A Psiquiatria está pronta para o paradigma da cura psicodélica?

Como o uso de plantas de poder e psicodélicos podem ajudar a aliviar o sofrimento humano? Quais são as barreiras para as chamadas medicinas da floresta, como a Ayahuasca, se tornarem parte da Psiquiatria convencional? Como se projeta e conduz pesquisas sobre o uso terapêutico de tais plantas de uma maneira ética e significativa? Como irá aparentar o tratamento de transtornos mentais com estas plantas? Estas são algumas das perguntas básicas as quais eu vim lidando no decorrer dos últimos três anos, enquanto completava residência em Psiquiatria e tentava iniciar uma carreira na ciência psicodélica e sua forma de cura.

Neste breve texto, tentarei esboçar algumas respostas introdutórias para as perguntas acima, bem como discutir os desafios em integrar diferentes áreas do conhecimento com o modelo biológico atual da Psiquiatria. Eu acredito que a adoção de uma perspectiva multidimensional complexa do sofrimento humano e o aproveitamento delicado de maneiras diferentes de entender plantas psicodélicas são fatores-chave para o paradigma emergente de cura psicodélica.

 

 

Diferentes perspectivas sobre as Plantas Psicodélicas


Plantas psicoativas e fungos tem se relacionado com humanos por milhares de anos, tendo diferentes e vários papéis na sociedade, na cultura, religião e na medicina. Como resultado dessa complexa e histórica relação, existem inúmeras formas pelas quais podemos entender e falar sobre estas plantas.

A Ayahuasca como um exemplo, uma perspectiva indígena ou antropológica pode ver a bebida como não apenas sagrada, mas como uma “planta de espírito” ou “professora”, com a qual uma pessoa ou um xamã interage para produzir o efeito desejado. Essa compreensão contrasta totalmente com uma visão biomédica da Ayahuasca como uma coleção de alcaloides e outros compostos químicos, principalmente um agonista (quando uma substância química se liga em um receptor e o ativa) do receptor da serotonina 2A e um inibidor da MAO (monoamina oxidase), que alteram a conectividade da rede cerebral e a neuroplasticidade. Talvez entre essas visões existam as perspectivas psicológicas do chá como um “psicodélico”, capaz de provocar estados não-ordinários de consciência que podem trazer o insight psicológico e a mudança.

À medida em que o uso da Ayahuasca se torna mais difundido, existem várias outras maneiras de conceituá-la ou explicá-la. Perspectivas espirituais ou religiosas podem classificar o chá como “enteógeno” ou “sacramento”, capaz de catalisar profundas experiências espirituais ou místicas. Discursos mais recentes consideram a Ayahuasca como uma “ferramenta cognitiva”, ou “ferramenta evolutiva” que pode intensificar a criatividade e ajudar nossa espécie a evoluir ou viver mais harmoniosamente. Finalmente, a Ayahuasca e outras plantas psicodélicas são, muitas vezes, chamadas carinhosamente de medicinas da floresta por usuários da contemporaneidade que desejam destacar seus efeitos de cura profunda.

 

A Planta Medicinal na Era da Psiquiatria Biológica

Enquanto meu treinamento na psiquiatria enfatizou uma abordagem “biopsicossocial” para diagnóstico e tratamento, parece claro que o campo da psiquiatria como um todo tem, nas últimas décadas, priorizado a compreensão biológica do sofrimento mental. De acordo com este paradigma, doenças mentais como depressão e esquizofrenia, bem como dependências, são consideradas doenças cerebrais resultantes de circuitos neurais aberrantes e desequilíbrios químicos. Essa perspectiva visava servir a múltiplos propósitos: 1) ajudar a psiquiatria a tomar o seu lugar no meio de outras especialidades da medicina fundamentadas nas ciências biológicas; 2) desestigmatizar a doença mental e as dependências, retratando-os como doenças crônicas tratáveis, como diabetes ou algum tipo de doença cardíaca, e não como falhas morais ou resultantes de um caráter fraco; e 3) como o público crítico argumentaria, para ajudar a promover os produtos farmacêuticos como o principal meio de abordar a doença mental e aliviar o sofrimento cotidiano.

Embora não negue que este paradigma levou a avanços no nosso entendimento sobre certas doenças mentais e que pode ser utilizado como uma lente explicativa poderosa para certos pacientes, gostaria de salientar que uma compreensão estritamente biológica da doença mental é inconsistente com a minha compreensão sobre como plantas psicodélicas funcionam para trazer cura.
O paradigma biológico coloca a pessoa em situação de sofrimento como uma vítima relativamente impotente de um cérebro doente, obscurecendo as causas sociais, psicológicas e espirituais mais profundas do sofrimento e prescreve a adesão passiva à medicação como o modo primário de cura.

Em contraste, acredito que a experiência com plantas psicodélicas nos confronta poderosamente com a realidade que existimos como seres multidimensionais complexos, com mentes cerebrais, corpos, corações e espíritos, todos conectados uns aos outros e com nossos seres naturais e sociais. A partir dessa perspectiva, a fonte do sofrimento não é apenas do cérebro; o sofrimento pode surgir da doença em qualquer uma dessas camadas de existência e ser propagado através delas de formas complexas. Isso explicaria, por exemplo, como o stress social é internalizado como sintoma psicológico ou físicos.

O Desafio de Integrar o Conhecimento


A principal implicação de cunho terapêutico em ver o sofrimento mental nesta maneira multidimensional é que os tratamentos adequados devem agora ser capazes de intervir nas múltiplas camadas da existência. O principal argumento que eu gostaria de enfatizar é que esse tipo de cura multidimensional a) requer um engajamento ativo da pessoa em situação de sofrimento (bem como em psicoterapia), e b) pode ser alcançado através do uso de plantas psicodélicas medicinais utilizando as diferentes visões conceituais descritas acima. Assim, como pesquisador clínico e acadêmico, vejo o principal desafio do campo emergente da ciência psicodélica como sendo a integração de modos de conhecimento e abordagens para a cura que, anteriormente, se encontravam desconectados e conflitantes.

Dada a predominância dos quadros biológicos dentro da Psiquiatria acadêmica, desafios significativos relacionados a essa integração manifestam-se tanto ao transmitir tais ideias a colegas e agências financiadoras, quanto ao tentar traduzir essas ideias em ensaios clínicos e protocolos de tratamento. Como estudamos e utilizamos um medicamento com múltiplos ingredientes ativos que funciona de modo complexo, multidimensional e idiossincrática quando a ciência moderna é inerentemente reducionista, ao procurar moléculas únicas que têm mecanismos biológicos de ação específicos para explicar seus efeitos terapêuticos sobre os processos patológicos que podem ser vistos, reconhecidos e medidos? Como a ciência pode explicar a interação entre as propriedades físicas de uma medicina como a Ayahuasca e seus componentes metafísicos de cura que são complementares ao seu uso, como música, dieta, oração e outros aspectos do Xamanismo? Acredito que superar esses desafios de integração representa uma grande oportunidade para o campo da ciência psicodélica e, caso bem-sucedida, pode revolucionar a maneira como pensamos e tratamos a doença mental.

 

 

Integração de conhecimento: passado e presente


Felizmente, o processo de integrar diferentes tipos de conhecimento sobre as plantas psicodélicas já foi iniciado. Populações indígenas ao redor do mundo possuem séculos de conhecimento relacionados ao uso de plantas psicoativas para fins espirituais, religiosos e de cura. Relatos antropológicos e interdisciplinares e o engajamento direto entre cientistas, usuários ou praticantes dos rituais e povos indígenas (por exemplo, a Conferência Mundial de Ayahuasca) trazem as partes interessadas com diferentes perspectivas e tipos de conhecimento ao diálogo uns com os outros. No Ocidente, existem modelos “psicodélicos” e “psicolíticos” de uso de substâncias psicodélicas ao lado da psicoterapia para tratar transtornos de humor e dependência de substâncias que remontam aos anos 1950. Esses modelos serviram de base para ensaios clínicos recentes e podem ser modificados e atualizados à medida que se ganha mais conhecimento e que este vá sendo integrado.

A onda atual de pesquisa psicodélica tem sido caracterizada por trazer avançadas ferramentas científicas e métodos para suportar o estudo de substâncias psicodélicas, incluindo a neuroimagem e farmacologia molecular, bem como uma metodologia robusta de ensaio clínico utilizando o controle do placebo duplo-cego. Ao crédito destes investigadores, essa pesquisa não só trouxe novos entendimentos sobre como os psicodélicos afetam o cérebro, mas também começaram a elucidar como tais mudanças biológicas podem ser correlacionadas com a experiência psicológica e espiritual. Por exemplo, Robin Carhart-Harris demonstrou como as mudanças psicodélicas induzidas na conectividade cerebral se correlacionam com experiências específicas de tipo místico e subjetivo. Submetendo-se a tais experiências do tipo místico, tem se mostrado correlacionado com o benefício terapêutico em estudos recentes com psilocibina, o ingrediente ativo dos “cogumelos mágicos”.
O estudo de medicamentos complementares e alternativos seguiu uma trajetória similar. Nos últimos anos, estudos cada vez mais sofisticados começaram a esclarecer como práticas e modalidades que costumavam ser entendidas como espirituais ou energéticas, como meditação e acupuntura, têm efeitos biológicos e psicológicos que contribuem para seu potencial terapêutico.

Rumo à “Integração de Paradigmas Críticos”

Embora esses desenvolvimentos recentes sejam um bom sinal para o futuro da pesquisa e do tratamento com psicodélicos, eu gostaria de concluir argumentando para defender o foco sustentado entre pesquisadores e profissionais neste campo sobre integração do conhecimento, colaboração multidisciplinar e abordagens de tratamento multimodal – o que eu chamo de “integração de paradigmas críticos”.

Os atuais determinantes políticos, econômicos e filosóficos continuarão a puxar a pesquisa e o tratamento com psicodélicos em uma direção biológica. Portanto, é crítico neste tempo ressurgente para a ciência psicodélica que os pesquisadores visam integrar diferentes tipos de conhecimento e planejem protocolos de tratamento que refletem entendimentos multidimensionais complexos de como as plantas psicoativas produzem cura. Este último é crucial pois as diretrizes de tratamento são geralmente baseadas em evidências produzidas por ensaios clínicos. Assim, os modelos que nós construímos e estudamos agora estão aperfeiçoando como as plantas medicinais serão usadas na Medicina nas próximas décadas.

Vamos tratar plantas psicodélicas medicinais como qualquer outra classe de psicofármacos, tomados de modo passivo por pacientes enquanto o medicamento re-conecta com seus cérebros? Procuraremos criar formulações que minimizem seus “efeitos colaterais” psicoativos e somáticos ou purgativos, bem como foi feito com o uso psiquiátrico da ketamina? Ou esses tratamentos, de uma natureza radicalmente diferente, interagindo com nossos corpos-mente-cérebro-espírito de uma forma complexa que requer um engajamento ativo, não só durante o tempo de administração da droga, mas o antes e depois? Acredito que o entusiasmo popular por trás da cura psicodélica e os benefícios terapêuticos profundos e duradouros relatados até agora em ensaios clínicos argumentam para este último. Se a psiquiatria tradicional e as instituições sociais relacionadas irão abraçar este novo paradigma, isto ainda está para ser descoberto.

 

O autor gostaria de reconhecer as contribuições intelectuais de Jeffrey Guss M.D., Ryan Wallace M.D., e Alexander Belser M.Phil., No desenvolvimento das idéias apresentadas aqui.

FONTE


Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaboradora Mirella Mochiutti.
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BIBLIOGRAFIA

 

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Documentários Completos

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A Sabedoria do Trauma (2022)

“A sabedoria do trauma é um dos documentos mais sérios e relevantes sobre o assunto. Dr. Maté nos dá uma nova visão propondo a ideia de uma sociedade: que não deve se preocupar em corrigir comportamentos, mas sim que procura compreender as origens desses comportamentos.”

Trauma não são as coisas ruins que aconteceram com você, mas o que aconteceu dentro de você como resultado dessas coisas.

– Gabor Maté

Não deixe de mostrar seu agradecimento ao trabalho do Dr. Maté doando para a campanha no site oficial > https://thewisdomoftrauma.com/

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DMT: A Molécula do Espirito (2010)

“A Molécula do Espírito” tece uma visão sobre as pesquisas pioneiras do Dr. Rick Strassman com DMT (dimetiltriptamina) com uma abordagem multifacetada a este intrigante alucinógeno encontrado no cérebro humano e em milhares de plantas. Utilizando entrevistas com uma variedade de especialistas para explicar seus pensamentos e experiências com DMT em suas respectivas áreas, e com os relatos dos voluntários da pesquisa de Strassman, o documentário traz à luz os incríveis efeitos deste composto, e teorias de longo alcance sobre o seu papel na consciência humana.

A sutil combinação de ciência, espiritualidade e filosofia na abordagem do filme lança luz sobre uma série de ideias que podem alterar consideravelmente a forma de o homem entender o universo e se relacionar com ele.

> Documentário hospedado no Youtube com legendas automáticas

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Fungos Fantásticos (2019)

O documentário é uma jornada reveladora de lapso de tempo sobre o mundo mágico, misterioso e medicinal dos fungos e seu poder de curar, sustentar e contribuir para a regeneração da vida na Terra que começou 3,5 bilhões de anos atrás. Para elucidar a importância do Reino Fungi, as imagens são fornecidas através dos olhos de micologistas como Paul Stamets.

> Documentário dublado hospedado no Youtube

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The Substance: A descoberta do LSD (2011)

Este documentário mostra como uma única molécula mudou a sociedade norte-americana na segunda metade do século 20, alterando o estado de tudo o que tocou: religião, política, arte, medicina, guerra. É uma história já contada muitas vezes, mas “The Substance” é um filme conciso, bem-elaborado, e presidido pelo homem que descobriu os efeitos desconstrutores e cósmicos do LSD por volta em 1943: o químico suíço Albert Hofmann.

> Documentário legendado hospedado no Youtube

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O Caminho do Psiconauta (2020)

O Caminho do Psiconauta explora a vida e a obra do psiquiatra tcheco e pioneiro da psicoterapia psicodélica, Stanislav Grof.

A busca de Stan por conhecimento e insights sobre o poder de cura de estados não ordinários de consciência influenciou a disciplina da psicologia e mudou profundamente muitas vidas individuais.

A vida da cineasta Susan Hess Logeais é uma das transformadas por Stan.

O documentário utiliza a crise existencial pessoal de Susan como um portal para o impacto do micro ao macro de Grof.

  • Elenco Rick Doblin, Stanislav Grof, Susan Hess Logeais.
  • Premiações Melhor documentário estrangeiro First Hermetic International Film Festival.

> Documentário legendado hospedado no Youtube

Quando Terence McKenna fumou DMT pela primeira vez

Escrito por Graham St John (PhD, Antropólogo)

Em 1967, com 16 anos Dennis Mckenna visitou seu irmão mais velho em Berkeley (Califórnia), Terence afirmou saber o que era a pedra filosofal. “Está naquele frasco, bem ali na prateleira.”(1) Anteriormente, numa noite de primavera em 1965, Terence McKenna havia sido visitado, em seu quarto de pensão na Avenida Telegraph 2894, por “um amigo muito estranho que vivia em Palo Alto”. Até então, Terence, que havia começado seus estudos em U.C. Berkeley, estava familiarizado com os efeitos psicodélicos das sementes de Morning Glory, e havia provado LSD da Sandoz por meio do vizinho Barry Melton, guitarrista principal do Country Joe and the Fish. Mas tais experiências ofereceram pouca preparação para o que aconteceu naquela noite.

Vestindo um pequeno terno preto abotoado até a garganta, seu amigo quem Terence referia-se como “uma espécie de ameaça social e criminoso intelectual”; a quem ele tinha como sua “grande inspiração”, e era sempre aquele que “chegava lá em em primeiro lugar, seja lá o que fosse, para fazer, para não fazer, e para ser absolutamente impertinente até mesmo quando ninguém havia chegado na cena do crime”—aproximou-se com um pequeno cachimbo de vidro e algo parecido com bolas de naftalina alaranjadas. “Talvez você tenha interesse nisso.” Divertindo os que estavam reunidos na Fundação Ojai da Califórnia, com informação talvez nunca antes declarada publicamente, Terence deixou a entender que, de acordo com o relato de seu amigo, o material havia sido roubado de uma operação de pesquisa química do Exército dos EUA, no Instituto de Pesquisa de Stanford em Menlo Park (Stanford Research Institute, SRI). “Alguém conseguiu pegar do inventário um tambor de 55 galões deste material, sem que ninguém ficasse sabendo.” Terence queria saber do que se tratava. Seu amigo, que há poucos meses havia declarado que “devemos viver como se o apocalipse já tivesse ocorrido”, disse: “é chamado DMT.”(2)

“Independentemente da proveniência do material fumado, o mundo de Terence McKenna virou do avesso naquela noite de primavera em 1965”

O amigo visitante de Terence era ninguém menos que Rick Watson, que conhecemos nos capítulos anteriores. Juntamente com John Parker, Watson e Terence eram amigos próximos desde 1963 na Awalt High School em Mountain View (Califórnia). As informações de Terence parecem ser incompletas, já que o material fumado na Av. Telegraph não provia do Exército, mas sim, de acordo com o próprio Watson, do “círculo de Kesey”(3)—e assim, possivelmente do trabalho de Bear Stanley. Além disso, a referência a um “tambor de 55 galões” é uma decoração espetacular dos “containers metálicos cilíndricos de 6 polegadas de altura” que, na imaginação de Watson, poderia como também não poderia ter armazenado DMT no SRI.

Independentemente da proveniência do material fumado, o mundo de Terence McKenna virou do avesso naquela noite de primavera em 1965. Algumas tragadas da “bola de naftalina”, e ele foi imediatamente transportado para uma outra dimensão: “uma iluminação brilhante, não-tridimensional, autodeformante, linguisticamente intencionando modalidade que não podia ser negada.”

Eu afundei no chão. Eu tinha a alucinação de estar caindo para frente em fractais geométricos espaciais feitos de luz, e então eu me encontrei no equivalente à capela privada do Papa, e havia máquinas de elfo-inseto oferecendo estranhos tabletes pequenos com estranhas escrituras neles, e eu estava aterrorizado, completamente assustado, porque numa questão de segundos… todas minhas suposições da natureza do mundo estavam simplesmente sendo rasgadas em pedaços na minha frente. Na verdade, eu nunca superei isso. Essas criaturas duende de máquinas autotransformadoras, falavam num idioma colorido que condensava-se em máquinas rotativas, semelhantes a ovos Fabergé, porém feitos de cerâmica supercondutora-luminiscente e géis de cristais líquidos. Toda essa coisa era tão esquisita e tão alienígena e tão não-português-ável, que foi um choque completo—digo, o avesso literal do meu universo intelectual…! É como ser atingido por um raio noético.(4)

Duplo escorpião no final de sua adolescência, ele se considerava intelectualmente preparado para qualquer coisa. Era formado em História da Arte, um fã de Hieronymus Bosch, leu Moby-Dick, William Burroughs, todos os trabalhos de Huxley. Mas, a experiência foi tão “não-português-ável”, que o colocou num estado de choque.(5)  Abalado pelo impossível, iria em seguida viajar o globo declarando como “o mundo ordinário é quase instantaneamente substituído não apenas por uma alucinação, mas por uma alucinação cujo seu caráter alienígena é sua total alienigenidade”. Não havia “nada neste mundo”, ele alertou, que “poderia preparar alguém para as impressões que enchem a sua mente quando você entra no sensório do DMT”.(6) Igualmente a Burroughs, que havia declarado “Yagé, é isto!” a Ginsberg em 1953, McKenna entendeu que havia sido exposto ao segredo. “Existe um segredo e é isto”, ele comentou ao pessoal reunido no Ojai. “É o segredo de que o mundo não é apenas não do jeito que você pensa que é, mas que o mundo é do jeito que você não é capaz de pensar que é.” Além disso, este segredo não era “algo não narrado,” mas algo “inenarrável”. Convencido de que havia descoberto a mais poderosa de todas as alucinações (diferentemente de Burroughs que, tendo convocado o gênio “Dim-N” em 1961, concluiu que havia sido exposto ao “alucinógeno pesadelo”), McKenna, armado do conhecimento de seu status endógeno, pronunciou o “paradoxo de que o DMT é a mais poderosa, e ainda assim a mais inofensiva” de todas as substâncias.(7)

“A mente humana não é capaz de suportar tanta beleza”

Enquanto, ao longo dos anos 1980 e 1990, ele talvez tenha vivido o seu próprio paradoxo, comunicando o incomunicável, seus discursos de turnê não eram proezas miraculosas tão capazes de transpor o inefável quanto feitiços lançados através de uma palavra idiomática são contagiantes. Se, por fim, “a casa de razão constipada deve ser infiltrada pela arte, por sonhadores e por visões”,(8) ele era um para-raios para uma arte visionária e um movimento de dança neo-hermético. O que estava em jogo era “nada menos que a redenção da humanidade caída através da reespiritualização da matéria”(9), e DMT era o agente espiritual.

Enquanto isso, retornando no fim do Verão do Amor, de Berkeley para Paonia (Colorado), onde ele ainda morava com seus pais, Dennis trouxe 50 gramas de maconha, 28 gramas de haxixe, algumas doses de ácido, algo que ele pensava ser mescalina e “o Santo Graal—meio grama de DMT”. Após sua estréia com DMT em 1967, Dennis recontou em seu diário de visões “sobre uma beleza bizarra e de outro mundo, tão alienígena e ainda assim tão bonita. A mente humana não é capaz de suportar tanta beleza (e aquele tipo de beleza) sem perder suas concepções do que é a realidade”.

Embora eu não pudesse eu mesmo falar, eu ouvi, senti, vi, escutei também, talvez me comuniquei com, um som que não era um som, uma voz que era mais que uma voz. Eu encontrei outras criaturas cujo ambiente era este universo alienígena que eu tinha atravessado. Eu me tornei consciente de (talvez tenha entrado em comunicação com) consciências verdadeiramente distintas e separadas, membros de uma raça de seres que vivia naquele lugar, onde quer que este lugar seja. Estes seres pareciam ser feitos parte de pensamento, parte de expressão linguística, parte de conceito abstrato tornado concreto, parte de energia. Eu não posso dizer mais nada sobre a natureza destes seres, exceto que eles existem.(10)

A dança de Dennis com a dimetiltriptamina marcou uma profunda transição de vida, eventualmente tornando-se um etnofarmacologista cujo romance com a ayahuasca o fez abraçar a bebida visionária como a chave para evitar uma catástrofe ecológica global.(11) Enquanto destinados para carreiras dramaticamente variadas—um como frontman tagarela dos duendes de máquinas do hiperespaço, o outro como um renomado cientista—cada um dos irmãos McKenna foi profundamente impactado por suas experiências com DMT entre 1965 e 1967. E em quatro anos, eles seriam atraídos para uma importante fronteira: a Amazônia…


Este artigo é um excerto do livro de Graham St John, “Mystery School in Hyperspace: A Cultural History of DMT” (North Atlantic Books/ Evolver, 2015).
(1) Dennis J. McKenna, The Brotherhood of the Screaming Abyss: My Life with Terence McKenna (St. Cloud, MN: Polaris, 2012), 156.

(2) Terence McKenna, “Under the Teaching Tree,” apresentado na Fundação Ojai (Ojai Foundation), 1993; Terence McKenna, “Understanding and the Imagination in the Light of Nature,” apresentado em Los Angeles, 17 de Outubro, 1987.

(3) Rick Watson, comunicação pessoal, 28 de Fevereiro, 2015.

(4) Terence McKenna, “Psychedelics Before and After History,” apresentado no Instituto de Estudos Integrais da Califórnia em São Francisco, 2 de Outubro, 1987.

(5) T. McKenna, “Understanding and the Imagination in the Light of Nature.”

(6) Em Richard Gehr, “Omega Man: A Profile of Terence McKenna,” Village Voice, 5 de Abril, 1992, www.levity.com/rubric/mckenna.html.

(7) Ibid.

(8) Terence McKenna, “Shamanism, Alchemy, and the 20th Century,” apresentando em Mannheim, Alemanha, 1996.

(9) Terence McKenna, True Hallucinations: Being an Account of the Author’s Extraordinary Adventures in the Devil’s Paradise (San Francisco: Harper, 1993), 77.

(10) D. McKenna, The Brotherhood, 158.

(11) Dennis J. McKenna, “Ayahuasca and Human Destiny,” Journal of Psychoactive Drugs 37, no. 2 (2005): 231–234.

FONTE chacruna.net


Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaborador Canonical Commutation.
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Psilocibina, o cogumelo, e Terence McKenna

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A psilocibina é uma triptamina psicodélica encontrada em aproximadamente 200 tipos de cogumelos no mundo todo. Em um workshop de 1998 de título “O Vale da Novidade”, Terence McKenna a chamou de “a forma fosforilada do DMT” e observou que tanto a psilocibina quanto o DMT “particularmente pareciam afetar as porções do cérebro responsáveis pela formação da linguagem, e isso produz estados mentais realmente bizarros, pois é a sua porção de formação de linguagem que está explicando a cada momento o que está acontecendo.” Para McKenna, a psilocibina providenciava “o mesmo confronto com uma inteligência alienígena e complexos translinguísticos de informação extremamente bizarros” quanto o DMT.

O cogumelo que continha psilocibina mais estudado e discutido por McKenna, Stropharia cubensis (foi reclassificado como Psilocybe cubensis), se apresentou para ele quando tinha apenas 10 anos de idade, em uma reportagem chamada “Procurando o Cogumelo Mágico”, publicada em 13 de maio de 1957 na revista LIFE. O irmão de Terence, Dennis, com 6 anos na época, escreveu em “A Irmandade do Abismo Gritante” (2012) que ele lembra de seu irmão “seguindo nossa mãe enquanto ela fazia o trabalho de casa, chacoalhando a revista e exigindo saber mais. Mas claro, ela não tinha nada a acrescentar.”

Catorze anos depois, McKenna estava na Amazônia colombiana com Dennis e 3 amigos procurando por uma misteriosa bebida de plantas que continha DMT chamada oo-koo-hé. Ao invés disso, em La Chorrera, eles encontraram (e consumiram) Stropharia cubensis, ou como McKenna posteriormente o chamou, “o cogumelo mágico nascido das estrelas”. Em Alucinações Reais (1993) McKenna escreveu:

“Eu nunca tinha tomado psilocibina antes e fiquei impressionado com o contraste com o LSD, que parecia mais abrasivamente psicoanalítico e social. Em contraste, os cogumelos pareciam tão cheios de energia de energia élfica feliz que chegar num trance visionário era o mais interessante.”

A Psilocibina, McKenna descobriu, o permitiu dialogar com uma entidade aparentemente alienígena que ele chamou, entre outros nomes, de “o cogumelo”, “a voz que ensina” e “os Logos”. Durante o workshop de 1998 mencionado acima, McKenna explicou:

“Psilocibina e DMT invocam o Logos, apesar do DMT ser mais intenso e curto na sua duração. Isso significa que eles trabalham diretamente nos centros de linguagem do cérebro, então um aspecto importante da experiência é o diálogo interior. Assim que alguém descobre isso sobre a psilocibina e sobre triptaminas em geral, essa pessoa deve decidir se quer ou não entrar no diálogo e tentar entender o sinal que está vindo. É isso que eu tentei.”

McKenna trouxe esporos do cogumelo pra América e, com seu irmão, aprendeu a cultivá-lo. “Desde a primavera de 1975 eu não estive sem um suprimento contínuo de Stropharia”, ele escreveu em “Alucinações Reais”. Naquela primavera e verão, ele comeu Stropharia “em doses de 5 gramas secos” uma vez a cada duas semanas. De todas as experiências ele escreveu:
“O cogumelo sempre retornava ao tema de que ele era esperto em termos de evolução e então solidário para a união simbiótica ao que ele referiu como ‘seres humanos’.”

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The McKenna brothers published their mushroom-growing guide using the pseudonyms O.T. Oss and O.N. Oeric. Also shown are audiobook/foreign editions of ‘Food of the Gods’ (1992).

Psilocibina: O Guia de Cultivo para Cogumelos Mágicos (1976)

Em 1976 os irmãos McKenna publicaram um livro que fornecia “instruções precisas e sem falhas para cultivar e preservar o cogumelo mágico” – Stropharia cubensis – “não só um dos mais fortes cogumelos alucinógenos, mas também um dos mais difundidos e disponíveis. Psilocibina: O Guia de Cultivo para Cogumelos Mágicos, que era do tamanho de uma coleção moderna de poesia, começa com um prefácio de 3 páginas explicando que, apesar dos métodos no livro serem científicos, “nossas opiniões sobre Stropharia cubensis não são.” As páginas continuam:

“Nossa opinião no assunto não deriva da opinião de outros nem de nada escrito em qualquer livro, ao invés disso se baseia na experiência de tomar 5 gramas secas desse cogumelo; nesse nível um fenômeno peculiar ocorre. É o surgimento de uma relação Eu-Tu entre a pessoa que toma a psilocibina e o estado mental que ela induz . Jung chamou isso de ‘transferência’ e é uma condição necessária dos primeiros homens primitivos e suas relações com seus deuses e demônios. O cogumelo fala, e nossas opiniões são formadas pelo que ele diz eloquentemente de si próprio na noite fresca da mente.”

O prefácio então citou integralmente o cogumelo. A citação, que McKenna disse em “A Sintaxe do Tempo Psicodélico” (1993) foi uma “transcrição direta”, e que ele descreveu como “as reivindicações do cogumelo” em Alucinações Reais – incluindo esses excertos:

“Sou velho, mais velho que o pensamento na sua espécie, que é por si próprio 50 vezes mais velho que sua história. Apesar de estar na Terra por um grande tempo, eu venho das estrelas. Meu lar não é um planeta, já que muitos mundos espalhados pelo disco brilhante da galáxia têm condições que permitem a sobrevivência dos meus esporos. O cogumelo que você vê é a parte do meu corpo dada pra aventuras sexuais e banhos de sol, meu corpo verdadeiro é uma sofisticada rede de fibras crescendo no solo. Essas redes podem cobrir acres de terra e podem possuir mais conexões que as que existem no cérebro humano.”

“O espaço, veja bem, é um vasto oceano para as formas de vida que tem a habilidade de se reproduzir por esporos, já que os esporos são cobertos com a substância orgânica mais resistente que se é conhecida. Através da eternidade do tempo e espaço existem muitas formas de vida formadoras de esporos à deriva, em animação suspensa, por milhões de anos até que ocorra o contato com um ambiente propício.”

“Simbiose é uma relação de mútua dependência e benefícios positivos para ambas espécies envolvidas. A relação simbiótica entre eu e formas civilizadas de animais superiores foi estabelecida muitas vezes e em muitos lugares ao longo do vasto tempo de meu desenvolvimento.”

Uma cronologia dos cogumelos com Psilocibina

Psilocibina: O Guia de Cultivo para Cogumelos Mágicos, que em 1981 já tinha vendido “mais de cem mil cópias”, de acordo com uma edição posterior, conclui com uma seção de nome “Uma Cronologia dos Cogumelos com Psilocibina” – uma lista de observações arranjadas em 37 datas, desde 3500 a.C. até 1984, incluindo:

– c. 3500 a.C: Pinturas de xamãs dançando e segurando cogumelos na presença de vacas brancas foram feitas na superfície de pedras do Tassili Plateau, sudeste da Algeria.

– c. 1100 – 400 a.C: Rituais de iniciação chamados mistérios Eleusinos usavam trigo contaminado com ergot ou cogumelos contendo psilocibina para focar nas aspirações místicas do Mundo Antigo.

– 1502: Cogumelos com psilocibina foram servidos na festa de coroação de Moctezuma II e foram usados recreacionalmente.

– 1958: Dr. Albert Hoffman, um químico da Sandoz de Basel, Suíça, isolou dois agentes ativos e deu a eles o nome de psilocibina e psilobina, já devido ao gênero Psilocybe.

– 1975: Oss e Oeric (nesse volume) bravamente arriscaram parecer ridículos ao serem os primeiros a sugerir a origem extraterrestre de Stropharia cubensis.

 

Teoria do Símio Chapado

Em 1992 McKenna publicou O Alimento dos Deuses, que, entre outras coisas, discutia a Teoria do Símio Chapado, expandindo a história da psilocibina de um contexto temporal de 6000 anos, como mostrado acima, para pelo menos 100 mil anos em termos de Stropharia e possivelmente mais de 1 milhão de anos em termos de cogumelos que contenham psilocibina em geral. A teoria cuidadosamente, de uma forma densa e elegante, sugere que os compostos psicodélicos presentes naturalmente – especificamente a psilocibina – “tiveram um papel decisivo na emergência da nossa humanidade essencial, a característica humana de auto-reflexão.”

A teoria observa que, em pequenas doses, a psilocibina melhora a acuidade visual, especialmente a detecção de bordas. Em doses altas, existe uma estimulação do SNC (Sistema Nervoso Central), e portanto uma estimulação sexual. Em doses maiores ainda, existe a dissolução de barreiras levando a orgias, e ainda existe uma certa capacidade de falar em línguas desconhecidas. “Nossa habilidade de formação de linguagem”, McKenna escreve, “pode ter se tornado ativa através da influência mutagênica de alucinógenos trabalhando diretamente em organelas que estão preocupadas em processar e gerar sinais.”

Os cogumelos como extraterrestres

A ideia que Stropharia não se originou na Terra foi proposta logo no início da carreira de McKenna, no prefácio de Psilocibina: O Guia de Cultivo para Cogumelos Mágicos (1976), mas McKenna continou a sugerir e escrever isso – tanto brincando quanto falando sério, pungentemente – por toda a vida. “Uma das razões que me fazem gostar de utilizar esse argumento sobre o cogumelo e o extraterrestre é pra mostrar às pessoas como alguém pode pensar diferente.” Ele disse, como você pode relembrar pelos memes de Terence McKenna.

Por continuar a falar, pensar e escrever sobre o cogumelo e o extraterreste – um tópico multidisciplinar envolvendo, entre outros assuntos, evolução, nanotecnologia, biologia, botânica, química, química, psicologia, linguagem, narrativa, o eu, o outro, o outro dentro do eu, história mundial, ficção científica, cência espacial – McKenna aumentou a história da psilocibina de 1 milhão de anos para pelo menos 1 bilhão de anos, um aumento na grandeza de 1000. “Eu penso que é possível que certos compostos desses possam ser “genes semente” injetados nos eons ecológicos planetários por uma sonda espacial automatizada, vinda de uma civilização em algum outro lugar da galáxia.” McKenna escreveu em Alucinações Reais. Ele elaborou:

“Espécies que vagam pelas estrelas pode se presumir que possuam um sofisticado conhecimento de genética e funcionamento do DNA e portanto não seria necessário que possuíssem a forma que a evolução em um planeta nativo os deu. Eles bem que podem se parecer do jeito que querem. O cogumelo, com seu hábito de sobreviver por matéria orgânica não-viva e sua rede frágil como teia de aranha de micélio efêmero embaixo da terra, parece um organismo planejado com valores budistas de não-interferência e baixo impacto ambiental.”

De O Renascimento Arcaico:

“O maior problema em procurar extraterrestes é reconhecê-los. O tempo é tão vasto e as estratégias evolutivas e ambientes tão variados que o truque é saber se o contato está de fato sendo feito. O cogumelo Stropharia cubensis, se alguém conseguir acreditar o que ele diz em um de seus humores, é simbionte, e ele deseja uma simbiose ainda mais profunda com a espécie humana. Ele atingiu simbiose com a sociedade humana logo no início por se associar com gado domesticado e a partir deles com homens nômades. Assim como as plantas e animais que homens e mulheres cuidaram, o cogumelo conseguiu se inserir na família humana, para que os humanos carregassem consigo não somente genes humanos mas também esses outros genes.”

E, dois parágrafos depois:

“A pessoa deve balancear essas explicações. Agora vou parecer que não acredito que o cogumelo seja extraterrestre. Pelo contrário, isso pode ser algo que recentemente tenho suspeitado – que a alma humana é tão alienada de nós pela nossa cultura que os tratamos como extraterrestres. Para nós, a coisa mais alienígena do cosmos é a alma humana. Alienígenas estilo Hollywood poderiam chegar na Terra amanhã que o transe do DMT continuaria a ser algo estranho e continuaria a carregar mais promessas de informação útil para o futuro humano. É tão intenso assim.”

Algumas coisas que o cogumelo disse a Mckenna:

McKenna, desde 1971 até o fim de sua vida em 2000, esboçou e compartilhou um bilhão de anos da possível história do cogumelo com “os seres humanos” por meio de livros e palestras. Em um retorno possivelmente gracioso, alguém pode dizer, o cogumelo permitiu a McKenna se envolver em um diálogo – a única condição era que ele ingerisse 5 gramas secos, preferencialmente sozinho em um lugar escuro e silencioso. “Eu não necessariamente acredito no que os cogumelos me dizem; ao invés, temos um diálogo” McKenna escreveu em O Renascimento Arcaico. Abaixo são algumas amostras do grande alcance das coisas que o cogumelo disse a McKenna:

  1. “Você é um cogumelo, você vive sem muitos custos.”

McKenna disse, em Novos Mapas do Hiperespaço, que ele uma vez perguntou ao cogumelo “o que você faz na Terra?” O cogumelo respondeu: “Ouça, se você é um cogumelo, você vive sem muitos custos; além disso, estou te dizendo, essa era uma vizinhança boa até que os macacos ficaram fora de controle.”

  1. “Se você não tem um plano, você se torna parte do plano de outras pessoas.”
  2. “Ninguém sabe nada do que está acontecendo.”
  3. “A natureza adora coragem.”
  4. Como salvar o mundo

Em O Vale da Novidade, McKenna diz que uma vez alguém o desafiou a perguntar ao cogumelo como salvar o mundo. A próxima vez que ele tomou os cogumelos ele perguntou, e o cogumelo, “sem hesitar por um momento”, respondeu “cada pessoa deve ter filhos somente uma vez.” McKenna observou:

“Essa é uma ideia surpreendente. Não é zerar o crescimento populacional, isso é diminuir em 50% a população a cada 20 anos. Se as pessoas de democracias industriais com alta tecnologia se limitassem a uma criança, quase imediatamente a destruição dos ecossistemas e recursos da Terra cessariam. Nós pregamos controle populacional no terceiro mundo, mas as estatísticas mostram que quando uma mulher de primeiro mundo tem um filho, esse filho irá consumir entre 800 a 1000 vezes mais recursos em sua vida o que uma criança nascida em Bangladesh, ou outro local de terceiro mundo.”

  1. Teoria Timewave

Em termos do impacto do trabalho de McKenna, esse foi provavelmente o ensinamento mais importante do cogumelo. McKenna elaborou os aspectos dessa teoria em Alucinações Reais:

“Os tempos estão relacionados consigo mesmos – as coisas acontecem por uma razão e não é uma razão casual. Ressonância, o misterioso fenômeno em que uma corda vibrante parece magicamente invocar uma vibração semelhante em outra corda ou objeto que está desconectado fisicamente, se sugeriu como um modelo para a propriedade misteriosa que relaciona um tempo à outro apesar de poderem estar separados por dias, anos, ou até milênios. Eu me convenci que existe uma onda, um sistema de ressonâncias, que as condições acontecem em todos os níveis. Essa onda é fractal e auto-referencial , assim como muitas das mais interessantes novas curvas e objetos sendo descritos nas barreiras da pesquisa matemática. Essa onda eletromagnética (timewave) é expressa através do universo em um número de níveis extremamente discretos. Ela causa que átomos sejam átomos, células sejam células, mentes sejam mentes, e estrelas sejam estrelas.”

Mas o cogumelo não contou tudo – até mesmo nada – que ele queria saber. Em Novos Mapas do Hiperespaço, McKenna descreveu seu relacionamento com o cogumelo:

“As vezes é bem humano. Minha aproximação a isso é Hassídica. Eu deliro à ele, ele delira à mim. Nós discutimos sobre o que será expelido de repente e o que não será. Eu digo ‘bem, olhe, eu sou o propagador, você não pode deixar de me mostrar coisas’, e ele diz ‘mas se eu mostrasse um disco voador por 5 minutos, você descobriria como funciona’, e eu digo ‘bem, vamos lá’. Ele tem muitas manifestações. As vezes é como Dorothy de Oz; as vezes é como um tipo de penhorista extremamente detalhista.”

As coisas que o cogumelo não disse a McKenna incluem o que acontece com a consciência humana após a morte biológica (“O Logos não quer ajudar aqui”) e o que ele realmente é por si só. McKenna explicou posteriormente em “Voz do Cogumelo”:

“A coisa mais assustadora pra dizer para ele é ‘me mostre o que você realmente é por si só’. Nesse ponto, ele começa a se mostrar, e você não consegue suportar. Após 40 segundos você diz ‘desculpe por perguntar’. Sabe, certifique-me, pois você tem um senso, meu deus, essa coisa é o que parece ser. É uma inteligência galáctica. Tem bilhões de anos de existência. Tocou 10 milhões de mundos. Ele sabe a história de 150 mil civilizações.”

O tópico da próxima semana será Cannabis. “Meu interesse na Cannabis é intenso e pra vida toda, devo dizer” McKenna disse em “Triálogo da Cannabis” em 1991, chamando-a de “um assunto que interessa um vasto número de pessoas, apesar de ser pouco discutido e de fato parece ter ganhado o status de tabu na sociedade civilizada.”

livros que amo muito
Livros do Mckena foram publicados aqui no Brasil, todos pela Editora NOVA ERA. Hoje em dia é raridade encontrar um deles em algum sebo. Mas temos estes três para você baixar e ler em casa. Não deixe de entrar em nossa Biblioteca Virtual

 

FONTE VICE

Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaboradora Raphaela Lancellotti.
Seja você também um colaborador, entre em contato:

equipemundocogumelo@gmail.com

A Segunda Revolução Psicodélica, Parte 3 – Terence Mckenna, o Surgimento do Xamã Vegetal

Esse artigo é a terceira parte de uma série de 6. Para ler a segunda parte, clique aqui.

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Metaforicamente, o DMT é como um buraco-negro intelectual, pois uma vez que alguém saiba sobre ele, é muito difícil para outros entenderem sobre o que se está falando. Ninguém consegue ser ouvido. Quanto mais o indivíduo consegue articular sobre o que essa experiência é, menos os outros são capazes de entender. É por isso que eu creio que as pessoas que obtém a iluminação são silenciosas. Elas são silenciosas pois nós não podemos compreendê-las. O porquê do fenômeno do êxtase psicodélico não ter sido examinado por cientistas, caçadores de emoções, ou qualquer outra pessoa, eu não tenho certeza, porém recomendo a sua atenção para isso.

Terence Mckenna, O Retorno à Cultura Arcaica

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A publicação de PIHKAL TIHKAL por Alexander e Ann Shulgin resultou em uma variedade imensa de novos psicodélicos (veja a segunda parte) que estão agora disponíveis em grande escala graças à escassez do LSD após a batida policial no silo de mísseis Y2K em Kansas (veja a primeira parte). Entretanto, ao contrário da primeira revolução psicodélica, que vou iniciada primeiramente pelo psicodélico artificial LSD, e em menor escala, pela mescalina, psilocibina e DMT sintetizados laboratorialmente [1], (como listado na introdução do “A Experiência Psicodélica: Um manual baseado no Livro Tibetano dos Mortos” por Leary, Metzner e Alpert em 1964), a segunda revolução psicodélica não pode ser puramente definida por drogas “sintéticas”. Embora a falta de LSD tenha popularizado o 2C-B, 2-C-T-7, 5-MeO-DIPT, e outros compostos psicodélicos laboratoriais antes desconhecidos, ela também popularizou um renascer no interesse de enteógenos naturais das plantas [2] e a popularização do previamente pouco conhecido conceito de xamanismo vegetal e a ideia que essas plantas não são tanto “drogas psicodélicas”, mas sim, “medicinas espirituais”.

O primeiro volume de Shulgin, “PIHKAL: Uma história de amor química” focou no trabalho de Sasha com a família de compostos da fenetilamina, e enquanto essa inclui muitos outros psicodélicos verdadeiros como a mescalina e os inúmeros compostos 2C-X, foi seu trabalho com os empatógenos famosos como o MDMA e o MDA [3] que trouxeram o trabalho de Sasha para a atenção da cultura “rave” no início dos anos 90. O segundo volume de Shulgin, “TIHKAL: A continuação” [4], entretanto, explorou o trabalho de Sasha com as triptaminas, a classe de compostos que inclui os neurotransmissores importantes como a serotonina e a melatonina, psicodélicos/enteógenos naturais como a psilocibina, LSD e ibogaína, e os psicodélicos endógenos, como o DMT e o 5-metóxi-DMT. 

Considerado por muito tempo como o santo graal dos psicodélicos, o DMT era comparativamente raro no mercado ilícito de drogas até mesmo nos anos 60. Sua escassez era acompanhada de sua reputação assustadora – Grace Slick, o cantora do Jefferson Airplane, uma vez disse que “ácido é como ser sugado por um canudinho, DMT é como ser atirado de um canhão”. Ele tinha praticamente desaparecido da cultura psicodélica geral muito antes do lançamento do TIHKAL. Entretanto, não foi a publicação do TIHKAL, mas um par de livros em 1992 (um anos após o PIHKAL) por um autor pouco conhecido sem nenhum treinamento em química orgânica ou antropologia cultural que iriam ser os responsáveis por popularizar o DMT na cultura psicodélica contemporânea. Mas ao contrário do uso do DMT nos anos 60, que utilizou o DMT de forma intravenosa ou fumada, o interesse primário do autor no DMT foi como um ingrediente ativo em uma bebida amazônica obscura que naquele tempo era ainda conhecida pelo seu nome hispânico yagé, diferentemente de como é conhecida agora: uma aproximação fonética de um de seus inúmeros nomes indígenas – Ayahuasca.

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Quando o “O Retorno à Cultura Arcaica” (uma coleção de ensaios e palestras de Terence McKenna) e o “Alimento dos Deuses” (sua obra prima em plantas psicodélicas que incluiu a teoria do símio chapado) foram publicados em 1991, haviam se passado pelo menos duas décadas desde que Terence e seu irmão mais novo Dennis McKenna tinham escrito “A Paisagem Invisível” (1975), um estranho volume alquímico descrevendo uma expedição à Amazônia em busca do oo-ko-heé, um rapé xamânico que continha DMT. (Terence estava procurando uma fonte natural para a experiência sintética do DMT, que como um linguista e psiconauta, ele tinha se tornado muito envolvido). Esse primeiro livro não teve grande tiragem e se tornou uma espécie de item de colecionador para psiconautas, devido à extraordinariedade da expedição e as inúmeras ideias radicais contidas em suas páginas. (Essas ideias incluiram uma compilação recente de especulações sobre tempo e casualidade, que Terence McKenna desenvolveu em sua “Teoria da Novidade”, assim como uma previsão da chegada do eschaton: uma singularidade no fim dos tempos, que ele previu que iria acontecer em Dezembro de 2012. [5] Uma vez que a expedição tenha falhado em seu objetivo de encontrar o rapé de DMT que eles estavam procurando, os irmãos Mckenna encontraram no seu lugar exemplares de Psilocybe cubensis muito psicodélicos, e em um parte menos reconhecida do trabalho de Terence Mckenna, trouxeram os esporos desses cogumelos de volta para os Estados Unidos e ficaram os anos seguintes desenvolvendo métodos efetivos de cultivo indoor, cujos resultados foram publicados no livro popular Psilocybin: A magic Mushroom Growers Guide. [6]

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Com esse trabalho – a introdução de plantas enteógenas facilmente disponíveis [7] e que qualquer um poderia cultivar em forma de livro de instruções – os irmãos McKenna mereceriam uma menção, mas esse seria apenas o começo de carreiras extraordinárias na arena psicodélica para ambos. Dennis McKenna voltou para a universidade, e se tornou um etnofarmacologista respeitado. Durante a última década de sua vida – e agora na primeira década do século 21 – o filósofo e engenheiro memético Terence McKenna (1946 – 2000) se tornou o mais popular e reconhecido porta-voz para os psicodélicos desde Timothy Leary [8]. Foi Terence o mais responsável por evoluir a cultura psicodélica contemporânea ao seu estado atual, graças a seus escritos e palestras, muitas das quais estão sendo transmitidas em podcasts na internet desde sua morte – um meio de comunicação que ele abraçou entusiasticamente durante sua vida como uma nova forma de comunicação e expressão artística, e que agora acabou imortalizando-o.

A publicação de O Retorno à Cultura Arcaica e O Alimento dos Deuses coincidiu de fato sincronisticamente com os primeiros anos da Internet e da música eletrônica, e enquanto Timothy Leary foi um pioneiro da rede, foi Terence que a cultura “rave” dos anos 90 abraçou enfaticamente. Nos últimos anos de sua vida Terence McKenna foi com frequência o mais o palestrante mais popular e esteve nas principais conferências, assim como uma atração principal nas raves – auto declarando-se “Voz dos Cogumelos” ele tinha a habilidade de fazer uma sala inteira de dança se sentar durante os intervalos dos DJs para escutar sobre a beleza dos psicodélicos, por horas a fio às vezes. Sua capacidade extraordinária para o discurso e a descoberta de uma audiência com frequência muito cativa coincidiu mais uma vez com a revolução da Internet, e muitas conferências de Terence eram tecnologicamente evoluídas para a época (há um relacionamento de longa duração entre a comunidade psicodélica e a do vale do silício [9]), resultando em um número incrível de gravações e podcasts, muitas vezes mixados em músicas eletrônicas.

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A morte inesperada e fora do tempo aos seus 53 anos também coincidiu com a seca do LSD que se seguiu à batida policial do silo de Kansas em 2000, e o período em que os psiconautas foram forçados a considerar novas opções psicodélicas. Cogumelos mágicos tiveram sua importância aumentada na cultura psicodélica, e o interesse cresceu tanto para a ayahuasca, que começou a aparecer na américa do norte em meados de 1990, e o DMT, que tinha sido escasso por décadas, também começou a se tornar mais disponível a partir de 2000. Esse interesse nas ideias centrais de Terence, juntamente com sua popularidade nas comunidades de música eletrônica e de tecnologia – aumentaram a influência de Terence exponencialmente quando ele morreu. Um processo amplificado por sua previsão da chegada do escathon em 21 de Dezembro de 2012 – a previsão que ironicamente (e infelizmente) ele não viveu para ver.

Agora por mais de uma década desde sua morte, e mais de um ano depois dos eventos da histeria e esperança do ano 2012 que ele ajudou a criar, não há como negar a influência de Terence McKenna na cultura psicodélica contemporânea, ou até mesmo na cultura popular por si mesma. A veneração dos “cogumelos mágicos” e a reintegração da figura da Divindade; o interesse atual no DMT em suas diversas formas; a com frequência debatida suposição que os enteógenos naturais são superiores à compostos artificiais ou sintéticos, mais notavelmente o LSD; nossos conceitos sobre espíritos das plantas, xamanismo, e o aumento do turismo da ayahuasca; a ideia moderna do “renascimento arcaico” dos festivais para revigorar a espiritualidade na sociedade ocidental; a fusão dos psicodélicos e da cultura virtual; abduções e o fenômeno UFO; e claro, o fenômeno do ano de 2012: esses foram todos memes nascidos ou popularizados pelas ideias e interesses de Terence McKenna, mesmo que ironicamente, ele tenha vivido pouco para ver a mudança que ele criou em diversas formas.

Na década que se seguiu à sua morte, os pontos focais do trabalho da vida de Terence Mckenna se tornaram, para o melhor e o pior, algo como uma planta baixa para o surgimento da cultura global neo-tribal e neo-xamânica, evidenciada no Burning Man, no festival Boom!, e em outros eventos intermináveis que as representam. As ideias de Terence influenciaram a moda psicodélica, as músicas que escutamos, os psicodélicos que utilizamos (e o modo como o utilizamos), os países que visitamos, até mesmo a maneira que usamos a internet. Sua previsão de uma singularidade no fim dos tempos de nossas vidas (senão de sua própria) forneceu um códex moderno para a antiga tradução Maia, e ajudou a gerar o interesse mundial no que antes seria uma data arqueológica insignificante. Mas agora que nós estamos no outro lado do Omega Point de 2012 e tudo ainda está de pé, é a popularização da ayahuasca feita por Terence que é digna de nossa atenção.

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Durante a última década o aumento do interesse na ayahuasca tem sido extraordinário, e desde o advento do LSD nos anos 60, nenhum psicodélico capturou a imaginação artística e espiritual da mesma maneira, e o uso da ayahuasca, mesmo que muito menor que o número de usuários do LSD nos anos 60, se tornou comum o suficiente para penetrar a mídia. (Marie Claire, uma revista feminina popular, é a última publicação incomum, com um artigo sobre os círculos da ayahuasca [10]). Conhecida previamente na cultura psicodélica através do livreto de William S. Burroughs e Allen Ginsberg chamado The Yage Letters publicado em 1963, foi a popularização de Terence McKenna dessa bebida xamânica amazônica incomum  nos anos 1980-1990 que daria origem à uma “cultura da ayahuasca”. Quando os primeiros xamãs sul-americanos começaram a visitar a Europa e os EUA nos anos 90, o uso da ayahuasca se espalhou rapidamente no século 21, um processo que foi acelerado pela escassez do LSD, forçando os psiconautas a procurarem por outros caminhos para experiência psicodélica. (Há também ocorrido um interesse renovado no San Pedro e no Peyote, enquanto formas fumáveis do DMT têm reaparecido nos mercados negros pela primeira vez em décadas, juntamente com receitas para extração de plantas que são comumente disponíveis na internet.)

Proibição, pelo que parece, apenas gera diversificação, e uma diferença notável que separa a Segunda Revolução Psicodélica da Primeira é a imensa variedade de psicodélicos e empatógenos, tanto naturais como sintéticos, que estão agora disponíveis.

A cultura da ayahuasca por si só começou, em muitos sentidos, a se desenvolver fora da comunidade psicodélica tradicional, muitos na comunidade do yoga por exemplo, abraçaram a ayahuasca, com centros independentes de yoga ao redor do mundo hospedando xamãs sul-americanos e suas cerimônias que atraem muitos indivíduos com pouca ou nenhuma conexão com a comunidade psicodélica, uma vez que eles não vêm a ayahuasca como uma droga psicodélica, mas uma medicina sacramental.

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Enquanto a ayahuasca contém DMT, uma substância da lista 1 (substâncias sem nenhum uso médico e psicológico), juntamente com o LSD, o uso da ayahuasca não tem sido (até agora) perseguido nos Estados Unidos. Leis federais favoráveis em 2000 em relação às igrejas União do Vegetal (UDV) e o Santo Daime, que utilizam ayahuasca em suas cerimônias, foram interpretadas como um furo na lei para muitos, e foi sem dúvida um fator no aumento da popularidade da ayahuasca. Enquanto mais e mais celebridades ressaltam suas experiências de mudança de vida com a bebida amazônica, e mais e mais psiquiatras e psicólogos especulam sobre os benefícios da experiência, o aumento da retórica em torno da ayahuasca lembra a excitação que o LSD inspirou quando foi tornado ilegal em 1966.

É virtualmente impossível quantificar a experiência psicodélica; a ayahuasca ganhou uma reputação especial devido à visões coloridas que induz, enquanto o pináculo do LSD é geralmente representado como uma dissolução na “luz branca” mística. Quando comparados sob uma perspectiva estritamente fenomenológica, ambos possuem reputação por serem capazes de induzir o paraíso ou o inferno, e ambas experiências são longas e fisicamente desgastantes. Ambos são descritos como enteógenos reais, capazes de induzir catarses espirituais de mudança de vida; ambos tem sido bem-sucedidos no combate ao vício; e ambos se originaram como medicinas. (O LSD foi originalmente um medicamento legal). Muitas das propriedades extraordinárias atribuídas a um deles – telepatia, um aumento na sincronicidade diária, inspiração artística, conexões profundas com a natureza, experiências místicas e transpessoais – também foram atribuídas ao outro. Então onde está a diferença entre essas duas “Revoluções Psicodélicas”, ou simplesmente nós trocamos altas dosagens de um potente enteógeno fabricado em um laboratório na Suíça por um equivalente natural colhido nas florestas amazônicas?

A diferença reside não muito na fenomenologia da experiência psicodélica interna, mas no conteúdo externo; a experiência do xamã e seus ícaros, e o ritual contido nas próprias experiências. Quando o uso do LSD explodiu em 1960 após ter se tornado ilegal, o que faltou essencialmente na Primeira Revolução Psicodélica foi um ambiente seguro para a experiência. Muitas pessoas jovens caíram em situações perigosas, e as consequências culminaram na ilegalidade dos psicodélicos. O que nós aprendemos da primeira revolução psicodélica é que no ocidente, faltam as escolas místicas necessárias para integrar com sucesso e benefícios o uso dos psicodélicos em nossa sociedade. Muito da evolução da cultura psicodélica contemporânea tem sido um processo de investigação e integração da sabedoria e técnicas antigas com a experiência psicodélica anedótica que foi gerada nos últimos 50 anos.

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Primeiramente procurando conhecimento e direção em estados alterados de consciência dos Gurus e Rinpoches da Índia, então os xamãs da bacia Amazônica, e agora de uma variedade ampla do xamanismo tradicional de inúmeras culturas, a cultura psicodélica moderna se adaptou aos enteógenos disponíveis, e moveu-se de bom grado entre o laboratório e o conhecimento ancestral das plantas na procura da experiência enteógena não diluída. O chamado entusiástico de Terence McKenna do xamã como um guia psicodélico espiritual (em oposição ao curador homeopático que pode estar mais próximo à realidade) resultou em milhares de americanos e europeus viajando para o Peru, Ecuador e o Brasil na procura dessa orientação, e uma onda de xamãs sul-americanos migrou para costas estrangeiras – uma inovação psicodélica que inevitavelmente gerou uma série de imitadores locais, e infelizmente tornou a palavra “xamã” uma das mais abusadas no vocabulário atual. Canções guias da ayahuasca, chamadas de ícaros podem agora serem encontradas misturadas em música eletrônica, a palavra icaros impressa em vestimentas de festivais, e o hábito de participar de círculos de ayahuasca começou a se tornar um status “cult” em locais diversos como Asheville, Brooklyn, Los Angeles, Portland, e Santa Fe (somete para citar algumas).

Durante esse mesmo período, universitários estudando a história do ocidente e antropologia tiveram que reconciliar o fato de que muitas das maiores civilizações e religiões mundiais – incluindo os gregos, hindus e budistas – utilizaram plantas psicodélicas. Essa é uma ideia que tem sido extremamente impopular, mas é agora incrivelmente óbvia para as gerações de antropologistas e mitologistas psicodélicos nascidos desde os anos 60, muitos dos quais estão familiarizados com o trabalho de Terence McKenna. É agora amplamente aceito e concluído que a ayahuasca amazônica (e o dmt-rapé) pode ser considerada o último enteógeno sacramental [11] de uma grande era planetária marcada por pelo menos cinco culturas enteogênicas distintas, e que duraram cada uma pelo menos dois mil anos; as outras sendo o Soma nos hindus Vedanta (Índia), os kykeon dos mistérios de Elêusis (Grécia), a cultura do San pedro que teve seu pico em Chavín de Hunatar (Peru), e a variedade impressionante de psicodélicos (cogumelos cubensis, sementes de glória da manhã, cacto peyote, e toxinas de rãs) utilizados pelas culturas Maia, Tolteca e Asteca (México). [12] O xamanismo vegetal é agora reconhecido como sendo o modelo xamânico primário mundialmente, e não um “substituto vulgar do trance puro” para os métodos xamânicos tais quais os tambores e cânticos, como Mircea Eliade [13] supôs em seu texto clássico de 1951 chamado Shamanism: Archaic Techniques of Ecstacy. (Eliade mudou de opinião no final de sua vida, falando para Peter Furst em uma entrevista não muito antes de sua morte que nos anos 60 os antropologistas não tinham uma perspectiva psicodélica suficiente para reconhecer a importância dos variados ritos locais, então a evidência simplesmente não estava lá [14].)

Terence McKenna foi um dos primeiros escritores que realmente juntou a história psicodélica da humanidade e a ligação da ayahuasca com nosso passado remoto. Foram seus escritos que ajudaram a espalhar a beleza, mito e magia do povo e cultura amazônica para uma audiência maior, e apesar de sua associação com o fenômeno 2012 e a triste mescla dos dois, sua defesa das plantas enteógenas e a reintrodução do processo xamânico no mundo ocidental modeno serão sempre lembradas como sua contribuição fundamental para a cultura psicodélica. Até mesmo sua teoria do símio chapado – a ideia que a linguagem falada evoluiu quando nossos ancestrais primatas desenvolveram uma dieta que incluía cogumelos com psilocibina – pode ser algum dia popular e ser levada a sério. Sua morte com a idade de 53 anos roubou da cena psicodélica seu porta-voz mais carismático, e garantiu a imortalidade de Terence McKenna graças à tecnologia emergente da internet que ele adotou entusiasticamente, e será lembrado como um dos primeiros pod-casters famosos. [15]

[1] DOM ou STP, que também pode ser incluído nessa lista, não apareceu até 1966.

 

[2] Enteógeno (Despertando o Deus Interior); uma planta ou composto que pode induzir uma experiência mística, e é com frequência considerado sagrado.

 

[3] que são psicodélicos somente em altas dosagens (geralmente)

 

[4] Triptaminas que eu conheci e amei na sigla em inglês

 

[5] A data original da previsão de Terence McKenna foi 16 de Dezembro de 2012 (coincidindo com o que seria seu 66o aniversário); Terence mais tarde mudou a data para o dia 21, coincidindo com o calendário Maia.

 

[6] Sob os pseudônimos OT Oss e ON Oeric

 

[7] Enteógeno (Despertando o Deus Interior); uma planta ou composto que pode induzir uma experiência mística.

 

[8] e o mais controverso desde Leary!

 

[9] Veja What the Doormouse Said: How the Sixties Counterculture shaped the Personal Computer Industry (2005) por John Markhoff.

 

[10] http://www.marieclaire.com/world-reports/ayahuasca-new-power-trip

 

[11] Enquanto ambos Soma Kykeon desapareceram há muito tempo juntamente com suas identidades reais desconhecidas, a cultura do San Pedro no Peru ainda sobrevive de certa maneira, porém em uma forma sincrética cristã muito diluída, assim como os remanescentes de cultos do cogumelo no México, mas a cultura e uso amazônicos da ayahuasca representa a maior cultura enteogênica ainda em efeito no planeta, e permaneceram inalteradas até mesmo no mundo pós segunda guerra. Ironicamente, as igrejas da ayahuasca no Brasil (Santo Daime e União do Vegetal) alcançaram níveis de legalidade graças à suprema corte definindo-as também como religiões sincreístas. Essas igrejas atribuem a descoberta da ayahuasca para seus fundadores mestiços, e não para as tribos indígenas amazônicas.

 

[12] Um argumento que pode ser desenvolvido é que com a invenção do LSD, e agora com milhares de research chemicals disponíveis, nós estamos no processo de criação da 6a – e pela primeira vez global – cultura enteogênica.

 

[13] O pai da Fenomenologia de Religião, e o homem que cunhou o termo “xamã” (do sibérico) para designar curandeiros amazônicos.

 

[14] “O que nós sabíamos sobre essas coisas em 1950?” confessou Eliade para Furst.

 

[15] Pesquise por “Terence McKenna” no Google e você terá aproximadamente 1.6 milhões de resultados, muitos deles sendo podcasts e gravações.

Fonte

DMT e seus Efeitos – Análise Completa da Substância

DMT – Tudo sobre a molécula

A Molécula de DMT

Início dos Efeitos: 15 – 60 segundos
Duração: 5 – 20 minutos
Duração dos efeitos perceptíveis após o pico : 15 – 60 minutos

Dosagem limiar : 2 – 5 mg (2 – 5 miligramas)
Dosagem leve: 10 – 20 mg
Comum : 20 – 40 mg
Forte : 40- 60 mg
Pesada: 60+ mg

DMT é um psicodélico encontrado naturalmente da família da triptamina. Ele trabalha como um antagonista parcial para diversos receptores serotoninérgicos. o DMT tem uma alta afinidade com o receptor de serotonina 5-HT2A no cérebro onde ele imita os efeitos da serotonina (5-hydroxitriptamina, ou 5-HT). Sua presença é muito comum no reino das plantas e ocorre em quantidades de traço nos mamíferos (incluindo humanos) onde ele funciona como um neurotransmissor muito raro.

Ele trabalha como um psicodélico fumável de curta duração que gera uma viagem curta de somente cinco a dez minutos de duração. Apesar dessa curta duração, é ainda assim universalmente considerado por qualquer que o tenha experimentado em um ambiente positivo como uma das mais incríveis experiências que um ser humano poderia ter.

A experiência é vastamente diferente de tudo o que uma pessoa experimentou previamente, e as circunstâncias mais sóbrias possíveis nunca poderiam se assemelhar em termos de profundidade e intensidade.

O DMT  é degradado pela enzima monoamina oxidase através de um processo chamado desaminação, e portanto é uma molécula inativa se tomada oralmente, a não ser que combinada como um um inibidor da monoamina oxidase (MAOI) tais como a harmalina ou um inibidor reversível da monoamina oxidase A (RIMA) como por exemplo a harmina. É assim que o DMT é ingerido tradicionalmente nas tribos sul-americanas, através de um chá conhecido como Ayahuasca, que possui uma análise completa aqui (em breve).

A experiência como DMT contém uma gama completa e complexa de efeitos que são baseados no potencial dos efeitos subjetivos, que podem ser encontrados aqui. A molécula agora será descrita e analisada.

Efeitos Físicos do DMT

Os efeitos físicos do LSD podem ser divididos em dois componentes, em que ambos são progressivamente intensificados proporcionalmente à dosagem. Eles estão descritos abaixo e geralmente incluem:

  • Sensações táteis espontâneas – Os efeitos corporais do DMT podem ser descritos como um brilho agradável, quente e macio. Ele mantém uma presença consistente que rapidamente aumenta e atinge seu limite uma vez que o pico é atingido. Ele é capaz de se tornar muito poderoso em dosagens altas e permanece por até meia hora uma vez que a viagem tenha acabado.
  • Mudanças na gravidade – Em dosagens altas, sensações de ser catapultado por longas distâncias e em velocidades aceleradas são muito comuns.

Efeitos Cognitivos do DMT

Os efeitos mentais do DMT podem ser descritos como extremamente sóbrios e claros em seu estilo, quando comparados com outros psicodélicos comumente usados como o LSD, psilocina ou até mesmo Ayahuasca. Ele contém uma quantidade limitada de efeitos cognitivos típicos.

Os efeitos mais proeminentes geralmente incluem:

  • Aprimoramento do estado mental atual
  • Remoção do filtro cultural
  • Sensações de fascinação, importância e despertar
  • Rejuvenescimento
  • Comunicação direta com o subconsciente
  • Supressão, perda e morte do ego
  • Estados de união de interconexão.

O DMT em sua forma fumável é talvez o psicodélico psicologicamente menos intoxicante. É devido à essa falta de intoxicação mental que muitas pessoas descrevem essa molécula não como uma viagem induzida por uma substância, mas uma experiência genuína que está realmente acontecendo com eles. É interessante notar que muitas pessoas reportam que o DMT contém menos insights pessoais em comparação com psicodélicos oralmente ativos como ayahuasca, LSD e psilocibina, devido aos seus efeitos de curta duração.

Efeitos Visuais do DMT

Aprimoramentos

O DMT apresenta uma gama completa de aprimoramentos visuais que geralmente incluem:

  • Aumento na acuidade visual
  • Aprimoramento das cores
  • Aprimoramento do reconhecimento de padrões.

Distorções

Em relação às alterações e distorções visuais, os efeitos experimentados são detalhados abaixo:

  • Efeitos de distorção (Derretimento, Respirar, Fundir e Fluir) – Em comparação com outros psicodélicos, esse efeitos pode ser descrito como altamente detalhado. As distorções são lentas e suaves em seu movimento, e estáticas na sua aparência.
  • Rastros
  • Imagens persistentes
  • Repetição de texturas
  • Mudança de cores
  • Divisão do cenário

Geometria

A geometria visual que é apresentada durante a viagem pode ser descrita como mais similar em aparência à psilocibina que o LSD. Ela pode se compreensivelmente descrita como estruturada em sua organização, orgânica em seu estilo geométrico, intrincada em sua complexidade, maior em tamanho, mais rápida e fluida em movimento, colorida no esquema, brilhante nas cores, proporcionais e com bordas afiadas e com cantos angulares e arredondados. Em dosagens elevadas, a geometria tende a ser significativamente mais semelhante ao resultado dos estados visuais 7B do que 7A.

A geometria presente no DMT fumável é com frequência considerada a geometria mais profunda, intrincada e complexa encontrada em toda a experiência psicodélica. Em comparação com o DMT oralmente ativo (ayahuasca), elas são mais digitais em sua aparência e contém um esquema de cores que é similar ao LSD, mas são estruturadas em um estilo semelhante à altas dosagens de psilocibina.

O DMT é o mesmo princípio ativo da Ayahuasca, um chá consumido por índios sul-americanos.

Estados Alucinatórios

  • O DMT produz uma série de estados alucinatórios elevados que são mais consistentes e reproduzíveis do que qualquer outro psicodélico conhecido. Esses efeitos incluem:
  • Alucinações externas
  • Alucinações internas – Esse efeito particular contém normalmente alucinações com cenários, ambientes, conceitos e contatos com entidades autônomas. Eles são mais comuns em ambientes escruos e podem ser descritos como internos em sua manifestação, lúcidos em sua credibilidade, interativos em seu estilo e quase exclusivamente de natureza religiosa, espiritual, mística ou transcendental.

Efeitos Auditivos do DMT

Os efeitos auditivos do DMT são comuns em sua ocorrência e exibem uma gama completa de efeitos que comumente incluem:

  • Aprimoramentos
  • Distorções
  • Alucinações

Estágios Progressivos do DMT

Agora que o básico de toda viagem foi discutido, nós podemos adentrar nos quatro diferentes estágios de uma experiência com DMT e explicar como elas são.

O Primeiro Estágio: A Decolagem

O primeiro passo de uma viagem com DMT é o aumento da intensidade dos efeitos, até o rompimento com a realidade. Isso é algo que parece ter pelo menos alguns diferentes meios de se apresentar para um viajante assim que ele começa a fumar o DMT.

A primeira coisa que o usuário nota é uma gama de aprimoramentos visuais extremamente distintos e mais notavelmente, um aumento na acuidade visual e intensidade das cores.

Isso é seguido por efeitos de geometria nível 3, os efeitos corporais incluem seu corpo ser agradavelmente dobrado em todas as direções ao mesmo tempo a partir do interior.

Esse fenômeno é geralmente acompanhado por um som crepitante e um tom extenso que aumente de volume e frequência proporcionalmente à intensidade dos efeitos visuais. Esse som é apenas um entre outros efeitos de “decolagem” experimentados.

Entre eles:

  • sensações de ser repentinamente empurrado através de uma membrana;
  • o ambiente em que você está se divide em dois deixando um abismo infinito escancarado, cheio de efeitos visuais de movimentação extremamente rápida, assim que você se separa de seu corpo.
  • Aumento da geométrica visual até o ponto em que ela se torna tão envolvente que nada do ambiente é reconhecido mais.

Isso acontece no espaço de 30 segundos a um minuto, e leva diretamente para o segundo estágio de uma viagem de DMT. Uma aproximação do som crepitante e do tom agudo pode ser escutada abaixo:

O Segundo Estágio: A Sala de Espera

Quase que imediatamente após um usuário ter fumado DMT suficiente para “decolar”, ele com frequência se encontra passando um breve período de tempo no que é descrito como uma “sala de espera psicodélica”, ou uma “tela de carregamento”. Essa sala pode ter qualquer forma, mas geralmente toma a forma de um túnel ou um espaço limitado tomado de geometria visual que dura aproximadamente 10-20 segundos e passa uma sensação distintivamente diferente do resto da viagem.

Essa sensação distinta leva a alguns usuários especularem que esse quarto, ou momento, é alguma forma de “carregamento” da viagem, e é durante esse momento que a viagem que você tem pela frente está sendo gerada e planejada.

O quarto de espera se constrói rápido mas imediatamente começa a desaparecer e se transformar no terceiro e mais importante estágio.

O Terceiro Estágio: O Outro Lado

Uma vez que o período de espera tenha acabado e a viagem tenha sido gerada, o usuário irá sentir que conseguiu passar para o “outro lado”. É aqui que literalmente qualquer coisa pode acontecer a você, mas apesar disso, a maioria das viagens parecem seguir alguns arquétipos e roteiros extremamente comuns que acontecem quase que universalmente com as pessoas que tenham experimentado DMT.

Esses geralmente consistem em visitar um realidade alternativa que é tão real que está melhor definida do que a vida real. Geralmente, isso se dá com entidades autônomas múltiplas que se apresentam diante de você. Essas entidades aparentam estar esperando por sua chegada, e não ficam impressionadas coma chegada do viajante em sua dimensão.

Elas imediatamente começam a recebê-lo e saudá-lo com braços abertos, passando um sentimento de profunda preocupação com o que precisa ser mostrado ao usuário no curto período de tempo até o final da trip.

Nesse ponto é muito comum que o viajante (a não ser que ele seja muito inexperiente) fique completamente fascinado pela natureza do que está acontecendo com eles apesar de se sentirem completamente sóbrios mentalmente, muitas vezes gritando de maravilhamento ao mesmo tempo em que as entidades lhe encorajam a ficar calmo, não cair no espanto e simplesmente tentar prestar atenção ao que está acontecendo. É aqui que eles começam a se comunicar com você usando uma variedade de diferentes métodos tais como manipular diretamente o que você pode ver e visualizar, transmitindo informações telepaticamente para você, utilizando uma linguagem visual de puro significado linguístico ou matemático, ou uma combinação dos dois. É através disso que eles ensinam a sua mensagem ou mostram o que eles querem para você.

O DMT tem profunda ação na psiquê humana.

Essa mensagem é com frequência algo pessoal para você ou algo que somente se aplica à lógica do universo em que ela foi ensinada, se tornando impossível aplicar o conhecimento em sua vida real. Essas entidades com frequência são oniscientes e podem tomar qualquer forma, mas algumas são de aparência comum a vários viajantes. Essas formas geralmente incluem humanóides extremamente inteligentes e sem corpo, alienígenas, elfos, insetóides, esferas gigante, seres de luz, plantas e máquinas robóticas complexas.

Com a mesma velocidade com que os efeitos começam, após alguns minutos eles começam a lhe deixar, no estágio final da viagem.

O Quarto Estágio: O Pouso

O estágio final é experimentado como a sensação de ser afastado cada vez mais do cenário em que você estava colocado, e as entidades com frequência acenam despedidas e o encorajam a voltar quando você tiver a chance.

Uma vez que esse efeito acaba, você acaba se encontrando imediatamente de volta na realidade com efeitos geométricos visuais fortes de nível 4 – 5. Isso é acompanhado por uma sensação de euforia incrível e uma admiração que satura todas as partes de seu corpo e mente. A geometria visual permanece por 1 – 15 minutos antes de desaparecer completamente, deixando efeitos corporais que permanecem por até uma hora. Esse afterglow é sentido como uma alegria quente, acompanhada de uma sensação de bem estar e claridade mental que pode permanecer por semanas após uma boa viagem.

Efeitos na Saúde, Potencial para Dependência e Tolerância

Similarmente a outras drogas psicodélicas, existem relativamente poucos efeitos colaterais físicos associados com a exposição adequada ao DMT. Vários estudos demonstraram que em doses razoáveis em um contexto cuidadoso, ele apresenta nenhuma consequência negativa, tanto em termos cognitivos, psiquiátricos ou tóxicos. Em ratos, a dose letal média (LD50) de MDT quando administrado intra venalmente é de 110 miligramas por quilo (mg/kg). Isso significa que 6,6 gramas de DMT puro deveriam ser fumados para que uma pessoa de 60 quilos atingisse a dosagem LD50 de 110mg/kg dos ratos. Isso é aproximadamente 110 vezes a dosagem usual de 60mg.

O DMT não é fisicamente viciante e muitos usuários apresentam uma auto-regulação para o uso da substância.

Em temos de tolerância, a do  DMT fumado aumenta rapidamente, mas também decai rapidamente. Você deve esperar pelo menos uma hora entre as viagens para aguardar a diminuição da tolerância.

Equívocos

Antes de finalizarmos esse artigo, vamos apontar alguns equívocos e misticismos extremamente comuns que envolvem essa substância por toda a internet. Esses equívocos envolvem a crença de que o DMT é naturalmente produzido na glândula pineal e é rotineiramente liberado todas as noites quando sonhamos, no momento do nascimento e no momento da morte. Não existe nenhuma evidência científica conclusiva que ele é liberado durante os sonhos, nascimento e morte. Apesar disso, muitas pessoas na internet afirmam essas informações com frequência.

Essas ideias foram hipotetizadas pela primeira vez por Rick Strassman no livro DMT: A Molécula do Espírito e foram então popularizadas por Terence Mckenna e Joe Rogan.

Isso não é algo que o consenso científico apóia, mas como mencionado anteriormente, foi provado conclusivamente que traços de DMT foram encontrados no sangue, urina e fluido espinal cerebral de alguns mamíferos incluindo os humanos. o DMT também foi encontrado nas glândulas pineais de ratos, mas isso não significa que temos qualquer motivo para acreditar que essa substância é liberada durante o nascimento, morte e sonhos.

Parar a disseminação da pseudociência e desinformação na comunidade psicodélica é importante se quisermos que nossa posição seja levada com seriedade, então isso é algo que não deve ser tolerado.

Conclusão

As coisas experimentadas com essa substância são incríveis e completamente desafiadoras da lógica, e se um objeto simples pudesse de alguma maneira ser trazido ao mundo real daquelas realidades, nada seria o mesmo devido à possibilidade de esse objeto romper a realidade instantaneamente.

DMT é a substância que as pessoas estão procurando quando compram Salvia divinorum sem saber o que esperar. Ela é como que o pináculo da experiência psicodélica, e apesar disso, poucas pessosa fora da comunidade psicodélica já ouviram falar dessa substância. É dito que o DMT não é somente mais forte do que você supõe, mas mais estranho do que você possa supor.

Fonte

Nova espécie psicodélica de líquen é descoberta: Dictyonema huaorani

Uma nova espécie de líquen foi descoberta na floresta amazônica equatoriana, de acordo com um artigo recente publicado no “The Bryologist”. Pesquisadores liderados pela autora Michaela Schmull identificaram triptaminas como, psilocibina, e 5-MeO-DMT no líquen, dentre outras substâncias.

dictyonema-huaorani

A história é um tanto incomum. Há apenas uma amostra conhecida do líquen em toda a ciência ocidental, e foi coletada em 1981 pelos etnobotânicos Wade Davis e Jim Yost durante a realização de pesquisas no Equador. Em um artigo em 1983 descrevendo sua descoberta deste líquen, Davis e Yost escreveram:

Na primavera de 1981, enquanto estávamos envolvidos em estudos etnobotânicos no leste do Equador, a nossa atenção foi atraída para um uso mais peculiar de alucinógenos pelos índios Waorani, um pequeno grupo isolado de cerca de 600 índios. … Entre a maioria das tribos amazônicas, intoxicação alucinógena é considerada uma viagem coletiva ao subconsciente e, como tal, é um evento essencialmente social. … Os Waorani, no entanto, consideram o uso de alucinógenos como um ato anti-social agressivo; de modo que o xamã, ou “ido”, que desejar lançar uma maldição toma a droga sozinho ou acompanhado apenas de sua mulher durante a noite, no âmago da floresta ou em uma casa bem isolada. …

De particular interesse botânico é o fato de que esta prática cultural peculiar envolve plantas alucinógenas, uma raramente usada e uma, até agora, sequer catalogada. Os Waorani tem dois alucinógenos: Banisteriopsisniun muricata e um basidiolíquen ainda não catalogado do gênero Dictyonema. O primeiro é morfologicamente muito semelhante a outros vulgarmente utilizados … espécies como a Banisieriopsis Caapi da ayahuasca … Por outro lado, nunca até agora um basidiolíquen havia sido relatado com propriedades alucinógenas. [grifo meu]

Nesse artigo, Davis e Yost descrevem a nova espécie de líquen como “extremamente rara.” Tão rara, na verdade, que Yost tinha “ouvido falar dela por mais de sete anos antes de encontrá-la na floresta.” Imagine ser um explorador, dedicando sua vida a estudar as pessoas e plantas de regiões distantes, e, finalmente, a descoberta de um indescritível líquen psicodélico que você tem ouvido falar por sete anos.

Mesmo os índios Waorani não têm à mão espécimes desse líquen, que eles chamam nɇnɇndapɇ. Os nativos disseram aos pesquisadores que seu último conhecido uso xamânico foi “há cerca de quatro gerações atrás – cerca de 80 anos – quando um xamã mau o comeu para enviar uma maldição para que outro xamã Waorani morresse’”, Wade Davis e Jim Yost tornaram-se os primeiros ocidentais conhecidos a encontrar nɇnɇndapɇ, e preservaram a amostra para análise futura.Wade_Davis

Trinta anos depois, em 2014, Michaela Schmull e seus colegas analisaram o DNA da amostra e determinaram que era uma espécie nova, que deram o nome deDictyonema Huaorani. (Huaorani é uma grafia alternativa de Waorani, os “descobridores” originais desta espécie.) A equipe de Schmull examinou um extrato do líquen usando técnicas de espectrometria de cromatografia de massa líquida (LC-MS), e identificou triptaminas como psilocibina, e 5-MeO -DMT, bem como 5-metoxitriptamina (5-Meot), 5-MeO-NMT, e 5-metoxitriptamina (5-MT).

liquen2Os líquens são organismos incomuns e fascinantes – na verdade, um líquen não é um único organismo, mas uma parceria simbiótica entre um fungo e uma alga. O fungo fornece a estrutura filamentosa, que protege, hidrata, e ancora a alga; a alga fotossintetiza os açúcares que ambos os organismos necessitam para viver. Os líquenes são excepcionalmente adaptáveis e são encontrados em quase todos os climas da Terra, o que não pode ser dito de seus componentes individuais que vivem em isolamento. A parceria beneficia ambas as partes e amplia enormemente os habitats onde eles podem prosperar.

O gênero de Dictyonema é incomum, mesmo entre os líquens. Na maioria dos líquens, o componente fúngico é um ascomiceto, porém cerca de 1% dos líquens são compostos de um fungo basidiomiceto. A parceiria das algas também varia – em cerca de 10% dos líquens, o parceiro fotossintetizante não é uma alga de fato, mas uma cianobactéria. Os membros do Dictyonema são muito estranhos, porque eles combinam ambas as variações, uma cianobactéria e um fungo basidiomiceto, no mesmo líquen.

Adicione a isso às qualidades aparentemente psicodélicas de Dictyonema Huaorani e você tem uma espécie extremamente original!

No que diz respeito à identificação de psilocibina, e 5-MeO-DMT no líquen, os pesquisadores ofereceram uma qualificação:

Devido a nossa incapacidade de utilizar compostos de referência puros e a escassa quantidade de amostras para a identificação dos compostos, nossas análises não foram capazes de determinar de forma conclusiva a presença de substâncias alucinógenas.

Para a escassez de a amostra não há solução. A indisponibilidade de “compostos de referência puros”, no entanto, é um problema inteiramente artificial, resultado da guerra contra as drogas que suspendeu pesquisa psicodélica há mais de 40 anos e continua a impedir o seu progresso. Se estas substâncias não tivessem seu acesso tão arbitrariamente dificultados aos pesquisadores, já poderíamos ter uma identificação conclusiva dos agentes psicodélicos presentes nesta espécie recém-descoberta.

Traduzido de: PsychedelicFrontier

Referências

Schmull, Michaela. “Dictyonema huaorani (Agaricales: Hygrophoraceae), a new lichenized basidiomycete from Amazonian Ecuador with presumed hallucinogenic properties.” The Bryologist 117(4):386-394. 2014.

UBC Botanical Garden and Centre for Plant Research

Davis, E. Wade. “The Ethnobotany of the Waorani of Eastern Ecuador.” Botanical Museum LeafletsHarvard University. Vol. 29, No. 3 (1983): 159-217.

Davis, E. Wade. “Novel Hallucinogens from Eastern Ecuador.” Botanical Museum Leaflets Harvard University. Vol. 29, No. 3 (1983): 291-95.

Por que os Psicodélicos são Ilegais?

Arte da civilização Minoica, que existiu de ~2700 a.C. até ~1450 a.C.

Terence McKenna via a cannabis, psilocibina, DMT, LSD, e outros psicodélicos como “catalisadores para uma divergência intelectual.” Em seu livro Retorno à Cultura Arcaica (1991), defende sua hipótese de que os psicodélicos sempre foram ilegais “não por causarem transtornos àqueles que se tem visões” mas porque “existe algo a respeito deles que levanta uma dúvida a cerca da realidade.” Isso torna difícil, observou McKenna, para que as sociedades – mesmo as democráticas e especialmente as “dominadoras” – os aceitem, e estamos por viver numa sociedade global do tipo “dominadora”.

McKenna costumava usar os termos “igualitária” e “dominadora” para se referir aos tipos de sociedades e relações. Riane Eisler, cujo trabalho McKenna sempre elogiou, surgiu com essas expressões. Em Retorno à Cultura Arcaica, McKenna escreveu:

[su_quote]Recentemente Riane Eisler na sua importante revisão da história, The Chalice and the Blade, destacou a importância da noção de que modelos de sociedade de “parceria” estão em competição e são oprimidos por formas de organização social “dominadoras”. As culturas dominadoras são hierárquicas, paternalistas, materialistas e de domínio masculino. Sua opinião é a de que a tensão entre essas duas formas de organização social e a superexpressão do modelo dominador são responsáveis pela nossa alienação. Concordo plenamente com os argumentos de Eisler.[/su_quote]

Para entender melhor a visão de McKenna sobre a ilegalidade dos psicodélicos, vamos examinar por que o mundo atual opera na forma dominadora ao invés da igualitária, e o que estes termos significam exatamente. Para isso, vamos partir do trabalho de Eisler, o qual (muito similar ao de McKenna, acredito) expõe de forma elaborada os aspectos da história e da natureza que são deliberadamente suprimidos. Em seu livro O Cálice e a Espada, Eisler argumenta que na maior parte dos últimos ~32.000 anos, os seres humanos viviam em sociedades igualitárias, dentro de uma cultura igualitária global – um modo de vida que é praticamente inimaginável nos dias de hoje.

O Cálice e a Espada (1987) por Riane Eisler

Eisler apresenta os termos igualitário e dominador em sua teoria da Transformação Cultural, a qual propõe que “sob a grande superfície da diversidade cultural humana estão dois modelos básicos de sociedade.” (1) No modelo dominador, metade da humanidade está colocada sobre a outra metade. Uma vez que este viés envolve “a diferença mais fundamental dentro de nossa espécie, entre masculino e feminino,” ele então se torna a base para todas as outras relações (e, eu acredito, até mesmo em experiências). (2) No modelo igualitário, a diversidade não é medida com inferioridade ou superioridade; ao invés de se criar uma hierarquia entre as características, se cria um vínculo.

Na visão de Eisler, a dicotomia dominador/igualitário não é específica de ideologias (tanto o capitalismo quanto o comunismo podem, e devem, ser operados sob os valores dominadores) nem de gênero – tanto homens quanto mulheres podem, e tomam, atitudes dominadoras. McKenna ressalta este aspecto em particular no trabalho de Eisler. Ele disse em The Evolutionary Mind (1998):

[su_quote]Eu não vejo isso como uma doença masculina. Eu acredito que todos aqui nessa sala tem um ego muito mais forte do que o necessário. Uma ótima coisa que Riane Eisler fez em seu livro O Cálice e a Espada para esta discussão, foi desatrelar as terminologias aos gêneros. Ao invés de falar sobre patriarcado e tudo mais, deveríamos falar sobre a sociedade dominadora versus a igualitária.[/su_quote]

Embora seja senso comum a ideia de que os homens são historicamente dominantes, o sexo opressivo – o que potencialmente iria desacreditar a teoria neutra dos gêneros de Eisler – está incorreto. Eisler mostrou que o modelo dominador que agora existe a nível global, e o qual é indiscutivelmente liderado pelos Estados Unidos, um país cujos 44 presidentes e vice-presidentes eram homens, é um evento recente. De ~35.000 a.C. (período estipulado de quando foram feitas as famosas estatuetas de Vênus) até ~5.000 a.C., os humanos viviam no modelo igualitário. Não havia nem patriarcado nem matriarcado. McKenna diz em seu livro Alimento dos Deuses (1992):

[su_quote]Eisler utilizou registros arqueológicos para argumentar que ao longo de vastas áreas e por muitos séculos as sociedades igualitárias do antigo Oriente Médio não enfrentavam guerras nem revoltas. A guerra e o patriarcado surgiram com o aparecimento dos valores dominadores.[/su_quote]

Evidências desse estilo igualitário foram descobertas, assim como em outros lugares, num local chamado Catal Huyuk na Anatólia. As escavações permitiram um estudo do período de ~7.500 a.C. (quando o livro de Eisler foi publicado, as escavações datavam de até ~6.500 a.C.) até ~5.700 a.C. Os arqueólogos encontraram “nenhuma evidência de desigualdade social”, uma organização social matrilinear e matrilocal, e que “a divina família de Catal Huyuk” era representada pela seguinte ordem de importância: mãe, filha, filho e pai. Mais de 40 dos 139 cômodos escavados entre 1961 e 1963 parecem ter exercido o papel de templos; “a religião da Grande Deusa parece ser a característica mais proeminente e importante da vida.” Eisler disse:

[su_quote]Também é verdade que em Catal Huyuk e outras sociedades neolíticas as representações antropomórficas da Deusa – a jovem Virgem, a Mãe Natureza, e a velha anciã, e todas as demais até chegarmos em Creatrix, são, como posteriormente observou o filósofo grego Pitágoras, projeções de vários estágios da vida de uma mulher. O que também sugere uma organização social matrilinear e matrilocal é que em Catal Huyuk o local onde se situavam as possessões pessoais das mulheres bem como sua cama ou divã era sempre no mesmo lugar, no lado leste do quarto. Já a parte do homem além de variável, é, de certa forma, menor.[/su_quote]

Eisler complementa:

[su_quote]Também é verdade que em Catal Huyuk e outras sociedades neolíticas as representações antropomórficas da Deusa – a jovem Virgem, a Mãe Natureza, e a velha anciã, e todas as demais até chegarmos em Creatrix, são, como posteriormente observou o filósofo grego Pitágoras, projeções de vários estágios da vida de uma mulher. O que também sugere uma organização social matrilinear e matrilocal é que em Catal Huyuk o local onde se situavam as possessões pessoais das mulheres bem como sua cama ou divã era sempre no mesmo lugar, no lado leste do quarto. Já a parte do homem além de variável, é, de certa forma, menor.[/su_quote]

Por que, então, ~7.000 anos atrás, quando o modelo dominador veio a existir, foram as mulheres – e não os homens – que sofreram opressão? A resposta, mostrou Eisler, está na percepção de que apenas as mulheres dão a luz. Humanos pré-históricos, ao notar que nova vida adentrava o mundo exclusivamente pelo corpo feminino – o qual também os nutria e cuidava para aquela nova vida – aparentemente desenvolveram uma religião/perspectiva que era centrada no culto à divindade feminina. Eisler usa a palavra “culto” com a ideia de que, “na pré-história e, num âmbito maior, outros tempos da história, religião era a vida, e a vida era religião.” Mulheres e homens cultuavam uma abstração feminina sem distinções, a qual Eisler chamou de Deusa. Isto persistiu até mesmo depois do desenvolvimento da agricultura e da criação das primeiras civilizações, ~10.000 anos atrás:

[su_quote]Também é verdade que em Catal Huyuk e outras sociedades neolíticas as representações antropomórficas da Deusa – a jovem Virgem, a Mãe Natureza, e a velha anciã, e todas as demais até chegarmos em Creatrix, são, como posteriormente observou o filósofo grego Pitágoras, projeções de vários estágios da vida de uma mulher. O que também sugere uma organização social matrilinear e matrilocal é que em Catal Huyuk o local onde se situavam as possessões pessoais das mulheres bem como sua cama ou divã era sempre no mesmo lugar, no lado leste do quarto. Já a parte do homem além de variável, é, de certa forma, menor.[/su_quote]

Durante 3.000 anos após a condensação da raça humana em civilizações, os povos continuavam a cultuar a Deusa e viviam de forma pacífica. Eisler observou que “praticamente todas as tecnologias materiais e sociais fundamentais para a civilização foram desenvolvidas antes da imposição da sociedade dominadora,” o que significa que a guerra evidentemente não é, contradizendo “o que um teórico do Pentágono defenderia,” necessária “para o avanço tecnológico, e por consequência, cultural.” Eisler chama isso de “um dos segredos da história mais bem guardados.”

Foi assim até que em ~5.000 a.C. o modelo dominador apareceu na forma de “grupos nômades” nas áreas periféricas que atacavam as civilizações preexistentes, as quais todas seguiam o modelo igualitário. Mecanismos de defesa como trincheiras e baluartes – que não existiam até então – foram gradualmente aparecendo. “Estas repetidas incursões, choques culturais e realocação de populações se concentraram em três grandes impulsos,” escreveu Eisler, chamando-as de “Onda No. 1” (4300-4200 a.C.), “Onda No 2” (3400-3200 a.C.), and “Onda No. 3” (3000-2900 a.C.). “No cerne do sistema dos invasores, se dava um valor maior à força que tira vidas, ao invés daquela que dá vidas,” observou Eisler. Assim que os dominadores conquistaram, passaram também a suprimir o antigo estilo de vida, o que significou suprimir o culto à Deusa e consequentemente acarretou uma marginalização das mulheres no geral. A Deusa, e também as mulheres, alega Eisler, “foram reduzidas a esposas ou concubinas. Gradualmente a dominância masculina, a guerra e a escravidão das mulheres e dos homens com jeitos mais “afeminados” se tornou a norma.” Eisler escreveu:

[su_quote]Depois do período inicial de destruição e caos, gradualmente emergiram sociedades que são celebradas nos livros das escolas e universidades como aquelas que marcam o princípio da civilização ocidental.[/su_quote]

A última sociedade igualitária foi a civilização Minóica, a qual, observou Eisler, não costuma ser citada em cursos sobre a civilização ocidental. Os precursores dos Minoicos chegaram na ilha de Creta em ~6.000 a.C., trazendo com eles o culto à Deusa. Por ~4.000 anos, a civilização Minoica prosperou, demonstrando “nenhum sinal de guerra” e “uma distribuição de riquezas equitativa.” Eles decoravam suas casas e espaços públicos com “uma tradição artística singular nos anais da civilização,” e tinham quatro formas de escrita. Na Creta Minoica, Eisler cita um estudioso em seu livro, “Para qualquer lado que olhe, pilares e símbolos lhe lembrarão da presença da Grande Deusa.” Se baseando em sua pesquisa, a Eisler pareceu que a mítica civilização de Atlântis, a qual Platão descreveu no século IV a.C., era “na verdade um resquício da memória popular, não de um continente perdido no Atlântico, mas sim da civilização Minoica de Creta.”

A arte minoica tinha seu foco na natureza e não retratava glorificações de brutalidade ou guerra.

Em 1100 a.C., de acordo com Eisler, “tudo se acaba.” O modelo dominador, na forma de patriarcado, assumiu totalmente o controle. As mulheres, até então iguais aos homens por pelo menos ~30.000 anos, repentinamente passam a experienciar um menor status. Elas eram marginalizadas na Grécia Antiga, cuja democracia “excluía a maior parte da população (que não permitia a participação de mulheres e escravos).” Na visão de Eisler, “muito do melhor” na Grécia Antiga – “o grande amor à arte, o intenso interesse pelos processos naturais, as ricas e variadas simbologias míticas de ambos feminino e masculino” – podem ser “traçadas de volta à era anterior” da Creta Minoica. Resquícios do culto à Deusa também sobreviveram na Grécia Antiga, na forma de muitas deusas gregas, mas todas subordinadas a Zeus. As coisas continuaram por se deteriorar até que chegaram a um ponto onde a Bíblia, no Antigo Testamento, explicitamente proclama, observou Eisler, que “é a vontade de Deus que as mulheres sejam governadas pelos homens.” Eisler diz:

[su_quote]Se lermos a Bíblia como uma literatura social normativa, a ausência da Deusa é a declaração mais importante sobre o tipo de ordem social que os homens, que por muitos séculos escreveram e reescreveram este documento religioso, se esforçaram para estabelecer e manter.[/su_quote]

Dos próximos ~2.000 anos até o presente, se pode ver uma recuperação gradual – com crescentes e perigosos recessos, uma vez que agora a guerra envolve armas de destruição massiva – da repentina infiltração do modelo dominador, o qual, desde seu surgimento, tem estado num processo constante, de forma tanto consciente quanto inconsciente, destruindo e abafando evidências da religião original da Deusa e suas várias revivificações ao longo da história.

*

Hoje, a menos que você seja membro de uma tribo indígena como os Kung no sul da África ou os Bambutino Congo, você vive firmemente dentro de uma cultura dominadora global. Eisler escreveu: “Para nós, depois de milhares de anos de uma severa doutrinação, isto é simplesmente a realidade, o jeito que as coisas são.” McKenna observa que, especialmente nas sociedades dominadoras, as pessoas não são encorajadas a questionarem seus comportamentos ou o porquê das coisas serem do jeito que são – questionamentos que, entre outros efeitos, são levantados com o uso de psicodélicos. Como McKenna disse em 1987:

[su_quote]Os psicodélicos são ilegais não porque tem um governo amoroso que está preocupado que você possa saltar para fora de uma janela do terceiro andar. . Psicodélicos são ilegais porque dissolvem as estruturas de opinião e culturalmente estabelecidos modelos de comportamento e processamento de informações. Eles abrem até a possibilidade de que tudo o que você sabe está errado.[/su_quote]

Seguindo essa linha, eu encorajo as pessoas a ficarem chapadas e lerem O Cálice e a Espada. Ou ficar chapado e ouvir Man & Woman at the End of History,” uma discussão de vários dias entre Eisler e McKenna e que foi transmitida no rádio em 1988. Na discussão, McKenna introduz o papel dos psicodélicos na teoria de Eisler que, por sua vez, compara o estilo da oratória de McKenna a fogos de artifício: “Você ilumina tantas coisas tão rapidamente e então passa de uma pra outra.” Vou terminar esta semana com um exemplo disso, da mesma discussão:

Estão nos dizendo que estamos no meio de uma crise política tremenda que age sob o rótulo de “o problema das drogas.” Mas o problema das drogas é o problema do vício. E o vício, na minha opinião, é o vício das agências de inteligência em vastas quantidades de dinheiro. Este é o vício que conduz o problema das drogas no mundo. Mas é claro que também existem dependências químicas. E existe uma coisa muito interessante sobre os seres humanos. Alguma coisa – e vou falar um pouco mais sobre isso amanhã – mas alguma coisa sobre nossa habilidade em ser onívoros, de comer todos os tipos de coisas, nos abriu para, talvez manipulação seja uma palavra muito forte, mas certamente para pressões seletivas da evolução que não estão ordinariamente presentes. A maioria dos animais comem poucos alimentos. Muito animais comem apenas um alimento. Nossa habilidade em ser onívoro nos expôs – nos últimos quatro, cinco milhões de anos – a um vasto número de compostos mutagênicos e sinérgicos que podem ter sido responsáveis por tais coisas como a prolongamento da adolescência em nossa espécie ou o modo como ocorre a lactação.

Arte Visionária de Pablo Amaringo

[su_quote]“As próprias imagens tem mensagens e ensinamentos que treinam a mente para ver o que pode ter acontecido no passado e o que pode acontecer no futuro. Elas abrem outros meios de visualizar, que você pode chamar de sagrado ou divino. Eu gostaria que os meus quadros inspirassem uma ideia diferente de religião, uma que não é dada em retorno por algo mas que é de graça.”   (Pablo Amaringo)[/su_quote]

Unicornio Dorado por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Unicornio Dorado por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Pablo Amaringo nasceu em 1938 em Loreto, Peru. Seus trabalhos de arte são conhecidos no mundo todo e ele é considerado um dos mais influentes pintores peruanos na história. Suas pinturas mostram o mundo que lhe é familiar, pintando a floresta da região Amazônica com as muitas plantas e criaturas que lá vivem. Suas pinturas também ilustram o mundo espiritual conhecido das pessoas dessa região. O mundo espiritual é acessado por meio de rezas e pelo uso de plantas visionárias, mais comumente a Ayahuasca. O mundo espiritual inclui seres espirituais de todos os tipos, aliens, serpentes gigantes, anjos, cidades luminosas existindo em outro plano de consciência; é isso que Pablo Amaringo chama de divino ou realidade sagrada. Cada objeto, ser inteligente e motivo têm significados específicos que são revelados no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As Visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”). Essas pinturas dão uma vislumbrada no mundo não visto de curadores peruanos, xamãs e pessoas comuns.

Pablo Amaringo tomou Ayahuasca pela primeira vez com seu avô quando tinha 10 anos de idade, pois ouviu falar de outros que tomaram e ficou curioso. Ele entrou no mundo espiritual e perdeu sentido do seu corpo. Ele sentiu um pouco de medo mas viu espíritos geralmente conhecidos na região. Ayahuasca foi e ainda é um sacramento sagrado que conecta a pessoa ao mundo espiritual. Ayahuasca é uma combinação de plantas preparadas de um jeito específico e contém compostos psicodélicos. Há muitas igrejas de Ayahuasca, ambas indígenas e cristãs, por toda a América do Sul e é comumente usada para cura e propósitos espirituais.

Transformacion Del Chaman em Aguila por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Transformacion Del Chaman em Aguila por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Pablo Amaringo enfrentou uma intensa doença após sua família ter morrido em um acidente de carro. Ele foi até a casa de seu pai e foi curado com Ayahuasca nos anos 1970. Pablo disse “eu achava que a Ayahuasca era uma boa medicina porque funcionava pra mim – eu tinha visões, e até hoje me lembro de tudo que vi.” Após sua recuperação ele percebeu “a vida não tem sentido ao menos que alguém olhe para o espiritual, seja por meio de tomar plantas ou por seguir uma religião.”

Ayahuasca Raura por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Ayahuasca Raura por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Pablo Amaringo foi um artista, espiritualista e curandeiro. Ele fez trabalhos de arte que retrata o mundo espiritual de seu povo, o qual ele acessou com Ayahuasca. Ele fez a fusão de pinturas com ícaros, ou encantamentos mágicos. Ele diz “se você se concentrar e meditar nas pinturas vai receber energia espiritual.” Howard Charing escreveu “embora ele tenha parado de tomar Ayahuasca muitos anos antes, ele tinha a habilidade de se lembrar perfeitamente de cada uma de suas visões. Em uma ocasião ele disse pra mim ‘eu não preciso tomar novamente; Ayahuasca me conectou ao mundo espiritual.’”

Jehua Supai – Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Jehua Supai – Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Ele chegou a conduzir cerimônias de cura com ayahuasca como homem da medicina ou xamã. Ele parou devido a ameaças por feiticeiros. Os feiticeiros são os que usam Ayahuasca e o mundo espiritual para fazer mal a outros. Ele depois parou de fazer cura para as pessoas alegando que até as curas são um tipo de feitiçaria. Ele começou a dar aulas de arte e abriu uma escola para ensinar peruanos a pintar e desenhar. Ele sentiu que a arte era a busca maior. Ele pintou visões de Ayahuasca, mas também pintou muitos cenários cheios das mais diversas plantas e animais da Amazônia. Colecionadores do mundo todo tem ido ao Peru procurar trabalhos feitos por Pablo, assim como também de artistas imitando e desenvolvendo seu estilo.

Pagoda Dorada por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Pagoda Dorada por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Pablo diz “a melhor coisa que você pode deixar é uma semente para que outros possam trabalhar. Eu não sou apenas uma pessoa, eu sou uma pessoa espiritual. Eu sempre me comunico com a grande força universal, a qual é a fundação da perfeição – Dios – que eu vi em minhas visões de Ayahuasca e que sempre conversaram comigo.”

Nukno Maschashka By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Nukno Maschashka By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Llullon Llaki Supai por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Llullon Llaki Supai por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Nukno maschashka faz as pessoas ecoarem cânticos em uma cerimônia na base e mostra como rezas e músicas são enviadas até as mais altas esferas do cosmos. Um cântico é uma música adquirida pelos espíritos em um local quieto na floresta. Cada uma das plantas, pessoas, animais e espíritos representados são seres específicos e objetos com um significado mais profundo para a imagem toda. Uma pessoa pode ver anjos, mulheres curandeiras da medicina, cerimônia, serpentes da sabedoria, plantas curadoras e os altos patamares do mundo espiritual repercutindo com a música. A cerimônia de cura e os cânticos de cura são carregados pelos espíritos até o mundo espiritual.

Sumac Icaro By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Sumac Icaro By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Yana Huarman By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Yana Huarman By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Angeles Avatares por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Angeles Avatares por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Templo Sacrosanto por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Templo Sacrosanto por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Alli Mariri By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Alli Mariri By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
La Principa de la Vida by Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
La Principa de la Vida by Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Ondas de la Ayahuasca by Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Ondas de la Ayahuasca by Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Los Grados del Curandero By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo
Los Grados del Curandero By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo

Agradecimentos a Raphaela Lancellotti pela tradução do texto.

FONTE

Psicodélicos não prejudicam a saúde mental e podem melhorá-la

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‘Psicodélicos como o LSD e os cogumelos com psilocibina, não apenas não causam problemas de saúde mental, como na verdade podem aumentá-la’
Essas são as conclusões dos pesquisadores de neurociência da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, em Trondheim, que relataram que o LSD, a psilocibina e mescalina não só não causam problemas de saúde mental a longo prazo, mas que, em muitos casos, o uso de psicodélicos é associado a uma menor taxa de problemas de saúde mental.

O estudo colheu dados da ‘Pesquisa Nacional dos EUA sobre Uso de Drogas e Saúde’, observando-se 130.152 respondentes selecionados aleatoriamente a partir da população adulta de os EUA. 13,4% desse grupo (21.967 indivíduos) relataram uso na vida de drogas psicodélicas. Comparando esses dados para medidas de triagem padronizados para a saúde mental, os pesquisadores descobriram que, nem o uso vitálicio de psicodélicos, nem o uso dentro do último ano, foram fatores de risco independentes para problemas de saúde mental e que, de fato, os usuários de psicodélicos tiveram menores taxas de problemas de saúde mental.

Os pesquisadores noruegueses, Teri S. Krebs e Pal-Ørjan Johansen também observaram que “plantas psicodélicas têm sido utilizados para fins comemorativos, religiosos ou de cura por milhares de anos” e que “psicodélicos, muitas vezes provocam profundas experiencias, pessoal e espiritualmente significativas, além de produzir efeitos benéficos”. O LSD e a psilocibina são consistentemente classificados em avaliações de especialistas como causando menos danos a usuários individuais e à sociedade do que o álcool, o tabaco, e a maioria das outras drogas recreativas comuns. Dado que milhões de doses de drogas psicodélicas foram consumidas todos os anos, por mais de 40 anos, relatos de casos bem documentados de problemas de saúde mental a longo prazo após o uso destas substâncias são raros

O estudo também não observou absolutamente nenhuma evidência de que “flashbacks” realmente afligiam os usuários de psicodélicos, matando outra superstição normalmente realizada em torno do uso psicodélico.

psilocybinOs pesquisadores noruegueses trazem uma boa notícia para os mais de 30 milhões de americanos que usaram drogas psicodélicas (em comparação com 100 milhões que usaram maconha). E enquanto a mídia vem comentando sobre a revelação do Dr. Sanjay Gupta que ele “mudou sua mente por causa da maconha”, pode ser hora para as substâncias psicodélicas obterem uma retratação similar.Enquanto psicodélicos ainda evocarem imagens da era dos 60, bad trips, como a filha de Art Linkletter saltar de uma janela em ácido (um mito superestimado, como diz Snopes), poucos arriscam submetê-los a uma investigação significativa e tiveram um lento progresso em direção a aceitação clínica nas últimas décadas. Os pesquisadores ainda trabalham sob a imagem negativa da era de Timothy Leary a respeito dos psicodélicos, mas aos poucos está se desfazendo o impasse cultural criado pelo que muitos vêem como o abuso irresponsável de drogas psicodélicas durante os anos 1960 e 70.

De pé e em contraste com os aspectos negativos desse tempo no entanto, são os imensos benefícios clínicos que psicodélicos estão constantemente se mostrando capazes de oferecer. Outro estudo recente da Universidade do Sul da Flórida , por exemplo , descobriu que a psilocibina apaga respostas de medo condicionado em ratos, sugerindo que poderia ser usado para curar PTSD e que a psilocibina pode até mesmo gerar um crescimento rápido de células cerebrais.

Vários estudos estão sendo conduzidos ( na escola de medicina da Universidade de Nova York e na Johns Hopkins Bayview Medical Center) em usar psicodélicos para aliviar o medo em pacientes com estágio avançado terminal de doença , facilitando a experiência de morte e permitir que as pessoas terminam suas vidas em estados de aceitação em vez de terror.  LSD e psilocibina também surgem com uma promessa para o tratamento da Cefaléia em Salvas(Cluster headache), uma condição tão debilitante e dolorosa que muitas vezes leva os doentes a considerar o suicídio .

Enquanto a maconha degusta a sua estadia no centro das atenções, pode ser hora de seus irmãos mais potentes e ainda mais potencialmente benéficos, participarem da festa.

—> Fonte
—> Estudo

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