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Tornar-se o Que Se É (Becoming What We Are)

Traduzido do original em http://www.deepleafproductions.com/wilsonlibrary/texts/raw-become.html

Tornar-se o Que Se É (Becoming What We Are)

por Robert Anton Wilson

Se você passear por um grande museu de arte, perceberá que Van Gogh não pinta o mesmo mundo de Rembrandt, Picasso não vê as coisas do mesmo modo que Goya, Georgia O’Keefe não lembra muito Rivera, Salvador Dali não se parece com ninguém que não seja ele mesmo, e em geral, nenhum artista de renome mundial se tornou um “clássico” fazendo o que alguém já tinha feito sequer o que todo mundo em sua época fazia.

E na ciência, os nomes de Einstein, Dirac, os Curies, Bohr, Heisenberg, Schroedinger, John Bell etc. vivem até hoje porque nenhum deles via Newton como um dogma religioso: todos eles fizeram únicas e imprevisíveis inovações na teoria básica.

E, no caso de você achar que isso só se aplica às “artes e ciências”, considere as pessoas de maior sucesso na indústria. Henry Ford não ficou rico copiando o barco a vapor de Fulton; ele fez um carro tão barato que qualquer pessoa podia comprar um. Howard Hughes produziu filmes que ninguém mais ousaria tentar, e então passou a revolucionar a indústria aérea. Buckminster Fuller não copiou a forma cúbica de arquitetos anteriores, mas inventou a cúpula geodésica; Na última contagem, existiam mais de 3OO.OOO de seus edifícios, o que o tornou o arquiteto mais visivelmente bem sucedido na história. Steve Wozniak não copiou os computadores da sua época, e sim inventou um, que mesmo um completo idiota (como eu) podia usar (e até se divertir!) Bill Gates criou novos tipos de software. Etc.

Todos nós precisamos da constante reiteração destes truísmos porque vivemos em um mundo onde uma multiplicidade de forças muito poderosas têm trabalhado sobre nós. Do nascimento, passando pela escola até o trabalho, tentam suprimir nossa individualidade, nossa criatividade e, acima de tudo, nossa curiosidade – em suma, destruir tudo que nos encoraja a pensar por nós mesmos.

Nossos pais queriam que nós agíssemos como as outras crianças da vizinhança; eles enfaticamente não queriam um menino ou uma menina que parecessem “estranhos” ou “diferentes” ou (que deus nos ajude) “condenavelmente espertos demais.”

Então entramos na escola, um destino pior que a morte e o inferno combinados. Ao aterrissarmos em uma escola pública ou uma escola religiosa paga, aprendemos duas lições básicas: 1) Existe uma resposta correta para qualquer questão; e 2) A educação consiste em memorizar essa única resposta correta e regurgitá-la nas “provas”.

As mesmas táticas continuam pelo ensino médio e, salvo em algumas ciências, até a universidade.

Através desta “educação” encontramos a nós mesmos bombardeados pela religião organizada. A maioria das religiões, no ocidente, também nos ensina a “única resposta correta”, a qual devemos aceitar com uma fé cega; pior ainda, tentam nos aterrorizar com ameaças de sermos assados após a morte, tostando e fervendo no inferno se alguma vez ousarmos pensar por nós mesmos, de fato.

Depois de 18 a 30+ anos de tudo isso, entramos no mercado de trabalho, e aprendemos a nos tornar, ou a tentar nos tornar, quase surdos, mudos e cegos. Devemos sempre dizer aos nossos “superiores” o que eles querem ouvir, o que veste seus preconceitos e/ou seus desejos fantasiosos. Se notarmos aquilo que eles não queriam saber sobre, aprendemos a manter nossas bocas fechadas. Se não-

“Mais uma palavra, Bumstead, e você está despedido!”

Como o meu Mahatma guru J.R. “Bob” Dobbs diz, “Você sabe o quanto um cara da média é inexpressivo? Bem, matematicamente, por definição, metade deles são ainda mais inexpressivos que isso.”

“Bob” pode ter confundido ‘da média’ com ‘mediano’, mas de certa forma ele acertou na mosca. Metade das pessoas que você conhece parece, de fato mais inexpressiva que uma caixa de pedras; mas elas não começaram assim. Pais, senhores, escolas, igrejas, anunciantes e empregos as transformaram nisso. Cada bebê ao nascer tem um incansável temperamento curioso e experimental. Leva o primeiro terço de nossas vidas para destruir essa curiosidade e experimentalismo; e na maioria dos casos, nos tornamos uma parte plácida de um rebanho dócil.

Este rebanho humano começou com gênios em potencial, antes que a conspiração tácita da conformidade social enferrujasse seus cérebros. Todos eles podem se redimir dessa liberdade perdida, se trabalharem duro pra isso.

Eu trabalhei por isso por 50 ou mais anos até agora, e ainda acho partes de mim agindo como um robô ou um zumbi em ocasiões. Aprendender a “Tornar-se O Que Se É” (como na frase de Nietzsche) leva o tempo de uma vida,  mas ainda parece ser o melhor jogo da cidade.

Copyright: Robert Anton Wilson

The Soul-Searchers – Alan Watts (traduzido)

Um trecho de In My Own Way: Uma Autobiografia, 1915-1965
© 1972 por Alan Watts. Pantheon Books

Traduzido do original em inglês @ Psychedelic-library.org

 

The Soul-Searchers

Retornando a América [em 1958] eu fui apresentado à aventuras psiquiátricas de um tipo muito diferente. Aldous Huxley tinha recentemente publicado “As portas da perceção” sobre seus experimentos com mescalina, e havia por essa época ido à exploração dos mistérios do LSD. Gerald Heard havia se juntado a ele nessas investigações, e em minhas conversas com eles eu percebi uma evidente mudança de atitude espiritual. Em síntese, eles haviam deixado de ser Maniqueístas. Sua visão de divino agora incluía a natureza, e eles se tornaram mais relaxados e humanos, então eu peguei falando a eles sobre minha própria persuasão. No entanto, pareceu-me altamente improvável que uma verdadeira experiência espiritual pudesse se dar pela ingestão de alguma química particular. Visões e êxtase, sim. Um pouquinho do sabor místico, como nadar com bóias nos braços, talvez. E talvez um novo despertar para alguém que tenha feito a jornada antes, ou um insight de uma pessoa experiente na Yoga ou o Zen.

No entanto, nesses “planos interiores” eu sou de uma natureza aventureira, e sou disposto a testar a maioria das coisas. Ambos, Aldous e meu ex-aluno na Academia, o matemático John Whittelsey, mantinham contato com Keith Ditman, psiquiatra encarregado da pesquisa do LSD no departamento de neuropsiquiatria da Universidade de Los Angeles. John estava trabalhando com ele como estatístico em um projeto elaborado para testar os efeitos da droga em dependentes do álcool e para mapear seus efeitos no organismo humano. Como muitos de seus tópicos relatavam estados de consciência que poderiam ser lidos como relatos de experiências místicas, eles estavam interessados em testar em “experts” do campo, apesar de um místico nunca ser realmente especialista da mesma forma que um neurologista ou um filólogo, por seu trabalho não ser uma catalogação de objetos. Mas eu me qualificava como um perito na medida em que eu também tinha um conhecimento considerável intelectual da psicologia e da filosofia da religião: um conhecimento que, posteriormente, me protegeu dos aspectos mais perigosos desta aventura, me garantindo um compasso e algo como um mapa neste território indomável. Ademais eu confiei em Keith Ditman. Ele não estava com medo, como muitos Jungianos, do inconsciente. Não foi imprudente, mas parecia frio, cauteloso, comedido nas opiniões, porém vivo, com olhos brilhantes e intensamente interessado em seu trabalho.

Fizemos então uma experiência inicial no escritório de Keith em Bervely Hills no qual eu estava acompanhado por Edwin Halsey, ex-secretário privado de Ananda Coomaraswamy, então ensinando religiões comparativas em Claremont. Cada um de nós tomou 100 microgramas de dietilamida do ácido lisérgico 25, cortesia da companhia Sandoz, e partimos em uma exploração de 8 horas. Para mim a viagem foi hilariamente linda, como se eu e todas as minhas percepções tivessem se transformado em um maravilhoso arabesco ou um labirinto multidimensional, onde cada coisa se tornou transparente, translúcida e reverberante com duplos ou triplos significados. Cada detalhe da percepção se tornou vívido e importante, cada “Ums” e “Ers” e pigarros quando alguém lia uma poesia, e o tempo parou de uma forma que as pessoas lá fora correndo em seus trabalhos pareciam deficientes em perceber que o destino da vida é este eterno momento. Atravessamos a rua para uma igreja branca de estilo espanhol, rodeada de oliveiras e brilhando ao sol contra um céu de absoluto azul primordial, e vimos a grama e as plantas inexplicavelmente geométricas em cada detalhe, como que sugerindo que nada na natureza era desordenado. Nós voltamos e olhamos para um volume de Sumi Japonês e Chinês, pinturas com tinta preta, todas pareciam fotografias perfeitamente precisas. Havia até mesmo luzes e sombras nos caquis de Mu-ch’i que certamente não foram destinados pelo artista. Em um momento, Edwin sentiu-se um pouco sobrecarregado e comentou: “Mal posso esperar para voltar a ser meu pequeno e velho eu novamente, sentado em um bar.” Entretanto, ele estava olhando como uma encarnação de Apollo com uma gravata sobrenatural, contemplativamente segurando um lírio laranja. (1)

De um modo geral minha primeira experiência estava um tanto mais estética do que mísica, e aí então, o que infelizmente é bastante característico de mim, eu fiz um vídeo para transmissão dizendo que eu havia olhado para este fenômeno e o achei muito interessante, mas dificilmente algo que eu chamaria de místico. Esta fita foi ouvida por dois psiquiatras na Clínica Langley-Porter, em San Francisco, Sterling Bunnell e Michael Agron, que acharam que eu deveria reconsiderar a minha opinião. Afinal eu tinha feito apenas um experimento e havia algo como uma arte para fazê-lo realmente dar certo. Foi então que Bunnell me pôs em uma série de experiências que eu registrei em “The Joyous Cosmology”, e no decurso da qual fui relutantemente forçado a admitir que – pelo menos no meu caso – o LSD tinha me levado inegavelmente um estado místico de consciência. Mas, estranhamente, considerando a minha absorção no Zen na época, o sabor dessas experiências era hindu, em vez de chinês. De alguma forma a atmosfera da mitologia e do imaginário hindu tomou conta, sugerindo ao mesmo tempo que, a filosofia hindu era uma forma local de um tipo oculto de conhecimento, inconcebivelmente antigo, que todos conhecemos nos bastidores de nossa mente mas não admitimos. O conhecimento era simultaneamente santo e de má reputação, e portanto, necessariamente esotéricos, e ele veio vestido de um sentido totalmente lógico, óbvio, e de base comum.

Em suma, eu diria que o LSD e outras substâncias psicodélicas, tais como a mescalina, psilocibina, e haxixe, podem conferir uma visão polar; quero dizer com isso que os pares de base de opostos, o positivo e o negativo, são vistos como os diferentes pólos de um único ímã ou circuito. Este conhecimento é reprimido em qualquer cultura que acentua o positivo, sendo assim um tabu rigoroso. Carrega a psicologia da Gestalt que insiste sobre a interdependência mútua da figura e do fundo, a sua conclusão lógica em cada aspecto da vida e do pensamento. De modo que o voluntário e o involuntário, conhecedor e conhecido, o nascimento e a morte, o bem e o mal, o outline e o inline, o eu e o outro, o sólido e o espaço, o movimento e o descanso, a luz e as trevas, são vistos como aspectos de um processo único e completamente perfeito. A implicação disso pode ser que não há nada na vida para ser adquirido ou atingido que não seja aqui e agora, uma implicação profundamente perturbadora para qualquer filosofia ou cultura que joga seriamente o jogo que eu chamo de “O Branco Deve Vencer”.

A visão polar é inegavelmente perigosa, mas assim é a eletricidade, as facas, e assim é a linguagem. Quando uma pessoa imatura experimenta a identidade do voluntário e involuntário, ela pode sentir-se, por um lado, totalmente impotente, e por de outro, igual ao Deus hebraico-cristão. Primeiramente, ele poderia entrar em pânico a partir da percepção de que ninguém está no comando das coisas. Posteriormente, ele pode contrair uma megalomania ofensiva. Não obstante ele haveria tido a experiência direta do fato que cada um de nós é um organismo-ambiente, dos quais os dois aspectos, indivíduo e mundo podem ser separados somente para propósitos de discussão. Se uma pessoa assim vê claramente a mutualidade do bem e do mal, ele pode saltar para a conclusão de que os princípios éticos são tão relativos quanto sem validade – o que pode ser desmoralizante para qualquer adolescente reprimido. Felizmente para mim, meu deus não é tanto o autocrata hebraico-cristão, estava mais para o TAO chinês, “que ama e nutre todas as coisas e não exerce senhorio sobre elas.”

Hesitei por muito tempo em escrever “The Joyous Cosmology” considerando os perigos de levar o público geral a um conhecimento maior desta potente alquimia. Mas desde que Aldous havia tirado o gato do saco em “As Portas da Percepção” e “Céu e Inferno”, e o tema já estava em discussão tanto em revistas psiquiátricas como na imprensa pública. Eu decidi que algo mais precisava ser dito, principalmente para acalmar o alarde público e para fazer o que eu pudesse para evitar os desastres que dariam sequência à repressão legal. Porque eu estava seriamente preocupado com os equivalentes psicodélicos do gim de banheira e com a perspectiva destes produtos químicos, descontrolados na dosagem e no teor, sendo contrabandeados para uso em ambientes inadequados, sem qualquer supervisão competente. Eu sustento que, por falta de melhor solução, deve ser restrito para prescrição psiquiátrica. Mas os governos estadual e federal eram tão estúpidos quanto eu temia, e pela aprovação de leis inaplicáveis contra o LSD, não só o dirigiu ao undeground, como impediu a investigação científica adequada. Tais leis são inaplicáveis porque qualquer químico competente pode fabricar LSD, ou um equivalente próximo, e a substância pode ser disfarçada em qualquer coisa, de aspirina a blloting-paper. Já foi pintado nas páginas finas de uma pequena Bíblia, e comido folha por folha. Mas por resultado deste terror, o uso indiscriminado do LSD (muitas vezes misturado com estricnina ou beladona, ou psicodélicos de igual periculosidade) afligiram incontáveis jovens com sintomas megalomaníacos, paranóicos, e esquizóides.

Eu vejo esse desastre no contexto mais amplo do proibicionismo americano, que fez mais do que qualquer outra coisa para corromper a polícia e promover o desrespeito à lei, e que graças a nossa pressão econômica, especialmente no problema de abuso drogas, se espalhou pelo mundo. Embora minha visão sobre esse assunto possa ser considerada extrema, eu sinto que em qualquer sociedade onde os poderes do Estado e Igreja são separados, o Estado não tem qualquer direito ou sabedoria na aplicação das leis sumptuárias contra os crimes que não têm qualquer queixa ou vítimas. Quando ordenaram aos policiais serem clérigos armados e aplicar códigos eclesiásticos da moralidade, todos os pecados proibidos da carne, da luxúria e do luxo, tornam-se — uma vez que estamos a legislar contra a natureza humana — empreendimentos extremamente rentáveis para as organizações criminosas que podem pagar tanto a polícia quanto os políticos para ficarem fora do problema. Aqueles que não podem pagar constituem cerca de um terço da população de nossas prisões superlotadas e desesperançosamente mal administradas, e as negociatas de seus julgamentos, por seus devidos processos legais, atrasam e aumentam os custos sobre os tribunais além de qualquer sentido. Estes são crimes nomogênicos, causados por más leis, assim como doenças iatrogênicas são causados pelo mal exercício da medicina. Os criminosos raramente sentem-se culpados, e muitas vezes sentem-se positivamente corretos em sua oposição a esta hipocrisia legal, e então saem da prisão rejeitando e desprezando a ordem social mais do que nunca.

Eu falo com paixão sobre este problema porque servi muitas vezes como consultor para o pessoal das instituições do Estado para desviantes mentais e morais, como os infernos institucionais que o Estado da Califórnia, mantém em San Quentin, Vacaville, Atascadero, e Napa — para citar apenas aqueles que visitei, e sabendo que são consideravelmente mais graves em outras partes do país, e mais especialmente nos estados que sofrem com o fanatismo religioso. Em relação ao nosso tempo, a repressão pelas leis sumptuárias é tão tirânica como qualquer um dos excessos da Santa Inquisição ou a Câmara da Estrela.

Minha atitude em retrospecto ao LSD é que, quando um recebe a mensagem, o outro desliga o telefone. Acho que aprendi com ele tanto quanto pude e, para meu próprio bem, não ficaria triste se não pudesse usá-lo novamente um dia. Mas não é assim. É do conhecimento geral que muitas das pessoas que tiveram experiências construtivas com LSD, ou outros psicodélicos, transformaram-nas de drogas em disciplinas espirituais — abandonando suas bóias de braços e aprendendo a nadar. Sem a experiência catalítica da droga eles poderiam nunca ter chegado a este ponto, e, assim, o meu sentimento sobre as químicas psicodélicas, assim como a maioria das outras drogas (Apesar do sentido vago da palavra), é que elas devem servir de remédio ao invés de dieta.

Foi novamente através de Aldous que ouvi pela primeira vez sobre um tal de Dr. Leary, da Universidade de Harvard, que estava fazendo um trabalho experimental com a psilocibina, derivada de um cogumelo que tinha um antigo uso com propósitos religiosos por alguns nativos mexicanos. A partir dos singulares e eruditos escritos de Aldous sobre o presente trabalho, eu estava esperando que Timothy Leary fosse um formidável guru, mas o homem que eu conheci em um restaurante de Nova York foi um irlandês extremamente charmoso, que usava um aparelho auditivo de forma tão elegante como se estivesse usando um monóculo. Nada poderia me dizer que alguém tão simpático e inteligente se tornaria uma das pessoas mais ilegais do mundo, um fugitivo da justiça, carregando o pecado de Sócrates, e tudo sob o pretexto legal de possuir uma quantidade trivial de maconha.

Acontece que Timothy estava trabalhando em um departamento da Universidade que há muito tempo me interessava, o Departamento de Relações Sociais, que havia sido fundado por Henry Murray. Em várias ocasiões visitei os domínios de Murray, na 7 Divinity Avenue, e fui entretido em almoços onde, como anfitrião, ele mostrou um talento especial para despertar conversas inteligentes e para fazer as outras pessoas apresentarem o seu melhor. Em sua companhia ficariam entusiasmados — possivelmente — I. A. Richards, Mircea Eliade, Clyde Kluckhon, ou Jerome Bruner, pois um discurso tão civilizado e intelectual como esse, é muito raramente ouvido nos círculos acadêmicos, onde parece agora um ponto de honra para manter-se fora de um assunto e discutir as trivialidades da política departamental. Mas estes cavalheiros não se envergonhavam de seu conhecimento, nem sua personalidade, e em uma ocasião — em um antiquado pré-almoço — Ouvi distintamente Richards comentando: “Bem, naturalmente, eu sempre me considero o ser humano perfeito”. Eu estava tão encantado com o ambiente de Murray que, com a ajuda de um amigo rico, eu consegui uma bolsa de dois anos para viajar e estudar sob a sua dispensa e da Universidade — um respiro que me deu tempo para compilar “The two hands os God” e para escrever “Beyond Theology”.

O tempo que eu pude realmente gastar em Harvard foi muito breve, por ser esta uma universidade com uma reputação intelectual tão definida, que suas faculdades se dão ao luxo de serem aventureiras. Mas – mesmo em Harvard – deve–se andar linha em alguns momentos, e Timothy não sabia onde estava essa linha. Sempre que eu estava em Cambridge, eu mantinha um contato próximo com ele e com seus companheiros Richard Alpert e Ralph Metzner, e estes – muito além do fascínio especial do misticismo químico – eram as pessoas mais animadas e criativas do departamento que não seja o próprio Murray, que viu as suas obras com interesse profundo e crítica construtiva, mesmo após sua aposentadoria oficial.

Eu estava também interessado no trabalho de B. F. Skinner, me questionando como um determinista poderia escrever de forma tão absoluta uma utopia, Walden Two, e me aprofundando em seus maravilhosos e bem fundamentados escritos, descobri a falha em seu sistema. Isso eu expliquei em uma palestra que Skinner, embora eu tivesse avisado ele em pessoa, não compareceu.(2) Eu vi que seu raciocínio ainda era assombrado pelo fantasma do homem como uma coisa, presumivelmente um ego consciente, determinada por forças ambientais e outras, por isso não faz sentido falar de um determinismo a menos que haja algum objeto passivo, que é determinado. Mas o seu próprio raciocínio tornou isso claro, não tanto que o comportamento humano fosse determinado por outras forças, mas que não podia ser descrita com distinta das forças e foi, na verdade, inseparável deles. Não parece ter ocorrido a ele que “causa” e “efeito” são apenas duas fases, ou duas maneiras de olhar um mesmo evento. Não é, então, que os efeitos (neste caso, os comportamentos humanos) são determinados por suas causas. A questão é que quando os eventos são total e devidamente descritos, eles se encontram envolvidos e contidos em processos que seriam a primeira vista separados deles, e assim foram chamadas “causas” como distintas de “efeitos”. Levado à sua conclusão lógica, Skinner não está dizendo que o homem é determinado pela natureza, como algo externo a ele: ele está na verdade dizendo que o homem é natureza, e está descrevendo um processo que não é nem determinado nem determinante. Ele simplesmente fornece motivo para a visão essencialmente mística que o homem e o universo são inseparáveis.

Alguns problemas foram envolvidos em minhas tentativas de elaborar uma estrutura intelectual para o que Timothy e seus amigos estavam enfrentando em seus estados de consciência psicodélica. Tanto seu entusiasmo por esses estados foi levando-os cada vez mais longe dos ideais de objetividade racional que o departamento e a universidade estavam se comprometendo; tanto mais que o departamento havia adquirido recentemente um computador e estava estrapolando a abordagem estatística para a psicologia. Por um lado, eu estava tentando convencer clã de Timothy, a manter o comando do rigor intelectual, e para expressar suas experiências em termos científicos que as pessoas entenderiam. Por outro lado eu estava sendo tão conservador quanto David McClelland, sucessor de Murray e Skinner para ver que a chamada descrição “transacional” do homem como um organismo-ambiente foi uma descrição teórica do que a natureza-mística experimenta diretamente, considerando que a maioria dos cientistas continua a se sentir como observadores separados e independente, determinados ou outra coisa. Seus sentimentos estão muito aquém de seus pontos de vista teóricos. Os psicólogos, em particular, estão ainda sob a influência emocional da mecânica newtoniana, e seus sentimentos pessoais de identidade ainda não foram modificados pela mecânica quântica e da teoria do campo.

Mas Timothy não podia se conter, e parecia-lhe cada vez mais que, na prática, os procedimentos de objetividade e rigor científico eram simplesmente um ritual acadêmico projetado para convencer a instituição universitária que seu trabalho era maçante e banal o suficiente para ser considerado “de confiança.” Acontece que as químicas psicodélicas podem te fazer curiosamente sensível à pomposidade. Qualquer um falando “memorandês”, ou em retórica política ou religiosa, ou alguém bajulando entusiasmadamente um produto no qual não acredita, soa tão ridículo que você não consegue manter uma cara séria: eis um excelente motivo porque o governo não tolera uma população “ligadona”. Tanto Richard Alpert como Timothy começaram a ver, ainda, que uma distinta carreira acadêmica não era tão importante assim, pois a universidade já era uma instituição obsoleta representando a mitologia do século XIX, do naturalismo científico. Mas quando se chega a este ponto de vista posterior, se não por causa de “drogas”, torna-se impossível manter o diálogo racional com o estabelecimento, apesar de alguns dos seus mais distintos cérebros serem conservados em álcool. Assim, as coisas chegaram a tal ponto que Timothy e Richard eram tão suspeitos como se tivessem sido lobotomizados ou se convertido a Testemunhas de Jeová.

Eu estava presente no jantar em que Timothy finalmente concordou com David McClelland para retirar a experimentação de drogas de seu trabalho no âmbito do departamento. David sustentava que eles haviam se tornado entusiásticos demais com seu trabalho para preservar a integridade científica, e com isso eu estava em acordo parcial, porque para ser intelectualmente honesto você deve ser capaz de chegar a um acordo com qualquer crítica inteligível de suas idéias. Quando recebi inspirações durante uma sessão de LSD, eu sempre busquei analisá-las posteriormente à luz da sobriedade fria, onde que alguns poucos, não todos, pareciam nonsense. Mas Davi estava indo tão longe a ponto de insistir que ninguém com um compromisso religioso poderia realmente fazer um trabalho científico de psicologia, e isto me espantou tanto que protestei, “Agora, David, você está seriamente dizendo que, um Quaker, por exemplo, sóbrio, honesto e dedicado, bem-educado e direto da Filadélfia, não poderia ser confiado ao trabalho científico?” Não me lembro de sua reação, mas eu estava inconsciente naquele momento em que ele mesmo era um Quaker interessado.

O que seguiu agora é história. Timotthy e Richard continuaram suas experiências extra-oficialmente, e escandalizaram as autoridades da universidade ao incluírem alunos de graduação em seus trabalhos. Henry Murray, no entanto, com um olhar inteligente em seu rosto, recordava sobre os dias em que a psicanálise chegou à Harvard, e que um clamor de indignação havia acontecido quando um membro psicoanalisado do corpo docente cometera suicídio. No entanto, eu mesmo comecei a me interessar, suavemente, pelo entusiasmo de Timothy, que para o seu próprio círculo de amigos e alunos, havia se tornado um carismático líder religioso que, bem treinado como ele era em psicologia, sabia muito pouco sobre religião e misticismo e suas armadilhas. Um aventureiro psicodélico não instruído, seja com o Zen ou Yoga ou qualquer outra disciplina mística, é uma vítima fácil do que Jung chama de “inflação”, da megalomania messiânica que vem de um sub-entendimento da experiência da união com Deus. Isso leva a cometer o erro inicial de dar pérolas aos porcos, e, conforme o tempo passou, fiquei consternado ao ver Timothy convertendo-se em um popular messias com o seu nome nas luzes, defendendo a experiência psicodélica como uma religião do novo mundo. Ele estava se movendo a uma colisão frontal com as religiões estabelecidas da teocracia bíblica e mecanismo científico, e simplesmente implorando por seu martírio.

A vida com Timothy, como eu vi em suas comunidades, em Newton Center e Millbrook, nunca foi maçante, embora fosse difícil de entender como as pessoas que testemunharam os esplendores da visão psicodélica poderiam ser tão esteticamente cegos a viver em relativa miséria, com camas perpetuamente desarrumadas, pisos por varrer e mobiliário medonho e decrépito. Poderia ser, suponho eu, que “estar ligado” o tempo todo é como olhar através de um caleidoscópio: traz padrões muito mais interessante da bagunça (como cinzeiros sujos) do que de cenas em ordem como livros ordenadamente dispostos em prateleiras. Mas Timothy era o centro de um vórtice que puxou para dentro aventureiros intelectuais e espirituais de todos os quartos, e em seu grupo, estudantes hippies se amontoavam com milionários e eminentes professores, que para passar uma noite com ele em Nova York ou Los Angeles eram varridos de um suntuoso apartamento exótico para outro.

Através de tudo isso, Timothy manteve-se, essencialmente, bem humorado, gentil, amável, e (em alguns sentidos) uma pessoa intelectualmente brilhante e, portanto, era totalmente incongruente – porém previsível – tornar-se consciente da vigilância implacável da polícia nos bastidores. Agora, nada tão facilmente perturba as pessoas usando psicodélicos como uma atmosfera de paranóia, de modo que, pela sua intervenção, o polícia criou males muito maiores do que sua suposta função de nos proteger. Nos princípio, quando o LSD, a psilocibina, a mescalina foram utilizados mais ou menos legitimamente entre pessoas razoavelmente maduras, houve poucos problemas com viagens ruins, e episódios de ansiedade geralmente se transformavam em ocasiões de introspecção. Mas quando as autoridades federais e estaduais começaram a perseguição sistemática, os medos invocados para justificá-la tornaram-se auto-profecias, e agora havia razão real para uma atmosfera de paranóia em todos os experimentos realizados fora do ambiente estéril e clínicos de hospitais psiquiátricos. Embora Timothy tivesse ganho um caso na Suprema Corte que, tecnicamente, anulou a lei federal contra a posse e uso (mas não contra a importação) de maconha, as leis do estado permaneceram em vigor, e ele era assediado por onde passava, até que finalmente fora preso sem fiança com tantos encargos técnicos contra ele que não havia nada mais a fazer, além de fugir e pedir asilo, no primeiro exílio que encontrasse.

Richard Alpert, que em todo este processo teve um papel muito mais silencioso, também foi para o exílio, mas de outra maneira. Enquanto visitava a Índia, ele percebeu que tinha chegado ao fim da identidade de psicólogo que ele tinha representado até agora, tanto que não podia vislumbrar qualquer papel normal ou uma carreira para si mesmo nos Estados Unidos. Além disso, ele se sentia, como eu, tendo aprendido tudo o que poderia começar dos psicodélicos, e que o que restou foi realmente viver uma vida de liberdade longe dos jogos mundiais de ansiedades. Ele, então, assumiu o nome de Baba Ram Dass, e voltou como um sannyasin vestido de branco e barbudo, cheio de humor e energia, dedicado apenas a viver no eterno agora. E, como seria de esperar, as pessoas levantaram suas sobrancelhas e balançaram as cabeças, dizendo que o velho showman estava jogando outro jogo, ou, que infelizmente as drogas tinha se apossado de tal cientista jovem e promissor, ou que era muito fácil ser um grande sannyasin com uma renda independente. Mas eu sentia que ele havia feito a coisa certa para si. Passei muitas horas com ele e senti que ele estava realmente feliz, que sua inteligência estava tão afiada como sempre, e ele estava confiante o suficiente do que estava fazendo para não tentar me convencer a seguir o seu exemplo. Certamente ele via um grande prazer em multidões de jovens que vinham para ouvi-lo,  neste aspecto, ele e eu somos iguais, pois apreciamos tanto pensar em voz alta com uma platéia atenta e inteligente quanto apreciamos desfrutar da paisagem ou da música. Mas estaria ele andando com uma túnica branca, se fosse realmente sincero? De fato, sim. Pois em um país onde a sinceridade de um filósofo é medida pela simplicidade de suas vestes, eu também por algumas vezes usaria um kimono ou um sarong em público, para que, como Billy Graham, atraísse um seguimento enorme de pessoas perigosamente sérias e mal-humoradas.

Agora, em retrospecto, é preciso ser dito, que a década psicodélica de 60 realmente começou a acordar os psicoterapeutas de seus estudos sobre pedestres e atitudes reducionistas de vida. Aqui eu estou usando a palavra “psicodélico” para significar todos os processos de “manifestação da mente”: não apenas químicos, mas também filosóficos, experimentos neurológicos e disciplinas espirituais. No início da década, o sentimento era que os a maioria dos psiquiatras via a si mesmo como guardiões de uma realidade oficial que poderia ser descrita como o mundo visto em uma manhã de segunda-feira sombria. Eles viam como uma boa orientação de como lidar com a realidade – ter uma vida sexual hétero normal (e de preferência monogâmica), uma relação “madura”, como era chamado; assim como estar apto a dirigir um carro e cumprir um trabalho de 8 horas por dia; ser capaz de retirar os produtos de Recall sem hesitar; e ser capazes de participar de atividades em grupo e mostrar qualidades de liderança e iniciativa.

Se bem me lembro, em 1959, fui convidado a falar antes de uma reunião da American Psychiatric Association, em Los Angeles. Trabalhos estatísticos eruditos eram apresentados por horas e horas, até que chegou a minha vez, quando já estávamos atrasados para o almoço. Eu abandonei o meu discurso preparado (o que a imprensa chama de desvio textual) e disse:

“Cavalheiros, isto não será um discurso científico, pois eu sou um simples filósofo, não um psiquiatra, e sei que estão famintos pelo almoço. Nós filósofos somos muito gratos a vocês por nos mostrarem as bases emocionais inconscientes de algumas de nossas idéias, mas o tempo para mostrar as suposições intelectuais inconscientes por trás de alguns de vocês, chegou. A literatura psiquiátrica está cheia de metafísica não examinada. Mesmo Jung, que é tão prontamente repudiado por seu “misticismo”, inclina-se para trás para evitar considerações metafísicas sobre o pretexto de que ele é rigorosamente um médico e um cientista. Isto é impossível. Todo ser humano é um metafísico assim como cada filósofo tem apetites e emoções — e com isso quero dizer que todos nós temos certas suposições básicas sobre a boa vida e a natureza da realidade. Mesmo o típico homem de negócios que afirma ser um homem prático, que não se preocupa com coisas mais elevadas, assim, declara que ele é um pragmático e um positivista, e não uma pessoa muito pensativa sobre isso.

“Pergunto-me, então, quanta consideração vocês dão ao fato de que a maioria de suas próprias suposições sobre a boa vida e da realidade vêm diretamente do naturalismo científico do século XIX, da hipótese estritamente metafísica de que o universo é um mecanismo que obedece as leis de Newton, e que não há outro deus ao seu lado. Psicanálise, que é de fato psicohidráulica seguindo a mecânica de Newton, parte da afirmação mística de que a energia psicossexual do inconsciente é uma explosão cega e estúpida da luxúria pura, seguindo a noção de Haeckel de que o universo em geral é uma manifestação primordialmente indiscriminada e estúpida da energia. Deveria ser óbvio para vocês que este é um parecer de que nunca houve o mínimo de provas, e que, além disso, ignora a evidência de que nós mesmos, supostamente fazendo observações inteligentes, somos manifestações da mesma energia.

Na base desta não examinada, depreciativa e instável opinião quanto à natureza da energia biológica e física, alguns de seus membros psicanalistas vêm durante toda a manhã se referindo aos chamados estados místicos de consciência como “regressivos”, levando-nos de volta a uma dissolução da inteligência individual em um banho ácido de líquido amniótico, reduzindo-a a uma identidade descaracterizada – em primeira instância – como uma bagunça cega de energia libidinosa. Agora, até que vocês achem alguma evidência substancial para suas metafísicas, terão que admitir que não há um meio de saber onde terminam os seu universos, de modo que, enquanto isso, vocês devem abster-se de conclusões fáceis tanto como saber quais direções são progressivas e quais são regressivos. [Risadas]”

Sempre me pareceu, em geral, que faltava aos psicoterapeutas uma dimensão metafísica; em outras palavras, eles afetavam a mentalidade dos acionistas de seguros e viviam em um mundo varrido de todo mistério, mágica, cor, música e temor, sem lugar no coração para o som distante de um gongo em um vale alto e escondido. Este é um exagero de onde eu salvo a maior parte dos junguianos e alguns fora dos padrões como Groddeck, Prinzhorn, Heyer GR, Wilhelm Reich, e outros menos conhecidos. Sobre a escrita da psicologia americana, em 1954, Abraham Maslow observou que era excessivamente pragmática, puritana, e proposital…. Não há outros capítulos sobre diversão e alegria, lazer e meditação, sobre vadiagem e falta de rumo, sobre atividade inúteis ou sem propósito…. A psicologia americana se ocupa excessivamente com apenas metade da vida e negligencia a — talvez mais importante— outra metade.(3)

A publicação de meus livros Psychotherapy East and West e Joyous Cosmology no início dos sessenta me levou a discussões públicas e privadas com muitos membros de liderança do ofício psiquiátrico, e fiquei espantado com o que parecia ser um medo aterrorizante dos estados incomuns de consciência. Eu achava que os psiquiatras deveriam estar tão familiarizados com esses territórios selvagens e inexplorados da mente, quanto os gurus da Índia, mas conforme eu lia algo como dois enormes volumes do American Handbook of Psychiatry, vi apenas mapas da alma tão primitivos quanto os antigos mapas da Terra. Havia algumas descrições vagas e vazias sobre Esquizofrenia, Histeria e Catatonia, acompanhados com informações pouco mais sólidas que ”Aqui há dragões e cameleopards.” Em uma festa em Nova York me peguei conversando com um dos mais eminentes analistas da cidade, e tão logo ele soube que eu havia experimentado o LSD sua personalidade se tornou estritamente profissional. Como se vestisse sua máscara e luvas de borracha e me abordasse como um espécime, querendo saber todos os detalhes superficiais das alterações sinestésicas e da percepção, os quais eu podia vê-lo categorizando com uma mente afiada e calibrada. Eu tomei parte em um debate televisionado sobre “Open End,” com David Susskind tentando mediar duas facções de entusiastas psicodélicos e psiquiatras acadêmicos, e no tumulto que se seguiu e confusão de paixões, encontrei-me flutuando para a posição de moderador, contando a ambos os lados, que não haviam bases evidenciais para seus respectivos fanatismos.

Em todos esses contatos eu comecei a sentir que os únicos psiquiatras que possuíam alguma informação sólida eram neurologistas como David Rioch, da Walter Reed, e Karl Pribram, de Stanford. Eles me diziam coisas que eu não sabia e ainda sim eram os primeiros a admitir o quão pouco sabiam, por estarem percebendo o estranho fato de seus cérebros serem mais inteligentes que suas mentes ou, para simplificar, o sistema nervoso humano ser de tão alta ordem de complexidade que estávamos apenas começando a organizar isso em termos de pensamento consciente. Sentei-me em um seminário interno com Pribram, onde ele me explicou de forma cuidadosamente detalhada como o cérebro não é um mero refletor do mundo externo, mas como sua estrutura quase cria as formas e padrões que vemos, selecionando-as de um imensurável espectro de vibrações como as mãos de um harpista arrancam acordes e melodias de um espectro de cordas. Por Karl Pribram estar trabalhando no mais delicado quebra-cabeças epistemológico: Como o cérebro evoca um mundo que é simultaneamente o mundo onde está, e como o cérebro evoca o próprio cérebro.(4) Colocando em termos metafísicos, psicológicos, físicos ou neurológicos: dava sempre no mesmo. Como podemos saber que sabemos, sem saber que se sabe?

Esta questão deverá ser respondida, se assim puder, antes que possa fazer algum sentido dizer que a realidade é material, mental, elétrica, espiritual, uma realidade, um sonho, ou qualquer outra coisa. Mas sempre, ao contemplar este enigma, um sentimento estranho toma conta de mim, como se eu não pudesse me lembrar do meu nome que está na ponta da língua. Realmente isso faz pensar. . .

De qualquer forma, no fim desses dez anos, tenho a impressão de que o mundo psiquiátrico, se abriu à possibilidade de que há mais coisas no céu e terra que sonhou a sua filosofia. A psicanálise ortodoxa parece cada vez mais um culto religioso, e a psiquiatria institucional, um sistema de lavagem cerebral. O campo está dando lugar a movimentos e técnicas cada vez mais livres da metafísica tácita do mecanismo do século XIX: Psicologia Humanista, Psicologia Transpessoal, Terapia da Gestalt, Psicologia Transacional, Terapia de Encontros, Psicossíntese (Assagioli), Bioenergética (Reich), e dúzias de outras abordagens interessantes com nomes estranhos.

Historiadores e analistas sociais vão tentar descobrir a partir de qualquer autobiógrafo o quanto ele influenciou os movimentos do seu tempo e quanto foi influenciado por eles. Só posso dizer que, conforme fico mais velho eu volto a uma estranha sensação infantil de não ser capaz de definir nenhuma linha entre o mundo e minha própria ação sobre ele, e me pergunto se isso também é sentido por pessoas que nunca estiveram sob o olho público ou nunca tiveram alguma pretensão de influência. Uma pessoa comum pode ter a impressão que existem milhões de si mesmos, e que todos eles, como um só, estão fazendo o que há na humanidade – assim como neles mesmos. Desta forma ele poderia talvez sentir-se mais importante do que alguém que tenha tido uma visão particular e seguiu um caminho solitário.

Parte do problema é que quanto mais eu me aproximo do momento presente, mais difícil se torna ver as coisas em perspectiva. Os eventos de 20, 30 e 40 anos atrás estão mais claros na minha cabeça, e parecem-me mais recentes no tempo do que o que aconteceu há pouco tempo — em anos que pareceram fantasticamente excitantes cheios de pessoas e acontecimentos. Eu sinto que devo esperar outros 10 anos para descobrir o que eu estava fazendo, no campo da psicoterapia, com Timothy Leary e Richard Alpert, Fritz Perls e Ronald Laing, Margaret Rioch e Anthony Sutich, Bernard Aaronson e Stanley Krippner, Michael Murphy e John Lilly; na teoogia com Bishops James Pike e John A. T. Robinson, Dom Aelred Graham e Huston Smith; e na formação da contracultura mística com Lama Anagarika Govinda e Shunryu Suzuki, Allen Ginsberg e Theodore Roszak, Bernard Gunther e Gia-fu Feng, Ralph Metzner e Claudio Naranjo, Norman 0. Brown e Nancy Wilson Ross, Lama Chogyam Trungpa e Ch’ung-liang Huang, Douglas Harding e G. Spencer Brown, Richard Weaver e Robert Shapiro— para citar apenas alguns poucos nomes e rostos reunidos do passado recente que me mostram que eu apenas mal comecei esta história.

Referências

(1)
Vários anos mais arde ele morreria em acidente de automóvel à caminho de Ajijic no México, onde ele havia fixado residência. E então partiu para o obscuro um dos mais extraordinários e brilhantes homens, que escreveu um livro que ninguém publicaria (sua dissertação para Ph.D em Harvard) sobre a história como uma ilusão subjetiva, baseada nas visões conflitantes das críticas modernas ao novo Testamento. Ele era tanto um acadêmico quanto um artista na vida que me engrandeceu profundamente com suas conversas e críticas sobre meu trabalho. No entanto, suas visões liberais eram demais para o Reed College e para Claremont, onde fora recusado — a menos que, como ele disse uma vez, ele se acalmasse e casasse com uma simpática jovem episcopal.

(2)
“The Individual as Man-World,” The Psychedelic Review, Vol. 1, No. 1, (Cambridge, Mass.: June 1963).

(3)
Motivation and Personality
(New York Harper & Row, Publishers, 1954), pp. 291-92.

(4)
see his Languages of the Brain, (Englewood Cliffs, NJ Prentice-Hall, 1971).

.

Traduzido do original em inglês:  http://www.psychedelic-library.org/wattsbio.htm

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O ABISMO E A PONTE – Amit Goswami

Capítulo extraído do Livro Universo Autoconsciente do físico Amit Goswami, PhD

Vejo uma caricatura estranha, despedaçada, de homem acenando para mim. O que é que ele está fazendo aqui? Como é que ele pode existir em um estado tão fragmentado? Que nome lhe darei?

Como se estivesse lendo minha mente, a mutilada figura começa a falar:
— Em meu estado, que diferença faz um nome? Chama-me de Guernica. Estou à procura de minha consciência. Não tenho direito à consciência?

Reconheci o nome. Guernica é a obra-prima de Pablo Picasso, pintada em protesto contra o bombardeio fascista da pequena cidade espanhola do mesmo nome.

— Bem — respondi, procurando tranqüilizá-lo —, se você me disser exatamente o que precisa, talvez eu possa ajudá-lo.

— Você acha, mesmo.? — Os olhos dele se iluminaram. — Você, quem sabe, defenderá minha causa.? – E me lançou um olhar ansioso.

— Perante quem? Onde? — perguntei, intrigado.

— Lá dentro. Eles estão se divertindo numa festinha, enquanto eu estou abandonado aqui, inconsciente. Talvez, se eu encontrar minha consciência, eu volte a ser inteiro novamente.

— Quem são eles? — perguntei.

— Os cientistas, os que decidem o que é real.

— Oh! Neste caso a situação não pode ser tão ruim assim. Eu sou cientista. Cientistas formam um grupo de mente aberta. Vou conversar com eles.

O pessoal da festinha dividia-se em três grupos separados, como as ilhas do triângulo das Bermudas. Hesitei por um momento e, em seguida, em passos largos, dirigi-me a um deles — em terra de sapos, de cócoras com eles, e tudo mais. A discussão estava acalorada. O grupo conversava sobre física quântica.

— A física quântica faz prognósticos sobre fatos que observamos experimentalmente, nada mais — disse um cavalheiro de aparência distinta, com uns poucos fios grisalhos nos cabelos. — Por que fazer suposições sem base sobre a realidade, quando a conversa é sobre objetos quânticos ?!

— O senhor não está um pouco cansado desse disco. Uma geração inteira de físicos parece ter sofrido lavagem cerebral e sido levada a acreditar que uma filosofia convincente da física quântica foi formulada há 60 anos. Isso simplesmente não aconteceu. Ninguém entende a mecânica quântica — disse outro, cuja postura melancólica era óbvia.

Essas palavras mal foram notadas na discussão quando outro cavalheiro, exibindo uma barba desgrenhada, disse com arrogante autoridade:
— Escutem aqui, vamos corrigir o contexto. A física quântica diz que objetos são representados por ondas. Objetos são ondas. E ondas, como todos nós sabemos, podem estar em dois (ou mais) lugares na mesma ocasião. Mas, quando observamos um objeto quântico, nós o  encontramos, todo ele, em um único lugar, aqui, e não ali, e, com certeza, não ambos aqui e ali ao mesmo tempo.

O senhor barbado agitava nervoso as mãos.
— O que é que isso significa, em termos simples? O senhor — disse, fítando-me — o que é que o senhor pensa a respeito?

Por um momento, fiquei abalado com o desafio, mas recuperei-me rápido.
— Bem, parece que nossas observações, e portanto nós, produzem um efeito profundo sobre objetos quânticos.

— Não. Não. Não — trovejou meu inquisidor. — Quando observamos, nenhum paradoxo existe. Quando não observamos, volta o paradoxo de o objeto estar simultaneamente em dois lugares. Obviamente, a maneira de evitar o paradoxo é prometer jamais conversar, entre observações, sobre o paradeiro do objeto.

— Mas… e se nossa consciência produzir realmente um efeito profundo sobre objetos quânticos. — insisti. Por alguma razão, parecia-me que a consciência de Guernica tinha alguma coisa a ver com essa especulação.

— Mas isso significa influência da mente sobre a matéria — exclamaram em uníssono os membros do grupo, olhando-me como se eu tivesse dito uma heresia.

— Mas, mas — gaguejei, recusando ser intimidado —, suponhamos que haja uma maneira de aceitar o poder da mente sobre a matéria.

Contei a eles a triste situação de Guernica.
— Escutem aqui, os senhores têm uma responsabilidade social neste particular. Os senhores sabem há 60 anos que a maneira convencional, objetiva, de estudar física não funciona no caso de objetos quânticos. Encontramos paradoxos. Ainda assim, os senhores fingem usar de objetividade e o resto da sociedade perde a oportunidade de reconhecer que nós — nossa consciência — estamos intimamente conectados com a realidade. Os senhores podem imaginar o impacto que produziriam sobre a visão de mundo das pessoas comuns se os físicos reconhecessem abertamente que nós não somos separados do mundo, mas, sim, somos o mundo, e que temos que assumir responsabilidade por isso. Talvez só então Guernica, não, todos nós possamos retornar à completeza.

O cavalheiro de aparência distinta tomou a palavra:
— Reconhecerei, nas caladas da noite e quando não houver ninguém por perto, que tenho dúvidas. Talvez estejamos perdendo uma oportunidade. Mas, como minha mãe me ensinou, na dúvida, é muito melhor fingir ignorância. Não sabemos coisa alguma sobre consciência. A consciência é assunto que pertence à psicologia, àqueles caras ali — finalizou, apontando para um canto.

— Mas — insisti teimosamente — suponhamos que definimos consciência como o agente que afeta objetos quânticos para lhes tornar o comportamento apreensível pelos sentidos. Tenho certeza de que os psicólogos estudariam essa possibilidade, se os senhores se aliassem a mim. Eu tinha me convencido de que a possibilidade de Guernica obter uma consciência dependia de meu sucesso em atrair esses cavalheiros para meu lado.

— Dizer que a consciência afeta causalmente os átomos é a mesma coisa que abrir a caixa de Pandora. Essa idéia viraria a física de cabeça para  baixo. A física não seria independente e nós perderíamos nossa credibilidade.

Havia um tom de finalidade na voz que falava. Outra pessoa, com uma voz que eu ouvira antes, disse:
— Ninguém entende a mecânica quântica.

— Mas eu prometi a Guernica que defenderia a causa da devolução de sua consciência! Por favor, ouçam o resto do que eu tenho a dizer — protestei. Mas ninguém me deu a menor atenção. Eu me tornei um zero nesse grupo — uma não-consciência, igual a Guernica.

Resolvi tentar os psicólogos. Reconheci-os pelo grande número de gaiolas de ratos e computadores no canto que ocupavam na sala.

Uma mulher com aparência de pessoa competente explicava nesse momento alguma coisa a um rapaz:
— Ao supor que o cérebro-mente é um computador, temos esperança de transcender a briga de foice dos behavioristas. O cérebro é o hardware do computador. Nada há, realmente, senão o cérebro. Isso é que é o real. Não obstante, os estados do hardware do cérebro, com o passar do tempo, executam funções independentes, como o software do computador. E são esses estados ao harware que chamamos de mente.

— Neste caso, a consciência é o quê? — quis saber o rapaz.

Puxa, que sincronização perfeita. Isso era exatamente o que me trouxera àquele canto — para saber o que os psicólogos pensam da consciência!
Eles deviam ser os tais que exerciam controle sobre a consciência de Guernica.

— A consciência é semelhante à unidade central de processamento, o centro de comando do computador — respondeu pacientemente a mulher.

O rapaz, insatisfeito com a resposta, insistiu:
— Se pudermos explicar todo nosso desempenho de entrada-saída em termos da atividade dos circuitos do computador, então, ao que parece, a consciência é inteiramente desnecessária.

Não pude me conter:
— Por favor, não desistam ainda de discutir a consciência. Meu amigo Guernica precisa dela.
E lhes contei o problema de Guernica.

Parecendo até um eco de meu amigo físico momentos antes, um cavalheiro elegantemente vestido intrometeu-se casualmente na conversa:
— Mas a psicologia cognitiva não está pronta ainda para a consciência. Nem mesmo sabemos como definí-la.

— Eu  poderia lhe dar a definição do físico sobre consciência. Ela tem a ver com a física quântica.
Esta última palavra despertou-lhes a atenção. Inicialmente, expliquei que os objetos quânticos eram ondas que surgiam e se espalhavam por mais de um lugar e que a consciência poderia ser a agência que focaliza as ondas, de tal modo que podemos observá-las em um único lugar.

— E esta é a solução do problema dos senhores — sugeri. — Os senhores podem aceitar a definição de consciência dada pela física. E, em seguida, poderão ajudar Guernica.

— Mas o senhor não estaria misturando as coisas? Os físicos não dizem que tudo é feito de átomos — de objetos quânticos? Se a consciência é feita também de objetos quânticos, de que maneira pode ela atuar como fonte causal sobre eles.? Pense, homem, pense.

Senti uma pequena sensação de pânico. Se esses psicólogos sabiam do que estavam falando, até minha consciência era uma ilusão, quanto mais a de Guernica. Mas eles estariam certos apenas se todas as coisas, incluindo a consciência, fossem realmente feitas de átomos. De repente, outra possibilidade relampejou em minha mente! E eu disse impetuosamente:

— Os senhores estão fazendo as coisas da maneira errada! Não podem ter certeza de que todas as coisas são feitas de átomos… Isso é uma suposição. Vamos supor, em vez disso, que todas as coisas, incluindo átomos, sejam feitas de consciência!

Meus ouvintes pareceram atordoados.
— Escute, há alguns psicólogos que pensam assim. Reconheço que a possibilidade a que você se refere é interessante. Mas não é científica. Se queremos elevar a psicologia ao status de ciência, temos que nos manter longe da consciência — especialmente da idéia de que a consciência possa ser a realidade primária. Sinto muito, moço.

A mulher que havia falado parecia realmente penalizada. Eu não havia ainda conseguido fazer progresso algum para trazer de volta a consciência de Guernica. Em desespero, voltei-me para o último grupo — o terceiro ápice do triângulo. Descobri que eles eram neurofísiologistas (cientistas do cérebro). Talvez eles fossem os árbitros que realmente importavam.

Os neurocirurgiões discutiam também nesse momento a consciência e minhas expectativas subiram muito.
— A consciência é uma entidade causal que dá significado à existência, admito isso — disse um deles, dirigindo-se a um senhor mais velho e esquelético. — Mas tem que ser um fenômeno emergente do cérebro, não separado dele. Afinal de contas, tudo é feito de matéria. Isso é tudo o que há.

O tipo magrelo, falando com um sotaque britânico, objetou:
— De que maneira algo feito de alguma outra coisa pode agir causalmente sobre aquilo de que é constituído? Isso seria equivalente a um comercial de televisão repetindo-se ao agir sobre os circuitos eletrônicos do monitor. Deus nos livre disso! Não, a consciência tem que ser uma entidade diferente do cérebro, a fim de produzir um efeito causal sobre ele. Ela pertence a um mundo separado, fora do mundo material.

— Nesse caso, como é que os dois mundos interagem? Um fantasma não pode atuar sobre uma máquina.

Interrompendo-os rudemente, um terceiro, usando rabo-de-cavalo, soltou uma risada e disse:
— Vocês dois estão dizendo tolices. Todo o problema de vocês surge da tentativa de encontrar significado em um mundo material inerentemente sem sentido. Olhem aqui, os físicos têm razão quando dizem que não há significado, não há livre-arbítrio, e que tudo é uma ciranda aleatória de átomos.

O defensor britânico de um mundo separado para a consciência, sarcástico nesse momento, retrucou:
— E você pensa que o que diz faz sentido! Você, você mesmo, é o jogo de movimentos aleatórios, sem sentido, de átomos. Ainda assim, formula teorias e pensa que suas teorias significam alguma coisa.

Insinuei-me em meio ao debate:
— Conheço uma maneira de obter significado, mesmo no jogo dos átomos. Suponhamos que tudo, em vez de ser feito de átomos, que tudo fosse feito de consciência. O que aconteceria, neste caso?

— Onde foi que você arranjou essa idéia? — perguntaram, em tom de desafio.

— Na física quântica.

— Mas não há física quântica no macronível do cérebro! — exclamaram todos eles, com a autoridade de quem sabe, unificados na objeção comum. — A física quântica é para o micro, para os átomos. Átomos formam moléculas, moléculas formam células e células formam o cérebro. Nós trabalhamos diariamente com o cérebro. Não há necessidade de invocar a mecânica quântica dos átomos para explicar o comportamento do cérebro no nível grosseiro.

— Mas os senhores não alegam que compreendem inteiramente o cérebro? O cérebro não é tão simples assim! Não houve alguém que disse que se o cérebro fosse tão simples que pudéssemos entendê-lo nós seríamos criaturas tão simples que não o entenderíamos?

— Seja isso como for — concederam eles —, de que maneira a idéia da física quântica ajudaria, no caso da consciência?

Expliquei-lhes como a consciência afetava a onda quântica:
— Olhem aqui, isso é um paradoxo, se a consciência é constituída de átomos. Mas se viramos pelo avesso nossa idéia sobre como o mundo é constituído, o paradoxo é resolvido de forma muito satisfatória. Garanto aos senhores que o mundo é feito de consciência.

Não posso esconder minha emoção e até mesmo orgulho — se esta idéia é suficientemente forte. Apelei para que seguissem meu raciocínio.
— O triste em tudo isso — continuei —, é que se as pessoas comuns realmente soubessem que consciência, e não matéria, é o elo que nos liga uns aos outros e ao mundo, as opiniões delas sobre guerra e paz, poluição ambiental, justiça social, valores religiosos e todas as demais atividades humanas mudariam radicalmente.

— Isso que o senhor está dizendo parece interessante e simpatizo com a idéia, pode acreditar. Mas a idéia parece também alguma coisa tirada da Bíblia. De que modo podemos adotar idéias religiosas como ciência e ainda merecer credibilidade?
Meu interlocutor dava a impressão de que falava consigo mesmo.

— Estou pedindo aos senhores que concedam à consciência o que lhe pertence — respondi. — Meu amigo Guernica precisa de consciência para tornar-se novamente uma pessoa completa. E pelo que ouvi nesta festa, ele não é o único. Se assim é, como os senhores podem ainda debater se a consciência de fato existe? Mas chega disso! A existência da consciência não é em absoluto assunto debatível, e os senhores sabem disso.

— Entendo — disse o jovem de rabo-de-cavalo, sacudindo a cabeça. — Meu amigo, há aqui um mal-entendido. Todos nós resolvemos ser Guernica. E você terá que fazer o mesmo, se quiser fazer ciência. Temos que supor que todos nós somos feitos de átomos. Nossa consciência tem que ser um fenômeno secundário — um epifenômeno — da dança dos átomos. A objetividade fundamental da ciência assim o exige.

Voltei ao meu amigo Guernica e, triste, contei-lhe a experiência.
— Como disse certa vez Abraham Maslow: “Se a única ferramenta que você tem é um martelo, comece a tratar todas as coisas como se elas fossem pregos.” Essas pessoas estão acostumadas a considerar o mundo como feito de átomos e separado de si mesmas. Consideram a consciência como um epifenômeno ilusório. Não podem lhe conceder consciência.

— Mas, e o senhor — perguntou Guernica, fitando-me. — O senhor vai esconder-se por trás da objetividade científica ou vai fazer alguma coisa para me ajudar a recuperar minha completeza?
Nesse momento, ele tremia.

A emoção com que falava despertou-me do sonho. Lentamente, nasceu a decisão de escrever este livro.

Enfrentamos hoje na física um grande dilema. Na física quântica — a nova física — descobrimos um marco teórico que funciona. Explica um sem-número de experimentos de laboratório, e muito mais. A física quântica deu origem a tecnologias de imensa utilidade, tais como as de transistores, lasers e supercondutores. Ainda assim, não conseguimos extrair sentido da matemática da física quântica sem sugerir uma interpretação dos resultados experimentais que numerosos indivíduos só podem considerar como paradoxal, ou mesmo inaceitável. Vejamos, como exemplo, as propriedades quânticas seguintes:

  • Um objeto quântico (como, por exemplo, um elétron) pode estar, no mesmo instante, em mais de um lugar (apropriedade da onda).
  • Não podemos dizer que um objeto quântico se manifeste na realidade comum espaço-tempo até que o observemos como uma partícula (o colapso da onda).
  • Um objeto quântico deixa de existir aqui e simultaneamente passa a existir ali, e não podemos dizer que ele passou através do espaço interveniente (o salto quântico).
  • A manifestação de um objeto quântico, ocasionada por nossa observação, influencia simultaneamente seu objeto gêmeo correlato — pouco importando a distância que os separa (ação quântica à distância).

Não podemos ligar a física quântica a dados experimentais sem utilizar alguns esquemas de interpretação, e a interpretação depende da filosofia com que encaramos os dados. A filosofia que há séculos domina a ciência (o materialismo físico, ou material) supõe que só a matéria — que consiste de átomos ou, em última análise, de partículas elementares — é real. Tudo mais são fenômenos secundários da matéria, apenas uma dança dos átomos constituintes. Essa visão do mundo é denominada de realismo porque se presume que os objetos sejam reais e independentes dos sujeitos, nós, ou da maneira como os observamos. A idéia, contudo, de que todas as coisas são constituídas de átomos é uma suposição não provada. Não se baseia em prova direta no tocante a todas as coisas. Quando a nova física nos desafia com uma situação que parece paradoxal, quando vista da perspectiva do realismo materialista, tendemos a ignorar a possibilidade de que os paradoxos possam estar surgindo por causa da falsidade de nossa suposição não comprovada. (Tendemos a esquecer que uma suposição mantida por longo tempo não se transforma, por isso, em verdade, e, não raro, não gostamos que nos lembrem disso.)

Atualmente, numerosos físicos desconfiam que há alguma coisa de errado no realismo materialista, mas têm medo de sacudir o barco que lhes serviu tão bem, por tanto tempo. Não se dão conta de que o bote está à deriva e precisa de novo rumo, sob uma nova visão do mundo.

Há por acaso uma alternativa ao realismo materialista. Essa IGSQ esforça-se, sem sucesso, a despeito de seus modelos de computador, para explicar a existência da mente, em especial o fenômeno de uma autoconsciência causalmente potente. “O que é consciência?” O realista materialista tenta ignorar a pergunta com um encolher de ombros e com a resposta arrogante de que ela nenhuma importância tem. Se, contudo, estudamos, por menor que seja a seriedade, todas as teorias de que a mente consciente constrói (incluindo os que a negam), então a consciência tem, de fato, importância.

Desde o dia em que René Descartes dividiu a realidade em dois reinos separados — mente e matéria —, numerosas pessoas têm-se esforçado para racionalizar a potência causai da mente consciente dentro do dualismo cartesiano. A ciência, contudo, oferece razões irresistíveis para que se ponha em dúvida que seja sustentável uma filosofia dualista: para que haja interação entre os mundos da mente e da matéria, terá que haver intercâmbio de energia. Ora, sabemos que no mundo material a energia permanece constante. Certamente, portanto, só há uma realidade. Aí é que surge o problema: se a única realidade é a realidade material, a consciência não pode existir, exceto como um epifenômeno anômalo.

A pergunta, portanto, consiste no seguinte: há uma alternativa monística ao realismo materialista, caso em que mente e matéria são partes integrais de uma mesma realidade, mas uma realidade que não se baseia na matéria? Estou convencido de que há. A alternativa que proponho neste livro é o idealismo monístico. Esta filosofia é monística, em oposição à dualística, e é idealismo porque idéias (não confundir com ideais) e a consciência da existência das mesmas são consideradas como os elementos básicos da realidade; a matéria é julgada secundária. Em outras palavras, em vez de postular que tudo (incluindo a consciência) é constituído de matéria, esta filosofia postula que tudo (incluindo a matéria) existe na consciência e é por ela manipulado. Notem que a filosofia não diz que a matéria é não-real, mas que a realidade da matéria é secundária à da consciência, que é em si o fundamento de todo ser— incluindo a matéria. Em outras palavras, em resposta à pergunta, “O que é a matéria?”, o idealista monístico jamais responderia: “Esqueça!”

Este livro mostra que a filosofia do idealismo monístico proporciona uma interpretação, isenta de paradoxo, da física quântica, e que é lógica, coerente e satisfatória. Além disso, fenômenos mentais — tais como autoconsciência, livre-arbítrio, criatividade, até mesmo percepção extra-sensorial — encontram explicações simples e aceitáveis quando o problema mente-corpo é reformulado em um contexto abrangente de idealismo monístico e teoria quântica. Este quadro reformulado do cérebro-mente permite-nos compreender todo nosso self, em total harmonia com aquilo que as grandes tradições espirituais mantiveram durante milênios.

A influência negativa do realismo materialista sobre a qualidade da moderna vida humana tem sido assombrosa. O realismo materialista postula um universo sem qualquer significado espiritual: mecânico, vazio e solitário. Para nós — os habitantes do cosmo — este é talvez o aspecto mais inquietante porque, em um grau assustador, a sabedoria convencional sustenta que o realismo materialista predomina sobre teologias que propõem um componente espiritual da realidade, em acréscimo ao componente material.

Os fatos provam o contrário. A ciência prova a superioridade de uma filosofia monística sobre o dualismo — sobre o espírito separado da matéria. Este livro fornece uma argumentação convincente, fundamentada em dados existentes, de que a filosofia monística necessária agora no mundo não é o materialismo, mas o idealismo. Na filosofia idealista, a consciência é fundamental e, nessa conformidade, nossas experiências espirituais são reconhecidas e validadas como dotadas de pleno sentido. Esta filosofia aceita muitas das interpretações da experiência espiritual humana que deflagraram o nascimento das várias religiões mundiais. Desse ponto de observação, vemos que alguns dos conceitos das várias tradições religiosas tornam-se tão lógicos, elegantes e satisfatórios quanto a interpretação dos experimentos da física quântica.

“Conhece-te a ti mesmo”. Este foi o conselho dado através das idades por filósofos inteiramente cientes de que nosso self é o que organiza o mundo e lhe dá significado, e compreender o  self juntamente com a natureza era o objetivo abrangente a que visavam. A aceitação do realismo materialista pela ciência moderna mudou tudo isso. Em vez de unidade com a natureza, a consciência afastou-se dela, dando origem a uma psicologia separada da física. Conforme observa Morris Berman, esta visão realista materialista do mundo exilou-nos do mundo encantado em que vivíamos no passado e condenou-nos a um mundo alienígena. Atualmente, vivemos como exilados nesta terra estranha. Quem, senão um exilado, arriscar-se-ia a destruir esta bela terra com a guerra nuclear e a poluição ambiental? Sentirmo-nos como exilados solapa nosso incentivo para mudar a perspectiva. Condicionaram-nos a acreditar que somos máquinas — que todas as nossas ações são determinadas pelos estímulos que recebemos e por nosso condicionamento anterior. Como exilados, não temos responsabilidade nem escolha. E o livre-arbítrio é uma miragem.

Este o motivo por que se tornou tão importante para cada um de nós analisarmos em profundidade nossa visão do mundo. Por que estou sendo ameaçado de aniquilação nuclear? Por que a guerra continua a ser um meio bárbaro para resolver litígios mundiais? Por que há fome endêmica na África, quando nós, só nos Estados Unidos, podemos tirar da terra alimento suficiente para saciar o mundo? Como foi que adquiri uma visão do mundo (mais importante ainda, estou engasgado com ela) que determina tanta separação entre mim e meus semelhantes, quando todos nós compartilhamos de dotes genéticos, mentais e espirituais semelhantes? Se repudiamos a visão de mundo ultrapassada, que se baseia no realismo materialista e investigamos a nova/velha visão que a física quântica parece exigir, poderemos, o mundo e eu, ser integrados mais uma vez?

Precisamos nos conhecer; precisamos saber se podemos mudar nossas perspectivas — se nossa constituição mental permite isso. Poderão a nova física e a filosofia idealista da consciência dar-nos novos contextos para a mudança?

O Micélio como a Internet da Natureza – Paul Stamets

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Para iniciar esse ano de 2010,  segue traduzido o primeiro capítulo do livro “Mycelium Running (How Mushrooms Can Help Save the World)“, ainda sem nome em português, do Micologista e Escritor Paul Stamets.


 

O Micélio como a Internet da Natureza

A rede de micélios é composta por uma membrana entrelaçada de cadeias celulares, continuamente se ramificando, como uma única parede celular grossa.

A História das redes de fungos

Animais tem uma relação mais próxima com os fungos do que qualquer outro reino. Mais de 465 milhões de anos atrás nós dividimos um ancestral comum. Os fungos evoluíram meios de digerir externamente a comida secretando ácidos e enzimas em sua área imediata de contato e então absorver nutrientes usando cadeias celulares em forma de redes. Muitos fungos se associaram a plantas, que careciam enormemente desses sucos digestivos. Micologistas acreditam que essa aliança permitiu às plantas habitarem a Terra por volta de 400 milhões de anos atrás.
Muitos milhões de anos mais tarde, um ramo evolucionário dos fungos deu início ao desenvolvimento de animais. Este ramo dos fungos evoluiu para capturar nutrientes cercando sua comida com sacos celulares, em essência estômagos primitivos. Quando as espécies emergiram dos ambientes aquáticos, organismos adaptaram meios de prevenir a perda de umidade. Nas criaturas terrestres, emergiram peles compostas por muitas camadas de células como uma barreira contra a infecção. Tomando um diferente caminho evolucionário, o micélio conservou sua forma de rede de cadeias celulares entrelaçadas e foi para o subsolo formando uma vasta teia de alimentos onde várias vidas floresceram.

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A Revista “Mycology” destacou este âmbar de 15 a 20 milhões de anos com um cogumelo incrustado,denominado Aureofungus Yaniguaenses, que data do período Mioceno, e coletado na República Dominicana. Estima-se que o mais antigo cogumelo em âmbar tem de 90 a 94 milhões de anos.

Cerca de 250 milhões de anos atrás, na fronteira entre o período Permiano e o Triássico, uma catástrofe erradicou 90% das espécies da Terra quando, de acordo com alguns cientistas o choque de um meteorito aconteceu. Maremotos, rios de lava, gases quentes e ventos de 1000 milhas por hora açoitaram o planeta. A Terra escureceu sob a nuvem de destroços, causando extinção em massa de plantas e animais. Os fungos herdaram a Terra surgindo para reciclar os campos de destroços pós-cataclísmicos. A Era dos Dinossauros começou, e então terminou 185 milhões de anos mais tarde quando outro choque de meteorito causou uma segunda extinção em massa. Mais uma vez os fungos emergiram e muitos se associaram simbioticamente a plantas para a sobrevivência. Os clássicos cogumelos, rígidos e de chapéu, tão comuns hoje, são descendentes de variedades que precedem esse segundo evento catastrófico. (O mais antigo cogumelo conhecido – conservado em âmbar e coletado em Nova York – data do Cretáceo, 92 a 94 milhões de anos atrás. Cogumelos evoluíram suas formas básicas bem antes do mais distante ancestral mamífero dos humanos.) Os micélios guiaram o curso dos ecossistemas favorecendo sucessões de espécies. Fundamentalmente o micélio prepara seu ambiente imediato para eu benefício cultivando ecossistemas que abastecem suas cadeias de alimentos.

Micrografia de astrócitos(células e forma de estrela)cerebrais. Redes de neurônios criam caminhos para a distribuição da informação. Redes de micélios compartilham esta mesma estrutura.
Micrografia de astrócitos(células e forma de estrela)cerebrais. Redes de neurônios criam caminhos para a distribuição da informação. Redes de micélios compartilham esta mesma estrutura.

Os Eco-teóricos James Lovelock e Lynn Margulis, vieram com a ‘Hipótese de Gaia’, que sugere que a biosfera do planeta pilotou inteligentemente seu curso para sustentar e gerar novas vidas. Eu enxergo o micélio como a teia viva que manifesta a inteligência natural imaginada pelos teóricos de Gaia. O micélio é uma membrana sensitiva exposta, consciente e reativa a mudanças em seu ambiente. Conforme pessoas, cervos ou insetos andam através das redes de filamentos sensitivos, deixam impressões e o micélio percebe e responde a esses movimentos. Uma estrutura complexa e cheia de recursos para compartilhar informação, o micélio pode se adaptar e evoluir através das sempre mutantes forças da natureza. Eu sinto especialmente que isso é verdade ao entrar em uma floresta depois de uma chuva quando, eu acredito, que as membranas entrelaçadas do micélio despertam. Essas membranas sensitivas agem como uma consciência coletiva de fungos. Conforme seu metabolismo avança o micélio emite atrativos, conferindo doces fragrâncias à floresta e conectando ecossistemas e suas espécies por meio de rastros aromáticos. Como uma Matrix, uma super auto-estrada biomolecular, o micélio está em constante diálogo com seu ambiente, reagindo e governando o fluido de nutrientes essenciais de forma cíclica através das cadeias de alimentos.

 

Um diagrama de sistemas de compartilhamento de informação sobrepostos que compreende a Internet.
Um diagrama de sistemas de compartilhamento de informação sobrepostos que compreende a Internet.

Eu acredito que o micélio opera em um nível de complexidade que excede os poderes computacionais dos nossos mais avançados computadores. Eu vejo o micélio como a Internet natural da Terra, uma consciência com a qual podemos ser capazes de nos comunicar. Através de ‘cross-species interfacing’, nós podemos um dia trocar informações com essas sensitivas redes celulares. Pelo fato destas redes neurológicas externalizadas perceberem qualquer impressão sobre elas, de pegadas a galhos de árvores caídos, elas podem transmitir enormes quantidades de informação considerando os movimentos de todos os organismos através da paisagem. Uma nova Bio ciência Pioneira pode nascer, dedicada a programar redes microneurológicas para monitorar e responder a ameaças ambientais. Teias de micélios podem ser usadas como plataformas de informação para ecossistemas de mico engenharia.

 

Limo, Physarum Polycephalum, escolhe o caminho mais curto entre duas rotas de um labirinto que levam à comida. Evitando caminhos sem saída. Em um artigo controverso Toshuyki Nakagaki sugere se tratar de uma forma de inteligência celular.
Limo, Physarum Polycephalum, escolhe o caminho mais curto entre duas rotas de um labirinto que levam à comida. Evitando caminhos sem saída. Em um artigo controverso Toshuyki Nakagaki sugere se tratar de uma forma de inteligência celular.

A idéia de que um organismo celular pode demonstrar inteligência pode parecer radical se não for trabalhada por pequisadores comoToshuyiki Nakagaki (2000). Ele colocou um labirinto sobre uma placa de petri cheia de nutriente agar e introduziu nutritivos flocos de aveia na entrada e na saída. Ele então inoculou a entrada com uma cultura do mofo viscoso Physarum Polycephalum sob condições estéreis. Conforme ele cresceu pelo labirinto, constantemente escolheu o caminho mais curto para os flocos de aveia no final, rejeitando caminhos sem saída e saídas vazias, demonstrando uma forma de inteligência de acordo com Nakagami e seus companheiros pesquisadores. Se isso for verdade, então as redes neurais de micróbios e micélios podem ser profundamente inteligentes.

Alguns estudos recentes apóiam este nova perspectiva – que fungos podem ser inteligentes e podem ser nossos aliados em potencial, talvez sendo programados para coletar informação ambiental, como sugerido acima, ou para se comunicar com chips de silício em uma interface de computador. Imaginando fungos como nano condutores em mico computadores, Gorman (2003) e seus companheiros  pesquisadores da Universidade North Western, manipularam o micélio da Aspergillus Níger para alojar ouro em seu DNA, em efeito criando micélios condutores de potencias elétricas. A NASA comunicou que microbiólogos da Universidade do Tennesee, guiados por Gary Sayler , desenvolveram um acidentado chip de computador biológico acomodando bactérias que brilham ao sentirem poluentes de metais pesados à PCB’s (Miller 2004). Tais inovações fazem alusão à nova microbiologia em um horizonte próximo. Trabalhando em conjunto, redes de fungos e bactérias ambientalmente reativas poderiam nos prover com informação sobre PH, detectar nutrientes e dejetos tóxicos e até medir populações biológicas.

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Culturas como esta do, ainda sem nome, cogumelo Psilocybe californiano se enrolam em espiral como um ciclone enquanto crescem; a taxa de crescimento aumenta com o tempo.
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Várias esteiras de micélios do cogumelo Armillaria crescem em espiral, matando uma floresta em Montana. Uma vez mortas essas árvores se tornam altamente inflamáveis.(Veja a figura 60 para uma amostra maior do Armillaria, o maior

Fungos no Espaço?

Furacão Isabella se aproxima da América do Norte em outubro de 2003.
Furacão Isabella se aproxima da América do Norte em outubro de 2003.

Fungos podem não ser únicos da Terra. Cientistas teorizam que a Vida está espalhada pelo Cosmos a fora, e que é provável de existir em qualquer lugar que exista água em estado líquido. Recentemente cientistas detectaram um distante planeta, a 5600 anos-luz de distância, que se formou há 13 bilhões de anos atrás, velho o bastante para a que a vida tenha se desenvolvido e se tornado extinta várias vezes (Savage ET AL. 2003). (Levou 4 bilhões de anos para a vida evoluir na Terra). Dessa forma, mais de 120 planetas fora do nosso sistema solar foram descobertos e mais estão sendo descobertos de poucos em poucos meses. Astrobiólogos acreditam que os precursores do DNA, ácidos prenucléicos, estão formando Cosmos a fora uma inevitável conseqüência de matéria enquanto se organiza, e eu tenho poucas dúvidas que eventualmente iremos vislumbrar planetas para comunidades micológicas. O fato da NASA ter fundado o Instituto de Astrobiologia e a imprensa da Universidade de Cambridge ter iniciado o  International Journal of Astromycologyé é um forte apoio para a teoria que a Vida brota da matéria e é
provavelmente distribuída vastamente pelas galáxias. Eu prognostico que um Interplanetary Journal of AstroMycology surgirá quando fungos forem descobertos em outros planetas. É possível que o protogermplasma possa viajar através da expansão galática em cometas ou carregados por ventos estelares. Esta forma de migração protobiológica interestelar, conhecido como panspermia, não soa tão forçado hoje como soava quando foi incialmente proposta por Sir Fred Doyle e Chandra Wickramasinghe no início dos anos 70. A NASA considerou a possibilidade de usar fungos para colonização interplanetária. Agora que aterrissamos em Marte, a NASA leva a sério as conseqüências desconhecidas que nossos micróbios terão ao colonizar outros planetas. Esporos não tem fronteiras.


O Arquétipo Micelial

Galáxias em espiral conforme o mesmo padrão arquetípico dos furacões e micélios
Galáxias em espiral conforme o mesmo padrão arquetípico dos furacões e micélios

A natureza tende a basear-se nos seus sucessos. O arquétipo micelial pode ser visto em toda parte do Universo: padrões de furacões, matéria negra e a Internet. A similaridade de forma com o micélio talvez não seja mera coincidência. Sistemas biológicos são influenciados pelas leis da física, e pode ser que o micélio explore o ímpeto natural da matéria, assim como o salmão tira vantagem das marés. A arquitetura do micélio se assemelha com padrões previstos na teoria das cordas, e astrofísicos teorizam que as formas mais conservadoras de energia no universo seriam organizadas como filamentos de matéria-energia. A combinação desses fios se assemelha a arquitetura do micélio. Quando a Internet foi projetada, sua estrutura de teia maximizou a inundação de dados e o poder computacional, minimizando os pontos críticos sobre os quais o sistema é dependente. Eu acredito que essa estrutura da Internet é simplesmente uma forma arquetípica, uma conseqüência inevitável de um modelo evolucionário previamente provado, que é também visto no cérebro humano; diagramas de redes de computadores carregam semelhanças tanto com matrizes miceliais quanto neurológica nos cérebros dos mamíferos (ver figura 3 e 4). Nossa compreensão das redes de informações em suas muitas formas levará a um salto quântico no poder computacional humano.

 

Micélio na Rede da Vida

Como uma estratégia evolucionária, a arquitetura micélial é fascinante: uma parede celular espessa, em contato direto com uma miríade de organismos hostis, e ainda assim tão penetrante que um único centímetro cúbico de solo contém células fúngicas suficiente para cobrir mais de 8 milhas se colocado de ponta a ponta. Eu calculo que cada passo que eu dou gera impacto em mais de 300 milhas de micélio. Esses tecidos fúngicos se estendem através dos poucos centímetros de topo de praticamente todas as massas de terra que suportam a vida, compartilhando o solo com legiões de outros organismos. Se você fosse um organismo minúsculo no solo de uma floresta, você estaria enredado em uma atividade carnavalesca, com micélios constantemente se movendo pelas paisagens subterrâneas como ondas celulares, através de bactérias dançantes e protozoários nadadores com nematóides correndo como baleias através de um oceano microcósmico da vida.

Ao longo do ano, fungos decompõe e reciclam restos de plantas, filtram micróbios e sedimentos que escoam, e restauram o solo. No fim, um solo apto para sustentar vida é criado dos detritos, particularmente madeira morta. Estamos agora entrando em um tempo onde “micofiltros” de certas espécies de cogumelos podem ser construídos para destruir resíduos tóxicos e prevenir doenças, como infecções por coliformes ou por bactérias “staph”, e protozoários e pragas causados por organismos que carregam doenças. Em um futuro próximo poderemos orquestrar espécies selecionadas de cogumelos para administrar sucessões de espécies. Enquanto os micélios nutrem as plantas, os cogumelos em si são nutrientes para, vermes, insetos, mamíferos, bactérias e outros fungos parasitas. Eu acredito que a ocorrência e a decomposição de um cogumelo pré-determina a natureza e a composição das populações abaixo de si em seu “nicho habitativo” .

Close em um micélio.
Close em um micélio.

Em qualquer lugar que uma catástrofe gere um campo de detritos – sejam árvores caídas ou derramamento de óleo, vários fungos responderão com ondas de micélios. Essas habilidades adaptativas refletem a profunda ancestralidade e diversidade dos fungos – resultando na evolução de todo um reino com cerca de 1 a 2 milhões de espécies. Fungos superam as plantas em números em pelo menos 6 para 1. Cerca de 10% dos fungos são chamados de cogumelos (Hawkswoth 2001), e cerca de 10% apenas de espécies de cogumelos foram identificadas, o que mostra que nosso conhecimento taxonômico dos fungos é excedido pela nossa ignorância em pelo menos uma ordem de magnitude. A diversidade surpreendente dos fungos exprime a complexidade necessária para um meio-ambiente saudável. O que vem se tornando incrivelmente claro para os micologistas é que proteger a saúde do ambiente está diretamente relacionado ao nosso entendimento dos papéis complexos das populações de fungos. Nossos corpos e o que nos cerca são habitats com sistemas imunológicos; fungos são a ponte comum entre os dois.

Todos os habitats dependem diretamente desses aliados fungos, sem os quais o sistema de suporte à vida na Terra rapidamente entraria em colapso. As redes de micélios mantêm o solo unido e aerado. Enzimas de fungos, ácidos e antibióticos afetam dramaticamente a estrutura dos solos (Ver pág 16). Dando seguimento às catástrofes, a diversidade de fungos ajuda a restaurar habitats devastados. Tendências evolucionárias geralmente levam ao aumento da biodiversidade. Entretanto, graças às atividades humanas estamos perdendo muitas espécies antes mesmo de conseguirmos identificá-las. De fato, conforme perdemos espécies estamos experimentando a degeneração – voltando atrás no relógio da biodiversidade, o que é um terreno perigoso em direção ao colapso ecológico em massa. A interconectividade da Vida é uma verdade óbvia que ignoramos para nosso próprio risco.

Nos anos 60, o conceito de “viver melhor através da química” se tornou o ideal enquanto, plásticos, fusão de metais, pesticidas, fungicidas e petroquímicos nasceram em laboratório. Quando esses sintéticos eram liberados na natureza, eles freqüentemente tinham um efeito dramático e inicialmente desejável sobre seus alvos. Porém eventos nas últimas décadas têm demonstrado que muitas dessas invenções eram de fato frutos amargos da ciência que cobrariam taxas pesadas à nossa biosfera. Aprendemos agora que precisamos caminhar suavemente pela teia da vida, ou então ela vai de desfiar sob nossos pés.
Fungicidas tóxicos como methyl bromide, uma vez lançados, não só afetam as espécies alvo mas também organismos que nada tem a ver, e suas cadeias alimentares, além de ameaçar a camada de ozônio. Inseticidas tóxicos freqüentemente conferem uma solução temporária até que a tolerância seja atingida. Quando os benefícios naturais dos fungos foram sendo reprimidos, as necessidades por fertilizantes artificiais aumentaram, criando um ciclo de dependência química, em último caso interrompendo a sustentabilidade. No entanto podemos criar ambientes micológicos sustentáveis introduzindo parcerias de plantas e fungos (mycorrhisal e endothytic ) em combinação com matéria vegetal em decomposição com  micélios de cogumelos saprofíticos. Os resultados dessas atividades fúngicas incluem um solo saudável, comunidades biodinâmicas e ciclos renováveis sem fim. A cada ciclo, a profundidade do solo aumenta assim como a capacidade para a biodiversidade.

Viver em harmonia com nosso ambiente natural é a chave para nossa saúde, tanto como indivíduos quanto como espécie. Nos somos um reflexo do ambiente que nos deu a luz. Destruir brutalmente os ecossistemas que suportam a vida é a mesma coisa que suicídio. Recrutando fungos como aliados, podemos compensar os danos ambientais gerados pelos humanos, acelerando a decomposição orgânica de campos inteiros de detritos que nós criamos – tudo desde devastar florestas até construir cidades. Nosso crescimento, relativamente súbito, como uma espécie destrutiva está desgastando os sistemas fúngicos de reciclagem da natureza. A cascata de toxinas e detritos gerada pelos humanos, desestabiliza os ciclos de retorno de nutrientes, causando colheitas infrutíferas, aquecimento global, mudanças climáticas, e num cenário mais assustador, acelerando o passo para uma eco catástrofe por nossas próprias mãos. Como ruptores ecológicos, humanos desafiam os sistemas imunológicos dos ambientes até seus limites. A regra da natureza é que quando uma espécie excede a capacidade de seu ambiente hospedeiro, sua cadeia alimentar entra em colapso e a doença surge devastando os organismos mais ameaçados. Eu acredito que podemos nos reequilibrar com o ambiente utilizando micélios para regular o fluxo de nutrientes. A era da medicina micológica está à nossa frente. Agora é a hora de assegurar o futuro de nosso planeta e nossas espécies com a parceria dos micélios.

 

fig0075Figura 7 –  Modelo de computador da matéria escura do universo. Em conjunto com a “teoria das cordas”, mais de 96% da massa do universo é teorizada como composta por estes filamentos moleculares.note que as galáxias se entrelaçam como uma matrix micelial.

 

 

 

 


Texto traduzido e imagens retiradas do Livro “Mycelium Running” de Paul Stamets

A Cura Através dos Cogumelos

A seguir, o capítulo VI do livro “A vida de Maria Sabina, a sábia dos cogumelos” escrito por Álvaro Estrada. Neste capítulo Maria Sabina relata a experiência onde curou sua irmã ingerindo cogumelos que contém psilocibina e invocando sua força, como os antigos mazatecas faziam.


– Capítulo VI –

Vários anos, não sei quantos, depois de eu ter ficado viúva pela primeira vez, minha irmã María Ana adoeceu. Sentia dores no ventre: eram pontadas agudas que a faziam dobrar-se e gemer de dor. Eu via que ia ficando cada vez mais grave. Quando ela se sentia mais ou menos aliviada, voltava aos afazeres domésticos. Mas, sem que ela pudesse se controlar, uma vez desmaiou na estrada.

Seus desmaios ocorreriam freqüentemente mais tarde.

Temendo por sua saúde, contratei curandeiros para tratá-la, mas pude ver, com angústia, que seu mal aumentava. Certa manhã, não se levantou da cama; tremia e gemia. Fiquei preocupada como nunca. Chamei vários curandeiros, mas foi inútil. Eles não puderam curar a minha irmã.

Naquela tarde, vendo minha irmã estirada, pensei que estivesse morta. Minha única irmã. Não, isso não podia acontecer. Ela não podia morrer. Eu sabia que os meninos santos tinham o poder. Eu os tinha comido quando criança, e me lembrava que não faziam mal. Eu sabia que nossa gente os comia para curar doenças. Então, tomei uma decisão; naquela mesma noite, eu comeria os cogumelos santos. Fiz isso. Dei a ela três pares. Eu comi muitos, para que me dessem poder imenso. Não poso mentir, devo ter comido trinta pares de “derrumbe” ¹. (¹ Variedade de cogumelo. Psilocybe Caerulescen)

Quando os meninos estavam trabalhando dentro de meu corpo, rezei e pedi a Deus que me ajudasse a curar María Ana. Pouco a pouco, senti que podia falar cada vez com mais facilidade. Aproximei-me da enferma. Os meninos santos guiaram minhas mãos para apertar seus quadris.Suavemente, fui fazendo massagem onde ela dizia que doía. Eu falava e cantava. Sentia que cantava bonito. Dizia o que osmeninos me obrigavam a dizer.

Continuei apertando minha irmã, no ventre e nos quadris; finalmente, veio muito sangue. Água e sangue, como se estivesse parindo. Nunca me assustei, porque sabia que o pequeno que brota a estava curando através de mim. Os meninos santos aconselhavam, e eu executava. Fiquei com minha irmã até que o sangue parou de sair. Logo ela parou de gemer e dormiu. Minha mãe sentou-se junto dela para socorrê-la.

Eu não pude dormir. Os santinhos continuavam trabalhando em meu corpo. Lembro que tive uma visão: apareceram uns personagens que me inspiraram a respeito. Eu sabia que eram os Seres Principais de que falavam meus ascendentes. Eles estavam sentados atrás de uma mesa sobre a qual havia muitos papéis escritos. Eu sabia que eram papéis importantes. Os Seres Principais eram vários, uns seis ou oito. Alguns me olhavam, outros liam os papéis da mesa. Outros pareciam procurar logo entre os mesmos papéis. Eu sabia que não eram de carne e osso. Sabia que não eram seres de água ou de tortilla. Sabia que era uma revelação que os meninos santos me entregavam. Logo escutei uma voz. Uma voz doce mas autoritária ao mesmo tempo. Como a voz de um pai que gosta dos filhos mas cria-os com firmeza. Uma voz sábia que disse: “Esses são os Seres Principais…”. Compreendi que os cofumelos falavam comigo. Senti uma felicidade infinita. Na mesa dos Seres Principais apareceu um livro, um livro aberto que foi crescendo, até ficar do tamanho de uma pessoa. Em suas páginas havia letras. Era um livro branco, tão branco que resplandecia.

Um dos Seres Principais falou comigo, e disse: “María Sabina, este é o Livro da Sabedoria. É o Livro da Linguagem. Tudo o que nele está escrito é para você. O Livro é seu, pegue-o para trabalhar…” . Eu exclamei, emocionada: “Isso é para mim! Recebo-o…”

Os Seres Principais desapareceram e me deixaram só diante do imenso Livro. Eu sabia que era o Livro da Sabedoria.

O Livro estava diante de mim, eu podia vê-lo, mas não tocá-lo. Tentei acariciá-lo, mas minhas mãos não tocaram nada. Limitei-me a contemplá-lo e, então, comecei a falar. Então me dei conta que estava lendo o Livro Sagrado da Linguagem. Meu Livro. O Livro dos Seres Principais.

Eu tinha atingido a perfeição. Já não era mais uma simples aprendiz. Por isso, como um prêmio, como uma nomeação, o Livro me tinha sido outorgado. Quando se tomam os meninos santos se pode ver os Seres Principais, de outro modo não² . É que os cogumelos são santos; dão Sabedoria. A Sabedoria é a Linguagem. A Linguagem está no Livro. O Livro é outorgado pelos Principais. Os principais aparecem com o grande poder dos meninos.
Aprendi a sabedoria do Livro. Depois, em minhas visões posteriores, o Livro já não aparecia, porque eu já guardava seu conteúdo na memória.

Fiz a velada em que curei minha irmã María Ana como os antigos Mazatecos. Usei velas de cera pura; flores, açucenas e gladíolos (pode-se usar qualquer tipo de flor desde que tenha cheiro e cor). Também se usa copal (Resina de árvores usada como incenso) e São Pedro.

Queimei o copal em um braseiro e com a fumaça defumei os meninos santos que tinha nas mãos. Antes de comê-los falei com eles, pedi-lhes favor. Que nos abençoasse, que nos indicasse o caminho, a verdade, a cura. Que nos desse o poder de rastrear as pegadas do mal, para acabar com ele. Eu disse aos cogumelos: “Tomarei seu sangue. Tomarei seu coração. Porque minha consciência é pura, é limpa como a sua. Dêem-me a verdade. Que me acompanhe São Pedro e São Paulo…”. Ao sentir-me enjoada, apaguei as velas. A Escuridão serve de fundo para o que se vê ali.

Nesta mesma velada, logo que o Livro desapareceu, tive outra visão: vi o Supremo Senhor dos Montes, o Chicón Nindó. Vi que era um homem a cavalo que vinha até minha choça. Eu sabia, a voz me dizia, que aquele ser era um personagem. Sua cavalgadura era bela: um cavalo branco, tão branco quanto à espuma. Um belo cavalo.

O personagem parou sua cavalgadura diante da porta de minha choça. Eu podia vê-lo através das paredes. Eu estava dentro da casa, mas meus olhos tinham o poder de ver além de qualquer obstáculo. O personagem esperava que eu saísse.

Com decisão, saí ao seu encontro. Parei junto dele. Sim, era o Chicón Nindó, o que mora no Nindó Tocoxho, o que é dono das montanhas. O que tem poder para encantar os espíritos. E que , assim mesmo, cura os doentes. Para o qual sacrificam perus e ao qual os curandeiros entregam moedas (cacau), para que cure.

Parei junto dele e me aproximei mais. Vi que não tinha rosto, embora usasse um chapéu branco. Seu rosto, sim, era como uma sombra. A noite era negra, as nuvens cobriam o céu, mas o Chicón Nindó era como um ser coberto com um halo. Emudeci.

O Chicón Nindó não disse nem uma palavra. Logo fez sua cavalgadura andar para seguir seu caminho. Desapareceu pela estrada, rumo a sua morada: o enorme Monte da Adoração. O Nindó Tocoxho. Ele vive lá, eu no Monte do Fortim, o mais próximo do Nindó Tocoxho. Quer dizer que somos vizinhos. O Chicón Nindó tinha vindo porque, em minha sábia linguagem, eu o tinha chamado.

Entrei em casa e tive outra visão: vi que algo caía do céu com um grande estrondo, como um raio. Era um objeto luminoso que cegava. Vi que caía por um buraco que havia na parede. O objeto caído foi se transformando em uma espécie de ser vegetal, também coberto por um halo, como o Chicón Nindó. Era como uma planta, com flores de muitas cores, na cabeça tinha um grande resplendor. Seu corpo estava coberto de folhas e talos. Ficou ali parado, no centro da choça, olhei-o de frente. Seus braços e pernas eram como ramos, e estava empapado de frescor, e por trás dele apareceu um fundo avermelhado. O ser vegetal foi se perdendo nesse fundo avermelhado até se perder completamente. Ao esfumar-se a visão eu suava, suava. Meu suor não era morno, mas fresco. Dei-me conta de que eu chorava e minhas lágrimas era de cristal, e quando caíam no chão, tilintavam. Continuei chorando, mas assobiei e aplaudi, toquei e dancei. Dancei porque sabia que era a Polichinela grandiosa e a Polichinela Suprema… De madrugada, dormi placidamente. Dormi, mas não um sono profundo, eu sentia que me movia num sonho… Como se meu corpo se movesse uma rede gigante, pendurada no céu, qu oscilava de uma montanha a outra.

Despertei quando o mundo já estava ensolarado. Era de manhã. Lancei meu corpo no chão para ter certeza que já tinha voltado ao mundo dos humanos. Já não estava perto dos Seres Principais… ao ver o que me cercava, procurei minha irmã María Ana. Estava dormindo, não quis acordá-la. Também vi que uma parte das paredes da chocinha estava derrubada, outra estava para cair. Agora acho que enquanto osmeninos santos estavam trabalhando em meu corpo, eu mesma derrubei as paredes com o peso de meu corpo. Suponho que enquanto eu dançava choquei-me contra a parede e derrubei-a. Nos dias seguintes, as pessoas que passavam perguntavam o que tinha acontecido na casa. Limitava-me a dizer-lhes que as chuvas e vendavais dos últimos dias tinham conseguido afrouxar as paredes de barro e canabrava, acabando por destruí-las.

E María Ana sarou. Sarou para sempre. Atualmente vive bem, com seu marido e seus filhos, perto de Santa Cruz de Juárez.

A partir daquela cura, tive fé nos meninos santos. As pessoas se deram conta do quanto era difícil curar minha irmã. Muita gente ficou sabendo e dentro de poucos dias vieram procurar-me. Traziam seus doentes. Vinham de lugares muito afastados. Eu os curava com a Linguagem dos meninos. As pessoas vinham de Tenango, Río Santiago ou San Juan Coatzospan³. (³ povoado de raça mísxteca incrustado em plena região mazateca). Os doentes chegavam pálidos. Mas os cogumelos diziam-me qual era o remédio. Diziam-me o que fazer para curar. As pessoas continuaram a me procurar. E desde que recebi o Livro, passei a fazer parte dos Seres Principais. Se eles aparecem, sento-me com eles e tomamos cerveja ou aguardente. Estou entre eles desde a vez em que, agrupados atrás de uma mesa com papéis importantes, entregaram-me a sabedoria, a palavra perfeita: A Linguagem de Deus.

A Linguagem faz com que os moribundos voltem à vida. Os doentes recuperam a saúde quando escutam as palavras ensinadas pelos meninos santos. Não há mortal que possa ensinar essa Linguagem.
Depois que curei minha irmã María Ana, compreendi que tinha encontrado meu caminho. As pessoas sabiam disso, e vinham a mim para que eu curasse seus doentes. Vinham em busca de cura aqueles que tinham sido encantados por duendes, os que tinham perdido o espírito por um susto no monte, no rio ou na estrada. Alguns não tinham remédio e morriam. Eu curo com a Linguagem, a Linguagem dos meninos santos. Quando eles aconselham sacrificar franguinhos, estes são colocados em cima das partes onde dói. O resto é da Linguagem. Mas meu caminho em direção a sabedoria em breve será interrompido.

(…)

 

² De acordo com explicações que nos deram os anciãos de Huautla, os Seres Principais são personagens que encabeçam um cargo municipal, ou é o título que se dá a pessoas que têm cargos importantes. Em mazateco se diz ”Chotáa-tjí-tjón“ . No que diz respeito às visões de María Sabina, os Seres Principais são a personificação dos cogumelos que ela comeu.Os cogumelos se transformam em “personagens que manuseiam papéis importantes”. Outra pessoa em Huautla, disse-nos que os Seres Principais são como “sombras” ou pessoas que se “vêem” vestidas como camponeses, mas com roupas brilhantes e coloridas quando vistas durante o transe.

 


 

 

 

 

Texto Retirado de “A vida de Maria Sabina, a sábia dos cogumelos” de Álvaro Estrada

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A Arte e a Revolução – Terence McKenna

a-hndO renascimento arcaico é um clarim chamando·nos para recuperarmos nosso direito de nascença, por mais desconfortáveis que possamos ficar com isso. É um chamado para percebermos que a vida na ausência da experiência psicodélica sobre a qual se baseia o xamanismo primordial é uma vida trivializada, negada, escravizada ao ego e ao seu medo de se dissolver na misteriosa matriz de sentimento que está ao nosso redor. É no renascimento arcaico que reside nossa transcendência ao dilema histórico.

Há algo mais. Agora está claro que novos desenvolvimentos em muitas áreas – dentre elas a interface entre mente e máquina, a farmacologia da variedade sintética e o armazenamento e as técnicas de recuperação de dados e de imagens – estão se fundindo numa auto-imagem verdadeiramente demoníaca ou angélica de nossa cultura. Os que estão no lado demoníaco do processo têm consciência total desse potencial, e estão correndo a toda com seus planos para capturar o platô tecnológico. É uma posição a partir da qual esperam transformar praticamente todo mundo num consumidor crédulo num fascismo bege, de cuja fábrica de imagens ninguém escapará.

A resposta xamânica, a resposta arcaica, a resposta humana a essa situação deveria ser encontrar o pedal da arte e apertá-lo até o fundo. Essa é uma das funções primárias do xamanismo, e essa função é tremendamente sinergizada pelos psicodélicos. Se os psicodélicos são exoferomônios que dissolvem o ego dominante, então eles são também enzimas que sinergizam a imaginação humana e dão força à linguagem. Eles fazem com que conectemos e reconectemos os conteúdos da mente coletiva de maneiras ainda mais implausíveis, lindas e auto-realizadoras.

Se levarmos o renascimento arcaico a sério, precisaremos de uma nova imagem paradigmática que possa levar-nos rapidamente para diante e através do gargalo histórico que podemos sentir impedindo e resistindo a uma dimensão mais expansiva, mais humana e mais atenta, que insiste em nascer. Nosso sentimento de obrigação política, da necessidade de reformar ou salvar a alma coletiva da humanidade, nosso desejo de conectar o fim da história com o início da história – tudo isso deve nos impelir a ver o xamanismo como um modelo exemplar. Na atual crise global não podemos deixar de levar a sério suas técnicas, mesmo aquelas que podem desafiar os pactos divinamente ordenados da força policial.

EXPANSÃO DE CONSCIÊNCIA

Anos atrás, antes de Humphrey Osmond cunhar o termo “psicodélico”, havia uma descrição corrente para as substâncias psicodélicas; eram chamadas de “drogas expansoras da consciência” . Creio que essa é uma descrição muito boa. Considere nosso dilema neste planeta. Se a expansão da consciência não estiver no futuro humano, que tipo de futuro ele será? Para mim, a posição pró-psicodélicos é mais fundamentalmente ameaçadora para o Sistema porque, quando se pensa total e logicamente, ela é uma posição antidrogas e antivício. E não se engane; a questão são as drogas. O quão drogado você deve ser? Ou, colocando de outro modo, o quão consciente você deve ser? Quem deve ser consciente? Quem deve ser inconsciente?

Precisamos de uma definição aproveitável do que queremos dizer com “droga”. Uma droga é uma coisa que causa comportamento não examinado, obsessivo e habitual. Você não examina o comportamento obsessivo; você simplesmente o tem. Você não deixa nada se interpor no caminho de sua gratificação. Esse é o tipo de vida que nos estão vendendo em todos os níveis. Olhar, consumir e olhar e consumir mais ainda. A opção psicodélica está de lado, num canto minúsculo, jamais mencionada; entretanto ela representa o único fluxo diretamente contrário à tendência de deixar as pessoas em estados programados de consciência. Estados que não são programados por eles mesmos, mas pela Madison Avenue, pelo Pentágono, pelas 500 corporações da Fortune. Isso não é apenas uma metáfora; está realmente acontecendo conosco.

Olhando para Los Angeles de um avião, nunca deixei de perceber que a cidade é como um circuito impresso; todas aquelas rodovias curvas e ruas sem saída com os mesmos pequenos módulos instalados de cada lado. Enquanto a Reader’s Digest continuar sendo assinada e a TV ligada, esses módulos são partes intercambiáveis de uma máquina muito grande. Essa é a realidade de pesadelo que Marshall McLuhan, Wyndham Lewis e outros previram: a criação do publico como um rebanho. O público não tem história nem futuro, o público vive num momento dourado criado por um sistema de credito que liga-o inelutavelmente a uma a uma teia de ilusões jamais criticada. Essa é a conseqüência definitiva de termos rompido o relacionamento simbiótico com a matriz Gaia do planeta. Esta é a conseqüência da falta de igualitarismo; este é o legado do desequilíbrio entre os sexos; esta é a fase terminal de uma longa descida para a confusão existencial tóxica e sem sentido.

O crédito por ter-nos dado instrumentos para resistir a esse horror pertence a heróis desconhecidos, botânicos e químicos, pessoas como Richard Schultes, os Wassons e Albert Hofmann. Graças a eles está em nossas frágeis mãos, neste mais caótico dos séculos, fazer alguma coisa para resolver nossa dificuldade. A psicologia, ao contrário, esteve complacente e silenciosa. Os psicólogos ficaram contentes com a teoria behaviorista durante cinqüenta anos, mesmo sabendo em seus corações que estavam prestando um desserviço potencialmente fatal à dignidade humana, ao ignorar o potencial dos psicodélicos.


A GUERRA CONTRA AS DROGAS

Se há um momento certo para ouvir, para contar e para tentar clarear o pensamento sobre essas coisas, o momento é agora. Durante algum tempo houve um grande ataque contra a Declaração dos Direitos com o pretexto da chamada guerra contra as drogas. De algum modo, a questão das drogas é ainda mais assustadora e insidiosa para o rebanho do público do que o foi o comunismo. A qualidade da retórica que emana da comunidade psicodélica deve melhorar radicalmente. Caso contrário, perderemos o direito de reclamar nosso direito de nascença, e toda a oportunidade de explorar a dimensão psicodélica será cortada. Ironicamente, esta tragédia poderia ocorrer quase como uma nota de rodapé para a supressão dos narcóticos sintéticos e viciantes. Não se pode dizer com muita freqüência: a questão psicodélica é uma questão de direitos e liberdades civis. É uma questão relacionada às mais básicas das liberdades humanas: a da liberdade religiosa e da privacidade da mente individual.

Já se disse que as mulheres não poderiam votar porque a sociedade seria destruída. Antes, os reis não podiam abrir mão do poder absoluto porque disso resultaria o caos. E agora dizem que as drogas não podem ser legalizadas porque a sociedade se desintegraria. Isso é um absurdo pueril! Como vimos, a história humana poderia ser contada como uma série de relacionamentos com plantas, relacionamentos criados e rompidos. Exploramos várias maneiras pelas quais as plantas, as drogas e a política se misturaram cruelmente – desde a influência do açúcar sobre o mercantilismo até a influência do café sobre os trabalhadores de escritórios hoje em dia, desde a Inglaterra forçando o ópio à população chinesa até a CIA usando heroína nos guetos para acabar com a dissidência e a insatisfação.

A história é a história desses relacionamentos com as plantas. As lições a serem aprendidas podem ser trazidas à consciência, integradas na política social e usadas para criar um mundo mais atento, mais significativo, ou podem ser negadas assim como a discussão da sexualidade humana foi reprimida até que o trabalho de Freud e outros a trouxessem à luz. A analogia é válida porque o aumento na capacidade de experiência cognitiva possibilitado pelos alucinógenos vegetais é uma parte tão básica de nossa humanidade quanto nossa sexualidade. A questão de quão rapidamente nos desenvolveremos numa comunidade madura, capaz de discutir essas questões, depende totalmente de nós.


O HIPERESPAÇO E A LIBERDADE HUMANA

A coisa mais temida pelos que defendem a solução inexeqüível do “Diga não” é um mundo em que todos os valores comunitários tradicionais se dissolveram diante de uma busca infinita da autogratificação por parte de indivíduos e populações obcecados com as drogas. Não devemos descartar essa possibilidade muito real. Mas o que deve ser rejeitado é a noção de que esse futuro perturbador pode ser evitado com caças às bruxas, supressão de pesquisas e disseminação histérica de desinformações e mentiras.

As drogas fazem parte da galáxia de interesses culturais desde o início dos tempos. Somente com o advento de tecnologias capazes de refinar e de concentrar princípios ativos de plantas e preparados vegetais, as drogas se separaram do pano de fundo dos interesses culturais e se tomaram um flagelo.

De certo modo, o que temos não é um problema de drogas, e sim um problema com a administração de nossas tecnologias. Será que nosso futuro incluirá o surgimento de novas drogas sintéticas, cem ou mil vezes mais viciantes do que a heroína ou o crack? A resposta é absolutamente sim – a não ser que nos conscientizemos e examinemos a necessidade humana básica de uma dependência química e em seguida encontremos e sancionemos caminhos para a expressão dessa necessidade. Estamos descobrindo que os seres humanos são criaturas com hábitos químicos, com a mesma descrença horrorizada de quando os vitorianos descobriram que os humanos são criaturas com fantasias e obsessões sexuais. Esse processo de nos encararmos como espécie é precondição necessária para a criação de uma ordem social e natural mais humana. É importante recordar que a aventura de encarar quem somos não começou ou terminou com Freud e Jung. O argumento que este livro buscou desenvolver é que o próximo passo na aventura do autoconhecimento só pode começar quando levarmos em conta nossa necessidade inata e legítima de um ambiente rico de estados mentais induzidos através de um ato de vontade. Acredito que podemos iniciar o processo revendo nossas origens. De fato, fiz um grande esforço para mostrar que, no ambiente arcaico em que surgiu a auto-reflexão, encontramos pistas para as raízes de nossa história atormentada.


O QUE É NOVO AQUI

Os indóis alucinógenos, não estudados e legalmente suprimidos, são apresentados aqui como agentes de mudança evolucionária. Eles são agentes bioquímicos cujo impacto definitivo não está na experiência direta do indivíduo, e sim na constituição genética da espécie. Os primeiros capítulos chamaram atenção para o fato de que o aumento na acuidade visual, o aumento no sucesso reprodutivo e o aumento na estimulação das funções protolingüísticas do cérebro são conseqüências lógicas da inclusão de psilocibina na dieta dos primeiros homens. Se puder ser provada a noção de que a consciência humana emergiu da sinergia do neurodesenvolvimento mediado pelos indóis, mudará a imagem que fazemos de nós mesmos, de nosso relacionamento com a natureza e do dilema atual com o uso das drogas na sociedade.

Não há solução para o “problema das drogas” , para o problema da destruição ambiental ou para o problema do arsenal nuclear a não ser que nossa auto-imagem como espécie seja reconectada à terra. Isso começa com uma análise da confluência especial de condições que devem ter sido necessárias para que a organização animal desse pela primeira vez o salto para a auto-reflexão consciente. Uma vez que seja compreendida a centralidade da simbiose homem-planta mediada pelos alucinógenos no cenário de nossa origem, estaremos em posição de avaliar nosso estado atual de neurose. A assimilação das lições contidas naqueles eventos antigos e formativos podem estabelecer as bases para soluções destinadas a atender não somente à necessidade de a sociedade administrar o uso e o abuso de substâncias como também à nossa necessidade profunda e crescente de dar uma dimensão espiritual às nossas vidas.

(Extraído do livro “O Alimento dos Deuses”, de Terence McKenna)

A pesquisa interdisciplinar da Ayahuasca e do DMT

por Marcelo Bolshaw Gomes

Nos últimos anos o fenômeno social e religioso do Ayahuasca, devido a sua enorme complexidade, vem atraindo vários pesquisadores de diferentes especialidades: antropólogos, juristas, psicólogos, biólogos, farmacêuticos, entre outros. Poucas pesquisas, no entanto, alcançam uma visão interdisciplinar de conjunto, se prendendo as particularidades de seu enfoque específico. Por exemplo, há hoje pesquisas de etno-música e de lingüística sobre a poética investigando os cantos do ayahuasca sem se preocupar com sua química ou com suas interações sociais dos cultos atuais. O presente texto pretende fazer uma introdução resumida destes estudos específicos, não só para orientação dos que se iniciam neste assunto multifacetado, mas, sobretudo, para tentar sistematizar de um modo mais abrangente, os resultados dessas diferentes investigações científicas em uma perspectiva interdisciplinar comum.

A PESQUISA NA ÁREA DA ANTROPOLOGIA
A bebida conhecida como Ayahuasca ou Iagé é preparada através da infusão do cipó do Jagube ou Mariri (Banisteriopsis caapi) e da folha da Rainha ou Chacrona (Psychotria viridis) – naturais da região amazônica. A bebida teria origem do Império Inca e seu uso teria se difundido entre várias tribos indígenas, das quais se tem razoável conhecimento antropológico. Ingerindo o chá, os índios absorvem o espírito da planta e, em transe, têm experiências psíquicas e vivenciam fenômenos paranormais, tais como a telepatia, a regressão a vidas passadas, contatos com os espíritos dos seus antepassados mortos, presciência e visão à distância. Há relatos de xamãs usavam a bebida para descobrir qual era a doença de seus pacientes e saber como tratá-la. Diversos antropólogos, inclusive, tomaram o chá e descreveram seus efeitos parapsíquicos.
Ainda hoje, várias tribos praticam rituais com o uso do Ayahuasca no Brasil, como as dos Kampas e dos Kaxinawás, localizadas perto da fronteira com o Peru. Desde o início do século, nos contatos culturais entre seringueiros e índios, a Ayahuasca passou a ser usada pelos migrantes nordestinos, que colonizaram a Amazônia ocidental. Destes contatos surgiram diversos grupos que associaram o uso da bebida a um contexto religioso cristão-espírita, dos quais a União do Vegetal, no estado de Rondônia, o Santo Daime e a Barquinha, no Acre, são os maiores expoentes.

Na Internet, é possível levantar bastante informação sobre o assunto em sites especializados(2). Também é possível ler alguns importantes trabalhos científicos em arquivos pdf. Dentre as diferentes opções, indicamos a tese de doutorado de Sandra Lucia Goulart, Contrastes e Continuidades em uma Tradição Amazônica: as religiões da ayahuasca, dá uma visão panorâmica dos cultos atuais. Especificamente sobre o culto da Barquinha, há o trabalho de Marcelo Simão Mercante, Ecletismo, Caridade e Cura na Barquinha da Madrinha Chica e Ensaio sobre a cura no contexto de um grupo da Barquinha , de Rafael Guimarães dos Santos.
Sobre a história da União do Vegetal (UDV), há poucos trabalhos acadêmicos, mas, na internet, existem pelo menos dois documentos relevantes: um com a versão oficial da entidade e outro com uma visão mais histórica.

Já sobre o Santo Daime, há muita coisa escrita e publicada, sugerimos o trabalho de Débora Carvalho Pereira Gabrich, O Trabalho oculto e exotérico de Raimundo Irineu Serra, sobre as origens do culto e de Armênio Celso de Araújo, Teodicéia Brasileira: Uma Breve História do Santo Daime sobre seu desenvolvimento. Há ainda alguns trabalhos antropológicos sobre aspectos específicos, que transversalmente alcançam patamares universais, como o de Leandro Okamoto da Silva Marachimbé veio foi para apurar. Estudo sobre o castigo simbólico, ou peia, no culto do Santo Daime(3) ou de Arneide Bandeira Cemin, O “Livro Sagrado” do Santo Daime .

Um dos trabalhos antropológicos mais significativos é o pioneiro Guiado pela Lua – Xamanismo e uso ritual da ayahuasca no culto do Santo Daime, de Edward MacRae (1992). Atualmente, há também os livros de Beatriz Caiuby Labate (4): O Uso Ritual da Ayahuasca (2002, em conjunto com Wladimyr Sena Araújo), A Reinvenção do Uso da Ayahuasca nos Centros Urbanos (2004) e O Uso Ritual das Plantas de Poder (2005, em conjunto com Sandra Goulart).

No âmbito internacional, destacamos o trabalho de pesquisa interdisciplinar desenvolvido por Ralph Metzner, Ayahuasca – Human Consciousness and the Spirit of Nature (Tradução Márcia Frazão: Gryphus, 2002). O livro é subdividido em quatro partes: a experiência da Ayahuasca (composta por 25 depoimentos pessoais de pesquisadores com ênfase em descobertas espirituais fora dos paradigmas religiosos tradicionais): Ayahuasca: uma história etnofarmacológica, de Denis Mckenna; A psicologia da Ayahuasca, de Charles S. Grob; e Fitoquímica e neurofarmocologia da Ayahuasca, de Jace C. Callaway. Além, da introdução e conclusão do próprio Metzner, sintetizando os resultados dos textos da coletânea, há também uma revisão histórica completa dentro de um contexto mais amplo da pesquisa da consciência e a espiritualidade.

A PESQUISA NA ÁREA DO DIREITO

Paralelamente ao crescimento dos cultos e à expansão do uso religioso da Ayahuasca, uma forte resistência dos setores conservadores da sociedade brasileira se formou, pressionando o governo para embargar o funcionamento destas instituições nos grandes centros metropolitanos. Porém, no dia dois de junho de l992, o conselho decidiu liberar definitivamente a utilização do chá para fins religiosos em todo o território nacional. Segundo a então presidente do Conselho Federal de Entorpecentes (Confen), Ester Kosovsky, “a investigação, desenvolvida desde l985, baseou-se numa abordagem interdisciplinar, levando em conta o lado antropológico, sociológico, cultural e psicológico, além de análises fitoquímicas”.

O relator do processo de investigação, Domingos Carneiro de Sá, explicou que o fato fundamental para a liberação da bebida foi o comportamento dos daimistas e a seriedade dos centros que utilizam o chá em seus rituais: “Não foram observadas atitudes anti-sociais dos participantes dos cultos, ao contrário, podemos constatar os efeitos integrados e reestruturantes do Daime com indivíduos que antes de participarem dos rituais apresentavam desajustes sociais ou psicológicos”. (SILVA SÁ, Domingos Bernardo Gialluisi. Ayahuasca, a consciência da expansão, in: Discursos sediciosos. Crime, Direito e Sociedade. Rio de Janeiro, Instituto Carioca de Criminologia, 1996, pp. 145-174).

DATA / DOCUMENTO
30/07/1985 RESOLUÇÃO Nº 4 DO CONFEN
04/02/1986 RESOLUÇÃO Nº 6 DO CONFEN
31/01/1986 PARECER DO CONFEN SUBMETIDO À PLENÁRIA
17/08/1998 PORTARIA Nº 117 DO IBAMA
24/11/1991 CARTA DE PRINCÍPIOS DAS ENTIDADES
02/06/1992 ATA DA 5ª REUNIÃO ORDINÁRIA – CONFEN
16/10/2001 PORTARIA Nº 4 DO IBAMA
04/11/2004 RESOLUÇÃO Nº 5 DO CONAD
17/08/2004 PARECER DO CATC
30/05/2006 COMPOSIÇÃO DO GMT-CONAD
e 06/11/2006 RELATÓRIO FINAL DO GMT-CONAD
Fonte: ayahuascabrasil

Com a expansão do Ayahuasca para outros países, surgiram questões jurídicas internacionais referentes a utilização e transporte da bebida. Dentre os vários processos de legalização, uma referência internacional importante é o texto Religious Freedom and United States Drug Laws: Notes on the UDV-USA Legal Case (MEYER, 2005). O site do Santo Daime na Itália também disponibiliza uma página com literatura jurídica internacional, com material sobre vários países.

A PESQUISA NA ÁREA DA BIOLOGIA

O Projeto Hoasca foi uma iniciativa organizada pela União do Vegetal (UDV) sobre a toxidade do Ayahuasca do ponto de vista clínico. Durante o verão de 1993, um grupo multinacional de pesquisadores biomédicos dos Estados Unidos, Finlândia e Brasil encontrou-se em Manaus para conduzir o mais completo exame dos efeitos bioquímicos e psicológicos da bebida. Participaram desta pesquisa interdisciplinar: Grob; McKenna; Callaway; Strassman, entre outros. Mas, além dos resultados atestando a baixa toxicidade do Ayahuasca para usuários de longo prazo, o Projeto Hoasca também deslocou o foco da pesquisa interdisciplinar da bebida para neuroquímica de seus principíos psicoativos, principalmente a DMT.

N,N-DMT ou N,N-dimetiltriptamina (C12H16N2) é um psicoativo que causa intensa emergência visual quando fumado, injetado ou ingerido oralmente. Na Ayahuasca, está presente na folha Psychotria viridis e em combinação com as enzimas MAOI (harmina e harmalina) existentes no cipó Banisteriopsis caapipermite um mais efeito prolongado e potencializado do que se utilizado sozinho em altas dosagens sem inibidores. N,N-DMT é muito chamou freqüentemente só “DMT”, embora este nome cause confusão algumas vezes com seu primo químico 5-MeO-DMT. A DMT é também um neurotransmissor químico presente naturalmente no corpo humano bem como em plantas muitas e em outros mamíferos. Não há registros que ele cause dependência física ou psicológica, mas há contra-indicações: os efeitos do N,N-DMT são dramaticamente aumentado se usados em altas dosagens (fumado, por exemplo) por indivíduos usando MAOIs. MAOIs são enzimas comumente encontradas nos anti-depressivos (phenelzine, tranylcypromine, isocarboxazid, l-deprenyl e moclobemide). Indivíduos propensos à esquizofrenia, com tendências à psicose depressiva ou ainda em estado emocional vulnerável devem ter cuidado com a DMT pois ela pode funcionar como um ‘gatilho’ para a manifestação desses desequilíbrios. Hoje, na internet, encontram-se alguns sites com informação detalhada sobre a substância (http://dmt.lycaeum.org/ ehttp://www.erowid.org/chemicals/dmt/dmt.shtml).

A DMT e as beta-carbolinas são similares em sua estrutura molecular a Serotonina, um neurotransmissor responsável por vários processos cognitivos. Isto levou a uma série de especulações sobre qual seriam os efeitos do Ayahuasca em nosso organismo?
Para Ralph Miller(5), por exemplo, em Ayahuasca – Universidade de Gaia:

A Pineal irá produzir DMT em grandes quantidades em pelo menos dois momentos das nossas vidas: no nascimento e na morte. Talvez ela prepare a chegada e a partida da alma. Pessoas que experimentam “situações de quase morte” – vendo luzes fortes, portais, ícones religiosos – relatam efeitos semelhantes aos das experiências com DMT. As moléculas de DMT são similares às moléculas da Serotonina e se encaixam nos mesmos receptores do cérebro. Isto é extraordinário porque, assim como a Serotonina, a DMT é uma chave específica que naturalmente se encaixa nesta “trava” do cérebro. Assim, você tem a DMT se encaixando aos receptores do cérebro, o que produz visões, enquanto as propriedades pró-Serotonina e pró-Dopamina do chá criam um estado de alerta e receptividade.

Do ponto de vista científico, há várias hipóteses sobre o papel da DMT no cérebro humano. Uma hipótese é de que esta substância estaria relacionada com a manifestação da esquizofrenia e dos distúrbios psicóticos. No entanto, ao se encontrar níveis semelhantes de DMT em sujeitos sadios e em esquizofrênicos, esta hipótese vem sendo abandonada. (FISCHMAN, 1983). Outra hipótese, postulada por Richard Strassman em seu livro, A Molécula do Espírito, diz que a DMT é produzida pela glândula Pineal e está relacionada com experiências de “pico” (nascimento, experiências de quase-morte, morte etc). Uma terceira hipótese feita por Callaway, que se relaciona com as duas primeiras, é que a DMT está relacionada com a regulação do sono, especificamente, na produção das imagens nos sonhos: o sono REM. Neste caso, se a DMT fosse produzida em excesso poderia ocasionar alucinações.

Atualmente, várias pesquisas investigam a utilização de medicamentos a base de DMT para tratamento químico de depressão, neuroses, fobias, síndromes neurológicas, bem como sua utilização como potencializador da consciência em processos terapêuticos psicológicos.

A PESQUISA NA ÁREA DA PSICOLOGIA

Enquanto os pesquisadores das áreas biológicas dão um enfoque enquadrado particularmente aos efeitos químicos da DMT no cérebro, os pesquisadores das áreas clínicas e psicológicas estudam a mudança nos estados de consciência e de percepção, distribuindo sua atenção em três fatores: a bebida, o ambiente (setting) e a intenção (set. A hipótese denominada em inglês de ‘set and setting’, formulada inicialmente por Timothy Leary com LSD nos anos 60, foi adotada pela maioria dos pesquisadores da área. A hipótese afirma que o conteúdo de uma experiência com substancia psicoativa é uma resultante da interação desses três fatores básicos.

Charles S. Grob, também participante do Projeto Hoasca, fez a mais ampla revisão bibliográfica sobre o Ayahuasca na área da psicologia clínica e neuro-psiquiatria (METZNER, 2002, p. 195) e considera a hiper-sugestionabilidade como um dos efeitos psico-químicos, detalhando o aspecto ambiental (setting) em vários fatores (o papel do líder, do grupo, do local). Ele é um dos pesquisadores que concluem que “o contexto, o roteiro e o propósito” são mais importantes do que os efeitos químicos de substância psicoativas (nos processos de “cura” e de autoconhecimento propiciados pela bebida).

Em relação às características dos estados de consciência quimicamente alterados pelo Ayahuasca, Grob aponta: a) Diminuição ou expansão da consciência reflexiva, com alterações de pensamento, mudanças subjetivas na concentração, na atenção, na memória e no julgamento podem ser induzidas voluntariamente em vários níveis de uma mesma experiência. b) Aumento da imaginação visual. Grob também identifica, dentre as experiências de milhares usuários entrevistados, várias recorrências psicológicas durante o transe: medo de perder o controle; resistência do ego (bad trip) e transcendência para estados místicos (entrega); aumento da expressão emocional – tristeza, alegria, desespero, fé; entre outras menos freqüentes.

Bastante significativa é a descrição do transe feita pelo Dr. Regis Barbier, no artigo Ayahuasca como opção espiritual (6)

A Ayahuasca revela que o conhecimento que temos do mundo, da existência, é um estado ou processo psicossomático. (…) A percepção, habitualmente embotada, permite apenas aprender e acessar uma fração distorcida de realidade; uma realidade revestida de projeções pessoais e pressuposições. (…) A Ayahuasca amplifica a capacidade psicossomática de responder a gradações mais sutis de estímulos além de muitas vezes integrar as diversas faculdades sensoriais em processos sinestésicos. Esse efeito de aumentar a capacidade de experienciar, de avaliar e apreciar por si mesmo, é central para a compreensão do seu significado. Esta amplificação, como uma lupa, permite uma (re)visitação intensiva e absorta dos conteúdos mentais – recordações, idéias, fantasias, pensamentos, emoções, medos, esperanças, sensações em gerais. Na dependência da ética e valores morais atuais do indivíduo, além de influir na intensidade e no foco das percepções, a experiência pode motivar a re-significação dos conteúdos sendo observados. Valores morais e atitudes são revistas. Aqui temos uma tecnologia que alterando a composição bioquímica do instrumento e dos meios de processamento da informação, permite a inativação temporária dos filtros culturais e psicodinâmicos que nos bastidores da mente agem determinando, formatando e hierarquizando, nossas experiências quotidianas. Pode se de fato aprender muito, crescer e liberar energia psíquica e vendo, transformando, eliminando, aceitando e se reconciliando com conteúdos incômodos. (…) O grande valor da Ayahuasca, trazidos à nossa atenção pelas sociedades indígenas, é que ela dissolve os limites da mente inconsciente; ela dá acessos aos conteúdos reprimidos e esquecidos. Ela possibilita o reconhecimento das configurações universais da psique, os arquétipos de humanidade, junto com um leque mais abrangente de conhecimentos e maneiras de conscientizar, até eventualmente a vivência dos diversos aspectos da união mística. Na medida em que o indivíduo consegue ver as coisas de uma maneira não distorcida, vendo claramente não apenas o seu passado mais também a presunção e cegueira da sua própria cultura e grupos de referencias, ele necessita, além de tolerar a decepção e o sofrimento, superar sentimentos de desamparo. Nem sempre é fácil ter de ver e aceitar que não somos assim tão vítimas, mas sim responsáveis pelas nossas vidas; aceitar ser capaz, reconhecer o seu potencial e a responsabilidade que isso requer implica coragem e determinação. Podemos até recusar crer que fazemos jus a muita beleza e alegria, bem estar profundo, sem nada ter de pagar além de ser o que já se é; apenas sendo o que já somos. O gerenciamento emocional produtivo dessa reavaliação, a reorganização psíquica, implica um grau suficiente de equilíbrio e bom senso para que se tomam atitudes judiciosas sem precipitações.

Outra grande contribuição ao estudo psicológico do Ayahuasca é o trabalho de Benny Shanon, O Conteúdo das Visões da Ayahuasca, em que além de trabalhar um levantamento das imagens das mirações e da hipótese de aceleração e desaceleração da percepção do tempo durante o transe, se discute também a pesquisa da mente através do ayahuasca (e não mais o efeito da ayahuasca na mente humana).

Shanon já havia escrito sobre o Ayahuasca como instrumento de investigação da mente (in LABATE, 2002; pág. 631), através dos parâmetros teóricos da psicologia cognitiva. Para ele, há questões fenomenológicas de primeira ordem (o que está sendo experimentado?) e de segundo ordem (Há uma ordem e um sentido no que está sendo experimentado?). Há também questões de dinâmica, de contexto e teóricas gerais a serem discutidas sobre o uso do Ayahuasca. Por exemplo, em relação às questões fenomenológicas de primeira ordem, Shanon distingue as questões de conteúdo das de domínio e de estrutura. Assim, felinos, pássaros e répteis são as imagens mais recorrentes nos transes, seguidos de perto pelos palácios, tronos e imagens arquitetônicas celestiais.

serpientes21A pesquisa destaca que as imagens são ‘universais da mente’ (semelhantes ao que Jung chamou de arquétipos), pois surgem em indivíduos sociais e culturalmente diferentes. Esses conteúdos podem surgir de diferentes formas ou domínios e o encadeamento dessas formas com estes conteúdos forma estruturas narrativas paralelas aos rituais. E Shanon entrevê, através deste sistema cognitivo de conteúdos/domínios, os parâmetros estruturais da consciência e destaca pelo menos quatro aspectos relevantes em relação ao efeito do Ayahuasca: a percepção do pensamento como uma cognição coletiva, a indistinção entre o interior e o exterior, e as experiências desindentificação pessoal e de tempo não-linear. Ou seja: quando tomam Ayahuasca as pessoas percebem que seus pensamentos não são individuais, mas sim ‘recebidos em rede’ (a mente como um rádio); que não existe a distinção entre o sensorial e o sensível; podem se transformar em animais (jaguares e águias são freqüentes) ou em outras pessoas; e finalmente percebem o transcorrer do tempo de forma desigual, em que alguns segundos demoram séculos e horas se sucedem rapidamente e em que alguns momentos se experimentam a simultaneidade (ou a sensação de eternidade) temporal. Quando baixamos arquivos no computador, pode-se perceber que alguns segundos demoram mais que outros, em função do peso do arquivo e da aceleração da conexão da internet. O que Shanon suspeita é que o mesmo acontece com o cérebro, mas só é perceptível sob o efeito do Ayahuasca.

Acredito que o desenvolvimento das pesquisas na área da psicologia se dará a partir do aprofundamento neurocientífico das teses de Shanon. Ou seja: não apenas estudar o efeito químico da substância no organismo, mas, sobretudo, compreender quais dimensões de consciência que este efeito propicia (telepatia, regressões mentais a traumas infantis, visualização de imagens do inconsciente profundo, mudanças na percepção do tempo e da realidade). Além de investigar o efeito da DMT no cérebro, observando o aspecto reverso, estudar a mente através da DMT – este será o propósito central das pesquisas psicológicas da ayahuasca.

ANTEPROJETO

Além, de pesquisas psicológicas, antropológicas, jurídicas e biológicas (incluindo aqui estudos neuroquímicos, farmacêuticos e clínicos), há também várias pesquisas sobre a música das cerimônias, a poesia dos cantos, as danças do ritual, a arquitetura dos templos, enfim, toda descrição semiótica e lingüística da arte dos cultos, bem como suas concepções doutrinárias. Nosso objetivo aqui, como dissemos no começo, é o de introduzir as diferentes investigações sobre a ayahuasca, buscando observar o que cada tem de essencial em relações às demais. Mais do que uma síntese entre essas pesquisas, o que se pretende é o de estabelecer uma atualização sistemática dessas investigações e observar as suas inter-relações. Teríamos, assim, nesta perspectiva, uma pesquisa interdisciplinar do Ayahuasca cinco linhas específicas de observação e acompanhamento: Antropologia, Direito internacional, Biologia (subdividido em várias áreas), Psicologia e Comunicação Social. Cada linha de pesquisa deve ser coordenada por doutor e, na prática, consistiria na investigação e na sistematização de um aspecto específico da pesquisa inter-disciplinar.

O projeto inter-disciplinar de pesquisa do Ayahuasca e da DMT prevê ainda: a) realização de encontros anuais em diferentes universidades e centros de estudos, em que os pesquisadores, organizados em Grupos de Trabalho segundo as linhas de pesquisa, apresentarão artigos e resenhas sobre a literatura internacional sobre o tema; e b) a criação de uma publicação acadêmica nacional, impressa e na internet, com a produção científica dos pesquisadores e informações sobre as pesquisas internacionais semelhantes

Notas:

(1) Marcelo Bolshaw Gomes < marcelobolshaw@ufrnet.br> é jornalista, professor de comunicação e doutor em ciências sociais pela UFRN, mas o presente texto é resultado da interação de vários pesquisadores através da lista:http://br.groups.yahoo.com/group/pesquisadores_da_ayahuasca/.

(2) V. principalmente www.santodaime.org; www.ayahuasca.com e http://yage.net/

(3) Há um capítulo especialmente interessante: A Peia de todos e a peia de cada um.

(4) Mestre e doutoranda em Antropologia Social pela Unicamp, pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos e coordenadora do instituto Alto das Estrelas .

(5) Tradução: Sergio Garcia Paim, originalmente publicado em

(6) Originalmente publicado no site: http://www.panhuasca.org.br

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Evelyn Doering Silveira.   AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DE ADOLESCENTES QUE CONSOMEM CHÁ DE AYAHUASCA EM CONTEXTO RITUAL RELIGIOSO – 01/12/2003
Laura Pérez Gil.   Pelos caminhos de Yuve: conhecimento cura e poder no xamanismo Yawanawa – 01/11/1999
Alberto Groisman.   “EU VENHO DA FLORESTA”: ECLETISMO E PRAXIS XAMANICA NO “CEU DO MAPIA”. – 01/01/1991
Antonio Henrique Fonseca Romero.   Autopoise e Educação no Movimento do Santo Daime – 01/10/2004
Beatriz Caiuby Labate.   “A reinvenção do uso da ayahuasca nos centros urbanos” – 01/04/2000
Eliseu Labigalini Júnior.   O USO DE AYAHUASCA EM UM CONTEXTO RELIGIOSO POR EX-DEPENDENTES DE ÁLCOOL – UM ESTUDO QUALITATIVO – 01/06/1998
Fernando de La Rocque Couto.   SANTOS E XAMAS: ESTUDOS DO USO RITUALIZADO DA AYAHUASCA POR CABOCLOS DA AMAZONIA E EM PARTICULAR NO QUE CONCERNE SUA UTILIZACAO SOCIO-TERAPEUTICA NA DOUTRINA DO SANTO DAIME – 01/06/1989
Leandro Okamoto da Silva.   Marachimbé Chegou Foi Para Apurar. Estudo Sobre o Castigo Simbólico, ou Peia, no Culto do Santo Daime. – 01/09/2004
Leonor Ramos Chaves.   A MULHER URBANA NO SANTO DAIME: Entre o modelo arcaico e o moderno de feminino – 01/11/2003
Maíra Teixeira Pereira.   ARQUITETURA COMO UM MICROCOSMO: RELIGIOSIDADE E REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO NA COMUNIDADE DO MATUTU-MG – 01/04/2003
Mara Rosane Coelho Teixeira.   EM RODA DOS MENINOS: UM ESTUDO DA VISÃO DE MUNDO CONSTRUÍDA PELAS CRIANÇAS NA COTIDIANIDADE DA DOUTRINA DO SANTO DAIME NA VILA CÉU MAPIÁ/AM -2003 – 01/06/2004
Maria Cristina Pelaez.   “NO MUNDO SE CURA TUDO: INTERPRETAÇÕES SOBRE A ‘CURA ESPIRITUAL’ NO SANTO DAIME” – 01/12/1994
Maria de Fátima Henrique de Almeida.   Santo Daime: a colônia cinco mil e a contracultura (1977-1983) – 01/08/2002
Paulo César Ribeiro Barbosa.   Psiquiatria cultural do uso ritualizado de um alucinógeno no contexto urbano: uma investigação dos estados de consciência induzidos em moradores de São Paulo pela iniciação ao consumo da Ayahuasca no Santo Daime e União Vegetal – 01/08/2001
Rodrigo Sebastian de Moraes Abramovitz.   MÚSICA E MIRAÇÃO: UMA ANÁLISE ETNOMUSICOLÓGICA DOS HINOS DO SANTO DAIME. – 01/03/2003
Rosana Martins de Oliveira.   DE FOLHA E CIPÓ É A CAPELINHA DE SÃO FRANCISCO: A RELIGIOSIDADE POPULAR NA CIDADE DE RIO BRANCO – ACRE (1945-1958) – 01/08/2002
Sandra Lúcia Goulart.   AS RAÍZES CULTURAIS DO SANTO DAIME – 01/05/1996

A Experiência de Contato com OVNI’s como Crise de Transformação

Por Keith Thompson
Extraído do livro “Emergência Espiritual – Crise e Transformação Espiritual”, de Stanislav Grof e Christina Grof

Eles não me tocaram, mas estenderam as mãos como se me dessem assistência. Parece haver uma plataforma lá… e estou pisando nela. A luz está acima. É brilhante, bem brilhante – e ela tem aquelas faixas de luz saindo dela. Parece que ela está me levando para cima!… A luz está ficando cada vez mais brilhante… Estou envolta em luz… uma brilhante luz branca. Estou parada ali. A luz não parece ferir. Não é quente. É apenas luz branca, em torno de mim e em mim..

Betty Andreasson Descrevendo o Seu Contato Com Ocupantes de um OVNI em 1967 em The Andreasson Affair

***
Embora a existência de vida inteligente fora do planeta continue sendo uma questão aberta, são extremamente comuns, vividas e convincentes as experiências de comunicação e de encontros com seres extraterrestres. Elas são parte dos mais interessantes e curiosos fenômenos do domínio transpessoal. Fica cada vez mais claro que elas merecem um estudo sério, reflitam ou não a realidade objetiva.

As experiências que envolvem contatos com a inteligência extraterrestre compartilham muitas das características das experiências místicas e podem levar a uma confusão e a crises psico-espirituais muito semelhantes. O curso mais interessante e promissor da pesquisa dos OVNIs afasta-se do acalorado debate acerca da factualidade da visita de seres de outros universos à terra e se dirige para o estudo da experiência com OVNIs como um fascinante fenômeno em si mesmo.

Keith Thompson é um ardoroso estudioso das características psicológicas desses contatos. Graduado em literatura inglesa na Universidade Estadual de Ohio, é um escritor altamente sensível e perceptivo que explora novos desenvolvimentos da filosofia, da psicologia, da psicoterapia, da ciência e da espiritualidade modernas. Seus artigos são publicados regularmente em Common Boudary (de que ele é editor-colaborador), Esquire, New Age, Utne Reader, San Francisco Chronicle e Yoga Journal. Ele também tem uma coluna semanal na Oakland Tribune, onde trata de temas relativos à “alma da ciência moderna e à ciência emergente da alma”.

Residente em Mill Valley, Califórnia, Thompson tem acompanhado com grande interesse os desenvolvimentos no campo da psicologia transpessoal, uma disciplina que surgiu na área da Baía de São Francisco. Ele se interessa em particular pela sua enriquecedora relação com os avanços revolucionários da ciência. Seu estreito vínculo com o Instituto Esalen, de Big Sur, Califórnia, permitiu-lhe adquirir conhecimento de uma variedade de técnicas psicoterapêuticas.

Tendo feito treinamento avançado em hipnose e terapia Gestalt, Thompson usa essas duas abordagens para estudar o significado mais profundo dos estados de consciência incomuns, área que há muitos anos constitui um dos seus apaixonados interesses. As experiências de contato com OVNIs e com a inteligência extraterrestre parecem-lhe especialmente desafiadoras e curiosas. Thompson está escrevendo um livro, Aliens, Angels, and Archetypes, que explora a dimensão mítica do fenômeno dos OVNIs.

Embora a contribuição de Thompson trate dos problemas específicos das pessoas que tiveram experiências relacionadas com os OVNIs, os temas por ele desenvolvidos no tocante a esses episódios, entendidos como formas de iniciação, têm algo a dizer a todos quantos foram atingidos por crises espirituais.

***
Dentre todas as perguntas complicadas feitas por pessoas que tiveram contato direto com um OVNI, a mais espantosa – e mais comum – talvez seja: “Por que eu?” Essa questão está presente em todo o conhecido relato feito por Whitley Streiber de sua experiência de rapto, Communion (1987), bem como na crônica sobre o fenômeno do rapto por OVNIs feita por Budd Hopkins, Intruders (1987).

Desejo tratar precisamente dessa sensação de ter sido escolhido por alguma razão desconhecida para realizar algum propósito ou missão desconhecidos. Por meio de longas conversas com pessoas que decidiram – muito corajosamente, me parece – lidar de perto com a sua experiência, descobri que a questão costuma apresentar-se como “Fui aliciado ou iniciado? Se fui, por que ou por quem? Com que objetivo?” Mais tarde, procurei dados antropológicos a fim de obter uma melhor compreensão dos estágios, das estruturas e da dinâmica das cerimônias de iniciação, e de ver se faz sentido falar de paralelos entre as iniciações da escala humana e as experiências humanas com o Outro desconhecido chamado OVNIs.

Trato aqui daquilo que as pessoas relatam acerca da sua experiência, e não daquilo que é objetivamente, em última análise, verdadeiro – sendo esta última questão uma outra discussão, que me levaria a seguir uma direção bem distinta. Minha abordagem é fenomenológica: tomo como dados primários aquilo que a pessoa que recebe o OVNI relata como sua experiência. Deixarei aos outros as inferências sobre a natureza da realidade que serve de base e que causa “meras aparências”. Esse debate é povoado invariavelmente por pressupostos sobre o que pode ou não ser real, enquanto minha abordagem deixa esses pressupostos entre parênteses. Isso permite a exploração das Experiências com OVNIs (ou EOVNIs) e outros fenômenos extraordinários sem ser perturbado por tendências metafísicas e crenças exclusivistas no tocante aos dados importantes.

A intensidade da crise existencial ou transpessoal que pode ser precipitada por uma EOVNI não parece depender do fato de o receptor sentir ou não que interagiu com um objeto voador não identificado tradicional ou, em vez disso, teve uma; experiência “mediúnica”, “imaginária”, “arquetípica”, “de proximidade da morte”, “de saída do corpo” ou “xamânica”. A autenticidade experiencial de uma EOVNI parece depender em larga medida do grau até o qual o receptor passa pela interação com seres, presenças ou objetos de outro mundo como experiência significativamente substancial e fundamentalmente real – e até “mais do que real”. Se essas condições forem atendidas, também a profundidade de uma crise transpessoal relacionada com os OVNIs não parece depender do tipo de hipótese feita pelo receptor com relação aos “seres do OVNI” – cidadãos do “espaço exterior”, de “universos paralelos”, do “inconsciente coletivo”, do “céu”, do “inferno” ou de outros lugares numinosos. Tomo por ponto de partida, na exploração da natureza iniciatória das EOVNIs, os padrões desses relatos.

O professor Arnold Van Gennep definiu os ritos de passagem como “ritos que acompanham toda mudança de lugar, de estado, de posição social e de idade”. O nosso movimento do ventre ao túmulo é pontuado por algumas transições críticas marcada por rituais apropriados que têm como alvo tornar clara a significação do indivíduo e do grupo diante de todos os membros da comunidade. Essas passagens ritualizadas incluem o nascimento, a puberdade, o casamento e a confirmação religiosa, incluindo a introdução em escolas de mistério de vários tipos. Adiciono a essa relação uma nova categoria de experiência: o contato OVNI/ ser humano, uma interação que tem muitas semelhanças estruturais e funcionais com outras ocasiões iniciatórias.

Diante do que considero o paradoxo central da interação ser humano/alienígena –  isto é, a contínua irredutibilidade do fenômeno dos OVNIs através de meios e modelos convencionais, aliada à permanente manifestação do fenômeno em formas cada vez mais estranhas -, é difícil evitar a impressão de que a própria tensão que constitui esse paradoxo tem tido um impacto iniciatório. Enquanto o debate entre os verdadeiros crentes de ambos os lados da questão dos OVNIs segue na sua previsível banalidade, nossos sistemas de crença pessoais e coletivos têm sofrido mudanças imperceptíveis e, ao mesmo tempo, significativas.

Sem que nos demos conta, a estrutura mitológica humana tem passado por uma modificação fundamental. As pesquisas de opinião e outros termômetros das tendências coletivas revelam que hoje há um número nunca antes alcançado de pessoa que têm por certo que não estamos sozinhos no universo. A própria relutância do fenômeno dos OVNIs em desaparecer ou em chegar consideravelmente mais próximo de nós de uma vez tem nos condicionado – ou, se se desejar, iniciado – a considerar extraordinárias possibilidades acerca daquilo que somos no íntimo e sobre quais devem ser as condições definitórias do jogo que denominamos realidade.

Van Gennep demonstrou que todos os ritos de transição se desdobram em três fases: separação, marginalidade e agregação ou consumação. A fase um, a separação, envolve o afastamento das pessoas e grupos de uma posição social fixa anterior ou conjunto prévio de condições culturais, uma saída ou abandono de um estado precedente. Por exemplo, o jovem que participa de uma cerimônia iniciatória masculina numa cultura tradicional é forçado a deixar a sua auto-identificação de “menino” na porta do local de iniciação.
A fase dois, a marginalidade, implica a entrada numa condição de vida à margem, que não está em um nem em outro lugar, que não está propriamente aqui nem ali. A marginalidade (também chamada liminaridade, do latim limen, “limiar”) se caracteriza por uma profunda sensação de ambigüidade sobre quem a pessoa de fato é. O jovem deixou de ser um menino mas ainda não se tornou, por meio de um ritual especialmente concebido, um homem.

A agregação, por sua vez, é o momento de voltar a conviver com os outros, mas de uma nova maneira, saindo das margens para entrar num novo estado de ser. Trata-se da consumação ou culminação do processo. Agora, o ser humano masculino obteve o direito de ser chamado de homem e de se considerar tal.

Joseph Campbell, que é de longe o mais criativo e perceptivo mapeador dos domínios mitológicos, escreveu muito sobre as muitas formas que a fase de separação pode assumir. Em sua obra clássica sobre o mito universal da jornada do herói, The Hero with a Thousand Faces [O Herói de Mil Faces], ele escreve: “Um herói vindo do mundo cotidiano se aventura numa região de prodígios sobrenaturais.” Que descrição magnificamente sucinta dos primeiros momentos do contato com um OVNI – embora, com efeito, os OVNIs não sejam mencionados uma única vez no livro de Campbell. Ele prossegue, denominando essa primeira fase da jornada O Chamado da Aventura; ela significa que

o destino convocou o herói e transferiu-lhe o centro de gravidade do seio da sociedade para uma região desconhecida. Essa fatídica região dos tesouros e dos perigos pode ser representada sob várias formas: como uma terra distante, uma floresta, um reino subterrâneo, a parte inferior das ondas, a parte superior do céu, uma ilha secreta, o topo de uma elevada montanha ou um profundo estado onírico. Mas sempre é um lugar habitado por seres estranhamente fluidos e poliformos, tormentos inimagináveis, façanhas sobre-humanas e delícias impossíveis. O herói pode agir por vontade própria na realização da aventura, como faz Teseu ao chegar à cidade do seu pai, Atenas, e ouvir a horrível história do Minotauro; da mesma forma, pode ser levado ou enviado para longe por algum agente benigno ou maligno, como ocorreu com Ulisses, levado Mediterrâneo afora pelos ventos de um deus enfurecido, Posêidon. A aventura pode começar como um mero erro, como ocorreu com a aventura da princesa do conto de fadas; igualmente, o herói pode estar simplesmente caminhando a esmo quando algum fenômeno passageiro atrai seu olhar errante e o leva para longe dos caminhos comuns do homem. Os exemplos podem ser multiplicados, ad infinitum, vindos de todos os cantos do planeta. [P. 66 da edição em português]

Tomei a liberdade de fazer essa longa citação por que estou cativado pelos muitos paralelos entre o chamado da aventura do herói, na mitologia, e os inúmeros exemplos das aventuras com OVNIs de pessoas convocadas “do seio da sociedade para uma região desconhecida”. Muitos contatados se abrem, curiosos, e até excitados, ao encontro com alienígenas dos OVNIs; os raptados são levados contra a sua vontade. Conheci muitas pessoas que estiveram “em contato” com agentes dos OVNIs por meio do que eles consideram ser uma espécie de erro ou apenas em conseqüência de seguirem com a sua vida, cuidando de suas próprias coisas.

De qualquer maneira, o herói (ou contatado ou raptado) é afastado ou separado do coletivo, da corrente principal, de uma forma forte, transformadora da vida. Isso nos leva à resposta muito freqüente ao Chamado da Aventura: a recusa. Como a separação do coletivo costuma ser terrível, o herói muitas vezes diz, tão-somente: “Diabos, eu não vou” – ou mais precisamente, “Eu não fui”.

Em termos da experiência com OVNIs, o contato ou rapto conclui (freqüentemente para preservar sua própria sanidade) que “Não podia ser real… Não aconteceu comigo… Foi apenas um sonho… Se eu guardar a lembrança para mim, talvez tudo se dissipe…” Recusar o chamado, escreve Campbell, representa a esperança do herói de que o seu atual sistema de ideais, virtudes, objetivos e vantagens possa ser consolidado e garantido por meio do ato de negação. Mas não está prevista essa sorte: “Somos perseguidos, dia e noite, pelo divino ser que é a imagem do eu vivo presente no labirinto fechado da nossa própria psique desorientada. Os caminhos para as portas se perderam; não há saída.”

As grandes religiões e tradições filosóficas do mundo falam de várias maneiras desse momento crucial, que podemos descrever como “o combate com o anjo pessoal”. O ser ou seres que guardam o limiar não admitem desvios; o caminho para além é a passagem pelo limiar. O Outro numinoso costuma exigir, em todos os seus disfarces, algo que parece inaceitável ao iniciado; mas a recusa parece impossível quando se está nessa zona nova e desconhecida. O terror muitas vezes toma conta da pessoa, como o diz Whitley Streiber ao descrever o seu rapto por um OVNI:

“Whitley” deixou de existir. Restou um corpo num estado de terror tamanho que tomou conta de mim como uma espessa e sufocante cortina, tornando a paralisia uma condição que parecia próxima da morte. Não creio que a minha humanidade comum tenha sobrevivido à transição.

Quão vívida é essa descrição da separação forçada do mais profundo sentido de identidade por um agente alienígena – e do ser deixado nas ambíguas margens do ser! A experiência de Streiber é comum a muitos – mas não a todos – os raptados por OVNIs.

Seria justificável sugerir que o que está em jogo nos contatos alienígena/ser humano é um certo conceito de humanidade? Parece mais do que provável que nossa ambivalência – que permeia toda a cultura – com relação à aceitação do fenômeno dos OVNIs como uma coisa real reflete a sensação coletiva de que a aposta é de fato alta. Encarar o rosto do Outro requer que enfrentemos a dolorosa admissão de Rainer Maria Rilke: “Não há nenhum lugar além de você mesmo: Você precisa mudar a sua vida.”

Como cultura – talvez como espécie -, somos fatalmente atraídos por esse misterioso desconhecido, somos chamados por ele – e, no entanto, o medo de Streiber não é só seu. O reconhecimento de que existe há muito tempo aquilo que Streiber chama de “fenômeno do visitante” nos convida a aceitar, em suas palavras, “que podemos muito bem ser alguma coisa distinta daquilo que acreditamos ser, que podemos estar na terra por razões que podemos não saber e cuja compreensão será um imenso desafio”.

abductionPara quem não foi levado e molestado por alienígenas, a recusa do chamado pode ser muito sutil. Muitas pessoas cujo contato com o Outro é telepático, ou caracterizado por fenômenos visionários com motivos mitológicos, podem ver-se, no início, resistindo à experiência simplesmente desligando-se dela. Quem de nós deseja desistir do sentido seguro e familiar de identidade? Todos somos assombrados pela presença da própria Sombra, aquela coisa dentro de nós e ao nosso redor que se recusa a ser facilmente colonizada pelo avaro ponto focal chamado ego. Contudo, uma vez vivida uma certa parcela da vida, fica mais difícil ignorar o constante apelo de reconhecimento que o Outro nos faz, visando retornar a um lugar central e ativo em nossa vida.

Os antigos sabiam a importância de manter um diálogo íntimo com o nosso duplo ou daemon, chamado genius em latim, “anjo da guarda” pelo cristianismo, “homem reflexo” pelos escoceses, vardogr pelos noruegueses, Doppelgänger pelos alemães. A idéia era: ao cuidar do desenvolvimento do nosso “gênio”, esse ser espiritual nos daria ajuda por toda a vida mortal humana e na próxima. Os seres humanos que não cuidavam do seu Outro pessoal tornavam-se uma entidade maléfica e ameaçadora chamada de “larva”, dada a pairar sobre aterrorizadas pessoas adormecidas e a levar as pessoas à loucura.

Portanto, o herói transcende a recusa do chamado porque, em última análise, é impossível não aceitá-lo. Preferimos trabalhar com os desdobramentos das experiências com OVNIs, trilhar o caminho espiritual ou aceitar aquilo que se apresenta como um chamado pessoal quando percebemos que aceitar o chamado é menos doloroso do que as temidas ramificações do abandono do coletivo, da massa, ou de qualquer coisa que se deseje descrever como o modo de vida anterior. Paracelso disse que todos têm dois corpos, um composto pelos elementos e, o outro, pelas estrelas. Aceitar o Chamado da Aventura – seja na forma da “assimilação” do nosso contato com OVNIs ou na experiência de proximidade da morte ou de algum outro confronto com a realidade não comum – eqüivale a decidir habitar o nosso Corpo Estelar.

Isso nos leva à segunda – e, de certo modo, ainda mais difícil – fase de iniciação: viver no ambíguo “não-propriamente-aqui-não-propriamente-lá”. Desejo concentrar a minha atenção nessa transição entre estados de ser, pois creio tratar-se de um terreno fertilíssimo e de enorme potencial, mesmo que a maioria de nós tenda a viver a abertura e a receptividade como vazio e perda. Em seu ensaio clássico: “Betwixt and Between: The Liminal Period of Rites of Passage”, Victor Turner afirma que a principal função da transição entre estados é tornar o sujeito invisível. Para propósitos cerimoniais, o neófito – isto é, aquele que passa pela iniciação – é considerado estruturalmente “morto”, ou seja, não classificável à maneira antiga nem à nova, invisível: não visto.

No livro em que examina os detalhes de vários raptos praticados por OVNIs, Intruders, Budd Hopkins inclui uma enorme passagem de uma carta que recebeu de uma jovem de Minnesota que relatou ter sido raptada por alienígenas quando criança e depois de adulta. Como essa mulher descreve bem a crise existencial que os raptados sofrem, cito um grande trecho de sua correspondência:

“Para a maioria de nós, tudo começava com as lembranças. Embora alguns se recordassem de parte da experiência ou de toda a experiência, era mais comum que tivéssemos de fazer um esforço por encontrar essas lembranças – escondidas numa espécie de amnésia. Fazíamos isso, com freqüência, por meio da hipnose, que era, para muitos de nós, uma nova experiência. E que sentimentos confusos advinham quando lidávamos com essas lembranças! Quase sem exceção, ficávamos terrificados quando revivíamos esses eventos  traumáticos, com uma sensação de sermos esmagados sob o seu impacto. Mas havia também descrença. Isso não pode ser real. Devo estar sonhando. Isso não está acontecendo. E assim começava a vacilação e a dúvida com relação a nós mesmos, os períodos alternados de ceticismo e de crença, em nossa tentativa de incorporar nossas lembranças no nosso sentido do que somos e do que sabemos. Muitas vezes sentíamos que estávamos loucos; continuamos a nossa busca da explicação “real”. Tentávamos entender o que havia de errado conosco para que essas imagens subissem à superfície. Por que a minha mente faz isso comigo?”

Essa mulher mostra que entende muito bem os sentimentos associados com o fato de se tornar “invisível” em virtude de relatar uma experiência que se desvia das possibilidades admitidas pela “realidade consensual”:

“E havia também o problema de falar com os outros sobre as nossas experiências. Muitos dos nossos amigos eram, naturalmente, céticos, e, embora nos magoasse o fato de não sermos compreendidos, o que poderíamos esperar? Também nós tínhamos os nossos momentos de ceticismo, ou talvez tivéssemos sido céticos no passado. As respostas que obtínhamos dos outros refletiam as nossas. As pessoas com quem falávamos acreditavam em nós… e duvidavam de nós, ficavam confusas e, como tínhamos feito, procuravam outras explicações. Muitas eram rígidas em sua negação, não admitindo a mínima possibilidade desses raptos e, fossem quais fossem as suas palavras, a mensagem pressuposta era clara: sei melhor do que você o que é e o que não é real. Sentíamo-nos num círculo vicioso que parecia imposto a nós, raptados, por uma sociedade cética:

Por que você acredita que foi raptado?
Porque você é louco.
Como sabemos que você é louco?
Porque você acredita que foi raptado.

… Aprendemos do modo mais difícil, por meio de tentativa e erro, em quem podíamos ou não confiar. Aprendemos a sutil diferença entre segredo e privacidade. Mas muitos de nós tiveram uma forte sensação de isolamento. Sentíamos a dor de sermos diferentes, como se apenas estivéssemos “passando” por normais.Alguns chegaram à difícil compreensão de que não havia ninguém com quem pudéssemos ser quem de fato éramos, o que era uma posição muito solitária para se ficar.”

Em resumo: muitos contatados e raptados por OVNIs, ao lado dos que tiveram uma experiência direta, imediata e inegável do Mysterium, do sagrado, sabem o que é ser invisível para aqueles que não receberam o mesmo chamado – ou que ainda recusam esse chamado. Essa ambivalência é especialmente pronunciada para quem voltou do limiar da morte. Tendo sido declarados clinicamente mortos e tendo flutuado na direção de um túnel povoado por seres de luz que acenavam, apenas para voltarem ao mundo dos vivos com um sentido inexplicavelmente radiante de ser e de objetivos, muitos iniciados em experiências de proximidade da morte contam que deixaram de se sentir humanos exatamente da mesma forma anterior à experiência. Essa ambivalência aumenta quando a família, os amigos e várias figuras de autoridade desdenham a experiência.

Ao falar informalmente com iniciados por OVNIs sobre essas idéias, percebi que eles em geral reconhecem os sentimentos do mundo marginal. É como se o neófito vislumbrasse algo tão profundo que certos “fatos da vida” anteriores à experiência deixam de ser os únicos verdadeiros. É comum que a pessoa sinta frustração porque os outros não vêem que as regras do jogo mudaram, ou que as velhas regras sempre foram uma de muitas maneiras de organização da percepção, em vez de imutáveis “leis da natureza”.

Na outra extremidade da frustração do viver à margem está a percepção disponível para quantos desejem entrar nela: o não ser capaz de se classificar também significa estar livre da necessidade de se apegar a uma única identidade. Viver nem aqui nem lá, no reino da incerteza e do não-saber, pode possibilitar novas percepções, novas maneiras de “construir a realidade”. Nesse sentido, a experiência com OVNIs serve de agente de desconstrução cultural, incitando-nos a destruir idéias fáceis acerca do hiato supostamente interminável entre a mente e a matéria, entre o espírito e o corpo, entre o masculino e o feminino, entre a natureza e a cultura e outras dicotomias familiares.

Viver na ambivalência da marginalidade pode ser considerado em termos de paraíso perdido ou de uma revigorante libertação da necessidade de manter um sentido unidimensional particular de paraíso intacto. Podemos lamentar a morte das fronteiras claras, do branco e do negro, do certo e do errado, do nós e do eles, assim como podemos entrar voluntariamente nos reinos marginais, liminares e indistintos do ser, descobrindo cara a cara os nossos demônios e anjos desconhecidos – encarando-os, se o desejarmos, com a mesma ferocidade com que eles nos encaram.

Em suma, o jogo pode ser considerado como uma escolha entre penetrar no paradoxo e nele viver, ou, como o diz o meu amigo Don Michael, “pousar com os dois pés apoiados firmemente no ar”. Muito pode ser dito sobre o lugar em que extremidades indistinguíveis apresentam não somente um desafio de restauração da ordem perdida como uma oportunidade de brincar na vasta perversidade polimorfa da Matriz Criadora; o espaço em que reside o Trapaceiro, meio Madre Teresa, meio Pee-wee Herman; em que, como no conto “João de Ferro”, dos irmãos Grimm, onde se descobre que o Selvagem seco e peludo descoberto no fundo do poço também tem uma ligação especial com o ouro. Caracteristicamente, sentimos um vazio ao percebermos quão irremediavelmente a nossa herança judeu-cristã negou o vínculo entre a selvageria sensual e afirmadora da vida e a experiência do sagrado.

Há também uma dimensão coletiva da marginalidade, como o torna claro a contínua percepção fronteiriça dos OVNIs a partir do final dos anos 40: gostemos ou não, nossa cultura, a cultura humana, também vive à margem, nas extremidades, no meio. Heidegger disse que vivemos numa época intermediária entre a morte dos velhos deuses e o nascimento dos novos, e Jung acreditava que os OVNIs eram um símbolo fundamental das “mudanças da constelação de dominantes psíquicos, dos arquétipos – ou ‘deuses’, como costumavam ser chamados -, que produzem, ou acompanham, transformações duradouras da psique coletiva”.

Mas, como vamos fundamentar, concretizar essas idéias? Começando pelo ponto em que estamos – aqui, aumentando a “rachadura do ovo cósmico”. Por definição, as transições são fluidas, entidades não definíveis com facilidade em termos estáticos ou estruturais; e é isso que acontece com as iniciações via OVNIs. Muitos que passaram por elas sentem ter deixado de existir. Na verdade, eles deixaram de existir no nível com que estavam familiarizados e com o qual se sentiam à vontade. Também a nossa cultura saiu do colo, do conforto e da segurança do dualismo newtoniano-cartesiano. “Nenhuma criatura pode alcançar um nível de natureza superior sem cessar de existir”, disse o filósofo Coomaraswami.

As pessoas que tiveram um contato imediato me dizem que foram forçadas a chegar a um acordo com a idéia de que o mundo não é tão simples quanto parecia enquanto elas cresciam com papai e mamãe por perto. Elas tiveram de perceber que o mundo está cheio de panoramas e abismos. De que modo a experiência com OVNIs faz isso? Não tenho certeza, mas suspeito que tem alguma relação com a revelação do segredo, a piada cósmica, com o fato de ter “visto tanto” que voltar a um mundo de pensamento atomístico newtoniano ingênuo deixou de ser uma opção honesta.

É possível que os OVNIs, a experiência de proximidade da morte, as aparições da Virgem Maria e outros modernos contatos visionários xamânicos são tanto um estímulo para o nosso próximo nível de consciência quanto o são as premências sexuais em rápido desabrochar para a passagem do adolescente da infância para a idade adulta. Ambos os tipos de processo representam a morte de um estado de ser ingênuo precedente. O privilégio de ser jovem – uma pessoa jovem, um planeta jovem, uma alma jovem – é acreditar que podemos ficar eternamente inocentes. Mas uma vez que o limiar do domínio marginal – nem aqui nem lá – do ser, seja cruzado, só podemos evitar morrer para as identidades precedentes seguindo o caminho do falso ser, a vida de negação.

Parece perfeitamente apropriado, a meu ver, o fato de os OVNIs terem confundido a ciência, os acadêmicos e as comissões governamentais de investigação. A própria perturbação dos nossos sinais cognitivos deve ser considerada, se optarmos por isso, uma maravilhosa oportunidade para parar de montar Humpty Dumpty outra vez começando, em vez disso, a eliminar o ruído dos circuitos de comunicação, as distorções advindas da consciência individualizada, limitada, orientada para o ego, que se toma erroneamente pelo todo. Permitir que o ovo cósmico permaneça quebrado liberta-nos para que comecemos a fugir do lixo da cultura profana, de um modo de vida baseado na negação de um relacionamento simbiótico com Gaia, a Terra, cujo contínuo fluxo de comunicação fingimos não perceber, graças ao estado alterado de consciência especial que chamamos de inteligência racional.

Acredito que não há muito a ganhar em esperarmos por uma “solução” abstrata para o “problema” dos OVNIs, como se uma solução dessas pudesse algum dia ser separada ou separável do nosso próprio esforço de saber. Afastamo-nos muito daquilo a que tínhamos direito ao nascer – a presença sentida do mysterium tremendum, o mistério do ser que nos faz estremecer – e somente nós mesmos podemos dar uma reviravolta nisso. Terence McKenna o formula da seguinte maneira: “A gnose é o conhecimento privilegiado transmitido ao corajoso.” Poderemos reunir a coragem para receber o verdadeiro conhecimento?

Joseph Campbell refere-se a quem sai da realidade comum e entra em contato com prodígios sobrenaturais – e que depois retorna a essa realidade – como o Senhor de Dois Mundos. Livre para cruzar em todas as direções as divisões entre os domínios, do tempo para a intemporalidade, das superfícies para as profundezas causais e destas àquelas, o Senhor conhece ambas as realidades e não se instala exclusivamente em nenhuma delas.

Diz Campbell:

O discípulo foi abençoado pela visão que transcende o alcance do destino humano normal, equivalente a um vislumbre da natureza essencial do cosmos. Não o seu destino pessoal, mas o da humanidade, da vida como um todo, do átomo de todos os sistemas solares, foi posto diante dos seus olhos; e em termos passíveis de apreensão humana, isto é, em termos de uma visão antropomórfica: o Homem Cósmico. [Página 229 da edição brasileira.]

Observe-se a insistência de Campbell no fato de que a visão transformadora é revelada “em termos passíveis de compreensão humana”. Entre outras coisas, isso nos acautela da enorme inflação do ego que costuma acompanhar a experiência com OVNIs, especialmente quando está envolvida a canalização. Precisamente porque a visão de OVNIs parece absurda para a consciência comum, não-iniciada, a experiência (e a pessoa que por ela passou) vai ser ridicularizada pelo coletivo. Com sentimentos de rejeição como o insulto acrescentado à injúria da experiência com OVNIs, que abala a realidade, o iniciado pelos OVNIs é tentado a compensar a sensação de ser inferior ao comum fingindo ser fora do comum, por vezes assumindo o papel de profeta cósmico que vislumbrou o novo horizonte cósmico.

Todos os que tiverem tido experiências extraordinárias devem estar alertas para essa tendência. Devemos ter em mente que ser invisível para a cultura como um todo pode ser tanto uma bênção como uma maldição – que ser desconsiderado, ignorado e desvalorizado pode ser o impulso para que se tome uma outra rota: o caminho da calma, a trilha suave, firme, que fica nos bastidores. Trata-se do caminho invisível de aquisição do conhecimento, a trilha lenta da alquimia. O trabalho da alma requer tempo. Isso significa que devemos intencionalmente reservar tempo, especialmente em nossa cultura secular extrovertida, cada vez mais hiperativa. A pergunta que devemos formular, envolvidos como estamos na exploração de fenômenos extraordinários desvalorizados pela consciência corriqueira, refere-se a saber se o ônus de ser desconsiderado por não-iniciados é de fato maior do que o de tentar convencê-los de que tivemos uma experiência que, ao menos por implicação, nos faz um tanto “especiais”.

Prefiro o primeiro caminho, por causa do sentido de libertação da necessidade de saber o que é a realidade que ele dá. Porque, na medida em que é uma “sacudidela” nos velhos hábitos, uma experiência com OVNIs também oferece uma oportunidade de florescimento fora dos domínios aceitos de classificação da nossa cultura, fazer perguntas sobre coisas que antes tínhamos por certo e alcançar a perspectiva de uma transição ainda mais ampla do que a nossa transição pessoal: a passagem para um novo modo de ser para a humanidade.

Posso dizer que tive a sorte de encontrar uns quantos iniciados por OVNIs que, tal como aqueles que penetraram no mistério do sagrado por outros caminhos, se tornaram Senhores de Dois Mundos precisamente porque transcenderam a ilusão de que a sua experiência, positiva ou negativa, lhes pertence ou ocorreu com eles pessoalmente. Whitley Streiber, que na verdade tomou a sua experiência como algo pessoal, admite, num ponto de Communion, que, quando perguntou aos seus captores do OVNI “Por que eu?”, eles responderam: “Porque a luz estava acesa -nós vimos a luz.”
Numa atitude que constitui um golpe para o seu ego, Whitley é informado de que eles foram até onde ele estava não para ungi-lo como avatar da Nova Era, nem sequer para levá-lo a escrever um relato pessoal campeão de vendas sobre as suas experiências, mas porque ele tinha deixado a luz acesa na sala de estar! Mais uma vez, uma maravilhosa oportunidade de aproveitar ao máximo a própria invisibilidade, de permitir que o contato com o OVNI libere novos níveis de identificação do ego, limitações pessoais e temores.

“Suas ambições pessoais estão dissolvidas”, escreve Campbell, “razão pela qual ele já não tenta viver, mas simplesmente relaxa diante de tudo o que venha a se passar nele; ele se torna, por assim dizer, um anônimo.”
Como a pessoa vai viver “anonimamente” no mundo, com o segredo do conhecimento extraordinário tão ao seu alcance? Ouçamos as palavras do erudito religioso Shankaracharya sobre isso:

Por vezes um tolo, por vezes um sábio, por vezes coberto de régio esplendor; por vezes vagando, por vezes imóvel como um píton, por vezes exibindo uma expressão benigna; por vezes honrado, por vezes insultado, por vezes desconhecido – assim vive o homem realizado, eternamente feliz com a bênção suprema. Assim como um ator é sempre um homem, ponha o traje do seu papel ou o retire, assim também é o perfeito conhecedor do Imperecível sempre Imperecível, e nada mais.

***
Adaptado de uma apresentação feita em julho de 1987 na Oitava Conferência de Rocky Mountain sobre Investigações de OVNIs, realizada em Laramie, Wyoming. Essa conferência anual é conhecida informalmente, nos círculos de ufólogos, como “a Conferência dos Contactados”. O promotor, o dr. Leo Sprinkle, procura oferecer um “lugar seguro” onde pessoas que passaram pelo que consideram ser uma “experiência com OVNIs” e investigadores desses eventos possam reunir-se para explorar as dimensões experienciais de um fenômeno perturbador.

A hipótese do antropólogo Jeremy Narby

Jeremy Narby, PhD, é um antropólogo franco-canadense que trabalha na Suíça para a Nouvelle Planet, uma organização “non-profit”. Narby formou-se na Universidade de Canterbury e recebeu o seu PhD em antropologia na Universidade de Stanford. Por dois anos, viveu na Amazônia Peruana estudando os índios Ashaninka e os seus métodos de emprego dos recursos da floresta. Volta e meia ele retorna às suas pesquisas na Floresta Amazônica Peruana. Jeremy Narby escreveu dois livros. No primeiro, The Cosmic Serpents and the Origins of Kownledge, o antropólogo foi obrigado a estudar biologia para dar corpo a uma hipótese revolucionária que lhe ocorreu, sobre o papel desenvolvido pelo DNA na origem da vida e da sua evolução no planeta Terra. Recebeu o auxílio de vários biólogos importantes dentre eles: Lynn Margulis e Dorion Sagan que assim se manifestaram sobre o livro de Narby: “The Cosmic Serpents oferece conexões intrigantes para o conhecimento de uma estrada muito pouco trafegada – aquela que os índios usam através do uso de alucinógenos – e de como esta estrada pode se conectar, no futuro, com a biologia molecular”. Dorion Sagan e Lynn Margulis autores de: What is life?

“Iniciei a minha investigação na Amazônia Peruana com o enigma da “comunicação das plantas”. Aceitei a idéia de que as alucinações dos shamans poderiam se tornar numa fonte de informação verificável. Terminei com a hipótese que sugere que a mente humana pode se comunicar, em consciência desfocalizada com a rede global da vida baseada no DNA. Tudo isto contradiz os princípios do conhecimento ocidental”. (pág. 131)

Jeremy Narby confessa, como muitos outros, de que foi influenciado por Carlos Castañeda quem a maioria global desconhece que nasceu no Brasil, na cidade de Juqueri, no interior de São Paulo. Carlos Aranha Castañeda, o seu nome real, de conformidade com uma das suas últimas entrevistas, feita com uma jornalista espanhola e que se tornou em um livro (edição esgotada).

A hipótese de Narby é testável, diz ele. “O teste consistiria em saber se biólogos institucionalmente respeitados poderiam encontrar informação biomolecular no mundo dos alucinógenos dos auahuasqueiros. Embora esta hipótese seja correntemente rejeitada pela biologia institucional, porque infringe as pressuposições da disciplina. A biologia tem uma cegueira de origem histórica”. (pág. 132).

Qual seria esta hipótese?

O antropólogo afirma que ela sugere que o que é chamado de essências animadas pelos shamans que com elas dizem se comunicar e de onde recebem informações preciosas e úteis, é o DNA, que anima todas as formas vivas. Infelizmente, a biologia moderna está fundamentada na noção de que a natureza não é animada por uma inteligência e que, portanto, o histórico desta questão nasceu com a tradição materialista estabelecida pelos naturalistas dos séculos 18 e 19. Esta foi a época, inclusive, onde questionar os ditames da bíblia se tornava em heresia e em pesadas sanções.

Corajosamente, Linneus, Lamarck, Darwin e Wallace afrontaram este estado de coisas concluindo que as diferentes espécies evoluíram ao longo do tempo e que não tinham sido criadas no Jardim do Éden em formas pré-fixadas há milhões de anos.Com a teoria da origem das espécies, Darwin e Wallace tiraram Deus do seu jardim e proporcionaram a grande chance aos biólogos para estudar a natureza e ignorarem um plano divino para ele.

Por um século a teoria da evolução foi contestada, vitalistas, como Bergson, rejeitaram todo este materialismo, argumentando que lhe faltava a explicação de um mecanismo capaz de desvendar o segredo de como se originaram todas as variações.No ano de 1950, com a descoberta do DNA, a teoria de Darwin se firmou no meio acadêmico. O DNA demonstrava a materialidade da hereditariedade e se encarnava no mecanismo exigido por Bérgson.

A molécula do DNA é auto-duplicante e transmite informações para as proteínas, os biólogos então concluíram que esta informação não poderia fluir de volta das proteínas para o DNA; em vista disto, a variação genética poderia advir somente de erros no processo de duplicação. Sir Francis Crick, um dos co-descobridores da estrutura do DNA batizou esta descoberta de dogma central da novel disciplina denominada – biologia molecular: “A chance é somente a verdadeira fonte da inovação”, disse ele. A filosofia materialista, desde então, cobrou novo ímpeto. A vida passou a ser um fenômeno material.

“O último objetivo do movimento moderno na biologia é explicar toda a biologia nos termos da física e da química”. Sir Francis Crick (grifo original do autor).

“Os processos que ocorrem nos seres vivos vistos ao microscópio no nível das moléculas, são de modo algum diferentes daqueles analisados pela física e química nos sistemas inertes”. François Jacob –Prêmio Nobel – biólogo molecular.


A Chance e a Necessidade

Jacques Monod – Prêmio Nobel – e também biólogo molecular expressou no seu livro cujo título abre este texto, que a chance e somente ela, seria a fonte da inovação na natureza. Os biólogos se ufanaram com a idéia de que haviam descoberto a verdade ou seu dogma como intitularam. Mas a tão famosa e decantada chance sobreveio com ares de furacão balançando todo este ufanismo com a descoberta do código genético em 1960.

O antropólogo Jeremy Narby, enfronhando-se na biologia profundamente para dar corpo à idéia que lhe assaltava a mente, assustou-se com a semelhança extrema entre o DNA e toda a sua maquinaria celular, a uma tremenda e sofisticada tecnologia de origem cósmica!…

“Mas à medida que eu estudava atentamente as milhares de páginas contidas nos textos da biologia, descobria um mundo em tudo semelhante à ciência ficção e que parecia confirmar a minha hipótese”. Narby (pág. 135).


O Mundo da Ficção Científica na Biologia Molecular

São proteínas e enzimas descritas como “robots miniatura” , ribosomas surgem como verdadeiros computadores moleculares, as células são descritas como fábricas e o próprio DNA: “texto”, “programa”, “linguagem” ou “data” (informação). Mesmo diante de todo este cenário estupefaciente e muito excitante, diz Narby – “muitos autores demonstram uma falta total de deslumbramento e parecem considerar que a vida é meramente um fenômeno fisioquímico”.

Jeremy Narby detalhou minimamente todo este mundo maravilhoso que nem mesmo sendo tão estupefaciente, consegue emocionar a maioria daqueles que nele e dele vivem cotidianamente! A mais incrível das descobertas que o antropólogo fez, foi a de que os shamans da Amazônia Peruana, com as suas metáforas descritivas daquilo que as simples palavras não conseguem exprimir a contento, a seu modo, se correlacionavam com a linguagem científica descritiva do DNA, com as suas metáforas antropocêntricas e tecnológicas. Lendo os textos da biologia e meditando sobre toda esta semelhança, Narby concluiu que: “Constantemente, eu imaginava como a natureza pode ser destituída de intenção se ela corresponde verdadeiramente às descrições que os biólogos fazem a seu respeito”. Narby (pág. 137).


A Dança dos Cromossomos

“Basta-nos, apenas, considerarmos a dança dos cromossomos para observarmos que o DNA se move num caminho deliberado. É como se dançassem uma “pavana”. Depois de explicar toda a coreografia desta pavana, Narvy pergunta: “Esta assombrosa e imponente pavana ocorreria sem alguma forma de intenção? Na biologia esta questão, simplesmente, jamais foi formulada”.

Esta questão pode ter, também, ligações com o que Narby denomina de olhar racional ou aproximação racional, que “tende a minimizar aquilo que não se compreende”. Diz o antropólogo que o melhor dos campos de treinamento para esta arte muito conveniente, é a sua profissão: a antropologia. E explica o porque. “Os primeiros antropólogos consideravam a todos aqueles que viviam na periferia do mundo dito “civilizado e racional” de primitivos e pertencentes a sociedades inferiores. Os shamans foram categorizados como doentes mentais. A aproximação ou olhar racional é o resultado da idéia de que tudo o que é inexplicável e misteriosos é, em um determinado senso, o inimigo. Isto significa que se prefere o pejorativo, e mesmo o erro, a responder demonstrando a ausência de compreensão”.(pág. 139).

A Ciência Cow-boy

A ciência “cow-boy” primeiro atira e depois… PERGUNTA. Um perfeito exemplo dela diz respeito ao que se nomeou de “junk” DNA. 97% do DNA no nosso corpo foi denominado, por pura ignorância do que poderia chamar de: “lixo” (junk). Recentemente, hipóteses sugerem que o junk pode desempenhar determinadas funções. Isto define o apelido de ciência cow-boy que não é tão objetiva o quanto faz parecer que é! Reclama Narby e conclui: “Aprendi durante a minha investigação: vemos somente aquilo no acreditamos, e para mudarmos a nossa visão, torna-se necessário, algumas vezes, mudarmos aquilo no que acreditamos”. (pág. 140).

A Hipótese

Pablo Amaringo

Para fazer compreender bem a hipótese de Jeremy Narby, tivemos que desenrolar a ponta do novelo para que se pudesse assimilar algumas das elucubrações feitas pelo antropólogo durante a sua caminhada. O novelo lhe foi entregue quando pesquisava a mitologia dos ashininka peruanos. A constância da imagem de uma serpente ou de serpentes quilométricas, enroladas e desenroladas de dupla hélice, doadoras da vida e do conhecimento total a respeito de tudo, as pinturas feitas pelos shamans novamente mostrando as duplas hélices, escadas, trepadeiras, imagens que copiavam fielmente a forma dos cromossomos em fases específicas, formas idênticas as do DNA e a sua descrição tão fiel que tudo parecia ter saído de um livro de biologia, mas saíra, na verdade, dos lábios e dos pincéis de personagens que sempre foram descritos pela antropologia como sendo doentes mentais…

Narby fez um teste: mostrou ilustrações coloridas e quadros muito detalhados feitos pelos índios peruanos e shamans daquela e de outras plagas do planeta, para um amigo seu, versado em biologia. O amigo se espantou sobremaneira: “olhe, aqui está o colágeno… e alí são as hélices triplas… e acolá o DNA afar (de longa distância) semelhante a um fio telefônico… isto se parece com cromossomos em fase específica… há uma forma do DNA espalhado e junto os cilindros (spools) de DNA na sua estrutura de nucleosomo”. Suren Erckman – 1994.

Narby estava chocado! Havia descoberto que os simples mitos dos shamans peruanos e de todo o mundo, relacionavam-se, perfeitamente, com um conhecimento real descoberto nos laboratórios!Neste ponto o Gênesis até que tinha razão, pensou Narby. E no princípio era o “VERBO”: Verbo? Linguagem? DNA?

Origem da Vida

Não pretendo atacar a fé de mingúem, mas demarcar a cegueira do olhar racional e fragmentado da biologia contemporânea e explicar porque a minha hipótese está condenada, antecipadamente, a permanecer trancada dentro desta cegueira. Resumindo: minha hipótese está baseada na idéia de que o DNA em particular e a natureza em geral possuem um tipo específico de mente. Isto contradiz o princípio básico da biologia molecular, ou seja, a ortodoxia corrente”. (pág. 145).

Bibliografia:

– The Cosmic Serpent – Jeremy Narby – ed. Penguin Pretnam Inc.

Texto extraído do site: http://www.jornalinfinito.com.br/series.asp?cod=103

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Fenômeno UFO (OVNI), por Jacques Vallée

vallee“O fenômeno UFO genuíno, é associado com uma forma de consciência inumana que manipula o “espaço-tempo” de uma forma que não compreendemos… Esta é a verdade mais simples: se existe uma forma de vida e consciência que opera as propriedades do “espaço-tempo”, nós ainda não a descobrimos e ela não deve ser, necessariamente, extraterrestre. Pode ser proveniente de qualquer lugar ou tempo, até mesmo do nosso próprio ambiente. Certamente, pode também ser proveniente de um outro sistema solar na nossa galáxia, ou de outra galáxia. Pode também, coexistir conosco e nós não a percebemos. As entidades podem ser multidimensionais além do próprio espaço-tempo. Elas podem mesmo ser uma espécie de seres fracionados. A terra pode ser o seu lugar de origem.” (grifo do autor: Revelations – J. Vallee – pág. 259 – Ed. Ballantine Book).

 

Em uma trilogia: “Dimensions, Confrontations e Revelations” (sem tradução) o cientista e ufólogo Jacques Vallee relata (e adverte) à humanidade realidades que ela desconhece e que estão contidas da pesquisa ufológica. Jacques Vallee é astrofísico e Ph.D em “computer sciences” pela Northwestern University (1967).

Vallee era associado com o Dr. J. Allen Hynek, já falecido, ilustre e famoso pesquisador científico, figura de proa na pesquisa ufológica internacional. Vallee foi o “MODELO” do cientista francês encarnado pelo ator François Truffaut no filme “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” – produzido por Steven Spielberg. Jacques Vallee é francês.

– Posterei a seguir trechos de entrevistas, onde Jacques vallé expõe suas idéias singulares sobre o fenômeno UFO.
Aos 15/04/1995, James Mosely publicou “Sauce Smear” uma carta de Jacques Vallee que dizia, entre outras coisas,: -“Minha decisão de deixar o campo ufológico é consistente com a observação de que otrabalho científico construtivo e sério, é impossível nas condições presentes. Nos últimos anos a ufologia malbaratou perto de um milhão de dólares… em trabalhos absurdos e não científicos centrados na “pesquisa” de abduções, no fiasco de Roswell… e em várias investigações do tipo Roswell e Gulf Breeze. Não posso permanecer associado a nada disto, portanto, é o tempo de me retirar silenciosamente.” – Jacques Vallee.

A explicação dada pelo seu editor é a de que Vallee, somente, deseja colocar distância entre ele e o sensacionalismo que invadiu e não quer deixar esta área. Agora, ano de 2002, ainda presenciamos os mesmos espetáculos que desgostaram Jacques Vallee. Os casos que continuam em pauta já foram explicados muitas vezes, pelos seus próprios promulgadores, os falsificadores foram desmascarados, alguns deles em público, como Bill Moore o fez com prejuízo próprio… mas ninguém abandonou a arena, tudo tinha e tem que ser da forma como acreditam e querem que seja. O marasmo tomou conta da ufologia!

“Vallee não deseja associar-se com estes chamados questionários sobre as abduções alienígenas e mutilações do gado”, diz Richard Grossing em 30/04/1997.

“Tendo sido responsável, através da sua obra, por elevar o nível da ufologia como digno de um sério estudo científico, será muito desanimador se a comunidade séria dos investigadores de UFOS ficar privada, não só de uma das poucas vozes remanescentes da razão nesta área, mas também do deão dos ufólogos.” J. R.

Atualmente – (Entrevista)

“As pessoas julgaram que eu tenha me retirado, para subir ao topo de uma montanha e filosofar. A razão pela qual abandonei a cena da ufologia, é a de que eu queria trabalhar na investigação de UFOS e estava cansado de comparecer a congressos e encontros onde só se falavam nas mesmas coisas. O que acontecia era somente, muita falação. Penso que o caminho do conhecimento nesta área, não é o de se dialogar uns com os outros e sim o de dialogar com as testemunhas. Isto é o que eu quero fazer e o farei em primeiro lugar. Eu desejo ser capaz de ir ao local, encontrar-me com as testemunhas e monitorar o que aconteceu dentro de um certo período de tempo. Portanto, a minha maior prioridade é os casos de primeira mão que não foram publicados ou comunicados aos grupos ufológicos, porque, no momento o qual eles se tornam parte de muita discussão, ficam polarizados. Quero produzir pesquisas a longo tempo. Em dez anos, acumulei cerca de 200 destes casos. Meu livro (Confrontations) é realmente um sumário dos casos mais interessantes.”

Como você contatou estes casos?

“Através de pessoas que me escreveram, presentes às minhas palestras, ou leitores dos meus livros. Recebo várias cartas, diariamente, desde que DIMENSIONS foi publicado, há um ano. Pego as mais interessantes, constantemente, são mandadas por pessoas que ocupam posições importantes, como a de um vice-presidente da IBM. A última coisa que ele deseja fazer é encaminhar-se a uma organização ufológica. Não quer a mínima das publicidades. Não deseja ver seu nome em nenhum livro, mas teve um “avistamento” que é muito válido.”

A quais conclusões a sua pesquisa o levou?

“Sinto que posso comparecer a um comitê de cientistas e convencê-los de que existe uma evidência avassaladora de que o fenômeno UFO existe e é um irreconhecido e inexplicado fenômeno para a ciência, mas o que sinto posso provar.

Minha convicção pessoal é a de que este fenômeno resulta de uma inteligência e que esta inteligência é capaz de manipular o “espaço-tempo” de um modo incompreensível para nós. Posso convencer um comitê, das minhas observações atentas de que o fenômeno é real, é físico e que não o compreendemos. Só não posso convencê-los de que as minhas especulações são corretas, talvez existam outras especulações. A conclusão essencial: minha tendência é a de que a origem do fenômeno e da inteligência não são, necessariamente, extraterrestres.

Você diz que encara uma interpretação multidimensional que não especifica a existência de humanóides de outros planetas aterrissando aqui fisicamente? Parece-nos que, algumas vezes, você fala sobre o fenômeno como sendo um tipo de sentimento religioso jorrando do espírito humano. Outras vezes, fala como se houvesse uma força potencialmente maléfica que é imposta de fora como um sistema de controle.

“Penso que é uma oportunidade de se aprender alguma coisa muito fundamental sobre o universo, porque, não existe apenas o fenômeno ou tecnologia capazes de manipular o espaço-tempo de formas que não entendemos, esta força está manipulando a ambientação psíquica da testemunha. Tentei introduzir esta idéia quando escrevi “Le College Invisible”. Nesta época, a comunidade ufológica não estava madura para isto. A New Age e a parapsicologia e suas comunidades, interpretaram as minhas conclusões crendo que eu me referia aos DEVAS do mundo dos sonhos, que não são físicos, ou de que o aspecto físico não era importante, Na verdade, penso que estamos lidando com algo que é ao mesmo tempo, tecnológico e psíquico, e parece possuir a capacidade de manipular outras dimensões.”

“O que eu disse não é pensamento irreal nem especulação pessoal, da minha parte. É a conclusão de entrevistas feitas com testemunhas muito críticas, escutando o que elas tinham a me dizer. E o que tinham a dizer não era que haviam visto uma nave espacial descendo dos céus e depois retornando a ele. Na maioria das vezes reportavam que haviam visto algo aparecer instantaneamente, tomar uma forma física, às vezes trocando a forma e desaparecer, algumas vezes mais depressa do que num piscar de olhos. Em uma ocasião, este algo desapareceu num local fechado, começando a ficar transparente e depois desvanecendo ou se concentrando apenas em um ponto. Um exemplo comum quando me relatam estes fatos é o efeito de quem desliga a TV e a imagem dá um “zoom” transformando-se num simples ponto.”

“Não tenho uma resposta plausível para a questão de porque a tecnologia parece acontecer e usar a forma de imagens que se encontram no nosso próprio inconsciente. Estaria brincando se dissesse que compreendo. Há casos de observações repetidas onde o fenômeno se inicia amorfo e depois começa a preencher as expectativas das testemunhas. Há duas maneiras de se interagir intelectualmente com isto. Uma delas é dizer que este é um fenômeno cerebral, é muito bom reconhecer imagens em coisas amorfas como nuvens e manchas de tinta. Portanto, as testemunhas talvez, estejam sendo usadas por este fenômeno e estão começando a ler coisas dentro dele. Esta não é a explicação. Pode ser que o fenômeno esteja usando as nossas reações a ele, de forma a se tornar em alguma coisa esperada ou compreendida por nós. Nós podemos estar carregando a matriz das imagens e algo as retira de nós. Um bom exemplo é o de Fátima. As aparições testemunhadas em Fátima não se iniciaram em 1917. Começaram a surgir dois anos antes. Algumas daquelas crianças envolvidas no evento de Fátima, pois havia outras crianças, de início viram um globo de luz com um tipo de ser dentro. Então, começaram a chamar o ser de Anjo, e o Anjo dialogou com elas e lhes forneceu uma prece. O caso se desenvolveu em estágios e culminou em 1917, mas até mesmo a Virgem Maria não foi vista por nenhum dos presentes ao evento.”

“Nos casos contemporâneos de UFOS, você tem também objetos que são vistos por parte da multidão, mas a outra parte não os percebe. Estava em um programa de rádio, cerca de um ano atrás, e alguém me telefonou de Sacramento e me forneceu, exatamente, este tipo de reportagem. A pessoa estava à beira de um lago com a sua família e testemunhou um objeto que se dirigia para o lago e as pessoas que estavam com ela também o viram. Haviam pessoas junto ao lago também, mas estas pessoas não viram coisa alguma. O que estaria lidando com este evento é um fenômeno interessante que possui dois aspectos: um psíquico e um físico.”

O que é interessante é que as pessoas observaram o objeto, viram o mesmo objeto ou não viram? Ou isto pode variar?

“Usualmente, há um consenso nos aspectos maiores dos parâmetros físicos do fenômeno, mas as pessoas podem discordar, por exemplo, quando há inteiração com as entidades. Pessoas podem percebê-las de formas diferentes.”

Depois que você vê alguma coisa como esta você imagina o consenso de processo interativo, Você começa a combinar os fatos entre si.

“Mas há um aspecto social e muito lógico nisto também, que pode ser muito mágico ou enganoso. Penso que é importante explica-lo para que as pessoas estejam alertas quanto a isto, especialmente, desde a publicação de Communion. Há um grande marketing detrás de Communion, que fez muito sucesso. Verdade, é um livro poderoso, mas Communion também tocou as pessoas que jamais o leram, porque o livro tem uma capa poderosa. O rosto da capa tornou-se no modelo da nossa sociedade de como os alienígenas deveriam ser. Este modelo atingiu um tal ponto que, quando uma testemunha não descreve algo de semelhante, algo que, pelo menos, lembre o rosto que está estampado na capa de Communion, ela é rejeitada como farsante. Os ufólogos não aceitam as pessoas que descrevem visões que se afastam deste modelo. Então, estes casos são postos de lado e não fazem parte das datas bases. Assim, a análise científica tende a recuperar mais e mais padrões que correspondem a estes padrões que esperamos, em primeira instancia. Há uma profecia envolvida, o que é muito mágico e enganador.”

Você encontrou nos casos que estudou desde que Communion foi impresso, de que uma grande maioria de pessoas está encontrando este tipo de ser?

“Sim, mas recentemente estive estudando outros casos nos quais os seres são radicalmente diferentes. Novamente, uso a palavra “seres” como citação, na verdade, não sei o que eles são.

Com a chegada do milênio, espero ver o fenômeno noticiado de uma forma que exceda tudo o que já vivemos até agora, pela razão de que o povo espera por mudanças e esta expectativa, por si própria, é o campo fértil para que estas mudanças ocorram.

“Penso que o modo de estudarmos os UFOS nos acarretou problemas, nós misturamos todos os níveis envolvidos no fenômeno. Misturamos o nível físico, o psicológico e o mitológico ou social. Desejo identificar, claramente, estes três níveis porque necessitamos de um tipo de mitologia diferente, para lidarmos com cada nível e com cada grupo de eventos. No nível físico tudo o que sabemos, é de que há objetos físicos, materiais, pelo menos uma parte do tempo. Deixam rastros; interagem com o ambiente, expelem fumaça e acendem luzes e, provavelmente, pulsam, microondas de maneiras muito importantes. Eles contêm uma grande potência energética. Coloquei alguns cálculos de energia no livro CONFRONTATIONS.”

“Penso que fiz um grande progresso nos últimos anos, na compreensão dos níveis psicológicos e fisiológicos. Há alguns padrões, muito claros, que variam de queimaduras a conjuntivites. Às vezes ocorre a cegueira temporária. Outras vezes as testemunhas reportam uma forma de paralisia, onde perdem o controle dos seus músculos durante o tempo o qual o objeto esteve presente. Penso que nisto há implicações médicas muito interessantes. As testemunhas, na sua maioria, se desorientam. Em CONFRONTATION, cito um caso que investiguei, onde as pessoas pensavam estarem dirigindo na direção norte quando estavam dirigindo para o sul. Esta confusão do espaço – tempo, na maioria das vezes, contribui para que os cientistas avaliem que estas pessoas não são dignas de atenção e não são confiáveis. Não sabemos muito a respeito do efeito da pulsação do microondas no cérebro humano. Um destes efeitos pode ser o de alucinações. Você pode, finalmente, encontrar testemunhas contando-lhe estórias inacreditáveis, porque submetidas a estranhos efeitos psicológicos colaterais de algo que, realmente, estava ali. Não penso que a maioria da comunidade ufológica está apta para lidar com isto, Também não penso que a comunidade científica também possa. Entretanto, há o terceiro nível, o mitológico e o sociológico. Neste nível, a realidade física do UFO verdadeiro, é totalmente irrelevante. Provar que Jesus Cristo jamais existiu, jamais ocasionará um mínimo efeito na nossa sociedade em termos de sistema de crenças; neste ponto, a influência de Jesus permanecerá, mesmo sem o Jesus histórico.”

Porque você decidiu concentrar-se no estudo de tantos casos? Temos milhares de estudos de casos. Qual a vantagem de se acrescentar a eles um milhão a mais?

“Penso que esta é uma pergunta justificável. Número um, eu não publiquei todos os estudos dos casos. Só publiquei os selecionados, os que ilustram certos pontos. O que desejo fazer é iniciar, gradualmente, desde o lado físico, enfocando os casos que envolvem rastros físicos. O que desejo fazer é voltar aos básicos, processá-los passo a passo, e descobrir o que sabemos sobre o fenômeno. Para realizar isto, concentrei-me nos casos que todo o cientista refuta. O primeiro deles, no corpo do livro, é o caso no qual existiam dois submarinos franceses ancorados na baía da Martinica. Um dos submarinos e todos os seus marinheiros e oficiais, viram um objeto que se colocou sobre a baía e executou três grandes acrobacias, desvaneceu-se e reapareceu cinco minutos depois. E repetiu a mesma coisa. Havia cerca de duzentas e cinqüenta testemunhas. Mantive muitas conversas em particular com uma delas, o homem do leme do submarino francês, o mais veloz do Mediterrâneo. Ele era alguém que possuía um golpe de vista muito bom e era, também, ótimo observador. Não somente ele viu o objeto, quanto teve o tempo necessário para ir à torre e voltar com seis pares de binóculos, que deu aos seus amigos oficiais. Todos eles observaram a coisa através dos binóculos. Havia também, um observatório metereológico no morro que se sobrepõe a baía, e todos os que estavam no observatório viram o evento. Você não pode afirmar que não aconteceu. Você não pode afirmar que era um meteoro ou um cometa ou qualquer coisa no gênero. Estou tentando usar casos, como este, para estabelecer a realidade física do fenômeno e partir dali.”

“Também selecionei casos onde fui ao local, esperando encontrar algo que seria fácil rejeitar, apenas, para encontrar um jogo de circunstâncias completo que hoje, levaram-me à conclusão de que os eventos foram realmente ufológicos. Incluí, também, os caos nos quais esperava por evidências apontando para um UFO real e encontrei, ao invés disto, uma explicação trivial. Finalmente, há caos que, francamente, não compreendo o que aconteceu.”

Parece-me que você está criando sua própria maneira de filtrar o mecanismo – selecionando estes casos para estudar, porque seguem padrões, enquanto descarta os que merecem análise irrelevante.

“Deixe-me explicar o que fiz. Os casos selecionados foram escolhidos, não porque dizem alguma coisa sobre UFOS, mas porque dizem algo específico a respeito de metodologia. A questão que estava tentando responder era: Como poderemos investigar estas coisas, fornecendo as únicas características do fenômeno? Propositalmente, selecionei casos de um tipo e de outro para ilustrar a complexidade desta espécie de pesquisa. Penso que a mensagem principal que persigo é esta, mesmo que você despenda, cinco ou dez mil dólares investigando um caso, não saberá coisa alguma a mais do que já sabia, de princípio. Creio que é muito importante que todos realizem isto.”

Você já viu algum disco voador?

“Vi coisas que não deveriam estar lá, quando rastreava satélites no observatório de Paris. Eu as percebi visualmente, como parte de uma equipe, e, realmente, foi aí que se iniciou a minha pesquisa. Obviamente, sabia a respeito de UFOS antes disto, mas sempre pensei que se eles estivessem lá e se fossem reais, os astrônomos os veriam e nos relatariam o que haviam visto. O meu primeiro emprego como astrônomo, deixou-me decepcionado. Era parte de uma equipe que rastreava satélites para o “Comitê Espacial Francês”. Nos encontrávamos rastreando objetos que não eram satélites, nem nada reconhecível. Uma noite, nós pegamos onze pontos de dados sobre um destes objetos em um tape magnético, e desejávamos rodar o tape em um computador para completarmos uma órbita para observá-lo outra vez. Não posso lhe dizer se aquilo era uma peça de tecnologia e se alguém a possuía. Podia ser uma peça muito estranha, mas pertencente à tecnologia humana. O que me intrigou foi que o homem encarregado do projeto confiscou o tape e o apagou. Isto me decidiu a começar, realizei, subitamente, que os astrônomos vêem coisas que eles não reportam.

Na realidade, a parte importante de Confrontations, está nos últimos capítulos e se relaciona com as investigações que Jeanine e eu fizemos no Brasil. Fomos ao Brasil, especificamente, para checar estórias de pessoas que haviam sido feridas pela exposição às luzes dos UFOS. Ficamos por lá, cerca de duas semanas, indo de uma cidadezinha a outra e conversando com o povo. Não atingimos nada mais do que a superfície, mas em dez dias, falamos com umas cinqüenta pessoas que foram feridas por estes raios e algumas delas haviam visto estes objetos, apenas, uma semana antes de nossa chegada”.

Eles viram a mesma classe de aparelho tecnológico?

“Muito semelhante. Havia uma variedade de objetos, mas os que emitem estes raios são clássicos, em termos de modelo. São objetos semelhantes a uma caixa retangular que não fazem barulho ou apenas um “hum”, como o barulho de um refrigerador. Eles chegam à noite e o raio é uma luz que não só queima como alfineta. Quando perguntávamos aos brasileiros sobre o fenômeno, descobríamos que eles não o vêem como uma coisa de um outro planeta, mas algo que vem de um plano espiritual. Esta é a sua colocação, mas não oferecem maiores e mais profundas explicações. Havia um rapaz, um amigo, que era cego e havia desenvolvido poderes paranormais, tentei faze-lo falar. Perguntei-lhe qual a espécie de espíritos que ele havia encontrado, mas ele era muito humilde e franco. Disse-me que ele podia invocar os deuses da sua tradição, mas aquelas coisas eram alguma outra coisa. Algo semelhante a: -“Sim, estas coisas existem, mas estão além do meu alcance.”

Na sua cultura, esta explanação poderia ser olhada como algo de mais absurdo do que atividades extraterrestres.

“É o absurdo, a mesma coisa que ouvi de pessoas da nossa cultura: o absurdo. Mas o absurdo não significa falta de sentido. O absurdo é um sinal que possui a propriedade de tirá-lo da sua maneira habitual de pensar, para introduzi-lo em uma outra forma de pensamento que você não sabe que existe. O absurdo força você a perceber a realidade de um outro nível. Os Koans do Zen Budismo, por exemplo, são absurdos, mas a sua intenção, em serem absurdos, é a de parar com o seu processo habitual de pensar. Eles fazem você ficar consciente do seu processo mental, parando este processo.”.

E qual o tipo de estado mental foi criado nestes aldeões?

“O “dia seguinte” a um encontro, as testemunhas estavam extremamente fracas e mal podiam andar. Foram levadas a um médico, se havia algum por perto. Falei com alguns destes médicos, um deles havia tratado de trinta e cinco pessoas, na boca do Amazonas.”.

O que você pensa disto? Tal concentração de atividade em uma área?

“Você encontrava a mesma coisa na União soviética, mas ninguém comentava isto”.

Existem pessoas queimadas por raios na União Soviética?

“Sim, mas não ouvi casos de verdadeiras injúrias na Rússia embora tenha escutado a respeito de raios derretendo o asfalto. Passei uma semana com uma jornalista francesa na União Soviética” (Jornal Infinito: pesquisa do Caso Voronezh).

“Penso que a penetração básica para mim, é a de entender que o fenômeno UFO não é um sistema. Se fosse um sistema poderíamos, provavelmente, entendê-lo. Somos muito bons em analisar sistemas quando estes sistemas são sociais, sistemas de “hardware” ou sistemas físicos. Penso que não chegamos ainda a lugar algum, porque necessitamos investigar o fenômeno, não como a um sistema, mas como sendo um meta-sistema. Em outras palavras, é um sistema gerador de sistemas. Para lhe oferecer uma analogia simples, suponhamos que iremos estudar uma civilização sobre a qual sabemos muito pouco. Assim, vemos, Sábado à noite, que uma multidão se dirige a um certo edifício. Perguntamos? “Porque vocês estão indo para lá?” E eles respondem: “Oh, foi sensacional, assistimos Bambi.” Anotamos a experiência muito consistente, pois basicamente, todos dizem a mesma coisa. Atravessamos a rua e fazemos pergunta idêntica a uma outra multidão, que está indo para outro edifício, e as pessoas respondem: “Fomos assistir Rambo.”
Uma informação, também consistente, mas diferente da outra. O próximo passo é nos encaminharmos aos edifícios para checarmos as coisas por nós mesmos. Tudo o que vemos é uma tela branca e uma série de cadeiras defronte da tela. A teoria óbvia é psicológica – estas pessoas gostam de se encontrar aqui e suas consciências criam mitos das suas próprias fantasias. Umas amam Bambi e as outras, Rambo. Assumimos que não há realidade física alguma. Podemos estar errados nesta assumpção, mas é uma teoria a ser desenvolvida.”

“As pessoas fazem o mesmo em relação aos UFOS. Dizem: “É mitologia, Vem do inconsciente em um certo tempo. Às vezes gosta de se assemelhar à Virgem Maria, em outras vezes se parecem com as fadas, e em certos tempos, gostam de se assemelhar a naves espaciais.”

“Bem, se você for ao cinema enquanto o filme está sendo rodado será totalmente diferente, porque agora, estará acontecendo uma experiência sensória – você vê, você reage ao que vê!”

“O que vê acelera o seu coração e causa muitos fatores fisiológicos em você. Mas isto significa que Bambi existe? É lógico que não. Há uma falha básica neste nível de análise, e creio que é uma armadilha na qual toda a ufologia, e em especial a americana, caiu nela. Há, apenas, uma leitura superficial. Penso que é o que está acontecendo com a pesquisa da abdução atualmente. Quando eles hipnotizam testemunhas e elas regridem à experiência, o que elas conseguiriam de fato, seria somente uma tela branca. Não acredito que possam atingir uma realidade”.

“Ao invés de olhar para a tela, o que desejo é dar meia volta e olhar em outra direção. Se fizer isto, verei um buraquinho no topo da parede com uma luz vinda de lá. É nisto que desejo embarcar. Desejo roubar a chave da cabine do projecionista e depois voltar lá quando todos se forem. E o que eu encontrar lá será um meta-sistema. É um sistema de rodas que pode gerar o que você quiser – Bambi, Rambo, Encontros Imediatos… Este é o meu próximo projeto: interferir com o próprio fenômeno e de brincar com o projetor. Penso que se assim nós o fizermos o forçaremos a reagir”.

Como fazer este tipo de coisa? Como você pode saber o tempo onde isto irá acontecer para que você possa interferir com ele?

“Não sei, mas talvez haja um modo de saber. Se isto é um sistema de controle, então há um ponto de “feedback” em algum local. Uma vez que você o encontre, poderá atarraxa-lo em volta dele mesmo.”.

Você possui algum tipo de conhecimento de que haja algum tipo de tecnologia avançada possuída por seres humanos neste planeta, que poderia ser responsável por tal fenômeno?

“A tecnologia existente pode assumir muitas coisas relatadas pelas pessoas. Pense na bomba Stealth, por exemplo. Estou convencido de que algumas das quedas de naves comentadas, falam dos princípios das experiências com a bomba Stealth. Duas coisas apontam nesta direção: as formas e métodos através das quais foi resgatada e os locais onde se originaram os relatos. Penso que as testemunhas estavam, de boa fé, relatando algo que foi uma experiência militar, Outra coisa, deveria ser óbvia se pensar nisto, é que as pessoas que estão no comando para preservarem a segurança do local da “queda” ficariam deliciadas se as testemunhas acreditassem que viram um disco voador. Em alguns casos, penso que a estória da do local da “queda”, foi plantada para assegurar que a testemunha poderia ser desacreditada se descrevesse alguma coisa muito estranha caindo do céu e sendo descartada pelos militares. Penso que foi exatamente o que aconteceu. Eles ficariam encantados em usarem a narrativa acerca do UFO. para encobertar a verdadeira estória. Se dez anos depois, você preencher uma “requisição de informação”, você encontrará a estória encobertada, como sendo uma estória contrária ao relato real do fato. Como resultado, você pode passar anos tentando compreender este fato, porque ele jamais irá levá-lo ao que seria a tecnologia real. Agora que conhecemos um pouquinho mais sobre estas experiências, penso que podemos colocar dois mais dois juntos. Em decorrência, isto não explica o que sucedeu em 1947, ou 1964, porque mesta época nós não tínhamos nada parecido com o Stealth.”

Você já chegou ou tem quaisquer provas, na sua mente, de que o governo tem a guarda de alienígenas? Muita coisa está vindo à tona agora, na mídia. É muito interessante.

“Sim, é muito interessante em um nível sociológico, porque, quando você começa a observar uma aceitação crescente desta hipótese, compreende que as pessoas podem estar, talvez, mais interessadas em satisfazer a lógica do que à verdade. A reação típica é esta: “esta classe de informação somente poderia ser dada por alguém, do lado de dentro, e que tem acesso a ela. Portanto, a estória é real e verdadeira.”Tudo o que isto realmente significa é que alguém, do lado de dentro, possui alguma razão para liberar a estória. Mas isto não significa que ela seja verdadeira”.

Porque alguém gostaria de plantar este tipo de estórias?

“Bem, podem existir várias razões. Escrevi uma novela, “Arlental”, de muito sucesso. Na novela existe uma agência chamada “A Agência da Inteligência Alienígena”. Uma das coisas que esta agência faz é usar a crença, ou expectativa sobre os UFOS na população, como suporte para a sua própria propaganda. É uma explicação.”

Qual é a proposta a que serve este tipo de propaganda?

“Há várias propostas. Uma delas é o exercício psicológico da arte da guerra. Em Arlental, as pessoas encaravam a história cinicamente. A Primeira Guerra Mundial foi uma guerra de camponeses – a massa contra ela mesma. A Segunda Guerra foi diferente. Foi uma guerra dos poderes econômicos e industriais onde o que determinou a vitória tinha muito pouco a ver com números. Tinha a ver com a maior capacidade de produção de mais tanques, aeroplanos e armas, por dia, do que a do seu antagonista. Os mesmos cínicos decidem que a Terceira Guerra Mundial será uma guerra de sistemas de informação, que tem a ver com o controle dos sistemas de crenças das massas por pequenos grupos de pessoas, que vivem em ambientes secretos, com meios muito sofisticados de comunicação: computadores, satélites e coisas assim. A sua assunção, na novela, é a de que a chave de controle do mundo, hoje, é o controle dos sistemas de crença nas massas. Não são as armas nucleares na verdade, sabemos que não poderemos usá-las. De fato, é isto que está acontecendo no mundo atual. Vejam qual é a influência maior atualmente. O capitalismo é a predominância no desenvolvimento da Polônia. A força das crenças islâmicas estão influenciando, predominantemente, as polícias russas. O controle de crenças é um ponto de culminante importância. Dentro deste contexto os UFOS são muito importantes, porque, se você pode fazer o povo acreditar em que os extraterrestres estão chegando, então poderia usar a força deste medo para realizar o que quiser.”

– Parte de uma entrevista de Jacques Vallee feita com J. R. nos inícios da década de 1990: aos 14/11/1990.
Chamando a si mesmo de “o herético entre os heréticos” Vallee, mais recentemente, foi entrevistado por Jonathan Vankin e permanece alimentando as mesmas idéias.

Entrevista à “GCAT

GCAT: Por que os americanos são obssediados com a idéia que os pilotos dos OVNIs são alienigenas do espaço exterior?

Vallee: Eu penso que os americanos , se eles estão interessados no assunto, são muito literais. Eles querem chutar os pneus , que é o que um bom americano quer fazer. Eles querem fazer engenharia reversa no sistema de propulsão. E quando eu digo , “Olhe , talvez estas coisas não tenham um sistema de propulsão” , voce obtem uma estranha reação . Exatamente , se voce lembrar , em Encontros do 3 Grau , o personagem de Truffatt ficava dizendo que aquilo era um fenomeno sociológico , não exatamente fisico . E ele consegue um monte de problemas com isto.

60GCAT: Neste ponto voce subscreveu à teoria que os Ovnis podem ser extraterrestres na sua origem. . .

Vallee: Quando conheci Spielberg , eu argumentei que o objetivo seria mais interessante se ele não fosse extraterrestre. Se fosse real , físico , mas não extraterrestre. Então ele disse , “Voce provavelmente esta correto , mas não é o que o publico esta esperando — isto é Hollywood e eu quero dar as pessoas algo próximo aquilo que elas esperam.” O que é razoavel.

60GCAT: Então o que temos de certo sobre o fenomeno dos Ovnis?

Vallee: Existe um fenomeno . Não sabemos de onde ele vem. Ele é caracterizado pelos seus traços físicos. Oitenta por cento dos casos tem explicações triviais. Mas eu estou falando sobre o amago do problema. Ele parece envolver uma quantidade imensa de energia em um pequeno espaço físico, ele parece envolver microondas pulsantes, entre outras coisas. Não existe muito conhecimento sobre o efeito das microondas no cérebro , então é muito possivel que algumas das histórias que voce consegue das pessoas são essencialmente alucinações induzidas em testemunhas sinceras — as testemunhas não estão mentindo. Elas realmente estiveram expostas à alguma coisa genuina mas não existe meio de voltar ao que era esta coisa , baseado em suas descrições, por que o seu cérebro foi afetado pela proximidade desta energia. Tendo dito isto , eu tive um monte de colegas na ciencia e na tecnologia que eu respeito que dizem-me que isto pode ser um fenomeno natural — isto pode ser uma desconhecida forma de energia na atmosfera. Nós não sabemos muito sobre o efeito de campos eletromagnéticos no sistema nervoso. Nós estamos descobrindo aos poucos. Na medida que pesquisamos o assunto. Então é bem possivel que seja um fenomeno como este, uma coisa bem expontanea. Ou então ele pode ser artificial. Se é artificial , o fenomeno pode vir de uma outra forma de consciencia , que pode ou não ser extraterrestre. Existe um universo enorme por aí afora. Como podemos dizer de onde a coisa vem? Nós podemos apenas especular a respeito.

60GCAT: Como podemos usar a nossa tecnologia atrasada para investigar o assunto?

Vallee: Onde eu penso que esta tecnologia pode ser util , é em pesquisar caminhos. E eu fiz tudo o que alguem pode fazer . Eu construi , com minha esposa , o primeiro banco de dados de computador de avistamento de OVNIs. Mas onde eu penso que computadores podem ser de grande ajuda é na aplicação da inteligencia artificial, razão e dedução dos relatos que tem causas naturais. Eu desenvolvi um protótipo de software disto , que é chamado OVNIBASE , que eu converti para o frances CNES , presumivelmente eles estão desenvolvendo uma nova versão dele, e rodando em seus próprios banco de dados.

60GCAT: E sobre as outras tecnologias que podem nos ajudar a analisar evidencias melhor do que fariamos , por exemplo, há 10 anos atrás?

Vallee: Digitalização de fotografias é muito util. Em meu livro Confrontos , eu menciono a fotografia que eu trouxe da Costa Rica , que era incomum porque o objeto estava sobre o lago ( Lago de Cote ) , então havia um fundo negro bem uniforme . Tudo é conhecido sobre o avião que tirou a foto . No instante que a foto foi tirada ( em 1971 ), ninguém no avião tinha visto o objeto. Foi apenas quando o filme foi revelado que o objeto foi descoberto. A câmera usada estava excepcional : Ela produziu um negativo — 10 polegadas , muito detalhado. Voce pode ver vacas pastando no campo . O tempo é conhecido ; a latitude , longitude e altitude do avião são conhecidos . Então nós passamos um longo tempo analisando a fotografia , sem encontrar uma obvia resposta natural para o objeto. Ele parece ser muito grande e de forma sólida. Eu obtive o negativo do governo da Costa Rica — se você não tem o negativo , a analise é uma perda de tempo. Eu também obtive o negativo da foto tirada antes e depois daquela , todas sem cortes. Eu levei os negativos a um amigo meu na França que trabalha para uma firma que analisa digitalmente fotografias de satélites. Ele digitalizou a coisa toda, e depois analisou-a da forma o mais completa possível, e não conseguiu encontrar uma explicação para o objeto.

60GCAT: É duro para os americanos conviverem com a idéia de que os OVNIs podem ser a manifestação de uma outra dimensão. . .

Vallee: Você tem que manter a sua mente sempre aberta. O que eu tento fazer é o que um policial investigador faz: eu tento ouvir a testemunha ao invés de projetar minhas próprias teorias. Teorias existem às dúzias. Elas não trazem nada de útil. São quase sempre inúteis, eu penso, simplesmente ouça o que as pessoas estão lhe dizendo, e eu tenho tentado isto não só aqui nos EUA, mas também na Europa e outros lugares que eu visitei, como o Brasil e a Argentina, e tento encontrar novos caminhos.

60GCAT: Você tem sido uma figura controvertida entre os pesquisadores de OVNIs, principalmente por que você mantém teorias mais exóticas do que aquelas que o paradigma dos UFOs provenientes do espaço exterior.

Vallee: Eu tenho criado atrito com um numero elevado de crentes em UFOs. Numero um, porque eu não estou pronto para pular para qualquer conclusão que seja necessariamente extraterrestre — nós não somos suficientemente espertos para saber o que eles são neste ponto. E a pesquisa não o fez. Eu certamente relembro o suficiente do meu treinamento como astrônomo para lhe dizer que o universo é grande o bastante para ter outras formas de vida que não as nossas; no mínimo esperamos que assim o seja. Mas até o momento não o podemos provar. Logo nós não podemos ver como eles podem vir aqui — provavelmente eles são muito mais avançados com respeito à Física, e devem ter conseguido um meio de o faze-lo. Mas isto não explica os OVNIs. Eu também antagonizei uma porção de pessoas porque eu penso que o modo como são manuseadas as abduções são incorretas. Não apenas erradas cientificamente, mas erradas moralmente e eticamente. Eu tenho falado as pessoas, não deixe ninguém hipnotiza-lo se você ver uma estranha luz no céu. Eu penso que um monte destas pessoas proeminentes na mídia e no National Enquirer e nos “talk show” e por aí afora estão criando abduzidos sob hipnose. Eles estão hipnotizando todo mundo que tenha tido alguma estranha experiência e dizendo-lhes que eles foram abduzidos por mera sugestão. E eles estão fazendo isto com boas intenções. Eles não tem noção exata do que estão fazendo. Mas no meu modo de pensar, isto é anti-ético.

60GCAT: O que você pensa de John Mack, um psicólogo de Harvard que acredita que as abduções alienígenas são um fenômeno real? É claro, ele usa hipnose em seus pacientes para liberar “memórias reprimidas” destas abduções.

Vallee: Eu o respeito por sua coragem em tratar deste assunto, mas não concordo com os seus métodos.
Eu tive algumas testemunhas que queriam ser hipnotizadas, levei-as em apenas dois casos de 70 no total de casos de abdução que eu estudei. E usualmente os especialistas dizem-me que a hipnose não é necessariamente o melhor meio de auxiliar estas pessoas. Não é nem mesmo o melhor método de recuperar memórias. Pode ser útil em casos específicos. Mas eu nunca hipnotizei ninguém, eu não sou qualificado para fazê-lo.

60GCAT: Como você ficou inicialmente interessado em fenômenos paranormais e OVNIs?

Vallee: Eu comecei querendo fazer astronomia e arruinei uma perfeita carreira na ciência por ficar interessado em computadores. Isto foi na França nos tempos iniciais dos cursos de computação nas universidades francesas. Meu trabalho inicial foi no observatório de Paris, monitorando satélites. E começamos seguindo objetos que não eram satélites, e então decidimos prestar atenção a estes objetos mesmo que eles não estivessem no escopo dos satélites normais. E uma noite obtivemos onze pontos de dados de um destes objetos — ele era muito brilhante. E era retrogrado. Era o tempo em que não era possível um foguete poderoso o suficiente para lançar satélites retrógrados. , um satélite que vai em sentido contrário à rotação terrestre, onde você obviamente necessita compensar a gravidade terrestre dirigindo-se na outra direção. Você tem que alcançar a velocidade de escape na direção oposta à rotação da Terra, o que necessita um monte a mais de energia do que na direção direta da rotação terrestre. E o homem a cargo do projeto confiscou o tape e o apagou na manhã seguinte. Então foi isto que me deixou interessado. Porque acima deles eu pensei, cientistas não parecem interessados em OVNIs, astrônomos não reportam nada não usual nos céus, logo não é nada que tenha a haver com eles. Efetivamente, eu estava na mesma posição que muitos cientistas estão hoje em dia — você confia em seus colegas, e porque você não vê nenhum relatório de testemunhas técnicas creditáveis, você assume que aquilo não é nada. E lá estava eu com um relatório técnico — eu não sabia o que era ou foi aquilo. Não era um disco-voador — ele não pousou próximo ao observatório. Mas permanece sendo um mistério. E invés de olhar para os dados e preserva-los, nós os destruímos.

60GCAT: Por que ele o destruiu?

Vallee: Justamente por medo do ridículo. Ele pensou que os americanos iriam rir de nós, se nós o enviássemos — todos os dados de satélites estavam concentrados nos EUA. E nós estávamos trocando informações (dados) com instituições internacionais. E ele não queria que o observatório de Paris parecesse tolo por reportar algo que não conseguia identificar nos céus. Isto era 1961. Depois eu descobri que outros observatórios fizeram exatamente a mesma observação, e de fato os americanos monitorando estações tinham fotografado a mesma coisa e não conseguiram identifica-lo também. Era um objeto de primeira magnitude: ele era tão brilhante quanto (a estrela) Sirius.
Você não conseguiria perde-lo. Ele não reapareceu nas semanas seguinte. Aquilo era uma pequena anedota, mas para mim o fato de o destruirmos foi mais importante que o que nós vimos. . E reabriu a questão fundamental para mim: O que os cientistas estão observando e não estão falando a respeito? E então eu comecei a extender uma pequena rede de cientistas, que permanece ainda ativa, e descobrir que havia uma porção de dados que nunca foram publicados. De fato, os melhores dados nunca foram publicados. Eu penso que uma boa parte de mal entendidos a respeito dos OVNIs entre os cientistas é devido ao fato que eles nunca têm acesso aos melhores dados.

60GCAT: Por que os melhores dados nunca foram publicados?

Vallee: Eu falo com um monte de companhias técnicas onde os executivos são conscientes dos meus interesses, e eu tenho um monte de relatórios com o selo de confidencialidade de pessoas nas ciências e nos negócios que tem visto coisas. Há cerca de um ano atrás, um vice-presidente da IBM me puxou de lado após uma conferencia e disse, “Você é o mesmo Jacques Vallée que é interessado em UFOs?” e ele descreveu um perfeito clássico encontro com um OVNI que ele e a sua família tiveram no estado de Nova York. Não era nada que estaria no National Enquirer.

Eu conheci um homem que é presidente de uma companhia técnica no Silicon Valley , ele queria contar-me sobre as suas experiências. Ele tinha sido um elevado oficial da marinha no comando de um grande navio, e ele teve três experiências com UFOs, duas delas em serviço numa muito sensível posição — e uma vez quando ele era um piloto de testes. Ele nunca reportou nenhum dos encontros, mesmo quando ele era piloto. Eu disse, “Você não era obrigado a reportar tal incidente?” E ele disse, “Talvez eu fosse, mas se eles tivessem a mínima dúvida sobre o que você está vendo lá em cima, você será considerado louco — e eles não o deixarão se aproximar de um cockpit de um avião experimental nunca mais”. E ele continuou, “Se você é um piloto, você quer é voar. Você não que ficar os próximos meses preenchendo formulários para um bando de psiquiatras”. O que realmente iria acontecer. Eu penso que qualquer piloto lhe dirá a mesma coisa, você sabe, sobre uma cerveja. Então estes são os casos que eu estou interessado. Os casos que não foram reportados na imprensa, que não foram distorcidos no re-depoimento. Quando eu tenho tempo, eu sigo um destes casos com meus próprios recursos basicamente por curiosidade, sem idéias preconcebidas.

60GCAT: Mas os céticos argumentam que mesmos estes podem ser casos anedóticos, visto que não existem dados científicos. . .

Vallee: Existem uma quantidade enorme de dados — e isto pode ser analisado futuramente. Mas eu não penso que isto irá gerar um propulsor para um disco voador. Eu penso que serão coisas que serão interessantes se você encontrar o caminho para o material. Eu sou cético sobre histórias sobre discos espatifados. Eu mantenho uma mente aberta sobre isto mas eu ouvi tantas histórias por tanto tempo e nada realmente tangível . Também sou cético por outra razão: Nós construímos tecnologia agora que é realmente útil onde é necessária. Com que freqüência o seu Winchester (disco rígido) se quebra? Eu digo, se você mantiver seu computador por 15 anos, eventualmente o disco rígido irá se quebrar. Mas você não espera que ele se quebre. Se você vai construir uma tecnologia que permite cruzar o espaço inter-estelar , ela será bastante confiável.

60GCAT: Em seus livros, você detalha a melhora de dados nos casos europeus.

Vallee: Existe uma unidade do CNES , que é o equivalente francês da NASA, que tem permissão para investigar qualquer caso de UFO. Eles começaram na metade dos anos 70 e eles tem caminhado desde então. Eles encontraram uma infinidade de casos que não pode ser explicado, e alguns casos nunca foram publicados com todos os dados. Casos onde existem traços no chão, onde existe evidencia de calor, evidencia de radiação, incluindo radiação por microondas pulsantes, e evidencias de plantas (vegetais) sendo afetadas. Novamente, isto não prova nada. Apenas prova que alguma coisa esteve lá. Não diz o que era. Mas é certamente uma evidencia técnica valida. Este dado não lhe diz se o fenômeno é natural ou não, porque ele não diz o suficiente sobre as condições onde tal aconteceu. E isto é onde eu penso que uma quantidade maior de pesquisas deve ser feita. Pessoas vem a mim dizendo, “Olhe, eu era um piloto ou uma estação de radar, e nós monitoramos UFOs — nós gravamos os dados, e eu era o piloto e segui uma destas coisas e tirei fotos com a câmara de bordo. Quando eu posei havia um sujeito esperando por mim, em blue jeans e um suéter, que disse” Você não viu nada lá em cima”. Ao mesmo tempo, um outro cara com uma chave de fenda esta soltando a câmera da fuselagem. Usualmente as testemunhas não tem a mínima idéia de onde estes sujeitos aparecem. Mas alguém tem um monte de dados, e eu penso que estes dados brutos podem ser transformados em ciência, certamente o miolo de 20 anos atrás — Eu digo, o quanto confidencial pode ele ser? Hoje, podemos conhecer se ele é um inimigo, então devemos enviá-los para a comunidade cientifica. Deixe os céticos analisarem do seu ponto de vista e deixe qualquer um analisar do seu ponto de vista. Este é o modo que a ciência deve funcionar.

60GCAT: Vamos falar sobre as outras formas de evidencia bruta que os cientistas podem olhar quando estudam o problema dos OVNIs. De inicio, pedaços de metal derretido, o chamado “liquid sky”

Vallee: Por sí próprios, estes pedaços não representam evidencia. Mas a existência deste material mostra que existem informações que os cientistas podem pesquisar. Quando nós recebemos de Bogotá na Colômbia, amostra (supostamente remanescente de um liquido ejetado de um disco voador sobre a Universidade de Bogotá nos meados dos anos 70) nós salvamos um pequeno pedaço para analise. Demonstrou-se ser a maior parte alumínio. Novamente, isto não prova nada: você pode fazer uma porção deste material em seu jardim simplesmente pondo metal liquido em uma piscina de água. Metalurgicamente, a amostra de Bogotá não é incomum — exceto que ela sofreu um aquecimento violento, não até o ponto de ebulição mas além dele. Meu ponto tem sido sempre que é interessante ver que caminhos surgem das analises destas amostras. Se você ficar picando amostras como estas , elas podem direcionar a sua pesquisa em um determinado rumo.

60GCAT: Uma teoria diz que este metal liquido é parte do sistema de propulsão dos OVNIs.

Vallee: Existem motores (terrestres) que usam metal liquido — usualmente mercúrio — para contato (elétrico) em liquido. Mas a temperatura necessária para liquefazer o alumínio e outros metais costumam ser muito elevadas.

60GCAT: E sobre as amostras de “liquid sky” que são de feitura levemente mais exótica que a escória de alumínio?

Vallee: A única que parece incomum é a que o Prof. Peter Sturrock (um físico de plasma da Universidade de Stanford) tem. Ela veio de Ubatuba no Brasil. No inicio do ano de 1930, um objeto explodiu sobre uma praia em Ubatuba. (Em 1957, um alegado fragmento desta explosão apareceu, sua origem é desconhecida). Uma analise para a Universidade do Colorado e Stanford confirmou que o material era oxido de magnésio, com uma quantidade mínima de impurezas. Se o metal realmente era originário de 1930, então é algo bem incomum devido ao fato que a tecnologia da época não permitiria este grau de pureza com extrema facilidade.

60GCAT: Vamos falar sobre a implicação de suas pesquisas. Se o fenômeno OVNI é real, mas não são alienígenas do espaço exterior, estamos falando sobre novos modos de pensar sobre a realidade e a cosmologia, não estamos?

Vallee: Sim. Neste sentido, o fenômeno é muito mais importante do que os visitantes de outro planeta seriam. Porque isto altera fundamentalmente a natureza da realidade. Se os UFOs são uma realidade física, eles certamente violam tudo que pensamos conhecer sobre a realidade. Existem relatos de OVNIs materiais que se tornam imateriais e desaparecem num “flash”.

60GCAT: Suas teorias sobre UFOs e outros fenômenos “paranormais” envolve sua metáfora do “universo informal”, onde o tempo e o espaço e talvez outras dimensões podem agir como um banco de dados de um computador cósmico. O que você pretende dizer com isto?

Vallee: Você pode conseguir uma consistente representação da realidade se você olhar para o mundo como uma coleção de eventos, ou “exemplos” (como a filosofia de Ocasionalismo o fez no século onze), muito mais do que uma coleção de objetos materiais movendo-se em um espaço tridimensional na medida que o tempo flui. Na realidade virtual, é claro, você não pode dizer a diferença. No mundo real a informação e a energia são atualmente a mesma quantidade física. Em um universo visto como de “eventos informais” você deve esperar coincidências, telepatia, realidades múltiplas e todas estas coisas que pareceriam impossíveis no universo energético de 4-D. Para mim esta é a razão porque os OVNIs são interessantes. Eu não tenho uma teoria pessoal para “explicar-los”, mas eu os vejo como uma oportunidade de postar novas questões. Se é verdadeiro que a informação reside nas questões que nós fazemos, caminhar com problemas incomuns pode ser mais importante que obter as respostas, neste estágio de nosso limitado conhecimento do universo.

60GCAT: Então a realidade é como um banco de dados de computador na qual uma palavra de busca correta (ou “encantamento”) pode ocasionar que pedaços de informação — um OVNI , um fantasma ou outra anomalia — se materializem .

Vallee: Se você pensar (a realidade) como o software para o universo, tudo que alguém precisa fazer é alterar uma vírgula no programa e a cadeira que você está sentado não será mais uma cadeira de forma alguma. O maior beneficio deste modelo é que ele manuseia anomalias muito bem. Coincidências serão de uma expectativa normal. Se você endereçar um banco de dados com uma questão sobre a palavra “piscina” você obterá complementos como óculos de sol, loções de bronzeamento, bolas e um ou dois prospectos de investimento. Em parapsicologia sujeitos premiados podem estar forçando coincidências similares entre locais ou mentes separadas. Um modo de testar a teoria é criar anomalias massiças de informação e ver o que acontece quando elas entram em colapso.

60GCAT: Claro que, agora você está falando sobre a intersecção de ciência e misticismo. Você se considera uma pessoa mística?

Vallee: Eu nunca fico confortável com uma arbitrária separação do mundo entre universo físico (que é presumivelmente aquele que a ciência estuda) e o psicológico, social e psíquico lado da vida. Para mim esta separação arbitrária é a maior fraqueza do nosso sistema intelectual. A maior parte dos cientistas estudam astronomia desde uma idade prematura, como eu fiz, provavelmente motivados por algo semelhante ao desejo místico de entender o céu noturno e abraçar o seu maior significado. Como o tempo passa, é claro, este desejo se corrompe e se torna trivial. No meu caso eu o manejei de forma a manter esta curiosidade sempre nova sobretudo porque eu não tive uma “experiência mística” no sentido religioso, eu sempre suspeitei que deve haver um outro nível de consciência e que isto sempre foi acessível para a mente humana. Eu tenho encontrado sentimentos similares entre muitos programadores da Net, que foram projetados ao trabalho de rede pela impressão de operarem, apesar dos normais limites de tempo e espaço, algo próximo aquilo que os místicos descrevem, se bem que de um modo muito mais mundano.

60GCAT: Você disse que os OVNIs representam uma forma de inteligência alienígena que esta manipulando continuamente a sociedade humana. Como e com que finalidade?

Vallee: Uma nova analise computacional de tendências históricas, compilado nos anos 70, fez-me plotar um gráfico impressionante de ondas de atividade de UFOs que podiam ser qualquer coisa mas periódicas. Fred Beckman e o Dr. Price Williams da UCLA apontaram que isto remontava uma programação de reforcamento típico de uma aprendizagem ou processo de treinamento: o fenômeno era mais um sistema de controle que mais que um evento exploratório de alienígenas viajantes.
Existem muitos sistemas de controle ao redor de nos, e alguns são parte da natureza: ecologia, clima, etc.. Alguns são feitos pelos homens: o processo de educação, o termostato na sua casa. Se o fenômeno dos UFOs representa um sistema de controle, podemos testá-lo para determinar se ele e natural ou artificial, aberto ou fechado? Esta e uma das mais interessantes questões sobre o fenômeno que nunca foram respondidas.

60GCAT: Falando de sistema de controle, alguns dos outros caminhos nas pesquisas de OVNIs tem permitido sugerir que de tempos em tempos agencias governamentais, cultos e outros grupos interessados em manipular crenças pessoais tem projetado fraudes e decepções de OVNIs. Agora estamos realmente sendo conspiracionais. . .

Vallee: Eu penso que o lugar onde a ufologia — no modo que esta desenvolvida hoje — bate com os meus interesses na comunicação, e os meus interesses nos grupos de trabalho é na manipulação e na decepção. Eu penso que e uma área na qual as pessoas deveriam ser cautelosas. Porque eu penso que um monte de coisas que estão sendo discutidas hoje em dia, entre pessoas que acreditam em UFOs, tanto podem ser místicas como parte de alguma forma de manipulação de alguma espécie, que incluem historias de pequenos alienígenas, híbridos e abduções e por ai em diante. Um monte que pode ter sido tanto como material que os cultos injetaram na cultura porque isto se ajusta com suas próprias fantasias sobre um final do mundo ou do milênio e com todo o resto. Ou, em um sentido mais sinistro, em alguns casos que eu investiguei, a decepção esconde um experimento de controle de mente. Qualquer um que e’ consciente de tecnologia hoje em dia deve saber que há mais do que um caça stealth voando por ai. Nos temos capacidades, teóricas ou praticas, para fazer qualquer tipo de coisa. Existe um desenvolvimento maciço de plataformas naoletais do que aquelas que devem ser testadas em algum lugar, eles tem que ser disfarçadas como algo mais de tempos em tempos. Tem sido desenvolvido maciçamente os RPVs — remotely piloted vehicles — alguns dos quais são em forma de disco. Existe um maciço desenvolvimento de tecnologias de baixa observação que são usadas em reconhecimento e podem ser usadas para qualquer tipo de coisa. E em muitos casos, os UFOs não são simplesmente fantasias nas mentes de algumas poucas testemunhas , mas foram plantadas como parte de uma cobertura para uma mui terrestre tecnologia que esta sendo desenvolvida.

60GCAT: O culto UMMO, que você discutiu extensamente em seus livros, Revelações e Mensageiros da Decepção, tem um impressionante história de uma elaborada decepção. Fale-nos a respeito.

Vallee: Eu penso que o mito UMMO começou com um grupo pequeno de pessoas, essencialmente cultistas. O que era intrigante sobre UMMO eram todas suas revelações pseudo-cientificas (supostamente mandados aos cientistas terrestres como Vallée por parte dos UMMOitas, seres que vieram de um planeta 14,6 anos luz distante do nosso Sol). Mas estes supostas revelações não estavam dentro do estado da arte. Eles não vieram com provas do teorema de Fermat ou algo parecido, era uma perfeita ficção cientifica.

60GCAT: E sobre a teoria francesa que UMMO era um experimento psicológico?

Vallee: Sim, eles pensavam que o culto foi utilizado ou manipulado pela KGB . Por causa de uma coisa, alguma de suas idéias — alguns dos dados que foram supostamente canalizados da organização UMMO nos céus era de uma cosmologia muito avançada. Uma muito avançada cosmologia sobre dois universos envolvendo alguns dados que não eram estúpidos — eles pareciam vir direto das anotações de André Sakarav , incluindo algumas notas não publicadas de Sakarav , algumas coisas que ele tinha trabalhado mas não publicado . E então algumas pessoas — e eu não sei quem estava certo — sentiram que alguém que tiveram acesso a estas notas, para inspirar estas mensagens, talvez a KGB. Isto não era exatamente ficção cientifica, era alguém que sabia o que os mais avançados cosmologistas estavam pensando.

60GCAT: Porque a KGB ou qualquer agencia iria perpetrar um engodo como este?

Vallee: Bem, deixe-me contar uma pequena historia. Cerca de quinze anos atrás havia um grupo que apareceu subitamente em São Francisco. Eles fizeram uma festa. E convidaram todos que eram alguma coisa em parapsicologia. E eles fizeram uma pequena fala dizendo,

“Nós temos todo este dinheiro de alguém que quer fazer o bem e ajudar nas pesquisas, sabemos que não existe muito dinheiro em parapsicologia, nós vamos atender propósitos de pesquisa, de-nos suas melhores idéias, nós enviaremos para um painel que ira revisa-las e fundear (financiar) as melhores pesquisas.”

Após a festa, um monte de pessoas correram para suas casas para seus computadores e digitaram suas melhores idéias, enviando-as — mas a organização nunca existira, nunca se ouviu falar dela depois disto. Alguém estava pescando alguma coisa.

Então tendo uma cobertura como um grupo algumas vezes, um grupo completamente estranho, pode ser um modo conveniente de obter inteligência técnica. Ë um bom meio de estabelecer uma base tecnológica. Então alguns destes estranhos grupos podem ser utilizados para isto. Agora, isto não explica porque eles fazem isto por dez anos seguidos. Neste caso de UMMO, porque eles vão em frente? Eu penso que UMMO se tornou um alinhamento de interesses por sí próprio. Ele se tornou um fim em sí mesmo porque muitas pessoas se projetaram psicologicamente nele. Eles começaram escrevendo coisas sobre cada um deles e isto se tornou um mito auto-sustentado. Eles continuam me mandando material. Existe um índice, catálogos; para algumas pessoas ele se tornou a própria vida. de forma crescente, estamos vendo estes estas espécies de cultos aparecendo na internet, no ciberespaço.

60GCAT: Existe algo nas comunicações on-line que ajudam a promover mitos e decepções?

Vallee: Porque vivemos em um mundo onde com os meios de comunicação são baseados em redes digitais, um grupo pequeno de pessoas pode ter um tremendo impacto na crença das massas. E nós ainda vivemos em um mundo onde a crença das massas é uma arma estratégica. Nós temos bombas H mas não podemos utilizá-la . Nós temos bombas de nêutrons, mas não podemos usá-las. Mas se acharmos um meio de influenciar crenças de massas de pessoas, isto seria de grande impacto estratégico. O grande problema no mundo são os problemas do fundamentalismo e da religião — seja islâmico ou outras formas de religião.

Estes são a grande força de desestabilização no mundo de hoje. Bem, crenças em Extraterrestres que venham aqui para salvar-nos podem induzir grande massas de pessoas com os significados técnicos que existem hoje em dia.

O potencial de contágio de crenças absurdas é real. Nas mãos de pessoas que podem deliberadamente usar a Internet para criar uma epidemia de irracionalismo nós podemos ver a emergência de uma nova classe de extremamente perigosos e poderosos cultos com toda a espécie de trapaças de alta tecnologia.

E eu penso que alguém tem que prestar atenção a este angulo. Então eu fui levado a isto encontrando — eu estava investigando alguns casos que eram fisicamente reais, mas eram engodos — mas não um engodo por parte da testemunha. E a história sobre o objeto foi de fato plantada.

O caso Bentwaters (no qual um americano a serviço da Força Aérea americana com base na Inglaterra observou um artefato em forma de disco pousar na floresta) é um clássico. Para o local de aterrizagem, eles tiveram um misto de guardas comuns, oficiais, sentinelas e então tiveram ordens de ir ao local dentro de um cenário (explicação). E isto não é o que aconteceria se o encontro fosse real — se um estranho objeto aterra na base você não manda centenas de pessoas sem armas. A coisa toda tinha todo o destino de ser planejada para os benefícios das testemunhas, então elas poderiam ser estudadas e, da mesma forma, as reações de diferentes tipos psicológicos e de diferentes níveis hierárquicos. E quando você pensa a respeito, não se torna tão estranho. Se você está a cargo de um projeto como este, você terá que testa-lo em condições onde ninguém está em perigo e você pode conseguir a maior quantidade de dados que precisar. Em casos como este — não muitos mas poucos deles — que eu investiguei , tive que concluir que foram testes de projetores de realidade virtual

60GCAT: Então deve haver aplicações militares para esta tecnologia da decepção?

Vallee: Nossos deuses sempre vem dos céus. E como um deus viria do céu hoje? Ele desceria em alguma espécie de nave espacial. Ele não apareceria simplesmente saindo das nuvens, eu quero dizer, que isto não funcionaria. Se bem que na Primeira Grande Guerra os alemães estavam usando guerra psicológica pela projeção de fotografias, slides, ao longo das linhas de defesa francesas. E eu estou certo que os franceses estavam fazendo a mesma coisa com os alemães. E deve haver alguns sofisticados dispositivos, agora, sendo utilizados em combate psicológico para criar visões, hologramas, para influenciar pessoas. Eles podem não funcionar com você ou comigo se sairmos para fora e virmos alguma coisa nos céus, eles podem não desestabilizar-nos. Mas se estivermos sob um monte de stress — se você estiver lutando por um mês em uma pequena ilha, e subitamente algo como isto acontece —

Eu me lembro de uma carta para a Força Aérea dos EUA de um homem que finalmente reportava algo que ele havia visto durante a Segunda Grande Guerra no Pacifico. Ele disse que estava no topo de uma pequena ilha num ponto de observação. Eles estavam esperando um ataque japonês. Eles tinham lutado intensamente por diversas semanas. Eles estavam justamente isolados. Eles viram um objeto no céu que era absolutamente físico, que circundou a ilha, era um disco, não apresentava meios de propulsão, nenhum barulho. Ele circundou a ilha e se foi. E o homem disse que nunca reportou-o, mesmo a sua própria esposa. A razão de ele não reporta-lo é que estes homens estavam sob um tremendo stress que ele não poderia quere que pensassem que o seu comandante estava dobrando-se (desmoronando). Então a mesma espécie de significado psicológico que não funcionaria com pessoas comuns podem funcionar em casos excepcionais.

60GCAT: E sobretudo ocultistas e crentes da realidade dos OVNIs — que estão sob alguma espécie de stress psicológico — podem ser vistos como alvos ideais para estes tipos de manipulação.

Vallee: Em alguns casos a comunidade ufológica pode ser simplesmente utilizada em algum experimento sociológico porque eles são um grupo conveniente de pessoas para serem vistos em como reagem a diferentes rumores. (Suponha que o governo perca uma arma nuclear em um pais estrangeiro) Você tem que ir e recuperar esta coisa. E você não pode dizer as pessoas o que você está fazendo, então você tem que ser muito hábil em plantar uma história. Você pode plantar uma história curta dizendo que isto era um disco voador de Vênus. Isto seria tão ridículo que cientistas não iriam checar. Você pode ter alguns jornalistas lá, mas você não poderá dizer-lhes o que você realmente quer, e você dá algumas fotos de qualquer coisa. E então o que você precisa é só distrair as pessoas por dois ou três dias, tempo de trazer o equipamento, conseguir qualquer coisa de fora, recuperar o que você esta procurando e ir embora. Eu penso que existem casos que foi o que exatamente aconteceu. E aqueles são da espécie de grandes historias de UFOs que as pessoas contam ao redor de fogueiras em acampamentos.

Mas eu penso que não existem OVNIs aqui. Eu penso que essas histórias de UFOs são inventadas — Eu estava dizendo no inicio que é saudável sermos cépticos. Eu respeito pessoas que tenham argumentos céticos lá. Jim Oberg, que era um especialista no programa espacial russo, apontava para mim que alguns dos avistamentos que eu publiquei provenientes da União Soviética — um estranho amarelado crescente visto correr os céus por diversas pessoas na URSS — era ensaios com foguetes que eram ilegais sob o tratado do SALT, e obviamente, eles não poderiam escondê-lo nos céus. . . Então o governo plantou a história que havia um disco voador, e foi o que foi para os jornais.

Novamente, a comunidade de pesquisas ufológicas é um laboratório formidável no qual se observa os efeitos da propaganda e da desinformação, desde que ela é “dirigida” em sua maior parte com a intenção de expor “o acobertamento”. Isto cria uma oportunidade para as pessoas para mascarar como bons rapazes e “revelar” toda a sorte de rumores inverificáveis. Eles encontram uma audiência receptiva porque o conteúdo é um de idéias não-conformistas, originais e ressaltadas. Não significa que vamos acreditar no homem que afirmou que estava na inteligência da NATO e viu documentos classificados sobre quatro raças de humanóides vivendo na Lua? Eu não penso que faríamos.

Fontes

http://www.jornalinfinito.com.br/series.asp?cod=65

http://www.vigilia.com.br/vforum/viewtopic.php?p=3836&sid=466ebff7365dece33ad9d5629a8a76df