravilhosa carta, sobre fazer as coisas depois de esperar pelo momento certo, a forma clara e cuidadosa com que organiza e realiza o seu trabalho.

Espero que minha carta a Steve Jobs corresponda à sua expectativa, especialmente no que se refere ao escolher ter usado papel e caneta. [Doblin pediu para que Hofmann timbrasse pessoalmente a carta]. Acredito que segui a sua receita.

Acredito que o Dr. Gasser terá o seu pedido atendido .

Cordialmente –

Albert Hoffman

Fonte: huffingtonpost.com

Agradecemos imensamente a tradução feita pelo colaborador Pedro Reis.
Seja você também um colaborador, entre em contato:

mindfields93@gmail.com

Pergunte ao Dr. Shulgin #1

Já imaginou ter suas cartinhas respondidas pelo pai do MDMA?
Sim, isso já aconteceu na internet a um tempo atrás.
Separamos para vocês umas bem legais…

foto por Bruno Torturra
Alexander Shulgin e seu jardim de cactus mágicos – foto por Bruno Torturra

LSD duradouro e “Flashbacks”

Caro Dr. Shulgin:

Eu ouvi falar que o LSD nunca sai do corpo, e pode ficar no seu cérebro por vários anos? Isso é verdade? E seria a causa dos chamados “flashbacks”? Obrigado

Shulgin:

O mito da “molécula persistente” do LSD teve início pela Drug Enforcement Administration em uma reunião de dois dias em San Francisco, no final de 1991. O DEA convidou cerca de 200 participantes de grupos de aplicação de lei (nacionais e estrangeiros) para trocar informações relativas aos LSD. Os agentes foram informados de que não era apenas o local de armazenamento conhecido (os lobos frontais do cérebro), mas também a duração do tempo em que a substância ficava ali (até vinte anos).

“A evidência está toda sobre nós”, eles foram informados. “O uso indiscriminado do LSD do Verão do Amor (nos anos 60) levou diretamente, através do relançamento dessas moléculas escondidas e dos flashbacks resultantes, para as hordas de sem-teto, os psicóticos, e os desprivilegiados aqui das ruas de San Francisco”.
Uma pista auditiva ou visual pode trazer de volta uma memória de uma experiência anterior. O resíduo de qualquer quantidade tangível do produto químico em si, no cérebro ou no sangue do utilizador depois de 24 horas, é, no entanto, totalmente sem sentido.


PMA um perigo nas Raves?

Caro Dr. Shulgin:
Eu ouvi dizer que há vários PMA sendo vendidos em raves é que pode matar. O que está acontecendo?

Shulgin:
Você está absolutamente certo. PMA é a sigla para parametoxianfetamina, que é uma droga bastante perigosa na cena rave.

Em níveis razoáveis (talvez 60 miligramas mais ou menos por via oral) é um estimulante modesto, dá uma ligada.

A uma dose de dois comprimidos, duas vezes essa dosagem, se torna um estimulante forte e é uma ameaça para o sistema cardiovascular. Mas as pessoas em raves podem ser vistas tomando seis pílulas de uma vez, e com PMA isso pode colocá-los em uma situação perigosa, que pode ser letal.

Tenha cuidado, essa é uma droga potencialmente prejudicial.


Educação e Enteógenos

Caro Dr. Shulgin

Qual o caminho que você recomendaria para um cidadão formado nos Estados Unidos que esteja interessado em prosseguir com a Química e a exploração de substâncias alteradoras de consciência assim como o senhor tem feito?

Shulgin:
Eu recomendaria fortemente a obtenção de um grau acadêmico avançado e uma educação abrangente.

O grau, um Ph.D. seria o mais desejável, mas a disciplina específica que você vai seguir para obter, não é tão importante quanto se poderia pensar. Se a química é para ser uma grande área científica de curiosidade, procure um departamento de química, mas se inscreva em um programa de graduação que permita a tomada de cursos não-químicos também. Isto pode levar a uma A.B. na graduação em vez de um B.S. A escolha de seu orientador de pós-graduação deve ser feita, em parte, para desenvolver sua compreensão do conceito de pesquisa. O que sua pesquisa real levará ao seu Ph.D. ainda é bastante inconseqüente. Quando você desejar compartilhar suas descobertas, é a aquisição desse doutorado que permitirá que sua voz seja ouvida por um público maior.

Mas para ter sucesso na troca de informações você tem que se comunicar, e isso requer um amplo vocabulário. Esta é a recompensa por ter feito cursos sobre tudo em seus anos de graduação, desde a psicologia até a teologia. Muitos estudiosos jovens ficam presos mergulhando cada vez mais profundamente em um campo, aonde sua disciplina vai ficando cada vez mais estreita. A emoção da descoberta de tal pesquisa é tão gratificante, mas há um público cada vez menor que podem compreender ou sequer se preocupam com suas descobertas. Se você não pode se comunicar com muitas pessoas, você vai perder o feedback inestimável que é essencial em sua busca por um entendimento pessoal dos efeitos das drogas que alteram a mente.

 


Enteógenos – Significado e Futuro

Caro Dr. Shulgin:

Qual a sua opinião sobre o verdadeiro significado do conceito moderno sobre os enteógenos ? Quais as futuras aplicações que os mesmos possam ter na nossa sociedade? Eu trabalho com idéias filosóficas e eu estou tentando ver onde toda essa exploração irá chegar.

 

Shulgin:

Você perguntou duas questões, e eu não estou certo de que eu possa responder a qualquer uma delas. Mas eu vou tentar. Você tem abordado a área dos enteógenos e gostaria de saber exatamente onde estamos agora, e onde poderíamos ir?

Pra começar, o que o nome “enteógenos” quer dizer? Eu sou um pouco antiquado e ainda uso a expressão carregada (e um pouco fora de moda) “Psicodélicos”. Eu recebi um pouco de críticas por esse velho hábito. Anos atrás, um jornal científico insistiu no termo “Psicotomiméticos”, então relaxaram no sinônimo aceito “Alucinógenos”, e finalmente concordaram(por alguns anos) que a palavra “Psicodélicos” deveria ser usada nos títulos e resumos dos relatórios médicos e comentários. Mas isso sempre causou uma intimadora e condenatória associação entre a cena farmacológica (estados alterados de consciência, autoconhecimento, exploração do inconsciente) com a cena social (A multidão Hippie no Golden Gate Park no final dos anos 60, amor livre e o Grateful Dead). Um novo eufemismo para esses componentes era necessário, e algumas incomuns entraram na cena literária da medicina.

O que você faz com uma classe de drogas que lhe dê uma posição inicial limpa em uma área que foi manchada por associações negativas com pessoas e histórias do passado? Você encontra um novo nome. Uma das primeiras tentativas foi com “Entactogens”, que remeteu as origens de “Tátil”, alusão ao toque. Para tocar dentro. E, na verdade muitos materiais podem ser usados dessa forma. Este é o coração do valor psicoterapêutico destes compostos. Você pode realmente fazer contato com o inconsciente oculto de um paciente, utilizando agentes tais como MDMA.

Houve uma proposta do nome “Empathogens”, trazendo uma ênfase ao estado de empatia gerada por alguns desses materiais. Mas para aqueles que achavam que a ênfase no sacramental superava a ênfase psiquiátrica, o termo “Enteógenos” era mais atrativo. A existência de Deus dentro da gente. “Em dentro, and “Theo” Deus, e “Gen” que é abreviação pra Genesis, Origem ou Criação. Uma nova droga fantástica pode revelar que há um Deus dentro da gente. Mas a droga não o cria dentro de nós.

E então, vamos para o futuro. Isso é difícil de responder, e é com certeza total especulação. Nós não sabemos o que ira vir no futuro. Qualquer previsão é irremediavelmente enredada com os desejos do vidente. Mas, eu tenho minha própria agenda, e eu prevejo uma aceitação cada vez mais ampla da exploração humana com estes materiais. Seu valor intrínseco será visto a serem superiores aos riscos. Eles serão encontrados para ter valor sacramental a mais e mais pessoas. Haverá uma maior apreciação do seu valor de entretenimento. E a partir deles, tenho a certeza, haverá o desenvolvimento de novas ferramentas de investigação para o estudo científico dos processos mentais humanos.


Música Favorita

Caro Dr. Shulgin:

Em primeiro lugar, eu só quero dar-lhe os meus agradecimentos e apreço por tudo o que você tem dado e sacrificado para a nossa comunidade. Em segundo lugar, eu queria saber quais as suas peças de músicas favoritas para ouvir ao ser iluminado pelas substâncias?

Shulgin:

A música que Ann e eu escolhemos como companhia para qualquer experiência é geralmente vinda de um de três grupos de compositores, e das categorias de tanto familiares quanto desconhecidas.

No grupo dos compositores, há o clássico, o Russo e do Leste Europeu, e algo moderno. O clássico contém principalmente Bach( o Brandenburg Concerti, French and English Suites, Musical Offering e qualquer coisa tocada por Gleen Gould). Os grupos Russos são em grande parte Prokofiev, Shostakovich e Stravinsky. Aqui nós adoramos ficar nos cantos menos conhecidos. Quantas vezes tais gemas como The Prodigal Son, The Symphonic Song ou The Soldier’s Tale são tocadas nas estações locais de música? E há a riqueza de Poulenc, de Bartok e de Dohnanyi, que são tesouros individuais.

Tambores africanos, pássaros da natureza até os corações do Espaço. Se ele pega você, você tem um amigo e vai aprender com ele. Se isso não acontecer, vire o disco e tente novamente. Recebemos um monte de CDs que são interessantes e descartáveis, mas ocasionalmente um acontece de ser mágico e se torna um item permanente em nossa coleção.


MDMA (Ecstasy) e o Reagente Marquis

Caro Dr. Shulgin:

Olá. Eu estou escrevendo um ensaio de 7000 palavras sobre o ecstasy, e eu não consigo achar informação que eu preciso sobre o reagente Marquis. Você pode me dizer o que ele é e o que faz? Obrigado

Shulgin:
O reagente Marquis é um ensaio de mancha de alcalóides que foi relatado pela primeira vez em 1896. O agente de teste original era uma mistura de 2 gotas de 40% de formaldeído e 3 ml de ácido sulfúrico concentrado. Ele foi originalmente usado para a detecção de pequenas quantidades de certos alcalóides, e para distinguir entre eles. A assinatura do alcalóide é tanto a cor inicial produzida, bem como a seqüência de alterações de cor que ocorrem ao longo do tempo. Nos primeiros dias do reagente Marquis foi usado principalmente para distinguir os alcalóides do ópio. Cada alcalóide tinha um padrão de mudança de cor. Ele está sendo usado hoje como uma das ferramentas de identificação, na tentativa de estabelecer apenas o que pode estar presente em algo que é vendido como ecstasy. Os compostos da família do MDA, MDMA, MDE dão uma cor roxo-negro, enquanto que com a anfetamina é geralmente uma cor castanho alaranjado.

 

À medida que o teste é muito sensível, nenhuma estimativa pode ser facilmente feita em relação à quantidade de alcalóide presente. E, claro, uma cor escura tende a esconder uma cor clara. Tal como acontece com todos os ensaios que exige interpretação subjetiva, a experiência é tudo. Infelizmente, com a nossa presente orientação restritiva em matéria de drogas Agendadas, é quase impossível obter amostras documentadas de alcalóides de referência, limitando ainda mais a precisão deste tipo de testes de campo.


MDMA (ecstasy) e Buracos no cérebro?

Caro Dr. Shulgin:

Ultimamente eu tenho ouvido muita conversa sobre o fato de que cada vez que você tomar ecstasy ele irá causar danos permanentes no cérebro. Eu também ouvi que o ecstasy coloca buracos no cérebro. Estas afirmações são verdadeiras?

Shulgin:

Não, elas não são. A “lesão cerebral permanente” baseia-se totalmente em estudos realizados com animais experimentais e com os resultados extrapolados para abranger o sujeito humano. Em uma declaração simples, não houve estudos no homem que indicaram lesão cerebral.

Os “buracos no cérebro” é um engano ainda mais ultrajante. Estes buracos populares são áreas em exames cerebrais que aparecem menos ativo em atrair agentes radiomarcados que são agonistas para certas áreas do site receptor.

As imagens que são mostradas para comparação não são da mesma pessoa, com ou sem MDMA neles, mas de pessoas diferentes, um dos quais tem usado uma grande quantidade de ecstasy e o outro sem qualquer tipo de registro de uso. A quintessência desta linha de mitologia é um artigo que apareceu recentemente na Willamette Week. Ela não só garantiu o leitor de que havia buracos gerados pela perda de serotonina, mas que ficou inundado com dopamina (neurotransmissor padrão) e, sendo atacado por peróxido de hidrogênio, produzidos ferrugem.

Desculpe guerreiros antidrogas. Nenhum dano, sem buracos, sem ferrugem.


Tolerância MDMA (ecstasy)

Caro Dr. Shulgin:

Você pode me explicar por que MDMA tem o que parece ser uma ocorrência tão prolongada de tolerância? Eu ouvi um monte de meus amigos “ravers” me dizerem que eles simplesmente não sentem o efeito tão forte como eles costumavam sentir, e acho que é difícil acreditar que isto pode ser simplesmente apagado como uma diminuição da qualidade de comprimidos. Muitos dos meus amigos me disseram que nas primeiras vezes foram as melhores, mas eles simplesmente não sentem os efeitos tanto quanto antes.

Eu me sentiria muito mais confiante em suas garantias de que o MDMA não é neurotóxico, se eu percebesse uma tolerância ao MDMA que é semelhante a psilocibina ou ao LSD… mas eu não consigo. Você pode me ajudar Sasha? Estou preocupado!

Caro Dr. Shulgin:

Depois dos meus primeiros 150 comprimidos de MDMA, qualquer pílula MDMA que eu tomei depois eu senti que os efeitos positivos eram muito baixos e os negativos muito altos. Eu ainda estava tentando fazer com que esse sentimento adorável voltasse, mas eu não consigo absolutamente nada a não ser uma ressaca desagradável. Eu parei por um par de meses, então tentei novamente e nada mais que uma ressaca horrível… Eu nunca mais vou ter a sensação adorável de novo ou se foi para sempre?

 

Shulgin:

Eu combinei essas cartas em que ambos estão experimentando a mesma propriedade que o MDMA invoca com o uso repetido, e que ambos estão fazendo a mesma pergunta à procura de alguma explicação.

A propriedade que você está enfrentando é a que eu chamo de perda da magia dessa primeira experiência. Minha primeira experiência com este fármaco foi realmente mágico. De repente eu estava um com eu mesmo, um com o mundo; Eu era uma pessoa que não tinha segredos para si mesmo, e que podia confiar em outras pessoas para ser tão honesto com ele como ele estava sendo consigo mesmo.

Quase todo mundo tem uma lembrança vívida de sua primeira experiência. Isso é o que eu chamo de “mágica”. Mas que normalmente é perdida depois de algumas experiências e, eu acredito, nunca é recuperada. As propriedades estimulantes ainda estão lá, olhos tremendo e os dentes rangendo ainda estão lá, um pouco do calor e interações confortáveis, mas a magia se foi.

Esta não é a tolerância do ponto de vista farmacológico. A tolerância é perdida com o tempo. Eu não acredito que esta perda “mágica” é em si recuperada. Parece que, após certo número de drogas utilizadas, a magia vai para longe. O número exato varia provavelmente com a pessoa.

O que nos leva ao segundo ponto, a que se refere aos relatórios que o MDMA pode ser neurotóxico. Apesar da extensa pesquisa que foi gasto em cima dele, ainda não há evidência objetiva de que MDMA danifica os nervos humanos. Mas eu certamente não posso argumentar, mas que há mudanças cerebrais que poderiam ser atribuíveis. Tome esta “perda da mágica” como um exemplo. Alguma mudança no cérebro ocorreu, e não parecem ser reversíveis. Isso é uma evidência de “dano?” Eu não penso assim, mas eu não sei. Alterar? Sim. Nunca podemos trilhar o mesmo caminho duas vezes para a atribuição de responsabilidade e de causalidade, é incerto. Definições que distinguem entre o dano e a mudança podem ajudar.


Fazendo MDMA (II): “Ecstasy, MDMA & Safrol

Caro Dr. Shulgin:
Do que o Ecstasy é feito?

 

Shulgin:

Antes de eu começar a responder à sua pergunta, deixe-me reformular isso apenas um pouco. Como eu havia mencionado em um par de escritos anteriores, o termo “Ecstasy” tem uma série de sinônimos. É um eufemismo para qualquer droga que é vendida em uma rave. Pode ser MDMA, mas é mais provável que seja alguma outra droga como o DXM, PMA, MDA, PMMA, GHB, Speed, ou Deus sabe lá o quê. Pode ser “ecstacy” (ouvi dizer que esta grafia incorreta foi com direitos de autor), o que sugere que poderia ser efedrina, pseudoefedrina, efedra, Ma Huang, ou Deus sabe lá o quê. Ou ele pode realmente ser MDMA. Então me deixe reformular a pergunta: Do que o MDMA é feito?

Então, de onde vem esse Safrol ? Duas das principais fontes são botanicamente óleos sassafrás distintos. Não é o óleo de sassafrás norte-americano feito a partir da casca da raiz da árvore de sassafrás albidum da Costa Leste, que cresce em estado selvagem no Maine até a Flórida, e no Oeste do Mississipi. E há o óleo de sassafrás brasileiro feito a partir das partes lenhosas acima do solo da árvore Ocotea pretiosa, que é encontrado nas florestas do Brasil central e no Oeste da Colômbia. Há alguns relatos de Safrol sendo componentes consideráveis ​​de Óleo de Anise (Illicium verum, I. parviflorum), mas o principal composto nestes óleos é anetol, não Safrol. E se o Óleo de Anise era para ser utilizado em erro como uma suposta fonte de Safrol, este material poderia dar origem a PMA, o qual tem sido mostrado ser muito tóxico. PMA tem sido visto como um substituto do “Ecstasy”, e eu gostaria de saber se o uso leviano de Óleo de Anise como fonte presumida de Safrol, poderia ter sido a origem da PMA na cena Rave do Ecstasy. Uma fonte adicional de Safrol é Óleo de cânfora. Foi convertido em “óleo de sassafrás sintético” por congelação e subseqüente destilação, e tem o nome alternativo de “óleo de cânfora amarelo.” É uma pobre, mas teoricamente disponível, fonte de Safrol.

Mas se a sua pergunta é sobre as origens botânicas de MDMA, deixe-me impor várias advertências. Em primeiro lugar, a síntese de MDMA é um ato ilegal e, se documentado no tribunal, irá colocá-lo na prisão por muitos anos. E até mesmo a busca inocente para algumas dessas fontes botânicas pode ser desagradável. Há uma lista de produtos químicos que são usados ​​no fabrico de substâncias controladas, (chamada lista 1 pela DEA), que fazem a posse de qualquer destes produtos químicos uma razão para perguntar se você teve a intenção de fabricar MDMA. Nessa lista não estão explicitamente nomeado piperonal, 3,4-metilenodioxifenil-2-propanona (este é um sinônimo para piperonylacetone), isosafrol e safrol. Estes são os exatos compostos citados acima que estão implicados na síntese de MDMA.

As armas de aplicação da lei que podem ser utilizados neste domínio são muito fortes e muito bem definidos. Nem sequer pense sobre a criação de um laboratório em seu porão para fazer essas coisas. Você poderia ser gravemente ferido.


Pergunte ao Dr. Shulgin é um serviço publico feito por Dr. Alexander Shulgin e o Center for Cognitive Liberty & Ethics(CCLE). Dr. Shulgin é químico e autor. Ele criou mais de 200 novas substancias químicas com propriedades visionárias.
Todas as perguntas podem ser encontradas aqui.

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Foto por Renata Mein

Agradecemos imensamente a tradução feita pelo colaborador Kaio Shimanski.
Seja você também um colaborador, entre em contato:

equipemundocogumelo@gmail.com

Usos Espirituais do MDMA nas Religiões Tradicionais

A maioria dos professores espirituais são fortemente contra o uso de qualquer droga. Alguns alertam que as drogas irão desfazer anos de progresso árduo em direção a iluminação, enquanto outros dizem que o estado induzido pela droga pode parecer o mesmo, mas está em um nível inferior, e isso pode induzir as pessoas ao erro. Alguns poucos acreditam que um verdadeiro estado místico possa ser induzido por drogas, mas pensam que seu resultado é diminuído.

Entretanto, existem alguns professores que acreditam no valor do MDMA, tanto para a iluminação pessoal, quanto para o treinamento de outros. Eu entrevistei quatro: um monge Beneditino, um rabino, um monge Rinzai Zen e um monge Soto Zen. Também obtive comentários de outro monge Beneditino. Esses são lideres religiosos ativos que escrevem livros espirituais, ensinam prática espirituais e dão palestras públicas sobre assuntos espirituais, mas, exceto pelo último, nunca admitiram publicamente suas visões sobre o valor espiritual do MDMA. O monge Soto Zen, Pari, concorda que “Drogas não combinam com meditação. ” Entretanto, ele diz “Meditação combina maravilhosamente bem com drogas. ” Não há contradição: drogas perturbam padrões adquiridos na meditação, mas sob o efeito de MDMA é fácil meditar. “Ficar quieto enquanto toma MDMA te ajuda a aprender a sentar, provendo um conhecimento experiencial. ” Mas é um bom método para aprender? “É como um remédio. Se olharmos para o nosso estado mental e do planeta, devemos ser gratos por quaisquer meios que possam ajudar. Entretanto, assim como todo bom medicamento, também pode ser mal-usado. ” Todos eles acreditam que se beneficiaram do uso do MDMA, que pode ajudar a produzir uma experiência mística válida, não causa dano a mente e é útil para ensinar os estudantes. A razão para que eles não promovam seu uso é que eles devem seguir as politicas de suas ordens religiosas, e essas naturalmente obedecem a lei. Eu achei fascinante ouvir o quão similar suas experiências eram, ainda que diferentes para qualquer outra pessoa. Quando perguntei sobre o que eles achavam sobre o uso de MDMA por ravers, suas opiniões divergiram. O Beneditino sente que é profano pessoas tomarem drogas ao não ser que sejam espiritualmente orientadas, enquanto o rabino pensa que o sentimento de unidade e enxergar a vida por uma nova perspectiva é uma experiência igualmente válida para os ravers.

Holotropics (4256)

Eu levei Bertrand, o monge Rinzai Zen, para uma festa rave onde ele tomou MDMA—anteriormente ele só havia tomado enquanto meditava. Quando sentiu o efeito, ele brilhou e anunciou “Isso é meditação! ” Longe de ser estranho para a sua experiência, ele viu que todos estavam totalmente absortos em suas danças sem consciência própria ou dialogo interno, e isso era a verdadeira essência da meditação.

O rabino não estava apenas ciente de que dançar sob o efeito do MDMA podia ser uma experiência espiritual, mas também que o misticismo estava agora mais prontamente disponível nas pistas de dança do que em igrejas, mesquitas ou sinagogas. Ele sugeriu que se sacerdotes experimentassem a droga, eles não somente apreciariam seu valor espiritual, mas seriam capazes de entender melhor os jovens. Pari fez a seguinte analogia: “É como um escalador andando pelas montanhas que está perdido na névoa e impedido de ver o pico que se dispôs a escalar. De repente a névoa se dissipa e ele experiência a realidade do pico, e ganha senso de direção. Mesmo que a névoa surja outra vez, e ainda que o caminho seja longo e árduo, o vislumbre é geralmente uma enorme ajuda e encorajamento.

Entrevista com um monge Beneditino

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Irmão Bartholemew é um monge que usou MDMA cerca de 25 vezes num período de 10 anos como ajuda para sua experiência religiosa. Normalmente ele toma sozinho, mas também tomou junto a um pequeno grupo de pessoas com objetivos semelhantes. Ele descreve o efeito como uma abertura de uma ligação direta com Deus. Enquanto usando o MDMA, ele experienciou uma compreensão muito profunda da compaixão divina. Ele nunca perdeu a claridade deste insight, e permanece como um reservatório onde ele pode recorrer. Outro beneficio de seu uso de MDMA foi que a experiência da presença divina lhe vinha sem esforço. O efeito se manifestava em sua forma elemental na respiração, o sopro divino. Após seu despertar, ele começou a descobrir a validade de todas as outras grandes experiências religiosas.

Ele acredita que a “ferramenta” do MDMA pode ser usada em níveis diferentes como uma ferramenta de pesquisa ou espiritual. Quando usado apropriadamente, é quase um sacramento. Tem a capacidade de lhe colocar no caminho certo para a união divina com ênfase no amor, amor vertical, num sentido de ascendência. Entretanto, esse ganho só é possível quando se olha na direção correta. Não deveria ser usado ao não ser que esteja realmente a procura de Deus, e não é apropriado para hedonistas ravers adolescentes. O lugar onde é ingerido deve ser quieto e sereno. Deve haver também uma ligação intima entre aqueles que compartilham a experiência. A experiência deve ser perseguida com uma certa dose de supervisão porque o MDMA produz uma tendência de que sua atenção se disperse. Existe também o perigo de delapidar a experiência ao ficar preso em sentimentos de euforia, ao invés de alcançar o reino espiritual. Entretanto, embora possa ser inestimável, não deve se tornar necessário, uma vez que a necessidade de uma droga lhe nega a liberdade.

[ Eu enviei ao Irmão Bartholemew uma cópia do texto acima para sua provação, e ele adicionou o seguinte: ]

Um elemento que você pode querer adicionar é o da intimidade da voz na conversação. MDMA sempre me empurra em um espaço de intimidade na conversação. Existe uma qualidade especial nela. Você sente uma sensação de peso, uma sensação de peso nesta conversação, de algo profundo, tão sério quanto a própria vida. É um espaço interno onde não há máscaras, sem pretensões, absolutamente aberto e honesto. Não é uma intimidade erótica, mas sim filosófica e mística. Isso faz algum sentido? Você tem consciência de que se trata de uma comunicação interna raramente alcançada na conversa comum. Realmente não há palavras adequadas para descrever esse estado de percepção, bastando dizer que é essencial em minha experiência.

Entrevista com o rabino na Sinagoga Oeste de Londres

Após uma conversa que tocou na necessidade da preparação para a morte, eu perguntei ao rabino uma questão sobre o valor do MDMA para os pacientes terminais (referência ao estudo do Dr. Charles Grob em Los Angeles.) Ele respondeu que o MDMA possui tanto valor para os moribundos, quanto aos ravers, permitindo assim a sensação de unidade, possibilitando ver a vida de uma nova perspectiva. A proibição não é a melhor maneira de se lidar com uma substância que pode ser sacramental da mesma forma como a comunhão do vinho. Essas substâncias podem despertar sensações estranhas que podem ser desconfortáveis, mas são essenciais para uma compreensão mais profunda de nós mesmos. Entretanto, existem outros métodos para alcançar esses sentimentos, como aqueles descritos em um livro chamado Mind Aerobics.

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No final, o rabino me chamou para vir para o palco. Ele me levou em uma escada da saída de incêndio, fora dos ouvidos de sua comitiva, e me disse que ele não podia arcar com o risco de prejudicar o seu projeto, apoiando publicamente o uso de drogas ilegais, mas que ele tinha o meu livro (ele o elogiou.) Ele acreditava que o MDMA e outros psicodélicos poderiam ser usados para um imenso beneficio, não apenas para a consciência pessoal, mas pelo bem de Gaia e o bem-estar cósmico do planeta. Ele deu a entender que a experiência com MDMA possuía a mesma qualidade e valor potencial que outras experiências místicas, e sugeriu que os sacerdotes experimentassem a droga, tanto para entender os jovens, como para validar as experiências espirituais produzidas por drogas. Ele se referiu à conclusão de Abraham Maslow a respeito das “experiências de pico”: que tomar uma droga é como atingir o topo da montanha por um teleférico ao invés da labuta da escalada—pode ser visto como trapaça, mas te leva ao mesmo lugar. Ele finalizou me dando um grande abraço e me encorajando em meu trabalho.

Visita ao monge e professor Rinzai Zen

Bertrand é um monge Zen budista e professor de meditação na casa dos 70 anos. Seguindo uma carreira convencional, ele teve uma experiência de despertar com mescalina quando ele tinha 47 que o fez reavaliar sua e buscar um caminho espiritual. Isso o levou a encarar o Rinzai Zen com um mestre japonês rigoroso. Embora tenha achado o treino extremamente difícil, ele eventualmente se tornou o abade de um monastério Zen.

Bertrand tomou MDMA cerca de 25 vezes nos últimos 10 anos. Ele geralmente usou-o no segundo dia de uma meditação de sete dias, e descobriu que a droga permitiu que ele prestasse atenção de todo coração, sem qualquer distração. Como estudante, ele também usou uma vez quando praticava um exercício Zen chamado Koan. Durante os Koans, o mestre nomeia a tarefa que o aluno deve contemplar, como o clássico “compreender o som de um bater de palmas. ” O estudante tem de demonstrar compreensão, normalmente após um tempo considerável, e muitas vezes é lhe dito para tentar de novo.

Sob efeito do MDMA, Bertrand atravessou por entre os Koans com uma impressionante facilidade. Ele, inclusive, se sentiu iluminado em duas ocasiões, apesar dele não confiar que essas experiências sejam do nível mais alto. Ele também conhece um monge Zen suíço que usa MDMA, mas ele nunca contou ao seu mestre. Ele sente que a experiência seria de grande valor para alguns de seus devotos e rígidos companheiros monges Zen, embora ele conheça apenas um outro monge Zen que faça uso de MDMA.

Perguntado se a experiência com MDMA tinha igual valor quanto chegar “lá” da maneira difícil, ele respondeu que o MDMA simplesmente permite que usuário foque, de todo coração, em sua tarefa atual, e o resultado é real em todos os aspectos porque são os mesmos. De fato, o MDMA permitiu que ele fosse mais longe do que ele era capaz sem a substância. Eu o pressionei para descobrir os aspectos negativos, e ele me disse que uma vez ele cometeu o erro de tomar o MDMA pouco antes de liderar uma meditação. Isso abriu seus olhos para o quão tensos e necessitados seus alunos eram. Ele expressou aquilo que sentia muito livremente: que eles pareciam como cadáveres, todos alinhados com seus chales negros! Isso era inapropriado, e ele não usou novamente o MDMA quanto ensinava. Ele sentiu que seu erro estava em não respeitar que seus alunos se encontravam em um espaço diferente.

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Entretanto, Bertrand acredita que o MDMA seria uma ferramenta extremamente útil para ensinar os estudantes que também estivessem sob efeito. Na verdade, ele se perguntou se viveria o bastante para poder usa-lo legalmente. Pressionado sobre os possíveis problemas, ele disse que sempre haverá pessoas que chegam querendo a iluminação em uma bandeja, e a notícia de que existe uma nova técnica usando uma droga atrairia aqueles que esperam que “seja feito por eles”. A festa rave foi a primeira vez que Bertrando tomou MDMA exceto quando estava meditando, e ele foi surpreendido pelo quão diferente a experiência era. De antemão, ele disse que mal suportava ao barulho e volume do som. Depois que o MDMA fez efeito, ele pode ver o valor do volume ao “afogar” as distrações. A batida monótona era semelhante a algumas cerimônias de índios americanos que também fornecem a sensação de união tribal pelo uso de uma droga—embora tenha sentido que a rave perdeu a estrutura cultural e foco dos indígenas. (Bertrand já foi convidado de um ritual Indigena Americano, embora não tenha tomado nenhuma droga.) Ele podia ver o valor dessa nova experiência para o Budismo como expansiva — meditação era contrativa, mas ambos foram essenciais.

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Sua primeira reação após o MDMA começar a fazer efeito foi tristeza por sua posição como parte de uma instituição de uma religião restritiva, e a realização de que o treinamento Zen não era adequado para os ocidentais em sua presente forma. Mais tarde, ele entrou na dança. Conforme sua face mudava de severa para feliz, ele exclamou: “Isso é meditação — estar realmente no presente e não em sua cabeça”. No dia seguinte, ele disse que sentiu como se a experiência havia deixado uma impressão em sua vida, e ele não tinha certeza onde isso o levaria. Enfatizou o que ele já sabia: que seus estudantes eram muito contraídos, e essa experiência expansiva da rave era o que eles precisavam, e era uma pena que ele não poderia advogar sobre isso em sua posição.
No dia seguinte, ele me disse que isso podia ser um ponto de virada muito importante em sua vida. Ele tinha que passar um tempo para digerir o que havia aprendido, mas sua resposta imediata era que ele não podia continuar sendo parte de uma instituição de sua escola na sua presente forma. Ele podia ver que o aspecto contrativo do treino havia sido muito enfatizado em sua escola, na crença de que os ocidentais já eram muito expansivos. Na verdade, aqueles que buscavam mestres Zen no Oeste realmente precisavam da habilidade de ser expansivos — e a rave proporcionava isso. Um mês depois, Bertrand me telefonou para dizer que ele acabará de ministrar um retiro de uma semana, que foi mais leve e positivo, quase como uma sensação de alegria. Ele atribuiu isso ao efeito da experiencia da rave, que por sua vez afetou os participantes. Também, ele se sentiu muito mais jovem e mais flexível. De fato, um problema de coluna que havia lhe causado dores por anos parecia estar completamente curado, o que fez ele suspeitar que especificamente esse problema na coluna era causado pela mente. Eu enviei os rascunho das entrevistas com o rabino e o monge Beneditino à Bertrand. Ele comentou que sua experiência se assemelhava com a do rabino sobre estar em um estado mental aberto. Divergia com o Beneditino, que dizia que o MDMA lhe permitia focar totalmente sem distração, e com atenção prolongada. Ele sentiu que a base do estado mental era enfatizada. Perguntei como ele sugeria usar o MDMA. Ele recomendou meditação após a abertura como uma forma de canalizar a energia liberada. Bertrando descreveu o MDMA como uma “experiência nutridora”

Visita a um monge e professor Soto Zen

Pari tomou LSD na universidade. Na verdade, ele mudou-se para uma comuna que tomava LSD em rituais semanais regulares, porém mais tarde essa busca por conhecimento o levou para longe das drogas para a Yoga, a qual ele praticou por muitos anos. Entã ele viajou e se envolveu com o Zen, vivendo em uma comunidade Soto Zen por 10 aos até ser ordenado monge. Ele havia sido feito desde então Abade pelo seu mestre; isso é, lhe é dado o poder para ordenar novos monges Zen. Ele agora vive em uma bela e tranquila casa Vitoriana na cidade com sua esposa e filho, onde ele tem um pequeno zendo (sala de meditação). Ele também tem um centro de retiro nas montanhas. Ele divide seu tempo entre o Budismo e ativismo social/ecológico. Nos últimos 5 anos, Pariu tomou MDMA cerca de 15 vezes, geralmente sozinho ou com sua esposa e amigos íntimos. Aquilo lhe fornecia uma grande clareza e tranquilidade, muito parecido com seshin— prática que dura 1 semana — quando tudo se torna mais claro, mais desperto.

Tradicionalmente, ensinamentos orientais são fortemente contra às drogas. Mas sua tradição em particular possui uma exceção a essa regra, e seu professor no Japão havia usado peyote, LSD e MDMA. Certa vez Pari irritou o professor Budista vietnamita Thich Nhat Hanh por apontar que a maioria dos estudantes ocidentais o procuravam pelas experiências com as drogas, então não era certo para ele ter uma posição forte contrária ao uso de drogas, especialmente já que ele não havia experimentado por si mesmo.

Ele havia usado MDMA para ensinar com alguns estudantes, incluindo um que já fora sido ordenado monge. Esse era um homem extremamente intenso e colocava um esforço tremendo para fazer o seu melhor na meditação. O MDMA o ajudou a ver que o tentar em si era o seu principal obstáculo. Outro estudante era um homem de negócios bem sucedido e mão de ferro. MDMA simplesmente o parou — ele mudou dramaticamente em uma pessoa calorosa e satisfeita que apenas queria se sentar tranquilamente no zendo.

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Quando perguntei se o sucesso com o MDMA era válido tanto quanto sem, ele respondeu : “É a experiência que importa, não como você chega lá. Olhe para a história das grande religiões. Muitos dos seus fundadores e santos tiveram uniões místicas durante febre causada por ferimentos, durante o qual, como sabemos hoje, o corpo produz substâncias psicodélicas. Um bom exemplo seria Inácio de Loyola, fundador da ordem Jesuíta.

Eu perguntei a Pari se pensava que haviam alguns tipos de pessoas que não se beneficiariam ou seriam enganados pelo MDMA. “Pode ser um problema para aqueles que não estão suficientemente aterrados, aqueles com tendencia a flutuar em outros mundos facilmente, de qualquer modo. Entretanto, a maioria de nós somos muito ligados a terra, presos demais nessa realidade em particular e uma pequena ajuda de um amigo pode ser de grande valor.” Ao contrário do LSD e outras drogas, o MDMA age em termos de relacionamentos — consigo, Deus, natureza. Ele ainda abre um terreno comum com outras pessoas as quais ainda não conhece.

Eu perguntei se havia algum motivo para usar o MDMA uma vez a iluminação ter sido atingida. “Atingir a iluminação para a maioria de nós é transitório e raro. Depois de um tempo, a experiência direta é substituída pela lembrança dela e uma experiência direta de tempos em tempos ajuda e revigora.” Mas, eu perguntei, a experiência induzida pela droga era realmente a mesma? Após certa hesitação Pari respondeu, “Sim, o estado da mente é idêntico, ainda assim há uma diferença sútil, talvez em razão dos efeitos físicos da droga no corpo. Sem a droga, há apenas um fator a menos. Isso é simples, e talvez implique em ser melhor. O valor desse estado é o mesmo: poder olhar para trás e ver o estado da mente “normal” com uma perspectiva clara mas diferente.

Qual a situação ideal? “Para um iniciante, um amigo confiável e mais experiente é altamente recomendável. Você deve criar um ambiente que ache convidativo. Faça a prática espiritual que você tiver. Para alguns pode ser cantar, rezar, pintar, meditar ou sentar em uma catedral; para outros é andar sozinho pelas montanhas.” Porém, ele alertou que nem toda tentativa é positiva. Ele sentiu mal e tremulo em sua última experiência com MDMA, embora depois de uma hora ele vomitou e então se sentiu melhor.

Texto publicado originalmente por Nicholas Saunders na Newsletter MAPS – Volume 6 Número 1 de 1995

Como os Psicodélicos Salvaram Minha Vida

Agradecemos ao Vitor Reinaque Mutinari por ter contribuído ao blog com a tradução do artigo.

Eu te convido para dar um passo atrás e limpar sua mente de décadas de falsa propaganda. Os governos do mundo todo mentiram para nós sobre os benefícios da maconha medicinal. O público também foi desinformado sobre psicodélicos.

Essas substâncias não viciantes – MDMA, Ayahuasca, Ibogaína, Cogumelos com Psilocibina, Peyote e muitos mais – são comprovadamente rápidas e eficientes ao ajudar pessoas a se curarem de traumas, TEPT (Transtorno de Estresse Pós Traumático), ansiedade, vício e depressão.

Psicodélicos salvaram minha vida.

Minha experiência com sintomas de Ansiedade e TEPT

Eu fui atraída para o jornalismo desde jovem pelo desejo de fornecer uma voz ao ‘pequeno cara’. Por quase uma década trabalhando como correspondente investigativa da CNN e jornalista independente, eu me tornei uma porta voz dos oprimidos, vitimados e marginalizados. Meu caminho de jornalismo submersivo trouxe-me mais próxima de minhas fontes, vivendo a história para ter uma real compreensão do que estava acontecendo.

Falando em uma conferência de imprensa no Líbano sobre abusos dos direitos humanos que presenciei enquanto repórter no Barein.
Falando em uma conferência de imprensa no Líbano sobre abusos dos direitos humanos que presenciei enquanto repórter no Barein.

Após muitos anos de reportagem, eu percebi uma infeliz consequência do meu estilo – havia-me imergido muito profundamente nos traumas e sofrimento das pessoas que entrevistei. Comecei a ter problemas para dormir quando suas faces apareceram nos meus sonhos mais sombrios. Passei muito tempo absorvida em um mundo de desespero e minha incapacidade de defesa permitiu que o trauma dos outros se estabelecesse dentro de minha mente e ser. Combinando isso com as diversas experiências violentas enquanto trabalhando no campo e eu estava no meu pior. Uma vida de reportagens no limite levou-me à beira da minha própria sanidade.

Porque eu não consegui encontrar uma maneira de processar minha angustia, ela cresceu como um monstro, manifestando-se em um estado constante de ansiedade, perda de memória de curto prazo, sonolência e hiperexcitação. As palpitações me fizeram sentir como se estivesse batendo na porta da morte.

Porque escolhi Medicinas Psicodélicas

Remédios prescritos e antidepressivos servem um propósito, mas eu sabia que eles não estavam no meu caminho de cura após minhas investigações terem exposto seus efeitos colaterais sinistros, incluindo crianças nascendo dependentes das medicações após suas mães não conseguirem largar seus vícios. Mascarar os sintomas de uma condição psicológica mais profunda com uma pílula parecia como colocar um Band-Aid num ferimento à bala.

Eu fiquei ciente dos poderes curativos em potencial dos psicodélicos como uma convidada do podcast Joe Rogan Experience em Outubro de 2012. Joe me contou que cogumelos psicodélicos transformaram sua vida e tinham potencial para mudar o curso da humanidade para melhor. Minha reação inicial foi achar divertido e ficar um pouco incrédula, mas a semente havia sido plantada.

Psicodélicos eram uma escolha estranha para alguém como eu. Eu cresci no Centro-Oeste e fui alimentada por 30 anos de propaganda explicando o quão horrível essas substâncias eram para minha saúde. Você pode imaginar meu queixo caído de surpresa quando, após o podcast do Rogan, encontrei artigos sobre os maravilhosos efeitos dessas substâncias que se comportavam mais como medicinas do que drogas. Artigos como este aqui, este, este, este, e este. E estudos como este, este, este, este, este… e este… todos exemplos angustiantes de come fomos enganados pelas autoridades que classificaram os psicodélicos como narcóticos schedule 1 (classificação oficial norte-americana), ‘sem valores medicinais’ apesar de dezenas de estudos científicos provando o contrário.

Viajando Pelo Mundo

Tendo apenas experimentado uma única vez um estranho baseado de maconha na faculdade, em Março de 2013 eu me encontrava embarcando em um avião para Iquitos, Peru para experimentar um dos mais poderosos psicodélicos da terra. Deixei meu carro no aeroporto, apressadamente arrumei meus pertences em uma mochila e me dirigi para a floresta Amazônica colocando minha fé cega em uma substância que a uma semana atrás eu mal conseguia pronunciar: ayahuasca.

Ayahuasca_e-a-humanidadeAyahuasca é um chá medicinal que contém o composto psicodélico dimetiltriptamina, ou DMT. A bebida está se espalhando pelo mundo após inúmeras anedotas terem mostrado que a bebida tem o poder de curar ansiedade, TEPT, depressão, dores inexplicáveis, e inúmeras aflições físicas e mentais. Estudos sobre bebedores de longo prazo de ayahuasca mostraram que eles são menos suscetíveis a vícios e possuem níveis elevados de serotonina, neurotransmissor responsável pela felicidade.

Se eu tinha alguma ressalva, dúvida, ou descrença, elas foram rapidamente expelidas logo após minha primeira experiência com ayahuasca. O chá de gosto horrível vibrou através de minhas veias e dentro do meu cérebro enquanto a medicina escaneava meu corpo. Meu campo de visão foi engolfado com uma profusão de cores e padrões geométricos. Quase instantaneamente, eu tive uma visão de um muro de tijolos. A palavra ‘ansiedade’ estava pintada em spray em grandes letras no muro. “Você deve curar sua ansiedade, ” a medicina sussurrou. Eu entrei num estado de sonho onde memórias traumáticas foram finalmente desalojadas do meu subconsciente.

Era como se eu estivesse assistindo um filme da minha vida inteira, não como meu ‘eu emocional’, mas como uma observadora objetiva. Esse vívido filme introspectivo foi exibido em minha mente enquanto eu revivia minhas cenas mais dolorosas – o divórcio dos meus pais quando eu tinha apenas 4 anos de idade, relacionamentos passados, ser baleada por policiais enquanto fotografava um protesto em Anaheim e sendo esmagada em baixo de uma multidão enquanto fotografava um protesto em Chicago. A ayahuasca me permitiu reprocessar esses eventos, separando o medo e emoção das memórias. A experiência foi equivalente a dez anos de terapia em uma sessão de ayahuasca de oito horas.

Nós esperamos nervosamente que a cerimônia de ayahuasca começasse. Nós deram dado baldes para os intensos efeitos abortivos da medicina.
Nós esperamos nervosamente que a cerimônia de ayahuasca começasse. Nós deram dado baldes para os intensos efeitos abortivos da medicina.

Mas a experiência, e muitas experiências psicodélicas para esse propósito, foi aterrorizante algumas vezes. Ayahuasca não é para todos- você deve estar disposto a revisitar alguns lugares bem escuros e se render para o incontrolável, fluxo feroz da medicina. Ayahuasca também causa vômitos e diarreia violentos, que os xamãs chamam de “melhorar” porque você está purgando o trauma de seu corpo.

Após sete sessões de ayahuasca nas selvas do Peru, o nevoeiro que encobriu minha mente sumiu. Eu era capaz de dormir novamente e noticiei melhoras na minha memória e menos ansiedade. Eu ansiava absorver o máximo de conhecimento possível sobre essas medicinas e passei o ano seguinte viajando pelo mundo em busca de mais curadores, professores e experiências pelo jornalismo submersivo.

Eu fui atraída para os cogumelos com psilocibina após ler como eles reduziam a ansiedade em pacientes terminais de câncer. Ayahuasca mostrou me que meu distúrbio principal era ansiedade, e eu sabia que ainda tinha trabalho a fazer para consertar isso. Cogumelos com psilocibina não são neurotóxicos, são não viciantes, e estudos mostraram que eles reduzem ansiedade, depressão, e até levam a neurogênese, ou o crescimento de células cerebrais. Porque governos do mundo todo mantem fungos tão profundos fora do alcance do povo?

A curandeira abençoou me enquanto eu comia uma folha cheia de cogumelos com psilocibina para a cerimônia de cura. A curandeira abençoou me enquanto eu comia uma folha cheia de cogumelos com psilocibina para a cerimônia de cura.
A curandeira abençoou me enquanto eu comia uma folha cheia de cogumelos com psilocibina para a cerimônia de cura.
A curandeira abençoou me enquanto eu comia uma folha cheia de cogumelos com psilocibina para a cerimônia de cura.

Depois de Peru, eu visitei curandeiras em Oaxaca, Mexico. Os mazatecos haviam usado cogumelos com psilocibina como sacramento e medicinalmente por centenas de anos. Curandeira Dona Augustine me serviu uma folha repleta de cogumelos durante uma belíssima cerimônia diante de um altar católico. Enquanto ela cantava canções milenares, eu observava o pôr-do-sol sobre a paisagem montanhosa em Oaxaca e um profundo senso de conexão lavou meu inteiro ser. A beleza inata me levou a uma perda das palavras; uma súbita manifestação de emoção me pôs em lagrimas. Eu chorei pela noite e junto com cada lagrima, uma pequena porção do meu trauma escorria pelo meu rosto e dissolvia-se no chão da floresta, me libertando de sua energia tóxica.

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Cogumelos com psilocibina não são neurotóxicos, são não viciantes, e um estudo da Universidade do Sul da Florida mostrou que eles podem reparar danos cerebrais causados por trauma.

Talvez o mais espantoso, os cogumelos silenciaram a parte autocritica de minha mente por tempo suficiente para eu reprocessar a memória sem medo ou emoção. Os cogumelos possibilitaram-me lembrar de um dos momentos mais aterrorizantes de minha carreira: quando fui detida sob miras de armas no Bahrein enquanto filmava um documentário para CNN. Eu havia perdido qualquer lembrança daquele dia quando homens mascarados apontaram armas em nossas cabeças e forçaram minha equipe e eu ao chão. Durante uma boa meia hora, eu não sabia exatamente se iriamos ou não sobreviver.

Eu passei muitas noites sem dormir procurando desesperadamente por memórias daquele dia, mas elas estavam trancadas em meu subconsciente. Eu sabia que as memórias ainda me assombravam porque a qualquer momento eu iria ver ‘disparadores’ de TEPT, como barulhos altos, helicópteros, soldados, ou armas, e uma onda de ansiedade e pânico iriam inundar meu corpo.

A psilocibina era a chave para destrancar o trauma, possibilitando-me aliviar o aprisionamento momento a momento, fora do meu corpo, como um observador objetivo sem emoção. Eu espiei dentro da van da CNN e vi meu antigo eu sentada no banco traseiro, helicópteros barulhentos sob nossas cabeças. Minha produtora Taryn estava sentada a minha direita tentando freneticamente fechar a porta da van enquanto nos tentávamos escapar. Eu ouvi Taryn gritar “armas!” quando homens mascarados pularam dos veículos de segurança que cercavam a van. Eu observei enquanto eu rastejava desesperadamente até uma mochila no chão, pegando meu cartão de identificação da CNN e pulando fora da van. Vi-me deitada no chão em posição de criança, poeira cobrindo meu corpo e face. Observei-me enquanto lancei minha mão com o emblema da CNN no ar acima da minha cabeça gritando “CNN, CNN, não atirem!!”

Eu vi a dor em minha face quando as forças de segurança jogaram o ativista de direitos humanos e amigo querido Nabeel Rajab contra o carro de segurança e começaram a perturba-lo. Eu vi o terror em minha face enquanto olhei para minha camisa, braços no ar, rezando para que as fitas de vídeo escondidas em meu corpo não caíssem no chão.

Durante a cerimônia a psilocibina libera memórias traumáticas armazenadas no fundo do meu subconsciente para que eu possa processa-las e curar. A experiência é intensamente introspectiva.
Durante a cerimônia a psilocibina libera memórias traumáticas armazenadas no fundo do meu subconsciente para que eu possa processa-las e curar. A experiência é intensamente introspectiva.

Enquanto revivia cada momento de aprisionamento, reprocessei cada memória movendo-as da pasta “medo” para seu novo permanente lar na pasta “seguro” no disco rígido de meu cérebro.

Cinco cerimônias com cogumelos com psilocibina curaram minha ansiedade e os sintomas de TEPT. As borboletas que tinha um lar permanente em meu estomago voaram para longe.

Psicodélicos não são a solução completa. Para mim, eles foram uma chave que abriu a porta para a cura. Ainda tenho que trabalhar para manter a cura com o uso de tanques de flutuação, meditação, e yoga. Para os psicodélicos serem efetivos, é essencial que eles sejam tomados com o estado mental adequado em um ambiente descontraído propicio para a cura, e que todas as possíveis interações medicamentosas tenham sido cuidadosamente pesquisadas. Pode ser fatal se Ayahuasca for misturada com antidepressivos prescritos.

Fui abençoada com uma natureza curiosa e uma teimosia de sempre questionar autoridade. Se tivesse optado por um roteiro de um médico e me resignado na esperança que as coisas simplesmente melhorassem, eu nunca teria descoberto todo o alcance da minha mente e coração. Tivesse eu bebido o Kool-Aid e acreditado que todas as ‘drogas’ fossem ruins e sem valor medicinal, talvez estivesse no meio de uma batalha com TEPT.

A Criação do Reset.me

Este mesmo mundo que exalta a guerra, a violência, o mercantilismo, a destruição ambiental e o sofrimento proibiu algumas das chaves mais profundas para a paz interior. A Guerra às Drogas não é baseada na ciência. Se fosse, duas das drogas mais mortais da Terra – álcoole tabaco – seriam ilegais. Aqueles que sofrem com trauma se tornaram vitimas dessa guerra falida e perderam um dos modos mais eficientes de cura.

A humanidade enlouqueceu como resultado.

Lyon e um cientista abrem o estômago de peixe para procurar lixo plástico durante filmagens de um documentário sobre a poluição oceânica excessiva de plástico.
Lyon e um cientista abrem o estômago de peixe para procurar lixo plástico durante filmagens de um documentário sobre a poluição oceânica excessiva de plástico.

Passei dez anos testemunhando a insanidade coletiva como jornalista da linha de frente – guerras, derramamento de sangue, destruição ambiental, escravidão sexual, mentiras, vicio, ódio, medo.

Mas eu entendi tudo errado jornalisticamente. Eu estava focando nos sintomas de uma sociedade doente, ao invés de estar atacando a raiz da causa: trauma não processado.
Nós todos temos trauma. Trauma se aloja em criminosos violentos, a esposa que traí, políticos corruptos, aqueles que sofrem de transtornos mentais, vícios, dentro deles muito medo de assumir riscos e atingir seu pleno potencial.

Se não for adequadamente processado e purgado, trauma é cimentado no disco rígido da mente, crescendo em uma parasita obscuro que eleva sua cabeça feia por toda a vida de uma pessoa. Os ferimentos nos mantem trancados em uma grade de medo, preso atrás de uma personalidade não verdadeira para a alma, trabalhando em um emprego mundano ao invés de seguir uma paixão, repetindo o ciclo de abuso, destruindo o ambiente, ferindo uns aos outros. O sofrimento mais comum e severo é infligido na infância sequestrando o lugar do motorista para a fase adulta, conduzindo o indivíduo em uma estrada privada de felicidade. Renomado especialista em vícios Gabor Mate diz, “O maior causador de vícios severos é sempre o trauma infantil”.

Nós vivemos em um mundo cheio de feridas e quando deixadas sem tratamento, elas são passadas sem cerimônia de uma geração para outra, assim o ciclo traumático continua com toda sua brutalidade destrutiva.

Mas há esperança. Nós podemos transformar o curso da humanidade ao purgar coletivamente nossa mágoa/pesar e curando a nível individual, com ajuda das medicinas psicodélicas. Uma vez curados em nível individual, nós veremos uma dramática transformação positiva na sociedade como um todo.

Eu fundei o website reset.me para produzir e agregar jornalismo sobre consciência, medicinas naturais, e terapias. O explorador psicodélico Terrence McKenna comparou tomar psicodélicos com apertar o ‘botão reiniciar’ no seu disco rígido interno, limpando todo lixo, e recomeçando. Eu criei o reset.me para ajudar conectar aqueles que precisam apertar o ‘botão reiniciar’ na vida com o jornalismo cobrindo as ferramentas que nos permitem curar.

É uma crise de direitos humanos os psicodélicos não estarem acessíveis para a população em geral. É insano que governos do mundo todo tenham proibido as próprias medicinas que pode emancipar nossas almas do sofrimento.

É tempo de parar essa loucura.