Fenômeno UFO (OVNI), por Jacques Vallée

vallee“O fenômeno UFO genuíno, é associado com uma forma de consciência inumana que manipula o “espaço-tempo” de uma forma que não compreendemos… Esta é a verdade mais simples: se existe uma forma de vida e consciência que opera as propriedades do “espaço-tempo”, nós ainda não a descobrimos e ela não deve ser, necessariamente, extraterrestre. Pode ser proveniente de qualquer lugar ou tempo, até mesmo do nosso próprio ambiente. Certamente, pode também ser proveniente de um outro sistema solar na nossa galáxia, ou de outra galáxia. Pode também, coexistir conosco e nós não a percebemos. As entidades podem ser multidimensionais além do próprio espaço-tempo. Elas podem mesmo ser uma espécie de seres fracionados. A terra pode ser o seu lugar de origem.” (grifo do autor: Revelations – J. Vallee – pág. 259 – Ed. Ballantine Book).

 

Em uma trilogia: “Dimensions, Confrontations e Revelations” (sem tradução) o cientista e ufólogo Jacques Vallee relata (e adverte) à humanidade realidades que ela desconhece e que estão contidas da pesquisa ufológica. Jacques Vallee é astrofísico e Ph.D em “computer sciences” pela Northwestern University (1967).

Vallee era associado com o Dr. J. Allen Hynek, já falecido, ilustre e famoso pesquisador científico, figura de proa na pesquisa ufológica internacional. Vallee foi o “MODELO” do cientista francês encarnado pelo ator François Truffaut no filme “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” – produzido por Steven Spielberg. Jacques Vallee é francês.

– Posterei a seguir trechos de entrevistas, onde Jacques vallé expõe suas idéias singulares sobre o fenômeno UFO.
Aos 15/04/1995, James Mosely publicou “Sauce Smear” uma carta de Jacques Vallee que dizia, entre outras coisas,: -“Minha decisão de deixar o campo ufológico é consistente com a observação de que otrabalho científico construtivo e sério, é impossível nas condições presentes. Nos últimos anos a ufologia malbaratou perto de um milhão de dólares… em trabalhos absurdos e não científicos centrados na “pesquisa” de abduções, no fiasco de Roswell… e em várias investigações do tipo Roswell e Gulf Breeze. Não posso permanecer associado a nada disto, portanto, é o tempo de me retirar silenciosamente.” – Jacques Vallee.

A explicação dada pelo seu editor é a de que Vallee, somente, deseja colocar distância entre ele e o sensacionalismo que invadiu e não quer deixar esta área. Agora, ano de 2002, ainda presenciamos os mesmos espetáculos que desgostaram Jacques Vallee. Os casos que continuam em pauta já foram explicados muitas vezes, pelos seus próprios promulgadores, os falsificadores foram desmascarados, alguns deles em público, como Bill Moore o fez com prejuízo próprio… mas ninguém abandonou a arena, tudo tinha e tem que ser da forma como acreditam e querem que seja. O marasmo tomou conta da ufologia!

“Vallee não deseja associar-se com estes chamados questionários sobre as abduções alienígenas e mutilações do gado”, diz Richard Grossing em 30/04/1997.

“Tendo sido responsável, através da sua obra, por elevar o nível da ufologia como digno de um sério estudo científico, será muito desanimador se a comunidade séria dos investigadores de UFOS ficar privada, não só de uma das poucas vozes remanescentes da razão nesta área, mas também do deão dos ufólogos.” J. R.

Atualmente – (Entrevista)

“As pessoas julgaram que eu tenha me retirado, para subir ao topo de uma montanha e filosofar. A razão pela qual abandonei a cena da ufologia, é a de que eu queria trabalhar na investigação de UFOS e estava cansado de comparecer a congressos e encontros onde só se falavam nas mesmas coisas. O que acontecia era somente, muita falação. Penso que o caminho do conhecimento nesta área, não é o de se dialogar uns com os outros e sim o de dialogar com as testemunhas. Isto é o que eu quero fazer e o farei em primeiro lugar. Eu desejo ser capaz de ir ao local, encontrar-me com as testemunhas e monitorar o que aconteceu dentro de um certo período de tempo. Portanto, a minha maior prioridade é os casos de primeira mão que não foram publicados ou comunicados aos grupos ufológicos, porque, no momento o qual eles se tornam parte de muita discussão, ficam polarizados. Quero produzir pesquisas a longo tempo. Em dez anos, acumulei cerca de 200 destes casos. Meu livro (Confrontations) é realmente um sumário dos casos mais interessantes.”

Como você contatou estes casos?

“Através de pessoas que me escreveram, presentes às minhas palestras, ou leitores dos meus livros. Recebo várias cartas, diariamente, desde que DIMENSIONS foi publicado, há um ano. Pego as mais interessantes, constantemente, são mandadas por pessoas que ocupam posições importantes, como a de um vice-presidente da IBM. A última coisa que ele deseja fazer é encaminhar-se a uma organização ufológica. Não quer a mínima das publicidades. Não deseja ver seu nome em nenhum livro, mas teve um “avistamento” que é muito válido.”

A quais conclusões a sua pesquisa o levou?

“Sinto que posso comparecer a um comitê de cientistas e convencê-los de que existe uma evidência avassaladora de que o fenômeno UFO existe e é um irreconhecido e inexplicado fenômeno para a ciência, mas o que sinto posso provar.

Minha convicção pessoal é a de que este fenômeno resulta de uma inteligência e que esta inteligência é capaz de manipular o “espaço-tempo” de um modo incompreensível para nós. Posso convencer um comitê, das minhas observações atentas de que o fenômeno é real, é físico e que não o compreendemos. Só não posso convencê-los de que as minhas especulações são corretas, talvez existam outras especulações. A conclusão essencial: minha tendência é a de que a origem do fenômeno e da inteligência não são, necessariamente, extraterrestres.

Você diz que encara uma interpretação multidimensional que não especifica a existência de humanóides de outros planetas aterrissando aqui fisicamente? Parece-nos que, algumas vezes, você fala sobre o fenômeno como sendo um tipo de sentimento religioso jorrando do espírito humano. Outras vezes, fala como se houvesse uma força potencialmente maléfica que é imposta de fora como um sistema de controle.

“Penso que é uma oportunidade de se aprender alguma coisa muito fundamental sobre o universo, porque, não existe apenas o fenômeno ou tecnologia capazes de manipular o espaço-tempo de formas que não entendemos, esta força está manipulando a ambientação psíquica da testemunha. Tentei introduzir esta idéia quando escrevi “Le College Invisible”. Nesta época, a comunidade ufológica não estava madura para isto. A New Age e a parapsicologia e suas comunidades, interpretaram as minhas conclusões crendo que eu me referia aos DEVAS do mundo dos sonhos, que não são físicos, ou de que o aspecto físico não era importante, Na verdade, penso que estamos lidando com algo que é ao mesmo tempo, tecnológico e psíquico, e parece possuir a capacidade de manipular outras dimensões.”

“O que eu disse não é pensamento irreal nem especulação pessoal, da minha parte. É a conclusão de entrevistas feitas com testemunhas muito críticas, escutando o que elas tinham a me dizer. E o que tinham a dizer não era que haviam visto uma nave espacial descendo dos céus e depois retornando a ele. Na maioria das vezes reportavam que haviam visto algo aparecer instantaneamente, tomar uma forma física, às vezes trocando a forma e desaparecer, algumas vezes mais depressa do que num piscar de olhos. Em uma ocasião, este algo desapareceu num local fechado, começando a ficar transparente e depois desvanecendo ou se concentrando apenas em um ponto. Um exemplo comum quando me relatam estes fatos é o efeito de quem desliga a TV e a imagem dá um “zoom” transformando-se num simples ponto.”

“Não tenho uma resposta plausível para a questão de porque a tecnologia parece acontecer e usar a forma de imagens que se encontram no nosso próprio inconsciente. Estaria brincando se dissesse que compreendo. Há casos de observações repetidas onde o fenômeno se inicia amorfo e depois começa a preencher as expectativas das testemunhas. Há duas maneiras de se interagir intelectualmente com isto. Uma delas é dizer que este é um fenômeno cerebral, é muito bom reconhecer imagens em coisas amorfas como nuvens e manchas de tinta. Portanto, as testemunhas talvez, estejam sendo usadas por este fenômeno e estão começando a ler coisas dentro dele. Esta não é a explicação. Pode ser que o fenômeno esteja usando as nossas reações a ele, de forma a se tornar em alguma coisa esperada ou compreendida por nós. Nós podemos estar carregando a matriz das imagens e algo as retira de nós. Um bom exemplo é o de Fátima. As aparições testemunhadas em Fátima não se iniciaram em 1917. Começaram a surgir dois anos antes. Algumas daquelas crianças envolvidas no evento de Fátima, pois havia outras crianças, de início viram um globo de luz com um tipo de ser dentro. Então, começaram a chamar o ser de Anjo, e o Anjo dialogou com elas e lhes forneceu uma prece. O caso se desenvolveu em estágios e culminou em 1917, mas até mesmo a Virgem Maria não foi vista por nenhum dos presentes ao evento.”

“Nos casos contemporâneos de UFOS, você tem também objetos que são vistos por parte da multidão, mas a outra parte não os percebe. Estava em um programa de rádio, cerca de um ano atrás, e alguém me telefonou de Sacramento e me forneceu, exatamente, este tipo de reportagem. A pessoa estava à beira de um lago com a sua família e testemunhou um objeto que se dirigia para o lago e as pessoas que estavam com ela também o viram. Haviam pessoas junto ao lago também, mas estas pessoas não viram coisa alguma. O que estaria lidando com este evento é um fenômeno interessante que possui dois aspectos: um psíquico e um físico.”

O que é interessante é que as pessoas observaram o objeto, viram o mesmo objeto ou não viram? Ou isto pode variar?

“Usualmente, há um consenso nos aspectos maiores dos parâmetros físicos do fenômeno, mas as pessoas podem discordar, por exemplo, quando há inteiração com as entidades. Pessoas podem percebê-las de formas diferentes.”

Depois que você vê alguma coisa como esta você imagina o consenso de processo interativo, Você começa a combinar os fatos entre si.

“Mas há um aspecto social e muito lógico nisto também, que pode ser muito mágico ou enganoso. Penso que é importante explica-lo para que as pessoas estejam alertas quanto a isto, especialmente, desde a publicação de Communion. Há um grande marketing detrás de Communion, que fez muito sucesso. Verdade, é um livro poderoso, mas Communion também tocou as pessoas que jamais o leram, porque o livro tem uma capa poderosa. O rosto da capa tornou-se no modelo da nossa sociedade de como os alienígenas deveriam ser. Este modelo atingiu um tal ponto que, quando uma testemunha não descreve algo de semelhante, algo que, pelo menos, lembre o rosto que está estampado na capa de Communion, ela é rejeitada como farsante. Os ufólogos não aceitam as pessoas que descrevem visões que se afastam deste modelo. Então, estes casos são postos de lado e não fazem parte das datas bases. Assim, a análise científica tende a recuperar mais e mais padrões que correspondem a estes padrões que esperamos, em primeira instancia. Há uma profecia envolvida, o que é muito mágico e enganador.”

Você encontrou nos casos que estudou desde que Communion foi impresso, de que uma grande maioria de pessoas está encontrando este tipo de ser?

“Sim, mas recentemente estive estudando outros casos nos quais os seres são radicalmente diferentes. Novamente, uso a palavra “seres” como citação, na verdade, não sei o que eles são.

Com a chegada do milênio, espero ver o fenômeno noticiado de uma forma que exceda tudo o que já vivemos até agora, pela razão de que o povo espera por mudanças e esta expectativa, por si própria, é o campo fértil para que estas mudanças ocorram.

“Penso que o modo de estudarmos os UFOS nos acarretou problemas, nós misturamos todos os níveis envolvidos no fenômeno. Misturamos o nível físico, o psicológico e o mitológico ou social. Desejo identificar, claramente, estes três níveis porque necessitamos de um tipo de mitologia diferente, para lidarmos com cada nível e com cada grupo de eventos. No nível físico tudo o que sabemos, é de que há objetos físicos, materiais, pelo menos uma parte do tempo. Deixam rastros; interagem com o ambiente, expelem fumaça e acendem luzes e, provavelmente, pulsam, microondas de maneiras muito importantes. Eles contêm uma grande potência energética. Coloquei alguns cálculos de energia no livro CONFRONTATIONS.”

“Penso que fiz um grande progresso nos últimos anos, na compreensão dos níveis psicológicos e fisiológicos. Há alguns padrões, muito claros, que variam de queimaduras a conjuntivites. Às vezes ocorre a cegueira temporária. Outras vezes as testemunhas reportam uma forma de paralisia, onde perdem o controle dos seus músculos durante o tempo o qual o objeto esteve presente. Penso que nisto há implicações médicas muito interessantes. As testemunhas, na sua maioria, se desorientam. Em CONFRONTATION, cito um caso que investiguei, onde as pessoas pensavam estarem dirigindo na direção norte quando estavam dirigindo para o sul. Esta confusão do espaço – tempo, na maioria das vezes, contribui para que os cientistas avaliem que estas pessoas não são dignas de atenção e não são confiáveis. Não sabemos muito a respeito do efeito da pulsação do microondas no cérebro humano. Um destes efeitos pode ser o de alucinações. Você pode, finalmente, encontrar testemunhas contando-lhe estórias inacreditáveis, porque submetidas a estranhos efeitos psicológicos colaterais de algo que, realmente, estava ali. Não penso que a maioria da comunidade ufológica está apta para lidar com isto, Também não penso que a comunidade científica também possa. Entretanto, há o terceiro nível, o mitológico e o sociológico. Neste nível, a realidade física do UFO verdadeiro, é totalmente irrelevante. Provar que Jesus Cristo jamais existiu, jamais ocasionará um mínimo efeito na nossa sociedade em termos de sistema de crenças; neste ponto, a influência de Jesus permanecerá, mesmo sem o Jesus histórico.”

Porque você decidiu concentrar-se no estudo de tantos casos? Temos milhares de estudos de casos. Qual a vantagem de se acrescentar a eles um milhão a mais?

“Penso que esta é uma pergunta justificável. Número um, eu não publiquei todos os estudos dos casos. Só publiquei os selecionados, os que ilustram certos pontos. O que desejo fazer é iniciar, gradualmente, desde o lado físico, enfocando os casos que envolvem rastros físicos. O que desejo fazer é voltar aos básicos, processá-los passo a passo, e descobrir o que sabemos sobre o fenômeno. Para realizar isto, concentrei-me nos casos que todo o cientista refuta. O primeiro deles, no corpo do livro, é o caso no qual existiam dois submarinos franceses ancorados na baía da Martinica. Um dos submarinos e todos os seus marinheiros e oficiais, viram um objeto que se colocou sobre a baía e executou três grandes acrobacias, desvaneceu-se e reapareceu cinco minutos depois. E repetiu a mesma coisa. Havia cerca de duzentas e cinqüenta testemunhas. Mantive muitas conversas em particular com uma delas, o homem do leme do submarino francês, o mais veloz do Mediterrâneo. Ele era alguém que possuía um golpe de vista muito bom e era, também, ótimo observador. Não somente ele viu o objeto, quanto teve o tempo necessário para ir à torre e voltar com seis pares de binóculos, que deu aos seus amigos oficiais. Todos eles observaram a coisa através dos binóculos. Havia também, um observatório metereológico no morro que se sobrepõe a baía, e todos os que estavam no observatório viram o evento. Você não pode afirmar que não aconteceu. Você não pode afirmar que era um meteoro ou um cometa ou qualquer coisa no gênero. Estou tentando usar casos, como este, para estabelecer a realidade física do fenômeno e partir dali.”

“Também selecionei casos onde fui ao local, esperando encontrar algo que seria fácil rejeitar, apenas, para encontrar um jogo de circunstâncias completo que hoje, levaram-me à conclusão de que os eventos foram realmente ufológicos. Incluí, também, os caos nos quais esperava por evidências apontando para um UFO real e encontrei, ao invés disto, uma explicação trivial. Finalmente, há caos que, francamente, não compreendo o que aconteceu.”

Parece-me que você está criando sua própria maneira de filtrar o mecanismo – selecionando estes casos para estudar, porque seguem padrões, enquanto descarta os que merecem análise irrelevante.

“Deixe-me explicar o que fiz. Os casos selecionados foram escolhidos, não porque dizem alguma coisa sobre UFOS, mas porque dizem algo específico a respeito de metodologia. A questão que estava tentando responder era: Como poderemos investigar estas coisas, fornecendo as únicas características do fenômeno? Propositalmente, selecionei casos de um tipo e de outro para ilustrar a complexidade desta espécie de pesquisa. Penso que a mensagem principal que persigo é esta, mesmo que você despenda, cinco ou dez mil dólares investigando um caso, não saberá coisa alguma a mais do que já sabia, de princípio. Creio que é muito importante que todos realizem isto.”

Você já viu algum disco voador?

“Vi coisas que não deveriam estar lá, quando rastreava satélites no observatório de Paris. Eu as percebi visualmente, como parte de uma equipe, e, realmente, foi aí que se iniciou a minha pesquisa. Obviamente, sabia a respeito de UFOS antes disto, mas sempre pensei que se eles estivessem lá e se fossem reais, os astrônomos os veriam e nos relatariam o que haviam visto. O meu primeiro emprego como astrônomo, deixou-me decepcionado. Era parte de uma equipe que rastreava satélites para o “Comitê Espacial Francês”. Nos encontrávamos rastreando objetos que não eram satélites, nem nada reconhecível. Uma noite, nós pegamos onze pontos de dados sobre um destes objetos em um tape magnético, e desejávamos rodar o tape em um computador para completarmos uma órbita para observá-lo outra vez. Não posso lhe dizer se aquilo era uma peça de tecnologia e se alguém a possuía. Podia ser uma peça muito estranha, mas pertencente à tecnologia humana. O que me intrigou foi que o homem encarregado do projeto confiscou o tape e o apagou. Isto me decidiu a começar, realizei, subitamente, que os astrônomos vêem coisas que eles não reportam.

Na realidade, a parte importante de Confrontations, está nos últimos capítulos e se relaciona com as investigações que Jeanine e eu fizemos no Brasil. Fomos ao Brasil, especificamente, para checar estórias de pessoas que haviam sido feridas pela exposição às luzes dos UFOS. Ficamos por lá, cerca de duas semanas, indo de uma cidadezinha a outra e conversando com o povo. Não atingimos nada mais do que a superfície, mas em dez dias, falamos com umas cinqüenta pessoas que foram feridas por estes raios e algumas delas haviam visto estes objetos, apenas, uma semana antes de nossa chegada”.

Eles viram a mesma classe de aparelho tecnológico?

“Muito semelhante. Havia uma variedade de objetos, mas os que emitem estes raios são clássicos, em termos de modelo. São objetos semelhantes a uma caixa retangular que não fazem barulho ou apenas um “hum”, como o barulho de um refrigerador. Eles chegam à noite e o raio é uma luz que não só queima como alfineta. Quando perguntávamos aos brasileiros sobre o fenômeno, descobríamos que eles não o vêem como uma coisa de um outro planeta, mas algo que vem de um plano espiritual. Esta é a sua colocação, mas não oferecem maiores e mais profundas explicações. Havia um rapaz, um amigo, que era cego e havia desenvolvido poderes paranormais, tentei faze-lo falar. Perguntei-lhe qual a espécie de espíritos que ele havia encontrado, mas ele era muito humilde e franco. Disse-me que ele podia invocar os deuses da sua tradição, mas aquelas coisas eram alguma outra coisa. Algo semelhante a: -“Sim, estas coisas existem, mas estão além do meu alcance.”

Na sua cultura, esta explanação poderia ser olhada como algo de mais absurdo do que atividades extraterrestres.

“É o absurdo, a mesma coisa que ouvi de pessoas da nossa cultura: o absurdo. Mas o absurdo não significa falta de sentido. O absurdo é um sinal que possui a propriedade de tirá-lo da sua maneira habitual de pensar, para introduzi-lo em uma outra forma de pensamento que você não sabe que existe. O absurdo força você a perceber a realidade de um outro nível. Os Koans do Zen Budismo, por exemplo, são absurdos, mas a sua intenção, em serem absurdos, é a de parar com o seu processo habitual de pensar. Eles fazem você ficar consciente do seu processo mental, parando este processo.”.

E qual o tipo de estado mental foi criado nestes aldeões?

“O “dia seguinte” a um encontro, as testemunhas estavam extremamente fracas e mal podiam andar. Foram levadas a um médico, se havia algum por perto. Falei com alguns destes médicos, um deles havia tratado de trinta e cinco pessoas, na boca do Amazonas.”.

O que você pensa disto? Tal concentração de atividade em uma área?

“Você encontrava a mesma coisa na União soviética, mas ninguém comentava isto”.

Existem pessoas queimadas por raios na União Soviética?

“Sim, mas não ouvi casos de verdadeiras injúrias na Rússia embora tenha escutado a respeito de raios derretendo o asfalto. Passei uma semana com uma jornalista francesa na União Soviética” (Jornal Infinito: pesquisa do Caso Voronezh).

“Penso que a penetração básica para mim, é a de entender que o fenômeno UFO não é um sistema. Se fosse um sistema poderíamos, provavelmente, entendê-lo. Somos muito bons em analisar sistemas quando estes sistemas são sociais, sistemas de “hardware” ou sistemas físicos. Penso que não chegamos ainda a lugar algum, porque necessitamos investigar o fenômeno, não como a um sistema, mas como sendo um meta-sistema. Em outras palavras, é um sistema gerador de sistemas. Para lhe oferecer uma analogia simples, suponhamos que iremos estudar uma civilização sobre a qual sabemos muito pouco. Assim, vemos, Sábado à noite, que uma multidão se dirige a um certo edifício. Perguntamos? “Porque vocês estão indo para lá?” E eles respondem: “Oh, foi sensacional, assistimos Bambi.” Anotamos a experiência muito consistente, pois basicamente, todos dizem a mesma coisa. Atravessamos a rua e fazemos pergunta idêntica a uma outra multidão, que está indo para outro edifício, e as pessoas respondem: “Fomos assistir Rambo.”
Uma informação, também consistente, mas diferente da outra. O próximo passo é nos encaminharmos aos edifícios para checarmos as coisas por nós mesmos. Tudo o que vemos é uma tela branca e uma série de cadeiras defronte da tela. A teoria óbvia é psicológica – estas pessoas gostam de se encontrar aqui e suas consciências criam mitos das suas próprias fantasias. Umas amam Bambi e as outras, Rambo. Assumimos que não há realidade física alguma. Podemos estar errados nesta assumpção, mas é uma teoria a ser desenvolvida.”

“As pessoas fazem o mesmo em relação aos UFOS. Dizem: “É mitologia, Vem do inconsciente em um certo tempo. Às vezes gosta de se assemelhar à Virgem Maria, em outras vezes se parecem com as fadas, e em certos tempos, gostam de se assemelhar a naves espaciais.”

“Bem, se você for ao cinema enquanto o filme está sendo rodado será totalmente diferente, porque agora, estará acontecendo uma experiência sensória – você vê, você reage ao que vê!”

“O que vê acelera o seu coração e causa muitos fatores fisiológicos em você. Mas isto significa que Bambi existe? É lógico que não. Há uma falha básica neste nível de análise, e creio que é uma armadilha na qual toda a ufologia, e em especial a americana, caiu nela. Há, apenas, uma leitura superficial. Penso que é o que está acontecendo com a pesquisa da abdução atualmente. Quando eles hipnotizam testemunhas e elas regridem à experiência, o que elas conseguiriam de fato, seria somente uma tela branca. Não acredito que possam atingir uma realidade”.

“Ao invés de olhar para a tela, o que desejo é dar meia volta e olhar em outra direção. Se fizer isto, verei um buraquinho no topo da parede com uma luz vinda de lá. É nisto que desejo embarcar. Desejo roubar a chave da cabine do projecionista e depois voltar lá quando todos se forem. E o que eu encontrar lá será um meta-sistema. É um sistema de rodas que pode gerar o que você quiser – Bambi, Rambo, Encontros Imediatos… Este é o meu próximo projeto: interferir com o próprio fenômeno e de brincar com o projetor. Penso que se assim nós o fizermos o forçaremos a reagir”.

Como fazer este tipo de coisa? Como você pode saber o tempo onde isto irá acontecer para que você possa interferir com ele?

“Não sei, mas talvez haja um modo de saber. Se isto é um sistema de controle, então há um ponto de “feedback” em algum local. Uma vez que você o encontre, poderá atarraxa-lo em volta dele mesmo.”.

Você possui algum tipo de conhecimento de que haja algum tipo de tecnologia avançada possuída por seres humanos neste planeta, que poderia ser responsável por tal fenômeno?

“A tecnologia existente pode assumir muitas coisas relatadas pelas pessoas. Pense na bomba Stealth, por exemplo. Estou convencido de que algumas das quedas de naves comentadas, falam dos princípios das experiências com a bomba Stealth. Duas coisas apontam nesta direção: as formas e métodos através das quais foi resgatada e os locais onde se originaram os relatos. Penso que as testemunhas estavam, de boa fé, relatando algo que foi uma experiência militar, Outra coisa, deveria ser óbvia se pensar nisto, é que as pessoas que estão no comando para preservarem a segurança do local da “queda” ficariam deliciadas se as testemunhas acreditassem que viram um disco voador. Em alguns casos, penso que a estória da do local da “queda”, foi plantada para assegurar que a testemunha poderia ser desacreditada se descrevesse alguma coisa muito estranha caindo do céu e sendo descartada pelos militares. Penso que foi exatamente o que aconteceu. Eles ficariam encantados em usarem a narrativa acerca do UFO. para encobertar a verdadeira estória. Se dez anos depois, você preencher uma “requisição de informação”, você encontrará a estória encobertada, como sendo uma estória contrária ao relato real do fato. Como resultado, você pode passar anos tentando compreender este fato, porque ele jamais irá levá-lo ao que seria a tecnologia real. Agora que conhecemos um pouquinho mais sobre estas experiências, penso que podemos colocar dois mais dois juntos. Em decorrência, isto não explica o que sucedeu em 1947, ou 1964, porque mesta época nós não tínhamos nada parecido com o Stealth.”

Você já chegou ou tem quaisquer provas, na sua mente, de que o governo tem a guarda de alienígenas? Muita coisa está vindo à tona agora, na mídia. É muito interessante.

“Sim, é muito interessante em um nível sociológico, porque, quando você começa a observar uma aceitação crescente desta hipótese, compreende que as pessoas podem estar, talvez, mais interessadas em satisfazer a lógica do que à verdade. A reação típica é esta: “esta classe de informação somente poderia ser dada por alguém, do lado de dentro, e que tem acesso a ela. Portanto, a estória é real e verdadeira.”Tudo o que isto realmente significa é que alguém, do lado de dentro, possui alguma razão para liberar a estória. Mas isto não significa que ela seja verdadeira”.

Porque alguém gostaria de plantar este tipo de estórias?

“Bem, podem existir várias razões. Escrevi uma novela, “Arlental”, de muito sucesso. Na novela existe uma agência chamada “A Agência da Inteligência Alienígena”. Uma das coisas que esta agência faz é usar a crença, ou expectativa sobre os UFOS na população, como suporte para a sua própria propaganda. É uma explicação.”

Qual é a proposta a que serve este tipo de propaganda?

“Há várias propostas. Uma delas é o exercício psicológico da arte da guerra. Em Arlental, as pessoas encaravam a história cinicamente. A Primeira Guerra Mundial foi uma guerra de camponeses – a massa contra ela mesma. A Segunda Guerra foi diferente. Foi uma guerra dos poderes econômicos e industriais onde o que determinou a vitória tinha muito pouco a ver com números. Tinha a ver com a maior capacidade de produção de mais tanques, aeroplanos e armas, por dia, do que a do seu antagonista. Os mesmos cínicos decidem que a Terceira Guerra Mundial será uma guerra de sistemas de informação, que tem a ver com o controle dos sistemas de crenças das massas por pequenos grupos de pessoas, que vivem em ambientes secretos, com meios muito sofisticados de comunicação: computadores, satélites e coisas assim. A sua assunção, na novela, é a de que a chave de controle do mundo, hoje, é o controle dos sistemas de crença nas massas. Não são as armas nucleares na verdade, sabemos que não poderemos usá-las. De fato, é isto que está acontecendo no mundo atual. Vejam qual é a influência maior atualmente. O capitalismo é a predominância no desenvolvimento da Polônia. A força das crenças islâmicas estão influenciando, predominantemente, as polícias russas. O controle de crenças é um ponto de culminante importância. Dentro deste contexto os UFOS são muito importantes, porque, se você pode fazer o povo acreditar em que os extraterrestres estão chegando, então poderia usar a força deste medo para realizar o que quiser.”

– Parte de uma entrevista de Jacques Vallee feita com J. R. nos inícios da década de 1990: aos 14/11/1990.
Chamando a si mesmo de “o herético entre os heréticos” Vallee, mais recentemente, foi entrevistado por Jonathan Vankin e permanece alimentando as mesmas idéias.

Entrevista à “GCAT

GCAT: Por que os americanos são obssediados com a idéia que os pilotos dos OVNIs são alienigenas do espaço exterior?

Vallee: Eu penso que os americanos , se eles estão interessados no assunto, são muito literais. Eles querem chutar os pneus , que é o que um bom americano quer fazer. Eles querem fazer engenharia reversa no sistema de propulsão. E quando eu digo , “Olhe , talvez estas coisas não tenham um sistema de propulsão” , voce obtem uma estranha reação . Exatamente , se voce lembrar , em Encontros do 3 Grau , o personagem de Truffatt ficava dizendo que aquilo era um fenomeno sociológico , não exatamente fisico . E ele consegue um monte de problemas com isto.

60GCAT: Neste ponto voce subscreveu à teoria que os Ovnis podem ser extraterrestres na sua origem. . .

Vallee: Quando conheci Spielberg , eu argumentei que o objetivo seria mais interessante se ele não fosse extraterrestre. Se fosse real , físico , mas não extraterrestre. Então ele disse , “Voce provavelmente esta correto , mas não é o que o publico esta esperando — isto é Hollywood e eu quero dar as pessoas algo próximo aquilo que elas esperam.” O que é razoavel.

60GCAT: Então o que temos de certo sobre o fenomeno dos Ovnis?

Vallee: Existe um fenomeno . Não sabemos de onde ele vem. Ele é caracterizado pelos seus traços físicos. Oitenta por cento dos casos tem explicações triviais. Mas eu estou falando sobre o amago do problema. Ele parece envolver uma quantidade imensa de energia em um pequeno espaço físico, ele parece envolver microondas pulsantes, entre outras coisas. Não existe muito conhecimento sobre o efeito das microondas no cérebro , então é muito possivel que algumas das histórias que voce consegue das pessoas são essencialmente alucinações induzidas em testemunhas sinceras — as testemunhas não estão mentindo. Elas realmente estiveram expostas à alguma coisa genuina mas não existe meio de voltar ao que era esta coisa , baseado em suas descrições, por que o seu cérebro foi afetado pela proximidade desta energia. Tendo dito isto , eu tive um monte de colegas na ciencia e na tecnologia que eu respeito que dizem-me que isto pode ser um fenomeno natural — isto pode ser uma desconhecida forma de energia na atmosfera. Nós não sabemos muito sobre o efeito de campos eletromagnéticos no sistema nervoso. Nós estamos descobrindo aos poucos. Na medida que pesquisamos o assunto. Então é bem possivel que seja um fenomeno como este, uma coisa bem expontanea. Ou então ele pode ser artificial. Se é artificial , o fenomeno pode vir de uma outra forma de consciencia , que pode ou não ser extraterrestre. Existe um universo enorme por aí afora. Como podemos dizer de onde a coisa vem? Nós podemos apenas especular a respeito.

60GCAT: Como podemos usar a nossa tecnologia atrasada para investigar o assunto?

Vallee: Onde eu penso que esta tecnologia pode ser util , é em pesquisar caminhos. E eu fiz tudo o que alguem pode fazer . Eu construi , com minha esposa , o primeiro banco de dados de computador de avistamento de OVNIs. Mas onde eu penso que computadores podem ser de grande ajuda é na aplicação da inteligencia artificial, razão e dedução dos relatos que tem causas naturais. Eu desenvolvi um protótipo de software disto , que é chamado OVNIBASE , que eu converti para o frances CNES , presumivelmente eles estão desenvolvendo uma nova versão dele, e rodando em seus próprios banco de dados.

60GCAT: E sobre as outras tecnologias que podem nos ajudar a analisar evidencias melhor do que fariamos , por exemplo, há 10 anos atrás?

Vallee: Digitalização de fotografias é muito util. Em meu livro Confrontos , eu menciono a fotografia que eu trouxe da Costa Rica , que era incomum porque o objeto estava sobre o lago ( Lago de Cote ) , então havia um fundo negro bem uniforme . Tudo é conhecido sobre o avião que tirou a foto . No instante que a foto foi tirada ( em 1971 ), ninguém no avião tinha visto o objeto. Foi apenas quando o filme foi revelado que o objeto foi descoberto. A câmera usada estava excepcional : Ela produziu um negativo — 10 polegadas , muito detalhado. Voce pode ver vacas pastando no campo . O tempo é conhecido ; a latitude , longitude e altitude do avião são conhecidos . Então nós passamos um longo tempo analisando a fotografia , sem encontrar uma obvia resposta natural para o objeto. Ele parece ser muito grande e de forma sólida. Eu obtive o negativo do governo da Costa Rica — se você não tem o negativo , a analise é uma perda de tempo. Eu também obtive o negativo da foto tirada antes e depois daquela , todas sem cortes. Eu levei os negativos a um amigo meu na França que trabalha para uma firma que analisa digitalmente fotografias de satélites. Ele digitalizou a coisa toda, e depois analisou-a da forma o mais completa possível, e não conseguiu encontrar uma explicação para o objeto.

60GCAT: É duro para os americanos conviverem com a idéia de que os OVNIs podem ser a manifestação de uma outra dimensão. . .

Vallee: Você tem que manter a sua mente sempre aberta. O que eu tento fazer é o que um policial investigador faz: eu tento ouvir a testemunha ao invés de projetar minhas próprias teorias. Teorias existem às dúzias. Elas não trazem nada de útil. São quase sempre inúteis, eu penso, simplesmente ouça o que as pessoas estão lhe dizendo, e eu tenho tentado isto não só aqui nos EUA, mas também na Europa e outros lugares que eu visitei, como o Brasil e a Argentina, e tento encontrar novos caminhos.

60GCAT: Você tem sido uma figura controvertida entre os pesquisadores de OVNIs, principalmente por que você mantém teorias mais exóticas do que aquelas que o paradigma dos UFOs provenientes do espaço exterior.

Vallee: Eu tenho criado atrito com um numero elevado de crentes em UFOs. Numero um, porque eu não estou pronto para pular para qualquer conclusão que seja necessariamente extraterrestre — nós não somos suficientemente espertos para saber o que eles são neste ponto. E a pesquisa não o fez. Eu certamente relembro o suficiente do meu treinamento como astrônomo para lhe dizer que o universo é grande o bastante para ter outras formas de vida que não as nossas; no mínimo esperamos que assim o seja. Mas até o momento não o podemos provar. Logo nós não podemos ver como eles podem vir aqui — provavelmente eles são muito mais avançados com respeito à Física, e devem ter conseguido um meio de o faze-lo. Mas isto não explica os OVNIs. Eu também antagonizei uma porção de pessoas porque eu penso que o modo como são manuseadas as abduções são incorretas. Não apenas erradas cientificamente, mas erradas moralmente e eticamente. Eu tenho falado as pessoas, não deixe ninguém hipnotiza-lo se você ver uma estranha luz no céu. Eu penso que um monte destas pessoas proeminentes na mídia e no National Enquirer e nos “talk show” e por aí afora estão criando abduzidos sob hipnose. Eles estão hipnotizando todo mundo que tenha tido alguma estranha experiência e dizendo-lhes que eles foram abduzidos por mera sugestão. E eles estão fazendo isto com boas intenções. Eles não tem noção exata do que estão fazendo. Mas no meu modo de pensar, isto é anti-ético.

60GCAT: O que você pensa de John Mack, um psicólogo de Harvard que acredita que as abduções alienígenas são um fenômeno real? É claro, ele usa hipnose em seus pacientes para liberar “memórias reprimidas” destas abduções.

Vallee: Eu o respeito por sua coragem em tratar deste assunto, mas não concordo com os seus métodos.
Eu tive algumas testemunhas que queriam ser hipnotizadas, levei-as em apenas dois casos de 70 no total de casos de abdução que eu estudei. E usualmente os especialistas dizem-me que a hipnose não é necessariamente o melhor meio de auxiliar estas pessoas. Não é nem mesmo o melhor método de recuperar memórias. Pode ser útil em casos específicos. Mas eu nunca hipnotizei ninguém, eu não sou qualificado para fazê-lo.

60GCAT: Como você ficou inicialmente interessado em fenômenos paranormais e OVNIs?

Vallee: Eu comecei querendo fazer astronomia e arruinei uma perfeita carreira na ciência por ficar interessado em computadores. Isto foi na França nos tempos iniciais dos cursos de computação nas universidades francesas. Meu trabalho inicial foi no observatório de Paris, monitorando satélites. E começamos seguindo objetos que não eram satélites, e então decidimos prestar atenção a estes objetos mesmo que eles não estivessem no escopo dos satélites normais. E uma noite obtivemos onze pontos de dados de um destes objetos — ele era muito brilhante. E era retrogrado. Era o tempo em que não era possível um foguete poderoso o suficiente para lançar satélites retrógrados. , um satélite que vai em sentido contrário à rotação terrestre, onde você obviamente necessita compensar a gravidade terrestre dirigindo-se na outra direção. Você tem que alcançar a velocidade de escape na direção oposta à rotação da Terra, o que necessita um monte a mais de energia do que na direção direta da rotação terrestre. E o homem a cargo do projeto confiscou o tape e o apagou na manhã seguinte. Então foi isto que me deixou interessado. Porque acima deles eu pensei, cientistas não parecem interessados em OVNIs, astrônomos não reportam nada não usual nos céus, logo não é nada que tenha a haver com eles. Efetivamente, eu estava na mesma posição que muitos cientistas estão hoje em dia — você confia em seus colegas, e porque você não vê nenhum relatório de testemunhas técnicas creditáveis, você assume que aquilo não é nada. E lá estava eu com um relatório técnico — eu não sabia o que era ou foi aquilo. Não era um disco-voador — ele não pousou próximo ao observatório. Mas permanece sendo um mistério. E invés de olhar para os dados e preserva-los, nós os destruímos.

60GCAT: Por que ele o destruiu?

Vallee: Justamente por medo do ridículo. Ele pensou que os americanos iriam rir de nós, se nós o enviássemos — todos os dados de satélites estavam concentrados nos EUA. E nós estávamos trocando informações (dados) com instituições internacionais. E ele não queria que o observatório de Paris parecesse tolo por reportar algo que não conseguia identificar nos céus. Isto era 1961. Depois eu descobri que outros observatórios fizeram exatamente a mesma observação, e de fato os americanos monitorando estações tinham fotografado a mesma coisa e não conseguiram identifica-lo também. Era um objeto de primeira magnitude: ele era tão brilhante quanto (a estrela) Sirius.
Você não conseguiria perde-lo. Ele não reapareceu nas semanas seguinte. Aquilo era uma pequena anedota, mas para mim o fato de o destruirmos foi mais importante que o que nós vimos. . E reabriu a questão fundamental para mim: O que os cientistas estão observando e não estão falando a respeito? E então eu comecei a extender uma pequena rede de cientistas, que permanece ainda ativa, e descobrir que havia uma porção de dados que nunca foram publicados. De fato, os melhores dados nunca foram publicados. Eu penso que uma boa parte de mal entendidos a respeito dos OVNIs entre os cientistas é devido ao fato que eles nunca têm acesso aos melhores dados.

60GCAT: Por que os melhores dados nunca foram publicados?

Vallee: Eu falo com um monte de companhias técnicas onde os executivos são conscientes dos meus interesses, e eu tenho um monte de relatórios com o selo de confidencialidade de pessoas nas ciências e nos negócios que tem visto coisas. Há cerca de um ano atrás, um vice-presidente da IBM me puxou de lado após uma conferencia e disse, “Você é o mesmo Jacques Vallée que é interessado em UFOs?” e ele descreveu um perfeito clássico encontro com um OVNI que ele e a sua família tiveram no estado de Nova York. Não era nada que estaria no National Enquirer.

Eu conheci um homem que é presidente de uma companhia técnica no Silicon Valley , ele queria contar-me sobre as suas experiências. Ele tinha sido um elevado oficial da marinha no comando de um grande navio, e ele teve três experiências com UFOs, duas delas em serviço numa muito sensível posição — e uma vez quando ele era um piloto de testes. Ele nunca reportou nenhum dos encontros, mesmo quando ele era piloto. Eu disse, “Você não era obrigado a reportar tal incidente?” E ele disse, “Talvez eu fosse, mas se eles tivessem a mínima dúvida sobre o que você está vendo lá em cima, você será considerado louco — e eles não o deixarão se aproximar de um cockpit de um avião experimental nunca mais”. E ele continuou, “Se você é um piloto, você quer é voar. Você não que ficar os próximos meses preenchendo formulários para um bando de psiquiatras”. O que realmente iria acontecer. Eu penso que qualquer piloto lhe dirá a mesma coisa, você sabe, sobre uma cerveja. Então estes são os casos que eu estou interessado. Os casos que não foram reportados na imprensa, que não foram distorcidos no re-depoimento. Quando eu tenho tempo, eu sigo um destes casos com meus próprios recursos basicamente por curiosidade, sem idéias preconcebidas.

60GCAT: Mas os céticos argumentam que mesmos estes podem ser casos anedóticos, visto que não existem dados científicos. . .

Vallee: Existem uma quantidade enorme de dados — e isto pode ser analisado futuramente. Mas eu não penso que isto irá gerar um propulsor para um disco voador. Eu penso que serão coisas que serão interessantes se você encontrar o caminho para o material. Eu sou cético sobre histórias sobre discos espatifados. Eu mantenho uma mente aberta sobre isto mas eu ouvi tantas histórias por tanto tempo e nada realmente tangível . Também sou cético por outra razão: Nós construímos tecnologia agora que é realmente útil onde é necessária. Com que freqüência o seu Winchester (disco rígido) se quebra? Eu digo, se você mantiver seu computador por 15 anos, eventualmente o disco rígido irá se quebrar. Mas você não espera que ele se quebre. Se você vai construir uma tecnologia que permite cruzar o espaço inter-estelar , ela será bastante confiável.

60GCAT: Em seus livros, você detalha a melhora de dados nos casos europeus.

Vallee: Existe uma unidade do CNES , que é o equivalente francês da NASA, que tem permissão para investigar qualquer caso de UFO. Eles começaram na metade dos anos 70 e eles tem caminhado desde então. Eles encontraram uma infinidade de casos que não pode ser explicado, e alguns casos nunca foram publicados com todos os dados. Casos onde existem traços no chão, onde existe evidencia de calor, evidencia de radiação, incluindo radiação por microondas pulsantes, e evidencias de plantas (vegetais) sendo afetadas. Novamente, isto não prova nada. Apenas prova que alguma coisa esteve lá. Não diz o que era. Mas é certamente uma evidencia técnica valida. Este dado não lhe diz se o fenômeno é natural ou não, porque ele não diz o suficiente sobre as condições onde tal aconteceu. E isto é onde eu penso que uma quantidade maior de pesquisas deve ser feita. Pessoas vem a mim dizendo, “Olhe, eu era um piloto ou uma estação de radar, e nós monitoramos UFOs — nós gravamos os dados, e eu era o piloto e segui uma destas coisas e tirei fotos com a câmara de bordo. Quando eu posei havia um sujeito esperando por mim, em blue jeans e um suéter, que disse” Você não viu nada lá em cima”. Ao mesmo tempo, um outro cara com uma chave de fenda esta soltando a câmera da fuselagem. Usualmente as testemunhas não tem a mínima idéia de onde estes sujeitos aparecem. Mas alguém tem um monte de dados, e eu penso que estes dados brutos podem ser transformados em ciência, certamente o miolo de 20 anos atrás — Eu digo, o quanto confidencial pode ele ser? Hoje, podemos conhecer se ele é um inimigo, então devemos enviá-los para a comunidade cientifica. Deixe os céticos analisarem do seu ponto de vista e deixe qualquer um analisar do seu ponto de vista. Este é o modo que a ciência deve funcionar.

60GCAT: Vamos falar sobre as outras formas de evidencia bruta que os cientistas podem olhar quando estudam o problema dos OVNIs. De inicio, pedaços de metal derretido, o chamado “liquid sky”

Vallee: Por sí próprios, estes pedaços não representam evidencia. Mas a existência deste material mostra que existem informações que os cientistas podem pesquisar. Quando nós recebemos de Bogotá na Colômbia, amostra (supostamente remanescente de um liquido ejetado de um disco voador sobre a Universidade de Bogotá nos meados dos anos 70) nós salvamos um pequeno pedaço para analise. Demonstrou-se ser a maior parte alumínio. Novamente, isto não prova nada: você pode fazer uma porção deste material em seu jardim simplesmente pondo metal liquido em uma piscina de água. Metalurgicamente, a amostra de Bogotá não é incomum — exceto que ela sofreu um aquecimento violento, não até o ponto de ebulição mas além dele. Meu ponto tem sido sempre que é interessante ver que caminhos surgem das analises destas amostras. Se você ficar picando amostras como estas , elas podem direcionar a sua pesquisa em um determinado rumo.

60GCAT: Uma teoria diz que este metal liquido é parte do sistema de propulsão dos OVNIs.

Vallee: Existem motores (terrestres) que usam metal liquido — usualmente mercúrio — para contato (elétrico) em liquido. Mas a temperatura necessária para liquefazer o alumínio e outros metais costumam ser muito elevadas.

60GCAT: E sobre as amostras de “liquid sky” que são de feitura levemente mais exótica que a escória de alumínio?

Vallee: A única que parece incomum é a que o Prof. Peter Sturrock (um físico de plasma da Universidade de Stanford) tem. Ela veio de Ubatuba no Brasil. No inicio do ano de 1930, um objeto explodiu sobre uma praia em Ubatuba. (Em 1957, um alegado fragmento desta explosão apareceu, sua origem é desconhecida). Uma analise para a Universidade do Colorado e Stanford confirmou que o material era oxido de magnésio, com uma quantidade mínima de impurezas. Se o metal realmente era originário de 1930, então é algo bem incomum devido ao fato que a tecnologia da época não permitiria este grau de pureza com extrema facilidade.

60GCAT: Vamos falar sobre a implicação de suas pesquisas. Se o fenômeno OVNI é real, mas não são alienígenas do espaço exterior, estamos falando sobre novos modos de pensar sobre a realidade e a cosmologia, não estamos?

Vallee: Sim. Neste sentido, o fenômeno é muito mais importante do que os visitantes de outro planeta seriam. Porque isto altera fundamentalmente a natureza da realidade. Se os UFOs são uma realidade física, eles certamente violam tudo que pensamos conhecer sobre a realidade. Existem relatos de OVNIs materiais que se tornam imateriais e desaparecem num “flash”.

60GCAT: Suas teorias sobre UFOs e outros fenômenos “paranormais” envolve sua metáfora do “universo informal”, onde o tempo e o espaço e talvez outras dimensões podem agir como um banco de dados de um computador cósmico. O que você pretende dizer com isto?

Vallee: Você pode conseguir uma consistente representação da realidade se você olhar para o mundo como uma coleção de eventos, ou “exemplos” (como a filosofia de Ocasionalismo o fez no século onze), muito mais do que uma coleção de objetos materiais movendo-se em um espaço tridimensional na medida que o tempo flui. Na realidade virtual, é claro, você não pode dizer a diferença. No mundo real a informação e a energia são atualmente a mesma quantidade física. Em um universo visto como de “eventos informais” você deve esperar coincidências, telepatia, realidades múltiplas e todas estas coisas que pareceriam impossíveis no universo energético de 4-D. Para mim esta é a razão porque os OVNIs são interessantes. Eu não tenho uma teoria pessoal para “explicar-los”, mas eu os vejo como uma oportunidade de postar novas questões. Se é verdadeiro que a informação reside nas questões que nós fazemos, caminhar com problemas incomuns pode ser mais importante que obter as respostas, neste estágio de nosso limitado conhecimento do universo.

60GCAT: Então a realidade é como um banco de dados de computador na qual uma palavra de busca correta (ou “encantamento”) pode ocasionar que pedaços de informação — um OVNI , um fantasma ou outra anomalia — se materializem .

Vallee: Se você pensar (a realidade) como o software para o universo, tudo que alguém precisa fazer é alterar uma vírgula no programa e a cadeira que você está sentado não será mais uma cadeira de forma alguma. O maior beneficio deste modelo é que ele manuseia anomalias muito bem. Coincidências serão de uma expectativa normal. Se você endereçar um banco de dados com uma questão sobre a palavra “piscina” você obterá complementos como óculos de sol, loções de bronzeamento, bolas e um ou dois prospectos de investimento. Em parapsicologia sujeitos premiados podem estar forçando coincidências similares entre locais ou mentes separadas. Um modo de testar a teoria é criar anomalias massiças de informação e ver o que acontece quando elas entram em colapso.

60GCAT: Claro que, agora você está falando sobre a intersecção de ciência e misticismo. Você se considera uma pessoa mística?

Vallee: Eu nunca fico confortável com uma arbitrária separação do mundo entre universo físico (que é presumivelmente aquele que a ciência estuda) e o psicológico, social e psíquico lado da vida. Para mim esta separação arbitrária é a maior fraqueza do nosso sistema intelectual. A maior parte dos cientistas estudam astronomia desde uma idade prematura, como eu fiz, provavelmente motivados por algo semelhante ao desejo místico de entender o céu noturno e abraçar o seu maior significado. Como o tempo passa, é claro, este desejo se corrompe e se torna trivial. No meu caso eu o manejei de forma a manter esta curiosidade sempre nova sobretudo porque eu não tive uma “experiência mística” no sentido religioso, eu sempre suspeitei que deve haver um outro nível de consciência e que isto sempre foi acessível para a mente humana. Eu tenho encontrado sentimentos similares entre muitos programadores da Net, que foram projetados ao trabalho de rede pela impressão de operarem, apesar dos normais limites de tempo e espaço, algo próximo aquilo que os místicos descrevem, se bem que de um modo muito mais mundano.

60GCAT: Você disse que os OVNIs representam uma forma de inteligência alienígena que esta manipulando continuamente a sociedade humana. Como e com que finalidade?

Vallee: Uma nova analise computacional de tendências históricas, compilado nos anos 70, fez-me plotar um gráfico impressionante de ondas de atividade de UFOs que podiam ser qualquer coisa mas periódicas. Fred Beckman e o Dr. Price Williams da UCLA apontaram que isto remontava uma programação de reforcamento típico de uma aprendizagem ou processo de treinamento: o fenômeno era mais um sistema de controle que mais que um evento exploratório de alienígenas viajantes.
Existem muitos sistemas de controle ao redor de nos, e alguns são parte da natureza: ecologia, clima, etc.. Alguns são feitos pelos homens: o processo de educação, o termostato na sua casa. Se o fenômeno dos UFOs representa um sistema de controle, podemos testá-lo para determinar se ele e natural ou artificial, aberto ou fechado? Esta e uma das mais interessantes questões sobre o fenômeno que nunca foram respondidas.

60GCAT: Falando de sistema de controle, alguns dos outros caminhos nas pesquisas de OVNIs tem permitido sugerir que de tempos em tempos agencias governamentais, cultos e outros grupos interessados em manipular crenças pessoais tem projetado fraudes e decepções de OVNIs. Agora estamos realmente sendo conspiracionais. . .

Vallee: Eu penso que o lugar onde a ufologia — no modo que esta desenvolvida hoje — bate com os meus interesses na comunicação, e os meus interesses nos grupos de trabalho é na manipulação e na decepção. Eu penso que e uma área na qual as pessoas deveriam ser cautelosas. Porque eu penso que um monte de coisas que estão sendo discutidas hoje em dia, entre pessoas que acreditam em UFOs, tanto podem ser místicas como parte de alguma forma de manipulação de alguma espécie, que incluem historias de pequenos alienígenas, híbridos e abduções e por ai em diante. Um monte que pode ter sido tanto como material que os cultos injetaram na cultura porque isto se ajusta com suas próprias fantasias sobre um final do mundo ou do milênio e com todo o resto. Ou, em um sentido mais sinistro, em alguns casos que eu investiguei, a decepção esconde um experimento de controle de mente. Qualquer um que e’ consciente de tecnologia hoje em dia deve saber que há mais do que um caça stealth voando por ai. Nos temos capacidades, teóricas ou praticas, para fazer qualquer tipo de coisa. Existe um desenvolvimento maciço de plataformas naoletais do que aquelas que devem ser testadas em algum lugar, eles tem que ser disfarçadas como algo mais de tempos em tempos. Tem sido desenvolvido maciçamente os RPVs — remotely piloted vehicles — alguns dos quais são em forma de disco. Existe um maciço desenvolvimento de tecnologias de baixa observação que são usadas em reconhecimento e podem ser usadas para qualquer tipo de coisa. E em muitos casos, os UFOs não são simplesmente fantasias nas mentes de algumas poucas testemunhas , mas foram plantadas como parte de uma cobertura para uma mui terrestre tecnologia que esta sendo desenvolvida.

60GCAT: O culto UMMO, que você discutiu extensamente em seus livros, Revelações e Mensageiros da Decepção, tem um impressionante história de uma elaborada decepção. Fale-nos a respeito.

Vallee: Eu penso que o mito UMMO começou com um grupo pequeno de pessoas, essencialmente cultistas. O que era intrigante sobre UMMO eram todas suas revelações pseudo-cientificas (supostamente mandados aos cientistas terrestres como Vallée por parte dos UMMOitas, seres que vieram de um planeta 14,6 anos luz distante do nosso Sol). Mas estes supostas revelações não estavam dentro do estado da arte. Eles não vieram com provas do teorema de Fermat ou algo parecido, era uma perfeita ficção cientifica.

60GCAT: E sobre a teoria francesa que UMMO era um experimento psicológico?

Vallee: Sim, eles pensavam que o culto foi utilizado ou manipulado pela KGB . Por causa de uma coisa, alguma de suas idéias — alguns dos dados que foram supostamente canalizados da organização UMMO nos céus era de uma cosmologia muito avançada. Uma muito avançada cosmologia sobre dois universos envolvendo alguns dados que não eram estúpidos — eles pareciam vir direto das anotações de André Sakarav , incluindo algumas notas não publicadas de Sakarav , algumas coisas que ele tinha trabalhado mas não publicado . E então algumas pessoas — e eu não sei quem estava certo — sentiram que alguém que tiveram acesso a estas notas, para inspirar estas mensagens, talvez a KGB. Isto não era exatamente ficção cientifica, era alguém que sabia o que os mais avançados cosmologistas estavam pensando.

60GCAT: Porque a KGB ou qualquer agencia iria perpetrar um engodo como este?

Vallee: Bem, deixe-me contar uma pequena historia. Cerca de quinze anos atrás havia um grupo que apareceu subitamente em São Francisco. Eles fizeram uma festa. E convidaram todos que eram alguma coisa em parapsicologia. E eles fizeram uma pequena fala dizendo,

“Nós temos todo este dinheiro de alguém que quer fazer o bem e ajudar nas pesquisas, sabemos que não existe muito dinheiro em parapsicologia, nós vamos atender propósitos de pesquisa, de-nos suas melhores idéias, nós enviaremos para um painel que ira revisa-las e fundear (financiar) as melhores pesquisas.”

Após a festa, um monte de pessoas correram para suas casas para seus computadores e digitaram suas melhores idéias, enviando-as — mas a organização nunca existira, nunca se ouviu falar dela depois disto. Alguém estava pescando alguma coisa.

Então tendo uma cobertura como um grupo algumas vezes, um grupo completamente estranho, pode ser um modo conveniente de obter inteligência técnica. Ë um bom meio de estabelecer uma base tecnológica. Então alguns destes estranhos grupos podem ser utilizados para isto. Agora, isto não explica porque eles fazem isto por dez anos seguidos. Neste caso de UMMO, porque eles vão em frente? Eu penso que UMMO se tornou um alinhamento de interesses por sí próprio. Ele se tornou um fim em sí mesmo porque muitas pessoas se projetaram psicologicamente nele. Eles começaram escrevendo coisas sobre cada um deles e isto se tornou um mito auto-sustentado. Eles continuam me mandando material. Existe um índice, catálogos; para algumas pessoas ele se tornou a própria vida. de forma crescente, estamos vendo estes estas espécies de cultos aparecendo na internet, no ciberespaço.

60GCAT: Existe algo nas comunicações on-line que ajudam a promover mitos e decepções?

Vallee: Porque vivemos em um mundo onde com os meios de comunicação são baseados em redes digitais, um grupo pequeno de pessoas pode ter um tremendo impacto na crença das massas. E nós ainda vivemos em um mundo onde a crença das massas é uma arma estratégica. Nós temos bombas H mas não podemos utilizá-la . Nós temos bombas de nêutrons, mas não podemos usá-las. Mas se acharmos um meio de influenciar crenças de massas de pessoas, isto seria de grande impacto estratégico. O grande problema no mundo são os problemas do fundamentalismo e da religião — seja islâmico ou outras formas de religião.

Estes são a grande força de desestabilização no mundo de hoje. Bem, crenças em Extraterrestres que venham aqui para salvar-nos podem induzir grande massas de pessoas com os significados técnicos que existem hoje em dia.

O potencial de contágio de crenças absurdas é real. Nas mãos de pessoas que podem deliberadamente usar a Internet para criar uma epidemia de irracionalismo nós podemos ver a emergência de uma nova classe de extremamente perigosos e poderosos cultos com toda a espécie de trapaças de alta tecnologia.

E eu penso que alguém tem que prestar atenção a este angulo. Então eu fui levado a isto encontrando — eu estava investigando alguns casos que eram fisicamente reais, mas eram engodos — mas não um engodo por parte da testemunha. E a história sobre o objeto foi de fato plantada.

O caso Bentwaters (no qual um americano a serviço da Força Aérea americana com base na Inglaterra observou um artefato em forma de disco pousar na floresta) é um clássico. Para o local de aterrizagem, eles tiveram um misto de guardas comuns, oficiais, sentinelas e então tiveram ordens de ir ao local dentro de um cenário (explicação). E isto não é o que aconteceria se o encontro fosse real — se um estranho objeto aterra na base você não manda centenas de pessoas sem armas. A coisa toda tinha todo o destino de ser planejada para os benefícios das testemunhas, então elas poderiam ser estudadas e, da mesma forma, as reações de diferentes tipos psicológicos e de diferentes níveis hierárquicos. E quando você pensa a respeito, não se torna tão estranho. Se você está a cargo de um projeto como este, você terá que testa-lo em condições onde ninguém está em perigo e você pode conseguir a maior quantidade de dados que precisar. Em casos como este — não muitos mas poucos deles — que eu investiguei , tive que concluir que foram testes de projetores de realidade virtual

60GCAT: Então deve haver aplicações militares para esta tecnologia da decepção?

Vallee: Nossos deuses sempre vem dos céus. E como um deus viria do céu hoje? Ele desceria em alguma espécie de nave espacial. Ele não apareceria simplesmente saindo das nuvens, eu quero dizer, que isto não funcionaria. Se bem que na Primeira Grande Guerra os alemães estavam usando guerra psicológica pela projeção de fotografias, slides, ao longo das linhas de defesa francesas. E eu estou certo que os franceses estavam fazendo a mesma coisa com os alemães. E deve haver alguns sofisticados dispositivos, agora, sendo utilizados em combate psicológico para criar visões, hologramas, para influenciar pessoas. Eles podem não funcionar com você ou comigo se sairmos para fora e virmos alguma coisa nos céus, eles podem não desestabilizar-nos. Mas se estivermos sob um monte de stress — se você estiver lutando por um mês em uma pequena ilha, e subitamente algo como isto acontece —

Eu me lembro de uma carta para a Força Aérea dos EUA de um homem que finalmente reportava algo que ele havia visto durante a Segunda Grande Guerra no Pacifico. Ele disse que estava no topo de uma pequena ilha num ponto de observação. Eles estavam esperando um ataque japonês. Eles tinham lutado intensamente por diversas semanas. Eles estavam justamente isolados. Eles viram um objeto no céu que era absolutamente físico, que circundou a ilha, era um disco, não apresentava meios de propulsão, nenhum barulho. Ele circundou a ilha e se foi. E o homem disse que nunca reportou-o, mesmo a sua própria esposa. A razão de ele não reporta-lo é que estes homens estavam sob um tremendo stress que ele não poderia quere que pensassem que o seu comandante estava dobrando-se (desmoronando). Então a mesma espécie de significado psicológico que não funcionaria com pessoas comuns podem funcionar em casos excepcionais.

60GCAT: E sobretudo ocultistas e crentes da realidade dos OVNIs — que estão sob alguma espécie de stress psicológico — podem ser vistos como alvos ideais para estes tipos de manipulação.

Vallee: Em alguns casos a comunidade ufológica pode ser simplesmente utilizada em algum experimento sociológico porque eles são um grupo conveniente de pessoas para serem vistos em como reagem a diferentes rumores. (Suponha que o governo perca uma arma nuclear em um pais estrangeiro) Você tem que ir e recuperar esta coisa. E você não pode dizer as pessoas o que você está fazendo, então você tem que ser muito hábil em plantar uma história. Você pode plantar uma história curta dizendo que isto era um disco voador de Vênus. Isto seria tão ridículo que cientistas não iriam checar. Você pode ter alguns jornalistas lá, mas você não poderá dizer-lhes o que você realmente quer, e você dá algumas fotos de qualquer coisa. E então o que você precisa é só distrair as pessoas por dois ou três dias, tempo de trazer o equipamento, conseguir qualquer coisa de fora, recuperar o que você esta procurando e ir embora. Eu penso que existem casos que foi o que exatamente aconteceu. E aqueles são da espécie de grandes historias de UFOs que as pessoas contam ao redor de fogueiras em acampamentos.

Mas eu penso que não existem OVNIs aqui. Eu penso que essas histórias de UFOs são inventadas — Eu estava dizendo no inicio que é saudável sermos cépticos. Eu respeito pessoas que tenham argumentos céticos lá. Jim Oberg, que era um especialista no programa espacial russo, apontava para mim que alguns dos avistamentos que eu publiquei provenientes da União Soviética — um estranho amarelado crescente visto correr os céus por diversas pessoas na URSS — era ensaios com foguetes que eram ilegais sob o tratado do SALT, e obviamente, eles não poderiam escondê-lo nos céus. . . Então o governo plantou a história que havia um disco voador, e foi o que foi para os jornais.

Novamente, a comunidade de pesquisas ufológicas é um laboratório formidável no qual se observa os efeitos da propaganda e da desinformação, desde que ela é “dirigida” em sua maior parte com a intenção de expor “o acobertamento”. Isto cria uma oportunidade para as pessoas para mascarar como bons rapazes e “revelar” toda a sorte de rumores inverificáveis. Eles encontram uma audiência receptiva porque o conteúdo é um de idéias não-conformistas, originais e ressaltadas. Não significa que vamos acreditar no homem que afirmou que estava na inteligência da NATO e viu documentos classificados sobre quatro raças de humanóides vivendo na Lua? Eu não penso que faríamos.

Fontes

http://www.jornalinfinito.com.br/series.asp?cod=65

http://www.vigilia.com.br/vforum/viewtopic.php?p=3836&sid=466ebff7365dece33ad9d5629a8a76df

Mente, Memória e Arquétipo: Ressonância Mórfica e o Inconsciente Coletivo – Rupert Sheldrake

Por: Rupert Sheldrake (Psycological Perspectives, 1997).

interessante ensaio de Rupert Sheldrake sobre a teoria dos campos morfogenéticos.

Rupert Sheldrake é um Biólogo teórico cujo livro, “Uma Nova Ciência da Vida: a hipótese da causação formativa (Tarcher, 1981)”, evocou uma tempestade de controvérsias. A revista Nature o descreveu como “o mais forte candidato à fogueira”, enquanto que a revista New Scietist chamou de “uma importante investigação científica a respeito da natureza da realidade biológica e física”. Devido ao fato do seu trabalho conter implicações importantes para os conceitos junguianos a respeito dos arquétipos e do inconsciente coletivo, nós convidamos Sheldrake para apresentar a sua visão em uma série de quatro ensaios que aparecerão nos assuntos sucessivos da revista Psycological Perspectives. Tais ensaios serão atualizações da sua apresentação sobre “ressonância mórfica e o inconsciente coletivo”, ocorrida em maio de 1986 no Instituto de Relações Humanas, em Sta. Bárbara, Califórnia.

 


 

Neste ensaio eu estarei discutindo o conceito da memória coletiva como base para a compreensão do conceito de Jung do inconsciente coletivo. O inconsciente coletivo somente faz sentido no contexto com alguma noção de memória coletiva. Isto, portanto nos leva até um exame bastante amplo da natureza e do princípio da memória – não apenas em seres humanos e nem apenas no reino animal; nem mesmo apenas no setor da vida – mas no universo como um todo. Tal perspectiva é parte de uma mudança muito profunda de paradigma que está ocorrendo na ciência: a mudança de uma visão mundo mecanicista para uma visão evolutiva e holística.

A visão cartesiana mecanicista é de muitas maneiras, ainda o atual paradigma predominante, especialmente na biologia e na medicina. Noventa por cento dos biólogos se orgulhariam de declarar que são biólogos mecanicistas. A despeito de a Física ter se movido para além da visão mecanicista, muito do nosso pensar a respeito da realidade física ainda é moldado por ela – mesmo naqueles de nós que gostariam de acreditar tiramo-nos movido para além dessa configuração de pensamento. Portanto eu examinarei brevemente algumas das suposições fundamentais da visão de mundo mecanicista a fim de demonstrar como esta ainda se encontra profundamente enraizada no modo de pensar da maioria de nós.

AS RAÍZES DO MECANICISMO NO MISTICISMO NEOPLATÔNICO

È interessante notar que as raízes da visão mecanicistas de mundo do século XVII possam ser encontradas na religião mística antiga. De fato, a visão mecanicista foi (era) uma síntese de duas tradições de pensamento, ambas as quais estavam baseadas no ‘insight’ místico de que a realidade é permanente e imutável. Uma destas tradições provém de Pitágoras e de Platão, que eram ambos fascinados pelas verdades eternas da Matemática. No século XVII isto evoluiu para uma visão de que a natureza era governada por idéias permanentes, proporções, princípios, ou leis que existiam dentro da mente de Deus. Esta visão de mundo tornou-se dominante e, através de filósofos e cientistas tais como Copérnico, Kepler, Descartes, Galileu e Newton, foi incorporada aos fundamentos da física moderna.

Basicamente eles expressavam a idéia de que os números, proporções, equações e princípios matemáticos são mais reais do que o mundo físico que nós vivenciamos. Mesmo hoje muitos matemáticos se inclinam em direção a este tipo de misticismo pitagórico ou platônico. Eles pensam que o mundo físico é como um resultado de princípios matemáticos, como um reflexo das eternas leis numéricas matemáticas. Esta visão é estranha para o modo de pensar da maioria de nós, para os quais o mundo físico é o mundo “real” e as equações matemáticas são consideradas “feitas pelo homem” e possivelmente descrições imprecisas deste mundo “real”. Apesar disto esta visão mística evoluiu para o ponto de vista científico predominante atual de que a natureza é governada por leis eternas, imutáveis, permanentes onipresentes. As leis da natureza estão em todos os lugares e sempre presentes.

AS RAÍZES DO MATERIALISMO NO ATOMISMO

A segunda visão da imutabilidade que emergiu no século XVII nasceu da tradição atomística do materialismo, que se dedicou a um assunto que já estava profundamente enraizado no pensamento grego: especificamente o conceito de uma realidade imutável. Parmênides, um filósofo pré-socrático, tinha a idéia de que somente o ser é (only being is); não ser não é (not being is not). Se algo é, este não pode mudar porque, a fim de mudar, teria que combinar ser e não ser (existir e não existir), o que era impossível. Portanto ele concluiu que a realidade é uma esfera imutável e homogênea. Infelizmente para Parmênides, o mundo que nós vivenciamos não é homogêneo, imutável ou esférico. A fim de preservar a sua teoria, ele afirmou que o mundo que nós vivenciamos é uma ilusão. Esta não era uma solução muito satisfatória e os pensadores da época tentaram encontrar um modo de resolver este dilema.

A solução dos atomistas era a de reivindicar que a realidade consiste de um grande número de esferas (ou partículas) homogêneas e imutáveis: os átomos. Ao invés de uma grande esfera imutável, existe grande número de esferas imutáveis se movendo no vácuo. Os aspectos mutáveis do mundo poderiam então ser explicados em termos dos movimentos, das permutas e das combinações dos átomos. Este é o “insight” original do materialismo: que a realidade consistia de matéria atômica eterna e do movimento da matéria.

A combinação desta tradição materialista com a tradição platônica finalmente fez nascer à filosofia mecanicista que emergiu no século XXVII e que produziu um dualismo cósmico que tem estado conosco desde então. De um lado temos átomos eternos de matéria inerte e do outro lado temos leis imutáveis, não materiais, que se parecem mais com idéias do que com coisas físicas e materiais. Nesta espécie de dualismo ambos os lados são imutáveis – uma crença que não sugere de pronto a idéia de um universo evolutivo. De fato, os físicos têm estado em oposição a aceitar a idéia de evolução precisamente porque ela se encaixa de maneira pobre com a noção da matéria eterna e das leis imutáveis. Na física moderna a matéria tem sido vista como uma forma de energia; a energia eterna substituiu a matéria eterna, mas, além disso, pouco tem mudado.

A EMERGÊNCIA DO PARADIGMA EVOLUTIVO

No entanto, o paradigma evolutivo tem se firmado nos dois últimos séculos. No século XVIII, desenvolvimentos sociais, artísticos e científicos foram visto em geral como um processo evolutivo e progressivo. A revolução industrial tornou esse ponto de vista uma realidade econômica em parte da Europa e América. No início de século XIX, havia um número de filosofias evolutivas e, por volta de 1840, a teoria evolutiva social do marxismo tinha sido publicada. Neste contexto de teoria evolutiva social e cultural, Darwin apresentou a sua teoria da evolução biológica, que estendia a visão evolutiva à vida como um todo. Mesmo assim esta visão não atingia todo o universo: Darwin e os neodarwinistas ironicamente tentaram encaixar a evolução da vida na terra em um universo estático, e até pior, um universo que na verdade se pensava estar “se acabando” termodinamicamente, em direção à “morte pelo calor”.

Tudo mudou em 1966 quando a física finalmente aceitou uma cosmologia evolutiva na qual o universo não seria mais eterno. Ao invés disso, o universo se originava a partir de um “Big Bang” há cerca de 15 bilhões de anos atrás e havia evoluído desde então. Assim nós temos agora uma física evolutiva. Mas devemos nos lembrar que esta tem apenas cerca de 20 anos de idade e que as implicações e conseqüências da descoberta do big bang ainda não estão completamente entendidas.

A física está apenas começando a adaptar-se a esta nova visão, a qual, como temos visto, desafia a mais fundamental suposição da física desde a era de Pitágoras: a idéia das leis eternas. Na medida em que nós temos um universo que evolui, somos confrontados com a questão: e a respeito das leis eternas da natureza? A onde estavam as leis da natureza antes do big bang? Se as leis da natureza existiam antes do big bang, então fica claro que estas são de caráter não-físico; de fato, são metafísicas. Isto nos empurra para fora da suposição metafísica que se encontra sob a idéia das leis eternas, por conseqüência.

LEIS DA NATUREZA, OU APENAS HÁBITOS?

Existe, no entanto uma alternativa. A alternativa e a de que o universo se parece mais com um organismo do que com uma máquina. O big bang chama-nos de volta às estórias místicas sobre “chocar o ovo cósmico”: ele cresce, e medida que cresce se submete a uma diferenciação interna que se parece mais com um embrião cósmico gigante do que com a enorme máquina eterna da teoria mecanicista. Com esta alternativa orgânica, pode fazer sentido pensar a respeito das leis da natureza mais como hábitos; talvez as leis da natureza sejam hábitos do universo, e talvez o universo tenha uma memória embutida.

Há cerca de cem anos, o filósofo americano C. S. Pierce disse que se tomássemos seriamente a evolução, se pensássemos que o universo todo se encontra em evolução, então teríamos de pensar nas leis da natureza com algo ligado aos hábitos. Esta idéia era de fato bastante comum especialmente na América; ela foi adotada por William James e outros filósofos americanos e foi amplamente discutida no final do século XIX. Na Alemanha, Nietzsche chegou a sugerir que as leis da natureza se submetiam à seleção natural: talvez tenham existido muitas leis da natureza no início, mas somente as bem sucedidas sobreviveram; portanto, o universo que nós vemos tem leis que evoluíram através da seleção natural.

Os biólogos também se deslocaram em direção a uma interpretação dos fenômenos em termos de hábitos. O mais interessante destes teóricos foi o escritor inglês Samuel Butler, cujos livros mais importantes sobre este tema foram “Vida e Hábito” [1878] “Memória Inconsciente” (1881). Butler afirmava que o todo da vida envolvia uma memória inconsciente inerente; os hábitos, os instintos dos animais, o modo pelo qual os embriões se desenvolvem, tudo refletia um princípio básico de uma memória inerente de dentro da vida. Ele chegou a propor que deveria haver uma memória inerente aos átomos, moléculas e cristais. Assim houve este período de tempo no final do século XIX quando a biologia foi vista em termos evolutivos. É somente a partir de 1920 que o pensar mecanicista passou a ter um domínio sobre o pensamento biológico.

COMO SURGE A FORMA?

A hipótese da causação formativa, que é a base do meu trabalho, parte do problema da forma biológica. Dentro da biologia tem havido uma prolongada discussão a respeito da compreensão de como os embriões e organismos se desenvolvem. Como é que as plantas crescem a partir das sementes? Como é que os embriões se desenvolvem a partir de ovos fertilizados? Este é um problema para os biólogos; não é bem um problema para embriões e árvores, que apenas o fazem! No entanto os biólogos têm dificuldade de encontrar uma explanação causal para a forma. Na física, de certo modo a causa se iguala ao efeito. A quantidade de energia, matéria, e ‘momentum’ antes de uma dada mudança se igualam à quantia encontrada depois da mudança. A causa é contida no efeito e o efeito na causa. No entanto quando consideramos o crescimento de um carvalho a partir de uma ‘bolota’, parece não existir tal equivalência entre causa e efeito.

No século XVII a teoria mecanicista principal da embriologia era simplesmente que o carvalho estava contido na ‘bolota’: dentro de cada ‘bolota’ existia um carvalho em miniatura que inflava à medida que a árvore crescia. Esta teoria foi amplamente aceita, e foi a mais consistente com a abordagem mecanicista, como era compreendida naquela época. No entanto, como indicaram os críticos, se o carvalho é inflado e aquele carvalho por si mesmo produz ‘bolotas’, a árvore inflável deve conter ‘bolotas’ infláveis, que contêm carvalhos infláveis, ad infinito.

Se, por outro lado, mais forma vier de menos forma (cujo nome técnico é epigênese), então de onde é que vem mais forma?

Como aparecem as estruturas que não estavam ali antes? Nem platônicos nem aristotelianos tinham qualquer problema com esta questão. Os platônicos diziam que a forma vinha do arquétipo platônico: se existe um carvalho, então existe uma forma arquetípica de uma árvore de carvalho, e todos os carvalhos reais são simplesmente reflexos deste arquétipo. Uma vez que este arquétipo está além do espaço e do tempo, não existe necessidade de tê-lo acomodado sob a forma física de uma ‘bolota’. Os aristolelianos diziam que cada espécie tem a seu próprio tipo de alma, e a alma é a forma do corpo. O corpo está na alma, e não a alma no corpo. A alma é a forma do corpo e se encontra em volta do corpo e contém a meta do desenvolvimento (o que formalmente é chamado de intelequia). A alma de um carvalho contém o carvalho eventual.

O DNA É UM PROGRAMA GENÉTICO?

No entanto, uma visão mecanicista do mundo nega o animismo em todas as suas formas; ela nega a existência da alma e de qualquer princípio organizador não-material. Portanto, os mecanicistas têm de possuir algum tipo de pré-formação. No final do século XIX, a teoria do biólogo alemão August Weismann sobre o plasma germe fez reviver a idéia da pré-formação; a teoria de Weismann colocou “determinantes”, os quais supostamente faziam crescer o organismo, dentro do embrião. Esta idéia é a antecessora da idéia atual da programação genética, a qual constitui uma outra ressurgência do pré-formação de uma maneira moderna.

Como veremos, esse modelo não funciona muito bem. Presume-se que o programa genético seja idêntico com o DNA, a química genética. A informação genética está codificada no DNA e este código forma o programa genético. Mas tal salto exige que sejam projetadas no DNA propriedades que este não possui de fato. Nós sabemos o que o DNA faz: ele codifica para criar proteínas; ele codifica a seqüência de aminoácidos que forma proteínas. No entanto, existe uma grande diferença entre a codificação para a estrutura de uma proteína – um constituinte químico do organismo – e a programação do desenvolvimento de um organismo total esta é a diferença entre fazer tijolos e construir uma casa a partir dos tijolos. Os tijolos são necessários para construir a casa. Se você tem tijolos defeituosos, a casa será defeituosa. Mas o planejamento da casa não está contido nos tijolos, ou nos fios, ou nas pilastras, ou no cimento.

Por analogia, o DNA somente codifica para materiais dos quais o corpo é construído: as enzimas, as proteínas estruturais e assim por diante. Não existe evidência que ele também codifique para o planejamento, a forma, a morfologia do corpo. A fim de ver isto mais claramente, pense nos seus braços e pernas. A forma dos braços e das pernas é diferente; é óbvio que eles têm um formato diferente. Mesmo assim a química dos braços e das pernas é idêntica. Os músculos são os mesmos, as células nervosas são as mesmas, as células da pele são as mesmas e o DNA é o mesmo em todas as células dos braços e das pernas. De fato, o DNA é o mesmo em todas as células do corpo. O DNA sozinho não pode explicar a diferença na forma; algo mais é necessário para explicar a forma.

Na biologia mecanicista atual, se assume que isto é geralmente dependente dos chamados “padrões complexos de interação físico-químicos ainda não inteiramente compreendidos”. Assim a teoria mecanicista atual não é uma explicação, mas sim uma mera promessa de explicação. Isto é o que Sir Karl Popper tem chamado de “mecanicismo promissor”; Isto envolve listar notas promissoras contra explicações futuras que ainda não existem. Deste modo, não se trata de um argumento objetivo; é meramente uma afirmação baseada em fé.

O QUE SÃO CAMPOS MÓRFICOS?

A questão do desenvolvimento biológico, da morfogênese, está de fato bastante aberta e é matéria de muito debate dentro da biologia. Uma alternativa para a abordagem mecanicista/reducionista, a qual está em voga desde 1920, é a idéia dos campos morfogenéticos (modeladores da forma). Neste modelo, organismo que estão crescendo são moldados por campos que estão tanto dentro como em volta deles, campos que contém a forma do organismo. Isto está mais próximo da tradição aristotélica do que de qualquer uma das outras abordagens tradicionais. À medida que a árvore do carvalho se desenvolve, a ‘bolota’ está associada com um campo do carvalho, uma estrutura organizadora invisível que organiza o desenvolvimento do carvalho; se parece com um molde do carvalho, dentro do qual o organismo que está se desenvolvendo cresce.

Um fato que levou ao desenvolvimento desta teoria é a notável habilidade que os organismos têm para reparar danos. Se você cortar um carvalho em pedacinhos, cada pequeno pedaço, tratado de maneira apropriada, poderá crescer até se tornar uma nova árvore. Portanto a partir de um pequeno fragmento, você pode obter um inteiro. Máquinas não fazem assim; elas não têm este poder de permanecer inteiras se você remover partes delas. Esquarteje um computador e tudo o que você terá é um computador quebrado. Ele não se regenera em uma porção de computadorezinhos. Mas se você picar uma planária em pequenos pedaços, cada pedaço poderá crescer como nova planária. Uma outra analogia é a do magneto (imã). Se você cortar um imã em pedacinhos você com certeza terá uma porção de pequenos imãs, cada um com um campo magnético completo. Esta é uma propriedade holística que os campos têm que os sistemas mecânicos não têm a menos que estes estejam associados com campos. Um outro exemplo é o holograma, no qual qualquer parte contém o todo. Um holograma é baseado em padrões de interferência dentro do campo eletromagnético. Os campos assim têm uma propriedade holística a qual foi muito atraente para os biólogos que desenvolveram este conceito dos campos morfogenéticos.

Cada espécie tem os seus próprios campos, e dentro de cada organismo existem campos dentro de campos. Dentro de cada um de nós está o campo do corpo como um todo; campos para os braços e pernas e campos para rins e fígado; dentro estão campos para os diferentes tecidos dentro destes órgãos, e então campos para as células, e campos para as estruturas subcelulares, e campos para as moléculas e assim por diante. Existe uma série inteira de campos dentro de campos. A essência da hipótese que eu estou propondo é a que estes campos, os quais já estão amplamente aceitos dentro da biologia, têm uma espécie de memória embutida que deriva de formas prévias de uma espécie similar. O campo do fígado é moldado pelas formas de fígados anteriores e o campo do carvalho pelas formas e organização de árvores de carvalho anteriores. Através dos campos, por um processo chamado de ressonância mórfica, a influência de semelhante sobre o semelhante, existe uma conexão entre campos similares. O que significa que a estrutura do campo tem uma memória cumulativa, baseada naquilo que aconteceu às espécies no passado. Essa idéia se aplica não somente aos organismos vivos, mas também a moléculas de proteína, cristais, e mesmo átomos. No reino dos cristais, por exemplo, a teoria diria que a forma que um cristal toma depende do seu campo mórfico característico. Campo mórfico é um termo mais abrangente o qual inclui os campos tanto de forma como de comportamento; daqui por diante, eu deverei usar o termo campo mórfico ao invés de morfogenéticos.

QUÍMICOS BARBUDOS MIGRANTES

Se você fabrica um novo componente e o cristaliza, não haverá um campo mórfico para ele de uma primeira vez. Portanto, pode ser muito difícil cristalizar; você tem que esperar para que um campo mórfico emergia. Na segunda vez, entretanto, mesmo que você faça isto em algum outro lugar no mundo, haverá uma influência da primeira cristalização, e a cristalização deverá ser um pouco mais fácil. Na terceira vez haverá uma influência da primeira e da segunda, e assim por diante. Haverá uma influência cumulativa a partir de cristais prévios, portanto deverá se tornar cada vez mais fácil à cristalização conforme você cristaliza mais freqüentemente. E de fato, é isto precisamente o que ocorre. Químicos (que trabalham com materiais) sintéticos descobrem que novos componentes são geralmente muito difíceis de cristalizar. À medida que o tempo passa, tais componentes geralmente se tornam mais fáceis de cristalizar em todas as partes do mundo. A explicação convencional é que isto ocorre devido a fragmentos de cristais prévios que são carregados de laboratório em laboratório nas barbas dos químicos migrantes. Quando nenhum químico migrante esteve presente, supõe-se que os fragmentos se dispersaram pela atmosfera como se fossem partículas microscópicas de poeira.

Talvez os químicos migrantes realmente carreguem fragmentos nas suas barbas, e talvez partículas de poeira realmente sejam sopradas pela atmosfera. Entretanto, se a taxa de cristalização for mensurada sob condições rigorosamente controladas em vasos selados em diferentes partes do mundo, ainda deverá ser observado uma taxa acelerada de cristalização. Este experimento ainda não foi feito. Mas uma experiência relacionada a isto envolvendo taxas de reações químicas de novos processos sintéticos está sendo considerada no momento por uma empresa química importante na Grã-Bretanha porque, se tais coisas acontecem, devem ter implicações bastante importantes para a indústria química.

UMA NOVA CIÊNCIA DA VIDA

Existe um bom número de experimentos que podem ser feitos na esfera da forma biológica e do desenvolvimento da forma. Correspondentemente, os mesmos princípios se aplicam ao comportamento, formas de comportamento e padrões de comportamento. Considerem a hipótese de que se você treinar ratos para que aprendam um novo truque em Santa Bárbara, daí ratos de todo o mundo deverão estar aptos para aprender a fazer o mesmo truque mais rapidamente, somente porque os ratos de Santa Bárbara o aprenderam. Este novo padrão de aprendizado estará, como esteve, na memória coletiva dos ratos – no campo mórfico dos ratos, ao quais outros ratos podem sintonizar, somente porque eles são ratos e somente porque estão em circunstâncias semelhantes, por ressonância mórfica. Isto pode parecer um tanto improvável, mais este tipo de coisa pode tanto acontecer como não.

Dentre o vasto número de documentos nos arquivos sobre experimentos na psicologia dos ratos, existe um número de exemplos de experiências nas quais pessoas de fato monitorizaram taxas de aprendizado em função do tempo e descobriram aumentos misteriosos. No meu livro, Uma Nova Ciência da Vida, eu descrevo uma destas séries de experiências que se estenderam por um período de cinqüenta anos. Iniciada em Harvard e conduzida na Escócia e na Austrália, a experiência demonstrou que ratos aumentaram a sua taxa de aprendizado em mais de dez vezes. Este foi um efeito em massa – e não somente um resultado estatisticamente significante periférico. Esta taxa melhorada de aprendizado ocorreu em situações de aprendizado idênticas ocorridas nestes três locais separados e em todos os ratos da cepa, não somente nos ratos descendentes de genitores treinados.

Existem outros exemplos de distribuição espontânea de novos hábitos em animais e em pássaros que proporcionam no mínimo evidência circunstancial para a teoria da ressonância mórfica. A mais bem documentada de todas é o comportamento de uma espécie de azulão, um pássaro que é comum em toda a Grã-Bretanha. O leite fresco ainda é fornecido à porta das residências toda manhã no país. Até cerca de 1950 as tampas das garrafas de leite eram feitas de papelão. Em 1921, em South Ampton, um fenômeno estranho foi observado. De manhã, quando as pessoas saíam para pegar suas garrafas de leite, elas encontravam papeizinhos picotados em torno fundo da garrafa, e a nata de cima da garrafa havia desaparecido. Uma observação mais detalhada revelou que isto estava sendo feito pelos azulões, que pousavam no topo da garrafa, retiravam o papelão com seus bicos e então bebiam a nata. Muitos casos trágicos foram encontrados, nos quais muitos azulões foram descobertos com suas cabeças afogadas no leite! Este incidente causou um interesse considerável; que tal evento acontecesse em outros lugares do país, 50 algumas vezes 100 milhas de distância. Sempre que o fenômeno do azulão aparecia, começava a se espalhar localmente, supostamente por imitação. No entanto, os azulões são criaturas muito caseiras e normalmente não viajam mais do que quatro ou cinco milhas. Portanto, a disseminação do comportamento por distâncias maiores poderia somente ser contabilizada em termos de uma descoberta independente do hábito. O hábito do azulão foi mapeado por toda a Grã-Bretanha até 1947, época em que se tornou mais ou menos universalizado. As pessoas que fizeram o estudo chegaram a conclusão de que o hábito deveria ter sido “inventado” independentemente em pelo menos umas cinqüenta vezes. Mais do que isso, a taxa de distribuição do hábito se acelerou à medida que o tempo passava. Em outras partes da Europa a onde as garrafas de leite são distribuídas na soleira da porta, tais como na Escandinávia e na Holanda, o hábito também se construiu durante a década de trinta e se espalhou de modo semelhante. Aqui está um exemplo de um padrão de comportamento que foi espalhado de uma maneira que parecia se acelerar com o tempo, e que poderia proporcionar um exemplo de ressonância mórfica.

Mas existe uma evidência ainda mais forte para a ressonância mórfica. Devido à ocupação Alemã na Holanda, a distribuição de leite foi interrompida nos anos de 1939-40. A distribuição do leite não foi retomada até 1948. Uma vez que azulões geralmente vivem apenas de 2 a 3 anos, provavelmente não havia azulões vivos em 1948 que tivessem estados vivos na última vez que o leite fora distribuído. Mesmo assim quando a distribuição de leite foi reiniciada em 1948, a abertura das garrafas de leite pelos azulões se espalhou rapidamente em localidades bastante distantes na Holanda, e de modo extremamente rápido até que, em um ano ou dois, o hábito era uma vez mais universal. O comportamento se espalhou muito mais rapidamente e sobreveio independentemente muito mais freqüentemente da segunda vez do que da primeira. Este exemplo demonstra a distribuição evolutiva de um novo hábito que provavelmente não é genético, mas sim dependente de uma espécie de memória coletiva que se deve à ressonância mórfica.

O que eu estou sugerindo é que hereditariedade não depende somente do DNA, que habilita os organismos a construir os materiais de construção químicos corretos – as proteínas – mas também da ressonância mórfica. A hereditariedade tem, portanto dois aspectos: um é a hereditariedade genética, que é responsável pela herança de proteínas através do controle do DNA na síntese protéica; a segunda é uma forma de hereditariedade baseada em campos mórficos e em ressonância mórfica, que é não genética e que é herdada dos membros anteriores (passados) das espécies. Esta última forma de hereditariedade lida com a organização da forma e do comportamento.

A ALEGORIA DO APARELHO DE TELEVISÃO

As diferenças e conexões entre estas duas formas de hereditariedade tornam-se mais fácil de compreender se considerarmos uma analogia com a televisão. Pense sobre as figuras na tela como a forma na qual nós estamos interessados. Se você não soubesse como a forma surgiu, a explicação mais óbvia seria que haveria pequenas pessoas dentro do aparelho cujas sombras você estaria vendo na tela. Crianças pensam dessa maneira algumas vezes. Se você, no entanto afasta o aparelho e olha dentro, você descobre que não existem pessoas pequenas. Aí você poderia se tornar mais sutil e especular que as pequenas pessoas são microscópicas e estão na verdade por dentro dos cabos do aparelho de TV. Mas se você der uma olhada nos fios através de um microscópio, você também não encontrará nenhum pequenino.

Você poderia se tornar ainda mais sutil e propor que as pequenas pessoas na tela na verdade apareceram através de “interações complexas entre as partes do aparelho as quais ainda não estão inteiramente compreendidas”. Você poderia pensar que esta teoria seria comprovada se você cortasse alguns transistores do aparelho. As pessoas desapareceriam. Se você colocasse os transistores de volta, elas reapareceriam. Isto poderia prover evidências convincentes que elas surgiram a partir do interior do aparelho inteiramente sobre uma base de interação interna.

Suponha que alguém tenha sugerido que as figuras dos pequeninos venham de fora do aparelho, e que o aparelho captura as imagens como um resultado de vibrações invisíveis às quais o aparelho está sintonizado. Isto provavelmente soaria como uma explicação bastante oculta e mística. Você poderia negar que qualquer coisa esteja vindo para o aparelho. Você poderia até mesmo “prova-lo” ao pesar o aparelho ligado e desligado; pesaria o mesmo. Portanto, você poderia concluir que nada está entrando no aparelho.

Eu penso que esta é a posição da biologia moderna, tentando explicar cada coisa em termos do que ocorre dentro. Quanto mais explicações para a forma são procuradas dentro, mais enganosas se provam as explicações, e mais elas são atribuídas a ainda maiores interações sutis e complexas, as quais sempre desviam a investigação. Como eu estou sugerindo, as formas e padrões de comportamento estão na verdade sendo sintonizadas através de conexões invisíveis que surgem de fora do organismo. O desenvolvimento da forma é o resultado tanto da organização interna do organismo quanto da interação dos campos mórficos aos quais ele está sintonizado.

Mutações genéticas podem afetar este desenvolvimento. Mais uma vez pense no aparelho de TV. Se nós provocarmos uma mutação em um transistor ou um condensador dentro do aparelho, você pode obter imagens ou som distorcidos. Mais isto não prova que as imagens e o som são programados por estes componentes. E nem isto prova que a forma e comportamento são programados pelos genes, se acharmos que existem alterações na forma e no comportamento como um resultado de mutação genética.

Existe uma outra espécie de mutação que é particularmente interessante. Imagine uma mutação no circuito de sintonização do seu aparelho, de modo que ela altera a freqüência ressonante do circuito de sintonização. Sintonizar a sua TV depende de um fenômeno ressonante; o sintonizador ressona à mesma freqüência da freqüência do sinal transmitido pelas diferentes estações. Assim, os mostradores da sintonização são medidos em hertz, que é uma medida de freqüência. Imagine uma mutação no sistema de sintonização de maneira que você sintoniza um canal e um canal diferente aparece. Você pode rastrear isto de volta a um único condensador ou resistor que havia sofrido uma mutação. Mas não seria válido concluir que os novos programas que você está assistindo, as diferentes pessoas, os diferentes filmes e propagandas, são programados dentro do componente que foi mudado. E nem isto prova que a forma e o comportamento são programados no DNA quando mutações genéticas levam a mudanças na forma e no comportamento. A conclusão usual é que se você pode mostrar que alguma coisa se altera como um resultado de uma mutação, então aquilo deve estar programado, ou controlado, ou determinado pelo gene. Eu espero que esta analogia com a TV torne claro que esta não é a única conclusão. Poderia ser que ela esteja apenas afetando o sistema de sintonização.

UMA NOVA TEORIA DA EVOLUÇÃO

Uma grande quantidade de trabalhos está sendo efetuada pela pesquisa biológica contemporânea a respeito de tais mutações “sintônicas” (formalmente chamadas de mutações homeóticas). O animal mais utilizado nas investigações é a drosófila, a mosca da fruta. Uma extensão inteira destas mutações, que produzem diversos tipos de monstruosidades tem sido descobertas. Uma espécie, denominada antennapedia, se destaca por ter suas antenas transformadas em pernas. Estas infelizes moscas, que contém apenas um único gene alterado, produzem pernas que crescem a partir de suas cabeças, ao invés de antenas. Existe uma outra mutação que conduz o segundo par, dos três pares de pernas da drosófila, a ser transformados em antenas. Normalmente as moscas têm um par de asas e, no seguimento por detrás das asas, existem pequenos órgãos que oscilam chamados halteres. Uma outra mutação ainda, leva á transformação do seguimento que normalmente contém os halteres, para uma duplicação do primeiro seguimento, de maneira que tais moscas têm quatro asas ao invés de duas. Estas são chamadas de mutantes bitoráxicas.

Todas estas mutações são dependentes de genes únicos. Eu proponho que de alguma maneira estas mutações de genes únicos são mudanças na sintonia de uma parte do tecido embrionário, de modo que ele se sintoniza com um campo mórfico diferente do que aquele o qual normalmente o faz, e assim uma diferente combinação de estruturas surge, exatamente como quando sintonizamos em um canal de TV diferente.

Podemos observar a partir destas analogias, como tanto a genética como a ressonância mórfica estão envolvidas na hereditariedade. È claro, uma nova teoria de hereditariedade conduz a uma nova teoria da evolução. A teoria evolutiva de hoje está baseada na suposição de que virtualmente toda a hereditariedade é genética. A sociobiologia e o neodarwinismo em todas as suas diversas formas baseiam-se na seleção dos genes, freqüência dos genes e assim por diante. A teoria da ressonância mórfica conduz a uma visão muito mais ampla que permite que uma das maiores heresias da biologia uma vez mais seja levada a sério: a idéia da herança de características adquiridas. Comportamentos aprendidos por organismos, ou formas desenvolvidas por eles, pode ser herdada por outros mesmo que não sejam descendentes dos organismos originais – por ressonância mórfica.

UM NOVO CONCEITO DE MEMÓRIA

Quando consideramos a memória, esta hipótese conduz a uma abordagem muito diferente da abordagem tradicional. O conceito chave da ressonância mórfica é que coisas semelhantes influenciam coisas semelhantes através do espaço e do tempo. A quantidade de influência depende do grau de similitude. A maioria dos organismos é mais semelhante a si mesmos no passado do que o são em relação a qualquer outro organismo. Eu me pareço mais comigo mesmo há cinco minutos atrás do que eu me pareço com qualquer um de vocês; todos nós somos mais parecidos com nós mesmos no passado do que com qualquer outra pessoa. É a mesma coisa com qualquer outro organismo. Esta auto-ressonância com estados passados daquele mesmo organismo, no seio da forma, ajuda a estabilizar os campos morfogenéticos, a estabilizar a forma do organismo, mesmo que os constituintes químicos nas células estejam se transformando e mudando. Padrões habituais de comportamento também são sintonizáveis a partir do processo de auto-ressonância. Se eu começo a andar de bicicleta, por exemplo, o padrão de atividade do meu sistema nervoso e dos meus músculos, em resposta ao equilíbrio sobre a bicicleta, imediatamente me sintoniza por similaridade a todas as ocasiões anteriores nas quais eu andei de bicicleta. A experiência de andar de bicicleta é dada por ressonância mórfica cumulativa a todas aquelas ocasiões passadas. Não é uma memória verbal ou intelectual; é uma memória corporal do andar de bicicleta.

Isso também se aplicaria à memória de eventos reais: aquilo o que eu fiz ontem em Los Angeles ou no ano passado, na Inglaterra. Quando eu penso sobre estes eventos em particular, eu estou me sintonizando às ocasiões nas quais estes eventos ocorreram. Existe uma conexão causal direta através de um processo de sintonização. Se essa hipótese for correta, não é necessário admitir que memórias são armazenadas dentro do cérebro.

O MISTÉRIO DA MENTE

Todos nós fomos conduzidos à idéia de que as memórias estão armazenadas no cérebro; usamos a palavra cérebro de forma intercambiável com mente ou memória. Eu estou sugerindo que o cérebro se parece mais como um sistema de sintonização do que com um aparelho de armazenamento de memória. Um dos principais argumentos para a localização da memória no cérebro é o fato de que certos tipos de lesão cerebral podem levar a perda de memória. Se o cérebro é lesado em um acidente de carro e alguém perde a memória, a suposição óbvia é que o tecido da memória deva ter sido destruído. Mas não é necessariamente assim.

Considere novamente a analogia da TV. Se eu danificar o seu aparelho de TV de modo que você ficou incapacitado de receber determinados canais, ou se eu tornar o aparelho de TV afásico ao destruir a parte ligada à produção do som de modo que você ainda pudesse obter as imagens, mas não o som, isto não provaria que o som ou as imagens estaria armazenado dentro do aparelho de TV. Isso meramente mostraria que eu havia afetado o sistema de sintonização de maneira que você não poderia mais pegar o sinal correto. Nem a perda da memória devida a lesão cerebral prova que a memória se encontra armazenada dentro do cérebro. De fato, a maioria das perdas de memória é temporária: amnésia após uma concussão, por exemplo, é freqüentemente temporária. Esta recuperação da memória é muito difícil de explicar em termos das teorias convencionais: se as memórias foram destruídas por que o tecido de memória foi destruído, elas não deveriam voltar novamente; mesmo assim elas freqüentemente retornam.

Um outro argumento para a localização da memória dentro do cérebro é sugerido pelos experimentos sobre estimulação elétrica do cérebro feito por Wilder Penfield e colaboradores. Penfield estimulou os lobos temporais dos cérebros de pacientes epiléticos e descobriu que alguns destes estímulos podiam disparar respostas vívidas, as quais eram interpretadas pelos pacientes como memórias de coisas que eles haviam feito no passado. Penfield supôs que ele estava de fato estimulando memórias que estavam armazenadas no córtex. De volta a analogia da TV, se eu estimulasse o circuito de sintonização do seu aparelho de TV e ele pulasse para outro canal, isto não provaria que a informação estava armazenada dentro do circuito de sintonização. É interessante que, no seu último livro, “The Mystery of the Mind”, o próprio Penfield abandonou a idéia de que os experimentos provavam que a memória estava dentro do cérebro. Ele chegou à conclusão de que a memória não estava absolutamente armazenada dentro do córtex.

Tem havido muitas tentativas de localizar traços da memória dentro do cérebro, a mais conhecida delas foi a de Karl Lashley, o grande neuro-fisiologista americano. Ele treinou ratos para aprenderem truques, e então tirou pedaços dos cérebros dos ratos para determinar se eles ainda poderiam fazer os truques. Para seu espanto, ele descobriu que ele poderia remover até 50% do cérebro – qualquer 50% – e não haveria nenhum efeito na retenção do aprendizado. Quando ele removia todo o cérebro, os ratos não conseguiam fazer tais truques, portanto ele concluiu que o cérebro era de algum modo necessário para o desempenho da tarefa – o que dificilmente é uma conclusão surpreendente. O que era surpreendente era a quantidade de cérebro que ele podia remover sem afetar a memória.

Resultados semelhantes têm sido encontrados por outros investigadores, até mesmo com invertebrados como o polvo. Isso levou o investigador a especular que a memória estava em todos os lugares, mas também em nenhum lugar em particular. O próprio Lashley concluiu que memórias são armazenadas de uma forma distribuída por todo o cérebro, já que ele não pode encontrar os vestígios de memória que a teoria clássica exigia. O seu aluno, Karl Pribram, estendeu esta idéia com a teoria holográfica do armazenamento da memória: a memória é como uma imagem holográfica, armazenada como um padrão de interferência pelo cérebro.

O que Lashley e Pribram (pelo menos em uma parte dos seus escritos) parecem não ter considerado é a possibilidade de que memórias podem não estar de modo algum armazenadas dentro do cérebro. A idéia de que elas não estão armazenadas dentro cérebro é mais consistente com os dados disponíveis do que as teorias convencionais ou a teoria holográfica. Muitas dificuldades surgiram ao se tentar localizar o armazenamento da memória no cérebro, em parte porque o cérebro é muito mais dinâmico do que se pensava anteriormente. Se o cérebro fosse para servir como um armazém de memória, então o sistema de armazenamento teria que permanecer estável; e mais, é sabido hoje que as células nervosas são substituídas muito mais rapidamente do que se pensava anteriormente. Toda a química nas sinapses e estruturas nervosas e moléculas são trocadas e mudam o tempo todo. Com um cérebro muito dinâmico, é difícil visualizar como as memórias são armazenadas.

Também existe um problema lógico a respeito das teorias convencionais de armazenamento da memória, para o qual diversos filósofos apontaram. Todas as teorias convencionais supõem que as memórias são, de algum modo, codificadas e localizadas em um depósito de memória no cérebro. Quando elas são necessárias, são recuperadas por um sistema de reparação. Este é o chamado modelo de codificação, armazenamento e recuperação. No entanto, para que um sistema de recuperação recupere qualquer coisa, ele deve saber o que é que quer recuperar; um sistema de recuperação de memória tem que saber qual memória procurar. Ele, portanto deve estar apto a reconhecer a memória a qual está tentando recuperar. A fim de reconhecê-la, o próprio sistema de recuperação deve ter algum tipo de memória. Portanto o sistema de recuperação deve ter um subsistema de recuperação para recuperar as suas memórias do seu depósito. Isso leva a uma regressão infinita. Diversos filósofos defendem que esta é uma falha lógica fatal em qualquer teoria convencional sobre armazenamento de memória. No entanto, no geral, os teóricos da memória não estão muito interessados naquilo o que os filósofos dizem, assim eles não se incomodam de se contrapor a este argumento. Mas este me parece ser de fato um argumento bastante poderoso.

Ao considerar a teoria de ressonância mórfica da memória, poderíamos perguntar: se nós nos sintonizamos com as nossas próprias memórias, então porque não nos sintonizamos também com as de outras pessoas? Eu penso que nós nos sintonizamos, e que toda a base da abordagem que eu estou sugerindo é a que existe uma memória coletiva à qual nós todos estamos sintonizados e que forma uma base contra a qual a nossa própria experiência se desenvolve e contra a qual as nossas próprias memórias individuais se desenvolvem. Esse conceito é muito semelhante à noção do inconsciente coletivo.

Jung pensava sobre o inconsciente coletivo como uma memória coletiva, a memória coletiva da humanidade. Ele pensava que as pessoas estariam mais sintonizadas aos membros da sua própria família e raça e grupo social e cultural, mas que não obstantemente, haveria uma ressonância de base a partir de toda a humanidade: uma experiência agrupada ou de uma média de coisas básicas as quais todas as pessoas vivenciam (e.é., comportamento materno, e diversos padrões sociais e estruturas da experiência e do pensamento). Não seria tanto uma memória de pessoas em particular no passado, mas uma média das formas básicas das estruturas de memórias; estes são os arquétipos. A noção de Jung sobre o inconsciente coletivo é de um bom senso extremo no contexto da abordagem geral que eu estou adiantando. A teoria de ressonância mórfica levaria a uma reafirmação radical do conceito de Jung a respeito do inconsciente coletivo.

A teoria necessita de reafirmação porque o contexto atual mecanicista da biologia, medicina e psicologia convencional nega que possa existir tal coisa como o inconsciente coletivo; o conceito de uma memória coletiva de uma raça ou espécie tem sido excluído até mesmo como uma possibilidade teórica. Você não pode ter qualquer herança de características adquiridas, de acordo com a teoria convencional; você somente pode ter uma herança de mutações genéticas. Sob as premissas da biologia convencional, não haveria nenhuma forma de que experiências e mitos de tribos africanas, por exemplo, terem qualquer influência sobre os sonhos de alguém na Suíça, de descendência não-africana, o que é o tipo de coisa que Jung pensava que realmente pode acontecer. Isto é bastante impossível do ponto de vista convencional, sendo por isso que a maioria dos biólogos da corrente principal da ciência não leve a idéia do inconsciente coletivo a sério. Ela é considerada uma idéia marginal, escamosa, que pode ter algum valor poético, como uma espécie de metáfora, mas não tem relevância para a ciência em si porque é um conceito completamente insustentável do ponto de vista da biologia normal.

A abordagem que eu estou passando adiante é bastante semelhante à idéia de Jung do inconsciente coletivo. A principal diferença é que a idéia de Jung foi aplicada primariamente à experiência humana e à memória coletiva humana. O que eu estou sugerindo é que um princípio semelhante opera por todo o universo, não apenas em seres humanos. Se a espécie de mudança do paradigma radical de que eu estou falando prosseguir dentro da biologia – se a hipótese da ressonância mórfica estiver até mesmo aproximadamente correta – então a idéia de Jung sobre o inconsciente coletivo tornar-se-ia uma idéia central para ser seguida: campos morfogênicos e o conceito do inconsciente coletivo mudariam completamente o contexto da psicologia moderna.

A mente de Gaia – Terence Mckenna

 

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Nosso planeta possui um tipo de inteligência organizada. Ele é muito diferente de nós. Ele teve cinco ou seis milhões de anos para criar uma mente que funciona lentamente, que é feita de oceanos, rios, florestas e gelo. Ele está se tornando consciente de nós, a medida em que nos tornamos conscientes dele. E porque a vida de um depende da vida do outro, temos um sentimento sobre essa imensa, estranha, sagaz, velha, neutra, esquisita coisa, e tentamos descobrir por que seus sonhos estão tão atormentados, e por que tudo está tão desequilibrado.

A Terra tem uma forma de inteligência capaz de abrir um canal de comunicação com os seres humanos individualmente.

A mensagem que a natureza nos manda é: transforme tudo através da sinergia que existe entre a cultura eletrônica e a imaginação psicodélica, entre dança e idéia, entre compreensão e intuição, e dissolva as amarras em que a sociedade o prendeu. Assim você será parte integrante da supermente de Gaia.

A experiência psicodélica é muito mais do que psicoterapia instantânea ou regressão, mais do que um simples tipo de superafrodisíaco, mais do que uma ajuda para formular idéias ou descobrir conceitos artísticos. A experiência psicodélica é, na verdade, o corredor que nos leva a um continente perdido da raça humana, um continente do qual não temos mais nenhuma conexão. E a natureza deste continente perdido da mente humana é o próprio intelecto de Gaia. Se confiamos nas evidências da experiência psicodélica descobrimos que não somos a única forma de vida inteligente neste planeta; descobrimos que compartilhamos com a Terra um tipo de consciência.

Chame essa consciência de Gaia, chame-a de Zeta Reticulians, que esteve aqui há milhões de anos atrás, chame-a de Deus Todo Poderoso, não importa do que você a chama! O fato é que as alegações religiosas de que existe um tipo de poder superior pode ser verificada através dos psicodélicos. Mas isto não é, como Milton diz “O Deus que segurou as estrelas como lâmpadas no céu”; não tem nada a ver com isso. Não é cósmico em escala, e sim planetário em escala. Existe um tipo de inteligência desencarnada… está na água, está no solo, está na vegetação, está na atmosfera em que respiramos.

E nossa infelicidade, nosso desconforto, emerge do fato de que nos perdemos na história, considerando que história é um estado de ignorância originada pelos fatos ditos “reais” de como o mundo funciona.

Agora, por que será que quando ingerimos um neurotransmissor humano como o DMT, encontramos exércitos de gnomos nos ensinando uma forma perfeita de comunicação? Esta é uma pergunta muito difícil. Quando você visita culturas tradicionais como a cultura xamânica da Amazônia e pergunta isto para eles, eles respondem sem hesitação que essas pequenas entidades “são o espírito de nossos ancestrais, pelos quais trabalhamos toda a nossa mágica”. Isto acontece no mundo inteiro, é a resposta clássica que os xamãs dão… é através da intersecção dos espíritos, que é uma criatura de outra dimensão, que eles vivem em harmonia com a natureza.

Nós imaginamos muitos cenários diferentes, um futuro tecnológico cheio de inovações sociais, mas acredito que muito poucos de nós consideram seriamente o xamanismo. Xamãs são pessoas que aprenderam a penetrar em outra dimensão, onde nossos ancestrais estão presentes. Não é, vocês sabem, ir ao mundo dos mortos, e sim a descoberta de que esse tal mundo é o lugar de reencarnação dos mortos, um tipo de dimensão superior com altos graus de liberdade, com um senso maior de espontaneidade e de menor dependência do entorpecente mundo material. Este outro universo tenta influenciar o nosso universo, talvez para tentar nos resgatar de nosso drama histórico. Talvez os xamãs tenham estado desde sempre envolvidos com esses mundos invisíveis, e que é apenas o triste destino da cultura ocidental ter perdido contato e consciência com este universo, a ponto dele surgir para nós como uma revelação. Eu acredito que sucumbimos à masculina dominância do patriarcado quando quebramos vínculo com a mente de Gaia, a qual os xamãs acessam através de plantas psicoativas (sem elas o acesso é apenas um rumor inconfirmável).

A mente de Gaia é o que chamamos a experiência psicodélica. É uma experiência sobre o fato de que o intelecto do planeta está vivo, e que sem esta experiência nós vagamos num deserto de ideologias furadas. Com esta experiência o compasso do Eu Superior existente em cada ser humano pode ser acertado.

( Terence McKenna )

Fonte: www.deoxy.org

A Onda Temporal – Terence McKenna

Os trechos que seguem são as interpretaçoes dos irmãos McKenna após a bizarra experiência em La Chorrera descrita em “Alucinações Reais”, mesmo livro do qual foram retirados os trechos.

Com a palavra, Terence McKenna:

(…) Durante aquele dia e os que se seguiram, todos os tipos de idéias se formavam espontaneamente em meu pensamento, e inevitavelmente me levariam a alguma expansão dos temas ao redor dos quais havíamos organizado nossas vidas. Um desses temas que era apanhado e ampliado, a princípio devagar e em seguida mais rápida, radical e inclusivamente, era o conjunto de idéias e relacionamentos contidos no texto do oráculo chinês chamado I Ching. Há muito me interessavam, como parte de meu interesse geral em lógicas não-causais, esses comentários antigos e fragmentados sobre um conjunto ainda mais antigo de 64 ideogramas oraculares chamados de hexagramas. Na verdade eu ouvira falar pela primeira vez do I Ching ao ler Jung. Ele sugerira que a justaposição significativa de um hexagrama a uma situação do mundo externo, que permite que o I Ching seja usado como um dispositivo de leitura da sorte, sugeria uma conexão não-causal entre o mundo mental e a realidade exterior. Jung chamara esse fenômeno de sincronicidade.

Há vários anos era meu hábito jogar o I Ching – jogo que consiste em manipular 49 varetas de milefólio, ou, no meu caso, palitos de bambu, cuja configuração forma os hexagramas – a cada lua nova e cada lua cheia, e anotar os resultados num pedaço de papel que eu guardava dentro da capa do livro. No primeiro dia depois da experiência a voz dentro de minha cabeça sugeriu que eu pegasse as anotações dos hexagramas que eu obtivera até então. Eu mal podia imaginar as deduções e as conclusões a que essa sugestão simples levaria. Peguei essas anotações e procurei uma situação em que houvesse tirado o primeiro hexagrama; depois de achar, voltei ao início da lista e procurei por uma anotação do segundo hexagrama, e assim por diante. Minha lista cobria um período de três anos e continha cerca de oitenta jogadas e suas mutações.

Depois de meia hora determinei que, de acordo com minha listagem, eu tinha tirado cada um dos 64 hexagramas pelo menos uma vez nos três anos. Esse fato bastante improvável me pareceu carregado de significação. A probabilidade de ocorrência não é igual, e as chances de tirar todos os hexagramas em tão poucas jogadas parecia incomum. Pareceu-me que eu tinha uma espécie de identidade secreta e que estava no processo de descobri-la. Aquilo provava que eu era um reflexo do microcosmo, e que de algum modo fora escolhido para estar na situação em que me encontrava. Lágrimas rolaram facilmente com essa verificação pessoal do padrão ordenado, cujos desígnios eu estava encontrando em todos os pontos da minha vida. Recompus-me e em seguida, sob a forte sugestão daquela onda interna de compreensão, queimei a lista de minhas jogadas do I Ching. Foi uma coisa muito pouco característica de meu modo de agir.

Dennis olhou tudo aquilo e soltou uma das muitas charadas que vinha propondo naqueles dias:

– O que é que você pode fazer com um buraco num graveto e o que não pode fazer com um graveto num buraco? – gritou do outro lado do quintal arenoso para mim, que estava junto à fogueira. Supus que a resposta envolvesse um mergulho nos pressupostos alegres e quentes do Tantra, a favor da idéia de que o cachimbo era um veículo superior para a viagem interdimensional, e que isso era o que se podia fazer.

Mais ou menos uma hora depois, e após um longo silêncio pouco característico de sua nova condição, Dennis levantou os olhos de suas meditações e anunciou que tinha acabado de perceber que podia fazer qualquer telefone tocar simplesmente concentrando-se numa imagem que ele se recusou a dizer qual era. Foi mais longe ainda e afirmou que podia fazer telefones tocarem em qualquer momento do passado desde quando existiam os telefones. Para demonstrar essa habilidade, ligou para nossa mãe em algum momento no outono de 1953. Pegou-a no ato de ouvir Dizzy Dean narrar um jogo de beisebol. E de acordo com Dennis ela se recusou a acreditar que ele estava ao telefone, já que podia vê-lo em sua forma de três anos de idade dormindo diante dela. Ele disse que iria ligar para ela mais cedo, e então passou o resto da tarde ligando para todo mundo em quem podia pensar e em vários momentos do passado, conversando animadamente e rindo consigo mesmo das mentes que ele estava fundindo e das maravilhas do que ele chamava de “Ma Bell”, a companhia telefônica. E assim passou-se a tarde de 6 de março.

Uma conclusão razoável seria supor que Dennis estava toxicamente esquizofrênico, e que deveríamos deixar a Amazônia. O que complicava era eu. Eu parecia comparativamente normal, exceto por uma coisa: insistia em que tudo estava certo, e que Dennis sabia exatamente o que estava fazendo.

– Está tudo bem – tentei tranqüilizar os outros. – Ele fez aquilo que se propôs, e agora as pessoas devem tentar relaxar até que tudo se resolva.

Sentia isso apesar de não saber como ele realizara a experiência ou como descobrira a teoria. Só sabia que, depois daquele momento no alvorocer, quando tínhamos saído de nossas redes para olhar o cogumelo depois da experiência, algo muito esquisito acontecera comigo.

Eu estava num lugar muito estranho. Sentia como se houvesse me transformado em mim mesmo. Meu contato com a voz era de aluno com professor. Ela me ensinava. Além de qualquer possibilidade de argumentação, eu ficava sabendo coisas que não poderia saber normalmente. Ev passara pela experiência, mas nada acontecera com ela. Meus outros amigos pareciam muito distantes. Não podiam compreender o que sucedia e preferiram nos rejeitar. Cada um achava que os outros estavam loucos. De fato, com relação aos seus comportamentos normais, todo mundo agia de modo muito estranho.

A coisa principal que o professor invisível me disse foi: “Não se preocupe. Não se preocupe porque há algo pelo qual você tem de passar. Seu irmão vai ficar bom. Seus companheiros vão cuidar dele. Não se preocupe, mas ouça. Você precisa passar por isso.” Horas depois da experiência isso começou a martelar dentro de mim – uma coisa que eu precisava descobrir o que era.(…)

(…) No dia 21 de março fiz uma anotação no diário – a primeira em semanas e a única que eu teria condições de fazer em mais vários meses. Escrevi isso:

Faz dezessete dias desde 4 de março e da concretização do ampesand. Se entendi mais ou menos corretamente esse fenômeno, então amanhã, o décimo oitavo dia, irá marcar uma tipo de meio caminho nessa experiência. Prevejo que amanhã Dennis irá voltar ao cenário psicológico em que estava antes de 1º de março, se bem que é possível que, ao invés de uma amnésia residual com relação aos eventos em La Chorrera, ele tenha uma compreensão cada vez maior do experimento que criou. As últimas semanas foram angustiantes, e aparentemente eram compostas de tantos tempos, lugares e mentes que foi impossível fazer um relato racional. Apenas o Finnegans Wake dá alguma idéia da realidade do paradoxo que experimentamos em virtude de atravessarmos a face dupla do tempo. A despeito de mal-entendidos anteriores e de projeções errôneas relativas aos ciclos de tempo e de números atuando dentro do fenômeno, agora acredito que nesses dezessete dias experimentamos – ainda que algumas vezes correndo para trás e decerto enormemente condensado – boa parte de um ciclo total, e podemos começar a prever de um modo vago os eventos dos próximos vinte dias, mais ou menos, e ter alguma idéia da natureza aproximada e da direção da Obra.

Essa anotação no diário deixa claro que, enquanto Dennis estava se recuperando de sua submersão na luta titânica, eu estava no meio de uma luta pessoal. Fora apanhado num mergulho obsessivo, quase uma meditação forçada, sobre a natureza do tempo. As preocupações comuns da vida cotidiana deixaram de ter importância. Minha atenção era inteiramente exigida por meus esforços de construir um novo modelo do que é na verdade o tempo. Chamavam minha atenção ressonâncias, recorrências e a idéia de que os conjuntos de eventos eram resultado de padrões de interferência cujas fontes estavam temporal e causalmente distantes. Naquelas primeiras especulações imaginei um ciclo mítico precisando de 40 dias para se completar. Foi só mais tarde, quando comecei a me impressionar com a natureza dos ciclos temporais – a natureza calêndrica e relacionada ao DNA – que dirigi minha atenção aos ciclos de 64 dias. Foi isso que eventualmente me levou a me voltar para o I Ching. Naquelas primeiras idéias só há uma vaguíssima sugestão da teoria eventual em seus detalhes operacionais, mas ainda assim o objetivo é claramente o mesmo. Ressonâncias, padrões de interferência e retornos fractais de tempos dentro de tempos – esses eram os materiais com os quais comecei a construir. Eventualmente, depois de alguns anos de trabalho, o resultado chegaria a uma certa elegância. Entretanto essa elegância estava reservada ao futuro; a primeira concepção era crua, auto-referente e idiossincrática. Foi apenas minha fé de que ela poderia ser racionalmente compreensível aos outros que me segurou durante os vários anos necessários para transformar a intuição original num conjunto de proposições formais.(…)

(…) Enquanto avançavam meus estudos sobre o I Ching, ou O Livro das Mutações, aprimorei a idéia de que sua estrutura era a base de uma ou de várias ondas temporais. Essas ondas são pequenos períodos de mudança que se seguem e se interpenetram. Vim a perceber que a lógica interna das ondas temporais implicava fortemente no término do tempo normal e num fim para a história comum. Nesse ponto a idéia da psicomatéria tornada concreta identificou-se em minha mente com o OVNI que eu encontrara em La Chorrera e ambos, por sua vez, com os cenários de fim dos tempos das tradições religiosas ocidentais.

O primeiro gráfico de tempo não-quantificado era cheio de coincidências com minha vida pessoal. Em particular, os pontos terminais de cada seção componente da onda pareciam ter um significado especial para mim. O posicionamento em um daqueles pontos na experiência em La Chorrera parecia tornar especialmente importantes outros pontos no passado (a morte de minha mãe e meu encontro com Ev) e pontos que, na época, estavam no futuro (meu 25º aniversário). Vi que eventos importantes em minha vida pareciam estar ocorrendo a cada 64 dias, com uma regularidade misteriosa. Era necessário trabalhar sozinho nessas idéias, já que a intensidade de meu envolvimento com elas e sua natureza paradoxal parecia absurda aos olhos das outras pessoas. Compreendi que para mim, pessoalmente, era de importância vital deixar as forças com as quais me envolvera se desenvolverem por si próprias até o fim – quer o efeito que estávamos explorando fosse um fenômeno geral da natureza ou uma idiossincrasia única.

Por mais esdrúxulo que o plano parecesse aos outros, resolvi voltar a La Chorrera, à sua solidão e sua estranheza, e passar um tempo ali simplesmente observando com calma a coisa que tinha me acontecido (…)

(…)A coisa importante com relação à segunda viagem a La Chorrera é que o ensinamento dado pelo Logos foi mais ou menos contínuo. E o que foi ensinado depois de meses e meses foi uma idéia a respeito do tempo. É uma idéia muito concreta; com rigor matemático. O Logos ensinou como fazer com o I Ching uma coisa que talvez ninguém antes soubesse fazer. Talvez os chineses tenham sabido algum dia, e perderam o conhecimento há milhares de anos. Ele me ensinou um modo hipertemporal de ver. Meus livros, minha vida pública, meus sonhos particulares, são tudo parte do esforço de sentir e entender o novo tempo que foi revelado. Uma revolução no entendimento humano não é algo que possa ser encurralado nos limites de uma conversa.

Esse novo modelo do tempo nos permite uma boa certeza sobre o futuro, o máximo que é possível de se ter. O futuro não é absolutamente determinado; não há, em outras palavras, um futuro para se “ver”, no qual todos os eventos já estejam determinados. Não é assim que o universo é feito. O futuro está para ser completado, mas é condicionado. Misteriosamente, dentre o conjunto de todos os eventos possíveis, alguns são selecionados para passar pela formalidade de ocorrer. Era a mecânica desse processo que o Logos estava querendo revelar, e realmente revelou, com a idéia da Onda Temporal.

O que me levou originalmente a olhar o I Ching foi o modo estranho como a noção simplista de ciclos de 64 dias de influências funcionou bem em minha própria vida naquela época. A morte de minha mãe foi o primeiro desses pontos temporais que isolei. Em seguida percebi que meu relacionemento com Ev, formado pelo acaso, começara 64 dias depois disso, e que a culminação da experiência em La Chorrera ocorrera outros 64 dias depois. A noção do ano lunar baseado no hexagrama surgiu da idéia de seis ciclos de 64 dias, um ano de seis partes, assim como um hexagrama do I Ching tem seis linhas.

A validade pessoal da idéia me foi confirmada quando percebi que esse ano de trezentos e oitenta e quatro dias, caso iniciado com a morte de minha mãe, terminaria em meu 25º aniversário, em 16 de novembro de 1971. Então vi que havia ciclos, e ciclos de ciclos; imaginei um ano lunar de 384 dias e em seguida a coisa da qual ele era apenas uma parte: um ciclo de 64 vezes 384 dias; e daí por diante. Os mapas que construí e eventual classificação a que cheguei estão contidos em The Invisible Landscape. Mas o que não foi dito lá é o modo como essas coincidências e minha mente inconsciente – ou algo dentro de minha mente – me guiaram para descobrir essas propriedades há muito ocultas no I Ching.

O que fazer do oceano de ressonâncias que a Onda Temporal parecia mostrar, ligando cada momento do tempo a cada outro momento através de um esquema de conexão que nada tinha de aleatório ou de causalidade? E o que fazer do fato de que certos detalhes na matemática da onda pareciam implicar que o tempo em que vivemos era o foco de um esforço de eras, e terrivelmente importante? Essas eram imagens que inflavam meu ego, e as reconheci como tal, mas a força e o fascínio delas como forma de diversão particular eram francamente irresistíveis.

A Onda Temporal parecia ser uma imagem do inconsciente coletivo que buscava provar, pelo menos em seus próprios termos, que a culminância de todos os processos do universo ocorreriam durante o nosso tempo de vida. Para cada um de nós isso é obviamente verdadeiro, nossas vidas nos parecem, a nós que estamos engastados em nossos corpos e em nossas épocas, ser de algum modo a expressão do objetivo final de todas as coisas.

A Onda Temporal previa seu fim dentro de nosso períodos de vida; na verdade, apenas uma década após a virada do século, um período de tamanha novidade que além dele poderia estar nada menos que o fim do próprio tempo. Isso era o mais atordoante de tudo, mais atordoante do que seu lado idiossincrático pessoal, esse “fim do tempo” implícito; um período em que aconteceria uma transição do regime que transformaria completamente as modalidades do real.

Eu estava familiarizado com a idéia da escatologia – o fim dos tempos – num contexto religioso, mas nunca antes me ocorrera que regimes da natureza poderiam passar por mudanças súbitas que reembaralhariam as leis naturais. Na verdade não há nada contra isso. Simplesmente a ciência, para poder funcionar, precisa presumir que as leis físicas não são dependentes do tempo e do contexto em que são testadas. Se não fosse assim, a idéia de experimentos não faria sentido, já que experimentos realizados em tempos diferentes poderiam dar resultados diferentes.

Durante anos continuei a elaborar essa teoria e a clarear minha compreensão do empreendimento que é formar uma teoria em termos gerais. Em 1974 consegui finalmente alcançar uma quantificação matemática completamente formal da estrutura fractal que eu desencavara da estrutura do I Ching. Durante a década de 80 trabalhei, primeiro com Peter Broadwell e depois com Peter Meyer, para criar um programa de computador, que chamei de Timewave Zero, que permite o estudo cuidadoso dessa onda. O computador é uma ferramenta poderosa que tornou possível aprimorar grandemente minhas noções do que constituía prova ou negação da teoria.

Hoje minha conclusão sobre esses assuntos é que a teoria sobre a natureza fractal e cíclica do ingresso de novidades no mundo é uma teoria autoconsistente e completamente matemática. Tem coerência interna. E traz o drama humano e as nossa vidas de volta ao próprio centro do palco universal.

É possível que, em certo sentido, todos os estados de libertação nada mais sejam que um conhecimento perfeito do conteúdo da eternidade. Se sabemos o que está contido no tempo desde seu início até o seu fim, ficamos de algum modo fora do tempo. Mesmo que ainda tenha um corpo, ainda coma e faça o que faz, você descobriu algo que o liberta para uma situação satisfatória de tudo-ao-mesmo-tempo. Há outras satisfações que surgem da teoria, e que não são citadas em sua formulação. Os tempos se relacionam uns com os outros – as coisas acontecem por um motivo, e o motivo não é casual. A ressonância, aquele fenômeno misterioso no qual uma corda que vibra parece invocar magicamente uma vibração semelhante em outra corda ou em outro objeto que não está fisicamente conectado ao original, sugere-se como um modelo para a propriedade misteriosa que relaciona um tempo a outro, ainda que possam estar separados por dias, anos ou mesmo milênios. Convenci-me de que há uma onda, ou um sistema de ressonâncias, que condiciona eventos em todos os níveis. Essa onda é fractal e auto-referencial, parecida com muitos dos mais interessantes objetos e curvas que vêm sendo descritos nas fronteiras da pesquisa matemática. Essa onda temporal exprime-se através do universo numa variedade de níveis extremamente pequenos. Ela faz com que os átomos sejam átomos, células sejam células, mentes sejam mentes e estrelas sejam estrelas. O que estou sugerindo é uma nova metafísica, uma metafísica com rigor matemático; algo que não é simplesmente uma nova crença ou uma nova convicção religiosa. Ao contrário, essa percepção assumiu a forma de uma proposição formal.

Eu sou o primeiro a admitir que não foi possível encontrar uma ponte entre essa teoria e a física normal. Uma ponte dessas pode não ser possível nem necessária. Podemos descobrir que a ciência normal indica o que é possível, enquanto a teoria temporal que proponho oferece uma explicação para o que é. É uma teoria que parece explicar como, dentre todas as classes de coisas possíveis, alguns eventos e coisas passam pela formalidade de ocorrer. Para mim é claro que a teoria não pode ser negada de fora, só pode ser negada caso seja vista como inconsistente dentro de si mesma.

Por volta de 16 de novembro de 1971 eu tinha começado a perceber que a tabela tinha muitas variáveis para fincionar como um mapa previsível do futuro. Seria necessário, percebi então, quantificar de algum modo os vários parâmetros da onda, de modo que os julgamentos pudessem ficar menos sujeitos a interferências pessoais. A última coisa que produzi em La Chorrera foi escrito na manhã do dia 16, meu 25º aniversário. Era uma espécie de fábula:

16 de novembro de 1971

Dois velhos amigos, digamos que árabes, e velhíssimos, estão num palácio muito mais velho do que eles próprios, construído numa montanha rodeada por vinhedos, tomareiras e pomares de frutas cítricas. Sem sonmo e sociáveis, passam as longas horas estreladas antes do amanhecer fumando haxixe e propondo charadas.

– Compartilhe meu prazer com este quebra-cabeça e sua solução – disse o mais moreno para o mais velho, e passou a mão sobre os olhos do companheiro. O mais velho entrou no sonho e olhou o quebra-cabeça aberto – um mundo de formas e leis, engrenagens encaixadas, paixão e intelecto. Viu suas espécies e seus impérios, famílias dinásticas e indivíduos geniais, tornou-se seus filósofos e suportou suas catástrofes. Sentiu a textura e o caráter de todos os seres do mundo que seu amigo havia criado. Buscou o padrão secreto que o amigo, ele sabia, certamente escondera em sua criação, já que esse era um jogo que disputavam com freqüência.

Finalmente, num momento de grande despotismo, numa era de ciência impetuosa e decadência brilhante, ele se viu dividido nas pessoas de dois irmãos – e através deles, através de suas viagens e de suas vidas que passaram num instante diante de seus olhos, ele percebeu a natureza intrincada e agradável da charada. Compreendendo, enfim, e rindo – um riso que os dois compartilharam – ele dissolveu a névoa e as engrenagens da fábula de sonho. E mais uma vez eles passaram o cachimbo antes de sair pelo jardim azulado, onde a alvorada os encontraria conversando entre os pavões, entre as romãzeiras e as acácias.

E então será que vamos ficar apenas com uma fábula? Ou há mais alguma coisa aqui? Alguns jardins tropicais que eu plantei têm pequenas acácias se desenvolvendo. Talvez ainda haja tempo para que elas cresçam até fazer sombra para discursos filosóficos. A vida é mais estranha do que até mesmo o mais estranho de nós pode supor.

Parecia que o trabalho em La Chorrera estava terminado. Desarmamos nosso acampamento e voltamos pelas trilhas e pelos rios. Demorou, havia livros a serem escritos, pontas soltas de uma vida levada muito frouxamente precisavam ser arrumadas e amarradas. Ficamos um tempo em Florência, na finca de um amigo, onde escrevi os primeiros capítulos de The Invisible Landscape. (…)

(…) Até que a Onda Temporal do I Ching fosse quantificada com mais dados, seu modo de integrar fatores aparentemente sem sentido e não relacionados tornava muito fácil que ela fosse vista em termos psicológicos. Parecia operar como uma espécie de teste de manchas de Rorchach; podíamos ver nela o que quiséssemos. Mesmo depois de meu vigésimo quinto aniversário, em 16 de novembro de 1971, ter se passado com muito pouca novidade seja em minha vida ou no mundo, continuei a propagar para o futuro os ciclos da tabela. Sentia que a idéia de uma estrutura oculta do tempo estava correta, mas isso não podia ser afirmado até que o alinhamento correto entre a estrututra e a história humana fosse encontrado e confirmado. Eu estava procurando uma data com características especiais relacionadas à tabela, uma data que fosse um bom candidato para o surgimento de um evento especial.

Aqui vem uma parte de minha história que achei muito perturbadora. Depois da desconfirmação de novembro de 1971, procurei no futuro outras datas em que terminariam os ciclos de 384 dias, caso eu continuasse a assumir que 16 de novembro de 1971 fosse o fim de um desses ciclos. Isso significava que a próxima data no fim do ciclo de 384 dias seria quatro de dezembro de 1972. Consultei várias tabelas astronômicas, mas a data parecia nada prometer. A data final do ciclo seguinte de 384 dias era muito mais interessante, já que caía em 22 de dezembro de 1973.

Percebi que era um solstício de inverno. Ali estava uma pista. O solstício de inverno é tradicionalmente a época do nascimento do messias salvador. É um tempo de pausa, quando há uma mudança no mecanismo cósmico. É também no momento de transição do sol de Sagitário para Capricórnio. Não dou muita importância à astrologia, mas notei que Dennis é Sagitário e Ev é Capricórnio. Consultei meus mapas astronômicos e acrescentei outra coincidência; vi que onde a eclíptica cruza a cúspide de Sagitário e Capricórnio, a 23 graus de Sagitário, era o ponto, com um ou dois graus de variação, em que o centro da galáxia estava localizado naquele momento. Durante 26 mil anos o centro da galáxia, como todos os pontos na eclíptica, move-se devagar entre os signos, mas ele estaria na cúspide de Sagitário e Capricórnio no dia de solstício de inverno.

Parecia um número incomum de coincidências, de modo que continuei minha busca. Consultas no almanaque do Observatório Naval trouxeram uma verdadeira surpresa. Exatamente naquele dia que eu estava pesquisando, 22 de dezembro de 1973, haveria um eclipse anular total do sol, e o caminho de totalidade passaria diretamente sobre La Chorrera e a bacia amazônica. Fiquei pasmo. Sentia-me como um personagem de romance; aquela fiada de indícios era verdadeira! Pesquisei o eclipse para determinar exatamente onde ele alcançaria a totalidade. Descobri que ela ocorreria diretamente sobre a cidade de Belém, no Brasil, no delta do rio Amazonas. O vertiginoso matraquear élfico do hiperespaço aumentou de volume até um guincho agudo em meus ouvidos. Estaria zombando de mim ou me instigando?

A meditação sobre a data desse eclipse tirou minha mente do âmbito das coincidências astronômicas, trazendo-a de volta para os temas dos transes em La Chorrera. A cidade se chama Belém. Minhas percepções, sensíveis a qualquer possibilidade messiânica, ligaram-se a isso. Belém, a cidade de nascimento do Messias; e está no delta do Amazonas. Delta é o símbolo para a mudança no tempo; delta, em Joyce e para os grafiteiros através de toda a história, representa a vagina. Dennis nasceu em Delta, Colorado. Seria possível que todas as nossas experiências fossem uma premonição de um evento que ocorreria dali a dois anos no Brasil? Seria essa, absurdamente, a conclusão da experiência em La Chorrera, os acordes do hino “Oh, Cidadezinha de Belém” ecoando em minha mente? No final da primavera de 1972 eu sabia de tudo que acabo de mencionar. Por que a onda apontava para 22 de dezembro de 1973? E por que havia tamanha coincidência apontando para aquele momento? Será que eu já sabia do eclipse em algum nível do inconsciente? Será que eu sabia que ele alcançaria a totalidade em Belém? Por que as datas importantes em minha vida se alinhavam com aquela data, de acordo com a onda que eu aprendera a construir após o contato com o OVNI em La Chorrera? Parecia-me impossível que eu, de algum modo, já soubesse dessas coisas e tivesse manipulado minha consciência para imaginar que ela estivesse “descobrindo” essas coisas. Eu era como um viajante cego pela neve, apanhado por uma nevasca de coincidências.

Por fim, no início da primavera de 1973, ocorreu um evento que oferecia uma prova perfeita de que algo maior que meu inconsciente, aparentemente maior ainda que a consciência coletiva de toda a raça humana, estava posto em funcionamento. Foi a descoberta do cometa Kohotek, anunciado como o maior cometa da história humana, deixando até mesmo o Halley como um anão.

“O Cometa Mais Brilhante Que Já Se Dirigiu à Terra”, era a manchete do San francisco Chronicle. Enquanto lia o artigo, deixei sair um grito de espanto. O cometa faria sua aproximação máxima no dia 23 de dezembro! Um cometa não-periódico, desconhecido de todos na terra antes de março de 1973, se aproximava para um encontro com o sol a poucas horas do solstício e do eclipse sobre a Amazônia. Era uma enorme coincidência, se definirmos coincidência como uma improbabilidade que impressiona profundamente seu observador. Ela não foi diminuída pelo fato de Kohotek não ter correspondido às expectativas, porque apenas as expectativas já se transformariam numa onde de milenarismo e inquietude apocalíptica que só morreria com a volta do cometa à escuridão da qual havia emergido. Será que aconteceu alguma coisa em Belém no dia do eclipse? Não sei; eu não estava lá. Na época era um prisioneiro de obrigações mundanas. Mas realmente sei que a compressão de eventos que ocorreu naquela data, e o modo como as tabelas a previam, era espantosa.

Somente com o desenvolvimento do programa para computadores pessoais pude entender o modo como a Onda Temporal descreve o fluxo e refluxo de novidades no tempo em muitos períodos temporais diferentes: alguns durando apenas minutos, outros durando séculos. Agora qualquer um que se familiarize com a teoria pode juntar-se a mim nessa aventura intelectual e ver por si próprio o imenso desafio envolvido em prever uma concretude. Não me contentei em meramente compreender a teoria, mas continuei os esforços para aplica-la especificamente a predizer o curso dos eventos futuros. Se, durante anos de estudos, uma pessoa torna-se convencida de que a onda realmente mostra o curso futuro de novidades, a antecipação comum do futuro é gradualmente substituída por uma apreciação e uma compreensão quase zen do padrão total. (…)

Diga o que isso significa ?

Onde tento ligar nossas experiências à ciência que é qualquer coisa, menos normal.

Apesar de ter saído da Amazônia, essa história estranha e enrolada continua por mais um pouco. Ainda é tempo de destilar algumas conclusões das idéias que foram geradas em La Chorrera.

Um modelo do mundo é um modo de ver, e assimilar a teoria da onda temporal que nos foi forçada é ver o mundo de um jeito diferente. Minha abordagem tem sido a de garantir a possibilidade da teoria ser verdadeira, uma vez que não foi refutada. Pode ser que algum dia a refutem; mas até então devo acreditar nela, ainda que com uma ponta de ironia. Talvez outros reforcem e contextualizem a idéia caso se dignem a ouvi-la. Muitas boas idéias simplesmente morrem por falta de um contexto. Mas esta idéia propõe uma reconstrução fundamental no modo como vemos a realidade. E pode ser ensinada. Ela preenche minhas aspirações espirituais porque é feita de compreensão: simples e puramente compreensão.

A teoria elaborada no início da experiência em La Chorrera não nega nenhuma classe de conhecimentos; ela os aumenta. Há um argumento para isso ao nível físico, se bem que a idéia é muito complicada, tocando, como toca, áreas envolvendo física quântica, biologia submolecular e estrutura do DNA. Essas são as noções que espero ter delineado com cuidado e atenção em The Invisible Landscape.

Apesar da idéia que desenvolvi poder não ter sido causada pelo que Dennis fez na Amazônia, tenho a forte intuição de que o foi. No início da experiência minhas preocupações particulares foram substituídas por pensamentos tão absolutamente estranhos que não pude reconhecê-los como produtos de minha personalidade. Ele realizou sua experiência e eu tive uma espécie de retroalimentação informativa a partir do meu DNA ou de alguma outra armazenagem molecular de informação. Isso aconteceu precisamente porque as moléculas psicodélicas ligaram-se ao DNA e em seguida se comportaram do modo que havíamos previsto; elas realmente irradiaram um símbolo da totalidade, cuja estrutura profunda reflete os princípios organizacionais das moléculas da própria vida. Essa totalidade entrou no tempo linear – na presença da consciência comum – disfarçada em um diálogo com o Logos. O Logos proporcionou uma voz narrativa capaz de estruturar e dar coerência à torrente de novas percepções que, de outra forma, teriam me esmagado. Minha tarefa tornou-se desencavar e replicar a estrutura simbólica que havia por trás da voz, e descobrir se ela tinha algum significado fora de mim e de meu pequeno círculo de conhecidos. Era como criar um sistema de arquivos para um mundo recém-revelado de infinita variedade. A onda temporal é uma espécie de mandala matemática descrevendo a organização do tempo e do espaço. É uma representação dos padrões de energia e de intenções dentro do DNA. O DNA desdobra esses mistérios através do tempo como uma gravação ou uma canção. Essa canção é a nossa vida, e é toda a vida. Mas sem uma visão conceitual não podemos entender a melodia que ele toca. A teoria da onda temporal é como a partitura da sinfonia biocósmica.

Estou interessado em refutar a teoria. Uma boa idéia não é frágil, e pode suportar grande pressão. O que aconteceu em La Chorrera não pode ser atenuado com palavras, ao contrário, aquilo pede simplesmente para ser explicado. Se não é o que eu digo que é, então o que é a concrescência, a centelha, o encontro com o totalmente Outro? O que isso realmente representa?

É, como parece ser, o ingresso de uma época pertencente a uma dimensão mais elevada, que reverbera através da história? É uma onda de choque sendo gerada por um evento escatológico no fim dos tempos? As leis naturais são mais fáceis de entender se assumirmos que não existem constantes universais; e sim fenômenos de fluxo que se desenvolvem lentamente. Afinal de contas a velocidade da luz, que é vista como uma constante universal, só foi medida nos últimos cem anos. É um pensamento puramente indutivo extrapolar o princípio da não-variação da velocidade da luz a todos os tempos e lugares. Qualquer bom cientista sabe que a indução é um salto de fé. Ainda assim a ciência é baseada no princípio da indução. É esse princípio que esta teoria desafia. A indução presume que se fazemos A, e disso resultar B, significa que sempre que fizermos A, B será o resultado. O fato é que no mundo real não acontece nenhum A ou B no vácuo. Outros fatores podem se intrometer em qualquer situação real, mandando-a para uma conclusão diferente ou incomum..

Antes de Einstein o espaço era visto como uma dimensão onde colocamos coisas. O espaço era visualizado como uma analogia para o vazio. Mas então Einstein mostrou que o espaço é uma coisa que tem torque, e que é afetada pela matéria e pelos campos gravitacionais. A luz passando através de um campo gravitacional no espaço será curvada porque o espaço através do qual ela viaja está curvado. Em outras palavras, o espaço é uma coisa, e não um lugar onde você põe coisas.

O que proponho, em síntese, é que o tempo – que também foi previamente considerado uma abstração necessária – também é uma coisa. O tempo não apenas muda, como também há diversos tipos de tempo. Enquanto esses tipos de tempo vem e vão em progressão cíclica em muitos níveis, as situações se desenvolvem à medida que a matéria responde às condições de tempo e espaço. Esses dois padrões condicionam a matéria. Há muito tempo a ciência está consciente dos padrões de espaço, chamamos isso de “leis naturais”, mas e quanto aos padrões de tempo? Essa é uma consideração completamente diferente.

A matéria, que sempre foi considerada a epítome da realidade, tem algumas características mais próximas do pensamento. A matéria passa por mudanças definidas por dois agentes padronizadores que estão correlacionados: espaço e tempo. Essa idéia implica em axiomas. Um dos maiores é tirado do filósofo Gottfried Wilhelm von Liebnitz. Liebnitz imaginava as mônadas como partículas minúsculas que são infinitamente replicadas em todos os pontos do universo e que contêm em si todos os lugares. As mônadas não estão meramente aqui e agora. Estão em todos os lugares o tempo todo. Ou têm dentro de si todo o espaço e todo o tempo, dependendo do ponto de vista. Todas as mônadas são idênticas, mas dependendo do modo como se interconectam elas constroem um continuum mais amplo enquanto ao mesmo tempo mantêm suas perspectivas individualmente únicas. Essas idéias liebnitzianas anteciparam o novo campo da matemática fractal, do qual minha idéia de um padrão temporal é um exemplo exótico.

Idéias como essa oferecem uma explicação possível para os mecanismos de memória que, de outro modo, seriam misteriosos. A destruição de noventa e cinco por cento do cérebro não danifica a função de memória. Parece que a memória não está guardada em lugar nenhum; a memória parece permear o cérebro. Como um holograma, toda a memória está em cada parte. Podemos pegar uma prancha holográfica do monte Fuji e corta-la ao meio; quando uma metade é iluminada, toda a imagem está presente. Podemos fazer isso de novo e de novo, o holograma é feito de um número quase infinito de minúsculas imagens, cada uma, em combinação com as outras, apresenta uma imagem inteira.

O aspecto “holográfico” da memória foi visto como de importância central por pensadores como David Bohm e KarlPribram. Mas foi Dennis e eu quem chegamos ao ponto de sugerir que essa forma de organização poderia ser estendida para além do cérebro, para incluir o cosmo inteiro.

A física quântica faz afirmações semelhantes dizendo que o elétron não está em algum lugar ou em algum tempo, o elétron é uma nuvem de probabilidades, e isso é tudo que podemos dizer dele. Uma característica semelhante liga-se a esta idéia do tempo e da comparação do tempo com um objeto. A pergunta óbvia a ser feita é: qual a menor duração relevante para os processos físicos? A abordagem científica seria dividir o tempo até sua menor parte, para descobrir se há uma unidade. O que estamos procurando é um crônon, ou uma partícula de tempo. Acredito na existência do crônon, mas não como uma coisa distinta do átomo. Os sistemas atômicos são crônons; os átomos são muito mais complicados do que se suspeitava. Acredito que os átomos têm propriedades ainda não descritas, que podem responder não apenas pelas propriedades da matéria, mas também pelo comportamento do espaço/tempo.

Os crônons podem não ser redutíveis a átomos, mas suspeito de que o que estamos procurando seja uma onda/partícula que compõe a matéria, o espaço/tempo e a energia. O crônon é mais complicado do que a descrição clássica dos sistemas atômicos feitas por Heisenberg e Bohr. O crônon tem propriedades que o tornam capaz de funcionar como constituinte fundamental de um universo no qual surgem mentes e organismos. Até agora fomos incapazes de definir as propriedades dinâmicas que permitiria uma partícula atuar como parte necessária de um organismo vivo ou de um organismo pensante. Até mesmo uma bactéria como E. coli é um feito estonteante para o átomo de Heisenberg e Bohr.

O modelo de Heisenberg/Bohr permite-nos simular o universo físico de estrelas, galáxias e quasars; mas não explica os organismos ou a mente. Temos de sobrepor diferentes características àquele modelo atômico para modelar fenômenos mais complexos. Devemos imaginar um átomo com novos parâmetros caso desejemos compreender como podemos existir, como os seres humanos pensantes, usuários de ferramentas, puderam surgir do substrato universal.

Não afirmo que já tenha feito isso. Mas realmente creio que tropecei numa avenida intelectual que poderia ser seguida para chegar a essa compreensão. A chave está em ciclos de variáveis temporais aninhadas em estruturas hierárquicas que geram vários tipos de relacionamentos fractais se desdobrando em direção a conclusões que são, com freqüência, surpreendentes.

A pessoa que estabeleceu a base mais firme para compreender filosoficamente este tipo de noção é Alfred North Whitehead. Nada do que sugerimos está além do poder de seu método de previsão. O formalismo de Whitehead responde pelas mentes, pelos organismos e por uma quantidade de fenômenos mal resolvidos pela abordagem cartesiana.

Outros pensadores visionários estão sondando essas áreas; a Dinâmica do Atrator Caótico é a idéia de que qualquer processo pode ser relacionado a qualquer outro através de uma equação matemática, simplesmente em virtude de todos os processos fazerem parte de uma classe comum. A derrubada de um ditador, a explosão de uma estrela, a fertilização de um ovo; tudo deveria ser descrito através de um conjunto de termos.

O desenvolvimento mais promissor nessa área foi o surgimento do novo paradigma evolucionário de Ilya Prigogine e Erich Jantsch. Seu trabalho chegou a nada menos do que um novo princípio ordenador da natureza. É a descoberta e a descrição matemática da auto-organização dissipativa como um princípio criativo subjacente à dinâmica de uma realidade aberta e de múltiplos níveis. As estruturas dissipativas fazem o milagre de gerar e preservar a ordem através de flutuações – flutuações cuja base, em última instância, está na indeterminação da mecânica quântica.

Se alguém tivesse um perfeito espelho filosófico do universo, poderia dizer a uma pessoa, aplicando seu método filosófico, quanto dinheiro ela tem no bolso. Como é um fato, essa quantia deveria, pelo menos em princípio, ser possível de se calcular. O importante é compreender as verdadeiras fronteiras da realidade, e não os limites prováveis de possíveis eventos futuros. Se bem que condições limites operem no futuro, elas são restrições probabilísticas, e não fatos absolutamente determinados. Presumimos que daqui a dez minutos o cômodo em que estamos continuará a existir. É uma condição limite que irá definir os próximos dez minutos em nossa coordenada espaço-temporal. Mas não podemos saber quem estará no cômodo daqui a dez minutos; isso está para ser determinado.

Pode-se perguntar se realmente podemos saber que o cômodo ainda existirá em qualquer momento futuro. Aí é que entra a indução no quadro geral, já que na verdade não podemos saber com certeza. Não há um modo absolutamente rigoroso de estabelecer isso. Mas podemos fazer o salto indutivo de fé, que tem a ver com a experiência acumulada. Projetamos a idéia de que a existência do cômodo irá seguir como condição limite mas, em princípio, poderia haver um terremoto nos próximos dez minutos e esse prédio poderia não ficar de pé. Entretanto, para que isso aconteça, a condição limite teria de ser radicalmente rompida de algum modo inesperado e improvável.

O curioso é que esse tipo de coisa poderia acontecer. É isso que a onda temporal nos permite prever: que há condições em que podem ocorrer eventos de grande novidade. Entretanto há um problema. Como sugerimos um modelo de tempo cuja matemática dita uma construção em estrutura espiral, os eventos vão-se reunindo em espirais cada vez mais apertadas, que levam inevitavelmente a um tempo final. Como o centro de um buraco negro, o tempo final é necessariamente uma singularidade., um local ou um evento em que as leis comuns da física não funcionam. Em princípio é impossível imaginar o que acontece numa singularidade e, naturalmente, a ciência tem evitado essa idéia. A singularidade definitiva é o Big Bang, que os físicos acreditam ter sido responsável pelo nascimento do universo. A ciência pede que acreditemos que o universo inteiro explodiu do nada, num único ponto e sem motivo discernível. Essa noção é o caso limite para a credulidade. Em outras palavras, se você acredita nisso, pode acreditar em qualquer coisa. Uma noção que é, de fato, absolutamente absurda, e mesmo assim terrivelmente importante para todas as suposições racionais que a ciência deseja preservar. Essas suposições partem daquela situação inicial impossível.

A religião ocidental tem sua própria singularidade na forma do Apocalipse. Esse evento é localizado não no princípio do universo, mas no fim. Isso parece uma posição mais lógica do que a da ciência. Se existem as singularidades, parece mais fácil supor que elas possam surgir de um cosmo antigo e altamente complexo como o nosso do que de um megavácuo sem forma e sem dimensões.

A ciência olha de cima de seu nariz empinado para as fantasias apocalípticas da religião. A visão da ciência é de que o tempo final pode apenas significar um tempo entrópico de não-mudança. A visão da ciência é de que todos os processos terminam por se esgotar, e que a entropia é maximizada apenas num futuro muitíssimo distante. A idéia da entropia cria uma suposição de que as leis do continuum espaço-tempo são infinita e linearmente expansíveis para o futuro. No esquema de tempo espiral da onda temporal não se faz essa suposição. Ao invés disso, o tempo final significa passar de um conjunto de leis que estão condicionando a existência para outro conjunto de leis radicalmente diverso. O universo é visto como uma série de eras compartimentadas, tendo leis bastante diferentes umas das outras, com transições de uma época para outra ocorrendo com inesperada subitaneidade.

Ver através dessa teoria é ver nosso lugar no esquema espiral e antecipar quando irá ocorrer a transição para uma nova época. Vemos isso no mundo físico. O planeta tem cinco ou seis bilhões de anos. A formação do universo inorgânico ocupa a primeira volta da espiral. Então surge a vida. Se examinarmos este planeta, o único planeta que podemos examinar em profundidade, descobrimos que os processos vão sempre acelerando em velocidade e complexidade.

Um planeta gira através do espaço dois bilhões de anos antes de aparecer a vida. A vida representa uma nova qualidade emergente. No instante em que a vida inicia, começa uma corrida louca. Espécies aparecem e desaparecem. Isso acontece durante um bilhão e meio de anos e, subitamente, uma nova propriedade nascente assume o palco; surgem espécies pensantes. Essa nova época da mente é breve em comparação com a que a precedeu; do confronto silencioso com a pedra lascada até a nave estelar passam-se cem mil anos. O que poderia ser essa era a não ser o ingresso de um novo conjunto de leis? Uma nova psicofísica permite nossa espécie manifestar propriedades peculiares: linguagem, escrita, sonho, e o tecer da filosofia.

Como as cascavéis e os álamos, os seres humanos são feitos de DNA. Ainda assim nós detonamos as mesmas energias que iluminam as estrelas. Fazemos isso na superfície de nosso planeta. Ou podemos criar uma temperatura de zero absoluto. Fazemos essas coisas porque, apesar de sermos criados no barro, nossas mentes nos ensinaram a aumentar nosso alcance através do uso de ferramentas. Com ferramentas podemos liberar energias que normalmente só ocorrem sob condições muito diferentes. O centro das estrelas é o lugar normal para os processos de fusão.

Fazemos essas coisas usando a mente. E o que é a mente? Não temos qualquer pista. Vinte mil anos para passar da caça e da coleta nômade para a cibernética e a viagem espacial. E continuamos acelerando. Ainda há mais espirais à frente. Do Ford modelo T até a nave espacial. Cem anos. Do homem mais rápido, capaz de mover-se a quarenta quilômetros por hora, ao homem mais rápido movendo-se a quatorze quilômetros por segundo. Sessenta anos.

Mais desconcertantes são as previsões que a teoria faz das próximas mudanças de eras, tornadas necessárias pela congruência da onda temporal com os dados históricos. A onda temporal parece dar uma melhor configuração dos dados históricos quando se supõe que um ingresso máximo de novidades irá ocorrer em 21 de dezembro de 2012. Estranhamente, essa é a data final que os Maias puseram em seu calendário. Bom, o que é isso que dá a um indivíduo do século XX e uma antiga civilização mesoamericana a mesma data para a transformação do mundo? Será porque ambos usaram cogumelos psicodélicos? Poderia a resposta ser tão simples? Não creio. Ao invés disso suspeito de que, quando inspecionamos a estrutura de nosso inconsciente profundo, fazemos a descoberta inesperada de que ele está ordenado sob o mesmo princípio do universo mais amplo, do qual emergiu. Esta noção, a princípio surpreendente, logo passa a ser vista como óbvia, natural e inevitável.

Uma analogia que explica por que isso pode ser assim é dada ao se olhar dunas de areia. A coisa interessante com essas dunas é que elas guardam uma semelhança com a força que as criou, o vento. É como se cada grão de areia fosse um bit na memória de um computador natural. O vento é o sinal de entrada que arranja os grãos de areia de modo que se tornem um reflexo em dimensão inferior do fenômeno que ocorre na dimensão mais elevada, neste caso, o vento. Não há nada de mágico com isso, e não nos parece misterioso: o vento, uma pressão que é variável com o tempo, cria uma duna ondeada que é uma estrutura variando regularmente no espaço. Em meu modo de pensar, os organismos são grãos de areia arranjados pelo fluxo e refluxo dos ventos do tempo. Nesse caso os organismos têm naturalmente a marca das variáveis inerentes ao meio temporal em que surgem. O DNA é o meio virgem em que as variáveis temporais têm sua seqüência e suas diferenças relativas gravadas. Qualquer técnica que penetre os relacionamentos energéticos dentro de um organismo vivo, como a yoga ou o uso de plantas psicodélicas, também dará uma percepção profunda sobre a natureza variável do tempo. A seqüência King Wen do I Ching é o produto desse tipo de percepção.

A cultura humana é uma curva de potencialidade em expansão. Em nosso século atormentado ela alcançou uma verticalidade. Os seres humanos ameaçam todas as espécies do planeta. Empilhamos materiais radiativos em todo canto, e todas as espécies da Terra podem ver isso. O planeta, como entidade inteligente, pode reagir a esse tipo de pressão. Ele tem três bilhões de anos, e tem muitas opções.

A conversa dualística sobre a humanidade não fazer parte da ordem natural é bobagem. Nós não poderíamos ter surgido a não ser que servíssemos a um propósito que se ajustasse à ecologia planetária. Não está claro qual é esse propósito, mas parece ter a ver com nossa enorme capacidade de investigação. E com nossas crises! Acumulando armas atômicas afirmamos a capacidade de destruir a Terra como uma banana de dinamite enfiada numa maçã podre. Por quê? Não sabemos. Certamente não pelos motivos políticos e sociais que são apresentados. Somos simplesmente uma espécie construtora de ferramentas; ela mesma uma ferramenta da ecologia planetária que é uma inteligência superior. Essa inteligência sabe quais são os perigos e limitações na escala cósmica e organiza furiosamente a vida para se preservar e se transformar.

Minha história é peculiar. É difícil saber o que achar dela. A noção de algum tipo de revelação visionária fantasticamente complicada que nos põe no centro da ação é um sintoma de doença mental. Essa teoria faz isso; assim com a experiência direta, e também as ontologias do judaísmo, do islamismo e do cristianismo. Minha teoria pode ser clinicamente patológica, mas, diferentemente desses sistemas religiosos, tenho humor suficiente pra perceber isso. É importante apreciar a comédia intrínseca ao conhecimento privilegiado. Também é importante ter acesso ao método científico, sempre que for apropriado. A maioria das teorias científicas pode ser refutada nos calmos limites do laboratório, a evolução não.

Para sentir empatia com as visões de La Chorrera, precisamos imaginar o que podemos imaginar. Imagine se os desejos fossem cavalos, como os mendigos cavalgariam! As idéias desenvolvidas em La Chorrera eram tão envolventes porque prometiam novas dimensões à liberdade humana. Os rumores ouvidos na Amazônia sobre fluidos mágicos relacionados com o tempo, autogerados a partir dos próprios corpos pelos mestres xamãs, são nada menos do que sugestões da metamorfose do corpo/alma humano para um estado dimensional mais elevado. Caso essa transformação da matéria fosse possível poderíamos fazer qualquer coisa com ela. Poderíamos espalhá-la, subir em cima e leva-la a qualquer altitude, adicionando oxigênio à vontade. É a imagem assombrosa do disco voador voltando outra vez. Podemos entrar na substância; usando-a como um traje de mergulho mental. O disco voador é uma imagem da mente humana aperfeiçoada; ele espera zumbindo quente no fim da história humana neste planeta. Quando ela estiver perfeita, haverá uma mutação ontológica da forma humana, nada menos do que o corpo ressurreto que o Cristianismo prevê.

É função do gênio da tecnologia humana dominar e servir às energias da vida e da morte, do tempo e do espaço. O OVNI guarda a possibilidade da mente tornar-se objeto, uma nave que pode cruzar o universo no tempo necessário para se pensar a respeito. Porque ela é como o universo: um pensamento. Quando a mente tornada objeto móvel for aperfeiçoada, a humanidade – noviça no domínio do pensamento – irá começar a partir.

Claro que podemos descobrir que não vamos embora; o futuro pode revelar, ao invés disso, que há algo lá fora chamando-nos para casa. Então será nossa tecnologia e o chamamento do Outro que irão mover-se na direção de um encontro. O disco é uma excelente metáfora para isso. Quando Jung sugeriu que o disco era a alma humana, ele estava mais correto do que pode ter suposto. E isso não está muito distante de acontecer. Essa é a outra coisa; a última virada de épocas nos deu a teoria da relatividade e a mecânica quântica. Outra mudança de época se aproxima, mas é difícil saber se será a época final. Nosso papéis como partes do processo introduzem um princípio de incerteza que impede a previsão.

Todos esses temas foram tecidos ao redor do DMT, possivelmente porque a DMT cria um microcosmo dessa mudança de épocas na experiência de um único indivíduo. Parece difícil elevar a mente perceptível acima dos confins do espaço comum e ter um vislumbre da maior estrutura possível do Ser. Quando Platão disse que “O tempo é a imagem móvel da Eternidade”, fez uma afirmação que é reforçada a cada viagem para o espaço da DMT. Como a mudança de época chamada Apocalipse, antecipada por histéricos religiosos, a DMT parece iluminar a região após a morte. E qual é a dimensão além da vida, que a DMT ilumina? Se pudermos confiar em nossas percepções, é um lugar no qual existe uma ecologia de almas cujo estado de ser é mais sintático do que material. Parece ser um reino próximo, habitado por intelectos élficos eternos, feitos inteiramente de informação e de alegre auto-expressão. O depois da vida é mais um país de fadas céltico do que uma não-entidade existencial, pelo menos isto é evidenciado na experiência com DMT.

Nós, seres humanos, devemos admitir que nossa situação é peculiar: tendo nascido, somos sistemas químicos abertos e autônomos que se mantêm num ponto distante do equilíbrio metabólico. E somos criaturas pensantes. O que é isso? O que são as três dimensões? O que é a energia? Encontramo-nos na estranha posição de estarmos vivos. Tendo nascido, sabemos que vamos morrer. Um monte de pensadores diz que isso não é tão estranho, que acontece no universo – as coisas vivas surgem. E no entanto a nossa física, que pode acender o fogo das estrelas em nossas desertos, não pode explicar a estranheza do fenômeno de estarmos vivos.

No ponto em que a ciência está hoje em dia os organismos se encontram completamente fora do âmbito da explicação física. Então de que ela serve? Spencer e Shakespeare, a teoria quântica e as pinturas de cavernas em Altamira. Quem somos nós? O que é a história? E para onde ela vai? Agora libertamos processos potencialmente fatais ao planeta. Disparamos a crise final para toda a vida. Fizemos isso, mas não temos controle. Nenhum de nós. Nenhum líder e nenhum Estado pode mandar parar o fato de estarmos presos à história. Estamos nos movendo em direção ao inimaginável enquanto se empilham as informações sobre a natureza real da situação que enfrentamos. Para parafrasear J.B.S. Haldane: nossa situação pode não ser apenas mais estranha do que supomos; pode ser mais estranha do que podemos supor.

Timewave Zero – Alguns vídeos no Youtube (em inglês):

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=w-prt5d6m6s&feature=related]

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=LLbS-kQhd9o]

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11:11, Discos voadores, Sincronicidade…

Vejo em muitos lugares, várias teorias à respeito do significado desses fenômenos, desde as que dizem que nada tá acontecendo até as que afirmam que estamos sendo vigiados por alienígenas oriundos de planetas distantes. Sinceramente tendo a não crer em nenhuma delas. E não que eu considere tais coisas impossíveis; mas pelo contrário, acho que nesses terrenos absolutamente tudo é possível, e por isso mesmo devemos olhar tais coisas com o máximo de lucidez.

Quando somos surpreendidos por esses fenômenos , geralmente a primeira coisa q fazemos é nos perguntar: “O que é isso?”. A resposta pra essa pergunta é um leque aberto de infinitas possibilidades, e acabamos muitas vezes por ficar perdidos no meio de todo tipo de devaneios, e vulneráveis à todo tipo de maluquice e oportunismo. Nós tendemos a acreditar que a nossa interpretação última das coisas é a explicação total e definitiva sobre a realidade, o que eu considero um engano. É realmente muito confortável saber que sabemos alguma coisa. Mas o preço do conforto é a limitação

A forma de pensar que eu acho mais útil pra abordar esses fenômenos “sobrenaturais”, por assim dizer, é deixando um pouco de lado o questionamento sobre “o que podem ser” essas coisas; reconhecendo-se que algo está acontecendo mas que não podemos ter certeza absoluta sobre o que exatamente está acontecendo. Proponho, assim como alguns pesquisadores já propuseram, que nos concentremos totalmente na questão sobre o que essas coisas estão fazendo, ou o que parecem estar fazendo.

Sei que pra muitas pessoas, essa forma de pensar pode ser extremamente desconfortável, pois significa jogar no lixo crenças cuidadosamente cultivadas. Ficam com a sensação de “E agora?”, ecoando em um vazio de todas as possibilidades em potencial, e não sabem como reagir à isso. Então se apegam rapidamente à mais próxima e conveniente possibilidade. E assim o jogo continua…..

Já deu pra perceber que eu proponho uma certa dose de ceticismo ao analisar essas coisas. Não o ceticismo de quem não acredita em nada, mas o ceticismo daqueles que valorizam e se baseiam em experiências pessoais. Acredito que só poderemos lançar uma luz verdadeira sobre essas coisas quando nos colocarmos na nossa posição diante disso, e construirmos nosso alicerce baseado em experiências. Em outras palavras, colocar a experiência direta como base, na frente de qualquer dogma. Caso contrário ficaremos andando em círculos, como o cachorro que corre atrás do próprio rabo. E assim 11:11s, discos voadores e afins continuarão passando pela nossa vida inexplicavelmente, como que ironizando nossa própria infantilidade e ignorância. E nós, continuaremos explicando pra nós mesmos da forma que nos for conveniente no momento. E não que eu ache isso errado, apenas vejo como parte do jogo.

Pode-se jogar eternamente, as possibilidades desse jogo são infinitas e irão entretê-lo o suficiente durante o tempo que você quiser. Mas se você cansar do jogo, e quiser ver o que realmente está por trás dele, então vc deve transcender o jogo. É nesse sentido que eu proponho uma diferente forma de pensar.

Eu acho que é aí que está a chave, pois sob um ponto de vista abrangente, o que todos esses fenômenos parecem fazer é desafiar brutalmente as suposições e presunções da humanidade em relação ao que é a realidade. Pegando como exemplo a “Ciência”, nossa entidade oficial no quesito de explicar a realidade; então pergunte a um cientista do tipo “ortodoxo” qual é a explicação científica para a sincronicidade do número 11, que permeia atualmente a vida de pelo menos muitas pessoas, com uma freqüência absolutamente incomum. Ele lhe diria que isso é um engano, uma ilusão, um mero “acaso”. Lhe diria que o fenômeno é inconcebível para a “Ciência”. No entanto as pessoas experimentam isso, e nós sabemos. É um fato. A mesma coisa ocorre com os discos voadores., fenômenos de mesma natureza, na minha opinião.

O que esses fenômenos parecem estar fazendo, é simplesmente nos mostrar que há algo além do “jogo” que tem sido ignorado há muito tempo por nós; algo que pode ser muito mais estranho e bizarro do que qualquer coisa que nós pudermos imaginar. Nenhuma explicação, seja esotérica ou científica, clareia o fato simplesmente porque tudo isso também faz parte do jogo, e sendo assim, nada poderá dizer sobre o além-jogo.

O que eu chamo de “jogo” são simplesmente nossas concepções estritamente humanas sobre a realidade. E o que eu defendo é que esses fenômenos vieram exatamente pra quebrar essas fronteiras que nós mesmos criamos a partir de nossas próprias suposições. Nos tornamos humanos demais, e assim nos fechamos à todo o Universo não-humano. Os discos voadores nos mostram isso brilhantemente, introduzindo nas nossas mentes a idéia de que podemos estar dividindo o planeta com alienígenas inteligentes. Simplesmente aceitar isso como possibilidade já é um grande passo, principalmente se relembrarmos nossa estrutura mental de uns 50 anos atrás, por exemplo.

Estamos começando a perceber que nessa vida tudo é possível, e que passamos tempo demais adormecidos em relação à isso. Realmente não importa se são E.Ts ou qualquer outra coisa, o que realmente importa é a consciência de que existe de fato um nexo interdimensional no Universo, no qual estamos incluídos.

Eu acredito que toda a repressão causada pelos sistemas de controle, o regime paternalista, cultura dominadora, reducionismo científico, etc..Tudo isso ao longo dos milênios da nossa existência nesse planeta gerou um acúmulo de energias reprimidas em nosso inconsciente, que em ponto crítico começam a “explodir” – e atualmente com cada vez mais freqüência -, vindo à tona na forma de sincronicidades e fenômenos tidos por nós como “sobrenaturais”, mas que nada mais são do que o campo gerado por nós mesmos, nos convidando, e praticamente nos intimando a uma inteiramente nova visão sobre a realidade. O momento é agora, e há evidências disso por todo lado.

Rupert Sheldrake e os Campos Morfogenéticos

Ressonância mórfica: A teoria do centésimo macaco

Na biologia, surge uma nova hipótese que promete revolucionar toda a ciência

Por José Tadeu Arantes,
ilustrações Dawidson França

*Matéria publicada originalmente em http://galileu.globo.com/edic/91/conhecimento1.htm
Era uma vez duas ilhas tropicais, habitadas pela mesma espécie de macaco, mas sem qualquer contato perceptível entre si. Depois de várias tentativas e erros, um esperto símio da ilha “A” descobre uma maneira engenhosa de quebrar cocos, que lhe permite aproveitar melhor a água e a polpa. Ninguém jamais havia quebrado cocos dessa forma. Por imitação, o procedimento rapidamente se difunde entre os seus companheiros e logo uma população crítica de 99 macacos domina a nova metodologia. Quando o centésimo símio da ilha “A” aprende a técnica recém-descoberta, os macacos da ilha “B” começam espontaneamente a quebrar cocos da mesma maneira.

Não houve nenhuma comunicação convencional entre as duas populações: o conhecimento simplesmente se incorporou aos hábitos da espécie. Este é uma história fictícia, não um relato verdadeiro. Numa versão alternativa, em vez de quebrarem cocos, os macacos aprendem a lavar raízes antes de comê-las. De um modo ou de outro, porém, ela ilustra uma das mais ousadas e instigantes idéias científicas da atualidade: a hipótese dos “campos mórficos”, proposta pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake. Segundo o cientista, os campos mórficos são estruturas que se estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os sistemas do mundo material.

Átomos, moléculas, cristais, organelas, células, tecidos, órgãos, organismos, sociedades, ecossistemas, sistemas planetários, sistemas solares, galáxias: cada uma dessas entidades estaria associada a um campo mórfico específico. São eles que fazem com que um sistema seja um sistema, isto é, uma totalidade articulada e não um mero ajuntamento de partes.

Sua atuação é semelhante à dos campos magnéticos, da física. Quando colocamos uma folha de papel sobre um ímã e espalhamos pó de ferro em cima dela, os grânulos metálicos distribuem-se ao longo de linhas geometricamente precisas. Isso acontece porque o campo magnético do ímã afeta toda a região à sua volta. Não podemos percebê-lo diretamente, mas somos capazes de detectar sua presença por meio do efeito que ele produz, direcionando as partículas de ferro. De modo parecido, os campos mórficos distribuem-se imperceptivelmente pelo espaço-tempo, conectando todos os sistemas individuais que a eles estão associados.
A analogia termina aqui, porém. Porque, ao contrário dos campos físicos, os campos mórficos de Sheldrake não envolvem transmissão de energia. Por isso, sua intensidade não decai com o quadrado da distância, como ocorre, por exemplo, com os campos gravitacional e eletromagnético. O que se transmite através deles é pura informação. É isso que nos mostra o exemplo dos macacos. Nele, o conhecimento adquirido por um conjunto de indivíduos agrega-se ao patrimônio coletivo, provocando um acréscimo de consciência que passa a ser compartilhado por toda a espécie.

Até os cristais
Oprocesso responsável por essa coletivização da informação foi batizado por Sheldrake com o nome de “ressonância mórfica”. Por meio dela, as informações se propagam no interior do campo mórfico, alimentando uma espécie de memória coletiva. Em nosso exemplo, a ressonância mórfica entre macacos da mesma espécie teria feito com que a nova técnica de quebrar cocos chegasse à ilha “B”, sem que para isso fosse utilizado qualquer meio usual de transmissão de informações.

Parece telepatia. Mas não é. Porque, tal como a conhecemos, a telepatia é uma atividade mental superior, focalizada e intencional que relaciona dois ou mais indivíduos da espécie humana. A ressonância mórfica, ao contrário, é um processo básico, difuso e não-intencional que articula coletividades de qualquer tipo. Sheldrake apresenta um exemplo desconcer- tante dessa propriedade.

Quando uma nova substância química é sintetizada em laboratório – diz ele -, não existe nenhum precedente que determine a maneira exata de como ela deverá cristalizar-se. Dependendo das características da molécula, várias formas de cristalização são possíveis. Por acaso ou pela intervenção de fatores puramente circunstanciais, uma dessas possibilidades se efetiva e a substância segue um padrão determinado de cristalização. Uma vez que isso ocorra, porém, um novo campo mórfico passa a existir. A partir de então, a ressonância mórfica gerada pelos primeiros cristais faz com que a ocorrência do mesmo padrão de cristalização se torne mais provável em qualquer laboratório do mundo. E quanto mais vezes ele se efetivar, maior será a probabilidade de que aconteça novamente em experimentos futuros.
Com afirmações como essa, não espanta que a hipótese de Sheldrake tenha causado tanta polêmica. Em 1981, quando ele publicou seu primeiro livro, A New Science of Life (Uma nova ciência da vida), a obra foi recebida de maneira diametralmente oposta pelas duas principais revistas científicas da Inglaterra. Enquanto a New Scientist elogiava o trabalho como “uma importante pesquisa científica”, a Nature o considerava “o melhor candidato à fogueira em muitos anos”.

Doutor em biologia pela tradicional Universidade de Cambridge e dono de uma larga experiência de vida, Sheldrake já era, então, suficientemente seguro de si para não se deixar destruir pelas críticas. Ele sabia muito bem que suas idéias heterodoxas não seriam aceitas com facilidade pela comunidade científica. Anos antes, havia experimentado uma pequena amostra disso, quando, na condição de pesquisador da Universidade de Cambridge e da Royal Society, lhe ocorreu pela primeira vez a hipótese dos campos mórficos. A idéia foi assimilada com entusiasmo por filósofos de mente aberta, mas Sheldrake virou motivo de gozação entre seus colegas biólogos. Cada vez que dizia alguma coisa do tipo “eu preciso telefonar”, eles retrucavam com um “telefonar para quê? Comunique-se por ressonância mórfica”.

Era uma brincadeira amistosa, mas traduzia o desconforto da comunidade científica diante de uma hipótese que trombava de frente com a visão de mundo dominante. Afinal, a corrente majoritária da biologia vangloriava-se de reduzir a atividade dos organismos vivos à mera interação físico-química entre moléculas e fazia do DNA uma resposta para todos os mistérios da vida. A realidade, porém, é exuberante demais para caber na saia justa do figurino reducionista.

Exemplo disso é o processo de diferenciação e especialização celular que caracteriza o desenvolvimento embrionário. Como explicar que um aglomerado de células absolutamente iguais, dotadas do mesmo patrimônio genético, dê origem a um organismo complexo, no qual órgãos diferentes e especializados se formam, com precisão milimétrica, no lugar certo e no momento adequado?

A biologia reducionista diz que isso se deve à ativação ou inativação de genes específicos e que tal fato depende das interações de cada célula com sua vizinhança (entendendo-se por vizinhança as outras células do aglomerado e o meio ambiente). É preciso estar completamente entorpecido por um sistema de crenças para engolir uma “explicação” dessas. Como é que interações entre partes vizinhas, sujeitas a tantos fatores casuais ou acidentais, podem produzir um resultado de conjunto tão exato e previsível? Com todos os defeitos que possa ter, a hipótese dos campos mórficos é bem mais plausível. Uma estrutura espaço-temporal desse tipo direcionaria a diferenciação celular, fornecendo uma espécie de roteiro básico ou matriz para a ativação ou inativação dos genes.

Ação modesta
Abiologia reducionista transformou o DNA numa cartola de mágico, da qual é possível tirar qualquer coisa. Na vida real, porém, a atuação do DNA é bem mais modesta. O código genético nele inscrito coordena a síntese das proteínas, determinando a seqüência exata dos aminoácidos na construção dessas macromoléculas. Os genes ditam essa estrutura primária e ponto.
“A maneira como as proteínas se distribuem dentro das células, as células nos tecidos, os tecidos nos órgãos e os órgãos nos organismos não estão programadas no código genético”, afirma Sheldrake. “Dados os genes corretos, e portanto as proteínas adequadas, supõe-se que o organismo, de alguma maneira, se monte automaticamente. Isso é mais ou menos o mesmo que enviar, na ocasião certa, os materiais corretos para um local de construção e esperar que a casa se construa espontaneamente.”
A morfogênese, isto é, a modelagem formal de sistemas biológicos como as células, os tecidos, os órgãos e os organismos seria ditada por um tipo particular de campo mórfico: os chamados “campos morfogenéticos”. Se as proteínas correspondem ao material de construção, os “campos morfogenéticos” desempenham um papel semelhante ao da planta do edifício. Devemos ter claras, porém, as limitações dessa analogia. Porque a planta é um conjunto estático de informações, que só pode ser implementado pela força de trabalho dos operários envolvidos na construção. Os campos morfogenéticos, ao contrário, estão eles mesmos em permanente interação com os sistemas vivos e se transformam o tempo todo graças ao processo de ressonância mórfica.

Tanto quanto a diferenciação celular, a regeneração de organismos simples é um outro fenômeno que desafia a biologia reducionista e conspira a favor da hipótese dos campos morfogenéticos. Ela ocorre em espécies como a dos platelmintos, por exemplo. Se um animal desses for cortado em pedaços, cada parte se transforma num organismo completo.

Forma original
Como mostra a ilustração da página ao lado, o sucesso da operação independe da forma como o pequeno verme é seccionado. O paradigma científico mecanicista, herdado do filósofo francês René Descartes (1596-1650), capota desastrosamente diante de um caso assim. Porque Descartes concebia os animais como autômatos e uma máquina perde a integridade e deixa de funcionar se algumas de suas peças forem retiradas. Um organismo como o platelminto, ao contrário, parece estar associado a uma matriz invisível, que lhe permite regenerar sua forma original mesmo que partes importantes sejam removidas.

A hipótese dos campos morfogenéticos é bem anterior a Sheldrake, tendo surgido nas cabeças de vários biólogos durante a década de 20. O que Sheldrake fez foi generalizar essa idéia, elaborando o conceito mais amplo de campos mórficos, aplicável a todos os sistemas naturais e não apenas aos entes biológicos. Propôs também a existência do processo de ressonância mórfica, como princípio capaz de explicar o surgimento e a transformação dos campos mórficos. Não é difícil perceber os impactos que tal processo teria na vida humana. “Experimentos em psicologia mostram que é mais fácil aprender o que outras pessoas já aprenderam”, informa Sheldrake.

Ele mesmo vem fazendo interessantes experimentos nessa área. Um deles mostrou que uma figura oculta numa ilustração em alto constraste torna-se mais fácil de perceber depois de ter sido percebida por várias pessoas (veja o quadro na página ao lado). Isso foi verificado numa pesquisa realizada entre populações da Europa, das Américas e da África em 1983. Em duas ocasiões, os pesquisadores mostraram as ilustrações 1 e 2 a pessoas que não conheciam suas respectivas “soluções”. Entre uma enquete e outra, a figura 2 e sua “resposta” foram transmitidas pela TV. Verificou-se que o índice de acerto na segunda mostra subiu 76% para a ilustração 2, contra apenas 9% para a 1.

Aprendizado
Se for definitivamente comprovado que os conteúdos mentais se transmitem imperceptivelmente de pessoa a pessoa, essa propriedade terá aplicações óbvias no domínio da educação. “Métodos educacionais que realcem o processo de ressonância mórfica podem levar a uma notável aceleração do aprendizado”, conjectura Sheldrake. E essa possibilidade vem sendo testada na Ross School, uma escola experimental de Nova York dirigida pelo matemático e filósofo Ralph Abraham.

Outra conseqüência ocorreria no campo da psicologia. Teorias psicológicas como as de Carl Gustav Jung e Stanislav Grof, que enfatizam as dimensões coletivas ou transpessoais da psique, receberiam um notável reforço, em contraposição ao modelo reducionista de Sigmund Freud (leia o artigo “Nas fronteiras da consciência”, em Globo Ciência nº 32).

Sem excluir outros fatores, o processo de ressonância mórfica forneceria um novo e importante ingrediente para a compreensão de patologias coletivas, como o sadomasoquismo e os cultos da morbidez e da violência, que assumiram proporções epidêmicas no mundo contemporâneo, e poderia propiciar a criação de métodos mais efetivos de terapia.

“A ressonância mórfica tende a reforçar qualquer padrão repetitivo, seja ele bom ou mal”, afirmou Sheldrake a Galileu. “Por isso, cada um de nós é mais responsável do que imagina. Pois nossas ações podem influenciar os outros e serem repetidas”.

De todas as aplicações da ressonância mórfica, porém, as mais fantásticas insinuam-se no domínio da tecnologia. Computadores quânticos, cujo funcionamento comporta uma grande margem de indeterminação, seriam conectados por ressonância mórfica, produzindo sistemas em permanente transformação. “Isso poderia tornar-se uma das tecnologias dominantes do novo milênio”, entusiasma-se Sheldrake.

Sem nenhum contato entre si, macacos de uma ilha incorporam os conhecimentos desenvolvidos na outra.É os campos invisíveis comandariam
processos e atitudes: da formação do embrião aos modismos

O desenvolvimento do embrião (ao alto): a ciência reducionista não explica como é que células iguais formam órgãos tão diferentes. Nas outras imagens, a moda do piercing e da tatuagem e a febre do futebol, que toma conta do Brasil nas copas do mundo: comportamentos que poderiam ser influenciados pela ressonância mórfica

É mais fácil aprender o que já foi aprendido por outros:
a idéia que pode mudar o ensino
A regeneração do platelminto (no pé da página): um fenômeno que desafia a biologia mecanicista. Na outra imagem, uma aula no interior do Brasil: processo que pode estar sendo facilitado pelo ensino praticado
em qualquer parte do mundo

Descubra as figuras ocultas
Um experimento coordenado por Sheldrake mostrou que é mais fácil identificar uma figura oculta numa ilustração em alto contraste depois de ela já ter sido percebida por outras pessoas. O índice de acerto para a ilustração 2 cresceu 76% depois de ela ter sido transmitida pela televisão. O da ilustração 1, que não foi televisionada, subiu apenas 9%. A enquete foi realizada na Europa, nas Américas e na África e as pessoas entrevistadas não conheciam de antemão as “respostas”. As ilustrações 3 e 4, no pé da página, estão sendo publicadas atualmente na Internet pela revista espanh
ola El Mercurio. Quem quiser participar da pesquisa deve acessar o endereço http://www.mercurialis.com/ciencia/sheldrake/ introduccion.html

Abaixo, os melhores momentos da palestra de Rupert Sheldrake, intitulada “A mente ampliada” (que pode ser lida integralmente aqui):

*publicado originalmente em http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2007/06/campos_morfogeneticos.html

EXPERIMENTO DO CACHORRO

Deixe-me dar um exemplo do tipo de histórias que temos em nosso banco de dados, sobre um cachorro que sabe quando seu dono está chegando em casa. Essa é de uma pessoa no Havaí: “Meu cachorro Debby sempre fica esperando na porta uma meia hora antes de meu pai chegar em casa do trabalho. Como meu pai estava no exército, ele tinha um horário de trabalho muito irregular. Não fazia diferença se meu pai ligava antes, e uma época eu achei que o cachorro reagia à chamada telefónica, mas isso obviamente não era o caso, porque às vezes meu pai dizia que estava vindo para casa mais cedo, mas tinha que ficar até mais tarde. Às vezes ele nem telefonava. O cachorro nunca se enganava, portanto eu eliminei a teoria do telefone. Minha mãe foi a primeira pessoa que notou esse comportamento. Ela estava sempre preparando o jantar quando o cachorro ia para a porta. Se o cachorro não fosse até a porta, nós sabíamos que papai ia chegar mais tarde. Se ele chegasse tarde, o cachorro mesmo assim o esperava, mas só quando ele já estivesse no caminho de casa”.

Temos agora em nosso banco de dados cerca de 580 relatos de cachorros que fazem isso, e cerca de 300 relatos de gatos que fazem isso, com esse tipo de qualidades. O cético de carteirinha irá dizer “bem, é apenas uma rotina”, mas na maioria dos casos não é uma rotina (se fosse as pessoas nem notariam). O próximo argumento do cético de carteirinha é “bom, o que deve acontecer é que as pessoas da casa sabem quando o dono está vindo e com isso seu estado emocional muda, e o animal capta essa mudança através de deixas sutis”. Bem, é claro que isso é possível se as pessoas realmente prevêem que alguém está vindo para casa, seu estado emocional pode mudar, elas podem ficar excitadas ou talvez deprimidas e o animal pode captar essa mudança emocional e reagir a ela. Mas, em muitos dos casos, as pessoas na casa não sabem quando a outra está vindo para casa, é o animal que lhes diz, e não elas que dizem ao animal.

Quando eu estava discutindo esse assunto com Nicholas Humphrey, meu amigo cético disse: “bem, tudo isso ainda não elimina a possibilidade de que eles ouvem o barulho do motor do carro, um motor de carro familiar a 30, 40 quilômetros de distância”, e eu disse: “isso é obviamente impossível”. E ele: “pelo contrário, apenas demonstra como a audição dos cachorros é aguçada”. Foi essa discussão que levou à ideia de fazer um experimento. Eu disse: “OK, e se eles vierem para casa de táxi, ou no carro de um amigo, ou de trem, ou de bicicleta da estação em uma bicicleta emprestada, para que não haja sons familiares?” E ele disse: “nesse caso, o cachorro não reagiria”, e desde a publicação deste livro eu já descobri muitos cachorros, gatos e outros animais que fazem isso.

Telefonamos para pessoas escolhidas aleatoriamente usando técnicas padronizadas de amostragem e perguntamos se elas tinham animais. Dos donos de animais, havia mais donos de cachorros do que de gatos na maior parte das localidades. Perguntávamos: então “seu animal parece saber previamente quando um membro da família está vindo para casa?” Aproximadamente 50% dos donos de cachorro em todas as localidades disseram que sim – em Los Angeles foram mais de 60% – e podemos ver através desses resultados que os gatos em todas as localidades fazem isso menos que os cachorros.

Nos primeiros experimentos que foram feitos, pedíamos às pessoas que anotassem em um caderno o comportamento do cachorro, mas os céticos disseram: “bem, assim você tem uma tendência subjetiva”. Portanto, agora nós fazemos uma fita de vídeo de todos os experimentos. Temos uma câmera de vídeo em tripé, apontando para o lugar onde o cachorro ou o gato esperam pela pessoa que vem para casa. Há um controle de tempo na câmera e ela fica funcionando por horas. Então, temos horas de filme que irão mostrar se o cachorro ou o gato vão até a janela, e por quanto tempo ficam lá, um registro objetivo e perfeito. O que vou lhes mostrar é um vídeo de um desses experimentos que foi feito com um cachorro com que trabalhei principalmente na Inglaterra. O cachorro chama-se JT e o nome de sua dona é Pam. Quando Pam sai, ela deixa JT com seus pais, que vivem no apartamento ao lado do dela. Eles observaram há muitos anos que JT sempre ia para a janela quando Pam estava a caminho de casa, ou quase sempre. Esse experimento foi filmado profissionalmente pela televisão estatal austríaca, e foi filmado com duas câmeras, para que pudéssemos ver o cachorro e a pessoa que estava na rua ao mesmo tempo. E foi combinado que eles escolhessem as horas de sua vinda para casa de maneira aleatória, que nem ela mesma soubesse previamente, que ninguém soubesse previamente; e ela viria para casa de táxi, para eliminar a possibilidade de sons de carros familiares. Esse, portanto, é um experimento que foi realizado dentro dessas condições.

Na vida real, Pam não vem para casa em horas escolhidas aleatoriamente, e que ela própria desconheça previamente. Quando está no trabalho, ou quando sai para fazer compras ou visitar amigos, ela vem para casa em vários momentos diferentes, e nós monitoramos regularmente as horas em que ela volta, mais de 200 experimentos foram monitorados, temos dezenas deles em vídeo. O cachorro nem sempre reage, cerca de 85% das vezes JT realmente espera por ela quando ela está vindo para casa, cerca de 15% ele não o faz. Analisamos as ocasiões em que ele não faz, a maioria das vezes ocorreu quando a cadela do apartamento vizinho estava no cio. Isso mostra que JT pode se distrair. Isso também ocorreu algumas vezes quando havia visitas na casa ou outro cachorro, e algumas vezes sem nenhum motivo. De qualquer forma, JT normalmente reage quando Pam decide que vai para casa. No filme vê-se que ele não começa a reagir quando ela entra no táxi, e sim quando ela estava pronta para ir para casa. Na vida real ele não reage quando ela entra no carro para ir para casa, e sim quando ela começa a se despedir dos amigos e pensando “bem, vou-me embora”. Ele parece captar essa intenção dela. É bem verdade que JT vai até a janela ocasionalmente quando Pam não está a caminho de casa, normalmente porque vai latir para um gato que passa na rua ou está olhando alguma coisa que está acontecendo do lado de fora. Nesses gráficos incluímos todos esses casos, embora fique claro no vídeo que ele não está esperando, mas como os céticos dizem que, se você usar evidência seletiva isso demonstra que você inventou a coisa toda, não fizemos nenhuma seleção aqui. Às vezes há uns trechos barulhentos, quando ele vai até a janela de qualquer maneira, mas podemos ver que isso é a média de 12 ocasiões diferentes quando ela estava fora por mais de 3 horas. O tempo que ele está esperando na janela é maior quando ela está no caminho de casa do que quando ela não está. Vemos um pequeno aumento antes de ela ir para casa que, a meu ver, tem relação com esse efeito antecipatório.

JT está obviamente esperando por ela principalmente quando ela está no caminho de casa. O que é claro nesses gráficos é que JT não vai para a janela com mais frequência quanto mais tempo ela estiver fora. Ele obviamente está muito mais na janela aqui, quando ela está no caminho de volta, do que nos períodos correspondentes aqui. Esses efeitos têm uma enorme significância estatística. Vários tipos de análise mostram significâncias que vão mais além da escala de meu computador. Esses efeitos são do tipo p é menor que .00001.

Esses resultados foram amplamente publicados na Grã-Bretanha, nos jornais, e – é claro – foram criticados pelos céticos, que estão sempre prontos para dizer que nada semelhante poderia ocorrer. Um dos céticos mais ativos na Grã-Bretanha, cujo nome é Richard Wiseman, disse que eu não tinha usado procedimentos adequados, não os tinha registrado de forma adequada, etc. Eu fiz também muitos experimentos com horas de retorno aleatórias. Pam tem umpager em seu bolso que eu ativei por telefone de Londres e ela vem para casa em momentos verdadeiramente aleatórios, usando um desses pagers da telecom. De qualquer forma, ele criticou os detalhes, então eu disse: “Tudo bem, por que você mesmo não faz o experimento? Eu organizo tudo para que você possa fazê-lo com o mesmo cachorro. Emprestamos uma câmera de vídeo, Pam irá onde você quiser, o seu ajudante ficará observando-a”. Na verdade, então, o próprio Wiseman filmou o cachorro e ficou no apartamento dos pais da Pam, enquanto seu ajudante ia com a Pam para pubs, ou outros lugares, até que em um momento determinado aleatoriamente fosse decidido que eles voltariam para casa. Eles checavam o tempo todo para garantir que não haveria chamadas telefônicas secretas, nenhum meio de comunicação invisível, nenhuma fraude ou trapaça.

Wiseman é um mágico, e ele é um desses céticos que está sempre afirmando que tudo pode ser feito por trapaça ou ilusionismo. Bem, ele mesmo esteve lá, e eles estavam se protegendo de tudo, e ele realizou três experimentos com Pam na casa de seus pais, e esses foram os resultados dos três experimentos que ele fez, usando todos seus controles rigorosíssimos, seu próprio procedimento aleatório, e outras coisas mais (os resultados são exatamente iguais aos outros; o público ri). Portanto, esses resultados são sólidos, mesmo com um cético, que ao fazer o experimento na verdade não quer que ele dê certo. Atualmente realizo uma série de experimentos em Santa Cruz, Califórnia, com um tipo de periquito italiano que mostra o mesmo tipo de reação: eles guincham quando o dono está vindo para casa, e obtemos quase o mesmo tipo de gráficos, mostrando que os guinchos vão aumentando de intensidade quando o dono está a caminho de casa em horas aleatórias.

Um cão e um ser humano, quando formam uma união entre eles, são parte de um grupo social. Os cães são animais intensamente sociais, eles descendem dos lobos que têm uma vida social intensa. Portanto, eu acho que o que ocorre quando uma pessoa sai de casa, é que ela ainda continua conectada pelo campo mórfico da família, do qual o cão é parte. O campo mórfico se estica, por assim dizer, mas eles ainda estão ligados por esse campo mórfico, e é devido a essa conexão contínua invisível que a informação pode viajar, as intenções da pessoa podem afetar o cachorro em casa.

Portanto, eu interpreto tudo isso em termos de campos mórfícos. É claro, outras pessoas podem querer interpretá-lo em termos de outras coisas, e pode ser que isso esteja relacionado com a não-localidade quântica, ninguém sabe. Existem na física quântica, fenômenos não-locais misteriosos, sistemas que foram conectados como parte do mesmo sistema, e quando são separados retêm essa conexão não-local e não separável à distância. Bem, uma pessoa e um cachorro, que estiveram conectados por terem vivido juntos como companheiros, quando se separam podem ter uma conexão não-local semelhante. Mas ninguém sabe se essa não-localidade quântica se estende aos fenômenos macroscópicos ou não.

MEMÓRIA COLETIVA

Acho que esses campos têm uma espécie de memória, essa é minha ideia de ressonância mórfíca, o que significa que cada tipo de campo mórfico tem uma memória de sistemas passados semelhantes, por meio de um processo de ressonância através do espaço e do tempo. Os campos são locais, estão dentro e ao redor do sistema que eles organizam, mas sistemas semelhantes têm uma influência não-local através do espaço e do tempo, oriunda da ressonância mórfíca, que dá uma memória coletiva para cada espécie. Não tenho tempo de explicar os detalhes da teoria da ressonância mórfíca, a não ser para dizer que cada espécie neste planeta teria uma memória coletiva. Todos os ratos extrairiam memórias da memória coletiva de ratos anteriores. Se ratos aprenderem um novo truque no laboratório, outros ratos em outros locais deveriam ser capazes de aprender o mesmo truque mais rapidamente. Haja evidência, que eu discuti em meus livros, de que isso realmente ocorre.

No reino humano, se as pessoas aprendem uma nova habilidade, como windsurf, ou andar de skate, ou programação de computador, o fato de que muitas pessoas já aprenderam a mesma coisa deveria fazer com que fosse mais fácil para os outros aprenderem. Bem, essa é uma teoria que, claramente, é muito polêmica, e eu a descrevi em detalhe em meus livros A new science of life e A presença do passado. Já houve um número considerável de testes experimentais, e quando um número grande de pessoas está envolvida, eles dão resultados positivos; com uma amostra pequena (20, 30 pessoas) aprendendo algo novo, os resultados são às vezes positivos e às vezes não significativos. Esses efeitos são relativamente pequenos e difíceis de detectar no contexto de variações individuais. Mas há certos tipos de evidência que surgiram espontaneamente, que são relevantes aqui, e um deles está relacionado com testes de QI. Como vocês sabem, os testes padrão de QI vêm sendo ministrados por muitos anos para medir a inteligência e esses mesmos testes são aplicados ano após ano. Foram feitos estudos para examinar a contagem de testes de QI no decorrer do tempo; quando examinamos o desempenho absoluto nesses testes – e aqui estamos falando de testes feitos por milhões de pessoas – os testes mostram um efeito muito interessante que foi descoberto pela primeira vez por James Flynn, e portanto é chamado de Efeito Flynn: há um aumento misterioso e inesperado nas porcentagens do QI com o correr do tempo. Aqui temos um gráfico mostrando resultados de testes de QI, tirado de um número recente da revista Scientific American. As porcentagens aumentaram uns três por cento a cada década, não só nos Estados Unidos, mas também na Inglaterra, na Alemanha e na França. Por que o QI é uma questão polêmica na psicologia, tem havido muita discussão sobre a razão pela qual isso aconteceu: melhor nutrição, escolas melhores, mais experiência com os testes, e assim por diante. Mas nenhuma dessas teorias foi capaz de explicar mais do que uma fração desse efeito. O próprio Flynn, após 10 anos pensando sobre isso, e testando todas essas explicações, chegou à conclusão que o efeito é desconcertante, não há explicação para ele na ciência convencional. No entanto, é apenas o tipo de efeito que seria de se esperar com a ressonância mórfíca. Não é porque as pessoas estão realmente ficando mais inteligentes, mas o que está acontecendo é que elas simplesmente estão mais eficientes quando fazem os testes de QI, e eu acho que isso ocorre porque milhões de pessoas já fizeram os mesmos testes.

CRISTAIS

Se você fizer um novo cristal que nunca existiu antes, não poderia existir um campo mórfico para esse cristal. Essa teoria se aplica também a moléculas. Se você a cristalizar repetidamente, o campo mórfico ficará mais forte, e ficaria mais fácil para a substância se cristalizar. Na verdade isso é um fato bem conhecido dos químicos, que os novos compostos se cristalizam com mais facilidade com o passar do tempo nos vários laboratórios. A explicação desses químicos é que isso ocorre porque fragmentos dos cristais anteriores são levados de um laboratório para o outro, nas barbas de químicos migrantes, ou que foram transportados da atmosfera como partículas invisíveis de poeira. Mas eu estou sugerindo que isso poderia ser um efeito da ressonância mórfica e essa é uma das áreas em que ela pode ser testada. Na química existem também outras áreas onde ela pode ser testada.

O UNIVERSO E OS ANJOS

Átomos, moléculas, cristais, organelas, células, tecidos, órgãos, organismos, sociedades, ecossistemas, sistemas planetários, sistemas solares, galáxias: cada uma dessas entidades estaria associada a um campo mórfogenético específico. São eles que fazem com que um sistema seja um sistema, isto é, uma totalidade articulada e não um mero ajuntamento de partes.

Se, através da teoria de Gaya, estamos passando a enxergar a Terra como um organismo vivo, então será que a Terra pensa? Será que ela poderia ser consciente? E o Sol? Todas as religiões tradicionais tratam o Sol como sendo consciente. É um deus (Hélios), na religião grega. Mitra, na Pérsia. Surya, na Índia, onde seus devotos o saúdam pela manhã, através de um exercício de yoga chamado Surya namaskar. Portanto, estas são tradições que existem em todas as partes, mas, é claro, para nós, com uma estrutura científica, o Sol é apenas uma grande explosão nuclear do tipo que ocorre o tempo todo emitindo radiação.

O Sol, sabemos hoje em dia, tem uma série incrível de mutações de ressonância elétrica e magnética ocorrendo em seu interior: ciclos de onze anos, explosões de manchas solares, dinâmica caótica, freqüências ressonantes. Atualmente sistemas estão monitorando, com um detalhamento anteriormente considerado impossível, essas incríveis mudanças eletromagnéticas – minuciosas e complexas – que estão ocorrendo no Sol. Bem, se padrões elétricos complexos são uma interface suficiente para a consciência e o cérebro humano, por que é que o Sol não poderia tê-los também? Por que o Sol não poderia pensar? E se o Sol é consciente, por que não as estrelas? E se as estrelas são conscientes, por que não as galáxias? Essas últimas teriam uma consciência de um tipo muito mais inclusivo do que a das estrelas que elas contêm. E se galáxias, por que não os grupos de galaxias? Então teríamos uma idéia de níveis hierárquicos de consciência por todo o universo. É claro, na tradição ocidental, como em todas as tradições, temos uma idéia exatamente desse tipo. A idéia das hierarquias dos anjos na Idade Média não era a de seres com asas – isso era apenas uma maneira bastante ingênua de representá-los. Eles eram compreendidos tradicionalmente como níveis de consciência além do humano. Havia nove níveis, dos quais três ou mais eram relacionados com as estrelas e com a organização de corpos celestiais. Eles eram as inteligências das estrelas e dos planetas, os três níveis intermediários dos anjos. Portanto, já existe a tradição no ocidente sobre uma consciência super-humana.

Referência: Site de Rupert Sheldrake;
O Renascimento da Natureza: o Reflorescimento da Ciência e de Deus; Rupert Sheldrake – Ed. Cultrix;
Caos, Criatividade e o Retorno do Sagrado: Triálogos nas Fronteiras do Ocidente; Ralph Abraham, Terence McKenna e Rupert Sheldrake – Ed. Cultrix/Pensamento;
A revolução da consciência – novas descobertas sobre a mente no século XXI; Francisco Di Biase e Richard Amoroso – Ed. Vozes;
(1994). Seven experiments that could change the world. Londres, Fourth Estate;
(l998). The sense of being stared at: experiments in schools. Journal of the Society for PsychicalResearch, 62, p. 311-323;
(1998). Experimenter effects in scientific research: how widely are they neglected? Journal of Scientific Exploration, 12, p. 73-78;
(1999). The sense of being stared at confirmed by simple experiments. Biology Forum, 92, p. 53-76;
(1999). Dogs that know when their owners are coming home. Londres, Hutchinson;
(1999). How widely is blind assessment used in scientific research? Alternative Therapies, 5, p. 88-90.

O Eu e o Inconsciente – C.G.Jung

Segue abaixo um trecho editado do capítulo “A persona como segmento da psique coletiva” extraído do livro “O Eu e o Incosciente” de C. G. Jung

Neste capítulo abordaremos um problema que, se negligenciado, causará a maior confusão. Mencionei antes que, na análise do inconsciente pessoal, a primeira coisa a ser acrescentada à consciência é constituída por conteúdos pessoais; sugeri que tais conteúdos reprimidos podem ser conscientizados, representando o que poderíamos chamar de inconsciente pessoal. Mostrarei também que, através da anexação das camadas mais profundas do inconsciente, para os quais propus o nome de inconsciente coletivo, se produz uma ampliação da personalidade, que pode levar à inflação. Tal estado ocorre mediante o mero prosseguimento do trabalho analítico, como no caso antes citado. Continuando a análise, acrescentamos à consciencia pessoal certas qualidades básicas e impessoais da humanidade, fato este que desencadeia a inflação descrita anteriormente e que pode ser encarada como uma das consequências desagradáveis da plena conscientização. (1) A consciência pessoal é mais ou menos um segmento arbitrário da psique coletiva.

1. Este fenômeno decorrente da expansão da consciência não é de forma alguma específico do tratamento analítico, mas ocorre sempre que os homens são subjulgados por um novo saber ou conhecimento. “O saber infla”, escreve S. Paulo na epístola aos coríntios, pois o novo conhecimento subira à cabeça de alguns, como sempre sucede. A inflação nada tem a ver com a espécie do conhecimento, mas sim com o modo pelo qual ele se apodera de uma cabeça fraca, quando o indivíduo torna-se incapaz de ver ou ouvir qualquer outra coisa. Fica como que hipnotizado e acredita ter descoberto a solução do enigma universal. Isto já significa presunção. Tal processo é uma forma de reação tão geral que já no livro do Gênesis 2,17 comer da árvore do conhecimento representa um pecado que conduz à morte. Não é fácil de compreender por que um acréscimo de consciência, acompanhado de presunção, é tão perigoso. O Gênesis representa o ato de consciência como uma infração do tabu, como se através do conhecimento se transpusesse criminosamente um limiar sacrossanto. Creio que o Gênesis está certo, na medida em que cada passo em direção a uma consciência mais ampla é uma espécie de culpa prometêica: mediante o conhecimento rouba-se, por assim dizer, o fogo dos deuses, isto é, o patrimônio dos poderes inconscientes é arrancado do contexto natural e subordinado à arbitrariedade da consciência. O homem que usurpou o novo conhecimento sofre uma transformação ou alargamento da consciência, mediante o nível humano de sua época (“sereis semelhantes a Deus”), mas isto o afasta dos homens. O tormento dessa solidão é a vingança dos deuses: tal homem não poderá voltar ao convívio humano. Como diz o mito, é agrilhoado à solitária rocha do Cáucaso, abandonado por deuses e homens.

Ela consiste numa soma de fatos psíquicos sentidos como algo de pessoal. O atributo “pessoal” significa: pertencente de modo exclusivo a uma dada pessoa. Uma consciência apenas pessoal acentua com certa ansiedade seus direitos de autor e de propriedade no que concerne aos seus conteúdos, procurando deste modo criar um todo. Mas todos os conteúdos que não se ajustam a esse todo são negligenciados, esquecidos, ou então reprimidos e negados. Isto constitui uma forma de auto-educação que não deixa de ser, porém, demasiado arbitrária e violenta. Em benefício de uma imagem ideal, à qual o indivíduo aspira moldar-se, sacrifica-se muito de sua humanidade. Indivíduos desse tipo, extremamente pessoais, costumam ser muito sensitivos, já que é tão fácil ocorrer-lhes algo que traz à consciência certos detalhes indesejáveis de seu verdadeiro caráter (“individual”).

A este segmento arbitrário da psique coletiva, elaborado às vezes com grande esforço, dei o nome de persona. A palavra persona é realmente uma expressão muito apropriada, porquanto designava originalmente a máscara usada pelo autor, significando o papel que ia desempenhar. Se tentarmos estabelecer uma distinção entre o material psíquico consciente e o inconsciente, logo nos encontraremos diante do maior dilema: no fundo teremos de admitir que a afirmação acerca do inconsciente coletivo, isto é, de que seus conteúdos são gerais, também é válida no que concerne aos conteúdos da persona. Sendo esta última um recorte mais ou menos arbitrário e acidental da psique coletiva, cometeríamos um erro se a considerássemos (à persona), in toto, como algo de “individual”. Como seu nome revela, ela é uma simples máscara da psique coletiva, uma máscara que aparenta uma individualidade, procurando convencer aos outros e a si mesma que é uma individualidade, quando, na realidade, não passa de um papel, no qual, no qual fala a psique coletiva.

Ao analisarmos a persona, dissolvemos a máscara e descobrimos que, aparentando ser individual, ela é no fundo coletiva: em outras palavras, a persona não passa de uma máscara da psique coletiva. No fundo, nada tem de real; ela representa um compromisso entre o indivíduo e a sociedade, acerca daquilo que “alguém parece ser: nome, título, ocupação, isto ou aquilo. De certo modo, tais dados são reais; mas em relação à individualidade essencial da pessoa, representam algo de secundário, uma vez que resultam de um compromisso no qual outros podem ter uma quota maior do que a do indivíduo em questão. A persona é uma aparência, uma realidade bidimensional, como se poderia designá-la ironicamente.

Seria incorreto, porém, encerrar o assunto, sem reconhecer que subjaz algo de individual na escolha e na definição da persona; embora a consciência do ego possa identificar-se com ela de modo exclusivo, o si-mesmo inconsciente, a verdadeira individualidade, não deixa de estar sempre presente, fazendo-se sentir de forma indireta. Assim, apesar da consciência do ego identificar-se inicialmente com a persona – essa figura de compromisso que representamos diante da coletividade, o si-mesmo inconsciente não pode ser reprimido a ponto de extinguir-se. Sua influência manifesta-se principalmente no caráter especial dos conteúdos contrastantes e compensadores do inconsciente. A atitude meramente pessoal da consciência produz reações da parte do inconsciente e estas, juntamente com as repressões pessoais, contêm as sementes do desenvolvimento individual, sob o invólucro de fantasias coletivas. Mediante a análise do inconsciente pessoal, a consciência abre-se e é alimentada pelo material coletivo, que traz consigo elementos da individualidade. Sei muito bem que isto é incompreensível para os que desconhecem meus pontos de vista e minha técnica e principalmente para os que encaram o inconsciente do ponto de vista freudiano. Mas se o leitor lembrar-se do exemplo já citado da estudante de filosofia, poderá ter uma idéia aproximada do que aqui estou tentando formular. No início do tratamento, a enferma era quase inconsciente da fixação que subjazia à sua relação com o pai. Ignorava de um modo quase total que buscava um homem semelhante ao pai, fato este com que seu intelecto logo se defrontou. Isto não constituiria propriamente um erro se seu intelecto não tivesse aquele caráter de protesto peculiar, infelizmente comum nas mulheres intelectuais. Esse tipo de intelecto se caracteriza pela tendência de apontar os erros alheios; é crítico em demasia, de tonalidade desagradavelmente pessoal, com a pretensão, no entanto, de ser objetivo. Isto geralmente irrita os homens, sobretudo se a crítica a eles endereçada (como acontece muitas vezes) tocar-lhes um ponto fraco; em benefício de uma discussão fecunda, seria justamente este o ponto a evitar. Longe disto, é uma peculiaridade infeliz de tal tipo de mulher procurar os pontos fracos do homem e fixá-los, exasperando o interlocutor. Em geral, sua intenção não é consciente; pelo contrário, seu propósito inconsciente é o de impelir o homem a uma posição superior, tornando-o deste modo um objeto de admiração. Mas em geral este não percebe que está sendo forçado a assumir o papel de herói; na realidade acha esses insultos tão odiosos que tratará de desviar-se o mais possível de tal mulher. Finalmente, o único homem que lhe restará só poderá ser o que desde o início se apequenou e que, portanto, nada tem de admirável.

(…) Depois desta digressão, voltemos ás reflexões iniciais. Uma vez abolidas as repressões de ordem pessoal, a individualidade e a psique coletiva começam a emergir, fundidas uma na outra, liberando as fantasias pessoais até então reprimidar. Aparecem sonhos e fantasias, que se revestem de um aspecto diferente. O “cósmico” parece ser um sinal inefável das imagens coletivas; as imagens de sonhos e fantasias são associadas ao eterno “cósmico”, tais como tempo e espaço infinitos, a enorme velocidade e a extensão dos movimentos, conexões “astrológicas”, analogias telúricas, lunares e solares, alterações nas proporções do corpo, etc. O aparecimento de motivos mitológicos e religiosos nos sonhos também indica a atividade do inconsciente coletivo. O elemento coletivo é anunciado muitas vezes por sintomas peculiares: (2) sonhos em que se voa através do espaço, a modo de um cometa, ou se tem a impressão de ser a terra, o sol ou uma estrela; ora se é extraordinariamente grande, ora pequeno como um anão; ou, como um morto, chega-se a um lugar estranho, num estado de alheamento, confusão, loucura, etc. Do mesmo modo, podem ocorrer sentimentos de desorientação, vertigem e outros semelhantes, juntamente com os sintomas de inflação

(2)Não será demais observar que os elementos coletivos dos sonhos não ocorrem apenas neste estádio do tratamento analítico. Há muitas espécies de situações psicológicas nas quais se manifesta a atividade do inconsciente coletivo. Mas não é este o lugar adequado para o exame dessas condições.

A riqueza de possibilidades da psique coletiva confunde e ofusca. Com a issolução da persona desencadeia-se a fantasia espontânea, a qual, aparentemente, não é mais do que a atividade específica da psique coletiva. Tal atividade traz à tona conteúdos, cuja existência era antes totalmente ignorada. Na medida em que aumenta a influência do inconsciente coletivo, a consciência perde seu poder de liderança. Imperceptivelmente, vai sendo dirigida, enquanto o processo inconsciente e impessoal toma o controle. Assi pois, sem que o perceba, a personalidade consciente, como se fora uma peça entre outras num tabuleiro de xadrez, é movida por um jogador invisível. É este quem decide o jogo do destino e não a consciência e suas intenções. No exemplo anteriormente citado, foi deste modo que se processou a liberação da transferncia, apesar de afigurar-se tão impossível à consciência.

Sempre que surja uma dificuldade aparentemente insuperável, é inevitável ter-se que mergulhar neste processo. Entretanto, nem sempre ocorre tal necessidade, uma vez que a maioria dos casos de neurose só pede a remoção de dificuldades temporárias de adaptação. Mas os casos graves não podem ser curados, sem uma profunda “mudança do caráter” ou da atitude. Na maioria dos casos, a adaptação à realidade exterior exige tanto trabalho, que a adaptação interior, voltada para o inconsciente coletivo, só pode ser considerada a longo prazo. No entantp, quando a adaptação interior se torna um problema, provém do inconsciente uma atração singular e irresistível, que exerce uma influência poderosa na direção do consciente da vida. A predominância das influências inconscientes, assim como a desintegração da persona e a redução da força condutora do consciente constituem um estado de desequilíbrio psíquico, induzido artificialmente no decorrer do tratamento analítico; é claro que a intenção desta terapia é a de resolver uma dificuldade inibidora que barra a via de um desenvolvimento ulterior. Naturalmente há inúmeros obstáculos que podem ser superados com um bom conselho e com um pouco de ajuda moral, ajudados pela boa vontade e compreensão por parte do paciente. Deste modo são obtidos excelentes resultados e até mesmo a cura. Não são raros os casos em que não há necessidade de dizer uma só palavra acerca do inconsciente. No entanto, há dificuldades frente as quais não se vislumbra qualquer solução satisfatória. Nessa eventualidade, se o transtorno do equilíbrio psíquico não ocorreu antes do tratamento, certamente aparecerá durante a análise, e ás vezes sem qualquer interferência do médico. É como se tais pacientes estivessem à espera de uma pessoa de confiança a fim de entregar-se e sucumbir. Essa perda de equilíbrio é, em princípio, semelhante a um distúrbio psicótico; isto é, difere dos estádios iniciais da doença mental pelo fato de conduzir finalmente a uma saúde mais plena, enquanto que nas psicoses há uma destruição crescente. No primeiro caso, a pessoa entra em pânico e como que se abandona diante de complicações aparentemente desesperadas. Em geral, tudo começa por um esforço pertinaz de dominar a situação problemática pela força de vontade; ocorre então o colapso e essa vontade diretora é completamente aniquilada. A energia assim liberada desaparece do consciente e cai no inconsciente. É então que costumam sobrevir os primeiros sinais da atividade inconsciente. (assinalo aqui o exemplo do jovem que sucumbiu à psicose.) Evidentemente, nesse caso, a energia que desapareceu da consciência ativou o inconsciente. O resultado imediato foi a brusca alteração dos sentidos. Podemos imaginar que se o jovem mencionado tivesse uma mente mais forte, tomaria a visão das estrelas como uma imagem salvadora, conseguindo então encarar o sofrimento humano sub specie aeternitatis, e neste caso seu equilíbrio seria restaurado. (3)

Deste modo, um obstáculo aparentemente invencível seria superado. Assim, pois, encaro a perda de equilíbrio como algo adequado, pois substitui uma consciência falha, pela atividade automática e instintiva do inconsciente, que sempre visa a criação de um novo equilíbrio; tal meta será alcançada sempre que a consciência for capaz de assimilar os conteúdos produzidos pelo inconsciente, isto é, quando puder compreendê-los e digerí-los. Se o inconsciente dominar a consciência, desenvolver-se-á um estado psicótico. No caso de não prevalecer nem processar-se uma compreensão adequada, o resultado será um conflito que paralisará todo o progresso ulterior. O problema da compreensão do inconsciente coletivo coloca-nos diante de uma considerável dificuldade, que será o tema do próximo capítulo.

Entrevista Terence Mckenna – O Fim da Divindade Mecânica

Segue abaixo um capítulo do livro FIM DA DIVINDADE MECÂNICA, compilado por John David Ebert, editado no Brasil pela Editora Teosófica.
São entrevistas com grandes pensadores como Terence, Stanislav Grof, Ralph Abraham, etc.

Colocamos aqui o capítulo 05 – Etnobotânica, que é uma excelente entrevista com Terence McKenna.

Vale a pena dá uma lida neste livro, segue a descrição :

“Essa série de conversas com alguns dos principais pensadores do mundo atual descreve e revela a mudança radical que tem alterado a nossa maneira de olhar o mundo. Trata-se de uma transformação cultural revolucionária. No entanto, até agora ela tem ocorrido em grande parte inconscientemente, como se as suas partes não formassem um todo. Essa obra devolve ao leitor a capacidade de enxergar o todo. A visão científica e a visão religiosa, antes separadas, se reencontram. E como resultado disso nós percebemos de outra maneira, nova e abrangente, qual é o nosso lugar no universo. O Fim do Deus Previsível abre um diálogo para que pensadores das mais diferentes áreas expressem suas visões sobre a vida e o mundo, usando suas próprias palavras, e compartilhando o hábito de pensar de modo criativo, multidimensional, inovador e não-dogmático. Deepak Chopra: a ioga do desejo. Ruper Sheldrake: o envelhecimento das células e a física dos anjos. Stanislav Grof: o nascimento, a morte e o que está além. Lynn Margulis: a evolução de Gaia. Ralph Abraham: os alicerces do Caos. Brian Swimme: Deus e o vácuo quântico. Terence McKenna: a etnobotânica. William Irwin Thompson: a imaginação da cultura. São oito conversas profundas, descontraídas. Elas revelam aspectos centrais da civilização humana que surge no século 21″

Terence McKenna e o Jardim dasDelícias Psicodélicas

No que vem a ser um tipo de piada psicodélica interna, os auto­res William Gibson e Bruce Sterling ressuscitam T.H. Huxley, avô do famoso Aldous, para uma cena no romance que escreveram, The Diffe­rence Engine (A Máquina da Diferença). Um paleontólogo que havia acabado de retomar à América dá a Huxley alguns botões de peiote que recebera de um xamã nativo norte-americano. Huxley, recebendo o presente, diz, “Certas toxinas vegetais têm a propriedade de produzir visões.” Depois ele guarda os botões numa gaveta da escrivaninha e diz, “…cuidarei para que sejam devidamente catalogadas depois”. 1

A piada, claro, é que Huxley não fará absolutamente nada com relação aos botões de peiote, até que, com as experiências de seu neto Aldous com mescalina, em meados do século vinte, o valor do peiote seja descoberto. Pois foi em 1955 que Aldoux Huxley ingeriu quatro décimos de grama de mescalina – o princípio psicoativo do peiote – e descobriu que, nas palavras de James Joyce, “qualquer objeto, intensa­mente considerado, pode tomar-se um portal para o incorruptível eon dos deuses.” O livro de Aldous Huxley As Portas da Percepção, no qual ele relata esta experiência, mais tarde cairia nas mãos do menino de 14 anos Terence McKenna, para quem o livro iria prover o ímpeto de toda uma vida de exploração nas profundezas insondáveis da consciên­cia humana.

A atitude de T.H. Huxley, porém – como Gibson e Sterling ima­ginaram – tipifica a atitude do estudioso com relação a esses assuntos: conhecimento bom para as páginas amareladas de volumes desgastados nas estantes das bibliotecas, mas que não tem relação com o mundo da experiência vivida. É extremamente irônico o fato de que o método científico concebido por homens como Leonardo da Vinci e Francis Bacon enfatiza precisamente a validade da experiência individual. A civilização ocidental, aliás, foi moldada pela mitologia da experiência individual, em oposição à ultrapassada noção oriental da confiança na autoridade de outros, e deve seu êxito atual àqueles grandes pioneiros que tiveram a coragem de visitar terras que se pensava estarem apinha­das de estranhas criaturas boschianas que lhes guardavam os portões. É esta mitologia ocidental da experiência pessoal que, por exemplo, im­peliu Vesalius a rejeitar a autoridade de Galeno e a abrir corpos huma­nos, para verificar de uma vez por todas a estrutura da anatomia huma­na; ou a coragem prometeica de Galileu em desafiar aquela encarnação renascentista de Zeus – a própria Igreja Católica – e olhar através do telescópio para o que ninguém jamais ousara olhar antes com tanta in­tensidade; ou as migrações transatlânticas de Colombo (de “columba”, pomba) com o intuito de descobrir por si mesmo se as Índias podiam ser alcançadas navegando-se para além do-pôr-do-sol. Até os vôos espaci­ais da Apollo e nossa atual exploração de Marte, nos dias atuais, o mito permaneceu essencialmente sem mudanças.

Aquele “território transcendental da mente”, porém, que Aldous Huxley descreveu – os labirintos obscuros e desconhecidos da consci­ência humana – ainda permanece, na maior parte, inexplorado pelos ocidentais. A investigação da mente inconsciente só começou com Freud e seus predecessores românticos alemães do século dezenove.

Terence McKenna é um dos tais Magalhães da consciência, e a sua jornada começou com uma viagem à Ásia em 1967 para estudar a iconografia pré-budista dos thangkas tibetanos. Ele descobriu, em vez disso, que as raízes do Budismo tibetano estão no Xamanismo nativo de Bon-Po, no qual alguns praticantes usam haxixe e a figueira-do-inferno, alucinógena, para catalisar suas viagens xamânicas.

Em 1971, Terence e seu irmão Dennis fizeram uma viagem à bacia amazônica em busca de um experiência xamânica autêntica, e no processo encontraram uma espécie de cogumelo que continha psilocybin (Stropharia cubensis) que, diz McKenna, só fica atrás do DMT (dimetiltriptamina) em seu poder de induzir a uma viagem alu­cinógena ao reino dos Ancestrais. E normalmente é este reino que os xamãs contatam para obter conhecimento e informação valiosa capaz de curar as aflições de suas comunidades, ou as desordens de uma pessoa específica. Tais cosmonautas interiores podem, nas palavras de Aldous Huxley, “tornar-se condutores através dos quais alguma influência be­néfica possa fluir daquele outro campo para um mundo de eus obscure­cidos, cronicamente morrendo por falta dessa influência.” As experiên­cias dos irmãos McKenna com a telepatia, a sincronicidade e encontros com OVNIs são descritas com vívidos detalhes no livro de McKenna True Hallucinations (Alucinações Verdadeiras), de 1993.

A maior tarefa que tiveram ao retomarem do submundo xamâ­nico da Amazônia foi, nas palavras de Joseph Campbell, saber “como expressar numa linguagem compreensível para o mundo da luz os pro­nunciamentos do mundo da escuridão que desafiavam a própria capaci­dade de falar”. Desafio a que responderam com um livro intitulado The Invisible Landscape (A Paisagem Invisível), de 1975. Nesta obra estra­nha e poética os autores tentam compreender completamente, através de uma síntese de ciência, filosofia e história, as implicações de suas expe­riências na Amazônia. Na teoria geral da ressonância da natureza que eles expandiram como alguma hélice exótica do DNA cultural, o mi­crocosmo da viagem xamânica aos interiores das consciências humana e cósmica está mapeado no macrocosmo do tempo e espaço através de uma filosofia da história que McKenna chama “A Onda do Tempo.” Nesta teoria, os eventos da história são descritos como uma onda fraci­onada não-linear na qual as épocas distantes influenciam épocas sepa­radas pelo tempo e pelo espaço através de ressonâncias em sua similari­dade estrutural.

Em 1976, os autores deram prosseguimento a esse trabalho com Psilocybin: the Magic Mushroom Grower’s Guide (Psilocybin: Guia do Plantador do Cogumelo Mágico), e em 1991, McKenna juntou uma década e meia de ensaios e entrevistas em The Archaic Revival (O Re­nascimento Arcaico).

Em 1992, apareceu o livro de Terence McKenna Food of the Gods (O Alimento dos Deuses), no qual ele afirma que a sua história das origens da consciência humana foi precipitada pela ingestão de cogumelos psicoativos. Também o livro faz a crônica do longo declínio do uso do cogumelo e sua história insatisfatória de substitutos como o ópio, açúcar, café, e heroína ao longo da evolução humana.

Naquele mesmo ano, o longo intercâmbio de McKenna com o biólogo Rupert Sheldrake e com o teórico do caos Ralph Abraham culminou com o aparecimento do livro deles Trialogues at the Edge of the West (Triálogos nos Limites do Ocidente), ao qual se juntou uma se­qüência, The Evolutionary Mind: Trialogues at the Edge of the Un­thinkable (A Mente Evolucionária: Triálogos nos Limites do Impensá­vel), em 1998.

No momento dessa entrevista, McKenna estava escrevendo um livro em co-autoria com Philippe DeVosjoli, que iria chamar-se Casting Nets into the Sea of Mind (Lançando Redes no Mar da Mente). McKen­na promete uma futura explicitação completa de suas teorias da evolu­ção da consciência humana e sua relação com a linguagem e a tecnolo­gia.

JE: No seu primeiro livro, The Invisible Landscape (A Paisagem Invisível), você e seu irmão Dennis desenvolvem o que parece ser um tipo de teoria geral da ressonância da natureza que inclui a experiência visionária do xamanismo como também as épocas mais elásticas do tempo histórico. Gostaria de discutir como essa teoria surgiu de suas reflexões sobre a natureza do tempo após sua viagem à Amazônia em 1971.

TERENCE MCKENNA: Bem, penso que provavelmente a percepção central em tudo aquilo foi a idéia de que o tempo é realmente, quando você o ana­lisa, metabolismo, que é a única qualidade que se associa com a vida orgânica, por meio do qual a vida cria um sistema aberto longe do equi­líbrio e por aquele meio sustenta-se no tempo e através do tempo. As­sim a estrutura da vida orgânica, especificamente a estrutura do DNA, é, penso eu, uma resposta evolucionária única a este impulso termodi­nâmico em direção ao desequilíbrio que parece caracterizar a biologia. Estudando o metabolismo – o que, em termos práticos, significa olhar para o interior de nossas células – podemos realmente não apenas en­tender o que é o tempo, mas fazer generalizações sobre o tempo que podemos efetivamente estender a outros domínios do universo.

JE: É interessante o modo como você conecta o micro­cosmo com o macrocosmo em True Hallucinations (Alucinações Verdadeiras). Por exemplo, você fala de como construiu toda essa teoria da ressonância em torno do número 64. que você diz ser significativo tanto para o DNA – no qual há 64 seqüências possí­veis de codons – quanto para o I Ching, no qual há 64 hexagra­mas. 2 Você poderia falar um pouco sobre como chegou a essa conclusão meditando sobre esse número?

TERENCE MCKENNA: Sessenta e quatro é um número interessante. São dois para seis e surge a partir do quatro, o que, de acordo com Jung e outros, é uma divisão primária do espaço, do tempo e da realidade. Nós vivemos num universo em quatro dimensões. A minha noção sobre o I Ching era de que se o levássemos a sério – e certamente o levamos – (e por levar a sério quero dizer se o reconhecemos como tendo uma estranha habili­dade para funcionar como anunciado), então parece razoável perguntar, como ele faz isso? Eu creio que o modo como ele deve fazê-lo é sendo, como você mencionou, de algum modo um microcosmo do macrocos­mo maior. E a conclusão de que era diretamente análogo à estrutura do DNA, parecia ser a prova. O I Ching é uma visão primária na estrutura não apenas do universo em que vivemos, mas da Mente na qual estamos incluídos e que observa o universo.

JE: A sua teoria da ressonância do tempo sugere que eventos distantes na história possam ter um efeito ou uma influ­ência sobre eventos presentes através de um tipo de ressonância de suas similaridades estruturais. Por exemplo, você compara o fim do Império Romano com os eventos de hoje em dia. Você pode discutir como ocorre essa ressonância?

TERENCE MCKENNA: Claro. Antes de mais nada relembremos o que pressupõe a teoria histórica convencional: que o momento mais importante em ter­mos de moldar este momento é aquele que imediatamente o precedeu. Eu assumi um ponto de vista diferente, e senti que um determinado momento histórico no tempo é um tipo de onda permanente de padrões de interferência criado por outros momentos no tempo que podem ou não tê-lo precedido imediatamente. Assim, por exemplo, A Idade de Ouro Grega, embora esteja agora situada a 2500 anos de distância no passado, ainda assim continua a moldar nossas idéias a respeito da lei e da sociedade. E em qualquer situação dada há muitas destas influências agindo, algumas delas trivialmente, para dar-nos banheiras com pernas em formas de garras e coisas assim; e algumas muito profundamente, nos querendo passar a durabilidade da democracia ou coisa semelhante.

JE: Você acha que o fato de seu modelo terminar no mesmo ano que o calendário Maia – 2012 d.e – sugere algum tipo de ressonância entre a nossa cultura e a dos Maias? 3

TERENCE MCKENNA: Não tenho certeza do que isso significa. Eu creio que todas as culturas que olhem profundamente no tempo, se chegarem a conclu­sões corretas, terão modelos de algum modo congruentes. Mesmo se olharmos para a civilização ocidental e seus calendários, atravessamos o final de um milênio apenas doze anos antes do fim do calendário Maia. Numa escala de mil anos, esta é uma diferença de ponto doze por cento.
Assim, de modo bastante estranho, a vida inconsciente das cul­turas parece sincronizar-se com estes ritmos cósmicos muito extensos, quer a cultura reconheça estes ritmos ou não. É apenas a canção da pai­sagem temporal, se você quiser.

JE: No lado microcósmico, no seu livro The lnvisible Landscape, você e seu irmão desenvolvem uma teoria de que as experiências visionárias do xamanismo são ativadas quando o psilocybin se liga quimicamente com o DNA neural. Você gosta­ria de discutir esta teoria?

TERENCE MCKENNA: Bem, no metabolismo comum, o psilocybin é um antago­nista, significando um competidor, em relação à serotonina, que é um simples transmissor cerebral na sinapse. Porém, uma percentagem muito pequena de psilocybin chega até o núcleo da célula. Há afinida­des estruturais muito surpreendentes entre o DNA e muitas dessas mo­léculas psicodélicas que aparecem naturalmente. Como você sabe, o DNA pode ser visualizado como uma estrutura tipo escada, enquanto muitas dessas drogas moleculares são chamadas planares, o que signifi­ca apenas achatadas, e são do tamanho e geometria apropriados para permitirem-se encaixar dentro e fora dos espaços entre os nucIeotídeos do DNA. Este processo é chamado intercalação. É bem estudado, mas ninguém sabe qual pode ser o propósito ou as conseqüências deste ajuste perfeito entre as estruturas do DNA e estas drogas moleculares. 4

JE: Karl Pribram fala sobre o paradigma holográfico do armazenamento da memória, mas ele parece estar preocupado com isso do ponto de vista individual, enquanto que você e o seu irmão expandiram a visão sugerindo que algo como a alma do mundo ou o inconsciente coletivo está também de algum modo acessível na experiência psicodélica?

TERENCE MCKENNA: Sim, se aceitarmos o modelo junguiano de um inconsciente coletivo – um conjunto compartilhado de imagens arquetípicas que não são concedidas culturalmente – então nós temos a considerar, como você mencionou, não apenas o problema da memória individual, mas o problema maior dessas memórias raciais ou arquetípicas. Acho que tomamos as coisas difíceis demais para nós nesta área colocando tanta fobia e estresse ao fazermos a pesquisa psicodélica. O nosso medo pre­coniza que qualquer pessoa que escolha se concentrar nas áreas de far­macologia ou biologia molecular está escolhendo uma vida de pura marginalização. É muito difícil obter financiamento, e há muito pouco apoio institucional.

JE: Eu estou curioso acerca do que você pensa sobre o trabalho de Stanislav Grof com o LSD e a teoria dele de que rea­tiva o trauma do nascimento.

TERENCE MCKENNA: Bem, o Stan é meu amigo pessoal, e ele fez um trabalho muito corajoso com o LSD. Quando o LSD tornou-se ilegal, ele desen­volveu um modelo de técnicas respiratórias para levar as pessoas para a mesma área. Tendo dito isso, a minha própria exploração pessoal da psique não tendeu a apoiar a teoria dele sobre as várias matrizes peri­natais. Eu chamaria isso de uma teoria neo-freudiana. Tenho a mente aberta acerca disso, mas não creio que a maioria das pessoas que não ouviram falar da teoria de Grof fariam experiências que realmente pu­dessem ser mapeadas por aquele sistema.

JE: Você poderia discutir, então, o que são, em sua expe­riência, as diferenças nos conteúdos visionários do LSD versus a experiência com psilocybin?

TERENCE MCKENNA: Bem, sim, de certo modo. Cada uma destas coisas, sendo quimicamente única, é como uma lente feita de vidro com coloração ligeiramente diferente. O LSD vai diretamente à estrutura da personali­dade, às estruturas que surgiram através das experiências na vida do indivíduo, de modo que é muito bom para trabalhar através daquilo que eu penso ser assuntos psicoanalíticos normais. É, de modo relutante, um alucinógeno. Em outras palavras, transforma a qualidade dos pensa­mentos, mas não transforma o input no córtex visual tão dramatica­mente quanto o fazem algumas destas outras coisas.

Os compostos que são derivados de plantas, por outro lado ­psilocybin ou DMT – parecem estar cheios de sua própria informação a qual desejam passar adiante. De modo que muitas vezes não se sai com um profundo insight com relação aos próprios relacionamentos ou situ­ação de paternidade, mas em vez disso com um sentido muito mais profundo de conexão com a dinâmica da natureza ou, quase se pode dizer, com o mundo da energia do espírito ou energia mágica. Agora, por que esta diferença deve ser obtida entre o psilocybin e o LSD … A causa pode ser estrutural ou pode haver algo mais profundo.

Por exemplo, a causa pode envolver algo como a noção dos campos morfogenéticos de Sheldrake. O LSD, afinal de contas, foi in­ventado no século vinte, ao final dos anos trinta, e está inteiramente caracterizado pelos europeus e americanos do século vinte. Os com­postos como o psilocybin, por outro lado, usado por milênios pelos po­vos tribais das montanhas do México, teriam, certamente, um tipo de campo morfogenético completamente diferente.

JE: Você mencionou que o psilocybin facilita o contato com o que parece ser uma Mente estranha ou inteligência de al­gum tipo. Você tem uma teoria sobre OVNI’s que sugere que eles poderiam de algum modo ser sugestões desta inteligência fora da psique. Você poderia discutir isso?

TERENCE MCKENNA: A psique, ou consciência, é um conceito muito escorrega­dio. Um pesquisador, Julian Jaynes, sugeriu que a consciência humana mudou sua natureza mesmo nos tempos históricos. Jaynes fala que nos tempos homéricos, o ego como o conhecemos não existia, exceto sob extremo estresse. E então se apresentava quase como uma intrusão exte­rior na consciência, como a voz de um deus. 5 Eu acho que a maior dife­rença entre a consciência materialista moderna e a consciência xamâni­ca arcaica é que esta última interpreta muito de suas percepções como vindas de um Outro inteligente e organizado. E eu, após haver passado pela interpretação extraterrestre durante vários anos, cheguei à opinião de que este Outro que contatamos através destas coisas é nada mais nada menos que um tipo de inteligência integrada que permeia o planeta inteiro. Por falta de uma melhor descrição, vamos simplesmente chamá-la de Supermente de Gaia.

Eu acho que durante muito tempo ao longo da história, as pes­soas estavam totalmente conscientes, totalmente à vontade com a lin­guagem e o teatro e os rituais e a magia, mas estavam no berço, diga­mos assim, ou embutidos num diálogo quase contínuo com o resto da realidade, experienciada como uma consciência contínua a que chama­vam o Grande Espírito, ou os Ancestrais, ou simplesmente Deus. A herança cultural e lingüística do Ocidente tem sido em larga escala uma construção de defesas contra este Outro e uma substituição Dele pelo ego de massa da humanidade, politicamente expresso.

Assim, quando entramos na selva, ingerimos plantas psicodéli­cas e executamos antigos rituais paradigmáticos, se conseguirmos dis­solver o condicionamento e as expectativas de modernidade e materia­lismo. descobrimos que este mistério ainda está lá, ainda vivo, ainda capaz de dialogar conosco. E isso deixa as pessoas absolutamente con­fusas. Elas reagem a isso com o êxtase ou com o medo, ou com histórias de conversão religiosa ou abdução alienígena. Depende inteiramente de como a coisa reage sobre você. Neste caso, a revelação de um homem é o pesadelo de outro. Mas a coisa que jaz por trás de tudo isto é algum tipo de mente natural, viva e inteligente, que é simplesmente uma ex­tensão da biosfera, de Gaia.

JE: Em seu livro Food of the Gods (Alimento dos Deu­ses), você lida com algumas das dimensões históricas do uso dos alucinógenos. Você visualiza a história da cultura como um constante declínio no uso de alucinógenos derivados de plantas e a substituição gradual destes por substitutos insatisfatórios como o álcool, o ópio, o fumo, a cocaína, etc. É possível que se as pes­soas usassem alucinógenos de um modo mais rituailizado e con­trolado, tal como, digamos, duas vezes ao mês, que isso poderia reduzir significativamente o uso abusivo de algumas destas ou­tras drogas?

TERENCE MCKENNA: Deus meu, duas vezes ao mês! Isso seria uma revolução, não seria? Eu acredito que as pessoas sem essa mãozinha da inteligên­cia de Gaia sobre a qual estávamos falando estão simplesmente num mato sem cachorro. Elas têm o marxismo, e a moderna publicidade, e quaisquer que sejam os valores culturais nos quais nasceram para guiá­-los, mas inevitavelmente, como destacou Freud no livro O Mal-estar na Civilização, estas coisas levam à neurose.

Penso que a chave para entender a experiência psicodélica, quer você a ame ou a deteste, é que ela dissolve as fronteiras. Dissolve a programação cultural e a substitui por um tipo de programação muito mais básica que está no animal humano. Todas as culturas nos desviam desta fonte original de autenticação pessoal. E nesse sentido, Freud es­tava certo; toda cultura é neurótica. Assim, no livro que você mencio­nou, e também num outro livro meu chamado The Archaic Revival (O Renascimento Arcaico), eu simplesmente assinalo que quando as civili­zações tornam-se massivamente neuróticas, parecem ter um reflexo instintivo de voltar no tempo em busca de um modelo. 6 Por isso a Re­nascença criou o Classicismo como resposta à falha da igreja medieval. É por isso que no século vinte presenciamos surtos de fenômenos que vão do cubismo e surrealismo ao rock and roll. Estes são impulsos em direção a um estado mental arcaico. No centro deste impulso em dire­ção ao estado mental arcaico está a dissolução da fronteira dos valores culturais que ocorre sob o efeito de psicodélicos. Certamente que se pudéssemos encontrar algum meio de trazer isso às pessoas – e eu acho que duas vezes ao mês soa muito mais freqüente do que o necessário ­na razão de uma vez ao ano e de um modo poderoso, seria suficiente para manter as pessoas operando à luz do conhecimento correto de que há valores estruturais maiores que o conhecimento que lhes está sendo passado através da mídia de massa e das convenções culturais.

As pessoas estão ficando absolutamente famintas por autentici­dade, e nesse meio tempo lhes é oferecida uma seleção interminável de carros alemães, produtos para os cabelos, novos sabores de sorvetes e divertimentos sem graça, e nada disso satisfaz, porque aquilo que as pessoas realmente necessitam é um sentido autêntico de seu próprio ser e de sua própria importância no esquema natural das coisas. A cultura não pode responder a isso a não ser que abra espaço para a transcendên­cia de si mesma.

JE: Em Food of the Gods você sugere que a consciência humana pode ter-se desenvolvido da consciência dos seus ances­trais hominídeos como resultado de os hominídeos haverem in­corporado cogumelos alucinógenos em sua dieta. Qual é a evi­dência primária que temos do uso de cogumelos na história hu­mana?

TERENCE MCKENNA: Eu acho que a mais antiga evidência que eu consideraria como tendo algum peso é um grupo de imagens escavadas na rocha no platô Tassili, ao sul da Argélia. Eles continuam dando idades cada vez mais antigas para essas coisas, mas creio que agora chegaram a cerca de 12.000 anos. Aí vemos xamãs com cogumelos brotando de seus corpos e as mãos cheias de cogumelos. 7 Este tipo de evidência, porém, jamais foi buscado, e nas áreas onde eu acho ser mais provável de se encontrar, nenhuma escavação jamais foi feita – especificamente, no sul da Argé­lia. Poder-se-ia fazer estudos polinológicos em busca de esporos de cogumelos. Poder-se-ia tentar encontrar rochas ainda mais remotas e representações de arte em rocha ainda mais antigas, destes xamãs, con­sumidores de cogumelos. o grande embaraço da teoria comum da evolução, você sabe, é a explosão muito dramática no tamanho do cérebro humano num período muito curto de tempo evolucionário. Um biólogo evolucionário, Lurnholz, o chama de a mais dramática transformação de um órgão importante de um animal superior em todo registro fóssil. Bem, é um grande embaraço para a evolução, porque se pode notar que o cérebro é o órgão que criou a teoria da evolução. Assim, se não podemos dar conta de sua origem subimos por uma escada que não tem degrau para descanso.

Algo extraordinário estava acontecendo com a situação hominí­dea, digamos entre 125.000 e 25.000 anos atrás. Todas as outras teorias falharam. Eu me concentrei no psilocybin mas realmente quando con­verso com os meus pares neste campo, o que estou dizendo é que aquilo para o que precisamos olhar é a dieta. A dieta é um dos principais fato­res que afetam as taxas de mutação em qualquer espécie. A razão por que a maioria das espécies animais têm dietas muito definidas e especi­alizadas é que a dieta é uma estratégia evolucionária conservadora para limitar a exposição a compostos mutagênicos, e daí à mutação. Quando uma espécie está sob pressão nutricional e começa a experimentar ali­mento anteriormente considerado marginal ou inaceitável, ora, isso na­turalmente quer dizer que o genoma vai ficar exposto a nova tensão química através da cadeia alimentar, e que se vai adquirir mais defor­midades no nascimento, cegueira, baixo QI, baixa taxa de natalidade. Mas também se vai adquirir a muito rara e positiva mutação, e a taxa dessas mutações positivas será também concomitantemente elevada um pouco.

Assim, penso que o lugar onde procurar a explicação da ruptura na evolução humana é o período em que deixamos de ser uma criatura que vivia ao relento, sob o céu. A mudança subseqüente na dieta e as comoções pela exposição a vários agentes químicos causaram muitas mudanças nos seres humanos. O psilocybin é simplesmente uma das mais dramáticas. Podemos construir um cenário com o psilocybin que considero muito atrativo para os biólogos evolucionários, porque mostra como o psilocybin, contribuindo crescentemente com pequenas vanta­gens, poderia ter provocado uma importante influência química na evolução da arquitetura do cérebro e da consciência.

JE: Em Food of the Gods você traça um arco de difusão histórica de uma sociedade inspirada por uma deusa, original­mente comedora de cogumelos – o povo Tassili no paleolítico no norte da África – e o segue através da Ásia Menor à medida que viaja para o interior do Catal Huyuk anatoliano, de onde migra para a Creta de Mino. Finalmente. os gregos adotam essa cultura da Deusa na forma muito reduzida dos mistérios eleusianos, nos quais a ferrugem alucinógena das gramíneas pode ter sido usada, do mesmo modo que os cretenses usavam o ópio. A minha per­gunta, então, é, você tem alguma idéia de exatamente onde foi, ao longo deste caminho, e por que motivo foi que o consumo do co­gumelo desapareceu?

TERENCE MCKENNA: Sim, eu o associo inteiramente a lentas mudanças no clima. Em outras palavras, provavelmente de 100.000 a 125.000 anos atrás ocorreu o período mais propício em termos de tamanho e extensão das chuvas, e a sobreposição mais propícia, também, de ecossistemas de cogumelos e de habitats humanos. Toda a África do Norte era um vasto pasto com animais ungulados evoluindo e muitas correntes de água descendo das terras altas. E aquelas pastagens tinham surgido de uma mudança climática. Antes disso, em um tempo ainda anterior, houvera florestas. Mas à medida que as pastagens deram lugar ao deserto ao longo dos milênios, os cogumelos – o seu alcance, a disponibilidade, e a potência – todos sofreram retração ou diminuição. À medida que o pro­cesso continuou, a população humana ou passou sem, ou começou a procurar substitutos. E nenhum substituto tem realmente o mesmo efeito que o original, e assim se tem os cultos da cerveja, a fermentação de sucos de frutas em vinho, experiências com cânhamo e ópio. Mas foi simplesmente uma série de desastres climatológicos, e o que liquidou a coisa toda – que também foi uma resposta a esta mudança climatológica – foi a invenção da agricultura. Eu acredito que Frazer em The Golden Bough (O Ramo Dourado) diz alguma coisa sobre o fato de que, quando os deuses se tornaram alimento, as grandes orgias e celebrações ficaram marginalizadas, porque os valores culturais que se tornaram importantes naquele tempo foram a habilidade de levantar-se de manhã bem cedo, pegar a enxada e ir trabalhar.

JE: Alguns estudiosos têm dito que o consumo de alu­cinógenos é um substituto pobre para a longa e difícil estrada da disciplina espiritual que é necessária, dizem eles, para se tomar verdadeiramente iluminado. Como você responde a este ponto de vista ? 8

TERENCE MCKENNA: Bem, eu não sei, acredito que eles estejam verdadeiramente iluminados. Esse é um assunto difícil de se tocar. Este é um ar­gumento corrente e interminável em todos os níveis da antropo­logia. O grande proponente deste ponto de vista de que eu tenho conhecimento é Mircea Eliade, que assumiu a posição de que o que ele chamava “xamanismo narcótico” era de algum modo de­cadente, e que o verdadeiro xamanismo era passar por provações e perder-se na selva e coisas desse tipo. Eu não acredito que os povos aborígines gostavam mais de desconforto e desprazeres do que nós. Frente a um sem-número de métodos para chegar ao mesmo fim, a maioria de nós escolheria o método mais eficaz e não-destrutivo. Eu realmente acredito que quando o acesso direto ao mistério ou ao espírito se torna problemático por qualquer ra­zão, é então que se tem a codificação do dogma, a nomeação de classes especiais de pessoas para interpretar para o restante de nós as vontades do mundo invisível. E então se tem listas morais do que se deve fazer e não fazer. E tudo se torna religião organi­zada. A fobia que a maioria destas religiões organizadas mostra em relação à experiência psicodélica é simplesmente que elas sentem aí um competidor muito poderoso para seus clientes.

JE: Você mencionou que viajou por um tempo pela Ásia experimentando estas várias técnicas de Ioga e que não fizeram efeito em você?

TERENCE MCKENNA: Bem, não é que não funcionem; elas não produzem a expe­riência psicodélica. Produzem experiências muito interessantes e úteis, e certamente ensinam autodisciplina e tudo o mais. Mas eu acho que com a religião organizada há uma tensão interna porque a religião está no momento e procura responder às aspirações do homem além deste mundo, e ainda inevitavelmente a religião volta-se para os seus esque­mas de investimento, seu próprio auto-engrandecimento, seu desejo de atrair mais pessoas e mais território para sua área de influência. Assim eu sempre senti que a autêntica viagem religiosa era algo que ia aconte­cer entre um simples ser humano e os Espíritos. Eu penso que é uma pena que a religião tenha tanto medo da experiência direta que acabe colocando inevitavelmente um tipo de elite entre o homem comum e o mistério.

JE: Você já tomou psilocybin em conjunção com um tan­que de isolamento?

TERENCE MCKENNA: Na realidade jamais fiz isso num tanque. Não creio que se tenha de ir tão longe, mas o melhor meio para estas coisas é o que eu chamo de confortável escuridão silenciosa. Algumas pessoas querem ouvir música e isso certamente causa arrebatamento. Mas nada pode­mos fazer com a notícia de que Bach é Deus; já sabemos disso. Eu acho que quando as pessoas têm que ter música ou livros de arte empilhados à sua volta, elas já estão se deixando influenciar. As riquezas interiores da silenciosa mente humana estão além de qualquer coisa que já tenha­mos criado em qualquer situação elegante ou em qualquer sociedade esplendorosa que já tenhamos tido neste planeta. E essa notícia em ter­mos existenciais é realmente bastante fortalecedora. Toda a sociedade de consumo de que fazemos parte é na realidade um sistema para causar maravilhas. Brinquedos, roupas, jogos e divertimentos: tudo isso é para deixá-lo atônito e para arrebatá-lo. Bem, se você estivesse cultivando cogumelos no esterco de vaca no seu quintal, você rapidamente desen­volveria um relacionamento completamente diferente com tais maravi­lhas. Você certamente chegaria à conclusão de que há uma infinitude de tais maravilhas, e que a maioria delas está dentro de você.

Assim, novamente eu vejo a cultura oferecendo substitutos ba­ratos da experiência autêntica. A cultura quer que você rejeite o passa­do, antecipe o futuro, e mal perceba a presença sentida da experiência imediata. Do meu ponto de vista, esse é o valor mais tóxico que tolera­mos; a desvalorização de nossos sentimentos à medida que eles ocorrem no ato de viver no momento, num lugar determinado no espaço e no tempo. Isso é o que nós somos, isso é tudo o que sempre seremos, e um mundo feito de esperança e arrependimento é um substituto muito páli­do para aquele sentimento de estar vitalmente conectado e presente no mundo vivo.

JE: As suas idéias sobre a ressonância através do tempo têm muito em comum com a ressonância mórfica de Rupert Shel­drake e com as pesquisas sobre vibrações de Ralph Abraham. Fora os Trialogues (Triálogos), você acha que vocês três seriam capazes de trabalhar juntos num livro?

TERENCE MCKENNA: Estamos muito próximos, e aliás fizemos todo um segundo conjunto de Trialogues. Tudo o que precisamos é de um editor sufici­entemente louco para publicá-los, embora eu não ache que o primeiro livro tenha ido bem em inglês, mas foi muito bem recebido na Alema­nha. Mas sim, me sinto muito próximo a esses caras. Eu acho que anologia à medida que nos movemos em direção a ambientes de comuni­cação assistidos por drogas quase-telepáticas e por máquinas.

JE: Você acredita que a tecnologia de realidade virtual terá influência preponderante em tudo isso, ou apenas vai se tor­nar uma novidade?

TERENCE MCKENNA: Acredito que tem um potencial tremendo porque é real­mente uma tecnologia que nos permitirá mostrar uns aos outros o interi­or de nossas cabeças. Isso é algo que jamais fomos capazes de fazer. Você e eu estamos tendo esta conversa e educadamente pressupondo que temos abertos diante de nós dicionários idênticos, e portanto você entende o que eu quero dizer. Mas nada é mais capaz de trazer a con­versa para uma situação estridente do que alguém dizer para outrem, “você poderia me explicar o que eu acabei de dizer?” E você sabe, em face a esse desafio, a suposição da comunicação é algo bastante rare­feito. 9

Se nós realmente pudéssemos mostrar uns aos outros o que que­remos dizer construindo meios esculturais da nossa intencionalidade em 3-D, seríamos capazes de eliminar a enlouquecedora ambigüidade que acompanha o ruidoso estilo de conversação bucal de baixa freqüência. É surpreendente para mim que tenhamos uma civilização global baseada em ruidosa comunicação bucal, visto que há 500 línguas e ninguém tem o mesmo dicionário, ninguém teve a mesma educação, e todos têm conjuntos diferentes de experiências. Assim, acredito que fizemos um trabalho incrível com o instrumento grosseiro que nos foi dado, mas o futuro da comunicação é o futuro da evolução da alma humana, e à me­dida que nos comunicarmos com maior facilidade, as fronteiras e a ilu­são da diferença simplesmente irão tornar-se indefinidas e desaparece­rão.

NOTAS:

1 Gibson e Sterling (1992), p.II?
2 Veja, por exemplo, The Mayan Factor. de José Arguelles (1987), p.86.
3 De acordo com o software de McKenna, Timewave Zero, a história é composta de uma série de ondas de novidades, na qual novas invenções surgem ao final de um ci­clo. Já que o I Ching é composto de 64 haxagramas, as datas na história podem ser divididas por esse número para produzir pontos de Novidades. Por exemplo, 1.3 bi­lhões de anos atrás marca a invenção da reprodução sexual pelos organismos eucari­óticos. Divida esse número por 64 para produzir um ciclo começando há 18 milhões de anos no período Mioceno no apogeu do período dos mamíferos ( e talvez não co­incidentemente, 15 milhões de anos atrás, uma grande catástrofe teve início pelo im­pacto de algum planetóide). Divida isso por 64 para produzir um número por volta de 200.000, uma data associada com o advento das populações Neanderthal. Nova­mente divida por 64 e chegue a um número por volta de 4.300, que é o começo das invasões Kurgan das civilizações da deusa da Europa antiga, o prólogo do nasci­mento de uma alta civilização após cerca de mil anos ou coisa assim. O último destes ciclos de Novidades começa em 5 de agosto de 1945 – um dia antes do bombardeio de Hiroshima – e termina em 21 de dezembro de 2012 d.e. Veja trabalho publicado, Temporal Resonance em McKenna (1991) pp.104-113. Veja também Arguelles, ibid., embora McKenna diga que ele apresentou a idéia de 2012 a Arguelles.
4 Para observar uma ilustração deste processo de intercalação veja figo 9, p.76 em McKenna, Terence e McKenna, Dennis (1993).
5 Jaynes (1976).
6 A propósito dessa questão, o Mahaa Koot Hoomi, um raja iogue dos Himalaias,
escreveu em 1880 em uma carta ao jornalista inglês Alfred Sinnett: “Temos a ten­dência a crer em ciclos que voltam sempre periodicamente e esperamos poder acele­rar a ressurreição do que já passou e já se foi. Nós não poderíamos impedi-Io ainda que quiséssemos. A ‘nova civilização’ será apenas filha da antiga, e nos basta deixar que a lei eterna siga o seu próprio curso para que os nossos mortos saiam dos seus sepulcros; mas estamos certamente ansiosos por acelerar o desejado acontecimento.” Veja Cartas dos MahaTerence McKennaas, Ed. Teosófica, Brasília, volume I, Carta li, pp. 81-82. No entanto, a filosofia esotérica e a literatura teosófica propõem a expansão da inte­ligência espiritual sem o uso de quaisquer drogas ou substância intoxicantes, que constituem atos de violência contra o corpo e a consciência do indivíduo. ( N. ed. bras. )
7 Veja ilustrações dessas figuras alucinógenas em McKenna ( 992). pp. 72-73. Veja também a ilustração em Campbell (1988a), p. 83, figo 146. Sobre a importância da arte do plateau Tassili, Campbell cita o trabalho do erudito Henri Lhote: “Parece”, diz Lhote ao discutir essas descobertas, “que estamos diante das primeiras obras de arte negra – de fato, somos tentados a dizer isso, em relação à sua origem”.
8 Por exemplo, William Irwin Thompson escreve: “Infelizmente, o modo de vida do hippie californiano ‘” deve-se tomar o consumidor típico americano e pensa que o caminho para a iluminação é através do consumo de cogumelos e curtição da ilumi­nação sem necessidade de todo o trabalho árduo da sadhalla iogue. Veja Thompson (1996), p.189. Sobre o comentário de Ken Wilber veja também nota de fim de página número 6, da entrevista de Grof (Em outro capítulo)
9 Contraste com Thompson: “Eu acho que o problema principal com a realidade virtualé que ela é uma tecnologia tóxica, é uma violação dos seus lobos frontais. Eu acho que vai causar efeitos sobre a saúde das pessoas como faz o mal de Alzheimer no seu início. Quando eu era menino, costumava entrar em sapatarias e colocar os pés nas máquinas de raios-X. O que parecia ser progressista e rotineiro estava na realidade causando câncer nas pessoas.” Veja Brown e McClen (1995), p.297 .

O Alimento dos Deuses – Terence McKenna (pt 3)

Seguem os principais trechos dos capítulos 2 e 3

 

Capítulo 2 – A magia nos alimentos

 

O modo como os seres humanos usam plantas, alimentos e drogas faz mudar os valores dos indivíduos e, em última instância, de sociedades inteiras. Comer alguns alimentos nos deixa felizes, comer outros nos deixa sonolentos e ainda outros nos deixam em alerta. Somos joviais, inquietos, excitados ou deprimidos, dependendo do que comemos. A sociedade encoraja tacitamente certos comportamentos que correspondem a sentimentos internos, encorajando assim o uso de substãncias que produzem comportamentos aceitáveis.

A supressão ou a expressão da sexualidade, a fertibilidade e a potência sexual, o grau de acuidade visual, a sensibilidade aos sons, a velocidade de resposta motora, a taxa de maturação e o tempo de vida são apenas algumas das características dos animais que podem ser influenciadas por plantas alimentícias com químicas exóticas. A formação simbólica do homem, sua facilidade lingüística e sensibilidade a valores comunitários também podem se alterar sob a influência de metabólitos psicoativos e fisioativos. Uma noite de observação num bar de solteiros basta como trabalho de campo para confirmar essa observação. De fato, a atividade de encontrar um parceiro sempre deu grande importância à capacidade lingüística, como atesta a atenção perene aos estilos dos bate-papos e das cantadas.

Ao pensar em drogas tendemos a nos concentrar em episódios de intoxicação, mas muitas drogas são usadas normalmente em doses de aperitivo ou de manutenção; o café e o tabaco são exemplos óbvios em nossa cultura. O resultado disso é uma espécie de “ambiência da intoxicação”. Como peixes dentro d’água, as pessoas dentro de uma cultura nadam no meio virtualmente invisível dos estados mentais culturalmente sancionados, ainda que artificiais.

As linguagens parecem invisíveis para quem as fala, e mesmo assim criam o tecido da realidade para seus usuários. O problema de confundir a linguagem com a realidade é bem conhecido no mundo cotidiano. O uso das plantas é um exemplo de uma linguagem complexa de interações químicas e sociais. Ainda assim, a maioria de nós não tem consciência dos efeitos das plantas sobre nós mesmos e sobre nossa realidade, em parte porque esquecemos que as plantas sempre mediaram o relacionamento cultural dos homens com o mundo.

Uma história de primatas

 

No Parque Nacional de Gombe Stream, na Tanzânia, primatologistas descobriram que folhas de uma determinada espécie apareciam sempre não digeridas nas fezes de chimpanzés. Eles descobriram que, a intevalos de alguns dias, os chimpanzés, em vez de comer frutas silvestres como sempre, caminhavam durante vinte minutos ou mais até um lugar onde crescia uma espécie de Aspilia. Os chimpanzés colocavam repetidamente os lábios numa folha de Aspilia e prendiam-na na boca. Pegavam uma folha, colocavam na boca, reviravam-na durante alguns instantes e em seguida engoliam-na inteira. Desse modo podiam ser comidas até trinta folhas pequenas.

O bioquímico Eloy Rodriguez, da Universidade da Califórnia em Irvine, isolou o princípio ativo da Aspilia – um óleo avermelhado agora chamado de thiarubrina-A. Neil Towers, da Universidade da Colúmbia Britânica, descobriu que esse composto pode matar bactérias comuns em concentrações de menos de uma parte por milhão. Registros de herbários estudados por Rodriguez e Towers mostraram que os povos africanos usavam folhas de Aspilia para tratar de feridas e dores de estômago. Das quatro espécies nativas da África, os povos nativos usavam apenas três, as mesmas três utilizadas pelos chimpanzés.

Rodriguez e Towers continuaram observando as interações entre chimpanzés e plantas e agora podem identificar cerca de doze plantas – uma verdadeira matéria médica – usadas entre as populações de chimpanzés.

Você é o que você come

 

A história que propomos para o surgimento do homem à luz da auto-reflexão é uma história de você-é-o-que-você-come. Grandes mudanças climáticas e uma dieta recém-ampliada, e portanto mutagênica, proporcionaram muitas oportunidades para que a seleção natural afetasse a evolução das principais características humanas. Cada contato com um novo alimento, uma nova droga, ou um condimento estava carregado de risco e consequências imprevisíveis. E isso é ainda mais verdadeiro hoje em dia, quando nossa comida contém centenas de preservativos e aditivos mal estudados.

Como exemplo de plantas com impacto potencial sobre uma população humana, considere a batata-doce do gênero Dioscorea. Em boa parte do mundo tropical as batatas-doces proporcionam uma fonte de alimento confiável e nutritiva. Não obstante, várias espécies muito próximas contêm compostos que interferem na ovulação. (Estas se tornaram a fonte de matéria-prima para as modernas pílulas anticoncepcionais.) Algo próximo do caos genético cairia sobre uma população de primatas que passasse a se alimentar dessas espécies de Dioscorea. Muitas situações assim, ainda que de magnitude menos espetacular, devem ter ocorrido enquanto os primeiros hominídeos experimentavam novos alimentos ao mesmo tempo em que expandiam seus hábitos de dieta onívora.

Comer uma planta ou um animal é um modo de invocar o seu poder, um modo de assimilar sua mágica. Na mente dos povos anteriores à escrita raramente são claras as linhas divisórias entre drogas, alimentos e condimentos. O xamã que se empanzina de pimenta para aumentar o calor interno dificilmente estará num estado menos alterado do que o entusiasta de óxido nitroso após uma longa inalação. Em nossa percepção do sabor e em nossa busca de variedade na sensação de comer, somos marcadamente diferentes até mesmo de nossos parentes primatas. Em algum ponto do caminho, nossos novos hábitos onívoros e nosso cérebro em evolução, com sua capacidade de processar dados sensórios, uniram-se na feliz idéia de que a comida pode ser uma experiência. Nasceu a gastronomia – para juntar-se à farmacologia, que certamente a precedeu, já que a manutenção da saúde através da dieta é vista entre muitos mamíferos.

A estratégia dos primeiros hominídeos era comer tudo que parecesse comestível e vomitar o que não era palatável. Plantas, insetos e pequenos animais vistos como comestíveis através desse método eram introduzidos na dieta. Uma dieta em mudança ou uma dieta onívora significa exposição a um equilíbrio químico sempre em alteração. Um organismo pode regular esse insumo químico através de processos internos, mas, em última instância, as influências mutagênicas crescerão e um número maior do que o usual de indivíduos será ofertado ao processo de seleção natural. O resultado dessa seleção natural são mudanças aceleradas na organização neural, nos estados de consciência e no comportamento. Nenhuma mudança é permanente, cada uma dá caminho a outra. Tudo flui.

Simbiose

 

À medida que influenciavam o desenvolvimento dos seres humanos e de outros animais, também as plantas eram afetadas. Essa co-evolução atrai a idéia de simbiose. “Simbiose” tem vários significados; uso o termo para falar de um relacionamento entre duas espécies conferindo benefícios mútuos a seus membros. O sucesso biológico e evolucionário de cada espécie está ligado ao – e é estimulado pelo – sucesso da outra. Esta situação é o oposto do parasitismo, ainda que feliz seja o parasita que evolui para se tornar um simbionte. Os relacionamentos simbióticos, onde cada membro precisa do outro, podem ter uma ligação genética muito forte ou podem ser mais abertos. Apesar das interações entre os homens e as plantas serem simbióticos em seu padrão de ganhos e vantagens mútuas, esses relacionamentos não são geneticamente programados. Em vez disso são vistos claramente como hábitos profundos, quando comparados com exemplos de verdadeira simbiose no mundo da natureza.

Um exemplo de um relacionamento ligado geneticamente, e portanto realmente simbiótico, envolve o pequeno peixe-palhaço, Amphiprion ocellaris, que passa a vida perto de certa espécie de anêmona -do-mar. Esse peixe é protegido dos grandes predadores pelas anêmonas, e o suprimento de comida das anêmonas é aumentado pelo peixe-palhaço, que atrai peixes maiores para a área onde as anêmonas estão se alimentando. Quando um arranjo mutuamente agradável como esse acontece por muito tempo, ele termina por eventualmente se “institucionalizar”, turvando cada vez mais a distinção genética entre os simbiontes. Em última instância, um organismo pode tornar-se parte do outro, como aconteceu com as mitocôndrias, as usinas de força das células animais, ao se juntarem com outras estruturas para formar a célula. As mitocôndrias têm um componente genético separado, cuja origem pode remontar às bactérias eucarióticas que, há centenas de milhões de anos, eram organismos independentes.

Outro exemplo instrutivo de simbiose, e que pode ter profundas implicações para nossa situação, é o relacionamento que se desenvolveu entre as formigas-cortadeiras e uma espécie de basilomiceto, um cogumelo. E. O. Wilson aborda esse relacionamento:

No fim da trilha as carregadoras descem apressadas pelo buraco do formigueiro, em meio a multidões de companheiras e ao longo de canais tortuosos que terminam perto do lençol freático cinco metros abaixo ou mais. As formigas largam pedaços de folhas no chão de uma câmara, para serem apanhados por trabalhadoras de um tamanho ligeiramente menor, que partem-nas em fragmentos de cerca de um milímetro. Dentro de minutos, formigas ainda menores assumem o trabalho, amassando e moldando os fragmentos em bolotas úmidas e cuidadosamente inserem-nas numa massa de material semelhante. Essa massa varia entre o tamanho de um punho fechado e uma cabeça humana, é cheia de canais e parece uma esponja cinza. É a horta das formigas: em sua superfície crescem fungos simbiontes que, junto com a seiva das folhas, formam o único alimento das formigas. O fungo se espalha como uma geada branca, penetrando suas hifas na pasta de folhas para digerir a celulose abundante e as proteínas que estão ali numa solução parcial.

O ciclo da horticultura prossegue. Formigas trabalhadoras ainda menores do que as descritas acima arrancam tiras soltas do fungo de lugares de crescimento denso e plantam-nas nas superfícies recém-construídas. Finalmente, as trabalhadoras menores de todas – e mais abundantes – patrulham as plantações de fungos sondando-os com suas antenas, lambendo as superfícies e arrancando os esporos e as hifas de espécies diferentes. Essas anãs da colônia conseguem andar através dos canais mais estreitos dentro das massas da horta. De tempos em tempos arrancam tufos de fungos e levam-nos para suas companheiras maiores.

Nenhum outro animal desenvolveu a capacidade de produzir cogumelos a partir de vegetação fresca. Esse evento evolucionário aconteceu apenas uma vez, há milhões de anos, em algum lugar da América do Sul. Isso deu enorme vantagem às formigas: agora elas podiam mandar trabalhadoras especializadas colher a vegetação, ao mesmo tempo em que mantinham o grosso da população em segurança nos abrigos subterrâneos. Em resultado disso, os diferentes tipos de formigas-cortadeiras juntos, o que compreende quatorze espécies do gênero Atta e vinte e três do Acromyrmex, dominam grande parte dos trópicos americanos. Elas consomem mais vegetação do que qualquer outro grupo de anim,ais, inclusive as formas mais abundantes de lagartas, gafanhotos, pássaros e mamíferos.

 

Podemos perdoar E. O. Wilson, o maior expoente na sociobiologia, por achar que apenas uma vez na história da terra um animal e um cogumelo formaram um relacionamento mutuamente benéfico. Sua descrição das formigas-cortadeiras e de seu relacionamento com a agricultura dos fungos antecipa e introduz considerações fundamentais em meu esforço de revisão do nosso complexo relacionamento com as plantas. Já que, como veremos, um subproduto do estilo de vida dos pastores nômades foi a disponibilidade cada vez maior e o uso dos fungos psicoativos. Como a atividade agrícola das formigas, os padrões de comportamento das sociedades humanas nômades serviu como um modo eficaz para a expansão do alcance de alguns cogumelos.

Uma nova visão da evolução humana

 

Os primeiros contatos entre os hominídeos e os cogumelos contendo psilocibina podem ter precedido em um milhão de anos ou mais a domesticação do gado na África. E durante esse período de um milhão de anos os cogumelos não foram somente colhidos e comidos, mas provavelmente também alcançaram o status de um culto. Mas a domesticação do gado selvagem, um grande passo na evolução cultural humana, ao trazer os homens para mais perto do gado, também permitiu um contato maior com os cogumelos, porque esses cogumelos crescem apenas nas fezes do gado. Em resultado disso, a interdependência entre os homens e o cogumelo foi aumentada e aprofundada. Foi nessa época que os rituais religiosos, a criação dos calendários e a magia natural começaram a existir.

Pouco depois dos homens encontrarem os fungos visionários das pradarias africanas, e como as formigas-cortadeiras, nós também nos tornamos a espécie dominante em nossa área, e também aprendemos como “manter o grosso de nossa população segura em refúgios subterrâneos”. Em nosso caso esses refúgios foram as cidades muradas.

Ao ponderar sobre o curso da evolução humana alguns observadores sérios questionaram o cenário apresentado pelos antropólogos físicos. A evolução dos animais superiores demora um tempo maior para acontecer, operando em períodos de tempo raramente menores do que um milhão de anos e mais comumente em dezenas de milhões de anos. Mas o surgimento dos humanos modernos a partir dos primatas superiores – com as enormes mudanças em tamanho de cérebro e comportamento – aconteceu em menos de três milhões de anos. Fisicamente, nos últimos cem mil anos mudamos aparentemente muito pouco. Mas a espantosa proliferação de culturas, instituições sociais e sistemas linguísticos aconteceu tão depressa que os modernos biólogos evolucionários praticamente não a podem explicar. A maioria nem mesmo tenta.

De fato, a ausência de um modelo teórico não é surpreendente; há muita coisa que não sabemos sobre a situação complexa dos hominídeos no período imediatamente anterior ao surgimento do homem e durante o tempo em que os modernos seres humanos começavam a entrar em cena. As evidências fósseis e biológicas indicam claramente que o homem descende de ancestrais que não são radicalmente diferentes de espécies primatas que ainda existem. E mesmo assim, o Homo sapiens pertence obviamente a uma classe separada dos outros membros da ordem.

Pensar sobre a evolução humana significa em última instância pensar sobre a evolução da consciência humana. Nesse caso, quais são as origens da mente humana ? Em suas explicações, alguns investigadores adotaram uma ênfase principalmente cultural. Eles apontam para nossas capacidades linguísticas e simbólicas especiais, nosso uso de ferramentas e nossa capacidade de guardar informações epigeneticamente – como em canções, artes plásticas, livros, computadores -, e com isso criando não somente cultura mas também história. Outros, assumindo uma abordagem um pouco mais biológica, enfatizaram nossas peculiaridades fisiológicas e neurológicas, inclusive o tamanho excepcional e a complexidade do neocórtex, grande parte do qual é dedicada a processos linguísticos complexos, ao armazenamento e à recuperação de informações, além de estar associada aos sistemas motores que controlam atividades como a fala e a escrita. Mais recentemente reconheceu-se que as interações de feedback entre influência cultural e ontogenia biológica estão envolvidas em certas estranhezas desenvolvimentais, como infância e adolescência prolongadas, o atraso da maturidade sexual e a persistência de muitas características essencialmente neonatais através da vida adulta. Infelizmente a união desses pontos de vista ainda não levou ao reconhecimento do poder dos constituintes psicoativos e fisioativos da dieta na modelação de genomas.

Há três milhões de anos, e através de uma combinação dos processos discutidos acima, existiam pelo menos três espécies claramente reconhecidas de proto-hominídeos no leste da África. Eram o Homo africanus, o Homo boisei e o Homo robustus. E também nessa época o onívoro Homo habilis, o primeiro hominídeo verdadeiro, surgira claramente a partir da uma divisão da espécie que também deu surgmento a dois homens-macacos vegetarianos.

As pradarias se expandiam devagar; os primeiros hominídeos moviam-se através de um mosaico de pradarias e florestas. Essas criaturas, com cérebros proporcionalmente apenas um pouco maiores do que os dos chimpanzés, já andavam eretas e provavelmente carregavam comida e ferramentas entre trechos de florestas que elas continuavam a procurar em busca de tubérculos e insetos. Seus braços eram proporcionalmente maiores que os nossos e possuíam mão mais forte para agarrar. A evolução para a postura ereta e a expansão inicial para um ambiente de pradarias ocorreram antes, entre nove e cinco milhões de anos atrás. Infelizmente não temos evidências fósseis dessa transição anterior.

Os hominídeos provavelmente expandiram sua dieta original de frutas e pequenos animais incluindo raízes, tubérculos e bulbos. Uma simples vara para cavar daria acesso a essa fonte de alimentos anteriormente indisponível. Os modernos babuínos das savanas subsistem principalmente de bulbos de capim durante certas estações. Os chimpanzés acrescentam quantidades substanciais de feijões à sua dieta quando se aventuram na savana. Tanto os babuínos quanto os chimpanzés caçam cooperativamente e atacam pequenos animais. Mas geralmente não usam ferramentas na caçada, e não há evidência de que os primeiros hominídeos tampouco as usassem. Entre os chimpanzés, os babuínos e os hominídeos a caçada parece ser uma atividade masculina. Os primeiros hominídeos caçavam tanto cooperativamente quanto sozinhos.

Com o Homo sapiens começou uma expansão súbita e misteriosa do tamanho do cérebro. O cérebro do Homo habilis pesava em média 770 gramas, comparada às 530 gramas dos outros hominídeos. O período seguinte de 2.250.000 anos trouxe uma evolução surpreendentemente rápida no tamanho e na complexidade do cérebro. Entre 750.000 e 1.100.000 anos atrás, um novo tipo de hominídeo, o Homo erectus, estava amplamente disseminado. O cérebro desse novo hominídeo pesava entre 900 e 1.100 gramas. Há boas evidências de que o Homo erectus usava ferramentas e possuía algum tipo de cultura rudimentar. Na Caverna de Choukoutien, na África do Sul, há evidências do uso de fogo junto a ossos queimados, sugerindo o cozimento de carne. Esses eram atributos do Homo erectus, que foi o primeiro hominídeo a deixar a África há cerca de um milhão de anos.

Teorias mais antigas sugerem que os homens modernos evoluíram do Homo erectus em diversos lugares. Porém, cada vez mais, os primatologistas evolucionários da atualidade aceitam a noção de que o moderno Homo sapiens também surgiu na África, há cerca de 100.000 anos, e fez uma segunda grande migração para povoar todo o planeta. Na Caverna Border e na Caverna da foz do Rio Klasies, na África do Sul, há evidências dos primeiros Homo sapiens modernos vivendo num ambiente misto de floresta e pradarias. Numa das muitas tentativas para compreender essa transição importantíssima, Charles J. Lumsden e Edward O. Wilson escreveram:

Os ecologistas comportamentais desenvolveram gradualmente uma teoria para explicar por que foi feito o avanço para uma postura ereta, uma teoria que responde por muitas das características biológicas específicas do homem moderno. Os primeiros homens-macacos saíram das florestas tropicais para habitats mais abertos, sazonais, onde passaram a uma existência exclusivamente terrestre. Construíram acampamentos-base e tornaram-se dependentes da divisão de trabalho, através da qual alguns indivíduos, provavelmente as fêmeas, andavam menos e dedicavam mais tempo ao cuidado dos jovens; outros, principalmente ou exclusivamente os machos, se dispersavam amplamente em busca de caça. O bipedalismo conferia grande vantagem na locomoção em espaços abertos. Também deixava livre os braços, permitindo que os homens-macacos ancestrais usassem ferramentas e carregassem animais mortos e outros alimentos de volta ao acampamento. A divisão da comida e formas relacionadas de reciprocidade seguiram-se automaticamente como processos centrais da vida social dos homens-macacos. O mesmo aconteceu com a ligação sexual íntima e de longo prazo e o aumento da sexualidade, que foram postos a serviço da criação dos jovens. Muitas das formas mais distintas de comportamento social humano são produto desse complexo adaptativo profundamente entrelaçado.

 

A um tipo avançado de hominídeo seguiu-se outro, no laboratório evolucionário da África. E, começando com o Homo erectus, representantes de cada tipo se irradiaram através da massa eurasiana nos períodos interglaciais. Durante cada glaciação, a migração para fora da África era bloqueada; novos hominídeos eram “preparados” no ambiente africano de forças intensificadas de mutação através de dietas exóticas e seleção natural climaticamente induzida.

No final desses notáveis três milhões de anos na evolução da espécie humana, o cérebro humano havia triplicado! Lumsden e Wilson chamam isso de “talvez o avanço mais rápido registrado para qualquer órgão complexo em toda a história da vida”. Uma taxa tão notável de mudança evolucionária no principal órgão de uma espécie implica a presença de pressões seletivas extraordinárias.

Como os cientistas não puderam explicar essa triplicação do tamanho do cérebro humano em período evolucionário tão pequeno, alguns dos primeiros paleontólogos estudiosos de primatas e teóricos evolucionários previram e buscaram evidências de esqueletos de transição. Hoje em dia a idéia de um “elo perdido” foi praticamente abandonada. O bipedalismo, a visão binocular, o polegar em oposição e o braço capaz de fazer lançamentos – tudo isso já foi colocado como ingrediente-chave na mistura que fez com que os humanos auto-reflexivos se cristalizassem fora do caldeirão de tipos e estratégias dos hominídeos em competição. No entanto, tudo que realmente sabemos é que a mudança no tamanho do cérebro foi acompanhada por mudanças notáveis na organização social dos hominídeos. Eles se tornaram usuários de ferramentas, de fogo e da linguagem. Iniciaram o processo como animais superiores e saíram dele, há cerca de 100.00 anos, como indivíduos conscientes e com percepção de si próprios.

O verdadeiro elo perdido

 

Meu ponto de vista é que os componentes químicos mutagênicos e psicoativos existentes na dieta dos primeiros humanos influenciou diretamente a rápida reorganização das capacidades de o cérebro processar informações. Os alcalóides contidos nas plantas, especificamente os compostos alucinógenos como a psilocibina, a dimetiltriptamina (DMT) e a harmalina podem ter sido os fatores químicos da dieta que catalisaram o surgimento da auto-reflexão humana. A ação dos alucinógenos presentes em muitas plantas comuns aumentou nossa atividade de processamento de informações e nossa sensibilidade ambiental, com isso contribuíndo para a súbita expansão do tamanho do cérebro. Como aconteceu num estágio posterior desse mesmo processo, os alucinógenos atuaram como catalisadores no desenvolvimento da imaginação, alimentando a criação de estratagemas internos e esperanças que podem ter sinergizado o surgimento da linguagem e da religião.

Em pesquisas realizadas no final dos anos 60. Roland Fisher deu pequenas quantidades de psilocibina a estudantes de pós-graduação e em seguida mediu sua capacidade de detectar o momento em que linhas anteriormente paralelas se desviavam. Ele descobriu que a capacidade de desempenhar essa tarefa específica era aumentada depois de pequenas doses de psilocibina.

Quando discuti essas descobertas com Fisher, ele sorriu, depois de explicar suas conclusões, e em seguida resumiu: “Você vê, o que se provou conclusivamente aqui é que, sob certas circunstâncias, somos mais bem-informados sobre o mundo real se tomamos uma droga do que se não tomamos.” Sua resposta jacosa ficou em minha mente, primeiro como uma anedota acadêmica, depois como um esforço de sua parte para comunicar uma coisa profunda. Quais seriam as consequências, para a teoria da evolução, de admitir que alguns hábitos químicos conferem vantagem adaptativa e, portanto, tornam-se profundamente gravados no comportamento e até mesmo no genoma de alguns indivíduos?

Três grandes passos para a raça humana

 

Ao tentar responder essa pergunta construí um cenário – algumas pessoas podem chamá-lo de fantasia; é o mundo observado de um ponto de vista para o qual os milênios são apenas estações, uma visão para a qual fui levado por anos pensando nesses temas. Imaginemos, por um instante, que estamos fora da agitação genética que é a história biológica, e que podemos ver as consequências entrelaçadas de mudanças na dieta e no clima, que certamente devem ter sido muito lentas para serem percebidas por nossos ancestrais. O cenário que se desdobra envolve os efeitos interconectados e mutuamente reforçados da psilocibina tomada em três níveis. Por ser especial em suas propriedades, creio que a psilocibina é a única substância que poderia produzir esse cenário.

No primeiro nível de uso, o mais baixo, há o efeito que Fisher observou: pequenas quantidades de psilocibina, consumida sem consciência de sua psicoatividade, e talvez mais tarde consumida conscientemente, provocam um aumento notável na acuidade visual, especialmente na detecção periférica. Como a acuidade visual é valorizada entre os caçadores-coletores, a descoberta de um equivalente de “binóculos químicos” não poderia deixar de ter um impacto sobre o sucesso da caçada e da coleta por parte dos indivíduos que dispunham dessa vantagem, Devido ao aumento de comida disponível, os descendentes desses grupos terão uma probabilidade maior de chegar à idade reprodutiva. Numa situação assim, a não-proliferação (ou o declínio) dos grupos não-usuários de psilocibina seria uma consequência natural.

Como a psilocibina é um estimulante do sistema nervoso central, quando tomado em doses ligeiramente maiores ela tende a provocar a inquietação e a excitação sexual. Assim, nesse segundo nível de uso, ao aumentar a ocorrência da copulação os cogumelos favorecem diretamente a reprodução humana. A tendência de regular e programar a atividade sexual dentro do grupo, ligando-a a um ciclo lunar de disponibilidade dos cogumelos, pode ter sido importante como um primeiro passo em direção ao ritual e à religião. Sem dúvida, no terceiro e mais alto nível de uso, as preocupações religiosas estariam no primeiro plano da consciência da tribo, simplesmente por causa do poder e da estranheza da experiência em si.

Esse terceiro nível, então, é o nível do êxtase xamânico totalmente desabrochado. A intoxicação por psilocibina é um êxtase cujo sopro e profundidade são o desespero da prosa. É totalmente Outro, e não menos misterioso para nós do que era para nosso ancestrais que mastigavam cogumelos. A capacidade de dissolução de fronteiras do êxtase xamânico predispõe os grupos tribais usuários de alucinógenos aos laços comunitários e a atividades sexuais grupais, o que promove a mistura de genes, taxas maiores de nascimento e um senso comunitário de responsabilidade pela prole do grupo.

Em qualquer dose que o cogumelo fosse usado, ele possuía a propriedade mágica de conferir vantagens adaptativas sobre os usuários arcaicos e seus grupos. O aumento da acuidade visual, a excitação sexual e o acesso ao Outro transcendente levaram ao sucesso na obtenção de comida, à capacidade e ao vigor sexual, à prole abundante e ao acesso a esferas de poder sobrenatural. Todas essas vantagens podem ser facilmente auto-reguladas através da manipulação das doses e da frequência de ingestão. O capítulo 4 detalhará a notável propriedade da psilocibina, estimulando a capacidade do cérebro de formar linguagem. Seu poder é tão extraordinário que a psilocibina pode ser considerada a catalisadora do desenvolvimento da linguagem entre os homens.

Afastando-se de Lamarck

 

Uma objeção a essas idéias surge inevitavelmente e deve ser enfrentada. Esse cenário de surgimento do homem pode ter cheiro de lamarckismo, que teoriza que as características adquiridas por um indivíduo durante seu tempo de vida podem ser passadas à sua prole. O exemplo clássico é a afirmação de que a girafa tem pescoço comprido porque o estica para alcançar ramos mais altos. Essa idéia fácil de compreender e que faz bastante sentido é um completo anátema entre os neo-darwinistas, que atualmente estão na vanguarda da teoria evolucionária. A posição deles é que as mutações são totalmente aleatórias, e que somente depois das mutações serem expressas como características dos organismos a seleção natural cumpre inconsciente e desapaixonadamente sua função de preservar os indivíduos que receberam vantagem adaptativa.

A objeção deles pode ser colocada da seguinte forma: ainda que os cogumelos possam ter-nos dado melhor visão, sexo e linguagem quando comidos, como esses desenvolvimentos entraram no genoma humano e se tornaram inatamente humanos? Os desenvolvimentos não-genéticos do funcionamento de um organismo feitos através de agentes externos retardam os reservatórios genéticos correspondentes a essas facilidades, tornando-os supérfluos. Em outras palavras, se um metabólito necessário é comum na comida disponível, não haverá pressão para desenvolver uma característica para a expressão endógena desse metabólito. Assim, o uso dos cogumelos criariam individuos com menos acuidade visual, menos facilidade de linguagem e menos consciência. A natureza não proporcionaria esses desenvolvimentos através da evolução orgânica porque o investimento metabólico necessário à sua sustentação não valeria a pena, comparado ao minúsculo investimento metabólico necessário para comer cogumelos. E mesmo assim todos temos hoje em dia esses desenvolvimentos, sem ingerir cogumelos. Então, como as modificações proporcianadas pelos cogumelos entraram no genoma?

A resposta curta a essa pergunta, uma resopsta que não exige defender as idéias de Lamarck, é que a presença da psilocibina na dieta dos hominídeos mudou os parãmetros do processo de seleção natural ao mudar os padrões comportamentais sobre os quais essa seleção vinha operando. A experimentação com muitos tipos de alimentos estava causando um aumento geral no número de mutações aleatórias oferecidas ao processo de seleção natural, ao passo que o aumento da acuidade visual, do uso de linguagem e da atividade ritual através do uso de psilocibina representavam novos comportamentos. Um desses novos comportamentos, o uso da linguagem – que era anteriormente uma característica de importância apenas marginal – subitamente tornou-se muito útil no contexto dos novos estilos de vida caçadora e coletora. Nesse caso a inclusão de psilocibina na dieta mudou os parâmetros do comportamento humano em favor dos padrões que promoviam o maior uso da linguagem; a aquisição da linguagem levou a um maior vocabulário e à expansão da capacidade de memória. Os indivíduos usuários de psilocibina desenvolveram regras epigenéticas ou formas culturais que lhes permitiram sobreviver e se reproduzir melhor do que outros indivíduos. Finalmente, os estilos epigenéticos de comportamento mais bem-sucedidos se espalharam entre as populações junto com os genes que os reforçam. Desse modo, a população evoluiria genética e culturalmente.

E quanto à acuidade visual, talvez a ampla necessidade de lentes corretivas entre os homens modernos seja um legado do longo período de aumento “artificial” da visão através do uso de psilocibina. Afinal de contas, a atrofia das capacidades olfativas dos seres humanos é vista por uma escola como o resultado da necessidade de os famintos onívoros tolerarem cheiros e gostos fortes, talvez até de carniça. Permutas desse tipo são comuns na evolução. A supressão da agudeza no olfato e no paladar permitiria a inclusão, na dieta, de alimentos que seriam deixados de lado como “fortes demais”. Ou isso pode indicar alguma coisa mais profunda em nosso relacionamento evolucionário com a dieta. Meu irmão Dennis escreveu:

A aparente atrofia do sistema olfativo humano pode representar uma mudança funcional num conjunto de receptores químicos primitivos externamente dirigidos, levando-os a uma função reguladora interna. Essa função pode estar relacionada com o controle do sistema feromonal humano que, em grande parte, está sob controle da glândula pineal, e que media, num nível subliminar, uma quantidade de interações psicossociais e psicosexuais entre os indivíduos. A pineal tende, entre outras funções, a suprimir o desenvolvimento gronadal e o surgimento da puberdade, e esse mecanismo pode representar um papel na persistência das características neonatais na espécie humana. O atraso na maturação e a infãncia e adolescência prolongadas representam um papel crítico no desenvolvimento neurológico e psicológico do indivíduo, já que proporcionam as circunstãncias que permitem o desenvolvimento pós-natal do cérebro nos primeiros anos de infância, os anos formativos. Os estímulos simbólicos, cognitivos e linguísticos que o cérebro experimenta durante esse período são essenciais para seu desenvolvimento, e são os fatores que nos tornam os seres únicos, conscientes, manipuladores de símbolos e usuários da linguagem que somos, As aminas neuroativas e os alcalóides presentes na dieta dos antigos primatas podem ter representado um papel na ativação bioquímica da glândula pineal e nas adaptações resultantes disso.

 

Gostos adquiridos

 

Os seres humanos sentem-se ao mesmo tempo atraídos e repelidos por substâncias cujo sabor esteja no limite da aceitabilidade. Comidas muito temperadas, amargas ou aromáticas provocam fortes reações em nós. Dizemos que é preciso “adquirir o gosto” por esses tipos de comida. Isso é verdade para alimentos como queijos macios ou ovos em conserva, mas também acontece, e é mais verdadeiro, com relação às drogas. Lembrar o primeiro cigarro ou a primeira dose de conhaque é lembrar-se de um organismo rejeitando violentamente a aquisição de um gosto em particular. A repetição do contato parece ser a chave para se adquirir um gosto, o que sugere que o processo é complexo e envolve adaptações comportamentais e bioquímicas.

Isso que estamos falando começa a se parecer estranhamente com o processo do vício em drogas. Uma coisa estranha ao corpo é repetidamente introduzida nele através da decisão consciente. O corpo se ajusta ao novo regime químico como sendo correto e adequado e dá sinais de alarme quando esse regime é ameaçado. Esses sinais podem ser psicológicos e fisiológicos e serão sentidos sempre que o novo ambiente químico dentro do corpo correr algum tipo de perigo, inclusive a decisão consciente de interromper o uso da substância química em questão. Dentre o vasto número de substâncias químicas que constituem o armazém molecular da natureza, temos discutido um número relativamente pequeno de componentes que interagem com os sentidos e o processo neurológico de processar dados. Esses compostos incluem todas as aminas psicoativas, os alcalóides, os fermônios e os alucinógenos – na verdade, são todos componentes que podem interagir com quaisquer dos sentidos, do paladar e do olfato até a visão e audição e combinação de todos eles. A aquisição de um gosto por esses compostos, a aquisição de um hábito reforçado comportamental e fisiologicamente, é o que defende a síndrome básica do vício químico.

Esses compostos têm a capacidade notavel de, ao mesmo tempo, lembrar-nos de nossa fragilidade e de nossa capacidade para as coisas magníficas. As drogas, como a realidade, parecem destinadas a confundir quem procura fronteiras nítidas e uma divisão fácil do mundo em termos de preto e branco. O modo como iremos enfrentar o desafio de definir nossos relacionamentos futuros com esses componentes, e com as dimensões de risco e oportunidade que eles oferecem, pode dar a palavra final sobre nosso potencial para a sobrevivência e para a evolução como espécie consciente.

Capítulo 3 – A Busca da Árvore Primal do Conhecimento

 

Os aluconógenos como o verdadeiro elo perdido

 

A noção que estamos explorando neste livro é que uma família particular de compostos químicos ativos, os alucinógenos indóis, representaram um papel decisivo no surgimento de nossa humanidade essencial, da característica humana de auto-reflexão. Por isso é importante saber exatamente o que são esses compostos e que papel eles desempenham na natureza. As características definidoras desses alucinógenos são estruturais: todos têm um grupo pentexil, de cinco lados, em associação com o anel benzeno, mais conhecido (ver Figura 28). Esses anéis moleculares tornam os indóis altamente reativos quimicamente e, portanto, moléculas ideais para a atividade metabólica no mundo de alta energia da vida orgânica.

Os alucinógenos podem ser psicoativos e/ou fisiologicamente ativos e podem ter como alvo muitos sistemas dentro do corpo. Alguns indóis são endógenos ao corpo humano – um bom exemplo é a serotonina. Muitos outros são exógenos, encontrados na natureza e nas plantas que podemos comer. Alguns se comportam como hormônios e regulam o crescimento ou a taxa de maturação sexual. Outros influenciam o humor e o estado de alerta. São quatro as famílias dos compostos indóis que são fortes alucinógenos visionários e que também ocorrem em plantas:

1. Os compostos do tipo LSD. Encontrados em três gêneros relacionados de ipoméias e fungos de cereais, os LSDs são raros na natureza. O fato de serem os alucinógenos mais conhecidos deve-se indubitavelmente a milhares de doses de LSD terem sido fabricadas e vendidas durante os anos 60. O LSD é um psicodélico, mas são necessárias doses relativamente grandes para provocar o paradis artificiel de alucinações vívidas e absolutamente transmundanas que é produzido pela DMT e pela psilocibina em doses bastante tradicionais. Não obstante, muitos pesquisadores enfatizaram a importância dos efeitos não-alucinógenos do LSD e de outros psicodélicos. Dentre esses efeitos pode-se citar um sentimento de expansão mental e aumento na velocidade do pensamento; a capacidade de compreender e de se relacionar com questões complexas de pensamento, com a estruturação da vida e com redes complexas e decisórias de ligação conectiva.

O LSD continua a ser fabricado e vendido em quantidades maiores do que qualquer outro alucinógeno. Foi visto como auxiliar na psicoterapia e no tratamento do alcoolismo crônico: “Sempre que foi experimentado, em todo o mundo, mostrou-se um interessante tratamento para uma doença muito antiga. Nenhuma outra droga até hoje pôde igualar-se a ele em salvar as vidas atormentadas dos alcoólatras inverterados – diretamente, como tratamento, ou indiretamente, como meio de produzir informações valiosas.” Mas, em consequência da histeria da mídia, pode ser que seu potencial jamais venha a ser conhecido.

2. Os alucinógenos triptamínicos, especialmente a DMT, a psilocina e a psilocibina. Os alucinógenos triptamínicos são encontrados em todas as famílias de plantas superiores – por exemplo, nos legumes – e a psilocina e a psilocibina ocorrem nos cogumelos. A DMT também ocorre endogenamente no cérebro humano. Por esse motivo, talvez não se deva pensar na DMT como uma droga, mas a intoxicação por DMT é o mais profundo e visualmente espetacular dos alucinógenos, notável por sua breviedade, intensidade e atoxidade.

3. As betacarbolinas. As betacarbolinas, como a harmina e a harmalina, podem ser alucinógenos perto do nível tóxico. São importantes para o xamanismo visionário porque podem inibir sistemas enzimáticos do corpo que, caso isso não acontecesse, despotencializariam os alucinógenos do tipo DMT. Portanto as betacarbolinas podem ser usadas em conjunção com a DMT para prolongar e intensificar as alucinações visuais. Essa combinação é a base da infusão alucinógena ayahuasca ou yagé, usada na Amazônia. As betacarbolinas são drogas legais, e até muito recentemente eram virtualmente desconhecidas do público geral.

4. A família de substâncias ibogana. Essas substâncias ocorrem em dois gêneros aparentados de árvores africanas e sul-americanas, a Tabernanthe e a Tabernamntana. A Tabernathe iboga é um pequeno arbusto de flores amarelas aparentado com o café e tem uma história de utilização como alucinógeno na África ocidental tropical. Seus componentes ativos têm uma relação estrutural com as betacarbolinas. A ibogana é mais conhecida como poderoso afrodisíaco do que como alucinógeno. Não obstante, em doses suficientes ela é capaz de induzir uma podrosa experiência visionária e emocional.

Esses poucos parágrafos numerados podem conter as informações mais importantes e excitantes, relativas ao mundo vegetal, que os seres humanos coletaram desde o esquecido nascimento da ciência. Mais precioso do que as notícias sobre o antineutrino, mais cheio de esperança para a humanidade do que a detecção de novos quasares é o conhecimento de que certas plantas, certos compostos, destrancam portas esquecidas levando a mundos de experiência imediata que confundem nossa ciência e, de fato, nos confundem. Adequadamente entendida e aplicada, essa informação pode se tornar uma bússola que nos guie de volta ao jardim perdido de nossas origens.

Em busca da árvore do conhecimento

 

Na tentativa de compreender quais alucinógenos indóis e quais plantas podem ter tido implicação causal no surgimento da consciência, vários pontos importantes devem ser observados:

A planta que estamos procurando deve ser africana, já que há enormes evidências de que o gênero humano surgiu na África. Mais especificamente, a planta africana deveria ser nativa das pradarias, já que foi aí que os nosso ancestrais recém-onívoros aprenderam a se adaptar, a coordenar seu bipedalismo e a refinar os métodos de sinalização existentes.

A planta não deve exigir qualquer preparação; deve ser ativa em seu estado natural. Supor algo diferente é forçar a credulidade – misturas, drogas compostas, extratos e concentrações pertencem a estágios posteriores de cultura, quando a consciência humana e o uso da linguagem já estavam bem estabelecidos.

A planta deve estar continuamente disponível para uma população nômade, facilmente perceptível e em grande quantidade.

A planta deve conferir benefícios imediatos e tangíveis para os indivíduos que a estão comendo . Somente assim ela se estabeleceria e se manteria como parte da dieta dos hominídeos.

Essas exigências reduzem dramaticamente o número de concorrentes. A África tem poucas plantas alucinógenas. Essa escassez e a contrastante superabundância desse tipo de planta nos trópicos do Novo Mundo nunca foram satisfatoriamente explicadas. Será mera coincidência que, quanto maior o tempo pelo qual um ambiente foi exposto aos seres humanos, menor o número de alucinógenos nativos e menor o número de espécies de plantas em que eles ocorrem naturalmente? A África atual praticamente não tem plantas nativas que sejam bons candidatos para a catálise da consciência entre os hominídeos em evolução.

As pradarias têm muito menos espécies vegetais do que as florestas. Devido a essa escacez, é muito provável que um hominídeo testasse qualquer planta que encontrasse nas pradarias em busca de seu potencial alimentício. O eminente geógrafo Carl Saur achava que não existem pradarias naturais. Ele sugeriu que todas as pradarias eram artefatos humanos, resultantes do impacto cumulativo das queimadas sazonais. Baseou esse argumento no fato de que todas as espécies das pradarias podem ser encontradas na base das florestas que as margeiam, ao passo que uma grande percentagem das espécies encontradas nas florestas estão ausentes nas pradarias. Saur concluiu que as pradarias são tão recentes que podem ser vistas como concomitantes às populações humanas usuárias de fogo.

Eliminando os candidatos

 

Hoje em dia, apenas a religião do Bwiti, dos fang do Gabão e do Zaire, pode ser chamada de um verdadeiro culto africano baseado numa planta alucinógena. É concebível que a planta utilizada, a Tabernanthe iboga, possa ter tido alguma influência sobre os povos pré-históricos do século XIX. Em nenhuma época, por exemplo, ela foi mencionada pelos portugueses, que tiveram uma longa história de comércio e exploração na África Ocidental. Essa falta de evidências é difícil de se explicar, caso se acredite que o uso da planta seja muito antigo.

Analisando sociologicamente, o Bwiti é uma força não somente de coesão grupal como de manutenção de casamentos. Historicamente, o divórcio é uma fonte crônica de ansiedade grupal entre os fang. Isso deve-se ao fato de que o divórcio é facilmente obtido, mas logo depois ele deve ser acompanhado de negociações complicadas, longas e potencialmente caras com a famíla do cônjuge, relativas à devolução de parte do dote. Talvez a iboga, além de ser um alucinógeno, ative um feromônio que promova a união do casal. Sua reputação como afrodisíaco poderia estar parcialmente relacionada a essa promoção do laço entre o casal.

A planta em si é um arbusto de tamanho médio, não é nativa das pradarias, e sim das florestas tropicais. Raramente é encontrada fora da área de cultivo.

Como resultado dos contatos dos europeus com a África tropical, a iboga tornou-se o primeiro indol a entrar em voga na Europa. Tônicos baseados no extrato da planta tornaram-se extremamente populares na França e na Bélgica depois da iboga ser apresentada ao público na Exposição de 1867 em Paris. Esse extrato simples era vendido na Europa com o nome de Lambarene, como cura para tudo, da neurastenia à sífilis e, acima de tudo, um afrodisíaco.

Somente em 1901 o alcalóide foi isolado. A onda inicial de pesquisas que se seguiu parecia promissora. Antecipou-se ansiosamente a cura para a impotência masculina. No entanto, a ibogaína, depois de caracterizada quimicamente, foi logo esquecida. Ainda que não surgisse qualquer evidência de que fosse perigoso ou viciante, o composto foi colocado, nos Estados Unidos, na Lista I, a categoria mais restritiva e controlada, tornando extremamente improváveis outras pesquisas. Até hoje a ibogaína continua praticamente sem ser estudada nos seres humanos.

O que sabemos sobre o culto da iboga aprendemos com o trabalho de campo dos antropólogos. Raspas das raízes da planta são tomadas em quantidades prodigosas. Os fang acreditam que esse hábito foi adquirido durante uma migração que durou séculos, na qual eles estiveram algum tempo próximos ao povo pigmeu, que lhes ensinou o poder espiritual contido no Bwiti. A casca da raiz da Thabernathe iboga contém a parte psicoativa da planta. De acordo com os fang, devem ser comidos muitos gramas desse material da raiz para “abrir a cabeça”. A partir daí, quantidades menores tornam-se eficazes pelo resto da vida da pessoa.

Apesar do culto da iboga ser muito interessante, não creio que essa planta tenha sido o catalisador da consciência nos humanos em evolução. Como já foi mencionado antes, não foi demonstrada uma longa história de sua utilização, e ela não é uma planta de pradarias. Além disso, em pequenas doses ela diminui a visão comum ao facilitar a persistência de imagens, halos e “listras” visuais.

Não é conhecido o uso de qualquer planta contendo LSD na África. Tampouco existe qualquer exemplo marcante de plantas ricas nesses compostos.

A Peganum Harmala, a gigantesca arruda da Síria, é rica na harmina betacarbolina e atualmente ocorre em estado selvagem em todas as partes áridas da África do Norte junto ao Mediterrâneo. Mas não há qualquer registro de seu uso na África como alucinógeno, e , de qualquer modo, ela deve ser concentrada e/ou combinada com DMT para ativar seu potencial visionário.

A planta de UR

 

Então ficamos, por um processo de eliminação, com os alucinógenos do tipo triptamina – a psilocibina, a psilocina e a DMT. Num ambiente de pradarias pode-se esperar que esses compostos ocorram num cogumelo coprófilo (que nasce sobre esterco) contendo psilocibina ou numa erva contendo DMT. Mas, a não ser que a DMT fosse extraída e concentrada, algo além do alcance técnico dos primeiros seres humanos, essas ervas jamais poderiam suprir quantidades suficientes de DMT para proporcionar um alucinógeno eficaz. Por um processo de eliminação, somos levados a suspeitar de um cogumelo que pudesse estar envolvido no processo.

Quando nossos ancestrais remotos afastaram-se das árvores e passaram a ocupar as pradarias, cada vez mais encontraram gado selvagem que comia vegetação. Esses animais tornaram-se uma grande fonte de sustento potencial. Nossos ancestrais também encontraram o esterco desse gado selvagem e os cogumelos que cresciam sobre ele.

Vários desses cogumelos das pradarias contêm psilocibina: os da espécie Panaeolus e o Stropharia cubensis, também chamado de Psilocybe cubensis (ver a Figura 1). Este último é o conhecido “cogumelo mágico”, atualmente cultivado por entusiastas em todo o mundo.

Dessas espécies de cogumelo, apenas o Stropharia cubensis contém psilocibina em quantidades concentradas e está livre de compostos que produzam náusea. Só ele é pandêmico – ocorre em todas as regiões tropicais, pelo menos em todos os lugares onde exista gado do tipo zebu (Bos indicus). Isso levanta várias questões. Será que o Stropharia cubensis ocorre exclusivamente no esterco de zebu ou pode ocorrer também o esterco de outro tipo de gado? Há quanto tempo ele chegou aos seus vários habitats? O primeiro espécime de Psilocybe cubensis foi coletado pelo botânico americano Earle em Cuba, em 1906, mas o atual pensamento botânico coloca o ponto de origem da espécie no sudeste da Ásia. Numa escavação arqueológica na Tailândia, num local chamado Non Nak Thadatado em quinze mil anos – , foram encontrados ossos de gado zebu junto com túmulos humanos. Atualmente o Stropharia cubensis é comum na área de Non Nak Tha. O sítio de Non Nak Tha sugere que o uso dos cogumelos foi uma característica que surgiu sempre que populações de homens e gado evoluíram juntos.

Amplas evidências apóiam a noção de que o Stropharia cubensis é a superplanta ou o umbigo da mente feminina do planeta, que, quando seu culto estava intacto – o culto paleolítico da Grande Deusa de Chifres – , transmitia o conhecimento de que somos capazes de viver num equilíbrio dinâmico com a natureza, com os outros e com nós mesmos. O uso de cogumelos alucinógenos evoluiu como uma espécie de hábito natural com consequências comportamentais e evolucionárias. Esse relacionamento entre seres humanos e cogumelos teria de incluir também o gado, os criadores da única fonte dos cogumelos.

Esse relacionamento provavelmente não tem mais de um milhão de anos, já que data dessa época a era dos caçadores nômades. Os últimos cem mil anos são provavelmente uma quantidade de tempo mais do que generosa para permitir a evolução do pastoralismo a partr de seu primeiro vislumbre. Como todo o relacionamento não passa de um milhão de anos, não estamos discutindo uma simbiose biológica que pode levar muitos milhões de anos para se desenvolver. Em vez disso falamos de um costume profundamente arraigado, um hábito cultural extremamente poderoso.

Independentemente de como a chamamos, a interação dos homens com o cogumelo Stropharia cubensis não foi um relacionamento estático,e sim dinâmico, através do qual fomos levados, por méritos próprios, a níveis culturais cada vez mais altos e a níveis de autoconsciência individual. Acredito que o uso dos cogumelos alucinógenos nas pradarias da África nos deu o modelo para o surgimento de todas as religiões. E quando, após longos séculos de lento esquecimento, de migrações e mudanças climáticas, o conhecimento do mistério finalmente se perdeu, em nossa angústia trocamos a parceria pelo domínio, a harmonia com a natureza pelo estupro da natureza, a poesia pelo sofisma da ciência. Resumindo, trocamos nosso direito inato de parceiros no drama da mente viva do planeta pelos cacos da história, pela guerra, pela neurose e – se não acordarmos rapidamente para a nossa situação difícil – pela catástrofe planetária.

O que são os alucinógenos vegetais?

 

À luz da sua importância, conforme sugeri, para a evolução humana, é natural investigar o que os mutagenes e outros subprodutos secundários estão fazendo pelas plantas em que eles ocorrem. Esse é um mistério botânico que permanece controvertido entre os biólogos evolucionários da atualidade. Foi sugerido que os compostos tóxicos e bioativos são produzidos nas plantas para torná-las não-palatáveis e portanto indesejáveis como alimento. Também sugeriu-se, por outro lado, que esses compostos foram desenvolvidos para atrair insetos ou pássaros que polinizam ou distribuem sementes.

Uma explicação mais provável para a presença de compostos secundários baseia-se no reconhecimento de que, na verdade, eles não são secundários ou periféricos. A evidência disso é que os alcalóides, geralmente vistos como secundários, são formados na maior quantidade em tecidos que são mais ativos no metabolismo geral. Os alcalóides, inclusive todos os alucinógenos mencionados aqui, não são produtos inertes nas plantas onde ocorrem, mas estão num estado dinâmico, flutuando em concentração e na taxa de declínio metabólico. O papel desses alcalóides na química do metabolismo deixa claro que eles são essenciais à vida e à estratégia de sobrevivência do organismo, mas agem de maneiras que ainda não compreendemos.

Uma possibilidade é que alguns desses compostos possam ser exoferomônios. Os exoferomônios são mensageiros químicos que não atuam entre os membros de uma única espécie, mas sim entre as espécies, de modo que um indivíduo influencia membros de uma espécie diferente. Alguns exoferomônios agem de modo a permitir que um pequeno grupo de indivíduos afete uma comunidade ou todo um nicho biológico.

A noção de natureza como um todo organísmico e planetario que medeia e controla seu próprio desenvolvimento através da liberação de mensagens químicas pode ser um tanto radical. Nossa herança do século XIX é que a natureza não passa de “dentes e garras”, onde uma ordem natural impiedosa e irracional promove a sobrevivência dos que são capazes de garantir sua própria existência continuada à custa dos concorrentes. Concorrentes, nessa teoria, significa todo o resto da natureza. Entretanto, a maioria dos biólogos evolucionários há muito considera incompleta essa visão darwinista clássica da natureza. Hoje em dia há uma compreensão geral de que a natureza, longe de ser uma guerra infinita entre as espécies, é uma infinita dança de diplomacia. E a diplomacia é em grande parte questão de linguagem.

A natureza parece maximizar a cooperação mútua e a coordenação mútua de objetivos. Ser indispensável aos organismos com os quais compartilhamos um ambiente é a estratégia que garante a reprodução bem-sucedida e a sobrevivência contínua. É uma estratégia onde a comunicação e a sensibilidade ao processamento de sinais são de importância vital. Essas são habilidades de linguagem.

Só agora começa a ser estudada com atenção a idéia de que a natureza pode ser um organismo cujos componentes interconectados agem uns sobre os outros e se comunicam mutuamente através da liberação de sinais químicos no ambiente. Mas a natureza tende a agir com uma certa economia; uma vez desenvolvida, uma determinada resposta evolucionária a um problema será aplicada repetidamente em situações onde seja adequada.

O Outro Transcendente

 

Se os alucinógenos funcionam como mensageiros químicos entre espécies, então a dinâmica da relação íntima entre primata e planta alucinógena é uma dinâmica de transferência de informações entre uma espécie e outra. Onde não existem alucinógenos vegetais, essas transferncias de informação acontecem muito mais devagar, mas na presença dos alucinógenos uma cultura é rapidamente apresentada a informações cada vez mais novas, a dados sensórios e a comportamentos, e assim é elevada a estágios cada vez mais altos de auto-reflexão. Chamo isso de contato com o Outro Transcendente, mas este é apenas um rótulo, e não uma explicação.

De certo ponto de vista, o Outro Transcendente é a natureza percebida como coisa viva e inteligente. De outro, ele é a união espantosamente estranha de todos os sentidos com a memória do passado e a antecipação do futuro. O Outro Trascendente é o que encontramos nos alucinógenos poderosos. É o ponto crucial do Mistério de existirmos, tanto como espécie quanto como indivíduos. O Outro Transcendente é a Natureza sem sua máscara alegremente confortadora de espaço comum, tempo comum e causalidade comum.

Claro que não é fácil imaginar esses elevados estágios de auto-reflexão. Porque quando procuramos fazer isso estamos agindo como se esperássemos que a linguagem, de algum modo, abarcasse algo que, no presente, está além da linguagem, algo translinguístico. A psilocibina, o alucinógenos que só ocorre nos cogumelos, é um instrumento eficaz nessa situação. O principal efeito sinergístico da psilocibina parece estar, em última instância, no âmbito da linguagem. Ela exercita a verbalização; dá força à articulação; transmuta a linguagem em algo visível. Ela poderia ter provocado um impacto sobre o aparecimento súbito da consciência e da linguagem usada pelos primeiros homens. Nós podemos, literalmente, ter comido o caminho para a consciência mais elevada. Nesse contexto é importante observar que os mais poderoso mutagenes que existem no ambiente natural ocorrem nos bolores e nos fungos. Os cogumelos e os grãos de cereal infectados por bolores podem ter tido grande influência sobre as espécies animais, inclusive os primatas, evoluindo nas pastagens

O Alimento dos Deuses – Terence Mckenna (pt 2)

Trechos do primeiro capítulo: Xamanismo: Arrumando o Palco

Um mundo feito de linguagem

As evidências reunidas em milênios de experiência xamânica dizem que, de certo modo, o mundo é na verdade feito de linguagem. Ainda que contrariando as expectativas da ciência moderna, essa proposição radical concorda com boa parte do atual pensamento linguístico. “A revolução linguística do século XX”, segundo a antropóloga Misia Landau, da Boston University, “é o reconhecimento de que a linguagem não é apenas um instrumento para a comunicação de idéias sobre o novo mundo, mas, em primeiro lugar, uma ferramenta para dar vida ao mundo. A realidade não é simplesmente “experimentada” ou “refletida” na linguagem; em vez disso é, de fato, produzida pela linguagem.”

Segundo o ponto de vista do xamã psicodélico, o mundo parece existir mais na natureza de uma expressão vocal ou de uma narrativa do que relacionado de qualquer modo aos léptons e bárions ou carga e spin dos quais falam nossos sumos sacerdotes, os físicos. Para o xamã, o cosmo é uma narrativa que se torna real enquanto é contada e enquanto conta a si própria. Essa perspectiva implica que a imaginação humana pode controlar o leme de estar no mundo. A libertdade, a responsabilidade pessoal e uma consciência humilde do verdadeiro tamanho e da inteligência do mundo combinam-se neste ponto de vista para torná-lo uma base adequada a uma verdadeira vida neo-arcaica. Uma reverência pelos poderes da linguagem e da comunicação e uma imersão neles são as bases do caminho xamânico.

É por isso que o xamã é o ancestral remoto do poeta e do artista. Nossa necessidade de fazer parte do mundo parece exigir que nos expressemos através da atividade criativa. As fontes definitivas dessa criatividade estão ocultas no mistério da linguagem. O êxtase xamânico é um ato de rendição que autentica o Eu individual e aquilo a que ele se rende, o mistério do ser. Como nossos mapas da realidade são determinados pelas circunstâncias atuais, tendemos a perder a consciência dos padrões mais amplos de tempo e espaço. Somente através do acesso ao Outro Transcendente podem ser vislumbrados esses padrões de tempo e espaço e nosso papel dentro deles. O xamanismo procura esse ponto de vista mais alto, que é alcançado através de um feito de perícia linguística. Um xamã é alguém que conseguiu uma visão dos princípios e dos fins de todas as coisas, e que consegue comunicar essa visão. Para o pensador racional isso é inconcebível, mas as técnicas do xamanismo são dirigidas para esse objetivo, e essa é a fonte do seu poder. Dentre as técnicas do xamã, a mais importante é o uso de alucinógenos vegetais, repositórios da gnose vegetal vive que se encontra – agora praticamente esquecida – em nosso passado.

Uma realidade dimensional mais elevada

Ao entrar no domínio da inteligência vegetal o xamã ganha, de certo modo, acesso privilegiado a uma perspectiva dimensional mais elevada sobre a experiência. O bom senso presume que, apesar da linguagem estar sempre evoluindo, a matéria-prima daquilo que a linguagem expressa é relativamente constante e comum a todos os seres humanos. Além disso, também sabemos que a língua hopi não tem tempos ou conceitos de passado ou futuro. Como, então, o mundo hopi pode ser igual ao nosso? E os inuítes não tem o pronome pessoal da primeira pessoa. Como, então, o mundo deles pode ser igual ao nosso?

As gramáticas das línguas – suas regras internas – têm sido cuidadosamente estudadas. Ainda assim, muito pouca atenção foi dedicada a examinar o modo como a linguagem cria e define os limites da realidade. Talvez a linguagem seja mais adequadamente compreendida quando pensadas em termos de magia, já que a postura básica da magia é de que o mundo é feito de linguagem.

Se a linguagem é aceita como primeiro elemento do conhecimento, então nós, do ocidente, fomos tristemente enganados. Somente as abordagens xamânicas poderão nos dar as respostas que achamos mais interessantes: quem somos, de onde viemos e para que destino estamos nos dirigindo? Essas perguntas nunca foram mais importantes do que hoje em dia, quando as evidências do fracasso da ciência em nutrir a alma da humanidade estão ao nosso redor. O nosso tédio não é somente um tédio temporal do espírito; se não tivermos cuidado, nossa condição será uma condição temporal do corpo e do espírito coletivos.

O preconceito racional, mecanicista e antiespiritual de nossa cultura tornou impossível apreciarmos a estrutura mental do xamã. Somos cultural e linguisticamente cegos ao mundo das forças e interconexões que permanecem claramente visíveis aos que mantiveram o relacionamento arcaico com a natureza.

É claro que quando cheguei à Amazônia, vinte anos atrás, não sabia de nada disso. Como a maioria dos ocidentais, acreditava que a magia era um fenômeno dos ingênuos e primitivos, que a ciência poderia dar uma explicação para o funcionamento do mundo. Nessa posição de ingenuidade intelectual, encontrei pela primeira vez cogumelos contendo psilocibina em San Augustine, no alto Magdalena, ao sul da Colômbia. Mais tarde, e não muito distante dali, em Florencia, também encontrei e usei infusões visionárias feitas com cipós banisteriopsis, o yagé ou ayahuasca das lendas underground dos anos 60.

As experiências que tive durante essas viagens foram pessoalmente transformadoras e, mais importante, me apresentaram a uma classe de experiências vitais para a restauração do equilíbrio entre nossos mundos social e ambiental.

Compartilhei da mente grupal gerada nas sessões de visões dos ayahuasqueros. Vi os dardos mágicos de luz vermelha que um xamã pode mandar contra outro. Porém, mais reveladores do que os feitos paranormais dos magos e dos curandeiros espirituais foram as riquezas interiores que descobri em minha mente no auge dessas experiências. Ofereço meu relato como uma espécie de testemunho, um Homem Comum; se essas experiências aconteceram comigo, elas podem fazer parte da experiência geral dos homens e das mulheres em todo o mundo.

Um memento xamânico

Minha educação xamânica não foi especial. Milhares de pessoas de um modo ou de outro, concluíram que as plantas psicodélicas e as instituições xamânicas implicadas por seu uso são instrumentos profundos para a exploração das profundezas internas da psique humana. Agora os xamãs psicodélicos constituem uma subcultura mundial e crescente de exploradores hiperdimensionais, muitos dos quais são cientificamente sofisticados. Uma paisagem começa a entrar em foco, uma região ainda pouco vislumbrada, mas que vem surgindo, chamando a atenção do discurso racional – e possivelmente ameaçando confundi-lo. Anida podemos nos lembrar de como devemos nos comportar, de como assumir o lugar correto no padrão de conexão, na teia contínua de todas as coisas.

A compreensão de como alcançar esse equilíbrio depende das culturas esquecidas e maltratadas que vivem nas florestas úmidas e nos desertos do Terceiro Mundo e nas reservas para onde as culturas dominadoras forçam os povos aborígenes. A gnose xamânica pode estar morrendo; certamente está mudando. Mas os alucinógenos vegetais que são sua origem, origem da mais antiga religião humana, continuam como uma fonte que jorra, refrescante como sempre. O xamanismo é vital e real devido ao encontro do indivíduo com o desafio e o espanto, o êxtase e a exaltação induzidos pelas plantas alucinógenas.

Meus contatos com o xamanismo e os alucinógenos na Amazônia me convenceram de sua importância salvadora. Depois de me convencer, decidi filtrar as várias formas de ruído linguístico, cultural, farmacológico e pessoal que obscureciam o Mistério. Tive a esperança de destilar a essência do xamanismo, de descobrir o esconderijo da Epifania. Quis ver além dos véus de sua dança sinuosa. Como um voyeur cósmico, sonhei confrontar a beleza nua.

Um cínico do tipo dominador poderia se contentar em rejeitar isso como ilusão da juventude romântica. Ironicamente, já fui este cínico. Sentia a loucura da busca. Sabia das dificuldades. “O Outro? A beleza platônica nua? Você deve estar brincando!”

E devo admitir que houve muitas desventuras loucas pelo caminho. “Devemos nos tornar os loucos de Deus”, falou uma vez um entusiasmado amigo zen, querendo dizer: “Vai fundo.” Buscar e encontrar era um método que funcionara para mim no passado. Eu sabia que na Amazônia ainda sobreviviam práticas xamânicas baseadas no uso de plantas alucinógenas e estava determinado a confirmar minha intuição de que por trás desse fato havia um grande segredo não descoberto.

A realidade superou a apreensão. O rosto manchado da velha leprosa ficou ainda mais horroroso quando as chamas da fogueira saltaram subitamente no momento em que ela colocou mais lenha. Na semi-escuridão por trás da mulher pude ver o guia que me trouxera a esse lugar sem nome no rio Cumala. Antes, no bar da cidade junto ao rio, este encontro casual com o barqueiro disposto a me levar para ver a milagrosa feiticeira do ayahuasca, lendária do local, pareceu uma grande ocasião para uma história. Agora, após três dias de viagem pelo rio e de meio dia lutando por trilhas tão enlameadas a ponto de ameaçar arrancar as botas a cada passo, eu não tinha tanta certeza.

Neste ponto, o objetivo original de minha busca – o autêntico ayahuasca da floresta, que diziam ser muito diferente da lavagem oferecida pelos charlatães do mercado – praticamente não tinha mais interesse para mim.

– Tomé, caballero! – cacarejou a velha enquanto me passava um copo cheio do líquido negro e espesso. Sua superfície tinha o brilho de óleo de motor.

Ela deve ter crescido representando esse papel, pensei enquanto bebia. O líquido era quente e salgado, áspero e agridoce. Tinha o gosto do sangue de uma coisa velha, muito velha. Tentei não pensar no quanto estava à mercê daquelas pessoas estranhas. Mas na verdade minha coragem estava fraquejando. Os olhos zombeteiros de Doña Catalina e do guia tinham ficado frios e parecidos com olhos de louva-deus. Uma onda de sons de insetos passando rio acima pareceu respingar a escuridão com cacos de luz amolada. Senti os lábios ficando dormentes.

Tentando não parecer tão pesado quanto estava, fui até minha rede e deitei de costas. Por trás de meus olhos fechados havia um rio de luz magenta. Ocorreu-me, numa espécie de pirueta mental, que devia haver um helicóptero pousando sobre a cabana, e esta foi a minha impressão.

Quando recuperei a consciência, parecia estar surfando no tubo de uma onda de informações transparentes e iluminadas, com dezenas de metros de altura. A empolgação deu lugar ao terror quando percebi que minha onda acelerava em direção a um litoral rochoso. Tudo desapareceu no caos trovejante de onda informacional indo de encontro à terra virtual. Mais tempo perdido e em seguida a impressão de ser um marinheiro naufragado, lançado a uma praia tropical. Sentia que estava apertando o rosto contra a areia quente. Tenho sorte de estar vivo! Ou será que estou vivo para ter sorte? Comecei a rir.

Nesse ponto a velha começou a cantar. Não uma canção comum, e sim um icaro, uma canção mágica de cura, que em nosso estado intoxicado e extático mais parece um peixe de recife tropical ou uma encharpe de seda com muitas cores do que um desempenho vocal. A canção é uma manifestação visível de poder, envolvendo-nos e deixando-nos seguros.

O xamanismo e mundo arcaico perdido

O xamanismo foi maravilhosamente definido por Mircea Eliade como “as técnicas arcaicas do êxtase”. O uso que Eliade faz do termo “arcaico” é importante aqui porque nos alerta para o papel que o xamanismo deve representar em qualquer renascimento autêntico das formas arcaicas vitais de ser, viver e compreender. O xamã consegue entrar num mundo que está oculto para quem vive na realidade comum. Nesta outra dimensão se escondem tanto poderes úteis como malévolos. Suas regras não são as regras de nosso mundo; parecem mais as regras que atuam nos mitos e nos sonhos.

Os curandeiros xamânicos insistem na existência de um Outro inteligente em alguma dimensão próxima. A existência de uma ecologia de almas ou uma inteligência não encarnada não é uma coisa com a qual a ciência possa se atracar e em seguida imergir com suas premissas intactas. Particularmente se esse Outro tem feito parte da cultura terrestre há muito tempo, presente porém invisível, compartilhando um segredo global.

Os textos de Carlos Castaneda e de seus imitadores resultaram numa coqueluche de “consciência xamânica” que, mesmo confusa, transformou o xamã de uma figura periférica na literatura da antropologia cultural, no modelo colocado pela mídia para a entrada na sociedade neo-arcaica. A despeito da atração que o xamanismo provoca sobre a imaginação popular, os fenômenos paranormais que ele presume serem reais e verdadeiros nunca foram levados a sério pela ciência moderna, ainda que os cientistas, num caso raro de deferência, tenham chamado psicólogos e entropólogos para analisar o xamanismo. Essa cegueira em relação ao mundo paranormal criou um ponto cego intelectual em nossa visão normal de mundo. Somos completamente inconscientes do mundo mágico do xamã. Ele é simplesmente mais estranho do que podemos supor.

Considere um xamã que use plantas para conversar com um mundo invisível habitado por inteligências não-humanas. Pareceria perfeito para manchete de um tablóide sensacionalista. Entretanto, os antropólogos registram essas coisas o tempo todo e ninguém ergue uma sobrancelha. Isso porque tendemos a presumir que o xamã interpreta sua experiência da intoxicação como comunicação com espíritos ou ancestrais. A implicação é que você ou eu interpretaríamos essa mesma experiência de modo diferente, e que portanto não é de se espantar que um campesino pobre e desinformado ache que estava falando com um anjo.

Por mais xenofóbica que seja essa atitude, ela sugere um bom procedimento operacional, já que o que se diz é: “Mostre as técnicas de seu êxtase e julgarei por mim mesmo a sua eficácia.” Eu fiz isso. Essa é a minha credencial para as teorias e opiniões que ofereço. A princípio fiquei aterrorizado pelo que descobri: o mundo do xamanismo, dos aliados, dos alteradores de forma e do ataque mágico é muito mais real do que as construções da ciência jamais poderão ser, porque esses espíritos ancestrais e seu mundo podem ser vistos e sentidos, podem ser conhecidos, na realidade não-habitual.

Uma coisa profunda, inesperada, quase inimaginável nos espera se levarmos nossas atenções investigativas para o fenômeno dos alucinógenos vegetais xamânicos. Os povos que estão fora da história ocidental, que continuam na época do sonho da pré-escrita, mantiveram acesa a chama de um mistério tremendo. Seria humildade admitir isso e aprender com eles, mas tudo isso faz parte do renascimento arcaico.

Daí não se deve deduzir que devemos ficar de queixo caído diante das realizações dos “primitivos” numa outra versão da Dança do Selvagem Nobre. Todo mundo que já fez trabalho de campo sabe dos choques frequentes entre nossas explicações sobre como o “verdadeiro povo das florestas úmidas” deve se comportar e as realidades da vida tribal cotidiana. Ninguém compreende ainda a misteriosa inteligência que há nas plantas ou as implicações da idéia de que a natureza se comunica numa linguagem química básica, inconsciente porém profunda. Ainda não compreendemos como os alucinógenos transformam a mensagem inconsciente em revelações contempladas pela mente consciente. Enquanto afiavam suas intuições e seus sentidos, usando as plantas que estivessem à mão para aumentar sua vantagem adaptativa, os povos arcaicos tinham pouco tempo para a filosofia. Até hoje ainda não se manifestaram totalmente as implicações da existência dessa mente descoberta pelos povos xamânicos dentro da natureza.

Enquanto isso, silenciosamente e fora da história, o xamanismo prosseguia seu diálogo com o mundo invisível. O legado do xamanismo pode atuar como uma força estabilizadora destinada a redirecionar nossa consciência para o destino coletivo da biosfera. A fé xamânica é de que a humanidade tem aliados. Existem forças favoráveis à nossa luta para nascermos como espécie inteligente. Mas são forças silenciosas e tímidas; devem ser procuradas não na chegada de frotas alienígenas no céu da terra, e sim aqui perto, na solidão dos locais ermos, junto às cachoeiras; e, sim, nas pastagens agora tão raras sob nossos pés.