The Soul-Searchers – Alan Watts (traduzido)

Um trecho de In My Own Way: Uma Autobiografia, 1915-1965
© 1972 por Alan Watts. Pantheon Books

Traduzido do original em inglês @ Psychedelic-library.org

 

The Soul-Searchers

Retornando a América [em 1958] eu fui apresentado à aventuras psiquiátricas de um tipo muito diferente. Aldous Huxley tinha recentemente publicado “As portas da perceção” sobre seus experimentos com mescalina, e havia por essa época ido à exploração dos mistérios do LSD. Gerald Heard havia se juntado a ele nessas investigações, e em minhas conversas com eles eu percebi uma evidente mudança de atitude espiritual. Em síntese, eles haviam deixado de ser Maniqueístas. Sua visão de divino agora incluía a natureza, e eles se tornaram mais relaxados e humanos, então eu peguei falando a eles sobre minha própria persuasão. No entanto, pareceu-me altamente improvável que uma verdadeira experiência espiritual pudesse se dar pela ingestão de alguma química particular. Visões e êxtase, sim. Um pouquinho do sabor místico, como nadar com bóias nos braços, talvez. E talvez um novo despertar para alguém que tenha feito a jornada antes, ou um insight de uma pessoa experiente na Yoga ou o Zen.

No entanto, nesses “planos interiores” eu sou de uma natureza aventureira, e sou disposto a testar a maioria das coisas. Ambos, Aldous e meu ex-aluno na Academia, o matemático John Whittelsey, mantinham contato com Keith Ditman, psiquiatra encarregado da pesquisa do LSD no departamento de neuropsiquiatria da Universidade de Los Angeles. John estava trabalhando com ele como estatístico em um projeto elaborado para testar os efeitos da droga em dependentes do álcool e para mapear seus efeitos no organismo humano. Como muitos de seus tópicos relatavam estados de consciência que poderiam ser lidos como relatos de experiências místicas, eles estavam interessados em testar em “experts” do campo, apesar de um místico nunca ser realmente especialista da mesma forma que um neurologista ou um filólogo, por seu trabalho não ser uma catalogação de objetos. Mas eu me qualificava como um perito na medida em que eu também tinha um conhecimento considerável intelectual da psicologia e da filosofia da religião: um conhecimento que, posteriormente, me protegeu dos aspectos mais perigosos desta aventura, me garantindo um compasso e algo como um mapa neste território indomável. Ademais eu confiei em Keith Ditman. Ele não estava com medo, como muitos Jungianos, do inconsciente. Não foi imprudente, mas parecia frio, cauteloso, comedido nas opiniões, porém vivo, com olhos brilhantes e intensamente interessado em seu trabalho.

Fizemos então uma experiência inicial no escritório de Keith em Bervely Hills no qual eu estava acompanhado por Edwin Halsey, ex-secretário privado de Ananda Coomaraswamy, então ensinando religiões comparativas em Claremont. Cada um de nós tomou 100 microgramas de dietilamida do ácido lisérgico 25, cortesia da companhia Sandoz, e partimos em uma exploração de 8 horas. Para mim a viagem foi hilariamente linda, como se eu e todas as minhas percepções tivessem se transformado em um maravilhoso arabesco ou um labirinto multidimensional, onde cada coisa se tornou transparente, translúcida e reverberante com duplos ou triplos significados. Cada detalhe da percepção se tornou vívido e importante, cada “Ums” e “Ers” e pigarros quando alguém lia uma poesia, e o tempo parou de uma forma que as pessoas lá fora correndo em seus trabalhos pareciam deficientes em perceber que o destino da vida é este eterno momento. Atravessamos a rua para uma igreja branca de estilo espanhol, rodeada de oliveiras e brilhando ao sol contra um céu de absoluto azul primordial, e vimos a grama e as plantas inexplicavelmente geométricas em cada detalhe, como que sugerindo que nada na natureza era desordenado. Nós voltamos e olhamos para um volume de Sumi Japonês e Chinês, pinturas com tinta preta, todas pareciam fotografias perfeitamente precisas. Havia até mesmo luzes e sombras nos caquis de Mu-ch’i que certamente não foram destinados pelo artista. Em um momento, Edwin sentiu-se um pouco sobrecarregado e comentou: “Mal posso esperar para voltar a ser meu pequeno e velho eu novamente, sentado em um bar.” Entretanto, ele estava olhando como uma encarnação de Apollo com uma gravata sobrenatural, contemplativamente segurando um lírio laranja. (1)

De um modo geral minha primeira experiência estava um tanto mais estética do que mísica, e aí então, o que infelizmente é bastante característico de mim, eu fiz um vídeo para transmissão dizendo que eu havia olhado para este fenômeno e o achei muito interessante, mas dificilmente algo que eu chamaria de místico. Esta fita foi ouvida por dois psiquiatras na Clínica Langley-Porter, em San Francisco, Sterling Bunnell e Michael Agron, que acharam que eu deveria reconsiderar a minha opinião. Afinal eu tinha feito apenas um experimento e havia algo como uma arte para fazê-lo realmente dar certo. Foi então que Bunnell me pôs em uma série de experiências que eu registrei em “The Joyous Cosmology”, e no decurso da qual fui relutantemente forçado a admitir que – pelo menos no meu caso – o LSD tinha me levado inegavelmente um estado místico de consciência. Mas, estranhamente, considerando a minha absorção no Zen na época, o sabor dessas experiências era hindu, em vez de chinês. De alguma forma a atmosfera da mitologia e do imaginário hindu tomou conta, sugerindo ao mesmo tempo que, a filosofia hindu era uma forma local de um tipo oculto de conhecimento, inconcebivelmente antigo, que todos conhecemos nos bastidores de nossa mente mas não admitimos. O conhecimento era simultaneamente santo e de má reputação, e portanto, necessariamente esotéricos, e ele veio vestido de um sentido totalmente lógico, óbvio, e de base comum.

Em suma, eu diria que o LSD e outras substâncias psicodélicas, tais como a mescalina, psilocibina, e haxixe, podem conferir uma visão polar; quero dizer com isso que os pares de base de opostos, o positivo e o negativo, são vistos como os diferentes pólos de um único ímã ou circuito. Este conhecimento é reprimido em qualquer cultura que acentua o positivo, sendo assim um tabu rigoroso. Carrega a psicologia da Gestalt que insiste sobre a interdependência mútua da figura e do fundo, a sua conclusão lógica em cada aspecto da vida e do pensamento. De modo que o voluntário e o involuntário, conhecedor e conhecido, o nascimento e a morte, o bem e o mal, o outline e o inline, o eu e o outro, o sólido e o espaço, o movimento e o descanso, a luz e as trevas, são vistos como aspectos de um processo único e completamente perfeito. A implicação disso pode ser que não há nada na vida para ser adquirido ou atingido que não seja aqui e agora, uma implicação profundamente perturbadora para qualquer filosofia ou cultura que joga seriamente o jogo que eu chamo de “O Branco Deve Vencer”.

A visão polar é inegavelmente perigosa, mas assim é a eletricidade, as facas, e assim é a linguagem. Quando uma pessoa imatura experimenta a identidade do voluntário e involuntário, ela pode sentir-se, por um lado, totalmente impotente, e por de outro, igual ao Deus hebraico-cristão. Primeiramente, ele poderia entrar em pânico a partir da percepção de que ninguém está no comando das coisas. Posteriormente, ele pode contrair uma megalomania ofensiva. Não obstante ele haveria tido a experiência direta do fato que cada um de nós é um organismo-ambiente, dos quais os dois aspectos, indivíduo e mundo podem ser separados somente para propósitos de discussão. Se uma pessoa assim vê claramente a mutualidade do bem e do mal, ele pode saltar para a conclusão de que os princípios éticos são tão relativos quanto sem validade – o que pode ser desmoralizante para qualquer adolescente reprimido. Felizmente para mim, meu deus não é tanto o autocrata hebraico-cristão, estava mais para o TAO chinês, “que ama e nutre todas as coisas e não exerce senhorio sobre elas.”

Hesitei por muito tempo em escrever “The Joyous Cosmology” considerando os perigos de levar o público geral a um conhecimento maior desta potente alquimia. Mas desde que Aldous havia tirado o gato do saco em “As Portas da Percepção” e “Céu e Inferno”, e o tema já estava em discussão tanto em revistas psiquiátricas como na imprensa pública. Eu decidi que algo mais precisava ser dito, principalmente para acalmar o alarde público e para fazer o que eu pudesse para evitar os desastres que dariam sequência à repressão legal. Porque eu estava seriamente preocupado com os equivalentes psicodélicos do gim de banheira e com a perspectiva destes produtos químicos, descontrolados na dosagem e no teor, sendo contrabandeados para uso em ambientes inadequados, sem qualquer supervisão competente. Eu sustento que, por falta de melhor solução, deve ser restrito para prescrição psiquiátrica. Mas os governos estadual e federal eram tão estúpidos quanto eu temia, e pela aprovação de leis inaplicáveis contra o LSD, não só o dirigiu ao undeground, como impediu a investigação científica adequada. Tais leis são inaplicáveis porque qualquer químico competente pode fabricar LSD, ou um equivalente próximo, e a substância pode ser disfarçada em qualquer coisa, de aspirina a blloting-paper. Já foi pintado nas páginas finas de uma pequena Bíblia, e comido folha por folha. Mas por resultado deste terror, o uso indiscriminado do LSD (muitas vezes misturado com estricnina ou beladona, ou psicodélicos de igual periculosidade) afligiram incontáveis jovens com sintomas megalomaníacos, paranóicos, e esquizóides.

Eu vejo esse desastre no contexto mais amplo do proibicionismo americano, que fez mais do que qualquer outra coisa para corromper a polícia e promover o desrespeito à lei, e que graças a nossa pressão econômica, especialmente no problema de abuso drogas, se espalhou pelo mundo. Embora minha visão sobre esse assunto possa ser considerada extrema, eu sinto que em qualquer sociedade onde os poderes do Estado e Igreja são separados, o Estado não tem qualquer direito ou sabedoria na aplicação das leis sumptuárias contra os crimes que não têm qualquer queixa ou vítimas. Quando ordenaram aos policiais serem clérigos armados e aplicar códigos eclesiásticos da moralidade, todos os pecados proibidos da carne, da luxúria e do luxo, tornam-se — uma vez que estamos a legislar contra a natureza humana — empreendimentos extremamente rentáveis para as organizações criminosas que podem pagar tanto a polícia quanto os políticos para ficarem fora do problema. Aqueles que não podem pagar constituem cerca de um terço da população de nossas prisões superlotadas e desesperançosamente mal administradas, e as negociatas de seus julgamentos, por seus devidos processos legais, atrasam e aumentam os custos sobre os tribunais além de qualquer sentido. Estes são crimes nomogênicos, causados por más leis, assim como doenças iatrogênicas são causados pelo mal exercício da medicina. Os criminosos raramente sentem-se culpados, e muitas vezes sentem-se positivamente corretos em sua oposição a esta hipocrisia legal, e então saem da prisão rejeitando e desprezando a ordem social mais do que nunca.

Eu falo com paixão sobre este problema porque servi muitas vezes como consultor para o pessoal das instituições do Estado para desviantes mentais e morais, como os infernos institucionais que o Estado da Califórnia, mantém em San Quentin, Vacaville, Atascadero, e Napa — para citar apenas aqueles que visitei, e sabendo que são consideravelmente mais graves em outras partes do país, e mais especialmente nos estados que sofrem com o fanatismo religioso. Em relação ao nosso tempo, a repressão pelas leis sumptuárias é tão tirânica como qualquer um dos excessos da Santa Inquisição ou a Câmara da Estrela.

Minha atitude em retrospecto ao LSD é que, quando um recebe a mensagem, o outro desliga o telefone. Acho que aprendi com ele tanto quanto pude e, para meu próprio bem, não ficaria triste se não pudesse usá-lo novamente um dia. Mas não é assim. É do conhecimento geral que muitas das pessoas que tiveram experiências construtivas com LSD, ou outros psicodélicos, transformaram-nas de drogas em disciplinas espirituais — abandonando suas bóias de braços e aprendendo a nadar. Sem a experiência catalítica da droga eles poderiam nunca ter chegado a este ponto, e, assim, o meu sentimento sobre as químicas psicodélicas, assim como a maioria das outras drogas (Apesar do sentido vago da palavra), é que elas devem servir de remédio ao invés de dieta.

Foi novamente através de Aldous que ouvi pela primeira vez sobre um tal de Dr. Leary, da Universidade de Harvard, que estava fazendo um trabalho experimental com a psilocibina, derivada de um cogumelo que tinha um antigo uso com propósitos religiosos por alguns nativos mexicanos. A partir dos singulares e eruditos escritos de Aldous sobre o presente trabalho, eu estava esperando que Timothy Leary fosse um formidável guru, mas o homem que eu conheci em um restaurante de Nova York foi um irlandês extremamente charmoso, que usava um aparelho auditivo de forma tão elegante como se estivesse usando um monóculo. Nada poderia me dizer que alguém tão simpático e inteligente se tornaria uma das pessoas mais ilegais do mundo, um fugitivo da justiça, carregando o pecado de Sócrates, e tudo sob o pretexto legal de possuir uma quantidade trivial de maconha.

Acontece que Timothy estava trabalhando em um departamento da Universidade que há muito tempo me interessava, o Departamento de Relações Sociais, que havia sido fundado por Henry Murray. Em várias ocasiões visitei os domínios de Murray, na 7 Divinity Avenue, e fui entretido em almoços onde, como anfitrião, ele mostrou um talento especial para despertar conversas inteligentes e para fazer as outras pessoas apresentarem o seu melhor. Em sua companhia ficariam entusiasmados — possivelmente — I. A. Richards, Mircea Eliade, Clyde Kluckhon, ou Jerome Bruner, pois um discurso tão civilizado e intelectual como esse, é muito raramente ouvido nos círculos acadêmicos, onde parece agora um ponto de honra para manter-se fora de um assunto e discutir as trivialidades da política departamental. Mas estes cavalheiros não se envergonhavam de seu conhecimento, nem sua personalidade, e em uma ocasião — em um antiquado pré-almoço — Ouvi distintamente Richards comentando: “Bem, naturalmente, eu sempre me considero o ser humano perfeito”. Eu estava tão encantado com o ambiente de Murray que, com a ajuda de um amigo rico, eu consegui uma bolsa de dois anos para viajar e estudar sob a sua dispensa e da Universidade — um respiro que me deu tempo para compilar “The two hands os God” e para escrever “Beyond Theology”.

O tempo que eu pude realmente gastar em Harvard foi muito breve, por ser esta uma universidade com uma reputação intelectual tão definida, que suas faculdades se dão ao luxo de serem aventureiras. Mas – mesmo em Harvard – deve–se andar linha em alguns momentos, e Timothy não sabia onde estava essa linha. Sempre que eu estava em Cambridge, eu mantinha um contato próximo com ele e com seus companheiros Richard Alpert e Ralph Metzner, e estes – muito além do fascínio especial do misticismo químico – eram as pessoas mais animadas e criativas do departamento que não seja o próprio Murray, que viu as suas obras com interesse profundo e crítica construtiva, mesmo após sua aposentadoria oficial.

Eu estava também interessado no trabalho de B. F. Skinner, me questionando como um determinista poderia escrever de forma tão absoluta uma utopia, Walden Two, e me aprofundando em seus maravilhosos e bem fundamentados escritos, descobri a falha em seu sistema. Isso eu expliquei em uma palestra que Skinner, embora eu tivesse avisado ele em pessoa, não compareceu.(2) Eu vi que seu raciocínio ainda era assombrado pelo fantasma do homem como uma coisa, presumivelmente um ego consciente, determinada por forças ambientais e outras, por isso não faz sentido falar de um determinismo a menos que haja algum objeto passivo, que é determinado. Mas o seu próprio raciocínio tornou isso claro, não tanto que o comportamento humano fosse determinado por outras forças, mas que não podia ser descrita com distinta das forças e foi, na verdade, inseparável deles. Não parece ter ocorrido a ele que “causa” e “efeito” são apenas duas fases, ou duas maneiras de olhar um mesmo evento. Não é, então, que os efeitos (neste caso, os comportamentos humanos) são determinados por suas causas. A questão é que quando os eventos são total e devidamente descritos, eles se encontram envolvidos e contidos em processos que seriam a primeira vista separados deles, e assim foram chamadas “causas” como distintas de “efeitos”. Levado à sua conclusão lógica, Skinner não está dizendo que o homem é determinado pela natureza, como algo externo a ele: ele está na verdade dizendo que o homem é natureza, e está descrevendo um processo que não é nem determinado nem determinante. Ele simplesmente fornece motivo para a visão essencialmente mística que o homem e o universo são inseparáveis.

Alguns problemas foram envolvidos em minhas tentativas de elaborar uma estrutura intelectual para o que Timothy e seus amigos estavam enfrentando em seus estados de consciência psicodélica. Tanto seu entusiasmo por esses estados foi levando-os cada vez mais longe dos ideais de objetividade racional que o departamento e a universidade estavam se comprometendo; tanto mais que o departamento havia adquirido recentemente um computador e estava estrapolando a abordagem estatística para a psicologia. Por um lado, eu estava tentando convencer clã de Timothy, a manter o comando do rigor intelectual, e para expressar suas experiências em termos científicos que as pessoas entenderiam. Por outro lado eu estava sendo tão conservador quanto David McClelland, sucessor de Murray e Skinner para ver que a chamada descrição “transacional” do homem como um organismo-ambiente foi uma descrição teórica do que a natureza-mística experimenta diretamente, considerando que a maioria dos cientistas continua a se sentir como observadores separados e independente, determinados ou outra coisa. Seus sentimentos estão muito aquém de seus pontos de vista teóricos. Os psicólogos, em particular, estão ainda sob a influência emocional da mecânica newtoniana, e seus sentimentos pessoais de identidade ainda não foram modificados pela mecânica quântica e da teoria do campo.

Mas Timothy não podia se conter, e parecia-lhe cada vez mais que, na prática, os procedimentos de objetividade e rigor científico eram simplesmente um ritual acadêmico projetado para convencer a instituição universitária que seu trabalho era maçante e banal o suficiente para ser considerado “de confiança.” Acontece que as químicas psicodélicas podem te fazer curiosamente sensível à pomposidade. Qualquer um falando “memorandês”, ou em retórica política ou religiosa, ou alguém bajulando entusiasmadamente um produto no qual não acredita, soa tão ridículo que você não consegue manter uma cara séria: eis um excelente motivo porque o governo não tolera uma população “ligadona”. Tanto Richard Alpert como Timothy começaram a ver, ainda, que uma distinta carreira acadêmica não era tão importante assim, pois a universidade já era uma instituição obsoleta representando a mitologia do século XIX, do naturalismo científico. Mas quando se chega a este ponto de vista posterior, se não por causa de “drogas”, torna-se impossível manter o diálogo racional com o estabelecimento, apesar de alguns dos seus mais distintos cérebros serem conservados em álcool. Assim, as coisas chegaram a tal ponto que Timothy e Richard eram tão suspeitos como se tivessem sido lobotomizados ou se convertido a Testemunhas de Jeová.

Eu estava presente no jantar em que Timothy finalmente concordou com David McClelland para retirar a experimentação de drogas de seu trabalho no âmbito do departamento. David sustentava que eles haviam se tornado entusiásticos demais com seu trabalho para preservar a integridade científica, e com isso eu estava em acordo parcial, porque para ser intelectualmente honesto você deve ser capaz de chegar a um acordo com qualquer crítica inteligível de suas idéias. Quando recebi inspirações durante uma sessão de LSD, eu sempre busquei analisá-las posteriormente à luz da sobriedade fria, onde que alguns poucos, não todos, pareciam nonsense. Mas Davi estava indo tão longe a ponto de insistir que ninguém com um compromisso religioso poderia realmente fazer um trabalho científico de psicologia, e isto me espantou tanto que protestei, “Agora, David, você está seriamente dizendo que, um Quaker, por exemplo, sóbrio, honesto e dedicado, bem-educado e direto da Filadélfia, não poderia ser confiado ao trabalho científico?” Não me lembro de sua reação, mas eu estava inconsciente naquele momento em que ele mesmo era um Quaker interessado.

O que seguiu agora é história. Timotthy e Richard continuaram suas experiências extra-oficialmente, e escandalizaram as autoridades da universidade ao incluírem alunos de graduação em seus trabalhos. Henry Murray, no entanto, com um olhar inteligente em seu rosto, recordava sobre os dias em que a psicanálise chegou à Harvard, e que um clamor de indignação havia acontecido quando um membro psicoanalisado do corpo docente cometera suicídio. No entanto, eu mesmo comecei a me interessar, suavemente, pelo entusiasmo de Timothy, que para o seu próprio círculo de amigos e alunos, havia se tornado um carismático líder religioso que, bem treinado como ele era em psicologia, sabia muito pouco sobre religião e misticismo e suas armadilhas. Um aventureiro psicodélico não instruído, seja com o Zen ou Yoga ou qualquer outra disciplina mística, é uma vítima fácil do que Jung chama de “inflação”, da megalomania messiânica que vem de um sub-entendimento da experiência da união com Deus. Isso leva a cometer o erro inicial de dar pérolas aos porcos, e, conforme o tempo passou, fiquei consternado ao ver Timothy convertendo-se em um popular messias com o seu nome nas luzes, defendendo a experiência psicodélica como uma religião do novo mundo. Ele estava se movendo a uma colisão frontal com as religiões estabelecidas da teocracia bíblica e mecanismo científico, e simplesmente implorando por seu martírio.

A vida com Timothy, como eu vi em suas comunidades, em Newton Center e Millbrook, nunca foi maçante, embora fosse difícil de entender como as pessoas que testemunharam os esplendores da visão psicodélica poderiam ser tão esteticamente cegos a viver em relativa miséria, com camas perpetuamente desarrumadas, pisos por varrer e mobiliário medonho e decrépito. Poderia ser, suponho eu, que “estar ligado” o tempo todo é como olhar através de um caleidoscópio: traz padrões muito mais interessante da bagunça (como cinzeiros sujos) do que de cenas em ordem como livros ordenadamente dispostos em prateleiras. Mas Timothy era o centro de um vórtice que puxou para dentro aventureiros intelectuais e espirituais de todos os quartos, e em seu grupo, estudantes hippies se amontoavam com milionários e eminentes professores, que para passar uma noite com ele em Nova York ou Los Angeles eram varridos de um suntuoso apartamento exótico para outro.

Através de tudo isso, Timothy manteve-se, essencialmente, bem humorado, gentil, amável, e (em alguns sentidos) uma pessoa intelectualmente brilhante e, portanto, era totalmente incongruente – porém previsível – tornar-se consciente da vigilância implacável da polícia nos bastidores. Agora, nada tão facilmente perturba as pessoas usando psicodélicos como uma atmosfera de paranóia, de modo que, pela sua intervenção, o polícia criou males muito maiores do que sua suposta função de nos proteger. Nos princípio, quando o LSD, a psilocibina, a mescalina foram utilizados mais ou menos legitimamente entre pessoas razoavelmente maduras, houve poucos problemas com viagens ruins, e episódios de ansiedade geralmente se transformavam em ocasiões de introspecção. Mas quando as autoridades federais e estaduais começaram a perseguição sistemática, os medos invocados para justificá-la tornaram-se auto-profecias, e agora havia razão real para uma atmosfera de paranóia em todos os experimentos realizados fora do ambiente estéril e clínicos de hospitais psiquiátricos. Embora Timothy tivesse ganho um caso na Suprema Corte que, tecnicamente, anulou a lei federal contra a posse e uso (mas não contra a importação) de maconha, as leis do estado permaneceram em vigor, e ele era assediado por onde passava, até que finalmente fora preso sem fiança com tantos encargos técnicos contra ele que não havia nada mais a fazer, além de fugir e pedir asilo, no primeiro exílio que encontrasse.

Richard Alpert, que em todo este processo teve um papel muito mais silencioso, também foi para o exílio, mas de outra maneira. Enquanto visitava a Índia, ele percebeu que tinha chegado ao fim da identidade de psicólogo que ele tinha representado até agora, tanto que não podia vislumbrar qualquer papel normal ou uma carreira para si mesmo nos Estados Unidos. Além disso, ele se sentia, como eu, tendo aprendido tudo o que poderia começar dos psicodélicos, e que o que restou foi realmente viver uma vida de liberdade longe dos jogos mundiais de ansiedades. Ele, então, assumiu o nome de Baba Ram Dass, e voltou como um sannyasin vestido de branco e barbudo, cheio de humor e energia, dedicado apenas a viver no eterno agora. E, como seria de esperar, as pessoas levantaram suas sobrancelhas e balançaram as cabeças, dizendo que o velho showman estava jogando outro jogo, ou, que infelizmente as drogas tinha se apossado de tal cientista jovem e promissor, ou que era muito fácil ser um grande sannyasin com uma renda independente. Mas eu sentia que ele havia feito a coisa certa para si. Passei muitas horas com ele e senti que ele estava realmente feliz, que sua inteligência estava tão afiada como sempre, e ele estava confiante o suficiente do que estava fazendo para não tentar me convencer a seguir o seu exemplo. Certamente ele via um grande prazer em multidões de jovens que vinham para ouvi-lo,  neste aspecto, ele e eu somos iguais, pois apreciamos tanto pensar em voz alta com uma platéia atenta e inteligente quanto apreciamos desfrutar da paisagem ou da música. Mas estaria ele andando com uma túnica branca, se fosse realmente sincero? De fato, sim. Pois em um país onde a sinceridade de um filósofo é medida pela simplicidade de suas vestes, eu também por algumas vezes usaria um kimono ou um sarong em público, para que, como Billy Graham, atraísse um seguimento enorme de pessoas perigosamente sérias e mal-humoradas.

Agora, em retrospecto, é preciso ser dito, que a década psicodélica de 60 realmente começou a acordar os psicoterapeutas de seus estudos sobre pedestres e atitudes reducionistas de vida. Aqui eu estou usando a palavra “psicodélico” para significar todos os processos de “manifestação da mente”: não apenas químicos, mas também filosóficos, experimentos neurológicos e disciplinas espirituais. No início da década, o sentimento era que os a maioria dos psiquiatras via a si mesmo como guardiões de uma realidade oficial que poderia ser descrita como o mundo visto em uma manhã de segunda-feira sombria. Eles viam como uma boa orientação de como lidar com a realidade – ter uma vida sexual hétero normal (e de preferência monogâmica), uma relação “madura”, como era chamado; assim como estar apto a dirigir um carro e cumprir um trabalho de 8 horas por dia; ser capaz de retirar os produtos de Recall sem hesitar; e ser capazes de participar de atividades em grupo e mostrar qualidades de liderança e iniciativa.

Se bem me lembro, em 1959, fui convidado a falar antes de uma reunião da American Psychiatric Association, em Los Angeles. Trabalhos estatísticos eruditos eram apresentados por horas e horas, até que chegou a minha vez, quando já estávamos atrasados para o almoço. Eu abandonei o meu discurso preparado (o que a imprensa chama de desvio textual) e disse:

“Cavalheiros, isto não será um discurso científico, pois eu sou um simples filósofo, não um psiquiatra, e sei que estão famintos pelo almoço. Nós filósofos somos muito gratos a vocês por nos mostrarem as bases emocionais inconscientes de algumas de nossas idéias, mas o tempo para mostrar as suposições intelectuais inconscientes por trás de alguns de vocês, chegou. A literatura psiquiátrica está cheia de metafísica não examinada. Mesmo Jung, que é tão prontamente repudiado por seu “misticismo”, inclina-se para trás para evitar considerações metafísicas sobre o pretexto de que ele é rigorosamente um médico e um cientista. Isto é impossível. Todo ser humano é um metafísico assim como cada filósofo tem apetites e emoções — e com isso quero dizer que todos nós temos certas suposições básicas sobre a boa vida e a natureza da realidade. Mesmo o típico homem de negócios que afirma ser um homem prático, que não se preocupa com coisas mais elevadas, assim, declara que ele é um pragmático e um positivista, e não uma pessoa muito pensativa sobre isso.

“Pergunto-me, então, quanta consideração vocês dão ao fato de que a maioria de suas próprias suposições sobre a boa vida e da realidade vêm diretamente do naturalismo científico do século XIX, da hipótese estritamente metafísica de que o universo é um mecanismo que obedece as leis de Newton, e que não há outro deus ao seu lado. Psicanálise, que é de fato psicohidráulica seguindo a mecânica de Newton, parte da afirmação mística de que a energia psicossexual do inconsciente é uma explosão cega e estúpida da luxúria pura, seguindo a noção de Haeckel de que o universo em geral é uma manifestação primordialmente indiscriminada e estúpida da energia. Deveria ser óbvio para vocês que este é um parecer de que nunca houve o mínimo de provas, e que, além disso, ignora a evidência de que nós mesmos, supostamente fazendo observações inteligentes, somos manifestações da mesma energia.

Na base desta não examinada, depreciativa e instável opinião quanto à natureza da energia biológica e física, alguns de seus membros psicanalistas vêm durante toda a manhã se referindo aos chamados estados místicos de consciência como “regressivos”, levando-nos de volta a uma dissolução da inteligência individual em um banho ácido de líquido amniótico, reduzindo-a a uma identidade descaracterizada – em primeira instância – como uma bagunça cega de energia libidinosa. Agora, até que vocês achem alguma evidência substancial para suas metafísicas, terão que admitir que não há um meio de saber onde terminam os seu universos, de modo que, enquanto isso, vocês devem abster-se de conclusões fáceis tanto como saber quais direções são progressivas e quais são regressivos. [Risadas]”

Sempre me pareceu, em geral, que faltava aos psicoterapeutas uma dimensão metafísica; em outras palavras, eles afetavam a mentalidade dos acionistas de seguros e viviam em um mundo varrido de todo mistério, mágica, cor, música e temor, sem lugar no coração para o som distante de um gongo em um vale alto e escondido. Este é um exagero de onde eu salvo a maior parte dos junguianos e alguns fora dos padrões como Groddeck, Prinzhorn, Heyer GR, Wilhelm Reich, e outros menos conhecidos. Sobre a escrita da psicologia americana, em 1954, Abraham Maslow observou que era excessivamente pragmática, puritana, e proposital…. Não há outros capítulos sobre diversão e alegria, lazer e meditação, sobre vadiagem e falta de rumo, sobre atividade inúteis ou sem propósito…. A psicologia americana se ocupa excessivamente com apenas metade da vida e negligencia a — talvez mais importante— outra metade.(3)

A publicação de meus livros Psychotherapy East and West e Joyous Cosmology no início dos sessenta me levou a discussões públicas e privadas com muitos membros de liderança do ofício psiquiátrico, e fiquei espantado com o que parecia ser um medo aterrorizante dos estados incomuns de consciência. Eu achava que os psiquiatras deveriam estar tão familiarizados com esses territórios selvagens e inexplorados da mente, quanto os gurus da Índia, mas conforme eu lia algo como dois enormes volumes do American Handbook of Psychiatry, vi apenas mapas da alma tão primitivos quanto os antigos mapas da Terra. Havia algumas descrições vagas e vazias sobre Esquizofrenia, Histeria e Catatonia, acompanhados com informações pouco mais sólidas que ”Aqui há dragões e cameleopards.” Em uma festa em Nova York me peguei conversando com um dos mais eminentes analistas da cidade, e tão logo ele soube que eu havia experimentado o LSD sua personalidade se tornou estritamente profissional. Como se vestisse sua máscara e luvas de borracha e me abordasse como um espécime, querendo saber todos os detalhes superficiais das alterações sinestésicas e da percepção, os quais eu podia vê-lo categorizando com uma mente afiada e calibrada. Eu tomei parte em um debate televisionado sobre “Open End,” com David Susskind tentando mediar duas facções de entusiastas psicodélicos e psiquiatras acadêmicos, e no tumulto que se seguiu e confusão de paixões, encontrei-me flutuando para a posição de moderador, contando a ambos os lados, que não haviam bases evidenciais para seus respectivos fanatismos.

Em todos esses contatos eu comecei a sentir que os únicos psiquiatras que possuíam alguma informação sólida eram neurologistas como David Rioch, da Walter Reed, e Karl Pribram, de Stanford. Eles me diziam coisas que eu não sabia e ainda sim eram os primeiros a admitir o quão pouco sabiam, por estarem percebendo o estranho fato de seus cérebros serem mais inteligentes que suas mentes ou, para simplificar, o sistema nervoso humano ser de tão alta ordem de complexidade que estávamos apenas começando a organizar isso em termos de pensamento consciente. Sentei-me em um seminário interno com Pribram, onde ele me explicou de forma cuidadosamente detalhada como o cérebro não é um mero refletor do mundo externo, mas como sua estrutura quase cria as formas e padrões que vemos, selecionando-as de um imensurável espectro de vibrações como as mãos de um harpista arrancam acordes e melodias de um espectro de cordas. Por Karl Pribram estar trabalhando no mais delicado quebra-cabeças epistemológico: Como o cérebro evoca um mundo que é simultaneamente o mundo onde está, e como o cérebro evoca o próprio cérebro.(4) Colocando em termos metafísicos, psicológicos, físicos ou neurológicos: dava sempre no mesmo. Como podemos saber que sabemos, sem saber que se sabe?

Esta questão deverá ser respondida, se assim puder, antes que possa fazer algum sentido dizer que a realidade é material, mental, elétrica, espiritual, uma realidade, um sonho, ou qualquer outra coisa. Mas sempre, ao contemplar este enigma, um sentimento estranho toma conta de mim, como se eu não pudesse me lembrar do meu nome que está na ponta da língua. Realmente isso faz pensar. . .

De qualquer forma, no fim desses dez anos, tenho a impressão de que o mundo psiquiátrico, se abriu à possibilidade de que há mais coisas no céu e terra que sonhou a sua filosofia. A psicanálise ortodoxa parece cada vez mais um culto religioso, e a psiquiatria institucional, um sistema de lavagem cerebral. O campo está dando lugar a movimentos e técnicas cada vez mais livres da metafísica tácita do mecanismo do século XIX: Psicologia Humanista, Psicologia Transpessoal, Terapia da Gestalt, Psicologia Transacional, Terapia de Encontros, Psicossíntese (Assagioli), Bioenergética (Reich), e dúzias de outras abordagens interessantes com nomes estranhos.

Historiadores e analistas sociais vão tentar descobrir a partir de qualquer autobiógrafo o quanto ele influenciou os movimentos do seu tempo e quanto foi influenciado por eles. Só posso dizer que, conforme fico mais velho eu volto a uma estranha sensação infantil de não ser capaz de definir nenhuma linha entre o mundo e minha própria ação sobre ele, e me pergunto se isso também é sentido por pessoas que nunca estiveram sob o olho público ou nunca tiveram alguma pretensão de influência. Uma pessoa comum pode ter a impressão que existem milhões de si mesmos, e que todos eles, como um só, estão fazendo o que há na humanidade – assim como neles mesmos. Desta forma ele poderia talvez sentir-se mais importante do que alguém que tenha tido uma visão particular e seguiu um caminho solitário.

Parte do problema é que quanto mais eu me aproximo do momento presente, mais difícil se torna ver as coisas em perspectiva. Os eventos de 20, 30 e 40 anos atrás estão mais claros na minha cabeça, e parecem-me mais recentes no tempo do que o que aconteceu há pouco tempo — em anos que pareceram fantasticamente excitantes cheios de pessoas e acontecimentos. Eu sinto que devo esperar outros 10 anos para descobrir o que eu estava fazendo, no campo da psicoterapia, com Timothy Leary e Richard Alpert, Fritz Perls e Ronald Laing, Margaret Rioch e Anthony Sutich, Bernard Aaronson e Stanley Krippner, Michael Murphy e John Lilly; na teoogia com Bishops James Pike e John A. T. Robinson, Dom Aelred Graham e Huston Smith; e na formação da contracultura mística com Lama Anagarika Govinda e Shunryu Suzuki, Allen Ginsberg e Theodore Roszak, Bernard Gunther e Gia-fu Feng, Ralph Metzner e Claudio Naranjo, Norman 0. Brown e Nancy Wilson Ross, Lama Chogyam Trungpa e Ch’ung-liang Huang, Douglas Harding e G. Spencer Brown, Richard Weaver e Robert Shapiro— para citar apenas alguns poucos nomes e rostos reunidos do passado recente que me mostram que eu apenas mal comecei esta história.

Referências

(1)
Vários anos mais arde ele morreria em acidente de automóvel à caminho de Ajijic no México, onde ele havia fixado residência. E então partiu para o obscuro um dos mais extraordinários e brilhantes homens, que escreveu um livro que ninguém publicaria (sua dissertação para Ph.D em Harvard) sobre a história como uma ilusão subjetiva, baseada nas visões conflitantes das críticas modernas ao novo Testamento. Ele era tanto um acadêmico quanto um artista na vida que me engrandeceu profundamente com suas conversas e críticas sobre meu trabalho. No entanto, suas visões liberais eram demais para o Reed College e para Claremont, onde fora recusado — a menos que, como ele disse uma vez, ele se acalmasse e casasse com uma simpática jovem episcopal.

(2)
“The Individual as Man-World,” The Psychedelic Review, Vol. 1, No. 1, (Cambridge, Mass.: June 1963).

(3)
Motivation and Personality
(New York Harper & Row, Publishers, 1954), pp. 291-92.

(4)
see his Languages of the Brain, (Englewood Cliffs, NJ Prentice-Hall, 1971).

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Traduzido do original em inglês:  http://www.psychedelic-library.org/wattsbio.htm

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O Micélio como a Internet da Natureza – Paul Stamets

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Para iniciar esse ano de 2010,  segue traduzido o primeiro capítulo do livro “Mycelium Running (How Mushrooms Can Help Save the World)“, ainda sem nome em português, do Micologista e Escritor Paul Stamets.


 

O Micélio como a Internet da Natureza

A rede de micélios é composta por uma membrana entrelaçada de cadeias celulares, continuamente se ramificando, como uma única parede celular grossa.

A História das redes de fungos

Animais tem uma relação mais próxima com os fungos do que qualquer outro reino. Mais de 465 milhões de anos atrás nós dividimos um ancestral comum. Os fungos evoluíram meios de digerir externamente a comida secretando ácidos e enzimas em sua área imediata de contato e então absorver nutrientes usando cadeias celulares em forma de redes. Muitos fungos se associaram a plantas, que careciam enormemente desses sucos digestivos. Micologistas acreditam que essa aliança permitiu às plantas habitarem a Terra por volta de 400 milhões de anos atrás.
Muitos milhões de anos mais tarde, um ramo evolucionário dos fungos deu início ao desenvolvimento de animais. Este ramo dos fungos evoluiu para capturar nutrientes cercando sua comida com sacos celulares, em essência estômagos primitivos. Quando as espécies emergiram dos ambientes aquáticos, organismos adaptaram meios de prevenir a perda de umidade. Nas criaturas terrestres, emergiram peles compostas por muitas camadas de células como uma barreira contra a infecção. Tomando um diferente caminho evolucionário, o micélio conservou sua forma de rede de cadeias celulares entrelaçadas e foi para o subsolo formando uma vasta teia de alimentos onde várias vidas floresceram.

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A Revista “Mycology” destacou este âmbar de 15 a 20 milhões de anos com um cogumelo incrustado,denominado Aureofungus Yaniguaenses, que data do período Mioceno, e coletado na República Dominicana. Estima-se que o mais antigo cogumelo em âmbar tem de 90 a 94 milhões de anos.

Cerca de 250 milhões de anos atrás, na fronteira entre o período Permiano e o Triássico, uma catástrofe erradicou 90% das espécies da Terra quando, de acordo com alguns cientistas o choque de um meteorito aconteceu. Maremotos, rios de lava, gases quentes e ventos de 1000 milhas por hora açoitaram o planeta. A Terra escureceu sob a nuvem de destroços, causando extinção em massa de plantas e animais. Os fungos herdaram a Terra surgindo para reciclar os campos de destroços pós-cataclísmicos. A Era dos Dinossauros começou, e então terminou 185 milhões de anos mais tarde quando outro choque de meteorito causou uma segunda extinção em massa. Mais uma vez os fungos emergiram e muitos se associaram simbioticamente a plantas para a sobrevivência. Os clássicos cogumelos, rígidos e de chapéu, tão comuns hoje, são descendentes de variedades que precedem esse segundo evento catastrófico. (O mais antigo cogumelo conhecido – conservado em âmbar e coletado em Nova York – data do Cretáceo, 92 a 94 milhões de anos atrás. Cogumelos evoluíram suas formas básicas bem antes do mais distante ancestral mamífero dos humanos.) Os micélios guiaram o curso dos ecossistemas favorecendo sucessões de espécies. Fundamentalmente o micélio prepara seu ambiente imediato para eu benefício cultivando ecossistemas que abastecem suas cadeias de alimentos.

Micrografia de astrócitos(células e forma de estrela)cerebrais. Redes de neurônios criam caminhos para a distribuição da informação. Redes de micélios compartilham esta mesma estrutura.
Micrografia de astrócitos(células e forma de estrela)cerebrais. Redes de neurônios criam caminhos para a distribuição da informação. Redes de micélios compartilham esta mesma estrutura.

Os Eco-teóricos James Lovelock e Lynn Margulis, vieram com a ‘Hipótese de Gaia’, que sugere que a biosfera do planeta pilotou inteligentemente seu curso para sustentar e gerar novas vidas. Eu enxergo o micélio como a teia viva que manifesta a inteligência natural imaginada pelos teóricos de Gaia. O micélio é uma membrana sensitiva exposta, consciente e reativa a mudanças em seu ambiente. Conforme pessoas, cervos ou insetos andam através das redes de filamentos sensitivos, deixam impressões e o micélio percebe e responde a esses movimentos. Uma estrutura complexa e cheia de recursos para compartilhar informação, o micélio pode se adaptar e evoluir através das sempre mutantes forças da natureza. Eu sinto especialmente que isso é verdade ao entrar em uma floresta depois de uma chuva quando, eu acredito, que as membranas entrelaçadas do micélio despertam. Essas membranas sensitivas agem como uma consciência coletiva de fungos. Conforme seu metabolismo avança o micélio emite atrativos, conferindo doces fragrâncias à floresta e conectando ecossistemas e suas espécies por meio de rastros aromáticos. Como uma Matrix, uma super auto-estrada biomolecular, o micélio está em constante diálogo com seu ambiente, reagindo e governando o fluido de nutrientes essenciais de forma cíclica através das cadeias de alimentos.

 

Um diagrama de sistemas de compartilhamento de informação sobrepostos que compreende a Internet.
Um diagrama de sistemas de compartilhamento de informação sobrepostos que compreende a Internet.

Eu acredito que o micélio opera em um nível de complexidade que excede os poderes computacionais dos nossos mais avançados computadores. Eu vejo o micélio como a Internet natural da Terra, uma consciência com a qual podemos ser capazes de nos comunicar. Através de ‘cross-species interfacing’, nós podemos um dia trocar informações com essas sensitivas redes celulares. Pelo fato destas redes neurológicas externalizadas perceberem qualquer impressão sobre elas, de pegadas a galhos de árvores caídos, elas podem transmitir enormes quantidades de informação considerando os movimentos de todos os organismos através da paisagem. Uma nova Bio ciência Pioneira pode nascer, dedicada a programar redes microneurológicas para monitorar e responder a ameaças ambientais. Teias de micélios podem ser usadas como plataformas de informação para ecossistemas de mico engenharia.

 

Limo, Physarum Polycephalum, escolhe o caminho mais curto entre duas rotas de um labirinto que levam à comida. Evitando caminhos sem saída. Em um artigo controverso Toshuyki Nakagaki sugere se tratar de uma forma de inteligência celular.
Limo, Physarum Polycephalum, escolhe o caminho mais curto entre duas rotas de um labirinto que levam à comida. Evitando caminhos sem saída. Em um artigo controverso Toshuyki Nakagaki sugere se tratar de uma forma de inteligência celular.

A idéia de que um organismo celular pode demonstrar inteligência pode parecer radical se não for trabalhada por pequisadores comoToshuyiki Nakagaki (2000). Ele colocou um labirinto sobre uma placa de petri cheia de nutriente agar e introduziu nutritivos flocos de aveia na entrada e na saída. Ele então inoculou a entrada com uma cultura do mofo viscoso Physarum Polycephalum sob condições estéreis. Conforme ele cresceu pelo labirinto, constantemente escolheu o caminho mais curto para os flocos de aveia no final, rejeitando caminhos sem saída e saídas vazias, demonstrando uma forma de inteligência de acordo com Nakagami e seus companheiros pesquisadores. Se isso for verdade, então as redes neurais de micróbios e micélios podem ser profundamente inteligentes.

Alguns estudos recentes apóiam este nova perspectiva – que fungos podem ser inteligentes e podem ser nossos aliados em potencial, talvez sendo programados para coletar informação ambiental, como sugerido acima, ou para se comunicar com chips de silício em uma interface de computador. Imaginando fungos como nano condutores em mico computadores, Gorman (2003) e seus companheiros  pesquisadores da Universidade North Western, manipularam o micélio da Aspergillus Níger para alojar ouro em seu DNA, em efeito criando micélios condutores de potencias elétricas. A NASA comunicou que microbiólogos da Universidade do Tennesee, guiados por Gary Sayler , desenvolveram um acidentado chip de computador biológico acomodando bactérias que brilham ao sentirem poluentes de metais pesados à PCB’s (Miller 2004). Tais inovações fazem alusão à nova microbiologia em um horizonte próximo. Trabalhando em conjunto, redes de fungos e bactérias ambientalmente reativas poderiam nos prover com informação sobre PH, detectar nutrientes e dejetos tóxicos e até medir populações biológicas.

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Culturas como esta do, ainda sem nome, cogumelo Psilocybe californiano se enrolam em espiral como um ciclone enquanto crescem; a taxa de crescimento aumenta com o tempo.
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Várias esteiras de micélios do cogumelo Armillaria crescem em espiral, matando uma floresta em Montana. Uma vez mortas essas árvores se tornam altamente inflamáveis.(Veja a figura 60 para uma amostra maior do Armillaria, o maior

Fungos no Espaço?

Furacão Isabella se aproxima da América do Norte em outubro de 2003.
Furacão Isabella se aproxima da América do Norte em outubro de 2003.

Fungos podem não ser únicos da Terra. Cientistas teorizam que a Vida está espalhada pelo Cosmos a fora, e que é provável de existir em qualquer lugar que exista água em estado líquido. Recentemente cientistas detectaram um distante planeta, a 5600 anos-luz de distância, que se formou há 13 bilhões de anos atrás, velho o bastante para a que a vida tenha se desenvolvido e se tornado extinta várias vezes (Savage ET AL. 2003). (Levou 4 bilhões de anos para a vida evoluir na Terra). Dessa forma, mais de 120 planetas fora do nosso sistema solar foram descobertos e mais estão sendo descobertos de poucos em poucos meses. Astrobiólogos acreditam que os precursores do DNA, ácidos prenucléicos, estão formando Cosmos a fora uma inevitável conseqüência de matéria enquanto se organiza, e eu tenho poucas dúvidas que eventualmente iremos vislumbrar planetas para comunidades micológicas. O fato da NASA ter fundado o Instituto de Astrobiologia e a imprensa da Universidade de Cambridge ter iniciado o  International Journal of Astromycologyé é um forte apoio para a teoria que a Vida brota da matéria e é
provavelmente distribuída vastamente pelas galáxias. Eu prognostico que um Interplanetary Journal of AstroMycology surgirá quando fungos forem descobertos em outros planetas. É possível que o protogermplasma possa viajar através da expansão galática em cometas ou carregados por ventos estelares. Esta forma de migração protobiológica interestelar, conhecido como panspermia, não soa tão forçado hoje como soava quando foi incialmente proposta por Sir Fred Doyle e Chandra Wickramasinghe no início dos anos 70. A NASA considerou a possibilidade de usar fungos para colonização interplanetária. Agora que aterrissamos em Marte, a NASA leva a sério as conseqüências desconhecidas que nossos micróbios terão ao colonizar outros planetas. Esporos não tem fronteiras.


O Arquétipo Micelial

Galáxias em espiral conforme o mesmo padrão arquetípico dos furacões e micélios
Galáxias em espiral conforme o mesmo padrão arquetípico dos furacões e micélios

A natureza tende a basear-se nos seus sucessos. O arquétipo micelial pode ser visto em toda parte do Universo: padrões de furacões, matéria negra e a Internet. A similaridade de forma com o micélio talvez não seja mera coincidência. Sistemas biológicos são influenciados pelas leis da física, e pode ser que o micélio explore o ímpeto natural da matéria, assim como o salmão tira vantagem das marés. A arquitetura do micélio se assemelha com padrões previstos na teoria das cordas, e astrofísicos teorizam que as formas mais conservadoras de energia no universo seriam organizadas como filamentos de matéria-energia. A combinação desses fios se assemelha a arquitetura do micélio. Quando a Internet foi projetada, sua estrutura de teia maximizou a inundação de dados e o poder computacional, minimizando os pontos críticos sobre os quais o sistema é dependente. Eu acredito que essa estrutura da Internet é simplesmente uma forma arquetípica, uma conseqüência inevitável de um modelo evolucionário previamente provado, que é também visto no cérebro humano; diagramas de redes de computadores carregam semelhanças tanto com matrizes miceliais quanto neurológica nos cérebros dos mamíferos (ver figura 3 e 4). Nossa compreensão das redes de informações em suas muitas formas levará a um salto quântico no poder computacional humano.

 

Micélio na Rede da Vida

Como uma estratégia evolucionária, a arquitetura micélial é fascinante: uma parede celular espessa, em contato direto com uma miríade de organismos hostis, e ainda assim tão penetrante que um único centímetro cúbico de solo contém células fúngicas suficiente para cobrir mais de 8 milhas se colocado de ponta a ponta. Eu calculo que cada passo que eu dou gera impacto em mais de 300 milhas de micélio. Esses tecidos fúngicos se estendem através dos poucos centímetros de topo de praticamente todas as massas de terra que suportam a vida, compartilhando o solo com legiões de outros organismos. Se você fosse um organismo minúsculo no solo de uma floresta, você estaria enredado em uma atividade carnavalesca, com micélios constantemente se movendo pelas paisagens subterrâneas como ondas celulares, através de bactérias dançantes e protozoários nadadores com nematóides correndo como baleias através de um oceano microcósmico da vida.

Ao longo do ano, fungos decompõe e reciclam restos de plantas, filtram micróbios e sedimentos que escoam, e restauram o solo. No fim, um solo apto para sustentar vida é criado dos detritos, particularmente madeira morta. Estamos agora entrando em um tempo onde “micofiltros” de certas espécies de cogumelos podem ser construídos para destruir resíduos tóxicos e prevenir doenças, como infecções por coliformes ou por bactérias “staph”, e protozoários e pragas causados por organismos que carregam doenças. Em um futuro próximo poderemos orquestrar espécies selecionadas de cogumelos para administrar sucessões de espécies. Enquanto os micélios nutrem as plantas, os cogumelos em si são nutrientes para, vermes, insetos, mamíferos, bactérias e outros fungos parasitas. Eu acredito que a ocorrência e a decomposição de um cogumelo pré-determina a natureza e a composição das populações abaixo de si em seu “nicho habitativo” .

Close em um micélio.
Close em um micélio.

Em qualquer lugar que uma catástrofe gere um campo de detritos – sejam árvores caídas ou derramamento de óleo, vários fungos responderão com ondas de micélios. Essas habilidades adaptativas refletem a profunda ancestralidade e diversidade dos fungos – resultando na evolução de todo um reino com cerca de 1 a 2 milhões de espécies. Fungos superam as plantas em números em pelo menos 6 para 1. Cerca de 10% dos fungos são chamados de cogumelos (Hawkswoth 2001), e cerca de 10% apenas de espécies de cogumelos foram identificadas, o que mostra que nosso conhecimento taxonômico dos fungos é excedido pela nossa ignorância em pelo menos uma ordem de magnitude. A diversidade surpreendente dos fungos exprime a complexidade necessária para um meio-ambiente saudável. O que vem se tornando incrivelmente claro para os micologistas é que proteger a saúde do ambiente está diretamente relacionado ao nosso entendimento dos papéis complexos das populações de fungos. Nossos corpos e o que nos cerca são habitats com sistemas imunológicos; fungos são a ponte comum entre os dois.

Todos os habitats dependem diretamente desses aliados fungos, sem os quais o sistema de suporte à vida na Terra rapidamente entraria em colapso. As redes de micélios mantêm o solo unido e aerado. Enzimas de fungos, ácidos e antibióticos afetam dramaticamente a estrutura dos solos (Ver pág 16). Dando seguimento às catástrofes, a diversidade de fungos ajuda a restaurar habitats devastados. Tendências evolucionárias geralmente levam ao aumento da biodiversidade. Entretanto, graças às atividades humanas estamos perdendo muitas espécies antes mesmo de conseguirmos identificá-las. De fato, conforme perdemos espécies estamos experimentando a degeneração – voltando atrás no relógio da biodiversidade, o que é um terreno perigoso em direção ao colapso ecológico em massa. A interconectividade da Vida é uma verdade óbvia que ignoramos para nosso próprio risco.

Nos anos 60, o conceito de “viver melhor através da química” se tornou o ideal enquanto, plásticos, fusão de metais, pesticidas, fungicidas e petroquímicos nasceram em laboratório. Quando esses sintéticos eram liberados na natureza, eles freqüentemente tinham um efeito dramático e inicialmente desejável sobre seus alvos. Porém eventos nas últimas décadas têm demonstrado que muitas dessas invenções eram de fato frutos amargos da ciência que cobrariam taxas pesadas à nossa biosfera. Aprendemos agora que precisamos caminhar suavemente pela teia da vida, ou então ela vai de desfiar sob nossos pés.
Fungicidas tóxicos como methyl bromide, uma vez lançados, não só afetam as espécies alvo mas também organismos que nada tem a ver, e suas cadeias alimentares, além de ameaçar a camada de ozônio. Inseticidas tóxicos freqüentemente conferem uma solução temporária até que a tolerância seja atingida. Quando os benefícios naturais dos fungos foram sendo reprimidos, as necessidades por fertilizantes artificiais aumentaram, criando um ciclo de dependência química, em último caso interrompendo a sustentabilidade. No entanto podemos criar ambientes micológicos sustentáveis introduzindo parcerias de plantas e fungos (mycorrhisal e endothytic ) em combinação com matéria vegetal em decomposição com  micélios de cogumelos saprofíticos. Os resultados dessas atividades fúngicas incluem um solo saudável, comunidades biodinâmicas e ciclos renováveis sem fim. A cada ciclo, a profundidade do solo aumenta assim como a capacidade para a biodiversidade.

Viver em harmonia com nosso ambiente natural é a chave para nossa saúde, tanto como indivíduos quanto como espécie. Nos somos um reflexo do ambiente que nos deu a luz. Destruir brutalmente os ecossistemas que suportam a vida é a mesma coisa que suicídio. Recrutando fungos como aliados, podemos compensar os danos ambientais gerados pelos humanos, acelerando a decomposição orgânica de campos inteiros de detritos que nós criamos – tudo desde devastar florestas até construir cidades. Nosso crescimento, relativamente súbito, como uma espécie destrutiva está desgastando os sistemas fúngicos de reciclagem da natureza. A cascata de toxinas e detritos gerada pelos humanos, desestabiliza os ciclos de retorno de nutrientes, causando colheitas infrutíferas, aquecimento global, mudanças climáticas, e num cenário mais assustador, acelerando o passo para uma eco catástrofe por nossas próprias mãos. Como ruptores ecológicos, humanos desafiam os sistemas imunológicos dos ambientes até seus limites. A regra da natureza é que quando uma espécie excede a capacidade de seu ambiente hospedeiro, sua cadeia alimentar entra em colapso e a doença surge devastando os organismos mais ameaçados. Eu acredito que podemos nos reequilibrar com o ambiente utilizando micélios para regular o fluxo de nutrientes. A era da medicina micológica está à nossa frente. Agora é a hora de assegurar o futuro de nosso planeta e nossas espécies com a parceria dos micélios.

 

fig0075Figura 7 –  Modelo de computador da matéria escura do universo. Em conjunto com a “teoria das cordas”, mais de 96% da massa do universo é teorizada como composta por estes filamentos moleculares.note que as galáxias se entrelaçam como uma matrix micelial.

 

 

 

 


Texto traduzido e imagens retiradas do Livro “Mycelium Running” de Paul Stamets