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MDMA e Seus Efeitos – Análise Completa da Substância

Agrademos ao leitor Pedro Reis pela tradução do texto! Quer ajudar o blog? Solicite um texto para traduzir através do email equipemundocogumelo@gmail.com

molecula_mdma
A molécula de MDMA

MDMA – Tudo sobre a molécula

Duração:

Início dos efeitos: 20 – 70 minutos
Duração: 3 – 5 horas
Duração dos efeitos perceptíveis após o pico: até 24 horas

Dosagem:

Dosagem limiar: 30mg
Leve: 40 – 75 mg
Comum: 75 – 100 mg
Forte: 100 – 200mg
Pesada: 200mg +

MDMA (3,4-metilenodioxi-N-metilanfetamina) é uma droga entactogênica (isto é, uma classificação de drogas psicoativas capazes de aumentar o sentimento de empatia) da família da fenetilamina e anfetamina. Foi sintetizado pela primeira vez em 1912 pelo químico Anton Kollisch como um potencial medicamento para a supressão de hemorragia anormal. Pelos 65 anos seguintes, o MDMA foi em grande parte deixado de lado, com os primeiros relatos de uso para fins recreativos por volta de 1970. Foi finalmente classificada como uma substância controlada em 1985, quando seu uso começou a espalhar-se pela a sociedade mainstream e pelas raves.

O MDMA atua como um agente de liberação dos neurotransmissores conhecidos como serotonina, dopamina e norepinefrina, que são responsáveis pelo prazer, motivação e foco. Isso ocorre através da inibição da recaptação e reabsorção dos neurotransmissores depois realizarem sua função de transmissão de um impulso neural. Essencialmente, ele permite que os neurotransmissores sejam acumulados e reutilizados, causando efeitos estimulantes tanto físicos quanto eufóricos.

Muitas pessoas dentre as comunidades psicodélicas on-line pensam que os relatos de efeitos psicodélicos do MDMA não passam de mito, por nunca terem vivenciado a experiência em si. Ele produz efeitos psicodélicos bastante poderosos e alucinações sob as circunstâncias corretas, particularmente em doses elevadas e especialmente quando combinada com maconha. Estes efeitos são similares a cogumelos e LSD, mas diferentes de qualquer outro psicodélico comumente usado. Os efeitos não aparecem de forma consistente mas são rapidamente percebidos por qualquer pessoa, mesmo que não esteja acostumada com os psicodélicos mais tradicionais. Estes podem acontecer durante qualquer ponto da trip, porém são mais comuns durante a “aterrizagem”.

A experiência com MDMA contempla um conjunto complexo e amplo de efeitos que podem ser encontrados aqui , e vou descrevê-los melhor a partir de agora.

Efeitos físicos:

Os efeitos físicos do MDMA podem ser divididos em cinco componentes que se intensificam progressivamente proporcionalmente à dosagem. Estes estão descritos abaixo e incluem geralmente:

  • Sensações táteis espontâneas – a sensação corporal sob efeito de MDMA pode ser descrita como um formigamento eufórico que vai de moderado a extremo e que abrange todo o corpo. É capaz de se tornar extremamente agradável nas doses mais elevadas. Esta sensação se mantém consistente e aumenta constantemente logo no início e atinge o seu limite uma vez que o pico tenha sido atingido.

  • Toque mais perceptivo

  • Estímulos – em termos de seus efeitos sobre os usuários, os níveis de energia físicas do MDMA é comumente considerado extremamente estimulante e enérgico, o que encoraja atividades como corrida, escalada e dança fazendo do MDMA uma escolha popular para eventos musicais, como festas e raves. O estímulo particular do MDMA pode ser descrito como forçoso, isto é, significa que em doses mais elevadas torna-se difícil ou impossível de se manter relaxado, como um apertamento da mandíbula e tremores e vibrações involuntárias pelo corpo, resultando em uma instabilidade extrema das mãos e uma falta geral de controle motor.

  • Visão vibrando – os globos oculares de uma pessoa podem começar a se mexer espontaneamente num movimento rápido, para frente e para trás, deixando a visão embaçada e temporariamente fora de foco; a isso se dá o nome de nistagmo.

  • Desidratação – boca seca e desidratação são uma experiência universal com MDMA causando um aumento da frequência cardíaca e uma forte motivação a se envolver em atividades físicas extenuantes. Embora seja MUITO importante evitar a desidratação, especialmente quando se dança num ambiente quente, um número de usuários já sofreram de intoxicação por água por beber demais. Por isso é aconselhável que os usuários bebam água, mas sem grandes exageros.

  • Dificuldade de urinar – altas doses de MDMA resultam em uma dificuldade geral em urinar, um efeito completamente temporário e inofensivo, devido à promoção da liberação do hormônio antidiurético (ADH), responsável por regular a micção. Este efeito pode ser reduzido ao se relaxar, mas pode ser aliviado significativamente colocando uma flanela quente sobre os órgãos genitais para aquecê-los e incentivar o fluxo de sangue.

Efeitos cognitivos:

Os efeitos cognitivos do MDMA podem ser divididos em dez componentes que se intensificam progressivamente proporcionalmente à dosagem. O efeito geral do MDMA é descrito por muitos como uma estimulação mental extrema, sentimentos de amor ou empatia e poderosa euforia. Ele traz um grande número de efeitos típicos psicodélicos, entactogênicos e estimulantes cognitivos.

Os mais proeminentes destes efeitos cognitivos incluem geralmente,

  • Euforia – forte euforia emocional e sentimentos de felicidade estão presentes, ocasionadas provavelmente por uma liberação de serotonina e dopamina.

  • Pensamentos acelerados

  • Aumento da empatia, amor e sociabilidade – este efeito terapêutico em particular é o mais evidente e poderoso dentre os provocados pelo MDMA, mais do que qualquer outra substância conhecida. É o efeito mais predominante e perceptível de qualquer experiência de MDMA. No entanto, com o passar do tempo e o uso repetido, este efeito torna-se severamente diminuído por passar a se tratar de um lugar comum, logo as pessoas se sentem apenas estimuladas e eufóricas, porém sem a necessidade de comunicar suas novas sensações com os outros. Alguns usuários relatam que o MDMA “perde a sua magia” com apenas 10 experiências, enquanto outros relataram centenas de utilizações antes das qualidades empáticas desaparecerem. No entanto, isto parece não ser verdade para todos os usuários, com muitos relatando que não sofreram qualquer redução na qualidade da experiência após dezenas ou mesmo centenas de vezes.

  • Atenção Plena

  • Distorção do tempo – fortes sentimentos de encurtamento e aceleração do tempo são comuns com MDMA.

  • Estados de unidade e interconexão – experiências de unidade, unicidade e de interconexão são comuns entre os níveis de 2-3. Este componente se manifesta mais consistentemente com altas dosagens, em meio a grandes multidões como raves e eventos musicais de forma que a pessoa “se torna um com o todo”.

Efeitos visuais:

Os efeitos visuais do MDMA ocorrem de forma mais seletiva e menos consistente do que qualquer outro psicodélico tradicional e é por isso que muitas pessoas consideram relatos de outros com MDMA como sendo um “mito” ou um “rumor”. Os efeitos podem nunca se manifestar, mas são mais prováveis de ocorrer em doses altas de MDMA puro, e se o usuário fumar maconha mais ao fim da experiência. Também são mais prováveis de ocorrer caso o usuário tenha alguma experiência prévia com outros psicodélicos, mas nada impede de que os efeitos apareçam para qualquer um.

Aprimoramentos

O MDMA apresenta uma série de aprimoramentos visuais suaves em comparação aos demais psicodélicos tradicionais, mas ainda são facilmente perceptíveis.

Incluem principalmente:

  • Aperfeiçoamento de cores
  • Maior facilidade em reconhecer padrões

Distorções

O MDMA apresenta apenas uma alteração visual:

  • Rastros – este efeito raramente se manifesta além do nível 1-3.

Geometria

A geometria visual presente durante a trip pode ser descrita como mais próxima da psilocina do que do LSD. Pode ser descrita como uma organização estruturada, orgânica do estilo geométrico, intrincada em complexidade, de tamanho grande, com movimentos rápidos e suaves, predominando tons de azul e cinza, de cor brilhante, com bordas borradas e nítidas e cantos arredondados e angulares. Em doses mais elevadas é comum atingir estados de Nível 7A até o Nível 7B. Muitos usuários relatam um sentimento de leve ameaça, seguido de um estilo sinistro com um esquema de cores que geralmente abrange o cinza e o azul.

Estados Alucinatórios

O MDMA é capaz de produz um leque único de estados alucinatórios sutis a altos e de uma forma significativamente menos consistente e reprodutível do que a de muitos outros psicodélicos comumente usados.

Estes efeitos incluem:

  • Alucinações internas – as alucinações internas induzidas pelo MDMA só acontecem espontaneamente em dosagens extremamente elevadas. A forma mais comum em que se manifestam são através de cenários hipnagógicos, os quais o usuário se encontrar como se estivesse caindo no sono após uma noite de uso e que geralmente podem ser descritos como uma reprodução de uma memória ocorrida várias horas anteriores. São curtos e fugazes, mas frequentes e bastante realistas e convincentes quando acontecem. Geralmente tomam a forma de uma conversa com as pessoas que estiveram com você naquele momento ou podem também se tornar histórias bizarras e completamente sem sentido.

  • Alucinações externas – são semelhantes aos efeitos encontrados em delirantes mas normalmente são replays de memória e eventos esperados semi realistas. Por exemplo, as pessoas poderiam aparecer casualmente segurando objetos ou executar ações que você esperaria na vida real até que de desaparecem e se dissolvem caso haja uma interação mais concreta com elas. Os exemplos comuns disto incluem ver pessoas usando óculos quando na verdade não estão e confundir objetos na visão periférica com seres humanos. Em doses mais elevadas no entanto, elas são capazes de permanecerem presentes e de natureza delirante.

Efeitos auditivos:

Os efeitos auditivos de MDMA são comuns e exibem uma gama parcial de efeitos que inclui normalmente:

  • Aprimoramentos

  • Alucinações – ocorrem geralmente no final da noite, e quase sempre consiste em repetições de memória de horas anteriores. São comumente manifestadas como vídeos da música que foi tocada e vozes distorcidas das pessoas que falaram. Podem tornar-se tão alto em volume como o nível de ruído de qualquer rave ou festa e ocasionalmente podem se tornar complexas o suficiente para se manifestarem como músicas ou sinfonias complicadas, inéditas e completamente coerentes independente do estilo.

Dicas sobre como induzir esses efeitos:

Se você quiser induzir esses efeitos, sugiro que pegue o que considere ser uma dose moderado-forte (150mg). Certifique-se de que você tem MDMA puro e não pílulas variadas de natureza indeterminada. Se for combinado com um bong e uma boa quantidade de maconha, os efeitos psicodélicos quase sempre ocorrem
Isso geralmente parece ser o suficiente para a maioria das pessoas, mas umas vez que o MDMA possui características seletivas, pode não funcionar para outras. Outras pessoas e eu já sentimos de vez em quando os efeitos mesmo sem fumar maconha, porém tivemos fortes brisas consistentemente toda vez que fumamos.

Conclusão:

O MDMA é antes de tudo um entactógeno, e depois, uma substância psicodélica. É melhor usado para a resolução de problemas interpessoais, fortalecer os laços afetivos e para dar aquela turbinada na festa. Suas propriedades psicodélicas são extremamente singulares, interessantes e algo que tento induzir toda vez que tomo esta substância.

É importante ter em mente, no entanto, que sua utilização excessiva pode resultar em grave depleção do neurotransmissor e síndrome da serotonina. É por isso que eu recomendo que você faça sua própria pesquisa antes de considerar o uso desta droga. Vindo de uma experiência pessoal, ele nunca deve ser usado mais de uma vez por mês ou, de preferência não mais do que duas vezes por ano.

Fonte

O Renascimento do LSD e Outros Psicodélicos

Assista o vídeo abaixo, legendado! Aprenda um pouco mais sobre a jornada dos psicodélicos, desde a seu surgimento, proibição e controvérsias no século passado, que perduram até os últimos anos, e as novas fronteiras da pesquisa científica sobre os potenciais benéficos dessas substâncias.

 

Em centros de pesquisa respeitados nos Estados Unidos e em outros países, os cientistas passaram muito tempo de suas vidas profissionais em programas de reabilitação de drogas. Mas não por que eles tenham um problema com o vício. O que eles estão tentando fazer é reabilitar as próprias drogas.

O foco deles está em substâncias alteradoras da mente que entraram na obscuridade devido à proibição, cerca de meio século atrás, e o LSD está entre elas. Juntamente com outros psicodélicos, o LSD foi amaldiçoado como sendo uma substância de alto potencial de abuso e que não oferece nenhum benefício medicinal e psiquiátrico. Mas nos últimos anos, pesquisadores têm procurado resgatar os alucinógenos do exílio examinando sua eficácia no tratamento de certas desordens da mente, e talvez até mesmo no seu papel importante para compreender a natureza da consciência e da espiritualidade.

O trabalho desses cientistas agora foi compilado no vídeo acima, que examina as principais características históricas desse psicodélico tão famoso.

Substâncias psicoativas, geralmente extraídas de cogumelos mágicos, têm sido parte da cultura humana das Américas Central e Sul, e até mesmo do Saara, por milhares de anos. Mas não é preciso olhar tão longe no passado: 1938 já é suficiente. Esse foi o ano em que Albert Hofmann, um químico suíço pesquisando por uma combinação química para combater problemas de circulação, acabou sintetizando a dietilamida do ácido lisérgico: o LSD, ou o ácido, como é popularmente conhecido.

Cinco anos depois, o Dr. Hofmann, que morreu no ano de 2008 na idade de 102 anos, ingeriu acidentalmente uma pequena dose de sua criação e descobriu seus potenciais expansores da mente na primeira viagem de LSD conhecida. Muitas outras jornadas se seguiriam, para ele e diversos outros indivíduos.

Nos anos 50 e 60, os pesquisadores exploraram o LSD como uma ferramenta para o tratamento de doenças mentais e diversos vícios.  Alguns segmentos do governo americano tinham suas próprias ideias. A CIA testou as possibilidades do ácido como uma poção da verdade, ou talvez como um veículo para o controle da mente. O exército quis saber se o LSD poderia ser utilizado para desorientar as tropas inimigas.

Então surge a aurora que todos se lembram quando pensam nos anos 60: a era de aquário, com hippies amorosos, roupas tie-die, óculos gigantescos e sons psicodélicos. O LSD estava disponível amplamente. Muitas pessoas jovens se convenceram que uma sociedade inteira baseada em psicodélicos poderia atingir uma consciência elevada – “a revelação mística do cristal e a libertação real da mente” – relembrando a banda “Hair”.

Muitas pessoas foram influenciadas por Timothy Leary, um psicólogo clínico na Universidade de Harvard, que se tornou o guru das viagens de ácido, pregando de maneira apaixonada sobre os psicodélicos. “Turn on, tune in, drop out”, dizia Leary, que morreu em 1996. A recomendação foi infinitamente citada. Seus discípulos fervorosos o seguiram ao pé da letra, e muitas vezes, o seguiram em seus excessos.

Entre aqueles cujo foco era o estudo da mente humana, uma visão compartilhada pela maioria era a de que Leary tinha ido longe demais, dando à ciência um nome ruim no processo. Preocupações políticas ficaram ainda piores. Oficiais eleitos do presidente temeram que a juventude da américa estavam escorregando em um precipício de drogas.

Histórias abundaram sobre suicídios, assassinatos e outros horrores cometidos por jovens sob efeitos do LSD, ou durante um flashback. Nem todas as lendas eram verdade. Naturalmente, as autoridades federais concluíram que o comportamento perigoso já era suficiente para eles entrarem em ação.

Proibições contra LSD e outros alucinógenos, como a psilocibina e a mescalina, foram codificadas no Ato de Substâncias Controladas de 1970. Nos anos 1980, o MDMA, ou ecstasy – se juntou à lista 1 de substâncias controladas, as que, segundo a lei, são as mais perigosas e que não apresentam uso médico algum.

Logo em seguida, as pesquisas científicas e exploração dessas substâncias se tornaram escassas. Qualquer aproximação do LSD, que Albert Hofmann chamou de sua “criança problema”, era um pedido para ter sua carreira totalmente destruída.

Nos anos recentes, entretanto, drogas psicodélicas estão entrando novamente nas mídias de massa.

Essencialmente, cientistas modernos estão continuando os que os dos anos 50 e 60 já haviam feito. Eles estão estudando o potencial dos alucinógenos para auxiliar os fumantes a largarem o vício, a se livrarem de problemas com álcool e outras drogas, na diminuição de cefaléias em salva e a depressão, e no tratamento de transtornos como o obsessivo compulsivo e os estresses pós-traumáticos. Instituições em que tais pesquisas estão em andamento incluem a New York University, a Johns Hopkins University, a University of California, o Psychiatric University Hospital em Zurique, e o Imperial College of London.

O interesse da pesquisa sobre a psilocibina é muito aguçada na américa. Esse é um ingrediente psicoativo nos fungos conhecidos como cogumelos mágicos. O que auxilia nesse processo é a ausência da carga negativa que continua assombrando o LSD, disse Matthew W. Johnson, um professor de psiquiatria e ciência comportamental na Johns Hopkins.

O que também ajuda é o fato de que os cientistas trabalham em uma nova situação legal para algumas drogas. A maconha, por exemplo, é uma substância controlada 1, mas já está legalizada em alguns estados americanos.

A psilocibina e outros alucinógenos, embora não viciantes, permanecem um tabu em todas as partes. Os pesquisadores precisam de uma autorização legal da FDA (Food and Drug Administration) e a aprovação de comitês profissionais. Seus experimentos não se assemelham em nada ao uso livro do ácido dos anos 60. Os pacientes são introduzidos  e preparados no que eles podem esperar da experiência, e então são monitorados com cuidado.

Considerando que a morte nos aguarda, um objetivo intrigante do uso dos psicodélicos para aliviar a ansiedade profunda – estresse existencial, alguns a chamam – naqueles que estão próximos de enfrentá-la. Elas são pessoas como Sherry Marcy, uma mulher de Ann Arbor, que descobriu que tinha câncer endometrial.

Ela sucumbiu à depressão. Quatro anos atrás, Marcy, que agora tem 73 anos, foi para Johns Hopkins para duas sessões de tratamento com psilocibina. O alívio que ela sentiu continua com ela.

“Não foi algo psicodélico para mim”, ela disse em uma entrevista com a Retro Report. “Era somente eu – de volta. Eu não sei como eu fiz aquilo, exatamente. É como se você levantasse a cabeça e olhasse por um longo período de tempo, e então você começa a ver as coisas novamente”.

Os cientistas estão tentando descobrir como exatamente a droga ajuda esses pacientes a se livrarem do medo. Além disso, eles têm observado efeitos positivos permanentes, e até mesmo despertares espirituais em alguns casos. Se administrados com cuidado, eles dizem, os psicodélicos podem reorientar as percepções dos pacientes do seu lugar no universo e colocá-los longe de pensamentos negativos. Em um artigo do New Yorker de 2015, um pesquisador inglês, Robin Carhart-Harris, chamou o fenômeno de “sacudir o globo de neve”.

Os estudos têm sido em escala pequena, e os resultados, enquanto encorajadores, são preliminares. É necessário cuidado, o Dr. Johnson da Hopkins informou à Retro Report, tanto pelo rigor científico, quanto pelos potenciais perigos dos psicodélicos.

A senhora Marcy, que agora está livre do câncer, diz que Timothy Leary acertou em um terço de sua frase. “O “turn on” não deve ser enfatizado, ela disse. “O “drop out” é um erro absoluto. Mas o crucial é o “tune in”.

“Eu entrei em sintonia”, ela disse. “Em sintonia com o mundo, comigo mesma, com as coisas que eu costumava amar, com os meus relacionamentos, com a minha família. Sintonize-se: tudo se trata disso”.

Fonte

Primeiros socorros psicodélicos em um festival na Costa Rica

Já era algum tempo após as duas horas da manhã e eu estava sentado na frente de uma estrutura feita de bambu e pano no Festival Envision em Costa Rica. Estava quente o suficiente que eu estivesse vestida com um top e um colar havaiano rosa, levemente brilhante, em volta do meu pescoço. Havia um cheiro de salvia queimada no ar tropical e eu podia ouvir o violino de Emancipador tocando de forma alegre e mesmerizante vindo do palco principal. O espaço parecia tranquilo e suave, que era exatamente o motivo pelo qual estávamos alí. Eu havia embarcado com o Zendo Project, um grupo com sede em Santa Cruz, Califórnia, que fornece um espaço seguro para as pessoas que têm difíceis experiências psicodélicas e outros desafios emocionais ou pessoais durante festivais. O espaço foi montado junto ao espaço medico perto da entrada do evento.

O Zendo Project treina e supervisiona voluntários que auxiliam festivaleiros em apuros com os “Primeiros Socorros Psicodélico” – Trabalho que pode soar parecido com algum tipo de terapia “manêra” interdimensional para aventureiros torturados e alucinados no plano astral, para orientá-lx com segurança através de suas visões intensas. A minha experiência, no entanto, foi totalmente diferente de muito mais gratificante.

Meu turno tinha acabado de começar e eu estava sentado com Yashpal, um doutor de Medicina Natural da Costa Rica, quando eu recebi o meu primeiro chamado da noite. A pedido de um amigo preocupado, Yashpal e eu fui para o campo para acolher um jovem de uma rede de balanço, perto da Palco Lotus. Confidencialidade para os convidados é muito importante para o Projeto Zendo então vamos chamá-lo de “Charlie”. Charlie estava fixado em histórias complicadas sobre as políticas de várias agências do governo de seu país natal, com seus dedos contraídos como garras de frango – mas, com a sua permissão, nós o acompanhamos de volta para o Zendo para acomodá-lo em uma das camas na estrutura temporária, decorada delicadamente. Yashpal imediatamente me chamou de lado para me treinar antes de eu começar.

“O truque é não intervir ou alterar a trajetória de sua viagem de qualquer maneira”, disse Yashpal, parecendo um pouco como Merlin com uma barba grisalha encaracolada e um brilho reconfortante, porém levemente travesso em seus olhos. . “Você não quer engajár-lo. Seja neutro, fale o menos possível e simplesmente deixe-o passar pelo processo. A experiência trará a cura. – Mesmo que não pareça no momento. Confie. Não permita ser puxadao para a sua viagem, segure a sua própria energia. Dê-lhe água, e leve-o ao banheiro se precisar. Concentre-se em sua respiração. Seu trabalho é de manter o espaço para que ele tenha sua experiência. “

Yashpal enfatizou o conceito de “espaço de holding”, ou seja, sentar, manter ao invés de guiar, um dos quatro pilares da abordagem de apoio psicodélico do Zendo. Com isto em mente, sentei-me com Charlie e, ao invés de tentar acalmá-lo, eu simplesmente o observei passar pela experiência. Eu concentrei minha energia e atenção em minha própria respiração e permaneci muito calmo. Eu criei um centro de gravidade que o manteve aterrado sem forçá-lo de qualquer forma. Ouvi atentamente as suas lamúrias e simplesmente sorri e acenei com a cabeça em afirmação de sua necessidade de reafirmação.

Depois de algum tempo se contorcendo no tapete ele me pediu para ajudá-lo a chegar aos banheiros móveis. No caminho, ele parou e voltou seu olhar para as estrelas. Sem o meu treinamento no Zendo, eu poderia tê-lo incentivado a continuar andando para realizar a tarefa em mãos, mas ao invés disso, simplesmente ficamos lá juntos por quase uma hora, enquanto ele me contou sobre seu sonho de ser um astronauta e ver a Terra do espaço. O início de sua experiência foi uma desesperada incoerência, mas com o tempo tornou-se uma nostalgia forte, profunda. Eu não fiz nada para guiá-lo. Eu permaneci perto e mantive-o seguro. Conforme ele aceitou e sentiu sua dor existencial e desejos de viajar ao espaço, Charlie tornou-se muito calmo. Depois de usar o banheiro, ele me disse que estava pronto para voltar ao festival.

Como que aconteceu, de eu conversar sobre astronautas e estrelas na selva da Costa Rica, com uma pessoa que eu havia conhecido?

Os 4 Pilares de Apoio Psicodélico do Zendo

Nas práticas xamânicas tradicionais, a experiência psicodélica é considerada sagrada. Mesmo uma experiência difícil é uma oportunidade para crescimento, cura e revelação. Esta é a abordagem adoptada pela MAPS, a Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos, que conduz a pesquisa que informa o Zendo Project e seus quatro pilares, pelo qual o Zendo orienta seus eventuais voluntários e participantes do festival, no início de cada evento no qual a organização participa. Leia o manual de Treinamento do Zendo Project completo aqui.

1. Crie um espaço seguro

Ambientes de festivais são projetados para serem altamente estimulantes: sistemas de som bombasticos, intens espetáculos de luz e cacofonia geral criam um paraíso surreal para uma aventura. Mas quando as coisas começam a sobrecarregar, estes efeitos dinâmicos podem aumentar a ansiedade. Zendo é projetado para proporcionar tranquilidade e conforto. Além de sentirem-se fisicamente seguros, os convidados devem sentir-se também emocionalmente seguros, o que requer que voluntários exalem uma atitude acolhedora e sem julgamentos.

As condições para este sistema de segurança, de acordo com Sara Gael, Coordenadora de Redução de Danos do MA MAPS, psicoterapeuta holística liderança da Zendo Envisio, são conhecidas como “set” e “setting“.

‘Set’ Refere-se ao estado interno de um indivíduo e inclui o estado emocional e humor, condições mentais pré-existente, estresse, conforto e estágios de desenvolvimento”, ela explica. “‘Setting’ refere-se a condições externas de um indivíduo, incluindo aonde a pessoa está, com quem está, dosagem e interações medicamentosas”.

Gael enfatiza que o set e setting não são mutuamente exclusivas, e afetam e informam uma a outra. Quando sitters prestam atenção ao set e setting de um indivíduo, um sistema de segurança – feito exclusivamente sob medida para aquele indivíduo – pode então ser criado, para que ele ou ela possam entregar-se à experiência, mesmo em caso de surgimento de desconforto ou medo.

2. Sentar, Não Guiar

Ao invés de usar uma intervenção direta, o objetivo é de um sitter é de permitir que ocorra a cura de forma natural. As ferramentas que usamos foram respirar, validação, espelhamento e afirmação. A importância de não intervir na experiência do visitante foi enfatizado repetidamente ao longo de todo o final de semana.

De MAPS: Como trabalhar com experiências psicodélicas difíceis: “Há sempre a tendência de dominar o outro com o nosso conhecimento, sabedoria e insights. Portanto, abra mão de todo o conhecimento sobre a experiência que a pessoa está tendo. Apenas esteja junto, ouça e observe”.

Isto significa que o sitter deve ser rígido e evitar engajar com o visitante a todo momento?

“Pode ser útil providenciar uma reafirmação suave ou reenquadramento da experiência”, explica Chelsea Rose, coordenadora voluntária do Zendo. “Estes métodos de apoio refletem o que já está acontecendo para o indivíduo, ao mesmo tempo garantindo-os que as suas experiências são aceitáveis”.

3. Acompanhe, sem impor

Sitters são ensinados a entender que há um processo natural acontecendo na mente do visitante afetado. Assim, não há esforços para terminar a viagem psicodélica prematuramente; sitters deve simplesmente deixar o visitante experienciar isto com o máximo de segurança e conforto possível.

Linnae Ponté, Diretora de Redução de Danos na MAPS e Fundadora do Projeto Zendo repete o mantra de “Confie. Deixe ir. Seja aberto. Respire. Renda-se.”

Ponté diz que um quando se re-experienta emoções de um trauma passado, (que ocorre as vezes com psicodélicos) ter o espaço para sentir o grau de dor e sofrimento pode ser fundamental para a oportunidade de cura do hóspede. O sitter deve reconhecer que todas as emoções que vêm à superfície durante uma experiência psicodélica muitas vezes são, com frequência, fortemente carregadas e podem levar os visitantes ao limiar de sua consciência.

“Nosso trabalho não é de intervir, mas de confiar em tudo o que está acontecendo para eles, e tudo o que isso desperta em nós, e saber que é tudo temporário,” Ponté continua. “Vivemos em um mundo onde o desconforto emocional é suprimido com todos os tipos de drogas e comportamentos, e oferecemos aos visitantes a oportunidade de ao invés disso ir em encontro com o desconforto, e descobrir o que está por baixo dele”.

4. Difícil não é sinônimo de ruim

A suposição de que uma experiência difícil é “ruim” pode de fato contribuir para a ansiedade e desconforto geral de uma viagem. “A mentalidade evidente na expressão ‘bad trip’ ajuda a esclarecer sobre os métodos ultrapassados e prejudiciais pelas quais muitas vezes essas experiências são freqüentemente abordadas, incluindo a internação e o envolvimento da aplicação da lei”, explica Sara Gael. Esta abordagem de lidar com alguém que tem um difícil experiência psicodélica é comum em eventos e muitas vezes piora ou agrava a situação. São métodos que tentam acabar ou interromper a experiência do indivíduo e pode enviar uma mensagem para o indivíduo de que algo está errado com elx ou que elx não está segurx”.

Claramente, esta não é a abordagem apropriada para alguém que já está sentindo-se sobrecarregado ou amendrontado.

Para uma explicação mais completa sobre como apoiar os indivíduos que estão experimentando uma intensa experiência psicodélica, inclusive sobre preocupações éticas importantes, vá para o recém-compilado: Manual de Apoio Psicodélico. Este incrível recurso foi o resultado de uma colaboração entre pesquisadores, artistas, psiquiatras, terapeutas, psiconautas, e produtores de festivais e está livremente disponível sob uma licença Creative Commons.

De Tendas de Bad Trip à Santuários

Festivais têm uma longa história de frequentadores que necessitam de apoio psicológico. Isso pode ser o resultado do uso de substâncias ou por um festival com ambiente estimulante. O primeiro grupo conhecido pela prática de primeiros socorros psicodélico foram The Hog Farmers, uma comuna hippie associada ao Grateful Dead e os Merry Pranksters. Em 1969 Woodstock Music & Art Fair, os Hog Farmes, liderado por um palhaço afável chamado Wavy Gravy, gerenciou a segurança com “tortas de creme e garrafas Seltzer (spray)” Eles tripularam o que ficou conhecido como a “Tenda da Bad Trip”, apoiando as pessoas que acreditavam ter recebido LSD mal fabricado. Quando participantes se recuperavam, tornavam-se praticantes que ajudavam a novos pacientes. Este processo continua até hoje, com os participantes que recebem atendimento em espaços seguros muitas vezes retornando como voluntários nos festivais seguintes.

Grupos informais prestando zonas de apoio continuaram em shows do Grateful Dead nos anos 70 e 80. Outros notáveis profissionais de primeiros socorros psicodélicos ao longo dos anos incluem os Voluntários CALM que têm apoiado o Rainbow Gathering desde 1972; White Bird, um grupo que oferece serviços gratuitos no Oregon Country Fair; e Rock Med, uma organização voluntária na área da Baía de San Francisco.

Esta tradição continuou com os Green Dot Rangers and Sanctuary no Burning Man, que são guiados pelo modelo similar, o FLAME: Descubra, Ouça, Analise, Medie e Explique (Find out, Listen, Analyze, Mediate and Explain). Joseph Pred, fundador do Departamento de Serviços de Emergência do Burning Man e dos Green Dot Rangers, e agora um consultor de gerenciamento de emergência de eventos, foi inspirado em 1998 por equipes de intervenção de crise municipais e modelo “Space Tent” (ou “Tenda Espacial”) do Rock Med para criar um quadro combinado de profissionais e conselheiros de pares que permita que o apoio no campo para a equipe de emergência, bem como a criação de um espaço tranquilo e seguro para aqueles que precisem.

Desde descriminalização das drogas, em 2001, Portugal tem sido uma força de liderança na redução de danos. O espaço psicodélico mais seguro e sofisticado do mundo existe no Boom Festival. O que começou como uma pequena cúpula chamado The Ground Central Station (A Estação Central da Terra) em 2002, desde então, evoluiu para o Kosmicare Cluster, que inclui uma tenda anexa para os participantes em situações extremas e um “Kiva” nativo americana tradicional para aqueles que experimentam algo semelhante a uma viagem xamânica tradicional. Kosmicare é descrito como “um lugar seguro para aterrar as energias galácticas e experiências intensas.” Trata-se de uma colaboração entre o festival, MAPS, Universidade Católica do Porto e de várias instituições governamentais. Por conta do ambiente ser tão aberto e colaborativo, houve também pesquisas avaliativas significativas realizadas em seus programas.

Também em 2001, a MAPS começou a reunir profissionais médicos e voluntários para oferecer assistência e apoio para os indivíduos submetidos a difíceis experiências psicodélicas. Tem desde então trazido seus conhecimentos para ajudar a desenvolver e apoiar modelos psicodélicos de redução de danos ao Boom Festival, Envision, Bicycle Day, AfrikaBurn na África do Sul, e Burning Man.

Fundada pelo MAPS, o Projeto Zendo foi lançado em 2012 por Linnae Ponte. O projeto recebeu financiamento e orientação do MAPS, bem como o financiamento privado, e os organizadores têm planos para lançar outra campanha Indiegogo neste verão para ajudar a cobrir os seus custos. Além do Envision, o Projeto Zendo vai criar um espaço seguro na Lightning in a Bottle, AfrikaBurn e Burning Man, em 2015. Para as festas, este tipo de serviço pode provar ter um valor inestimável.

Eu tornei-me pessoalmente ciente de primeiros socorros psicodélico depois de visitar um espaço seguro de redução de danos chamado de Sanctuary no Shambhala Music Festival em 2014. De acordo com seu site “O Sanctuary fornece serviços e apoio sem julgamentos e acolhe à todos que sintam que precisam de um lugar tranquilo e seguro, para descansar em qualquer momento durante o festival. Se você está se sentindo estressado, sobrecarregado, isolado, frio, molhado, precisa sair do sol por um tempo, só precisa relaxar ou precisar de alguém para conversar, nossos voluntários do Sanctuary ficarão felizes em ajudar”.

Shambhala é outro festival conhecido por seu compromisso radical para os cuidados na comunidade, bem como seus sofisticados esforços para garantir a segurança dos participantes. Além do Sanctuary, estas iniciativas incluem a política do álcool zero, testes de drogas no local, uma equipe de divulgação, serviços de saúde sexual e um espaço seguro para as mulheres.

Espaço de Holding para a Tribo

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Foto por Galen Oakes

Além de para fornecer um espaço seguro e treinamento para voluntários, parte da missão do Zendo é demonstrar ao público como as comunidades de festivais podem tomar medidas proativas para garantir que participantes do evento tenham apoio psicológico, a fim de reduzir o número de internações e de detenções relacionadas com a drogas. Isso envolve trabalhar em colaboração com outros departamentos do serviço de emergência no local, incluindo médicos e equipe de segurança.

Stacette Lockdown, Gerente de Redução de Danos de Shambhala, salienta que a comunicação interdepartamental com todas as entidades de segurança pública é muito importante. “Segurança trabalhando com médicos, medicos trabalhando com espaços seguros”, ela explica. “Estamos todos conectados e quando permanecemos conectados a esse nível, isto aumenta a segurança do festival.”

Joseph Pred concorda. “Ter a redução de danos abertamente integrado com serviços de segurança e médicos é fundamental para triagem apropriada aqueles que no passado acabaram parando na cadeia ou em hospitais de forma desnecessaria à terem melhores resultados, concedendo-lhes apoio no início de seu processo.”

Investir em um espaço seguro também envia uma mensagem de que os produtores estão fazendo da segurança de seus participantes uma prioridade. De acordo com Diogo Ruivo, fundador do Boom Festival, “Os promotores tornam-se os responsáveis por “manter o holding da tribo “, ainda mais quando o evento atrai dezenas de milhares de pessoas. Por isso, é obrigatório incluir na produção do evento a construção de um ou mais espaços dedicados a lidar de forma responsável com tais ’emergências’, independentemente das atitudes manifestadas pelo governo hospedeiro”

Cameron Bowman, “O Advogado de Festivais”, diz: “Não há nada contra a lei sobre festivais que prestam este tipo de serviço de “primeiros socorros psicodélico”. É claro que os produtores podem não achar que isso valha o investimento ou o governo anfitrião poderá não sentir que é valioso. Mas é perfeitamente legal”.

Kai Chotard, Diretor de Segurança da Envision, expressou sua gratidão pelo apoio de Zendo. “A assistência imensurável que foi dirigido por Zendo no Festival Envision vai além das palavras”, diz Chotard. “A presença de Zendo preenche as necessidades experimentais de certos freqüentadores do festival com um programa altamente profissional que permite que as pessoas sintam-se seguras e protegidas enquanto exploram novas formas em um novo lugar”.

Apesar do apoio Às “necessidades experimentais de certos freqüentadores do festival” é algo pelo qual o Zendo é reconhecido, as lições que aprendi mostraram-se imediatamente valioso em uma situação onde o meu convidado não estava sob o efeito de qualquer substância.

Me disseram que eu poderia vir aqui e conversar”

Foto Courtesia de Boom Festival
Foto Courtesia de Boom Festival

Eram 07h30 e meu turno terminaria às 10:00. Parecia improvável que teríamos quaisquer outros hóspedes, então eu esperava poder tirar um cochilo e meu líder de turno Bette Carson poderia me acordar, caso ela precisasse. Naquele momento, uma mulher com os olhos marejados e sem fôlego aproximou-se do espaço Zendo. Vou chamá-la de “Emily.” Ela estava em seus vinte e poucos anos. Ela disse para ninguém em particular: “Sinto muito incomodá-los. Eu preciso de ajuda. Eu não ingeri qualquer tipo de droga. Eu estou tendo um colapso. Está tudo tão fodido. Eu estou simplesmente exausta. Alguém me disse que eu poderia vir aqui e falar com alguém.” Bette fez algumas anotações em sua prancheta e virou-se para mim. “Você quer ajudar?”. Sem dúvidas.

Primeiramente fomos ao posto médico para ter certeza que ela tinha tudo que precisava. Depois de ser brevemente atendida por um enfermeiro local, Emily foi dada água eletrólita e um lugar à sombra para se sentar. Respirando profundamente, eu sentei com ela e ouviu a sua história. Ela estava sóbria há quatro anos e estava viajando com dois amigos que estavam passando por uma separação tóxica. O ambiente negativo com seus amigos espelhou um ambiente familiar desafiador e representou exatamente o motivo pelo qual ela estava viajando para fugir. Ela me disse que ela tinha chegado a Envision para ter uma experiência espiritual.

Embora dela não estar passando por uma crise psicodélica, eu usei as técnicas que aprendi com Zendo e simplesmente ouvi, respirei e contive um espaço para ela. Foram muito poucos os momentos no qual me senti obrigado a dar uma opinião e por isso, quando o fiz, isso significava muito mais. Ela disse que estava envergonhada e sentia-se fraca; Sugeri que permanecer sóbria e ter vindo buscar ajuda foi uma atitude poderosa. Ela disse que queria apenas ter uma experiência espiritual na Costa Rica. Disse-lhe que, no meu ponto de vista, ela estava de fato tendo um.

Quando Emily se acalmou nós verificamos o cronograma em conjunto e consideramos algumas experiências enriquecedoras e workshops que ela pudesse assistir sozinha, a fim de tornar o último dia do festival realmente algo dela. Quando meu plantão terminou às 10:00 Eu a ajudei a mudar para outro sitter para que ela pudesse sentir-se apoiada até estar descansada e pronta para sair.

Espaço de Holding para nós mesmos

Courtesia de Shambhala
Courtesia de Shambhala

As drogas psicodélicas estão retornando para o mainstream, para além do seu uso em determinados eventos e encontros. Em 09 de fevereiro de 2015, o New Yorker publicou um artigo inovador por Michael Pollan, autor amplamente respeitado que escreveu “O Dilema do Onívoro” (The Omnivore’s Dilemma, em inglês), sobre o tema das drogas psicodélicas. O artigo The Trip Treatment discute o uso da psilocibina, a substância química ativa em “cogumelos mágicos”, para aliviar a ansiedade de fim de vida em ensaios clínicos na Universidade de John Hopkin e Universidade de New York. Enquanto o artigo focava em aplicações médicas para substâncias psicodélicas, a conclusão de Pollan ofereceu apoio à ideia controversa que as experiências espirituais disponibilizadas por psicodélicos poderiam funcionar para “o aperfeiçoamento de pessoas saudáveis.”

O artigo de Pollan foi rapidamente seguido por explorações semelhantes em The Atlantic e Forbes. Além da investigação voltada para aplicações médicas, os resultados publicados no Journal of Psychopharmacology demonstraram que o uso de drogas psicodélicas “não aumentam o risco de problemas de saúde mental.” Com o interesse renovado a partir de um ponto de vista científico e tanta atenção popular, é mais relevante do que nunca que técnicas de redução de danos sejam disponibilizadas aonde for necessário, e que profissionais bem informados sejam capazes de oferecer uma abordagem unificada e calculada para os desafios psicodélicos.

O Projeto Zendo oferece um serviço incrível para aqueles que experimentam uma crise. Há também grande valor para os festivais do ponto de vista de produção, liberando os recursos de equipes médicas e de segurança tradicionais e enviando a mensagem de que o zelo dos participantes é uma prioridade. Menos óbvio são as experiência profundamente transformadoras providas pelos próprios voluntários. É uma crença comum de que quando você dá aos outros, você recebe em troca o tanto quanto deu. Isto é especialmente verdadeiro quando se trata de holding para a crise psicológicas dos outros.

O que eu encontrei no Zendo foi uma maneira de colocar o meu ego de lado e simplesmente testemunhar a transformação de um outro ser humano. Sempre levei uma abordagem assertiva quando os amigos estavam em crises; quero aliviar o seus sofrimentos com uma enxurrada de conselhos ou levar o problema e devolvê-lo como um “Cubo Mágico” solucionado. Zendo me ajudou a perceber que, embora as vezes seja útol, fixar questões às pessoas pode acabar usurpando seu poder.

Durante o sitting com meus convidados eu experimentei o que significava simplesmente segurar o espaço – ao invés de tentar ser um herói – e simplesmente testemunhar a cura ocorrendo. Observando essa transformação na minha própria maneira de pensar, percebi que no ato de segurar o espaço para outro a crescer, eu também estava segurando espaço para mim mesmo.

Eu gostaria de agradecer a todos os meus conselheiros generosos deste projeto: Sara Gael, Yashpal e Linnae Ponté do Projeto Zendo; Cameron “O Advogado de Festivais” Bowman; Joseph Pred;os Irmãos Justin e toda a equipe do Festival Envision; meus colegas voluntários intrépidos do Zendo; e aquelas almas corajosas que vieram obter a ajuda que precisavam.


FONTE FEST300

Agradecemos imensamente a tradução feita pelo colaborador Gabriel Pedroza.
Seja você também um colaborador, entre em contato:

equipemundocogumelo@gmail.com

NBOMes: Problemas Psicodélicos Potentes

Julhol de 2013
Originalmente Publicado em Erowid Extracts #24

nbome_article1-1Nós geralmente nos encontramos recebendo pedidos de não publicar sobre uma nova planta ou composto psicoativo. As vezes é um crítico que pensa que glorificamos seu uso. Outras vezes é um advogado que acredita que estamos enfatizando muito os riscos de saúde. Pode ser alguém expressando preocupação que a informação pública sobre uma droga vá afetar suas chances de ser utilizada para fins terapêuticos, ou organizadores de festivais preocupados que mencionar novas drogas disponíveis em eventos pode atrair atenção legal. Nós continuamos convencidos que uma informação aberta, honesta e completa deve estar acessível para as drogas que chegam às mãos do público.

Um improcedente de 233 novas drogas recreativas foram identificadas pelo Centro Europeu de Monitoramento de Drogas e Vício nos últimos cinco anos. Enquanto que a última onda inclui primariamente estimulantes eufóricos e canabinóides sintéticos, os compostos NBOMe se tornaram os psicodélicos definitivos de 2013. Porque eles são fortemente ativos com doses menores que 1 mg, são relativamente fáceis de sintetizar, e tem efeito e duração semelhante ao LSD, eles parecem estar tomando o lugar do LSD em uma porção significativa de cartelas vendidas esse ano. E como sempre, isso causa confusão entre a mídia e agentes da lei, que falsamente acusam o LSD pelos incidentes de saúde envolvendo NBOMe.

Básico

Os mais populares dos NBOMes são o 25I-NBOMe (25I), 25C-NBOMe (25C) e 25B-NBOMe (25B). Eles são todos derivados da N-Benzil-Oxi-Metila (portanto “NBOMe”) de fenitilaminas anteriormente conhecidas como 2C-I e 2C-B. Um anel extra na estrutura ligada ao químico de origem resulta em um aumento de 10-20x na potência assim como mudanças nos efeitos causados.
Depois da descoberta por Ralf Heim em 2003, o laboratório do Dr. David Nichols na Universidade de Purdue pesquisou as relações estrutura-atividade dos NBOMes. Os compostos apareceram primeiro nos mercados recreativos em 2010, e tinha se tornado popular o suficiente para ser mencionado na edição de Junho de 2011 de Erowid Extracts. Até Dezembro de 2012, os compostos NBOMe tinham atraído tanta atenção dos agentes da lei que a DEA publicou uma “caracterização” analítica.
“25I não é 2C-I”: Existem 2 nomenclaturas principais pros compostos NBOMe. Se utilizar o modelo de nomenclatura de Alexander Shulgin, 25I-NBOMe e 25B-NBOMe seriam chamados 2C-I-NBOMe e 2C-B-NBOMe. Apesar disso, após uma notificação errônea da mídia de uma fatalidade causada por 25I-NBOMe sendo noticiada como causada por 2C-I, escolhemos regularizar todas as menções para 25I-NBOMe. Esperamos que isso acabe com a tendência entre usuários, repórteres e agentes da lei de encurtar o nome inapropriadamente.

Efeitos

Doses de 750 – 1000 microgramas (0,75 – 1 mg) de 25I ou 25C podem causar uma experiência psicodélica forte com efeitos rasamente comparáveis aos do LSD ou fenitilaminas 2C. Muitas pessoas dizem gostar dos efeitos, alguns até preferem 25I a LSD. A maioria das descrições que os NBOMes levam a uma introspecção menos complexa que a de LSD, mas produzem visuais fortes e efeitos sensoriais, com a expressão “olho de doce” ocasionalmente sendo usada. Assim como a maioria dos psicodélicos, algumas pessoas descrevem sentir náusea quando os efeitos começam.
Um dos efeitos mais preocupantes é a vasoconstrição, incluindo aumento da pressão sanguínea, suor periférico e câimbras. A vasoconstrição também é associada com altas doses de outras drogas, como LSD, bromo-dragonfly, anfetaminas e MDMA.
A duração do 25I é um pouco mais curta que do LSD em efeitos comparáveis. Se a duração normal de LSD é considerada 10-12 horas, a do 25I é em torno de 8-10 horas. Um número de usuários relata sentir menos estimulação prolongada após os efeitos primários terem passado que com LSD.

Formas

Os NBOMes foram primariamente vendidos como pó na sua forma freebase. Devido a debates sobre a biodisponibilidade oral dos compostos, tornou-se prática comum tomá-los bucalmente (presos na boca, sem engolir). Os fabricantes às vezes aplicavam um procedimento para “complexar” os NBOMes com “HPBCD” (uma molécula ciclodextrina de açúcar em formato de anel), que os ajuda a passar pelas membranas corporais. Muitas pessoas relatam que as formas complexadas com HPBCD são mais potentes que NBOMes não complexados. Devido a dificuldade de preparações bucais e orais, algumas pessoas escolheram utilizar NBOMe na forma líquida. Desde junho de 2013 ainda existe uma confusão substancial sobre a efetividade/potência das diferentes formas (freebase, sal de HCL, freebase complexada) e rotas de administração.

Reações Idiossincráticas

Um número de histórias sobre 25I e 25C indicam ou uma reação idiossincrática forte em algumas pessoas, ou um aumento pontudo, não-linear, na intensidade dos efeitos conforme aumenta a dose. Um indíviduo nos contou que lhe foi dado uma pequena garrafa de 25I-NBOMe líquido, escrito que era 500 ug (0,5 mg) por gota. Ele e dois amigos decidiram testar, dois tomaram uma gota e um deles tomou três gotas. Aqueles que tomaram uma gota gostaram da experiência, tiveram boas memórias e disseram que fariam de novo. O terceiro, depois de três gotas, se tornou incoerente e frenético, então saiu da casa e dirigiu para longe no seu carro. Ele bateu em uma árvore e acordou no hospital dois dias depois sem memória de nada que aconteceu depois que os efeitos começaram. Há numerosas histórias de pessoas tendo delírios em doses acima de 1,5 mg de 25I e 25C, apesar de ter também histórias de pessoas tomando mais de 2 mg e não se sentindo impressionado pelos efeitos.

Sydney Newspaper, by Mark Pesce In early June 2013, Henry Kwan took something he believed was LSD and later jumped to his death from a third floor balcony in Sydney, Australia. Two newspapers carried it as front page stories the next day, with one proclaiming "boy "'thought he could fly'", in clear reference to past media treatments of LSD-related deaths. Both papers indicated LSD was not likely involved, with the Sydney Morning Herald stating it was either 25B- or 25I-NBOMe.
Sydney Newspaper, by Mark Pesce
In early June 2013, Henry Kwan took something he believed was LSD and later jumped to his death from a third floor balcony in Sydney, Australia. Two newspapers carried it as front page stories the next day, with one proclaiming “boy “‘thought he could fly'”, in clear reference to past media treatments of LSD-related deaths. Both papers indicated LSD was not likely involved, with the Sydney Morning Herald stating it was either 25B- or 25I-NBOMe.

Roleta Russa de cartelas, desenhos e simbolos

Depois do sucesso da DEA em romper a distribuição mundial de LSD no começo dos anos 2000, ácido se tornou incrivelmente raro. De acordo com a pesquisa Monitorando o Futuro de 2011, o uso de LSD por jovens de 18 anos no ano anterior caiu de 8,1% em 1999 para 1,9% após uma década. Isso criou uma abertura para outros psicodélicos super potentes serem depositados em papel de cartela. Às vezes os compradores são informados corretamente sobre a identidade da droga, mas geralmente é vendido falsamente como “ácido” ou até mais especificamente como “LSD”. Como um contribuidor do Erowid disse “cartelas de papel são um jeito fácil e prático de distribuir 500 microgramas de um químico. O que você acha que vende mais, cartelas vendidas como ‘25I-NBOMe’ ou cartelas vendidas como ‘ácido’?” Essa continua sendo uma tendência famosa de substituir uma droga por outra menos conhecida, assim com o clássico exemplo de LSD sendo vendido como “mescalina”.
FOTO: Jornal de Sydney, por Mark Pesce.
No início de junho de 2013, Henry Kwan tomou algo que ele acreditava ser LSD e depois pulou para sua morte de uma sacada no terceiro andar de um prédio em Sydney, Austrália. Dois jornais colocaram isso como primeira página no dia seguinte, com um deles dizendo “garoto ‘achou que conseguia voar’”, em uma referência clara aos tratamentos anteriores de mortes relacionadas à LSD. Ambos os jornais indicavam que o LSD provavelmente não estava envolvido nisso, com o Sydney Morning Herald dizendo que foi ou 25B- ou 25I-NBOMe.
Antes de 2013, outras drogas tinham sido encontradas em cartelas, mas nenhuma delas ocupou tanto o mercado quanto o 25I ocupa hoje. Entre 2007 e 2010, bromo-dragonfly (um psicodélico relacionado às fenitilaminas) apareceu em cartelas, e foi notícia quando causou algumas mortes nos EUA e Europa. Mas ele só foi vendido como LSD um curto período de tempo, parcialmente devido à impopular duração de seu efeito (substancialmente mais longo que o LSD), e por seu processo de síntese ser tecnicamente difícil. DOB, DOI e DOC também apareceram em cartelas nos últimos 40 anos, mas eles nunca foram muito comuns, e devido a ser necessária uma dose maior, eles geralmente eram colocados em papéis maiores que o padrão.
Uma diferença detectável entre LSD e os compostos NBOMe encontrados em cartelas é o gosto. Cartelas de LSD genuíno ou não tem gosto ou tem um gosto levemente metálico, enquanto a maioria das pessoas descreve um amargo intenso quando colocam papéis de 25I ou 25C na boca. Isso é geralmente porque uma dose dessas contem de 5 a 10 vezes mais químico. O gosto amargo levou alguns distribuidores a adicionar sabores de menta ou frutas para NBOMe líquido e em cartelas.
25I-NBOMe e 25C-NBOMe ganharam popularidade nos últimos 3 anos devido em parte à facilidade que um único grama pode ser mandado internacionalmente. Drogas super potentes, ativas a doses de menos de um miligrama, atravessam a alfândega com mais facilidade. Uma dose (750 microgramas) é do tamanho de seis grãos pequenos de sal. O material evaporado deixado numa mancha causada por um copo no vidro pode pesar um miligrama. Um grão grande de sal pode pesar até 5 miligramas. Isso significa que uma pequena cápsula pode conter centenas de doses de um químico como 25I-NBOMe e um pacote do tamanho de uma lata de refrigerante pode conter mais de cem mil doses.
Essa rara potência alta faz com que overdoses aconteçam mais. Infelizmente, os riscos de altas doses de 25I (e talvez outros NBOMes) incluem delírios, comportamento perigoso (com alguns acidentes resultando em mortes), assim como a possibilidade de morte diretamente pelos efeitos farmacológicos. Doses perigosas podem ser tão baixas quanto 3-5 miligramas. É uma acusação poética da Guerra às Drogas que o LSD, o primeiro psicodélico sintético, demonizado por décadas e o alvo de operações policiais caríssimas, parece ser bem mais seguro que seus substitutos.

Manuseie com cuidado

Uma grande quantidade de 25I e 25C é vendida aos usuários finais como um pó puro, o que cria uma situação inerentemente perigosa. A maioria das pessoas (especialmente experimentadores de 16 a 25 anos de idade) não sabe os procedimentos de segurança necessários para manusear químicos super potentes. Pesar e manusear compostos puros super potentes como LSD e 25I-NBOMe deve ser feito utilizando proteção para os olhos, luvas e uma máscara. Mesmo assim, essas precauções raramente são seguidas.
Talvez o maior risco da disponibilidade de puro pó de NBOMe é confundir um pó branco com outro, ou simplesmente não entender a diferença entre uma droga psicodélica e uma droga estimulante ou outras. Muitas pessoas têm experiências anteriores cheirando pequenas linhas ou doses de um psicodélico ou estimulante. É um fenômeno razoavelmente novo que a mesma quantidade pequena de droga pode levar à morte. Mais de uma das mortes documentadas de 25I ou 25C foram devido a cheirar 10 vezes ou mais a dose apropriada.

Mídia dizendo que “as mortes são causadas por LSD”

Um aspecto agravante da venda de 25I e 25C como ácido é que a mídia desinformada e fontes governamentais reportaram várias mortes como sendo relacionadas à LSD. Esses relatos raramente levam em consideração que essencialmente não existem mortes causadas pelo efeito farmacológico do LSD, e geralmente não tem nenhuma menção que outras substâncias poderiam estar envolvidas.
Depois de uma morte que culparam o LSD em março de 2013, Jacob Sullum de Reason.com escreveu um artigo fazendo piada dos repórteres e promotores, e apontando que a revisão mais recente de mortes causadas por LSD na literatura (Passie ET al 2008) concluiu que houve zero mortes documentadas claramente relacionadas a uma overdose de LSD.

nbome_article1-3Na natureza

Desde 1 de julho de 2013 nosso projeto de testes EcstasyData analisou quatro amostras contendo compostos NBOMe. Erowid recebeu 314 relatos de uso de NBOMe: 5 em 2010, 35 em 2011, 148 em 2012 e 126 nos primeiros 6 meses de 2013. Bluelight, um fórum de discussão sobre drogas, tem mais de 8000 postagens contendo a palavra “NBOMe”. O mercado negro digital Silk Road tem 241 resultados para produtos NBOMe, a maior parte em cartelas, alguns “complexados” como freebase e outros como sal HCl.
Os preços do Silk Road para o pó puro de 25I, 25C e 25B-NBOMe atualmente variam de $90 a $200 o grama. As listagens mais problemáticas são vendedores com cartelas que pedem para serem revendidas como ácido: quadrados pequenos perfurados em cartelas de 100 doses com imagens do tipo a viagem de bicicleta de Albert Hoffman e o Yellow Submarine dos Beatles, junto com outras imagens do passado. Um vendedor diz “cada quadrado é do tamanho de doses de ácido, sem grandes papéis”. Outro oferece doses supostamente contendo 1 miligrama de 25I e 1 miligrama de 25B-NBOMe cada! Doses variam de 500 microgramas a 2 miligramas por dose de quadrado pequeno, com a maior parte variando em torno de 1 miligrama. No Silk Road, cartelas de LSD são de 5 a 10 vezes mais caras que as cartelas de NBOMe.

NBOMes e a lei

Os NBOMes estão começando a ser controlados legalmente. O primeiro banimento que sabemos foi na Rússia em outubro de 2011, e o segundo foi no estado da Virginia em abril de 2012. Na primeira metade de 2013, Arkansas, Flórida, Louisiana, Israel e o Reino Unido todos passaram algum tipo de controle criminoso.
Nos últimos 50 anos, foi demonstrado que criminalizar uma droga popular irá resultar em novas substâncias para substituir, e as vendas mudam de fontes legais ou semi-legais para os mercados negros. De acordo com o Relatório Mundial de Drogas de 2013, feito pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, “assim que uma substância entra pra lista de controladas, outra a substitui, dificultando então os estudos no impacto em longo prazo do efeito da substância na saúde.” A proibição de psicodélicos, empatógenos e estimulantes previamente criados levou à distribuição em massa do 25I-NBOMe. Nisso começa a questão, “o que vai proceder se controlarmos o 25I-NBOMe?”

Gosto levemente amargo do futuro

Os NBOMes são precursores das coisas que virão. Os problemas e dificuldades que eles demonstram são problemas que a atual estrutura regulatória proibicionista vai naturalmente continuar a gerar. Por exemplo, novos psicoativos em desenvolvimento são relatados como 10 vezes mais potentes, com 10.000 doses por grama.

O novo modelo da Nova Zelândia

A melhor esperança no horizonte para parar com esse ciclo recorrente de criminalização e desenvolvimento de novas drogas vem da Nova Zelândia. Um novo “Projeto de lei de Substâncias Psicoativas” foi desenvolvido por meio de uma colaboração entre o Ministério de Saúde da Nova Zelândia, agentes da lei, e Stargate International, uma organização de redução de danos que começou como um distribuidor de “baratos legais”. Se for implementada como esperado, essa lei não precedente irá criar uma estrutura em que vendedores serão permitidos de distribuir produtos contendo substâncias ainda não controladas e usadas recreativamente, para aqueles com 18 anos de idade ou mais. Será exigido que os vendedores paguem uma taxa inicial de registro, demonstrem a segurança básica de seus produtos e monitorarem reações adversas após o início das vendas.

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25I-NBOMe a venda na Silk Road

Como Matt Bowden (fundador da Stargate International) descreveu no início de 2012, enquanto esse projeto de lei estava sendo escrito, medicamentos com a intenção de tratar uma doença devem atender um padrão maior que esses baratos legais: eles devem mostrar que são tanto seguros quanto efetivos ao tratamento de certa doença. Para as drogas “sociais”, a definição de efetivo é simplesmente se as pessoas gostam de tomar a droga, essencialmente eliminando o passo custoso de provar efetividade. As primeiras drogas a serem aprovadas por esse novo projeto de lei terão que ser mais seguras que outras drogas usadas recreativamente (um padrão substancialmente mais baixo para a “segurança” do que é requerido para medicamentos comprados sem receita). O custo do teste para demonstrar o nível de segurança de cada droga é em torno de um milhão de dólares.
Esse modelo está chamando atenção de outros países também. Um relatório do Conselho de Oficiais de Saúde da Columbia Britânica (Canadá), Perspectivas de Saúde Pública para Regulamentar Substâncias Psicoativas, discute a direção que a Nova Zelândia está tomando e nota “proibir uma substância manda a mensagem de desaprovação social do uso, […] mas o valor de usar a proibição para mandar uma mensagem de dissuadir o uso deve ser comparado com as consequências prejudiciais de se implementar a proibição, e a utilidade de outros métodos que sejam menos prejudiciais ao individuo que a criminalização.”
Tudo indica que o Projeto de Lei de Substâncias Psicoativas da Nova Zelândia será aprovado entre meio e fim de 2013, após o qual serão finalizadas as regulações específicas. Alguns dos críticos mais cínicos da Guerra as Drogas expressão dúvidas que isso vai representar real mudança, mas nós do centro Erowid nos mantemos esperançosos, com a visão que essa é a reforma na política de drogas mais emocionante e progressiva acontecendo no mundo.

Referências

  1. Passie T, Halpern JH, Stichtenoth DO, et al. “The Pharmacology of Lysergic Acid Diethylamide: A Review“. CNS Neurosci Ther. 2008;14(4):295-314.

Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaboradora Raphaela Lancellotti.
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