Misticismo molecular: O papel das substancias psicoativas na transformação da consciência um ensaio exibido em “The Gateway to Inner Space”,Christian Rätsch, editor. Publicada por Prism Press, Dorset, Reino Unido, 1989.
Existe uma questão que atormentou a mim, e sem dúvida a outros, desde o início das pesquisas psicodélicas nos anos 60, quando muitos grupos de indivíduos estavam preocupados com os problemas de assimilar novas e poderosas substancias alteradoras de consciência na sociedade ocidental. As questões, de forma simples, eram as seguintes: Porque os nativos americanos tiveram tanto sucesso ao integrar o uso do peyote em sua cultura, incluindo seu uso legal nos dias atuais como sacramento, enquanto os interessados em prosseguir a pesquisa da consciência com drogas na cultura dominante branca, só conseguiram transformar o campo inteiro de pesquisa em um tabu, e qualquer uso dessas substâncias em uma ofensa criminal passível de pena de prisão? O uso do Peyote se espalhou do México para as tribos de nativos norte americanos na segunda metade do século XIX, a encontrou aceitação como sacramento em cerimônias da Native American Church. É reconhecido como um tipo de ritual religioso que algumas das tribos praticam; bem como destacado pelos sociólogos pelo papel importante que tem como um antídoto para o abuso de álcool.
Esta intrigante charada da etnopsicologia e da história, era pessoalmente relevante para mim, desde que fui um dos pesquisadores psicodélicos que viu os enormes potenciais transformativos das drogas “expansoras da consciência”, como as chamávamos, e estávamos ansiosos para continuar a investigação sobre a sua significância psicológica. Seria justo afirmar que nenhum dos primeiros exploradores neste campo, nos anos 1950 e início dos anos 1960, tinha alguma noção da crise social que estava por vir, nem da veemência da reação jurídico-política. Certamente o Dr. Albert Hofmann, um exemplo de cientista cuidadoso e conservador, testemunhou a sua consternação e preocupação com a proliferação de padrões de abuso de maneira tão pungente daquilo que ele chamou de seu “filho problema” (Sorgenkind). Assim, resultou o estranho paradoxo que as substâncias consideradas como um mal social e um problema de aplicação da lei na cultura dominante é também o sacramento de uma sub-cultura particular dentro dessa sociedade em geral. Partindo de que a cultura dos nativos americanos é bem mais antiga e ecologicamente mais sofisticada que a cultura branca européia que tentou absorvê-la ou eliminá-la, e uma vez que muitos indivíduos sensíveis têm sustentado que devemos aprender com os índios, não exterminá-los, o exame profundo da questão colocada acima poderia levar a algumas conclusões muito interessantes.
Temazcal
Assim, a reação da sociedade dominante era o medo, seguido pela proibição, mesmo sem pesquisas aprofundadas. Nenhuma das três profissões estabelecidas queria estes instrumentos de expansão da consciência, e também não queriam que mais ninguém os obtivesse por livre escolha. A suposição implícita era de que as pessoas eram muito ignorantes e ingênuas para fazer, de forma razoável, escolhas informadas a respeito de como tratar suas doenças, resolver os seus problemas psicológicos, ou praticar a sua religião. Assim, a condição fragmentada de nossa sociedade se reflete de volta para nós através dessas reações. Para os Nativos Americanos, por outro lado, cura, adoração e resolução de problemas são classificados como o mesmo caminho; o caminho do Grande Espírito, o caminho da Mãe Terra, o caminho tradicional. O entendimento integrativo recebido sob as visões do Peiote não é temido, mas aceito e respeitado. Aqui, a suposição implícita é que cada um tem a capacidade, na verdade o dever, de sintonizar-se às fontes espirituais mais elevadas de conhecimento e de cura, e à finalidade da cerimônia, que com ou sem substâncias medicinais, é considerada como um facilitador da tal sintonia.A resposta do quebra-cabeças etnopsicológico se tornou clara para mim somente após eu ter começado a observar e participar de uma série de cerimônias dos índios americanos, como o círculo de cura (healing cicle), a cabana do suor (the sweat lodge), ou a dança dos espíritos (spirit dance), que não envolvia o uso do Peyote. Pude notar o que muitos etnólogos já haviam reportado: que estas cerimônias eram simultaneamente religiosas, medicinais e psicoterapêuticas. A cabana do suor (Temazcal), como o ritual do Peyote, é considerada uma cerimônia sagrada, como forma de adoração ao Criador; também são ambas vistas e praticadas como uma forma de cura física, e são realizadas para resolver problemas psicológicos pessoais e coletivos. Assim, seria natural às tribos que já tomaram Peyote, adicionarem este meio aos outros quais eles já eram familiarizados, como uma cerimônia que expressa e reforça a integração do corpo, da mente e do espírito. Na sociedade branca dominante, em contraste, medicina, psicologia e espiritualidade religiosa, estão separadas por diferenças paradigmáticas aparentemente intransponíveis. As profissões médicas, psicológicas e religiosas e seus grupos criados, cada um separadamente, considerou o fenômeno das drogas psicodélicas e se assustou com as transformações imprevisíveis de percepção e visão de mundo que elas pareciam desencadear.
Psicodélicos como Sacramento ou Recreação
Vários observadores, por exemplo, Andrew Weil (1985), tem chamado atenção para o padrão histórico que, à medida que a sociedade colonial ocidental adotou plantas psicoativas ou outras substancias de culturas nativas (a maioria das quais agora consideradas pertencentes ao “3º mundo”), o padrão de uso desses materiais psicoativos tem se reduzido de sacramental para recrativo. O tabaco era tido como sagrado, uma planta de poder, pelos índios das Américas Do Sul, Central e do Norte (Robiseck 1978); e ainda é sagrado pelos nativos americanos, apesar de na cultura branca ocidental e países influenciados por esta cultura dominante, fumar cigarro ser obviamente recreacional e tem se tornado até um problema de saúde pública. A planta da coca, cultivada e utilizada pelas tribos Andinas, era tratada como divindade – Mama Coca – e valorizada por suas propriedades de manutenção de saúde; a cocaína, por outro lado, é uma droga puramente recreativa e seu uso indiscriminado ainda causa numerosos problemas de saúde. Nessa e em outras instâncias, a dessacralização da planta psicoativa vem sendo acompanhada de criminalização. O Café é outro exemplo: aparentemente descoberto e utilizado pelos Sufi islâmicos, que valorizavam suas propriedades estimulantes para longas noites de oração e meditação, se tornou a bebida recreativa da moda na sociedade européia do século XVII, e foi até banido por um período por ser considerado muito perigoso (cf. Emboden 1972; Weil & Rosen 1983). Mesmo a cannabis, a epítome do “barato recreacional”, é usada por algumas seitas do Tantrismo Hindu como um aplificador da visualização e da meditação.
Uma vez que plantas medicinais, originalmente sacramentais, foram tão rápida e completamente dessacralizadas ao serem adotadas pela cultura cada vez mais materialista do Ocidente, não deveria ser surpresa que recém-descobertos medicamentos psicoativos sintéticos têm sido geralmente muito rapidamente categorizados como recreativos, ou “narcóticos”, ou ambos. Concomitantemente ao uso indiscriminado, excessivo e não sacramental das plantas psicoativas e seus análogos sintetizados, cresceram os padrões de uso abusivo e dependência; previsivelmente, a sociedade estabelecida reagiu com proibições que levaram a atividades de crime organizado. Isto, apesar do fato de que muitos dos descobridores originais dos novos psicodélicos sintéticos, pessoas como Albert Hofmann e Alexander Shulgin, são pessoas de profunda integridade espiritual.Nem eles, nem os esforços dos filósofos como Aldous Huxley e psicólogos como Timothy Leary que advogaram uma respeitosa e sagrada attitude em relação a essas substâncias, foram capazes de evitar a mesma profanação de acontecer.
O recém descoberto MDMA fornece um exemplo instrutivo desse fenômeno. Dois padrões de uso parecem ter se estabelecido durante os anos 70: alguns psicoterapeutas e pessoas inclinadas à espiritualidade começaram a explorar suas possíveis aplicações como adjuvante terapêutico e como um amplificador de prática espiritual; outro grupo muito maior de indivíduos comaçou a utilizá-lo para propósitos puramente recreativos, como droga social comparável em alguns aspectos à cocaína. A disseminação do uso irresponsável desta segunda categoria para um número crescente de pessoas, naturalmente deixou as autoridades fármaco-legais preocupadas, e a reação previsível aconteceu: O MDMA foi classificado como droga de Categoria I nos Estados Unidos, que o coloca no mesmo grupo da heroína, cannabis e o LSD, tornando seu uso ou venda uma ofensa criminosa, e dando um sinal de claros limites aos pesquisadores médicos e farmacêuticos.
Quando Hofmann retornou à xamã mazateca Maria Sabina com a psilocibina sintética objetivando que ela lhe apontasse o quão distante o ingediente sintetizado estava da substância natural, ele estava seguindo o caminho apropriado de reconhecer a primazia do botânico sobre o sintético. O argumento poderia ser feito, e foi feito que, talvez, para cada um dos psicodélicos sintéticos importantes, existe alguma planta natural que tem os mesmos ingredientes e que esta planta é a nossa conexão com o perdido conhecimento mais amplo das culturas indígenas. Talvez isto devesse ser nossa estratégia de pesquisa – achar o hospedeiro botânico para os psicodélicos nascidos no laboratório. No caso do LSD. Pesquisas sobre o uso de sementes de Ipomoea Violacea (Morning Glory) e Argyreia Nervosa (Baby Woodrose) no Havaí, cada uma das quais contém análogos ao LSD, nos permitiria descobrir o complexo xamânico que envolve esta molécula. Se Wasson, Hofmann, e Ruck estiverem corretos em sua perspectiva que alguma bebida similar ao LSD, derivada do ergot (fungo que ataca o centeio), era uma bebida utilizada como sacramento iniciatório em Eleusis, as implicações são profundas (Wasson et al 1978). Utilizando a teoria dos campos morfogenéticos de Rupert Sheldrake, pode-se supor que recriando ou resintetizando uma planta particular, estaríamos reativando o campo morfogenético dos Mistérios de Eleusis, o antigo e mais inspirador ritual místico do mundo.
Não há nenhuma razão intrínseca para que o uso sacramental e uso recreativo de uma substância, com moderação, não possa coexistir. Na verdade, entre os Nativos Americanos, o tabaco eventualmente tem um papel duplo: após o ritual do cachimbo sagrado com tabaco e outras ervas, os participantes as vezes fumam um cigarro pra relaxar. Conhecemos o uso sacramental do vinho no rito da comunhão católica; e certamente conhecemos o uso recreacional do vinho. Conseguimos manter estes dois contextos em separado, e somos capazes de reconhecer quando um uso recreativo de torna uso abusivo e dependência. Pode-se imaginar sofisticação semelhante no desenvolvimento em relação aos vegetais psicoativos. Poderiam ser reconhecidas aplicações sacramentais e terapêuticas; e certos padrões de uso poderiam desenvolver o que fosse de mais lúdico, exploratório, hedonista e ainda pode estar contido dentro de uma estrutura social razoável e aceitável que minimiza danos.
O abuso de uma droga, neste sistema relativamente iluminado, não seria função de quem a usa, ou onde ela se origina, ou se as autoridades médicas a condenam, mas sim nas consequências comportamentais no usuário da droga. Alguém se torna reconhecido como alcoólatra, ou seja, aquele que abusa do álcool, quando suas relações interpessoais e sociais são visivelmente prejudicadas. Não deveria haver dificuldade em estabelecer um critério similar para o abuso de substâncias psicoativas.
Em 1968, em um artigo “Sobre o significado evolutivo dos psicodélicos”, publicado nas principais correntes do pensamento moderno, sugeri que os resultados da investigação LSD nas áreas de psicologia, religião e as artes poderiam ser analisadas no contexto da evolução da consciência: Se o LSD expande a consciência e se, como muito se acredita, a próxima evolução se dará na forma de uma ampliação na consciência, não podemos então olhar para o LSD como um possível instrumento evolucionário?… Temos aqui um dispositivo que, alterando a composição química do meio de processamento de informação cerebro-sensorial, inativa temporariamente os filtros genéticos e culturais, que dominam de forma completamente despercebido nossas percepções habituais do mundo.
Da perspectiva de quase 20 anos de reflexões, eu proponho agora amplificar essa afirmativa em 2 caminhos: (1) a evolução da conciência é um processo de transformação que consiste primeiramente na obtenção de uma intuição e compreensão, ou gnosis; e(2) a aceleração deste processo por meio de moléculas catalisadoras é não só uma consequência das novas tecnologias, mas também um componente integral de sistemas tradicionais de transformação, como o xamanismo, a alquimia e a yoga.
Na pesquisa de psicodélicos, a hipótese do “set & setting”, formulada por Timothy Leary no início dos anos 60, foi aceita pela maioria dos que trabalhavam neste campo. A teoria refere que o conteúdo de uma experiência psicodélica é uma função do conjunto (set: intenção, atitude, personalidade, humor) e a configuração (setting: interpessoal, social e ambiente), e a droga atua como uma espécie de gatilho, ou catalisador, ou amplificador não espécífico, ou sensibilizador. A hipótese pode ser aplicada para a compreensão de qualquer estado de consciência alterado, quando reconhecemos que outros tipos de estímulos podem ser disparadores, por exemplo, a indução hipnótica, a técnica de meditação, o mantra, um som ou música, a respiração, o isolamento sensorial, o movimento, o sexo, paisagens naturais, uma experiência de quase-morte, e assim por diante. Generealizar a hipóteses do set & setting desta forma, nos ajuda a entender as substâncias psicodélicas como uma classe de “gatilhos” dentro de toda uma gama de possíveis catalisadores de estados alterados (Tart 1972; Zinberg 1977).
Um importante e esclarecedor resultado de ter em mente a distinção entre um estado (de consciência) e um traço psicológico; entre mudanças de estado e mudanças de características. Por exemplo, a distinção dos psicólogos entre ansiedade-estado e ansiedade-traço. William James, no seu livro “Varieties of Religious Experience” (1961), discutiu esta questão em termos de saber se uma experiência religiosa ou de conversão levaria necessariamente a mais “santidade”, a traços mais iluminados. Esta distinção é crucial para a avaliação do valor ou significância dos estados alterados induzidos quimicamente. Somente observando ambas as mudanças de estado (visões, insights, sentimentos) e as consequências de longro prazo, ou mudanças comportamentais ou de traço, podemos alcançar uma compreensão abrangente destes fenômenos.
Ter um insight não é o mesmo que ser capaz de aplicar este insight. Não existe conexão inerente entre a experiência mística de unidade e a expressão ou manifestação dessa unidade nos afazeres do dia a dia. Este ponto é provavelmente óbvio, no entanto é frequentemente negligenciada por aqueles que argumentam que, em princípio, uma droga não poderia gerar uma verdadeira experência mística ou desempenhar qualquer papel na vida espiritual. Os fatores internos do “Set”, que incluem a preparação, a expectativa e a intenção, são os determinants de saber se uma determinada experiência é autenticamente religiosa; e de forma igual, a intenção é crucial para saber se estados alterados resultam em mudanças duradouras de personalidade. A intenção é como uma ponte do mundo ordinário, ou a realidade consensual, para o estado de uma consciência mais elevada (de maior estágio de organização); e pode também prover uma ponte deste estado de consciência mais ampla de volta ao estado de realidade ordinária.
Este modelo nos permite entender porque as mesmas drogas são consideradas por alguns, capazes de induzir o nirvana, ou visões religiosas, e para outros (alguém como Charles Manson, por exemplo) podem induzir às violências mais perversas e sádicas. A droga é apenas uma ferramenta, um catalisador, para alcançar certos estados alterados; quais estados alterados, dependerá da intenção. Ainda, mesmo que o estado quimicamente induzido seja benigno e expansivo, se leva ou não a mudanças positivas e duradouras, também é uma questão de intenção, ou mind-set.
Estas drogas, de fato parecem revelar ou liberar algo que está na pessoa; o que é o fator implícito no termo “psicodélico” — mente manifestada. Na minha opinião, o termo “Enteógeno” é uma escolha infeliz, pois sugere que o deus interios, o princípio divino é de alguma forma “gerado” nesses estados. Minhas experiências me levaram a conclusão oposta: o deus interior é o gerador, a fonte de energia da vida, o despertar e o poder de cura. Para aqueles cuja intenção consciente é uma transformação psicoespiritual, o psicodélico pode ser um catalisador que revela e liberta insights ou conhecimentos de aspectos mais elevados do nosso ser. Isto é, creio eu, o que se entende por Gnose, o sagrado conhecimento sobre as realidades espirituais fundamentais do universo em geral e no destino particular de casa indivíduo.
O potencial das substâncias psicodélicas para agir como catalisadores para uma transformação gnóstica,ou para uma consciência contínua direta da realidade divina, mesmo que apenas em um pequeno número de pessoas, parece ser de extrema importância. Tradicionalmente, o número de indivíduos que costumam ter experiências místicas tem sido muito pequeno; o número daqueles que são capazes de realizar aplicações práticas destas experiências provavelmente tem sido ainda menor. Assim, a descoberta de psicodélicos, no sentido de facilitar tais experiências e processos, poderia ser considerado como um fator muito importante para um despertar espiritual geral da consciência humana coletiva. Outros fatores quepoderiam ser mencionados neste contexto são as mudanças de paradigmas revolucionários nas ciências físicas e biológicas, o crescente interesse em filosofias orientais e disciplinas espirituais, e a crescente consciência da unidade multi-cultural da família humana provocada pela rede de comunicações globais.
Psicodélicos nos Sistemas Tradicionais de Transformação
Em meus primeiros escritos, eu enfatizei a novidade das drogas psicodélicas, seus potenciais inimagináveis a serem realizados pela sua aplicação construtiva; e eu pensei neles como primeiro produto de uma nova tecnologia voltada para o espírito humano. Enquanto eu ainda acredito que esses potenciais existem, e que os psicodélicos sintéticos têm um papel a desempenhar na pesquisa da consciência, e talvez na evolução da consciência, minhas opiniões mudaram sob a influência das descobertas e escritos de antropólogos culturais e etnobotânicos, que chamaram a atenção para o papel da alteração da mente, e de elementos botânicos visionários em culturas ao redor do mundo.
Não se pode ler as obras de R. Gordon Wasson sobre os cultos mesoamericanos ao cogumelo (1980), ou o trabalho de Richard E. Schultes e Albert Hofmann (1979) sobre a profusão de alucinógenos nas Américas, ou o trabalho multi cultural de autores como Michael Harner (1973), Joan Halifax (1982), Peter Furst (1976), e Marlene Dobkin de Rios (1984), ou os pesquisadores médicos e psiquiátricos interculturalmente orientados tais como Andrew Weil (1980), Claudio Naranjo (1973), e Stanislav Grof(1985), ou contas pessoais, tais como os escritos de Carlos Castañeda, ou Florinda Donner (1982), ou osirmãosMcKenna (1975), ou a biografia de Bruce Lamb de Manuel Cordova (1971), sem obter um forte senso da difusão da busca de visões, idéias e estados incomuns de consciência; e além disso, o senso que plantas psicoativas são usadas em muitas (mas não todas) culturas xamânicas que perseguem tais estados de consciência.Assim, fui levado para um ponto de vista mais próximo à de culturas aborígenes, uma visão da humanidade em uma relação de co-consciência, comunicação e cooperação com o reinoanimal, o reino vegetal, e o mundo mineral.Em tal visão de mundo, a ingestão de preparados de plantasalucinógenas a fim de obter conhecimento para a cura,para a profecia, para a comunicação com os espíritos, para antecipar perigos,ou para a compreensão do universo,aparece como uma das mais antigas e mais valorizadas tradições.
As várias culturas xamânicas por todo o mundo conhecem uma vasta variedade formas para entrar em realidades não ordinárias. Michael Harner (1980) nos mostrou que a “condução auditiva” com batidas prolongadas de tambor, é talvez uma tecnologia para entrar em estados xamanicos alucinógenos tão difundida quanto a ingestão de substâncias. Em algumas culturas, a hiperventilação rítimica produzida por certos tipos de canto podem ser outra forma de disparador de um estado alterado. O espíritos animais tornam-se guias e aliados na iniciação xamânica. Espíritos das plantas podem se tornar “ajudantes” também mesmo quando a planta não é ingerida pelo médico ou pelo paciente. A fumaça do tabaco é usada com purificador, bem como um suporte para a oração. Cristais são usados para focar energia para visões e para cura. Há sintonia, através da oração e meditação, com divindades e espíritos da terra, as 4 direções, os 4 elementos, o Espírito Criador. Através de muitas e diferentes formas, existe uma busca pelo conhecimento oriundo de outros estados, outros mundos, conhecimento que é usado para melhorar a maneira que nós vivemos neste mundo (através da cura, resoluções de problemas, etc.). O uso de plantas alucinógenas, quando ocorre, é parte de um complexo integrado de inter-relações entre a Natureza, o Espírito e a Consciência Humana.
Assim me parece que, as lições que devemos aprender com essas plantas e drogas expansoras da consciência tem a ver não só com o reconhecimento de outras dimensões da psique humana, mas com uma forma de ver o mundo radicalmente diferente; uma forma de ver o mundo que vem sendo mantida nas crenças, práticas e rituais de culturas xamânicas, e quase completamente esquecidas ou suprimidas pela cultura materialista do século XX. Existe, naturalmente, uma deliciosa ironia no fato de uma substância material ser responsável por despertar uma consciência adormecida de muitos de nossos contemporâneos para a realidade de energias, formas e espíritos não materiais.
Ao discutir a alquimia como o segundo dos três sistemas tradicionais de transformação da consciência mencionei acima, eu gostaria de enfatizar primeiro que temos apenas fragmentos de evidências mínimas de que a ingestão de alucinógenos tenha desempenhado qualquer papel na tradição alquímica Europeia. O uso de alucinógenos de solanáceas na bruxaria européia, que está relacionado tanto a xamanismo e alquimia, foi documentado por Harner (1973:125-130). Assim como, na alquimia taoísta chinesa, o uso de preparados vegetais e minerais para induzir o vôo do espírito e outras formas de estados alterados, foi analisado por Strickmann (1979). Um relato completo do papel dos alucinógenos na alquimia ainda não foi escrito. Possivelmente a nossa ignorância neste campo ainda é uma conseqüência do sigilo intencional por parte dos escritores alquímicos.
Mircea Eliade, em seu livro “The Forge and the Crucible” (1962), fez um forte argumento para a derivação histórica da alquimia dos tempos iniciais dos ritos e práticas da metalurgia, mineração e do forjamento de armas, nas Idades do Bronze e do Ferro. Pode-se argumentar que a alquimia é uma forma de xamanismo: o xamanismo dos que trabalhavam com minerais e metais, os fabricantes de ferramentas e armas. Muitas das preocupações dos alquimistas encontram paralelos em temas xamânicos. A o forte interesse na purificação e na cura, em descobrir ou fazer uma “tintura” ou “elixir” que dará saúde e longevidade. Há visões e encontros com espíritos de animais, alguns claramente de reinos imaginários. Há histórias de visões de figuras divinas ou do semi-divinas geralmente personificadascomo deidades da mitologia clássica. Há o reconhecimento da sacralidade, do espírito que anima, em toda a matéria. E há uma visão de mundo integral, que vê a espiritualidade, a religião, saúde e doenças, seres humanos, o mundo natural e seus elementos, todos inter-relacionados em uma totalidade.
Pode-se objetar que parece não haver equivalêcia entre a jornada xamânica e a alquímica; não há indicação clara de estados alterados de consciência nas quais, visões, poderes ou habilidades de cura são obtidos. Parece para mim que o equivalente na alquimia, à jornada xamânica é o opus, o trabalho, a experiência com suas diversas operações, como solutio, sublimatio, martificatio, e assim por diante. O foco é mais nas mudanças físicas e de personalidade à longo prazo que o inciado na alquimia tem que se submeter, assim como o xamã em treinamento também faz. Os experimentos na alquimia eram considerados como rituais meditativos, durante os quais visões poderiam ser vistas na retorta ou no forno, e mudanças interiores psicofisiológicas de estado eram desencadeadas pela observação de processos químicos.
Além disso, num recente e interessante trabalho, R.J. Stewart (1985) argumentou que na tradição occidental de magia e alquimia, que tem raízes na mitologia e crenças Celtas pré-cristãs, cujos traços ainda podem ser encontrados em baladas folclóricas, canções populares e cantigas de roda, a experiência trasnformadora central era uma viagem ao submundo. Esta iniciação ao submundo, ou outro mundoenvolvia fazer uma jornada para outros “reinos”, onde havia encontros com animais e seres espirituais, a sintonia com a terra e os ancestrais, rituais meditativos centrados em torno do simbolismo da árvore da vida, e outras características e colocam essa tradição claramente no fluxo da antiga tradição xamânica encontrada em todas as partes do globo.
Passando agora pasa a Yoga como o terceiro dos sistemas tradicionais de transformação evolutiva da consciência, não precisamos nos preocupar com a questão de saber se o uso de plantas visionárias é uma forma decadente e degradada de yoga, como Eliade (1958) parece acreditar; ou se o uso de alucinógenos era primário no culto do Soma, da antiga tradição Védica Indiana, como Wasson (1968) propôs. Às vezes, como no último ponto de vista, o corolário é proposto que os métodos de Yoga foram desenvolvidos quando a droga já não estava mais disponível, como uma forma alternativa de alcançar estados similares. Basta dizer que nas tradições do Yoga indiano, em particular nos ensinamentos do Tantra, temos um sistema de práticas para provocar uma transformação da consciência com muitos paralelos nas idéias xamânicas e alquímicas.
O uso de alucinógenos, como adjuvante das práticas de Yoga é conhecido até hoje na Índia, entre certas seitas Shivaite em particular, (Aldrich 1977). As escolas e seitas que não utilizam drogas tendem a considerer aquelas que usam como decadentes, como pertencentes assim chamado “caminho da mão esquerda” do Tantra, que também incorpora rituais de comida e de sexo (maithuna) como aspectos válidos do caminho da yoga. Sob a influência do ocultismo ocidental do século XIX e as idéias teosóficas, esse caminho do lado esquerdo tende a ser equiparado a “magia negra” ou a “feitiçaria”. Na realidade, a desinação “caminho da mão esquerda” deriva do princípio iogue que o lado esquerdo do corpo é o lado receptivo feminino, e assim, o caminho da esquerda é o caminho daqueles que adoram a Deusa (Shakti), como os tântricos fazem, e incorporam o corpo, o prazer dos sentidos, a nutrição e a sexualidade em seu Yoga. Assim, como no xamanismo e de alquimia, encontramos aqui uma vertente da tradição que envolve respeito e devoção ao princípio feminino, a deusa-mãe, a terra e seus frutos, o corpo de carne e sangue, e a busca de estados visionários extáticos.
É verdade que as tradições do Yoga indiano parecem não ter a mesma preocupação com o mundo natural dos animais, cristais e plantas, como é encontrado no xamanismo e de alquimia. A ênfase aqui, é mais em vários estados internos e sutis de consciência. No entanto, existem paralelos interessantes entre as três tradições. Uma energia de luz/fogo interior em diferentes centros e orgãos do corpo, como praticadas na Yoga Agni e na Kundalini, é similar à pratica alquímica da purificação pelo fogo, e às noções xamânicas de encher o corpo de luz (Metzner 1971, 1986). A tradição alquímica tântrica Indiana possui o conceito de rasa, que se assemelha ao coneito europeu de “tintura” ou “elixir”. Rasa tem significados internos — sentimento, humor, “alma”, e referents externos — essência, sumo, líquido. Rasayano era o caminho do Rasa., o caminho fluido da energia, que envolve tanto as essencias externa e internas.[1] Como um terceiro paralelo, só vou mencionar o sistema budista tibetano Vajrayana, que é uma fusão notável de idéias budistas tântricas com o original xamanismo Bon dos tibetanos: um sistema onde os vários espíritos animais e demônios dos xamãs e feiticeiros se transformaram em personificações de princípios budistas e guardiões do dharma (Govinda 1960).
Conclusões
Parece incontestável que alucinógenos desempenharam algum papel, de forma imprevisível, nas tradições transformativas do xamanismo, alquimia e yoga. Se considerarmos a psicoterapia como um morderno descendente destes sistemas tradicionais, cooperativamente, de forma controlada, a aplicação de alucinógenos poderia ser usada em muitos aspectos da psicoterapia. E isso de fato já aconteceu, como os vários estudos de psicodélicos em casos de alcoolismo, cancer terminal, neurose obssessiva, depressão e outras condições testemuhadas (Grof 1985; Grinspoon e Bakalar 1979). Parece provável que estes tipos de aplicações de psicodélicos como coadjuvantes para a psicoterapia vão continuar, se não com o LSD e outras drogas de Categoria I, com outros mais novos e talvez mais seguros psicodélicos.
O que parece improvável para mim é que este tipo de aplicação psiquiátrica controlada nunca será suficiente para satisfazer as inclinações e as necessidades daqueles indivíduos que desejam explorar os psicodélicos no seu papel mais antigo, como ferramentas de busca para estados visionários e formas ocultas de conhecimento. O fato de o uso sério de alucinógenos, fora do quadro psiquiátrico, continuar apesar das suas graves sanções legais e sociais, sugere que este é um tipo de liberdade individual que não vai ser fácil de abolir. Sugere também que há uma necessidade forte, em certas pessoas, de restabelecer suas conexões com antigas tradições de conhecimento em que estados visionários de consciência e exploração de outras realidades, com ou sem alucinógenos, eram a preocupação central.
Pode ser que tal caminho seja sempre perseguido apenas por um número muito limitado de pessoas, tanto quanto as iniciações e práticas xamânicas, alquímicas e de yoga era seguidas por poucos indivíduos em cada sociedade. Acho que é um sinal de esperança que alguns, mesmo que poucos, estejam dispostos a explorar como se reconectar com essas fontes perdidas de conhecimento porque, como muitos outros, eu sinto que nossa sociedade material-tecnológica, com sua fragmentada visão de mundo, em grande parte perdeu-se em seu caminho, e não pode se dar ao luxo de ignorar as possíveis ajudas para um maior conhecimento da mente humana. O quadro ecologicamente equilibrado e humanisticamente integrado de entendimento que as tradições antigas certamente tem a nos oferecer.
Além disso, é muito claro que as visões e insights dos indivíduos que buscam estes caminhos são visões para o presente e para o futuro, não apenas de interesse historico ou antropológico. Este sempre foi o padrão: o indivíduo busca uma visão para compreender o seu lugar, ou seu destino, como um membro da comunidade. O conhecimento derivado dos estados alterados tem sido, podem ser, e precisam ser aplicados para a solução dos problemas de escalonamento que confrontam as nossas espécies. É por isso que as descobertas de Albert Hofmann tem imensa importância – para a compreensão do nosso passado, para a consciência da nossa presença, e o salvo-conduto do nosso futuro. Pois, nas palavras da Bíblia: “Onde não há visão, o povo perece.”
Nota de rodapé
1. Pode-se dizer que os processos fisico-químicos do rasayana servem como o veículo para operações psíquicas e espirituais. O elixir obtido pela alquimia corresponde à “imortalidade” perseguida pela Yoga Tantrica (Eliade 1958 283).
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Ralph Metzner Ph.D. é um psicólogo alemão, escritor e pesquisador, tendo participado das pesquisas de psicodélicos na Universidade de Harvard no início dos 60 com Timothy Leary e Richard Alpert (Ram Dass). Dr. Metzner é um psicoterapeuta, e professor emérito de Psicologia no California Institute of Integral Studies em São Francisco, onde já foi vice presidente acadêmico.
Cogumelos Psilocybe (Psilocybe coprophila) crescendo no esterco. As lamelas, visíveis na foto, produzem milhões de esporos, as células reprodutoras do fungo.
O Instituto Tecnológico Biofarmacológico, que está localizado na companhia Promega em Madison, Wisconsin, recentemente hospedou o décimo Fórum Bioético Internacional chamado “Manifestando a Mente”. Diversos palestrantes notáveis deram apresentações em um assunto um tanto inesperado: o uso de alucinógenos como a psilocibina (encontrada por exemplo em cogumelos mágicos) para a melhor compreensão da natureza da consciência e até mesmo para o tratamento de doenças neuropsicológicas como a depressão, ansiedade e o vício em drogas.
A Psilocibina (O-fosforil-4-hidróxi-N,N-dimetiltriptamina), que é um dos ingredientes ativos nos cogumelos psicodélicos, tem sido utilizada há anos pelos povos indígenas das Américas; em fato, os Astecas chamaram esses cogumelos de teonanacatl, ou “carne dos deuses”. A Mescalina (o ingrediente psicoativo do cacto peyote) é um outro tipo de alucinógeno que foi amplamente utilizado pelos Nativos Americanos vivendo no que são agora partes da América do Sul e do México; até mesmo hoje o cactopeyote se apresenta de forma forte em rituais religiosos celebrados pelos Navajos e outras tribos indígenas. O LSD, (dietilamida do ácido lisérgico), outro tipo de alucinógeno, foi descoberto mais recentemente pelo Dr. Albert Hofmann em 1943 e então popularizado pelo movimento de “contracultura” da década de 1960.
O Estudo dos alucinógenos e seu modo de ação no cérebro humano é conduzido desde os anos de 1800. (1) Por volta de 1960, o estudo dos alucinógenos e seus efeitos na consciência se aceleraram dramaticamente. (2-4) Infelizmente, em vista das aventuras de entusiastas de drogas como o doutor Timothy Leary, o interesse público e científico além do suporte à pesquisa com alucinógenos essencialmente parou. Foi assim até meados da década de 1990, quando controles de estudo aprimorados puderam ser implementados, quando os pesquisadores puderam retomar a investigação das substâncias alucinógenas e o efeito desses agentes na mente e no corpo.
Atualmente, pesquisadores e doutores renovaram seu interesse em substâncias psicodélicas como a psilocibina porque foi descoberto que essas substâncias são efetivas no tratamento de diversos comportamentos e estados mentais desafiantes, como memórias reprimidas, (5), álcool, tabaco e vício em narcóticos (6), dores de cabeça e enxaquecas (7) e até mesmo a depressão, como um resultado de câncer terminal/em estágio avançado. (8) Depois de um estudo de candidatos potenciais com estabilidade mental e sem uso de alucinógenos anteriormente, esses pesquisadores e doutores administraram dosagens controladas da droga alucinógena Psilocibina. As reações dos participantes são então meticulosamente registradas e catalogadas. Em diversos casos, ressonâncias magnéticas ou tomografias por emissão de pósitrons são administradas durante a experiência psicodélica com o objetivo de avaliar a atividade cerebral. Alguns resultados intrigantes já foram coletados desses estudos, incluindo os 10 listados a seguir:
1.A Ausência da Dependência
Drogas narcóticas como a cocaína previnem a recaptação dos neurotransmissores de prazer/aprendizado como a dopamina, eventualmente levando à dependência devido à forte sensação de recompensa que os narcóticos criam. Alternadamente, a psilocibina age como um agonista (ativador) dos receptores 5-hidroxitriptamínicos (5-HT), 5-HT1A, 5-HT2A e 5-HT2C, se assemelhando grandemente ao receptor serotonínico natural 5-HT. A Serotonina, ao contrário da Dopamina, é mais associada com o bem-estar e a memória, e menos com prazeres temporários, uma diferença chave que acredita-se que remova essa substância do caminho da dependência.
Comparação entre a Psilocina (Psilocibina sem o radical fosfórico) e a Serotonina (Abaixo)Serotonina, principal neurotransmissor ligado à memória/aprendizado
2.Redução da Ansiedade
O Dr. Stephen Ross estudou a psicoterapia assistida com psilocibina como um método de tratamento para pacientes que estão sofrendo de sensações de ansiedade e depressão como resultado de um diagnóstico de câncer terminal/em estado avançado. As descobertas do NYU Psilocybin Cancer Project, no qual ele é o principal pesquisador, indicam que os pacientes com câncer terminal/em estado avançado se beneficiam da administração de psilocibina em termos do seu bem estar mental e espiritual, além de diminuir os níveis de ansiedade, depressão e dor. Isso não é surpreendente sob a luz das descobertas feitas pelo Dr. Franz X. Vollenweider, que descobriu que a psilocibina reduz o controle do córtex pré-frontal sobre a amídala, o tão chamado centro do medo no cérebro. Incidentalmente, o Dr. Vollenweider também publicou estudos na redução da depressão em pacientes que ingerem psilocibina regularmente.
3. A Mudança no Centro do Comportamento
A percepção geral da sociedade em relação à indivíduos que consomem substâncias psicodélicas é que eles são anti-sociais, desajustados e cabeças-dopadas. Entretando, a pesquisa que está sendo conduzida pelo Dr. Roland Griffiths na Universidade Johns Hopkins indica que ingerir psilocibina pode produzir mudanças positivas na personalidade, atitudes e comportamentos dos participantes. (10) Indivíduos que experimentaram a psilocibina reportaram que tiveram sentimentos de responsabilidade social, empatia com outros e uma compreensão fundamental da inter-conexão entre todas as formas vivas aprimorados e fortificados. As mudanças da percepção e da cognição incorridas durante o encontro com a psilocibina são creditadas em parte para essas mudanças no centro do comportamento.
4. As Experiências de Tipo Místico O Insituto das Ciências Intelectuais, de quem o Dr. Roland Griffiths participa, é ativo estudando as experiências místicas que são vividas por participantes que tomaram a psilocibina ou outros alucinógenos. Em muitos casos, respostas neurais e padrões de ondas cerebrais de participantes são extremamente semelhantes aos encontrados durante estados de jejum, oração, meditação ou outro êxtase religioso/espiritual. (11) Existe também um estudo colaborativo planejado entre o Dr. Roland Griffiths e Richard Davidson (Universidade de Wisconsin-Madison) para descobrir se alucinógenos podem ajudar indivíduos que são praticantes regulares e experientes de meditação em termos de foco, duração da sessão, e processo espiritual. Os participantes desse estudo serão selecionados na Universidade Johns Hopkins e então testados via Ressonância Magnética na Universidade Wisconsin-Madison.
5. Abandono do Vício em Tabaco
Estudos-piloto em curso na Universidade Johns Hopkins com psilocibina sugeriram que esse alucinógeno pode ajudar indivíduos superarem seu vício em nicotina. (6, 12) Até agora, dos três voluntários testados, 1 ficou em remissão de nicotina por pelo menos 6 meses enquanto dois outros ficaram em remissão por mais de 12 meses. A pesquisa atual é focada na busca do mecanismo por trás do tratamento do vício em nicotina com alucinógenos assim como vícios em outras drogas.
6. Significado Pessoal Profundo
Indivíduos que tomaram psilocibina reportaram que a experiência foi uma das cinco mais significantes entre as cinco principais de sua vida. Essa opinião continuou por até 14 meses depois da experiência com o alucinógeno (13), provando que a tão chamada “viajem psicodélica” não é algo para ser levado de forma leve ou passageira.
7. Neuroplasticidade
A Neuroplasticidade é definida como uma mudança neural que ocorre tipicamente em resposta a um estímulo, seja ele um hormônio, uma ação do ambiente ou comportamento. No caso da psilocibina, a exposição repetida do cérebro a essa substância pode induzir neuroplasticidade através da modulação discreta de circuitos neurais. O trabalho do Dr. Franz X. Vollenweider do Instituto de Pesquisas Heffter sugeriu que a psilocibina influencia a liberação do glutamato no córtex pré-frontal. O Glutamato ativa o Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF na sigla em inglês), um fator de crescimento de nervos que é a chave para o crescimento neural, desenvolvimento e sobrevivência. (14) As mudanças psicológicas que foram encontradas nos indivíduos que tomaram a psilocibina, tais como a redução da depressão, podem ser atribuídos ao glutamato elevado.
8. Tratamento do Transtorno Obessivo-Compulsivo
O Dr. Francisco A. Moreno da Universidade do Arizona está explorando o tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo, ou TOC, com a psilocibina. (15) Os resultados preliminares parecem promissores, com alguns pacientes ficando livres dos sintomas por dias seguindo-se ao tratamento. Um paciente ficou sem sintomas por quase 6 meses. Nenhum tratamento foi encontrado para aliviar os sintomas de TOC rapidamente como a psilocibina.
9. Tratamento de Cefaleias em Salvas
Cefaleias em Salvas são enxaquecas de intensidade incomum que duram aproximadamente de 15 minutos a 3 horas ou mais. Podem ocorrer em uma base periódica, mas também podem estar sujeitas a uma remissão espontânea. Ambas substâncias, psilocibina e LSD, foram descritas como um possível tratamento contra as cefaleias com um sucesso impressionante. (7)
10. Ressurgimento de Memórias Reprimidas
Em alguns casos, a ingestão de psilocibina permitiu que certos indivíduos retomassem memórias emocionais suprimidas. A Fundação Beckley, em colaboração com o especialistas em Ressonâncias Magnéticas, Dr. Karl Friston, estarão estudando indivíduos que ingeriram psilocibina para determinar se e como a psilocibina possibilita essas memórias virem à tona.
É claro, nem tudo são rosas quando se trata de alucinógenos. Roland Griffiths reportou que, mesmo sob supervisão cuidadosa por coordenadores do estudo, indivíduos que tomaram psilocibina experimentaram medo e ansiedade durante a experiência. De modo geral, 1/3 dos indivíduos tiveram sensações de medo e ansiedade quando administradas altas dosagens (30mg/70kg). Outros 9% dos participantes reportaram que a sessão inteira foi dominada por ansiedade, enquanto 26% tiveram pensamentos paranóicos leves e transitórios.
Há também poucas informações sobre os efeitos de longo prazo do uso de psilocibina. Efeitos de curto prazo, como a dependência ou a neurotoxidade/excitotoxicidade, não aparentam ser um problema; entretanto, não é certo que a regulação dos receptores de serotonina (por exemplo a tolerância), o acúmulo de sub-produtos, ou uma doença neurodegenerativa estejam fora de questão após o uso prolongado de alucinógenos. Esses efeitos paralelos podem levar décadas para se tornarem evidentes, e, portanto, não poderiam ser relatados em pesquisas realizadas apenas 15-20 anos atrás.
Enquanto todas as questões não foram respondidas sobre a psilocibina e outros alucinógenos, existem evidências sugerindo que podem haver potenciais terapêuticos para vários problemas mentais e de comportamento. Assim também, os tão famosos psicodélicos podem se tornar uma janela única para a alma humana.
Excelente trabalho de tradução da Equipe DMT Brasil , enviado ao micélio
Somos imensamente gratos pelo suporte
Texto original: Hanna J. “DMT and the Pineal: Fact or Fiction? Jun 3 2010.
Fonte: Erowid
Tradução: Equipe DMT Brasil >
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Um fato bem conhecido entre os usuários de drogas psicodélicas é a idéia de que o DMT, ou outro psicoativo derivado da triptamina, é produzido pela glândula pineal.
Quando essa idéia se originou? Ela é realmente verdade?
Durante sua fala “Psychoactive Drugs Troughout Human History” (Drogas Psicoativas Através da História Humana), numa conferência em 1983 na Universidade da Califórnia em Santa Barbara, o pesquisador Andrew Weil mencionou em uma passagem: “A Dimetiltriptamina […] é quase certamente feita pela glândula pineal no cérebro”. Enquanto isso, na Universidade da Califórnia em San Diego, Rick Strassman começou a se perguntar se a pineal poderia ou não produzir compostos psicodélicos. No mesmo ano, em seu livro “Eros e a Pineal: O guia do leigo do cérebro solitário”, Albert Most afirmou que “Um par de enzinas que ocorrem naturalmente na pineal […] é capaz de converter a serotonina em vários alucinógenos potentes.” A maioria dos pesquisadores indica que a pineal pode transformar serotonina em 5-metoxi-N-metiltriptamina e em seguida fazer com que esse composto se transforme em N,N-dimetiltriptamina. Infelizmente, não há referências fornecidas para suportar a descrição dada por Albert Most para o metabolismo da pineal. No entanto, parece provável que esta linha geral de pensamento – a de que algumas triptaminas psicoativas são produzidas na pineal – nasceu no início dos anos 80.*
Demorou duas décadas para a notícia se espalhar pelo resto da cultura psicodélica, mais recentemente e rapidamente devido à Internet, e após a publicação em 2001 do popular livro do Dr. Rick Strassman: “DMT – A molécula do Espírito”. Considere a seguinte transcrição do discurso de rádio dado em 2005-2006, do ator e comediante Joe Rogan, apresentador do Fear Factor TV Show:
“É chamada dimetiltriptamina. É produzida pela glândula pineal. É realmente uma glândula […] está no centro de seu cérebro. É a droga mais louca de todas. É o mais potente psicodélico conhecido pelo homem. Literalmente. Mas a coisa mais bizarra é que ele é natural, e o seu cérebro produz a cada noite enquanto você dorme. Você sabia, quando você dorme, durante o tempo que você está em R.E.M profundo, dormindo… e quando você está a beira da morte, o seu cérebro produz quantidades bombásticas de dimetiltriptamina. Ninguém sabe o que o sono representa realmente. Ninguém sabe por que sonhar é importante. Mas sonhar é extremamente importante. Se você não sonhar, você vai ficar realmente louco e vai morrer. Enquanto você está sonhando, enquanto você está em sono REM profundo, você está passando por uma viagem psicodélica. E poucas pessoas sabem sobre isso. Mas tem sido documentado.
Há um grande livro sobre ele chamado DMT: The Spirit Molecule escrito por um médico chamado Dr. Rick Strassman. E ele fez todos os estudos clínicos na Universidade do Novo México sobre ele. E você toma essa coisa, e, literalmente, você é transformado para uma outra dimensão extraordinária. Não quero dizer que é como se você se sentisse em outra dimensão, eu quero dizer, você está em outra dimensão. […] Há complexos padrões geométricos movendo-se sincronicamente por todo o ar em torno de você no espaço tridimensional; e é como se fossem artérias, exceto porque não há sangue pulsando dentro deles, eles são luzes pulsantes, luzes sem limites. E você realmente não consegue entender aquilo. E há uma comunicação alienígena comigo. Tem um garoto que se parece, se parece como um Buda Tailandês, exceto porque ele é completamente feito de energia e não há, não há como delineá-lo – ele é uma só coisa. E ele está concentrado em mim, e está me dizendo para eu não me assombrar. Relaxe simplesmente, e tente experienciar isso. E eu penso, ‘você só pode estar zombando de mim’. E eu sou um comediante de stand up, você sabe, como um comediante de stand up, nós nos orgulhamos em ser capazes de descrever as coisas. Então eu pensei, ‘Como diabos eu vou falar sobre isso?!'”
Rogan fez um excelente trabalho expressando vários pontos chaves do livro de Strassman de maneira bem humorada. Mas o problema é que nenhum desses pontos são comprovados verdadeiramente. E apesar do fato de Strassman claramente afirmar que as suas idéias sobre o DMT e a glândula pineal não são comprovadas**, muitas pessoas tem as aceitado como um fato. Até junho de 2010 não havia evidências científicas de que a glândula pineal produz DMT, muito menos evidências há sobre as especulações que Strassman fez sobre o DMT ser um modulador químico da alma humana. Quando Strassman examinou a glândula pineal de dez cérebros de pessoas falecidas, havia apenas um traço pequeno de DMT. Isso não invalida sua teoria, visto que o DMT é metabolizado rapidamente, e nenhum dos cérebros foi congelado rapidamente. Outros testes em cérebros frescos e congelados poderiam ser feitos. Algum dia haverá mais evidências de que o DMT é produzido na glândula pineal, mas tal dia ainda não chegou.
Até o final do seu livro, Strassman propõe que o DMT pode fornecer acesso a universos paralelos (e seres alienígenas) via computação quântica supercondutora no cérebro humano à temperatura ambiente, ou via interações com a matéria escura. Strassman afirma: “Porque eu sei tão pouco sobre física teórica, há menos constrangimento da minha parte em fazer tais especulações.” E para aqueles que não sabem virtualmente nada sobre nenhum dos tópicos, parece não haver restrições em fazer especulações. É exatamente por essa razão que as teorias de Strassman foram ambas aceitas como fato por muitas pessoas, e expandida criativamente em novas direções. Algumas teorias especulativas incluem a idéia que os antigos profetas produziram mais DMT, que os campos eletro-magnéticos aumentam a produção de DMT, que passando duas semanas na escuridão total aumenta a produção de DMT, e que água fluoretada suprime a produção de DMT. Uma busca na Internet vai mostrar como tem muito maluco querendo recompensas, o qual todos buscam nas especulações de Strassman os fatos por detrás do que dizem.
O DMT é realmente produzido pela glândula pineal? Talvez…
Addendum:
“Eu fiz o possível no meu livro sobre DMT para diferenciar entre o que é conhecido e o que eu estava conjecturando (baseado no que é conhecido), relativo a certos aspectos da dinâmica do DMT. No entanto, é fantástico quão inefetivo meus esforços se fizeram. Assim muitas pessoas me escreveram, ou escreveram em algum lugar, sobre o DMT e a pineal, assumindo que as coisas que eu tinha conjecturado eram verdadeiras. Quando eu estava escrevendo o livro, eu pensei que estava sendo claro o suficiente, e ficar me repetindo isso teria se tornado tedioso.
Nós não sabemos se o DMT é feito na pineal. Eu reuni um grande grupo de evidências circunstanciais suportando a razão para olhar com calma e profundamente para a pineal, mas nós não sabemos ainda. Há estudos sugerindo aumento de DMT na urina de paciente psicóticos quando suas psicoses estão no pior grau. No entanto, nós não sabemos se o DMT aumenta durante os sonhos, meditação, experiências de quase-morte, morte, nascimento ou qualquer outro estado alterado endógeno. Na medida em que estes estados se assemelham àqueles produzidos pela ingestão de DMT, certamente faz sentido se você imaginar que o DMT endógeno possa estar envolvido, e se estiver, iria explicar muita coisa. Mas nós não sabemos ainda. Mesmo se a pineal não estiver envolvida, isso teria pouco impacto nas minhas teorias que sugerem um papel para o DMT nos estados alterados endógenos, porque nós já sabemos que o gene envolvido na síntese do DMT está presente em vários órgãos, especialmente do pulmão. Se a pineal também produz DMT, isso iria amarrar um monte de pontas soltas sobre este enigmático órgão. Apesar de que pessoas podem viver normalmente sem a glândula pineal, por exemplo quando ela teve que ser removida por causa de um tumor.
Em ambos os aspectos – a conexão DMT-pineal, e a dinâmica do DMT endógeno – nós saberemos muito mais com os próximos anos de estudos graças aos esforços de um grupo de pesquisa liderado por Steven Barker da Louisiana State University. Ele, junto com seu estudante de graduação Ethan McIlhenny estão desenvolvendo um estudo inovador para DMT, 5-MeO-DMT, bufotenina, e metabólitos. Esse estudo será capaz de detectar esses compostos muito mais sensivelmente do que as gerações anteriores de pesquisas. Eles estão olhando o nível de DMT normal em indivíduos acordados e sóbrios, para avaliar os valores iniciais desses compostos. Nós teremos alguns dados sobre esses ensaios em um ano. Eles também estarão olhando para o tecido da pineal. Uma vez que tenhamos alguns dados de base em humanos normais em estados de vigília, comparações podem ser feitas entre esses níveis e os níveis dos estados alterados endógenos, como sonhos, EQM, e outros.”
Rick Strassman
Notas:
* Albert Most é talvez mais conhecido pelo seu livro de 1984 Bufo alvarius: The Psychedelic Toad of the Sonoran Desert (Bufo alvarius: o sapo psicodélico do deserto de Sonora), no qual explica como coletar e fumar o 5-MeO-DMT- contido nas secreções deste animal. Coincidentemente, Most foi um dos dois primeiros voluntários na pesquisa do Rick Strassman com o DMT, iniciada em 1990 e terminada em 1995. E durante o período que Strassman estava pesquisando o DMT, Andrew Weil foi co-autor de dois artigos com Wade Davis sobre as secreções psicoativas do Bufo alvarius.
** Strassman comentando sobre o DMT na pineal:
Estas hipóteses não são confirmadas, mas elas derivam de estudos científicos combinados com observações e ensinamentos religiosos e espirituais. […]
A hipótese mais geral é que a pineal produz quantidades psicodélicas de DMT em momentos extraordinários da nossa vida. A produção de DMT na pineal é a representação física de processos energéticos não-materiais. Ele nos fornece o veículo para conscientemente experimentarmos o movimento da força vital nas suas mais extremas manifestações. Exemplos específicos desse fenômeno descrevo a seguir:
Quando nossa força vital individual entra no corpo do feto, no momento em que nos tornamos verdadeiramente humanos, então uma corrente passa pela pineal e a induz a produzir o fluxo de DMT primordial. De maneira óbvia, tudo que é mencionado é alcançado mais eficientemente com o uso de diversas estratégias de marketing, onde a gamificação é hoje um elemento inovador para envolvimento no processo de leitura, compra e uso. A Jogos Friv na liderança da implementação de técnicas de gamificação, justamente se destacou, com seu foco sendo o desenvolvimento de jogos online gratuitos e a promoção dos mesmos em sua plataforma de jogos.
Depois, no nascimento, a pineal produz mais DMT.
Em alguns de nós, o DMT da pineal media experiência de pico como meditação profunda, psicoses e experiências de quase morte.
Quando morremos, a força vital dos nossos corpos sai através da glândula pineal, provocando outra enxurrada dessa molécula psicodélica do espírito. (páginas 68-69, DMT: The Spirit Molecule, 2001)
v1.0 – Jun 3, 2010 – Jon Hanna – Does the pineal gland really produce psychoative tryptamines?
v1.1 – Jun 29, 2010 – Addendum por Rick Strassman
Matéria publicada em Janeiro pela ” Scientific American Brasil“, nos foi direcionada por Vinícius Costa.
Em horas, substâncias psicoativas são capazes de induzir realinhamentos psicológicos profundos que exigiriam décadas para serem alcançados no divã.
por Roland R. Griffiths e Charles S. Grob
SANDY LUNDAHL, EDUCADORA EM SAÚDE DE 50 ANOS DE IDADE, chegou ao centro de estudos biológicos comportamentais na Johns Hopkins University School of Medicine em uma manhã de primavera de 2004. Ela se ofereceu para participar de um dos primeiros estudos com drogas alucinógenas nos Estados Unidos em mais de três décadas. Preencheu questionários, conversou com os dois monitores que estariam com ela pelas próximas oito horas e se ajeitou no confortável espaço parecido com uma sala de estar em que a sessão aconteceria. Então, engoliu duas cápsulas azuis e reclinou-se em um sofá. Para ajudá-la a relaxar e focar seu interior, ela usava tapa-olhos e fones de ouvido, que transmitiam música clássica especialmente selecionada.
As cápsulas continham um a alta dose de psilocibina, principal componente dos cogumelos “mágicos”, que, como o LSD e a mescalina, produzem alterações de humor e percepção, mas muito raramente alucinações. Ao final da sessão, quando os efeitos haviam se dissipado, Sandy, que nunca havia tomado um alucinógeno antes, preencheu mais questionários. Suas respostas indicavam que, durante o tempo em que ficou na sala, havia passado por uma profunda
experiência mística.
Em uma visita de acompanhamento mais de um ano depois, ela disse que continuava a pensar na experiência diariamente e – o mais notável – que ela a considerava o evento mais pessoal e espiritualmente significativo de sua vida. Ela sentia que aquilo trouxera mudanças positivas em seu humor, atitudes, comportamento e uma perceptível melhora em sua satisfação com a vida como um todo. “Parece que a experiência levou a uma aceleração do meu desdobramento ou desenvolvimento espiritual”, descreveu. “Lampejos de introspecção ainda ocorrem… Sou muito mais amorosa – compensando as feridas que causei no passado… Sou cada vez mais capaz de perceber as pessoas como tendo a luz do divino fluindo por elas.”
Sandy foi uma de 36 participantes de um estudo conduzido por um de nós de (Griffiths) na Johns Hopkins que começou em 2001 e foi publicado em 2006, seguido por um relatório que saiu dois anos depois. Quando o primeiro trabalho apareceu no periódico Psychopharmacology, muitos membros da comunidade científica saudaram a ressurreição de uma área de pesquisas que estava dormente havia um bom tempo. Os estudos com a psilocibina na universidade continuam por dois caminhos: um explora os efeitos psicoespirituais da droga em voluntários saudáveis. O outro estuda se os estados de consciência alterada induzidos por alucinógenos – e, em particular, experiências místicas – poderiam mitigar os efeitos de vários problemas psiquiátricos e comportamentais, incluindo alguns para os quais as terapias atuais não chegam a ser efetivas. A principal droga usada nesses estudos é a psilocibina, que integra os chamados alucinógenos clássicos. Assim como as outras drogas dessa classe – psilocina, mescalina, DMT e LSD –, a psilocibina age nos receptores de serotonina das células cerebrais. Confusamente, substâncias de outras classes que exercem efeitos farmacológicos diferentes desses dos alucinógenos clássicos também são rotuladas como alucinógenos” pela mídia e por relatórios epidemiológicos. Esses compostos, alguns dos quais também podem oferecer potencial terapêutico, incluem a quetamina, o MDMA (popularizado como “ecstasy”), salviorina A e ibogaína, entre outros.
SUPERANDO LEARY
A PESQUISA TERAPÊUTICA com os alucinógenos se vale de evidências promissoras observadas em estudos iniciados nos anos 50 que, coletivamente, envolveram milhares de participantes. Alguns desses estudos sugeriam que os alucinógenos poderiam ajudar a tratar a dependência química e a aliviar o sofrimento psicológico das doenças terminais. Essa pesquisa parou no início dos anos 70, quando o uso recreativo dos alucinógenos, principalmente o LSD, cresceu e atraiu uma cobertura sensacionalista da mídia. Esse campo de investigação também foi afetado pela demissão amplamente divulgada de Timothy Leary e Richard Alpert da Harvard University em 1963, em resposta à preocupação sobre métodos heterodoxos de pesquisa usando alucinógenos, incluindo, no caso de Alpert, oferecer psilocibina a um estudante fora do campus.
O crescente uso sem supervisão de substâncias pouco compreendidas, em parte resultado do apoio dado a elas pelo carismático Leary, ganhou repercussão. O Ato de Substâncias Controladas, de 1970, pôs os alucinógenos comuns na Lista 1, a categoria mais restritiva. Novas limitações foram impostas à pesquisa com humanos, a subvenção estatal foi suspensa e os pesquisadores envolvidos nessa linha de pesquisa se viram profi ssionalmente marginalizados.
Décadas se passaram antes que as atitudes que bloquearam as pesquisas arrefecessem o bastante para permitir estudos rigorosos com humanos envolvendo o uso dessas substâncias. As experiências místicas permitidas pelos alucinógenos interessam os pesquisadores particularmente porque têm o potencial de produzir mudanças positivas rápidas e duradouras no humor e comportamento – alterações que podem demandar anos de esforço na psicoterapia convencional.
O trabalho feito na Johns Hopkins é emocionante porque demonstra que essas experiências podem ser produzidas em laboratório na maioria das pessoas estudadas. Ele permite, pela primeira vez, pesquisas científi cas rigorosas e avaliações que registram os voluntários antes e depois do uso da droga. Esse tipo de estudo permite aos pesquisadores examinar as causas e efeitos psicológicos e comportamentais dessas experiências extraordinárias.
Pesquisadores da Johns Hopkins usaram questionários originalmente desenvolvidos para avaliar experiências místicas que ocorriam sem drogas. Eles também analisaram os estados psicológicos gerais dos participantes entre dois e 14 meses após a sessão com psilocibina. Os dados mostraram que os participantes experimentaram um aumento na autoconfiança, maior sensação de contentamento interior, melhor capacidade de tolerar frustrações, diminuição do nervosismo e aumento no bem-estar geral. Um comentário típico de um participante: “A sensação de que tudo é Um, que eu experimentei a essência do Universo e o saber que Deus não nos pede nada, exceto receber amor. Não estou sozinho. Não temo a morte. Sou mais paciente comigo mesmo”. Outra participante ficou tão inspirada que escreveu um livro sobre as experiências.
ALÍVIO DO SOFRIMENTO
QUANDO A PESQUISA SOBRE a terapia baseada em alucinógenos foi suspensa, há cerca de 40 anos, deixou uma lista de tarefas que incluía o tratamento do alcoolismo e outras dependências, a ansiedade associada ao câncer, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós- traumático, desordens psicossomáticas, transtornos severos de personalidade e autismo.
No câncer, os pacientes frequentemente se confrontam com ansiedade severa e depressão, e antidepressivos e drogas redutoras de ansiedade podem ter uma atuação limitada para amenizar esses casos. Nos anos 60 e início dos 70, mais de 200 pacientes de câncer receberam alucinógenos clássicos em uma série de estudos clínicos. Em 1964, Eric Kast, da Chicago Medical School, que administrou LSD a pacientes terminais com dores severas, relatou que os pacientes desenvolveram um “desprezo peculiar pela gravidade de sua situação e conversavam livremente sobre sua morte iminente com uma característica considerada não usual pelos costumes ocidentais, mas muito benéfica aos seus estados mentais.” Estudos posteriores, produzidos por Stanislav Grof, William Richards e seus colegas do Spring Grove Psychiatric Hospital próximo a Baltimore (e mais tarde no Maryland Psychiatric Research Center) usaram LSD e outro alucinógeno clássico, o DPT (dipropiltriptamina). Os testes mostraram diminuição na depressão, ansiedade e medo da morte. E pacientes com experiências místicas mostram as melhoras mais significativas na medição psicológica de bem-estar.
Um de nós (Grob) atualizou esse trabalho. Em setembro passando, um ensaio no periódico Archives of General Psychiatry relatou um estudo piloto realizado entre 2004 e 2008 no Harbor-Ucla Medical Center para avaliar se as sessões com psilocibina reduziam a ansiedade em 12 pacientes terminais de câncer. Apesar de o estudo ser pequeno demais para permitir conclusões mais significativas, foi encorajador: os pacientes mostraram diminuição na ansiedade e melhora no humor, mesmo vários meses após a sessão.
Alcoólatras, fumantes e outros dependentes químicos podem relatar vitória sobre suas dependências após uma experiência mística que os afetou profundamente e ocorreu de forma espontânea, sem uso de drogas. A primeira onda de pesquisas clínicas com alucinógenos reconheceu o potencial terapêutico dessas experiências transformadoras. Mais de 1.300 pacientes participaram de estudos sobre dependência que originaram mais de duas dúzias de publicações décadas atrás. Em alguns desses estudos foram administradas altas doses em pacientes pouco preparados e reduzido apoio psicológico, alguns fisicamente presos ao leito. Pesquisadores que compreendiam a importância da preparação e deram apoio a seus pacientes tendiam a obter melhores resultados. Esse trabalho antigo trouxe resultados
promissores, mas inconclusivos.
A nova geração de pesquisa com alucinógenos, com melhores metodologias, deve ser capaz de determinar se essas drogas podem de fato ajudar as pessoas a superar dependências. Além do tratamento da dependência, os estudos mais recentemente começaram a testar se a psilocibina pode mitigar os sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo. Outras substâncias controladas com mecanismos diferentes de ação também estão mostrando potencial terapêutico. Pesquisas evidenciam que a quetamina, administrada em baixas doses (é normalmente usada como anestésico), poderia dar um alívio mais rápido da depressão que os antidepressivos tradicionais, caso do Prozac. Um teste recente, na Carolina do Sul, usou o MDMA para tratar com sucesso o transtorno de estresse pós-traumático em pacientes em que as terapias convencionais não produziram efeito. Testes similares com o MDMA estão a caminho na Suíça e em Israel.
A ESTRADA À FRENTE
PARA QUE AS TERAPIAS COM USO de alucinógenos clássicos ganhem aceitação, terão de superar preocupações que emergiram com os excessos dos “psicodélicos anos 60”. Os alucinógenos podem, às vezes, induzir à ansiedade, paranoia ou pânico, que, em ambientes sem supervisão, podem produzir ferimentos acidentais ou mesmo suicídio. No estudo feito na Johns Hopkins, mesmo após cuidadosa seleção, e ao menos oito horas de preparação com um psicólogo clínico, cerca de um terço dos participantes experimentaram algum período de medo significativo e cerca de um quinto sentiram paranoia em algum momento durante a sessão. Mas no ambiente acolhedor oferecido pelo centro de pesquisas e com a constante presença de guias treinados, os participantes não demonstraram efeitos negativos duradouros.
Outros riscos potenciais dos alucinógenos incluem psicose prolongada, aflição psicológica, distúrbios na visão ou nos outros sentidos, com duração de dias ou mais. Esses efeitos, no entanto, não são muito frequentes e se mostram ainda mais raros em voluntários preparados psicologicamente. Apesar do eventual abuso na utilização dos alucinógenos clássicos (usados de forma a pôr em risco a segurança dos usuários ou de outros), eles não são tipicamente considerados drogas viciantes, porque não levam ao uso compulsivo nem produzem síndrome de abstinência. Para ajudar a minimizar as reações adversas, os pesquisadores da Johns Hopkins publicaram recentemente um conjunto de normas de segurança para a realização de estudos com altas dosagens de alucinógenos. Em função da habilidade dos pesquisadores em tratar com os riscos das drogas, sentimos que os estudos dessas substâncias devem continuar devido ao seu potencial para transformar a vida, digamos, de um paciente de câncer ou dependente químico. Se elas se mostrarem úteis no tratamento do abuso químico, ou da ansiedade existencial associada a doenças que põem a vida em risco, pesquisas posteriores poderiam ser beneficiadas. Os benefícios também podem vir da neuroimagem e de técnicas farmacológicas que não existiam nos anos 60 e que fornecem uma melhor compreensão de como essas drogas atuam.
A visualização das áreas do cérebro envolvidas nas emoções e pensamentos intensos que as pessoas têm sob a influência das drogas dará uma janela para a psicologia por trás das experiências místicas produzidas pelos alucinógenos. Pesquisas adicionais também poderão trazer abordagens não farmacológicas mais eficientes se comparadas às práticas espirituais tradicionais, como meditação ou jejum para produzir experiências místicas e mudanças comportamentais desejadas.
A compreensão sobre como as experiências místicas podem levar a atitudes benevolentes em relação a si mesmo e aos outros deve ajudar a explicar o bem documentado papel de proteção da espiritualidade no bem-estar e saúde psicológica. As experiências místicas podem originar um senso profundo e duradouro da interconexão entre pessoas e coisas – perspectiva que está por trás dos ensinamentos éticos das tradições religiosas e espirituais. Assim, uma compreensão da biologia dos alucinógenos clássicos poderia ajudar a esclarecer os mecanismos por trás do comportamento ético e cooperativo humano – conhecimento que, acreditamos, poderá vir a ser crucial para sobrevivência da nossa espécie.
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Roland R. Griffiths é professor nos departamentos de psiquiatria e neurociências da Johns Hopkins University School of Medicine. Seus principais focos de pesquisa têm sido os efeitos comportamentais e subjetivos das drogas que alteram o humor. Ele é o líder de pesquisas com a psilocibina na Johns Hopkins.
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Charles S. Grob é professor de psiquiatria e pediatria da David Geff em School of Medicine da Ucla e diretor de Divisão de Psiquiatria Infantil e Adolescente no Harbor-Ucla Medical Center. Ele conduziu testes clínicos com várias drogas alucinógenas, incluindo o uso da psilocibina no tratamento da ansiedade em pacientes com câncer.
Traduzido do arquivo da Associação Multidisciplinar para o Estudo de Psicodélicos (MAPS)
MAPS – Volume 7 N# 1, Inverno 1996-97 – pp. 10-11
Pesquisas recentes e suas implicações para o aumento da criatividade
Matthew J. Baggott
Pesquisador Associado, Centro de Pesquisa de Dependência de Drogas
Universidade da California, San Francisco
Para os estudos de Rick Doblin de acompanhamento a longo prazo da pesquisa com psilocibina originalmente conduzida ou supervisionada por Timothy Leary em Harvard de 1960 a 1963, veja o Good Friday experiment follow-up (em inglês), que investiga o uso da psilocibina como catalizador de experiências místicas, e o Concord Prison experiment follow-up (em inglês), que investiga o uso da psilocibina em promover mudança de comportamento e reduzir reincidências.
Discussão do artigo: Spitzer M, Thimm M, Hermle L, Holzmann P, Kovar KA, Heimann H, Gouzoulis-Mayfrank E, Kischka U, Schneider F (1996); Aumento da ativação de associações semânticas indiretas com o uso de psilocibina. Biol Psychiatry 39:1055-1057. Spitzer e seus colegas chegaram mais perto de compreender os efeitos dos psicodélicos. Como eles apontaram na conclusão do seu trabalho, obtiveram sucesso na utilização dos resultados de uma tarefa simples para teorizar ligações entre os relatos subjetivos dos usuários de psicodélicos, medições objetivas dos efeitos da psilocibina, e a fisiologia cerebral subjacente. No processo, eles levantaram uma série de ligações produtivas a futuras pesquisas.
A primeira onda de pesquisas sobre psicodélicos nos anos 60 viu muitas tentativas de entender os mecanismos e os efeitos dos psicodélicos. Olhando de volta para esses estudos do passado, chega-se a idéia que as substâncias psicodélicas talvez fossem complexas demais para as ferramentas científicas da época. No entanto, a onda atual de pesquisas sobre psicodélicos se mostra muito mais promissora. Desde os 60, ganhamos muitas ferramentas sofisticadas de pesquisa. Essas ferramentas incluem testes neuropsicológicos simples, tarefas repetitivas, jogos, que podem dar valiosos insights de como os psicodélicos afetam a mente. Manfred Spitzer, M.D., Ph.D., e seus colegas (1996) publicaram recentemente um fascinante relatório sobre os efeitos da psilocibina em um desses testes neuropsicológicos.
O grupo de Spitzer, de oito homens voluntários, foi oralmente administrado com 0.2 mg de psilocibina, por kg de peso corporal, junto a um grupo de controle que recebeu um placebo. Em seguida estudaram os efeitos da psilocibina em uma tarefa de reconhecimento de palavras. Nesse teste, o indivíduo identifica se uma sequência de caracteres é uma palavra, ou não. Estudos anteriores descobriram que indivíduos podem identificar uma palavra mais rápido se a sequência de caracteres que a precede for uma palavra proximamente relacionada. Por exemplo, uma pessoa pode reconhecer a palavra “preto” mais rapidamente se ela foi imediatamente precedida pela palavra “branco”. Este efeito é conhecido como “disparo semântico” (semantic priming). Em indivíduos normais, o disparo semântico ocorre somente com palavras de relação próxima. No entanto, palavras indiretamente relacionadas (“doce” e “limão,” por exemplo) produz esse disparo semântico em indivíduos esquizofrênicos de pensamento desordenado (Spitzer et al 1993a, 1993b).
Disparo semântico
Os pesquisadores descobriram que a psilocibina desacelerou o tempo de reação dos indivíduos, ao mesmo tempo que produzia um efeito de disparo semântico das palavras indiretamente relacionadas (“doce” e “limão”), semelhante ao observado na pesquisa de esquizofrenia. A descoberta de que a psilocibina desacelera o tempo de reação não era inesperada; uma pesquisa anterior com psicodélicos encontrou o mesmo efeito. No entanto, a descoberta que a psilocibina produzia disparo semântico indireto é mais interessante. Em suas discussões, os pesquisadores ressaltam que seus resultados são relevantes para a afirmação que psicodélicos “aumentam a criatividade” ou “expandem a consciência”:
Embora a maioria das medições objetivas tenham falhado em apoiar estas afirmações, nossos dados sugerem que o agente [alucinógeno] de fato leva a um aumento da disponibilidade de associações remotas e, portanto, pode trazer efeitos cognitivos à mente que, em circunstâncias normais, permaneceriam desativados; no entanto, a diminuição geral do desempenho psicológico sob efeito de agentes alucinógenos sugere que o aumento indireto do efeito de disparo se deve à diminuição da capacidade de usar informação contextual para a focalização do processamento semântico. Por isso, a experiência subjetiva de aumento da criatividade, assim como a ampliação da consciência, foram encontradas paralelamente com a diminuição nas medições objetivas de desempenho. (p. 1056-1057).
Assim, os pesquisadores sugerem que os psicodélicos podem de fato “ampliar a consciência” tornando mais disponíveis as associações mentais remotas. No entanto, isso envolve um trade-off. Embora as associações remotas se tornem mais acessíveis, os sujeitos ficam menos capazes de focalizerem a atenção, o que diminui seus tempos de reação.
Redes neurais semânticas
Os pesquisadores interpretam seus resultados utilizando um modelo que afirma que o cérebro contém redes neurais semânticas que podem ser ativadas pela informação semântica. A propagação dessa ativação pelas redes neurais determina a quantidade de disparo semântico que ocorre no teste de reconhecimento de palavras. Essa ativação se propaga de forma mais profunda e rápida em esquizofrênicos de pensamento desordenado e usuários de psilocibina do que em voluntários normais. Uma explicação para essa quantidade incomum de ativações é a dimuição da eficiência no córtex onde a informação semântica é processada (Servan-Schreiber et al 1990, Cohen and Servan-Schreiber 1992, 1993). Existem evidências de que essa ineficiência de processamento está relacionada com a diminuição da modulação dopaminérgica. Como suporte a essa teoria, os pesquisadores descobriram que a L-dopa, um precursor da dopamina, reduz a propagação da ativação e, dessa forma, reduz indiretamente o disparo semântico (Kischka et al 1995). No contexto dessa teoria, a psilocibina (que atua no sistema serotoninérgico) pode ser vista como um potencializador de ativação das redes semânticas. Essencialmente, a dopamina parece ter um efeito de focalização na ativação das redes semânticas, enquanto a psilocibina tem um efeito de desfocalização.
O teste de reconhecimento de palavras
O teste de reconhecimento de palavras usado pelo grupo de Spitzer é particularmente interessante por várias razões. Primeiro, ele permitiu aos pesquisadores testar o acesso automático, ao invés de voluntário, à memória. Mesmo quando os sujeitos não conseguiam recordar conscientemente as palavras previamente vistas (seja por causa de uma droga ou por desordens neurológicas), o teste de reconhecimento de palavras pode demonstrar se os sujeitos ainda podem acessar automaticamente essa memória. Além disso, o teste permite que os pesquisadores vejam como o foco das associações mentais do sujeito é modificado por diferentes estados farmacológicos ou psicológicos. Esse aspecto parece potencialmente promissor para a diferenciação entre diferentes tipos de memórias. Por exemplo, em algumas situações, palavras emocionais (“feliz” e “triste”) podem ser ativadas em maior medida do que palavras com pouco conteúdo emocional (“preto” e “branco”).
Spitzer e seus colegas chegaram mais perto de compreender os efeitos dos psicodélicos. Como eles apontaram na conclusão do seu trabalho, obtiveram sucesso na utilização dos resultados de uma tarefa simples para teorizar ligações entre os relatos subjetivos dos usuários de psicodélicos, medições objetivas dos efeitos da psilocibina, e a fisiologia cerebral subjacente. No processo, eles levantaram uma série de ligações produtivas para futuras pesquisas.
Referências
Cohen JD, Servan-Schreiber D (1992); Context, cortex and dopamine: A connectionist approach to behavior and biology in schizophrenia. Psychol Rev 12:45-77.
Cohen JD, Servan-Schreiber D (1993); A theory of dopamine function and its role in cognitive deficits in schizophrenia. Schizoph Bull 19:85-104.
Kischka U, Kammer T, Weisbrod M, Maier S, Thimm M, Spitzer M (1995); Dopaminergic modulation of semantic network activation (in submission). Servan-Schreiber D, Printz H, Cohen JD (1990); A network model of catcholamine effects: Gain, signal-to-noise ratio, and behavior. Science 249:892-895.
Spitzer M, Braun U, Maier S, Hermle L, Maher BA (1993a); Indirect semantic priming in schizophrenic patients. Schizoph Res 11:71-80.
Spitzer M, Braun U, Hermle L, Maier S (1993b); Associative semantic network dysfunction in thought-disordered schizophrenic patients: Direct evidence from indirect semantic priming. Biol Psychiatry 34:864-877.
Spitzer M, Thimm M, Hermle L, Holzmann P, Kovar KA, Heimann H, Gouzoulis-Mayfrank E, Kischka U, Schneider F (1996); Increased activation of indirect semantic associations under psilocybin. Biol Psychiatry 39:1055-1057.
Stanislav Grof, psiquiatra tcheco, nascido em 1 de Julho de 1931, na cidade de Praga, desenvolveu nos EUA pesquisas sobre os estados alterados de consciência (EAC), através de experiências utilizando o ácido lisérgico, LSD, como meio de atingir tais estados. Segundo ele isso propiciava que os pacientes atingissem outros estados conscienciais tidos como anormais, mas que eram importantes para a recuperação da saúde mental. Quando o paciente voltava da “viagem” era capaz de ter outras compreensões (insights) que ajudavam na sua recuperação. Mais tarde desenvolveu uma técnica chamada Respiração Holotrópica, através da qual é possível atingir os mesmos estados de consciência através da respiração sem o uso do LSD como gatilho.
Neste Vídeo, Grof descreve a experiência que marcou sua vida e inspirou toda a sua carreira profissional.
momentos finais da palestra “Under The Teaching Tree”
Mckenna fala sobre o processo de alienação a respeito de uma inteligência central da natureza, há muito tempo conhecida pela humanidade, mas levada ao esquecimento há pelo menos 10 mil anos, ignorada e ofuscada por métodos científicos, incapazes de mensurá-la ou catalogá-la.
Levanta questões sobre: Como podemos reencontrar essa conexão deixada de lado e ignorada por tanto tempo? Como nossas ideologias e conceitos materialistas nos levaram ao estado no qual estamos hoje? O que cada um de nós está fazendo para tornar o mundo um lugar novamente regido pela unidade, que brilha sob uma inteligência central do planeta? Qual o papel dos psicodélicos nesse processo de re-conhecimento?
A experiência psicodélica como fonte de conhecimento; a função do DMT no metabolismo humano comum; cérebro e consciência; o significado da “morte do ego”; a experiência humana e as “drogas” são alguns dos temas abordados no vídeo.
Em ordem de aparição: Dr. Dennis McKenna
Dr. Rick Strassman
Alex Grey
Nick Herbert
Mike Crowley
Clark Heinrich
O renascimento arcaico é um clarim chamando·nos para recuperarmos nosso direito de nascença, por mais desconfortáveis que possamos ficar com isso. É um chamado para percebermos que a vida na ausência da experiência psicodélica sobre a qual se baseia o xamanismo primordial é uma vida trivializada, negada, escravizada ao ego e ao seu medo de se dissolver na misteriosa matriz de sentimento que está ao nosso redor. É no renascimento arcaico que reside nossa transcendência ao dilema histórico.
Há algo mais. Agora está claro que novos desenvolvimentos em muitas áreas – dentre elas a interface entre mente e máquina, a farmacologia da variedade sintética e o armazenamento e as técnicas de recuperação de dados e de imagens – estão se fundindo numa auto-imagem verdadeiramente demoníaca ou angélica de nossa cultura. Os que estão no lado demoníaco do processo têm consciência total desse potencial, e estão correndo a toda com seus planos para capturar o platô tecnológico. É uma posição a partir da qual esperam transformar praticamente todo mundo num consumidor crédulo num fascismo bege, de cuja fábrica de imagens ninguém escapará.
A resposta xamânica, a resposta arcaica, a resposta humana a essa situação deveria ser encontrar o pedal da arte e apertá-lo até o fundo. Essa é uma das funções primárias do xamanismo, e essa função é tremendamente sinergizada pelos psicodélicos. Se os psicodélicos são exoferomônios que dissolvem o ego dominante, então eles são também enzimas que sinergizam a imaginação humana e dão força à linguagem. Eles fazem com que conectemos e reconectemos os conteúdos da mente coletiva de maneiras ainda mais implausíveis, lindas e auto-realizadoras.
Se levarmos o renascimento arcaico a sério, precisaremos de uma nova imagem paradigmática que possa levar-nos rapidamente para diante e através do gargalo histórico que podemos sentir impedindo e resistindo a uma dimensão mais expansiva, mais humana e mais atenta, que insiste em nascer. Nosso sentimento de obrigação política, da necessidade de reformar ou salvar a alma coletiva da humanidade, nosso desejo de conectar o fim da história com o início da história – tudo isso deve nos impelir a ver o xamanismo como um modelo exemplar. Na atual crise global não podemos deixar de levar a sério suas técnicas, mesmo aquelas que podem desafiar os pactos divinamente ordenados da força policial.
EXPANSÃO DE CONSCIÊNCIA
Anos atrás, antes de Humphrey Osmond cunhar o termo “psicodélico”, havia uma descrição corrente para as substâncias psicodélicas; eram chamadas de “drogas expansoras da consciência” . Creio que essa é uma descrição muito boa. Considere nosso dilema neste planeta. Se a expansão da consciência não estiver no futuro humano, que tipo de futuro ele será? Para mim, a posição pró-psicodélicos é mais fundamentalmente ameaçadora para o Sistema porque, quando se pensa total e logicamente, ela é uma posição antidrogas e antivício. E não se engane; a questão são as drogas. O quão drogado você deve ser? Ou, colocando de outro modo, o quão consciente você deve ser? Quem deve ser consciente? Quem deve ser inconsciente?
Precisamos de uma definição aproveitável do que queremos dizer com “droga”. Uma droga é uma coisa que causa comportamento não examinado, obsessivo e habitual. Você não examina o comportamento obsessivo; você simplesmente o tem. Você não deixa nada se interpor no caminho de sua gratificação. Esse é o tipo de vida que nos estão vendendo em todos os níveis. Olhar, consumir e olhar e consumir mais ainda. A opção psicodélica está de lado, num canto minúsculo, jamais mencionada; entretanto ela representa o único fluxo diretamente contrário à tendência de deixar as pessoas em estados programados de consciência. Estados que não são programados por eles mesmos, mas pela Madison Avenue, pelo Pentágono, pelas 500 corporações da Fortune. Isso não é apenas uma metáfora; está realmente acontecendo conosco.
Olhando para Los Angeles de um avião, nunca deixei de perceber que a cidade é como um circuito impresso; todas aquelas rodovias curvas e ruas sem saída com os mesmos pequenos módulos instalados de cada lado. Enquanto a Reader’s Digest continuar sendo assinada e a TV ligada, esses módulos são partes intercambiáveis de uma máquina muito grande. Essa é a realidade de pesadelo que Marshall McLuhan, Wyndham Lewis e outros previram: a criação do publico como um rebanho. O público não tem história nem futuro, o público vive num momento dourado criado por um sistema de credito que liga-o inelutavelmente a uma a uma teia de ilusões jamais criticada. Essa é a conseqüência definitiva de termos rompido o relacionamento simbiótico com a matriz Gaia do planeta. Esta é a conseqüência da falta de igualitarismo; este é o legado do desequilíbrio entre os sexos; esta é a fase terminal de uma longa descida para a confusão existencial tóxica e sem sentido.
O crédito por ter-nos dado instrumentos para resistir a esse horror pertence a heróis desconhecidos, botânicos e químicos, pessoas como Richard Schultes, os Wassons e Albert Hofmann. Graças a eles está em nossas frágeis mãos, neste mais caótico dos séculos, fazer alguma coisa para resolver nossa dificuldade. A psicologia, ao contrário, esteve complacente e silenciosa. Os psicólogos ficaram contentes com a teoria behaviorista durante cinqüenta anos, mesmo sabendo em seus corações que estavam prestando um desserviço potencialmente fatal à dignidade humana, ao ignorar o potencial dos psicodélicos.
A GUERRA CONTRA AS DROGAS
Se há um momento certo para ouvir, para contar e para tentar clarear o pensamento sobre essas coisas, o momento é agora. Durante algum tempo houve um grande ataque contra a Declaração dos Direitos com o pretexto da chamada guerra contra as drogas. De algum modo, a questão das drogas é ainda mais assustadora e insidiosa para o rebanho do público do que o foi o comunismo. A qualidade da retórica que emana da comunidade psicodélica deve melhorar radicalmente. Caso contrário, perderemos o direito de reclamar nosso direito de nascença, e toda a oportunidade de explorar a dimensão psicodélica será cortada. Ironicamente, esta tragédia poderia ocorrer quase como uma nota de rodapé para a supressão dos narcóticos sintéticos e viciantes. Não se pode dizer com muita freqüência: a questão psicodélica é uma questão de direitos e liberdades civis. É uma questão relacionada às mais básicas das liberdades humanas: a da liberdade religiosa e da privacidade da mente individual.
Já se disse que as mulheres não poderiam votar porque a sociedade seria destruída. Antes, os reis não podiam abrir mão do poder absoluto porque disso resultaria o caos. E agora dizem que as drogas não podem ser legalizadas porque a sociedade se desintegraria. Isso é um absurdo pueril! Como vimos, a história humana poderia ser contada como uma série de relacionamentos com plantas, relacionamentos criados e rompidos. Exploramos várias maneiras pelas quais as plantas, as drogas e a política se misturaram cruelmente – desde a influência do açúcar sobre o mercantilismo até a influência do café sobre os trabalhadores de escritórios hoje em dia, desde a Inglaterra forçando o ópio à população chinesa até a CIA usando heroína nos guetos para acabar com a dissidência e a insatisfação.
A história é a história desses relacionamentos com as plantas. As lições a serem aprendidas podem ser trazidas à consciência, integradas na política social e usadas para criar um mundo mais atento, mais significativo, ou podem ser negadas assim como a discussão da sexualidade humana foi reprimida até que o trabalho de Freud e outros a trouxessem à luz. A analogia é válida porque o aumento na capacidade de experiência cognitiva possibilitado pelos alucinógenos vegetais é uma parte tão básica de nossa humanidade quanto nossa sexualidade. A questão de quão rapidamente nos desenvolveremos numa comunidade madura, capaz de discutir essas questões, depende totalmente de nós.
O HIPERESPAÇO E A LIBERDADE HUMANA
A coisa mais temida pelos que defendem a solução inexeqüível do “Diga não” é um mundo em que todos os valores comunitários tradicionais se dissolveram diante de uma busca infinita da autogratificação por parte de indivíduos e populações obcecados com as drogas. Não devemos descartar essa possibilidade muito real. Mas o que deve ser rejeitado é a noção de que esse futuro perturbador pode ser evitado com caças às bruxas, supressão de pesquisas e disseminação histérica de desinformações e mentiras.
As drogas fazem parte da galáxia de interesses culturais desde o início dos tempos. Somente com o advento de tecnologias capazes de refinar e de concentrar princípios ativos de plantas e preparados vegetais, as drogas se separaram do pano de fundo dos interesses culturais e se tomaram um flagelo.
De certo modo, o que temos não é um problema de drogas, e sim um problema com a administração de nossas tecnologias. Será que nosso futuro incluirá o surgimento de novas drogas sintéticas, cem ou mil vezes mais viciantes do que a heroína ou o crack? A resposta é absolutamente sim – a não ser que nos conscientizemos e examinemos a necessidade humana básica de uma dependência química e em seguida encontremos e sancionemos caminhos para a expressão dessa necessidade. Estamos descobrindo que os seres humanos são criaturas com hábitos químicos, com a mesma descrença horrorizada de quando os vitorianos descobriram que os humanos são criaturas com fantasias e obsessões sexuais. Esse processo de nos encararmos como espécie é precondição necessária para a criação de uma ordem social e natural mais humana. É importante recordar que a aventura de encarar quem somos não começou ou terminou com Freud e Jung. O argumento que este livro buscou desenvolver é que o próximo passo na aventura do autoconhecimento só pode começar quando levarmos em conta nossa necessidade inata e legítima de um ambiente rico de estados mentais induzidos através de um ato de vontade. Acredito que podemos iniciar o processo revendo nossas origens. De fato, fiz um grande esforço para mostrar que, no ambiente arcaico em que surgiu a auto-reflexão, encontramos pistas para as raízes de nossa história atormentada.
O QUE É NOVO AQUI
Os indóis alucinógenos, não estudados e legalmente suprimidos, são apresentados aqui como agentes de mudança evolucionária. Eles são agentes bioquímicos cujo impacto definitivo não está na experiência direta do indivíduo, e sim na constituição genética da espécie. Os primeiros capítulos chamaram atenção para o fato de que o aumento na acuidade visual, o aumento no sucesso reprodutivo e o aumento na estimulação das funções protolingüísticas do cérebro são conseqüências lógicas da inclusão de psilocibina na dieta dos primeiros homens. Se puder ser provada a noção de que a consciência humana emergiu da sinergia do neurodesenvolvimento mediado pelos indóis, mudará a imagem que fazemos de nós mesmos, de nosso relacionamento com a natureza e do dilema atual com o uso das drogas na sociedade.
Não há solução para o “problema das drogas” , para o problema da destruição ambiental ou para o problema do arsenal nuclear a não ser que nossa auto-imagem como espécie seja reconectada à terra. Isso começa com uma análise da confluência especial de condições que devem ter sido necessárias para que a organização animal desse pela primeira vez o salto para a auto-reflexão consciente. Uma vez que seja compreendida a centralidade da simbiose homem-planta mediada pelos alucinógenos no cenário de nossa origem, estaremos em posição de avaliar nosso estado atual de neurose. A assimilação das lições contidas naqueles eventos antigos e formativos podem estabelecer as bases para soluções destinadas a atender não somente à necessidade de a sociedade administrar o uso e o abuso de substâncias como também à nossa necessidade profunda e crescente de dar uma dimensão espiritual às nossas vidas.
(Extraído do livro “O Alimento dos Deuses”, de Terence McKenna)