Cogumelos Mágicos ajudam fumantes a largar o hábito

Magic Mushroom

Os resultados mostram uma pesrpectiva rara neste primeiro estudo de psilocibina para o vício de cigarro, que pode levar a novas abordagens para tratar outros tipos de vício

Apenas duas ou três experiências com a psilocibina, presente nos cogumelos mágicos, ajudaram uma dúzia de fumantes de longo prazo a parar com o hábito, obtendo sucesso em um estudo onde inúmeras outras abordagens falharam.

Os voluntários tomaram uma pílula que contém psilocibina, o ingrediente ativo dos cogumelos alucinógenos de gênero psilocybe, como parte de um programa de terapia de comportamental cognitiva na Universidade Johns Hopkins em Baltimore. Seis meses depois, 12 dos 15 participantes permaneceram livres do cigarro, de acordo com os resultados do estudo publicado esta semana (11/09) no Journal of Psychopharmacology.

Medicamentos já existentes, como Champix da Pfizer Inc. (PFE), a mais poderosa ajuda para o abandonodo tabagismo, tem uma taxa de sucesso de cerca de 35 por cento ao sexto mês. Adesivos e chicletes de nicotina obtém bem menos sucesso, disse Matthew Johnson, uma pesquisador do estudo e professor associado de psiquiatria e ciências comportamentais na Universidade Johns Hopkins. Os resultadosmostram uma pesrpectiva rara neste primeiro estudo de psilocibina para o vício de cigarro, que pode levar a novas abordagens para tratar outros tipos de vício, disse Johnson.

“As taxas de abandono do cigarro foram tão altas, duas vezes maior que o que você costuma ver com a medicação padrão ouro“, disse ele em uma entrevista por telefone. “É um estudo muito pequeno, mas éuma indicação de que algo muito forte está acontecendo aqui. Ele responde à questão de saber seestamos em um caminho que vale a pena perseguir .

O estudo com fumantes está entre uma variedade de projectos iniciados nos últimos anos para pesquisaro potencial uso terapêutico de alucinógenos para condições como dores de cabeça crônicas, câncer edepressão.

 

Terapia Comportamental

Em consequência da pílula de psilocibina ter sido administrada em combinação com a terapia demodificação comportamental, incluindo aconselhamentos e relatórios diários, não está claro quanto dobenefício para os fumantes veio do alucinógeno. Estudos futuros estão sendo planejados para incluir um grupo de comparação que não receberá o composto alterador de consciência, e todos os participantes irãotirar imagens do cérebro para ajudar os pesquisadores a identificar e estudar onde ocorre o efeito.

cigarUma vasta gama de voluntários participaram do estudo, incluindo um professor, um advogado e um funcionário do museu. Todos estavammais interessados ​​em parar de fumar do que em tomar uma drogapsicodélica, disse Johnson. Realização da pesquisa em um ambientecuidadosamente controlado permitiu aos investigadores para protegeros voluntários e evitar a ansiedade aguda que pode ocorrer, a experiência que é geralmente conhecida como “bad trip”, disse ele.

A terapia ocorreu ao longo de duas ou três sessões. Os voluntárioschegaram a um laboratório montado como se fosse uma sala de estar, cada um tomou um comprimido de 20 mg de psilocibina, tiveram seus olhos cobertos e relaxaram com música durante várias horas enquanto o efeito psicodélico se manifestava. Aqueles que tiveram uma experiência transcendental, onde as pessoas dizem que entram em um estado místico que os ajuda a sentir a unidade com eles mesmos e do universo, tiveram maior tendência de sucesso, disseram os pesquisadores.

 

Segunda Dose

Psilocybin_chemical_structureTodos os voluntários retornaram duas semanas mais tarde para mais uma rodada com uma dose mais elevada da substância. À todos foi oferecido uma terceira experiência, embora vários tenham recusado, como disse o pesquisador. O tratamento não envolve troca de uma droga por outra, disseJohnson, que apontou que os alucinógenos não são viciantes.

A última coisa que as pessoas querem fazer é usar isso de novo no dia seguinte“, disse ele. “É uma experiência de sair da caixa. Quando uma droga desse tipo entra no corpocorpo, ela tem um efeito, e quando ele deixa o corpo o efeito desaparece. O que é fascinante é que asexperiências com estes compostos alucinógenos podem realmente mudar as pessoas.

 

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Aqueles que tiveram uma experiência transcendental, onde as pessoasdizem que entram em um estado místico que os ajuda a sentir a unidade deles mesmos e do universo, tiveram maior tendência de sucesso, disseram os pesquisadores.

 

 

Fonte:
Bloomberg.com
Hopkinsmedicine.org

Reportagem sobre cogumelos mágicos na Carta Capital

Post Reproduzido do Site da Bia Labate PhD – BiaLabate.net

Retirado de Carta Capital, 26 de Julho de 2006 – Ano XII – Número 403, publicado em
http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5022

“UM ATALHO PARA DEUS
Cogumelo alucinógeno evoca experiências místicas, causa bem-estar e melhora o humor, diz pesquisa 

Por Rogério Tuma

Cientistas da Johns Hopkins University utilizam, pela primeira vez, métodos científicos rigorosos para avaliar alucinógenos e comprovam que o chamado “cogumelo sagrado” consegue evocar experiências místicas e espirituais idênticas àquelas espontâneas descritas por pessoas em transe religioso por séculos.

A psilocibina é um alcalóide encontrado no cogumelo psilocibe, existente no México e no Sudoeste americano, e é semelhante aos alcalóides encontrados em quase 200 plantas espalhadas pelo mundo. Esses alcalóides atuam nos receptores cerebrais do neurotransmissor serotonina (envolvido nos sonhos, no humor e em outras funções afetivas). Neles se encaixam o LSD, a mescalina e várias outras substâncias. Há milênios esse grupo de alucinógenos é utilizado em rituais religiosos. No Brasil, a seita mais conhecida que pratica esses rituais é o Santo Daime.

Durante o movimento hippie, nos anos 60, o cogumelo foi muitas vezes tomado de forma exagerada, o que inibiu seus estudos até recentemente. Agora, com as novas técnicas, o controle das pesquisas é maior e os resultados positivos e negativos são, portanto, mais confiáveis.

No estudo da Johns Hopkins, 36 voluntários foram divididos em três grupos e foram avisados de que poderiam receber um alucinógeno ou outras medicações que poderiam alterar a consciência. Um grupo de 15 voluntários recebeu oralmente a psilocibina na dose de 30 mg/70 kg. Um segundo grupo de 15 recebeu metilfenidato (estimulante cerebral utilizado para síndrome do déficit de atenção) como placebo positivo, isto é, uma medicação que simula os efeitos colaterais, mas que não provoca alucinações. E um terceiro grupo de seis voluntários recebeu metilfenidato duas vezes, sem saber, achando que receberam drogas diferentes nas duas ocasiões. Com isso os pesquisadores controlaram os efeitos da sugestão e da expectativa.

Para avaliar as possíveis alucinações e experiências foram aplicadas diversas escalas predefinidas que caracterizam estados de consciência, humor, misticismo, transcedência espiritual e várias outras alterações psíquicas.

Entre os indivíduos que receberam o alucinógeno, 60% descreveram sintomas que preencheram os critérios definidos para uma “experiência espiritual e mística completa” nas primeiras oito horas de avaliação, e um terço deles a descreveu como “a experiência espiritual mais importante de sua vida” e mais de dois terços descreveram a experiência como uma das cinco mais marcantes, comparável com a morte do pai ou o nascimento do primeiro filho.

Dois meses depois, 79% dos indivíduos ainda se referiam a uma grande ou moderada mudança positiva no seu bem-estar e na sua satisfação com a vida. A grande maioria também mencionou que seu humor, suas atitudes e comportamento melhoraram significativamente, e esse dado foi confirmado com parentes e colegas de trabalho.

O líder do estudo, publicado na revista americana Psychopharmacology de 11 de julho, dr. Roland Griffiths, afirma que a mensagem não é a de que se pode reproduzir experiências místicas artificialmente, mas que elas modificam positivamente a vida dos voluntários por pelo menos alguns meses, indicando um uso terapêutico valioso. Griffiths também alerta para os efeitos colaterais, pois mesmo nas condições bem controladas do estudo, um terço dos voluntários apresentou medo considerável e ansiedade. Alguns apresentaram sintomas passageiros de paranóia. A utilização sem controle da droga pode levar a sintomas negativos com freqüência ainda maior.

Apesar de no estudo em questão a droga não ter causado dependência ou sinais de intolerância, Griffiths alerta também que ela não é um instrumento de uso contínuo para melhorar a vida ou ser um caminho mais curto para Deus. “Há uma enorme diferença entre ter uma experiência espiritual e ter uma vida espiritual”, diz.

O estudo foi considerado um marco da ciência por Charles Schuster, diretor do Instituto Americano sobre Abuso de Drogas (Nida), pois reintegra à análise da consciência e percepção sensorial um grupo de substâncias de grande valor que foi abominado por quase 40 anos.

Os autores afirmam não existir interesse em explicar a religiosidade das pessoas. Segundo Lawrence Kraus, em artigo na revista New Scientist de julho, utilizar a ciência para negar a religião é um desserviço, pois coloca uma contra a outra e vice-versa. Também para o padre belga Georges Lemaitre, que foi o primeiro cientista a demonstrar que a Teoria da Relatividade de Einstein previa o Big-Bang: “É um erro utilizar a ciência para explicar a existência de Deus ou para torná-lo irrelevante, pois a tese serviria apenas ao propósito de satisfazer a convicção religiosa do postulante”. “

Leia reportagem em inglês aqui .


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