Arte Visionária de Pablo Amaringo

[su_quote]“As próprias imagens tem mensagens e ensinamentos que treinam a mente para ver o que pode ter acontecido no passado e o que pode acontecer no futuro. Elas abrem outros meios de visualizar, que você pode chamar de sagrado ou divino. Eu gostaria que os meus quadros inspirassem uma ideia diferente de religião, uma que não é dada em retorno por algo mas que é de graça.”   (Pablo Amaringo)[/su_quote]

Unicornio Dorado por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Unicornio Dorado por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Pablo Amaringo nasceu em 1938 em Loreto, Peru. Seus trabalhos de arte são conhecidos no mundo todo e ele é considerado um dos mais influentes pintores peruanos na história. Suas pinturas mostram o mundo que lhe é familiar, pintando a floresta da região Amazônica com as muitas plantas e criaturas que lá vivem. Suas pinturas também ilustram o mundo espiritual conhecido das pessoas dessa região. O mundo espiritual é acessado por meio de rezas e pelo uso de plantas visionárias, mais comumente a Ayahuasca. O mundo espiritual inclui seres espirituais de todos os tipos, aliens, serpentes gigantes, anjos, cidades luminosas existindo em outro plano de consciência; é isso que Pablo Amaringo chama de divino ou realidade sagrada. Cada objeto, ser inteligente e motivo têm significados específicos que são revelados no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As Visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”). Essas pinturas dão uma vislumbrada no mundo não visto de curadores peruanos, xamãs e pessoas comuns.

Pablo Amaringo tomou Ayahuasca pela primeira vez com seu avô quando tinha 10 anos de idade, pois ouviu falar de outros que tomaram e ficou curioso. Ele entrou no mundo espiritual e perdeu sentido do seu corpo. Ele sentiu um pouco de medo mas viu espíritos geralmente conhecidos na região. Ayahuasca foi e ainda é um sacramento sagrado que conecta a pessoa ao mundo espiritual. Ayahuasca é uma combinação de plantas preparadas de um jeito específico e contém compostos psicodélicos. Há muitas igrejas de Ayahuasca, ambas indígenas e cristãs, por toda a América do Sul e é comumente usada para cura e propósitos espirituais.

Transformacion Del Chaman em Aguila por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Transformacion Del Chaman em Aguila por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Pablo Amaringo enfrentou uma intensa doença após sua família ter morrido em um acidente de carro. Ele foi até a casa de seu pai e foi curado com Ayahuasca nos anos 1970. Pablo disse “eu achava que a Ayahuasca era uma boa medicina porque funcionava pra mim – eu tinha visões, e até hoje me lembro de tudo que vi.” Após sua recuperação ele percebeu “a vida não tem sentido ao menos que alguém olhe para o espiritual, seja por meio de tomar plantas ou por seguir uma religião.”

Ayahuasca Raura por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Ayahuasca Raura por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Pablo Amaringo foi um artista, espiritualista e curandeiro. Ele fez trabalhos de arte que retrata o mundo espiritual de seu povo, o qual ele acessou com Ayahuasca. Ele fez a fusão de pinturas com ícaros, ou encantamentos mágicos. Ele diz “se você se concentrar e meditar nas pinturas vai receber energia espiritual.” Howard Charing escreveu “embora ele tenha parado de tomar Ayahuasca muitos anos antes, ele tinha a habilidade de se lembrar perfeitamente de cada uma de suas visões. Em uma ocasião ele disse pra mim ‘eu não preciso tomar novamente; Ayahuasca me conectou ao mundo espiritual.’”

Jehua Supai – Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Jehua Supai – Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Ele chegou a conduzir cerimônias de cura com ayahuasca como homem da medicina ou xamã. Ele parou devido a ameaças por feiticeiros. Os feiticeiros são os que usam Ayahuasca e o mundo espiritual para fazer mal a outros. Ele depois parou de fazer cura para as pessoas alegando que até as curas são um tipo de feitiçaria. Ele começou a dar aulas de arte e abriu uma escola para ensinar peruanos a pintar e desenhar. Ele sentiu que a arte era a busca maior. Ele pintou visões de Ayahuasca, mas também pintou muitos cenários cheios das mais diversas plantas e animais da Amazônia. Colecionadores do mundo todo tem ido ao Peru procurar trabalhos feitos por Pablo, assim como também de artistas imitando e desenvolvendo seu estilo.

Pagoda Dorada por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Pagoda Dorada por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Pablo diz “a melhor coisa que você pode deixar é uma semente para que outros possam trabalhar. Eu não sou apenas uma pessoa, eu sou uma pessoa espiritual. Eu sempre me comunico com a grande força universal, a qual é a fundação da perfeição – Dios – que eu vi em minhas visões de Ayahuasca e que sempre conversaram comigo.”

Nukno Maschashka By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Nukno Maschashka By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Llullon Llaki Supai por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Llullon Llaki Supai por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.

Nukno maschashka faz as pessoas ecoarem cânticos em uma cerimônia na base e mostra como rezas e músicas são enviadas até as mais altas esferas do cosmos. Um cântico é uma música adquirida pelos espíritos em um local quieto na floresta. Cada uma das plantas, pessoas, animais e espíritos representados são seres específicos e objetos com um significado mais profundo para a imagem toda. Uma pessoa pode ver anjos, mulheres curandeiras da medicina, cerimônia, serpentes da sabedoria, plantas curadoras e os altos patamares do mundo espiritual repercutindo com a música. A cerimônia de cura e os cânticos de cura são carregados pelos espíritos até o mundo espiritual.

Sumac Icaro By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Sumac Icaro By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Yana Huarman By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Yana Huarman By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Angeles Avatares por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Angeles Avatares por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Templo Sacrosanto por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Templo Sacrosanto por Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Alli Mariri By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Alli Mariri By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
La Principa de la Vida by Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
La Principa de la Vida by Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Ondas de la Ayahuasca by Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Ondas de la Ayahuasca by Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo” (“As visões de Ayahuasca de Pablo Amaringo”) por Howard G. Charing.
Los Grados del Curandero By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo
Los Grados del Curandero By Pablo Amaringo. Aparece no livro “The Ayahuasca Visions of Pablo Amaringo

Agradecimentos a Raphaela Lancellotti pela tradução do texto.

FONTE

A Serpente Cósmica e o DNA

A OBRA DE JEREMY NARBY

trecho retirado do livro Ayahuasca: alucinógenos, consciência e o espírito da natureza
Ralph Metzner

Vivendo na Suíça, o antropólogo e conservacionista canadense Jeremy Narby deu recentemente uma contribuição revolucionária para a integração entre a compreensão científica da ayahuasca e o modo xamanístico deste conhecimento (Narby, 1998). Na obra The Cosmic Serpent, o autor narra como suas experiências com os xamãs da tribo Ashininca da floresta amazonica peruana levaram-no a reexaminar os fundamentos da biologia molecular, até chegar a uma hipótese que reconcilia os ensinamentos dos ayahuasqueiros com as descobertas da ciência moderna. Narby estava ciente do conflito irreconciliável entre a visão de mundo xamanística, segundo a qual pode-se obter um saber seguro e aplicável para a cura a partir das visões induzidas pela ingestão de plantas alucinógenas, e a concepção científica, para a qual as visões da ayahuasca não passam de simples alucinações causadas pelas toxinas das plantas. Não se dando por satisfeito, ele iniciou uma jornada visando uma reconciliação destas duas perspectivas aparentemente contraditórias, e decidiu levar a sério os ayahuasqueiros, movido pela convicção de que seria possível estabelecer um conhecimento medicinal válido a partir das plantas mestres. Esta decisão ganhou força por suas próprias experiências com a ayahuasca. Ele praticou o método do empirismo radical, uma vez que sua própria experiência tornou-se a base de uma busca pelo conhecimento; até porque ele nunca excluiu a experiência, temendo que ela pudesse não se encaixar nas teorias prevalecentes.

De acordo com as descobertas pessoais de Narby, e segundo ainda as narrativas aqui expostas, as visões das serpentes, algumas vezes gigantescas e outras luminosas, são extremamente comuns nas experiências com a ayahuasca.

cosmOs ayahuasqueiros disseram a Narby que o espírito da serpente é a mãe deste preparado, além de ser a fonte do saber e da força curativa que dele advém. E por isso, são encontradas, ao longo dos trabalhos artísticos dos índios, as muitas imagens de serpentes que dançam ou se movem, em duplas ou múltiplas. Quando Narby começou a ler a volumosa literatura da biologia molecular, no intuito de encontrar algumas pistas que esclarecessem como o cérebro é afetado durante os estados alterados da consciência, ele concluiu que a molécula do DNA, na sua forma de uma dupla voluta enroscada, talvez pudesse ser a contraparte molecular para as alucinatórias serpentes da ayahuasca.

O uso das imagens das serpentes não se dá apenas entre os xamãs amazônicos, mas por quase todo o mundo. Elas são utilizadas na Ásia, no Mediterrâneo e na Austrália para efetivar a representação da força básica da vida, sobretudo porque a sabedoria da serpente é tida como a fonte do conhecimento. A imagem da serpente é vista frequentemente como um elo de ligação entre o céu e a terra; sob esta mesma visão, encontra-se também a imagem da cobra associada com diferentes ideias de ascensão. Seguindo o texto de Narby, ele nos diz que “na literatura da biologia molecular, a forma do DNA não se restringe a ser descrita através de uma analogia com duas serpentes gêmeas, uma vez que ela, é comparada mais precisamente com uma corda ou um cipó, ou mesmo com uma escada.” (p. 93).
Sabe-se que o DNA é o código molecular usado para toda a vida deste planeta, quer seja animal, vegetal, ou humana. Ele está presente em cada uma das células de todos os corpos, ou seja, em todas as plantas ou em qualquer animal, fungo, ou ser humano. A partir daí, Narby propôs a hipótese de que, por meio das visões, talvez os xamãs estejam tentando conduzir suas próprias consciências à dimensão do molecular, de maneira que possam ler a informação de como combinar os inibidores-MAO com os hormônios cerebrais, de como reconhecer as correspondências entre as plantas curativas e as doenças, e por aí afora.

Juan Carlos Tamanchi
Juan Carlos Tamanchi

Sua descrição biológica da molécula do DNA expõe com brilhantismo muitos aspectos que correspondem aos insights dos xamãs; mesmo porque, como eles mesmos dizem, a origem de tais insights está nas suas visões das serpentes e na sua mitologia das serpentes cósmicas.

Se alguém esticasse o DNA contido no núcleo de uma célula humana, seriam obtidos somente dez átomos ao largo de 1.80m de fio…

O núcleo de uma célula é, portanto, equivalente em volume a dois milionésimos de uma cabeça de alfinete. E assim 1.80m de do DNA acondiciona com rapidez todo o seu volume através do gesto de enroscar-se incessantemente sobre si mesmo, harmonizando assim o comprimento extremo e a pequenez infinitesimal, exatamente como procedem as serpentes míticas. Segundo as estimativas, o ser humano comum é composto de muitos bilhões de células. O que significa dizer que há mais 201 bilhões de DNA no corpo humano…

O DNA de uma pessoa é tão longo que poderia rodear a Terra cinco milhões de vezes; isto é análogo ao que se diz a respeito das serpentes que rodeiam o mundo! (pp. 87~88).

Afora isso, o código molecular do DNA tem se mantido inalterado desde o início da vida deste planeta, pois somente a arrumação das “letras” deste código é que vai mudando conforme a evolução das diferentes espécies. “Tal como as serpentes míticas, o DNA se apresenta como o mestre da transformação. Todas as informações que existem nas células do DNA são feitas do ar que respiramos, da paisagem que vemos, e da vasta diversidade de seres vivos dos quais fazemos parte.” (p. 92). Narby chega a dizer que a serpente dupla do DNA é que constitui de fato a fonte do conhecimento, quer seja adquirido por meio da ayahuasca ou de outras técnicas que levem a estados alterados da consciência, tais como a batucada, o jejum, o isolamento, ou os sonhos. E ainda diz que a tão propalada luminosidade que ocorre nas visões xamanísticas deveria ser posta em relação ao fato de que a molécula do DNA emite biofótons, justamente porque a luz molecular só emerge com a redução da iluminação externa. Enfim, mesmo que a hipótese de Narby não ofereça nenhum dado novo, ou provas substanciais, ela possui implicações revolucionárias que reconciliam os pontos de vista diametralmente opostos da ciência e do xamanismo.

Arte Visionária de Alex Grey

Hoje iremos apresentar formalmente um artista já muito conhecido entre a cultura psicodélica.

Alex Grey nascido em 1953 em Columbus, Ohio, teve muito incentivo para desenhar pois seu pai era um designer gráfico. Desde muito jovem Alex pratica a expressão em forma de desenhos. Os temas da morte e transcendência flutuavam em sua arte desde seus primeiros rabiscos até suas mais recentes pinturas, performances e esculturas.

Selfportrait Lifecycle – Alex Grey
Selfportrait Lifecycle – Alex Grey

Após  conhecer sua parceira Allyson Rymland Grey, em 1975, Alex teve uma experiência mística enteógena que transformou seu existencialismo agnóstico a um transcendentalismo radical. O casal Grey continuou a tomar “viagens” sacramentais de LSD para fins de estudar este novo mundo proporcionado pelos enteógenos. (clique para ampliar as imagens)

Theologue – Alex Grey
Theologue – Alex Grey

Por cinco anos, Alex trabalhou no departamento de Anatomia da Harvard Medical School preparando cadáveres para dissecação, enquanto também ele estudava o corpo por conta própria. Mais tarde, ele como um técnico de pesquisa no departamento de Harvard of Mind / Body, realizando experimentos científicos para investigar as energias sutis de cura. Formação anatômica de Alex preparou para a pintura dos Espelhos Sagrados e para trabalhar como ilustrador médico.

Praying – Alex Grey (detalhe)
Praying – Alex Grey (detalhe)

Seu interesse pelas dimensões sagradas do homem e do universo se refletem fica aparente em cada trabalho, explorando do místico e do real seu trabalho pode ser considerado holístico e visionário.

Dialoga a todo momento sobre a Expansão da consciência.

Considerado hoje em dia o mestre deste grupo hoje considerados Artistas Visionários.

Aperture – Alex Grey
Aperture – Alex Grey
Gaia – Alex Grey
Gaia – Alex Grey
Original Face – Alex Grey
Original Face – Alex Grey

Alex não se limita a pinturas, ele tem um extenso trabalho com performances e esculturas, um artista muito completo e que arrisca sem medo expressar toda sua genialidade.

Nature of Mind – Alex Grey
Nature of Mind – Alex Grey

Abaixo uma pintura icônica. Remete diretamente à teoria formulada por Terence Mckenna descrita no livro “O Alimento dos Deuses“, ilustrando-a com muita vivicidade

Visionary Origin of Language – Alex Grey
Visionary Origin of Language – Alex Grey

As pinturas de Grey são permeadas com uma luz intensa e sutil que é rara na história da arte. “É a luz que é o sublime na obra de Grey – é a mais importante inovação na luz religiosa desde o barroco – e ela faz com que os seres mundanos neles pareçam sublimes, em cada detalhe realista de seu maravilhoso ser” (Donald Kuspit – 2000, “Alex Grey’s Mysticism”).  Sua pinturas altamente detalhados são espirituais e científicas, em igual medida, revelando sua visão psicodélica, espiritual e sobrenatural da raça humana.

BodyMind Vibrator – Alex Grey
BodyMind Vibrator – Alex Grey
Adam and Eve – Alex Grey
Adam and Eve – Alex Grey

Abaixo Alex mostra sua admiração e gratidão aos alquimistas da psicodelia, Albert hoffman e o casal Shulgin

Saint Albert – Alex Grey
Saint Albert – Alex Grey
Shulgins – Alex Grey
Shulgins – Alex Grey

Livros que podem ser adquiridos sem seu site.

 

Transfigurations
Transfigurations
Sacred Mirrors
Sacred Mirrors
Net of Being
Net of Being


As pinturas de Grey podem ser descritas como um mix de arte sacra, arte visionária e pós modernismo. Ficou muito conhecido por suas pinturas que expressam a anatomia do corpo humano com seu brilho exaltado, imagens que adentram as múltiplas camadas da realidade, como um raio X. Sua arte é uma complexa integração de corpo mente e espírito.

The Seer – Alex Grey
The Seer – Alex Grey
SelfPortrait – Alex Grey
SelfPortrait – Alex Grey
Mistic Eye – Alex Grey
Mistic Eye – Alex Grey

Grey aplica uma perspectiva multidimensional para pintar a experiencia humana universal. Seus quadros retratam situações como uma reza, a meditação,  um beijo, o sexo, a gravidez, o nascimento, a morte. Seu trabalho incorpora ainda muitos símbolos religiosos, como auras, chakras e ícones de formas geométricas.

Cosm Grail – Alex Grey
Cosm Grail – Alex Grey
Colective Vision – Alex Grey
Colective Vision – Alex Grey
Oversoul – Alex Grey
Oversoul – Alex Grey

Grey também fez sua própria contribuição para a filosofia da arte no seu livro “The Mission of Art” (1998).  Nele, Alex promove a possibilidade de um potencial místico da arte: ele argumenta que o processo de criação artística pode (e deve) ter um papel fundamentamental na iluminação do artista. Para ele, o processo de criação artística traz consigo um potencial de transcender as limitações da mente e expressar de forma mais comleta o espírito divino. Ele também acredita que a arte pode induzir naquele que a observa, um estado elevado de contato com o próprio espírito e outras manifestações espirituais.

One – Alex Grey
One – Alex Grey
Net of Being – Alex Grey
Net of Being – Alex Grey
Dying – Alex Grey
Dying – Alex Grey
Hoje Alex Grey é ícone quando se fala de mente manifestada, sempre presente em congressos sobre o tema. Grande alvo de entrevistas, esteve no Brasil pintando ao vivo em duas edições da festa Tribe.
Artists Hand – Alex Grey
Artists Hand – Alex Grey

 

Alex Grey e seu relato sobre sua experiência com a bebida sagrada Ayahuasca.

Seu sincero relato sobre quem foi o gênio Albert Hoffman

Paletra muito interessante concedida ao TED pelo artista: “Cosmic Creativity: How Art Evolves Consciousness” (Apenas com legendas em inglês ainda. Trabalho de traduçãoem andamento)

Leia a sua biografia completa.

http://alexgrey.com/bio/

Alex_Grey_Painting_1

Curta a pagina de Grey no facebook e fique por dentro das suas atualizações.

https://www.facebook.com/AlexGreyCoSM

Visite o site oficial do artista, onde você pode visitar a loja virtual e visualizar mais imagens de seu trabalho.

http://alexgrey.com/

Terence uma vez já disse que a unica coisa possivel de trazer do outro lado, são idéias.

E quando se trata em expressar o que viveu, Alex Grey é mestre, causando identificação com todos quem já experienciaram a viagem psicodélica.

Quem procura Sasha

Alexander “Sasha” Shulgin (Berkeley, 17 de Junho de 1925) é um farmacologista, químico e pesquisador de drogas russo-estadunidense.

Shulgin é creditado pela popularização do MDMA no final dos anos 70 e início dos anos 80, especialmente pelos seus usos em tratamentos psicofarmacêuticos e tratamento de depressão e desordem depressiva pós-traumática. Em anos subsequentes, Shulgin descobriu e sintetizou mais de 230 componentes psicoativos. Em 1991 e 1997, ele e sua esposa Ann Shulgin escreveram os livros PiHKAL e TiHKAL, ambos sobre substâncias psicoativas.  Ele atualmente continua seu trabalho sua casa em Lafayette, Califórnia.

A seguinte matéria foi reproduzida na íntegra da revista Trip e publicada online no site em 13/07/2009

Popularizador do ecstasy e criador de 230 psicodélicos, Sasha Sulgin abre a porta de casa

13.07.2009 | Texto por Bruno Torturra Nogueira Fotos Renata Mein
Sasha com os cactus de seu jardim, que fornecem matéria-prima para boa parte das pesquisas que desenvolve no laboratório dos fundos de sua casa
Sasha com os cactus de seu jardim, que fornecem matéria-prima para boa parte das pesquisas que desenvolve no laboratório dos fundos de sua casa

Não é metáfora. Era noite, e eu vagava perdido pelo deserto em um hemisfério longe de casa quando achei o profeta. Não é tão dramático tampouco: era o deserto de Black Rock, Nevada, na primeira madrugada do festival Burning Man. E o profeta, no caso, é um homem sem religião ou doutrina. Mas que, e aqui vai todo o drama, é o papa do meu rebanho: dr. Alexander Shulgin, ou Sasha, para amigos e fãs.

Quando, no meio de 2008, arrumava as malas para vir aos EUA, coloquei muitas expectativas, mas pouquíssimos planos. Um deles era conhecer Sasha Shulgin. Por trás da empreitada de correspondente nos EUA estava a ideia de seguir uma intuição que se confundia com certeza: a de que nos estudos dos estados alterados da consciência eu acharia minha estrada espiritual. Por isso, encontrá-lo era como uma peregrinação sem liturgia. De um monge nada asceta atrás de um mestre que vive… sabe-se lá onde. Não havia templo, montanha ou um mísero e-mail para achá-lo. Estranha, ou adequadamente, a vida o colocou na minha frente.

Eu não tinha a menor ideia do que me esperava no Burning Man. Só sabia que eu tinha que estar lá e ponto. Se meus planos nos EUA envolviam me conectar com a comunidade psicodélica e aprofundar minhas pesquisas, o festival era obrigação. Resumindo o que não é sintetizável: 50 mil pessoas vão a um deserto extremamente seco e hostil para “celebrar a autoexpressão radical” e uma recente, difusa e ainda em gestação espiritualidade americana. Drogas psicodélicas são sacramentos nesse ramadã de freaks.

Eu acabara de deixar o automóvel no meio de uma multidão. Cheguei com uma companheira de trips e viagens, tão deslocada quanto eu, e uma onda de ansiedade nos dominou. Não tínhamos um conhecido por ali nem onde dormir ou comer. Mergulhe em um mundo de emoção e emoção com o Jogo do Bicho. É um jogo lendário com um legado repleto de séculos de história. Tente a sorte com este novo e emocionante jogo da iMoon, conhecido por ter uma das maiores probabilidades de retorno ao jogador (RTP) do mundo – chegando a 98%! https://jogodobichooficial.org/ Review do caça-níquel Jogo Do Bicho. O Jogo Do Bicho combina a simplicidade de uma loteria tradicional com a chance de ganhar um grande prêmio de até 1,5 milhão de reais. Com volatilidade moderada, este jogo oferece uma combinação incomparável de oportunidade e emoção. Renata, a cara amiga, aponta longe: “Vamos perguntar para aquele ali”. Era um senhor em trajes budistas, dançando em cima de um tablado. Simpático ao extremo, nos levou ao seu acampamento para ver o que podia fazer por nós. Sentado a uma mesa, hospedado no trailer ao lado de nosso guia budista, estava o dr. Shulgin.

Sasha com os cactus de seu jardim, que fornecem matéria-prima para boa parte das pesquisas que desenvolve no laboratório dos fundos de sua casa

Pai adotivo do ecstasy
Sasha é um químico e farmacologista que desde o início dos anos 60 se dedica a uma missão: modelar e remodelar compostos psicodélicos como forma de “construir ferramentas para a exploração da consciência”, de acordo com sua definição. Desde sua primeira experiência nos anos 50, com mescalina, Sasha decidiu que seu legado seria aumentar, e muito, a quantidade de compostos (e a informação sobre seus efeitos e farmacologia) capazes de recalibrar mentes. Sem fama, e no conforto de seu lar, Sasha criou 230 novas drogas psicodélicas, publicou a receita de como fabricá-las e abriu a porta por onde dezenas de outros químicos despejaram pílulas, elixires e pozinhos pelo mundo.

A mais célebre criação de seu laboratório não é exatamente um de seus “filhos”, mas um adotivo. Desde 1914 a Metilenodioxi-N-Metanfetamina era apenas uma nota de rodapé farmacológica, de aplicação desprezada pela ciência. Sasha tratou de criar uma nova síntese para o tal MDMA. Ou como você, os cibermanos, os playboys, a sua mãe e o Datena conhecem muito bem: ecstasy. A molécula mudou a cultura, salvou e danou a vida de muita gente. E, sem medo de errar, foram comprimidos dela que forneceram energia e motivação para a fundação do Burning Man. Comprimidos de ecstasy que ajudavam a deixar milhares por ali alheios a quem era aquele velhinho de bengala sentado no meio da esbórnia.

Sasha testava os compostos que criava no laboratório dos fundos de sua casa primeiro em si, depois com sua mulher e com alguns amigos

Para mim, a esbórnia no deserto estava abortada. Queria aproveitar ao máximo a sorte de conhecer o homem. Meu fascínio por Sasha não é, de longe, devido ao ecstasy. Veio da leitura de Pihkal, uma química história de amor, seu livro de 1991, escrito com Ann Shulgin, sua esposa. Nessa obra, crucial para qualquer um que quer entender drogas como algo mais sutil do que o sempre alucinado senso comum, é descrito como Ann e Sasha percorreram sua vida até se encontrarem.

E de como a história de amor dos dois se confunde com a maior exploração psicofarmacológica da história. Como Sasha, Ann e uma seleta turma percorreram décadas investigando compostos que Sasha criava no laboratório dos fundos de sua casa. Testava primeiro em si, depois com sua mulher, depois com alguns seus amigos. E de como esse trabalho foi expandindo, em salas de psicoterapia pela Califórnia, as possibilidades dos exóticos e recém-nascidos compostos. Esse é o enredo que ocupa a primeira parte do livro e introduz a segunda, em que a síntese, a molécula, a dose e os comentários sobre os efeitos de cada uma das substâncias são descritos com humor e elegância. Mescalina e MDMA fazem parte dela. LSD, Psilocibina e DMT pertencem às triptaminas, família descrita da mesma forma.

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Sua jornada me fez virar seu fã. Além de químico, Sasha era um devotado à causa do prazer, da exploração das possibilidades da mente como forma de desobstruir qualquer barreira à vazão do amor. Nunca as patenteou, nunca as traficou, nunca achou boa ideia dar para moleques em raves ou tomá-las sem cuidadosa informação. É um artista transcendental, cuja obra ganha sentido e desdobramentos literalmente na cabeça do “espectador”. Também é um excelente escritor, lúcido e com uma habilidade fora do comum para escrever sem clichês sobre o indizível: o universo de uma viagem psicodélica. Nunca caiu na falta de critério da nova era. Nunca se colocou como guru. Nunca perdia a chance de ser engraçado.

Obama discursava por uma América justa. e Sasha, totalmente alheio, fazia questão de não ouvir

Eu só queria ficar perto e saber o que se passa, hoje em dia, na cabeça desse verdadeiro astronauta do espaço interior. Tenso, domando minha reverência, peço licença e sento do seu lado. Me apresento, explicando que conhecê-lo era um objetivo antigo. Sasha vira em minha direção e não estende a mão. Apenas o mindinho:

– Puxa meu dedo… – pede com uma octogenária cara de garoto.

Foi assim, com uma velhíssima piada de peido, que começamos nossa primeira conversa à sombra de seu trailer. Me contou que estava praticamente cego, portanto não poderia saber que rosto tenho. Era o segundo sentido que ia embora. O primeiro, há muitos anos, foi o olfato, vítima de décadas de laboratório e seus mal ventilados vapores. A vantagem de não ter um nariz sensível, explica o PhD, é que ele se divertia soltando silenciosos peidos em locais fechados para identificar o aroma apenas pelo rosto das pessoas. “Hahahaha. Eu gosto”, desabafa, logo explicando por que CH4, o metano (vulgo peido), cheira mal e que a literatura química tem diversas falhas na descrição dos hidrocarbonetos e seus estranhos perfumes.

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Com a inseparável parceira no amor e palestras, Ann Shulgin, Sasha fala no Burning Man.

Ele estava com 83 anos no Burning Man. E com a memória impecável. O que eu não sabia, no entanto, era de sua loucura por palavras e truques com elas. Sasha, entre sua família e turma, é notório por piadas radicalmente infames e pela capacidade quase automática de fazer trocadilho com qualquer coisa que chega ao seu ouvido. Fez para mim um sentido danado. A química de Sasha era um eterno processo de inverter letras e posições em moléculas para deixá-las quase idênticas – mas com funções distintas. E provocar na cabeça reações ainda mais distintas. Também sabia de cor dezenas de poemas safados da Inglaterra. Sempre uma piada… sempre um comentário de duplo sentido… o que me fez pensar que, se fosse brasileiro, Sasha seria pernambucano.

Passei uma semana inteira no deserto. E evidente que apenas pequena parte dela gasta com Sasha. Mas sempre apreciava vê-lo caminhar só, e cego, sob o sol e o olhar jocoso de gente que não tinha a menor ideia de quem era aquele idoso de chapéu e camisa de turista. Lembro com gosto de uma cena que me disse muito de quem ele é: foi durante o Burning Man que Obama subiu ao palco da convenção democrata em Denver para aceitar a indicação do partido à candidatura para a Casa Branca. Ann Shulgin, sua esposa, sentada comovida, radinho ao pé do ouvido, pedindo silêncio aos convivas, escutando Obama discursar e prometer uma América mais justa. Sasha estava ao lado dela, mas totalmente alheio, fazendo questão de não ouvir, batucando levemente na bengala, cantarolando baixinho uma velha canção.

Jardim de cactos psicoativos na casa onde vivem
Jardim de cactos psicoativos na casa onde vivem

Sasha não acredita ou se interessa por política. Nem revoltado fica. Simplesmente prefere gastar seu humor com… humor. Não acredita nem por um segundo que a política, e o que ela sempre foi, é amiga da liberdade. E para Sasha liberdade tem mais a ver com velhas canções do que com comícios abarrotados. Na primeira vez que o visitei em sua casa, algumas semanas depois do Burning Man, perguntei a ele por que não se importava com política.

“Não gosto. Prefiro que eles fiquem lá e eu aqui. Não faço nada ilegal e eles não vêm aqui ver se estou fazendo nada ilegal. Para mim é um bom acordo.” Ele se refere nas entrelinhas ao dia em que o DEA, a polícia antidrogas corrupta (há alguma honesta?) americana, invadiu seu laboratório em 1994. Ele tinha autorização do mesmo DEA, desde os anos 60, para a posse e fabricação de uma série de drogas proibidas. Mas a publicação de Pihkal bateu como uma provocação intolerável aos federais. Se para mim o livro é uma ode à liberdade e à ciência de exploração da mente, para a polícia era um livro de receita para fabricantes de drogas. E de fato é: depois de Pihkal uma enxurrada de novas drogas das mais variadas potências e nuances chegou às ruas. E o governo teve que entrar em uma longa estrada de mais proibicionismo e controle.

Hoje, ele diz, “ninguém se atreve a vir atrás de mim, me processar. Eles sabem que eu estou louco para ir a um tribunal. Eles sabem que eles estão errados e eu posso provar”. Encerra a frase, claro, com um sorriso, e continua contando de suas aventuras no Brasil, quando, convidado por gente ligada ao governo federal nos anos 80, foi apresentado a um laboratório de MDMA funcionando em um hospital de Niterói. Segredo, claro, de gente influente que adorava tomar ecstasy em reuniões de sexta-feira. E estavam, por baixo dos panos, tentando iniciar os mesmos estudos psicodélicos e psicológicos que Sasha e Ann tocavam na Califórnia.

Para a polícia era um livro de receitas de drogas. E de fato é: depois de Pihkal uma enxurrada de novas drogas chegou às ruas

O repórter da Trip e Sasha entre trocadilhos infames no Burning Man
O repórter da Trip e Sasha entre trocadilhos infames no Burning Man

Naquela primeira visita ele me convidou para conhecer o laboratório. Uma pequena construção separada da casa, depois de uma estreita ponte de metal e de um bagunçado jardim de cactos. É deles que saíram as moléculas básicas (mescalina e outras) para a derivação das feniletilaminas. Daqueles cactos singelos nasceram o ecstasy, o STP, o 2C-B… O laboratório em si é um cenário, a toca do alquimista. Cheio de potinhos rotulados à mão em estantes de madeira, cada uma de um tamanho, cada pote de uma cor. Tubos e espirais e canos e balões e béqueres e toda a sorte de parafernálias que um leigo, como nós, enxerga como paisagem. O cheiro, que Sasha já não sente, um tanto cáustico e ao mesmo tempo agradável. Sobre a lareira, a lousa carrega uma molécula desenhada e a ordem: ME FAÇA.

Shulgin Road
Visitei Sasha outras vezes. Sempre que pude. Uma delas na Páscoa, quando anualmente oferece uma festa aos amigos. Gente dos EUA todo vem, gratos pelo convite e ansiosos pelos encontros. Desde os anos 60 Sasha gosta de reunir gente. É sua grande alquimia, no fundo. Pela propriedade da Shulgin Road (é o único morador da rua que sai de uma freeway) está espalhada gente de todo tipo. Velhos psicólogos entusiastas da psicodelia, antigos agentes do DEA aposentados, jovens químicos, programadores de software da velha guarda, médicos, especialistas em sonhos, ativistas antiproibição e toda a variada e excitante fauna humana que antes de colocar qualquer coisa na boca, ou na veia, estuda bem do que se trata. Nesse dia, Sasha vira um poço onde os outros despejam amor. Todos com um abraço e palavras tenras ao bom doutor. E, nos olhos de todos, a leve melancolia de notar o dono da festa no ocaso da vida. Ele também sabe disso. E parece não se importar.

Em nosso último encontro ele estava mais aéreo, perdendo um pouco da lucidez imaculada em décadas de drogas das mais exóticas. o que não perde, nem por um segundo, é o humor

Na última vez que o visitei, para uma entrevista formal e as fotos que estão nesta reportagem, Sasha fizera 84 anos no dia anterior. O bolo ainda estava na mesa, e pude provar um pedaço. Mas a ocasião era ainda mais solene. Sasha estava ditando o finalzinho do seu último e definitivo livro: o Shulgin Index, um monstro de quase 2 mil páginas, sua obra magna que vai dar à famarcologia, receita, efeitos e cada referência anotada de todas as feniletilaminas psicoativas que Sasha criou ou, simplesmente, cuidou de catalogar. E anunciou que, mesmo cego, agora munido de um assistente que lhe servirá como um par de olhos, pretende voltar ao laboratório para criar mais drogas no tempo que lhe resta nesta trip na Terra.

Sasha tranca seu lendário e mágico laboratório
Sasha tranca seu lendário e mágico laboratório

Em nosso último encontro ele estava mais aéreo, perdendo um pouco da lucidez imaculada em décadas de drogas das mais exóticas. Para mim foi duro vê-lo se confundir no meio de uma resposta ou entrar em longas digressões para nunca mais voltar. O que não perde, nem por um segundo, é o humor. Insiste na piada, nos trocadilhos, mesmo quando diz que vê o mundo indo irreversivelmente para um estado fascista. Ou quando fala de como se esqueceu de quem eu era quando solicitei a entrevista. Ou de como as pessoas usam drogas sem critério. Ou de como sabe que a morte está chegando porque começou a ter memórias vívidas da sua mais antiga infância, 2 ou 3 anos de idade.

Explico a ele que a entrevista deve entrar em uma edição sobre o tema prazer. Sasha dá uma risada. O que é prazer para você, então?

“O que é prazer? Hummm, boa pergunta. Porque é algo que vai muito além de um fenômeno cerebral, me parece. E que só pode ser respondido em bases muito subjetivas. Para mim tem necessariamente a ver com a relação com outra pessoa, em criar um elo com outro ser humano ou criatura. E eu estou largamente do lado de quem se dedica a dar prazer aos outros. Tá aí o meu prazer, sabe? Interagir com pessoas. Estou adorando conversar contigo. Adoro prestar atenção ao que você diz, pegar as pequenas variações com as palavras e brincar com elas. Por exemplo: você gosta de palíndromos?”

Eu? Gosto muito… por quê?

(E começa a citar, de cabeça, séries de palíndromos e rir sem parar.) “Porque palíndromos te pegam desprevenidos! Tem aquele mistério delicioso de contemplar. Você não entende como pode ser, de onde vem! Ele é uma frase que é igual de trás pra frente, meu Deus. Qualquer um com sensibilidade para isso fica chocado quando repara.”

Que nem a vida.

“Exatamente. Não é demais?”

E foi assim que me despedi de Sasha, com a melhor lição que poderia ter do profeta. Encontrá-lo no deserto teve o delicioso mistério, não entendia como aconteceu, como podia ser, de onde veio. Algo que mais tarde eu descobri que pode ser lido olhando do passado para o futuro e vice-versa. Totalmente desprevenido. E que, no fundo, estranhamente, esse palíndromo solto no tempo se estende por toda a vida, nas lembranças infantis que retornam nos anciões, nas voltas de uma trip de LSD ou na rotina de um agente do DEA. A lição de Sasha era o inefável sorrisão aberto – a fatal conclusão de que, se a vida tem algum senso, é o senso de humor.

Imaginação

A cultura ocidental costuma tratar a imaginação como uma faculdade ou capacidade mental que permite a representação de objetos segundo aquelas qualidades dos mesmos que são dadas à mente através dos sentidos – isso segundo a concepção sartriana apresentada em sua obra O imaginário: psicologia fenomenológica da imaginação. (wiki)

No Popular, a imaginação é encarada como mera fantasia. Como algo que não ajudará a criança a passar no vestibular ou reproduzir os métodos ensinados, e por esse motivo, crianças são reprimidas pelos professores no exato momento em que sua atenção se desvia do monótono conteúdo programático das aulas e se volta para a dinâmica da sua própria imaginação…

Para além da concepção sartriana de que a imaginação é a capacidade de elaborar simulacros de objetos apreendidos na materialidade, o imaginário é a capacidade mesma de fundar o real e percebê-lo (O imaginário: ensaio sobre a ciência e a filosofia da imagem e As estruturas antropológicas do imaginário – Gilbert Durand).   (wiki)

Neste vídeo Terence Mckenna amplia ainda mais essa visão e fala sobre a imaginação como um receptor de informação proveniente de um espaço não-local da experiência que fazemos parte. Algo que se torna cada vez mais forte e presente ao longo do tempo.

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