O Químico Legendário Alexander Shulgin Morre aos 88

O Doutor Alexander Shulgin, químico legendário e pioneiro no campo da pesquisa psicodélica, faleceu na idade de 88 anos. A saúde de Shulgin começou a declinar em 2010, e ele morreu de câncer no fígado em 2 de Junho de 2014.

Apelidado de “padrinho dos psicodélicos”, Shulgin descobriu, sintetizou e testou centenas de drogas psicoativas. Shulgin devotou sua vida à pesquisa de químicos expansores da mente – ele explica por que nessa entrevista eloquente – e seu impacto foi permanente.

O Legado de Shulgin

Alexander, ou Sasha Shulgin, foi famoso por descobrir, sintetizar e testar ele mesmo centenas de novas drogas psicoativas. Ele e sua esposa, Ann – uma terapeuta psicodélica, palestrante, e autora – testou regularmente novos componentes do laboratório de Sasha. Se, depois de considerável auto-experimentação, um componente se provou merecedor de análises mais aprofundadas, eles o compartilhariam com um grupo de amigos próximos. O “grupo de pesquisa” testaria o novo componente e o daria uma duração, qualidades psicodélicas, e outros efeitos.

Mas Sasha sempre testou primeiramente ele mesmo, começando com dosagens baixas para minimizar o risco de toxicidade. Ele estima que viajou mais de 4.000 vezes em sua vida – isso é mais que uma vez por semana por mais de 50 anos!

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Os Shulgins publicaram os resultados da sua pesquisa em dois volumes revolucionários, PiHKALTiHKAL. Os títulos são abreviações de Feniletilaminas e Triptaminas Que Eu Conheci e Amei. Para novatos em química, as triptaminas são uma família química incluindo LSD, DMT e psilocibina; as feniletilaminas incluem mescalina, MDMA, 2C-B, e MDA. Ambas as classes contém muitos compostos psicodélicos – especialidade de Shulgin.

Os dois volumes, auto-publicados em 1991 e 1997, empregam um formato similar. Cada um dos volumes de 800 páginas ou mais é dividido em duas partes – metade autobiografia, detalhando a história de amor pessoal do casal, e metade livro de receitas, com instruções para sintetização passo a passo e impressões subjetivas sobre os efeitos de cada droga. (TiHKAL e PiHKAL possuem pouco sobre farmacologia, químicos e outros que precisam de uma análise mais aprofundada dos compostos devem olhar no The Shulgin Index).

Os Shulgins acreditavam que a informação sobre os psicodélicos deveria estar disponível gratuitamente, então as seções químicas do PiHKAL e TiHKAL foram publicadas online (aqui e aqui). Assim como Shasha apontou uma vez, todo mundo tem “a licença para explorar a natureza da sua própria alma”. Somente as primeiras partes autobiográficas são protegidas, para essas seções, você deve comprar o livro. Como um testamento do objetivo do casal de fornecer acesso livre e público à informação, até mesmo as notas de laboratório de Sasha estão sendo publicadas online no Erowid, com os nomes dos tentadores das drogas removidos para a proteção deles.

A influência desses livros, junto com os diversos trabalhos científicos de Sasha, não pode ser exagerada. Ele era um químico open-source, compartilhando livremente os passos químicos para a síntese de centenas de novos componentes que ele criou. Seus métodos focaram em precursores facilmente encontrados, presumivelmente para ajudar químicos amadores. A síntese de Shulgin para o MDMA, por exemplo, é ainda muito utilizada.

O mundo das drogas estava assistindo. Em cerca de semanas da publicação das síntese para um novo componente, ele apareceria para venda, para o bem ou para o mal, com frequência produzido por algum laboratório na China e então comprado por psiconautas ao redor do mundo. E então, claro, o DEA o baniria, e uma nova leva de químicos surgiria, com frequência inspirada por outra publicação de Shulgin. Por décadas, químicos, usuários, legisladores, agentes federais assistiram de perto conforme novos componentes saíam do laboratório de Sasha.

Descanse em paz, Shulgin!

Leia mais sobre o trabalho de Sasha aqui.

Fonte

A Segunda Revolução Psicodélica, Parte 2 – Sasha Shulgin, O Padrinho Psicodélico

Esse artigo é a segunda parte de uma série de 6. Para ler a primeira parte, clique aqui.

sasha_shulgin_1[su_quote]Eu explorei pela primeira vez a mescalina em 1950, 350-400mg. Eu aprendi que havia algo muito importante dentro de mim.” – Alexander Shulgin, LA Times, 1995[/su_quote]

Se houvesse um Hall da Fama psicodélico, a seção dos químicos seria bem pequena, uma vez que existiram realmente somente dois gigantes nesse campo – Albert Hofmann, que primeiro sintetizou o LSD-25 e a psilocibina (e logo após isolou esse componente de espécies de cogumelos mágicos fornecidos por R. Gordon Wasson), e Alexander “Sasha” Shulgin, que parece ter inventado todo o resto. (As sombras do trabalho desses dois homens são tão importantes que estátuas gêmeas dos dois uma de frente para a outra deveriam estar na entrada do Hall). Entretanto, quando o remarcável livro “PiHKAL; Uma História de Amor Químico”[1] apareceu pela primeira vez em 1991, poucas pessoas fora da comunidade psicodélica na Califórnia sabiam sobre Sasha e sua existência quieta que ele e sua esposa Ann (a co-autora de ambos PiHKAL e TiHKAL) viviam; e aqueles que sabiam dele sabiam mais pelo fato de ele ser um “popularizador” do empatógeno MDMA.

O MDMA foi sintetizado pela primeira vez em 1912; ele foi usado posteriormente no projeto MK-ULTRA da CIA em 1953-54; esses estudos foram desclassificados em 1973; Shulgin então sintetizou o composto e o experimentou em 1976 pela primeira vez após escutar relatos de seus efeitos pelos seus estudantes na Universidade da Califórnia, Berkeley. Shulgin gostava de chamá-lo de “martini de baixa caloria”, e o apresentou para inúmeros amigos e colegas, incluindo o psicoterapeuta Leo Zeff, que ficou tão impressionado com o componente que ele voltou de sua aposentadoria para treinar psicoterapeutas no seu uso.

O MDMA ganhou popularidade nos anos 1980 entre psicólogos e terapeutas até que ele foi feito ilegal em 1985 devido à sua crescente popularidade como uma droga recreativa, mais conhecido pelo seu nome de rua, Ecstasy. Pelos anos 1980, o uso de MDMA se tornou prevalente no cenário de música eletrônica ou “Acid House”, com o logotipo da carinha sorridente identificando tanto a droga como a nova cultura jovem. Apesar de ter sido feito ilegal mais de 20 anos antes (uma outra prova contra a ineficiência da “guerra contra as drogas”), estima-se que entre 10 e 25 milhões de pessoas usaram MDMA em 2008.

Um artigo inteiro poderia ser escrito sobre as similaridades e diferenças entre empatógenos (também chamados de entactógenos), e psicodélicos (também chamados de enteógenos), e ainda que essa seja uma conversa importante para nossa comunidade, é território que eu não pretendo cobrir nesse artigo.[2] O que é importante para os propósitos desse artigo entretanto é que empatógenos como o MDMA e talvez o psicodélico mais velho conhecido, a mescalina, são ambos feniletilaminas, que por assim dizer, são variações em torno do mesmo anel estrutural feniletilamínico. Graças a esse fato simples, quando Shulgin escreveu PiHKAL e o lançou no mundo em 1991, Sasha providenciou não só a melhor fonte sobre o MDMA e seu primo mais antigo MDA (a “droga do amor” de 1960), mas também revelou um catálogo de mais de 200 psicodélicos e empatógenos anteriormente desconhecidos que ele descobriu, incluindo a família 2-C inteira, que incluía os psicodélicos 2C-B e 2C-I, e os empatógenos 2C-E e 2C-T-7 entre outros.

Sasha é um grande homem, tanto fisicamente quanto intelectualmente, com grande reputação. No início de sua carreira ele desenvolveu o primeiro pesticida biodegradável para a DOW Chemicals, uma patente que fez seus empregados milionários e forneceu para ele um certo grau de independência, permitindo que ele movesse seu laboratório para sua casa próximo a Lafayette, Califórnia, em 1965.

 

Em seu laboratório caseiro remarcável, Shulgin descobriria, sintetizaria e faria o bio-ensaio de mais de 260 compostos psicoativos durante os 35 anos seguintes, publicando com frequência os resultados em jornais e revistas como a Nature e o Jornal de Química Orgânica.

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Enquanto claramente um libertário em suas visões, Shulgin paradoxalmente desenvolveu uma relação profissional com o DEA, que forneceu para ele uma licença especial para sintetizar componentes controlados e o usaram como um consultor e especialista legal em determinados casos, e em 1988, Shulgin publicou o volume definitivo em drogas ilegais [3] para aplicações legais pelo qual ele recebeu inúmeros prêmios.

Então em 1991, em um esforço para garantir que as descobertas de Sasha não seriam perdidas ou oprimidas por causa da proibição social contemporânea dos psicodélicos, os Shulgins lançaram seu livro PiHKAL. Ele conta a história de amor de Sasha e Ann, e possui um manual detalhado de como sintetizar cerca de 200 componentes psicodélicos que refletem as crenças de Sasha que drogas psicodélicas podem ser ferramentas valiosas para a auto-exploração.

Na história da literatura, existem poucos atos bravos como a publicação do PiHKAL pelos Shulgins, e ironicamente isso só poderia ter acontecido nos Estados Unidos – o país que efetivamente fez os psicodélicos ilegais no mundo inteiro [4]- graças à proteção da primeira emenda. (A mera posse do PiHKAL em vários outros países é um crime). Quando cópias do PiHKAL começaram a aparecer em laboratórios confiscados ao redor do mundo, o DEA ficou ultrajado ao descobrir que um de deus próprios empregados (e especialista legal ocasional) publicou o que eles consideraram como sendo um “livro de receitas para drogas ilegais” (completado com uma escala de classificação do próprio Shulgin). Em resposta, em 1994 o DEA invadiu a casa e o laboratório de Shulgin, aplicando uma multa de $25.000 pela posse de amostras anônimas que o próprio DEA tinha enviado, e revogando a sua licença para substâncias controladas.[5] Os Shugins responderam com a publicação do “TiHKAL, a Continuação”, em 1997, o trabalho seminal de Sasha na família das triptaminas que incluem o LSD, DMT e 5-MeO-DMT.

Invadir o laboratório de Shulgin após a publicação do PiHKAL foi algo como fechar a porta do celeiro depois de ter os cavalos roubados, e pelos anos 1990 um número de compostos anteriormente raros ou desconhecidos e o mais importante, não regulamentados começaram a estar disponíveis nas ruas e – em um novo desenvolvimento para a cultura psicodélica – online através de websites de “empresas de pesquisa química”. No período da “seca” do LSD dos primeiros anos do século 21 (e durante um período de considerável atenção da mídia sobre a baixa pureza de pílulas de Ecstasy), muitos desses compostos e especialmente a família do 2C estavam bem estabelecidos como os psicodélicos de escolha para uma nova geração que nunca teve a chance de experimentar mescalina, psilocibina, DMT, ou até mesmo LSD.

Enquanto a Lei Federal Análoga tinha sido aprovada em 1986 como uma resposta a essas “designer drugs”, o grande número de compostos diferentes e ambiguidades na Lei fizeram com que fosse difícil conter esses novos compostos, justamente quando as autoridades federais e estaduais estavam lutando com o novo fator internacional da Internet.

Em Julho de 2004, uma operação do DEA chamada de Web Tryp prendeu 10 pessoas nos Estados Unidos associadas com 5 diferentes “empresas de pesquisa química”, fechando efetivamente todas as empresas restantes ou as afundando muito bem. (Mais recentemente, o website Silk Road). Em um interessante ato de sincronicidade, por volta do mesmo período, o website de informações Erowid.org publicou (com a permissão dele) todas as fórmulas de Shulgin contidas no PiHKAL e TiHKAL, um ato que efetivamente permitiu a qualquer um ao redor do mundo ter acesso a elas, e virtualmente garantir que elas nunca serão perdidas ou reprimidas.

Quando tentando avaliar o legado e a importância de Alexander para a cultura psicodélica e underground, é impossível calcular a importância da popularização do MDMA (Ecstasy) à ascensão global da Música Eletrônica, exceto para notar que a droga e a cultura da dança eletrônica eram sinônimos na Inglaterra por pelo menos uma década, e enquanto a música era originalmente chamada Acid House, foi o logotipo da cara sorridente que a definiu, assim como o LSD definiu o rock dos anos 60.

Não podemos negar o fato de que depois da apreensão do silo de LSD em 2000 e durante os cinco anos da ausência de LSD nos anos seguintes, graças às visões libertárias de Sasha e a brava publicação do PiHKAL uma década atrás, o 2C-B se tornou o psicodélico preferido (e disponível), enquanto um número de outras criações de Shulgin como o 2C-E, 2C-I e 2C-T-7 (somente para apontar alguns) se tornaram proeminentes, abrindo a caixa de Pandora de análogos psicodélicos e garantindo que a Segunda Revolução Psicodélica não ficasse dependente dos 4 primeiros componentes que iniciaram a Primeira – mescalina, psilocibina, LSD e DMT, como definido por Leary, Metzner e Alpert em “A Experiência Psicodélica” – mas via uma sopa de letrinhas de novos componentes, todos baseados na estrutura dos “clássicos” originais.

Para essas duas considerações sozinhas, a importância de Sasha para a cultura psicodélica moderna seria óbvia e sem comparações. Mas incrivelmente, pode haver mais do que é comumente conhecido, o que significa que a Cultura Psicodélica deve a Alexander Shulgin um débito ainda maior que nós jamais imaginamos. A história completa é algo assim:

Em um jantar de homenagem para os Shulgins em 2010 na conferência do MAPS [7] em San Jose, CA, o químico underground Nick Sand (que tinha sido recentemente libertado da prisão) e a quem (juntamente com Tim Scully, que foi o químico de Owsley) é dado o crédito pela “invenção” do LSD Orange Sunshine, revelou que em 1966, depois que o LSD foi feito ilegal na Califórnia graças ao novo governador Ronald Reagan, os precursores necessários para produzir o LSD, nos métodos da época, e por um curto período de tempo o LSD desapareceu, de uma forma muito semelhante ao que ocorreria 24 anos depois em 2000, pareceu como se fosse um “fim do ácido”.

De acordo com o registro histórico, Sand e Scully começaram então a fabricar DOM (nome de rua: STP), uma feniletilamina psicodélica extraordinariamente potente inventada por Shulgin em 1964. Cinco mil “doses” desse novo componente foram dadas para o primeiro Human Be-In em São Francisco (14 de Janeiro de 1967), em um esforço para promover a nova droga como uma “substituta” ao LSD, mas aparentemente Sand e Scully desenvolveram uma tolerância ao DOM, e fizeram as dosagens muito altas. Isso combinado ao fato de que o início dos efeitos do DOM foi muito mais lenta que a do LSD, com muitas pessoas tomando uma segunda dose após uma hora de poucos efeitos, causando overdose em inúmero usuários e enviando os hippies para as salas de emergência. A imprensa logo demonizou o LSD informando que esse havia sido o componente responsável.

Talvez devido às consequências do desastre do Human Be-In, foi dado a Nick Sand e Tim Scully uma fórmula para um novo método de manufaturar LSD que contornou os problemas do antigo método; foi dito a eles que era de um “amigo”, um aliado que acreditava no que eles estavam fazendo, mas não podia ser revelado no momento. No jantar do MAPS em 2010, um uma revelação surpreendente que passou despercebida pela maioria da audiência e até onde eu saiba nunca havia sido informada, Nick Sand identificou o misterioso “amigo” como sendo Sasha.

Assumindo que isso seja verdade – e obviamente Nick Sand não teria nenhuma razão para inventar uma história como essa – isso significa que juntamente com a popularização do MDMA, e à invenção de literalmente centenas de substâncias psicodélicas e empatógenas que surgiram com regularidade crescente no século 21, Alexander Shulgin foi também o inventor do LSD Orange Sunshine, que é de longe o LSD mais fabricado dos anos 60 até agora (estima-se que o Orange Sunshine seja 75% de todo o LSD do mundo). Ou para colocar de outro modo, enquanto Albert Hofmann inventou o LSD, pode ser dito que graças a Sasha (e à bravura de Nick Sand, Tim Scully e a irmandade do Eternal Love [8]) ele está disponível desde 1967!

Pelo que me lembro, Sasha ficou lá sentado com um brilho evidente em seus olhos e um sorriso perverso durante o testemunho de Nick como que dizendo, “O que eles podem fazer comigo agora!” Mas esse é o Alexander Shulgin clássico, olhando para uma platéia que o adorava, no que talvez foi uma das noites mais felizes de sua vida incrível, com a mesma mistura singular de humor e intelecto que o fez nosso único e especial Padrinho Psicodélico, e o arquiteto insubstituível da cultura psicodélica atual.

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Na próxima parte dessa série eu examinarei as diferentes e ainda assim igualmente importantes contribuições de Terence McKenna.

Correção do autor: Um exame mais cuidadoso dos comentários de Nick Sand no jantar do MAPS revela que eu estava enganado na minha compreensão do envolvimento exato de Sasha no desenvolvimento da síntese do LSD Orange Sunshine por Owsley, Nick Sand, Tim Scully e a Irmandade do Eternal Love. Enquanto dizendo à audiência como ele (Nick Sand) tinha uma “síntese para o LSD” que era desafiadora e então falando sobre pegar uma “síntese” com Sasha, o que permitiu que seu projeto de LSD prosseguisse, Nick então disse que a Irmandade deu a ele uma “síntese” que eles adaptaram da pesquisa de Sasha e que com “aquela síntese eu fui capaz de fazer quantidades de DOM suficientes para angariar os fundos para fazer o projeto Orange Sunshine acontecer”

http://www.maps.org/videos/source2/video13.html

Aparentemente as restrições do precursor que vieram como resultado do LSD se tornar ilegal resultou em um aumento no preço dos precursores assim como uma disponibilidade limitada, e a Irmandade do Eternal Love simplesmente não tinha os fundos para manufaturar o LSD como eles queriam. Mas assim como Nick aponta, a fabricação do DOM (vendido nas ruas como STP) gerou os fundos necessários para a síntese do LSD Orange Sunshine, fazendo com que o papel de Sasha no caso fosse muito mais periférico e limitado do que eu anteriormente afirmei. Também não parece que houve uma conexão direta entre Owsley e a Irmandade e Sasha, uma vez que Owsley foi preso em 1967 por 100 gramas de LSD e uma quantidade de DOM em pílulas de 20mg comprimidas – e aparentemente alheio ao fato que essa quantidade era duas a seis vezes mais potente – Owsley colocou a culpa em Shulgin. “Ele tinha esse material, e nós achamos que poderia ser bom. Na verdade não foi”.

Meus agradecimentos a Jon Hanna por sua pesquisa rigorosa e conhecimento sem fim.

NOTAS

[1] “Feniletilaminas Que eu Conheci e Amei”

[2] Veja “O que os Enteógenos podem nos Ensinar?

[3] Shulgin, Alexander (1988). Substâncias Controladas: Guia Químico e Legal para Leis de Drogas Federais. Ronin Publishing, ISBN 0-914171-50-X

[4] Através do U.N, os Estados Unidos criaram efetivamente as leis de droga globais.

[5] Duas revisões internas pelo DEA subsequentes pelos 15 anos que se seguiram à publicação do PiHKAL falharam em encontrar qualquer atividade ilegal por Sasha.

[6] “Triptaminas Que eu Conheci e Amei”

[7] MAPS: Associação Multidisciplinar Para as Ciências Psicodélicas.

[8] A Irmandade do Eternal Love era um grupo de surfistas contrabandistas de haxixe que se dedicaram à distribuição mundial do LSD como um método de mudança social. Depois de abrigar Timothy Leary por um tempo, e logo após para The Weatherman para retirar Leary da cadeia, a Irmandade se tornou a maior rede de distribuição global de LSD e foi grandemente responsável por manter o preço do LSD a $1 dólar a dose por mais de 30 anos uma vez que eles não tiveram nenhum lucro de suas vendas de LSD. Nick Sand e Tim Scully eram os mais famosos químicos da Irmandade; enquanto acredita-se que Leonard Pickard, o químico preso em 2000 na apreensão do silo Wamwego, seja o último.

Fonte

A Segunda Revolução Psicodélica, Parte 1 – O Fim do Ácido

Essa é a primeira parte de uma série de 6 artigos examinando o estado da cultura psicodélica contemporânea através das contribuições de seus principais arquitetos: Alexander Shulgin, Terence McKenna e Alex Grey.

Em novembro de 2000, uma operação do DEA apelidada de “Operação Coelho Branco” prendeu William Leonard Pickard e Clyde Apperson enquanto eles estavam movendo um suposto laboratório de produção de LSD de um silo de mísseis renovado em Wamego Kansas para uma localização não divulgada. Muitas questões permanecem sobre o caso e o envolvimento do informante do DEA, Todd Skinner[1], e o DEA agora afirma que nenhum LSD foi jamais produzido naquele silo. Mas ambas análise estatística e evidência anedótica de rua concordam com a alegação do DEA que essa apreensão resultou na queda de 95% do suprimento de LSD do mundo naquele tempo, fazendo parecer possível que aquele poderia realmente ser “O fim do LSD”.

Um ano depois, quase na mesma data (10 de Novembro de 2001), Ken Kesey, uma das grandes figuras dos experimentos com LSD, morreu. Com as cinzas de Timothy Leary já orbitando no espaço, e com a dissolução da banda Grateful Dead há mais de 6 anos após a morte de Jerry Garcia, poderia se deixar acreditar que a Revolução Psicodélica que tinha começado em algum tempo na década de 1960 – com a introdução social do LSD – tinha finalmente acabado. O mundo tinha mudado de muitas maneiras graças à descoberta dos psicodélicos. Mas como a maioria das revoluções, seus sonhos não foram totalmente completados, e seus heróis estavam virando uma lenda.[2]

Ironicamente, por mais interrompido e antiquado que o “Movimento Psicodélico” possa parecer no momento, as sementes da “Segunda Revolução Psicodélica” já foram plantadas mais de uma década atrás. Essas sementes floresceram no deserto da falta de LSD.

Esse foi um exemplo profundo de como a proibição inefetiva pode agir extinguindo o interesse em uma substância potente. A possibilidade de um mundo sem LSD inspirou uma geração jovem a procurar uma série de psicodélicos alternativos – alguns velhos, outros novos. No processo, eles redescobriram e regeneraram a experiência enteogênica original – o sabor místico do outro lado, as descobertas fora do espaço e temp0 – que o LSD forneceu para os pioneiros de 1960.

Agora, pouco mais de uma década depois, nós podemos presenciar a pesquisa psicodélica entrando vagarosamente mas com firmeza as universidades e laboratórios de pesquisa, graças a: visão e persistência de Rick Doblin e o MAPS[4]; a expansão global do meme Burning Man; o rápido crescimento do entrelaçamento do Movimento de Arte Visionária e a cultura transformadora de festivais de arte e música; Música Eletrônica, que é a primeira forma musical popular a venerar e popularizar os psicodélicos desde a década de 60; o nascimento de centenas senão milhares de websites (Erowid, DMT-Nexus, etc.) que ou promovem psicodélicos ou são diretamente influenciados por eles; o grande número de novos livros sobre psicodélicos nas prateleiras (ou pelo menos na Amazon); e a grande variedade de psicodélicos e enteógenos – tanto naturais quanto feitos pelo homem – que já esteve disponível para qualquer sociedade na história. Podemos dizer que a  revolução psicodélica/enteogênica na cultura ocidental está viva e bem. De fato, agora está entrando em uma renascença.

Então, como essa Segunda Revolução aconteceu? Quais são seus objetivos e ideais? Ela é diferente da Primeira Revolução Psicodélica de 1960, ou somente uma moda que está se re-inventando?

Como alguém que teve acidentalmente sua própria segunda revolução psicodélica em 2003 após fumar o raro enteógeno 5-MeO-DMT comprado ilegalmente da internet, e como o autor de um livro amplamente revisto sobre psicodélicos, e como um dos fundadores da FractalNation[5], um campo BurningMan conhecido por suas performances de música e galeria de arte visionária e palestras (que têm sido o ponto alto da cultura psicodélica no planeta nos últimos 3 anos.. mais sobre isso mais tarde), eu creio que estou em uma boa posição como alguém para examinar e ajudar a definir essa mudança nas atitudes de nossa sociedade a favor do potencial dos psicodélicos, assim como as esperanças, medos, sonhos e aspirações de nosso Movimento.

Fazendo isso, eu espero trazer uma consciência melhorada da oportunidade agora apresentada a nós, juntamente com o aviso que, embora sua popularidade aumente, a Segunda Revolução Psicodélica já está ameaçada. Eu também quero promover a possibilidade que os psicodélicos, que uma vez pareceram ser uma fórmula para a mudança social instantânea na década de 1960, podem ser salva-vidas para toda a sociedade que deseja emergir do caos que a mudança ambiental e o crescimento da população irão gerar na segunda metade do século 21.

Lucent Dossier apresentando com Tipper no Fractal Planet, Burning Man, 2013
Lucent Dossier apresentando com Tipper no Fractal Planet, Burning Man, 2013

O nascimento da Segunda Revolução Psicodélica começou uma década antes do Silo do Texas com a publicação de quatro livros bem diferentes nos anos 90: Espelhos Sagrados: A Arte Visionária de Alex Grey (1990); PiHKAL; Uma História de Amor À Química, por Alexander (Sasha) e Ann Shulgin (1991); e O Retorno à Cultura Arcaica e O Alimento dos Deuses (1992) por Terence Mckenna. Esses livros iriam providenciar a fundação filosófica para esse novo movimento psicodélico. Esse movimento foi em grande parte criado pela popularização de uma nova forma de música eletrônica sem paradas que estava se infiltrando nas festas de lua cheia em Goa, India. Nos anos 90, essa música começou a se espalhar para clubes e locais remotos e distantes ao redor do mundo.[6] Um fator importante foi a popularização da internet, que pela primeira vez permitiu a proliferação da cultura psicodélica sem medos de censura ou repercussão.

Para recapitular, os cinco desenvolvimentos culturais que distinguem a Segunda Revolução Psicodélica da revolução de rock e LSD de 1960 são:

  1. A introdução de um número variado de componentes psicodélicos e análogos, especialmente feniletilaminas da família do 2-C como o 2-CB, 2C-I, e 2C-E.
  2. A redescoberta de plantas enteógenas sagradas, especialmente a ayahuasca, e a publicação de métodos simples para extrair DMT de fontes vegetais.
  3. O nascimento da arte visionária (que é com frequência uma forma deliberadamente sagrada da arte psicodélica), e sua integração de duas décadas nos festivais de cultura contemporâneos (mais notavelmente no Burning Man nos EUA e BOOM! em Portugal).
  4. O crescimento da música trance-psicodélica que integrou cantos sagrados de várias culturas com batidas house ácidas sem paradas.
  5. A popularização da internet, que permitiu a disseminação rápida da cultura psicodélica.

Todos que experimentaram o crescimento mundial dos festivais de cultura transformadora através dos últimos 10 anos, ou tropeçaram na seção “Do Lab’s” do Coachella (um dos últimos festivais bons de ‘rock’), participou de uma das conferências do MAPS na California, ou o Fórum Psicodélico Mundial em Basel, Suíça, ou até mesmo navegou pela internet e descobriu sites de informações psicodélicas como o Erowid e o DMT-Nexus, irá facilmente reconhecer a influência e prevalência de alguns, senão todos novos desenvolvimentos na cultura psicodélica. Entretanto, durante os dias finais do século 20, e no final da Primeira Era Psicodélica se preferir, nenhum desses fatores era popular ou conhecidos comumente. E mesmo que seja de algum modo irrelevante classificar a importância das várias diferentes contribuições dos três principais arquitetos dessa nova era psicodélica – Alex Grey, Terence McKenna, e Alexander ‘Sasha’ Shulgin – eu creio que a maioria dos historiadores e observadores educados concordarão que a contribuição de Sasha – a publicação de PiHKAL e logo após TiHKAL – foi inegavelmente o primeiro ato essencial e ao mesmo tempo bravo.

Essa é a primeira parte de uma série de 5 artigos. Para ler a segunda parte, clique aqui.

NOTAS

[1] Ambos Pickard e Skinner – o ocupante do silo e alegadamente o parceiro de Pickard – tinham a fama de ter inúmeros laços com a CIA e o DEA. Pickard aparentemente teve o final errado desse acordo, recebendo prisão perpétua dupla pela alegada fabricação de 10 gramas de “uma mistura contendo dietilamida do ácido lisérgico”. Apperson recebeu uma sentença de 30 anos, enquanto Skinner saiu livre, para ser preso logo após com uma sentença de 90 anos por sequestro e assalto. Enquanto todas as fontes envolvidas contam histórias muito diferentes do evento, não vale nada que o DEA exagerou demasiadamente a quantidade de LSD encontrada (90 kg de LSD puro, enquanto só foram encontrados 7 quilos de precursor) e nunca achou nenhuma trilha de dinheiro significativa que sugerisse que Pickard fabricou a quantidade de LSD que Skinner afirmou. Pickard, para o registro, afirmou que foi uma vítima das fantasias elaboradas de Skinner.

[1] http://thislandpress.com/gordon-todd-skinner/

[2] Albert Hofmann, o descobridor do LSD, ironicamente viveu mais que todos. Ele morreu em 2008 com a idade marcante de 102 anos.

[3] Esses pioneiros utilizaram LSD em dosagens muito maiores do que as comumente utilizadas na comunidade de música eletrônica. Hoje, uma dose de LSD fica, em média, entre 75-100µg, enquanto uma dose simples de LSD em 1966 era em torno de 400µg. Muitos iniciantes eram encorajados a tomar uma dosagem dupla se eles quisessem experimentar a “luz branca”!

[4] MAPS; Associação Multidisciplinar das Ciências Psicodélicas.

[5] Fractal Planet em 2013.

[6] A primeira festa “Goa-Trance” em Londres foi em 1990. O Burning Man se mudou de Baker Beach, São Francisco, para Black Rock Desert em 1991; haviam 250 participantes.

Fonte

Os Efeitos Visuais de Uma Experiência Psicodélica

Esse guia é uma tentativa de categorizar e descrever em termos simples os efeitos subjetivos específicos que drogas psicodélicas causam. Ele descreve não experiências pessoais, mas a universalidade de efeitos que foram sentidos e reportados pela maioria, senão todos os usuários de psicodélicos.

Ele está dividido em três diferentes seções:

I. Os efeitos visuais da experiência psicodélica.
II. Os efeitos cognitivos da experiência psicodélica.
III. Os efeitos diversos da experiência psicodélica.

O primeiro é uma descrição da experiência visual, o segundo é uma descrição da experiência mental e o terceiro é uma descrição dos componentes sensoriais que não se encaixam nem nos efeitos mentais, nem nos visuais. Ele é em referência a todos os psicodélicos clássicos e à grande variedade de modernos e obscuros “químicos de pesquisa” que estão se tornando cada vez mais prevalecentes. Mais especificamente essa lista inclui, mas não é limitada a: LSD, Cogumelos, DMT, Ayahuasca, LSA, Mescalina, Bufotenina, 5meoDMT, AMT, Harmina, Harmalina, MDA, a família 2Cx e a família DOx.

Foi tentado manter o guia o mais preciso e bem escrito possível, mas a maioria desses efeitos não podem ser descritos somente com palavras, especialmente quando passamos de dosagens baixas ou moderadas.

Esse guia fornece exemplos na forma de imagens sempre que possível tal, quebrando as alucinações visuais em quatro categorias básicas, tais quais: melhora na visão, distorções, geometria visual e estados alucinatórios. O guia iniciará com os efeitos mais básicos, adentrando para efeitos mais complexos. A maioria das imagens exemplificatórias foram encontradas na internet. Porém a maioria foi retirada deste Tumblr.

Primeira Categoria de Efeitos Visuais: Aumento na capacidade visual

A primeira categoria de efeitos visuais pode ser classificada como um aumento geral da visão. Isso é reportado consistentemente nos níveis mais baixos das experiências psicodélicas. Pode ser definido genericamente como um aumento na taxa de entrada visual, atribuído ao ambiente externo que uma pessoa experimenta, e é manifestado através de 3 sub-componentes separados.

1. Acuidade visual aumentada:
A acuidade visual é definida pela literatura médica como uma agudeza ou claridade da visão, que é dependende da nitidez do foco da retina no olho e na sensibilidade da faculdade interpretativa do cérebro. O nível mais baixo de uma experiência psicodélica reportado foi de um aumento na nitidez e na acuidade, que pode ser descrita como uma nova habilidade de compreender todo o campo visual de uma vez, incluindo a visão periférica. Em comparação, a visão de um humano durante um estado de consciência padrão é somente capaz de perceber a pequena área que o olho da pessoa está focado. Esse aumento na nitidez e na acuidade visual, atribuído ao ambiente externo, é consistentemente intensificado ao ponto em que as bordas dos objetos se tornam extremamente focadas, claras e definidas. Esse efeito visual não muda necessariamente a aparência do ambiente externo, mas sim o nível de detalhamento que o mesmo é percebido. Até mesmo em uma viajem de baixa dosagem é comum que as pessoas percebam de repente padrões e texturas que nunca antes haviam apreciado, ou prestado atenção. Por exemplo, quando olhando para cenários, a natureza e as texturas do dia-a-dia, a complexidade e a beleza da entrada visual se torna de repente extremamente óbvia.

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2. Melhoramento da cor

Juntamente com o efeito anterior é constantemente reportado que durante uma experiência psicodélica de baixo nível as cores começam a se destacar, se tornando extremamente brilhantes e vívidas. Vermelhos ficam “mais avermelhados”, verdes mais “esverdeados”; todas as cores se tornam muito mais distintas, poderosas e intensas do que poderiam possivelmente ser durante todos os dias, sob um estado sóbrio. Um meio consistente de reproduzir esse efeito é de estar em meio à natureza.

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3. Aumento na capacidade de reconhecimento de padrões

A habilidade de uma pessoa de reconhecer figuras (usualmente faces) em qualquer estímulo vago é aumentado muito durante uma experiência psicodélica de baixo nível. Essa habilidade nata que seres humanos possuem no dia-a-dia é referido na literatura científica como pareidoilia e é muito bem documentado. Exemplos comuns na vida diária incluem descobrir faces em objetos comuns, e visualizar nuvens como objetos imaginários. Esse efeito pode se tornar extremamente intenso durante uma experiência de baixo nível. Por exemplo, todas as folhas de uma árvore podem se assemelhar a pequenos rostos verdes, o cenário pode se tornar muito parecido com pessoas ou objetos, e nuvens podem ser facilmente reconhecidas como objetos imaginários, sem nenhuma mudança visual acontecendo realmente.

Segunda Categoria de Efeitos Visuais: Distorções

A segunda categoria de efeitos visuais encontrados em uma experiência psicodélica é conhecida como distorção ou alteração visual. Essas podem ser facilmente descritas como mudanças na percepção atribuídas ao ambiente externo que está sempre, obviamente, fixo na realidade. Esses efeitos são manifestados através de 6 subcomponentes separados.

1.Flutuação visual

Flutuação na visão é de longe a distorção de olhos abertos mais comum experimentada durante uma experiência psicodélica. Ela pode ser descrita como a sensação de que objetos e o cenário estão parecendo se tornarem cada vez mais deformados e fundidos no campo visual. Essas alterações aumentam gradativamente à medida que a pessoa fixa o olhar, mas são completamente não permanentes – significando que eles voltam ao nível normal quando a pessoa analisa duas vezes a distorção.

O estilo particular desse efeito depende da continuidade da mudança de direção, velocidade e ritmo da distorção, resultando em uma pequena variedade de diferentes manifestações. O vídeo abaixo demonstra esse efeito em uma intensidade moderada e em um nível de detalhes extremamente preciso.

 

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Tranformações – Esse efeito é completamente desorganizado e espontâneo, tanto para ritmo quanto para direção. Ele pode ser descrito como objetos ou cenários aparentarem uma mudança gradual de tamanho, forma, configuração e aparência geral em uma infinidade de maneiras.

Respiração – Esse efeito faz com que objetos ou cenários aparentem expandirem ou contraírem ritmicamente, como se o objeto estivesse respirando de uma maneira semelhante à pulmões de seres vivos.

Derretendo – Não é incomum que objetos e cenários parecerem derreter completamente ou parcialmente. Os efeitos começam em baixas dosagens sob a forma de uma liquidificação gradual de objetos que faz com que eles comecem a inclinar, oscilar e lentemante perderem a sua integridade estrutural. Isso aumenta gradativamente até que se torne impossível ignorar como as linhas, texturas e cores dos objetos sólidos parecem se fundir umas com as outras, de uma maneira extremamente líquida.

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Fluindo – Superfícies fluindo, deslocando-se ou ondulando são um efeito visual forte que parece ocorrer quase que exclusivamente em texturas, particularmente se elas são muito detalhadas, complexas ou ásperas. Um exemplo clássico disso pode ser um piso de madeira fluindo como um rio em uma animação em loop. Um modo consistente de reproduzir esse efeito visual é olhar para um piso de madeira e desfocar a visão.

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Os efeitos acima que compreendem a flutuação visual como um todo se fundem e se misturam constantemente um com os outros. Eles são capazes de se manifestarem através de quatro níveis de intensidade visual que podem ser descritos como:

1. Periférico – A forma de distorção mais básica pode ser descrita como uma agitação de linhas retas no ambiente externo que ocorre exclusivamente dentro do campo de visão periférica e que não pode ser olhado diretamente.

2. Direto – Nesse nível, as distorções não aumentam em intensidade visual necessariamente, mas podem ser diretamente vistas no campo visual de uma pessoa. Esse altera parcialmente a aparência e forma de objetos e cenários no ambiente externo, fazendo com que ele delineie sutilmente, dobre-se e derreta-se.

3. Distinto – Esse é o nível em que as distorções se tornam visualmente poderosas o suficiente para alterar e transformar drasticamente a forma de objetos específicos no ambiente externo, até o ponto em que eles se tornem irreconhecíveis em comparação à sua forma original.

4. Abrangente – No nível mais alto de flutuação visual, a intensidade se torna poderosa o suficiente para distorcer não somente objetos específicos reconhecíveis, mas todo e qualquer ponto da visão de uma pessoa e a totalidade do ambiente externo.

2.Troca de Cores
Frequentemente as cores de vários objetos, particularmente aqueles que possuem uma cor que se destaca das demais, serão submetidas a um efeito que troca as cores através de um ciclo repetido de matizes em um movimento fluido em toda a sua superfície. Por exemplo, musgo em uma pedra pode trocar fisicamente de verde, para vermelho, para azul e então para verde novamente em um curto período de tempo.

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3.Distorções na Percepção de Profundidade
É muito comum experienciar ambas intensas e leves distorções na percepção de profundidade durante uma experiência psicodélica. Aqui é quando as profundidades e camadas do cenário à sua frente podem se tornar exageradas, enviesadas ou completamente bagunçadas. Um exemplo clássico disso é a troca de camadas em um cenário. É quando os objetos no plano de fundo passam para o plano superior e objetos do plano superior passam para o inferior. Outro exemplo de profundidade de campo enviesada é a completa perda dela, quando as diferentes seções de um cenário se aproximam e se distanciam, chegando a virarem uma imagem plana momentaneamente.

4.Rastros
Rastros são a experiência de trilhas sendo deixadas atrás de objetos que se movem, tais como pessoas, pássaros ou carros. Rastros são geralmente muito óbvios e são semelhantes em aparência ao mesmo tipo de trilhas deixadas atrás de objetos em fotografias de longa exposição. Se manifestando como trilhas suaves ou múltiplas camadas da mesma imagem repetida que desaparece gradativamente em cada repetição. As trilhas podem ser exatamente da mesma cor do objeto reproduzido que está se movendo ou podem ser algumas vezes cores randômicas selecionadas do mesmo. Rastros podem ser quebrados em quatro níveis básicos de intensidade visual que podem ser descritos como:

1. Tranparentes – A forma mais básica de rastros pode ser descrita como imagens quase transparentes que desaparecem quase imediatamente e se desenham atrás de objetos em movimento com um comprimento máximo de 4-6 centímetros.

2. Translúcidos – Nesse nível, rastros podem aumentar seu comprimento até aproximadamente metade do comprimento do campo visual em que o objeto seguido está se movendo. Em termos de claridade, os rastros mudam de quase visíveis para distintos e somente parcialmente transparentes em cor.

3. Opacos – Esse é o nível em que rastros se tornam completamente sólidos na aparência e opacos na cor, com bordas distintas e nítidas, que desenham um contraste claro entre o plano de fundo e o próprio rastro. Eles se tornam do mesmo tamanho do campo visual em que o objeto se moveu e podem permanecer por vários segundos.

4. Abrangentes – O nível mais alto ocorre no ponto em que o campo visual de uma pessoa se tornou tão sensitivo à criação de rastros que a totalidade do campo visual mancha-se e borra-se em um único rastro, ao mínimo movimento do olho. Isso pode fazer com que fique extremamente difícil para ver claramente a não ser que os olhos fiquem parados e permaneçam assim por até 20 segundos.

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5.Repetição Simétrica de Texturas
Repetição simétrica de texturas é uma distorção distinta e óbvia que se manifesta especificamente em texturas como grama, carpetes, asfalto, toalhas, macadame, toalhas, tapetes de banheiros, cascalho, vegetação densa, folhas caídas, cascas de árvores e mais.
Pode ser descrita como se a textura se tornasse espelho-repetida na sua superfície e extremamente intrincada e simétrica em si mesma, mantendo um nível alto de detalhes e clareza visual dentro do campo visual de uma pessoa e sua visão periférica. Isso se mantém independentemente de quão perto você olhe para a distorção. Quando essas texturas repetidas estão sendo geradas, elas começam a dar vida para uma grande gama de formas abstratas, figuras, geometria e padrões que são embutidos ao longo da simetria. Algo que é universalmente interpretado como uma maneira complexa de perceber e fisicamente fora do normal de uma maneira indescritível.

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5.Fatiamento do Cenário

O fatiamento de cenário é um efeito que ocorre somente espontaneamente e faz o campo visual aparecer como que cortado muito bem em fatias separadas com uma espécie de lâmina. Essas fatias separadas parecem então se distanciarem lentamente de sua posição inicial e podem ser tão simples quanto três seções, ou tão complexas como múltiplas fatias se movendo em um espiral que foi cortado em seu campo de visão.

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Terceira Categoria de Efeitos Visuais: Geometria

A terceira categoria de efeitos que afetam diretamente a visão podem ser descrita como a sensação de o campo visual de uma pessoa, de olhos abertos e fechados, estar parcialmente ou completamente englobado por padrões geométricos complexos e caleidoscópicos de movimento rápido, formas, fractais, estruturas e cores.

A geometria visual nunca permanece fixa em nenhum ponto e é com frequência extremamente mutável e auto-transformável em termos de suas formas e estilos. Isso acontece enquanto a geometria está flutuando naturalmente lateralmente ou radialmente em relação ao campo visual para criar redes sobreponíveis de muitos padrões geométricos crescentes e decrescentes, que são todos visíveis dentro de um frame perceptivo.

Quando experimentado, cada frame da geometria visual tem de alguma forma um sentido de profundidade e importância atribuído, muitas vezes passando a sensação de que possuem uma geometria que representa perfeitamente o estado mental em que você se encontra.

Existem sete diferentes níveis de visuais psicodélicos, aumentando gradativamente a complexidade e fascínio.

1.Ruído Visual
Esse é o nível mais básico de geometria visual e pode ser experimentado em um estado completamente sóbrio. Ele pode ser descrito como um ruído visual ou estático combinado com luzes aleatórias e regiões vermelho escuras que podem ser vistas sob as pálpebras dos olhos.

2.Movimento e Cores
Esse nível é também facilmente obtido sem psicodélicos e pode ser descrito como o aparecimento de regiões desestruturadas de flashes de luz e nuvens de cores.

3.Geometria Parcialmente Definida
Esse é o nível onde as coisas começam a se tornar distintivamente psicodélicas, e formas complexas indescritíveis e padrões começam a se formar. Nesse nível, entretanto, os padrões podem ser descritos como estritamente bidimensionais. Eles são legais, pequenos, e distantes em tamanho com uma paleta de cores escuras que se limitam a alguns tons diferentes de negros, vermelhos e violetas escuros. Eles se exibem em ambos os campos visuais de olhos fechados e olhos abertos através de um véu de geometria plana, mas significantemente mais detalhados com os olhos fechados em ambientes escuros.

4.Geometria Totalmente Definida
Esse é o nível onde os detalhes em que a geometria se exibe se tornam profundamente complexos mas permanecem estritamente bidimensionais. Nesse ponto os visuais se tornam maiores em tamanho e extremamente intrincados em detalhes com uma paleta de cores sem limites de possibilidade. Eles são dispostos no campo visual de olhos abertos e olhos fechados através de um véu de geometria plana que flutua diretamente em frente aos olhos, se tornando significantemente mais detalhados com os olhos fechados em ambientes escuros.

5.Geometria Tridimensional
Nesse nível a geometria se tornará totalmente tridimensional na sua forma e posições através do campo visual. Isso adiciona uma nova camada de complexidade visual totalmente nova e a deixa espalhada nas superfícies, paredes, objetos e móveis do ambiente, ao invés de ser exibida através de um véu plano.

6.Sobrepondo a Percepção Física
Esse é o ponto em que a geometria se torna tão intensa, vívida e brilhante que ela começa a bloquear e substituir o mundo externo. Nesse nível o ambiente começa a ser substituído por visuais, com os objetos e o cenário se transformando em massas alastradas de geometria. Conforme aumenta, o efeito acaba substituindo completamente o ambiente, criando a sensação que você está participando de outra realidade.

7.Níveis 7A e 7B
Uma vez que a geometria tenha atingido o sétimo e último nível, não há apenas um pináculo da experiência psicodélica mas dois. Parece que dependendo dos fatores subjetivos do ambiente e do psicodélico consumido, os visuais são capazes de se separar em duas versões separadas do seu nível mais elevado possível. O fator decisivo entre as duas opções não é ainda conhecido, mas parece ser completamente randômico, significando que o sétimo nível dos visuais terá de ser separado em duas categorias distintas de intensidade igual. Esses são conhecidos como níveis 7A e 7B. Uma vez que a geometria visual atinge o nível 7A ou 7B, ela começa a se tornar estruturada e organizada de um modo que apresenta informações genuínas para o usuário muito mais avançadas do que os 6 níveis anteriores. Isso é feito através da compreensão de representações geométricas que parecem como se representassem conceitos específicos e componentes neurológicos que existem no cérebro. Nesse ponto, conceitos podem ser vistos não somente embutidos em seu campo visual de olhos abertos ou fechados, mas sentidos simultaneamente através de sensações físicas complexas.

7A.Exposição aos elementos da estrutura neurológica
Esse nível ocorre quando o ambiente foi totalmente substituído por visuais. Quando eles atingem o nível mais elevado possível, a mente se sente como se cada ponto no cérebro se tornasse completamente conectado com cada um dos outros pontos. A sensação é de que você está sendo exposto visualmente e fisicamente a cada conceito armazenado interiormente, a memória e a estrutura neurológica do subconsciente, tudo de uma vez, deixando o usuário com a sensação literal de experimentar tudo que existe no universo simultaneamente; algo que pode ser descrito como um mar infinito de geometria, conceitos, estruturas, memórias e fractais que são percebidos como contenedores de toda a existência, tudo o que já existiu, e tudo o que existirá.

Esse oceano vasto da mente não é só visto na frente dos olhos mas sentido fisicamente em um nível imcompreensível de detalhes através de todo ponto pessoal. A experiência é imediatamente percebida como sendo o “universo inteiro” ou pelo menos “tudo” por quem a experimenta.

Em seus níveis mais baixos esse efeito é algo que flutua descontroladamente, levando os usuários para dentro e fora do quarto de um modo que muitos acham extremamente desorientador. Em vez de permanecer constante e estático, ele é disparado pela presença de um conceito. Por exemplo, se alguém dissesse a palavra “Internet” para uma outra que está nesse estado, ela veria o conceito da mente sobre Internet imediatamente manifestado em uma geometria perfeitamente encaixada no centro de seu campo visual. Essa forma rapidamente se espalha como uma espécie de diagrama em árvore, envolvendo os conceitos que você associa com a Internet e então ramificando novamente para incluir os novos conceitos que você associa com esses. Isso se espalha exponencialmente e dentro de 2-3 segundos se transforma em um flash para incluir cada um dos conceitos dentro de todo o universo, desconectando completamente o usuário do ambiente externo antes de o re-inserir novamente, até que algo inicie o processo novamente, normalmente logo em seguida. O usuário é retirado e colocado novamente no quarto enquanto o processo é gerado continuamente.

Entretanto, esse processo pode ser barrado com o movimento físico constante, impedindo o processo de se ramificar não dando tempo para ele permanecer em um único conceito.

Mas com o aumento da dose, contudo, o processo se torna mais fácil de iniciar se estendendo em duração e comprimento – resultando eventualmente em um estado estável de completa desconexão do ambiente externo e um senso permanente de unidade com o universo.

7B.Exposição aos elementos mecânicos da consciência humana
Esse nível pode ser descrito como o sentimento profundo de se tornar completamente desligado do ambiente externo e indo para um lugar que é universalmente interpretado por qualquer um que passe pela experiência como “os mecanismos de funcionamento do universo”. Esse é um lugar em que parece realmente que você entrou nos mecanismos da realidade ou o centro mais profundo da existência por ela mesma, com a programação fundamental do universo e a natureza real por trás da nossa consciência, se apresentando ao usuário em uma série de formas geométricas legíveis.

Ele pode ser divido em dois subníveis básicos:

-Se tornando os mecanismos internos da mente consciente

No nível mais baixo da geometria visual 7B, a experiência se manifesta se tornando e se sentindo a organização e estrutura de seu pensamento atual. Isso é representado aos usuários na forma de uma rede de geometria condensada infinita e de rápidos movimentos que se ramifica em um nível de organização e interconexão que nunca poderia ser possivelmente experimentado dentro do mundo físico real.

A rede de mudança constante segue o ritmo e a cadência de seu diálogo interno perfeitamente. Isso cria e manifesta novas conexões de um modo que é fisicamente sentido através de uma sensação poderosa, e visto embutido em seu campo visual a cada vez que qualquer peça ou novo insight de conhecimento é obtido.

Essa vasta rede de visuais que representam o pensamento contém representações geométricas de conceitos específicos e abstratos compreendidos naturalmente, embutidos dentro de cada um dos pontos conectores ao longo dela mesma. A experiência da leitura dessas representações geométricas leva a mente a visualizar o conceito perfeitamente em um campo visual interno que existe separadamente desse.

-Se tornando os mecanismos internos da mente subconsciente

Em um nível mais elevado da geometria visual 7B, a experiência se manifesta como uma habilidade recém encontrada de sentir, ver e se tornar um com a arquitetura da mente subconsciente. Isso é apresentado aos usuários na forma de mecanismos auto-mutáveis extremamente vastos e complexos que são imediatamente interpretados por qualquer um que passa pela experiência como os métodos de funcionamento do universo e da realidade.

Esse estado é capaz de inserir peças de informações específicas nos usuários sobre a natureza da realidade e da consciência humana, através da simples experiência deles. Essas peças específicas de informação são sempre sentidas imediatamente e entendidas como sendo uma descoberta profunda inegável no momento, mas que após são consideradas inexpressivas, por causa das limitações humanas de linguagem, ou sem sentido devido à desorientação dos efeitos cognitivos que a acompanham.

Ocasionalmente, entretanto, lições genuínas ou mensagens coerentes são interpretadas através da experiência de se tornar e alcançar as faculdades subconscientes do cérebro. É extremamente importante ressaltar, contudo, que a validade científica dessas lições são extremamente incertas e nunca devem ser aceitas imediatamente como fatos sem uma análise sóbria e minuciosa.

Abaixo há uma coleção de exemplos que podem ser considerados precisos de alguma forma. Porém, a vastidão e complexidade da verdadeira geometria psicodélica é enormemente mais intrincada, significando que na realidade nenhuma imagem física poderia se tornar remotamente próxima à experiência real.

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Clique nos exemplos abaixo para exemplos antropológicos de visuais psicodélicos. Os Shipibos são uma grande tribo na floresta amazônica cuja cultura está pesadamente envolvida com o uso ritualístico da ayahuasca. Esses padrões texturais são feitos deliberadamente pelos Shipibos como artefatos alucinatórios da Ayahuasca, capturando os estilos específicos de formas repetidas de uma forma muito melhor que a maior parte da arte psicodélica moderna.

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Um outro componente extremamente comum na geometria visual são os fractais. São conceitos que existem na matemática e podem ser descritos como padrões complexos que se repetem infinitamente sobre si mesmos permitindo para a mesma imagem similar ser encontrada não importando o quão longe você se afaste de qualquer parte da imagem. Abaixo está uma coleção de fractais psicodélicos similares em aparência àqueles que são encontrados na geometria visual.

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Quarta Categoria de Efeitos Visuais: Estados Alucinatórios

O quarto efeito sensorial é talvez o mais profundamente subjetivo que a experiência psicodélica têm a oferecer. Eles são manifestados como 3 efeitos distintos que vêm em uma variedade de intensidades diferentes.

Imagens

Estados alucinatórios começam em baixas dosagens como imagens embutidas na geometria visual. Essas podem ser descritas como cenas espontâneas que se movem ou não, objetos, animais, pessoas, conceitos, lugares ou qualquer coisa que você possa imaginar. Elas são com frequência formadas fora dos visuais e são exibidas em variados níveis de detalhe abrangendo desde tipos cartunistas até completamente realistas, raramente segurando a forma por mais de alguns segundos antes de sumirem ou se transformarem em outra imagem.

Em certos psicodélicos, as imagens são manifestadas como representações visuais exatas de qualquer coisa que você esteja pensando dentro de sua visão mental, tornando ideias abstratas em imagens concretas e permanecendo consistentemente ilimitadas em suas habilidades. Essa é uma experiência que também é sentida por algumas pessoas durante a hipnagogia (o estado entre o sono e o despertar) ou privação de sono e é conhecida pela comunidade científica como “auto-simbolismo”.

Transformações

Transformações psicodélicas são essencialmente imagens de olho aberto. Elas são progressivas por natureza, o que significa que elas se formam surgindo de padrões ou objetos, então curvando, movendo-se ou ficando com uma aparência totalmente nova de objetos, pessoas, animais, conceitos, lugares ou qualquer coisa que você possa imaginar, fixos ou móveis. Isso é aprimorado e alimentado pelo efeito visual separado de reconhecimento de padrões, causando um vago estímulo que já parece vagamente como conceitos abstratos graças ao nosso senso inerente de paredoilia, as transformando em versões mais detalhadas do que elas já haviam sido percebidas.

O processo de movimento ou de bloqueio, no qual as transformações parecem ser geradas, requere uma certa concentração e foco para se manter. Perder a concentração por um instante pode fazer com que a imagem desapareça ou se torne outra imagem.

Segurar os olhos fixos irá aumentar a intensidade da transformação progressiva.

Alucinações

Quando esses estados de imagens e transformações se tornam gradativamente mais elaborados (proporcionalmente à dosagem), eles eventualmente se tornam alucinações 3D totalmente abrangentes. Elas podem ser qualquer coisa mas geralmente permanecem em arquétipos como contato com identidades autônomas, paisagens imaginadas, dimensões espirituais, e situações que parecem ser tão improváveis com o que foi experimentado anteriormente que são, em todas as probabilidades, impossíveis de expressar com linguagem. Alucinações são descritas com frequência como sendo transcendentais, místicas, espirituais e religiosas em sua natureza, independentemente da religião do usuário. Não é incomum para as pessoas relatarem que alucinações psicodélicas parecem ser infinitamente mais reais do que qualquer coisa que a pessoa experimentou em um estado sóbrio anteriormente.

Em termos de sua aparência estilística geral elas podem variar de alucinações que são estilizadas e compostas de um material com geometria visual condensada, ou elas podem ser completamente sólidas e realísticas em como parecem. Esse estado particular pode ser quebrado em quatro subcomponentes distintos.

Entidades Autônomas

Contatos com entidades autônomas são muito comuns. Essas entidades geralmente parecem ser habitantes de uma realidade independente percebida – elas são expectantes da sua visita e gostam de interagir com você de diversas maneiras. O comportamento de uma entidade típica é de um ser amável, inteligente, professor ou curandeiro que simplesmente quer mostrar a você o espaço dimensional particular deles, concedendo peças de conhecimento específicas para você o mais depressa possível antes que você perca os efeitos ou passe para outra alucinação. Uma vez que a perda dos efeitos inevitavelmente começa a acontecer, eles ficam genuinamente tristes por seu desaparecimento, muitas vezes acenam uma despedida, e o encorajam a visitá-los com mais frequência.

Entidades podem realmente assumir qualquer forma mas arquétipos Junguianos (Carl Jung) são definitivamente presentes, esses incluem:

humanóides super-inteligentes imateriais, alienígenas, elfos, esferas gigantes, insetóides, felinos, seres de luz, plantas, máquinas robóticas, deuses, deusas, demônios, seres humanos e mais.

Essas entidades e criaturas se comunicam com os usuários através de uma combinação de telepatia, linguagem visual, matemática e estruturas coloridas mutantes de diferentes texturas. Essa linguagem visual complexa é capaz de expressar significado puro e conceitos de um modo que nosso sistema atual de classificar conceitos com pequenos sons vocais nunca será capaz de expressar.

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Paisagens, Cenários e Ambientes

Um componente intrínseco de níveis alucinatórios elevados é a experiência de paisagens imaginárias extremamente detalhadas, ambientes e cenários de uma variedade infinita. Esses são manifestados espontaneamente, cercando o usuário e agindo como o ambiente em que a viagem ocorre. Em outros pontos elas agem como algo que seja sobrevoado mas também são muitas vezes experimentadas através do ato de entidades autônomas, manipulando diretamente o que você pode ver, direcionando os usuários em diferentes direções em velocidades desorientadas, os forçando a ver ou passar diretamente através de configurações macro e microscópicas, incluindo tanto paisagens anteriormente experimentadas quanto paisagens nunca vistas antes. Comumente incluem:

sistemas planetários, galáxias, quasares, selvas, florestas amazônicas, desertos, geleiras, cidades, ambientes naturais, cavernas, habitats espaciais, estruturas vastas, civilizações, utopias tecnológicas, ruínas, salas de máquinas, quartos e outros ambientes interiores, neurônios, DNA, átomos, moléculas, mitocôndrias e mais.

Conceitos

Esse componente particular de estados alucinatórios é extremamente comum por todo o imaginário psicodélico típico. Ele pode ser descrito como a experiência visual de uma série infinita de conceitos armazenados interiormente que podem incluir tanto objetos do dia-a-dia, conceitos subjetivos, conceitos não experimentados antes e misturas impossíveis dos três.

Em níveis mais baixos eles são manifestados como imagens espontâneas mas em níveis mais altos eles se tornam embutidos como objetos dentro do cenário, ou como objetos que são apresentados a você por entidades autônomas. Esses conceitos comumente incluem:

objetos do dia-a-dia, coisas vivas, plantas, animais, insetos, arquitetura, estruturas, formas, átomos, moléculas, conceitos e fórmulas matemáticas complexas, conceitos linguísticos, mecanismos, tecnologia, criaturas maquinárias, máquinas auto-replicantes, pessoas, faces, olhos, partes do corpo, órgãos, comida, referências culturais, personagens fictícios, logotipos, simbolismo religioso, criaturas, monstros, demônios, mitologia, móveis e mais.

É importante notar que a experiência alucinatória de conceitos que contém escritos tais como livros imaginários, documentos, sinais de trânsito, websites ou texto flutuante são usualmente representados através de símbolos alienígenas borrados ou dispersos. Entretanto, eles são ainda capazes de conter ocasionalmente linguagem coerente e mensagens legíveis em um nível de detalhe suficiente mas irão sempre resetar, mudar, ou simplesmente desaparecer se uma pessoa tentar lê-los duas vezes. Isso é consistente com o modo em que o comportamento do texto é relatado pela comunidade dos sonhos lúcidos.

Cenários e Enredos

Cada um dos componentes acima pode ser randomicamente trocado e dividido em qualquer um dos infinitos enredos que são capazes de serem experimentados sob a influência de experiências psicodélicas de altas doses. Eles são difíceis de definir mas podem ser divididos em arquétipos extremamente básicos que geralmente implicam em visitar algum tipo de realidade alternativa, ou um número delas as quais contém entidades interativas, múltiplas, ou solitárias entre uma série de conceitos e objetos organizados dependendo do enredo específico.

Os enredos podem ser lineares mas também podem ser completamente sem sentido.

Em termos da perspectiva através da qual eles são percebidos, as alucinações podem ser experimentadas em quatro diferentes formas.

  • Primeira Pessoa: Essa é a forma mais comum de alucinação e pode ser descrita como a experiência completamente normal de perceber a alucinação da perspectiva pessoal.
  • Segunda Pessoa: Pode ser descrita como a experiência de perceber a alucinação da perspectiva de uma fonte externa de consciência tal como outros seres vivos, um animal ou um objeto inanimado.
  • Terceira Pessoa: É essencialmente uma experiência extra-corporal e pode ser descrita como perceber a alucinação de uma perspectiva que está flutuando acima, abaixo, atrás, ou na frente do corpo físico do usuário.
  • Quarta Pessoa: É particularmente rara mas totalmente possível e pode ser descrita como a experiência de perceber a alucinação de uma perspectiva de múltiplos pontos de vantagem e, ocasionalmente, infinitos números de vidas alternadas.

Em termos da quantidade de tempo em que eles são experimentados, enredos alucinatórios e cenários parecem como se estivessem sendo experimentados em tempo real. Isso significa que quando 20 segundos são sentidos na alucinação, a mesma exata quantidade de tempo passou no mundo real.

Em outros pontos, entretanto, distorções temporais podem ocorrer, resultando em enredos e cenários que podem parecer como se durassem dias, semanas, meses, anos, ou até mesmo períodos infinitos de tempo. Quando isso ocorre, contudo, não é sentido como se milhares de anos de experiência tenham se passado dentro dos 15 minutos do tempo no mundo real, mas como se a memória ou sensação de milhares de anos que tenham se passado fosse formada depois da experiência e não durante.

Quanto ao conteúdo desses cenários e enredos alucinatórios, eles podem conter experiências tão diferentes do que existe no mundo real que são completamente impossíveis de traduzir em linguagem, mas eles podem também conter memórias experimentadas anteriormente de qualquer ponto na vida de uma pessoa que parecem verdadeiramente idênticas às que ocorreram. Essas reproduções de memórias são com frequência cenas esquecidas da infância, pessoas que você não viu ou pensou por anos, e a visita a importantes edifícios, lugares e ambientes da vida de uma pessoa. Em outros pontos, porém, o conteúdo dessas alucinações podem ficar entre uma repetição de memória e uma experiência completamente nova, contendo aspectos da vida real mas desviando facilmente do enredo original em que realmente ocorreram. Os efeitos acima podem ser quebrados em cinco níveis simples:

1.Melhoria da visualização mental
O nível mais baixo de alucinação pode ser descrito como um melhoramento poderoso da habilidade de uma pessoa de visualizar conceitos mentalmente. Essa visualização interna parece como uma divagação extremamente vívida, e segue o pensamento de uma pessoa de um modo que pode ser visto como um nível de detalhe moderado dentro do olho da mente.

2.Alucinações parcialmente definidas
Esse nível de alucinação geralmente consiste de movimentos na visão periférica e imagens mal definidas e desbotadas nos visuais, assim como transformações ou vislumbres na visão periférica que desaparecem assim que uma pessoa checa novamente.

3.Alucinações totalmente definidas
Assim que a vividez e a intensidade aumenta, as imagens se tornam eventualmente totalmente definidas na sua aparência e dentro do campo visual direto do usuário. Tranformações irão também se manifestar como totalmente definidas e dentro do campo visual direto de uma pessoa.

4.Avanços parcialmente definidos
Esses começam com flashes randômicos de cenários psicodélicos. São capazes de se tornarem totalmente fixos e duradouros, mas não são completamente definidos na sua aparência. Com frequência se apresentando borrados parcialmente ou totalmente e transparentes, com o corpo do usuário parecendo estar ainda parcialmente conectado com o mundo real.

5.Avanços totalmente definidos
Uma vez que as alucinações se tornem suficientemente elaboradas elas se tornam eventualmente abrangentes, aumentando para realidades alternadas permanentes que parecem ser completamente realísticas, extremamente detalhadas, e altamente vívidas em sua aparência juntamente com uma completa desconexão do corpo físico.

efeitos_visuais_29

Efeitos visuais mistos, únicos e raros

Apesar de haverem componentes visuais universalmente experimentados de uma experiência psicodélica, você não deve deixar esse guia lhe dar noções pré-concebidas por duas razões separadas. A primeira razão é que embora essas descrições tenham sido cuidadosamente trabalhadas e pensadas, textos e imagens nunca chegarão perto da experiência real, a coisa real é incompreensível, desafiadora da lógica e impossível de traduzir em imagens e palavras bidimensionais. O fator da ausência de linguagem é uma das poucas coisas que todos os psiconautas podem concordar quando se trata da experiência psicodélica.

A segunda razão é que a experiência psicodélica é ainda uma experiência subjetiva e de modo algum confinada e limitada a esses componentes visuais. Efeitos visuais espontâneos que não são descritos em lugar algum desse artigo irão se manifestar em viagens em ocasiões estranhas. Esses efeitos podem ser qualquer coisa e ocorrem geralmente em dosagens elevadas. Efeitos visuais únicos são completamente pessoais e são algo que ninguém mais no planeta viu anteriormente ou irá experimentar alguma vez. Então lembre, não limite a sua percepção aos componentes descritos acima, porque há mais coisas na experiência psicodélica que palavras nunca irão ser capazes de expressar.

A Teoria do Símio Chapado

O símio chapado, teoria de Terence McKenna não é uma das que ganhou mais suporte entre a comunidade científica, mas qualquer um pode argumentar que é tão plausível como tantas das outras teorias evolucionárias, especialmente quando se considera o nível superior de consciência e desenvolvimento da linguagem.

McKenna teoriza que a inteligência pode ter chegado ao nosso planeta através de esporos provindos do espaço que viajaram para a Terra na radiação cósmica, semelhantemente ao que é descrito na teoria da Panspermia Cósmica de Francis Crick.

Conforme alguns Homo sapiens deixaram as florestas para as planícies e começaram a se mover através da África depois da última era glacial, 18.000 anos atrás, de acordo com McKenna, as espécies adquiriram uma dieta mais onívora. Essa mudança levou-os a seguir bandos de animais para alimentação e caça, e, subsequentemente, encontrando cogumelos mágicos no esterco e os adicionando à dieta.

Essa teoria parece um tanto absurda de início, mas dando a prevalência de psilocibina, ou misturas à base de DMT como a Ayahuasca entre culturas ancestrais, não parece tão absurda a ponto de ser descartada.

Como McKenna disse em entrevistas desde a publicação de sua teoria, ela é melhor entendia por aqueles que experimentaram a psilocibina, do que pelos típicos cientistas de roupas brancas.

Se você já experimentou cogumelos mágicos, você sabe que a maior parte do que se diz sobre a experiência psicodélica é exagerado. “Eu vi dragões, o mundo virou de ponta cabeça, eu fiquei cinza, minhas orelhas esticaram metros…” Talvez, mas provavelmente não.

O que é tipicamente experimentado é uma distorção da percepção, onde as alucinações visuais e auditivas ocorrem. A severidade dessas alucinações varia baseada na dosagem e na potência. Em doses elevadas pode parecer ao usuário que ele está em outro lugar do que onde realmente está, e sob circunstâncias corretas essa sobrecarga sensorial pode resultar em introspecção e os sentidos são induzidos para novas experiências. Em doses baixas, objetos planos podem desenvolver uma terceira dimensão, e serem acompanhados por flashes de luz e manipulação de cor. Até mesmo essas reações são dependentes do estado mental da pessoa que está tomando.

Se você está com medo de ser pego e punidos por utilizar psilocibina por que em muitos lugares, como os EUA, é ilegal utilizar substâncias naturais para explorar sua própria psique, você pode experimentar flashes de luz produzidos por carros de polícia.

Na teoria de McKenna, ele sugere que o consumo de psilocibina foi feito em doses baixas, onde os efeitos não atingiram realmente o ponto de alucinação, mas ao invés atingindo o ponto de sentidos intensificados, e energia elevada. É similar ao que alguns podem experimentar após dar algumas baforadas em maconha de boa qualidade.

A acuidade visual melhorada era boa para identificar predadores, assim como presas; e a acuidade auditiva, até mesmo uma leve paranóia, a do tipo bom, não a geradora de pânico, os fizeram mais conscientes de perigos que se aproximavam.

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O verdadeiro impacto veio com dosagens elevadas, de acordo com a teoria de McKenna, por que foram as dosagens elevadas que inspiraram o homem a utilizar sons para colocar imagens na mente de outros. O desenvolvimento da linguagem teve um crescimento imenso nesse período, e a Teoria do Símio Chapado insinua que experiências com cogumelos ajudaram ainda mais esse desenvolvimento.

Foi aqui que nossas mentes foram abertas para conceitos abstratos que eventualmente levaram a humanidade a se tornar a força dominante no reino animal. Nossa habilidade de compreender conceitos abstratos, os comunicar, entender o que foi comunicado, e construir baseado nesses conceitos, se tornou a fundação da nossa civilização.

Essa inteligência continuou a crescer até mesmo quando mudanças ambientais fizeram o acesso aos cogumelos menos comum. A semente já estava plantada, e foi repassada através da genética e da educação.

O tamanho do cérebro do Homo sapiens também cresceu tremendamente durante os 6.000 anos que se seguiram desde a última era glacial. Durante os próximos milhares de anos, começando por volta de 12.000 anos atrás, os homens se tornaram agricultores, pastores, e desistiram da existência nômade.

Enquanto McKenna atribui esse crescimento aos cogumelos mágicos, alguns na comunidade científica acreditam que o aumento da quantidade de peixe como parte da dieta foi um fator mais dominante através da mágica do óleo de peixe. De qualquer modo, acredita-se que a mudança na dieta é um fator de grande contribuição.

Como nós atingimos um nível de super-inteligência e consciência elevada quando comparados aos outros animais do planeta, é ainda um tanto misterioso, e a teoria de McKenna é somente uma dentre tantas outras que tentam explicar.

Precisa ou não, essa teoria é pelo menos, uma das mais interessantes lá fora. A teoria poderia ter um aumento na credibilidade se a teoria da Panspermia provasse ter algum mérito. Se os esporos podem realmente viajar pelo espaço, ultrapassar uma atmosfera como a nossa, e ainda assim serem frutíferos, então poderíamos explicar nossa inteligência como sendo um presente do mundo alienígena.

Abaixo, uma pequena animação com base na teoria:

Os Gatos Psicodélicos de Louis Wain

Louis Wain, acompanhado de seu gato.

Louis Wain (1860-1939) foi um pintor britânico, conhecido internacionalmente por seus trabalhos retratando a figura de felinos, na maior parte das vezes apresentando antropomorfismo humano. Não são raras as pinturas em que gatos assumem comportamentos, trajes e expressões humanas. Suas ilustrações eram utilizadas em calendários, pôsteres, e principalmente em ilustrações para livros infantis.

Louis sempre foi fascinado por gatos, mas foi somente após o diagnóstico de sua mulher com câncer que o mesmo começou a desenhá-los em situações engraçadas para agradar a ela. Os desenhos começaram a ganhar popularidade, sendo publicados em diversos periódicos da época. Porém, com a morte de sua esposa, Louis começou a perder o controle de sua mente.

A obra do autor se manteve em um nível normal até por volta dos seus 57 anos de idade, quando o mesmo foi diagnosticado esquizofrênico. A partir daí, sua obra passou a adotar um caráter cada vez mais psicótico, refletindo o estado mental do pintor, que se degradava a cada ano. O que pode ser considerado mais interessante é a extrema semelhança dos efeitos visuais dos psicodélicos (tais como o LSD e apsilocibina) em suas obras, majoritariamente nos últimos trabalhos do autor. Os padrões psicodélicos e a clara semelhança de seus desenhos com fractais caracterizaram o estado mental final de Louis, que passou os últimos 15 anos de sua vida internado em instituições psiquiátricas.

Podemos dividir o trabalho do autor em duas fases:

Fase normal:

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Fase esquizofrênica:

Na fase psicótica do trabalho de Wein, a progressão da doença é facilmente visível com o passar do tempo. Na última figura, a forma de um gato é praticamente indistinguível.

Podem os Cogumelos Mágicos Estimularem a Neurogênese?

Pesquisadores descobrem que cogumelos psicodélicos podem estimular a neurogênese

O hipocampo é a peça central da formação de memória no cérebro e apresenta taxas elevadas de neurogênese até mesmo em adultos. Neurônios pigmentados de um rato.
O hipocampo é a peça central da formação de memória no cérebro e apresenta taxas elevadas de neurogênese até mesmo em adultos. Neurônios pigmentados de um rato.

De acordo com um estudo conduzido na University of South Florida, baixas dosagens de cogumelos mágicos (que contém psilocibina) podem apagar a resposta de medo em ratos – que, segundo os pesquisadores sugerem, pode guiar para um tratamento potencial do Transtorno de Estresse Pós-Traumático.

Baixas doses de uma droga psicodélica apagaram a resposta condicional ao medo em ratos, sugerindo que o princípio ativo pode ser um tratamento para transtornos de estresse pós-traumáticos e condições relacionadas, segundo um estudo pela University of South Florida.

O achado inesperado foi feito por uma equipe da Universidade estudando os efeitos da psilocibina no nascimento de novos neurônios no cérebro e no estudo de formação de memórias de curto prazo. O estudo foi disponibilizado online no dia 2 de Junho no jornal Experimental Brain Research, antes da publicação impressa.

A psilocibina pertence a uma classe de componentes que estimulam os receptores de serotonina no cérebro. Ela ocorre naturalmente em certos cogumelos que têm sido utilizados por milhares de anos por culturas  não-ocidentais em suas cerimônias religiosas.

Enquanto estudos anteriores indicam que a psilocibina pode alterar a percepção, pensamento e elevar o humor, as substâncias psicoativas raramente causam alucinações no sentido de ver ou escutar coisas que não estão ali, particularmente em dosagens baixas ou moderadas.

Têm havido um interesse renovado na medicina em explorar o potencial clínico benéfico da psilocibina, MDMA e outras drogas psicodélicas através de pesquisa monitorada e baseada em evidências.

“Os pesquisadores querem encontrar por quê, em baixas dosagens, essas drogas podem ser aditivos seguros e efetivos na psicoterapia para o tratamento de desordens psiquiátricas resistentes ao tratamento comum ou tratamentos adjuntos para certos tipos de condições neurológicas,”, disse o doutor PhD Juan Sanchez-Ramos, professor de neurologia.

O resumo do estudo, “Efeitos da psilocibina na neurogênese no hipocampo e extinção do condicionamento do medo” foi publicado no Experimental Brain Research, em Agosto de 2013.

Note que a organização MAPS – Associação Multidisciplinar Para Estudos Psicodélicos – já está investigando o uso da psilocibina para o transtorno de estresse pós-traumático.

Plantas Alucinógenas – Informações Gerais

Plantas alucinógenas vem sido usadas pelos homens por milhares de anos, provavelmente desde que eles começaram a caçar plantas para comer. Os alucinógenos continuaram recebendo a atenção das civilizações humanas durantes as eras. Recentemente, nós passamos por um período em que a sociedade ocidental sofisticada “descobriu” alucinógenos, e alguns setores da sociedade que assumiram, por uma razão ou outra, o uso de tais plantas. Isso tende a continuar.

Portanto é importante para nós aprender o quando nós possamos sobre plantas alucinógenas. Um grande grupo de literatura científica publicou sobre os seus usos e os seus efeitos, mas a informação é sempre trancada em jornais técnicos. O leigo interessado tem o direito à informação para basear suas opiniões. Esse texto foi escrito parcialmente para fornecer esse tipo de informação.

Não importa se acreditamos que o consumo de alucinógenos por homens nas sofisticadas ou primitivas sociedades constitui uso, falta de uso ou abuso, plantas alucinógenas tiveram uma participação extensa na cultura humana e provavelmente vão continuar tendo. Segue-se que um entendimento claro desse agentes potenciais físicos e sociais deve ser parte da educação geral dos homens.

(nota: o autor considera fungos e plantas como que pertencendo ao mesmo reino)

Plantas alucinógenas apareceram em diversos selos postais: (1, 6) Amanita muscaria, (2) fruto de um Peganum harmala, (3) Atropa belladonna, (4) Pancratium trianthum, (5) Rivea corymbosa, (7) Datura stramonium, (8) Datura candida, (9) Hyoscyamus niger.
Plantas alucinógenas apareceram em diversos selos postais: (1, 6) Amanita muscaria, (2) fruto de um Peganum harmala, (3) Atropa belladonna, (4) Pancratium trianthum, (5) Rivea corymbosa, (7) Datura stramonium, (8) Datura candida, (9) Hyoscyamus niger.

O QUE SÃO PLANTAS ALUCINÓGENAS?

Na sua busca por comida, os primeiros humanos testaram todos os tipos de plantas. Algumas os nutriram, outras, que eles encontraram, os curaram, e outras os mataram. Algumas, para a surpresa deles, tinham estranhos efeitos em suas mentes e corpos, parecendo levá-los para outros mundos. Nós chamamos essas plantas de alucinógenas, porque elas distorcem os sentidos e comumente produzem alucinações – experiências que se afastam da realidade. Embora a maioria dos alucinógenos sejam visuais, eles também envolvem os sentidos de audição, toque, cheiro, ou gosto – e ocasionalmente diversos sentidos estão envolvidos.

A causa atual para as alucinações são substâncias químicas nas plantas. Essas substâncias não são narcóticos verdadeiros. Contrariarmente à opinião popular, nem todos os narcóticos são perigosos e viciantes. Estritamente e etimológicamente falando, um narcótico é uma substância que têm um efeito depressivo, leve ou alto, no sistema nervoso central.

Narcóticos que induzem alucinações são normalmente chamados de alucinógenos (geradores de alucinações), psicomiméticos (imitadores da psiquê), e psicodélicos (manifestadores da mente). Nenhum termo satisfaz totalmente os cientistas, mas “alucinógenos” chega perto. “Psicodélicos” é mais usado nos Estados Unidos, mas ele combina duas raízes gregas incorretamente, é biologicamente doentio, e adquiriu um significado popular além das drogas e seus efeitos.

Na história do gênero humano, alucinógenos têm sido talvez os mais importantes de todos os narcóticos. Os seus efeitos fantásticos fizeram-nos sagradospara os povos primitivos e até mesmo pode ter feito surgir nele a ideia de divindade.

O mais famoso dos alucinógenos com significância religiosa é o cacto peiote. Essa ilustração, chamada “Orador na manhã em uma cerimônia de peyote” é adaptada de uma pintura por Tsa Toke, um indiano Kiowa. Esses indianos são usuários rituais de peiote. O fogo central em forma crescente é ladeado por leques de penas de águias cerimoniais, as penas simbolizam a manhã, e os pássaros, as orações em ascenção.

ALUCINÓGENOS NAS SOCIEDADES PRIMITIVAS

Alucinógenos permeiam profundamente qualquer aspecto da vida nas sociedades primitivas. Eles ditam regras na saúde e na doença, paz e guerra, vida em casa e viajem, caça e agricultura; eles afetam as relações entre indivíduos, vilas, e tribos. Acredita-se que eles influenciam a vida antes e depois da morte.

O uso médico e religioso de plantas alucinógenas são particularmente importantes nas sociedades primitivas. Aborígenes atribuem a doença e a saúde ao trabalho das forças espirituais. Consequentemente, toda “medicina” que pode transportar os homens para o mundo espiritual é considerada por muitos aborígenes melhor do que qualquer efeito físico.

As forças psíquicas também vem sido atribuídas aos alucinógenos e têm sido uma parte integral nas religiões primitivas. Em todo o mundo plantas alucinógenas são usadas como mediadoras entre os homens e Deus. As profecias do Oráculo de Delphi, por exemplo, são ditas terem sido influenciadas por alucinógenos.

Outros usos aborígenes de alucinógenos variam de uma cultura primitiva para outra. Muitas plantas alucinógenas são básicas para a iniciação ritual de adolescentes. Os indianos Algonquin dão uma substância intoxicante para seus jovens, a “wysoccan”, e eles então ficam violentamente perturbados por vinte dias. Durante esse período, eles perdem toda a memória, iniciando a fase adulta se esquecendo de que eles já foram meninos. A raíz iboga no Gabão e o caapi na Amazônia são também utilizados nos rituais.

Estátua de Xochipilli, o “Príncipe das flores” Asteca, descoberto nas encostas do vulcão Popocatepetl e agora exposto no Museu Nacional na Cidade do México. As etiquetas indicam as possíveis interpretações botânicas das figuras.
Estátua de Xochipilli, o “Príncipe das flores” Asteca, descoberto nas encostas do vulcão Popocatepetl e agora exposto no Museu Nacional na Cidade do México. As etiquetas indicam as possíveis interpretações botânicas das figuras.

Na América do Sul, muitas tribos tomam ayahuasca para prever o futuro, visualisar disputas, decifrar planos inimigos, produzir ou retirar feitiços, ou comprovar a fidelidade da esposa. Sensações de morte e separação do corpo e alma são algumas vezes experimentados durante um transe.

As propriedades alucinógenas da Datura têm sido muito exploradas, particularmente no Novo Mundo. No México e no Sul, a Datura é utilizada na divinação, profecia, e cura ritualística.

Os índios modernos mexicanos valorizam certos cogumelos como sacramentos e usam Morning glories e o cacto peiote para predizer o futuro, diagnosticar e curar doenças, e invocar bons e maus espíritos.

Os Mixtecs do México comem puffballs para escutar vozes do paraíso que respondem às suas perguntas. Os Waikás do Brasil e Venezuela aspiram a resina em pó de uma árvore da floresta para ritualizar a morte, induzir um estado de transe para diagnosticar doenças, e agradecer aos espíritos por uma vitória em uma guerra. Os Witotos da Colômbia comem a mesma resina poderosa para “falar com as pessoas pequenas”. Os médicos indígenas Peruvianos tomam cimora para fazer eles mesmos portadores de outras identidades. Índios do oeste do Brasil tomam jurema para têr visões gloriosas dos espíritos dos mundos antes de partir para batalhas com os seus inimigos.

USO NO MUNDO OCIDENTAL MODERNO

Nossa sociedade moderna adotou, recentemente, e algumas vezes ilegalmente, o uso de de alucinógenos em grande escala. Muitas pessoas acreditam que eles podem ativar experiências “místicas” ou “religiosas” alterando a química do corpo , raramente percebendo que eles estão simplesmente voltando para a era das velhas práticas primitivas. Se as aventuras induzidas por drogas podem ser idênticas com a visão metafísica reivindicada por alguns místicos, ou são meramente uma falsificação delas, é ainda uma controvérsia. O uso mundial e expansivo de alucinógenos em nossa sociedade pode ter pouco ou nenhum valor e pode algumas vezes até ser perigoso ou prejudicial. Em qualquer caso, é um traço cultural recentemente importado e sobreposto sem as raízes naturais da tradição ocidental.

Detalhe de uma pintura de uma visão primitiva de ayahuasca por Yando del Rios, artista peruviano contemporâneo.
Detalhe de uma pintura de uma visão primitiva de ayahuasca por Yando del Rios, artista peruviano contemporâneo.

COMPOSIÇÃO QUÍMICA

Alucinógenos são limitados a um pequeno número de componentes químicos. Todos os alucinógenos encontrados em plantas são componentes orgâncios – isto é, eles contém carbono como uma parte essencial de suas estruturas e são formados no processo de vida de organismos vejetais. Nenhum componente inorgânico de plantas, como minerais, são conhecidos por terem efeitos alucinógenos. Compostos alucinógenos devem ser divididos convenientemente em dois grandes grupos: os que contêm nitrogênio na sua estrutura e os que não contém. Os que contém nitrogênio são mais comuns. O mais importante dos componentes sem nitrogênio é o princípio ativo da marijuana, componentes terpenofenólicos classificados como dibenzoprianos e chamados canabinóides – em particular, tetrahidrocannabinóis. Os compostos alucinógenos com hidrogênio em sua estrutura são os alcalóides ou bases relacionadas.

ALCALÓIDES são um grupo diverso de mais de 5000 componentes com estruturas moleculares complexas. Eles contém nitrogênio, assim como carbono, oxigênio, e hidrogênio. Todos os alcalóides são são originados de plantas, porém alguns protoalcalóides ocorrem em animais. Todos são ligeiramente alcalinos, daí o seu nome. Eles são classificados em séries baseadas em suas estruturas. Muitos alcalóides alucinógenos são são indóis (veja abaixo) ou estão relacionadas com índoles, e a maioria foram ou provavelmente foram originados na planta partindo do aminoácido conhecido como triptofano. Muitas plantas medicinais e tóxicas, assim como as alucinógenas, devem sua atividade biológica à alcalóides. Exemplos de alcalóides mundialmente usados são a morfina, a quinina, a nicotina e a cafeína.

ÍNDOLES são alcalóides alucinógenos ou bases relacionadas, sendo que todos contém componentes nitrogenados. É mais impressionante que dos muitos milhares de compostos orgânicos que atuam em várias partes do corpo tão poucos são alucinógenos. O núcleo índole de alucinógenos geralmente aparece na forma de derivados de triptamina. Ele é composto por fenil e segmentos pyrrol (veja o diagrama a seguir). Triptaminas podem ser “simples” – isto é, sem substituições – ou elas podem ter vários grupos de “cadeias laterais” conhecidas como hidróxidos (OH), metóxitos (CH3), ou fósfogloxina (OPO3H) em seu anel fenólico. O anel índole (mostrado em vermelho no diagrama) é evidente não somente nas inúmeras triptaminas (dimetiltriptamina, etc.) mas também nos vários alcalóides ergóticos (ergina e outros), nos alcalóides ibogaínicos, e nos alcalóides Beta-carbonílicos (harmina, harmalina, etc.). A dietilamida do ácido lisérgico (LSD) tem um núcleo índole. Uma das razões para a significância dos alcalóides indólicos pode ser a semelhança estrutural com as serotoninas neuro-humorais (5-hidróxidimetiltriptamina), presentes no sistema nervoso de animais de sangue quente. A serotonina possui uma importância principal na bioquímica no sistema nervoso central. Um estudo do funcionamento das triptaminas alucinógenas pode experimentalmente ajudar a explicar a função da serotonina no corpo. Uma relação química similar à esses alucinógenos indólicos e à serotonina existe entre a mescalina, um alucinógeno presente no peiote, e o neuro-hormônio norepinefrina. Essas semelhanças químicas entre componentes alucinógenos e os neuro-hormônios que jogam na neurofisiologia podem ajudar a explicar a atividade alucinógena e até certos processos do sistema nervoso central. Outros alcalóides – as isoquinolinas, tropaminas, quinolizidinas, e isoxazolinas – são mais levemente alucinógenos e podem operar de forma diferente no corpo.

PSEUDO-ALUCINÓGENOS

Esses são compostos venenosos de plantas que causam o que pode ser chamado de alucinações secundárias ou pseudo-alucinações. Como não possuem agentes alucinógenos reais, eles bagunçam a função normal do corpo induzindo um estado de delírio acompanhado por aquilo que por todos os motivos práticos são alucinações. Alguns componentes dos óleos essenciais – os elementos aromáticos responsáveis pela característica odorífera das plantas – parecem agir nesse caso. Componentes da noz-moscada são um exemplo. Muitas plantas possuindo tais componentes são extremamente perigosas para se tomar, especialmente quando ingeridas em doses elevadas o suficiente para induzir alucinações. As pesquisas ainda não deram muita luz no tipo de psicoatividade produzido por essas substâncias.

COMO OS ALUCINÓGENOS SÃO CONSUMIDOS

Plantas alucinógenas são usadas de variadas formas, dependendo do tipo de planta, dos elementos químicos envolvidos, das práticas culturais, e outras considerações. O homem em sociedades primitivas em diversos locais, mostrou um grande talento e perspicácia em preparo de plantas alucinógenas para seus usos.

PLANTAS PODEM SER COMIDAS, frescas ou secas, como o peiote e o teonanacatl, ou o suco das folhas maceradas pode ser bebido, como a Salvia divinorum (no México). Ocasionalmente um derivado de vejetais pode ser comido, como o haxixe. Mais frequentemente, uma beberagem pode ser tomada: ayahuasca, caapi, ou yagé da casca de uma trepadeira; o cacto San Pedro; vinho de jurema, iboga; folhas de toloache, ou sementes amassadas das Morning glories mexicanas. Originalmente peculiar às culturas do Novo Mundo, onde era uma forma de usar tabaco, fumar agora é um método espalhado de usar cannabis. Outros narcóticos além do tabaco, como a tupa, podem ser vulcanizados.

ASPIRAR é um método preferido de usar diversos alucinógenos – yopo, epena, sébil, rapé dos índios. Assim como fumar, cheirar é um novo costume mundial. Alguns poucos indios do Novo Mundo costumam tomar alucinógenos de forma retal – como no caso da Anadenathera. Um método curioso de induzir os efeitos dos narcóticos é o método africano de fazer incisões no couro cabeludo e esfregar o suco da do bulbo de uma espécie de Pancratium através das incisões. Esse método é um tipo de contrapartida primitiva do método hipodérmico atual. Muitos métodos foram usados no caso de algumas plantas alucinógenas. Resina de Virola, por exemplo, é lambida inalterada, é geralmente preparada na forma de rapé, e é feita ocasionalmente em pequenos volumes a serem consumidos, e pode por vezes ser fumada.

ADITIVOS DE PLANTAS ou misturas para as principais espécies alucinógenos estão se tornando cada vez mais importantes na pesquisa. Plantas auxiliares são por vezes adicionadas à preparação para alterar, aumentar, ou prolongar os efeitos narcóticos dos ingredientes principais. Assim, para tornar o ayahuasca, caapi, yajé ou bebidas, preparadas basicamente a partir de Banisteriopsis caapi ou inebrians B., vários aditivos são frequentemente usados: folhas de Psychotria viridis ou rusbyana Banisteriopsis, que contenham triptaminas alucinógenas, ou Brunfelsia ou Datura, as quais são alucinógenas, por si próprias.

Fonte: Hallucinogenic Plants – A golden Guide, Golden Press. (Tradução do Original)

Quando a Psiquiatria vai Abandonar a Guerra às Drogas e Abraçar a Pesquisa Psicodélica?

psiquiatria_1É evidente que o zeigeist cultural se voltou para o uso terapêutico de drogas psicodélicas. Artigos recentes no New York Times e na CNN estão lentamente informando o público da excitante pesquisa que os contribuidores do MAPS já sabiam por algum tempo – que alguns psicodélicos, mesmo com sua bagagem histórica, seu potencial de uso incorreto, e sua reputação manchada, possuem um dos potenciais terapêuticos mais promissores que já vimos na psicofarmacologia em uma geração.

Entretanto, quais são as atitudes desses médicos que estariam habilitados a prescrever essas substâncias, irá o FDA aprová-las como agentes seguros e efetivos, e irá o DEA reescrevê-las para possibilitar a prescrição legal?

Infelizmente, a discussão em torno das drogas nos Estados Unidos, por pelo menos nos últimos 50 anos, foi amplamente polarizada entre drogas que são terapêuticas e drogas que podem ser abusadas. Mesmo que alguns dos nossos agentes psicoterapêuticos (por exemplo, estimulantes e benzodiazepinas) são também alguns que possuem mais tendência a serem abusados, há um desconforto distinto que surge entre os médicos quando uma substância, que foi abusada historicamente, é sugerida para a terapia.

Talvez seja porque, como médicos, quando se trata de abuso de substâncias, nós vemos com frequência as casualidades, e essa perspectiva criou um viés que uma substância que pode ser abusada não pode nunca ter utilidade terapêutica (como testemunha, o uso de MDMA para o tratamento de Estresse Pós Traumático, ou a resposta dramática à ketamina de pacientes com depressão grave. Raramente nós escutamos sobre como uma droga mudou a vida de uma pessoa para melhor. Em alguns aspectos, quanto mais esotérica a substância, menos resistência reflexiva ela gera.

Foi interessante ver os participantes do Congresso de Psiquiatria e Saúde Mental em San Diego, nos EUA, pararem na subestimada cabine do MAPS no hall da convenção, onde ela compartilhava espaço com diversos painéis muito mais brilhantes dos medicamentos psiquiátricos convencionais. Muitas pessoas perguntavam, “O que é MDMA?” não associando o termo com a bagagem cultural associada ao “Ecstasy”. Cientistas que querem estudar componentes como a ibogaína ou a psilocibina provavelmente vão encontrar mais facilidade passando por cima dos preconceitos negativos que foram acrescidos contra as substâncias mais comumente usadas (e abusadas), tais como a cannabis e o LSD.

Eu proporia que as atitudes que a maioria das pessoas têm em relação aos psicodélicos caem em uma das quatro categorias a seguir:

(1) Eu experimentei eles e eles mudaram minha vida para melhor.
(2) Eu experimentei eles e não ocorreram mudanças, ou foi uma experiência ruim.
(3) Eu nunca experimentei eles mas tenho mente aberta em relação aos mesmos.
(4) Eu nunca experimentei eles e posso imaginá-los somente como mais perigosos do que auxiliadores.

Eu suspeito que existam mais de alguns médicos que encaixam na categoria 1, mas se sentem inconfortáveis compartilhando suas experiências por medo de comprometer suas reputações profissionais. Entretanto, eu acho que a maioria dos psiquiatras tradicionais, vendo os efeitos negativos de pacientes com histórico de abuso de substâncias e influenciados por mais de 45 anos de propaganda anti-drogas, se aliariam perfeitamente na categoria 4. Creio que a maioria das pessoas lendo esse artigo, se identificam com a categoria 1. Elas estão convertidas. Através de qualquer experiência que elas tenham tido, acreditam no poder dessas substâncias para servir de ferramentas para ajudar as pessoas a atingir uma saúde melhor e o equilíbrio emocional. Entretanto, a maioria dos psiquiatras não tiveram as mesmas experiências e são propensos a ver a indefinição com que aqueles na categoria 1 podem partilhar suas experiências com um certo grau de suspeita.

Por isso nós precisamos de dados para suportar as afirmações de que essas substâncias são terapêuticas. Nós precisamos ter a ciência que suporte as teorias de por que esses componentes podem causar os efeitos profundos característicos. Dados são a moeda da mudança de prática, e, sem eles, todos os relatos dos “convertidos” não são levados em conta, “dados anedóticos”-interessantes, mas nada que a maioria das pessoas em um ambiente profissional irá lidar para arriscar a ser submetido a sanções tais como perda da licença ou status profissional, ou a posição clínica/acadêmica. É por isso que o que o MAPS está fazendo é tão importante para mudar as atitudes em torno dessas substâncias e o papel que elas podem exercer na psiquiatria. Focando em condições tais como o Estresse Pós-Traumático, que sofre com a falta de tratamentos eficazes, e gerando descobertas baseadas em pesquisas robustas, seus estudos provêm tanto esperança para condições difíceis de tratar como dados para tratamentos efetivos.

Esperançosamente, serão apenas alguns anos antes que os dados gerados pelos estudos patrocinados pelo MAPS possam ser alavancados para fazer essas substâncias legais como prescrição médica. Quando esse dia chegar, o MAPS deverá tomar como lição das principais indústrias farmacêuticas e usar o marketing como um caminho para mudar as atitudes e encorajar o uso apropriado dessas substâncias.

A indústria farmacêutica gastou 27.7 bilhões de dólares em 2004 (1) em medicações de mercado porque esse investimento foi retornado diversas vezes nas vendas. O MAPS tem uma missão que é muito mais importante do que retornar fundos aos acionistas: fazer medicamentos efetivos disponíveis aos pacientes que necessitam e desenvolver uma atitude mais leve em relação aos psicodélicos. Armados com os dados desses estudos, os meios de propaganda podem mudar as atitudes dos médicos que irão prescrever essas medicações.

A estética dessas mensagens de marketing devem refletir o uso sóbrio e controlado desses componentes para propósitos terapêuticos. Imagens psicodélicas, por exemplo, podem apelar para aqueles que tiveram experiências positivas com esses componentes, mas também podem servir para alienar um estabelecimento médico mais conservador. Importante como o marketing, é o impacto que médicos de respeito têm nos padrões de prática de outros médicos. A indústria farmacêutica conhece isso há um bom tempo, e usa “opiniões chave de líderes” ou “líderes importantes” para distribuir nova propaganda sobre novas drogas. (2)

Médicos confiam em seus colegas mais do que em representante de vendas. Aqueles que são bem versados nos resultados das pesquisas e convencidos sobre os benefícios desses compostos podem engajar colegas em conversas interessantes sobre os benefícios dessas drogas. No final do dia, histórias envolvem, mas dados convencem.

Referências:

1. Gagnon M-A, Lexchin J (2008) The Cost of Pushing Pills: A New Estimate of Pharmaceutical Promotion Expenditures in the United States. PLoS Med 5(1): e1. doi:10.1371/journal.pmed.0050001

2. Carlat (2010) Unhinged: The Trouble with Psychiatry, Free Press, NY

Traduzido de: Alternet

O Poder dos Cogumelos para Salvar o Planeta

Em uma pequena fazenda de cogumelos aninhada há cerca de uma hora de distância de Seattle, Paul Stamets põe a mão na massa. Abaixo do solo em todo lugar da Terra está a maior rede de comunicação organismo-organismo: A internet natural, como ele a chama. Stamets é um dos principais micologistas (que estudam os cogumelos e sua estrutura raiz conhecida como micélio) do mundo. Há um imenso poder no micélio, ele diz, para coisas tais como aumentar a imunidade humana, limpar vazamentos de óleo, e nos proteger contra surtos de doenças. Mas mais do que qualquer coisa, Paul Stamets adora sentir o cheiro dele.

O fato de que cogumelos possuem poder próprio é uma surpresa-pelo menos para mim. Muitas pessoas imaginam os cogumelos como pragas de jardim, ou como alimento. Em uma TED Talk que Stamets deu em 2011, ele tentou mostrar que cogumelos possuem potencial para fazer mais pelo planeta do que qualquer outra forma de vida, incluindo a humana. É tempo, ele argumentou, de libertar os cogumelos das garras dos gourmets e senhores das guerras psicodélicas.

Cogumelos Morel, conhecidos por serem difíceis de crescerem fora de um laboratório, nasceram na fazenda de Stamets.
Cogumelos Morel, conhecidos por serem difíceis de crescerem fora de um laboratório, nasceram na fazenda de Stamets.

O que faz os fungos tão únicos é o fato de que suas células são feitas de uma molécula chamada quitina, em vez de celulose, como ocorre com as plantas. A quitina é maleável, mas também resistente. A sua habilidade de defender-se de patógenos externos faz com que ela adquira valor na medicina e como alimento. Talvez o melhor de tudo, ela cresce rápido. Algumas raças se iniciam do tamanho de uma unha e se tornam 90 toneladas de biomassa em apenas alguns meses.

Corpulento e barbudo, Stamets têm a aparência de um homem que realmente sabe do que está falando. A maneira que ele fala-largando termos como “formação de amilóides” e “extratos pré-esporulantes”- faz com que eu lembre que não sei. Ele dirige uma empresa chamada Fungi Perfecti e divide o tempo entre sua fazenda em Shelton, Washington, e viajar o mundo procurando por novos cogumelos que ele pode trazer de volta para o laboratório para analisar e cultivar.

Quantos micologistas existem atualmente no mundo, eu perguntei para ele quando caminhávamos pela sua floresta-quintal que aparentava estar repleta de micélio. “Cerca de 50.000″, ele disse. “Mas somente 5.000 estão empregados”.

Isso faz dele um dos sortudos. Sua estrutura é uma fazenda em escala completa para o cultivo de micélio. As placas de “Não Ultrapasse” e avisos que você está sendo gravado fazem parte do plano de Stamets para manter a fazenda segura, tanto de futuros ladrões procurando por raças de cogumelos valiosas, e, ocasionalmente, do governo. Alguns anos atrás, Stamets disse que  um helicóptero Blackhawk sobrevoou a fazenda suspeitando de atividades ilegais. Isso é algo a que os micologistas estão acostumados. Ele diz que não tem nada a esconder, mas ainda assim ele não confia nos policiais, então ele disse para todos os empregados pegarem amostras de diferentes raças que poderão ser replicadas mais tarde, e então se espalharem. Acabou por ser um grande mal-entendido.

Nós temos acesso ao entendimento do que cogumelos e suas raízes podem fazer. Cogumelos Shiitake são conhecidos por aumentarem a imunidade e abaixarem o colesterol. Cogumelos white button possuem antioxidantes que reduzem o risco de problemas de coração.

Mas são espécies menos conhecidas como turkey tail , oyster e agarikon que Stamets deseja estudar para meios que, nas palavras dele, podem salvar o planeta. Cogumelos oyster em particular estão sendo testados por sua habilidade de limpar vazamentos de óleo. Uma raça que Stamets ajudou a desenvolver é tolerante à água salgada e pode metabolizar hidrocarbonetos. Um teste mostrou que uma raça do cogumelo oyster pode reduzir contaminantes de óleo diesel do solo de 10.000 partes por milhão para somente 200 em apenas alguns meses. O processo não é uma solução instantânea para o desastre, mas mostrou eliminar o óleo completamente organicamente, sem usar os tipos de dispersantes químicos controversos usados no Golfo do México após o vazamento de 2010.

Stamets segura diversos cogumelos lions mane que ele cultivou. Estudos mostraram que eles podem ter pistas na luta contra doenças como alzheimer, esclerose múltipla e demência.
Stamets segura diversos cogumelos lions mane que ele cultivou. Estudos mostraram que eles podem ter pistas na luta contra doenças como alzheimer, esclerose múltipla e demência.

Outros cogumelos como os Mycena alcalina, têm o potencial de quebrar Bifenilpoliclorados, um agente causador de câncer utilizado uma vez na fabricação de latas. Stamets explicou como os cogumelos, se dado a eles tempo de ativarem seus próprios sistemas de defesas, podem ser uma defesa contra armas químicas que podem espalhar doenças infecciosas como Varíola.

“Aqui, cheire isto”, disse Stamets, aproximando um punhado de micélio do meu nariz. Parecia com salada de repolho, mas tinha cheiro de terra rica, viva; Terra ligeiramente picante que eu não pude fazer nada senão cheirar novamente. “Não é incrível, ahh, eu poderia cheirar isso o dia inteiro”.

Apesar de mais de quatro décadas estudando cogumelos, Stamets é um homem que parece genuinamente apreciar falar de suas qualidades. Ele mesmo vai todos os anos para o festival Burning Man, o festival na Nevada do Norte, só para falar deles.

Ser um expert em um campo tão pequeno tem suas vantagens também. Em um quarto Stamets nos mostrou diversos vidros de extratos líquidos de cogumelos, elixires potentes que contêm raças avançadas de alguns micélios. “As empresas farmacêuticas querem muuuuito isso”, ele nos contou. Uma semana antes de nossa visita, de fato, uma empresa que ele não quis identificar ligou e pediu para ele dar o preço que ele quisesse por algumas de suas raças mais raras de se encontrar, que possuem potencial para novas drogas.

Ele prefere descobrir os segredos futuros dos cogumelos por ele mesmo. Ele disse pra eles que não, obrigado.

Traduzido de: National Geographic