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Uma Viagem de Cura: Como as Drogas Psicodélicas Podem Ajudar a Tratar a Depressão

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Voluntários em um estudo a ser realizado no ano que vem irão experimentar a euforia típica de sonhos, quando as cores, odores e sons forem sentidos de forma potencializada; a percepção do tempo for distorcida e a identificação com a própria persona começar a se dissolver. Foto: Fredrik Skold/Alamy

Se tudo correr como o previsto, doze pacientes com depressão clínica serão convidados a ir a um laboratório do Reino Unido onde receberão psilocibina – o ingrediente psicodélico encontrada nos cogumelos mágicos. Nas quatro ou cinco horas seguintes muitos desses voluntários vão experimentar a euforia típica de sonhos, quando as cores, odores e sons forem sentidos de forma potencializada, a percepção do tempo for distorcida e a identificação com a própria persona começar a se dissolver. Alguns poderão sentir uma onda de eletricidade através de seus corpos, uma súbita clareza de pensamento e alegria repentina. Outros poderão sentir ansiedade, confusão ou paranóia. Estes efeitos alucinógenos serão de curta duração, mas o impacto da droga sobre os voluntários pode ter uma duração bem mais longa.

Há evidências experimentais de que a psilocibina, junto com outras drogas psicodélicas, pode “redefinir” o funcionamento anormal do cérebro se dado de forma segura e controlada, como parte da terapia. Para quem foi criado com o dogma pós-década de 60, de que os cogumelos mágicos e LSD poderiam desencadear doenças mentais, flashbacks e causar alterações na personalidade, a idéia de que eles podem curar distúrbios do cérebro é, realmente, arrebatadora.

O estudo piloto envolverá pacientes que não responderam ao tratamento convencional e será comandado pelo professor David Nutt e pelo Dr. Robin Carhart-Harris, no Centro de Neuropsicofarmacologia do Imperial College, em Londres. Eles argumentam que as drogas psicodélicas podem ser benéficas para milhões de pessoas e que é hora de acabar com o estigma de 50 anos que impossibilita seu uso terapêutico. Nutt e Carhart-Harris já usaram ressonância magnética para estudar mudanças no cérebro de 15 voluntários, a quem foi dado psilocibina. Um estudo similar, com 20 voluntários que tomaram LSD, acaba de ser concluído.

“Como um não-médico, eu estava convencido só de ver, como a psilocibina afeta o cérebro”, diz Carhart-Harris. “Foi bastante flagrante como era semelhante aos tratamentos existentes para a depressão.” Os cientistas do Imperial College estão na vanguarda de um renascimento de pesquisa alucinógena e dizem que têm 50 anos de ciência para pôr em dia. Nos anos 50 e 60, mal se podia abrir uma revista psiquiátrica sem encontrar um trabalho sobre LSD. Em seguida, o LSD se tornou a última “substância da vez”, com potencial para tratar a depressão, vício e dores de cabeça. Entre o final da década de 1940 – quando foi disponibilizado para pesquisadores com o nome Delysid – e meados dos anos 60, haviam sido escritos mais de 1.000 trabalhos acadêmicos investigando seus efeitos em 40.000 pessoas.

Mas conforme a droga cresceu em popularidade entre os usuários recreativos – e tornou-se ligado à revolução contracultural e de protesto contra a guerra do Vietnã – a reação começou. No final dos anos 60, o LSD estava no centro de um completo pânico moral institucionalizado, e o governo dos EUA o reprimiu.

Nutt, que em 2009 foi controversamente demitido do cargo de presidente do Conselho Consultivo Sobre Má-utilização de Drogas do governo do Reino Unido por afirmar que a equitação era mais perigosa do que o Ecstasy (MDMA), afirma que a justificativa para a proibição de LSD e alucinógenos em geral era uma “mistura de mentiras” sobre o seu impactos na saúde, combinados com uma negação de seu potencial como ferramentas de pesquisa e como auxiliar em tratamentos.

“Foi, sem dúvida, uma das peças mais eficazes de desinformação na história da humanidade”, diz Nutt. “Isso fez com que um monte de pessoas acreditassem que essas drogas são mais prejudiciais do que de fato são. Elas não são drogas triviais, mas em comparação com as drogas que matam milhares de pessoas por ano, como o álcool, o tabaco e heroína, eles têm um histórico muito mais seguro e,até onde sabemos, ninguém morreu.”

Em 1971, entretanto, a convenção das Nações Unidas sobre substâncias psicotrópicas classificou o LSD e outros alucinógenos, e a maconha como uma droga de nível 1, ou seja: substâncias perigosas com nenhum benefício médico. Em contraste, a heroína – uma droga muito mais perigosa e que vicia – foi classificada como nível 2, menos restrito, porque a substância tem notórios efeitos analgésicos.

A fim de estudar uma droga nível 1, acadêmicos do Reino Unido precisam de uma licença especial para operar fora dos hospitais, que custa £ 3,000 e anos de preenchimento de formulários e burocracias. Eles também devem adquirir e fornecer suprimentos lícitos, e não podem adquirir quantidades da droga com valores elevados. A burocracia – e a necessidade de persuadir os céticos do comitê de ética da universidade – revelaram-se sufocantes para a pesquisa. “É um beco sem saída”, diz Carhart-Harris. “É difícil estudar o LSD e a psilocibina para ver se eles têm uso médico, porque eles são classificados como drogas de nível 1. E eles só são classificados como nível 1 porque são considerados como não tendo uso médico.”

Mas as coisas estão mudando. Os dois primeiros artigos sobre experiências de LSD desde os anos 1970 foram publicados este ano: um pela equipe do Imperial College; o outro por pesquisadores suíços, e que diz respeito a diminuir a ansiedade entre pacientes com câncer em estado terminal. No Reino Unido, o renascimento da pesquisa acadêmica entorno das drogas “recreativas” está sendo conduzido pelos cientistas do Imperial College em trabalho conjunto com a Fundação Beckley, uma instituição de caridade dirigida pela aristocrata inglesa Amanda Feilding, a Condessa de Wemyss. Depois de tomar LSD na década de 1960, ela tornou-se fascinada com o seu potencial para aumentar a criatividade e a mútua compreensão.

Sua Fundação apoia e promove pesquisas sobre substâncias psicoativas – incluindo o LSD, cogumelos mágicos e a cannabis, planta usada na medicina há milhares de anos. “Ao proibir a investigação sobre esta categoria de substância, por causa de um equívoco social, estão privando as pessoas doentes de um tratamento potencial que tem uma história muito longa”, diz ela. Os cientistas do Imperial College ressaltam que estão estudando drogas psicodélicas em ambientes seguros para reduzir o risco de experiências negativas. As drogas utilizadas são quimicamente puras e administradas em doses controladas.

“A automedicação é definitivamente algo desaconselhável, na minha perspectiva”, diz Carhart-Harris. “Essas drogas são poderosas e o modelo terapêutico que vamos aderir é bastante específico, e ele enfatiza que a droga deve ser tomada no ambiente certo e com o apoio certo. Temos psicoterapeutas profissionais lá que são treinados para compreender todas as eventualidades que poderiam acontecer, e por isso, eu acho que seria imprudente para as pessoas, tentar fazê-lo por si mesmos”.

LSD (dietilamida do ácido lisérgico)

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O químico suíço Albert Hoffman criou o LSD em 1938 a partir de uma substância no fungo parasita chamado de Ergot. Depois que suas propriedades alucinógenas foram descobertas por Hoffman em 1943, ele foi usado como uma ferramenta para modelagem de esquizofrenia em voluntários saudáveis e tomada por alguns psiquiatras para obter insights sobre essa doença mental. Até o início dos anos 60 ele estava sendo dada a pacientes que se tratavam com psicoterapia.

Muitos dos mais de 1.000 artigos acadêmicos escritos nesta época tratavam do uso da substância nos tratamentos contra a depressão. Mesmo assim, o Dr. Robin Carhart-Harris diz que a evidência da pesquisa histórica pode ser considerada fraca.

“A maior parte deste material era anedótico”, diz ele. “As sessões eram feitas sem um grupo de apoio e de controle e os resultados eram meio imprecisos”. Há evidências muito mais fortes de que o LSD pode tratar dependência química. Uma meta-análise feita em 2012, a partir de seis estudos controlados dos anos 50 e 60 demonstrou a eficiência clínica do LSD para o tratamento da dependência de álcool e revelou que a substância é tão eficaz quanto qualquer tratamento desenvolvido desde então. A substância mostrou-se eficiente também em ajudar os pacientes que estão em estado terminal a lidar melhor com a ideia de perecer. Os mecanismos do LSD, porém, ainda são pouco conhecidos. Ele parece imitar algumas ações da serotonina no cérebro, que está ligada à formação da memória, ao humor e a recompensa, porém não está claro ainda como ele desencadeia esses efeitos alterados tão poderosos. A pesquisa feita conjuntamente pela Imperial / Beckley com ressonância magnética mostrou que os cérebros dos voluntários sob os efeitos do LSD se tornam momentaneamente menos organizados e mais caóticos, enquanto partes do cérebro que normalmente não iriam se comunicar uns com os outros, acabam fazendo conexões. Neste estado de sonho desorganizado, o cérebro está aberto para novos saltos de criatividade e vôos de fantasia. O Dr. Carhart-Harris acredita que os alucinógenos podem temporariamente “afrouxar” as estruturas rígidas do cérebro, que se desenvolvem à medida que envelhecemos. Uma viagem de ácido é um pouco como sacudir um daqueles globos de neve comuns no natal norte-americano. Este afrouxamento poderia ajudar o cérebro a quebrar os ciclos da dependência e da depressão.

Há riscos envolvidos na utilização de LSD, é claro, mas o professor David Nutt diz que eles são muitas vezes exagerados. Os efeitos de tomar LSD são imprevisíveis: os usuários podem perder o senso de julgamento – e colocar-se em situações de risco. Uma minoria pode experimentar flashbacks algum tempo depois de utilizarem; em outros, a experiência pode desencadear problemas de saúde mental que já haviam passado despercebidos.

Cannabis

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A Cannabis foi usada medicinalmente durante milhares de anos. Foi usado no século 19 para tratar dores, espasmos, asma, distúrbio do sono, depressão e perda de apetite, e foi até recomendado pelo médico da rainha Victoria. Dois produtos químicos na cannabis atraem o interesse dos cientistas – o tetrahidrocanabinol (THC), principal composto psicoativo da planta, que tem algumas propriedades analgésicas, e o canabidiol (CBD), que parece conferir benefícios à saúde sem os efeitos psicoativos da droga.

Mais de 100 experimentos com a cannabis ou substâncias derivadas da maconha têm ocorrido desde os anos 1970. Um extrato da cannabis para pulverização via oral, comercializado com o nome de Sativex foi aprovado para uso no tratamento de esclerose múltipla em 2011 depois que um estudo demonstrou que a substância melhorava o sono, reduzia a espasticidade e o número de espasmos. Nos anos 1970 e 80, estudos mostraram que drogas derivadas da cannabis podem ajudar a atenuar náuseas em pacientes com câncer submetidos à quimioterapia. Na década de 1990, a pesquisa mostrou que poderia impedir a anorexia em pacientes com HIV. Há também evidências de que a maconha pode aliviar a dor crônica, quando tomado com outros medicamentos. Nos EUA, 20 estados permitem a posse e uso de cannabis por razões médicas, enquanto dois estados – Colorado e Washington – descriminalizaram a substância. Na Holanda, a maconha é legalizada para uso médico há mais de 25 anos.

Alguns pesquisadores acreditam que a cannabis tem potencial para tratar déficit de atenção e hiperatividade, estresse pós-traumático e insônia.

Uma das dificuldades com a pesquisa da cannabis é que a natureza da droga de rua mudou ao longo das últimas décadas – em parte em resposta à demanda dos usuários por um efeito, uma “onda”, mais forte. Estudos do Instituto de Psiquiatria do King College de Londres mostraram que o THC aumenta a ansiedade e sintomas psicóticos de curto prazo, enquanto a CBD – que parece ter a maior parte dos benefícios médicos – tem o efeito oposto. Variedades modernas de cannabis, ou skunk, que circulam nas ruas, são ricos em THC e apresentam níveis extremamente baixos de CBD.

Cogumelos Mágicos (Psilocibina)

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Como o LSD, cogumelos mágicos são alucinógenos. O composto ativo é a psilocibina e, como o LSD, pode ser útil no tratamento da depressão. Um estudo com 15 voluntários desenvolvido pelo Dr. Robin Carhart-Harris mostraram que o composto ajuda a suprimir a região do cérebro, muitas vezes hiperativa na depressão, chamada de córtex pré-frontal medial. Esta região está ligada à introspecção e ao pensamento obsessivo.

No entanto, ainda é muito cedo para dizer se os cogumelos mágicos podem tratar a depressão. Em 2013, os cientistas do Imperial College, foram premiados com uma bolsa do Conselho de Pesquisa Médica para estudar os efeitos da psilocibina em uma dúzia de pacientes com depressão. O estudo está sendo dificultado pela burocracia, mas deve começar no ano que vem.

A Psilocibina pode ser útil também no tratamento de dependência química. Um estudo financiado pela Fundação Beckley na Universidade Johns Hopkins deu a 15 pessoas que estavam tentando deixar de fumar, 2 a 3 rodadas da droga. Seis meses mais tarde, 12 permaneceram longe do cigarro – uma taxa de sucesso de 80%. Os melhores medicamentos para deixar de fumar são 35% eficazes. Embora promissor, é necessário um estudo muito maior. Alguns usuários de cogumelos mágicos afirmam que a psilocibina os ajuda a atenuar o transtorno obsessivo compulsivo. Até agora, houve apenas um ensaio clínico, envolvendo nove pessoas. Os resultados foram novamente promissores – mas são necessários estudos mais aprofundados.

Há também algumas evidências de que os cogumelos podem ajudar pacientes com câncer a aceitarem a sua condição. Segundo o professor David Nutt, os riscos associados ao uso de cogumelos mágicos são relativamente baixos em comparação com drogas como o álcool, tabaco ou heroína. Em uma escala de risco publicada no Lancet em 2010, cogumelos mágicos tinham risco inferior a 20 dos medicamentos mais comumente usados.

MDMA (Ecstasy)

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Primeiramente sintetizado há 100 anos, o MDMA foi usado na década de 1970 durante sessões de psicoterapia, mas explodiu na consciência pública, com a chegada da cultura da dança no final dos anos 1980.

Ele age aumentando a atividade de três neurotransmissores, ou mensageiros químicos, no cérebro: a serotonina, a dopamina e a noradrenalina. Os altos níveis de serotonina geram uma sensação de euforia,afeição e boa vontade.

Ele age aumentando a atividade de três neurotransmissores, ou mensageiros químicos, no cérebro: a serotonina, a dopamina e a noradrenalina. Os altos níveis de serotonina geram uma sensação de euforia,afeição e boa vontade.

Um pequeno estudo controlado feito nos EUA mostrou que 80% das pessoas com PTSD (Síndrome de Estresse Pós-Traumático) se beneficiaram com o uso de MDMA durante o tratamento terapêutico. O tratamento atual para a síndrome estimula os pacientes a revisitarem suas experiências estressantes e traumáticas. O MDMA parece funcionar, aumentando artificialmente o humor dos pacientes, e tornando mais fácil para elas se lembrar e discutir as experiências que causaram o PTSD. O Professor David Nutt diz que o MDMA também pode ter benefícios, como auxiliar nos tratamentos contra a ansiedade em pacientes terminais; e em terapia de casais. Ele também poderia ajudar a tratar a doença de Parkinson. Entretanto, mais pesquisas são necessárias sobre os riscos do uso do MDMA. Estudos em animais sugerem que a substância pode causar danos em longo prazo nos cérebros de ratos, mas a evidência nas pessoas é inconclusiva. Entre 1997 e 2012, 577 mortes foram ligadas ao ecstasy na Inglaterra e no País de Gales – principalmente de insolação, problemas cardíacos ou excesso de consumo de água.

Fonte: The Guardian

Cogumelos mágicos promovem mudanças permamentes na personalidade

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Apenas uma dose forte de cogumelos alucinógenos pode alterar a personalidade de uma pessoa por mais de um ano e, talvez de forma permanente, diz estudo.

As pessoas que receberam a psilocibina, o componente ativo dos “cogumelos mágicos” que provocavisões e sentimentos de transcendência, demonstraram uma personalidade mais aberta”, após suas experiências, um efeito que persistiu por pelo menos 14 meses. Essa “Abertura” é um termo psicológico referindo-se a uma apreciação por novas experiências. As pessoas que estão mais abertas tendem a terimaginação mais ampla e valorizam a emoção a arte e a curiosidade.

Essa mudança de personalidade é incomum, disse a pesquisadora Katherine MacLean, porque a personalidade raramente muda muito após os 25 ou 30 anos.

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Escola de Medicina Johns Hopkins, em Baltimore

A raiz da mudança parece não ser a substância em si, disse a pesquisadora à LiveScience, mas sim as experiências místicas que a psilocibina frequentemente desencadeia. Estes profundossentimentos transcendentais não são menos reais para as pessoas que os vivenciaram só por terem sido induzidos quimicamente, disse ela.“Este é um dos primeiros estudos que mostra que você realmentepode mudar a personalidade adulta“, disse MacLean, pesquisadora de pós-doutorado na Escola deMedicina da Universidade JohnsHopkins.

Muitos anos mais tarde, as pessoas estão dizendo que foi uma das experiências mais profundas de suas vidas“, disse MacLean. “Se você pensar sobre isso nesse contexto, não é surpreendente que pode serpermanente.

 

Viajando pela ciência

Pesquisas sobre alucinógenos são geralmente associados a figuras da contracultura dos anos 1960, comoKen Kesey e suas festas do “Acid Test” movidas a LSD. Mas na última década, emergiu uma abordagemsóbria, que busca passo-a-passo estudar o efeito dos alucinógenos, disse MacLean. Os experimentos são rigidamente controlados – não é fácil de obter permissão para dar a voluntários drogas ilegais – mas elesestão revelando que essas substâncias, que normalmente são mais associadas aos shows do Grateful Dead do que o escritório do psiquiatra, podem afinal ter uma série de usos médicos.

mapsEm Massachusetts, a organização sem fins lucrativos MAPS(Associação Multidisciplinar para o Estudo de Psicodélicos), está investigando, dentre outros estudos, a possibilidade de usar o MDMA para tratar o transtorno de estresse pós-traumático. Ambos LSD e psilocibinaestão sob investigação para a sua utilização no tratamento da ansiedade; O Orientador de pós-doutorado de MacLean na Universidade JohnsHopkins, Roland Griffiths, está conduzindo um estudo para descobrir se psilocibina pode aliviar a ansiedade e depressão em pacientes com câncer. Outro dos estudos de Griffiths se concentra no uso de psilocibinapara quebrar a dependência da nicotina.

No estudo atual, MacLean e seus colegas analisaram questionários de personalidade a partir de 51 pessoas que tinham tomado a psilocibina como parte de dois estudos separados da Johns Hopkins. Os voluntários eram todos novatos para drogas alucinógenas.

Cada pessoa compareceu entre duas a cinco sessões de oito horas com a droga, em que se sentava com os olhos vendados em um sofá ouvindo música uma forma de incentivar a introspecção. Durante uma das sessões, os voluntários receberam uma dose de moderada a alta de psilocibina, mas nem eles nemos pesquisadores sabiam se seriam de uma pílula de psilocibina ou um placebo em cada dia.

Em um experimento, os participantes entraram no laboratório duas vezes. Em uma visita que lhes foi dada psilocibina de fato e na outra vez lhes deram ritalina que lhes daria efeitos colaterais sem as alucinações.

Em outro experimento, ao longo de um curso de cinco sessões, os participantes receberam ou um placebo ou uma dose variável do fármaco. Para as finalidades deste estudo, os investigadores concentraram-se na sessão de dose elevada, que foi a mesma dose administrada durante o primeiroexperimento.

Antes das sessões com a psilocibina, os participantes preencheram o questionário de personalidade que media ‘abertura’. Eles também preencheram o mesmo questionário algumas semanas mais tarde e, em seguida, novamente cerca de 14 meses após a sua alta dose de alucinógeno.

 

Transcendência em uma pílula

Pill1Os resultados, publicados em setembro de 2011 no Journal of Psychopharmacology,revelou que, apesar de outros aspectos da personalidade permanecerem os mesmos, a ‘abertura’ aumentou após uma experiência de psilocibina. O efeito foi especialmentepersistente para aqueles que relataram umaexperiência mística” com sua dosagem. Estasexperiências místicas foram marcados por um sentimento de profunda conexão, juntamente com sentimentos de alegria, reverência e paz,disse MacLean.

Provavelmente não é apenas psilocibina que provoca alterações como esta, mas outras substânciasmais que desencadeiam esses tipos de experiências de mudança profunda de vida, qualquer sabor queelas tenham”, disse ela. Para muitas pessoas, a psilocibina lhes permitiu transcender as suas formas de pensar sobre o mundo.”

Cerca de 30 dos 51 voluntários tiveram uma experiência mística, disse MacLean. As mudanças deabertura’ nestes participantes foram maiores do que essas alterações são tipicamente observadas ao longo de décadas de experiência de vida em adultos.

MacLean alertou para não tentar fazer este experimento em casa. Os participantes do estudo estavam sob estrita supervisão durante a sua sessão com psilocibina. O apoio psicológico e preparação ajudaram a manter transtornos e bad trips a um nível mínimo, mas muitos participantes ainda relataram medo,ansiedade e angústia depois de tomar psilocibina.

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“Eu posso imaginar como em um cenário sem supervisão, esse tipo de medo ou ansiedade em conjunto, a clássica bad trip, poderia ser muito perigosa”, disse MacLean

Não é ainda claro se o uso sem supervisão resultaria nas mesmas alterações na abertura da personalidade como pode ser visto no estudo, disse MacLean. O grupo de estudo era pequeno, e já estava mais propenso a uma abertura do que a população em geral.

MacLean está agora investigando os efeitos da combinação da psilocibina com a meditação. Ela diz que poderia haver muitos benefícios terapêuticos para aumentar a abertura, inclusive ajudando a pessoa a romper com padrões de pensamentos negativos. Esses estudos também poderão iluminar a conexão anedótica entre alucinógenos e a arte, disse ela: “No lado mais especulativo, isto sugere que pode haver uma aplicação da psilocibina para a criatividade ou outras obras intelectuais que realmente ainda não têm sido exploradas a fundo.”

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Dra. Katherine MacLean
Dra. Katherine MacLean

Uma Breve História da Psiquiatria Psicodélica

Cogumelos alucinógenos Liberty Caps, colhidos perto de Pulborough, West Sussex, no sudeste da Inglaterra. A psilocibina, o ingrediente psicoativo nestes e outros cogumelos ‘mágicos’, tem potencial terapêutico. Fotografia: Martin Bond / Alamy
Cogumelos alucinógenos Liberty Caps, colhidos perto de Pulborough, West Sussex, no sudeste da Inglaterra. A psilocibina, o ingrediente psicoativo nestes e outros cogumelos ‘mágicos’, tem potencial terapêutico. Fotografia: Martin Bond / Alamy

Em 05 de maio de 1953, o romancista Aldous Huxley dissolveu 0,4 g de mescalina em um copo de água, bebeu-o, e em seguida, sentou-se e esperou que a droga fizesse efeito. Huxley tomou a droga em sua casa na Califórnia, sob a supervisão direta do psiquiatra Humphry Osmond, a quem o próprio Huxley se ofereceu como “uma cobaia ávida e super interessada”.

Osmond fazia parte de um pequeno grupo de psiquiatras pioneiros que, no início da década de 50, começaram a usar LSD para tratar pacientes com alcoolismo e com diversos transtornos mentais. Foi Osmond que cunhou o termo “psicodélico”, que significa “mente manifestando-se” e, apesar de sua pesquisa sobre o potencial terapêutico do LSD ter produzido resultados iniciais promissores, ela foi interrompida durante a década de 1960, por razões sociais e políticas.

Nascido em Surrey em 1917, Osmond estudou medicina no Guy’s Hospital, em Londres. Ele serviu na Marinha como psiquiatra em um navio durante a Segunda Guerra Mundial, e depois trabalhou na unidade psiquiátrica do Hospital St. George, em Londres, onde se tornou um pesquisador sênior. Quando estava em St. George, Osmond e seu colega John Smythies ficaram sabendo sobre a descoberta de Albert Hoffman na Companhia Farmacêutica de Sandoz, em Bazel, Suíça, o LSD.

Osmond e Smythies começaram suas próprias investigações a respeito das propriedades dos alucinógenos e observaram que a mescalina produzia efeitos semelhantes aos sintomas da esquizofrenia, e que a sua estrutura química era muito semelhante a do hormônio e neurotransmissor, adrenalina. Isso os levou a postular que a esquizofrenia era causada por um desequilíbrio químico no cérebro, mas essas idéias não foram favoravelmente acolhidas por seus colegas.

Em 1951, Osmond assumiu o cargo de vice-diretor de psiquiatria no Hospital Psiquiátrico Weyburn em Saskatchewan, no Canadá e se mudou para este país com sua família. Dentro de um ano, ele começou a colaborar nas experiências com LSD lideradas por Abram Hoffer. Osmond experimentou LSD e concluiu que a droga pode produzir mudanças profundas na consciência. Osmond e Hoffer também recrutaram voluntários para tomar LSD e teorizaram que a droga seria capaz de induzir o usuário a um novo nível de autoconsciência e concluíram que a substância poderia ter um enorme potencial terapêutico.

Em 1953, eles começaram a dar LSD aos seus pacientes, começando com algumas pessoas diagnosticadas com alcoolismo. O primeiro estudo envolveu dois pacientes alcoólatras, a cada um dos quais, foi dada uma dose única de 200 microgramas da droga. Um deles parou de beber imediatamente após a experiência, ao passo que o outro, deixou o álcool seis meses mais tarde.

Vários anos depois, um colega deles chamado Colin Smith utilizou LSD para tratar mais 24 pacientes e, posteriormente, informou que 12 deles tinham ou “melhorado” ou “melhorado muito”, após se submeterem ao tratamento. “Nós temos a impressão de que estas substâncias são um complemento que podem ser muito úteis à psicoterapia”, escreveu Smith em um artigo de 1958, no qual apresenta seu estudo. “Os resultados parecem suficientemente encorajadores e merecem mais experimentações e pesquisas, mais extensas, e de preferência, controladas”.

Osmond e Hoffer estavam motivados com os resultados, e continuaram a administrar a droga para pacientes com alcoolismo. Até o final da década de 1960, eles haviam tratado cerca de 2.000 pacientes. Eles alegaram que os experimentos de Saskatchewan produziram de forma consistente, os mesmos resultados. Seus estudos pareciam mostrar que uma única dose grande, de LSD poderia ser considerada um tratamento eficaz para o alcoolismo, e relataram que entre 40 e 45% dos seus pacientes que receberam a droga, não tinham experimentado nenhuma recaída depois de um ano.

Humphry Osmond. Photo: Bettman/Corbis
Humphry Osmond. Photo: Bettman/Corbis

Por volta da mesma época, outro psiquiatra realizou experimentos similares no Reino Unido. Ronald Sandison nasceu em Shetland e ganhou uma bolsa para estudar medicina no King’s College Hospital. Em 1951, ele aceitou um cargo de consultor no Powick Hospital perto de Worcester, mas ao assumir o cargo percebeu que o estabelecimento encontrava-se superlotado e decrépito, com pacientes sendo submetidos a tratamentos invasivos e obsoletos hoje em dia, como o eletro-choque e a lobotomia.

Sandison introduziu o uso de psicoterapia, e outras formas de terapia inclusive envolvendo arte e música. Em 1952, ele visitou a Suíça, onde conheceu Albert Hoffman, e foi introduzido à idéia de usar LSD na clínica. Ele voltou para o Reino Unido com 100 frascos da droga – que a empresa farmacêutica Sandoz chamava de ‘Delysid “- e, depois de discutir o assunto com seus colegas, já no final de 1952, começou a tratar pacientes com a substância, como complemento da psicoterapia.

Sandison e seus colegas obtiveram resultados semelhantes aos dos Ensaios de Saskatchewan. Em 1954, eles relataram que “como resultado da terapia com LSD, 14 pacientes se recuperaram (após média de 10,4 sessões)… 1 apresentou melhora considerável (após 3 sessões), 6 apresentaram melhora moderada (após média de 2 sessões) e 2 não melhoraram (depois de 5 sessões).”

Estes resultados atraíram grande interesse da mídia internacional, e, como resultado, no ano seguinte, Sandison abriu a primeira clínica no mundo construída especificamente com o intuito de fazer tratamentos com LSD. A unidade, localizada no terreno do Powick Hospital, acomodava até cinco pacientes simultaneamente, que poderiam receber terapia de LSD. A cada paciente era dado um quarto próprio, equipado com uma cadeira, sofá e toca-discos. Os pacientes também se reuniam para discutir suas experiências em sessões de grupo diárias. (Mais tarde, o tiro saiu pela culatra já que, em 2002, o Serviço Nacional de Saúde concordou em pagar a 43 ex-pacientes de Sandison, um total de 195.000 libras em um acordo extrajudicial.)

Enquanto isso, no Canadá, o estilo de terapia com LSD de Osmond foi endossado pelo co-fundador do A.A. (Alcoólicos Anônimos) e diretor do Bureau de Saskatchewan sobre Alcoolismo. A Terapia com LSD atingiu o auge no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, e foi amplamente considerada como “a próxima grande novidade” em psiquiatria, que poderia substituir a terapia eletrocunvulsiva e a psico-cirurgia. Em certa altura, tratamentos com LSD foram populares entre estrelas de Hollywood, como Cary Grant.

Dois estilos de terapia com LSD se tornaram popular. Um deles, chamado terapia psicodélica, era baseado no trabalho de Osmond e de Hoffer, e envolvia uma única e elevada dose de LSD como complemento da psicoterapia convencional. Osmond e Hoffer acreditavam que os alucinógenos são benéficos terapeuticamente por causa de sua capacidade de fazer os pacientes verem a condição na qual se encontram por uma perspectiva totalmente nova.

O outro estilo, conhecido como terapia psicolítica, baseou-se no regime de Sandison, que utilizava várias doses menores, que iam gradualmente aumentando, mas também como complementação ao tratamento psicanalítico. As observações clínicas de Sandison o levaram a afirmar que o LSD pode ajudar a psicoterapia por induzir alucinações oníricas que refletem a mente inconsciente do paciente, permitindo-lhes reviver memórias perdidas há muito tempo, mas que continuam influenciando o comportamento do paciente.

Entre os anos de 1950 e 1965, cerca de 40.000 pacientes receberam prescrição para uma forma ou outra de terapia com LSD, para tratamento de neurose, esquizofrenia ou alguma outra psicopatia. O LSD chegou a ser prescrito para crianças com autismo. A investigação sobre os potenciais efeitos terapêuticos do LSD e outros alucinógenos produziu durante este período, mais de 1.000 artigos científicos e seis conferências internacionais. Entretanto, muitos destes estudos iniciais não foram particularmente robustos, e a alguns faltavam grupos de controle, por exemplo, e, outros foram acusados por pesquisadores de falharem no quesito isenção, já que dados negativos acabavam sendo excluídos das análises finais.

Mesmo assim, os resultados preliminares pareciam justificar uma investigação maior e mais detida sobre os benefícios terapêuticos das drogas alucinógenas. Porém, por motivações políticas, a pesquisa com alucinógenos logo sofreu uma interrupção abrupta. Em 1962, o Congresso dos EUA aprovou novas normas de segurança em relação às drogas, e a Food and Drug Administration, órgão que regula o setor de alimentos e drogas nos Estados Unidos, designou o LSD como uma droga experimental e começou a reprimir a pesquisa sobre seus efeitos. No ano seguinte, o LSD chegou às ruas em forma de líquido embebido em cubos de açúcar; sua popularidade cresceu rapidamente e no verão de 1967, a contracultura hippie estava no auge, alimentada pela substância.

Este artigo foi retirado de uma edição especial do periódico The Psychologist, dedicada às drogas alucinógenas.
Este artigo foi retirado de uma edição especial do periódico The Psychologist, dedicada às drogas alucinógenas.

Durante este período, o LSD cada vez mais passou a ser visto como uma droga de abuso. Passou ainda a ser associado às manifestações e motins estudantis contra a guerra do Vietnã e, portanto, foi proibida pelo governo federal dos Estados Unidos em 1968. Osmond e Hoffer responderam a esta nova legislação, comentando que “parece pertinente afirmar que agora há uma explosão de ressentimento contra alguns produtos químicos que podem lançar rapidamente um homem ao céu ou ao inferno.” Eles também criticaram a nova legislação, comparando-a com a reação Vitoriana aos anestésicos.

A década de 1990 testemunhou um renovado interesse pelos efeitos neurobiológicos e pelo potencial terapêutico das drogas alucinógenas. Agora compreendemos quantos deles funcionam a nível molecular, e vários grupos de pesquisa têm realizado experimentos com tomografia cerebral para tentar aprender mais sobre como as substâncias exercem seus efeitos. Uma série de ensaios clínicos também está sendo realizada para testar os benefícios potenciais da psilocibina, da cetamina e do MDMA para pacientes com depressão e outros transtornos do humor. No entanto, seu uso ainda é severamente restringido, o que leva muitas pessoas a criticar as leis antidrogas, argumentando que tais leis estão impedindo uma investigação que pode ser vital.

Huxley acreditava que as drogas alucinógenas produzem os seus efeitos característicos ao permitir a abertura de uma “válvula redutora” no cérebro que, em estados normais, limitariam a nossa percepção, e algumas pesquisas recentes parecem confirmar isso. Em 1963, em seu leito de morte, por conta de um câncer, Huxley pediu a sua esposa para injetar LSD nele. Também neste caso, parece que o autor de Admirável Mundo Novo foi profético: vários pequenos estudos sugerem que a cetamina alivia a depressão e a ansiedade em pacientes com câncer em estado terminal e, mais recentemente, o primeiro estudo americano a usar LSD em mais de 40 anos, concluiu que a substância, também, reduz a ansiedade em pacientes com outras doenças que ameaçam a vida.

Referências
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Gasser, P. et al. (2014). Safety and Efficacy of Lysergic Acid Diethylamide-Assisted Psychotherapy for Anxiety Associated With Life-threatening Diseases. J. Nerv. Ment. Dis. 202: 513-520. [Full text]
Huxley, A. (1954). The Doors of Perception. London: Pelican Books.
Irwin, S. A., et al. (2013). Daily Oral Ketamine for the Treatment of Depression and Anxiety in Patients Receiving Hospice Care: A 28-Day Open-Label Proof-of-Concept Trial. J. Palliat. Med. 16: 958-965. [PDF]
Sandison, R. A., et al. (1954). The therapeutic value of lysergic acid diethylamide in mental illness. J. Ment. Sci. 100: 491-507. [Summary]
Sandison, R. A. & Whitelaw, J. D. A. (1957). Further studies of the therapeutic value of lysergic acid diethylamide in mental illness. J. Ment. Sci. 103: 332-343. [Summary]
Sessa, B. (2008). Can psychedelic drugs play a role in palliative care? Eur. J. Pall. Care 15: 235-237. [PDF]
Simmons, J. Q., et al. (1966). Modification of Autistic Behavior with LSD-25. Am. J. Psych. 122: 1201-1211. [Summary]
Smart, R. G. & Storm, T. (1964). The Efficacy of LSD in the Treatment of Alcoholism. Quart. J. Alcohol 25: 333-338. [PDF]
Smith, C. M. (1958). A New Adjunct to the Treatment of Alcoholism: The Hallucinogenic Drugs. Quart. J. Alcohol 19: 406-417. [PDF]
Tanne, J. H. (2004). Humphrey Osmond. BMJ 328: 713. [Full text]
Vollenweider F. X. & Kometer, M. (2010). The neurobiology of psychedelic drugs: implications for the treatment of mood disorders. Nature Rev. Neurosci. 11: 642-651. [PDF]

Este artigo aparece na edição de setembro de 2014  da revista The Psychologist e foi republicado aqui com permissão dos editores. A edição inteira é dedicada ao uso de drogas alucinógenas em terapias e pesquisas, e está disponível gratuitamente online. Fonte: The Guardian

Seguindo o caminho micelial

Paul Stamets transformou sua curiosidade adolescente sobre cogumelos em um caminho singular, que o levou não só a se tornar um expoente da micologia, empresário e autor, mas que também o colocou em uma viagem pioneira de descoberta.

Stamets tem sido um dedicado ministro, emissário, e evangelista dos fungos por mais de quatro décadas. Logo no início, ele reconheceu que eles eram muito mais do que frutos proibidos ou ingredientes culinários. Para ele, os fungos e as redes de filamentos subterrâneas do micélio a partir do qual eles brotam (e que Stamets costuma chamar de “Internet natural da Terra“) são poderosos presentes da natureza que detêm os segredos para a cura de uma infinidade de males médicos e ambientais. Ele fez de sua missão,  não apenas descobrir esses segredos, mas para por fim a cegueira e preconceitos que os humanos têm para com cogumelos, o que ele chama de “mycophobia”, que impede as pessoas de compreender o quão crucial para a nossa sobrevivência são estes organismos humildes sob nossos pés.

Eu comecei virtualmente sem nenhum dinheiro. eu apenas segui meu coração e minha paixão.”

– Paul Stamets

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As descobertas de Stamets no laboratório e no campo asseguraram a sua reputação como um cientista visionário e comprovaram que as tecnologias à base de cogumelos podem ser implantados para resolver uma série de desafios, incluindo a limpeza de toxinas e poluentes (micoremediação , biorremediação), o controle de pragas de insetos (micopesticidas), restauração de habitats (micorestauração), e combatendo problemas de saúde humana (micomedicina).

mushroomAo longo de sua carreira, ele foi premiado com nove patentes (e com várias outras ainda pendentes) por desencadear uma série de propriedades benéficas de cogumelos. Ele descobriu quatro novas espécies, inclusive uma no campus da Evergreen, e escreveu dúzias de artigos científicos e seis livros, incluindo textos definitivos sobre a psilocibina, sobre os “cogumelos mágicos” e sobre o cultivo, identificação e utilização de espécimes para usos medicinais e culinários.

Seu mais recente tratado “Mycelium Running: Como os cogumelos podem ajudar a salvar o mundo”, descreve as aplicações dos fungos para reparar e restaurar a saúde em ambos os níveis pessoais e ecológicos. SeuTED Talk de 2008, “6 maneiras para salvar o mundo com cogumelos”, que difundiu sua visão amplamente pelo mundo: Tem sido visto mais de 2,5 milhões de vezes desde que foi postado online.

Stamets é tão apaixonado por cogumelos e micélios hoje como ele era quando estudante da Evergreen na década de 1970. Foi quando ele mergulhou no estudo da micologia junto com o membro do corpo docente Michael Beug, identificando diferentes espécies, maravilhando-se com as suas células, trazendo à tona as suas propriedades químicas, e documentando suas formas ampliadas com o microscópio eletrônico da faculdade. Este último, disse ele, “me mostrou o mundo oculto, que era invisível. Ter acesso a esta bela paisagem nas dimensões microscópicas foi incrivelmente tentador para mim.

As investigações científicas que ele promoveu, desde que deixou a Evergreen foram financiados em grande parte pelos lucros da Fungi Perfecti, a empresa fundada por ele em Kamilche Point, Washington. Logo depois de se formar com o seu título de bacharel. “Comecei virtualmente sem nenhum dinheiro”, disse ele. “Eu apenas segui meu coração e minha paixão.

Hoje, ele e sua esposa, Dusty Yao, dirigem o próspero negócio, que tem 65 funcionários e produz cogumelos para culinária e suplementos derivados de cogumelos em uma fazenda orgânica de 20 acres, certificada pela USDA com casas de cultura, salas de limpeza e laboratórios de pesquisa. Ele também oferece seminários educacionais para micófilos e vende kits de cultivo de cogumelos e livros relacionados com cogumelos.

As técnicas que Stamets introduziu, para o cultivo de cogumelos comestíveis e medicinais, e os tornou disponíveis para um grande público, juntamente com seus livros e outras realizações, foram recentemente reconhecidos pela North American Mycological Association, que lhe presenteou com o seu Prêmio de Contribuições para Micologia em  2013.

No Laboratório da Fungi Perfecti, Stamets segura um cultura em reprodução de um cogumelo coletado em Mud Bay.
No Laboratório da Fungi Perfecti, Stamets segura um cultura em reprodução de um cogumelo coletado em Mud Bay.

É nos laboratórios da Fungi perfecti que Stamets, diretor de pesquisa da empresa, está fazendo muito do trabalho que ele fora orientado a fazer. Este é o lugar onde suas idéias inovadoras são gerados, através de experiências destinadas a encontrar soluções fúngicas para vários problemas, realizada com mais de 500 espécies de cogumelos e strainsque ele coletou em todo o mundo.

Em seu trabalho, ele tem por vezes, colaborado com outras organizações, incluindo a Pacific Northwest National Laboratory para reduzir os danos de derramamentos de petróleo com “cogumelos ostra”, e do Centro de Pesquisa Bastyr Integrative Oncologypara estudar um tratamento de câncer com base em fungos. No Bastyr, um ensaio clínico foi realizado para examinar o uso de um derivado do cogumelo “Turkey tail mushroom”, fornecidos por Stamets, para impulsionar o sistema imunológico de pacientes com câncer de mama submetidas à quimioterapia. Em uma palestra do TEDMED que Stamets deu em 2011, ele contou a história da dramática recuperação de sua mãe de 83 anos de idade, em estágio 4 de câncer de mama depois de usar o mesmo cogumelo utilizado no ensaio, em combinação com o Herceptin, uma droga quimioterápica. Agora aos 88, ela está livre do câncer.

Enquanto o mundo enfrenta as mudanças climáticas e sua sexta grande extinção, Stamets acredita que a maior tarefa da humanidade é “compreender a linguagem da natureza” para evitar maior destruição. Ele também acredita que as antigas florestas ameaçadas do noroeste do Pacífico, que abrigam muitas espécies ancestrais de fungos, precisam ser protegidos por uma questão de defesa nacional. E ele já elaborara uma lista de estratégias micologicas para proteger o planeta, que inclui a criação de centros comunitários de cultivo de cogumelos e bibliotecas de cultura genômicas para preservar o patrimônio fúngico da Terra para as gerações futuras, além de usar os cogumelos e os micélios para produzir alimentos e medicamentos, filtros de água para patógenos, e aprimoramento das práticas agrícolas.

paulAo olhar mais de perto para uma área do mundo natural que muitas pessoas na história moderna costumavam ignorar ou desprezar, Stamets aprendeu a entender o que ele chama de “a linguagem da natureza das redes de fungos que se comunicam com um ecossistema.” Através da exploração e engenhosidade , ele recrutou o reino dos fungos como aliados para trazer à consciência os diversos usos restauradores dos cogumelos.

Seu trabalho lhe rendeu um doutorado honorário, prêmios, estima, e, mais recentemente, um lugar na aula inaugural do AAAS-Lemelson Invention Ambassadors, um grupo de sete “criadores e descobridores, solucionadores de problemas, e percursores da inovação” selecionado pela maior e mais prestigiada sociedade científica do mundo, a Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS). Durante a nomeação de um ano, por meio de uma série de palestras, ele vai ajudar a promover a compreensão do papel que os cientistas desempenham para ajudar a sociedade através da invenção, criação de produtos, e a construção de negócios. Suas palestras, disse ele, serão uma “ponte para trazer a ciência para o público.”

Para Stamets, promover a compreensão dos poderes curativos dos cogumelos é imensamente importante. “Se eu puder ajudar a avançar esse conhecimento“, disse ele, “eu fiz a minha parte para proteger a vida neste planeta.”

Traduzido a partir do artigo original da The Evergreen State College Magazine

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“6 maneiras para salvar o mundo com cogumelos”
(uma palestra de Paul Stamets)

I Seminário sobre Psicodélicos – RJ

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Aconteceu no dia 26/11/2014 o primeiro Seminário sobre Psicodélicos do Rio de Janeiro

Organizado pelo Mestre em Psicologia (PUC-SP) Fernando Beserra, o Seminário foi mobilizado, em primeiro lugar, pelas recentes discussões em torno da adulteração de psicodélicos, notadamente do LSD e do MDMA e os múltiplos danos decorrentes da política de drogas proibicionista.

Foi realizado no Instituto ISERJ – Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro e contou com mesas que debateram a redução de riscos e danos relacionada aos psicodélicos e, finalmente, um assunto ainda pouco discutido: as políticas de drogas relativas a estas plantas e substâncias.

 

– ÁUDIO DA 1ª MESA – PSICODÉLICOS E REDUÇÃO DE DANOS

Mediador: Denis Petuco
Participantes: Sandro Rodrigues, Tiago Coutinho, Danyel Sylvestre e Rafael Beraldo

 

– ÁUDIO DA 2ª MESA – PSICODÉLICOS E POLÍTICA DE DROGAS

Mediadora: Thamires Regina
Participantes: Fernando Beserra, Rodrigo Mattei e Renato Cinco


Audios Generosamente gravados e disponibilizado pela Cooperativa Jerimundo filmes

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http://jerimundofilmes.wordpress.com/
https://www.facebook.com/jerimundofilmes

 

e pelo programa (((VibeSom)))

 

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https://www.facebook.com/programavibesom?pnref=story

 

 


A seguir uma breve descrição dos participantes:

1ª Mesa – Psicodélicos e Redução de Danos

Mediador:

Denia-petuco

Participantes:

Sandro

tiago

dan

Rafael-Beraldo


2ª Mesa – Psicodélicos e Política de Drogas

Mediadora:

thamires

Participantes:

fernando

mattei

renato-cinco

 

 


 

Efeitos da Psilocibina da Comunicação Cerebral

shrooms_brainOs cogumelos mágicos contêm psilocibina, uma substância que faz com que os usuários experimentem experiências assustadoras, e talvez esclarecedoras. Um novo estudo revelou que a psilocibina produz essas fantásticas experiências, alterando a forma como o cérebro se comunica com ele mesmo.

Pesquisadores da King’s College no Reino Unido usaram ressonância magnética funcional (fMRI em inglês) para tirar imagens do cérebro de dois grupos de participantes: indivíduos que receberam uma dose de 2 mg de psilocibina, e aqueles que receberam um placebo.

A atividade cerebral segue geralmente vias neurais específicas, e os exames mostraram inicialmente aumento da atividade aleatória em todo o cérebro. A equipe olhou mais de perto para o que parecia ser a atividade cerebral esporádica e descobriram que a substância estava realmente formando diferentes conexões no cérebro, e depois que a substância se foi, a atividade do cérebro voltou ao normal.

Os resultados, publicados no Journal of the Royal Society, sugerem que novas conexões permitam que as partes do cérebro que não costumam falar um com o outro,  se comuniquem. Estes percursos alterados podem desencadear uma experiência como ver sons ou cheirar cores.

Imagine a informação em seu cérebro sendo compartilhada em um sistema interligado e com um sistema de rodovias de tráfico pesado, diz Eric Brodwin do Business Insider. “Nesse exemplo, a psilocibina não é a remoção das rodovias. Em vez disso, ela simplesmente constrói novas.

 

 

Esta nova visão do que a psilocibina faz para o cérebro podem ajudar a explicar anos de descobertas anteriores sobre os efeitos psicológicos da psilocibina, incluindo como os cogumelos mágicos parecem reduzir os sintomas de depressão. Estudos anteriores mostraram que a droga pode aumentar o otimismo, melhorar a saúde psicológica, e até mesmo ajudar uma pessoa a parar de fumar.

Em um estudo de 2012, Imperial College London neurocientista David Nutt descobriu que em pessoas sob efeito da psilocibina, a  comunicação cerebral nas áreas tradicionais do cérebro fora silenciada, inclusive em uma região que se pensava desempenhar um papel na manutenção nosso senso de self. Em pessoas deprimidas, Nutt acredita, que as conexões entre os circuitos cerebrais nessa região sensode-si são fortes demais. “As pessoas que entram em pensamento depressivo, seus cérebros são sobrecarregados de conexões”, disse Nutt à “Psichology Today”. Pensamentos e sentimentos de auto-crítica negativa se tornam obsessivos e avassaladores. Dissolver essas conexões e criar novoa, acredita Nutt, pode proporcionar alívio intenso.

Psicólogos da Johns Hopkins chegaram a conclusões semelhantes quando induziram experiências fora do corpo, em um pequeno grupo de voluntários com doses de psilocibina. Imediatamente após as sessões, os participantes disseram que se sentiam mais abertos, mais imaginativos e mais capazes de apreciar a beleza. Quando os investigadores entrevistaram os voluntários, um ano depois, quase dois terços disseram que a experiência tinha sido uma das mais importantes em suas vidas.

Nick Fernandez, um ex paciente de câncer e estudante de pós-graduação de psicologia que tomou psilocibina como parte de um estudo da Universidade de Nova York, experimentou esses mesmos sentimentos de liberdade e positividade.

“Pela primeira vez na minha vida, eu me senti como se houvesse uma força maior do que eu“, disse Fernandez Aeon Magazine. Algo dentro de mim estalou e eu experimentei uma mudança que me fez perceber que todas as minhas ansiedades, defesas e inseguranças não eram algo com que se preocupar.”

Fonte : SienceAlert / BusinessInsider

Arte Visionária de Pablo Amaringo

[su_quote]“As próprias imagens tem mensagens e ensinamentos que treinam a mente para ver o que pode ter acontecido no passado e o que pode acontecer no futuro. Elas abrem outros meios de visualizar, que você pode chamar de sagrado ou divino. Eu gostaria que os meus quadros inspirassem uma ideia diferente de religião, uma que não é dada em retorno por algo mas que é de graça.”   (Pablo Amaringo)[/su_quote]

Unicornio Dorado por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Unicornio Dorado por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Pablo Amaringo nasceu em 1938 em Loreto, Peru. Seus trabalhos de arte são conhecidos no mundo todo e ele é considerado um dos mais influentes pintores peruanos na história. Suas pinturas mostram o mundo que lhe é familiar, pintando a floresta da região Amazônica com as muitas plantas e criaturas que lá vivem. Suas pinturas também ilustram o mundo espiritual conhecido das pessoas dessa região. O mundo espiritual é acessado por meio de rezas e pelo uso de plantas visionárias, mais comumente a Ayahuasca. O mundo espiritual inclui seres espirituais de todos os tipos, aliens, serpentes gigantes, anjos, cidades luminosas existindo em outro plano de consciência; é isso que Pablo Amaringo chama de divino ou realidade sagrada. Cada objeto, ser inteligente e motivo têm significados específicos que são revelados no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As Visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”). Essas pinturas dão uma vislumbrada no mundo não visto de curadores peruanos, xamãs e pessoas comuns.

Pablo Amaringo tomou Ayahuasca pela primeira vez com seu avô quando tinha 10 anos de idade, pois ouviu falar de outros que tomaram e ficou curioso. Ele entrou no mundo espiritual e perdeu sentido do seu corpo. Ele sentiu um pouco de medo mas viu espíritos geralmente conhecidos na região. Ayahuasca foi e ainda é um sacramento sagrado que conecta a pessoa ao mundo espiritual. Ayahuasca é uma combinação de plantas preparadas de um jeito específico e contém compostos psicodélicos. Há muitas igrejas de Ayahuasca, ambas indígenas e cristãs, por toda a América do Sul e é comumente usada para cura e propósitos espirituais.

Transformacion Del Chaman em Aguila por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Transformacion Del Chaman em Aguila por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Pablo Amaringo enfrentou uma intensa doença após sua família ter morrido em um acidente de carro. Ele foi até a casa de seu pai e foi curado com Ayahuasca nos anos 1970. Pablo disse “eu achava que a Ayahuasca era uma boa medicina porque funcionava pra mim – eu tinha visões, e até hoje me lembro de tudo que vi.” Após sua recuperação ele percebeu “a vida não tem sentido ao menos que alguém olhe para o espiritual, seja por meio de tomar plantas ou por seguir uma religião.”

Ayahuasca Raura por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Ayahuasca Raura por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Pablo Amaringo foi um artista, espiritualista e curandeiro. Ele fez trabalhos de arte que retrata o mundo espiritual de seu povo, o qual ele acessou com Ayahuasca. Ele fez a fusão de pinturas com ícaros, ou encantamentos mágicos. Ele diz “se você se concentrar e meditar nas pinturas vai receber energia espiritual.” Howard Charing escreveu “embora ele tenha parado de tomar Ayahuasca muitos anos antes, ele tinha a habilidade de se lembrar perfeitamente de cada uma de suas visões. Em uma ocasião ele disse pra mim ‘eu não preciso tomar novamente; Ayahuasca me conectou ao mundo espiritual.’”

Jehua Supai – Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Jehua Supai – Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Ele chegou a conduzir cerimônias de cura com ayahuasca como homem da medicina ou xamã. Ele parou devido a ameaças por feiticeiros. Os feiticeiros são os que usam Ayahuasca e o mundo espiritual para fazer mal a outros. Ele depois parou de fazer cura para as pessoas alegando que até as curas são um tipo de feitiçaria. Ele começou a dar aulas de arte e abriu uma escola para ensinar peruanos a pintar e desenhar. Ele sentiu que a arte era a busca maior. Ele pintou visões de Ayahuasca, mas também pintou muitos cenários cheios das mais diversas plantas e animais da Amazônia. Colecionadores do mundo todo tem ido ao Peru procurar trabalhos feitos por Pablo, assim como também de artistas imitando e desenvolvendo seu estilo.

Pagoda Dorada por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Pagoda Dorada por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Pablo diz “a melhor coisa que você pode deixar é uma semente para que outros possam trabalhar. Eu não sou apenas uma pessoa, eu sou uma pessoa espiritual. Eu sempre me comunico com a grande força universal, a qual é a fundação da perfeição – Dios – que eu vi em minhas visões de Ayahuasca e que sempre conversaram comigo.”

Nukno Maschashka By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Nukno Maschashka By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Llullon Llaki Supai por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Llullon Llaki Supai por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Nukno maschashka faz as pessoas ecoarem cânticos em uma cerimônia na base e mostra como rezas e músicas são enviadas até as mais altas esferas do cosmos. Um cântico é uma música adquirida pelos espíritos em um local quieto na floresta. Cada uma das plantas, pessoas, animais e espíritos representados são seres específicos e objetos com um significado mais profundo para a imagem toda. Uma pessoa pode ver anjos, mulheres curandeiras da medicina, cerimônia, serpentes da sabedoria, plantas curadoras e os altos patamares do mundo espiritual repercutindo com a música. A cerimônia de cura e os cânticos de cura são carregados pelos espíritos até o mundo espiritual.

Sumac Icaro By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Sumac Icaro By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Yana Huarman By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Yana Huarman By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Angeles Avatares por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Angeles Avatares por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Templo Sacrosanto por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Templo Sacrosanto por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Alli Mariri By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Alli Mariri By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
La Principa de la Vida by Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
La Principa de la Vida by Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Ondas de la Ayahuasca by Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Ondas de la Ayahuasca by Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Los Grados del Curandero By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo
Los Grados del Curandero By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo

Agradecimentos a Raphaela Lancellotti pela tradução do texto.

FONTE

Efeitos Cognitivos de Uma Experiência Psicodélica

Esse guia é uma tentativa de categorizar e descrever em termos simples os efeitos cognitivos específicos que drogas psicodélicas causam. Ele descreve não experiências pessoais, mas a universalidade de efeitos que foram sentidos e reportados pela maioria, senão todos os usuários de psicodélicos.

Ele está dividido em três diferentes seções:

I. Os efeitos visuais da experiência psicodélica.
II. Os efeitos cognitivos da experiência psicodélica.
III. Os efeitos diversos da experiência psicodélica.

O primeiro é uma descrição da experiência visual, o segundo é uma descrição da experiência mental e o terceiro é uma descrição dos componentes sensoriais que não se encaixam nem nos efeitos mentais, nem nos visuais. Ele é em referência a todos os psicodélicos clássicos e à grande variedade de modernos e obscuros “químicos de pesquisa” que estão se tornando cada vez mais prevalecentes. Mais especificamente essa lista inclui, mas não é limitada a: LSD, Cogumelos, DMT, Ayahuasca, LSA, Mescalina, Bufotenina, 5meoDMT, AMT, Harmina, Harmalina, MDA, a família 2Cx e a família DOx.

Este artigo procura destrinchar e descrever os efeitos cognitivos e comportamentais inerentes à experiência psicodélica, apresentando-os em tópicos simples, e de fácil compreensão, seguidos por descrições e sistemas de nivelamento. Aqui o faremos sem utilizar metáforas, analogias, e relatórios de “viagens” pessoais. O artigo seguirá num crescente; inicia-se com os efeitos mais simples, e, à medida que vai se desenvolvendo, abordará experiências mais e mais complexas.

Intensificação do estado mental atual:

A intensificação do estado mental apresentado ao ingerir a substância é um efeito que altera o humor, mas que, diferentemente de certos componentes de efeito subjetivo como a euforia, não costuma levar necessariamente a estados de positividade sem levar em conta o estado de ânimo e a estabilidade mental da pessoa que as utiliza. Ao invés disso, a experiência psicodélica funciona amplificando e intensificando o estado de espírito que o usuário apresenta no momento, o que faz com que os efeitos possam ser positivos ou negativos, dependendo do estado de ânimo que ele apresente ao ingerir as substâncias.

É por esta razão que as pessoas costumam reagir às experiências alucinógenas de formas completamente diferentes. Por exemplo, indivíduos despreparados, ansiosos e mentalmente instáveis, têm grandes possibilidades de terem uma experiência alucinógena avassaladora, cheia de emoções negativas, paranoia e confusão. Este cenário é causado pelo estado emocional do próprio indivíduo, que são enormemente ampliados, a níveis pouco usuais. Por outro lado, pessoas preparadas, positivas, e mentalmente estáveis, ao ingerirem a mesma substância, e a mesma dosagem, tem grandes chances de ficarem extasiados e de serem tomados por estados inefáveis de um bem estar inebriante, seguido de profundas revelações e insights.

A exteriorização de sentimentos reprimidos através de uma explosão de emoções também é um efeito comum. Esta liberação pode ter um viés alegre e divertido na forma de danças e cânticos espontâneos ou podem se manifestar de forma desesperada, histérica, com crises de choro compulsivo e colapsos nervosos. Mesmo nestes casos, aparentemente negativos, o viajante costuma sair da experiência sentindo-se aliviado, como se um peso muito grande tivesse sido tirado de seus ombros.

Há uma diferença muito clara entre as emoções induzidas por substâncias e as emoções genuínas. Este componente não produz nenhuma emoção que não exista, ela meramente aprofunda e intensifica as emoções e sentimentos que já podem ser perceptíveis, em grau menor, sem a substância.

Aceleração da atividade mental:

A aceleração da atividade mental pode ser descrita como o aumento significativo do processamento dos pensamentos. É como se os pensamentos fossem gerados sucessivamente, um após o outro, numa intensa rajada.  Não só a velocidade dos pensamentos aumenta, mas a clareza mental da pessoa parece aumentar tremendamente, resultando em uma vastidão de novas ideias, perspicazes e inspiradoras.

Conectividade dos pensamentos:

A conectividade dos pensamentos pode ser descrita como a sensação de que os fluxos de pensamento passam a se caracterizar por um abstrato fluir de associações e ideias que vagueiam poderosamente e que se conectam profunda e mutuamente, ganhando sentido. Normalmente, a impressão é de que tênues devaneios e ideias aparentemente sem sentido se conectam uns aos outros por meio da incorporação de uma ideia ou conceito que já existia em pensamentos prévios, mas que agora são vistos por um ângulo completamente diferente.

Quando experimentado por longos períodos de tempo este efeito permite que a mente abarque todas as áreas da vida, não apenas as grandiosas e mais significativas, mas também as menores e menos importantes ou evidentes. É um processo que leva a uma intensa introspecção e ao aumento considerável dos níveis de criatividade e habilidades artísticas, já que o que a substância psicodélica faz, em essência, é remover os bloqueios criativos, permitindo que os pensamentos sigam seu fluxo, livremente.

efeitos_cognitivos_1

Sensações de fascínio, importância e espanto:

Sensações de fascínio, importância e espanto atribuídas ao ambiente externo e a tudo a ele relacionado são uma das características que mais bem definem as experiências psicodélicas e elas costumam ser bastante intensas. Estas manifestações são bem variadas, mas podem ser comparadas com a reação de fascínio que as crianças têm com as novas descobertas, só que com a noção de que tudo tem uma profundidade e uma importância avassaladoras, seja a natureza, o universo, ou objetos comuns do cotidiano de cada um de nós.

É esse tipo de efeito que faz com que as pessoas compreendam, considerem e apreciem as coisas a sua volta de uma forma muito mais profunda, com um nível de detalhes sem paralelo, se levarmos em conta a maneira que estamos acostumados a ver as coisas, quando sóbrios.

Em seu grau mais elevado, essas sensações podem se tornar tão intensas e profundas que algumas pessoas sentem como se a vida inteira delas tivesse vindo desenvolvendo-se com o intuito de desembocar neste instante e que, a partir de então, nada será como antes. Algumas pessoas costumam se referir a essas sensações dizendo que é como se elas tivessem passado a vida toda andando em um trem e agora finalmente poderão descer. É realmente uma perspectiva incrivelmente marcante e que costuma ser induzida durante estados positivos de geometria visual escala 7A.

Distorção do Tempo: 

efeitos_cognitivos_2Distorção do tempo é um efeito que faz com que seja difícil precisar quanto tempo se passou já que a percepção do tempo fica bastante alterada. Esta sensação pode ser sentida de duas formas distintas: ampliação do tempo ou compressão do tempo.

A mais comum delas, a ampliação do tempo, pode ser descrita como aquela sensação de que o tempo diminuiu o seu ritmo, consideravelmente. Esta distorção na percepção se deve ao fato de que, durante uma experiência alucinógena, a pessoa passa por uma quantidade anormal de experiências em um período relativamente curto de tempo. Isso faz com que a pessoa pense que muito mais tempo se passou do que na verdade ocorreu. Por exemplo, no final de certas experiências, a pessoa pode sentir que se passaram vários dias, semanas, meses ou anos e em casos mais agudos de expansão do tempo, pode parecer que o tempo simplesmente parou, o que é conhecido como um momento de eternidade.

O segundo tipo de distorção é a compressão do tempo. Ela é mais comum em substâncias estimulantes do que nas alucinógenas, mas ainda assim, é totalmente possível de ser sentida. É a sensação de que o tempo acelerou de forma notável e que está passando bem mais depressa do que deveria.

Introspecção:

Introspecção pode ser definida pelo estado de espírito que consiste em direcionar a atenção para uma profunda contemplação e análise a respeito da própria vida, seja como um todo ou em relação às partes que a integram. Isto promove uma capacidade incrível de dissecar e analisar racionalmente os problemas, permitindo um nível de resolução lógica e/ou de aceitação dos eventos passados; da situação atual; das possibilidades futuras, das inseguranças, medos, traumas e outros demônios pessoais.

O resultado comumente observado é a aparição de uma abundante quantidade de ideias, insights e conclusões capazes de mudar a forma de enxergar a vida e a relação da pessoa com os seres que ama e que fazem parte de sua jornada. Este fator é extremamente eficiente como agente facilitador do auto-aperfeiçoamento, e do crescimento pessoal, catalisando transformações sem paralelo em experiência congêneres, do dia-a-dia.

É importante ressaltar, porém, que nem todo mundo está pronto para encarar seus próprios fantasmas, resolver suas questões e seguir em frente. Algumas pessoas preferem ignorá-los e reprimi-los. É justamente a vontade da pessoa em encarar a verdade a respeito de sua própria vida que funciona como um fator determinante sobre se a pessoa será capaz de curtir e aproveitar a experiência que os alucinógenos podem oferecer. Algumas pessoas não se sentem bem com esta reação introspectiva, pois o mergulho em si mesmo traz à tona as inseguranças, os arrependimentos, traumas reprimidos, expondo-os à luz da consciência. Lutar contra essas revelações através da negação ou tentando reprimi-las costuma ser a receita certa para as experiências negativas, que podem ser evitadas, ou amenizadas quando o usuário não oferece resistência e se predispõe a se conhecer profundamente.

Outrospecção:

Outrospecção é um efeito subjetivo que pode ser considerado como o oposto da introspecção. Podemos descrever a outrospecção como a experimentação de um estado de espírito que constantemente direciona o foco da atenção para o ambiente externo, entrando numa profunda contemplação e análise daquilo que o cerca, seja abarcando-o como um todo ou focando de forma compartimentada, analisando as partes que formam este ambiente.  O resultado desta experiência são abundantes ideias inspiradoras e conclusões grandiosas pertencentes ao que podemos chamar de “The bigger picture”, em outras palavras, como se caísse a ficha em relação à vida ou a uma situação específica de modo que agora a pessoa é capaz de abarcá-la, de uma forma mais ampla.  Essas ideias geralmente envolvem (ainda que não se limitem a elas) uma visão diferenciada sobre temas filosóficos, a espiritualidade, a sociedade, o progresso universal, a humanidade e como todas essas coisas se encaixam através da história e no momento atual, assim como suas possibilidades futuras.

Rejuvenescimento:

Rejuvenescimento e sensações de extremo revigoramento são quase que uma reação universal nos dias e semanas que sucedem uma experiência alucinógena positiva. Elas podem ser mental e fisicamente revigorantes. O rejuvenescimento pode ser descrito como uma sensação duradoura de clareza mental, aumento da motivação, e da sensação de calma acompanhada de efeitos aqui citados, comomindfullness, aumento de motivação, supressão de filtros culturais e aumento do foco e da concentração. A sensação é a de que as conexões feitas no cérebro foram restauradas, fazendo com que alguns preconceitos e inclinações que definem o falso “Eu”, sejam “resetadas”.

Em um grau mais elevado, a sensação de rejuvenescimento pode se tornar tão intensa que ela começa a se manifestar como uma sensação profunda de renascimento. Esta sensação pode durar tanto algumas semanas como para o resto da vida, após uma experiência psicodélica intensa.

 Déjà-Vu:

Déjà-vu  é aquela expressão francesa que pode ser traduzida literalmente como “Já visto”. Trata-se de um fenômeno já bem documentado que pode ocorrer durante a sobriedade ou em estado alterados de consciência, sob efeito de alucinógenos. Em resumo, o Déjà-vu pode ser descrito como a sensação de que o evento atual ou a situação que está se passando agora, já foi vivida exatamente da mesma forma anteriormente, quando, na verdade, não foi.

Algumas substâncias costumam ser capazes de induzir o indivíduo a espontâneos e prolongados episódios de déjà-vu, tanto intensos quanto suaves. Este efeito faz com que o psiconauta possa ter uma sensação arrebatadora de já ter estado “ali” antes. Quando isso ocorre, é comum uma falsa sensação de familiaridade com os efeitos da substância em si, com o ambiente no qual a substância está sendo consumida, com as ações que estão sendo feitas, e com a situação como um todo.

O Déjà-Vu costuma ser desencadeado e sentido pelo viajante mesmo que ele esteja racionalmente ciente de que as circunstâncias de uma experiência prévia como aquela (quando, onde, e como o evento ocorreu) são incertas e mesmo que ele acredite que seria impossível aquele evento ter ocorrido alguma vez no passado.

Mindfullness (Atenção Plena):

O Mindfullness enquanto conceito psicológico é definido como as práticas contemplativas que integram corpo e mente colocando o foco da atenção e da consciência no aqui e agora, e se baseia no conceito de consciência plena e não-julgadora da meditação budista.

O primeiro componente da atenção plena pressupõe que o foco da atenção esteja completamente direcionado para as experiências imediatas, acalmando, desse modo, a narrativa interna, com a intenção de permitir o aumento da percepção dos eventos mentais do momento presente.

O segundo componente envolve adotar uma orientação pessoal em relação às próprias experiências no aqui e agora, cuidando para que esta relação com o momento presente seja caracterizada pela curiosidade, abertura, aceitação e ausência de julgamento.

Na meditação, este estado de consciência é praticado deliberadamente e é mantido por longos períodos de tempo, nos quais o foco manual e da consciência é colocado em um ponto focal específico, evitando dispersar-se em mil direções. No contexto dos alucinógenos, entretanto, este estado é induzido forçosamente por longos períodos de tempo sem nenhum esforço consciente e sem a necessidade de dominar os conhecimentos das técnicas meditativas.

Múltiplos fluxos de pensamento:

efeitos_cognitivos_3Múltiplos fluxos de pensamento podem ser definidos como o estado em que a pessoa tem mais do que uma narrativa interna ou mais que um fluxo de consciência acontecendo ao mesmo tempo dentro da mente.  Este estado pode gerar um sem número de fluxos de pensamento diferentes, cada um dos quais pode ser controlado da mesma maneira que um fluxo de pensamento normal de nosso dia-a-dia. Esta experiência permite que a pessoa pense, reflita e analise vários temas e conceitos diferentes, simultaneamente, o que pode ser uma fonte incrível de grandes insights.

Remoção do filtro cultural:

A Remoção do filtro cultural pode ser descrita como a supressão de uma série de preconceitos e ideias que não evoluem, determinadas pela cultura local e pelas tradições que são mantidas ao longo da vida inteira.

Estes preconceitos e o modo automático de levar a vida afetam nossa capacidade de avaliar o mundo a nossa volta de uma forma muito mais perniciosa do que a maioria das pessoas gostaria de admitir. Parece que a maneira de encarar o mundo é construída a partir de uma complexo conjunto de filtros, que se baseia em crenças pré-estabelecidas, experiências anteriores, medos, preconceitos, estereótipos, símbolos culturais, etc. Isto faz com que nós tenhamos tendências rígidas e modos inconscientes de perceber e dar significado àquilo que observamos e que confirmam nossas crenças culturais já existentes, à medida que vamos filtrando e racionalizando as observações que não confirmam nossas crenças culturais pré-existentes. Os filtros culturais nos forçam a olhar para o mundo, não como seres humanos, mas como uma falsa versão de nosso verdadeiro “Eu” – seja sendo uma mãe judia conservadora, uma dona de casa muçulmana, um aborígene, ou um homem europeu cínico e materialista, de criação cristã, com crenças ateístas.

Muitos têm dito que nós não vemos as coisas como elas são, e sim, como nós somos. A experiência de remoção dos filtros culturais, entretanto, parece dissolver completamente esses preconceitos culturais geográficos, mostrando às pessoas que a cultura é apenas uma forma engessada de se enxergar as coisas, e uma forma normalmente ilusória, diga-se de passagem, e não a realidade objetiva em si. Portanto, esta experiência pode gerar mudanças profundas naquela velha maneira de encarar o mundo, que a pessoa tem usado a vida inteira, à medida que vai fazendo-a entender que elas não são de fato aquilo se tornaram a partir da maneira com a qual foram criadas.

Sensações de pré-determinismo:

Sensações de pré-determinismo podem ser definidas como a sensação ou perspectiva repentina de que todos os eventos, incluindo as ações humanas, já estão pré-definidas ou pré-programadas por um agente causal prévio.

Esta é uma perspectiva que pode ser desencadeada de forma espontânea e pode ser sentida através de uma mudança inegável na forma em que os pensamentos são processados. Em termos de como é sentida, a perspectiva pode ser descrita como uma sensação de que o “livre-arbítrio” que o ego ou a narrativa interna parecem ter, estão agora suspensas, removidas e reveladas como ilusórias.

Esta revelação não se dá como um resultado de um insight cognitivo que leva a pessoa a entender isso na teoria, mas sim, uma compreensão que ocorre à força, por meio de uma repentina mudança de perspectiva. Isto cria uma sensação inegável de que suas escolhas pessoais, suas ações físicas, sua perspectiva atual diante das situações, e cada assunto subjetivo de seu fluxo de pensamento tem sido completamente pré-determinado e fora de seu controle. A essa altura fica claro que essas coisas não são alcançadas por meio de um processo consciente de tomada de decisão, ou que são frutos do planejamento do ego, e que na verdade, nunca foram em momento algum. Em vez disso, eles são revelados como sendo um amplo e complexo conjunto de atividades eletroquímicas instantaneamente decididas, pré-programadas e internamente armazenadas, que respondem aos estímulos sensoriais sobre os quais o sujeito não possui nenhum controle consciente.  Além disso, há uma sensação física muito intensa que faz com que o arranjo preciso do ambiente externo e os objetos a ele relacionados sejam percebidos como sendo a força que de fato está decidindo como você está se relacionando fisicamente com ele. Isto é feito instantaneamente desencadeando suas respostas e decisões em relação a esses objetos através da simples percepção da existência deles. Isto pode fazer com que você sinta, por exemplo, que não é você que está decidindo levantar a mão e pegar um objeto, mas sim que você precisa fazê-lo (independente de você ter colocado ou não alguma intenção em pegá-lo).

Quando a experiência está chegando ao fim, o usuário começa a restabelecer seu senso de liberdade e independência. Porém, o que acontece normalmente, é que ele retém muitas daquelas informações e percepções e assim, a experiência costuma ser interpretada como uma profunda revelação a respeito da ilusória natureza do livre-arbítrio.

Pensamento conceitual:

O Pensamento conceitual pode ser descrito como uma mudança forçada na percepção, a qual liberta o fluxo consciente de pensamentos da limitação de estar restrito apenas ao conteúdo linguístico, formado por palavras e rótulos. Este efeito permite ao usuário pensar não apenas por meio de descrições verbais, mas diretamente, por meio de conceitos armazenados internamente, e que estão por trás das palavras e rótulos. Por exemplo, se alguém pensar na palavra “internet”, durante este estado, ela não ouviria apenas a palavra como parte do seu fluxo mental, mas também, sentiria em um nível de detalhes bem abrangente, todos os códigos, dados e informações não-linguísticos que ela possa ter armazenada nela, internamente e que estão comprimidas naquele rótulo que específica o conceito que a pessoa tem para o vocábulo “internet”.

É como se os conceitos por trás das palavras e rótulos que surgem em nosso fluxo de pensamentos pudessem ser sentidos cognitivamente, em cada ponto de si mesmos concomitante ao pensamento relativo ao rótulo ou palavra que nós atribuímos a cada um desses conceitos. Além disso, esses conceitos também são percebidos simultaneamente através de manifestações visuais na forma de animações internas parciais ou completas.

Esta experiência promove a impressão de que é possível sentir precisamente quais as limitações, consequencias e posição de cada conceito em particular. Estas sensações costumam ser descritas como um “nível superior de entendimento” e provavelmente assim são sentidas, por revelarem a linguagem humana como sendo intrinsecamente autolimitada na maneira com a qual se expressa, afinal as palavras podem atuar apenas como meros atalhos para os conceitos que estas mesmas palavras tentam descrever.

Em níveis menos intensos, esses estados de pensamentos conceituais, podem ser descritos especificamente como fluxos de pensamentos. O que significa que os conceitos que estão sendo sentidos, vistos e “entendidos” são exclusivamente relevantes para as palavras que você está pensando naquele momento. Isso será sentido de forma idêntica, em termos de comportamento estilístico, quer o conceito tenha surgido por um simples vagar dos pensamentos ou se tiverem sido desencadeados por meio da experiência de um conceito ou objeto percebido no ambiente externo.

Talvez, o exemplo mais comum desta sensação, e com a qual qualquer pessoa poderá se identificar, é a experiência de olhar para uma planta de qualquer tipo e sentir internamente (assim como a percebe visualmente) tudo que você sabe sobre plantas, fotossíntese, e evolução dos vegetais, (não importa quão vagas sejam as suas noções sobre cada um desses temas).

Em níveis mais avançados, esses estados de pensamento conceitual deixam de ser especificamente relacionados às palavras contidas em seu fluxo de pensamento e começam a abranger cada pedacinho de conhecimento que o usuário tenha armazenado em seu acervo interno até então.

Essa sensação faz com que o usuário sinta algo que comumente é interpretado como um novo nível de “total e completo entendimento”, à medida que as consequencias, limitações, e posições dentro deste universo, formado por cada conceito que o usuário antes conhecia apenas na teoria, por meio de descrições, pudessem agora ser sentidas por uma perspectiva emocionalmente intuitiva e inegavelmente real.

Talvez, o exemplo mais comum com o qual a comunidade de psiconautas possa se relacionar seja a sensação de total e profundo entendimento em relação (mas não limitado a isso) aos temas e arquétipos listados abaixo:

  • Princípios científicos gerais
  • Cuidados com a própria saúde
  • Seu papel na natureza e nos sistemas de ordem superiores
  • As consequencias de suas ações e sua responsabilidade em relação a elas
  • A civilização humana como o maior avanço da complexidade física
  • Viver em equilíbrio com a natureza com o melhor de suas habilidades
  • A inevitabilidade da morte
  • A completa improbabilidade da própria existência

efeitos_cognitivos_4É através da direta experiência dos conceitos por trás de nosso conhecimento linguístico que uma nova vida com mudanças de perspectiva podem ser sentidas de uma maneira inequívoca. Esses novos pontos de vista – que surgem da experiência – raramente são considerados pelo usuário como a criação proveniente de uma nova ideia individual ou de um insight criativo. Em vez disso, eles nada mais são do que a integração de conhecimentos prévios, que já haviam sido entendidos intelectualmente, na teoria, e que agora são absorvidos por um sistema que os sente diretamente em um formato que permite experimentá-los física e emocionalmente, de uma nova maneira, de modo que esses pontos de vista podem ser claramente compreendidos.

Comunicação direta com o subconsciente:

A comunicação direta com o subconsciente pode ser definida genericamente como aquela em que a pessoa se engaja em uma conversação linguística articulada e cheia de significado com uma voz alheia e incorpórea, de origem desconhecida, e que vive dentro da mente do usuário. De um modo geral, no que diz respeito à coerência e a inteligibilidade linguística em termos de detalhes, o estilo de conversação que ocorre entre a voz e o indivíduo que a hospeda, pode ser descrita como sendo essencialmente idêntica a uma conversa propriamente dita, que ocorre corriqueiramente na vida cotidiana.

Existem, porém, algumas diferenças sutis, mas identificáveis, entre esta conversa psicodélica e as que são frutos da interação humana diária. Cada uma delas resulta do importante fato de que o conjunto específico de conhecimento, memórias e experiências particulares de um indivíduo é idêntico aos da voz com a qual ele se comunica. Este importante fator permite que a conversa seja de tal maneira, que ambos participantes compartilham de um vocabulário pessoal notavelmente idêntico, seja nas gírias e coloquialismos ou nas sutilezas dos maneirismos individuais. Além disso, é importante salientar que diferentemente das conversas do dia-a-dia, não importa quão profunda ou detalhista a conversa se torne, nenhuma informação completamente nova é trocada entre os dois interlocutores. Em vez disso, a discussão foca primeiramente em construir um incrível, extremo e profundamente intuitivo e criativo conjunto de novas opiniões ou perspectivas a partir de velhas ideias, ou seja, em relação ao conteúdo previamente estabelecido durante a vida do indivíduo. Essas opiniões normalmente ganham uma nova abordagem, destituída de apegos emocionais, preconceitos, e irracionalidades que normalmente contaminam os processos cognitivos de tomadas de decisão, típicos de nosso estado de consciência comum.

Todos esses resultados provem da interação com uma consciência outra que não a do usuário, e que, por isso, costuma ser percebido como uma figura que assume o papel de guia espiritual, mestre, xamã ou algo do gênero. Para corroborar com esse objetivo de se apresentar como algo além da própria consciência do indivíduo, a voz muitas vezes é capaz de manipular diretamente vários aspectos e os níveis de intensidade da viagem e, ou vão explicar claramente a lógica por trás de suas decisões ou irão mantê-la em segredo, como mistério.

De um modo geral, o efeito como um todo pode ser dividido em 4 níveis de intensidade progressiva, cada um dos quais, está listado abaixo.

  1. Sentir a presença de uma outra consciência – este nível pode ser definido como a sensação característica de que uma nova forma de consciência está presente internamente, ao lado daquela que o indivíduo normalmente identifica como sendo a sua própria consciência.
  1. Respostas internas geradas mutuamente – Este nível pode ser definido como respostas linguísticas, internas, que interagem com os pensamentos e sentimentos do psiconauta, que são sentidos como se fossem parcialmente gerados pelo próprio fluxo de pensamento, e, ao mesmo tempo, gerados por um fluxo de pensamentos separado.
  1. Respostas internas geradas separadamente – Este nível pode ser definido por respostas linguísticas internas ao fluxo de pensamentos e sentimentos do usuário, que são sentidas por ele como sendo geradas por uma outra fonte de pensamentos, completamente separada da dele.
  1. Respostas internas audíveis geradas separadamente – Este nível pode ser definido como as respostas linguísticas internas, que são sentidas como sendo provenientes de outro fluxo de pensamentos, a parte daquele do indivíduo, e que são ouvidos claramente, de forma bem definida, como uma voz que fala dentro de sua cabeça. Esta voz pode tomar uma variedade de tons, sotaques e dialetos, mas normalmente soam de forma idêntica à própria voz do usuário. Dependendo do tom, a voz que se comunica com o usuário pode ser percebida como sendo a voz do próprio subconsciente; a voz da própria substância ingerida; ou até mesmo como sendo proveniente de seres conceitualmente sobrenaturais, como Deus, espíritos ou de ancestrais.

Supressão, perda ou morte do ego:

Supressão, perda ou morte do ego, é um componente extremamente profundo e abrangente. O ego pode ser definido como o conceito ou o senso de identidade que uma pessoa tem, normalmente confundido com o próprio Ser, o “Eu”, como agente separado do ambiente externo. É essencialmente, a consciência do indivíduo ou a capacidade de ser auto-consciente, possibilitado pela sua habilidade de recordar e manter um entendimento geral e o reconhecimento dos conceitos que se tem arquivado internamente, e que servem para preservar aquilo que é considerado como a própria identidade.

Com quaisquer alucinógenos, a habilidade individual de reter, recordar, sentir e entender conceitos como o próprio sentido do eu, assim como outras noções fundamentais pertencentes à existência básica do ser humano, são parcialmente ou completamente atenuadas, dependendo da dosagem. Este é o resultado de um estado progressivo e abrangente de supressão da memória. É um processo que podemos destrinchar em três níveis básicos:

  1. Supressão do ego – Pode ser descrita como um colapso parcial e provisório da memória recente. Normalmente, pode ser sentida pelo aumento da distração, perda de foco e pela dificuldade de processar qualquer pensamento que não seja ligada ao presente, ao aqui e agora.
  1. Perda do ego – Este é o colapso completo, mas provisório, da memória de curto prazo. Pode ser descrito como se a pessoa se tornasse completamente incapaz de se recordar de quaisquer detalhes específicos relacionados à presente situação, por mais de um ou dois segundos. Esta sensação geralmente resulta numa desorientação, repetição de pensamentos, perda do controle e confusão para os que não estão acostumados a ingerir substâncias enteógenas. A memória de longo prazo, entretanto, permanece quase que inteiramente intacta, e o indivíduo é perfeitamente capaz de lembrar-se do próprio nome, a data de aniversário, onde estudou na infância, etc.
  2. Morte do ego – Este nível se caracteriza pelo completo (mas provisório) colapso da memória de longo prazo. A morte do ego pode ser descrita como a total perda de controle, na qual a pessoa se torna completamente incapaz de se recordar até mesmo dos mais fundamentais conceitos armazenados em sua memória de longo prazo, o que inclui o próprio nome, quem você é, onde nasceu; não sabe que ingeriu alguma substância, não sabe o que são drogas, o que são seres humanos, o que é a vida, o que é a existência, ou qualquer outra coisa. A morte do ego permite a profunda experimentação de que não existe mais o “eu”, o indivíduo que está sob efeito de uma intensa viagem provocada por uma substância, mas apenas a própria viagem em si. A própria viagem é tudo que existe.

Regressão pessoal:

Regressão pessoal é um estado mental incomum e espontâneo que frequentemente acompanham a morte do ego. Pode ser descrita como o estado mental no qual o indivíduo adota a personalidade idêntica, os maneirismos e o comportamento de quem ele já foi, em fases pregressas da vida. Esta sensação costuma ser capaz de fazer a pessoa acreditar que é uma criança, por exemplo, e a agir como tal.

Pensamentos repetitivos:

Os loops de pensamento podem ser descritos como a experiência de ficar preso em uma corrente de sensações, ações e pensamentos repetitivos, em um ciclo que segue um determinado padrão que se repete. Este componente é mais comum em estados de perda do ego, nos quais a memória recente entra em colapso. Isso significa que os padrões repetitivos de pensamento são o resultado da incapacidade dos processos cognitivos de se manterem por períodos de tempo apropriados devido a lapsos de memória recente, resultados por sua vez, das tentativas do processo de pensamento de recomeçarem lá do início, para mais uma vez se confirmarem incapazes de chegar ao fim, e então, dando início a mais um ciclo perpétuo. Esta sensação pode ser extremamente desorientadora e pode desencadear estados de progressiva ansiedade, em indivíduos que não estiverem familiarizados com a experiência. A melhor maneira de interromper esses ciclos é simplesmente sentar, se acalmar, e deixar que eles cessem, naturalmente.

Sensação de opostos interdependentes:

Sensação de opostos interdependentes é o estado mental que normalmente acompanha a morte do ego. Ela pode ser descrito como uma sensação poderosa na qual o indivíduo vê, entende e sente fisicamente que a realidade se baseia em um sistema na qual a existência ou a identidade de todos os conceitos e situações dependem da co-existência de pelo menos duas condições, que são antagônicas entre si, ainda que dependentes uma da outra, à medida que as pressupõe como equivalentes logicamente necessários. Esta experiência costuma proporcionar um profundo mergulho na natureza fundamental da realidade e resulta na percepção de que conceitos como vida, morte, alto e baixo, luz e trevas, bom e ruim, matéria e antimatéria, prazer e sofrimento, sim e não, ser e não-ser, etc., existem como estados necessários e harmônicos para o contraste de sua força antagônica, ou seja, de que os opostos são interdependentes.

Delírios:

Delírios são sensações espontâneas mantidas internamente como grandes convicções. No contexto das drogas alucinógenas os delírios são perspectivas temporárias nas quais o indivíduo pode adentrar durante viagens com altas dosagens. Elas são mais fáceis de ocorrer durante estados de ego-perda ou morte do ego, mas de nenhuma forma, são permanentes como nos casos de delírios esquizofrênicos, ainda que tenham alguns temas e elementos em comum. Esses delírios podem ser desfeitos quando se tem evidências que provam o contrário ou quando a pessoa já está sóbria o suficiente para analisar a situação com o filtro da lógica.

Tipos

Os delírios podem ser divididos em quatro grupos:

  • Delírios bizarros: Este tipo de delírio é bastante estranho e completamente implausível. Um exemplo de delírio bizarro é achar que alienígenas retiraram o cérebro do usuário.
  • Delírios não-bizarros: Este é um delírio que, embora falso, é ao menos possível, uma vez que o usuário acredita equivocadamente, que está, por exemplo, sob vigilância policial contínua.
  • Delírio de humor-congruente: Este é qualquer delírio que tenha um conteúdo congruente com um estado depressivo ou de ansiedade. Por exemplo, uma pessoa deprimida pode acreditar que o âncora do jornal televisivo está explicitamente desaprovando-o, ou, uma pessoa em estado maníaco, ou de euforia, pode acreditar que ela é uma poderosa deidade.
  • Delírio de humor-neutro: Este delírio ocorre sem levar em consideração o estado emocional do usuário. Por exemplo, suponhamos que o indivíduo acredita que um membro extra está nascendo atrás de sua cabeça, esta impressão independe de a pessoa estar em euforia ou em depressão. Ou seja, não, é necessariamente, fruto de um estado, nem de outro.

Temas

Além dessas categorias, os delírios costumam se manifestar de acordo com temas recorrentes. Ainda que os delírios possam ter temáticas muito variadas, certos temas são frequentemente descritos. Alguns deles são:

  • Delírio de controle: caracterizado pela falsa percepção de que outra pessoa, um grupo de pessoas, ou uma força externa está controlando seus pensamentos, impulsos,sensações e o comportamento de um modo geral.
  • Delírios de morte: Esta é uma falsa impressão de que se está pra morrer, de que está morrendo, de que jã não mais existe ou de que já está morto.
  • Delírios relativos à culpa ou pecado (ou delírio de auto-acusação): Este é um sentimento de remorso sem fundamento, ou um sentimento de culpa desmedido, de intensidade delirante, na qual a pessoa se julga culpada por ter desempenhado um ato antiético.
  • Delírios de que a mente está sendo lida: trata-se da falsa impressão de que outras pessoas estão lendo seus pensamentos.
  • Delírios com inserção de pensamentos: Aqui, a impressão é a de que outra pessoa pensa por meio da sua mente. Esta sensação faz com que o usuário não consiga distinguir entre seus próprios pensamentos e aqueles inseridos em sua mente.
  • Delírios de referência: A pessoa tem a falsa impressão de que comentários, eventos ou objetos insignificantes do ambiente em que o usuário se encontra, possuem um significado ou uma importância que eles não têm. Por exemplo, a pessoa sob efeito da substância psicodélica pode achar que as pessoas que a aparecem na televisão ou no rádio estão falando especificamente com elas e pra elas.
  • Delírios com extravagâncias de viés religioso: Nesse caso, o usuário acredita ser uma espécie de deus ou que foi escolhido para atuar como um deus. A pessoa pode se convencer de que tem poderes, habilidades ou talentos especiais. Às vezes, o indivíduo pode achar que é uma pessoa famosa ou influente como Jesus Cristo. Por outro lado, pode ser também que a pessoa tenha insights filosóficos ao se alcançar altos níveis num estado de unidade e interconexão o qual não é necessariamente um delírio, mas uma perspectiva metafísica discutível.

Sensação de Unidade e interconectividade:

Estados de unidade e interconexão começam com uma mudança de perspectiva que normalmente é interpretada como a remoção de uma ilusão bem abrangente e bastante arraigada. A destruição desta aparente ilusão costuma levar o usuário a sensações que normalmente são interpretadas como um tipo de profundo “despertar” ou como se estivessem “iluminados”.  Uma vez removida, esta ilusão de separação é sentida como se sempre estivesse em vigor, forçando uma visão de mundo baseada em conceitos como “Eu”, “Mim”, “Meu”, com a qual ela se identificava, e que era responsável por perpetuar duas leis fundamentais. A primeira delas é que o “Eu” está inerentemente separado do ambiente externo e que não pode se estender ou mesclar-se com ele. A segunda é que o “Eu” é especificamente limitado não apenas ao corpo físico, mas exclusivamente às narrativas e imagens internas de sua própria personalidade, as quais foram construídas através das interações sociais com outras pessoas.

A ausência desta aparente ilusão leva as pessoas a sensações que normalmente são descritas como estados de completa unidade, de união com o todo, de interconectividade entre sua percepção do Eu e os conceitos ou sistemas externos, que antes eram percebidos como partes inerentemente separadas de sua própria identidade, de si mesmo.

Dependendo do grau de colapso desta ilusão de separação, a pessoa pode atingir cinco níveis de intensidades cognitivas com efeitos cuja complexidade aumentam progressivamente. Cada um desses níveis é perfeitamente capaz de sustentar espontaneamente suas perspectivas por semanas, meses ou até mesmo por anos após a experiência psicodélica em si. Este níveis podem ser descritos da seguinte maneira:

Unidade entre sistemas externos específicos

Podemos nos referir ao nível mais baixo e menos complexo como um estado de união entre “sistemas externos específicos”. Este é o único nível de intensidade no qual a experiência subjetiva de unidade não envolve um estado de interconectividade entre o self e o externo. Em vez disso, ele pode ser descrito como uma sensação de unidade entre dois ou mais sistemas dentro do ambiente externo, os quais – durante a vida cotidiana – costumam ser vistos como sendo separados, tanto do Eu, quanto um em relação ao outro.

Este efeito pode se manifestar de uma variedade de formas diferentes, mas os exemplos mais comuns incluem:

  • Um senso de unidade entre seres vivos específicos, como a unidade entre animais ou plantas e os ecossistemas que os cercam.
  • Um senso de unidade entre certos seres humanos e os objetos com os quais eles interagem.
  • Um senso de unidade entre uma quantidade qualquer de objetos animados agora perceptíveis.
  • Um senso de unidade entre o Homem e a Natureza.
  • Um senso de unidade entre o Eu e, literalmente, qualquer combinação de sistemas e conceitos externos.

O segundo desses níveis pode ser descrito como um estado de “união entre o Eu e  sistemas externos específicos”. Ele pode ser definido como a experiência de dissolução de fronteiras que antes separavam o senso pessoal de identidade do mundo externo, que agora passam a incluir o ponto central do foco cognitivo.
Este efeito pode se manifestar em um sem número de formas diferentes, mas alguns exemplos comuns são:

  • Se tornar um com um objeto especifico com o qual você está interagindo
  • Se tornar um com uma pessoa especificamente, com a qual você está interagindo. (particularmente comum, quando se está tendo relações sexuais ou amorosas, com esta pessoa)
  • Se tornar um com a totalidade de seu corpo físico
  • Se tornar um com uma enorme quantidade de pessoas, (particularmente, em raves e festivais de música)
  • Se tornar um com o ambiente externo, mas não com as pessoas nele presentes

Isto cria a sensação que normalmente é descrita pelas pessoas como a experiência de se tornar inextricavelmente conectadas, ou de se tornarem “um com”, “o mesmo que”, ou “unificadas com” seja lá qual for o sistema ou ambiente que é normalmente percebido como sendo externo, separado de nós.

União entre o “Eu” e todos os sistemas externos perceptíveis 
[O terceiro desses cinco níveis de intensidade pode ser descrito como um “estado de unidade entre o “Eu” e todos os sistemas externos perceptíveis”. Costuma-se referir a este estado como se as fronteiras entre o senso pessoal do “Eu” e todo o resto do ambiente externo perceptível fossem dissolvidas. A experiência, de um modo geral, se encaixa na frase comumente ouvida de que a pessoa “se tornou um com o entorno”.

Isto acontece quando o senso central do “Eu” passa a não estar mais atribuído apenas à narrativa interna do Ego, mas, na mesma medida, ao corpo e a tudo aquilo que está fisicamente conectado com ele através dos sentidos. Quando esta sensação é sentida, ela cria uma perspectiva inegável de que você é o ambiente externo, que se auto-experimenta, através de um ponto específico dentro dele, e no qual esta percepção sensorial física e os pensamentos conscientes do corpo na verdade residem dentro do ambiente externo, como sendo parte dele.

É nesse nível que um componente-chave da experiência de unidade se torna um fator extremamente notável. Uma vez que o senso de “Eu” da pessoa passa a ser atribuído ao todo que o cerca, esta nova perspectiva transforma completamente como ele interage com aquilo que antes era para ele um ambiente alheio, externo. Por exemplo, ao interagir com um objeto no dia-a-dia, é muito comum achar que nós somos o agente central, organizando o mundo a nossa volta. Entretanto, quando se está vibrando em um estado de unidade com o ambiente, e o entrono, a interação com um objeto normalmente passa a ser sentido como se o sistema como um todo estivesse autonomamente se organizando e se desenvolvendo e que você não é mais um agente central operando o processo de interação. Mas sim, que o processo, de repente, se torna totalmente descentralizado e mútuo diagonalmente, conforme o ambiente de maneira autônoma, mecânica e harmoniosa responde a si mesmo, para desempenhar as funções pré-determinadas de uma interação em particular.

União entre o Ser e todos os sistemas externos

Podemos nos referir ao quarto, desses cinco níveis de intensidade como o “estado de unidade entre o Ser e todos os sistemas externos”. Ele pode ser definido como o colapso entre todas as fronteiras existentes entre o “Eu”, o ambiente externo perceptível, e tudo aquilo que a pessoa sabe existir fora dele por meio do modelo de realidade que ele tem armazenado dentro dele. A sensação é de que seu senso de identidade não é atribuído apenas ao ambiente externo, mas a toda a humanidade, a natureza, e o universo, na forma com que eles se apresentam em sua totalidade.  A sensação normalmente é descrita com a frase “senti como se eu fosse um com o universo”.

Quando experimentada, esta perspectiva cria a sensação repentina e inegável de que você é – quase que literalmente – o universo inteiro, experimentando a si mesmo e atuando naquele ponto específico no espaço no qual o seu ego e a percepção consciente hoje reside. Geralmente, todos que passam por esta experiência imediata, universalmente sentem que esta sensação é inata e inegavelmente verdadeira!

União entre o Ser e a Criação de todos os ambientes Externos

O quinto nível de intensidade, o mais profundo deles, pode ser descrito como o “estado de unidade entre o Ser e a Criação de todos os sistemas externos”. Ele pode ser explicado como a experiência de colapso das fronteiras perceptíveis entre o senso de identidade da pessoa e todos os sistemas de comportamento externos. Isto inclui não apenas os sistemas conforme eles se apresentam no momento presente, mas como também, como cada ponto da existência através dos tempos – passado, presente e futuro – de acordo com o modelo de realidade que a pessoa tenha armazenado dentro de si.

Quando experimentado, este estado faz com que o seu senso de identidade passe a ser vinculado a todo o espaço e tempo incluindo todo e qualquer evento passado e futuro, como a criação do universo e a destruição da existência. Esta é uma perspectiva que costuma levar o viajante a sentir uma revelação que o torna consciente de que você, em termos do seu verdadeiro “Ser” (tudo que existe) é responsável pessoal e conscientemente, por tudo que é criado e desenvolvido no próprio universo.

É nesse estado em que algumas pessoas costumam reportar sub-perspectivas que se intrincam e se mesclam e em que, intrinsecamente, conclusões de natureza religiosa ou matafísica começam a surgir. Este estado inclui, mas não se resume a:

  • A aceitação completa e repentina em relação à morte, como um componente fundamental da vida da pessoa. Isto ocorre, pois a morte passa a não ser a destruição do Eu (do self), mas em vez disso, apenas o fim deste ponto específico de consciência, que em sua ampla maioria sempre existiu e continuará existindo, em todas as outras coisas no qual esta consciência reside.
  • Uma perspectiva na qual a pessoa se sente pessoalmente responsável por desenvolver, planejar e implementar cada detalhe específico e cada elemento da própria vida, da história da humanidade e do universo como um todo. Isto normalmente inclui uma sensação de culpa pela humanidade estar sofrendo e cometendo tantas falhas, mas também incluem atos de amor e de ter alcançado grandes feitos.
  • A realização espiritual e religiosa que a pessoa tinha formado para si por meio de suas noções pré-concebidas e por conceitos que tem de Deus, ou da Essência Divina, passam agora por uma total e forçosa transformação na maneira que é percebida, assim como muda a natureza interna da pessoa que passou por esta experiência. Esta nova percepção é normalmente alcançada por meio de uma conclusão subconsciente de que os conceitos quase que antagônicos do “Eu” e de “Deus” passam a ser, ambos, definidos de forma idêntica, já que tudo é criação onisciente, onipresente e onipotente, que sustenta toda a existência.

Físicos, Alquimistas e Xamãs da Ayahuasca: um estudo da gramática e do corpo

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Existem denominadores comuns que podem fundamentar as práticas de importantes físicos cientistas, alquimistas da Renascença, e curandeiros ayahuasqueiros indígenas da Amazônia? Existem, obviamente,uma infinidade de coisas que essas práticas não têm em comum. No entanto, através de uma análise docorpo e dos sentidos e estilos de gramática e prática social, estes aparentemente muito diferentes modos de existência podem ser triangulados para revelar um conjunto curioso de lógicas em andamento. Formaspelas quais seus praticantes identificam suas subjetividades (ou ‘self’) com entidades não-humanas e processos “naturais” são detalhados nos três contextos. A lógica da identificação ilustra semelhanças e também diferenças, nas práticas de física avançadaalquimia renascentista, e experiencias de cura comayahuasca.

Físicos e o “eu” e “você” da experimentação

physics-physicists-wallpaper-physics-31670037-530-425-e1405231425447Um pequeno grupo de físicos de uma importante universidade americana no início de 1990 está investigando temporalidade magnética e spins nucleares em uma estrutura cristalina; empregando experimentos no campo da física da matéria condensada. Os cientistas colaboram entre si, apresentando achados experimentais ou teóricos em quadros-negros, retroprojetores,páginas impressas e várias outras formas demídia visual. Miguel, um pesquisador,descreve a um colega os experimentos que ele acaba de realizar. Ele aponta para baixo e depois para cima através de uma representação visual do experimento, descrevendo um aspecto da experiência, Nós abaixamos o campo [e] levantamos o campo. Em resposta, seu colaborador Ronresponde usando o que é um tipo comum de linguagem científica informal. O estilo de linguagemidentifica, funde, ou aproxima o pesquisador do objeto que está sendo pesquisado. Na seguinte resposta, o pronome “ele” refere-se tanto Miguel e o objeto ou processo sob investigação: Ron pergunta: “Existe uma possibilidade de que ‘ele’ não tenha visto nada real? Quero dizer que há um [ele aponta para o esquema]. Miguel interrompe bruscamente é..é.. é possível Estou impressionado com essa medição, porque quando eu abaixo eu venho para o estado de domínio“. Aqui Miguel está se referindo a um processo físico de mudança de temperatura; um resfriamento que se move “para baixo” para o “estado de domínio . Ron responde: “Você reduz de cinco para dois tesla, um ímã, um ímã supercondutor“. O que é central aqui em relação aos denominadores comuns explorados neste trabalho é a maneira pela qual os cientistas colaboram com certos estilos figurativos da linguagem que confundem as fronteiras entre eles, os físicos e o processo da física.

A colaboração entre Miguel e Ron foi filmada e analisada pelos etnógrafos linguísticas Elinor Ochs, SallyJacoby, e Patrick Gonzales (1994, 1996: 328). No experimento, os físicos, Ochs et al ilustram, referem-se a si mesmos como os agentes temáticos e experimentadores do fenômeno (físico) (Osch et al, 1996:335). Ao empregar os pronomes “você”, “ele”, e “eu” para se referir aos processos físicos e estados sob investigação, os físicos identificam suas próprias subjetividades, corpos e investigações com os objetosque estão estudando.

No laboratório de física, os membros estão tentando entender os mundos físicos que não são diretamente acessíveis por qualquer de suas habilidades perceptivas. Para colmatar esta lacuna, ao que parece, eles encarnam viagens interpretativas através de visíveis e palpáveis artefatos bidimensionais ​​que convencionalmente simbolizam esses mundos A gesticulação motora-sensorial é um meio não só de representar os (possíveis) mundos, mas também de imaginar ou indiretamente vivê-los Por meio de representaçõesverbais e gestuais dos processos físicos construídos, o físico e a entidade física, são conjugados em multiplos e simultâneos mundos construídos: a interação do aqui-e-agora,a representação visual, e o processo físico representado. As construções gramaticaisindeterminadas, juntamente com viagens gestuais através de apresentações visuais,constituem o físico e a entidade física como coexperimentadores de processos dinâmicos e, portanto, como coreferentes do pronome pessoal. (Ochs et al 1994:163.164)

Quando Miguel diz: “Eu estou em estado de domínio“, ele está usando um tipo de discurso científicoinformal privado “que tem sido observado em muitos outros tipos de prática científica (Latour & Woolgar, 1987; Gilbert & Mulkay 1984). Este estilo de erudição e colaboração científica, obviamente, estabeleceu-se em universidades de primeira linha, dada a utilidade que ele oferece em relação aos problemasempíricos e ao desenvolvimento de idéias científicas.

O que poderia este estilo de prática ter em comum com as práticas de cura dos xamãs da Amazônia e dapoderosa bebida psicoativa ayahuasca? Antes de passar à análise da gramática e do corpo em tipos de uso da ayahuasca, a prática da alquimia renascentista é introduzido para ser a ponte entre essas práticas científicas e rituais extáticos de cura.

 

Alquimia Renascentista, “O que está acima é como o que está em baixo”

Heinrich Khunrath: 1595 engraving Amphitheatre
Heinrich Khunrath: 1595 engraving Amphitheatre

A Alquimia floresceu no período renascentista efoi recorrida pelas elites, como a rainha Elizabeth Ie o Santo Imperador de Roma, Rudolf II. Como prática central dos Alquimistas da Renascençaestava a crença de que de todos os metaissurgiram a Partir de uma unica fonte nas profundezas da terra e que esse processo poderia ser revertido etodos os metais poderiam ser transformados em ouro. Do processo de transmutação” ou Reversão da Natureza, também era dito que poderia levar ao elixir da vida, a pedra filosofal, ou a eterna juventude eimortalidade. Foi uma busca espiritual de purificação e regeneração que dependia fortemente daexperimentação da ciência natural.Graduado pela Academia Médica de Basileia em 1588, o físico Heinrich Khunrath defendeu sua tese que diz respeito a um desenvolvimentoespecífico da relação entre alquimia e medicina.Inspirado pelas obras de figuras-chave namedicina romana e grega, alquimistas fundamentais e praticantes das artes herméticas, além de botânicos importantes, filósofos e outros,Khunrath passou a produzir textos e ilustraçõesinovadores e influentes que informava váriastrajetórias na prática médica e do ocultismo .

Experimentos alquímicos eram realizados normalmente em um laboratório e alquimistas eram frequentemente contratados pelas elites para fins pragmáticos relacionados à mineração, serviços médicos, bem como a produção de produtos químicos, metais e pedras preciosas (Nummedal 2007).Allison Coudert descreve e destila a prática da alquimia renascentista com uma visão geral da relação entre um alquimista e das entidades naturais “de sua prática.

Todos os ingredientes mencionados em receitas alquímicas –  os minerais, metais, ácidos, compostos e misturas  –  eram, na verdade, apenas um, o alquimista si mesmo.Ele era o problema de base na necessidade de purificação do fogo; e o ácido necessário para realizar essa transformação veio de seu próprio mal-estar espiritual e desejo de plenitude e paz. Os vários processos alquímicos eram passos no misterioso processo de regeneração espiritual. (citado em Hanegraaff 1996: 395)

O médicoalquimista Khunrath trabalhou dentro de um laboratório / oratório, que incluiu vários aparatos de alquimia, incluindo equipamento de fundição para a extração de metais a partir de minérios recipientes de vidro, fornos  [a] fornalha ou athanor [e] um espelho . Khunrath falou de usar o espelho como um“instrumento físico-mágico para acender um carvão ou uma lâmpa com o calor do sol” (Forshaw 2005:205). Urszula Szulakowska argumenta que este uso do espelho encarna o processo alquímico geral e da finalidade da prática de Khunruth. As funções da sua prática e suas ilustrações alquímicas e glifos (comosua gravação Amphitheatre acima) são voltados para vários resultados de transmutação ou reversão da natureza. Sobre as gravuras e ilustrações de Khunruth, Szulakowska afirma: (2000: 9)

destinam-se a estimular a imaginação do espectador para que a alquimia mística possa ter lugar através do ato de contemplação visual O teatro de imagens de Khunrath, como um espelho, reflete as esferas celestes para a mente humana, despertando a faculdade de empatia do espírito humano que une, através da imaginação, com os reinoscelestiais. Assim, a imagem visual dos tratados de Khunrath tornaram-se a quintessênciaalquímica, a matéria espiritualizada da pedra filosofal.

Khunrath chamou a si mesmo de um “amante de ambas medicinasos medicamentos”, referindo-se a inseparabilidade de formas materiais e espirituais da medicina. Ilustrando a centralidade da práticaalquímica em sua abordagem médica, ele descreveu sua “Físico-Química Celestial da Natureza“, como:

A arte da dissolução química, purificando, reunindo racionalmente coisas físicas pelo método da natureza; O Universal (Macro-cosmicamente, a Pedra Filosofal; Micro-cosmicamente, as partes do corpo humano …) e todos os elementos do globo inferior.(citado em Forshaw 2005: 205).

Na alquimia renascentista há uma certa espécie de laboratório mistura de forma visionária o que acontece entre o corpo humano e os temperamentos humanos e “entidades” e os processos do mundo natural. Istoé condensada no ditado hermético “O que está acima, é como o que está abaixo“, onde as assinaturas da natureza (“acima”) podem ser encontradas no corpo humano (“abaixo”). Os experimentos envolveramcertas práticas de percepção, contemplação e linguagem, que foram realizados em condições de laboratório.

A prática da alquimia renascentista, ilustrada em receitas, glifos e textos instrucionais, inclui estilos degramática em que minerais, metais e outras entidades naturais estão animadas com a subjetividade etemperamentos humanos. O Chumbo “quer” ou “deseja” se transmutar em ouro; O antimônio sente umaatração” intencional a prata (Kaiser 2010; Waite 1894). Esta forma de gramática está implicado na doutrina da prática médico-alquímico descrita por Khunrath acima. Sob certas circunstâncias e condições, minerais, metais e outras entidades naturais podem incorporar aspectos do ‘self’, ou a subjetividade doalquimista, e vice-versa.

linguagem e a prática alquímica da renascença demonstram um certo nível de semelhança com aspráticas contemporâneas de físicos e cientistas e as formas pelas quais eles se identificam com os objetos e processos de seus experimentos. Os métodos de físicos parecem diferir consideravelmente na medida em que eles usam metáforas e trocam o espiritual por abordagens figurativas quando ‘viajam através de’ tarefas cognitivas, incorporando gestos e representações visuais de processos empíricos ounaturais. Não é por acaso que os cientistas contemporâneos de primeira linha estão empregando formas de linguagem e prática alquímica em tipos avançados de experimentação. O Pensamento hermético e oalquímico foram muito influentes no surgimento das formas modernas de ciência (Moran 2006; Newman2006; Hanegraaff 2013).

 

Ayahuasca, Xamanismo e mudança de forma

Pablo Amaringo
Pablo Amaringo

A bebida psicoativa fornece aos xamãs um meio de invocar a assistência para cura de pessoas espirituaisbenevolentes do mundo natural (como as plantas-pessoas, pessoas-animais, o pessoa-sol, etc) e de baniras pessoas-espírito maléficas que estão afetando o bem-estar de um paciente. A prática Yaminahua dexamanismo com ayahuasca se assemelha a tipos mais amplos de xamanismo amazônico. Mudança de forma, ou a metamorfose das pessoas humanas em pessoas não-humanas (como pessoas-jaguar e pessoas-Anaconda) é central para a compreensão da doença e das práticas de cura em vários tipos dexamanismo amazônico (Chaumeil 1992; Praet 2009; Riviere, 1994).

Os estilos gramaticais e as experiências sensoriais dos rituais ayahuasqueiros cura indígena e cançõesrevelam algumas semelhanças com a lógica da identificação verificadas nas seções sobre a física e aalquimia, acima. Townsley (1993) descreve um ritual Yaminahua onde um xamã, tenta curar uma pacienteque ainda estava sangrando vários dias após o parto. As canções de cura que o xamã canta (chamadawai, que também significa “caminho” e “mito” ou moradas dos espíritos) fazem muito pouca referência à doença em que eles são destinados a curar. Canções do xamã não comunicam significados para o paciente, mas eles encarnam metáforas e analogias complexas, ou o que Yaminahua chamam de

Queixada
Queixada

linguagem torcida ‘; uma língua compreensível para os xamãs. “semelhanças perceptíveisque informam a lógica da linguagem torcida YaminahuaPor exemplo, queixadas se tornam peixes, dadas as semelhanças entre as brânquias dos peixes e as faixas brancas no pescoço dos queixadas. O uso daressonância visual ou sensorial em metáforas de músicas xamânicas não é arbitrária, mas é central para a prática Yaminahua de cura com ayahuasca.

Ayahuasca normalmente produz uma poderosa experiência visionária. Uso de metáforas complexas do xamã na canção ritual ajuda a moldar suas visões e trazer um nível de controle para o conteúdo visionário. Assemelhando-se os denominadores comuns e lógica da identificação explorada acima, as músicas permitem que o xamã perceba as várias perspectivas que os significados das metáforas (ou espíritos) carregam.

Tudo que é dito sobre cantos xamânicos aponta para o fato de que, enquanto eles são cantados, o xamã visualiza ativamente as imagens referidas pela analogia externa da canção, mas ele faz isso através de um cuidadosamente controlado ponto de vista sobreas coisas diferentes nomeadas pelas metáforas internas de sua canção. Este “modo empático de ver” de alguma forma cria um espaço no qual poderosa experiência visionáriapode ocorrer. (Townsley 1993: 460)

O uso de analogias e metáforas fornece um meio particularmente poderoso de navegar pela experiênciavisionária da ayahuasca. Parece haver algo de pragmático envolvidos no uso da metáfora sobresignificados literais. Por exemplo, um estado xamânico, “a linguagem torcida me traz pra perto, mas não muito perto [para os significados das metáforas] -com palavras normais eu poderia falhar em coisas mas de forma torcida eu circulo em torno delas, eu posso vê-las com clareza(Townsley 1993: 460). Através deste método de “modo empático de ver, o xamã incorpora uma variedade de espíritos animais e da natureza, ouyoshi’ em Yaminahua, incluindo anacondayoshi, jaguar-yoshi e o solyoshi, a fim de realizar atos de cura e várias outras atividades xamânicas.

Enquanto xamãs Yaminahua usam metáforas para controlar as visões e metamorfoses (ou “forma empática de ver” (traduzido do original ‘seeing as), eles, e os nativos de modo mais geral, supostamenteentendem metamorfose em termos literais. Por exemplo, Lenaerts descreve esta noção de “ver como osespíritos”, e a visão “física” ou literal que o Ashéninka tem e está seguro no que diz à respeito da prática de metamorfose induzida pela ayahuasca.

O que está em jogo aqui é um processo corporal temporário, em que um ser humanoassume o ponto de vista encarnado de outra espécie Não há necessidade de recorrer a qualquer tipo de sentido metafórico aqui. A interpretação literal desse processo dedesencarnação / re-encarnação é absolutamente consistente com todos os fatos conhecidos que um Ashéninka sabe e sente diretamente durante esta experiência, em um sentido muito físico. (2006, 13)

As práticas ayahuasqueiras dos xamãs indígenas estão centradas na capacidade de se metamorfosear e “ver os não-humanos como eles [os não-humanos] se vêem(Viveiros de Castro 2004: 468). Praticantesnão apenas se identificam com pessoas não humanas ou com entidades naturais “, mas eles encarnam o seu ponto de vista com a ajuda de plantas psicoativas e da “linguagem torcida” na canção.

 

Algumas considerações finais

Através de uma breve exploração de técnicas empregadas pelos físicos avançados, alquimistasrenascentistas e xamãs da ayahuasca da Amazônia, numa lógica de identificação pode ser observada naqual os praticantes encarnam diferentes meios de transcender a si mesmo e tornanr-se objetos ouespíritos de suas respectivas práticas. Enquanto os físicos tendem a incorporar princípios seculares e a se relacionar com esta lógica de identificação em um sentido puramente figurativos ou metafórico,alquimistas renascentistas e xamãs da Amazônia incorporam posturas epistemológicas que carregammuito mais peso para as qualidades existenciais e “pessoas” ou “espíritos” de sua respectivas práticas.Um valor cognitivo em empregar formas de linguagem e experiência sensorial que momentaneamentelevam o praticante além de si mesmo é evidenciado por estas três práticas diferentes. No entanto, há, sem dúvida, mais em jogo do que os valores confinados ao pensamento racional. Os limites dos corpos, subjetividades e humanidade em cada uma dessas práticas se tornam porosos, turvos, e são transcendidos, enquanto os contornos de várias formas de possibilidade são expostos, definidos, e postos em prática possibilidades que informam os resultados das práticas e as definições do ser humano que elas implicam.

 

Referências

Chaumeil, Jean-Pierre 1992, ‘Varieties of Amazonian shamanism’. Diogenes. Vol. 158 p.101

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Gilbert, G. N. & Mulkay, M. 1984 Opening Bandora’s Box: A sociological analysis of scientists’ discourse. Cambridge, Cambridge University Press

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Moran, B. 2006 Distilling Knowledge: Alchemy, Chemistry, and the Scientific Revolution. Harvard, Harvard University Press

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Nummedal, T. 2007 Alchemy and Authroity in the Holy Roman Empire. Chicago, Chicago University Press

Ochs, E. Gonzales, P., Jacoby, S. 1996 ‘”When I come down I’m in the domain state”: grammar and graphic representation in the interpretive activities of physicists’ in Ochs, E., Schegloff, E. & Thompson, S (ed.) Interaction and Grammar. Cambridge, Cambridge University PressOchs, E. Gonzales, P., Jacoby, S 1994 ‘Interpretive Journeys: How Physicists Talk and Travel through Graphic Space’ Configurations. (1) p.151

Praet, I. 2009, ‘Shamanism and ritual in South America: an inquiry into Amerindian shape-shifting’. Journal of the Royal Anthropological Institute. Vol. 15 pp.737-754

Riviere, P. 1994, ‘WYSINWYG in Amazonia’. Journal of the Anthropological Society of Oxford. Vol. 25

Szulakowska, U. 2000 The Alchemy of Light: Geometry and Optics in Late Renaissance Alchemical Illustration. Leiden, Brill Press

Townsley, G. 1993 ‘Song Paths: The ways and means of Yaminahua shamanic knowledge’. L’Hommee. Vol. 33 p. 449

Viveiros de Castro, E. 2004, ‘Exchanging perspectives: The Transformation of Objects into Subjects in Amerindian Ontologies’.Common Knowledge. Vol. 10 (3) pp.463-484

Waite, A. 1894 The Hermetic and Alchemical Writings of Aureolus Philippus Theophrastrus Bombast, of Hohenheim, called Paracelcus the Great. Cornell University Library, ebook