O que você veria se pudesse olhar dentro de um cérebro em processo alucinatório? Apesar de décadas de investigação científica, nós ainda temos a falta de um entendimento claro de como drogas alucinógenas como o LSD (dietilamida do ácido lisérgico), mescalina e psilocibina (o principal ingrediente ativo em cogumelos mágicos) trabalham no cérebro. A ciência moderna demonstrou que alucinógenos ativam receptores da serotonina, um dos mensageiros químicos chave. Especificamente, dos 15 diferentes receptores de serotonina, o subtipo 2A (5-HT2A), parece ser o que produz alterações profundas do pensamento e da percepção. É incerto, entretanto, por que a ativação do receptor 5-HT2A pelos alucinógenos produz efeitos psicodélicos, mas muitos cientistas acreditam que os efeitos estão ligados a aumentos na atividade cerebral. Embora não seja conhecido porque essa ativação causaria profundas alterações da consciência, uma especulação é que um aumento espontâneo da atividade de algumas células do cérebro levariam a alterações sensoriais e perceptivas, ressurgimento incontrolado de memórias, e a projeção de “ruído” mental no olho da consciência.
O autor Inglês Aldous Huxley acreditava que o cérebro funciona como uma “válvula redutora”, que acabaria por restringir a consciência. Com mescalina e outros alucinógenos, é possível induzir efeitos psicodélicos inibindo esse mecanismo de filtragem. Huxley baseou essa explicação inteiramente em suas experiências pessoais com mescalina, que foi dada a ele por Humphrey Osmond, o psiquiatra que deu origem ao termo “psicodélico”. Apesar de Huxley ter proposto essa ideia em 1954,décadas antes do surgimento da ciência moderna do cérebro, ele pode estar correto. A maioria das opiniões é de que alucinógenos trabalham ativando o cérebro, ao invés de inibi-lo como Huxley disse. Os resultados de um estudo recente de imagens está desafiando essas explicações convencionais sobre a ativação da atividade cerebral.
O estudo em questão foi conduzido pelo Dr. Robin Carhart-Harris em conjunto com o professor David Nutt, um psiquiatra que era assessor científico do governo do Reino Unido na a política de drogas. O Doutor Carhart-Harris, Nutt, e colegas utilizaram ressonância magnética funcional para estudar os efeitos da psilocibina na atividade cerebral de 30 utilizadores experientes de psicodélicos. Nesse estudo, a administração intravenosa de 2mg de psilocibina induziu um estado psicodélico moderado que foi associado a reduções da atividade neural em regiões do cérebro, como o córtex pré-frontal medial e o córtex cingulado anterior.
Os dois córtex em questão estão extremamente inter-conectados com outras regiões do cérebro e acredita-se estarem envolvidos em funções como a regulação emocional, o processamento cognitivo, e a instrospecção. Baseado nas suas descobertas, os autores do estudo concluíram que alucinógenos reduzem atividades em regiões específicas do cérebro, diminuindo potencialmente a sua habilidade de coordenar o funcionamento de regiões cerebrais inferiores. De fato, a psilocibina aparenta inibir regiões do cérebro que são responsáveis por restringir a consciência dentro dos limites normais do estado desperto, uma interpretação que é notavelmente similar ao que Huxley propôs meio século atrás.
Os achados reportados pelo Dr. Carhart-Harris são notáveis porque eles vão de encontro aos resultados de estudos de imagens anteriores com alucinógenos. Geralmente, essas ressonâncias em humanos confirmaram o que estudos prévios em animais sugeriram: alucinógenos agem aumentando a atividade de certos tipos de células em diversas regiões do cérebro, ao invés de diminuir como indicado pelo estudo de ressonâncias do Dr. Nutt. Por exemplo, experimentos com tomografia por emissão de pósitrons conduzidos pelo Dr. Franz Vollenweider em Zurique (vide post: 10 Fatos Surpreendentes sobre Alucinógenos, Psicodélicos e Cogumelos Mágicos) demonstraram que a administração de psilocibina oralmente em humanos aumenta a atividade metabólica nos córtex descritos anteriormente, efeitos que acredita-se estarem correlacionados com a intensidade da resposta psicodélica. Estudos pré-clínicos, utilizando uma variedade de técnicas diferentes, mostraram que alucinógenos aumentam a atividade neural no córtex pré-frontal e em outras regiões corticais ativando neurônios excitatórios e inibitórios, levando a um aumento na liberação de neurotransmissores excitatórios e inibitórios.
Dado a esses achados anteriores, os dados colhidos pelas ressonâncias pelo Dr. Nutt são de certo modo supreendentes. Questões metodológicas (como rota de administração, dosagem, e o espectro e a extensão dos sintomas induzidos pela psilocibina) podem ser pelo menos parcialmente responsáveis por essas diferenças, devido ao processo não ser igualmente medido. É também importante considerar que o receptor 5HT2A não é o único receptor de serotonina que é ativado pela psilocibina. Os experimentos do Dr. Vollenweider confirmaram que o aumento da atividade metabólica detectada pelas tomografias é mediado pelo receptor 5HT2A (o receptor de serotonina responsável pelos efeitos psicodélicos da psilocibina). Como o grupo do Dr. Nutt não conduziu um teste similar para verificar que os efeitos que eles observaram foram mediados pelo receptor 5HT2A, esse com certeza é o próximo passo lógico.
Esperançosamente, estudos que se seguirão poderão providenciar uma explicação para esses achados discrepantes, e vão resolver o debate sobre se os alucinógenos funcionam reduzindo ou aumentando a atividade cerebral. Ensaios clínicos estão sendo conduzidos para investigar se os alucinógenos podem ser usados para aliviar o estresse e a ansiedade em pacientes com câncer terminal, para atenuar os sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo, para reduzir a frequências de enxaquecas em salvas, entre outros (vide post), então é importante determinar o mecanismo para o efeito terapêutico dos alucinógenos. Além disso, parece haver alguma confusão entre os efeitos dos alucinógenos e os sintomas da psicose, então entendendo como os alucinógenos trabalham pode potencialmente providenciar insights sobre as causas da esquizofrenia e facilitar o desenvolvimento de tratamentos mais efetivos. Em qualquer evento, é importante notar que estudos identificaram que os córtex citados trabalham como peças-chaves na mediação dos efeitos dos alucinógenos. Na luz do que é conhecido sobre as funções base dessas regiões cerebrais, não é sem razão que eles poderiam estar envolvidos na mediação dos efeitos das drogas alucinógenas. Embora não esteja claro ainda se os alucinógenos trabalham na mente humana da maneira proposta por Huxley, parece que nós conseguimos identificar com sucesso algumas das regiões neurais chaves envolvidas nos efeitos desses agentes poderosos.
Cogumelos Psilocybe (Psilocybe coprophila) crescendo no esterco. As lamelas, visíveis na foto, produzem milhões de esporos, as células reprodutoras do fungo.
O Instituto Tecnológico Biofarmacológico, que está localizado na companhia Promega em Madison, Wisconsin, recentemente hospedou o décimo Fórum Bioético Internacional chamado “Manifestando a Mente”. Diversos palestrantes notáveis deram apresentações em um assunto um tanto inesperado: o uso de alucinógenos como a psilocibina (encontrada por exemplo em cogumelos mágicos) para a melhor compreensão da natureza da consciência e até mesmo para o tratamento de doenças neuropsicológicas como a depressão, ansiedade e o vício em drogas.
A Psilocibina (O-fosforil-4-hidróxi-N,N-dimetiltriptamina), que é um dos ingredientes ativos nos cogumelos psicodélicos, tem sido utilizada há anos pelos povos indígenas das Américas; em fato, os Astecas chamaram esses cogumelos de teonanacatl, ou “carne dos deuses”. A Mescalina (o ingrediente psicoativo do cacto peyote) é um outro tipo de alucinógeno que foi amplamente utilizado pelos Nativos Americanos vivendo no que são agora partes da América do Sul e do México; até mesmo hoje o cactopeyote se apresenta de forma forte em rituais religiosos celebrados pelos Navajos e outras tribos indígenas. O LSD, (dietilamida do ácido lisérgico), outro tipo de alucinógeno, foi descoberto mais recentemente pelo Dr. Albert Hofmann em 1943 e então popularizado pelo movimento de “contracultura” da década de 1960.
O Estudo dos alucinógenos e seu modo de ação no cérebro humano é conduzido desde os anos de 1800. (1) Por volta de 1960, o estudo dos alucinógenos e seus efeitos na consciência se aceleraram dramaticamente. (2-4) Infelizmente, em vista das aventuras de entusiastas de drogas como o doutor Timothy Leary, o interesse público e científico além do suporte à pesquisa com alucinógenos essencialmente parou. Foi assim até meados da década de 1990, quando controles de estudo aprimorados puderam ser implementados, quando os pesquisadores puderam retomar a investigação das substâncias alucinógenas e o efeito desses agentes na mente e no corpo.
Atualmente, pesquisadores e doutores renovaram seu interesse em substâncias psicodélicas como a psilocibina porque foi descoberto que essas substâncias são efetivas no tratamento de diversos comportamentos e estados mentais desafiantes, como memórias reprimidas, (5), álcool, tabaco e vício em narcóticos (6), dores de cabeça e enxaquecas (7) e até mesmo a depressão, como um resultado de câncer terminal/em estágio avançado. (8) Depois de um estudo de candidatos potenciais com estabilidade mental e sem uso de alucinógenos anteriormente, esses pesquisadores e doutores administraram dosagens controladas da droga alucinógena Psilocibina. As reações dos participantes são então meticulosamente registradas e catalogadas. Em diversos casos, ressonâncias magnéticas ou tomografias por emissão de pósitrons são administradas durante a experiência psicodélica com o objetivo de avaliar a atividade cerebral. Alguns resultados intrigantes já foram coletados desses estudos, incluindo os 10 listados a seguir:
1.A Ausência da Dependência
Drogas narcóticas como a cocaína previnem a recaptação dos neurotransmissores de prazer/aprendizado como a dopamina, eventualmente levando à dependência devido à forte sensação de recompensa que os narcóticos criam. Alternadamente, a psilocibina age como um agonista (ativador) dos receptores 5-hidroxitriptamínicos (5-HT), 5-HT1A, 5-HT2A e 5-HT2C, se assemelhando grandemente ao receptor serotonínico natural 5-HT. A Serotonina, ao contrário da Dopamina, é mais associada com o bem-estar e a memória, e menos com prazeres temporários, uma diferença chave que acredita-se que remova essa substância do caminho da dependência.
Comparação entre a Psilocina (Psilocibina sem o radical fosfórico) e a Serotonina (Abaixo)Serotonina, principal neurotransmissor ligado à memória/aprendizado
2.Redução da Ansiedade
O Dr. Stephen Ross estudou a psicoterapia assistida com psilocibina como um método de tratamento para pacientes que estão sofrendo de sensações de ansiedade e depressão como resultado de um diagnóstico de câncer terminal/em estado avançado. As descobertas do NYU Psilocybin Cancer Project, no qual ele é o principal pesquisador, indicam que os pacientes com câncer terminal/em estado avançado se beneficiam da administração de psilocibina em termos do seu bem estar mental e espiritual, além de diminuir os níveis de ansiedade, depressão e dor. Isso não é surpreendente sob a luz das descobertas feitas pelo Dr. Franz X. Vollenweider, que descobriu que a psilocibina reduz o controle do córtex pré-frontal sobre a amídala, o tão chamado centro do medo no cérebro. Incidentalmente, o Dr. Vollenweider também publicou estudos na redução da depressão em pacientes que ingerem psilocibina regularmente.
3. A Mudança no Centro do Comportamento
A percepção geral da sociedade em relação à indivíduos que consomem substâncias psicodélicas é que eles são anti-sociais, desajustados e cabeças-dopadas. Entretando, a pesquisa que está sendo conduzida pelo Dr. Roland Griffiths na Universidade Johns Hopkins indica que ingerir psilocibina pode produzir mudanças positivas na personalidade, atitudes e comportamentos dos participantes. (10) Indivíduos que experimentaram a psilocibina reportaram que tiveram sentimentos de responsabilidade social, empatia com outros e uma compreensão fundamental da inter-conexão entre todas as formas vivas aprimorados e fortificados. As mudanças da percepção e da cognição incorridas durante o encontro com a psilocibina são creditadas em parte para essas mudanças no centro do comportamento.
4. As Experiências de Tipo Místico O Insituto das Ciências Intelectuais, de quem o Dr. Roland Griffiths participa, é ativo estudando as experiências místicas que são vividas por participantes que tomaram a psilocibina ou outros alucinógenos. Em muitos casos, respostas neurais e padrões de ondas cerebrais de participantes são extremamente semelhantes aos encontrados durante estados de jejum, oração, meditação ou outro êxtase religioso/espiritual. (11) Existe também um estudo colaborativo planejado entre o Dr. Roland Griffiths e Richard Davidson (Universidade de Wisconsin-Madison) para descobrir se alucinógenos podem ajudar indivíduos que são praticantes regulares e experientes de meditação em termos de foco, duração da sessão, e processo espiritual. Os participantes desse estudo serão selecionados na Universidade Johns Hopkins e então testados via Ressonância Magnética na Universidade Wisconsin-Madison.
5. Abandono do Vício em Tabaco
Estudos-piloto em curso na Universidade Johns Hopkins com psilocibina sugeriram que esse alucinógeno pode ajudar indivíduos superarem seu vício em nicotina. (6, 12) Até agora, dos três voluntários testados, 1 ficou em remissão de nicotina por pelo menos 6 meses enquanto dois outros ficaram em remissão por mais de 12 meses. A pesquisa atual é focada na busca do mecanismo por trás do tratamento do vício em nicotina com alucinógenos assim como vícios em outras drogas.
6. Significado Pessoal Profundo
Indivíduos que tomaram psilocibina reportaram que a experiência foi uma das cinco mais significantes entre as cinco principais de sua vida. Essa opinião continuou por até 14 meses depois da experiência com o alucinógeno (13), provando que a tão chamada “viajem psicodélica” não é algo para ser levado de forma leve ou passageira.
7. Neuroplasticidade
A Neuroplasticidade é definida como uma mudança neural que ocorre tipicamente em resposta a um estímulo, seja ele um hormônio, uma ação do ambiente ou comportamento. No caso da psilocibina, a exposição repetida do cérebro a essa substância pode induzir neuroplasticidade através da modulação discreta de circuitos neurais. O trabalho do Dr. Franz X. Vollenweider do Instituto de Pesquisas Heffter sugeriu que a psilocibina influencia a liberação do glutamato no córtex pré-frontal. O Glutamato ativa o Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF na sigla em inglês), um fator de crescimento de nervos que é a chave para o crescimento neural, desenvolvimento e sobrevivência. (14) As mudanças psicológicas que foram encontradas nos indivíduos que tomaram a psilocibina, tais como a redução da depressão, podem ser atribuídos ao glutamato elevado.
8. Tratamento do Transtorno Obessivo-Compulsivo
O Dr. Francisco A. Moreno da Universidade do Arizona está explorando o tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo, ou TOC, com a psilocibina. (15) Os resultados preliminares parecem promissores, com alguns pacientes ficando livres dos sintomas por dias seguindo-se ao tratamento. Um paciente ficou sem sintomas por quase 6 meses. Nenhum tratamento foi encontrado para aliviar os sintomas de TOC rapidamente como a psilocibina.
9. Tratamento de Cefaleias em Salvas
Cefaleias em Salvas são enxaquecas de intensidade incomum que duram aproximadamente de 15 minutos a 3 horas ou mais. Podem ocorrer em uma base periódica, mas também podem estar sujeitas a uma remissão espontânea. Ambas substâncias, psilocibina e LSD, foram descritas como um possível tratamento contra as cefaleias com um sucesso impressionante. (7)
10. Ressurgimento de Memórias Reprimidas
Em alguns casos, a ingestão de psilocibina permitiu que certos indivíduos retomassem memórias emocionais suprimidas. A Fundação Beckley, em colaboração com o especialistas em Ressonâncias Magnéticas, Dr. Karl Friston, estarão estudando indivíduos que ingeriram psilocibina para determinar se e como a psilocibina possibilita essas memórias virem à tona.
É claro, nem tudo são rosas quando se trata de alucinógenos. Roland Griffiths reportou que, mesmo sob supervisão cuidadosa por coordenadores do estudo, indivíduos que tomaram psilocibina experimentaram medo e ansiedade durante a experiência. De modo geral, 1/3 dos indivíduos tiveram sensações de medo e ansiedade quando administradas altas dosagens (30mg/70kg). Outros 9% dos participantes reportaram que a sessão inteira foi dominada por ansiedade, enquanto 26% tiveram pensamentos paranóicos leves e transitórios.
Há também poucas informações sobre os efeitos de longo prazo do uso de psilocibina. Efeitos de curto prazo, como a dependência ou a neurotoxidade/excitotoxicidade, não aparentam ser um problema; entretanto, não é certo que a regulação dos receptores de serotonina (por exemplo a tolerância), o acúmulo de sub-produtos, ou uma doença neurodegenerativa estejam fora de questão após o uso prolongado de alucinógenos. Esses efeitos paralelos podem levar décadas para se tornarem evidentes, e, portanto, não poderiam ser relatados em pesquisas realizadas apenas 15-20 anos atrás.
Enquanto todas as questões não foram respondidas sobre a psilocibina e outros alucinógenos, existem evidências sugerindo que podem haver potenciais terapêuticos para vários problemas mentais e de comportamento. Assim também, os tão famosos psicodélicos podem se tornar uma janela única para a alma humana.
Recente estudo, publicado na edição de janeiro/12 do Journal of the American Medical Association aponta que a exposição à fumaça de maconha não é prejudicial ao pulmão como se imaginava.
O estudo testou e analisou as funções pulmonares de 5,000 jovens e adultos entre 18 e 30 anos. Após 20 anos de testes, os pesquisadores encontraram resultados polêmicos: usuários regulares de maconha (definido em 1 baseado por dia ao longo de 7 anos) não tinham nenhum défict perceptível na atividade pulmonar em comparação aos não fumantes.
De fato, os cientistas ficaram surpresos ao perceber que no teste de performance pulmonar os usuários de cannabis tiveram resultados melhores que os não fumantes e os fumantes de tabaco. Por quê? Aparentemente a explicação é que o ato de inalar a maconha – prendendo cada baforada o máximo de tempo possível – é uma atividade muito parecida com o teste pulmonar efetuado. dando uma vantagem aos usuários de maconha sobre seus colegas testados.
A maior parte da cultura humana sempre considerou a cannabis como um medicamento. Rainha Victoria usava para aliviar suas cólicas menstruais. Os extratos eram prescritos pelos médicos e estava disponível em todas as farmácias dos EUA. De acordo com o livro “Fast Food Nation” do autor Eric Schlosser, as atitudes em relação à cannabis só mudaram quando os americanos começaram a opor-se a sua utilização pelos imigrantes, por volta da virada do século 20. Schlosser disse numa Entrevista na PBS:
“o que é interessantes se você olhar para as origens da proibição da maconha nos Estados Unidos, verá que coincide com o crescimento do sentimento anti-imigração. . . na verdade desde os tempos primódios desse século, a guerra contra a maconha tem sido muito mais uma guerra contra o tipo de pessoas que fumam maconha, contra os mexicanos, os negros, os músicos de jazz, os beatniks, os hippies, os artistas de hip-hop. é uma guerra contra os não-conformistas e as leis contra a maconha vem sendo usadas como uma forma de reafirmar o que são vistos como tradicionais valores americanos.”
As atitudes estão mudando, no entanto. 17 estados agora oferecem agora de forma legal maconha medicinal para seus pacientes médicos, e o número está crescendo. Comunidades simpáticas à cannabis como Oaksterdam, impensáveis uma década atrás, estão surgindo e fazendo campanha para ter a maconha regulamentada e tributada, como as bebidas alcoólicas.
Em tempos que maconha está na boca do povo, estudos como esse publicado no JAMA dissipam as falsas afirmações sobre perigos deletérios à saúde e promovem os benefícios medicinais desta planta. De acordo com o Dr. Donald P. Tashkin, um pesquisador da maconha no UCLA medical school, o THC é conhecido por ter propriedades anti-inflamatórias, o que pode impedir a irritação pulmonar que gera o desenvolvimento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), que freqüentemente devasta os pulmões de fumantes de tabaco. Uma vez que inalar a fumaça não filtrada de uma planta de maconha queimada não é exatamente a melhor forma de consumo, ele sugere que quem quiser desbloquear o seu potencial químico pode encontrar maneiras de menor impacto para fazê-lo.
Segue abaixo uma pesquisa sobre a Psilocibina realizada com o apoio do Departamento de Psicologia da Pontifícia Univercidade Católica (PUC) de Minas, enviada ao micélio por Vinícius Ferraz e com a seguinte justificativa:
“Tendo em vista o complexo e intrigante fenômeno proporcionado pelos psicodélicos, ressalto a importância desta presente pesquisa, que ao investigar as possibilidades terapêuticas de uma destas substâncias, a Psilocibina, da margem a discussão sobre suas aplicações medicinais e propriedades curativas que podem vir a ser de grande préstimo a humanidade.
A pesquisa também contribuirá com o levantamento de material teórico, apresentando ao leitor o que houve de mais importante nos estudos desenvolvidos com psicodélicos na literatura e os modos de investigação e aplicação contemporâneos dessas substâncias, com ênfase na Psilocibina, que disponibilizará a pesquisadores e ao mundo científico informações adicionais para o estudo do tema. A importância deste estudo reside no crescente interesse científico que se apresenta no país com a investigação das mais diversas substâncias psicodélicas nos mais diferentes âmbitos.
Estudo este que é de grande relevância social levando em consideração tão antiga e intrínseca relação entre as substâncias psicodélicas e a humanidade no decorrer de sua história, sustentando a necessidade de elucidar e trazer a tona uma maior compreensão sobre o fenômeno para que a falta de esclarecimento sobre o tema não resulte na falta de critério e discernimento em seu uso e acabe por transformar uma possível ferramenta de pesquisa e terapia em um problema social.”
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Departamento de Psicologia
Psilocibina: Possibilidades terapêuticas do cogumelo psicodélico
Vinícius Ferraz
Caio de Azevedo
Belo Horizonte
2010
Psilocibina: Possibilidades terapêuticas do cogumelo psicodélico
Artigo Cientifico apresentado para o departamento de psicologia, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, unidade Coração Eucarístico.
Belo Horizonte
“Eu vejo a questão dos psicodélicos como uma parte da longa marcha em direção á liberdade humana, que tem certos marcos ao longo do caminho, como a abolição da escravatura, a conquista pelo direito de voto ás mulheres, a inclusão dos negros nos processos da sociedade democrática e agora, a necessidade do estabelecimento do direito universal das pessoas tomarem substâncias alteradoras de consciência. Tudo se trata da marcha triunfante em direção á uma sociedade onde a dignidade do individuo é sempre o primeiro valor a ser honrado. Não queremos ser governados pelos medos do fundamentalismo cristão, ou pela superficialidade do cientificismo, ou pelo sombrio vazio espiritual do materialismo. Nós queremos nos conectar primeiro com nossos corpos, e através dos nossos corpos com o planeta É disso que os alucinógenos, as plantas psicoativas e as substancias psicodélicas se tratam.”
Terence McKenna
Psilocibina: Possibilidades terapêuticas do cogumelo psicodélico
1. Prefácio
As substâncias psicodélicas têm sido estudadas há pouco mais de um século, desde que a ciência ocidental descobriu os seus usos entre as culturas tradicionais. A partir desse período até nossos tempos de ciência contemporânea, diversos estudos foram realizados em campos diferentes de acordo com as décadas e com os interesses envolvidos no estudo dessas substâncias.
A psilocibina (alcalóide pertencente à família das triptaminas) é uma poderosa substância psicodélica encontrada naturalmente em uma diversidade de espécies de cogumelo dos gêneros Psilocybe, Stropharia, Conocybe e Panaeolus, das quais o Psilocybe cubensis e o Psilocybe mexicana são as mais conhecidas. Descoberta em 1953, pelo autor e pesquisador russo Gordon Wasson, a psilocibina é um psicodélico relativamente novo, em termos científicos, já que a sua entrada nos laboratórios foi posterior à descoberta de outras substâncias como a mescalina, 60 anos antes. Logo ganhou grande relevância científica, protagonizando uma série de estudos, principalmente relativos à prática psicoterápica auxiliada por psicodélicos, até cair no silêncio sufocante imposto pela política norte-americana da Guerra às Drogas.
Após um período de quase extinção como linha de pesquisa, o retorno ao interesse envolvido com o intrigante fenômeno proporcionado pelos psicodélicos ocorre no final do século XX (década de 90) e continua seu reflorescimento em pleno século XXI. Apesar dos milhares de estudos desenvolvidos até então, pouco se sabe e menos ainda é desenvolvido no Brasil, país que possui grande biodiversidade dessas substâncias e variabilidades em suas formas de uso social. A cultura de uso de psicodélicos no Brasil e na América em geral atrai os interesses de diversos grupos de pesquisas interessados nesse fenômeno, que têm gerado debates amplos nos campos da neurociência, da ciência cognitiva e das ciências sociais, principalmente da antropologia e etnologia.
A presente dissertação buscou apresentar ao leitor o que houve de mais importante nos estudos desenvolvidos com a psilocibina e o cogumelo psicodélico na literatura, contrastando os dois grandes momentos da psilocibina na ciência, de 1950 a 1960 e de 1990 a 2010, separados por um período marcado pela moratória científica arbitrariamente imposta pela política norte-americana de guerra as drogas. As pesquisas mais relevantes de cada um destes períodos, envolvendo a administração de psilocibina em seres humanos, foram levantadas e analisadas com intuito de investigar a natureza da alteração mental que a psilocibina induz no indivíduo e as possibilidades destas alterações produzirem efeitos terapêuticos. Foi apresentado também um breve histórico, onde se procurou situar historicamente o cogumelo psicodélico e sua relação com a vida e cultura humana.
Tendo em vista o complexo e intrigante fenômeno proporcionado pelos psicodélicos, ressalto a importância desta presente pesquisa, que ao investigar as possibilidades terapêuticas de uma destas substâncias, a Psilocibina, da margem a discussão sobre suas aplicações medicinais e propriedades curativas que podem vir a ser de grande préstimo a humanidade.
A pesquisa também contribuirá com o levantamento de material teórico, apresentando ao leitor o que houve de mais importante nos estudos desenvolvidos com a psilocibina na literatura e os modos de investigação e aplicação contemporâneos dessas substâncias, que disponibilizará a pesquisadores e ao mundo científico informações adicionais para o estudo do tema. A importância deste estudo reside no crescente interesse científico que se apresenta no país com a investigação das mais diversas substâncias psicodélicas nos mais diferentes âmbitos.
Estudo este que é de grande relevância social levando em consideração tão antiga e intrínseca relação entre as substâncias psicodélicas e a humanidade no decorrer de sua história, sustentando a necessidade de elucidar e trazer a tona uma maior compreensão sobre o fenômeno para que a falta de esclarecimento sobre o tema não resulte na falta de critério e discernimento em seu uso e acabe por transformar uma possível ferramenta de pesquisa e terapia em um problema social.
2. Os Cogumelos Psicodélicos e a Psilocibina
Figura 1. Cogumelo da espécie Psilocybe cubensis
2.1 Introdução
A prática humana de promover estados alterados, incomuns ou ampliados de consciência induzidos por substâncias psicoativas é bastante antiga, pré-data a história escrita e é atualmente empregada em várias culturas em diversos contextos socioculturais e ritualísticos (Schultes, Hofmann & Ratsch, 2001).
Diversas substâncias psicoativas conhecidas como alucinógenas verdadeiras, tais como psilocibina, ergotamina, DMT, mescalina, LSD, entre outras de mesma natureza química podem, de acordo com as diferentes descrições dos seus efeitos serem denominadas de substancias psicotomiméticas (substancias que mimetizam a psicose), de substâncias psicodélicas (substancias que manifestam a mente ou “aquele que manifesta o espírito”) ou enteógenos (substancias que induzem experiências de significado espiritual ou “aquele que desperta o divino interior”) (Schultes, Hofmann & Ratsch, 2001). Para os propósitos deste estudo utilizaremos o termo de substâncias psicodélicas, por ser a denominação mais utilizada nos artigos científicos de psicologia e que mais se enquadra nos objetivos desta investigação.
A psilocibina – alcalóide pertencente à família das triptaminas – é uma poderosa substância psicodélica encontrada naturalmente em uma diversidade de espécies de cogumelo dos gêneros Psilocybe, Stropharia, Conocybe e Panaeolus, das quais o Psilocybe cubensis e o Psilocybe mexicana são as mais conhecidas. Estas espécies são geralmente encontradas na América do Sul e na América Central, sendo endêmicos em países como o México e o Brasil, mas podem também ser verificados em outras regiões do globo, principalmente nas localizações equatoriais e tropicais (Schultes, Hofmann & Ratsch, 2001).
Alguns pesquisadores acreditam que a psilocibina abre uma porta para o subconsciente, permitindo que o mundo consciente seja encarado de uma perspectiva o de percepção sensorial ampliada: as cores se destacam, detalhes minúsculos dos objetos são revelados e estruturas coloridas cruzam o campo de visão. O efeito pode degenerar em desorientação, reações paranóicas, inabilidade para distinguir entre fantasia e realidade, pânico e depressão (Schultes, Hofmann & Ratsch, 2001).
2.2 Histórico
Os cogumelos psicodélicos tem sido parte integrante da história humana há muitos milênios e têm desempenhado papel importante em várias cerimônias religiosas. Os maias que habitavam a Guatemala há 3.500 anos utilizavam um fungo conhecido na língua nahuátl como Teonanácatl – a Carne de Deus. Esse Cogumelo provavelmente pertence ao Gênero Psilocybe, embora também possa ser relacionada a duas outras variedades: Conocybe ou Stropharia. O primeiro registro histórico do consumo do cogumelo Psilocybe data de 1502, durante a coroação do imperador Montezuma (Heim, 1972).
Com o início das grandes navegações e “descoberta” do novo continente surge o primeiro contato dos povos europeus com as culturas pré-colombianas que utilizavam o cogumelo em seus rituais. Despreparados e assustados pelos efeitos da droga, os conquistadores espanhóis tomaram a decisão de proibir a religião nativa e o uso dos fungos psicoativos, considerando estes cultos como “obra do diabo”. (Heim, 1972)
Não existe qualquer evidência do emprego cerimonial dos cogumelos ‘mágicos’ por culturas tradicionais na América do Sul, exceto achados arqueológicos no norte da Colômbia datando de 300-100 anos a.C., conquanto seu uso ritualístico ainda é observado em outras partes do continente americano, principalmente México e países vizinhos. Acredita-se que o ritual com cogumelos por povos indígenas no México exista há pelo menos 2.200 a 3000 anos, como demonstra a datação de achados arqueológicos de esculturas de pedra em forma de cogumelos (Schultes, Hofmann & Ratsch, 2001). Um estudo recente sugere que o uso de cogumelos ‘mágicos’, provavelmente Psilocybe cubensis, também tenha ocorrido na história do Egito antigo, utilizado ritualmente e descrito no Livro Egípcio dos Mortos (Berlant, 2005).
Não há dados na literatura acerca do uso de cogumelos no Brasil. A utilização contemporânea de cogumelos, na América do Sul e em diversas localidades do mundo, ocorre em sua maioria de maneira recreacional ou hedonística, devido à facilidade de comércio pela internet, inexistência de legislação reguladora (no caso do Brasil) e pela facilidade de serem encontrados em condições naturais (no estrume de bovinos).
O interesse dos cogumelos pela ciência aconteceu no início do século XX, quando o geógrafo alemão Carl Sapper descreveu em 1898 esculturas de pedra com formas de cogumelos (Figura 2), por ele interpretadas como representações fálicas, mais tarde evidenciadas por se tratarem dos cogumelos que há muito eram utilizados em rituais mágicos. O único conhecimento acerca do uso ritual de cogumelos consistia nas descrições de um guia de missionários de 1656 contra as idolatrias indígenas, incluindo a ingestão de cogumelos e recomendando sua extirpação (Schultes, Hofmann & Ratsch, 2001).
Figura 2. Deuses cogumelos de pedra. (A) Cogumelo de pedra Maya de El Salvador, período formativo em anos de 300 a.C. – 200 d.C. Altura de 33,5 cm. (Retirada de Schultes et al., 2001). (B) Cogumelos de pedra encontrados na Guatemala, datação em anos de 1000 a.C. – 500 d.C.
Figura 2. Deuses cogumelos de pedra. (A) Cogumelo de pedra Maya de El Salvador, período formativo em anos de 300 a.C. – 200 d.C. Altura de 33,5 cm. (Retirada de Schultes et al., 2001). (B) Cogumelos de pedra encontrados na Guatemala, datação em anos de 1000 a.C. – 500 d.C.
Outros documentos antigos que parecem citar o uso de cogumelos na antiguidade são o Rig Veda(Livro dos Hinos hindu) na Índia e o The Westcar Papyrus no Egito, também havendo possibilidade de os gregos terem utilizado (Berlant, 2005).
3. Estudos e pesquisas
3.1 Estudos e pesquisas de 1950 – 1960.
Os estudos científicos com os cogumelos Psilocybe têm origem na década de 50, através de expedições ao México com intuito de obter um maior conhecimento a cerca das culturas tradicionais da região, onde xamãs, através da ingestão de cogumelos psicodélicos em rituais sagrados extraordinários, induziam poderosas visões para curar e guiar o destino de seus povos.
Em 1953, o autor e pesquisador russo Gordon Wasson e sua esposa Valentina Pavlovna realizaram um estudo de expedição de campo para o México, para estudar o uso de cogumelos alucinógenos em rituais e cerimônias de cura. Esta expedição marca o inicio do estudo do cogumelo psicodélico pela ciência. Em 1955, eles se tornaram os primeiros estrangeiros a participar do ritual com cogumelos sagrados dos índios Mazatecas. Gordon Wasson fez muito para divulgar a sua descoberta, publicando o artigo sobre suas experiências em uma influente revista da época, a Life Magazine, em 1957 (Allen, 1987; Wasson, 1957).
O relato de Wasson sobre sua experiência com cogumelos provoca o interesse da comunidade cientifica sobre o fenômeno, descrevendo com fascinação seus efeitos:
“Tudo o que se vê naquela noite se banha na claridade da origem: a paisagem, as casas, os utensílios de uso diário, os animais, tudo é calmamente irradiado pela luz primordial; dir-se-ia que as coisas apenas acabam de serem produzidas pelo criador! Esta novidade total – a aurora da criação – o submerge e o envolve, o dissolve na sua beleza inexplicável (…) Seu espírito está livre, você vive uma eternidade numa noite, vê o infinito no grão de areia. O que você vê e escuta grava-se na sua memória, é gravado ali para sempre. Enfim, você conhece o inefável, sabe o que é o êxtase! (…) Uma simples planta abre as portas, libera o inefável, traz o êxtase. Não é a primeira vez na história da humanidade que as formas mais humildes de vida dão a luz ao divino. Por mais desconcertante que seja, a maravilha que anuncia merece ser ouvida pelos homens.” (Wasson, 1961, pag.8-12)
Auspiciado por Roger Heim, micologista e diretor do Museu Nacional de História Natural de Paris, Wasson desenvolve uma série de contribuições para os campos da botânica e antropologia realizando a identificação do cogumelo psicodélico através da colheita sistemática, cultura em laboratório e análise detalhada das diferentes espécies de cogumelos do gênero Psilocybe e seu uso ritualístico. Mais tarde Wasson e Heim se associam a Sandoz, uma empresa farmacêutica suíça, fornecendo amostras de cogumelos para uma pesquisa mais abrangente a cerca das propriedades químicas e farmacológicas (Forte, 1997; Heim, 1972).
Em 1958, cinco anos após a identificação por Wasson, o cientista suíço (e mais conhecido como o “pai” do LSD) Albert Hoffmann, investiga as propriedades químicas desse cogumelo e extrai a psilocibina e a psilocina, substância de propriedades psicotrópicas e alucinógenas que depois foram sintetizadas. A psilocibina é um psicodélico relativamente novo, em termos científicos, já que a sua entrada nos laboratórios foi posterior à descoberta de outras substâncias como a mescalina, 60 anos antes, e do LSD, anterior em uma década. Albert Hoffman foi o primeiro cientista a isolar o princípio ativo e a descrever sua estrutura molecular: o alcalóide de coloração azulada, na verdade eram dois deles e extremamente similares, foram batizados de Psilocibina e Psilocina, em alusão ao gênero Psilocybe: palavra de origem grega que significa cabeça (cybe) pelada (psilos). Os resultados, obtidos por Hoffman em colaboração com dois colegas (A. Brack e Dr. H. Kobel) e o professor Roger Heim, foram publicados, em março de 1958, em nota no jornal científico Experientia. Os mecanismos de ação, em fato, devem-se a um princípio único, visto que a psilocibina converte-se em psilocina dentro do próprio corpo através de um processo chamado desfoforilação, mas os dois compostos são naturalmente encontrados nos cogumelos, sendo o primeiro deles verificado em maior porcentagem (Hoffmann, Heim, Brack & Kobbel, 1958).
Posteriormente, em parceria com outros quatro colegas (A. J. Frey, H. Ott, T. Petrzilka e F. Troxler), Hoffman descobriu a síntese da psilocibina, cuja fórmula foi patenteada em 1963. Os resultados da pesquisa foram publicados em dezembro de 1958, também no jornal Experientia. A substância foi identificada como similar a outros químicos com o LSD, cujos intensos efeitos psíquicos denunciavam a urgência de novas frentes de pesquisa. A psilocibina entrou, decisivamente, para a família daqueles estranhos e misteriosos alcalóides que vinham desafiando a percepção sobre a natureza da mente humana. A partir da descoberta da sintetização, os laboratórios Sandoz, para o qual Hoffman trabalhava, passaram a disponibilizar a substância, assim como o LSD e outros psicodélicos, para as novas frentes de pesquisa que se disseminavam no início dos anos 60, principalmente norteados pelas vanguardas investigativas da Psiquiatria e Neurologia (Hoffmann, Frey, Ott, Petrzilka & Troxler, 1958).
Em 1959, a psilocibina já se tornava a protagonista de uma série de estudos científicos, principalmente relativos à prática psicoterápica auxiliada por psicodélicos. Uma pesquisa francesa intitulada Les Effets Psychiques de la Psilocybine et les Perspectives Thérapeutiques (Os Efeitos Psíquicos da Psilocibina e as Perspectivas Terapêuticas) liderada pelo médico Jean Delay, pioneiro da pesquisa sistemática da psilocibina nos domínios psiquiátricos, administrou a psilocibina em 13 pacientes saudáveis e em 30 pacientes diagnosticados com desordens mentais e concluiu que a substância, com efeito alucinógeno mais leve do que a mescalina e efeito despersonalizante menor do que o LSD, possuía um significativo potencial enquanto ferramenta terapêutica por sua capacidade de provocar melhor acessibilidade aos conteúdos do paciente, assim como desencadear efeito psicolítico, ou seja, liberar estes conteúdos na forma de revivências (geralmente da infância), estímulos da memória afetiva e eventos traumáticos (Delay, Pichot, Lempérière, Nicolas-Charles & Quétin, 1959). No mesmo ano, Delay, deu continuidade à investigação, publicando o artigo Premiers Essais de la Psilocybine en Psychiatrie (Primeiros Ensaios da Psilocibina na Psiquiatria) (Delay, Pichot & Nicolas-Charles, 1959).
Ainda em 1959, o psiquiatra alemão F. Gnirss desenvolveu uma pesquisa intitulada Untersuchungen mit Psilocybin, einem Phantastikum aus dem Mexikanischen Rauschpilz Psilocybe mexicana (Estudos com psilocibina, um psicodélico do cogumelo Psilocybe mexicana), através da qual administra o alcalóide em um grupo de 18 pacientes saudáveis, através deste estudo Gnirss identifica propriedades psicotrópicas na substância , que significa que a Psilocibina age no Sistema Nervoso Central (SNC) produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora sendo, portanto, passíveis de auto-administração. Conclui que a substância é de significativa importância teórica e possibilidade de utilização psicoterapêutica. (Gnirss, 1959).
Em 1960, outra pesquisa francesa, desenvolvida pelo psiquiatra A. M. Quétin, resultou em conclusões similares ao administrar o fármaco em um grupo de 32 pacientes saudáveis e 68 pacientes diagnosticados com quadros psicóticos com idades entre 16-66 (21 esquizofrênicos, 6 com delírios crônicos, 6 com psicoses maníaco-depressiva, 6 oligofrênicos, 29 com neuroses, incluindo 3 alcoólicos). Através da análise exaustiva Quétin afirmou que a droga é certamente de grande interesse para o diagnóstico e, provavelmente, também para a psicoterapia (Quétin, 1960).
Inspirado pelo artigo de Wasson na Life Magazine (Wasson, 1957), o psicólogo, neurocientista, escritor, Ph.D. e professor de Harvard, Timothy Leary, viajou para o México com o intuito de experimentar e pesquisar os cogumelos psicodélicos (Higgs, 2006). Em 1960, ao voltar para Harvard, os psicólogos Timothy Leary e Richard Alpert iniciaram o projeto intitulado de “Harvard Psilocybin Project”, do qual fizeram parte também o ensaísta filosófico e autor de Portas da Percepção Aldous Huxley, o Presidente da Associação Psiquiátrica Americana John Spiegel, o superior de Leary em Harvard David McClelland, o psicólogo e professor da Universidade da Califórnia Frank Barron e dois estudantes graduados que já haviam trabalhado em um projeto à cerca da mescalina. Durante o programa, que durou de 60 a 62, uma série de experimentos foi desenvolvida para investigar as implicações da psilocibina sobre a natureza dos distúrbios psicóticos, tratamento de desordens de personalidade e psicoterapia auxiliada pelo uso do químico. Este projeto fazia parte do programa de pesquisa psicodélica em Harvard (Harvard Psychedelic Drug Research Program) inaugurado em 1960 por 35 professores, instrutores e estudantes graduados que deram luz a várias pesquisas importantes com psicodélicos na época (Higgs, 2006; Leary, 1961).
Em 1961, foi conduzido um dos mais significativos estudos feitos pela Harvard Psilocybin Project intitulado de “Um novo programa de mudança de comportamento para infratores adultos usando psilocibina” (A New Behavior change program for adult offenders using psilocybin), mais conhecido como “A experiência da prisão de Concord”. O experimento foi realizado no período de 1961 a 1963 por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Harvard, sob a direção de Timothy Leary, dentro dos muros da Prisão Estadual de Concord, uma prisão de segurança máxima para jovens delinqüentes. O estudo envolveu a administração de psilocibina para auxiliar a psicoterapia de grupo para 32 presos, em um esforço para reduzir as taxas de reincidência criminal. Os registros da Prisão Estadual de Concord sugeriam que 64% dos 32 indivíduos voltariam para a prisão no prazo de seis meses após a liberdade condicional. No entanto, após seis meses, apenas 25% das pessoas em liberdade condicional retornaram a prisão, seis por causa de violação da condicional e dois para novos crimes. Estes resultados são ainda mais dramáticos quando a literatura correcional é pesquisada, poucos projetos de curto prazo com prisioneiros têm sido eficazes até mesmo em menor grau. Além disso, testes de personalidade indicaram uma mensurável mudança positiva no comportamento dos presos depois da experiência com a psilocibina, em comparação com os mesmo antes da experiência (Leary, Metzner, Presnell, Weil, Schwitzgebel & S. Kinne, 1965). Esta é apenas uma de várias pesquisas produzidas pelo Harvard Psilocybin Project nesta época.
O desenvolvimento do projeto, no entanto, foi significativamente prejudicado pela desenvoltura um tanto quanto anti-acadêmica de Timothy Leary, que extremamente fascinado pelas experiências de consciência desencadeadas por tais alcalóides, abandonou gradativamente a figura do pesquisador para investir-se da figura quase mística de um profeta do alucinógeno. Em 1963, Timothy Leary foi expulso de Harvard depois de ter promovido uma experiência psicotrópica com uma turma inteira de estudantes de psicologia (com o consentimento destes, naturalmente) sem monitoramento laboratorial ou intuito de pesquisa. Aos poucos foi se desfazendo da característica científica para tornar-se, anos mais tarde, uma espécie de guru da cultura psicodélica que vinha incitando os fluxos intensos da contracultura. (Higgs, 2006; Leary, 1963) A popularização de enteógenos promovida por Robert Wasson, Timothy Leary, Terence McKenna, entre outros autores e pesquisadores, levou a uma explosão no uso de cogumelos contendo Psilocibina por todo o mundo.
Até o momento drástico em que os psicodélicos escaparam dos laboratórios e tornaram-se os protagonistas de uma batalha política e, em função da política norte-americana da Guerra às Drogas, foram terminantemente proibidos, inclusive no universo científico. Até o final dos anos 60 e início dos 70, quando os Estados Unidos responderam violentamente aos questionamentos da Contracultura, movimento do qual fazia parte expressiva a utilização destas drogas, os principais estudos concentravam-se em traçar paralelos entre as três principais substâncias do grupo – LSD, mescalina e psilocibina – e em examinar a potencialidade psicoterapêutica e possível relação entre os estados alterados de consciência provocados pela adição destes alcalóides e os distúrbios mentais. Com a medida que pôs fim às pesquisas, e através da qual o governo norte-americano arbitrariamente revogou toda e qualquer qualidade científica dos psicodélicos, a psilocibina foi, assim como os demais, silenciada, apenas voltando aos laboratórios após quase trinta anos de moratória (Schultes, Hofmann & Ratsch, 2001).
3.2 Estudos e pesquisas de 1990 – 2010.
De 1953 ao final dos anos 60 as substâncias psicodélicas, como a psilocibina, foram o centro de diversas pesquisas, já citadas anteriormente, até caírem no silêncio sufocante imposto pela política norte-americana da Guerra às Drogas. Aproximadamente três décadas após o período marcado pela moratória científica arbitrariamente fixada, os psicodélicos iniciaram um expressivo movimento de retorno aos domínios científicos (Schultes, Hofmann & Ratsch, 2001). Somente na década de 90 se reiniciaram seriamente as pesquisas com psicodélicos em humanos, principalmente devido aos esforços do Dr. Rick Strassman, da Universidade do Novo México, nos EUA, e do Dr. Franz Vollenweider, da Universidade Psiquiátrica Hospital Zürich, na Suíça (Schultes, Hofmann & Ratsch, 2001). A partir deste momento e até os dias de hoje, a psilocibina tornou-se novamente o centro de diversos estudos.
Em 2004, o psiquiatra norte-americano Charles Grob, da Universidade da Califórnia, desenvolveu a pesquisa intitulada “Pilot Study of Psilocybin Treatment for Anxiety in Patients With Advanced-Stage Cancer” (Estudo Piloto de Tratamento de psilocibina para ansiedade em pacientes com câncer em estágio avançado) que investigou a substância enquanto fator terapêutico em pacientes com câncer em estado terminal explorando a sua segurança e eficácia. O estudo incluiu a administração de uma pequena dose (0,2 mg/kg) de psilocibina em 12 pacientes adultos – dos quais 11 eram mulheres – com câncer em estágio avançado e ansiedade, que ficaram deitados, com os olhos vendados, e ouvindo música a seu gosto durante seis horas sob supervisão de terapeutas treinados. A freqüência cardíaca, a pressão arterial e a temperatura dos voluntários foram monitoradas ao longo de cada tratamento. Os investigadores também verificaram os níveis de depressão, ansiedade e humor em cada um deles. Duas semanas após a experiência com a psilocibina, os voluntários reportaram que se sentiam menos deprimidos e ansiosos. Seis meses depois, o nível de depressão tinha diminuído 30%, conforme os resultados publicados na Archives of General Psychiatry. Alguns voluntários relataram estados de consciência ligeiramente alterados após receber a psilocibina, mas os pesquisadores não notaram efeitos adversos fisiológicos, ainda não foram identificados possíveis efeitos maléficos na utilização de psilocibina. Ainda assim, outros testes são necessários para examinar a segurança e a eficácia do cogumelo. O estudo, que procurava a redução do estresse e dor, obteve resultados animadores no aumento da qualidade de vida dos pacientes e os dados revelaram um aspecto promissor na utilização terapêutica da substância (Grob, Danforth, Chopra, Hagerty, McKay, Halberstadt & Greer, 2010).
Em 2006, o psiquiatra Francisco Moreno, da Universidade do Arizona, iniciou uma pesquisa sobre o uso terapêutico da substância em pacientes diagnosticados com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) que resistiram a outros tipos de tratamento, assim como para fins de teste de segurança do alcalóide no organismo. Em uma clínica com ambiente controlado, a psilocibina foi usada com segurança em pacientes com TOC e foi associado a reduções agudas no TOC sintomas básicos em vários indivíduos. As conclusões reportaram que todos os pacientes, da amostra de nove, experienciaram melhorias nos quadros obsessivos compulsivos durante o período da experiência. Apesar de ser uma pequena pesquisa, com uma amostra e um alcance não tão significativos, Moreno reportou seu ânimo diante da potencialidade da substância: “O que vimos foi uma drástica diminuição dos sintomas durante um período de tempo. As pessoas diziam que não se sentiam tão bem há anos” (Moreno, Wiegand, Taitano & Delgado, 2006).
Em outro estudo, em 2006, o neurocientista Roland Griffiths, da Universidade Johns Hopkins, administrou psilocibina em 36 voluntários saudáveis, que participavam regularmente de atividades religiosas ou espirituais, com o objetivo de investigar os mecanismos da experiência mística/espiritual induzida pela psilocibina. Foram realizadas três sessões em intervalos de dois meses onde a psilocibina foi administrada via oral aos voluntários em doses altas (30 mg/70 kg). Nas sessões de 8 horas, realizadas individualmente, os voluntários eram encorajados a fechar os olhos e dirigir a sua atenção para seu interior. O comportamento dos voluntários foi monitorado e avaliado durante as sessões e questionários foram preenchidos imediatamente após e dois meses após as sessões, avaliando os efeitos da substancia e as características da experiência. Cerca de dois terços dos voluntários relatou haver vivenciado uma completa experiência mística, caracterizada por uma sensação de unidade com todo o universo. Entre os resultados foram relatados uma série de grandes alterações na percepção, experiência subjetiva e humor lábil – incluindo ansiedade – dos participantes. Em dois meses, os voluntários classificaram a experiência como possuidora de substancial sentido pessoal e significado espiritual, além de atribuírem a psilocibina as mudanças positivas em suas atitudes e comportamentos, coerentes com observações e avaliações cientificas (Griffiths, Richards, McCann & Jesse, 2006). Griffiths continuou monitorando os voluntários de sua pesquisa por quatorze meses após este estudo, através de entrevistas periódicas com intuito de avaliar os efeitos agudos e persistentes da administração das doses de psilocibina. Dentre os resultados obtidos pode se observar que os voluntários ainda atribuíam à experiência a causa de seus altos níveis de satisfação com a vida e a associaram ao crescente bem-estar que sentiam desde então. Foi relatado pela maioria dos participantes que seu humor, suas atitudes e comportamentos mudaram para melhor. Entrevistas estruturadas com familiares, amigos e colegas de trabalho em geral, confirmaram as observações dos sujeitos. Testes psicológicos e relatórios dos próprios sujeitos não mostraram nenhum dano aos participantes do estudo, embora alguns admitiram ansiedade extrema ou outros efeitos desagradáveis nas primeiras horas após a administração da psilocibina. Além disto, não foram observadas dependência física ou intoxicações proporcionadas pela substância. Griffiths conclui que sob condições bem definidas, com uma preparação cuidadosa, se pode gerar de forma segura e bastante confiável uma experiência mística que pode trazer mudanças positivas a uma pessoa. Afirma também que seu estudo é um passo inicial de uma série de trabalhos científicos com a psilocibina que acabará por ajudar pessoas (Griffiths, Richards, Johnson, McCann & Jesse, 2008).
Ainda em 2006, o psiquiatra John Halpern, da Universidade de Harvard, liderou um estudo com intuito de investigar os efeitos terapêuticos da psilocibina em pacientes diagnosticados com uma enxaqueca intensa conhecida como cefaléia em salvas. Considerada como a mais forte dor de cabeça que se conhece, a cefaléia em salvas é extremamente dolorosa e de ocorrência rara. É caracterizada por uma dor unilateral que atinge a zona ocular ou temporal, sua duração varia de 15 minutos a 3 horas podendo apresentar de uma até oito crises por dia, a dor é tão insuportável que muitos pensam em suicídio e alguns de fato o cometem. Com o objetivo de trazer alívio para suas excruciantes dores de cabeça, Bob Wold, depois de ter tomado sem eficácia mais de 75 medicamentos prescritos, em mais de 100 combinações diferentes e tendo como ultimo recurso quatro opções cirúrgicas, algumas de alto risco, e todas sem promessa de resultado definitivo, Wold conheceu dois médicos que sabiam que Albert Hofmann, quando sintetizou o LSD, procurava tratamentos para hemorragias durante o parto e para dores de cabeça. Devido à ilegalidade do LSD em todo o mundo e sua difícil síntese, os médicos e Wold decidiram tentar um tratamento com psilocibina. O resultado foi tão expressivo e marcante que Bob se viu, pela primeira vez em duas décadas, livre de suas dores. Bob Wold fundou uma organização, a Clusterbusters, para ajudar pacientes com a mesma condição e estudar os efeitos da psilocibina como tratamento, através da qual mantêm contato com cerca de 200 vitimas, de onde Wold pode levantar uma série imensa de informações – adquiridas em forma de questionários – que foram apresentadas à Harvard. A organização chamou atenção da universidade, que iniciou um estudo, onde seus autores entrevistaram 53 vítimas de cefaléia em salvas que experimentaram psilocibina ou LSD para tratar de sua condição. Vinte e dois dos 26 pacientes em que a psilocibina foi administrada reportaram diminuição dos ataques e alguns até mesmo a remissão por períodos extensos. A associação cresceu e hoje conta com apoio de pesquisadores em instituições formais de pesquisa, ajudando dezenas de pacientes na mesma condição (Sewell, Halpern & Pope, 2006).
As pesquisas atuais têm apontado, com dados promissores, que psicodélicos possuem uma potencialidade ainda pouco conhecida pelos cientistas e que jamais deveriam ter sido condenados a repressão durante longas décadas. Os novos estudos têm inspirado um honesto retorno de alcalóides como a psilocibina aos domínios da ciência e desmentindo a deturpada imagem pintada pelas políticas antidrogas norte-americanas nos anos 60.
4. Metodologia
O estudo foi realizado através de revisões bibliográficas de artigos científicos que tratam sobre o tema. As revisões estão divididas em duas partes: de 1950-1960 e de 1990-2010.
Coletamos os resultados de 8 pesquisas, 4 de cada época, de diversos pesquisadores que administraram psilocibina em humanos. Os resultados foram analisados e separados por tópicos de acordo com a natureza dos efeitos produzidos pela psilocibina (como humor, cognição e comportamento), buscando nestes efeitos as possibilidades do uso da substância em tratamentos, investigando sua eficácia, segurança e contra-indicações.
5. Resultados
1950-1960 1959 – Os Efeitos Psíquicos da Psilocibina e as Perspectivas Terapêuticas.
Autoria: Delay
Objetivo: Pesquisar sistemáticamente os efeitos psíquicos da psilocibina e suas perspectivas terapêuticas.
Metodologia: Administração de psilocibina em 13 indivíduos normais e 30 portadores de transtornos mentais.
Resultados:
Humor: Alteração no humor, com predominio de euforia e váriações para sentimentos de desconforto, apreensão ou ansiedade acentuada.
Cognição: Disturbios de atenção, ideação, alteração na noção subjetiva de tempo, afastamento da realidade ou isolamento do individuo, pensamentos delirantes.
Comportamento: Excitação, com movimentos compulsivos e gargalhadas sem motivos aparentes, alternando para desânimo e indiferença.
Percepção: Alteração na intensidade das impressões sensoriais (predominantemente visuais, mas também acústicas e gustativas), ilusão, alucinação, distorção da imagem corporal, disturbios de propriocepção, despersonalização e interpretação antagonista do ambiente.
Memória: Estimulação da memoria da infância, incluindo experiencias traumáticas, acesso ao material esquecido e liberação de inibições (ab-reação emocional).
Conclusão: Para os autores o acesso ao material esquecido e a liberação de inibições (ab-reação emocional) poderia ter grande valor terapêutico e interesse para a psicologia e psiquiatria.
Referência: Delay, Pichot, Lempérière, Nicolas-Charles & Quétin, 1959
1959 – Estudos com psilocibina, um psicodélico do cogumelo Psilocybe mexicana.
Autoria: Gnirss
Objetivo: Verificar os efeitos da substância em populações humanas.
Metodologia: Administração de psilocibina em 18 pacientes saudáveis.
Resultados:
Humor: Alteração no humor, com predomínio de euforia.
Comportamento: Possui ação direta no Sistema Nervoso Central, produzindo alterações de comportamento, com efeitos iniciais de atividades reduzidas e variando para uma segunda fase com o aumento da atividade e excitação.
Percepção: Alterações da imagem corporal, sentimentos de despersonalização e distúrbios de percepção sensorial.
Efeitos somáticos: Foram relatadas alterações no funcionamento do sistema nervoso autônomo como bradicardia, aumento da pressão arterial, diminuição da freqüência respiratória e aumento do volume respiratório, dor de cabeça, vertigem e dessincronização do EEG.
Conclusão: O autor afirma que a psilocibina possui ação direta no Sistema Nervoso Central, produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora sendo, passíveis de auto-administração.
Referência: Gnirss,1959
1960 – A Psilocibina na psiquiatria e clínica experimental.
Autoria: Quétin
Objetivo:
Metodologia: Administração de psilocibina em 32 pessoas saudáveis, com idade entre 25-35 anos e 68 pacientes diagnosticados com quadros psicóticos.
Resultados:
Humor: Não houve mudança
Memória: Liberação de memórias reprimidas.
Efeitos somáticos: Produz bradicardia, hipoglicemia e uma pequena alteração na esfera psíquica.
Conclusão: O efeito da psilocibina é comparável à do LSD e mescalina, mas difere em manifestações somáticas e não há nenhuma mudança na contagem de leucócitos. O modo de ação é complexo e ainda não esclarecido. A droga é certamente de grande interesse para o diagnóstico e, provavelmente, também para a psicoterapia. A reação dos indivíduos saudáveis podem às vezes ser previsíveis se o tipo de personalidade é conhecido: estudos psicométricos devem ser feitos.
Referência: Quétin,1960
1965 – Um novo programa de mudança de comportamento para infratores adultos usando psilocibina.
Autoria: Leary
Objetivo: Reduzir as taxas de reincidência criminal.
Metodologia: Administração de psilocibina em 32 presos, para auxiliar a psicoterapia de grupo.
Resultados:
Comportamento: Houve uma mudança positiva no comportamento dos presos depois da experiência com a psilocibina, em comparação com os mesmos antes da experiência.
Conclusão: O estudo concluiu que o novo programa de psicoterapia de grupo, auxiliada pela administração de psilocibina, e programas de pós-libertação carcerária, reduziria significativamente os índices de reincidência criminal. Os registros da Prisão Estadual de Concord sugeriam que 64% dos 32 indivíduos voltariam para a prisão no prazo de seis meses após a liberdade condicional. No entanto, após seis meses, apenas 25% das pessoas em liberdade condicional retornaram a prisão, seis por causa de violação da condicional e dois por novos crimes.
Referência: Leary, Metzner, Presnell, Weil, Schwitzgebel & S. Kinne, 1965
1990-2010 2006 – Segurança, tolerância e eficácia da psilocibina em 9 pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
Autoria: Moreno
Objetivo: Uso terapêutico da psilocibina em pacientes diagnosticados com TOC, que resistiram a outros tipos de tratamentos.
Metodologia: Administração de psilocibina em 9 pacientes portadores de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Resultados:
Comportamento: Foi observada uma diminuição acentuada dos sintomas de TOC em todos os pacientes. A diminuição dos sintomas em pacientes que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo durou após as primeiras 24 horas após a ingestão da psilocibina.
Efeitos somáticos: Um indivíduo apresentou hipertensão transitória.
Conclusão: As conclusões reportaram que a psilocibina foi usada com segurança em todos os pacientes, da amostra de nove, que experienciaram reduções agudas nos sintomas básicos do TOC e melhorias nos quadros obsessivos compulsivos durante o período da experiência.
Referência: Moreno, Wiegand, Taitano & Delgado, 2006
2006 – Reação da cefaléia em salvas à psilocibina e ao LSD.
Autoria: Halpern
Objetivo: Investigar os efeitos terapêuticos da psilocibina e do LSD em pacientes diagnosticados com uma enxaqueca intensa, conhecida como cefaléia em salvas.
Metodologia: Administração de psilocibina em 53 pacientes com cefaléia em salvas.
Conclusão: Foi confirmada a eficácia completa (definida como a causa da parada total dos ataques) ou a eficácia parcial (definida como diminuição da intensidade ou freqüência dos ataques, mas não a extinção dos mesmos) da psilocibina neste tratamento em 42% dos 53 indivíduos.
Referência: Sewell, Halpern & Pope, 2006
2006 – A psilocibina pode ocasionar experiências místicas possuindo substancial sentido pessoal e significado espiritual.
Autoria: Griffiths
Objetivo: Investigar os mecanismos da experiência mística/espiritual induzida pela psilocibina e avaliar os efeitos psicológicos, agudos e de longo prazo, proporcionados por uma dose alta de psilocibina.
Metodologia: Administração de psilocibina em 36 voluntarios adultos saudaveis, que participavam regularmente de atividades religiosas ou espirituais.
Resultados:
Humor: Humor lábil, com sentimentos de transcendência, tristeza, alegria, e/ou ansiedade. Redução de ansiedade de longo prazo após experiencia.
Cognição: Senso de significado e/ou idéias de referência. Sensação de bem estar ou satisfação com a vida.
Comportamento: Resultados mais elevados de estimulação/excitação e de atividade motora espontânea, sonolência muito baixa, agitação e maior contato físico com os monitores. Mudanças positivas duradouras nas atitudes e comportamentos dos sujeitos.
Percepção: Alteração perceptivas como pseudo-alucinações visual, ilusões, e sinestesias.
Conclusão: O estudo, constata que as modificações sofridas no humor, afeto e cognição dos sujeitos, após a expreriência com a psilocibina, são típicas desta substância e produzem uma série de grandes alterações na percepção, experiência subjetiva e humor lábil, incluindo ansiedade, dos participantes. Maiores elevações, a longo prazo, nos índices de atitudes positivas, bom humor, sociabilidade e comportamentos assertivos. Experiência classificada pelos sujeitos como estando dentre as cinco experiências mais significativas de sua vida, considerando-a como possuidora de substancial sentido pessoal e significado espiritual.
Referência: Griffiths, Richards, McCann & Jesse, 2006
2010 – Estudo Piloto de Tratamento de psilocibina para ansiedade em pacientes com câncer em estágio avançado.
Autoria: Grob
Objetivo: Investigar a segurança e eficácia terapêutica da psilocibina para pacientes com câncer terminal
Metodologia: Administração de psilocibina em 12 indivíduos adultos com câncer em estágio avançado e ansiedade.
Resultados:
Humor: Melhora de humor que atingiu significância de seis meses, com redução da ansiedade no tempo de até três meses após o tratamento.
Conclusão: O estudo, que procurava a redução do estresse e dor, obteve resultados animadores no aumento da qualidade de vida e melhora do humor e ansiedade dos pacientes e os dados revelaram um aspecto promissor na utilização terapêutica da substância, estabelecendo a viabilidade e segurança da administração de doses moderadas de psilocibina para pacientes.
Referência: Grob, Danforth, Chopra, Hagerty, McKay, Halberstadt & Greer, 2010.
6. Discussão e análise dos dados
A partir da análise dos resultados obtidos nestas 8 pesquisas realizadas através da administração de psilocibina, entre outros conhecimentos sobre o tema, podemos observar alguns aspectos que devem ser levados em consideração:
Em relação aos efeitos somáticos produzidos pela psilocibina, que são divulgados mais amplamente em 3 pesquisas, que consiste nas alterações no funcionamento do sistema nervoso autônomo como bradicardia, aumento da pressão arterial, diminuição da freqüência respiratória e aumento do volume respiratório, dor de cabeça, vertigem e hipoglicemia podem representar riscos para algumas pessoas, necessitando de acompanhamento médico. Outros efeitos somáticos observados como midríase, hipotensão, congestão facial, suor, astenia e sono são aparentemente os mesmos, tanto em pessoas com transtornos mentais quanto em pessoas normais. Andar ébrio e tremores acontecem paralelamente.
Em relação aos efeitos psíquicos, são caracterizados em primeiro lugar por perturbações do humor, como euforia e sensação de bem-estar, é interessante notar uma inversão do humor nos melancólicos. A agitação é freqüente, variando muitas vezes de um estado eufórico para sentimentos de desconforto, mal-estar geral, fadiga com apreensão, perplexidade e até mesmo ansiedade, nos mostrando o quão sensível para emoções a psilocibina deixa o paciente.
O comportamento é alterado, geralmente há uma grande excitação com o uso da substância, podendo ocorrer, por exemplo, movimentos compulsivos que se alternam para desânimo e indiferença. Porém a longo prazo pode ser constatado uma melhora significativa nos comportamentos e atitudes do sujeito.
A cognição é afetada por distúrbios de atenção, alteração na noção subjetiva de tempo, afastamento da realidade, isolamento do indivíduo e ocorre pensamento delirantes. Os fenômenos intelectuais apresentam déficit, como perturbações de concentração, às vezes são de um tipo onírico que pode ser ansioso, e até erótico.
A percepção é alterada, ocorrendo alteração na intensidade das impressões sensoriais, distorção da imagem corporal e podendo ocorrer ilusões e sinestesias. Os contatos com o mundo exterior traduzem modificações que levam, por exemplo, os melancólicos a sorrir, os catatônicos a procurar contato. Às vezes desaparece a timidez e um fenômeno nomeado por um dos autores como reticências, que diz da “omissão voluntária do que se poderia dizer”. Sentimentos de despersonalização não são raros.
A memória é afetada através da estimulação da memória da infância, da liberação de inibições (ab-reação emocional) e liberação de memórias reprimidas. As manifestações mais interessantes aplicam-se as evocações, permitindo aos pacientes reviver suas crises de angústia ou cenas que podem tê-los marcado. A supressão das inibições permanece também como um dos resultados mais dignos de atenção.
Podemos considerar, de um modo geral, que existe grande semelhança entre os efeitos da psilocibina nos sujeitos normais e nos doentes mentais.
A liberação de memórias reprimidas ocorre igualmente a ambos, entretanto, nas pessoas normais são recordações de infância geralmente não penosas, enquanto que nos doentes mentais são, mais freqüentemente, cenas traumatizantes.
Convém separar os efeitos da psilocibina conforme a condição psíquica do sujeito, se ele é psicótico ou neurótico. Nos esquizofrênicos crônicos, nos dementes, toda possibilidade de resposta afetiva parece abolida, os risos discordantes sem nenhum motivo ou razão são freqüentes. Nos paranóicos de evolução recente as reações são violentas, as vezes provocadas por poderosas recordações nas quais as testemunhas presentes podem ser identificadas a personagens ligadas a cenas do passado do doente, que as reencontra, sob o efeito da substância. Assim sendo, a agressividade deste em relação a certas pessoas de seu ambiente renascerá, devido a esta lembrança provocada, necessitando de maio cuidado neste ponto.
Nos casos de neurose, determina-se o interesse da aplicação da psilocibina. Nos psicopatas, a atitude se revelará teatral ou pueril. As lembranças afluem, o sujeito registra-as com todo o cortejo afetivo: reivindicações, frustrações, invejas, culpabilidade (Quétin, 1960). Assim sendo, a supressão das inibições e dos recalques acelera-se, fixa-se. Em alguns casos, essas modificações chegam a uma verdadeira tomada de consciência intelectual do paciente sobre seu estado, o que pode levar a uma espécie de euforia, a qual aguçaria, por exemplo, seu “apetite” renovador, levando o sujeito a novas atitudes.
Nos histéricos, enfim, numa primeira fase ansiosa acentuada pela desconfiança, sucederá um desaparecimento progressivo da hostilidade em relação às testemunhas. Pouco a pouco, as lembranças longínquas se reconstituem, acumulam, as circunstâncias do passado tornam a juntar-se. Também nos portadores de transtorno obsessivo-compulsivo o sentimento de culpa pode exteriorizar-se, fazendo nascer os elementos que permitirão que talvez se desenhem — definidas pelo próprio doente — as etapas sucessivas de sua despersonalização, trazendo uma grande melhora para sua vida e redução, com raros casos de extinção, dos sintomas.
Este efeito sobre a memória humana, provocando o acesso a memórias reprimidas, é de grande interesse para a psicologia, se mostrando um método eficaz no tratamento de algumas desordens mentais e outros transtornos, provocando uma significativa melhora na vida dos pacientes e se mostrando segura para sua aplicação, se mediante a um acompanhamento profissional e um direcionamento terapêutico.
7. Considerações finais
Os efeitos únicos produzidos pela psilocibina fornecem panoramas para o estudo da mente em geral e da consciência humana em particular. Permitem a exploração de diversos parâmetros e mecanismos atrelados ao processo consciente, como a percepção sensorial e a autoconsciência.
Nas mãos do terapeuta, a psilocibina não apenas pode agir francamente sobre o ressurgimento de lembranças reprimidas como também despertar um desejo de aproximação entre o paciente e o terapeuta, formando um vínculo onde seja possível uma colaboração maior de ambas as partes para a revelação da origem das perturbações mentais.
Mostrando-se então uma eficaz ferramenta terapêutica, e comprovando minhas hipóteses de que a proibição desta substância advém antes de uma arbitrariedade preconceituosa de pretextos hediondos do que de um real risco a vida ou bem-estar do ser humano. Porém, para uma aplicação segura e com resultados benéficos da psilocibina, como uma ferramenta auxiliar em processos terapêuticos, mais estudos são necessários.
Referências
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Segue abaixo a reprodução da notícia publicada dia 14/07 na Folha.com
Um grupo de neurocientistas que estão entre os mais renomados do país escreveu uma carta pública para defender a liberalização da maconha não só para uso medicinal, mas para “consumo próprio”, informa Eduardo Geraque em reportagem publicada na edição desta quarta-feira da Folha (íntegra disponível para assinante do UOL e do jornal).
A motivação do documento foi a prisão do músico Pedro Caetano, baixista da banda de reggae Ponto de Equilíbrio, que ganhou repercussão na internet. Ele está preso desde o dia 1º sob acusação de tráfico por cultivar dez pés de maconha e oito mudas da planta em casa, em Niterói (RJ). Segundo o advogado do músico, ele planta a erva para consumo próprio.
Os cientistas falam em nome da SBNeC (Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento), que representa 1.500 pesquisadores. De acordo com os membros da sociedade, existe conhecimento científico suficiente para, pelo menos, a liberalização do uso medicinal da maconha no Brasil.
Veja a íntegra da carta:
“A planta Cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha, é utilizada de forma recreativa, religiosa e medicinal há séculos mas só há poucos anos a ciência começou a explicar seus mecanismos de ação.
Na década de 1990, pesquisadores identificaram receptores capazes de responder ao tetrahidrocanabinol (THC), princípio ativo da maconha, na superfície das células do cérebro. Essa descoberta revelou que substâncias muito semelhantes existem naturalmente em nosso organismo, permitiu avaliar em detalhes seus efeitos terapêuticos e abriu perspectivas para o tratamento da obesidade, esclerose múltipla, doença de Parkinson, ansiedade, depressão, dor crônica, alcoolismo, epilepsia, dependência de nicotina etc. A importância dos canabinóides para a sobrevivência de células-tronco foi descrita recentemente pela equipe de um dos signatários, sugerindo sua utilização também em terapia celular.
Em virtude dos avanços da ciência que descrevem os efeitos da maconha no corpo humano e o entendimento de que a política proibicionista é mais deletéria que o consumo da substância, vários países alteraram, ou estão revendo, suas legislações no sentido de liberar o uso medicinal e recreativo da maconha. Em época de desfecho da Copa do Mundo, é oportuno mencionar que os dois países finalistas, Espanha e Holanda, permitem em seus territórios o consumo e cultivo da maconha para uso próprio.
Ainda que sem realizar uma descriminalização franca do uso e do cultivo, como nestes países, o Brasil, através do artigo 28 da lei 11.343 de 2006, veta a prisão pelo cultivo de maconha para consumo pessoal, e impõe apenas sanções de caráter socializante e educativo.
Infelizmente interpretações variadas sobre esta lei ainda existem. Um exemplo disto está no equívoco da prisão do músico Pedro Caetano, integrante da banda carioca Ponto de Equilíbrio. Pedro está há uma semana numa cela comum acusado de tráfico de drogas. O enquadramento incorreto como traficante impede a obtenção de um habeas corpus para que o músico possa responder ao processo em liberdade. A discussão ampla do tema é necessária e urgente para evitar a prisão daqueles usuários que, ao cultivarem a maconha para uso próprio, optam por não mais alimentar o poderio dos traficantes de drogas.
A Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC) irá contribuir na discussão deste tema ainda desconhecido da população brasileira. Em seu congresso, em setembro próximo, um painel de discussões a respeito da influência da maconha sobre a aprendizagem e memória e também sobre as políticas públicas para os usuários será realizado sob o ponto de vista da neurociência. É preciso rapidamente encontrar um novo ponto de equilíbrio.”
Cecília Hedin-Pereira (UFRJ, diretora da SBNeC)
João Menezes (UFRJ)
Stevens Rehen (UFRJ, diretor da SBNeC)
Sidarta Ribeiro (UFRN, diretor da SBNeC)
A seguir a matéria completa, extraída do site do G1, que conta com a entrevista do médico Elisaldo Carlini (UNIFESP)
Ainda que um passo tímido e com alguns conservadorismos impregnados, já é um bom exemplo da mudança de paradigmas que podemos enxergar no nosso horizonte.
Médicos querem criar agência para regular uso medicinal da maconha
Brasil proíbe que ‘Cannabis’ possa ser transformada em remédio.
Confira entrevista com especialista que defende uso terapêutico da droga.
Iberê Thenório Do G1, em São Paulo
Começa nesta segunda-feira (17), em São Paulo, um encontro científico internacional para discutir a criação de uma agência reguladora para o uso medicinal da maconha no Brasil. Hoje, o país não permite que os princípios ativos da planta possam se transformar em remédios.
A fundação de um órgão desse tipo é uma exigência da Organização das Nações Unidas. Em países como os EUA, Canadá, Reino Unido e Holanda, a Cannabis já é usada como analgésico, estimulador do apetite ou para o controle de vômitos.
Elisaldo Carlini, da Unifesp, é organizador do encontro sobre cannabis na medicina. (Foto: Iberê Thenório/G1)
Aqui, o grande defensor de terapias com a maconha é o médico Elisaldo Carlini, que organizou o evento. Segundo ele, as substâncias presentes na planta são muito úteis para serem deixadas de lado. “Há centenas de trabalhos científicos mostrando os efeitos terapêuticos da maconha”, afirma.
A maconha já foi considerada quase uma divindade na neurologia para tratamento das dores de origem nervosa.”
De acordo com o médico, não é de hoje que se conhece o efeito benéfico da droga. A prova de sua afirmação está em um livro de medicina de 1888, comprado por seu avô, onde a Cannabis constava como remédio.
Carlini, porém, não é favorável à liberalização da maconha para uso recreativo, e nem se encaixa no estereótipo “bicho-grilo”, muitas vezes associado aos usuários da droga.
Professor de medicina na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ele tem 79 anos e já foi chefe da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, a atual Anvisa. Hoje, dirige o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) e é membro do comitê de peritos da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre álcool e drogas.
Confira, abaixo, trechos da conversa que o G1 teve com o médico da Unifesp.
G1 – As substâncias químicas da maconha são tão importantes para a medicina a ponto de haver esse esforço para a criação de uma agência reguladora?
Elisaldo Carlini – Essas substâncias estão reconquistando uma posição que elas tinham no início do século XIX e no início do século XX, quando a maconha era considerada quase uma divindade na neurologia para tratamento das dores de origem nervosa.
Livro de medicina de 1888 já falava sobre o uso da maconha como remédio. (Foto: Iberê Thenório/G1)
O próprio Dr. John Russell Reynolds, que era médico da Rainha Vitória na Inglaterra no fim do século XIX, dizia que a maconha, quando administrada na dose adequada – e o produto controlado nas suas qualidades -, era um dos medicamentos mais preciosos.
Depois se perdeu totalmente essa visão, e a maconha foi considerada uma droga maldita, uma droga que a ONU coloca como especialmente perigosa, ao lado da heroína, o que é uma coisa totalmente irreal.
G1 – Não se corre o risco de esses remédios serem usados para “fins recreativos”?
Elisaldo Carlini – Se não houver os devidos cuidados, pode acontecer. É como a morfina, que está disponível, todos os pacientes têm o direito de ter, mas que não deve ficar “à solta”, não se pode ter na prateleira de uma farmácia sem maiores cuidados. Terá que haver uma legislação que garanta o controle adequado, como existe na morfina.
Em alguns países onde o delta-9-THC [uma das substâncias da maconha] está sendo comercializado, não há exemplo de desvio. Nesses casos, o fato de a maconha ter se transformado em medicamento tirou um pouco o encanto, o desafio às regras que é muito comum o jovem querer praticar.
G1 – Os pacientes podem ficar dependentes desses remédios?
Elisaldo Carlini – A OMS fez um estudo mundial para investigar casos de dependência causados pelo delta-9-THC e não conseguiu encontrar.
G1 – Como é possível pesquisar maconha no Brasil, já que a venda da droga é proibida?
Elisaldo Carlini – É complicado. Você tem de fazer um projeto que seja aprovado pela sua universidade, onde o comitê de ética opina. Aí é necessário conseguir uma aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e também da Anvisa, que tem de aprovar o projeto para liberar a droga. Então a droga tem de ser importada dos Estados Unidos, da Alemanha, onde há cultivo legal. E o governo dos países que vão exportar para o Brasil têm de aprovar, também.
G1 – Você é a favor da liberalização da maconha?
Elisaldo Carlini – Sou a favor da “despenalização”. Eu acho que o enfrentamento do uso de qualquer droga não passa por repressão e prisão. Passa por uma educação em que o indivíduo tem de saber o que ele está fazendo. Já esse “liberou total” que estão querendo não traz benefício nenhum. Eu, particularmente, não sou a favor. Mas eu não sou contra a discussão desse assunto.
“A coisa mais bonita que podemos experimentar é o mistério.
Ele é a fonte de toda arte e ciência verdadeiras. Aquele para quem essa emoção é estranha, incapaz de soltar a imaginação e quedar-se extasiado, é como se fosse um morto: seus olhos estão fechados. (…) Saber que aquilo que nos é impenetrável realmente existe, manifestando-se como a maior sabedoria e a beleza mais radiante que nossa pobre capacidade só pode apreender em suas formas mais primitivas – esse conhecimento, essa sensação, está no centro da verdadeira religiosidade.
Nesse sentido, e apenas nesse, pertenço às fileiras dos devotos.”
Texto retirado da Dissertação de Mestrado de Leonardo Celuque, 2004.
“A Série de Fibonacci: um estudo das relações entre as ciências da complexidade e as artes”
Nos últimos anos o fenômeno social e religioso do Ayahuasca, devido a sua enorme complexidade, vem atraindo vários pesquisadores de diferentes especialidades: antropólogos, juristas, psicólogos, biólogos, farmacêuticos, entre outros. Poucas pesquisas, no entanto, alcançam uma visão interdisciplinar de conjunto, se prendendo as particularidades de seu enfoque específico. Por exemplo, há hoje pesquisas de etno-música e de lingüística sobre a poética investigando os cantos do ayahuasca sem se preocupar com sua química ou com suas interações sociais dos cultos atuais. O presente texto pretende fazer uma introdução resumida destes estudos específicos, não só para orientação dos que se iniciam neste assunto multifacetado, mas, sobretudo, para tentar sistematizar de um modo mais abrangente, os resultados dessas diferentes investigações científicas em uma perspectiva interdisciplinar comum.
A PESQUISA NA ÁREA DA ANTROPOLOGIA
A bebida conhecida como Ayahuasca ou Iagé é preparada através da infusão do cipó do Jagube ou Mariri (Banisteriopsis caapi) e da folha da Rainha ou Chacrona (Psychotria viridis) – naturais da região amazônica. A bebida teria origem do Império Inca e seu uso teria se difundido entre várias tribos indígenas, das quais se tem razoável conhecimento antropológico. Ingerindo o chá, os índios absorvem o espírito da planta e, em transe, têm experiências psíquicas e vivenciam fenômenos paranormais, tais como a telepatia, a regressão a vidas passadas, contatos com os espíritos dos seus antepassados mortos, presciência e visão à distância. Há relatos de xamãs usavam a bebida para descobrir qual era a doença de seus pacientes e saber como tratá-la. Diversos antropólogos, inclusive, tomaram o chá e descreveram seus efeitos parapsíquicos.
Ainda hoje, várias tribos praticam rituais com o uso do Ayahuasca no Brasil, como as dos Kampas e dos Kaxinawás, localizadas perto da fronteira com o Peru. Desde o início do século, nos contatos culturais entre seringueiros e índios, a Ayahuasca passou a ser usada pelos migrantes nordestinos, que colonizaram a Amazônia ocidental. Destes contatos surgiram diversos grupos que associaram o uso da bebida a um contexto religioso cristão-espírita, dos quais a União do Vegetal, no estado de Rondônia, o Santo Daime e a Barquinha, no Acre, são os maiores expoentes.
Já sobre o Santo Daime, há muita coisa escrita e publicada, sugerimos o trabalho de Débora Carvalho Pereira Gabrich, O Trabalho oculto e exotérico de Raimundo Irineu Serra, sobre as origens do culto e de Armênio Celso de Araújo, Teodicéia Brasileira: Uma Breve História do Santo Daime sobre seu desenvolvimento. Há ainda alguns trabalhos antropológicos sobre aspectos específicos, que transversalmente alcançam patamares universais, como o de Leandro Okamoto da Silva Marachimbé veio foi para apurar. Estudo sobre o castigo simbólico, ou peia, no culto do Santo Daime(3) ou de Arneide Bandeira Cemin, O “Livro Sagrado” do Santo Daime .
Um dos trabalhos antropológicos mais significativos é o pioneiro Guiado pela Lua – Xamanismo e uso ritual da ayahuasca no culto do Santo Daime, de Edward MacRae (1992). Atualmente, há também os livros de Beatriz Caiuby Labate (4): O Uso Ritual da Ayahuasca (2002, em conjunto com Wladimyr Sena Araújo), A Reinvenção do Uso da Ayahuasca nos Centros Urbanos (2004) e O Uso Ritual das Plantas de Poder (2005, em conjunto com Sandra Goulart).
No âmbito internacional, destacamos o trabalho de pesquisa interdisciplinar desenvolvido por Ralph Metzner, Ayahuasca – Human Consciousness and the Spirit of Nature (Tradução Márcia Frazão: Gryphus, 2002). O livro é subdividido em quatro partes: a experiência da Ayahuasca (composta por 25 depoimentos pessoais de pesquisadores com ênfase em descobertas espirituais fora dos paradigmas religiosos tradicionais): Ayahuasca: uma história etnofarmacológica, de Denis Mckenna; A psicologia da Ayahuasca, de Charles S. Grob; e Fitoquímica e neurofarmocologia da Ayahuasca, de Jace C. Callaway. Além, da introdução e conclusão do próprio Metzner, sintetizando os resultados dos textos da coletânea, há também uma revisão histórica completa dentro de um contexto mais amplo da pesquisa da consciência e a espiritualidade.
A PESQUISA NA ÁREA DO DIREITO
Paralelamente ao crescimento dos cultos e à expansão do uso religioso da Ayahuasca, uma forte resistência dos setores conservadores da sociedade brasileira se formou, pressionando o governo para embargar o funcionamento destas instituições nos grandes centros metropolitanos. Porém, no dia dois de junho de l992, o conselho decidiu liberar definitivamente a utilização do chá para fins religiosos em todo o território nacional. Segundo a então presidente do Conselho Federal de Entorpecentes (Confen), Ester Kosovsky, “a investigação, desenvolvida desde l985, baseou-se numa abordagem interdisciplinar, levando em conta o lado antropológico, sociológico, cultural e psicológico, além de análises fitoquímicas”.
O relator do processo de investigação, Domingos Carneiro de Sá, explicou que o fato fundamental para a liberação da bebida foi o comportamento dos daimistas e a seriedade dos centros que utilizam o chá em seus rituais: “Não foram observadas atitudes anti-sociais dos participantes dos cultos, ao contrário, podemos constatar os efeitos integrados e reestruturantes do Daime com indivíduos que antes de participarem dos rituais apresentavam desajustes sociais ou psicológicos”. (SILVA SÁ, Domingos Bernardo Gialluisi. Ayahuasca, a consciência da expansão, in: Discursos sediciosos. Crime, Direito e Sociedade. Rio de Janeiro, Instituto Carioca de Criminologia, 1996, pp. 145-174).
DATA / DOCUMENTO
30/07/1985 RESOLUÇÃO Nº 4 DO CONFEN
04/02/1986 RESOLUÇÃO Nº 6 DO CONFEN
31/01/1986 PARECER DO CONFEN SUBMETIDO À PLENÁRIA
17/08/1998 PORTARIA Nº 117 DO IBAMA
24/11/1991 CARTA DE PRINCÍPIOS DAS ENTIDADES
02/06/1992 ATA DA 5ª REUNIÃO ORDINÁRIA – CONFEN
16/10/2001 PORTARIA Nº 4 DO IBAMA
04/11/2004 RESOLUÇÃO Nº 5 DO CONAD
17/08/2004 PARECER DO CATC
30/05/2006 COMPOSIÇÃO DO GMT-CONAD
e 06/11/2006 RELATÓRIO FINAL DO GMT-CONAD
Fonte: ayahuascabrasil
Com a expansão do Ayahuasca para outros países, surgiram questões jurídicas internacionais referentes a utilização e transporte da bebida. Dentre os vários processos de legalização, uma referência internacional importante é o texto Religious Freedom and United States Drug Laws: Notes on the UDV-USA Legal Case (MEYER, 2005). O site do Santo Daime na Itália também disponibiliza uma página com literatura jurídica internacional, com material sobre vários países.
A PESQUISA NA ÁREA DA BIOLOGIA
O Projeto Hoasca foi uma iniciativa organizada pela União do Vegetal (UDV) sobre a toxidade do Ayahuasca do ponto de vista clínico. Durante o verão de 1993, um grupo multinacional de pesquisadores biomédicos dos Estados Unidos, Finlândia e Brasil encontrou-se em Manaus para conduzir o mais completo exame dos efeitos bioquímicos e psicológicos da bebida. Participaram desta pesquisa interdisciplinar: Grob; McKenna; Callaway; Strassman, entre outros. Mas, além dos resultados atestando a baixa toxicidade do Ayahuasca para usuários de longo prazo, o Projeto Hoasca também deslocou o foco da pesquisa interdisciplinar da bebida para neuroquímica de seus principíos psicoativos, principalmente a DMT.
N,N-DMT ou N,N-dimetiltriptamina (C12H16N2) é um psicoativo que causa intensa emergência visual quando fumado, injetado ou ingerido oralmente. Na Ayahuasca, está presente na folha Psychotria viridis e em combinação com as enzimas MAOI (harmina e harmalina) existentes no cipó Banisteriopsis caapipermite um mais efeito prolongado e potencializado do que se utilizado sozinho em altas dosagens sem inibidores. N,N-DMT é muito chamou freqüentemente só “DMT”, embora este nome cause confusão algumas vezes com seu primo químico 5-MeO-DMT. A DMT é também um neurotransmissor químico presente naturalmente no corpo humano bem como em plantas muitas e em outros mamíferos. Não há registros que ele cause dependência física ou psicológica, mas há contra-indicações: os efeitos do N,N-DMT são dramaticamente aumentado se usados em altas dosagens (fumado, por exemplo) por indivíduos usando MAOIs. MAOIs são enzimas comumente encontradas nos anti-depressivos (phenelzine, tranylcypromine, isocarboxazid, l-deprenyl e moclobemide). Indivíduos propensos à esquizofrenia, com tendências à psicose depressiva ou ainda em estado emocional vulnerável devem ter cuidado com a DMT pois ela pode funcionar como um ‘gatilho’ para a manifestação desses desequilíbrios. Hoje, na internet, encontram-se alguns sites com informação detalhada sobre a substância (http://dmt.lycaeum.org/ ehttp://www.erowid.org/chemicals/dmt/dmt.shtml).
A DMT e as beta-carbolinas são similares em sua estrutura molecular a Serotonina, um neurotransmissor responsável por vários processos cognitivos. Isto levou a uma série de especulações sobre qual seriam os efeitos do Ayahuasca em nosso organismo?
Para Ralph Miller(5), por exemplo, em Ayahuasca – Universidade de Gaia:
A Pineal irá produzir DMT em grandes quantidades em pelo menos dois momentos das nossas vidas: no nascimento e na morte. Talvez ela prepare a chegada e a partida da alma. Pessoas que experimentam “situações de quase morte” – vendo luzes fortes, portais, ícones religiosos – relatam efeitos semelhantes aos das experiências com DMT. As moléculas de DMT são similares às moléculas da Serotonina e se encaixam nos mesmos receptores do cérebro. Isto é extraordinário porque, assim como a Serotonina, a DMT é uma chave específica que naturalmente se encaixa nesta “trava” do cérebro. Assim, você tem a DMT se encaixando aos receptores do cérebro, o que produz visões, enquanto as propriedades pró-Serotonina e pró-Dopamina do chá criam um estado de alerta e receptividade.
Do ponto de vista científico, há várias hipóteses sobre o papel da DMT no cérebro humano. Uma hipótese é de que esta substância estaria relacionada com a manifestação da esquizofrenia e dos distúrbios psicóticos. No entanto, ao se encontrar níveis semelhantes de DMT em sujeitos sadios e em esquizofrênicos, esta hipótese vem sendo abandonada. (FISCHMAN, 1983). Outra hipótese, postulada por Richard Strassman em seu livro, A Molécula do Espírito, diz que a DMT é produzida pela glândula Pineal e está relacionada com experiências de “pico” (nascimento, experiências de quase-morte, morte etc). Uma terceira hipótese feita por Callaway, que se relaciona com as duas primeiras, é que a DMT está relacionada com a regulação do sono, especificamente, na produção das imagens nos sonhos: o sono REM. Neste caso, se a DMT fosse produzida em excesso poderia ocasionar alucinações.
Atualmente, várias pesquisas investigam a utilização de medicamentos a base de DMT para tratamento químico de depressão, neuroses, fobias, síndromes neurológicas, bem como sua utilização como potencializador da consciência em processos terapêuticos psicológicos.
A PESQUISA NA ÁREA DA PSICOLOGIA
Enquanto os pesquisadores das áreas biológicas dão um enfoque enquadrado particularmente aos efeitos químicos da DMT no cérebro, os pesquisadores das áreas clínicas e psicológicas estudam a mudança nos estados de consciência e de percepção, distribuindo sua atenção em três fatores: a bebida, o ambiente (setting) e a intenção (set. A hipótese denominada em inglês de ‘set and setting’, formulada inicialmente por Timothy Leary com LSD nos anos 60, foi adotada pela maioria dos pesquisadores da área. A hipótese afirma que o conteúdo de uma experiência com substancia psicoativa é uma resultante da interação desses três fatores básicos.
Charles S. Grob, também participante do Projeto Hoasca, fez a mais ampla revisão bibliográfica sobre o Ayahuasca na área da psicologia clínica e neuro-psiquiatria (METZNER, 2002, p. 195) e considera a hiper-sugestionabilidade como um dos efeitos psico-químicos, detalhando o aspecto ambiental (setting) em vários fatores (o papel do líder, do grupo, do local). Ele é um dos pesquisadores que concluem que “o contexto, o roteiro e o propósito” são mais importantes do que os efeitos químicos de substância psicoativas (nos processos de “cura” e de autoconhecimento propiciados pela bebida).
Em relação às características dos estados de consciência quimicamente alterados pelo Ayahuasca, Grob aponta: a) Diminuição ou expansão da consciência reflexiva, com alterações de pensamento, mudanças subjetivas na concentração, na atenção, na memória e no julgamento podem ser induzidas voluntariamente em vários níveis de uma mesma experiência. b) Aumento da imaginação visual. Grob também identifica, dentre as experiências de milhares usuários entrevistados, várias recorrências psicológicas durante o transe: medo de perder o controle; resistência do ego (bad trip) e transcendência para estados místicos (entrega); aumento da expressão emocional – tristeza, alegria, desespero, fé; entre outras menos freqüentes.
Bastante significativa é a descrição do transe feita pelo Dr. Regis Barbier, no artigo Ayahuasca como opção espiritual (6)
A Ayahuasca revela que o conhecimento que temos do mundo, da existência, é um estado ou processo psicossomático. (…) A percepção, habitualmente embotada, permite apenas aprender e acessar uma fração distorcida de realidade; uma realidade revestida de projeções pessoais e pressuposições. (…) A Ayahuasca amplifica a capacidade psicossomática de responder a gradações mais sutis de estímulos além de muitas vezes integrar as diversas faculdades sensoriais em processos sinestésicos. Esse efeito de aumentar a capacidade de experienciar, de avaliar e apreciar por si mesmo, é central para a compreensão do seu significado. Esta amplificação, como uma lupa, permite uma (re)visitação intensiva e absorta dos conteúdos mentais – recordações, idéias, fantasias, pensamentos, emoções, medos, esperanças, sensações em gerais. Na dependência da ética e valores morais atuais do indivíduo, além de influir na intensidade e no foco das percepções, a experiência pode motivar a re-significação dos conteúdos sendo observados. Valores morais e atitudes são revistas. Aqui temos uma tecnologia que alterando a composição bioquímica do instrumento e dos meios de processamento da informação, permite a inativação temporária dos filtros culturais e psicodinâmicos que nos bastidores da mente agem determinando, formatando e hierarquizando, nossas experiências quotidianas. Pode se de fato aprender muito, crescer e liberar energia psíquica e vendo, transformando, eliminando, aceitando e se reconciliando com conteúdos incômodos. (…) O grande valor da Ayahuasca, trazidos à nossa atenção pelas sociedades indígenas, é que ela dissolve os limites da mente inconsciente; ela dá acessos aos conteúdos reprimidos e esquecidos. Ela possibilita o reconhecimento das configurações universais da psique, os arquétipos de humanidade, junto com um leque mais abrangente de conhecimentos e maneiras de conscientizar, até eventualmente a vivência dos diversos aspectos da união mística. Na medida em que o indivíduo consegue ver as coisas de uma maneira não distorcida, vendo claramente não apenas o seu passado mais também a presunção e cegueira da sua própria cultura e grupos de referencias, ele necessita, além de tolerar a decepção e o sofrimento, superar sentimentos de desamparo. Nem sempre é fácil ter de ver e aceitar que não somos assim tão vítimas, mas sim responsáveis pelas nossas vidas; aceitar ser capaz, reconhecer o seu potencial e a responsabilidade que isso requer implica coragem e determinação. Podemos até recusar crer que fazemos jus a muita beleza e alegria, bem estar profundo, sem nada ter de pagar além de ser o que já se é; apenas sendo o que já somos. O gerenciamento emocional produtivo dessa reavaliação, a reorganização psíquica, implica um grau suficiente de equilíbrio e bom senso para que se tomam atitudes judiciosas sem precipitações.
Outra grande contribuição ao estudo psicológico do Ayahuasca é o trabalho de Benny Shanon, O Conteúdo das Visões da Ayahuasca, em que além de trabalhar um levantamento das imagens das mirações e da hipótese de aceleração e desaceleração da percepção do tempo durante o transe, se discute também a pesquisa da mente através do ayahuasca (e não mais o efeito da ayahuasca na mente humana).
Shanon já havia escrito sobre o Ayahuasca como instrumento de investigação da mente (in LABATE, 2002; pág. 631), através dos parâmetros teóricos da psicologia cognitiva. Para ele, há questões fenomenológicas de primeira ordem (o que está sendo experimentado?) e de segundo ordem (Há uma ordem e um sentido no que está sendo experimentado?). Há também questões de dinâmica, de contexto e teóricas gerais a serem discutidas sobre o uso do Ayahuasca. Por exemplo, em relação às questões fenomenológicas de primeira ordem, Shanon distingue as questões de conteúdo das de domínio e de estrutura. Assim, felinos, pássaros e répteis são as imagens mais recorrentes nos transes, seguidos de perto pelos palácios, tronos e imagens arquitetônicas celestiais.
A pesquisa destaca que as imagens são ‘universais da mente’ (semelhantes ao que Jung chamou de arquétipos), pois surgem em indivíduos sociais e culturalmente diferentes. Esses conteúdos podem surgir de diferentes formas ou domínios e o encadeamento dessas formas com estes conteúdos forma estruturas narrativas paralelas aos rituais. E Shanon entrevê, através deste sistema cognitivo de conteúdos/domínios, os parâmetros estruturais da consciência e destaca pelo menos quatro aspectos relevantes em relação ao efeito do Ayahuasca: a percepção do pensamento como uma cognição coletiva, a indistinção entre o interior e o exterior, e as experiências desindentificação pessoal e de tempo não-linear. Ou seja: quando tomam Ayahuasca as pessoas percebem que seus pensamentos não são individuais, mas sim ‘recebidos em rede’ (a mente como um rádio); que não existe a distinção entre o sensorial e o sensível; podem se transformar em animais (jaguares e águias são freqüentes) ou em outras pessoas; e finalmente percebem o transcorrer do tempo de forma desigual, em que alguns segundos demoram séculos e horas se sucedem rapidamente e em que alguns momentos se experimentam a simultaneidade (ou a sensação de eternidade) temporal. Quando baixamos arquivos no computador, pode-se perceber que alguns segundos demoram mais que outros, em função do peso do arquivo e da aceleração da conexão da internet. O que Shanon suspeita é que o mesmo acontece com o cérebro, mas só é perceptível sob o efeito do Ayahuasca.
Acredito que o desenvolvimento das pesquisas na área da psicologia se dará a partir do aprofundamento neurocientífico das teses de Shanon. Ou seja: não apenas estudar o efeito químico da substância no organismo, mas, sobretudo, compreender quais dimensões de consciência que este efeito propicia (telepatia, regressões mentais a traumas infantis, visualização de imagens do inconsciente profundo, mudanças na percepção do tempo e da realidade). Além de investigar o efeito da DMT no cérebro, observando o aspecto reverso, estudar a mente através da DMT – este será o propósito central das pesquisas psicológicas da ayahuasca.
ANTEPROJETO
Além, de pesquisas psicológicas, antropológicas, jurídicas e biológicas (incluindo aqui estudos neuroquímicos, farmacêuticos e clínicos), há também várias pesquisas sobre a música das cerimônias, a poesia dos cantos, as danças do ritual, a arquitetura dos templos, enfim, toda descrição semiótica e lingüística da arte dos cultos, bem como suas concepções doutrinárias. Nosso objetivo aqui, como dissemos no começo, é o de introduzir as diferentes investigações sobre a ayahuasca, buscando observar o que cada tem de essencial em relações às demais. Mais do que uma síntese entre essas pesquisas, o que se pretende é o de estabelecer uma atualização sistemática dessas investigações e observar as suas inter-relações. Teríamos, assim, nesta perspectiva, uma pesquisa interdisciplinar do Ayahuasca cinco linhas específicas de observação e acompanhamento: Antropologia, Direito internacional, Biologia (subdividido em várias áreas), Psicologia e Comunicação Social. Cada linha de pesquisa deve ser coordenada por doutor e, na prática, consistiria na investigação e na sistematização de um aspecto específico da pesquisa inter-disciplinar.
O projeto inter-disciplinar de pesquisa do Ayahuasca e da DMT prevê ainda: a) realização de encontros anuais em diferentes universidades e centros de estudos, em que os pesquisadores, organizados em Grupos de Trabalho segundo as linhas de pesquisa, apresentarão artigos e resenhas sobre a literatura internacional sobre o tema; e b) a criação de uma publicação acadêmica nacional, impressa e na internet, com a produção científica dos pesquisadores e informações sobre as pesquisas internacionais semelhantes
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Durante os primeiros dois anos do Harvard Psychedelic Research Project (Projeto de Pesquisa Psicodélica de Harvard) circularam rumores sobre um “poderoso” agente psicodélico chamado dimetiltriptamina: ou DMT. O efeito dessa substância deveria durar menos que uma hora e produzir efeitos estilhaçantes e aterrorizadores. Dizia-se que era a bomba atômica da família psicodélica.
O farmacologista húngaro Stephen Szara foi quem primeiro reportou, em 1957, que as substâncias N,N-Dimetiltriptamina (DMT) e N,N-Dietiltriptamina (DET) produziam efeitos no homem similares ao LSD e mescalina. A única diferença era na duração: enquanto LSD e mescalina tipicamente duravam de 8 a 10 horas, o DMT durava de 40 minutos a uma hora, e o DET de duas a três horas. Também foi relatado que os homólogos dipropiltriptamina e dibutiltriptamina eram ativos, mas menos potentes. A substância-mãe, triptamina, por si só não tem efeito. Quimicamente, o DMT está intimamente relacionado com a psilocibina e a psilocina (4-hidroxi-N-dimetiltriptamina), assim como à bufotenina (5-hidroxi-N-dimetiltriptamina). O mecanismo de ação do DMT e componentes relacionados ainda é um mistério científico. Como LSD e psilocibina, o DMT tem a propriedade de aumentar o modificação metabólica da serotonina no corpo. Uma enzima capaz de converter triptamina natural do corpo em DMT foi recentemente descoberta em alguns tecidos de mamíferos. Isso sugere que pode haver mecanismos para o corpo converter substâncias internas naturais em componentes psicodélicos. (1,2,3,4,5).
O DMT foi identificado como um dos componentes da semente Mimosa hostilis, de onde os índios Pancaru do Pernambuco, Brasil, preparam uma bebida alucinógena que eles chamam de Vinho da Jurema. Também é, junto com a bufotenina, um dos componentes das sementes da Piptadenia peregrina, de onde os índios do Orinoco Basin e Trinidad preparam um pó alucinógeno que eles chamam de yopo (6).
William Burroughs experimentou a substância em Londres e relatou-a nos termos mais negativos. Burroughs estava trabalhando na época em uma teoria da geografia neurológica — algumas áreas corticais seriam celestiais; outras, diabólicas. Como exploradores chegando a um novo continente, seria importante mapear as áreas amistosas e as hostis. Na cartografia farmacológica de Burroughs, o DMT lançava o viajante em um território estranho e decididamente não amigável.
Burroughs contou uma história interessante sobre um psiquiatra em Londres que experimentou DMT com um amigo. Após alguns minutos, o assustado amigo começou a pedir ajuda. O psiquiatra, ele mesmo já rodopiando em um universo de pigmentos móveis e vibratórios, alcançou sua agulha hipodérmica (que já tinha se fragmentado em um composto trêmulo de mosaicos ondulares) e se inclinou para aplicar o antídoto. Para seu desgosto, seu amigo — se contorcendo de pânico — foi subitamente transformado em um réptil serpenteante, encrustado de jóias e faiscante. O dilema do doutor: onde aplicar uma injeção intravenal em uma cobra marciana-oriental se debatendo?
Alan Watts tinha uma história de DMT a contar. Ele experimentou a droga como parte de uma pesquisa na Califórnia e tinha planejado provar que poderia manter controle racional e fluência verbal durante a experiência. O equivalente mais próximo disso seria tentar uma descrição momento-a-momento das reações de alguém que foi atirado de um canhão atômico de neon bizantino. O Dr. Watts deu uma descrição assombrada sobre fusão perceptiva.
No outono de 1962, durante uma série de três dias de palestras na Southern California Society of Clinical Psychologists, me encontrei em uma discussão com um psiquiatra que estava coletando dados sobre o DMT. Ele havia ministrado a droga para mais de 100 cobaias e apenas 4 tiveram experiências prazeirosas. Isso era um desafio para a hipótese de “ambiente-condição” (set-setting). Conforme nossas evidências — e alinhado com nossa teoria — encontramos poucas diferenças entre drogas psicodélicas. Estávamos ceticamente convencidos que as elaboradas variações clínicas alegadamente encontradas em reações a diferentes drogas eram puro folclore psicodélico. Estávamos firmes em nossa hipótese de que drogas não têm efeitos específicos na consciência, com exceção daqueles da expectativa, preparação, clima emocional e relações com o “fornecedor” da droga — fatores responsáveis por todos os diferentes tipos de reação.
Estávamos ansiosos para ver se a lendária “droga do terror”, o DMT, se enquadraria na teoria do “ambiente-condição”.
Uma sessão foi arranjada. Fui para a casa do pesquisador, acompanhado de um psicólogo, um monge Vedanta e duas amigas. Após uma longa e amigável discussão com o médico, o psicólogo deitou em um sofá. A cabeça de sua amiga repousava em seu peito. Me sentei na extremidade do sofá, sorrindo reconfortantemente. Uma dose intramuscular de 60 mg de DMT foi aplicada.
Em dois minutos, o rosto do psicólogo já estava brilhando de alegria serena. Pelos próximos 25 minutos ele respirou profundamente e murmurou de prazer, mantendo um relato divertido e de êxtase sobre suas visões.
“Os rostos na sala se tornaram mosaicos de bilhões de faces em tons ricos e vibrantes. As características faciais de cada um dos observadores em volta da cama eram a chave para suas heranças genéticas. Dr. X (o psiquiatra) era um índio americano bronzeado com pintura cerimonial completa no corpo; o monge hindu era um profundo e espiritual habitante do oriente médio com olhos que, de uma só vez, refletiam perspicácia animal e a tristeza de séculos; Leary era um irlandês malandro, um capitão com pele encouraçada e rugas nos cantos de olhos, que já haviam olhado longa e duramente o inescrutável, um comandante aventureiro ansioso por mapear novas águas, explorar o próximo continente, exsudando a confiança que vem com a bem-humorada consciência cósmica de sua missão — genética e imediata. Próximo a mim, ou melhor, sobre mim, ou melhor, dentro de mim, ou melhor, além de mim: Billy. A pele dela estava vibrando em uma harmonia com a minha. Cada estalar de músculo, o exato curso do sangue em suas veias… era um assunto de intimidade absoluta… Mensagens do corpo de uma suavidade e sutileza tanto estranhamente eróticas quanto deliciosamente familiares. Profundamente dentro, um ponto de calor em minha virilha lentamente — mas poderosa e inevitavelmente — irradiou por todo meu corpo até que cada célula se tornou um sol emanando seu próprio fogo originador da vida. Meu corpo era um campo de energia, um conjunto de vibrações com cada célula pulsando em fase com todas as outras. E Billy, cujas células agora dançavam a mesma dança, não era mais um entidade discreta, mas uma parte ressonante do conjunto único de vibrações. A energia era amor”.
Exatamente 25 minutos após a administração, o psicólogo sorriu, suspirou, sentou jogando as pernas no lado do sofá e disse: “Durou por um milhão de anos e uma fração de segundo. Mas acabou e agora é a sua vez”.
Com esse precedente assegurador, tomei posição no sofá. Margaret sentou no chão segurando minha mão. O psicólogo sentou ao pé do sofá, irradiando benevolência. A droga foi administrada.
Minha primeira experiência com DMT
“Minha experiência com DMT ocorreu na mais favorável condição. Tínhamos acabado de presenciar a experiência extática de meu colega e a radiância de sua reação forneceu uma estrutura otimista e segura. Minhas expectativas eram extremamente positivas.”
“Cinco minutos após a injeção, deitado confortavelmente na cama, senti os sintomas típicos da aproximação psicodélica — uma soltura somática prazeirosa, um afinamento sensitivo a sensações físicas.”
“Olhos fechados… visões típicas de LSD, a beleza rara do maquinário retinal e físico, transcendência da atividade mental, desapego sereno. Consciência reconfortante da mão de Margaret e a presença de amigos.”
“De repente, abri meus olhos e sentei… a sala era celestial, brilhando com iluminação radiante… luz, luz, luz… as pessoas presentes estavam transfiguradas… criaturas que pareciam deuses… estávamos todos unidos em um organismo. Abaixo da superfície radiante pude ver o delicado e fantástico maquinário de cada pessoa, a rede de músculos, veias e ossos — excelentemente lindo e unido, tudo parte do mesmo processo.”
“Nosso grupo estava comungando uma experiência paradisíaca — cada um no seu turno estava recebendo a chave da eternidade — agora era a minha vez, eu estava experimentando esse êxtase pelo grupo. Mais tarde, outros iriam embarcar. Éramos membros de uma coletividade transcendente.”
“O Dr. X me auxiliou delicadamente… me deu um espelho onde vi meu rosto como um retrato em vidro manchado.”
“O rosto de Margaret era como o de todas as mulheres — esperta, bela, eterna. Seus olhos eram completamente femininos. Ela murmurou exatamente a mensagem certa: ‘Pode ser sempre desse jeito’.”
“A incrível unidade complexa do processo evolutivo — incrível, infinita em sua variedade — por quê? Para onde está indo? etc… etc. As velhas perguntas e então a gargalhada de aceitação divertida, extática. Demais! Muito! Esqueça! Não pode ser deduzida. Ame-a em gratidão e aceite! Iria me inclinar para buscar significado na face tingida e chinesa de Margaret, mas caí de volta no travesseiro em reverência. Gargalhada estupefata.”
“Gradualmente, a iluminação brilhante foi recuando para o mundo tridimensional e me sentei. Renascido. Renovado. Radiante com afeição e reverência.”
“Essa experiência me levou ao ponto mais alto da iluminação com um enteógeno — um satori -pedra-preciosa. Foi menos interno e mais visual e social que minhas experiências usuais com LSD. Não houve um segundo de medo ou emoção negativa. Só alguns momentos de paranóia benigna (agente do grupo divino etc).”
“Fui deixado com a convição de que o DMT oferece muito potencial como um gatilho transcendental. A brevidade da reação tem muitas vantagens — fornece segurança com a certeza de que acabará em meia hora e pode possibilitar a exploração precisa de áreas transcendentais específicas.”
Ambiente-condição na experiência programada
Imediatamente depois de minha primeira viagem com DMT, a droga foi administrada ao monge hindu. Esse dedicado homem esteve 14 anos em meditação e renúncia. Era um sannyasin, ordenado para vestir o manto sagrado laranja. Ele havia participado de diversas sessões com drogas psicodélicas, com resultados extremamente positivos, e estava convencido de que a estrada bioquímica para o samadhi era não apenas válida mas talvez o método mais natural para pessoas vivendo em uma civilização tecnológica.
Sua reação ao DMT foi, contudo, confusa e desconfortável. Catapultado na súbita perda do ego, ele lutou para racionalizar sua experiência em termos de técnicas hindús clássicas. Se manteve olhando indefeso e perdido para o grupo. Prontamente, em 25 minutos ele se sentou, riu e disse: “Que viagem foi essa?! Realmente terminei preso em alucinações cármicas!”.
A lição era clara. O DMT, como outras chaves psicodélicas, podia abrir uma infinidade de possibilidades. Mas ambiente, condição, sugestionabilidade e estrutura da personalidade estavam sempre lá como filtros, através dos quais a experiência extática podia ser distorcida.
Na volta a Cambridge, arranjos foram feitos com uma empresa farmacêutica e com nosso consultor médico para conduzirmos uma pesquisa sistemática com a nova substância. Durante os próximos meses fizemos mais de 100 sessões — no início, exercícios de treino para pesquisadores experientes e, depois, testes com pessoas completamente inexperientes em assuntos psicodélicos.
A porcentagem de sessões de sucesso, extáticas, foi alta — acima de 90%. A hipótese ambiente-condição claramente contou a favor do DMT, em relação a experiências positivas. Mas havia certas características definidas da experiência que eram notavelmente diferentes de psicodélicos clássicos — LSD, psilocibina e mescalina. Primeiro de tudo, a duração. A transformação de 8 horas do LSD foi reduzida para 30 minutos. A intensidade também era maior. Isso significa que o estilhaçamento da percepção “aprendida” das formas, o colapso da estrutura adquirida, era muito mais pronunciado. “Olhos fechados” produziam uma suave, silenciosa, na velocidade da luz, dança redemoinhante de formas celulares incríveis — acre sobre acre, milha sobre milha de formas orgânicas em giro suave. Uma volta de foguete convolutiva, acrobática e suave através da fábrica de tecidos. A variedade e irrealidade dos precisos, fantásticos e delicados mecanismos da maquinaria orgânica. Muitos que experimentam LSD reportam odisséias sem fim através da rede de túneis circulatórios. Não com DMT. No lugar disso, uma volta na nuvem sub-celular em um mundo de beleza móvel e ordenada que desafia a busca por metáforas.
“Olhos abertos” produziam um colapso similar da estrutura adquirida — mas desta vez dos objetos externos. Rostos e coisas não mais tinham forma, mas eram vistos como um fluxo tremeluzente de vibrações (que é que elas são). A percepção de estruturas sólidas era vista como uma função de redes visuais, mosaicos, teias de energia luminosa.
A transcendência do ego-espaço-tempo foi o relato mais frequente. As pessoas frequentemente reclamavam que se tornavam tão perdidas no amoroso fluxo de existências infinitas que a experiência terminava muito rápido, e era tão suave que faltavam pontos de referência para tornar as memórias mais detalhadas. As costumeiras referências de percepção e memória estavam faltando! Não podia haver memória da sequência de visões porque não havia tempo — e nenhuma memória de estrutura porque o espaço foi convertido em um processo fluído.
Para lidar com esse problema, instituímos sessões programadas. Seria solicitado que a pessoa respondesse a cada dois minutos, ou ela seria apresentada a um estímulo para resposta a cada dois minutos. Os pontos de referência seriam, assim, fornecidos pelo pesquisador — a sequência temporal poderia ser quebrada em estágios e o fluxo de visões seria dividido em tópicos.
Como exemplo de uma sessão programada usando DMT, vamos considerar o relatório que se segue. O plano para essa sessão envolveu a “máquina de escrever experimental”. Esse dispositivo, descrito em uma artigo anterior (7), é projetado para permitir comunicação não-verbal durante sessões psicodélicas. Há dois teclados com dez botões para cada mão. As 20 teclas são conectadadas com um polígrafo de 20 canetas que registra uma marca em um rolo de papel em movimento cada vez que uma tecla é pressionada.
A pessoa precisa aprender os códigos de classificação da experiência antes da sessão e é treinada para responder automaticamente, indicando a área de sua consciência.
Nesse estudo foi combinado que eu seria questionado a cada dois minutos, para indicar o conteúdo de minha consciência.
A sessão aconteceu em uma sala especial, de 8 por 20, completamente coberta: teto, paredes e piso, por telas indianas alegres e coloridas. A sessão seguiu o modelo de “revezamento de guia”: outro pesquisador, uma psicofarmacologista, iria agir como interrogador para minha sessão. O farmacologista então repetiria a sessão, com Leary como interrogador.
Às 20h10, recebi 60 mg de DMT
Deitado no travesseiro, arrumando almofadas… relaxado e aguardando… de certa forma entretido por nossa tentativa de impor referências ao conteúdo temporal no fluxo do processo… ruído, suor, zunindo… olhos fechados… de repente, como se alguém tivesse apertado um botão, a escuridão estática da retina é iluminada… fábrica gigante de relógios preciosos de brinquedo, a fábrica de Papai Noel… não impessoal ou arquitetada, mas alegre, cômica, leve. A dança evolucionária, zunindo de energia, bilhões de formas derivadas girando, estalando através de seus turnos determinados no suave balé…
2º MINUTO. TIM: ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? A voz de Ralph, declarativa, gentil… o quê? onde? você? olhos abertos… ali espalhados perto de mim estão dois insetos magníficos… pele polida, com metal brilhante, com jóias incrustadas… ricamente adornados, eles olham para mim docemente… queridos grilos venusianos radiantes… um tem um bloco em seu colo e está segurando uma caixa encrustada de jóias com brilhantes seções ondulantes trapezóides… olhar interrogativo… incrível… e perto dele o Sr. Grilo Diamante entra suavemente em vibrações… o Dr. Grilo Rubi-Esmeralda sorri… TIM ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA?… move a caixa na minha direção… ah sim… tente dizer a eles… onde…
Aos dois minutos, o paciente está sorrindo de olhos fechados. Ao ser questionado ele abriu os olhos, olhou para os observadores curiosamente, sorriu. Quando a pergunta sobre orientação foi repetida ele deu de ombros, moveu seu dedo procurando a máquina de escrever e (com um olhar de tolerância entretida) golpeou a tecla de “atividade cognitiva”. Ele então caiu de volta com um suspiro e fechou seus olhos.
Use a mente… explique… olhe para baixo nas caixas ondulantes… lutando para focar… use a mente… sim COGNITIVA… ali…
Olhos fechados… de volta ao workshop dançante… alegria… beleza incrível… a maravilha, maravilha, maravilha… obrigado… obrigado pela chance de ver a dança… tudo se encaixa junto… tudo se adequa ao padrão úmido, pulsante… um gigantesco penhasco acinzentado-branco, se movendo, cravado de pequenas cavernas e, em cada caverna, uma tira de antena de radar, insetos-elfos alegremente trabalhando, cada caverna a mesma, a parede cinza-branca infinitamente adornada por… infinitude de formas de vida… redes de energia alegres e eróticas…
4º MINUTO. TEMPO, ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? Rodando pela tapeçaria do espaço, vem um voz lá de baixo… voz terrestre bondosa e querida… base na Terra chamando… onde está você?… que piada… como responder… estou no tubo de ensaio borbulhante do alquimista cósmico… não, agora o pó de estrela cadente suave me explode gentilmente… rostos estilhaçados em mosaico de vidro manchado… Dr. Lagosta da Tiffany segura o cesto de seções trapezóides… olha para chave brilhante… onde está a chave venusiana do êxtase?… onde está a chave para a explosão estelar do ano 3000?… IMAGENS DE PROCESSOS EXTERNOS… sim… pegou a chave…
Aos quatro minutos, o paciente ainda estava sorrindo de olhos fechados. Ao ser contatado para reportar, abriu seus olhos e riu. Olhou para os observadores com olhos brilhantes, examinou o teclado da máquina de escrever experimental e apertou a tecla de IMAGEM DE PROCESSO EXTERNO. Então caiu de volta e fechou seus olhos.
Que bom… eles estão aqui embaixo… esperando… sem palavras aqui para descrever… eles têm palavras lá embaixo… ondas de formas coloridas girando… repicando alegremente… de onde eles vêm… Quem é o arquiteto… impiedoso… cada fábrica dançante e ondulante devorando a outra… me devorando… padrão cruel… o que fazer… terror… ah deixa vir… me devorem… me engolfem no oceano de bocas de flocos de neve… tudo bem… como tudo se encaixa… piloto-automático… está tudo pensado… tudo no piloto-automático… de repente meu corpo estala e começa a desintegrar… fluindo para o rio de energia… tchau… fui… o que eu era está agora absorvido em um flash de elétrons… dirigido através do espaço sideral em pulsos orgásmicos de movimentos de partículas… libertação… emitindo luz, luz, luz…
6º MINUTO. TIM, ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? Voz terrestre chamando… você aí em órbita nuclear… incorporação… agarre a partícula com feixe de energia… devagar… pare na estrutura do corpo… volte… com o abrir dos olhos a dança nuclear subitamente congela em forma fixa… vendo dois blocos de elétrons tremeluzindo… a galáxia Ralph chamando… a galáxia Sr. Ralph sorrindo… a dança de energia capturada momentaneamente na forma de robô amigável… olá… perto dele uma vela brilha… o centro da teia de um milhão de fechos de luz… a sala é capturada em uma rede de energia-luz… tremeluzindo… toda visão é luz… nada a enxergar a não ser ondas de luz… fótons refletidos do sorriso enigmático de Ralph… espera a resposta… fótons quicando das teclas da vibrante máquina de escrever… como é fácil transmitir uma mensagem… o dedo aperta IMAGENS DE PROCESSOS EXTERNOS…
Aos seis minutos, o paciente terminou de fazer caretas que pareciam ser de algum medo ou problema passageiro. Ao ser contatado para reportar, espiou pela sala e sem hesitar pressionou a tecla PROCESSOS EXTERNOS. Então fechou os olhos.
Olhos fechados… mas pós-imagens da chama da vela persistem… globos oculares presos em órbita em torno de um centro de luz interno… radiância celestial no centro de luz… luz do sol… toda luz é sol… luz é vida… vida, lux, luce, vida… tudo é uma dança de luz-vida… toda vida é o fio… carregando luz… toda luz é o frágil filamento de luz… som solar silencioso… transmitido das chamas do sol… luz-vida…
8º MINUTO. TIM, ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? No coração da explosão de hidrogênio do sol… nosso globo é um globo de luz… abrir os olhos joga cortina sobre o clarão do sol… olhos abertos trazem cegueira… trancam a radiância interna… vendo Deus em contraste-escuro segurando uma caixa de sombra… onde é a vida?… pressione a TECLA DA LUZ BRANCA. Aos oito minutos, o paciente, que estava deitado imóvel sobre as almofadas, abriu seus olhos. Sua expresão era de confusão, surpresa. Sem expressão, pressionou a tecla LUZ BRANCA.
Mantendo olhos fechados… parado… capturado… hipnotizado… toda a sala, paredes floridas, almofadas, vela, formas humanas todas vibrando… todas as ondas não tendo nenhuma forma… imobilidade terrível… apenas fluxo de energia silencioso… se você se mover, vai destroçar o padrão… todas as memórias de formas, significados, identidades… sem significado… foi… tudo é uma emanação impiedosa de ondas físicas… fenômenos são pulsos televisivos estalando através de um programa interestelar… nosso sol é um ponto em uma tela de TV astrofísica… nossa galáxia é um minúsculo agregado de pontos em um canto de uma tela de TV… cada vez que uma supernova explode é apenas aquele ponto na tela mudando… o ciclo de dez milhões de anos do universo é um flash de milissegundo de luz na tela cósmica que flui infinita e rapidamente com imagens… sentado imóvel… não desejando movimento ou impor movimento no padrão… ausência de movimento em movimento na velocidade da luz…
10º MINUTO. TIM, ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA? Torre de controle transmitindo mensagem de averiguação… inundação de amor fantástico por podermos nos contatar… permanecemos em contato… onde estava aquele agregado mesmo… alucinando… metáforas de ficção científica… onde está a chave… ali… ALUCINAÇÕES EXTERNAS…
Dos oito aos dez minutos o paciente sentou-se imóvel, olhos abertos em um estado de transe. Não houve tentativa de comunicação. Contatado, ele se moveu devagar mas determinado e pressionou a TECLA DE ALUCINAÇÕES EXTERNAS.
Trechos do Questionário de Pesquisa preenchido depois da sessão: perda do espaço-tempo… fusão com fluxo de energia… vendo todas as formas de vida como ondas físicas… perda do corpo… existência como energia… consciência de que nossos corpos são blocos momentâneos de energia e de que somos capazes de nos afinar com padrões não-orgânicos… certeza de que processos vitais estão no “piloto-automático”… nada a temer ou se preocupar… a complexidade e infinitude do processo vital… entendimento repentino do significado de termos da filosofia indiana como “maya”, “maha-maya”, “lila”… insight dentro da natureza e diversos estados transcendentais… a vazia-luz-branca-do-não-conteúdo, êxtase da estruturação temporária da forma-meta-vida-inorgância da estrutura do código genético musical e o…
12º MINUTO. TIM, ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA? Olhos abertos… risada… pego pela torre de controle vigilante ao orbitar em torno de uma área da mente terrena e descobridora… onde é a tecla para pensamentos terrenos?… alucinações… não, o jogo do pensamento… pressione TECLA COGNITIVA…
Do 10º ao 12º minuto, o paciente sentou olhando sem expressão e sem movimento para a parede da sala. Ao ser contatado, sorriu e pressionou a tecla COGNITIVA.
Acima da cabeça está a lâmpada coberta com enfeites de escurecimento para luz azul… circulando a sombra brilhante estão faixas ondulares… silenciosas… acenando… convidando… junte-se a dança… deixe seu robô… um universo inteiro de coreografias aéreas prazeirosas aguarda… sim, juntar-se a eles… de repente, como fumaça subindo de um cigarro, a consciência subiu… indo em caminhos de gaivota até a fonte da luz e, silenciosamente, para outra dimensão…
Do questionário de pesquisa: uma descrição do nível atingido é uma yoga em prosa além da realização atual… havia bilhões de cartas de arquivo, em hélice, que num passar de olhos me confortava com uma biblioteca sem fim de eventos, formas, percepções visuais — não abstratas, mas empíricas… um bilhão de anos de experiências codificadas, classificadas, preservadas em claridade brilhante, pulsante e fria, que fazia a realidade ordinária parecer um show barato, fora de foco, esfarrapado, desengonçado, indeciso, gasto e de mau gosto… qualquer pensamento, uma vez pensado, instantaneamente se tornava vivo e piscava através do diafragma da consciência… mas ao mesmo tempo não havia ninguém para observar… eu… ele… aquele que está consciente… todos vibrando em uma visão eletrônica em technicolor, VEJA!, para aquele que tem estado cego por séculos…
14º MINUTO. TIM, ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA? Oh, onde estamos agora?… oh, escute, aqui está onde estamos… uma vez havia um ponto elétrico brilhante… piscar repentino em lama pré-crambriana… o ponto se balança e se agita em uma contorção tremida com traços de alegria, cantoria, soluçar e calafrios… para cima… uma serpente começa a se torcer em direção à suave e quente fenda… minúsculo, do tamanho de um vírus… crescendo… o comprimento enorme de um bacilo microscópico… fluindo exultante, sempre cantando a melodia da flauta hindu… sempre explodindo, se esfoliando… agora do tamanho de uma raiz de musgo, zunindo através de espamos úmidos… crescendo… crescendo… sempre desfolhando sua própria visão… sempre cego, exceto pelo ponto frontal da luz-olho… agora correias de pele de cobra, sacudindo mosaicos de jóias ritmicamente, adiante como cobra… agora do tamanho de um tronco de árvore, sensual com o graxa espérmica correndo dentro… agora inchando em uma enchente de esticamento de tecido… rosa, corrente lamaçal de fogo melodioso… agora circulando o globo, apertando oceanos salgados verdes e montanhas marrom-argila entalhadas em um abraço constritor… serpente fluindo cegamente, agora uma torcida cobra de vértebras elétricas de um bilhão de milhas sem fim cantando a melodia hindu da flauta… cabeça de pênis palpitando… mergulhada em todos os odores, toda a tapeçaria colorida de tecido… contorcimento cego, serpente intumescida circular cega, cega, cega, exceto pelo único olho de jóia que, por um fragmento de piscar, a cada célula no desfile progressivo é permitido aquele momento cara-a-cara de insight de chama solar no futuro-passado.
TIM, TIM, ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA? A torre de La Guardia repete solicitações de contato com um navio perdido além do abrangência do radar… onde?… sou o olho da grande cobra… uma dobra na pele da serpente, dando mergulhos trapezóides… registrando conteúdos da consciência… onde está você?… aqui… ALUCINAÇÕES INTERNAS.
Do 12º ao 14º minutos, o paciente sentou silenciosamente com olhos fechados. Ao ser contatado, falhou em responder e, após 30 segundos, foi contatado novamente. Então pressionou a tecla ALUCINAÇÃO EXTERNA.
A sessão continuou com interrupções de dois minutos até o 20º minuto no mesmo padrão: vôos atemporais pelos alucinantes campos de vibração de energia pura com repentinas contrações em direção à realidade para responder às questões do observador.O relatório da sessão preenchido no dia seguinte continha os seguintes comentários sobre esse método de sessão programada:Essa sessão sugeriu algumas soluções para o problema da comunicação durante experiências psicodélicas. A pessoa “lá em cima” está passando por experiências que rodopiam tão rápido e contêm conteúdo estrutural tão diferente de nossas formas macroscópicas familiares que ela, possivelmente, não consegue descrever onde está ou o que está experimentando. Considere a analogia do piloto de avião que perdeu a orientação e que fala com a torre de controle. O piloto está experimentando muitos eventos — pode descrever as formações de nuvens, flashes de luz, a cristalização de gelo na asa visível da janela — mas nada disso faz qualquer sentido para os técnicos da torre que tentam traçar o curso na linguagem tridimensional de navegação. A pessoa “lá em cima” não pode fornecer coordenadas. A equipe de controle no chão deve transmitir: “Cessna 64 Bravo, nosso radar mostra que você está a 15 milhas a sudoeste do Aeroporto Internacional. O brilho vermelho que você vê é o reflexo de Manhattan. Para entrar na rota para Boston você precisa mudar o curso em 57 graus e manter uma altitutde de 5500″.
Mas a linguagem da psicologia não é sofisticada o suficiente para fornecer tais parâmetros. Nem há compassos empíricos para determinar a direção.
O que podemos fazer, nesse ponto, é configurar “planos de vôos”. O paciente pode trabalhar, antes da sessão, as áreas de experiência com que quer interagir; e ele pode planejar a sequência temporal de sua viagem visionária. Ele não será capaz, durante o vôo, de dizer aos “controladores” onde está, mas eles podem contatá-lo e dizer como ele deve proceder. Assim, durante essa sessão, quando Ralph perguntou, ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA?, não pude responder. Tive que descer, diminuir o fluxo da experiência e então contar a ele onde acabei chegando.
Quando fizeram a pergunta de contato, eu poderia estar esbarrando em outras galáxias. Para poder responder, tive que parar minha jornada livre e errante, chegar perto da terra e dizer: “Estou sobre New Haven”.
Essa sessão foi um contínuo e serial venha-para-baixo. Repetidamente, tive que parar o fluxo para poder responder. Meu cortex estava recebendo centenas de impulsos por segundo, mas para responder às perguntas da torre de controle tive que reduzir a nave para uma marcha lenta: “Estou aqui”.
Essa sessão sugere que um modo mais eficiente de mapear experiências psicodélicas seria:
1 – Memorizar o teclado da máquina de escrever experimental, para que a comunicação com o controle de solo seja automática.
2 – Planejar a sessão de modo que os controladores não perguntem coisas irrespondíveis — “Onde realmente estou?” — mas digam ao paciente onde ir. Então a tarefa de comunicação do viajante seria indicar se ele está no curso, isto é, se ele está ou não seguindo as instruções de vôo transmitidas pelos controladores.
O controle de solo deveria enviar estímulos. A sugestionabilidade está totalmente aberta. A torre La Guardia direciona o vôo.
VOCÊ APRENDEU ALGO DE VALOR COM ESSA SESSÃO? SE SIM, POR FAVOR ESPECIFIQUE: “A sessão foi de grande valor. Estou forte e claramente motivado a desenvolver métodos de controle de solo e vôos planejados”.
APROXIMADAMENTE QUANTO DA SESSÃO (EM %) FOI GASTO EM CADA UM DESSES ASPECTOS?
1 – JOGOS INTERPESSOAIS (afeição pelos observadores) – 10%
2 – EXPLORAÇÃO OU DESCOBERTA DE SI, OU JOGOS DO EGO – 0%
3 – OUTROS JOGOS (SOCIAIS, INTELECTUAIS, RELIGIOSOS) – 70% (intelectuais, lutando com o problema da comunicação)
4 – TRANSCENDÊNCIA ALÉM DOS JOGOS – 20% (continuamente)
Referências
1 – Szara, S: Hallucinogenic effects and metablism of tryptamine derivatives in man. Fed. Proc. 20: 858-888, 1961.
2 – Szara, S: Correlation between metabolism and behavioral action os psychotropic tryptamine derivatives. Biochem. Pharmacol., 8: 32, 1961.
3 – Szara, S: Behavioral correlates of 6-hydroxylation and the effect of psychotropic tryptamine derivatives on brain serotonin levels. Comparative Neurochemistry, ed. D. Richter, pp. 432-452. Pergamon Press, Oxford, 1964.
4 – Szara, S. & Axelrod, J.: Hydroxylation and N-demethylation N,N-dimethyltryptamine. Experientia, 153: 216-220, 1959.
5 – Szara, S., Hearst E. & Putney F.: Metabolism and behavioral action of psychotropic tryptamine homologues. Int. J. Neuropharmacol., 1: 111-117, 1962.
6 – Schultes, R.E. Botanical Sources of the New World Narcotics. In Weil, G.M., Metzner, R. & Leary, T. (eds). The Psychedelic Reader, University Books, New Hyde Park, 1965.
7 – Leary, T. The Experiential Typewriter. Psychedelic Review, No. 7. 1965.
Dicionário rápido de termos e conceitos aplicados aos psicodélicos
AYAHUASCA:
Bebida Sacramental principalmente, fruto da infusão do cipó Banisteriopsis Caapi(iMAO) e a folha Psycotria Viridis(DMT). Outras espécies de cipó e folha também são utilizadas em algumas regiões. Também conhecida por Caapi, Nixi Honi Xuma,Oasca,Vegetal, Santo Daime, Kahi, Natema, Mihi, etc. Seu nome mais conhecido, AYAHUASCA é de origem quechua, que significa “Cipó dos Espíritos “. é chamada também de “O Vinho da Alma ” ou “Pequena Morte”. Utilizada por povos pré-colombianos, incas, e muito utilizada, por pelo menos, 72 tribos indígenas diferentes da Amazônia. É empregada extensamente no Peru, Equador, Colômbia, Bolívia, Brasil. Foi usada provavelmente na Amazônia por milênios, e está expandindo-se rapidamente na América sul e em outras partes do mundo com o crescimento de movimentos religiosos organizados tais como Santo Daime, União do Vegetal (UDV), Barquinha que a consagram como sacramento de seus rituais.
Ingerindo essa bebida mágica, os sentidos são expandidos, os processos mentais e as emoções tornam-se mais profundos. A jornada pode mover-se em muitas dimensões. A experiência pode em algum ponto revelar visões notáveis, insights, produzir catarses, produzindo experiências de renovação, de renascimento positivas. Efeito comum a outras substâncias como a psilocibina. A jornada com Ayahuasca, leva a exploração tanto deste mundo ordinário, como mundos paralelos, que estão além de nossa percepção corrente. Libera os limites normais de espaço-tempo.
Quimicamente, os efeitos da ayahuasca são consequência da ação da molécula DMT contida nas folhas, que se torna oralmente ativo em função dos inibidores de MAO contidos no cipó. Sem os iMAOs, o DMT ingerido oralmente seria metabolizado pelas enzimas, tornando-se inativo.
BUFOTENINA:
A bufotenina (N-dimetil-5-hidroxitriptamina) é um alcalóide com efeitos alucinogénos, derivado da serotonina, por dimetilação do seu grupo amina.
Pode ser encontrado na pele de determinados sapos do gênero Bufo, como oBufo marinus ou o Bufo Alvarius. Pode também ser encontrada em pelo menos duas espécies do gênero Anadenanthera, árvore que cresce no noroeste da Argentina, sul da Bolívia, Peru e provavelmente em outras regiões da América. É um potente enteógeno, que actua por via inalatória ou digestiva, sobre os receptores específicos do córtex cerebral.
A bufotenina, é uma substância controlada. Trata-se do mesmo produto que o veneno do sapo-cururu brasileiro contém.
CONSCIÊNCIA:
É uma qualidade da mente considerando abranger qualificações tais como subjetividade, auto-consciência, sentiência, sapiência, e a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente. É um assunto muito pesquisado na filosofia da mente, na psicologia, neurologia, e ciência cognitiva. Consciência é uma qualidade psíquica, isto é, que pertence à esfera da psique, por isso diz-se também que ela é um atributo do espírito, da mente, ou do pensamento. Ser consciente não é exatamente a mesma coisa que perceber-se no mundo, mas ser no mundo e do mundo, para isso, a intuição, a dedução e a indução tomam parte. Joseph Campbell, ao ser indagado por Bill Moyers no documentário “O poder do mito”, invocou um significado mais abrangente e profundo a este termo, expandindo o conceito de consciência para toda a dinâmica exitente na natureza, ao dar a seguinte perspectiva. Rupert Sheldrake elabora ainda mais sobre consciência e causalidade dando esta outra perspectiva.
DMT:
Conhecido quimicamente como N,N-dimethyltryptamine (C12H16N2), é talvez o mais poderoso enteógeno existente. Está presente naturalmente em diversas plantas e até em animais, inclusive em nós, humanos, onde é metabolizado pela enzima MAO. Entre as plantas fontes de DMT, temos: Acacia maidenii, phlebophylla. Anadenanthera peregrina, colubrina, excelsa, macrocarpa. Desmanthus illinoensis, Phalaris Grass , Psychotria viridis ,Mimosa hostilis (Jurema) ,Virola theiodora, calophylla, calophylloidea, surinamensis cuspidata, elongata, lorentensis, peruviana, rufula, sebifera (Epeña) , Arundo donax , Diplopterys cabrerana. Geralmente o DMT se encontra nas raízes e/ou folhas dessas plantas. Para o uso oral de DMT é necessário certa quantidade de iMAOs, ou seja, inibidores de monoamina oxidase. O DMT também pode ser fumado em forma de extrato, não necessitando de iMAOs, porém os relatos são de experiências diferentes e menos duradouras deste modo
ENTEÓGENO:
Ou enteogênico é um neologismo que vem do inglês: entheogen ou entheogenic, cunhado pela primeira vez por Gordon Wasson, foi proposto no ano de 1973 por investigadores como sendo o termo apropriado para descrever estados xamânicos ou de possessão extática induzidas pela ingestão de substâncias alteradoras da consciência. A palavra enteógeno significa literalmente: “manifestação interior do divino”, deriva de uma palavra grega obsoleta, que se refere à comunhão religiosa com drogas visionárias, ataques de profecia, e paixão erótica, e está relacionada com a palavra entusiasmo pela mesma raiz. Entretanto este termo foi proposto como uma forma elegante de resolver o problema de se encontrar um termo culturalmente apropriado e não pejorativo para descrever o uso destas substâncias.
EXPERIÊNCIA PSICODÉLICA:
É caracterizada pela percepção de aspectos mentais originalmente desconhecidos por parte do indivíduo em questão. Os estados psicodélicos fazem parte do espectro de experiências induzidas por substâncias psicodélicas e tem origem na própria mente. Neste mesmo campo de estados, encontram-se a percepção sensorial, a sinestesia e estados alterados de consciência. Nem todos que experimentam substâncias psicodélicas (como o LSD e a Psilocibina) têm uma experiência psicodélica e muitos alcançam estados alterados de consciência através de outros meios, como pela meditação, yoga, privação sensorial, etc.
GNOSE:
O termo gnose deriva do termo grego “gnosis” que significa “conhecimento”. É um fenômeno de conhecimento espiritual vivenciado pelos gnósticos (cristãos primitivos sectários do gnosticismo). Para os gnósticos, gnose é um conhecimento que faz parte da essência humana. É um conhecimento intuitivo, diferente do conhecimento científico ou racional. Gnose é o caminho que pode guiar à iluminação mística através do conhecimento pessoal que conduz à salvação. A existência de um Deus transcendente não é questionada pelos gnósticos, pelo contrário, veem no conhecimento divino um caminho para atingir um conhecimento mais profundo da realidade do mundo.
O gnosticismo cristão designa um conjunto de crenças de natureza filosófica e religiosa cujo princípio básico assenta na ideia de que há em cada homem uma essência imortal que transcende o próprio homem.
iMAO’s (inibidores de monoamina oxidase):
Os inibidores da MAO inibem a enzima MAO, que degrada as monoaminas e aumentam assim a concentração sináptica de noradrenalina, dopamina e serotonina, neurotransmissores importantes no cérebro. Aumentam assim a excitação de determinados grupos de neurónios. Quando ingeridos combinados com o DMT, produzem o efeito de inibir a metabolização do mesmo, gerando a “trip”.
INTUIÇÃO:
Em filosofia, é o nome dado ao processo de apreensão racional não-discursiva de um fenômeno ou de uma relação. Se a razão discursiva se caracteriza por um processo paulatino que culmina numa conclusão, a intuição é compreensão direta, imediata de algo.
JUREMA PRETA:
Jurema-preta (Mimosa hostilis.) é uma árvore pertencente à família Fabaceae, da ordem das Fabales típica da caatinga, ocorrendo praticamente em quase todo nordeste brasileiro. Bem adaptada para um clima seco possui folhas pequenas alternas, compostas e bipinadas com vários pares de pinas opostas. Possui espinhos e apresenta bastante resistência às secas com grande capacidade de rebrota durante todo o ano. Usada pelos índios da etnia xucurus-cariris em conjunto com a Jurema Branca (Mimosa verrucosa). É utiliza tradicionalmente para fins medicinais e religiosos. Sua casca é usada para fins medicinais e a casca de sua raiz é a parte da planta usada nas cerimônias religiosas pois possui maior parte dos alcalóides psicoativos. Muitas vezes é utilizada em conjunto com iMao’s, como um análogo a Ayahusca. Seu princípio ativo é a mesma triptamina presente no “vinho das almas”, o DMT, presente em toda a planta, mas em quantidade significativa apenas nas cascas das raízes.
KAMBÔ:
A rã (Phyllomedusa bicolor), é encontrada na Amazônia, estendendo-se desde norte da Bolívia, oeste e norte do Brasil, sudeste da Colombia, leste do Peru, sul e leste da Venezuela, e nas Guianas. Ocasionalmente é encontrada na vegetação ribeirinha do Cerrado. A secreção produzida pela rã Kambo inclui dermorfina e deltorfina que atuam nos receptores neuronais sensíveis aos opiácios, podendo levar a uma alteração no nível de consciência. Possui uma longa tradição de uso medicinal por populações indígenas. Sintomas mais graves porém, podem incluir forte diarréia, vômito, taquicardia, colapso sistêmico, podendo em casos raros, levar ao óbito adultos saudáveis.
LSA:
Em português, Amina do Acido Lisérgico, é uma triptamina natural, presente nas sementes de algumas plantas, conhecidas como Hawaiian Baby Woodroose e Morning Glory. O uso das sementes é feito oralmente e pruduz efeitos enteógenos similares aos do LSD 25. Todas as Morning Glory que contem LSA são da família Ipomea violacea, porém nem todas as espécies são psicoativas. Essas sementes foram muito utilizadas pelos Astecas, em rituais. As plantas conhecidas como Hawaiian Baby Woodroose são cientificamente identificadas como Argyreia nervosa. As sementes dessa planta possuem uma quantidade maior de LSA do que nas sementes de Morning Glory, prudizindo efeitos com uma dose menor. O LSA é um “parente” do LSD.
LSD:
Dietilamida do ácido lisérgico, que é uma das mais potentes substâncias alucinógenas conhecidas. O LSD, ou mais precisamente LSD25, é um composto cristalino, que ocorre naturalmente como resultado das reações metabólicas do fungo Claviceps purpurea, relacionado especialmente com os alcalóides do ergot podendo ser produzido a partir do processamento das substâncias do esporão do centeio. Foi sintetizado pela primeira vez em 1938 e, em 1943, o químico suíço Albert Hofmann descobriu os seus efeitos de uma forma acidental. O LSD foi inicialmente utilizado como recurso psicoterapêutico e para tratamento de alcoolismo e disfunções sexuais. Com o movimento psicodélico na Inglaterra na década de 1960, passou a tomar conta das noites londrinas e do cenário musical inglês. O consumo do LSD difundiu-se nos meios universitários norte-americanos, hippies, grupos de música pop, ambientes literários, etc.
MENTE DE GAIA:
Nosso planeta possui um tipo de inteligência organizada. Ele é muito diferente de nós. Ele teve cinco ou seis milhões de anos para criar uma mente que funciona lentamente, que é feita de oceanos, rios, florestas e gelo. Ele está se tornando consciente de nós, a medida em que nos tornamos conscientes dele. E porque a vida de um depende da vida do outro, temos um sentimento sobre essa imensa, estranha, sagaz, velha, neutra, esquisita coisa, e tentamos descobrir por que seus sonhos estão tão atormentados, e por que tudo está tão desequilibrado. A Terra tem uma forma de inteligência capaz de abrir um canal de comunicação com os seres humanos individualmente. A experiência psicodélica é muito mais do que psicoterapia instantânea ou regressão, mais do que um simples tipo de superafrodisíaco, mais do que uma ajuda para formular idéias ou descobrir conceitos artísticos. A experiência psicodélica é, na verdade, o corredor que nos leva a um continente perdido da raça humana, um continente do qual não temos mais nenhuma conexão. E a natureza deste continente perdido da mente humana é o próprio intelecto de Gaia. Se confiamos nas evidências da experiência psicodélica descobrimos que não somos a única forma de vida inteligente neste planeta; descobrimos que compartilhamos com a Terra um tipo de consciência. A mente de Gaia é o que chamamos a experiência psicodélica. É uma experiência sobre o fato de que o intelecto do planeta está vivo, e que sem esta experiência nós vagamos num deserto de ideologias furadas. Com esta experiência o compasso do Eu Superior existente em cada ser humano pode ser acertado. (Terence Mckenna)
MESCALINA:
A mescalina é uma substância alucinógeno extraída do cacto Peiote (Lophophora williamsii), é um pequeno cacto cuja região nativa estende-se do sudoeste dos Estados Unidos (incluindo os estados do Texas e Novo México) até o centro do México, e o cacto San Pedro (Trichocereus Panachoi) originário dos Andes. Ambos tem sido usado por séculos pelos efeitos psicodélicos experimentados quando ingeridos.. Sua formula química 3,4,5-trimetoxifeniletilamina. Era usada inicialmente em rituais de várias tribos pré-hispânicas. Ela foi isolada em 1896 e sintetizada em 1919. Seus efeitos alucinógenos na mente humana foram descritos em 1927. Por volta da década de 60 ela se torna popular, impulsionada pela obra de Carlos Castañeda. A obra “As portas da percepção” de Aldous Huxley também teve como base este alucinógeno.
PEIOTE:
Desde os tempos mais antigos, o peiote foi usado por povos indígenas, tais como os huichol do norte do México e os Navajos no Sudoeste dos Estados Unidos, como uma parte dos rituais religiosos tradicionais. No século XIX, a tradição começou a se espalhar como forma de reviver a espiritualidade nativa, e utiliza-se para combater o alcoolismo e outros males sociais. A Igreja Americana Nativa é uma entre diversas organizações religiosas que usam o peiote como parte de sua prática religiosa.
O uso da mescalina popularizou-se nos anos 1970 entre clientes dos trabalhos avançados do escritor Carlos Castañeda. Don Juan Matus, o pseudônimo para o instrutor de Castañeda no uso do peiote, usou o nome “Mescalito” para se referir a uma entidade que possa ser detectada por aquelas que usam o peiote como forma de introspecção e de compreender como viver a própria vida.
PSICONAUTA:
Um psiconauta (do Grego ψυχοναύτης, significa literalmente um navegador da mente/alma) é uma pessoa que usa os estados alterados de consciência, intencionalmente induzidos, para investigar a própria mente e, possivelmente, encontrar respostas para questões espirituais através de experiências diretas. Psiconautas são pluralistas e buscam explorar tradições místicas de religiões variadas, meditação, sonho lúcido, tecnologias como brainwave entrainment e privação sensorial, e frequentemente drogas psicodélicas e enteógenas.
O objetivo de tais práticas pode ser responder questões sobre como a mente trabalha, melhorar um estado psicológico, responder questões existenciais ou espirituais, ou melhorar o desempenho cognitivo do dia a dia.
PSICODÉLICO:
Composição das palavras gregas psiké (mente/alma) e deloun/delous (sensorial). Refere-se a uma manifestação da mente que produz efeitos profundos sobre a experiência consciente. Termo largamente utilizado na década de 1960 para descrever os efeitos de substancias enteógenas como o LSD, a mescalina (peiote), a psiclocibina (cogumelos mágicos), DMT, entre outros. Pode ser traduzida como “o que faz brilhar a alma” ou “o que manifesta a mente”
PSILOCIBINA:
Está presente em cogumelos usados na medicina tradicional asteca-nahuatl da Meso-América. Os Astecas o chamavam genericamente de Teonanacatl ou “carne dos deuses”, os mazatecos o denominam ntsi-si-tho onde ntsi é um diminutivo carinhoso e o restante da palavra poderia ser traduzido como “aquele que brota”. A elevada freqüência de provas arqueológicas, na forma de estatuetas de cogumelos, encontrados na Guatemala evidenciam seu uso da cultura Maia. Os fungos superiores dos gêneros “Psilocybe”, “Panaeolus” e “Conocybe” perfazem uma série de mais de 180 espécies, são utilizados há pelo menos 3000 anos na cultura dos povos do México Asteca-Náhuatl possuindo características comuns à utilização xamânica, ainda mais antiga, do cogumelo Amanita muscaria nas populações siberianas.
SÁLVIA DIVINORUM:
A Salvia divinorum, também chamada de “Ojos de la pastora” e “Herba de los dioses“, é a única entre milhares de espécies do gênero Salvia que apresenta efeitos psicoativos (embora suspeite-se que outras espécies possam conter essas propriedades). Originária do México na Sierra Mazateca, é considerada rara, o que torna difícil a sua obtenção. Dificilmente se reproduz por sementes, sendo multiplicada através de cortes enraizados (propagação vegetativa). Seu efeito é extremamente forte, principalmente quando usados extratos potencializados, que nada mais são do que folhas concentradas com a substância psicoativa. É extremamente recomendável que os futuros usuários venham a se informar sobre seus efeitos antes de se aventurarem. Não é uma erva a ser usada em festas, raves ou com multidões, pois exige uma certa discrição da parte do usuário para que ele se sinta à vontade. Não é uma droga recreativa e pode ser traumática quando usada nestas condições. Tem como pricípio ativo a Salvinorina A, que, no entanto, não se trata de alcalóide, mas de um diterpeno, com ação diferente da maioria das substâncias psicoativas. Pesquisas atuais sobre o efeito da salvinorina no organismo revelaram que esta, além de não ser uma substância que leva à dependência, apresenta propriedades antidepressiva, analgésica e ainda mostra-se promissora para o desenvolvimento de fármacos para o tratamento da esquizofrenia e dependencia química.
SAN PEDRO:
Também conhecido como Wachuma (Trichocereus Panachoi) é o nome de uma planta originária dos Andes, da família dos cactus. Wachuma significa, na língua Quechua “Ébrio e Consciente”. O nome São Pedro tem origem no catolicismo, quando fala-se de morte, em alusão à transcendência que a planta proporciona com o papel de São Pedro (do cristianismo).
O nome San Pedro, lhe é atribuído por dar ao iniciado a “chave” para entrar no Céu. Trata-se de um cacto que chega a atingir a mais de dois metros de altura, tendo a mescalina (assim como o Peiote) como princípio ativo. Tem sido utilizado há séculos pelos índios do Peru e do Equador. O uso atual do San Pedro concentra-se nas regiões costeiras do Peru e nos Andes do Peru e Bolívia, e tem recebido forte influência cristã. É aplicado para curar enfermidades, incluindo o alcoolismo e problemas mentais, para adivinhações, poções amorosas, para combater feitiçaria,purificação, etc. É conhecido também por huachuma, achuma, agua colla, cardo, huando hermoso, gigantón, San Pedrito, San Pedrillo.
SINCRONICIDADE:
É um conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung para definir acontecimentos que se relacionam não por relação causal e sim por relação de significado. Desta forma, é necessário que consideremos os eventos sincronísticos não a relacionado com o princípio da causalidade, mas por terem um significado igual ou semelhante. A sincronicidade é também referida por Jung de “coincidência significativa”.
Em termos simples, sincronicidade é a experiência de ocorrerem dois (ou mais) eventos que coincidem de uma maneira que seja significativa para a pessoa (ou pessoas) que vivenciaram essa “coincidência significativa”, onde esse significado sugere um padrão subjacente.
Acredita-se que a sincronicidade é reveladora e necessita de uma compreensão, essa compreensão poderia surgir espontaneamente, sem nenhum raciocínio lógico. A esse tipo de compreensão instantânea Jung dava o nome de “insight”.
TEONANACATL:
Em Nahuatl, o idioma dos astecas, teonanacatl pode ser traduzido como “carne dos deuses” ou “cogumelo sagrado”.
Há indicações de que o uso cerimonial de tais cogumelos cresceu rapidamente em tempos précolombianos muito distantes. Foram achadas pedras em forma de cogumelo em El Salvador, Guatemala, e nos distritos montanhosos contíguos do México. Estas são esculturas de pedra no formato de cogumelo, em cujo talo são esculpidas a face ou a forma de um deus ou um demônio do tipo animal. A maioria é de aproximadamente 30 cm de altura. Os exemplos mais antigos, de acordo com arqueólogos, datam de antes de 500 A.C.
TRIPTAMINAS:
As triptaminas são alcaloides indólicos estruturalmente relacionados ao aminoácido triptofano – constituem um grupo de compostos encontrados em plantas, fungos e animais. Algumas triptaminas, como a serotonina e a melatonina, atuam como neurotransmissores e participam da regulação fisiológica em animais. Outras, como a psilocibina, presente nos chamados “cogumelos mágicos” do gênero Psilocybe, possuem propriedades alucinógenas em humanos. A dimetiltriptamina (DMT), curiosamente, ao mesmo tempo em que atua como um neurotransmissor em animais apresenta propriedades alucinógenas quando administrada em grandes quantidades e em determinadas condições em humanos. A DMT está presente em todas as plantas, sendo mais abundante em gêneros comoAcacia, Mimosa, Anadenanthera, Chrysanthemum, Psy chotria, Desmanthus, Pilocarpus, Virola, Prestonia, Diplopterys, Arundo, Phalaris, dentre outros.
TROMBETA:
É o nome popular dado no Brasil às plantas das espécies Brugmansia suaveolens e Datura stramonium. São também conhecidas como Canudo, Lírio, Zabumba, Saia-Branca e Trombeteira. É possível encontrá-la em várias regiões do país. Na medicina, são usadas como fitoterápicos, para combater distúrbios intestinais. A trombeta é uma planta anticolinérgica conhecida pela sua flor, que é utilizada para elaborar chás alucinógenos. Os efeitos mentais produzido pelo uso do chá são delírios e alucinações. É considerado como droga de abuso, seu uso, é muito freqüente em baladas como “Boa noite, Cinderela”, pois a vítima após o uso, não se lembra do ocorrido no dia anterior. Entre os entusiastas da psicodelia há muita discussão sobre a trombeta ser ou não considerada um enteógeno, por causa de seus efeitos muito particulares e da ausência de lembrança da experiência. Há relatos também de prejuízos na visão durante alguns dias após o uso.
XAMÃ:
(pronuncia-se saman), ou shaman, é um termo proveniente do idioma tungue. Os tungues meridionais identificam no xamã os portadores de função religiosa que mantêm relação próxima com os espíritos e têm capacidade de entrar em êxtase (com enteógenos como ayahuasca e a psilocibina). A conceituação antropológica de xamã ainda não é consensual. Diz-se ser uma espécie de sacerdote, médico, curandeiro, conselheiro e advinho. Terence Mckenna falava que o Xamã é aquele que conhece o início e o fim de todas as coisas e consegue comunicar isso. É um líder espiritual com funções e poderes de natureza ritualística, que tem a capacidade de, por meio de êxtase provocado por substâncias enteógenas ou outras técnicas, entrar contato com o universo natural e com as forças da natureza.