O Uso Espiritual
Quando se fala em uso espiritual de substâncias, pra alguns é difícil de engolir. A maioria das pessoas associa logo a palavra “droga” e todo o peso que ela carrega consigo, e outros não conseguem admitir a intervenção de alteradores de percepção como uma coisa benéfica.
Pois bem, milênios antes da palavra “droga” existir, psicoativos como Ayahuasca, peyote e cogumelos eram e continuam sendo utilizados por indígenas de diversas tribos, de crenças e localidades totalmente diferentes. Alguns acreditam entrar em contato com deuses, outros com os espíritos das plantas ou dos animais, outros com espíritos humanos desencarnados e por aí vai. Na sociedade moderna de hoje também foram criadas diversas seitas religiosas e crenças envolvendo o uso dos chás…cada cultura com seu colorido diferente. Mas por “coincidência” o objetivo é basicamente sempre o mesmo: entrar em contato com o mundo espiritual. “Mundo espiritual” é apenas um rótulo que usei, que significa o sagrado, algo que está além da percepção normal e nos ajudaria a compreender melhor o universo e as clássicas questões existenciais como “quem somos nós?” ; “Por que estamos aqui?” ; “O que devemos fazer?”. A raiz do uso dessas substâncias sempre foi seriamente relacionada à estas questões, independente da interpretação cultural dada, e isso é o que caracteriza o uso espiritual. Mas aqui na civilização, as pessoas que nem conhecem tais substâncias insistem em sustentar a idéia de que isso é “coisa de maluco”, ou que o efeito enteógeno não é real, é apenas um “estado alucinatório”, uma falsa noção da realidade. Como já falamos aqui, é bem difícil definir a realidade, já que cada um a percebe e interpreta de sua forma particular. E se o tal “estado alucinatório” me parece violentamente mais REAL do que o estado comum, como poderei acreditar no contrário? É a mesma coisa que você flagrar sua mulher com outro e alguém ainda tentar convencê-lo de que o que você viu não é real. Aí a escolha é sua, ou você cria essa ilusão e acredita nela a ponto de vivenciá-la, ou vive a realidade da forma que sua experiência lhe mostrou ser.
Em diversos relatos de Experiências de Quase Morte, as pessoas afirmam terem passado naqueles momentos pelas situações mais reais de toda a sua vida, mesmo que dentro das próprias mentes. E tais experiências modificam para sempre a forma de enxergar a realidade e interagir com ela dessas pessoas, a ponto de muitos afirmarem que foi a melhor coisa que já lhes aconteceu. Experiências com enteónegos são completamente diferentes (nunca tive uma E.q.m. mas acredito que deva ser bem diferente, e principalmente muito mais dolorosa do que uma com enteógenos) mas nesse ponto são semelhantes. Na minha opinião, ambas são experiências espirituais e assim devem ser consideradas.
Acreditando ou não no poder dessas plantas e fungos, as pessoas precisam aceitar o fato de que existe o uso espiritual dessas substâncias, e deve ser tratado com seriedade e respeito, pois sempre fez parte da cultura em toda a história da humanidade.