Quando Terence McKenna fumou DMT pela primeira vez

Escrito por Graham St John (PhD, Antropólogo)

Em 1967, com 16 anos Dennis Mckenna visitou seu irmão mais velho em Berkeley (Califórnia), Terence afirmou saber o que era a pedra filosofal. “Está naquele frasco, bem ali na prateleira.”(1) Anteriormente, numa noite de primavera em 1965, Terence McKenna havia sido visitado, em seu quarto de pensão na Avenida Telegraph 2894, por “um amigo muito estranho que vivia em Palo Alto”. Até então, Terence, que havia começado seus estudos em U.C. Berkeley, estava familiarizado com os efeitos psicodélicos das sementes de Morning Glory, e havia provado LSD da Sandoz por meio do vizinho Barry Melton, guitarrista principal do Country Joe and the Fish. Mas tais experiências ofereceram pouca preparação para o que aconteceu naquela noite.

Vestindo um pequeno terno preto abotoado até a garganta, seu amigo quem Terence referia-se como “uma espécie de ameaça social e criminoso intelectual”; a quem ele tinha como sua “grande inspiração”, e era sempre aquele que “chegava lá em em primeiro lugar, seja lá o que fosse, para fazer, para não fazer, e para ser absolutamente impertinente até mesmo quando ninguém havia chegado na cena do crime”—aproximou-se com um pequeno cachimbo de vidro e algo parecido com bolas de naftalina alaranjadas. “Talvez você tenha interesse nisso.” Divertindo os que estavam reunidos na Fundação Ojai da Califórnia, com informação talvez nunca antes declarada publicamente, Terence deixou a entender que, de acordo com o relato de seu amigo, o material havia sido roubado de uma operação de pesquisa química do Exército dos EUA, no Instituto de Pesquisa de Stanford em Menlo Park (Stanford Research Institute, SRI). “Alguém conseguiu pegar do inventário um tambor de 55 galões deste material, sem que ninguém ficasse sabendo.” Terence queria saber do que se tratava. Seu amigo, que há poucos meses havia declarado que “devemos viver como se o apocalipse já tivesse ocorrido”, disse: “é chamado DMT.”(2)

“Independentemente da proveniência do material fumado, o mundo de Terence McKenna virou do avesso naquela noite de primavera em 1965”

O amigo visitante de Terence era ninguém menos que Rick Watson, que conhecemos nos capítulos anteriores. Juntamente com John Parker, Watson e Terence eram amigos próximos desde 1963 na Awalt High School em Mountain View (Califórnia). As informações de Terence parecem ser incompletas, já que o material fumado na Av. Telegraph não provia do Exército, mas sim, de acordo com o próprio Watson, do “círculo de Kesey”(3)—e assim, possivelmente do trabalho de Bear Stanley. Além disso, a referência a um “tambor de 55 galões” é uma decoração espetacular dos “containers metálicos cilíndricos de 6 polegadas de altura” que, na imaginação de Watson, poderia como também não poderia ter armazenado DMT no SRI.

Independentemente da proveniência do material fumado, o mundo de Terence McKenna virou do avesso naquela noite de primavera em 1965. Algumas tragadas da “bola de naftalina”, e ele foi imediatamente transportado para uma outra dimensão: “uma iluminação brilhante, não-tridimensional, autodeformante, linguisticamente intencionando modalidade que não podia ser negada.”

Eu afundei no chão. Eu tinha a alucinação de estar caindo para frente em fractais geométricos espaciais feitos de luz, e então eu me encontrei no equivalente à capela privada do Papa, e havia máquinas de elfo-inseto oferecendo estranhos tabletes pequenos com estranhas escrituras neles, e eu estava aterrorizado, completamente assustado, porque numa questão de segundos… todas minhas suposições da natureza do mundo estavam simplesmente sendo rasgadas em pedaços na minha frente. Na verdade, eu nunca superei isso. Essas criaturas duende de máquinas autotransformadoras, falavam num idioma colorido que condensava-se em máquinas rotativas, semelhantes a ovos Fabergé, porém feitos de cerâmica supercondutora-luminiscente e géis de cristais líquidos. Toda essa coisa era tão esquisita e tão alienígena e tão não-português-ável, que foi um choque completo—digo, o avesso literal do meu universo intelectual…! É como ser atingido por um raio noético.(4)

Duplo escorpião no final de sua adolescência, ele se considerava intelectualmente preparado para qualquer coisa. Era formado em História da Arte, um fã de Hieronymus Bosch, leu Moby-Dick, William Burroughs, todos os trabalhos de Huxley. Mas, a experiência foi tão “não-português-ável”, que o colocou num estado de choque.(5)  Abalado pelo impossível, iria em seguida viajar o globo declarando como “o mundo ordinário é quase instantaneamente substituído não apenas por uma alucinação, mas por uma alucinação cujo seu caráter alienígena é sua total alienigenidade”. Não havia “nada neste mundo”, ele alertou, que “poderia preparar alguém para as impressões que enchem a sua mente quando você entra no sensório do DMT”.(6) Igualmente a Burroughs, que havia declarado “Yagé, é isto!” a Ginsberg em 1953, McKenna entendeu que havia sido exposto ao segredo. “Existe um segredo e é isto”, ele comentou ao pessoal reunido no Ojai. “É o segredo de que o mundo não é apenas não do jeito que você pensa que é, mas que o mundo é do jeito que você não é capaz de pensar que é.” Além disso, este segredo não era “algo não narrado,” mas algo “inenarrável”. Convencido de que havia descoberto a mais poderosa de todas as alucinações (diferentemente de Burroughs que, tendo convocado o gênio “Dim-N” em 1961, concluiu que havia sido exposto ao “alucinógeno pesadelo”), McKenna, armado do conhecimento de seu status endógeno, pronunciou o “paradoxo de que o DMT é a mais poderosa, e ainda assim a mais inofensiva” de todas as substâncias.(7)

“A mente humana não é capaz de suportar tanta beleza”

Enquanto, ao longo dos anos 1980 e 1990, ele talvez tenha vivido o seu próprio paradoxo, comunicando o incomunicável, seus discursos de turnê não eram proezas miraculosas tão capazes de transpor o inefável quanto feitiços lançados através de uma palavra idiomática são contagiantes. Se, por fim, “a casa de razão constipada deve ser infiltrada pela arte, por sonhadores e por visões”,(8) ele era um para-raios para uma arte visionária e um movimento de dança neo-hermético. O que estava em jogo era “nada menos que a redenção da humanidade caída através da reespiritualização da matéria”(9), e DMT era o agente espiritual.

Enquanto isso, retornando no fim do Verão do Amor, de Berkeley para Paonia (Colorado), onde ele ainda morava com seus pais, Dennis trouxe 50 gramas de maconha, 28 gramas de haxixe, algumas doses de ácido, algo que ele pensava ser mescalina e “o Santo Graal—meio grama de DMT”. Após sua estréia com DMT em 1967, Dennis recontou em seu diário de visões “sobre uma beleza bizarra e de outro mundo, tão alienígena e ainda assim tão bonita. A mente humana não é capaz de suportar tanta beleza (e aquele tipo de beleza) sem perder suas concepções do que é a realidade”.

Embora eu não pudesse eu mesmo falar, eu ouvi, senti, vi, escutei também, talvez me comuniquei com, um som que não era um som, uma voz que era mais que uma voz. Eu encontrei outras criaturas cujo ambiente era este universo alienígena que eu tinha atravessado. Eu me tornei consciente de (talvez tenha entrado em comunicação com) consciências verdadeiramente distintas e separadas, membros de uma raça de seres que vivia naquele lugar, onde quer que este lugar seja. Estes seres pareciam ser feitos parte de pensamento, parte de expressão linguística, parte de conceito abstrato tornado concreto, parte de energia. Eu não posso dizer mais nada sobre a natureza destes seres, exceto que eles existem.(10)

A dança de Dennis com a dimetiltriptamina marcou uma profunda transição de vida, eventualmente tornando-se um etnofarmacologista cujo romance com a ayahuasca o fez abraçar a bebida visionária como a chave para evitar uma catástrofe ecológica global.(11) Enquanto destinados para carreiras dramaticamente variadas—um como frontman tagarela dos duendes de máquinas do hiperespaço, o outro como um renomado cientista—cada um dos irmãos McKenna foi profundamente impactado por suas experiências com DMT entre 1965 e 1967. E em quatro anos, eles seriam atraídos para uma importante fronteira: a Amazônia…


Este artigo é um excerto do livro de Graham St John, “Mystery School in Hyperspace: A Cultural History of DMT” (North Atlantic Books/ Evolver, 2015).
(1) Dennis J. McKenna, The Brotherhood of the Screaming Abyss: My Life with Terence McKenna (St. Cloud, MN: Polaris, 2012), 156.

(2) Terence McKenna, “Under the Teaching Tree,” apresentado na Fundação Ojai (Ojai Foundation), 1993; Terence McKenna, “Understanding and the Imagination in the Light of Nature,” apresentado em Los Angeles, 17 de Outubro, 1987.

(3) Rick Watson, comunicação pessoal, 28 de Fevereiro, 2015.

(4) Terence McKenna, “Psychedelics Before and After History,” apresentado no Instituto de Estudos Integrais da Califórnia em São Francisco, 2 de Outubro, 1987.

(5) T. McKenna, “Understanding and the Imagination in the Light of Nature.”

(6) Em Richard Gehr, “Omega Man: A Profile of Terence McKenna,” Village Voice, 5 de Abril, 1992, www.levity.com/rubric/mckenna.html.

(7) Ibid.

(8) Terence McKenna, “Shamanism, Alchemy, and the 20th Century,” apresentando em Mannheim, Alemanha, 1996.

(9) Terence McKenna, True Hallucinations: Being an Account of the Author’s Extraordinary Adventures in the Devil’s Paradise (San Francisco: Harper, 1993), 77.

(10) D. McKenna, The Brotherhood, 158.

(11) Dennis J. McKenna, “Ayahuasca and Human Destiny,” Journal of Psychoactive Drugs 37, no. 2 (2005): 231–234.

FONTE chacruna.net


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Psilocibina, o cogumelo, e Terence McKenna

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A psilocibina é uma triptamina psicodélica encontrada em aproximadamente 200 tipos de cogumelos no mundo todo. Em um workshop de 1998 de título “O Vale da Novidade”, Terence McKenna a chamou de “a forma fosforilada do DMT” e observou que tanto a psilocibina quanto o DMT “particularmente pareciam afetar as porções do cérebro responsáveis pela formação da linguagem, e isso produz estados mentais realmente bizarros, pois é a sua porção de formação de linguagem que está explicando a cada momento o que está acontecendo.” Para McKenna, a psilocibina providenciava “o mesmo confronto com uma inteligência alienígena e complexos translinguísticos de informação extremamente bizarros” quanto o DMT.

O cogumelo que continha psilocibina mais estudado e discutido por McKenna, Stropharia cubensis (foi reclassificado como Psilocybe cubensis), se apresentou para ele quando tinha apenas 10 anos de idade, em uma reportagem chamada “Procurando o Cogumelo Mágico”, publicada em 13 de maio de 1957 na revista LIFE. O irmão de Terence, Dennis, com 6 anos na época, escreveu em “A Irmandade do Abismo Gritante” (2012) que ele lembra de seu irmão “seguindo nossa mãe enquanto ela fazia o trabalho de casa, chacoalhando a revista e exigindo saber mais. Mas claro, ela não tinha nada a acrescentar.”

Catorze anos depois, McKenna estava na Amazônia colombiana com Dennis e 3 amigos procurando por uma misteriosa bebida de plantas que continha DMT chamada oo-koo-hé. Ao invés disso, em La Chorrera, eles encontraram (e consumiram) Stropharia cubensis, ou como McKenna posteriormente o chamou, “o cogumelo mágico nascido das estrelas”. Em Alucinações Reais (1993) McKenna escreveu:

“Eu nunca tinha tomado psilocibina antes e fiquei impressionado com o contraste com o LSD, que parecia mais abrasivamente psicoanalítico e social. Em contraste, os cogumelos pareciam tão cheios de energia de energia élfica feliz que chegar num trance visionário era o mais interessante.”

A Psilocibina, McKenna descobriu, o permitiu dialogar com uma entidade aparentemente alienígena que ele chamou, entre outros nomes, de “o cogumelo”, “a voz que ensina” e “os Logos”. Durante o workshop de 1998 mencionado acima, McKenna explicou:

“Psilocibina e DMT invocam o Logos, apesar do DMT ser mais intenso e curto na sua duração. Isso significa que eles trabalham diretamente nos centros de linguagem do cérebro, então um aspecto importante da experiência é o diálogo interior. Assim que alguém descobre isso sobre a psilocibina e sobre triptaminas em geral, essa pessoa deve decidir se quer ou não entrar no diálogo e tentar entender o sinal que está vindo. É isso que eu tentei.”

McKenna trouxe esporos do cogumelo pra América e, com seu irmão, aprendeu a cultivá-lo. “Desde a primavera de 1975 eu não estive sem um suprimento contínuo de Stropharia”, ele escreveu em “Alucinações Reais”. Naquela primavera e verão, ele comeu Stropharia “em doses de 5 gramas secos” uma vez a cada duas semanas. De todas as experiências ele escreveu:
“O cogumelo sempre retornava ao tema de que ele era esperto em termos de evolução e então solidário para a união simbiótica ao que ele referiu como ‘seres humanos’.”

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The McKenna brothers published their mushroom-growing guide using the pseudonyms O.T. Oss and O.N. Oeric. Also shown are audiobook/foreign editions of ‘Food of the Gods’ (1992).

Psilocibina: O Guia de Cultivo para Cogumelos Mágicos (1976)

Em 1976 os irmãos McKenna publicaram um livro que fornecia “instruções precisas e sem falhas para cultivar e preservar o cogumelo mágico” – Stropharia cubensis – “não só um dos mais fortes cogumelos alucinógenos, mas também um dos mais difundidos e disponíveis. Psilocibina: O Guia de Cultivo para Cogumelos Mágicos, que era do tamanho de uma coleção moderna de poesia, começa com um prefácio de 3 páginas explicando que, apesar dos métodos no livro serem científicos, “nossas opiniões sobre Stropharia cubensis não são.” As páginas continuam:

“Nossa opinião no assunto não deriva da opinião de outros nem de nada escrito em qualquer livro, ao invés disso se baseia na experiência de tomar 5 gramas secas desse cogumelo; nesse nível um fenômeno peculiar ocorre. É o surgimento de uma relação Eu-Tu entre a pessoa que toma a psilocibina e o estado mental que ela induz . Jung chamou isso de ‘transferência’ e é uma condição necessária dos primeiros homens primitivos e suas relações com seus deuses e demônios. O cogumelo fala, e nossas opiniões são formadas pelo que ele diz eloquentemente de si próprio na noite fresca da mente.”

O prefácio então citou integralmente o cogumelo. A citação, que McKenna disse em “A Sintaxe do Tempo Psicodélico” (1993) foi uma “transcrição direta”, e que ele descreveu como “as reivindicações do cogumelo” em Alucinações Reais – incluindo esses excertos:

“Sou velho, mais velho que o pensamento na sua espécie, que é por si próprio 50 vezes mais velho que sua história. Apesar de estar na Terra por um grande tempo, eu venho das estrelas. Meu lar não é um planeta, já que muitos mundos espalhados pelo disco brilhante da galáxia têm condições que permitem a sobrevivência dos meus esporos. O cogumelo que você vê é a parte do meu corpo dada pra aventuras sexuais e banhos de sol, meu corpo verdadeiro é uma sofisticada rede de fibras crescendo no solo. Essas redes podem cobrir acres de terra e podem possuir mais conexões que as que existem no cérebro humano.”

“O espaço, veja bem, é um vasto oceano para as formas de vida que tem a habilidade de se reproduzir por esporos, já que os esporos são cobertos com a substância orgânica mais resistente que se é conhecida. Através da eternidade do tempo e espaço existem muitas formas de vida formadoras de esporos à deriva, em animação suspensa, por milhões de anos até que ocorra o contato com um ambiente propício.”

“Simbiose é uma relação de mútua dependência e benefícios positivos para ambas espécies envolvidas. A relação simbiótica entre eu e formas civilizadas de animais superiores foi estabelecida muitas vezes e em muitos lugares ao longo do vasto tempo de meu desenvolvimento.”

Uma cronologia dos cogumelos com Psilocibina

Psilocibina: O Guia de Cultivo para Cogumelos Mágicos, que em 1981 já tinha vendido “mais de cem mil cópias”, de acordo com uma edição posterior, conclui com uma seção de nome “Uma Cronologia dos Cogumelos com Psilocibina” – uma lista de observações arranjadas em 37 datas, desde 3500 a.C. até 1984, incluindo:

– c. 3500 a.C: Pinturas de xamãs dançando e segurando cogumelos na presença de vacas brancas foram feitas na superfície de pedras do Tassili Plateau, sudeste da Algeria.

– c. 1100 – 400 a.C: Rituais de iniciação chamados mistérios Eleusinos usavam trigo contaminado com ergot ou cogumelos contendo psilocibina para focar nas aspirações místicas do Mundo Antigo.

– 1502: Cogumelos com psilocibina foram servidos na festa de coroação de Moctezuma II e foram usados recreacionalmente.

– 1958: Dr. Albert Hoffman, um químico da Sandoz de Basel, Suíça, isolou dois agentes ativos e deu a eles o nome de psilocibina e psilobina, já devido ao gênero Psilocybe.

– 1975: Oss e Oeric (nesse volume) bravamente arriscaram parecer ridículos ao serem os primeiros a sugerir a origem extraterrestre de Stropharia cubensis.

 

Teoria do Símio Chapado

Em 1992 McKenna publicou O Alimento dos Deuses, que, entre outras coisas, discutia a Teoria do Símio Chapado, expandindo a história da psilocibina de um contexto temporal de 6000 anos, como mostrado acima, para pelo menos 100 mil anos em termos de Stropharia e possivelmente mais de 1 milhão de anos em termos de cogumelos que contenham psilocibina em geral. A teoria cuidadosamente, de uma forma densa e elegante, sugere que os compostos psicodélicos presentes naturalmente – especificamente a psilocibina – “tiveram um papel decisivo na emergência da nossa humanidade essencial, a característica humana de auto-reflexão.”

A teoria observa que, em pequenas doses, a psilocibina melhora a acuidade visual, especialmente a detecção de bordas. Em doses altas, existe uma estimulação do SNC (Sistema Nervoso Central), e portanto uma estimulação sexual. Em doses maiores ainda, existe a dissolução de barreiras levando a orgias, e ainda existe uma certa capacidade de falar em línguas desconhecidas. “Nossa habilidade de formação de linguagem”, McKenna escreve, “pode ter se tornado ativa através da influência mutagênica de alucinógenos trabalhando diretamente em organelas que estão preocupadas em processar e gerar sinais.”

Os cogumelos como extraterrestres

A ideia que Stropharia não se originou na Terra foi proposta logo no início da carreira de McKenna, no prefácio de Psilocibina: O Guia de Cultivo para Cogumelos Mágicos (1976), mas McKenna continou a sugerir e escrever isso – tanto brincando quanto falando sério, pungentemente – por toda a vida. “Uma das razões que me fazem gostar de utilizar esse argumento sobre o cogumelo e o extraterrestre é pra mostrar às pessoas como alguém pode pensar diferente.” Ele disse, como você pode relembrar pelos memes de Terence McKenna.

Por continuar a falar, pensar e escrever sobre o cogumelo e o extraterreste – um tópico multidisciplinar envolvendo, entre outros assuntos, evolução, nanotecnologia, biologia, botânica, química, química, psicologia, linguagem, narrativa, o eu, o outro, o outro dentro do eu, história mundial, ficção científica, cência espacial – McKenna aumentou a história da psilocibina de 1 milhão de anos para pelo menos 1 bilhão de anos, um aumento na grandeza de 1000. “Eu penso que é possível que certos compostos desses possam ser “genes semente” injetados nos eons ecológicos planetários por uma sonda espacial automatizada, vinda de uma civilização em algum outro lugar da galáxia.” McKenna escreveu em Alucinações Reais. Ele elaborou:

“Espécies que vagam pelas estrelas pode se presumir que possuam um sofisticado conhecimento de genética e funcionamento do DNA e portanto não seria necessário que possuíssem a forma que a evolução em um planeta nativo os deu. Eles bem que podem se parecer do jeito que querem. O cogumelo, com seu hábito de sobreviver por matéria orgânica não-viva e sua rede frágil como teia de aranha de micélio efêmero embaixo da terra, parece um organismo planejado com valores budistas de não-interferência e baixo impacto ambiental.”

De O Renascimento Arcaico:

“O maior problema em procurar extraterrestes é reconhecê-los. O tempo é tão vasto e as estratégias evolutivas e ambientes tão variados que o truque é saber se o contato está de fato sendo feito. O cogumelo Stropharia cubensis, se alguém conseguir acreditar o que ele diz em um de seus humores, é simbionte, e ele deseja uma simbiose ainda mais profunda com a espécie humana. Ele atingiu simbiose com a sociedade humana logo no início por se associar com gado domesticado e a partir deles com homens nômades. Assim como as plantas e animais que homens e mulheres cuidaram, o cogumelo conseguiu se inserir na família humana, para que os humanos carregassem consigo não somente genes humanos mas também esses outros genes.”

E, dois parágrafos depois:

“A pessoa deve balancear essas explicações. Agora vou parecer que não acredito que o cogumelo seja extraterrestre. Pelo contrário, isso pode ser algo que recentemente tenho suspeitado – que a alma humana é tão alienada de nós pela nossa cultura que os tratamos como extraterrestres. Para nós, a coisa mais alienígena do cosmos é a alma humana. Alienígenas estilo Hollywood poderiam chegar na Terra amanhã que o transe do DMT continuaria a ser algo estranho e continuaria a carregar mais promessas de informação útil para o futuro humano. É tão intenso assim.”

Algumas coisas que o cogumelo disse a Mckenna:

McKenna, desde 1971 até o fim de sua vida em 2000, esboçou e compartilhou um bilhão de anos da possível história do cogumelo com “os seres humanos” por meio de livros e palestras. Em um retorno possivelmente gracioso, alguém pode dizer, o cogumelo permitiu a McKenna se envolver em um diálogo – a única condição era que ele ingerisse 5 gramas secos, preferencialmente sozinho em um lugar escuro e silencioso. “Eu não necessariamente acredito no que os cogumelos me dizem; ao invés, temos um diálogo” McKenna escreveu em O Renascimento Arcaico. Abaixo são algumas amostras do grande alcance das coisas que o cogumelo disse a McKenna:

  1. “Você é um cogumelo, você vive sem muitos custos.”

McKenna disse, em Novos Mapas do Hiperespaço, que ele uma vez perguntou ao cogumelo “o que você faz na Terra?” O cogumelo respondeu: “Ouça, se você é um cogumelo, você vive sem muitos custos; além disso, estou te dizendo, essa era uma vizinhança boa até que os macacos ficaram fora de controle.”

  1. “Se você não tem um plano, você se torna parte do plano de outras pessoas.”
  2. “Ninguém sabe nada do que está acontecendo.”
  3. “A natureza adora coragem.”
  4. Como salvar o mundo

Em O Vale da Novidade, McKenna diz que uma vez alguém o desafiou a perguntar ao cogumelo como salvar o mundo. A próxima vez que ele tomou os cogumelos ele perguntou, e o cogumelo, “sem hesitar por um momento”, respondeu “cada pessoa deve ter filhos somente uma vez.” McKenna observou:

“Essa é uma ideia surpreendente. Não é zerar o crescimento populacional, isso é diminuir em 50% a população a cada 20 anos. Se as pessoas de democracias industriais com alta tecnologia se limitassem a uma criança, quase imediatamente a destruição dos ecossistemas e recursos da Terra cessariam. Nós pregamos controle populacional no terceiro mundo, mas as estatísticas mostram que quando uma mulher de primeiro mundo tem um filho, esse filho irá consumir entre 800 a 1000 vezes mais recursos em sua vida o que uma criança nascida em Bangladesh, ou outro local de terceiro mundo.”

  1. Teoria Timewave

Em termos do impacto do trabalho de McKenna, esse foi provavelmente o ensinamento mais importante do cogumelo. McKenna elaborou os aspectos dessa teoria em Alucinações Reais:

“Os tempos estão relacionados consigo mesmos – as coisas acontecem por uma razão e não é uma razão casual. Ressonância, o misterioso fenômeno em que uma corda vibrante parece magicamente invocar uma vibração semelhante em outra corda ou objeto que está desconectado fisicamente, se sugeriu como um modelo para a propriedade misteriosa que relaciona um tempo à outro apesar de poderem estar separados por dias, anos, ou até milênios. Eu me convenci que existe uma onda, um sistema de ressonâncias, que as condições acontecem em todos os níveis. Essa onda é fractal e auto-referencial , assim como muitas das mais interessantes novas curvas e objetos sendo descritos nas barreiras da pesquisa matemática. Essa onda eletromagnética (timewave) é expressa através do universo em um número de níveis extremamente discretos. Ela causa que átomos sejam átomos, células sejam células, mentes sejam mentes, e estrelas sejam estrelas.”

Mas o cogumelo não contou tudo – até mesmo nada – que ele queria saber. Em Novos Mapas do Hiperespaço, McKenna descreveu seu relacionamento com o cogumelo:

“As vezes é bem humano. Minha aproximação a isso é Hassídica. Eu deliro à ele, ele delira à mim. Nós discutimos sobre o que será expelido de repente e o que não será. Eu digo ‘bem, olhe, eu sou o propagador, você não pode deixar de me mostrar coisas’, e ele diz ‘mas se eu mostrasse um disco voador por 5 minutos, você descobriria como funciona’, e eu digo ‘bem, vamos lá’. Ele tem muitas manifestações. As vezes é como Dorothy de Oz; as vezes é como um tipo de penhorista extremamente detalhista.”

As coisas que o cogumelo não disse a McKenna incluem o que acontece com a consciência humana após a morte biológica (“O Logos não quer ajudar aqui”) e o que ele realmente é por si só. McKenna explicou posteriormente em “Voz do Cogumelo”:

“A coisa mais assustadora pra dizer para ele é ‘me mostre o que você realmente é por si só’. Nesse ponto, ele começa a se mostrar, e você não consegue suportar. Após 40 segundos você diz ‘desculpe por perguntar’. Sabe, certifique-me, pois você tem um senso, meu deus, essa coisa é o que parece ser. É uma inteligência galáctica. Tem bilhões de anos de existência. Tocou 10 milhões de mundos. Ele sabe a história de 150 mil civilizações.”

O tópico da próxima semana será Cannabis. “Meu interesse na Cannabis é intenso e pra vida toda, devo dizer” McKenna disse em “Triálogo da Cannabis” em 1991, chamando-a de “um assunto que interessa um vasto número de pessoas, apesar de ser pouco discutido e de fato parece ter ganhado o status de tabu na sociedade civilizada.”

livros que amo muito
Livros do Mckena foram publicados aqui no Brasil, todos pela Editora NOVA ERA. Hoje em dia é raridade encontrar um deles em algum sebo. Mas temos estes três para você baixar e ler em casa. Não deixe de entrar em nossa Biblioteca Virtual

 

FONTE VICE

Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaboradora Raphaela Lancellotti.
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A Segunda Revolução Psicodélica, Parte 3 – Terence Mckenna, o Surgimento do Xamã Vegetal

Esse artigo é a terceira parte de uma série de 6. Para ler a segunda parte, clique aqui.

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Metaforicamente, o DMT é como um buraco-negro intelectual, pois uma vez que alguém saiba sobre ele, é muito difícil para outros entenderem sobre o que se está falando. Ninguém consegue ser ouvido. Quanto mais o indivíduo consegue articular sobre o que essa experiência é, menos os outros são capazes de entender. É por isso que eu creio que as pessoas que obtém a iluminação são silenciosas. Elas são silenciosas pois nós não podemos compreendê-las. O porquê do fenômeno do êxtase psicodélico não ter sido examinado por cientistas, caçadores de emoções, ou qualquer outra pessoa, eu não tenho certeza, porém recomendo a sua atenção para isso.

Terence Mckenna, O Retorno à Cultura Arcaica

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A publicação de PIHKAL TIHKAL por Alexander e Ann Shulgin resultou em uma variedade imensa de novos psicodélicos (veja a segunda parte) que estão agora disponíveis em grande escala graças à escassez do LSD após a batida policial no silo de mísseis Y2K em Kansas (veja a primeira parte). Entretanto, ao contrário da primeira revolução psicodélica, que vou iniciada primeiramente pelo psicodélico artificial LSD, e em menor escala, pela mescalina, psilocibina e DMT sintetizados laboratorialmente [1], (como listado na introdução do “A Experiência Psicodélica: Um manual baseado no Livro Tibetano dos Mortos” por Leary, Metzner e Alpert em 1964), a segunda revolução psicodélica não pode ser puramente definida por drogas “sintéticas”. Embora a falta de LSD tenha popularizado o 2C-B, 2-C-T-7, 5-MeO-DIPT, e outros compostos psicodélicos laboratoriais antes desconhecidos, ela também popularizou um renascer no interesse de enteógenos naturais das plantas [2] e a popularização do previamente pouco conhecido conceito de xamanismo vegetal e a ideia que essas plantas não são tanto “drogas psicodélicas”, mas sim, “medicinas espirituais”.

O primeiro volume de Shulgin, “PIHKAL: Uma história de amor química” focou no trabalho de Sasha com a família de compostos da fenetilamina, e enquanto essa inclui muitos outros psicodélicos verdadeiros como a mescalina e os inúmeros compostos 2C-X, foi seu trabalho com os empatógenos famosos como o MDMA e o MDA [3] que trouxeram o trabalho de Sasha para a atenção da cultura “rave” no início dos anos 90. O segundo volume de Shulgin, “TIHKAL: A continuação” [4], entretanto, explorou o trabalho de Sasha com as triptaminas, a classe de compostos que inclui os neurotransmissores importantes como a serotonina e a melatonina, psicodélicos/enteógenos naturais como a psilocibina, LSD e ibogaína, e os psicodélicos endógenos, como o DMT e o 5-metóxi-DMT. 

Considerado por muito tempo como o santo graal dos psicodélicos, o DMT era comparativamente raro no mercado ilícito de drogas até mesmo nos anos 60. Sua escassez era acompanhada de sua reputação assustadora – Grace Slick, o cantora do Jefferson Airplane, uma vez disse que “ácido é como ser sugado por um canudinho, DMT é como ser atirado de um canhão”. Ele tinha praticamente desaparecido da cultura psicodélica geral muito antes do lançamento do TIHKAL. Entretanto, não foi a publicação do TIHKAL, mas um par de livros em 1992 (um anos após o PIHKAL) por um autor pouco conhecido sem nenhum treinamento em química orgânica ou antropologia cultural que iriam ser os responsáveis por popularizar o DMT na cultura psicodélica contemporânea. Mas ao contrário do uso do DMT nos anos 60, que utilizou o DMT de forma intravenosa ou fumada, o interesse primário do autor no DMT foi como um ingrediente ativo em uma bebida amazônica obscura que naquele tempo era ainda conhecida pelo seu nome hispânico yagé, diferentemente de como é conhecida agora: uma aproximação fonética de um de seus inúmeros nomes indígenas – Ayahuasca.

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Quando o “O Retorno à Cultura Arcaica” (uma coleção de ensaios e palestras de Terence McKenna) e o “Alimento dos Deuses” (sua obra prima em plantas psicodélicas que incluiu a teoria do símio chapado) foram publicados em 1991, haviam se passado pelo menos duas décadas desde que Terence e seu irmão mais novo Dennis McKenna tinham escrito “A Paisagem Invisível” (1975), um estranho volume alquímico descrevendo uma expedição à Amazônia em busca do oo-ko-heé, um rapé xamânico que continha DMT. (Terence estava procurando uma fonte natural para a experiência sintética do DMT, que como um linguista e psiconauta, ele tinha se tornado muito envolvido). Esse primeiro livro não teve grande tiragem e se tornou uma espécie de item de colecionador para psiconautas, devido à extraordinariedade da expedição e as inúmeras ideias radicais contidas em suas páginas. (Essas ideias incluiram uma compilação recente de especulações sobre tempo e casualidade, que Terence McKenna desenvolveu em sua “Teoria da Novidade”, assim como uma previsão da chegada do eschaton: uma singularidade no fim dos tempos, que ele previu que iria acontecer em Dezembro de 2012. [5] Uma vez que a expedição tenha falhado em seu objetivo de encontrar o rapé de DMT que eles estavam procurando, os irmãos Mckenna encontraram no seu lugar exemplares de Psilocybe cubensis muito psicodélicos, e em um parte menos reconhecida do trabalho de Terence Mckenna, trouxeram os esporos desses cogumelos de volta para os Estados Unidos e ficaram os anos seguintes desenvolvendo métodos efetivos de cultivo indoor, cujos resultados foram publicados no livro popular Psilocybin: A magic Mushroom Growers Guide. [6]

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Com esse trabalho – a introdução de plantas enteógenas facilmente disponíveis [7] e que qualquer um poderia cultivar em forma de livro de instruções – os irmãos McKenna mereceriam uma menção, mas esse seria apenas o começo de carreiras extraordinárias na arena psicodélica para ambos. Dennis McKenna voltou para a universidade, e se tornou um etnofarmacologista respeitado. Durante a última década de sua vida – e agora na primeira década do século 21 – o filósofo e engenheiro memético Terence McKenna (1946 – 2000) se tornou o mais popular e reconhecido porta-voz para os psicodélicos desde Timothy Leary [8]. Foi Terence o mais responsável por evoluir a cultura psicodélica contemporânea ao seu estado atual, graças a seus escritos e palestras, muitas das quais estão sendo transmitidas em podcasts na internet desde sua morte – um meio de comunicação que ele abraçou entusiasticamente durante sua vida como uma nova forma de comunicação e expressão artística, e que agora acabou imortalizando-o.

A publicação de O Retorno à Cultura Arcaica e O Alimento dos Deuses coincidiu de fato sincronisticamente com os primeiros anos da Internet e da música eletrônica, e enquanto Timothy Leary foi um pioneiro da rede, foi Terence que a cultura “rave” dos anos 90 abraçou enfaticamente. Nos últimos anos de sua vida Terence McKenna foi com frequência o mais o palestrante mais popular e esteve nas principais conferências, assim como uma atração principal nas raves – auto declarando-se “Voz dos Cogumelos” ele tinha a habilidade de fazer uma sala inteira de dança se sentar durante os intervalos dos DJs para escutar sobre a beleza dos psicodélicos, por horas a fio às vezes. Sua capacidade extraordinária para o discurso e a descoberta de uma audiência com frequência muito cativa coincidiu mais uma vez com a revolução da Internet, e muitas conferências de Terence eram tecnologicamente evoluídas para a época (há um relacionamento de longa duração entre a comunidade psicodélica e a do vale do silício [9]), resultando em um número incrível de gravações e podcasts, muitas vezes mixados em músicas eletrônicas.

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A morte inesperada e fora do tempo aos seus 53 anos também coincidiu com a seca do LSD que se seguiu à batida policial do silo de Kansas em 2000, e o período em que os psiconautas foram forçados a considerar novas opções psicodélicas. Cogumelos mágicos tiveram sua importância aumentada na cultura psicodélica, e o interesse cresceu tanto para a ayahuasca, que começou a aparecer na américa do norte em meados de 1990, e o DMT, que tinha sido escasso por décadas, também começou a se tornar mais disponível a partir de 2000. Esse interesse nas ideias centrais de Terence, juntamente com sua popularidade nas comunidades de música eletrônica e de tecnologia – aumentaram a influência de Terence exponencialmente quando ele morreu. Um processo amplificado por sua previsão da chegada do escathon em 21 de Dezembro de 2012 – a previsão que ironicamente (e infelizmente) ele não viveu para ver.

Agora por mais de uma década desde sua morte, e mais de um ano depois dos eventos da histeria e esperança do ano 2012 que ele ajudou a criar, não há como negar a influência de Terence McKenna na cultura psicodélica contemporânea, ou até mesmo na cultura popular por si mesma. A veneração dos “cogumelos mágicos” e a reintegração da figura da Divindade; o interesse atual no DMT em suas diversas formas; a com frequência debatida suposição que os enteógenos naturais são superiores à compostos artificiais ou sintéticos, mais notavelmente o LSD; nossos conceitos sobre espíritos das plantas, xamanismo, e o aumento do turismo da ayahuasca; a ideia moderna do “renascimento arcaico” dos festivais para revigorar a espiritualidade na sociedade ocidental; a fusão dos psicodélicos e da cultura virtual; abduções e o fenômeno UFO; e claro, o fenômeno do ano de 2012: esses foram todos memes nascidos ou popularizados pelas ideias e interesses de Terence McKenna, mesmo que ironicamente, ele tenha vivido pouco para ver a mudança que ele criou em diversas formas.

Na década que se seguiu à sua morte, os pontos focais do trabalho da vida de Terence Mckenna se tornaram, para o melhor e o pior, algo como uma planta baixa para o surgimento da cultura global neo-tribal e neo-xamânica, evidenciada no Burning Man, no festival Boom!, e em outros eventos intermináveis que as representam. As ideias de Terence influenciaram a moda psicodélica, as músicas que escutamos, os psicodélicos que utilizamos (e o modo como o utilizamos), os países que visitamos, até mesmo a maneira que usamos a internet. Sua previsão de uma singularidade no fim dos tempos de nossas vidas (senão de sua própria) forneceu um códex moderno para a antiga tradução Maia, e ajudou a gerar o interesse mundial no que antes seria uma data arqueológica insignificante. Mas agora que nós estamos no outro lado do Omega Point de 2012 e tudo ainda está de pé, é a popularização da ayahuasca feita por Terence que é digna de nossa atenção.

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Durante a última década o aumento do interesse na ayahuasca tem sido extraordinário, e desde o advento do LSD nos anos 60, nenhum psicodélico capturou a imaginação artística e espiritual da mesma maneira, e o uso da ayahuasca, mesmo que muito menor que o número de usuários do LSD nos anos 60, se tornou comum o suficiente para penetrar a mídia. (Marie Claire, uma revista feminina popular, é a última publicação incomum, com um artigo sobre os círculos da ayahuasca [10]). Conhecida previamente na cultura psicodélica através do livreto de William S. Burroughs e Allen Ginsberg chamado The Yage Letters publicado em 1963, foi a popularização de Terence McKenna dessa bebida xamânica amazônica incomum  nos anos 1980-1990 que daria origem à uma “cultura da ayahuasca”. Quando os primeiros xamãs sul-americanos começaram a visitar a Europa e os EUA nos anos 90, o uso da ayahuasca se espalhou rapidamente no século 21, um processo que foi acelerado pela escassez do LSD, forçando os psiconautas a procurarem por outros caminhos para experiência psicodélica. (Há também ocorrido um interesse renovado no San Pedro e no Peyote, enquanto formas fumáveis do DMT têm reaparecido nos mercados negros pela primeira vez em décadas, juntamente com receitas para extração de plantas que são comumente disponíveis na internet.)

Proibição, pelo que parece, apenas gera diversificação, e uma diferença notável que separa a Segunda Revolução Psicodélica da Primeira é a imensa variedade de psicodélicos e empatógenos, tanto naturais como sintéticos, que estão agora disponíveis.

A cultura da ayahuasca por si só começou, em muitos sentidos, a se desenvolver fora da comunidade psicodélica tradicional, muitos na comunidade do yoga por exemplo, abraçaram a ayahuasca, com centros independentes de yoga ao redor do mundo hospedando xamãs sul-americanos e suas cerimônias que atraem muitos indivíduos com pouca ou nenhuma conexão com a comunidade psicodélica, uma vez que eles não vêm a ayahuasca como uma droga psicodélica, mas uma medicina sacramental.

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Enquanto a ayahuasca contém DMT, uma substância da lista 1 (substâncias sem nenhum uso médico e psicológico), juntamente com o LSD, o uso da ayahuasca não tem sido (até agora) perseguido nos Estados Unidos. Leis federais favoráveis em 2000 em relação às igrejas União do Vegetal (UDV) e o Santo Daime, que utilizam ayahuasca em suas cerimônias, foram interpretadas como um furo na lei para muitos, e foi sem dúvida um fator no aumento da popularidade da ayahuasca. Enquanto mais e mais celebridades ressaltam suas experiências de mudança de vida com a bebida amazônica, e mais e mais psiquiatras e psicólogos especulam sobre os benefícios da experiência, o aumento da retórica em torno da ayahuasca lembra a excitação que o LSD inspirou quando foi tornado ilegal em 1966.

É virtualmente impossível quantificar a experiência psicodélica; a ayahuasca ganhou uma reputação especial devido à visões coloridas que induz, enquanto o pináculo do LSD é geralmente representado como uma dissolução na “luz branca” mística. Quando comparados sob uma perspectiva estritamente fenomenológica, ambos possuem reputação por serem capazes de induzir o paraíso ou o inferno, e ambas experiências são longas e fisicamente desgastantes. Ambos são descritos como enteógenos reais, capazes de induzir catarses espirituais de mudança de vida; ambos tem sido bem-sucedidos no combate ao vício; e ambos se originaram como medicinas. (O LSD foi originalmente um medicamento legal). Muitas das propriedades extraordinárias atribuídas a um deles – telepatia, um aumento na sincronicidade diária, inspiração artística, conexões profundas com a natureza, experiências místicas e transpessoais – também foram atribuídas ao outro. Então onde está a diferença entre essas duas “Revoluções Psicodélicas”, ou simplesmente nós trocamos altas dosagens de um potente enteógeno fabricado em um laboratório na Suíça por um equivalente natural colhido nas florestas amazônicas?

A diferença reside não muito na fenomenologia da experiência psicodélica interna, mas no conteúdo externo; a experiência do xamã e seus ícaros, e o ritual contido nas próprias experiências. Quando o uso do LSD explodiu em 1960 após ter se tornado ilegal, o que faltou essencialmente na Primeira Revolução Psicodélica foi um ambiente seguro para a experiência. Muitas pessoas jovens caíram em situações perigosas, e as consequências culminaram na ilegalidade dos psicodélicos. O que nós aprendemos da primeira revolução psicodélica é que no ocidente, faltam as escolas místicas necessárias para integrar com sucesso e benefícios o uso dos psicodélicos em nossa sociedade. Muito da evolução da cultura psicodélica contemporânea tem sido um processo de investigação e integração da sabedoria e técnicas antigas com a experiência psicodélica anedótica que foi gerada nos últimos 50 anos.

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Primeiramente procurando conhecimento e direção em estados alterados de consciência dos Gurus e Rinpoches da Índia, então os xamãs da bacia Amazônica, e agora de uma variedade ampla do xamanismo tradicional de inúmeras culturas, a cultura psicodélica moderna se adaptou aos enteógenos disponíveis, e moveu-se de bom grado entre o laboratório e o conhecimento ancestral das plantas na procura da experiência enteógena não diluída. O chamado entusiástico de Terence McKenna do xamã como um guia psicodélico espiritual (em oposição ao curador homeopático que pode estar mais próximo à realidade) resultou em milhares de americanos e europeus viajando para o Peru, Ecuador e o Brasil na procura dessa orientação, e uma onda de xamãs sul-americanos migrou para costas estrangeiras – uma inovação psicodélica que inevitavelmente gerou uma série de imitadores locais, e infelizmente tornou a palavra “xamã” uma das mais abusadas no vocabulário atual. Canções guias da ayahuasca, chamadas de ícaros podem agora serem encontradas misturadas em música eletrônica, a palavra icaros impressa em vestimentas de festivais, e o hábito de participar de círculos de ayahuasca começou a se tornar um status “cult” em locais diversos como Asheville, Brooklyn, Los Angeles, Portland, e Santa Fe (somete para citar algumas).

Durante esse mesmo período, universitários estudando a história do ocidente e antropologia tiveram que reconciliar o fato de que muitas das maiores civilizações e religiões mundiais – incluindo os gregos, hindus e budistas – utilizaram plantas psicodélicas. Essa é uma ideia que tem sido extremamente impopular, mas é agora incrivelmente óbvia para as gerações de antropologistas e mitologistas psicodélicos nascidos desde os anos 60, muitos dos quais estão familiarizados com o trabalho de Terence McKenna. É agora amplamente aceito e concluído que a ayahuasca amazônica (e o dmt-rapé) pode ser considerada o último enteógeno sacramental [11] de uma grande era planetária marcada por pelo menos cinco culturas enteogênicas distintas, e que duraram cada uma pelo menos dois mil anos; as outras sendo o Soma nos hindus Vedanta (Índia), os kykeon dos mistérios de Elêusis (Grécia), a cultura do San pedro que teve seu pico em Chavín de Hunatar (Peru), e a variedade impressionante de psicodélicos (cogumelos cubensis, sementes de glória da manhã, cacto peyote, e toxinas de rãs) utilizados pelas culturas Maia, Tolteca e Asteca (México). [12] O xamanismo vegetal é agora reconhecido como sendo o modelo xamânico primário mundialmente, e não um “substituto vulgar do trance puro” para os métodos xamânicos tais quais os tambores e cânticos, como Mircea Eliade [13] supôs em seu texto clássico de 1951 chamado Shamanism: Archaic Techniques of Ecstacy. (Eliade mudou de opinião no final de sua vida, falando para Peter Furst em uma entrevista não muito antes de sua morte que nos anos 60 os antropologistas não tinham uma perspectiva psicodélica suficiente para reconhecer a importância dos variados ritos locais, então a evidência simplesmente não estava lá [14].)

Terence McKenna foi um dos primeiros escritores que realmente juntou a história psicodélica da humanidade e a ligação da ayahuasca com nosso passado remoto. Foram seus escritos que ajudaram a espalhar a beleza, mito e magia do povo e cultura amazônica para uma audiência maior, e apesar de sua associação com o fenômeno 2012 e a triste mescla dos dois, sua defesa das plantas enteógenas e a reintrodução do processo xamânico no mundo ocidental modeno serão sempre lembradas como sua contribuição fundamental para a cultura psicodélica. Até mesmo sua teoria do símio chapado – a ideia que a linguagem falada evoluiu quando nossos ancestrais primatas desenvolveram uma dieta que incluía cogumelos com psilocibina – pode ser algum dia popular e ser levada a sério. Sua morte com a idade de 53 anos roubou da cena psicodélica seu porta-voz mais carismático, e garantiu a imortalidade de Terence McKenna graças à tecnologia emergente da internet que ele adotou entusiasticamente, e será lembrado como um dos primeiros pod-casters famosos. [15]

[1] DOM ou STP, que também pode ser incluído nessa lista, não apareceu até 1966.

 

[2] Enteógeno (Despertando o Deus Interior); uma planta ou composto que pode induzir uma experiência mística, e é com frequência considerado sagrado.

 

[3] que são psicodélicos somente em altas dosagens (geralmente)

 

[4] Triptaminas que eu conheci e amei na sigla em inglês

 

[5] A data original da previsão de Terence McKenna foi 16 de Dezembro de 2012 (coincidindo com o que seria seu 66o aniversário); Terence mais tarde mudou a data para o dia 21, coincidindo com o calendário Maia.

 

[6] Sob os pseudônimos OT Oss e ON Oeric

 

[7] Enteógeno (Despertando o Deus Interior); uma planta ou composto que pode induzir uma experiência mística.

 

[8] e o mais controverso desde Leary!

 

[9] Veja What the Doormouse Said: How the Sixties Counterculture shaped the Personal Computer Industry (2005) por John Markhoff.

 

[10] http://www.marieclaire.com/world-reports/ayahuasca-new-power-trip

 

[11] Enquanto ambos Soma Kykeon desapareceram há muito tempo juntamente com suas identidades reais desconhecidas, a cultura do San Pedro no Peru ainda sobrevive de certa maneira, porém em uma forma sincrética cristã muito diluída, assim como os remanescentes de cultos do cogumelo no México, mas a cultura e uso amazônicos da ayahuasca representa a maior cultura enteogênica ainda em efeito no planeta, e permaneceram inalteradas até mesmo no mundo pós segunda guerra. Ironicamente, as igrejas da ayahuasca no Brasil (Santo Daime e União do Vegetal) alcançaram níveis de legalidade graças à suprema corte definindo-as também como religiões sincreístas. Essas igrejas atribuem a descoberta da ayahuasca para seus fundadores mestiços, e não para as tribos indígenas amazônicas.

 

[12] Um argumento que pode ser desenvolvido é que com a invenção do LSD, e agora com milhares de research chemicals disponíveis, nós estamos no processo de criação da 6a – e pela primeira vez global – cultura enteogênica.

 

[13] O pai da Fenomenologia de Religião, e o homem que cunhou o termo “xamã” (do sibérico) para designar curandeiros amazônicos.

 

[14] “O que nós sabíamos sobre essas coisas em 1950?” confessou Eliade para Furst.

 

[15] Pesquise por “Terence McKenna” no Google e você terá aproximadamente 1.6 milhões de resultados, muitos deles sendo podcasts e gravações.

Fonte

Alucinações Reais – Download – Terence Mckenna

Em Alucinações Reais, McKenna narra a viagem feita por ele com o irmão à floresta amazônica, buscando os psicodélicos naturais da selva com o auxílio de nativos. Essa viagem marcaria para sempre a vida dos dois irmãos e sua importância mítica na trajetória de ambos fez dela muito mais um rito iniciático que uma exploração de caráter científico. Os insights e visões alucinantes com revelações surpreendentes geraram não apenas a narrativa da aventura em Alucinações como seu antecessor, o incrível e estranho The Invisible Landscape.

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O Alimento dos Deuses – Terence Mckenna

Uma pesquisa completa a respeito da utilização das plantas de poder pelos xamãs primitivos. Mckenna traça um paralelo entre o uso ritual das substâncias expansoras da consciência e as drogas. Um estudo da evolução humana através do mundo vegetal.

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O Retorno à Cultura Arcaica – Download – Terence Mckenna

O Retorno à Cultura Arcaica é espécie de livro de anotações de um explorador ou um diário de suas viagens no tempo e no espaço ideológico. Através de ensaios, entrevistas e da narração de experiências com substâncias alucinógenas o autor tenta explorar a realidade partindo de uma ótica xamanista. Nestes textos, ele nos transporta para uma viagem profunda Amazônia adentro, até chegar aos espaços desconhecidos da psique humana e aos limites na nossa cultura, fornecendo visões inusitadas do passado e do futuro.

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Por que os Psicodélicos são Ilegais?

Arte da civilização Minoica, que existiu de ~2700 a.C. até ~1450 a.C.

Terence McKenna via a cannabis, psilocibina, DMT, LSD, e outros psicodélicos como “catalisadores para uma divergência intelectual.” Em seu livro Retorno à Cultura Arcaica (1991), defende sua hipótese de que os psicodélicos sempre foram ilegais “não por causarem transtornos àqueles que se tem visões” mas porque “existe algo a respeito deles que levanta uma dúvida a cerca da realidade.” Isso torna difícil, observou McKenna, para que as sociedades – mesmo as democráticas e especialmente as “dominadoras” – os aceitem, e estamos por viver numa sociedade global do tipo “dominadora”.

McKenna costumava usar os termos “igualitária” e “dominadora” para se referir aos tipos de sociedades e relações. Riane Eisler, cujo trabalho McKenna sempre elogiou, surgiu com essas expressões. Em Retorno à Cultura Arcaica, McKenna escreveu:

[su_quote]Recentemente Riane Eisler na sua importante revisão da história, The Chalice and the Blade, destacou a importância da noção de que modelos de sociedade de “parceria” estão em competição e são oprimidos por formas de organização social “dominadoras”. As culturas dominadoras são hierárquicas, paternalistas, materialistas e de domínio masculino. Sua opinião é a de que a tensão entre essas duas formas de organização social e a superexpressão do modelo dominador são responsáveis pela nossa alienação. Concordo plenamente com os argumentos de Eisler.[/su_quote]

Para entender melhor a visão de McKenna sobre a ilegalidade dos psicodélicos, vamos examinar por que o mundo atual opera na forma dominadora ao invés da igualitária, e o que estes termos significam exatamente. Para isso, vamos partir do trabalho de Eisler, o qual (muito similar ao de McKenna, acredito) expõe de forma elaborada os aspectos da história e da natureza que são deliberadamente suprimidos. Em seu livro O Cálice e a Espada, Eisler argumenta que na maior parte dos últimos ~32.000 anos, os seres humanos viviam em sociedades igualitárias, dentro de uma cultura igualitária global – um modo de vida que é praticamente inimaginável nos dias de hoje.

O Cálice e a Espada (1987) por Riane Eisler

Eisler apresenta os termos igualitário e dominador em sua teoria da Transformação Cultural, a qual propõe que “sob a grande superfície da diversidade cultural humana estão dois modelos básicos de sociedade.” (1) No modelo dominador, metade da humanidade está colocada sobre a outra metade. Uma vez que este viés envolve “a diferença mais fundamental dentro de nossa espécie, entre masculino e feminino,” ele então se torna a base para todas as outras relações (e, eu acredito, até mesmo em experiências). (2) No modelo igualitário, a diversidade não é medida com inferioridade ou superioridade; ao invés de se criar uma hierarquia entre as características, se cria um vínculo.

Na visão de Eisler, a dicotomia dominador/igualitário não é específica de ideologias (tanto o capitalismo quanto o comunismo podem, e devem, ser operados sob os valores dominadores) nem de gênero – tanto homens quanto mulheres podem, e tomam, atitudes dominadoras. McKenna ressalta este aspecto em particular no trabalho de Eisler. Ele disse em The Evolutionary Mind (1998):

[su_quote]Eu não vejo isso como uma doença masculina. Eu acredito que todos aqui nessa sala tem um ego muito mais forte do que o necessário. Uma ótima coisa que Riane Eisler fez em seu livro O Cálice e a Espada para esta discussão, foi desatrelar as terminologias aos gêneros. Ao invés de falar sobre patriarcado e tudo mais, deveríamos falar sobre a sociedade dominadora versus a igualitária.[/su_quote]

Embora seja senso comum a ideia de que os homens são historicamente dominantes, o sexo opressivo – o que potencialmente iria desacreditar a teoria neutra dos gêneros de Eisler – está incorreto. Eisler mostrou que o modelo dominador que agora existe a nível global, e o qual é indiscutivelmente liderado pelos Estados Unidos, um país cujos 44 presidentes e vice-presidentes eram homens, é um evento recente. De ~35.000 a.C. (período estipulado de quando foram feitas as famosas estatuetas de Vênus) até ~5.000 a.C., os humanos viviam no modelo igualitário. Não havia nem patriarcado nem matriarcado. McKenna diz em seu livro Alimento dos Deuses (1992):

[su_quote]Eisler utilizou registros arqueológicos para argumentar que ao longo de vastas áreas e por muitos séculos as sociedades igualitárias do antigo Oriente Médio não enfrentavam guerras nem revoltas. A guerra e o patriarcado surgiram com o aparecimento dos valores dominadores.[/su_quote]

Evidências desse estilo igualitário foram descobertas, assim como em outros lugares, num local chamado Catal Huyuk na Anatólia. As escavações permitiram um estudo do período de ~7.500 a.C. (quando o livro de Eisler foi publicado, as escavações datavam de até ~6.500 a.C.) até ~5.700 a.C. Os arqueólogos encontraram “nenhuma evidência de desigualdade social”, uma organização social matrilinear e matrilocal, e que “a divina família de Catal Huyuk” era representada pela seguinte ordem de importância: mãe, filha, filho e pai. Mais de 40 dos 139 cômodos escavados entre 1961 e 1963 parecem ter exercido o papel de templos; “a religião da Grande Deusa parece ser a característica mais proeminente e importante da vida.” Eisler disse:

[su_quote]Também é verdade que em Catal Huyuk e outras sociedades neolíticas as representações antropomórficas da Deusa – a jovem Virgem, a Mãe Natureza, e a velha anciã, e todas as demais até chegarmos em Creatrix, são, como posteriormente observou o filósofo grego Pitágoras, projeções de vários estágios da vida de uma mulher. O que também sugere uma organização social matrilinear e matrilocal é que em Catal Huyuk o local onde se situavam as possessões pessoais das mulheres bem como sua cama ou divã era sempre no mesmo lugar, no lado leste do quarto. Já a parte do homem além de variável, é, de certa forma, menor.[/su_quote]

Eisler complementa:

[su_quote]Também é verdade que em Catal Huyuk e outras sociedades neolíticas as representações antropomórficas da Deusa – a jovem Virgem, a Mãe Natureza, e a velha anciã, e todas as demais até chegarmos em Creatrix, são, como posteriormente observou o filósofo grego Pitágoras, projeções de vários estágios da vida de uma mulher. O que também sugere uma organização social matrilinear e matrilocal é que em Catal Huyuk o local onde se situavam as possessões pessoais das mulheres bem como sua cama ou divã era sempre no mesmo lugar, no lado leste do quarto. Já a parte do homem além de variável, é, de certa forma, menor.[/su_quote]

Por que, então, ~7.000 anos atrás, quando o modelo dominador veio a existir, foram as mulheres – e não os homens – que sofreram opressão? A resposta, mostrou Eisler, está na percepção de que apenas as mulheres dão a luz. Humanos pré-históricos, ao notar que nova vida adentrava o mundo exclusivamente pelo corpo feminino – o qual também os nutria e cuidava para aquela nova vida – aparentemente desenvolveram uma religião/perspectiva que era centrada no culto à divindade feminina. Eisler usa a palavra “culto” com a ideia de que, “na pré-história e, num âmbito maior, outros tempos da história, religião era a vida, e a vida era religião.” Mulheres e homens cultuavam uma abstração feminina sem distinções, a qual Eisler chamou de Deusa. Isto persistiu até mesmo depois do desenvolvimento da agricultura e da criação das primeiras civilizações, ~10.000 anos atrás:

[su_quote]Também é verdade que em Catal Huyuk e outras sociedades neolíticas as representações antropomórficas da Deusa – a jovem Virgem, a Mãe Natureza, e a velha anciã, e todas as demais até chegarmos em Creatrix, são, como posteriormente observou o filósofo grego Pitágoras, projeções de vários estágios da vida de uma mulher. O que também sugere uma organização social matrilinear e matrilocal é que em Catal Huyuk o local onde se situavam as possessões pessoais das mulheres bem como sua cama ou divã era sempre no mesmo lugar, no lado leste do quarto. Já a parte do homem além de variável, é, de certa forma, menor.[/su_quote]

Durante 3.000 anos após a condensação da raça humana em civilizações, os povos continuavam a cultuar a Deusa e viviam de forma pacífica. Eisler observou que “praticamente todas as tecnologias materiais e sociais fundamentais para a civilização foram desenvolvidas antes da imposição da sociedade dominadora,” o que significa que a guerra evidentemente não é, contradizendo “o que um teórico do Pentágono defenderia,” necessária “para o avanço tecnológico, e por consequência, cultural.” Eisler chama isso de “um dos segredos da história mais bem guardados.”

Foi assim até que em ~5.000 a.C. o modelo dominador apareceu na forma de “grupos nômades” nas áreas periféricas que atacavam as civilizações preexistentes, as quais todas seguiam o modelo igualitário. Mecanismos de defesa como trincheiras e baluartes – que não existiam até então – foram gradualmente aparecendo. “Estas repetidas incursões, choques culturais e realocação de populações se concentraram em três grandes impulsos,” escreveu Eisler, chamando-as de “Onda No. 1” (4300-4200 a.C.), “Onda No 2” (3400-3200 a.C.), and “Onda No. 3” (3000-2900 a.C.). “No cerne do sistema dos invasores, se dava um valor maior à força que tira vidas, ao invés daquela que dá vidas,” observou Eisler. Assim que os dominadores conquistaram, passaram também a suprimir o antigo estilo de vida, o que significou suprimir o culto à Deusa e consequentemente acarretou uma marginalização das mulheres no geral. A Deusa, e também as mulheres, alega Eisler, “foram reduzidas a esposas ou concubinas. Gradualmente a dominância masculina, a guerra e a escravidão das mulheres e dos homens com jeitos mais “afeminados” se tornou a norma.” Eisler escreveu:

[su_quote]Depois do período inicial de destruição e caos, gradualmente emergiram sociedades que são celebradas nos livros das escolas e universidades como aquelas que marcam o princípio da civilização ocidental.[/su_quote]

A última sociedade igualitária foi a civilização Minóica, a qual, observou Eisler, não costuma ser citada em cursos sobre a civilização ocidental. Os precursores dos Minoicos chegaram na ilha de Creta em ~6.000 a.C., trazendo com eles o culto à Deusa. Por ~4.000 anos, a civilização Minoica prosperou, demonstrando “nenhum sinal de guerra” e “uma distribuição de riquezas equitativa.” Eles decoravam suas casas e espaços públicos com “uma tradição artística singular nos anais da civilização,” e tinham quatro formas de escrita. Na Creta Minoica, Eisler cita um estudioso em seu livro, “Para qualquer lado que olhe, pilares e símbolos lhe lembrarão da presença da Grande Deusa.” Se baseando em sua pesquisa, a Eisler pareceu que a mítica civilização de Atlântis, a qual Platão descreveu no século IV a.C., era “na verdade um resquício da memória popular, não de um continente perdido no Atlântico, mas sim da civilização Minoica de Creta.”

A arte minoica tinha seu foco na natureza e não retratava glorificações de brutalidade ou guerra.

Em 1100 a.C., de acordo com Eisler, “tudo se acaba.” O modelo dominador, na forma de patriarcado, assumiu totalmente o controle. As mulheres, até então iguais aos homens por pelo menos ~30.000 anos, repentinamente passam a experienciar um menor status. Elas eram marginalizadas na Grécia Antiga, cuja democracia “excluía a maior parte da população (que não permitia a participação de mulheres e escravos).” Na visão de Eisler, “muito do melhor” na Grécia Antiga – “o grande amor à arte, o intenso interesse pelos processos naturais, as ricas e variadas simbologias míticas de ambos feminino e masculino” – podem ser “traçadas de volta à era anterior” da Creta Minoica. Resquícios do culto à Deusa também sobreviveram na Grécia Antiga, na forma de muitas deusas gregas, mas todas subordinadas a Zeus. As coisas continuaram por se deteriorar até que chegaram a um ponto onde a Bíblia, no Antigo Testamento, explicitamente proclama, observou Eisler, que “é a vontade de Deus que as mulheres sejam governadas pelos homens.” Eisler diz:

[su_quote]Se lermos a Bíblia como uma literatura social normativa, a ausência da Deusa é a declaração mais importante sobre o tipo de ordem social que os homens, que por muitos séculos escreveram e reescreveram este documento religioso, se esforçaram para estabelecer e manter.[/su_quote]

Dos próximos ~2.000 anos até o presente, se pode ver uma recuperação gradual – com crescentes e perigosos recessos, uma vez que agora a guerra envolve armas de destruição massiva – da repentina infiltração do modelo dominador, o qual, desde seu surgimento, tem estado num processo constante, de forma tanto consciente quanto inconsciente, destruindo e abafando evidências da religião original da Deusa e suas várias revivificações ao longo da história.

*

Hoje, a menos que você seja membro de uma tribo indígena como os Kung no sul da África ou os Bambutino Congo, você vive firmemente dentro de uma cultura dominadora global. Eisler escreveu: “Para nós, depois de milhares de anos de uma severa doutrinação, isto é simplesmente a realidade, o jeito que as coisas são.” McKenna observa que, especialmente nas sociedades dominadoras, as pessoas não são encorajadas a questionarem seus comportamentos ou o porquê das coisas serem do jeito que são – questionamentos que, entre outros efeitos, são levantados com o uso de psicodélicos. Como McKenna disse em 1987:

[su_quote]Os psicodélicos são ilegais não porque tem um governo amoroso que está preocupado que você possa saltar para fora de uma janela do terceiro andar. . Psicodélicos são ilegais porque dissolvem as estruturas de opinião e culturalmente estabelecidos modelos de comportamento e processamento de informações. Eles abrem até a possibilidade de que tudo o que você sabe está errado.[/su_quote]

Seguindo essa linha, eu encorajo as pessoas a ficarem chapadas e lerem O Cálice e a Espada. Ou ficar chapado e ouvir Man & Woman at the End of History,” uma discussão de vários dias entre Eisler e McKenna e que foi transmitida no rádio em 1988. Na discussão, McKenna introduz o papel dos psicodélicos na teoria de Eisler que, por sua vez, compara o estilo da oratória de McKenna a fogos de artifício: “Você ilumina tantas coisas tão rapidamente e então passa de uma pra outra.” Vou terminar esta semana com um exemplo disso, da mesma discussão:

Estão nos dizendo que estamos no meio de uma crise política tremenda que age sob o rótulo de “o problema das drogas.” Mas o problema das drogas é o problema do vício. E o vício, na minha opinião, é o vício das agências de inteligência em vastas quantidades de dinheiro. Este é o vício que conduz o problema das drogas no mundo. Mas é claro que também existem dependências químicas. E existe uma coisa muito interessante sobre os seres humanos. Alguma coisa – e vou falar um pouco mais sobre isso amanhã – mas alguma coisa sobre nossa habilidade em ser onívoros, de comer todos os tipos de coisas, nos abriu para, talvez manipulação seja uma palavra muito forte, mas certamente para pressões seletivas da evolução que não estão ordinariamente presentes. A maioria dos animais comem poucos alimentos. Muito animais comem apenas um alimento. Nossa habilidade em ser onívoro nos expôs – nos últimos quatro, cinco milhões de anos – a um vasto número de compostos mutagênicos e sinérgicos que podem ter sido responsáveis por tais coisas como a prolongamento da adolescência em nossa espécie ou o modo como ocorre a lactação.

A Segunda Revolução Psicodélica, Parte 1 – O Fim do Ácido

Essa é a primeira parte de uma série de 6 artigos examinando o estado da cultura psicodélica contemporânea através das contribuições de seus principais arquitetos: Alexander Shulgin, Terence McKenna e Alex Grey.

Em novembro de 2000, uma operação do DEA apelidada de “Operação Coelho Branco” prendeu William Leonard Pickard e Clyde Apperson enquanto eles estavam movendo um suposto laboratório de produção de LSD de um silo de mísseis renovado em Wamego Kansas para uma localização não divulgada. Muitas questões permanecem sobre o caso e o envolvimento do informante do DEA, Todd Skinner[1], e o DEA agora afirma que nenhum LSD foi jamais produzido naquele silo. Mas ambas análise estatística e evidência anedótica de rua concordam com a alegação do DEA que essa apreensão resultou na queda de 95% do suprimento de LSD do mundo naquele tempo, fazendo parecer possível que aquele poderia realmente ser “O fim do LSD”.

Um ano depois, quase na mesma data (10 de Novembro de 2001), Ken Kesey, uma das grandes figuras dos experimentos com LSD, morreu. Com as cinzas de Timothy Leary já orbitando no espaço, e com a dissolução da banda Grateful Dead há mais de 6 anos após a morte de Jerry Garcia, poderia se deixar acreditar que a Revolução Psicodélica que tinha começado em algum tempo na década de 1960 – com a introdução social do LSD – tinha finalmente acabado. O mundo tinha mudado de muitas maneiras graças à descoberta dos psicodélicos. Mas como a maioria das revoluções, seus sonhos não foram totalmente completados, e seus heróis estavam virando uma lenda.[2]

Ironicamente, por mais interrompido e antiquado que o “Movimento Psicodélico” possa parecer no momento, as sementes da “Segunda Revolução Psicodélica” já foram plantadas mais de uma década atrás. Essas sementes floresceram no deserto da falta de LSD.

Esse foi um exemplo profundo de como a proibição inefetiva pode agir extinguindo o interesse em uma substância potente. A possibilidade de um mundo sem LSD inspirou uma geração jovem a procurar uma série de psicodélicos alternativos – alguns velhos, outros novos. No processo, eles redescobriram e regeneraram a experiência enteogênica original – o sabor místico do outro lado, as descobertas fora do espaço e temp0 – que o LSD forneceu para os pioneiros de 1960.

Agora, pouco mais de uma década depois, nós podemos presenciar a pesquisa psicodélica entrando vagarosamente mas com firmeza as universidades e laboratórios de pesquisa, graças a: visão e persistência de Rick Doblin e o MAPS[4]; a expansão global do meme Burning Man; o rápido crescimento do entrelaçamento do Movimento de Arte Visionária e a cultura transformadora de festivais de arte e música; Música Eletrônica, que é a primeira forma musical popular a venerar e popularizar os psicodélicos desde a década de 60; o nascimento de centenas senão milhares de websites (Erowid, DMT-Nexus, etc.) que ou promovem psicodélicos ou são diretamente influenciados por eles; o grande número de novos livros sobre psicodélicos nas prateleiras (ou pelo menos na Amazon); e a grande variedade de psicodélicos e enteógenos – tanto naturais quanto feitos pelo homem – que já esteve disponível para qualquer sociedade na história. Podemos dizer que a  revolução psicodélica/enteogênica na cultura ocidental está viva e bem. De fato, agora está entrando em uma renascença.

Então, como essa Segunda Revolução aconteceu? Quais são seus objetivos e ideais? Ela é diferente da Primeira Revolução Psicodélica de 1960, ou somente uma moda que está se re-inventando?

Como alguém que teve acidentalmente sua própria segunda revolução psicodélica em 2003 após fumar o raro enteógeno 5-MeO-DMT comprado ilegalmente da internet, e como o autor de um livro amplamente revisto sobre psicodélicos, e como um dos fundadores da FractalNation[5], um campo BurningMan conhecido por suas performances de música e galeria de arte visionária e palestras (que têm sido o ponto alto da cultura psicodélica no planeta nos últimos 3 anos.. mais sobre isso mais tarde), eu creio que estou em uma boa posição como alguém para examinar e ajudar a definir essa mudança nas atitudes de nossa sociedade a favor do potencial dos psicodélicos, assim como as esperanças, medos, sonhos e aspirações de nosso Movimento.

Fazendo isso, eu espero trazer uma consciência melhorada da oportunidade agora apresentada a nós, juntamente com o aviso que, embora sua popularidade aumente, a Segunda Revolução Psicodélica já está ameaçada. Eu também quero promover a possibilidade que os psicodélicos, que uma vez pareceram ser uma fórmula para a mudança social instantânea na década de 1960, podem ser salva-vidas para toda a sociedade que deseja emergir do caos que a mudança ambiental e o crescimento da população irão gerar na segunda metade do século 21.

Lucent Dossier apresentando com Tipper no Fractal Planet, Burning Man, 2013
Lucent Dossier apresentando com Tipper no Fractal Planet, Burning Man, 2013

O nascimento da Segunda Revolução Psicodélica começou uma década antes do Silo do Texas com a publicação de quatro livros bem diferentes nos anos 90: Espelhos Sagrados: A Arte Visionária de Alex Grey (1990); PiHKAL; Uma História de Amor À Química, por Alexander (Sasha) e Ann Shulgin (1991); e O Retorno à Cultura Arcaica e O Alimento dos Deuses (1992) por Terence Mckenna. Esses livros iriam providenciar a fundação filosófica para esse novo movimento psicodélico. Esse movimento foi em grande parte criado pela popularização de uma nova forma de música eletrônica sem paradas que estava se infiltrando nas festas de lua cheia em Goa, India. Nos anos 90, essa música começou a se espalhar para clubes e locais remotos e distantes ao redor do mundo.[6] Um fator importante foi a popularização da internet, que pela primeira vez permitiu a proliferação da cultura psicodélica sem medos de censura ou repercussão.

Para recapitular, os cinco desenvolvimentos culturais que distinguem a Segunda Revolução Psicodélica da revolução de rock e LSD de 1960 são:

  1. A introdução de um número variado de componentes psicodélicos e análogos, especialmente feniletilaminas da família do 2-C como o 2-CB, 2C-I, e 2C-E.
  2. A redescoberta de plantas enteógenas sagradas, especialmente a ayahuasca, e a publicação de métodos simples para extrair DMT de fontes vegetais.
  3. O nascimento da arte visionária (que é com frequência uma forma deliberadamente sagrada da arte psicodélica), e sua integração de duas décadas nos festivais de cultura contemporâneos (mais notavelmente no Burning Man nos EUA e BOOM! em Portugal).
  4. O crescimento da música trance-psicodélica que integrou cantos sagrados de várias culturas com batidas house ácidas sem paradas.
  5. A popularização da internet, que permitiu a disseminação rápida da cultura psicodélica.

Todos que experimentaram o crescimento mundial dos festivais de cultura transformadora através dos últimos 10 anos, ou tropeçaram na seção “Do Lab’s” do Coachella (um dos últimos festivais bons de ‘rock’), participou de uma das conferências do MAPS na California, ou o Fórum Psicodélico Mundial em Basel, Suíça, ou até mesmo navegou pela internet e descobriu sites de informações psicodélicas como o Erowid e o DMT-Nexus, irá facilmente reconhecer a influência e prevalência de alguns, senão todos novos desenvolvimentos na cultura psicodélica. Entretanto, durante os dias finais do século 20, e no final da Primeira Era Psicodélica se preferir, nenhum desses fatores era popular ou conhecidos comumente. E mesmo que seja de algum modo irrelevante classificar a importância das várias diferentes contribuições dos três principais arquitetos dessa nova era psicodélica – Alex Grey, Terence McKenna, e Alexander ‘Sasha’ Shulgin – eu creio que a maioria dos historiadores e observadores educados concordarão que a contribuição de Sasha – a publicação de PiHKAL e logo após TiHKAL – foi inegavelmente o primeiro ato essencial e ao mesmo tempo bravo.

Essa é a primeira parte de uma série de 5 artigos. Para ler a segunda parte, clique aqui.

NOTAS

[1] Ambos Pickard e Skinner – o ocupante do silo e alegadamente o parceiro de Pickard – tinham a fama de ter inúmeros laços com a CIA e o DEA. Pickard aparentemente teve o final errado desse acordo, recebendo prisão perpétua dupla pela alegada fabricação de 10 gramas de “uma mistura contendo dietilamida do ácido lisérgico”. Apperson recebeu uma sentença de 30 anos, enquanto Skinner saiu livre, para ser preso logo após com uma sentença de 90 anos por sequestro e assalto. Enquanto todas as fontes envolvidas contam histórias muito diferentes do evento, não vale nada que o DEA exagerou demasiadamente a quantidade de LSD encontrada (90 kg de LSD puro, enquanto só foram encontrados 7 quilos de precursor) e nunca achou nenhuma trilha de dinheiro significativa que sugerisse que Pickard fabricou a quantidade de LSD que Skinner afirmou. Pickard, para o registro, afirmou que foi uma vítima das fantasias elaboradas de Skinner.

[1] http://thislandpress.com/gordon-todd-skinner/

[2] Albert Hofmann, o descobridor do LSD, ironicamente viveu mais que todos. Ele morreu em 2008 com a idade marcante de 102 anos.

[3] Esses pioneiros utilizaram LSD em dosagens muito maiores do que as comumente utilizadas na comunidade de música eletrônica. Hoje, uma dose de LSD fica, em média, entre 75-100µg, enquanto uma dose simples de LSD em 1966 era em torno de 400µg. Muitos iniciantes eram encorajados a tomar uma dosagem dupla se eles quisessem experimentar a “luz branca”!

[4] MAPS; Associação Multidisciplinar das Ciências Psicodélicas.

[5] Fractal Planet em 2013.

[6] A primeira festa “Goa-Trance” em Londres foi em 1990. O Burning Man se mudou de Baker Beach, São Francisco, para Black Rock Desert em 1991; haviam 250 participantes.

Fonte

A Teoria do Símio Chapado

O símio chapado, teoria de Terence McKenna não é uma das que ganhou mais suporte entre a comunidade científica, mas qualquer um pode argumentar que é tão plausível como tantas das outras teorias evolucionárias, especialmente quando se considera o nível superior de consciência e desenvolvimento da linguagem.

McKenna teoriza que a inteligência pode ter chegado ao nosso planeta através de esporos provindos do espaço que viajaram para a Terra na radiação cósmica, semelhantemente ao que é descrito na teoria da Panspermia Cósmica de Francis Crick.

Conforme alguns Homo sapiens deixaram as florestas para as planícies e começaram a se mover através da África depois da última era glacial, 18.000 anos atrás, de acordo com McKenna, as espécies adquiriram uma dieta mais onívora. Essa mudança levou-os a seguir bandos de animais para alimentação e caça, e, subsequentemente, encontrando cogumelos mágicos no esterco e os adicionando à dieta.

Essa teoria parece um tanto absurda de início, mas dando a prevalência de psilocibina, ou misturas à base de DMT como a Ayahuasca entre culturas ancestrais, não parece tão absurda a ponto de ser descartada.

Como McKenna disse em entrevistas desde a publicação de sua teoria, ela é melhor entendia por aqueles que experimentaram a psilocibina, do que pelos típicos cientistas de roupas brancas.

Se você já experimentou cogumelos mágicos, você sabe que a maior parte do que se diz sobre a experiência psicodélica é exagerado. “Eu vi dragões, o mundo virou de ponta cabeça, eu fiquei cinza, minhas orelhas esticaram metros…” Talvez, mas provavelmente não.

O que é tipicamente experimentado é uma distorção da percepção, onde as alucinações visuais e auditivas ocorrem. A severidade dessas alucinações varia baseada na dosagem e na potência. Em doses elevadas pode parecer ao usuário que ele está em outro lugar do que onde realmente está, e sob circunstâncias corretas essa sobrecarga sensorial pode resultar em introspecção e os sentidos são induzidos para novas experiências. Em doses baixas, objetos planos podem desenvolver uma terceira dimensão, e serem acompanhados por flashes de luz e manipulação de cor. Até mesmo essas reações são dependentes do estado mental da pessoa que está tomando.

Se você está com medo de ser pego e punidos por utilizar psilocibina por que em muitos lugares, como os EUA, é ilegal utilizar substâncias naturais para explorar sua própria psique, você pode experimentar flashes de luz produzidos por carros de polícia.

Na teoria de McKenna, ele sugere que o consumo de psilocibina foi feito em doses baixas, onde os efeitos não atingiram realmente o ponto de alucinação, mas ao invés atingindo o ponto de sentidos intensificados, e energia elevada. É similar ao que alguns podem experimentar após dar algumas baforadas em maconha de boa qualidade.

A acuidade visual melhorada era boa para identificar predadores, assim como presas; e a acuidade auditiva, até mesmo uma leve paranóia, a do tipo bom, não a geradora de pânico, os fizeram mais conscientes de perigos que se aproximavam.

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O verdadeiro impacto veio com dosagens elevadas, de acordo com a teoria de McKenna, por que foram as dosagens elevadas que inspiraram o homem a utilizar sons para colocar imagens na mente de outros. O desenvolvimento da linguagem teve um crescimento imenso nesse período, e a Teoria do Símio Chapado insinua que experiências com cogumelos ajudaram ainda mais esse desenvolvimento.

Foi aqui que nossas mentes foram abertas para conceitos abstratos que eventualmente levaram a humanidade a se tornar a força dominante no reino animal. Nossa habilidade de compreender conceitos abstratos, os comunicar, entender o que foi comunicado, e construir baseado nesses conceitos, se tornou a fundação da nossa civilização.

Essa inteligência continuou a crescer até mesmo quando mudanças ambientais fizeram o acesso aos cogumelos menos comum. A semente já estava plantada, e foi repassada através da genética e da educação.

O tamanho do cérebro do Homo sapiens também cresceu tremendamente durante os 6.000 anos que se seguiram desde a última era glacial. Durante os próximos milhares de anos, começando por volta de 12.000 anos atrás, os homens se tornaram agricultores, pastores, e desistiram da existência nômade.

Enquanto McKenna atribui esse crescimento aos cogumelos mágicos, alguns na comunidade científica acreditam que o aumento da quantidade de peixe como parte da dieta foi um fator mais dominante através da mágica do óleo de peixe. De qualquer modo, acredita-se que a mudança na dieta é um fator de grande contribuição.

Como nós atingimos um nível de super-inteligência e consciência elevada quando comparados aos outros animais do planeta, é ainda um tanto misterioso, e a teoria de McKenna é somente uma dentre tantas outras que tentam explicar.

Precisa ou não, essa teoria é pelo menos, uma das mais interessantes lá fora. A teoria poderia ter um aumento na credibilidade se a teoria da Panspermia provasse ter algum mérito. Se os esporos podem realmente viajar pelo espaço, ultrapassar uma atmosfera como a nossa, e ainda assim serem frutíferos, então poderíamos explicar nossa inteligência como sendo um presente do mundo alienígena.

Abaixo, uma pequena animação com base na teoria: