O Apocalipse Psicotecnológico: Evolução Segundo a Psilocibina

A História humana é um período caótico de transição metamórfica. É um portal no qual entramos macacos e sairemos alguma outra coisa impossível de ser prevista.

O que hoje chamamos de “tecnologia” não é simplesmente uma escolha histórico-evolucionária e nem mesmo uma produção do homem, é simplesmente parte de um processo de transformação pelo qual estamos passando e nem sequer temos controle. Apenas pensamos que temos. Somos primatas numa montanha-russa cujas dimensões e direções estão fora do nosso campo de visão. Mas gostamos de brincar de sermos os maquinistas dessa coisa.

Com a tecnosfera em estado avançado de desenvolvimento, tendemos a pensar na tecnologia em termos de sistemas e máquinas avançadas, mas é importante lembrar que, o que quer que seja “isso”, é parte de nós no mínimo desde que construímos as primeiras ferramentas de pedra lascada para caçar, na pré-história. Dissolvendo por um momento nossas atuais concepções históricas e culturais, vemos que esse é o próprio processo que caracteriza nossa espécie; é o que permite nos vermos com orgulho como diferentes dos demais primatas. Não é algo que estamos “fazendo”, é algo que estamos passando, e que nos modifica em um ritmo cada vez mais acelerado.

Na medida em que avança, esse processo também acelera, pois cada avanço destranca um novo campo de potencialidade que antes não poderia ser vislumbrado. É um processo análogo ao da evolução biológica, já que a vida se desenvolve num regime de complexificação orgânica exponencial, como representado em símbolos mitológicos como a “árvore da vida”.

Num sobrevoo mais distanciado da nossa realidade cotidiana, vemos que não trata apenas de um processo análogo, mas de fato do mesmo processo. Não existe uma separação realmente rígida entre evolução tecnológica e evolução biológica, ambos podem ser vistos como estágios diferentes do mesmo movimento evolutivo. Aquilo que fez organismos unicelulares se agregarem para formar organismos complexos, iniciando a evolução da vida no planeta, agora invade o âmbito da evolução epigenética através da cultura e da tecnologia humanas, anunciando a emergência de uma nova dimensão evolucionária na Terra.

Mas isso é apenas a continuação avançada do que sempre ocorreu. À medida em que esse processo se complexifica em miríades de ramificações, cada novo salto carrega um potencial maior de transformação e acontece em um intervalo de tempo menor que o anterior, rumo a uma concrescência onde o desenvolvimento tecnológico, que é atual fio de navalha do processo, se dará de forma automática e instantânea. Nesse ponto, é como se a tecnologia assumisse as rédeas do seu próprio desenvolvimento – como o nascimento de uma nova criatura completamente imprevisível e fora dos domínios de controle humano. O mito futurista da máquina que adquire vida própria ganha aqui um fundamento lógico. E a explosão das atividades epigenéticas nos últimos 50 mil anos (que representam nada mais que o último segundo da nossa história evolutiva) é um sintoma de estamos nos aproximando disso.

O que geralmente não é levado em conta nesse tipo de história à la ficção científica é a verdadeira implicação disso na natureza da realidade humana. Considerando que a nossa percepção do tempo é um produto da exposição e processamento de informações pelo cérebro, isso significa que, nesse ponto de infinitas transformações instantâneas, em nossa percepção subjetiva, o que se passa no atual microssegundo de existência será, no próximo, tão antigo quanto a idade da pedra é hoje para nós, e o próximo será tão novo e transformador que nem sequer poderíamos imaginá-lo antes, assim como um primata em evolução nunca poderia imaginar a invenção da internet.

O passado não mais nos preparara para o futuro em nenhum nível, pois mesmo nosso futuro mais imediato é inteiramente desconhecido e imprevisível. Não há mais “farol” para iluminar o caminho à frente. Em outras palavras: Nossas faculdades cognitivas normais entram em colapso.

O tempo é a nossa rota de colisão e fusão com essa estranha entidade psicotecnológica que mantivemos contato ao longo da história. Não apenas nós estamos nos tornando máquinas, mas do ponto de vista das máquinas, elas estão se tornando nós. É um processo simbiótico que dará origem a uma criatura transhumana totalmente diferente de qualquer coisa possível de ser imaginada.

A Matriz Transcendental do Universo

O mergulho intelectual de Aldous Huxley na galáxia mitológica das grandes religiões do mundo resultou no livro “A Filosofia Perene”, de 1964. Baseado nos “relatos em primeira mão” dos ditos “homens santos” ou “profetas”, a obra expõe a ideia de uma doutrina comum e estável como base de toda diversidade desses sistemas religiosos que emergiram em diferentes tempos e lugares ao longo da história humana – a essa doutrina universal Huxley chamou de “Filosofia Perene”.

Na visão de Huxley, a Filosofia Perene representa o conhecimento deixado por alguns sábios e profetas que conheceram diretamente a natureza da “Realidade substancial ao mundo multiforme”, o “Princípio Absoluto de toda existência”. A experiência direta desses reconhecidos expoentes com a natureza da realidade apontaria persistentemente para um consenso acerca de uma base eterna e transcendental do ser. A ideia central da Filosofia Perene é, portanto, um retrato da sua característica histórica – ou seja, o fator perene em toda mitologia religiosa é a referência a um fator perene como origem de toda manifestação temporal. Em outras palavras, a ideia persistente de toda religiosidade humana é sobre uma dimensão una e eterna no centro de toda existência multiforme e transitória, sendo o conhecimento direto desse fato – claramente expresso na fórmula sânscrita “tat tvam asi” (Tu és Aquilo) – a finalidade de todo ser humano, para assim “encontrar Aquilo que realmente é”.

No ocidente, costumamos nos referir a algo semelhante através da palavra “alma”. Originada no latim anima, é equivalente da palavra grega psyché, que significa “sopro”, e foi tomada por Platão como metáfora para um princípio universal de movimento da vida. Mas, à luz dessas observações, a visão comum de “alma” utilizada no ocidente começa a parecer distorcida, já que normalmente é entendida como indicativo de individualidades eternas, isoladas e independentes “habitando” os seres orgânicos. Esse caráter universal, não-local e multiforme da alma, enfatizado pelos xamãs, sábios e profetas do passado, é deixado de lado em nossa cultura obcecada com a preservação da individualidade.

Mas, dentro da visão original da Filosofia Perene, a Alma – ou a Base do SER – é a matriz transcendental de todo Universo; uma unidade transdimensional multifacetada de onde tudo vem, para onde tudo vai e onde tudo está – antes, após e além da existência transitória no mundo ordinário -, e que contém em si própria todas as possibilidades da existência universal. Cada uma das miríades de manifestações do nosso universo pode ser vista como a amplificação – ou a “canalização” – de um aspecto muito específico dessa Alma universal, se aproximando daquilo que o biólogo Rupert Sheldrake, na sua tentativa de compreender a origem das formas no mundo natural, chamou de “campos morfogenéticos”.

O legado dos sábios e profetas nos diz que é possível para a consciência conhecer diretamente a natureza transcendental da Alma, mas esse conhecimento superior apenas pode ser expresso em metáforas – que no terreno religioso se transformam em mitos. A noção de um substrato eterno que dá suporte a toda manifestação temporal está presente em todos os tempos e lugares, e já foi expressa de muitas formas diferentes, variando de acordo com a cultura em que é modulada. Joseph Campbell disse que a origem e a finalidade central de qualquer mitologia é a experiência de integração entre esses dois aspectos paradoxais da existência. Huxley parece seguir a mesma lógica, afirmando que os verdadeiros ensinamentos espirituais representam relatos daqueles que “conheceram diretamente a Deus”. A idéia de “contato com Deus” é, precisamente, uma referência metafórica sobre a experiência direta de integração entre o reino da eternidade e a dimensão do tempo/espaço, ou entre o mundo perene e o mundo perecível.

“Ver o Universo num grão de areia, e o Céu em uma flor silvestre, ter o infinito nas palmas das mãos e a Eternidade em uma hora.” – William Blake.

“Para medir a alma temos que medi-la com Deus, pois a Base de Deus e a Base da Alma são unas e idênticas” – Eckhart

Referências:

– A Filosofia Perene – Aldoux Huxley

– Joseph Campbell – O Poder do Mito

– Rupert Sheldrake e o os “campos morfogenéticos”

Teoria sugere explicação para vida após a morte e a alma

Por Steven Bancarz | Traduzido pela equipe mundocogumelo

Recentemente publiquei um estudo científico que valida as experiências fora do corpo. Há uma grande variedade de dados existentes que seriam melhor explicados ao inferirmos a existência de uma alma não física. Um grande tabu que as pessoas eventualmente batem de fente, está agora tentando ser elucidado para entender como a alma poderia caber em nossa compreensão científica da consciência. Felizmente, agora temos um modelo teórico que explica a existência da alma e até mesmo da vida após a morte.

De acordo com o Dr. Stuart Hameroff, professor da Universidade do Arizona, uma experiência de quase-morte acontece quando a informação quântica que habita o sistema nervoso deixa o corpo e se dissipa no universo. Contrariando o que contam os materialistas da consciência, Dr. Hameroff oferece uma explicação alternativa de que consciência pode, talvez, ser pauta de ambas, mente científica racional e intuições pessoais.

A consciência reside, de acordo com Stuart, o físico britânico Sir Roger Penrose, (e também Robert Lanza (diretor científico da Advanced Cell Technology Company)) ; nos microtúbulos das células cerebrais, que são os sítios primários do processamento quântico. Após a morte, esta informação é liberada de seu corpo, o que significa que a sua consciência vai com ele. Eles argumentam que a nossa experiência da consciência é o resultado dos efeitos da gravidade quântica nesses microtúbulos, uma teoria que eles (Hameroff e Penrose) batizaram redução objetiva orquestrada (Orch-OR).

A consciência, ou, pelo menos, proto-consciência, é teorizada por eles como uma propriedade fundamental do universo, presente até mesmo no primeiro momento do universo durante o Big Bang. “Em um esquema desses, a experiência da proto consciencia é uma propriedade básica da realidade física, acessível por um processo quântico associado com a atividade cerebral.”

Nossas almas são de fato construídas a partir do próprio tecido do universo – e podem ter existido desde o início dos tempos. Nossos cérebros são apenas receptores e amplificadores para a proto-consciência que é intrínseca ao tecido do espaço-tempo. Então, há realmente uma parte de sua consciência que é imaterial e vai viver após a morte de seu corpo físico?

maxresdefaultDr Hameroff disse no documentário “Through the Wormhole” do ‘Science Channel’: “Vamos dizer que o coração para de bater, o sangue para de fluir, os microtúbulos perdem seu estado quântico. A informação quântica dentro dos microtúbulos não é destruída, ela não pode ser destruída, ele só se espalha e se dissipa com o universo em geral.

Se o paciente sofre uma ressuscitação, esta informação quântica pode voltar para os microtúbulos e o paciente diz: “Eu tive uma experiência de quase morte“.

Ele acrescenta: “Se o paciente não for ressuscitado e morrer, é possível que esta informação quântica possa existir fora do corpo, talvez indefinidamente, como uma alma.”

Esta conta de consciência quântica sugere uma explicação para coisas como experiências de quase morte, projeção astral, experiências fora do corpo, e até mesmo a reencarnação (que eu considero ser a mais forte evidência científica para a existência de uma alma) sem a necessidade de recorrer à ideologia religiosa. Em cima de evidências anedóticas, argumentos filosóficos, e evidência científica, agora também temos um quadro teórico que possa acomodar a existência da alma.

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A energia da sua consciência se afasta do seu veículo físico no momento da morte, da mesma forma que um pianista pode se levantar e caminhar para longe do piano. Para onde vai a informação quântica e o que ela experimenta uma vez que deixa o corpo na morte está aberto para especulação e maior investigação científica.

Aqui está uma entrevista incrível Deepak Chopra fez com Stuart Hameroff sobre sua teoria da consciência quântica:
(em inglês)

Fontes:

SpiritScienceAndMetaphysics

Redução Objetiva Orquestrada (Orch-OR)

PsychologyToday

A Serpente Cósmica e o DNA

A OBRA DE JEREMY NARBY

trecho retirado do livro Ayahuasca: alucinógenos, consciência e o espírito da natureza
Ralph Metzner

Vivendo na Suíça, o antropólogo e conservacionista canadense Jeremy Narby deu recentemente uma contribuição revolucionária para a integração entre a compreensão científica da ayahuasca e o modo xamanístico deste conhecimento (Narby, 1998). Na obra The Cosmic Serpent, o autor narra como suas experiências com os xamãs da tribo Ashininca da floresta amazonica peruana levaram-no a reexaminar os fundamentos da biologia molecular, até chegar a uma hipótese que reconcilia os ensinamentos dos ayahuasqueiros com as descobertas da ciência moderna. Narby estava ciente do conflito irreconciliável entre a visão de mundo xamanística, segundo a qual pode-se obter um saber seguro e aplicável para a cura a partir das visões induzidas pela ingestão de plantas alucinógenas, e a concepção científica, para a qual as visões da ayahuasca não passam de simples alucinações causadas pelas toxinas das plantas. Não se dando por satisfeito, ele iniciou uma jornada visando uma reconciliação destas duas perspectivas aparentemente contraditórias, e decidiu levar a sério os ayahuasqueiros, movido pela convicção de que seria possível estabelecer um conhecimento medicinal válido a partir das plantas mestres. Esta decisão ganhou força por suas próprias experiências com a ayahuasca. Ele praticou o método do empirismo radical, uma vez que sua própria experiência tornou-se a base de uma busca pelo conhecimento; até porque ele nunca excluiu a experiência, temendo que ela pudesse não se encaixar nas teorias prevalecentes.

De acordo com as descobertas pessoais de Narby, e segundo ainda as narrativas aqui expostas, as visões das serpentes, algumas vezes gigantescas e outras luminosas, são extremamente comuns nas experiências com a ayahuasca.

cosmOs ayahuasqueiros disseram a Narby que o espírito da serpente é a mãe deste preparado, além de ser a fonte do saber e da força curativa que dele advém. E por isso, são encontradas, ao longo dos trabalhos artísticos dos índios, as muitas imagens de serpentes que dançam ou se movem, em duplas ou múltiplas. Quando Narby começou a ler a volumosa literatura da biologia molecular, no intuito de encontrar algumas pistas que esclarecessem como o cérebro é afetado durante os estados alterados da consciência, ele concluiu que a molécula do DNA, na sua forma de uma dupla voluta enroscada, talvez pudesse ser a contraparte molecular para as alucinatórias serpentes da ayahuasca.

O uso das imagens das serpentes não se dá apenas entre os xamãs amazônicos, mas por quase todo o mundo. Elas são utilizadas na Ásia, no Mediterrâneo e na Austrália para efetivar a representação da força básica da vida, sobretudo porque a sabedoria da serpente é tida como a fonte do conhecimento. A imagem da serpente é vista frequentemente como um elo de ligação entre o céu e a terra; sob esta mesma visão, encontra-se também a imagem da cobra associada com diferentes ideias de ascensão. Seguindo o texto de Narby, ele nos diz que “na literatura da biologia molecular, a forma do DNA não se restringe a ser descrita através de uma analogia com duas serpentes gêmeas, uma vez que ela, é comparada mais precisamente com uma corda ou um cipó, ou mesmo com uma escada.” (p. 93).
Sabe-se que o DNA é o código molecular usado para toda a vida deste planeta, quer seja animal, vegetal, ou humana. Ele está presente em cada uma das células de todos os corpos, ou seja, em todas as plantas ou em qualquer animal, fungo, ou ser humano. A partir daí, Narby propôs a hipótese de que, por meio das visões, talvez os xamãs estejam tentando conduzir suas próprias consciências à dimensão do molecular, de maneira que possam ler a informação de como combinar os inibidores-MAO com os hormônios cerebrais, de como reconhecer as correspondências entre as plantas curativas e as doenças, e por aí afora.

Juan Carlos Tamanchi
Juan Carlos Tamanchi

Sua descrição biológica da molécula do DNA expõe com brilhantismo muitos aspectos que correspondem aos insights dos xamãs; mesmo porque, como eles mesmos dizem, a origem de tais insights está nas suas visões das serpentes e na sua mitologia das serpentes cósmicas.

Se alguém esticasse o DNA contido no núcleo de uma célula humana, seriam obtidos somente dez átomos ao largo de 1.80m de fio…

O núcleo de uma célula é, portanto, equivalente em volume a dois milionésimos de uma cabeça de alfinete. E assim 1.80m de do DNA acondiciona com rapidez todo o seu volume através do gesto de enroscar-se incessantemente sobre si mesmo, harmonizando assim o comprimento extremo e a pequenez infinitesimal, exatamente como procedem as serpentes míticas. Segundo as estimativas, o ser humano comum é composto de muitos bilhões de células. O que significa dizer que há mais 201 bilhões de DNA no corpo humano…

O DNA de uma pessoa é tão longo que poderia rodear a Terra cinco milhões de vezes; isto é análogo ao que se diz a respeito das serpentes que rodeiam o mundo! (pp. 87~88).

Afora isso, o código molecular do DNA tem se mantido inalterado desde o início da vida deste planeta, pois somente a arrumação das “letras” deste código é que vai mudando conforme a evolução das diferentes espécies. “Tal como as serpentes míticas, o DNA se apresenta como o mestre da transformação. Todas as informações que existem nas células do DNA são feitas do ar que respiramos, da paisagem que vemos, e da vasta diversidade de seres vivos dos quais fazemos parte.” (p. 92). Narby chega a dizer que a serpente dupla do DNA é que constitui de fato a fonte do conhecimento, quer seja adquirido por meio da ayahuasca ou de outras técnicas que levem a estados alterados da consciência, tais como a batucada, o jejum, o isolamento, ou os sonhos. E ainda diz que a tão propalada luminosidade que ocorre nas visões xamanísticas deveria ser posta em relação ao fato de que a molécula do DNA emite biofótons, justamente porque a luz molecular só emerge com a redução da iluminação externa. Enfim, mesmo que a hipótese de Narby não ofereça nenhum dado novo, ou provas substanciais, ela possui implicações revolucionárias que reconciliam os pontos de vista diametralmente opostos da ciência e do xamanismo.

Pineal, Mística e Ciência

A Glândula Pineal para os antigos era nossa antena, nosso dispositivo natural para a conexão com outras dimensões, e é até hoje considerado como o terceiro olho, aquele que vê .
Monges tibetanos falam desse 3º olho, que havia sido o centro da clarividência e da intuição,e que no decorrer dos tempos se foi atrofiando, pelo qual era necessária sua recuperação.
A existência da epífise ou pineal se conhece faz mais de 2000 anos. Galeno no sec. II escreveu que aos anatômicos gregos lhe havia chamado a atenção à situação particular dessa glândula, concluindo que servia de válvula para regular o fluxo de pensamento, que se creia armazenado nos ventrículos laterais do cérebro.
Descartes, no sec XVII, expressou sua crença que a pineal era a sede da alma racional. Para ele, as sensações percebidas pelos olhos chegariam a pineal, de que partiriam até os músculos, e que produziriam as respostas adequadas. Os estudos modernos demonstram neste, como em outros aspectos de seu pensamento a grande intuição do filosofo.
Chico Xavier, em 1943, no livro Missionário da Luz, “analisa a epífise como glândula da vida espiritual do homem. Segregando energias psíquicas, a glândula pineal conserva ascendência em todo o sistema endócrino, a mente, através de princípios eletromagnéticos do campo visual, que a ciência comum começa a identificar.” (fonte)

Abaixo segue o texto Escrito pelo Prof. Dr. Luiz Machado, Ph. D. e compartilhado da Cidade do Cérebro

A Pineal como Terceiro Olho

“Por conta de sua forma semelhante a uma pinha, do latim pinea (pronuncia-se /pínea/), esta glândula foi assim denominada, sendo também chamada de epífise (do grego epiphysis , de epi “sobre” e physis , “crescimento”, “formado na extremidade”, pois é um corpúsculo oval situado no cérebro, por cima e atrás das camadas ópticas).

As glândulas hipófise e pineal são místicas por excelência. “Místicas” no sentido de misteriosas, pois a ciência ainda conhece pouco sobre elas, principalmente a pineal, e também por serem cultuadas por algumas ordens, seitas, filosofias etc.

A biologia tem muitas dúvidas sobre essas glândulas, mas existem estudiosos que afirmam pertencerem elas a uma classe de órgãos que permanecem estacionários e latentes.

Há quem sustente que, em outras épocas, quando o ser humano estava em contato com os mundos internos , esses órgãos eram os meios de ingresso a eles e tornarão a servir a esse propósito em seu estágio ulterior.

A pineal é o órgão físico da visão etérea e astral, como muitos afirmam. Ela está situada no lado occipital, por cima e atrás da região da visão comum.

Na Índia, é o terceiro olho, o olho de Shiva (o terceiro membro da trindade do hinduísmo: Brahma, Vishnu, Shiva ou Siva).

Ao longo de estudos, procurou-se considerar a glândula pineal como simples remanescente de um olho ancestral, isso porque no lagarto ocelado – que tem ocelos (olhinhos) – existe uma vesícula fechada, de parede cristalina anterior e uma retina (pequena rede de nervos), formado por bastonetes (tipos de células em forma de bastão que fazem parte do sistema celular dos olhos) cercado de pigmentos em conexão com o nervo epifisário da pineal. Essa vesícula está situada em cima da cabeça do animal, embaixo da pele desprovida de pigmento e dentro de um orifício craniano. Esse olho ímpar apresenta-se mais ou menos degenerado nos demais lagartos. Não nos esqueçamos que a Teoria da Evolução nos considera um réptil que foi desenvolvendo cérebros sobrepostos (Paul MacLean, A Teoria do Cérebro Trino).

René Descartes (1596-1650) (em latim Cartesius, daí o adjetivo “cartesiano”), filósofo, místico e fundador da moderna matemática, considerava a pineal como a sede da alma racional . O termo “racional” deriva-se do latim ratio (pronuncia-se /rácio/), palavra que significa “comparação”. Para este filósofo, a pineal era a glândula do saber, do conhecer.

Segundo ainda esse filósofo francês, a glândula pineal “transforma a informação recebida em humores que passam por tubos para influenciar as atividades do corpo”.

É preciso notar que durante muito tempo predominou na medicina na Antiguidade, a doutrina do humorismo . Pensava-se que a disposição da pessoa dependia da natureza dos humores orgânicos (sangue, linfa, pituíta e bílis); assim, por exemplo, da secreção da bílis dependia o bom ou mau humor. Por exemplo, “atrabiliário”, que significa “melancólico”, “colérico”, “violento” vem de atra bilis , “bílis negra”, humor que se supunha ser secretado pelos coléricos. “Melancolia” vem do grego melagcholia , “negra bílis”, pelo latim melancholia .

O sistema de Hipócrates, o mais ilustre médico da Antiguidade (aproximadamente 460-377 a.C.), baseia-se na alteração dos humores, que também era o sistema de Galeno (131 – cerca de 201), outro famoso médico da Grécia antiga, considerado por muitos o pai da neurofisiologia. O célebre provérbio: “Hipócrates diz sim, mas Galeno diz não”, não significa antagonismo entre o sistema dos dois médicos. é uma maneira jocosa a respeito das contradições das opiniões médicas quando elas ocorrem.

Do que foi exposto, deduzimos que a pineal representa um portal que permite ao Eu Sápico exercer influência bastante definida sobre o Eu Físico.

À luz dos conhecimentos científicos atuais, a pineal é freqüentemente chamada de “reguladora das reguladoras”, governando muitas atividades do hipotálamo e da hipófise.

A pineal é composta de células perceptoras cujo grau de intensidade ainda não sabemos. A luz, recebida por intermédio dos olhos e do corpo todo, influencia a função da pineal e, por isso, regula o ciclo vigília /sono.

Hoje em dia, fala-se e usa-se muito o hormônio melatonina para regular o ciclo vigília /sono. Este hormônio da pineal é produzido durante a noite para o sono e cessa com o sol, para despertar, falando-se de maneira simples.

O excesso de melatonina parece gerar depressão e aí estaria a grande incidência de depressão nos países em que o sol aparece com pouca freqüência.

Direta ou indiretamente, a pineal funciona, então, como um olho para a luz e não será ela “os olhos da mente”?


Abaixo segue o vídeo, “Rick Strassman, DMT e a Glândula Pineal”, de extrema importância para o entendimento desta glândula.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=aHowQ0fRE8E]

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Interessante ainda acrescentar que dia 14.06 – 20h acontecerá a palestra “GLÂNDULA PINEAL – união do corpo e da alma, novos conceitos e avanço nas pesquisas” – com Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, palestrante no vídeo abaixo que nos foi sugerido por um caro leitor, através deste link

“A Glândula Pineal integra o relógio cerebral e é responsável por todos os ritmos no organismo, como por exemplo os ritmos da reprodução hormonal, do funcionamento do sistema nervoso autônomo, dos ciclos da vida até o envelhecimento, do sono; além dos ritmos reprodutivos, os da fome e ainda do estado de humor. Ela é um sensor magnético convertendo ondas do espectro eletromagnético em estímulo neuroquímico. Esta glândula parece ser o melhor laboratório de estudos da física sobre a relação espírito-matéria, com suas propriedades de captação de ondas do espectro eletromagnético que aparentemente influenciam funções de sensopercepção mediúnica e telepática.

CONVERSA com Dr. Sérgio Felipe de Oliveira é um psiquiatra brasileiro, mestre em Ciências pela USP e destacado pesquisador na área da Psicobiofísica. Pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas, em seu estudo sobre pineal chegou à seguinte conclusão: “A pineal é um sensor capaz de ‘ver’ o mundo espiritual e de coligá-lo com a estrutura biológica. É uma glândula, portanto, que ‘vive’ o dualismo espírito-matéria. O cérebro capta o magnetismo externo através da glândula pineal”.

[youtube=http://youtu.be/9hwsfO9lgH4]

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Experiência Cósmica com LSD

Stanislav Grof, psiquiatra tcheco, nascido em 1 de Julho de 1931, na cidade de Praga, desenvolveu nos EUA pesquisas sobre os estados alterados de consciência (EAC), através de experiências utilizando o ácido lisérgico, LSD, como meio de atingir tais estados. Segundo ele isso propiciava que os pacientes atingissem outros estados conscienciais tidos como anormais, mas que eram importantes para a recuperação da saúde mental. Quando o paciente voltava da “viagem” era capaz de ter outras compreensões (insights) que ajudavam na sua recuperação. Mais tarde desenvolveu uma técnica chamada Respiração Holotrópica, através da qual é possível atingir os mesmos estados de consciência através da respiração sem o uso do LSD como gatilho.

Neste Vídeo, Grof descreve a experiência que marcou sua vida e inspirou toda a sua carreira profissional.

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DMT, Aliens e a Evolução Humana

Jornalista, escritor e investigador arqueológico Graham Hancock nasceu em Edimburgo, Escócia em 2 de agosto de 1950.  Seus livros incluem Lords of Poverty, Em Busca da Arca da Aliança, As Digitais dos Deuses, Keeper of Genesis (lançado nos EUA como Message of the Sphinx), O Mistério de Marte, Heaven’s Mirror (com a esposa Samantha Faiia), Underworld: The Mysterious Origin of Civilization e Talisman: Sacred Cities, Sacred Faith (com Robert Bauval).

Ele também roteirizou e apresentou os documentários do Channel 4 Underworld: Flooded Kingdoms of the Ice Age e Quest for the Lost Civilization (exibido em três partes pelo Discovery Channel, baseado em seu livro “Heaven’s Mirror”).

Seu livro mais recente, Supernatural: Meetings With The Ancient Teachers of Mankind, foi lançado no Reino Unido em outubro de 2005 e nos EUA em 2006. Nele, Hancock examina a arte rupestre paleolítica à luz do modelo neuropsicológico de David Lewis-Williams, explorando sua relação com o desenvolvimento da mente do homem moderno.

As principais áreas de interesse de Hancock são mistérios antigos, monumentos de pedra ou megálitos, mitos antigos e dados astrológicos/astronômicos do passado. Um dos principais temas discorridos em vários de seus livros é a possível conexão global com uma “cultura-mãe”, da qual, crê ele, todas as antigas civilizações históricas descenderiam. – .  (Fonte)

neste vídeo ele fala sobre a experiência do DMT, os estados alterados de consciência em geral e sua relação com o fenômeno da abdução alienígena e a evolução humana.

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A Experiência de Contato com OVNI’s como Crise de Transformação

Por Keith Thompson
Extraído do livro “Emergência Espiritual – Crise e Transformação Espiritual”, de Stanislav Grof e Christina Grof

Eles não me tocaram, mas estenderam as mãos como se me dessem assistência. Parece haver uma plataforma lá… e estou pisando nela. A luz está acima. É brilhante, bem brilhante – e ela tem aquelas faixas de luz saindo dela. Parece que ela está me levando para cima!… A luz está ficando cada vez mais brilhante… Estou envolta em luz… uma brilhante luz branca. Estou parada ali. A luz não parece ferir. Não é quente. É apenas luz branca, em torno de mim e em mim..

Betty Andreasson Descrevendo o Seu Contato Com Ocupantes de um OVNI em 1967 em The Andreasson Affair

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Embora a existência de vida inteligente fora do planeta continue sendo uma questão aberta, são extremamente comuns, vividas e convincentes as experiências de comunicação e de encontros com seres extraterrestres. Elas são parte dos mais interessantes e curiosos fenômenos do domínio transpessoal. Fica cada vez mais claro que elas merecem um estudo sério, reflitam ou não a realidade objetiva.

As experiências que envolvem contatos com a inteligência extraterrestre compartilham muitas das características das experiências místicas e podem levar a uma confusão e a crises psico-espirituais muito semelhantes. O curso mais interessante e promissor da pesquisa dos OVNIs afasta-se do acalorado debate acerca da factualidade da visita de seres de outros universos à terra e se dirige para o estudo da experiência com OVNIs como um fascinante fenômeno em si mesmo.

Keith Thompson é um ardoroso estudioso das características psicológicas desses contatos. Graduado em literatura inglesa na Universidade Estadual de Ohio, é um escritor altamente sensível e perceptivo que explora novos desenvolvimentos da filosofia, da psicologia, da psicoterapia, da ciência e da espiritualidade modernas. Seus artigos são publicados regularmente em Common Boudary (de que ele é editor-colaborador), Esquire, New Age, Utne Reader, San Francisco Chronicle e Yoga Journal. Ele também tem uma coluna semanal na Oakland Tribune, onde trata de temas relativos à “alma da ciência moderna e à ciência emergente da alma”.

Residente em Mill Valley, Califórnia, Thompson tem acompanhado com grande interesse os desenvolvimentos no campo da psicologia transpessoal, uma disciplina que surgiu na área da Baía de São Francisco. Ele se interessa em particular pela sua enriquecedora relação com os avanços revolucionários da ciência. Seu estreito vínculo com o Instituto Esalen, de Big Sur, Califórnia, permitiu-lhe adquirir conhecimento de uma variedade de técnicas psicoterapêuticas.

Tendo feito treinamento avançado em hipnose e terapia Gestalt, Thompson usa essas duas abordagens para estudar o significado mais profundo dos estados de consciência incomuns, área que há muitos anos constitui um dos seus apaixonados interesses. As experiências de contato com OVNIs e com a inteligência extraterrestre parecem-lhe especialmente desafiadoras e curiosas. Thompson está escrevendo um livro, Aliens, Angels, and Archetypes, que explora a dimensão mítica do fenômeno dos OVNIs.

Embora a contribuição de Thompson trate dos problemas específicos das pessoas que tiveram experiências relacionadas com os OVNIs, os temas por ele desenvolvidos no tocante a esses episódios, entendidos como formas de iniciação, têm algo a dizer a todos quantos foram atingidos por crises espirituais.

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Dentre todas as perguntas complicadas feitas por pessoas que tiveram contato direto com um OVNI, a mais espantosa – e mais comum – talvez seja: “Por que eu?” Essa questão está presente em todo o conhecido relato feito por Whitley Streiber de sua experiência de rapto, Communion (1987), bem como na crônica sobre o fenômeno do rapto por OVNIs feita por Budd Hopkins, Intruders (1987).

Desejo tratar precisamente dessa sensação de ter sido escolhido por alguma razão desconhecida para realizar algum propósito ou missão desconhecidos. Por meio de longas conversas com pessoas que decidiram – muito corajosamente, me parece – lidar de perto com a sua experiência, descobri que a questão costuma apresentar-se como “Fui aliciado ou iniciado? Se fui, por que ou por quem? Com que objetivo?” Mais tarde, procurei dados antropológicos a fim de obter uma melhor compreensão dos estágios, das estruturas e da dinâmica das cerimônias de iniciação, e de ver se faz sentido falar de paralelos entre as iniciações da escala humana e as experiências humanas com o Outro desconhecido chamado OVNIs.

Trato aqui daquilo que as pessoas relatam acerca da sua experiência, e não daquilo que é objetivamente, em última análise, verdadeiro – sendo esta última questão uma outra discussão, que me levaria a seguir uma direção bem distinta. Minha abordagem é fenomenológica: tomo como dados primários aquilo que a pessoa que recebe o OVNI relata como sua experiência. Deixarei aos outros as inferências sobre a natureza da realidade que serve de base e que causa “meras aparências”. Esse debate é povoado invariavelmente por pressupostos sobre o que pode ou não ser real, enquanto minha abordagem deixa esses pressupostos entre parênteses. Isso permite a exploração das Experiências com OVNIs (ou EOVNIs) e outros fenômenos extraordinários sem ser perturbado por tendências metafísicas e crenças exclusivistas no tocante aos dados importantes.

A intensidade da crise existencial ou transpessoal que pode ser precipitada por uma EOVNI não parece depender do fato de o receptor sentir ou não que interagiu com um objeto voador não identificado tradicional ou, em vez disso, teve uma; experiência “mediúnica”, “imaginária”, “arquetípica”, “de proximidade da morte”, “de saída do corpo” ou “xamânica”. A autenticidade experiencial de uma EOVNI parece depender em larga medida do grau até o qual o receptor passa pela interação com seres, presenças ou objetos de outro mundo como experiência significativamente substancial e fundamentalmente real – e até “mais do que real”. Se essas condições forem atendidas, também a profundidade de uma crise transpessoal relacionada com os OVNIs não parece depender do tipo de hipótese feita pelo receptor com relação aos “seres do OVNI” – cidadãos do “espaço exterior”, de “universos paralelos”, do “inconsciente coletivo”, do “céu”, do “inferno” ou de outros lugares numinosos. Tomo por ponto de partida, na exploração da natureza iniciatória das EOVNIs, os padrões desses relatos.

O professor Arnold Van Gennep definiu os ritos de passagem como “ritos que acompanham toda mudança de lugar, de estado, de posição social e de idade”. O nosso movimento do ventre ao túmulo é pontuado por algumas transições críticas marcada por rituais apropriados que têm como alvo tornar clara a significação do indivíduo e do grupo diante de todos os membros da comunidade. Essas passagens ritualizadas incluem o nascimento, a puberdade, o casamento e a confirmação religiosa, incluindo a introdução em escolas de mistério de vários tipos. Adiciono a essa relação uma nova categoria de experiência: o contato OVNI/ ser humano, uma interação que tem muitas semelhanças estruturais e funcionais com outras ocasiões iniciatórias.

Diante do que considero o paradoxo central da interação ser humano/alienígena –  isto é, a contínua irredutibilidade do fenômeno dos OVNIs através de meios e modelos convencionais, aliada à permanente manifestação do fenômeno em formas cada vez mais estranhas -, é difícil evitar a impressão de que a própria tensão que constitui esse paradoxo tem tido um impacto iniciatório. Enquanto o debate entre os verdadeiros crentes de ambos os lados da questão dos OVNIs segue na sua previsível banalidade, nossos sistemas de crença pessoais e coletivos têm sofrido mudanças imperceptíveis e, ao mesmo tempo, significativas.

Sem que nos demos conta, a estrutura mitológica humana tem passado por uma modificação fundamental. As pesquisas de opinião e outros termômetros das tendências coletivas revelam que hoje há um número nunca antes alcançado de pessoa que têm por certo que não estamos sozinhos no universo. A própria relutância do fenômeno dos OVNIs em desaparecer ou em chegar consideravelmente mais próximo de nós de uma vez tem nos condicionado – ou, se se desejar, iniciado – a considerar extraordinárias possibilidades acerca daquilo que somos no íntimo e sobre quais devem ser as condições definitórias do jogo que denominamos realidade.

Van Gennep demonstrou que todos os ritos de transição se desdobram em três fases: separação, marginalidade e agregação ou consumação. A fase um, a separação, envolve o afastamento das pessoas e grupos de uma posição social fixa anterior ou conjunto prévio de condições culturais, uma saída ou abandono de um estado precedente. Por exemplo, o jovem que participa de uma cerimônia iniciatória masculina numa cultura tradicional é forçado a deixar a sua auto-identificação de “menino” na porta do local de iniciação.
A fase dois, a marginalidade, implica a entrada numa condição de vida à margem, que não está em um nem em outro lugar, que não está propriamente aqui nem ali. A marginalidade (também chamada liminaridade, do latim limen, “limiar”) se caracteriza por uma profunda sensação de ambigüidade sobre quem a pessoa de fato é. O jovem deixou de ser um menino mas ainda não se tornou, por meio de um ritual especialmente concebido, um homem.

A agregação, por sua vez, é o momento de voltar a conviver com os outros, mas de uma nova maneira, saindo das margens para entrar num novo estado de ser. Trata-se da consumação ou culminação do processo. Agora, o ser humano masculino obteve o direito de ser chamado de homem e de se considerar tal.

Joseph Campbell, que é de longe o mais criativo e perceptivo mapeador dos domínios mitológicos, escreveu muito sobre as muitas formas que a fase de separação pode assumir. Em sua obra clássica sobre o mito universal da jornada do herói, The Hero with a Thousand Faces [O Herói de Mil Faces], ele escreve: “Um herói vindo do mundo cotidiano se aventura numa região de prodígios sobrenaturais.” Que descrição magnificamente sucinta dos primeiros momentos do contato com um OVNI – embora, com efeito, os OVNIs não sejam mencionados uma única vez no livro de Campbell. Ele prossegue, denominando essa primeira fase da jornada O Chamado da Aventura; ela significa que

o destino convocou o herói e transferiu-lhe o centro de gravidade do seio da sociedade para uma região desconhecida. Essa fatídica região dos tesouros e dos perigos pode ser representada sob várias formas: como uma terra distante, uma floresta, um reino subterrâneo, a parte inferior das ondas, a parte superior do céu, uma ilha secreta, o topo de uma elevada montanha ou um profundo estado onírico. Mas sempre é um lugar habitado por seres estranhamente fluidos e poliformos, tormentos inimagináveis, façanhas sobre-humanas e delícias impossíveis. O herói pode agir por vontade própria na realização da aventura, como faz Teseu ao chegar à cidade do seu pai, Atenas, e ouvir a horrível história do Minotauro; da mesma forma, pode ser levado ou enviado para longe por algum agente benigno ou maligno, como ocorreu com Ulisses, levado Mediterrâneo afora pelos ventos de um deus enfurecido, Posêidon. A aventura pode começar como um mero erro, como ocorreu com a aventura da princesa do conto de fadas; igualmente, o herói pode estar simplesmente caminhando a esmo quando algum fenômeno passageiro atrai seu olhar errante e o leva para longe dos caminhos comuns do homem. Os exemplos podem ser multiplicados, ad infinitum, vindos de todos os cantos do planeta. [P. 66 da edição em português]

Tomei a liberdade de fazer essa longa citação por que estou cativado pelos muitos paralelos entre o chamado da aventura do herói, na mitologia, e os inúmeros exemplos das aventuras com OVNIs de pessoas convocadas “do seio da sociedade para uma região desconhecida”. Muitos contatados se abrem, curiosos, e até excitados, ao encontro com alienígenas dos OVNIs; os raptados são levados contra a sua vontade. Conheci muitas pessoas que estiveram “em contato” com agentes dos OVNIs por meio do que eles consideram ser uma espécie de erro ou apenas em conseqüência de seguirem com a sua vida, cuidando de suas próprias coisas.

De qualquer maneira, o herói (ou contatado ou raptado) é afastado ou separado do coletivo, da corrente principal, de uma forma forte, transformadora da vida. Isso nos leva à resposta muito freqüente ao Chamado da Aventura: a recusa. Como a separação do coletivo costuma ser terrível, o herói muitas vezes diz, tão-somente: “Diabos, eu não vou” – ou mais precisamente, “Eu não fui”.

Em termos da experiência com OVNIs, o contato ou rapto conclui (freqüentemente para preservar sua própria sanidade) que “Não podia ser real… Não aconteceu comigo… Foi apenas um sonho… Se eu guardar a lembrança para mim, talvez tudo se dissipe…” Recusar o chamado, escreve Campbell, representa a esperança do herói de que o seu atual sistema de ideais, virtudes, objetivos e vantagens possa ser consolidado e garantido por meio do ato de negação. Mas não está prevista essa sorte: “Somos perseguidos, dia e noite, pelo divino ser que é a imagem do eu vivo presente no labirinto fechado da nossa própria psique desorientada. Os caminhos para as portas se perderam; não há saída.”

As grandes religiões e tradições filosóficas do mundo falam de várias maneiras desse momento crucial, que podemos descrever como “o combate com o anjo pessoal”. O ser ou seres que guardam o limiar não admitem desvios; o caminho para além é a passagem pelo limiar. O Outro numinoso costuma exigir, em todos os seus disfarces, algo que parece inaceitável ao iniciado; mas a recusa parece impossível quando se está nessa zona nova e desconhecida. O terror muitas vezes toma conta da pessoa, como o diz Whitley Streiber ao descrever o seu rapto por um OVNI:

“Whitley” deixou de existir. Restou um corpo num estado de terror tamanho que tomou conta de mim como uma espessa e sufocante cortina, tornando a paralisia uma condição que parecia próxima da morte. Não creio que a minha humanidade comum tenha sobrevivido à transição.

Quão vívida é essa descrição da separação forçada do mais profundo sentido de identidade por um agente alienígena – e do ser deixado nas ambíguas margens do ser! A experiência de Streiber é comum a muitos – mas não a todos – os raptados por OVNIs.

Seria justificável sugerir que o que está em jogo nos contatos alienígena/ser humano é um certo conceito de humanidade? Parece mais do que provável que nossa ambivalência – que permeia toda a cultura – com relação à aceitação do fenômeno dos OVNIs como uma coisa real reflete a sensação coletiva de que a aposta é de fato alta. Encarar o rosto do Outro requer que enfrentemos a dolorosa admissão de Rainer Maria Rilke: “Não há nenhum lugar além de você mesmo: Você precisa mudar a sua vida.”

Como cultura – talvez como espécie -, somos fatalmente atraídos por esse misterioso desconhecido, somos chamados por ele – e, no entanto, o medo de Streiber não é só seu. O reconhecimento de que existe há muito tempo aquilo que Streiber chama de “fenômeno do visitante” nos convida a aceitar, em suas palavras, “que podemos muito bem ser alguma coisa distinta daquilo que acreditamos ser, que podemos estar na terra por razões que podemos não saber e cuja compreensão será um imenso desafio”.

abductionPara quem não foi levado e molestado por alienígenas, a recusa do chamado pode ser muito sutil. Muitas pessoas cujo contato com o Outro é telepático, ou caracterizado por fenômenos visionários com motivos mitológicos, podem ver-se, no início, resistindo à experiência simplesmente desligando-se dela. Quem de nós deseja desistir do sentido seguro e familiar de identidade? Todos somos assombrados pela presença da própria Sombra, aquela coisa dentro de nós e ao nosso redor que se recusa a ser facilmente colonizada pelo avaro ponto focal chamado ego. Contudo, uma vez vivida uma certa parcela da vida, fica mais difícil ignorar o constante apelo de reconhecimento que o Outro nos faz, visando retornar a um lugar central e ativo em nossa vida.

Os antigos sabiam a importância de manter um diálogo íntimo com o nosso duplo ou daemon, chamado genius em latim, “anjo da guarda” pelo cristianismo, “homem reflexo” pelos escoceses, vardogr pelos noruegueses, Doppelgänger pelos alemães. A idéia era: ao cuidar do desenvolvimento do nosso “gênio”, esse ser espiritual nos daria ajuda por toda a vida mortal humana e na próxima. Os seres humanos que não cuidavam do seu Outro pessoal tornavam-se uma entidade maléfica e ameaçadora chamada de “larva”, dada a pairar sobre aterrorizadas pessoas adormecidas e a levar as pessoas à loucura.

Portanto, o herói transcende a recusa do chamado porque, em última análise, é impossível não aceitá-lo. Preferimos trabalhar com os desdobramentos das experiências com OVNIs, trilhar o caminho espiritual ou aceitar aquilo que se apresenta como um chamado pessoal quando percebemos que aceitar o chamado é menos doloroso do que as temidas ramificações do abandono do coletivo, da massa, ou de qualquer coisa que se deseje descrever como o modo de vida anterior. Paracelso disse que todos têm dois corpos, um composto pelos elementos e, o outro, pelas estrelas. Aceitar o Chamado da Aventura – seja na forma da “assimilação” do nosso contato com OVNIs ou na experiência de proximidade da morte ou de algum outro confronto com a realidade não comum – eqüivale a decidir habitar o nosso Corpo Estelar.

Isso nos leva à segunda – e, de certo modo, ainda mais difícil – fase de iniciação: viver no ambíguo “não-propriamente-aqui-não-propriamente-lá”. Desejo concentrar a minha atenção nessa transição entre estados de ser, pois creio tratar-se de um terreno fertilíssimo e de enorme potencial, mesmo que a maioria de nós tenda a viver a abertura e a receptividade como vazio e perda. Em seu ensaio clássico: “Betwixt and Between: The Liminal Period of Rites of Passage”, Victor Turner afirma que a principal função da transição entre estados é tornar o sujeito invisível. Para propósitos cerimoniais, o neófito – isto é, aquele que passa pela iniciação – é considerado estruturalmente “morto”, ou seja, não classificável à maneira antiga nem à nova, invisível: não visto.

No livro em que examina os detalhes de vários raptos praticados por OVNIs, Intruders, Budd Hopkins inclui uma enorme passagem de uma carta que recebeu de uma jovem de Minnesota que relatou ter sido raptada por alienígenas quando criança e depois de adulta. Como essa mulher descreve bem a crise existencial que os raptados sofrem, cito um grande trecho de sua correspondência:

“Para a maioria de nós, tudo começava com as lembranças. Embora alguns se recordassem de parte da experiência ou de toda a experiência, era mais comum que tivéssemos de fazer um esforço por encontrar essas lembranças – escondidas numa espécie de amnésia. Fazíamos isso, com freqüência, por meio da hipnose, que era, para muitos de nós, uma nova experiência. E que sentimentos confusos advinham quando lidávamos com essas lembranças! Quase sem exceção, ficávamos terrificados quando revivíamos esses eventos  traumáticos, com uma sensação de sermos esmagados sob o seu impacto. Mas havia também descrença. Isso não pode ser real. Devo estar sonhando. Isso não está acontecendo. E assim começava a vacilação e a dúvida com relação a nós mesmos, os períodos alternados de ceticismo e de crença, em nossa tentativa de incorporar nossas lembranças no nosso sentido do que somos e do que sabemos. Muitas vezes sentíamos que estávamos loucos; continuamos a nossa busca da explicação “real”. Tentávamos entender o que havia de errado conosco para que essas imagens subissem à superfície. Por que a minha mente faz isso comigo?”

Essa mulher mostra que entende muito bem os sentimentos associados com o fato de se tornar “invisível” em virtude de relatar uma experiência que se desvia das possibilidades admitidas pela “realidade consensual”:

“E havia também o problema de falar com os outros sobre as nossas experiências. Muitos dos nossos amigos eram, naturalmente, céticos, e, embora nos magoasse o fato de não sermos compreendidos, o que poderíamos esperar? Também nós tínhamos os nossos momentos de ceticismo, ou talvez tivéssemos sido céticos no passado. As respostas que obtínhamos dos outros refletiam as nossas. As pessoas com quem falávamos acreditavam em nós… e duvidavam de nós, ficavam confusas e, como tínhamos feito, procuravam outras explicações. Muitas eram rígidas em sua negação, não admitindo a mínima possibilidade desses raptos e, fossem quais fossem as suas palavras, a mensagem pressuposta era clara: sei melhor do que você o que é e o que não é real. Sentíamo-nos num círculo vicioso que parecia imposto a nós, raptados, por uma sociedade cética:

Por que você acredita que foi raptado?
Porque você é louco.
Como sabemos que você é louco?
Porque você acredita que foi raptado.

… Aprendemos do modo mais difícil, por meio de tentativa e erro, em quem podíamos ou não confiar. Aprendemos a sutil diferença entre segredo e privacidade. Mas muitos de nós tiveram uma forte sensação de isolamento. Sentíamos a dor de sermos diferentes, como se apenas estivéssemos “passando” por normais.Alguns chegaram à difícil compreensão de que não havia ninguém com quem pudéssemos ser quem de fato éramos, o que era uma posição muito solitária para se ficar.”

Em resumo: muitos contatados e raptados por OVNIs, ao lado dos que tiveram uma experiência direta, imediata e inegável do Mysterium, do sagrado, sabem o que é ser invisível para aqueles que não receberam o mesmo chamado – ou que ainda recusam esse chamado. Essa ambivalência é especialmente pronunciada para quem voltou do limiar da morte. Tendo sido declarados clinicamente mortos e tendo flutuado na direção de um túnel povoado por seres de luz que acenavam, apenas para voltarem ao mundo dos vivos com um sentido inexplicavelmente radiante de ser e de objetivos, muitos iniciados em experiências de proximidade da morte contam que deixaram de se sentir humanos exatamente da mesma forma anterior à experiência. Essa ambivalência aumenta quando a família, os amigos e várias figuras de autoridade desdenham a experiência.

Ao falar informalmente com iniciados por OVNIs sobre essas idéias, percebi que eles em geral reconhecem os sentimentos do mundo marginal. É como se o neófito vislumbrasse algo tão profundo que certos “fatos da vida” anteriores à experiência deixam de ser os únicos verdadeiros. É comum que a pessoa sinta frustração porque os outros não vêem que as regras do jogo mudaram, ou que as velhas regras sempre foram uma de muitas maneiras de organização da percepção, em vez de imutáveis “leis da natureza”.

Na outra extremidade da frustração do viver à margem está a percepção disponível para quantos desejem entrar nela: o não ser capaz de se classificar também significa estar livre da necessidade de se apegar a uma única identidade. Viver nem aqui nem lá, no reino da incerteza e do não-saber, pode possibilitar novas percepções, novas maneiras de “construir a realidade”. Nesse sentido, a experiência com OVNIs serve de agente de desconstrução cultural, incitando-nos a destruir idéias fáceis acerca do hiato supostamente interminável entre a mente e a matéria, entre o espírito e o corpo, entre o masculino e o feminino, entre a natureza e a cultura e outras dicotomias familiares.

Viver na ambivalência da marginalidade pode ser considerado em termos de paraíso perdido ou de uma revigorante libertação da necessidade de manter um sentido unidimensional particular de paraíso intacto. Podemos lamentar a morte das fronteiras claras, do branco e do negro, do certo e do errado, do nós e do eles, assim como podemos entrar voluntariamente nos reinos marginais, liminares e indistintos do ser, descobrindo cara a cara os nossos demônios e anjos desconhecidos – encarando-os, se o desejarmos, com a mesma ferocidade com que eles nos encaram.

Em suma, o jogo pode ser considerado como uma escolha entre penetrar no paradoxo e nele viver, ou, como o diz o meu amigo Don Michael, “pousar com os dois pés apoiados firmemente no ar”. Muito pode ser dito sobre o lugar em que extremidades indistinguíveis apresentam não somente um desafio de restauração da ordem perdida como uma oportunidade de brincar na vasta perversidade polimorfa da Matriz Criadora; o espaço em que reside o Trapaceiro, meio Madre Teresa, meio Pee-wee Herman; em que, como no conto “João de Ferro”, dos irmãos Grimm, onde se descobre que o Selvagem seco e peludo descoberto no fundo do poço também tem uma ligação especial com o ouro. Caracteristicamente, sentimos um vazio ao percebermos quão irremediavelmente a nossa herança judeu-cristã negou o vínculo entre a selvageria sensual e afirmadora da vida e a experiência do sagrado.

Há também uma dimensão coletiva da marginalidade, como o torna claro a contínua percepção fronteiriça dos OVNIs a partir do final dos anos 40: gostemos ou não, nossa cultura, a cultura humana, também vive à margem, nas extremidades, no meio. Heidegger disse que vivemos numa época intermediária entre a morte dos velhos deuses e o nascimento dos novos, e Jung acreditava que os OVNIs eram um símbolo fundamental das “mudanças da constelação de dominantes psíquicos, dos arquétipos – ou ‘deuses’, como costumavam ser chamados -, que produzem, ou acompanham, transformações duradouras da psique coletiva”.

Mas, como vamos fundamentar, concretizar essas idéias? Começando pelo ponto em que estamos – aqui, aumentando a “rachadura do ovo cósmico”. Por definição, as transições são fluidas, entidades não definíveis com facilidade em termos estáticos ou estruturais; e é isso que acontece com as iniciações via OVNIs. Muitos que passaram por elas sentem ter deixado de existir. Na verdade, eles deixaram de existir no nível com que estavam familiarizados e com o qual se sentiam à vontade. Também a nossa cultura saiu do colo, do conforto e da segurança do dualismo newtoniano-cartesiano. “Nenhuma criatura pode alcançar um nível de natureza superior sem cessar de existir”, disse o filósofo Coomaraswami.

As pessoas que tiveram um contato imediato me dizem que foram forçadas a chegar a um acordo com a idéia de que o mundo não é tão simples quanto parecia enquanto elas cresciam com papai e mamãe por perto. Elas tiveram de perceber que o mundo está cheio de panoramas e abismos. De que modo a experiência com OVNIs faz isso? Não tenho certeza, mas suspeito que tem alguma relação com a revelação do segredo, a piada cósmica, com o fato de ter “visto tanto” que voltar a um mundo de pensamento atomístico newtoniano ingênuo deixou de ser uma opção honesta.

É possível que os OVNIs, a experiência de proximidade da morte, as aparições da Virgem Maria e outros modernos contatos visionários xamânicos são tanto um estímulo para o nosso próximo nível de consciência quanto o são as premências sexuais em rápido desabrochar para a passagem do adolescente da infância para a idade adulta. Ambos os tipos de processo representam a morte de um estado de ser ingênuo precedente. O privilégio de ser jovem – uma pessoa jovem, um planeta jovem, uma alma jovem – é acreditar que podemos ficar eternamente inocentes. Mas uma vez que o limiar do domínio marginal – nem aqui nem lá – do ser, seja cruzado, só podemos evitar morrer para as identidades precedentes seguindo o caminho do falso ser, a vida de negação.

Parece perfeitamente apropriado, a meu ver, o fato de os OVNIs terem confundido a ciência, os acadêmicos e as comissões governamentais de investigação. A própria perturbação dos nossos sinais cognitivos deve ser considerada, se optarmos por isso, uma maravilhosa oportunidade para parar de montar Humpty Dumpty outra vez começando, em vez disso, a eliminar o ruído dos circuitos de comunicação, as distorções advindas da consciência individualizada, limitada, orientada para o ego, que se toma erroneamente pelo todo. Permitir que o ovo cósmico permaneça quebrado liberta-nos para que comecemos a fugir do lixo da cultura profana, de um modo de vida baseado na negação de um relacionamento simbiótico com Gaia, a Terra, cujo contínuo fluxo de comunicação fingimos não perceber, graças ao estado alterado de consciência especial que chamamos de inteligência racional.

Acredito que não há muito a ganhar em esperarmos por uma “solução” abstrata para o “problema” dos OVNIs, como se uma solução dessas pudesse algum dia ser separada ou separável do nosso próprio esforço de saber. Afastamo-nos muito daquilo a que tínhamos direito ao nascer – a presença sentida do mysterium tremendum, o mistério do ser que nos faz estremecer – e somente nós mesmos podemos dar uma reviravolta nisso. Terence McKenna o formula da seguinte maneira: “A gnose é o conhecimento privilegiado transmitido ao corajoso.” Poderemos reunir a coragem para receber o verdadeiro conhecimento?

Joseph Campbell refere-se a quem sai da realidade comum e entra em contato com prodígios sobrenaturais – e que depois retorna a essa realidade – como o Senhor de Dois Mundos. Livre para cruzar em todas as direções as divisões entre os domínios, do tempo para a intemporalidade, das superfícies para as profundezas causais e destas àquelas, o Senhor conhece ambas as realidades e não se instala exclusivamente em nenhuma delas.

Diz Campbell:

O discípulo foi abençoado pela visão que transcende o alcance do destino humano normal, equivalente a um vislumbre da natureza essencial do cosmos. Não o seu destino pessoal, mas o da humanidade, da vida como um todo, do átomo de todos os sistemas solares, foi posto diante dos seus olhos; e em termos passíveis de apreensão humana, isto é, em termos de uma visão antropomórfica: o Homem Cósmico. [Página 229 da edição brasileira.]

Observe-se a insistência de Campbell no fato de que a visão transformadora é revelada “em termos passíveis de compreensão humana”. Entre outras coisas, isso nos acautela da enorme inflação do ego que costuma acompanhar a experiência com OVNIs, especialmente quando está envolvida a canalização. Precisamente porque a visão de OVNIs parece absurda para a consciência comum, não-iniciada, a experiência (e a pessoa que por ela passou) vai ser ridicularizada pelo coletivo. Com sentimentos de rejeição como o insulto acrescentado à injúria da experiência com OVNIs, que abala a realidade, o iniciado pelos OVNIs é tentado a compensar a sensação de ser inferior ao comum fingindo ser fora do comum, por vezes assumindo o papel de profeta cósmico que vislumbrou o novo horizonte cósmico.

Todos os que tiverem tido experiências extraordinárias devem estar alertas para essa tendência. Devemos ter em mente que ser invisível para a cultura como um todo pode ser tanto uma bênção como uma maldição – que ser desconsiderado, ignorado e desvalorizado pode ser o impulso para que se tome uma outra rota: o caminho da calma, a trilha suave, firme, que fica nos bastidores. Trata-se do caminho invisível de aquisição do conhecimento, a trilha lenta da alquimia. O trabalho da alma requer tempo. Isso significa que devemos intencionalmente reservar tempo, especialmente em nossa cultura secular extrovertida, cada vez mais hiperativa. A pergunta que devemos formular, envolvidos como estamos na exploração de fenômenos extraordinários desvalorizados pela consciência corriqueira, refere-se a saber se o ônus de ser desconsiderado por não-iniciados é de fato maior do que o de tentar convencê-los de que tivemos uma experiência que, ao menos por implicação, nos faz um tanto “especiais”.

Prefiro o primeiro caminho, por causa do sentido de libertação da necessidade de saber o que é a realidade que ele dá. Porque, na medida em que é uma “sacudidela” nos velhos hábitos, uma experiência com OVNIs também oferece uma oportunidade de florescimento fora dos domínios aceitos de classificação da nossa cultura, fazer perguntas sobre coisas que antes tínhamos por certo e alcançar a perspectiva de uma transição ainda mais ampla do que a nossa transição pessoal: a passagem para um novo modo de ser para a humanidade.

Posso dizer que tive a sorte de encontrar uns quantos iniciados por OVNIs que, tal como aqueles que penetraram no mistério do sagrado por outros caminhos, se tornaram Senhores de Dois Mundos precisamente porque transcenderam a ilusão de que a sua experiência, positiva ou negativa, lhes pertence ou ocorreu com eles pessoalmente. Whitley Streiber, que na verdade tomou a sua experiência como algo pessoal, admite, num ponto de Communion, que, quando perguntou aos seus captores do OVNI “Por que eu?”, eles responderam: “Porque a luz estava acesa -nós vimos a luz.”
Numa atitude que constitui um golpe para o seu ego, Whitley é informado de que eles foram até onde ele estava não para ungi-lo como avatar da Nova Era, nem sequer para levá-lo a escrever um relato pessoal campeão de vendas sobre as suas experiências, mas porque ele tinha deixado a luz acesa na sala de estar! Mais uma vez, uma maravilhosa oportunidade de aproveitar ao máximo a própria invisibilidade, de permitir que o contato com o OVNI libere novos níveis de identificação do ego, limitações pessoais e temores.

“Suas ambições pessoais estão dissolvidas”, escreve Campbell, “razão pela qual ele já não tenta viver, mas simplesmente relaxa diante de tudo o que venha a se passar nele; ele se torna, por assim dizer, um anônimo.”
Como a pessoa vai viver “anonimamente” no mundo, com o segredo do conhecimento extraordinário tão ao seu alcance? Ouçamos as palavras do erudito religioso Shankaracharya sobre isso:

Por vezes um tolo, por vezes um sábio, por vezes coberto de régio esplendor; por vezes vagando, por vezes imóvel como um píton, por vezes exibindo uma expressão benigna; por vezes honrado, por vezes insultado, por vezes desconhecido – assim vive o homem realizado, eternamente feliz com a bênção suprema. Assim como um ator é sempre um homem, ponha o traje do seu papel ou o retire, assim também é o perfeito conhecedor do Imperecível sempre Imperecível, e nada mais.

***
Adaptado de uma apresentação feita em julho de 1987 na Oitava Conferência de Rocky Mountain sobre Investigações de OVNIs, realizada em Laramie, Wyoming. Essa conferência anual é conhecida informalmente, nos círculos de ufólogos, como “a Conferência dos Contactados”. O promotor, o dr. Leo Sprinkle, procura oferecer um “lugar seguro” onde pessoas que passaram pelo que consideram ser uma “experiência com OVNIs” e investigadores desses eventos possam reunir-se para explorar as dimensões experienciais de um fenômeno perturbador.

Mente, Memória e Arquétipo: Ressonância Mórfica e o Inconsciente Coletivo – Rupert Sheldrake

Por: Rupert Sheldrake (Psycological Perspectives, 1997).

interessante ensaio de Rupert Sheldrake sobre a teoria dos campos morfogenéticos.

Rupert Sheldrake é um Biólogo teórico cujo livro, “Uma Nova Ciência da Vida: a hipótese da causação formativa (Tarcher, 1981)”, evocou uma tempestade de controvérsias. A revista Nature o descreveu como “o mais forte candidato à fogueira”, enquanto que a revista New Scietist chamou de “uma importante investigação científica a respeito da natureza da realidade biológica e física”. Devido ao fato do seu trabalho conter implicações importantes para os conceitos junguianos a respeito dos arquétipos e do inconsciente coletivo, nós convidamos Sheldrake para apresentar a sua visão em uma série de quatro ensaios que aparecerão nos assuntos sucessivos da revista Psycological Perspectives. Tais ensaios serão atualizações da sua apresentação sobre “ressonância mórfica e o inconsciente coletivo”, ocorrida em maio de 1986 no Instituto de Relações Humanas, em Sta. Bárbara, Califórnia.

 


 

Neste ensaio eu estarei discutindo o conceito da memória coletiva como base para a compreensão do conceito de Jung do inconsciente coletivo. O inconsciente coletivo somente faz sentido no contexto com alguma noção de memória coletiva. Isto, portanto nos leva até um exame bastante amplo da natureza e do princípio da memória – não apenas em seres humanos e nem apenas no reino animal; nem mesmo apenas no setor da vida – mas no universo como um todo. Tal perspectiva é parte de uma mudança muito profunda de paradigma que está ocorrendo na ciência: a mudança de uma visão mundo mecanicista para uma visão evolutiva e holística.

A visão cartesiana mecanicista é de muitas maneiras, ainda o atual paradigma predominante, especialmente na biologia e na medicina. Noventa por cento dos biólogos se orgulhariam de declarar que são biólogos mecanicistas. A despeito de a Física ter se movido para além da visão mecanicista, muito do nosso pensar a respeito da realidade física ainda é moldado por ela – mesmo naqueles de nós que gostariam de acreditar tiramo-nos movido para além dessa configuração de pensamento. Portanto eu examinarei brevemente algumas das suposições fundamentais da visão de mundo mecanicista a fim de demonstrar como esta ainda se encontra profundamente enraizada no modo de pensar da maioria de nós.

AS RAÍZES DO MECANICISMO NO MISTICISMO NEOPLATÔNICO

È interessante notar que as raízes da visão mecanicistas de mundo do século XVII possam ser encontradas na religião mística antiga. De fato, a visão mecanicista foi (era) uma síntese de duas tradições de pensamento, ambas as quais estavam baseadas no ‘insight’ místico de que a realidade é permanente e imutável. Uma destas tradições provém de Pitágoras e de Platão, que eram ambos fascinados pelas verdades eternas da Matemática. No século XVII isto evoluiu para uma visão de que a natureza era governada por idéias permanentes, proporções, princípios, ou leis que existiam dentro da mente de Deus. Esta visão de mundo tornou-se dominante e, através de filósofos e cientistas tais como Copérnico, Kepler, Descartes, Galileu e Newton, foi incorporada aos fundamentos da física moderna.

Basicamente eles expressavam a idéia de que os números, proporções, equações e princípios matemáticos são mais reais do que o mundo físico que nós vivenciamos. Mesmo hoje muitos matemáticos se inclinam em direção a este tipo de misticismo pitagórico ou platônico. Eles pensam que o mundo físico é como um resultado de princípios matemáticos, como um reflexo das eternas leis numéricas matemáticas. Esta visão é estranha para o modo de pensar da maioria de nós, para os quais o mundo físico é o mundo “real” e as equações matemáticas são consideradas “feitas pelo homem” e possivelmente descrições imprecisas deste mundo “real”. Apesar disto esta visão mística evoluiu para o ponto de vista científico predominante atual de que a natureza é governada por leis eternas, imutáveis, permanentes onipresentes. As leis da natureza estão em todos os lugares e sempre presentes.

AS RAÍZES DO MATERIALISMO NO ATOMISMO

A segunda visão da imutabilidade que emergiu no século XVII nasceu da tradição atomística do materialismo, que se dedicou a um assunto que já estava profundamente enraizado no pensamento grego: especificamente o conceito de uma realidade imutável. Parmênides, um filósofo pré-socrático, tinha a idéia de que somente o ser é (only being is); não ser não é (not being is not). Se algo é, este não pode mudar porque, a fim de mudar, teria que combinar ser e não ser (existir e não existir), o que era impossível. Portanto ele concluiu que a realidade é uma esfera imutável e homogênea. Infelizmente para Parmênides, o mundo que nós vivenciamos não é homogêneo, imutável ou esférico. A fim de preservar a sua teoria, ele afirmou que o mundo que nós vivenciamos é uma ilusão. Esta não era uma solução muito satisfatória e os pensadores da época tentaram encontrar um modo de resolver este dilema.

A solução dos atomistas era a de reivindicar que a realidade consiste de um grande número de esferas (ou partículas) homogêneas e imutáveis: os átomos. Ao invés de uma grande esfera imutável, existe grande número de esferas imutáveis se movendo no vácuo. Os aspectos mutáveis do mundo poderiam então ser explicados em termos dos movimentos, das permutas e das combinações dos átomos. Este é o “insight” original do materialismo: que a realidade consistia de matéria atômica eterna e do movimento da matéria.

A combinação desta tradição materialista com a tradição platônica finalmente fez nascer à filosofia mecanicista que emergiu no século XXVII e que produziu um dualismo cósmico que tem estado conosco desde então. De um lado temos átomos eternos de matéria inerte e do outro lado temos leis imutáveis, não materiais, que se parecem mais com idéias do que com coisas físicas e materiais. Nesta espécie de dualismo ambos os lados são imutáveis – uma crença que não sugere de pronto a idéia de um universo evolutivo. De fato, os físicos têm estado em oposição a aceitar a idéia de evolução precisamente porque ela se encaixa de maneira pobre com a noção da matéria eterna e das leis imutáveis. Na física moderna a matéria tem sido vista como uma forma de energia; a energia eterna substituiu a matéria eterna, mas, além disso, pouco tem mudado.

A EMERGÊNCIA DO PARADIGMA EVOLUTIVO

No entanto, o paradigma evolutivo tem se firmado nos dois últimos séculos. No século XVIII, desenvolvimentos sociais, artísticos e científicos foram visto em geral como um processo evolutivo e progressivo. A revolução industrial tornou esse ponto de vista uma realidade econômica em parte da Europa e América. No início de século XIX, havia um número de filosofias evolutivas e, por volta de 1840, a teoria evolutiva social do marxismo tinha sido publicada. Neste contexto de teoria evolutiva social e cultural, Darwin apresentou a sua teoria da evolução biológica, que estendia a visão evolutiva à vida como um todo. Mesmo assim esta visão não atingia todo o universo: Darwin e os neodarwinistas ironicamente tentaram encaixar a evolução da vida na terra em um universo estático, e até pior, um universo que na verdade se pensava estar “se acabando” termodinamicamente, em direção à “morte pelo calor”.

Tudo mudou em 1966 quando a física finalmente aceitou uma cosmologia evolutiva na qual o universo não seria mais eterno. Ao invés disso, o universo se originava a partir de um “Big Bang” há cerca de 15 bilhões de anos atrás e havia evoluído desde então. Assim nós temos agora uma física evolutiva. Mas devemos nos lembrar que esta tem apenas cerca de 20 anos de idade e que as implicações e conseqüências da descoberta do big bang ainda não estão completamente entendidas.

A física está apenas começando a adaptar-se a esta nova visão, a qual, como temos visto, desafia a mais fundamental suposição da física desde a era de Pitágoras: a idéia das leis eternas. Na medida em que nós temos um universo que evolui, somos confrontados com a questão: e a respeito das leis eternas da natureza? A onde estavam as leis da natureza antes do big bang? Se as leis da natureza existiam antes do big bang, então fica claro que estas são de caráter não-físico; de fato, são metafísicas. Isto nos empurra para fora da suposição metafísica que se encontra sob a idéia das leis eternas, por conseqüência.

LEIS DA NATUREZA, OU APENAS HÁBITOS?

Existe, no entanto uma alternativa. A alternativa e a de que o universo se parece mais com um organismo do que com uma máquina. O big bang chama-nos de volta às estórias místicas sobre “chocar o ovo cósmico”: ele cresce, e medida que cresce se submete a uma diferenciação interna que se parece mais com um embrião cósmico gigante do que com a enorme máquina eterna da teoria mecanicista. Com esta alternativa orgânica, pode fazer sentido pensar a respeito das leis da natureza mais como hábitos; talvez as leis da natureza sejam hábitos do universo, e talvez o universo tenha uma memória embutida.

Há cerca de cem anos, o filósofo americano C. S. Pierce disse que se tomássemos seriamente a evolução, se pensássemos que o universo todo se encontra em evolução, então teríamos de pensar nas leis da natureza com algo ligado aos hábitos. Esta idéia era de fato bastante comum especialmente na América; ela foi adotada por William James e outros filósofos americanos e foi amplamente discutida no final do século XIX. Na Alemanha, Nietzsche chegou a sugerir que as leis da natureza se submetiam à seleção natural: talvez tenham existido muitas leis da natureza no início, mas somente as bem sucedidas sobreviveram; portanto, o universo que nós vemos tem leis que evoluíram através da seleção natural.

Os biólogos também se deslocaram em direção a uma interpretação dos fenômenos em termos de hábitos. O mais interessante destes teóricos foi o escritor inglês Samuel Butler, cujos livros mais importantes sobre este tema foram “Vida e Hábito” [1878] “Memória Inconsciente” (1881). Butler afirmava que o todo da vida envolvia uma memória inconsciente inerente; os hábitos, os instintos dos animais, o modo pelo qual os embriões se desenvolvem, tudo refletia um princípio básico de uma memória inerente de dentro da vida. Ele chegou a propor que deveria haver uma memória inerente aos átomos, moléculas e cristais. Assim houve este período de tempo no final do século XIX quando a biologia foi vista em termos evolutivos. É somente a partir de 1920 que o pensar mecanicista passou a ter um domínio sobre o pensamento biológico.

COMO SURGE A FORMA?

A hipótese da causação formativa, que é a base do meu trabalho, parte do problema da forma biológica. Dentro da biologia tem havido uma prolongada discussão a respeito da compreensão de como os embriões e organismos se desenvolvem. Como é que as plantas crescem a partir das sementes? Como é que os embriões se desenvolvem a partir de ovos fertilizados? Este é um problema para os biólogos; não é bem um problema para embriões e árvores, que apenas o fazem! No entanto os biólogos têm dificuldade de encontrar uma explanação causal para a forma. Na física, de certo modo a causa se iguala ao efeito. A quantidade de energia, matéria, e ‘momentum’ antes de uma dada mudança se igualam à quantia encontrada depois da mudança. A causa é contida no efeito e o efeito na causa. No entanto quando consideramos o crescimento de um carvalho a partir de uma ‘bolota’, parece não existir tal equivalência entre causa e efeito.

No século XVII a teoria mecanicista principal da embriologia era simplesmente que o carvalho estava contido na ‘bolota’: dentro de cada ‘bolota’ existia um carvalho em miniatura que inflava à medida que a árvore crescia. Esta teoria foi amplamente aceita, e foi a mais consistente com a abordagem mecanicista, como era compreendida naquela época. No entanto, como indicaram os críticos, se o carvalho é inflado e aquele carvalho por si mesmo produz ‘bolotas’, a árvore inflável deve conter ‘bolotas’ infláveis, que contêm carvalhos infláveis, ad infinito.

Se, por outro lado, mais forma vier de menos forma (cujo nome técnico é epigênese), então de onde é que vem mais forma?

Como aparecem as estruturas que não estavam ali antes? Nem platônicos nem aristotelianos tinham qualquer problema com esta questão. Os platônicos diziam que a forma vinha do arquétipo platônico: se existe um carvalho, então existe uma forma arquetípica de uma árvore de carvalho, e todos os carvalhos reais são simplesmente reflexos deste arquétipo. Uma vez que este arquétipo está além do espaço e do tempo, não existe necessidade de tê-lo acomodado sob a forma física de uma ‘bolota’. Os aristolelianos diziam que cada espécie tem a seu próprio tipo de alma, e a alma é a forma do corpo. O corpo está na alma, e não a alma no corpo. A alma é a forma do corpo e se encontra em volta do corpo e contém a meta do desenvolvimento (o que formalmente é chamado de intelequia). A alma de um carvalho contém o carvalho eventual.

O DNA É UM PROGRAMA GENÉTICO?

No entanto, uma visão mecanicista do mundo nega o animismo em todas as suas formas; ela nega a existência da alma e de qualquer princípio organizador não-material. Portanto, os mecanicistas têm de possuir algum tipo de pré-formação. No final do século XIX, a teoria do biólogo alemão August Weismann sobre o plasma germe fez reviver a idéia da pré-formação; a teoria de Weismann colocou “determinantes”, os quais supostamente faziam crescer o organismo, dentro do embrião. Esta idéia é a antecessora da idéia atual da programação genética, a qual constitui uma outra ressurgência do pré-formação de uma maneira moderna.

Como veremos, esse modelo não funciona muito bem. Presume-se que o programa genético seja idêntico com o DNA, a química genética. A informação genética está codificada no DNA e este código forma o programa genético. Mas tal salto exige que sejam projetadas no DNA propriedades que este não possui de fato. Nós sabemos o que o DNA faz: ele codifica para criar proteínas; ele codifica a seqüência de aminoácidos que forma proteínas. No entanto, existe uma grande diferença entre a codificação para a estrutura de uma proteína – um constituinte químico do organismo – e a programação do desenvolvimento de um organismo total esta é a diferença entre fazer tijolos e construir uma casa a partir dos tijolos. Os tijolos são necessários para construir a casa. Se você tem tijolos defeituosos, a casa será defeituosa. Mas o planejamento da casa não está contido nos tijolos, ou nos fios, ou nas pilastras, ou no cimento.

Por analogia, o DNA somente codifica para materiais dos quais o corpo é construído: as enzimas, as proteínas estruturais e assim por diante. Não existe evidência que ele também codifique para o planejamento, a forma, a morfologia do corpo. A fim de ver isto mais claramente, pense nos seus braços e pernas. A forma dos braços e das pernas é diferente; é óbvio que eles têm um formato diferente. Mesmo assim a química dos braços e das pernas é idêntica. Os músculos são os mesmos, as células nervosas são as mesmas, as células da pele são as mesmas e o DNA é o mesmo em todas as células dos braços e das pernas. De fato, o DNA é o mesmo em todas as células do corpo. O DNA sozinho não pode explicar a diferença na forma; algo mais é necessário para explicar a forma.

Na biologia mecanicista atual, se assume que isto é geralmente dependente dos chamados “padrões complexos de interação físico-químicos ainda não inteiramente compreendidos”. Assim a teoria mecanicista atual não é uma explicação, mas sim uma mera promessa de explicação. Isto é o que Sir Karl Popper tem chamado de “mecanicismo promissor”; Isto envolve listar notas promissoras contra explicações futuras que ainda não existem. Deste modo, não se trata de um argumento objetivo; é meramente uma afirmação baseada em fé.

O QUE SÃO CAMPOS MÓRFICOS?

A questão do desenvolvimento biológico, da morfogênese, está de fato bastante aberta e é matéria de muito debate dentro da biologia. Uma alternativa para a abordagem mecanicista/reducionista, a qual está em voga desde 1920, é a idéia dos campos morfogenéticos (modeladores da forma). Neste modelo, organismo que estão crescendo são moldados por campos que estão tanto dentro como em volta deles, campos que contém a forma do organismo. Isto está mais próximo da tradição aristotélica do que de qualquer uma das outras abordagens tradicionais. À medida que a árvore do carvalho se desenvolve, a ‘bolota’ está associada com um campo do carvalho, uma estrutura organizadora invisível que organiza o desenvolvimento do carvalho; se parece com um molde do carvalho, dentro do qual o organismo que está se desenvolvendo cresce.

Um fato que levou ao desenvolvimento desta teoria é a notável habilidade que os organismos têm para reparar danos. Se você cortar um carvalho em pedacinhos, cada pequeno pedaço, tratado de maneira apropriada, poderá crescer até se tornar uma nova árvore. Portanto a partir de um pequeno fragmento, você pode obter um inteiro. Máquinas não fazem assim; elas não têm este poder de permanecer inteiras se você remover partes delas. Esquarteje um computador e tudo o que você terá é um computador quebrado. Ele não se regenera em uma porção de computadorezinhos. Mas se você picar uma planária em pequenos pedaços, cada pedaço poderá crescer como nova planária. Uma outra analogia é a do magneto (imã). Se você cortar um imã em pedacinhos você com certeza terá uma porção de pequenos imãs, cada um com um campo magnético completo. Esta é uma propriedade holística que os campos têm que os sistemas mecânicos não têm a menos que estes estejam associados com campos. Um outro exemplo é o holograma, no qual qualquer parte contém o todo. Um holograma é baseado em padrões de interferência dentro do campo eletromagnético. Os campos assim têm uma propriedade holística a qual foi muito atraente para os biólogos que desenvolveram este conceito dos campos morfogenéticos.

Cada espécie tem os seus próprios campos, e dentro de cada organismo existem campos dentro de campos. Dentro de cada um de nós está o campo do corpo como um todo; campos para os braços e pernas e campos para rins e fígado; dentro estão campos para os diferentes tecidos dentro destes órgãos, e então campos para as células, e campos para as estruturas subcelulares, e campos para as moléculas e assim por diante. Existe uma série inteira de campos dentro de campos. A essência da hipótese que eu estou propondo é a que estes campos, os quais já estão amplamente aceitos dentro da biologia, têm uma espécie de memória embutida que deriva de formas prévias de uma espécie similar. O campo do fígado é moldado pelas formas de fígados anteriores e o campo do carvalho pelas formas e organização de árvores de carvalho anteriores. Através dos campos, por um processo chamado de ressonância mórfica, a influência de semelhante sobre o semelhante, existe uma conexão entre campos similares. O que significa que a estrutura do campo tem uma memória cumulativa, baseada naquilo que aconteceu às espécies no passado. Essa idéia se aplica não somente aos organismos vivos, mas também a moléculas de proteína, cristais, e mesmo átomos. No reino dos cristais, por exemplo, a teoria diria que a forma que um cristal toma depende do seu campo mórfico característico. Campo mórfico é um termo mais abrangente o qual inclui os campos tanto de forma como de comportamento; daqui por diante, eu deverei usar o termo campo mórfico ao invés de morfogenéticos.

QUÍMICOS BARBUDOS MIGRANTES

Se você fabrica um novo componente e o cristaliza, não haverá um campo mórfico para ele de uma primeira vez. Portanto, pode ser muito difícil cristalizar; você tem que esperar para que um campo mórfico emergia. Na segunda vez, entretanto, mesmo que você faça isto em algum outro lugar no mundo, haverá uma influência da primeira cristalização, e a cristalização deverá ser um pouco mais fácil. Na terceira vez haverá uma influência da primeira e da segunda, e assim por diante. Haverá uma influência cumulativa a partir de cristais prévios, portanto deverá se tornar cada vez mais fácil à cristalização conforme você cristaliza mais freqüentemente. E de fato, é isto precisamente o que ocorre. Químicos (que trabalham com materiais) sintéticos descobrem que novos componentes são geralmente muito difíceis de cristalizar. À medida que o tempo passa, tais componentes geralmente se tornam mais fáceis de cristalizar em todas as partes do mundo. A explicação convencional é que isto ocorre devido a fragmentos de cristais prévios que são carregados de laboratório em laboratório nas barbas dos químicos migrantes. Quando nenhum químico migrante esteve presente, supõe-se que os fragmentos se dispersaram pela atmosfera como se fossem partículas microscópicas de poeira.

Talvez os químicos migrantes realmente carreguem fragmentos nas suas barbas, e talvez partículas de poeira realmente sejam sopradas pela atmosfera. Entretanto, se a taxa de cristalização for mensurada sob condições rigorosamente controladas em vasos selados em diferentes partes do mundo, ainda deverá ser observado uma taxa acelerada de cristalização. Este experimento ainda não foi feito. Mas uma experiência relacionada a isto envolvendo taxas de reações químicas de novos processos sintéticos está sendo considerada no momento por uma empresa química importante na Grã-Bretanha porque, se tais coisas acontecem, devem ter implicações bastante importantes para a indústria química.

UMA NOVA CIÊNCIA DA VIDA

Existe um bom número de experimentos que podem ser feitos na esfera da forma biológica e do desenvolvimento da forma. Correspondentemente, os mesmos princípios se aplicam ao comportamento, formas de comportamento e padrões de comportamento. Considerem a hipótese de que se você treinar ratos para que aprendam um novo truque em Santa Bárbara, daí ratos de todo o mundo deverão estar aptos para aprender a fazer o mesmo truque mais rapidamente, somente porque os ratos de Santa Bárbara o aprenderam. Este novo padrão de aprendizado estará, como esteve, na memória coletiva dos ratos – no campo mórfico dos ratos, ao quais outros ratos podem sintonizar, somente porque eles são ratos e somente porque estão em circunstâncias semelhantes, por ressonância mórfica. Isto pode parecer um tanto improvável, mais este tipo de coisa pode tanto acontecer como não.

Dentre o vasto número de documentos nos arquivos sobre experimentos na psicologia dos ratos, existe um número de exemplos de experiências nas quais pessoas de fato monitorizaram taxas de aprendizado em função do tempo e descobriram aumentos misteriosos. No meu livro, Uma Nova Ciência da Vida, eu descrevo uma destas séries de experiências que se estenderam por um período de cinqüenta anos. Iniciada em Harvard e conduzida na Escócia e na Austrália, a experiência demonstrou que ratos aumentaram a sua taxa de aprendizado em mais de dez vezes. Este foi um efeito em massa – e não somente um resultado estatisticamente significante periférico. Esta taxa melhorada de aprendizado ocorreu em situações de aprendizado idênticas ocorridas nestes três locais separados e em todos os ratos da cepa, não somente nos ratos descendentes de genitores treinados.

Existem outros exemplos de distribuição espontânea de novos hábitos em animais e em pássaros que proporcionam no mínimo evidência circunstancial para a teoria da ressonância mórfica. A mais bem documentada de todas é o comportamento de uma espécie de azulão, um pássaro que é comum em toda a Grã-Bretanha. O leite fresco ainda é fornecido à porta das residências toda manhã no país. Até cerca de 1950 as tampas das garrafas de leite eram feitas de papelão. Em 1921, em South Ampton, um fenômeno estranho foi observado. De manhã, quando as pessoas saíam para pegar suas garrafas de leite, elas encontravam papeizinhos picotados em torno fundo da garrafa, e a nata de cima da garrafa havia desaparecido. Uma observação mais detalhada revelou que isto estava sendo feito pelos azulões, que pousavam no topo da garrafa, retiravam o papelão com seus bicos e então bebiam a nata. Muitos casos trágicos foram encontrados, nos quais muitos azulões foram descobertos com suas cabeças afogadas no leite! Este incidente causou um interesse considerável; que tal evento acontecesse em outros lugares do país, 50 algumas vezes 100 milhas de distância. Sempre que o fenômeno do azulão aparecia, começava a se espalhar localmente, supostamente por imitação. No entanto, os azulões são criaturas muito caseiras e normalmente não viajam mais do que quatro ou cinco milhas. Portanto, a disseminação do comportamento por distâncias maiores poderia somente ser contabilizada em termos de uma descoberta independente do hábito. O hábito do azulão foi mapeado por toda a Grã-Bretanha até 1947, época em que se tornou mais ou menos universalizado. As pessoas que fizeram o estudo chegaram a conclusão de que o hábito deveria ter sido “inventado” independentemente em pelo menos umas cinqüenta vezes. Mais do que isso, a taxa de distribuição do hábito se acelerou à medida que o tempo passava. Em outras partes da Europa a onde as garrafas de leite são distribuídas na soleira da porta, tais como na Escandinávia e na Holanda, o hábito também se construiu durante a década de trinta e se espalhou de modo semelhante. Aqui está um exemplo de um padrão de comportamento que foi espalhado de uma maneira que parecia se acelerar com o tempo, e que poderia proporcionar um exemplo de ressonância mórfica.

Mas existe uma evidência ainda mais forte para a ressonância mórfica. Devido à ocupação Alemã na Holanda, a distribuição de leite foi interrompida nos anos de 1939-40. A distribuição do leite não foi retomada até 1948. Uma vez que azulões geralmente vivem apenas de 2 a 3 anos, provavelmente não havia azulões vivos em 1948 que tivessem estados vivos na última vez que o leite fora distribuído. Mesmo assim quando a distribuição de leite foi reiniciada em 1948, a abertura das garrafas de leite pelos azulões se espalhou rapidamente em localidades bastante distantes na Holanda, e de modo extremamente rápido até que, em um ano ou dois, o hábito era uma vez mais universal. O comportamento se espalhou muito mais rapidamente e sobreveio independentemente muito mais freqüentemente da segunda vez do que da primeira. Este exemplo demonstra a distribuição evolutiva de um novo hábito que provavelmente não é genético, mas sim dependente de uma espécie de memória coletiva que se deve à ressonância mórfica.

O que eu estou sugerindo é que hereditariedade não depende somente do DNA, que habilita os organismos a construir os materiais de construção químicos corretos – as proteínas – mas também da ressonância mórfica. A hereditariedade tem, portanto dois aspectos: um é a hereditariedade genética, que é responsável pela herança de proteínas através do controle do DNA na síntese protéica; a segunda é uma forma de hereditariedade baseada em campos mórficos e em ressonância mórfica, que é não genética e que é herdada dos membros anteriores (passados) das espécies. Esta última forma de hereditariedade lida com a organização da forma e do comportamento.

A ALEGORIA DO APARELHO DE TELEVISÃO

As diferenças e conexões entre estas duas formas de hereditariedade tornam-se mais fácil de compreender se considerarmos uma analogia com a televisão. Pense sobre as figuras na tela como a forma na qual nós estamos interessados. Se você não soubesse como a forma surgiu, a explicação mais óbvia seria que haveria pequenas pessoas dentro do aparelho cujas sombras você estaria vendo na tela. Crianças pensam dessa maneira algumas vezes. Se você, no entanto afasta o aparelho e olha dentro, você descobre que não existem pessoas pequenas. Aí você poderia se tornar mais sutil e especular que as pequenas pessoas são microscópicas e estão na verdade por dentro dos cabos do aparelho de TV. Mas se você der uma olhada nos fios através de um microscópio, você também não encontrará nenhum pequenino.

Você poderia se tornar ainda mais sutil e propor que as pequenas pessoas na tela na verdade apareceram através de “interações complexas entre as partes do aparelho as quais ainda não estão inteiramente compreendidas”. Você poderia pensar que esta teoria seria comprovada se você cortasse alguns transistores do aparelho. As pessoas desapareceriam. Se você colocasse os transistores de volta, elas reapareceriam. Isto poderia prover evidências convincentes que elas surgiram a partir do interior do aparelho inteiramente sobre uma base de interação interna.

Suponha que alguém tenha sugerido que as figuras dos pequeninos venham de fora do aparelho, e que o aparelho captura as imagens como um resultado de vibrações invisíveis às quais o aparelho está sintonizado. Isto provavelmente soaria como uma explicação bastante oculta e mística. Você poderia negar que qualquer coisa esteja vindo para o aparelho. Você poderia até mesmo “prova-lo” ao pesar o aparelho ligado e desligado; pesaria o mesmo. Portanto, você poderia concluir que nada está entrando no aparelho.

Eu penso que esta é a posição da biologia moderna, tentando explicar cada coisa em termos do que ocorre dentro. Quanto mais explicações para a forma são procuradas dentro, mais enganosas se provam as explicações, e mais elas são atribuídas a ainda maiores interações sutis e complexas, as quais sempre desviam a investigação. Como eu estou sugerindo, as formas e padrões de comportamento estão na verdade sendo sintonizadas através de conexões invisíveis que surgem de fora do organismo. O desenvolvimento da forma é o resultado tanto da organização interna do organismo quanto da interação dos campos mórficos aos quais ele está sintonizado.

Mutações genéticas podem afetar este desenvolvimento. Mais uma vez pense no aparelho de TV. Se nós provocarmos uma mutação em um transistor ou um condensador dentro do aparelho, você pode obter imagens ou som distorcidos. Mais isto não prova que as imagens e o som são programados por estes componentes. E nem isto prova que a forma e comportamento são programados pelos genes, se acharmos que existem alterações na forma e no comportamento como um resultado de mutação genética.

Existe uma outra espécie de mutação que é particularmente interessante. Imagine uma mutação no circuito de sintonização do seu aparelho, de modo que ela altera a freqüência ressonante do circuito de sintonização. Sintonizar a sua TV depende de um fenômeno ressonante; o sintonizador ressona à mesma freqüência da freqüência do sinal transmitido pelas diferentes estações. Assim, os mostradores da sintonização são medidos em hertz, que é uma medida de freqüência. Imagine uma mutação no sistema de sintonização de maneira que você sintoniza um canal e um canal diferente aparece. Você pode rastrear isto de volta a um único condensador ou resistor que havia sofrido uma mutação. Mas não seria válido concluir que os novos programas que você está assistindo, as diferentes pessoas, os diferentes filmes e propagandas, são programados dentro do componente que foi mudado. E nem isto prova que a forma e o comportamento são programados no DNA quando mutações genéticas levam a mudanças na forma e no comportamento. A conclusão usual é que se você pode mostrar que alguma coisa se altera como um resultado de uma mutação, então aquilo deve estar programado, ou controlado, ou determinado pelo gene. Eu espero que esta analogia com a TV torne claro que esta não é a única conclusão. Poderia ser que ela esteja apenas afetando o sistema de sintonização.

UMA NOVA TEORIA DA EVOLUÇÃO

Uma grande quantidade de trabalhos está sendo efetuada pela pesquisa biológica contemporânea a respeito de tais mutações “sintônicas” (formalmente chamadas de mutações homeóticas). O animal mais utilizado nas investigações é a drosófila, a mosca da fruta. Uma extensão inteira destas mutações, que produzem diversos tipos de monstruosidades tem sido descobertas. Uma espécie, denominada antennapedia, se destaca por ter suas antenas transformadas em pernas. Estas infelizes moscas, que contém apenas um único gene alterado, produzem pernas que crescem a partir de suas cabeças, ao invés de antenas. Existe uma outra mutação que conduz o segundo par, dos três pares de pernas da drosófila, a ser transformados em antenas. Normalmente as moscas têm um par de asas e, no seguimento por detrás das asas, existem pequenos órgãos que oscilam chamados halteres. Uma outra mutação ainda, leva á transformação do seguimento que normalmente contém os halteres, para uma duplicação do primeiro seguimento, de maneira que tais moscas têm quatro asas ao invés de duas. Estas são chamadas de mutantes bitoráxicas.

Todas estas mutações são dependentes de genes únicos. Eu proponho que de alguma maneira estas mutações de genes únicos são mudanças na sintonia de uma parte do tecido embrionário, de modo que ele se sintoniza com um campo mórfico diferente do que aquele o qual normalmente o faz, e assim uma diferente combinação de estruturas surge, exatamente como quando sintonizamos em um canal de TV diferente.

Podemos observar a partir destas analogias, como tanto a genética como a ressonância mórfica estão envolvidas na hereditariedade. È claro, uma nova teoria de hereditariedade conduz a uma nova teoria da evolução. A teoria evolutiva de hoje está baseada na suposição de que virtualmente toda a hereditariedade é genética. A sociobiologia e o neodarwinismo em todas as suas diversas formas baseiam-se na seleção dos genes, freqüência dos genes e assim por diante. A teoria da ressonância mórfica conduz a uma visão muito mais ampla que permite que uma das maiores heresias da biologia uma vez mais seja levada a sério: a idéia da herança de características adquiridas. Comportamentos aprendidos por organismos, ou formas desenvolvidas por eles, pode ser herdada por outros mesmo que não sejam descendentes dos organismos originais – por ressonância mórfica.

UM NOVO CONCEITO DE MEMÓRIA

Quando consideramos a memória, esta hipótese conduz a uma abordagem muito diferente da abordagem tradicional. O conceito chave da ressonância mórfica é que coisas semelhantes influenciam coisas semelhantes através do espaço e do tempo. A quantidade de influência depende do grau de similitude. A maioria dos organismos é mais semelhante a si mesmos no passado do que o são em relação a qualquer outro organismo. Eu me pareço mais comigo mesmo há cinco minutos atrás do que eu me pareço com qualquer um de vocês; todos nós somos mais parecidos com nós mesmos no passado do que com qualquer outra pessoa. É a mesma coisa com qualquer outro organismo. Esta auto-ressonância com estados passados daquele mesmo organismo, no seio da forma, ajuda a estabilizar os campos morfogenéticos, a estabilizar a forma do organismo, mesmo que os constituintes químicos nas células estejam se transformando e mudando. Padrões habituais de comportamento também são sintonizáveis a partir do processo de auto-ressonância. Se eu começo a andar de bicicleta, por exemplo, o padrão de atividade do meu sistema nervoso e dos meus músculos, em resposta ao equilíbrio sobre a bicicleta, imediatamente me sintoniza por similaridade a todas as ocasiões anteriores nas quais eu andei de bicicleta. A experiência de andar de bicicleta é dada por ressonância mórfica cumulativa a todas aquelas ocasiões passadas. Não é uma memória verbal ou intelectual; é uma memória corporal do andar de bicicleta.

Isso também se aplicaria à memória de eventos reais: aquilo o que eu fiz ontem em Los Angeles ou no ano passado, na Inglaterra. Quando eu penso sobre estes eventos em particular, eu estou me sintonizando às ocasiões nas quais estes eventos ocorreram. Existe uma conexão causal direta através de um processo de sintonização. Se essa hipótese for correta, não é necessário admitir que memórias são armazenadas dentro do cérebro.

O MISTÉRIO DA MENTE

Todos nós fomos conduzidos à idéia de que as memórias estão armazenadas no cérebro; usamos a palavra cérebro de forma intercambiável com mente ou memória. Eu estou sugerindo que o cérebro se parece mais como um sistema de sintonização do que com um aparelho de armazenamento de memória. Um dos principais argumentos para a localização da memória no cérebro é o fato de que certos tipos de lesão cerebral podem levar a perda de memória. Se o cérebro é lesado em um acidente de carro e alguém perde a memória, a suposição óbvia é que o tecido da memória deva ter sido destruído. Mas não é necessariamente assim.

Considere novamente a analogia da TV. Se eu danificar o seu aparelho de TV de modo que você ficou incapacitado de receber determinados canais, ou se eu tornar o aparelho de TV afásico ao destruir a parte ligada à produção do som de modo que você ainda pudesse obter as imagens, mas não o som, isto não provaria que o som ou as imagens estaria armazenado dentro do aparelho de TV. Isso meramente mostraria que eu havia afetado o sistema de sintonização de maneira que você não poderia mais pegar o sinal correto. Nem a perda da memória devida a lesão cerebral prova que a memória se encontra armazenada dentro do cérebro. De fato, a maioria das perdas de memória é temporária: amnésia após uma concussão, por exemplo, é freqüentemente temporária. Esta recuperação da memória é muito difícil de explicar em termos das teorias convencionais: se as memórias foram destruídas por que o tecido de memória foi destruído, elas não deveriam voltar novamente; mesmo assim elas freqüentemente retornam.

Um outro argumento para a localização da memória dentro do cérebro é sugerido pelos experimentos sobre estimulação elétrica do cérebro feito por Wilder Penfield e colaboradores. Penfield estimulou os lobos temporais dos cérebros de pacientes epiléticos e descobriu que alguns destes estímulos podiam disparar respostas vívidas, as quais eram interpretadas pelos pacientes como memórias de coisas que eles haviam feito no passado. Penfield supôs que ele estava de fato estimulando memórias que estavam armazenadas no córtex. De volta a analogia da TV, se eu estimulasse o circuito de sintonização do seu aparelho de TV e ele pulasse para outro canal, isto não provaria que a informação estava armazenada dentro do circuito de sintonização. É interessante que, no seu último livro, “The Mystery of the Mind”, o próprio Penfield abandonou a idéia de que os experimentos provavam que a memória estava dentro do cérebro. Ele chegou à conclusão de que a memória não estava absolutamente armazenada dentro do córtex.

Tem havido muitas tentativas de localizar traços da memória dentro do cérebro, a mais conhecida delas foi a de Karl Lashley, o grande neuro-fisiologista americano. Ele treinou ratos para aprenderem truques, e então tirou pedaços dos cérebros dos ratos para determinar se eles ainda poderiam fazer os truques. Para seu espanto, ele descobriu que ele poderia remover até 50% do cérebro – qualquer 50% – e não haveria nenhum efeito na retenção do aprendizado. Quando ele removia todo o cérebro, os ratos não conseguiam fazer tais truques, portanto ele concluiu que o cérebro era de algum modo necessário para o desempenho da tarefa – o que dificilmente é uma conclusão surpreendente. O que era surpreendente era a quantidade de cérebro que ele podia remover sem afetar a memória.

Resultados semelhantes têm sido encontrados por outros investigadores, até mesmo com invertebrados como o polvo. Isso levou o investigador a especular que a memória estava em todos os lugares, mas também em nenhum lugar em particular. O próprio Lashley concluiu que memórias são armazenadas de uma forma distribuída por todo o cérebro, já que ele não pode encontrar os vestígios de memória que a teoria clássica exigia. O seu aluno, Karl Pribram, estendeu esta idéia com a teoria holográfica do armazenamento da memória: a memória é como uma imagem holográfica, armazenada como um padrão de interferência pelo cérebro.

O que Lashley e Pribram (pelo menos em uma parte dos seus escritos) parecem não ter considerado é a possibilidade de que memórias podem não estar de modo algum armazenadas dentro do cérebro. A idéia de que elas não estão armazenadas dentro cérebro é mais consistente com os dados disponíveis do que as teorias convencionais ou a teoria holográfica. Muitas dificuldades surgiram ao se tentar localizar o armazenamento da memória no cérebro, em parte porque o cérebro é muito mais dinâmico do que se pensava anteriormente. Se o cérebro fosse para servir como um armazém de memória, então o sistema de armazenamento teria que permanecer estável; e mais, é sabido hoje que as células nervosas são substituídas muito mais rapidamente do que se pensava anteriormente. Toda a química nas sinapses e estruturas nervosas e moléculas são trocadas e mudam o tempo todo. Com um cérebro muito dinâmico, é difícil visualizar como as memórias são armazenadas.

Também existe um problema lógico a respeito das teorias convencionais de armazenamento da memória, para o qual diversos filósofos apontaram. Todas as teorias convencionais supõem que as memórias são, de algum modo, codificadas e localizadas em um depósito de memória no cérebro. Quando elas são necessárias, são recuperadas por um sistema de reparação. Este é o chamado modelo de codificação, armazenamento e recuperação. No entanto, para que um sistema de recuperação recupere qualquer coisa, ele deve saber o que é que quer recuperar; um sistema de recuperação de memória tem que saber qual memória procurar. Ele, portanto deve estar apto a reconhecer a memória a qual está tentando recuperar. A fim de reconhecê-la, o próprio sistema de recuperação deve ter algum tipo de memória. Portanto o sistema de recuperação deve ter um subsistema de recuperação para recuperar as suas memórias do seu depósito. Isso leva a uma regressão infinita. Diversos filósofos defendem que esta é uma falha lógica fatal em qualquer teoria convencional sobre armazenamento de memória. No entanto, no geral, os teóricos da memória não estão muito interessados naquilo o que os filósofos dizem, assim eles não se incomodam de se contrapor a este argumento. Mas este me parece ser de fato um argumento bastante poderoso.

Ao considerar a teoria de ressonância mórfica da memória, poderíamos perguntar: se nós nos sintonizamos com as nossas próprias memórias, então porque não nos sintonizamos também com as de outras pessoas? Eu penso que nós nos sintonizamos, e que toda a base da abordagem que eu estou sugerindo é a que existe uma memória coletiva à qual nós todos estamos sintonizados e que forma uma base contra a qual a nossa própria experiência se desenvolve e contra a qual as nossas próprias memórias individuais se desenvolvem. Esse conceito é muito semelhante à noção do inconsciente coletivo.

Jung pensava sobre o inconsciente coletivo como uma memória coletiva, a memória coletiva da humanidade. Ele pensava que as pessoas estariam mais sintonizadas aos membros da sua própria família e raça e grupo social e cultural, mas que não obstantemente, haveria uma ressonância de base a partir de toda a humanidade: uma experiência agrupada ou de uma média de coisas básicas as quais todas as pessoas vivenciam (e.é., comportamento materno, e diversos padrões sociais e estruturas da experiência e do pensamento). Não seria tanto uma memória de pessoas em particular no passado, mas uma média das formas básicas das estruturas de memórias; estes são os arquétipos. A noção de Jung sobre o inconsciente coletivo é de um bom senso extremo no contexto da abordagem geral que eu estou adiantando. A teoria de ressonância mórfica levaria a uma reafirmação radical do conceito de Jung a respeito do inconsciente coletivo.

A teoria necessita de reafirmação porque o contexto atual mecanicista da biologia, medicina e psicologia convencional nega que possa existir tal coisa como o inconsciente coletivo; o conceito de uma memória coletiva de uma raça ou espécie tem sido excluído até mesmo como uma possibilidade teórica. Você não pode ter qualquer herança de características adquiridas, de acordo com a teoria convencional; você somente pode ter uma herança de mutações genéticas. Sob as premissas da biologia convencional, não haveria nenhuma forma de que experiências e mitos de tribos africanas, por exemplo, terem qualquer influência sobre os sonhos de alguém na Suíça, de descendência não-africana, o que é o tipo de coisa que Jung pensava que realmente pode acontecer. Isto é bastante impossível do ponto de vista convencional, sendo por isso que a maioria dos biólogos da corrente principal da ciência não leve a idéia do inconsciente coletivo a sério. Ela é considerada uma idéia marginal, escamosa, que pode ter algum valor poético, como uma espécie de metáfora, mas não tem relevância para a ciência em si porque é um conceito completamente insustentável do ponto de vista da biologia normal.

A abordagem que eu estou passando adiante é bastante semelhante à idéia de Jung do inconsciente coletivo. A principal diferença é que a idéia de Jung foi aplicada primariamente à experiência humana e à memória coletiva humana. O que eu estou sugerindo é que um princípio semelhante opera por todo o universo, não apenas em seres humanos. Se a espécie de mudança do paradigma radical de que eu estou falando prosseguir dentro da biologia – se a hipótese da ressonância mórfica estiver até mesmo aproximadamente correta – então a idéia de Jung sobre o inconsciente coletivo tornar-se-ia uma idéia central para ser seguida: campos morfogênicos e o conceito do inconsciente coletivo mudariam completamente o contexto da psicologia moderna.