Agradecemos ao Vitor Reinaque Mutinari por ter contribuído ao blog com a tradução do artigo.
Eu te convido para dar um passo atrás e limpar sua mente de décadas de falsa propaganda. Os governos do mundo todo mentiram para nós sobre os benefícios da maconha medicinal. O público também foi desinformado sobre psicodélicos.
Essas substâncias não viciantes – MDMA, Ayahuasca, Ibogaína, Cogumelos com Psilocibina, Peyote e muitos mais – são comprovadamente rápidas e eficientes ao ajudar pessoas a se curarem de traumas, TEPT (Transtorno de Estresse Pós Traumático), ansiedade, vício e depressão.
Psicodélicos salvaram minha vida.
Minha experiência com sintomas de Ansiedade e TEPT
Eu fui atraída para o jornalismo desde jovem pelo desejo de fornecer uma voz ao ‘pequeno cara’. Por quase uma década trabalhando como correspondente investigativa da CNN e jornalista independente, eu me tornei uma porta voz dos oprimidos, vitimados e marginalizados. Meu caminho de jornalismo submersivo trouxe-me mais próxima de minhas fontes, vivendo a história para ter uma real compreensão do que estava acontecendo.
Falando em uma conferência de imprensa no Líbano sobre abusos dos direitos humanos que presenciei enquanto repórter no Barein.
Após muitos anos de reportagem, eu percebi uma infeliz consequência do meu estilo – havia-me imergido muito profundamente nos traumas e sofrimento das pessoas que entrevistei. Comecei a ter problemas para dormir quando suas faces apareceram nos meus sonhos mais sombrios. Passei muito tempo absorvida em um mundo de desespero e minha incapacidade de defesa permitiu que o trauma dos outros se estabelecesse dentro de minha mente e ser. Combinando isso com as diversas experiências violentas enquanto trabalhando no campo e eu estava no meu pior. Uma vida de reportagens no limite levou-me à beira da minha própria sanidade.
Porque eu não consegui encontrar uma maneira de processar minha angustia, ela cresceu como um monstro, manifestando-se em um estado constante de ansiedade, perda de memória de curto prazo, sonolência e hiperexcitação. As palpitações me fizeram sentir como se estivesse batendo na porta da morte.
Porque escolhi Medicinas Psicodélicas
Remédios prescritos e antidepressivos servem um propósito, mas eu sabia que eles não estavam no meu caminho de cura após minhas investigações terem exposto seus efeitos colaterais sinistros, incluindo crianças nascendo dependentes das medicações após suas mães não conseguirem largar seus vícios. Mascarar os sintomas de uma condição psicológica mais profunda com uma pílula parecia como colocar um Band-Aid num ferimento à bala.
Eu fiquei ciente dos poderes curativos em potencial dos psicodélicos como uma convidada do podcast Joe Rogan Experience em Outubro de 2012. Joe me contou que cogumelos psicodélicos transformaram sua vida e tinham potencial para mudar o curso da humanidade para melhor. Minha reação inicial foi achar divertido e ficar um pouco incrédula, mas a semente havia sido plantada.
Psicodélicos eram uma escolha estranha para alguém como eu. Eu cresci no Centro-Oeste e fui alimentada por 30 anos de propaganda explicando o quão horrível essas substâncias eram para minha saúde. Você pode imaginar meu queixo caído de surpresa quando, após o podcast do Rogan, encontrei artigos sobre os maravilhosos efeitos dessas substâncias que se comportavam mais como medicinas do que drogas. Artigos como este aqui, este, este, este, e este. E estudos como este, este, este, este, este… e este… todos exemplos angustiantes de come fomos enganados pelas autoridades que classificaram os psicodélicos como narcóticos schedule 1 (classificação oficial norte-americana), ‘sem valores medicinais’ apesar de dezenas de estudos científicos provando o contrário.
Viajando Pelo Mundo
Tendo apenas experimentado uma única vez um estranho baseado de maconha na faculdade, em Março de 2013 eu me encontrava embarcando em um avião para Iquitos, Peru para experimentar um dos mais poderosos psicodélicos da terra. Deixei meu carro no aeroporto, apressadamente arrumei meus pertences em uma mochila e me dirigi para a floresta Amazônica colocando minha fé cega em uma substância que a uma semana atrás eu mal conseguia pronunciar: ayahuasca.
Se eu tinha alguma ressalva, dúvida, ou descrença, elas foram rapidamente expelidas logo após minha primeira experiência com ayahuasca. O chá de gosto horrível vibrou através de minhas veias e dentro do meu cérebro enquanto a medicina escaneava meu corpo. Meu campo de visão foi engolfado com uma profusão de cores e padrões geométricos. Quase instantaneamente, eu tive uma visão de um muro de tijolos. A palavra ‘ansiedade’ estava pintada em spray em grandes letras no muro. “Você deve curar sua ansiedade, ” a medicina sussurrou. Eu entrei num estado de sonho onde memórias traumáticas foram finalmente desalojadas do meu subconsciente.
Era como se eu estivesse assistindo um filme da minha vida inteira, não como meu ‘eu emocional’, mas como uma observadora objetiva. Esse vívido filme introspectivo foi exibido em minha mente enquanto eu revivia minhas cenas mais dolorosas – o divórcio dos meus pais quando eu tinha apenas 4 anos de idade, relacionamentos passados, ser baleada por policiais enquanto fotografava um protesto em Anaheim e sendo esmagada em baixo de uma multidão enquanto fotografava um protesto em Chicago. A ayahuasca me permitiu reprocessar esses eventos, separando o medo e emoção das memórias. A experiência foi equivalente a dez anos de terapia em uma sessão de ayahuasca de oito horas.
Nós esperamos nervosamente que a cerimônia de ayahuasca começasse. Nós deram dado baldes para os intensos efeitos abortivos da medicina.
Mas a experiência, e muitas experiências psicodélicas para esse propósito, foi aterrorizante algumas vezes. Ayahuasca não é para todos- você deve estar disposto a revisitar alguns lugares bem escuros e se render para o incontrolável, fluxo feroz da medicina. Ayahuasca também causa vômitos e diarreia violentos, que os xamãs chamam de “melhorar” porque você está purgando o trauma de seu corpo.
Após sete sessões de ayahuasca nas selvas do Peru, o nevoeiro que encobriu minha mente sumiu. Eu era capaz de dormir novamente e noticiei melhoras na minha memória e menos ansiedade. Eu ansiava absorver o máximo de conhecimento possível sobre essas medicinas e passei o ano seguinte viajando pelo mundo em busca de mais curadores, professores e experiências pelo jornalismo submersivo.
Eu fui atraída para os cogumelos com psilocibina após ler como eles reduziam a ansiedade em pacientes terminais de câncer. Ayahuasca mostrou me que meu distúrbio principal era ansiedade, e eu sabia que ainda tinha trabalho a fazer para consertar isso. Cogumelos com psilocibina não são neurotóxicos, são não viciantes, e estudos mostraram que eles reduzem ansiedade, depressão, e até levam a neurogênese, ou o crescimento de células cerebrais. Porque governos do mundo todo mantem fungos tão profundos fora do alcance do povo?
A curandeira abençoou me enquanto eu comia uma folha cheia de cogumelos com psilocibina para a cerimônia de cura. A curandeira abençoou me enquanto eu comia uma folha cheia de cogumelos com psilocibina para a cerimônia de cura.
Depois de Peru, eu visitei curandeiras em Oaxaca, Mexico. Os mazatecos haviam usado cogumelos com psilocibina como sacramento e medicinalmente por centenas de anos. Curandeira Dona Augustine me serviu uma folha repleta de cogumelos durante uma belíssima cerimônia diante de um altar católico. Enquanto ela cantava canções milenares, eu observava o pôr-do-sol sobre a paisagem montanhosa em Oaxaca e um profundo senso de conexão lavou meu inteiro ser. A beleza inata me levou a uma perda das palavras; uma súbita manifestação de emoção me pôs em lagrimas. Eu chorei pela noite e junto com cada lagrima, uma pequena porção do meu trauma escorria pelo meu rosto e dissolvia-se no chão da floresta, me libertando de sua energia tóxica.
Cogumelos com psilocibina não são neurotóxicos, são não viciantes, e um estudo da Universidade do Sul da Florida mostrou que eles podem reparar danos cerebrais causados por trauma.
Talvez o mais espantoso, os cogumelos silenciaram a parte autocritica de minha mente por tempo suficiente para eu reprocessar a memória sem medo ou emoção. Os cogumelos possibilitaram-me lembrar de um dos momentos mais aterrorizantes de minha carreira: quando fui detida sob miras de armas no Bahrein enquanto filmava um documentário para CNN. Eu havia perdido qualquer lembrança daquele dia quando homens mascarados apontaram armas em nossas cabeças e forçaram minha equipe e eu ao chão. Durante uma boa meia hora, eu não sabia exatamente se iriamos ou não sobreviver.
Eu passei muitas noites sem dormir procurando desesperadamente por memórias daquele dia, mas elas estavam trancadas em meu subconsciente. Eu sabia que as memórias ainda me assombravam porque a qualquer momento eu iria ver ‘disparadores’ de TEPT, como barulhos altos, helicópteros, soldados, ou armas, e uma onda de ansiedade e pânico iriam inundar meu corpo.
A psilocibina era a chave para destrancar o trauma, possibilitando-me aliviar o aprisionamento momento a momento, fora do meu corpo, como um observador objetivo sem emoção. Eu espiei dentro da van da CNN e vi meu antigo eu sentada no banco traseiro, helicópteros barulhentos sob nossas cabeças. Minha produtora Taryn estava sentada a minha direita tentando freneticamente fechar a porta da van enquanto nos tentávamos escapar. Eu ouvi Taryn gritar “armas!” quando homens mascarados pularam dos veículos de segurança que cercavam a van. Eu observei enquanto eu rastejava desesperadamente até uma mochila no chão, pegando meu cartão de identificação da CNN e pulando fora da van. Vi-me deitada no chão em posição de criança, poeira cobrindo meu corpo e face. Observei-me enquanto lancei minha mão com o emblema da CNN no ar acima da minha cabeça gritando “CNN, CNN, não atirem!!”
Eu vi a dor em minha face quando as forças de segurança jogaram o ativista de direitos humanos e amigo querido Nabeel Rajab contra o carro de segurança e começaram a perturba-lo. Eu vi o terror em minha face enquanto olhei para minha camisa, braços no ar, rezando para que as fitas de vídeo escondidas em meu corpo não caíssem no chão.
Durante a cerimônia a psilocibina libera memórias traumáticas armazenadas no fundo do meu subconsciente para que eu possa processa-las e curar. A experiência é intensamente introspectiva.
Enquanto revivia cada momento de aprisionamento, reprocessei cada memória movendo-as da pasta “medo” para seu novo permanente lar na pasta “seguro” no disco rígido de meu cérebro.
Cinco cerimônias com cogumelos com psilocibina curaram minha ansiedade e os sintomas de TEPT. As borboletas que tinha um lar permanente em meu estomago voaram para longe.
Fui abençoada com uma natureza curiosa e uma teimosia de sempre questionar autoridade. Se tivesse optado por um roteiro de um médico e me resignado na esperança que as coisas simplesmente melhorassem, eu nunca teria descoberto todo o alcance da minha mente e coração. Tivesse eu bebido o Kool-Aid e acreditado que todas as ‘drogas’ fossem ruins e sem valor medicinal, talvez estivesse no meio de uma batalha com TEPT.
A Criação do Reset.me
Este mesmo mundo que exalta a guerra, a violência, o mercantilismo, a destruição ambiental e o sofrimento proibiu algumas das chaves mais profundas para a paz interior. A Guerra às Drogas não é baseada na ciência. Se fosse, duas das drogas mais mortais da Terra – álcoole tabaco – seriam ilegais. Aqueles que sofrem com trauma se tornaram vitimas dessa guerra falida e perderam um dos modos mais eficientes de cura.
A humanidade enlouqueceu como resultado.
Lyon e um cientista abrem o estômago de peixe para procurar lixo plástico durante filmagens de um documentário sobre a poluição oceânica excessiva de plástico.
Passei dez anos testemunhando a insanidade coletiva como jornalista da linha de frente – guerras, derramamento de sangue, destruição ambiental, escravidão sexual, mentiras, vicio, ódio, medo.
Mas eu entendi tudo errado jornalisticamente. Eu estava focando nos sintomas de uma sociedade doente, ao invés de estar atacando a raiz da causa: trauma não processado.
Nós todos temos trauma. Trauma se aloja em criminosos violentos, a esposa que traí, políticos corruptos, aqueles que sofrem de transtornos mentais, vícios, dentro deles muito medo de assumir riscos e atingir seu pleno potencial.
Se não for adequadamente processado e purgado, trauma é cimentado no disco rígido da mente, crescendo em uma parasita obscuro que eleva sua cabeça feia por toda a vida de uma pessoa. Os ferimentos nos mantem trancados em uma grade de medo, preso atrás de uma personalidade não verdadeira para a alma, trabalhando em um emprego mundano ao invés de seguir uma paixão, repetindo o ciclo de abuso, destruindo o ambiente, ferindo uns aos outros. O sofrimento mais comum e severo é infligido na infância sequestrando o lugar do motorista para a fase adulta, conduzindo o indivíduo em uma estrada privada de felicidade. Renomado especialista em vícios Gabor Mate diz, “O maior causador de vícios severos é sempre o trauma infantil”.
Nós vivemos em um mundo cheio de feridas e quando deixadas sem tratamento, elas são passadas sem cerimônia de uma geração para outra, assim o ciclo traumático continua com toda sua brutalidade destrutiva.
Mas há esperança. Nós podemos transformar o curso da humanidade ao purgar coletivamente nossa mágoa/pesar e curando a nível individual, com ajuda das medicinas psicodélicas. Uma vez curados em nível individual, nós veremos uma dramática transformação positiva na sociedade como um todo.
Eu fundei o website reset.me para produzir e agregar jornalismo sobre consciência, medicinas naturais, e terapias. O explorador psicodélico Terrence McKenna comparou tomar psicodélicos com apertar o ‘botão reiniciar’ no seu disco rígido interno, limpando todo lixo, e recomeçando. Eu criei o reset.me para ajudar conectar aqueles que precisam apertar o ‘botão reiniciar’ na vida com o jornalismo cobrindo as ferramentas que nos permitem curar.
É uma crise de direitos humanos os psicodélicos não estarem acessíveis para a população em geral. É insano que governos do mundo todo tenham proibido as próprias medicinas que pode emancipar nossas almas do sofrimento.
Quando O.M. tinha 21 anos, foi diagnosticado com Linfoma de Hodgkin. Ele era um estudante de medicina na época. Sua primeira reação foi de negação, seguida por uma intensa e duradoura ansiedade, como descrito em artigo da revista Atlantic de 22 abril, por Roc Morin. Mesmo depois de seis rodadas de quimioterapia ajudarem O.M. a chutar o câncer, ele foi atormentado com um medo devastador que a doença pudesse voltar. Ele checou seus nódulos linfáticos tão frequentemente para ver se eles tinham crescido que ele desenvolveu calosidades em seu pescoço.
Ele experimentou uma debilitante ansiedade de fim de vida do momento em que foi diagnosticado até o dia que ingeriu psilocibina, extraída de cogumelos alucinógenos, enquanto deitava em um divã psiquiátrico durante um Estudo da Universidade de Nova York. O.M. é um dos 35 participantes do estudo, que em todos os casos, foram abatidos por severa ansiedade devido ao câncer.
O estudo piloto “Double-blind placebo-controlado”, que ainda está em curso, olha para os potenciais usos da psilocibina para tratar a ansiedade e outros distúrbios psicológicos decorrentes de câncer avançado. A segunda metade do estudo será analisar o efeito da psilocibina na “percepção da dor, depressão, angústia existencial / psicoespiritual, atitudes em relação à progressão da doença, qualidade de vida, e os estados espirituais / místicos de consciência.”
O.M. disse a Revista Atlantic que, quando ele comeu os cogumelos, foi como “um interruptor para ir além.”
“Eu fui de um estado de estar ansioso, para analisar a minha ansiedade do lado de fora”
“Eu percebi que nada estava realmente acontecendo comigo de forma objetiva. Era real, porque eu deixava que se tornasse real. E logo quando eu tive esse pensamento, eu vi uma nuvem de fumaça negra sair do meu corpo e flutuar embora”.
Gabrielle Agin-Liebes, a gerente da pesquisa para o estudo da NYU, disse à Atlantic que O.M. tinha um dos maiores índices de ansiedade possíveis antes do estudo. No dia seguinte, no seu tratamento, O.M. marcou um zero. Ele não tinha absolutamente nenhuma ansiedade, e ficou assim durante os sete meses de tratamento.
Como o artigo de Morin para a Atlantic apontou, a psilocibina foi usada para fins medicinais durante séculos por povos indígenas antes da globalização ocidental cristã que reprimiu seu uso naturalizado. Na esteira da Segunda Guerra Mundial, alucinógenos utilizados como medicina foram motivo de debate entre os psiquiatras. Quando as substâncias psicoativas ganharam popularidade recreativa como drogas de rua, a administração Nixon travou sua guerra contra as drogas, passando Lei de Substâncias Controladas de 1970. Para a psilocibina foi dada Programação restritiva e classificação junto com LSD, maconha e outras substâncias psicoativas. A guerra de Nixon sobre drogas ainda sobrevive hoje, em muitos países, enchendo as prisões de infratores não violentos e criminalizando populações minoritárias.
Políticas dos anos 70 também suprimiram a maioria das pesquisas de psicodélicos por décadas, mas graças aos esforços dos cientistas determinados e grupos de pesquisa como a Associação Multidisciplinar para o Estudo de Psicodélicos (MAPS), estudos em humanos aprovados pelo governo de substâncias psicodélicas controladas estão germinando novamente. Enquanto o governo federal ainda considera os psicodélicos perigosos e desprovidos de finalidade médica, a investigação continua a revelar um potencial médico promissor de várias substâncias psicoativas para o tratamento de questões que vão desde a dor e a ansiedade ao vício e ao câncer. Um estudo aprovado pelo FDS recentemente analisou o LSD no tratamento de ansiedade de fim de vida. Foi o primeiro estudo controlado de LSD em seres humanos em 40 anos, e os resultados foram extremamente positivos, com todos os relatos de redução da ansiedade do paciente e sem efeitos colaterais negativos.
Sala no Bluestone Center, onde os pacientes tomam psicodélicos para tratamento psicoterápico em NY
O estudo com psilocibina NYU não é o primeiro de seu tipo. Charles Grob realizou um estudo com medidas semelhantes no Harbor-UCLA. No entanto, o estudo da NYU utiliza doses mais elevadas de psilocibina e examina 32 indivíduos, em vez de 12 examinados por Grob. Os resultados do estudo atual com a psilocibina ainda estão sendo analisados, mas o principal investigador Stephen Ross disse à revista Atlantic que “a grande maioria dos seus pacientes têm demonstrado uma redução imediata e constante na ansiedade. Consistente com estudos semelhantes envolvendo a psilocibina, cerca de três quartos dos participantes classificam a sua experiência com a droga como sendo um dos cinco maiores eventos mais significativos de suas vidas “.
O.M. está entre os casos de sucesso mais esmagador.
“No hospital me deram Xanax para a ansiedade. Xanax não te livra de sua ansiedade. Xanax diz que você não vai senti-la por um tempo até que para de funcionar e você vai tomar o próximo comprimido. A beleza da psilocibina é: não é medicação. Você não vai tomá-la e ela resolve o seu problema. Você toma e você mesmo resolve seu problema sozinho. “
Proibido em 1966, LSD volta a psicoterapia como prática e pesquisa
Pela primeira vez em mais de quatro décadas a dietilamida do ácido lisérgico, droga mais conhecida como LSD, foi usada como complemento para a psicoterapia experimental em um ensaio clínico controlado, aprovado pelo Food and Drug Administration americano. E um estudo recém-publicado, sobre uma bateria de testes que relata que os efeitos da medicação que combatem a ansiedade em pacientes que enfrentam doenças terminais foram grandes, permanentes e livre de efeitos colaterais preocupantes.
Em suma, tudo era festa.
Em um estudo piloto realizado na Suíça, 12 pacientes que sofrem de ansiedade profunda devido a doenças graves, participaram de várias sessões de psicoterapia sem drogas e em seguida, se juntaram a um par de terapeutas para duas sessões de psicoterapia de um dia inteiro, separados por duas a três semanas, sob a influência do LSD. Após a redução gradual de toda medicação contra a ansiedade ou antidepressivo e evitar álcool por pelo menos um dia, os participantes do estudo receberam ou uma dose de 200 microgramas de LSD ou um “placebo ativo” de 20 microgramas da substância.
Enquanto da dose placebo era esperado que produzisse efeitos curta duração e detectáveis, não era esperado que melhorasse o processo psicoterapêutico. A dose maior, por sua vez, “deverá produzir o espectro de uma experiência típica LSD, sem dissolver completamente as estruturas do ego normais”, escreveram os pesquisadores.
Os pacientes que receberam a maior dose de LSD para as duas sessões relataram menos ansiedade depois de suas experiências de ácido, ao passo que a ansiedade permanecia entre os quatro indivíduos que não receberam a dose completa.
Mais importante, os indivíduos que tiveram a dose completa experimentaram melhorias mensuráveis e duradouras em seu “estado” e “traço” (característica) de ansiedade, que refletem os níveis de ansiedade que são fustigados por alteração das circunstâncias (estado) e aqueles que são aspectos estáveis de personalidade (traço). Oito semanas após a intervenção, aqueles que receberam doses plenas de LSD tiveram quedas em ambos traço e estado. Por outro lado, a ansiedade traço aumentou para todos os quatro que tomaram o placebo e o estado subiu em dois dos quatro.
O estudo, liderado pelo psiquiatra suíço Peter Gasser, M.D., foi publicado online esta semana no Journal of Nervous and Disease Mental. Ele foi patrocinado pelo MAPS (Associação Multidisciplinar para o Estudos de Psicodélicos), um grupo sem fins lucrativos com sede em Santa Cruz, que incentiva a pesquisa sobre os usos terapêuticos legítimos para alucinógenos.
Nos últimos anos, a atenção médica e pública para pacientes terminais e tratamentos paliativos vem aumentando. Contra esse pano de fundo, o governo dos EUA começou a afrouxar sua antiga resistência contra a exploração de drogas como o LSD como um meio de aliviar o que alguns chamaram de “angústia existencial “.
A pesquisa sobre o potencial terapêutico de outras drogas conhecidas por sua popularidade na rua – incluindo a psilocibina, o agente psicoativo em cogumelos psilocybe e o MDMA, ou Ecstasy – também está recebendo sinal verde do governo federal. Além de vários estudos utilizando MDMA junto com a psicoterapia no tratamento da ansiedade terminal, esta droga está em estudo, e tem se mostrado promissora, como um tratamento para o transtorno de estresse pós-traumático.
Não foram observadas flashbacks ou outros efeitos prolongados e apenas seis eventos adversos – incluindo ilusões, sofrimento emocional e sensação de frio ou de anormalidade – foram relatados pelos indivíduos durante a sua experiência, mas os mesmos se resolveram tão logo o efeito do ácido se dissipou.
Albert Hofmann (1906 – 2008) “o pai do LSD”
De certa forma, o estudo piloto foi um retorno do LSD para sua terra natal. Descoberto em 1938 em Basel pelo químico suíço Albert Hofmann da Sandoz Laboratories, efeitos psicoativos do LSD foram rapidamente colocados em uso por psiquiatras que tratavam com ele a dependência de álcool, distúrbios psicossomáticos e neurose. Desta vez, as cápsulas contendo o medicamento experimental foram compostos em Bichsel Labs em Interlaken, na Suíça.
A psicoterapia assistida com LSD foi ampla e abertamente praticada nos Estados Unidos até 1966 – e muito mais tarde no mundo inteiro, como a droga psicodélica de rua, tornou-se o amado objeto do crescente uso “não médico”, que a tornou ilegal em 1966, acabando com todas as pesquisa dos EUA sobre os seus potenciais benefícios terapêuticos.
“Minha experiência com LSD trouxe de volta algumas emoções perdidas e a habilidade de confiar, um monte de insights psicológicos, e um momento fora do tempo quando o universo não parecia como uma armadilha, mas como uma revelação de absoluta beleza” – disse Peter, um indivíduo austríaco participante do estudo.
“Este estudo histórico marca o renascimento da investigação da psicoterapia assistida pelo LSD” comemorou Rick Doblin, Ph.D., Diretor Executivo do MAPS. “Os resultados positivos e evidências de segurança claramente mostram porque estudos adicionais maiores são necessários.”
‘Psicodélicos como o LSD e os cogumelos com psilocibina, não apenas não causam problemas de saúde mental, como na verdade podem aumentá-la’
Essas são as conclusões dos pesquisadores de neurociência da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, em Trondheim, que relataram que o LSD, a psilocibina e mescalina não só não causam problemas de saúde mental a longo prazo, mas que, em muitos casos, o uso de psicodélicos é associado a uma menor taxa de problemas de saúde mental.
O estudo colheu dados da ‘Pesquisa Nacional dos EUA sobre Uso de Drogas e Saúde’, observando-se 130.152 respondentes selecionados aleatoriamente a partir da população adulta de os EUA. 13,4% desse grupo (21.967 indivíduos) relataram uso na vida de drogas psicodélicas. Comparando esses dados para medidas de triagem padronizados para a saúde mental, os pesquisadores descobriram que, nem o uso vitálicio de psicodélicos, nem o uso dentro do último ano, foram fatores de risco independentes para problemas de saúde mental e que, de fato, os usuários de psicodélicos tiveram menores taxas de problemas de saúde mental.
Os pesquisadores noruegueses, Teri S. Krebs e Pal-Ørjan Johansen também observaram que “plantas psicodélicas têm sido utilizados para fins comemorativos, religiosos ou de cura por milhares de anos” e que “psicodélicos, muitas vezes provocam profundas experiencias, pessoal e espiritualmente significativas, além de produzir efeitos benéficos”. O LSD e a psilocibina são consistentemente classificados em avaliações de especialistas como causando menos danos a usuários individuais e à sociedade do que o álcool, o tabaco, e a maioria das outras drogas recreativas comuns. Dado que milhões de doses de drogas psicodélicas foram consumidas todos os anos, por mais de 40 anos, relatos de casos bem documentados de problemas de saúde mental a longo prazo após o uso destas substâncias são raros
O estudo também não observou absolutamente nenhuma evidência de que “flashbacks” realmente afligiam os usuários de psicodélicos, matando outra superstição normalmente realizada em torno do uso psicodélico.
Os pesquisadores noruegueses trazem uma boa notícia para os mais de 30 milhões de americanos que usaram drogas psicodélicas (em comparação com 100 milhões que usaram maconha). E enquanto a mídia vem comentando sobre a revelação do Dr. Sanjay Gupta que ele “mudou sua mente por causa da maconha”, pode ser hora para as substâncias psicodélicas obterem uma retratação similar.Enquanto psicodélicos ainda evocarem imagens da era dos 60, bad trips, como a filha de Art Linkletter saltar de uma janela em ácido (um mito superestimado, como diz Snopes), poucos arriscam submetê-los a uma investigação significativa e tiveram um lento progresso em direção a aceitação clínica nas últimas décadas. Os pesquisadores ainda trabalham sob a imagem negativa da era de Timothy Leary a respeito dos psicodélicos, mas aos poucos está se desfazendo o impasse cultural criado pelo que muitos vêem como o abuso irresponsável de drogas psicodélicas durante os anos 1960 e 70.
Vários estudos estão sendo conduzidos ( na escola de medicina da Universidade de Nova York e na Johns Hopkins Bayview Medical Center) em usar psicodélicos para aliviar o medo em pacientes com estágio avançado terminal de doença , facilitando a experiência de morte e permitir que as pessoas terminam suas vidas em estados de aceitação em vez de terror. LSD e psilocibina também surgem com uma promessa para o tratamento da Cefaléia em Salvas(Cluster headache), uma condição tão debilitante e dolorosa que muitas vezes leva os doentes a considerar o suicídio .
Enquanto a maconha degusta a sua estadia no centro das atenções, pode ser hora de seus irmãos mais potentes e ainda mais potencialmente benéficos, participarem da festa.
Texto feito por Karina Toledo, e reproduzido diretamente do site da Agencia FAPESP
Ritual do Xocoatl
Mais do que mera diversão ou escapismo, o consumo de álcool, tabaco e alucinógenos entre os incas e os astecas tinha caráter ritualístico, religioso e até curativo. Já para os colonizadores europeus – embora também acreditassem no poder medicinal de certas substâncias psicoativas – a prática representava a adoração ao demônio e, portanto, deveria ser combatida.
Essa ambiguidade do discurso espanhol sobre o consumo de drogas entre os índios, no período da colonização, é tema do livro A embriaguez na conquista da América. Medicina, idolatria e vício no México e Peru, séculos XVI e XVII, lançado recentemente pela editora Alameda.
Publicada com apoio da FAPESP, a obra é fruto do trabalho de mestrado de Alexandre Camera Varella, realizado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) sob a orientação do professor Henrique Soares Carneiro.
Com base em uma compilação de fontes da época, que inclui obras de religiosos, tratados médicos e de história natural, além de um cronista indígena cristão, Varella analisa as representações hispano-americanas sobre o consumo das bebidas fermentadas nativas, como é o caso da chicha (feita de milho), no Peru, e do pulque (feito de agave), no México.
Também são incorporados o tabaco – uma versão mais rústica e forte, usada pelos índios para induzir um estado de transe – e as bebidas derivadas do cacau e denominadas chocolate, muitas vezes preparadas com flores aromáticas ou plantas alucinógenas.
“Qualquer substância capaz de alterar o estado de consciência ou, como diziam na época, ‘tirar do juízo’, era considerada causadora de embriaguez. E a embriaguez indígena estava sempre relacionada aos rituais, seja de adivinhação ou de celebração dos deuses. Para os espanhóis isso representava idolatria. Houve, portanto, bastante resistência aos costumes indígenas, principalmente por parte dos clérigos”, contou Varella.
Curiosamente, acrescentou o historiador, tanto colonizados como colonizadores acreditavam no poder medicinal do tabaco. O espanhóis chamavam a planta de erva santa. Os indígenas a consideravam uma entidade divina.
Estátua de Xochipilli, o “Príncipe das flores” Asteca, descoberto nas encostas do vulcão Popocatepetl e agora exposto no Museu Nacional na Cidade do México. As etiquetas indicam as possíveis interpretações botânicas das figuras.
“Os colonizadores diziam que o tabaco ajudava a eliminar substâncias ruins, quando soltava o catarro, e que aliviava a digestão e as dores de cabeça. Também as bebidas alcoólicas e o chocolate eram vistos como medicinais. Existiam várias receitas. Podiam colocar uma determinada flor de qualidade ‘quente’ para combater calafrios, ou algo considerado ‘frio’ para baixar a febre”, disse o historiador – que atualmente é professor da Universidade Federal de Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu.
Durante os rituais de celebração dos deuses, contou Varella, os indígenas tinham o costume de beber até perder a consciência. Em certas ocasiões, quatro dias consecutivos de festas eram realizados e o consumo de álcool era permitido até mesmo por jovens e crianças.
“Nesses momentos, era tolerada uma certa algazarra, ocorriam brigas e havia maior liberdade sexual. A ideia do vício trazida pelos religiosos, portanto, não apenas estava relacionada à idolatria como também à luxúria e à violência que poderia haver nesses momentos de bebedeira. Não se pensava na questão da dependência física ou psicológica da bebida”, contou Varella.
Fora do contexto ritualístico, porém, as sociedades indígenas eram extremamente conservadoras, disse o historiador. Não era permitido beber dentro de casa ou na rua. Na época de Moctezuma, imperador asteca do início do século 16, um nobre indígena flagrado bêbado poderia ser punido com a morte.
“Até mesmo o uso da folha de coca era bem restrito entre os andinos na era pré-hispânica. Mas, com a chegada dos espanhóis e a desestruturação dos governos indígenas, houve uma popularização do uso – tanto da bebida, quanto da coca e de outras plantas como o peiote [cacto com propriedades alucinógenas]. Isso criou uma preocupação grande entre os colonizadores e clérigos, que queriam preservar a mão de obra indígena, relacionando a mortandade não às doenças trazidas por eles, mas sim à demasiada embriaguez”, afirmou Varella.
Nesse contexto, diversas leis foram criadas – tanto em âmbito eclesiástico quanto civil – para tentar reprimir o consumo de álcool e de outras drogas entre os índios. Principalmente por razões morais, também legislavam para evitar o mau costume entre os mestiços, os negros e os espanhóis pobres que habitavam o Novo Mundo.
“As práticas sociais, porém, foram muito mais amplas do que as tentativas de repressão, que muitas vezes ficaram apenas no nível do discurso e das leis. Podemos dizer que foi a embriaguez que conquistou a América”, disse Varella.
A embriaguez na conquista da América. Medicina, idolatria e vício no México e Peru, séculos XVI e XVII
Autor: Alexandre Camera Varella
Lançamento: 2013
Preço: R$ 68,00
Páginas: 460
Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br/a-embriaguez-na-conquista-da-america
Fungos podem criar ventos que levam embora seus esporos.
Cientistas aprenderam que os cogumelos têm uma extraordinária capacidade de controlar o tempo. Ao alterar a umidade do ar em volta de si, eles agitam ventos que sopram para longe os seus esporos e os ajudam a dispersar.
As plantas usam uma variedade de métodos para espalhar sementes, incluindo a gravidade, a projeção forte, o vento, a água e os animais. Cogumelos por muito tempo tem sido pensados como espalhadores passivos de sementes, liberando os seus esporos e em seguida, contando com as correntes de ar para carregá-los.
Porém uma nova pesquisa mostrou que os cogumelos são capazes de dispersar seus esporos em uma área ampla, mesmo quando não há um sopro de vento sequer – através da criação de seu próprio tempo.
Cientistas em os EUA usaram técnicas de filmagem de alta velocidade e modelagem matemática para mostrar como os cogumelos Pleurotus ostreatus (Cogumelo Ostra) e o Lentinula edodes (Shiitake) liberam vapor de água que resfria o ar ao seu redor, criando correntes de convecção. Este, por sua vez, gera ventos em miniatura que levantam os seus esporos no ar.
Os resultados, apresentados na reunião anual da Divisão de Dinâmica de Fluidos em Pittsburgh da Sociedade Americana de Física , sugerem que os cogumelos são muito mais do que os fabricantes mecânicos de esporos.
” Nossa pesquisa mostra que essas “máquinas” são muito mais complexas do que isso: eles controlam seus ambientes locais e criam ventos onde não havia nenhum feito pela própria natureza” , disse o principal cientista Professor Emilie Dressaire , do Trinity College em Hartford, Connecticut. ” Isso parece incrível, mas os fungos são engenheiros geniais. ”
Os cientistas acreditam que o mesmo processo pode ser utilizado por todos os fungos de cogumelos , incluindo aqueles que causam doenças em plantas , animais e seres humanos .
Um cogumelo é tecnicamente o corpo carnal produtor de esporos, de um fungo. Milhões de esporos, sementes unicelulares microscópicas, podem ser produzidos por um único cogumelo, pelo menos algumas das quais susceptíveis a pousar um lugar adequado para o crescimento de um novo micélio.
Mais de 80 tipos diferentes de cogumelos comestíveis silvestres crescem no Reino Unido, bem como muitas espécies venenosas.
Um dos cogumelos mais mortais do mundo, o Amanita phalloides (the death cap), é uma visão comum na floresta britânica. Apesar de sabor agradável, apenas 28 gramas deste fungo é o suficiente para matar .
Amanita Phalloides
Matéria original compartilhada na rede pelo micologista e escritor Paul Stamets
trecho retirado do livro Ayahuasca: alucinógenos, consciência e o espírito da natureza
Ralph Metzner
Vivendo na Suíça, o antropólogo e conservacionista canadense Jeremy Narby deu recentemente uma contribuição revolucionária para a integração entre a compreensão científica da ayahuasca e o modo xamanístico deste conhecimento (Narby, 1998). Na obra The Cosmic Serpent, o autor narra como suas experiências com os xamãs da tribo Ashininca da floresta amazonica peruana levaram-no a reexaminar os fundamentos da biologia molecular, até chegar a uma hipótese que reconcilia os ensinamentos dos ayahuasqueiros com as descobertas da ciência moderna. Narby estava ciente do conflito irreconciliável entre a visão de mundo xamanística, segundo a qual pode-se obter um saber seguro e aplicável para a cura a partir das visões induzidas pela ingestão de plantas alucinógenas, e a concepção científica, para a qual as visões da ayahuasca não passam de simples alucinações causadas pelas toxinas das plantas. Não se dando por satisfeito, ele iniciou uma jornada visando uma reconciliação destas duas perspectivas aparentemente contraditórias, e decidiu levar a sério os ayahuasqueiros, movido pela convicção de que seria possível estabelecer um conhecimento medicinal válido a partir das plantas mestres. Esta decisão ganhou força por suas próprias experiências com a ayahuasca. Ele praticou o método do empirismo radical, uma vez que sua própria experiência tornou-se a base de uma busca pelo conhecimento; até porque ele nunca excluiu a experiência, temendo que ela pudesse não se encaixar nas teorias prevalecentes.
De acordo com as descobertas pessoais de Narby, e segundo ainda as narrativas aqui expostas, as visões das serpentes, algumas vezes gigantescas e outras luminosas, são extremamente comuns nas experiências com a ayahuasca.
Os ayahuasqueiros disseram a Narby que o espírito da serpente é a mãe deste preparado, além de ser a fonte do saber e da força curativa que dele advém. E por isso, são encontradas, ao longo dos trabalhos artísticos dos índios, as muitas imagens de serpentes que dançam ou se movem, em duplas ou múltiplas. Quando Narby começou a ler a volumosa literatura da biologia molecular, no intuito de encontrar algumas pistas que esclarecessem como o cérebro é afetado durante os estados alterados da consciência, ele concluiu que a molécula do DNA, na sua forma de uma dupla voluta enroscada, talvez pudesse ser a contraparte molecular para as alucinatórias serpentes da ayahuasca.
O uso das imagens das serpentes não se dá apenas entre os xamãs amazônicos, mas por quase todo o mundo. Elas são utilizadas na Ásia, no Mediterrâneo e na Austrália para efetivar a representação da força básica da vida, sobretudo porque a sabedoria da serpente é tida como a fonte do conhecimento. A imagem da serpente é vista frequentemente como um elo de ligação entre o céu e a terra; sob esta mesma visão, encontra-se também a imagem da cobra associada com diferentes ideias de ascensão. Seguindo o texto de Narby, ele nos diz que “na literatura da biologia molecular, a forma do DNA não se restringe a ser descrita através de uma analogia com duas serpentes gêmeas, uma vez que ela, é comparada mais precisamente com uma corda ou um cipó, ou mesmo com uma escada.” (p. 93).
Sabe-se que o DNA é o código molecular usado para toda a vida deste planeta, quer seja animal, vegetal, ou humana. Ele está presente em cada uma das células de todos os corpos, ou seja, em todas as plantas ou em qualquer animal, fungo, ou ser humano. A partir daí, Narby propôs a hipótese de que, por meio das visões, talvez os xamãs estejam tentando conduzir suas próprias consciências à dimensão do molecular, de maneira que possam ler a informação de como combinar os inibidores-MAO com os hormônios cerebrais, de como reconhecer as correspondências entre as plantas curativas e as doenças, e por aí afora.
Juan Carlos Tamanchi
Sua descrição biológica da molécula do DNA expõe com brilhantismo muitos aspectos que correspondem aos insights dos xamãs; mesmo porque, como eles mesmos dizem, a origem de tais insights está nas suas visões das serpentes e na sua mitologia das serpentes cósmicas.
Se alguém esticasse o DNA contido no núcleo de uma célula humana, seriam obtidos somente dez átomos ao largo de 1.80m de fio…
O núcleo de uma célula é, portanto, equivalente em volume a dois milionésimos de uma cabeça de alfinete. E assim 1.80m de do DNA acondiciona com rapidez todo o seu volume através do gesto de enroscar-se incessantemente sobre si mesmo, harmonizando assim o comprimento extremo e a pequenez infinitesimal, exatamente como procedem as serpentes míticas. Segundo as estimativas, o ser humano comum é composto de muitos bilhões de células. O que significa dizer que há mais 201 bilhões de DNA no corpo humano…
O DNA de uma pessoa é tão longo que poderia rodear a Terra cinco milhões de vezes; isto é análogo ao que se diz a respeito das serpentes que rodeiam o mundo! (pp. 87~88).
Afora isso, o código molecular do DNA tem se mantido inalterado desde o início da vida deste planeta, pois somente a arrumação das “letras” deste código é que vai mudando conforme a evolução das diferentes espécies. “Tal como as serpentes míticas, o DNA se apresenta como o mestre da transformação. Todas as informações que existem nas células do DNA são feitas do ar que respiramos, da paisagem que vemos, e da vasta diversidade de seres vivos dos quais fazemos parte.” (p. 92). Narby chega a dizer que a serpente dupla do DNA é que constitui de fato a fonte do conhecimento, quer seja adquirido por meio da ayahuasca ou de outras técnicas que levem a estados alterados da consciência, tais como a batucada, o jejum, o isolamento, ou os sonhos. E ainda diz que a tão propalada luminosidade que ocorre nas visões xamanísticas deveria ser posta em relação ao fato de que a molécula do DNA emite biofótons, justamente porque a luz molecular só emerge com a redução da iluminação externa. Enfim, mesmo que a hipótese de Narby não ofereça nenhum dado novo, ou provas substanciais, ela possui implicações revolucionárias que reconciliam os pontos de vista diametralmente opostos da ciência e do xamanismo.
O princípio ativo dos cogumelos alucinógenos pode apagar memórias assustadoras e incentivar novo crescimento de células cerebrais em ratos, sugere um novo estudo.
Camundongos que receberam um choque elétrico, em seguida, uma baixa dose de psilocibina, perderam a sua resposta ao medo de um som associado a um choque elétrico doloroso muito mais rapidamente do que os ratos que não receberam o medicamento.
Cogumelos Psilocybe cubensis, onde a Psilocibina é encontrada na natureza.
“Eles pararam de congelar, pois eles perderam o medo”, disse o co-autor Dr. Juan Sanchez-Ramos, professor de distúrbios de movimentos da Universidade do Sul da Flórida.
Os resultados, publicados na edição de junho da revista Experimental Brain Research, aplicam-se apenas aos ratos, mas eles levantam a possibilidade de que as baixas doses da substância, podem um dia ser usadas para tratar o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Hipocampo
Estudos anteriores descobriram que a psilocibina, a substância psicoativa dos cogumelos mágicos, poderia induzir experiências místicas que podem elevar o humor, atitude e comportamento e até mesmo alterar permanentemente a personalidade para melhor. Outros estudos mostram que a psilocibina diminui a atividade cerebral. [Trippy Tales: The History of 8 Hallucinogens]
Mas Sanchez-Ramos e seus colegas se perguntam sobre o papel da psilocibina na formação de memórias de curto prazo. Como a substância se liga a um receptor no cérebro, que estimula o crescimento de células nervosas cerebrais e a formação da memória de curto prazo, os pesquisadores queriam investigar como foi afetada a formação das memórias relacionadas ao medo. Eles esperavam que a psilocibina ajudaria camundongos a formar memórias assustadoras mais rapidamente.
Para testar essa hipótese, os pesquisadores tocaram um tom(som) auditivo e deram aos ratos um choque doloroso. Os ratos logo associaram o tom com o choque e congelavam quando ouviam isso.
Mas alguns dos ratos receberam uma dose baixa de psilocibina – provavelmente muito baixa para causar efeitos psicoativos, porém não há nenhuma maneira de ter certeza, Sanchez-Ramos disse.
“Os ratos não podem lhe dizer se eles estão tendo alucinações ou experienciando estados alterados de consciência:” Sánchez-Ramos contou a nosso site.
Depois, os pesquisadores tocaram os sons várias vezes, sem chocar os ratos. No início, os ratos congelaram quando ouviram, mas aos poucos, eles começaram a se movimentar normalmente, indicando que o som não está mais associado ao choque.
Os ratos que tomam o alucinógeno voltaram ao comportamento normal mais rapidamente do que aqueles que não tinham, sugerindo que superaram seu medo com maior rapidez. Ao mesmo tempo, seus cérebros mostraram um significativo crescimento de novas células.
Eliminando a memoria negativa?
“O estudo em ratos indica que a psilocibina, (possivelmente também em doses moderadas) pode ajudar a extinguir a memória relacionada ao medo em casos de TEPT ou outros grupos de pacientes com ansiedade,” Franz Vollenweider, o diretor do Instituto de Pesquisa Heffter em Zurique, na Suíça, escreveu em um e-mail .
A pesquisa de Vollenweider tem mostrado que a psilocibina pode reduzir o quanto os pacientes deprimidos respondem ao negativo, mas não positivamente ou com expressões faciais neutras.
“Assim, a psilocibina pode muito bem mudar o processamento de emoções positivamente em pacientes deprimidos”, disse Vollenweider, que não esteve envolvido no estudo atual.
E no tratamento de TEPT por exemplo, os veteranos poderiam levar o medicamento para desassociar barulhos altos ou espaços lotados com o trauma de um bombardeio, Sanchez-Ramos acrescentou.
Por lei, a psilocibina é uma substância ilegal, ou uma droga perigosa, sem usos médicos legítimos. Então, fazer a pesquisa para testar seus efeitos nos Estados Unidos será um desafio, disse Sanchez-Ramos.
Misticismo molecular: O papel das substancias psicoativas na transformação da consciência um ensaio exibido em “The Gateway to Inner Space”,Christian Rätsch, editor. Publicada por Prism Press, Dorset, Reino Unido, 1989.
Existe uma questão que atormentou a mim, e sem dúvida a outros, desde o início das pesquisas psicodélicas nos anos 60, quando muitos grupos de indivíduos estavam preocupados com os problemas de assimilar novas e poderosas substancias alteradoras de consciência na sociedade ocidental. As questões, de forma simples, eram as seguintes: Porque os nativos americanos tiveram tanto sucesso ao integrar o uso do peyote em sua cultura, incluindo seu uso legal nos dias atuais como sacramento, enquanto os interessados em prosseguir a pesquisa da consciência com drogas na cultura dominante branca, só conseguiram transformar o campo inteiro de pesquisa em um tabu, e qualquer uso dessas substâncias em uma ofensa criminal passível de pena de prisão? O uso do Peyote se espalhou do México para as tribos de nativos norte americanos na segunda metade do século XIX, a encontrou aceitação como sacramento em cerimônias da Native American Church. É reconhecido como um tipo de ritual religioso que algumas das tribos praticam; bem como destacado pelos sociólogos pelo papel importante que tem como um antídoto para o abuso de álcool.
Esta intrigante charada da etnopsicologia e da história, era pessoalmente relevante para mim, desde que fui um dos pesquisadores psicodélicos que viu os enormes potenciais transformativos das drogas “expansoras da consciência”, como as chamávamos, e estávamos ansiosos para continuar a investigação sobre a sua significância psicológica. Seria justo afirmar que nenhum dos primeiros exploradores neste campo, nos anos 1950 e início dos anos 1960, tinha alguma noção da crise social que estava por vir, nem da veemência da reação jurídico-política. Certamente o Dr. Albert Hofmann, um exemplo de cientista cuidadoso e conservador, testemunhou a sua consternação e preocupação com a proliferação de padrões de abuso de maneira tão pungente daquilo que ele chamou de seu “filho problema” (Sorgenkind). Assim, resultou o estranho paradoxo que as substâncias consideradas como um mal social e um problema de aplicação da lei na cultura dominante é também o sacramento de uma sub-cultura particular dentro dessa sociedade em geral. Partindo de que a cultura dos nativos americanos é bem mais antiga e ecologicamente mais sofisticada que a cultura branca européia que tentou absorvê-la ou eliminá-la, e uma vez que muitos indivíduos sensíveis têm sustentado que devemos aprender com os índios, não exterminá-los, o exame profundo da questão colocada acima poderia levar a algumas conclusões muito interessantes.
Temazcal
Assim, a reação da sociedade dominante era o medo, seguido pela proibição, mesmo sem pesquisas aprofundadas. Nenhuma das três profissões estabelecidas queria estes instrumentos de expansão da consciência, e também não queriam que mais ninguém os obtivesse por livre escolha. A suposição implícita era de que as pessoas eram muito ignorantes e ingênuas para fazer, de forma razoável, escolhas informadas a respeito de como tratar suas doenças, resolver os seus problemas psicológicos, ou praticar a sua religião. Assim, a condição fragmentada de nossa sociedade se reflete de volta para nós através dessas reações. Para os Nativos Americanos, por outro lado, cura, adoração e resolução de problemas são classificados como o mesmo caminho; o caminho do Grande Espírito, o caminho da Mãe Terra, o caminho tradicional. O entendimento integrativo recebido sob as visões do Peiote não é temido, mas aceito e respeitado. Aqui, a suposição implícita é que cada um tem a capacidade, na verdade o dever, de sintonizar-se às fontes espirituais mais elevadas de conhecimento e de cura, e à finalidade da cerimônia, que com ou sem substâncias medicinais, é considerada como um facilitador da tal sintonia.A resposta do quebra-cabeças etnopsicológico se tornou clara para mim somente após eu ter começado a observar e participar de uma série de cerimônias dos índios americanos, como o círculo de cura (healing cicle), a cabana do suor (the sweat lodge), ou a dança dos espíritos (spirit dance), que não envolvia o uso do Peyote. Pude notar o que muitos etnólogos já haviam reportado: que estas cerimônias eram simultaneamente religiosas, medicinais e psicoterapêuticas. A cabana do suor (Temazcal), como o ritual do Peyote, é considerada uma cerimônia sagrada, como forma de adoração ao Criador; também são ambas vistas e praticadas como uma forma de cura física, e são realizadas para resolver problemas psicológicos pessoais e coletivos. Assim, seria natural às tribos que já tomaram Peyote, adicionarem este meio aos outros quais eles já eram familiarizados, como uma cerimônia que expressa e reforça a integração do corpo, da mente e do espírito. Na sociedade branca dominante, em contraste, medicina, psicologia e espiritualidade religiosa, estão separadas por diferenças paradigmáticas aparentemente intransponíveis. As profissões médicas, psicológicas e religiosas e seus grupos criados, cada um separadamente, considerou o fenômeno das drogas psicodélicas e se assustou com as transformações imprevisíveis de percepção e visão de mundo que elas pareciam desencadear.
Psicodélicos como Sacramento ou Recreação
Vários observadores, por exemplo, Andrew Weil (1985), tem chamado atenção para o padrão histórico que, à medida que a sociedade colonial ocidental adotou plantas psicoativas ou outras substancias de culturas nativas (a maioria das quais agora consideradas pertencentes ao “3º mundo”), o padrão de uso desses materiais psicoativos tem se reduzido de sacramental para recrativo. O tabaco era tido como sagrado, uma planta de poder, pelos índios das Américas Do Sul, Central e do Norte (Robiseck 1978); e ainda é sagrado pelos nativos americanos, apesar de na cultura branca ocidental e países influenciados por esta cultura dominante, fumar cigarro ser obviamente recreacional e tem se tornado até um problema de saúde pública. A planta da coca, cultivada e utilizada pelas tribos Andinas, era tratada como divindade – Mama Coca – e valorizada por suas propriedades de manutenção de saúde; a cocaína, por outro lado, é uma droga puramente recreativa e seu uso indiscriminado ainda causa numerosos problemas de saúde. Nessa e em outras instâncias, a dessacralização da planta psicoativa vem sendo acompanhada de criminalização. O Café é outro exemplo: aparentemente descoberto e utilizado pelos Sufi islâmicos, que valorizavam suas propriedades estimulantes para longas noites de oração e meditação, se tornou a bebida recreativa da moda na sociedade européia do século XVII, e foi até banido por um período por ser considerado muito perigoso (cf. Emboden 1972; Weil & Rosen 1983). Mesmo a cannabis, a epítome do “barato recreacional”, é usada por algumas seitas do Tantrismo Hindu como um aplificador da visualização e da meditação.
Uma vez que plantas medicinais, originalmente sacramentais, foram tão rápida e completamente dessacralizadas ao serem adotadas pela cultura cada vez mais materialista do Ocidente, não deveria ser surpresa que recém-descobertos medicamentos psicoativos sintéticos têm sido geralmente muito rapidamente categorizados como recreativos, ou “narcóticos”, ou ambos. Concomitantemente ao uso indiscriminado, excessivo e não sacramental das plantas psicoativas e seus análogos sintetizados, cresceram os padrões de uso abusivo e dependência; previsivelmente, a sociedade estabelecida reagiu com proibições que levaram a atividades de crime organizado. Isto, apesar do fato de que muitos dos descobridores originais dos novos psicodélicos sintéticos, pessoas como Albert Hofmann e Alexander Shulgin, são pessoas de profunda integridade espiritual.Nem eles, nem os esforços dos filósofos como Aldous Huxley e psicólogos como Timothy Leary que advogaram uma respeitosa e sagrada attitude em relação a essas substâncias, foram capazes de evitar a mesma profanação de acontecer.
O recém descoberto MDMA fornece um exemplo instrutivo desse fenômeno. Dois padrões de uso parecem ter se estabelecido durante os anos 70: alguns psicoterapeutas e pessoas inclinadas à espiritualidade começaram a explorar suas possíveis aplicações como adjuvante terapêutico e como um amplificador de prática espiritual; outro grupo muito maior de indivíduos comaçou a utilizá-lo para propósitos puramente recreativos, como droga social comparável em alguns aspectos à cocaína. A disseminação do uso irresponsável desta segunda categoria para um número crescente de pessoas, naturalmente deixou as autoridades fármaco-legais preocupadas, e a reação previsível aconteceu: O MDMA foi classificado como droga de Categoria I nos Estados Unidos, que o coloca no mesmo grupo da heroína, cannabis e o LSD, tornando seu uso ou venda uma ofensa criminosa, e dando um sinal de claros limites aos pesquisadores médicos e farmacêuticos.
Quando Hofmann retornou à xamã mazateca Maria Sabina com a psilocibina sintética objetivando que ela lhe apontasse o quão distante o ingediente sintetizado estava da substância natural, ele estava seguindo o caminho apropriado de reconhecer a primazia do botânico sobre o sintético. O argumento poderia ser feito, e foi feito que, talvez, para cada um dos psicodélicos sintéticos importantes, existe alguma planta natural que tem os mesmos ingredientes e que esta planta é a nossa conexão com o perdido conhecimento mais amplo das culturas indígenas. Talvez isto devesse ser nossa estratégia de pesquisa – achar o hospedeiro botânico para os psicodélicos nascidos no laboratório. No caso do LSD. Pesquisas sobre o uso de sementes de Ipomoea Violacea (Morning Glory) e Argyreia Nervosa (Baby Woodrose) no Havaí, cada uma das quais contém análogos ao LSD, nos permitiria descobrir o complexo xamânico que envolve esta molécula. Se Wasson, Hofmann, e Ruck estiverem corretos em sua perspectiva que alguma bebida similar ao LSD, derivada do ergot (fungo que ataca o centeio), era uma bebida utilizada como sacramento iniciatório em Eleusis, as implicações são profundas (Wasson et al 1978). Utilizando a teoria dos campos morfogenéticos de Rupert Sheldrake, pode-se supor que recriando ou resintetizando uma planta particular, estaríamos reativando o campo morfogenético dos Mistérios de Eleusis, o antigo e mais inspirador ritual místico do mundo.
Não há nenhuma razão intrínseca para que o uso sacramental e uso recreativo de uma substância, com moderação, não possa coexistir. Na verdade, entre os Nativos Americanos, o tabaco eventualmente tem um papel duplo: após o ritual do cachimbo sagrado com tabaco e outras ervas, os participantes as vezes fumam um cigarro pra relaxar. Conhecemos o uso sacramental do vinho no rito da comunhão católica; e certamente conhecemos o uso recreacional do vinho. Conseguimos manter estes dois contextos em separado, e somos capazes de reconhecer quando um uso recreativo de torna uso abusivo e dependência. Pode-se imaginar sofisticação semelhante no desenvolvimento em relação aos vegetais psicoativos. Poderiam ser reconhecidas aplicações sacramentais e terapêuticas; e certos padrões de uso poderiam desenvolver o que fosse de mais lúdico, exploratório, hedonista e ainda pode estar contido dentro de uma estrutura social razoável e aceitável que minimiza danos.
O abuso de uma droga, neste sistema relativamente iluminado, não seria função de quem a usa, ou onde ela se origina, ou se as autoridades médicas a condenam, mas sim nas consequências comportamentais no usuário da droga. Alguém se torna reconhecido como alcoólatra, ou seja, aquele que abusa do álcool, quando suas relações interpessoais e sociais são visivelmente prejudicadas. Não deveria haver dificuldade em estabelecer um critério similar para o abuso de substâncias psicoativas.
Em 1968, em um artigo “Sobre o significado evolutivo dos psicodélicos”, publicado nas principais correntes do pensamento moderno, sugeri que os resultados da investigação LSD nas áreas de psicologia, religião e as artes poderiam ser analisadas no contexto da evolução da consciência: Se o LSD expande a consciência e se, como muito se acredita, a próxima evolução se dará na forma de uma ampliação na consciência, não podemos então olhar para o LSD como um possível instrumento evolucionário?… Temos aqui um dispositivo que, alterando a composição química do meio de processamento de informação cerebro-sensorial, inativa temporariamente os filtros genéticos e culturais, que dominam de forma completamente despercebido nossas percepções habituais do mundo.
Da perspectiva de quase 20 anos de reflexões, eu proponho agora amplificar essa afirmativa em 2 caminhos: (1) a evolução da conciência é um processo de transformação que consiste primeiramente na obtenção de uma intuição e compreensão, ou gnosis; e(2) a aceleração deste processo por meio de moléculas catalisadoras é não só uma consequência das novas tecnologias, mas também um componente integral de sistemas tradicionais de transformação, como o xamanismo, a alquimia e a yoga.
Na pesquisa de psicodélicos, a hipótese do “set & setting”, formulada por Timothy Leary no início dos anos 60, foi aceita pela maioria dos que trabalhavam neste campo. A teoria refere que o conteúdo de uma experiência psicodélica é uma função do conjunto (set: intenção, atitude, personalidade, humor) e a configuração (setting: interpessoal, social e ambiente), e a droga atua como uma espécie de gatilho, ou catalisador, ou amplificador não espécífico, ou sensibilizador. A hipótese pode ser aplicada para a compreensão de qualquer estado de consciência alterado, quando reconhecemos que outros tipos de estímulos podem ser disparadores, por exemplo, a indução hipnótica, a técnica de meditação, o mantra, um som ou música, a respiração, o isolamento sensorial, o movimento, o sexo, paisagens naturais, uma experiência de quase-morte, e assim por diante. Generealizar a hipóteses do set & setting desta forma, nos ajuda a entender as substâncias psicodélicas como uma classe de “gatilhos” dentro de toda uma gama de possíveis catalisadores de estados alterados (Tart 1972; Zinberg 1977).
Um importante e esclarecedor resultado de ter em mente a distinção entre um estado (de consciência) e um traço psicológico; entre mudanças de estado e mudanças de características. Por exemplo, a distinção dos psicólogos entre ansiedade-estado e ansiedade-traço. William James, no seu livro “Varieties of Religious Experience” (1961), discutiu esta questão em termos de saber se uma experiência religiosa ou de conversão levaria necessariamente a mais “santidade”, a traços mais iluminados. Esta distinção é crucial para a avaliação do valor ou significância dos estados alterados induzidos quimicamente. Somente observando ambas as mudanças de estado (visões, insights, sentimentos) e as consequências de longro prazo, ou mudanças comportamentais ou de traço, podemos alcançar uma compreensão abrangente destes fenômenos.
Ter um insight não é o mesmo que ser capaz de aplicar este insight. Não existe conexão inerente entre a experiência mística de unidade e a expressão ou manifestação dessa unidade nos afazeres do dia a dia. Este ponto é provavelmente óbvio, no entanto é frequentemente negligenciada por aqueles que argumentam que, em princípio, uma droga não poderia gerar uma verdadeira experência mística ou desempenhar qualquer papel na vida espiritual. Os fatores internos do “Set”, que incluem a preparação, a expectativa e a intenção, são os determinants de saber se uma determinada experiência é autenticamente religiosa; e de forma igual, a intenção é crucial para saber se estados alterados resultam em mudanças duradouras de personalidade. A intenção é como uma ponte do mundo ordinário, ou a realidade consensual, para o estado de uma consciência mais elevada (de maior estágio de organização); e pode também prover uma ponte deste estado de consciência mais ampla de volta ao estado de realidade ordinária.
Este modelo nos permite entender porque as mesmas drogas são consideradas por alguns, capazes de induzir o nirvana, ou visões religiosas, e para outros (alguém como Charles Manson, por exemplo) podem induzir às violências mais perversas e sádicas. A droga é apenas uma ferramenta, um catalisador, para alcançar certos estados alterados; quais estados alterados, dependerá da intenção. Ainda, mesmo que o estado quimicamente induzido seja benigno e expansivo, se leva ou não a mudanças positivas e duradouras, também é uma questão de intenção, ou mind-set.
Estas drogas, de fato parecem revelar ou liberar algo que está na pessoa; o que é o fator implícito no termo “psicodélico” — mente manifestada. Na minha opinião, o termo “Enteógeno” é uma escolha infeliz, pois sugere que o deus interios, o princípio divino é de alguma forma “gerado” nesses estados. Minhas experiências me levaram a conclusão oposta: o deus interior é o gerador, a fonte de energia da vida, o despertar e o poder de cura. Para aqueles cuja intenção consciente é uma transformação psicoespiritual, o psicodélico pode ser um catalisador que revela e liberta insights ou conhecimentos de aspectos mais elevados do nosso ser. Isto é, creio eu, o que se entende por Gnose, o sagrado conhecimento sobre as realidades espirituais fundamentais do universo em geral e no destino particular de casa indivíduo.
O potencial das substâncias psicodélicas para agir como catalisadores para uma transformação gnóstica,ou para uma consciência contínua direta da realidade divina, mesmo que apenas em um pequeno número de pessoas, parece ser de extrema importância. Tradicionalmente, o número de indivíduos que costumam ter experiências místicas tem sido muito pequeno; o número daqueles que são capazes de realizar aplicações práticas destas experiências provavelmente tem sido ainda menor. Assim, a descoberta de psicodélicos, no sentido de facilitar tais experiências e processos, poderia ser considerado como um fator muito importante para um despertar espiritual geral da consciência humana coletiva. Outros fatores quepoderiam ser mencionados neste contexto são as mudanças de paradigmas revolucionários nas ciências físicas e biológicas, o crescente interesse em filosofias orientais e disciplinas espirituais, e a crescente consciência da unidade multi-cultural da família humana provocada pela rede de comunicações globais.
Psicodélicos nos Sistemas Tradicionais de Transformação
Em meus primeiros escritos, eu enfatizei a novidade das drogas psicodélicas, seus potenciais inimagináveis a serem realizados pela sua aplicação construtiva; e eu pensei neles como primeiro produto de uma nova tecnologia voltada para o espírito humano. Enquanto eu ainda acredito que esses potenciais existem, e que os psicodélicos sintéticos têm um papel a desempenhar na pesquisa da consciência, e talvez na evolução da consciência, minhas opiniões mudaram sob a influência das descobertas e escritos de antropólogos culturais e etnobotânicos, que chamaram a atenção para o papel da alteração da mente, e de elementos botânicos visionários em culturas ao redor do mundo.
Não se pode ler as obras de R. Gordon Wasson sobre os cultos mesoamericanos ao cogumelo (1980), ou o trabalho de Richard E. Schultes e Albert Hofmann (1979) sobre a profusão de alucinógenos nas Américas, ou o trabalho multi cultural de autores como Michael Harner (1973), Joan Halifax (1982), Peter Furst (1976), e Marlene Dobkin de Rios (1984), ou os pesquisadores médicos e psiquiátricos interculturalmente orientados tais como Andrew Weil (1980), Claudio Naranjo (1973), e Stanislav Grof(1985), ou contas pessoais, tais como os escritos de Carlos Castañeda, ou Florinda Donner (1982), ou osirmãosMcKenna (1975), ou a biografia de Bruce Lamb de Manuel Cordova (1971), sem obter um forte senso da difusão da busca de visões, idéias e estados incomuns de consciência; e além disso, o senso que plantas psicoativas são usadas em muitas (mas não todas) culturas xamânicas que perseguem tais estados de consciência.Assim, fui levado para um ponto de vista mais próximo à de culturas aborígenes, uma visão da humanidade em uma relação de co-consciência, comunicação e cooperação com o reinoanimal, o reino vegetal, e o mundo mineral.Em tal visão de mundo, a ingestão de preparados de plantasalucinógenas a fim de obter conhecimento para a cura,para a profecia, para a comunicação com os espíritos, para antecipar perigos,ou para a compreensão do universo,aparece como uma das mais antigas e mais valorizadas tradições.
As várias culturas xamânicas por todo o mundo conhecem uma vasta variedade formas para entrar em realidades não ordinárias. Michael Harner (1980) nos mostrou que a “condução auditiva” com batidas prolongadas de tambor, é talvez uma tecnologia para entrar em estados xamanicos alucinógenos tão difundida quanto a ingestão de substâncias. Em algumas culturas, a hiperventilação rítimica produzida por certos tipos de canto podem ser outra forma de disparador de um estado alterado. O espíritos animais tornam-se guias e aliados na iniciação xamânica. Espíritos das plantas podem se tornar “ajudantes” também mesmo quando a planta não é ingerida pelo médico ou pelo paciente. A fumaça do tabaco é usada com purificador, bem como um suporte para a oração. Cristais são usados para focar energia para visões e para cura. Há sintonia, através da oração e meditação, com divindades e espíritos da terra, as 4 direções, os 4 elementos, o Espírito Criador. Através de muitas e diferentes formas, existe uma busca pelo conhecimento oriundo de outros estados, outros mundos, conhecimento que é usado para melhorar a maneira que nós vivemos neste mundo (através da cura, resoluções de problemas, etc.). O uso de plantas alucinógenas, quando ocorre, é parte de um complexo integrado de inter-relações entre a Natureza, o Espírito e a Consciência Humana.
Assim me parece que, as lições que devemos aprender com essas plantas e drogas expansoras da consciência tem a ver não só com o reconhecimento de outras dimensões da psique humana, mas com uma forma de ver o mundo radicalmente diferente; uma forma de ver o mundo que vem sendo mantida nas crenças, práticas e rituais de culturas xamânicas, e quase completamente esquecidas ou suprimidas pela cultura materialista do século XX. Existe, naturalmente, uma deliciosa ironia no fato de uma substância material ser responsável por despertar uma consciência adormecida de muitos de nossos contemporâneos para a realidade de energias, formas e espíritos não materiais.
Ao discutir a alquimia como o segundo dos três sistemas tradicionais de transformação da consciência mencionei acima, eu gostaria de enfatizar primeiro que temos apenas fragmentos de evidências mínimas de que a ingestão de alucinógenos tenha desempenhado qualquer papel na tradição alquímica Europeia. O uso de alucinógenos de solanáceas na bruxaria européia, que está relacionado tanto a xamanismo e alquimia, foi documentado por Harner (1973:125-130). Assim como, na alquimia taoísta chinesa, o uso de preparados vegetais e minerais para induzir o vôo do espírito e outras formas de estados alterados, foi analisado por Strickmann (1979). Um relato completo do papel dos alucinógenos na alquimia ainda não foi escrito. Possivelmente a nossa ignorância neste campo ainda é uma conseqüência do sigilo intencional por parte dos escritores alquímicos.
Mircea Eliade, em seu livro “The Forge and the Crucible” (1962), fez um forte argumento para a derivação histórica da alquimia dos tempos iniciais dos ritos e práticas da metalurgia, mineração e do forjamento de armas, nas Idades do Bronze e do Ferro. Pode-se argumentar que a alquimia é uma forma de xamanismo: o xamanismo dos que trabalhavam com minerais e metais, os fabricantes de ferramentas e armas. Muitas das preocupações dos alquimistas encontram paralelos em temas xamânicos. A o forte interesse na purificação e na cura, em descobrir ou fazer uma “tintura” ou “elixir” que dará saúde e longevidade. Há visões e encontros com espíritos de animais, alguns claramente de reinos imaginários. Há histórias de visões de figuras divinas ou do semi-divinas geralmente personificadascomo deidades da mitologia clássica. Há o reconhecimento da sacralidade, do espírito que anima, em toda a matéria. E há uma visão de mundo integral, que vê a espiritualidade, a religião, saúde e doenças, seres humanos, o mundo natural e seus elementos, todos inter-relacionados em uma totalidade.
Pode-se objetar que parece não haver equivalêcia entre a jornada xamânica e a alquímica; não há indicação clara de estados alterados de consciência nas quais, visões, poderes ou habilidades de cura são obtidos. Parece para mim que o equivalente na alquimia, à jornada xamânica é o opus, o trabalho, a experiência com suas diversas operações, como solutio, sublimatio, martificatio, e assim por diante. O foco é mais nas mudanças físicas e de personalidade à longo prazo que o inciado na alquimia tem que se submeter, assim como o xamã em treinamento também faz. Os experimentos na alquimia eram considerados como rituais meditativos, durante os quais visões poderiam ser vistas na retorta ou no forno, e mudanças interiores psicofisiológicas de estado eram desencadeadas pela observação de processos químicos.
Além disso, num recente e interessante trabalho, R.J. Stewart (1985) argumentou que na tradição occidental de magia e alquimia, que tem raízes na mitologia e crenças Celtas pré-cristãs, cujos traços ainda podem ser encontrados em baladas folclóricas, canções populares e cantigas de roda, a experiência trasnformadora central era uma viagem ao submundo. Esta iniciação ao submundo, ou outro mundoenvolvia fazer uma jornada para outros “reinos”, onde havia encontros com animais e seres espirituais, a sintonia com a terra e os ancestrais, rituais meditativos centrados em torno do simbolismo da árvore da vida, e outras características e colocam essa tradição claramente no fluxo da antiga tradição xamânica encontrada em todas as partes do globo.
Passando agora pasa a Yoga como o terceiro dos sistemas tradicionais de transformação evolutiva da consciência, não precisamos nos preocupar com a questão de saber se o uso de plantas visionárias é uma forma decadente e degradada de yoga, como Eliade (1958) parece acreditar; ou se o uso de alucinógenos era primário no culto do Soma, da antiga tradição Védica Indiana, como Wasson (1968) propôs. Às vezes, como no último ponto de vista, o corolário é proposto que os métodos de Yoga foram desenvolvidos quando a droga já não estava mais disponível, como uma forma alternativa de alcançar estados similares. Basta dizer que nas tradições do Yoga indiano, em particular nos ensinamentos do Tantra, temos um sistema de práticas para provocar uma transformação da consciência com muitos paralelos nas idéias xamânicas e alquímicas.
O uso de alucinógenos, como adjuvante das práticas de Yoga é conhecido até hoje na Índia, entre certas seitas Shivaite em particular, (Aldrich 1977). As escolas e seitas que não utilizam drogas tendem a considerer aquelas que usam como decadentes, como pertencentes assim chamado “caminho da mão esquerda” do Tantra, que também incorpora rituais de comida e de sexo (maithuna) como aspectos válidos do caminho da yoga. Sob a influência do ocultismo ocidental do século XIX e as idéias teosóficas, esse caminho do lado esquerdo tende a ser equiparado a “magia negra” ou a “feitiçaria”. Na realidade, a desinação “caminho da mão esquerda” deriva do princípio iogue que o lado esquerdo do corpo é o lado receptivo feminino, e assim, o caminho da esquerda é o caminho daqueles que adoram a Deusa (Shakti), como os tântricos fazem, e incorporam o corpo, o prazer dos sentidos, a nutrição e a sexualidade em seu Yoga. Assim, como no xamanismo e de alquimia, encontramos aqui uma vertente da tradição que envolve respeito e devoção ao princípio feminino, a deusa-mãe, a terra e seus frutos, o corpo de carne e sangue, e a busca de estados visionários extáticos.
É verdade que as tradições do Yoga indiano parecem não ter a mesma preocupação com o mundo natural dos animais, cristais e plantas, como é encontrado no xamanismo e de alquimia. A ênfase aqui, é mais em vários estados internos e sutis de consciência. No entanto, existem paralelos interessantes entre as três tradições. Uma energia de luz/fogo interior em diferentes centros e orgãos do corpo, como praticadas na Yoga Agni e na Kundalini, é similar à pratica alquímica da purificação pelo fogo, e às noções xamânicas de encher o corpo de luz (Metzner 1971, 1986). A tradição alquímica tântrica Indiana possui o conceito de rasa, que se assemelha ao coneito europeu de “tintura” ou “elixir”. Rasa tem significados internos — sentimento, humor, “alma”, e referents externos — essência, sumo, líquido. Rasayano era o caminho do Rasa., o caminho fluido da energia, que envolve tanto as essencias externa e internas.[1] Como um terceiro paralelo, só vou mencionar o sistema budista tibetano Vajrayana, que é uma fusão notável de idéias budistas tântricas com o original xamanismo Bon dos tibetanos: um sistema onde os vários espíritos animais e demônios dos xamãs e feiticeiros se transformaram em personificações de princípios budistas e guardiões do dharma (Govinda 1960).
Conclusões
Parece incontestável que alucinógenos desempenharam algum papel, de forma imprevisível, nas tradições transformativas do xamanismo, alquimia e yoga. Se considerarmos a psicoterapia como um morderno descendente destes sistemas tradicionais, cooperativamente, de forma controlada, a aplicação de alucinógenos poderia ser usada em muitos aspectos da psicoterapia. E isso de fato já aconteceu, como os vários estudos de psicodélicos em casos de alcoolismo, cancer terminal, neurose obssessiva, depressão e outras condições testemuhadas (Grof 1985; Grinspoon e Bakalar 1979). Parece provável que estes tipos de aplicações de psicodélicos como coadjuvantes para a psicoterapia vão continuar, se não com o LSD e outras drogas de Categoria I, com outros mais novos e talvez mais seguros psicodélicos.
O que parece improvável para mim é que este tipo de aplicação psiquiátrica controlada nunca será suficiente para satisfazer as inclinações e as necessidades daqueles indivíduos que desejam explorar os psicodélicos no seu papel mais antigo, como ferramentas de busca para estados visionários e formas ocultas de conhecimento. O fato de o uso sério de alucinógenos, fora do quadro psiquiátrico, continuar apesar das suas graves sanções legais e sociais, sugere que este é um tipo de liberdade individual que não vai ser fácil de abolir. Sugere também que há uma necessidade forte, em certas pessoas, de restabelecer suas conexões com antigas tradições de conhecimento em que estados visionários de consciência e exploração de outras realidades, com ou sem alucinógenos, eram a preocupação central.
Pode ser que tal caminho seja sempre perseguido apenas por um número muito limitado de pessoas, tanto quanto as iniciações e práticas xamânicas, alquímicas e de yoga era seguidas por poucos indivíduos em cada sociedade. Acho que é um sinal de esperança que alguns, mesmo que poucos, estejam dispostos a explorar como se reconectar com essas fontes perdidas de conhecimento porque, como muitos outros, eu sinto que nossa sociedade material-tecnológica, com sua fragmentada visão de mundo, em grande parte perdeu-se em seu caminho, e não pode se dar ao luxo de ignorar as possíveis ajudas para um maior conhecimento da mente humana. O quadro ecologicamente equilibrado e humanisticamente integrado de entendimento que as tradições antigas certamente tem a nos oferecer.
Além disso, é muito claro que as visões e insights dos indivíduos que buscam estes caminhos são visões para o presente e para o futuro, não apenas de interesse historico ou antropológico. Este sempre foi o padrão: o indivíduo busca uma visão para compreender o seu lugar, ou seu destino, como um membro da comunidade. O conhecimento derivado dos estados alterados tem sido, podem ser, e precisam ser aplicados para a solução dos problemas de escalonamento que confrontam as nossas espécies. É por isso que as descobertas de Albert Hofmann tem imensa importância – para a compreensão do nosso passado, para a consciência da nossa presença, e o salvo-conduto do nosso futuro. Pois, nas palavras da Bíblia: “Onde não há visão, o povo perece.”
Nota de rodapé
1. Pode-se dizer que os processos fisico-químicos do rasayana servem como o veículo para operações psíquicas e espirituais. O elixir obtido pela alquimia corresponde à “imortalidade” perseguida pela Yoga Tantrica (Eliade 1958 283).
…
Ralph Metzner Ph.D. é um psicólogo alemão, escritor e pesquisador, tendo participado das pesquisas de psicodélicos na Universidade de Harvard no início dos 60 com Timothy Leary e Richard Alpert (Ram Dass). Dr. Metzner é um psicoterapeuta, e professor emérito de Psicologia no California Institute of Integral Studies em São Francisco, onde já foi vice presidente acadêmico.
PARA PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE MINNESOTA, PLANTAS ALUCINÓGENAS OFERECEM MAIS DO QUE O OLHO PODE VER
4 de Junho, 2013
Traduzido do texto original de Dan Olson,
Minnesota Public Radio (Fonte)
Dennis McKenna, etnofarmacologista e professor do Centro para a Espiritualidade e Cura da Universidade de Minnesota, Viajou para a Amazônia mais de uma dúzia de vezes para estudar to Plantas alucinógenas e medicinais. Fotografado aqui examindando a psychotria viridis (Chacrona) a planta da ayahuasca que contém DMT, na estufa do campus St. Paul em Minn. Segunda feira, 3 de Junho, 2013. (MPR Foto/Jeffrey Thompson)
ST. PAUL, Minnesota. — Para o olho destreinado, uma certa estufa de plantas no campus St. Paul da Universidade de Minnesota, pode não parecer nada especial, mas Dennis McKenna, um etnofarmacologista, vê muito além do que isso.
Algumas podem curar doenças, como a pervinca de Madagascar. “Ela é a fonte de dois remédios muito importantes para tratar a leucemia infantil“, disse McKenna. Outras plantas da estufa são a fonte de substâncias psicodélicas que alguns cientistas afirmam ter poder terapêutico.
McKenna, que leciona no na Universidade no Centro para a Espiritualidade e a Cura, é uma autoridade em alucinógenos derivados de plantas como a Ayahuasca, o chá feito na bacia amazônica da América do Sul e usado como parte de cerimônias religiosas. – “São usadas para buscar informações no mundo do espírito sobre as doenças e sobre que planta pode ser apropriada para usar em um paciente que está doente” diz o cientista.
Dennis McKenna veio para Minnesota 20 anos atrás para trabalhar na Aveda, a famosa companhia de utilização de plantas para produtos de cuidados pessoais. Além de seu trabalho na universidade, ele ensina no Peru e colabora com grupos de pesquisa sem fins lucrativos que investigam os usos terapêuticos dos psicodélicos.
EXPERIÊNCIA EM PRIMEIRA MÃO
Aos 16, em sua pequena cidade natal no Colorado, Dennis e um amigo ingeriram sementes de Datura porque ouviram falar que teria algum efeito sobre eles. Esse “algum efeito” se transformou em uma experiência psicodélica de 3 dias que ele confessa ter sido bastante desagradável. – “Especialmente para nossas mães que não sabiam o que estava acontecendo”, disse o professor.
McKenna teve sua primeira experiência com a Ayahuasca em 1991, em uma igreja no Brasil. Ele e centenas de outros se sentaram em um templo circular, enquanto um homem distribuía copos de papel com o que ele chamou de “Líquido marrom de gosto horrível“. Uma hora e duas doses mais tarde, ele disse que sentiu a força da Ayahuasca passar através dele como se estivesse subindo em um elevador de alta velocidade. Dennis disse que se sentiu energizado e estava lúcido e consciente como uma combinação de força e iluminação.
A primeira parte de sua experiência visionária foi de um ponto de vista de milhares de quilômetros ao longo da bacia amazônica, onde podia ver a curvatura da terra e redemoinhos de nuvens. No centro, havia uma enorme videira ancorada à terra lá embaixo.
Ele estava impressionado. Na parte seguinte da visão, ele foi transportado do espaço para debaixo da terra, como uma molécula de água perdida entre as fibras da raiz, onde se podia sentir a temperatura fria do solo. Então ele sentiu o que descreve como uma força osmótica que o espremia no sistema vascular da planta, flutuando, suspenso em um fluxo por um túnel abobadado, com uma luz verde no final, até chegar à folha.
No final ele disse que foi sacudido com uma sensação de tristeza esmagadora misturada com um profundo temor pelo delicado equilíbrio da vida no planeta, os processos frágeis que impulsionam e sustentam a vida. McKenna disse que chorou, sentiu tristeza, fúria e uma raiva direcionada para a nossa voraz espécie destrutiva, pouco consciente do próprio poder devastador.
Ele se lembra de uma voz calma que lhe dizia: “Você macacos só pensam em executar as coisas. Vocês nunca pensam que somos nós que permitimos isso acontecer“.
Ele interpretou a voz como sendo de toda a comunidade de espécies que constituem a biosfera do planeta. Ao fim da visão, que McKenna diz ter durado por volta de 20 minutes e incluiu emoções do desespero ao êxtase, uma sensação de alívio temperada com esperança tomou conta dele.
POUCOS ESTUDOS SOBRE OS EFEITOS
Sua primeira experiência alucinógena com ayahuasca reforçou a sua compreensão intelectual do funcionamento interno das plantas. – “Foi-me dado um assento na primeira fileira do interior da planta, e começei a observar o processo de fotossíntese“. – disse o professor.
Os estudos com psicodélicos foram atrasados no final dos anos 1960 e início de 1970 quando o Congresso e o presidente Richard Nixon aprovaram a legislação que proibiu o uso de alucinógenos, o que fechou a porta para maioria das pesquisas. Porém, McKenna disse que alguns estudos parecem mostrar que a psilocibina, substância encontrada em uma espécie de cogumelo, ajuda a aliviar a ansiedade em pessoas com doenças terminais. Ele argumenta que pode ajudar o paciente a ter uma nova perspectiva sobre a morte. – ” ‘Sim, eu sei que estou morrendo, mas eu estou vivo agora e o que eu quero fazer é viver cada dia ao máximo‘ “.
McKenna disse também que outro psicodélico parece ajudar alguns alcoólatras e fumantes quebrar seus vícios e pode ajudar pessoas que sofrem de estresse pós-traumático lidar com a vida. – “Há uma dimensão espiritual para a cura. A medicina convencional fica meio desconfortável com esse conceito. É por isso que os psicodélicos são tão importantes. Eles podem trabalhar nessa interface entre farmacologia e espiritualidade“, argumentou o cientista. Segundo ele, menos de 10 por cento das plantas do mundo têm sido pesquisados para possíveis usos medicinais.
Entrevista na íntegra (em inglês) para a Minnesota Public Radio