Archives 2016

Artista TAS cria as imagens e cenas psicodélicas mais admiraveis e autenticas

The Adventurous Spark, ou mais conhecido simplesmente como TAS, é um designer gráfico, artista visual e VJ de Graz na Áustria. Ele canaliza seu talento para desenvolver visualizações que retratam reinos imaginativos de movimentos psicodélicos fluidos. TAS tornou-se mais reconhecido por seus clipes visuais de dobrar o cérebro, no qual já criou dúzias, e também seu trabalho funciona como um “agente portal”, ele desenvolve performances visuais decorativas para apresentações ao vivo em festivais de música eletrônica.

As apresentações de TAS já foram exibidas em diversos festivais e aprestações pela Europa: Modem Festival, Croatia; Summer Never Ends, Switzerland; Mystica, Switzerland; Psy-Fi Festival, Netherlands e outros. Ele tornou-se bem reconhecido na cena psicodélica da Europa como o sujeito para quem se procurar, o que é evidente, já que sua agenda está totalmente reservada para o ano de 2017.

Cada uma das criações visuais da TAS tem sua própria história para contar. A natureza imprevisível e indescritível de cada odisseia metamórfica demonstra a diligência contemplativa com a qual foi criada. As tonalidades hipnóticas, a fluidez sedosa e o envolvimento cativante desses reinos exploratórios farão você observar uma criação após a outra, desejando mais, conforme cada uma se conclui.

Role para baixo para ver algumas das criações visuais deslumbrante de TAS.
Para mais informações ou para ver mais de suas obras sobrenaturais, confira:

ttaass.com | youtube | facebook | instagram

VISUAIS IMERSIVOS

MERGULHO PROFUNDO

SAPO

MOVIMENTO MISTICO

SERPENTES DA AYAHUASCA

MTV

FLUTUANDO

FLOR DA VIDA

FONTE TIMEWHELL

O que o Ecstasy faz ao seu corpo?

A ciência por trás da droga mais controversa do cenário musical


Separar música e o cenário de festas de uso drogas não é fácil. Apenas pergunte para o donos da Fabric, uma famosa balada em Londres, que teve sua licença revogada nessa quarta-feira por autoridades locais preocupadas com o uso de drogas no local. Ou os organizadores do Eletric Daisy Festival, Hard Summer e outros eventos que destacaram as manchetes de jornais pelos seus usuários que morreram pelo uso de drogas.

Em muitos desses casos, a droga primária envolvida era ecstasy ou vários químicos misturados vendidos como comprimidos de ecstasy. Apesar de ser considerado menos aditivo que cocaína e heroína; ecstasy está ganhando uma má reputação entre os políticos. O exemplo mais óbvio é o Redução e Vulnerabilidade para o ecstasy da América ( RAVE) Act, que passou no congresso em 2003 como o Ato de Anti-Proliferamento de Drogas.

Deixando os fechamentos de clubes ou a aplicação da lei de lado, há uma terceira opção que está ganhando força silenciosamente , — usando a educação e defendendo medidas de redução de danos para evitar tragédias relacionadas ao ecstasy.

Saiba o que você está tomando. Em um estudo experimental a três anos atrás, a maior balada de Londres, Warehouse Project, convidou uma pesquisadora de criminologia da Universidade de Durham para ir uma vez a cada mês para testar drogas encontradas na festa, tanto confiscadas pelas autoridades ou entregues anonimamente. Se a pesquisadora achasse algum ingrediente preocupante nas amostras, ela notificará os donas da festa, e a mensagem seria espalhada pela mídia social e sinais de LED seriam colocados nas festas para alertar os consumidores. Pela Europa, testagem de drogas no local da festa é bem comum, diz Adam Auctor, fundador do Bunk Police, um serviço de testagem de drogas sediado em Denver, no Colorado; que começou a testagem na Europa esse ano.

Nos Estados Unidos, a testagem no local ainda é muito rara. DanceSafe e Bunk Police oferecem kits de testagem de substâncias em eventos no norte do país. Mas por que as festas e os promotores não querem bater de frente com o Ato de Anti- Proliferamento de Drogas, que bane “manutenções de instalações envolvendo drogas”, a maioria recusa permitir esses serviços de testagem no local uma vez que isso pode ser percebido pelos promotores como encorajamento de uso de drogas.

DanceSafe ainda frequenta um punhado de eventos para fornecer testagem gratuita onde é permitido, mas esses eventos são na maioria menores e mais desorganizados que a maioria dos festivais realizados por promotores empresariais, que estão mais preocupados com a responsabilidade, diz Mitchell Gomez, diretor nacional de divulgação do DanceSafe, uma organização sem fins lucrativos, de Denver. O Bunk Police não faz mais testagem em tempo real, diz Auctor, mas eles ainda vão em festas para vender kits de testagem com descontos, embora nem sempre com a permissão dos organizadores dos eventos.

Ambos os grupos vendem kits de testagem de drogas online por 20 dolares para um teste único e 150$ para ampolas de testes validas para 60 análises. Gomez avisa que esses testes são limitados no que eles podem revelar sobre a droga. Enquanto esses testes podem mostrar se a droga em questão tem MDMA ou Catinona ( vendidos como “sais de banho”), muitas vezes eles não conseguem mostrar se tem certos adulterantes ou outros aditivos, ele disse. Gomez sonha poder mandar um laboratório completo para testagem em tempo real, mas enquanto as leis federais de drogas não são alteradas, ele não vê isso acontecendo.

” Nas ruas, pode ser difícil conseguir compostos puros,” diz Dr. Itau Danovich, presidente do Departamento de Psiquiatria e Neurociências de Comportamento no Cedars- Sinais Medical Center em Los Angeles. ” A cada passo na cadeia de distribuição, tende a haver um corte”.

Tanto Gomez e Auctor acreditam que a chave para implementar medidas para impedir emergências médicas encontram-se  na alteração do Ato Americano de Anti-Proliferamento de Drogas, que permita explicitamente promotores e donos de festas a tomarem um passo no quesito de redução de danos. Dede Goldsmith, cuja a filha morreu em 2013 de hipertermia em uma festival de música eletrônica, após ter tomado ecstasy; ela está entre os defensores da mudança da lei porque “Isso está impedindo a implementação de medidas de senso comum de segurança nesses eventos.” A partir dessa semana, Goldsmith juntou mais de 16,300 assinaturas através de seu site online.

” Não existe tal coisa como uso de droga seguro,” diz Gomez. ” Mas há maneiras que nós podemos reduzir os riscos, educando as pessoas sobre o que elas estão tomando e providenciando condições que as façam serem menos danosas.”

Para evitar problemas, em primeiro lugar, é bom entender como a droga afeta seu corpo. Quimicamente, o ecstasy é a forma pura de 3,4-metilenodioxi-metanfetamina, ou MDMA. Mas há muitas variantes de ecstasy no mercado, e a quantidade de MDMA nessas substâncias podem ser altamente variável.

Gomez, que tem uma organização que vem testando drogas e seus componentes químicos em festas há 17 anos, estima-se que 40% das drogas vendidas hoje como ecstasy é na verdade MDPV, metilona ou mefedrona, vendido nas ruas mascaradamente como “sais de banho”.

Uma vez em seu corpo, o MDMA entra na sua corrente sanguínea e começa a fazer seu caminho para o cérebro. Depois de escapar pela sua barreira hematoencefálica destinada a proteger seu cérebro de neurotoxinas, o MDMA desencadeia a liberação de três neurotransmissores: dopamina, norepinefrina e a serotonina, diz Dr. Danovich. É como se você pegasse uma laranja e expresse todo o suco.

Dopamina, é associada com o prazer e resposta de recompensa, é responsável pela euforia e energia que você sente quando toma MDMA. Norepinefrina é uma adrenalina que aumenta seu batimento cardíaco e pressão sanguínea. Enquanto isso, a serotonina libera uma sensação de bem estar, felicidade e conexão emocional (empatia).

Na maioria dos casos, o efeito dura de 3 a 6 horas. Depois disso, muitas pessoas sentem a “síndrome de esgotamento”, de acordo com Danovitch. ” É o chamado crash(bad/deprê). As pessoas se sentem desanimadas, irritadas, depressivas, têm dificuldades de dormir, sentem ansiedade e tem problemas com foco.”

Na maioria dos casos, os efeitos indesejados terminam por aí; Em outros, no entanto, as coisas podem dar muito errado. Entre as reações potencialmente catastróficas estão a hipertermia, rabdomiólise, falência de órgãos, aumento intenso da ansiedade ou ataque de pânico, diz Cathy Lee Rogowski, médica de sala de emergência em San Diego, que tem visto muitos desses sintomas e até mais.
O efeito a longo prazo mais nocivo é o possivel dano cerebral. Porque o MDMA só começou a ser uma droga recreacional popular no meio dos anos 80, pesquisadores ainda estão começando a entender como afeta o cérebro a longo prazo.

Porém, há um aumento de evidências que apoiam a probabilidade que o uso crônico de ecstasy pode causar um dano cerebral duradouro.

Uma das maneiras que o ecstasy prejudica, tem a ver com a forma de como o corpo tenta lidar com o fluxo artificial de substâncias neuroquímicas liberadas pelo MDMA.
” Se há muitos neurotransmissores para o corpo lidar do jeito que ele normalmente metaboliza esses tipos de químicos, então ele usa uma via secundária,” uma que pode deixar metabólitos tóxicos que acumulam com o tempo, diz Dr. Jeffrey Lieberman, presidente de Psiquiatria para Centro Medicinal da Universidade da Columbia do Hospital Presbiteriano de Nova York. O perigo é que esses metabólitos tóxicos tem o potencial de destruir células cerebrais de um jeito parecido com o mal de Parkinson, diz Lierberman.
Em um artigo — “A Psicobiologia Humana do MDMA ou ‘ecstasy’: uma visão geral de 25 anos de pesquisa empírica”– publicada no jornal Psicofarmacologia Humana, de Andrew Parrot do Departamento de Psicologia da Universidade de Swansea, mostrou um déficit significativo na memória e prejuízos sobre uma série de tarefas cognitivas incluindo “processamento executivo, raciocínio lógico, resolução de problemas e inteligência emocional.”

Para adolescentes e jovens adultos, as consequências a longo prazo ainda são desconhecidas. “O cérebro não está totalmente desenvolvido até que você está nos 20 a 30 anos,” Lieberman diz. “Há muito pouca pesquisa em cérebros mais novos. Presumidamente, há um efeito diferente, mas ainda não sabemos.”

O risco é ainda maior quando se trata de gestantes que tomam MDMA. EM 2012, um estudo feito por Lynne Singer, et al., crianças de mães que tomaram ecstasy durante a gravidez, tiveram qualidade de coordenação motora significativamente mais pobre em 4 meses de idade. Levará anos até que os pesquisadores sejam capaz de descobrir como o MDMA afetará essas crianças a longo prazo.
Embora o ecstasy seja frequentemente chamado de a “droga do amor”, seus efeitos psicológicos nem sempre são positivos. Em sua análise de 25 anos como pesquisa medicinal no MDMA, Parrot conclui que “o MDMA é essencialmente um intensificador de humor” que também pode aumentar estados de emoções negativas, assim como as positivas.

Quando combinado com outras drogas, o resultado pode ser fatal. Emily McCaughan tinha tomado uma combinação de MDMA e ácido gama-hidroxibutírico (GBH), antes de contar a seus amigos que ela estava sendo seguida, e pulou do 20º andar do seu hotel em Las Vegas em 2012. Kyle Haigis morreu em 2011 depois de começar a agir irracionalmente, pulando de um carro em movimento e em seguido ser atingido por outro.

Os efeitos mais comuns são calor excessivo do corpo ou hipertermia. A serotonina que ajuda a regular o núcleo da temperatura pelo hipotálamo, age como termóstato do corpo. “Serotonina enerva o hipotálamo” diz Lieberman. “É como setar a temperatura do seu termóstato mais alto.”
Ao mesmo tempo a norepinefrina, o segundo neurotransmissor lançado no seu cérebro pelo MDMA, que faz você sentir energizado, então você acaba dançando e se mexendo muito. Isso cria mais calor no corpo. Agora adicione um lugar quente e abafado como uma balada pouca ventilada ou festival quente com o chão cozinhando, e o seu corpo logo terá dificuldade de resfriar.

O que há de errado com isso? Muita coisa.
Calor corporal em excesso causa a morte das células dos músculos. Os músculos estão tão estressados pelo excesso de adrenalina bombardeado no corpo, graças a norepinefrina lançadas pelo ecstasy. Os músculos ficam tensos e rígidos para a preparação da luta-ou-fuga em resposta para a adrenalina que está sendo lançada.
Pessoas que tomam ecstasy frequentemente dizem que suas mandíbulas ficam tensas. Essa tensão, se constante, ocasiona danos para as fibras musculares, chamadas de rabdomiólise.
A dor no músculo que é relatada por muitos no dia depois de terem tomado ecstasy, é um caso leve de rabdomiólise.

Rabdomiólise sustentada é problemática porque pode de repente se tornar um trem desgovernado que leva à falência de órgãos. Quando as células dos músculos morrem, elas liberam um número de subprodutos no sangue, incluindo íons de potássio, íons de fosfato, mioglobina, creatina quinase e ácido úrico. “Seu fígado tenta filtrar para fora todos esses químicos” diz Lieberman. “Mas seu sangue se torna muito viscoso com todo esse material. É como se fosse um lodo, que entope seu fígado.”
Enquanto isso, o excesso de ácido úrico pode formar cristais nas túbulas do seu fígado, que futuramente pode comprometer seu fígado “Quando começa, é difícil parar,” diz Lieberman. “ Quando os músculos morrem, eles liberam essas substâncias corrente sanguínea. Não tem jeito reverso uma vez que eles estão na sua corrente sanguínea. Pode acontecer muito rápido, em questão de algumas horas.”

Apesar de não ser muito provável, insuficiência cardíaca pode acontecer se existe uma predisposição a problemas do coração que podem ser agravados nos efeitos do MDMA. De 6 dos 24 relatos de mortes relacionados a ecstasy pelo Los Angeles Times, eram de parada cardíaca.
“Seu corpo não pode tolerar um batimento cardíaco rápido por muito tempo.” Rogowski diz. “Ele irá se esgotar.”

“Tudo fica muito acelerado” diz Rogowski. “ Mas na verdade o coração não funciona bem quando está vibrando tão rápido assim, e o resto do seu corpo não recebe o oxigênio que precisa.”

Outro efeito possível a longo prazo causado pelo uso prolongado de ecstasy é hepatite aguda e falha hepática. “Você pode oprimir a habilidade do fígado de quebrar o MDMA, levando a hepatite aguda. ” diz Danovitch.
Agora que você sabe como o MDMA afeta seu corpo e o que pode dar errado, aqui vai uma lista do que você pode fazer para reduzir os risco de emergências e diminuir os danos para seu corpo.

Faça intervalos de descanso com frequência. Isso ajuda o seu corpo a esfriar e minimizar o risco ao seus músculos. Se você é daqueles que gosta de festivais outdoors, procure sombras e tendas com ar condicionado. Se você está em uma balada quente, vá para a área externa para respirar melhor. DanceSafe pressionou os promotores para eles colocarem de 5 a 10 minutos de intervalos entre os DJs, ao invés de fazê-los tocar sem parar horas a fio, diz Gomez.

Se hidrate e coma bem. Dar ao seu corpo fluido suficiente é importante pois você sua para seu corpo esfriar. Mas não beba muito pois tem o risco de você ter uma intoxicação de água, uma condição rara, mas potencialmente fatal. O excesso de água pode oprimir a capacidade do corpo de manter seu balanço eletrolítico. Também não esqueça de comer. Como outros estimulantes, MDMA pode suprimir apetite, mascarando a necessidade do seu corpo por nutrição para seu sustentar, Rogowski diz.

Fique com um amigo de confiança. Faça um pacto com o seu amigo que se, um passar mal, o outro vai ficar cuidando.“ Se você está com seu amigo e ele passar mal, não o deixe sozinho.” diz Danovich. “ Eles poderiam ser vítimas se você deixar ele sozinho. Eles também poderiam precisar atenção médica imediata, especialmente se você não consegue acordá-lo.”

Preste atenção nos sinais de alerta que o seu corpo está te mostrando. Se você está se sentindo muito quente e não está suando é um sinal que o seu corpo não está conseguindo se esfriar sozinho. Dores de cabeça, confusão mental, dificuldade de respirar, náusea, batimento cardíaco forte e delírio também são sinais de alerta. Se você ou um dos seus amigos tiver algum desses sintomas, vá diretamente para tenda médica para ter atendimento imediato.“É incrível a diferença que 10 minutos pode fazer quando se trata de uma socorro médico.”

FONTE BILLBOARD

 


Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaboradora Gabriela Lie.
Seja você também um colaborador, entre em contato:

equipemundocogumelo@gmail.com

Cartazes de Redução de Danos

O maior perigo dos psicodélicos, não são eles em si.

E sim a desinformação sobre eles.

Adulterações, erros de dosagem, experiências em lugares tumultuosos, são muitos aspectos a serem pensados para organizar com sucesso uma experiência segura e integrativa. Estudar e prevenir cada um destes aspectos é parte de um conjunto de ações chamado Redução de Danos.
Em parceria com o nosso amigo e artista Kaio Shimanski elaboramos três cartazes que visam espalhar consciência e informação. Junto com cada cartaz deixamos um texto explicativo para você driblar a proibição e cuidar da sua saúde.
Fique a vontade para baixar, imprimir e espalhar estes cartazes por onde quiser!

Tenha uma boa viagem!

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LSD

Até pouco tempo atrás era muito difícil de se adulterar LSD, isso porque ele é comumente vendido em forma de gotas liquidas, ou um pedaço minúsculo de papel. Até 2003 era impossível colocar outra substância dentro de um pequeno blotter, a dosagem em microgramas não era suficiente para você sentir os efeitos psicodélicos de qualquer molécula impostora.

Se fosse uma gota, era LSD. Se você um pequeno papelzinho, era LSD!

Até que então, pesquisando sobre as Feniletilaminas Psicodélicas, Ralf Hein cria uma derivação 16 vezes menor da família 2C-X,  dando nascimento a serie NBOMe. Molécula pequena suficiente para ser aplicadas em cartelas absorventes (blotters), a cena das drogas psicodélicas muda para sempre. Quem nunca colocou um quadrado de papel (vendido como LSD) e sentiu sua língua amargar e até amortecer?

É caro leitor, este é o pior dos testes, LSD-25 não tem gosto algum. Então você acabou de consumir uma substância que ainda é muito desconhecida pela ciência psicodélica. E infelizmente existe risco de overdose e outros possíveis danos mais graves com a família dos NBOMes. Imitando os efeitos psicodélicos e visuais, a grande maioria das pessoas passou anos comprando gato por lebre, porém alguns efeitos negativos não desejados como dores musculares, confusão mental, vasoconstrição, náuseas, vômitos, dor de cabeça e uma possível ressaca no dia seguinte. Deixa claro que aquele inofensivo papel não era LSD. Ou pior, durante um curto tempo moléculas como DOB e DOI eram usadas como substitutos nas cartelas, levando o curioso buscador psicodélico a uma viagem de até 20 horas. Este teste: se o papel amargar na língua não funciona mais, pois existem cartelas impregnadas de NBOH sem gosto algum.

Então o que fazer?

LSD

Compre um kit de testagem! O teste é na verdade uma ampola com um reagente químico, neste caso o Ehrlich.

Para fazer a testagem é fácil: você corta um micro pedaço da sua amostra de papel ou fração da gota, coloca em uma porcelana branca ou na embalagem descartável que vem junto ao kit, pinga uma ou duas gotas do reagente e espera com a tabela em mãos. Imediatamente você verá uma reação química acontecer, se ficar roxo temos LSD! Se ficar amarelo ou verde é um adulterante perigoso!

Infelizmente a senhora ANVISA em conjunto com a Policia Federal complicam a entrada destes testes aqui no Brasil, e só agora nos últimos meses micro empresas nacionais estão aparecendo e vendendo os reagentes pelo Brasil. Faça uma boa busca no Google e adquira já a seu.

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Mesmo seu teste dando positivo para o que procura, lembre-se que a dosagem prometida por um vendedor de uma substância ilegal, nunca é 100% de se acreditar. Sempre questione, mesmo se quem te vendeu for seu amigo, ele mesmo pode ter sido enganado pelo mercado ilegal.
Então comece baixo, corte seu papel em 3 ou 4  partes iguais, e comece tomando pequenas doses, depois de conhecer bem este lote, vá aumentando até a dose desejada. Sempre tenha cuidado com a dosagem. Não faça deste momento tão especial, uma roleta russa.

Para mais estudos sobre LSD, visite nossa Biblioteca de Substâncias.


 

MDMA

Poucos sabem, mas o Ecsatasy é a droga mais adulterada do mundo. Um levantamento (2012) feito pela Superintendência da Polícia Técnico-Científica de São Paulo em parceria com a Fapesp revela que apenas 45% dos comprimidos apreendidos no Estado em 2011 contêm traços de MDMA.

MDMA é o que buscamos, aquela sensação de pura empatia, conversação sem barreiras, uma euforia que só te deixa com mais vontade de respirar fundo e sentir como a nossa existência é um presente. Infelizmente isso pode ser adulterado com muitas outras substâncias.

Anfetaminas, cocaína, cafeína, metanfetamina, psudo efedrina, quetamina, são as substâncias mais usadas para adulterar os comprimidos que são vendidos com a promessa de 100% MDMA. Algumas não tão danosas, porem tomar uma substância quando se quer outra, é algo que confunde mais ainda o seu plano para a noite. E algumas bem perigosas como PMA, que recentemente mataram alguns jovens pela Europa.

Então o que fazer?

MDMA

Compre um kit de testagem! O teste é na verdade uma ampola com um reagente químico, neste caso o Marquis.

Para fazer a testagem é fácil: você raspa uma fração minúscula de seu comprimido, coloca em uma porcelana branca ou na embalagem descartável que vem junto ao kit, pinga uma ou duas gotas do reagente e espera com a tabela em mãos. Imediatamente você verá uma reação química acontecer, se ficar roxo escuro quase preto temos MDMA! Se ficar amarelo, laranja ou  verde é um adulterante perigoso!

Infelizmente a senhora ANVISA em conjunto com a Policia Federal complicam a entrada destes testes aqui no Brasil, e só agora nos últimos meses micro-empresas nacionais estão aparecendo e vendendo os reagentes pelo Brasil. Faça uma boa busca no Google e adquira já a seu.

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Mesmo seu teste dando positivo para o que procura, lembre-se que a dosagem prometida por um vendedor de uma substância ilegal, nunca é 100% de se acreditar. Sempre questione!
Então comece baixo, nunca tome um comprimido novo inteiro, nos últimos tempos laboratórios europeus de ecstasy produziram comprimidos de alta qualidade e altas dosagens. Chegando até 250mg de MDMA, e mesmo sendo esta substância a nossa querida amada molécula procurada, muito nunca é bom. Comece tomando pequenas partes quebradas do comprimido, depois de conhecer bem este lote adquirido, vá aumentando até a sua dose desejada.

Sempre tenha cuidado com a dosagem. Não faça deste momento tão especial, uma roleta russa.

Para mais estudos sobre MDMA, visite nossa Biblioteca de Substâncias.

E o site  RollSafe.


 

COGUMELOS MÁGICOS

Epa! Pera aí, de Ácido a Ecstasy, como fomos parar em algo da natureza que não tem adulteração? Sim, os cogumelos mágicos não tem um mercado ilegal no Brasil para ser adulterado, porém devemos sempre nos informar, para não acabarmos machucando nosso corpo e estragando uma experiência que pode ser tão especial.

Aqui no Brasil todo ano entre novembro a março, temos a temporada de caça dos Psilocybe cubensis. Eles crescem no esterco de rulminantes, lindos cogumelos dourados portadores de Psilocibina. Porém você precisa de um treinamento básico para saber identificar os cogumelos certos.

COGUMELOS

Baixe agora mesmo nosso Guia de Caça e Identificação de cogumelos P.cubensis.

No fórum Cogumelos Mágicos você encontra o tópico de espécies tóxicas do Brasil em Fungos tóxicos com ocorrência no Brasil, para quem se interessar.


Não tome uma substância simplesmente porque leu aqui, este conteúdo foi produzido exclusivamente para reduzir os riscos e danos de quem já está procurando e planejando estas auto experiências.
Nós do Mundo Cogumelo acreditamos que sofremos pela falta de informações corretas e claras.

Vamos deixar todo esse tabu de lado, e conversar cada vez mais sobre uso seguro e responsável de substâncias psicodélicas. Para assim juntos mudarmos o cenário atual da proibição. Se cuide!

Se quiser conversar mais com a gente

equipemundocogumelo@gmail.com

maconha sono sonhos

A maconha, o sono e os sonhos

O estudo científico da maconha vem contribuindo decisivamente para a compreensão da interação do nosso organismo com o ambiente.

 Texto por Renato Malcher e Sidarta Ribeiro


O sono do ser humano compreende quatro fases distintas, caracterizadas por diferentes padrões de atividade cerebral medidos por eletroencefalografia (EEG). As primeiras três fases formam um contínuo e se caracterizam pela reduzida atividade neuronal no córtex, que produz ondas neurais grandes e lentas. Durante essas fases de sono, coletivamente chamadas de sono de ondas lentas (SOL), quase nunca ocorrem sonhos. A última fase, ao contrário, apresenta alta atividade cortical, ondas neurais rápidas e pequenas, e muito freqüentemente a presença de sonhos. Durante essa fase observam-se movimentos oculares rápidos, dando origem em inglês ao nome rapid-eye-movement sleep, abreviado para sono REM por seus descobridores. O sono REM, quando estabilizado, sempre termina num despertar, mesmo que por minúsculos intervalos de tempo. Durante a noite, ciclamos cerca de quatro vezes por meio do sono de ondas lentas, do sono REM e da vigília.

A anandamida, o primeiro endocanabinóide a ser descoberto, é um poderoso indutor de sono de ondas lentas e de sono REM, causando redução do tempo de vigília.Entretanto, alguns estudos com altas dosagens de THC(mais que 70 mg/dia) verificaram uma diminuição significativa de sono REM. Aumento do estado de vigília e redução do sono REM também foi observado com CBD. Outros estudos reportam que doses mais baixas de THC causam aumento do sono de ondas lentas. O aumento da vigília causado por altas doses de THC contrasta com a aparência de sonolência decorrente da ingestão de maconha. Essa aparência deriva em parte das propriedades relaxantes e vasodilatadoras dos canabinóides, que causam queda das pálpebras e vermelhidão dos olhos. Quanto à sensação subjetiva de sonolência, parece depender crucialmente das dosagens dos diferentes componentes da maconha, da experiência pregressa do usuário, e da hora do dia em que a ingestão ocorre. Alguns usuários crônicos de maconha relatam que a ingestão pela manhã tende a provocar sonolência, enquanto a ingestão no turna provoca aumento da vigília. Em roedores, há evidências de que os níveis de endocanabinóides e de receptores CB1 variam de forma circadiana, se acumulando durante a vigília e decaindo durante o sono.

Os resultados sugerem que a ingestão de maconha durante o dia satura o sistema endocanabinóide de forma a produzir sonolência, mas tem o efeito inverso quando ingerida à noite, quando as doses somadas de endocanabinóides e exocanabinóides seriam menores. É importante ressaltar que entre os diversos canabinóides da maconha existem tanto agonistas do receptor CB1 (THC, por exemplo) quanto antagonistas (CBD,por exemplo). Isso faz da maconha um coquetel farmacológico extremamente complexo no que diz respeito aos efeitos sobre o sono. De modo geral, usuários crônicos de maconha relatam dificuldade de se lembrarem de seus sonhos. Esse efeito parece ser uma combinação da redução de sono REM com um possível aumento do esquecimento matinal, a seu turno ocasionado por efeitos residuais dos canabinóides ingeridos antes de dormir.
Ilustra cannábica O sono e sonho 2
Se por um lado a maconha diminui a ocorrência de sono REM e por extensão diminui efetivamente a oportunidade de sonhar, seus efeitos sobre a vigília são de certa forma oníricos, promovendo um afrouxamento perceptual e lógico que é descrito por muitos usuários como similar ao sonho. Vista por esse lado, a ação da maconha seria a redução do sonho no turno (night-dream) e o aumento da divagação da vigília (day-dream). Tendo em vista que os canabinóides promovem uma desorganização do processamento neuronal e conseqüente facilitação da restruturação dos traços de memória, é fácil compreender que seu uso facilita o processo criativo e a geração de insights. Além de ser um poderoso estimulador do apetite, a maconha é também utilizada como relaxante e mesmo como afrodisíaco. O aprofundamento geral da experiência sensorial enriquece a apreciação e produção das artes, fazendo da maconha uma droga especialmente utilizada pelos que vivem da sensibilidade artística. Não é por acaso que o cantor e compositor de reggae Peter Tosh, líder (assim como Bob Marley) do movimento Rastafari globalizado nos anos 1970, afirma em seu hino pela legalização da maconha (Legalize It) que a maconha é usada por muitos na sociedade, como juízes e médicos, mas começa sua lista pelos cantores e instrumentistas.

Além de favorecer a veiculação de emoções através das artes e estimular a comunicação verbal, a maconha também favorece estados de baixa ansiedade, como a contemplação lúdica, a introspecção, a empatia e o transe místico. Por esses motivos, a maconha é freqüentemente utilizada para reduzir tensões sociais nos mais variados contextos, das prisões às festas dançantes. O conjunto das manifestações comportamentais e sociais associadas ao uso da maconha reflete a ação anti-estressante atribuída ao sistema endocanabinóide por vários cientistas, entre eles o italiano Vincenzo Di Marzo, um dos líderes mundiais nesta área de pesquisa. A relevância das interações sociais para a evolução é irrefutável, adquirindo contornos únicos na espécie humana. A coesão do grupo em animais sociais é fundamental para aumentar as chances de integridade física de cada indivíduo diante da ameaça de um predador, por exemplo. Da mesma forma, em situações de escassez de alimentos, a cooperação aumenta muito as chances de sobrevivência dos indivíduos. Uma das principais funções do sistema endocanabinóide é a de reger o reequilíbrio mental e físiológico do organismo após eventos estressantes. Em animais sociais, podemos incluir também o reequilíbrio social. Os hormônios glicocorticóides iniciam e coordenam os diversos estágios da resposta de adaptação do organismo ao estresse: geram primeiro ajustes de curto e longo prazo nos diversos sistemas do organismo e, à medida que seus níveis vão se elevando também no cérebro, estimulam ali a síntese de endocanabinóides. Estes por sua vez assumem o papel de orquestrar a transição de volta à normalidade fisiológica e comportamental. Para tanto, os receptores CB1 são ativados em diversos circuitos, promovendo o alívio da dor, a dissipação da tensão psicológica e o relaxamento da musculatura. O apetite aumenta para a recuperação da energia gasta e para a estocagem preventiva de energia metabólica extra. As emoções que favorecem os laços afetivos e a interação interpessoal são intensificadas, estimulando o reagrupamento da comunidade. A ação reestruturadora das memórias possibilita o aprendizado de novas estratégias comportamentais para evitar as causas do estresse. No hipotálamo, os endocanabinóides promovem a supressão do eixo neuroendocrinológico que controla os hormônios glicocorticóides, dando um fim à resposta ao estresse.
Ilustra cannábica O sono e o sonho 3
O sistema endocanabinóide funciona, portanto, como um agente tonificante para as funções fisiológicas e mentais, incentivando o reaprendizado e facilitando o reagrupamento social. Há mais de dois mil anos, completamente alheios a estes conceitos, os Citas do norte do Mar Negro exploravam a possibilidade de ativar esse sistema com o uso da maconha, encontrando nos seus vapores um meio para sublimar a dor causada pela morte de um membro de sua comunidade. Mais ao sul, os mesmos vapores que faziam os Citas uivarem como lobos durante o luto motivavam nos aldeões que viviam às margens do Rio Aras a celebração lúdica da vida, por meio do canto e da dança. No planalto tibetano e na Índia, a mesma planta que promovia a consagração dos prazeres sensoriais e afetivos através das relações sexuais, andava de mãos dadas com o poder agregador e contemplativo da fé religiosa. Certamente, não há outra planta medicinal ou droga recreativa que se compare à maconha, tanto em termos de seu alcance étnico-cultural quanto em termos da abrangência de sua ação biológica. O que chama especial atenção nos desdobramentos antropológicos do uso da maconha é exatamente o paralelo com as funções fisiológicas e ecológicas exerci das pelo sistema endocanabinóide nos animais. O estudo científico da maconha vem contribuindo decisivamente para a compreensão da interação do nosso organismo com o ambiente. Ao mesmo tempo, aumenta as esperanças de desvendar o processo evolutivo responsável pelo surgimento dessa planta que parece saber tanto sobre a complexidade humana.

Sidarta Ribeiro é professor titular do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Renato Malcher-Lopes é professor adjunto do Departamento de Ciências Fisiológicas da Universidade de Brasília (UnB).

* Artigo adaptado do livro Maconha, Cérebro e Saúde. Rio de Janeiro: Editora Vieira & Lent Casa Editorial, 2007.

Arte: J.R. Bazilista

Reproduzido de Cannabica

Margens Insubordinadas: Cogumelos como Espécies Companheiras

Este texto de Anna Tsing traz uma perspectiva fúngica dos processos de estatização, sustentação de elites e principalmente da domesticação de mulheres e plantas nesses desenrolares. Através de pesquisas sobre Donna Haraway, conceitos como antropoceno, chthuluceno e outros foram aparecendo, e junto desse material o presente texto de Tsing. Senti a necessidade de traduzi-lo, afim de enriquecer debates feministas, antiespecistas, fúngicos, marginais e periféricos em geral. Um viva à maravilhosa diversidade que ainda reina nas bordas do capitalismo! Boa leitura.

(Introdução e tradução por Luiza Só, em parceria como site noosfera)


Dominação, domesticação e amor estão profundamente entrelaçados. O lar é onde dependências intra e inter espécies atingem seu estado mais sufocante. Apesar de todo o seu prazer supervalorizado, talvez essa não seja a melhor ideia para a vida multi espécies na Terra. Pense, em vez disso, na abundante diversidade que existe nas beiras das estradas.
Pense nos cogumelos

Este ensaio deve muito a Donna Haraway, não só pelo seu conceito de “espécies companheiras”, mas também pela permissão que ela nos oferece para sermos ao mesmo tempo cientistas e críticos culturais ou seja, para recusar as fronteiras que isolam natureza e cultura e, além disso, por ousar contar toda a história do mundo em uma única frase, ou em um pequeno ensaio.(1) Nesse espírito, meu ensaio começa falando de experiências de companheirismo e de biologia, antes de passar para a história da domesticação, a conquista europeia e o potencial politicamente e biologicamente variado das linhas que costuram o capitalismo global. Estes materiais apresentam um argumento fúngico contra um ideal de domesticação ávido em excesso, pelo menos no caso de mulheres e plantas.

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Cogumelos em uma paisagem multi espécies

Passear sem rumo e amar os cogumelos são duas coisas que se engendram mutuamente. Caminhar proporciona a velocidade do prazer corporal e da contemplação; é, também, exatamente a velocidade para procurar cogumelos. Depois das chuvas, o ar tem cheiro fresco de ozônio, seiva e serapilheira, e meus sentidos estão vívidos de curiosidade. Nada é melhor do que avistar as dobras laranjas dos Cantarelos abrindo caminho na escuridão molhada ou os bolinhos quentes de Reis Boletos brotando na terra revolvida.

A emoção da cor, da fragrância, do design – sem falar do orgulho de ser o primeiro a encontrá- los – vai tomando conta. Mas de todas essas delícias, as melhores, penso eu, são duas: primeiro, a sensação de ganhar um presente não merecido; segundo, a oferta de um lugar que vai guiar minhas futuras caminhadas. Esses cogumelos não são produto do meu trabalho, e como não labutei nem penei para obtê-los, eles pulam nas minhas mãos carregando os prazeres do impensado e do inesperado. Por um instante, a minha pesada carga de culpa é absolvida e, como uma ganhadora da loteria, estou acesa com a doçura da própria vida. Bismillah irachman irachim.(2)

O prazer deixa uma impressão: uma impressão do lugar. A própria excitação dos meus sentidos grava na memória o conjunto de cores e aromas, o ângulo da luz, os arranhões da roseira, o posicionamento sólido da árvore, e a ascensão da montanha diante de mim. Muitas vezes, vagando, me vem de repente a lembrança de cada toco e oco de um local onde estive – por meio dos cogumelos, uma vez eu me encontrei ali. Decisões conscientes também podem me levar a um local onde encontrei algo anteriormente, uma vez que a melhor maneira de achar cogumelos é sempre voltar para os lugares onde você os achou antes. Em muitos casos, o corpo crescente (micélio) que dá origem aos cogumelos e seus frutos perdura de estação para estação; além disso, alguns micélios são companheiros de longa vida de árvores específicas.

Se você quer encontrar cantarelos na região central da Califórnia, precisa procurar embaixo dos carvalhos, mas não de qualquer carvalho: você precisa procurar o carvalho que vive com o micélio do cantarelo, e você vai saber qual é, porque viu os cogumelos lá antes. Se você visitou o local com frequência o bastante, e conhece suas flores sazonais e suas alterações de fauna; você criou um lugar familiar na paisagem. Lugares familiares são o primeiro passo para reconhecer o valor das interações multi espécies.

O forrageamento funcionou durante a maior parte da história humana. Para encontrar plantas, animais ou fungos úteis, forrageiras se familiarizavam com lugares e retornavam a eles muitas vezes. Rifles de alta potência e a abundância de peixes tornaram possível matar algo facilmente em uma passagem aleatória pelo campo; mas os esportistas ainda se saem melhor com a ajuda de um guia local. Valendo-se de seus lugares familiares, as forrageiras aprendem não apenas sobre as relações ecológicas em geral, mas também sobre as histórias naturais estocásticas através das quais espécies e associações de espécies puderam florescer em determinados locais.

Os lugares familiares de forrageamento não exigem exclusividade territorial; outros seres ‒ humanos e não humanos ‒ aprendem sobre eles também.

Suas geografias expansivas e sobrepostas resistem aos modelos comuns, que dividem o mundo em “seu espaço” e “meu espaço”. Além disso, forrageiras nutrem o desenvolvimento de paisagens inteiras ‒ com suas múltiplas residentes e visitantes ‒ ao invés de espécies individuais. Lugares familiares engendram formas de identificação e companheirismo que contrastam com a hiper domesticação e a propriedade particular como a conhecemos. Vocês que buscam um mundo de companheiros que favorecem florescimentos mútuos, prestem atenção nos cogumelos.

Os cogumelos são bem conhecidos como companheiros. O conceito de “simbiose” ‒ a coexistência interespécies mutuamente benéfica ‒ foi inventado para o líquen, uma associação de um fungo e uma alga ou cianobactéria. Os parceiros não fúngicos abastecem o metabolismo do líquen por meio da fotossíntese; o fungo faz com que seja possível para o líquen viver em condições extremas. Ciclos repetidos de molhar e secar não perturbam o líquen, porque o parceiro fúngico pode reorganizar suas membranas assim que a água aparece, permitindo que a fotossíntese continue ocorrendo.(3) Os líquens podem ser encontrados na tundra congelada bem como em rochas do deserto mais seco.

Para os amantes de cogumelos, o companheirismo inter espécies mais intrigante é o que acontece entre fungos e raízes de plantas. Em micorrizas, os filamentos do corpo fúngico penetram ou embainham as raízes das plantas. Indian Pipes (Monotropa uniflora) e outras plantas sem clorofila são inteiramente sustentadas pelos nutrientes que recebem de fungos em suas raízes; muitas orquídeas não podem sequer germinar sem assistência fúngica.(4)

Em termos mais gerais, o fungo obtém sustento da planta enquanto oferece a ela minerais do solo circundante. Os fungos podem até perfurar rochas, disponibilizando seus elementos minerais para o crescimento das plantas. Na longa história da Terra, os fungos são responsáveis pelo enriquecimento do solo, permitindo que as plantas evoluam; fungos canalizam minerais das rochas para as plantas.(5)

As árvores são capazes de crescer em solos pobres em nutrientes graças aos fungos que trazem às suas raízes fósforo, magnésio, cálcio e mais. Na região em que eu vivo, silvicultores inoculam as raízes das mudas de abeto Douglas que plantam com Suillus (jack escorregadio) para auxiliar no reflorestamento. Muitos dos cogumelos mais apreciados da culinária são micorrízicos. Na França, os agricultores de trufas inoculam mudas de árvores em recipientes vedados.(6) Evidentemente, os fungos são perfeitamente capazes de fazer esse trabalho por si próprios, desde que contem com uma geografia mais ampla. E assim nós, os amantes de cogumelos, vagamos procurando a companhia das árvores, e não apenas as dos cogumelos.

Os fungos nem sempre são benignos em suas associações interespécies.(7) Eles são assustadoramente onívoros em seus hábitos de conversão de carbono. Vários fungos subsistem não apenas em animais e plantas mortos, mas também vivos. Alguns são patógenos ferozes. (Cryptococcus neoformans mata muitos pacientes de AIDS).(8)

Alguns são parasitas irritantes. (Pense na micose ou no pé de atleta.) Alguns deslizam através do intestinos de seus hospedeiros de modo inofensivo, esperando aterrisar em um pedacinho de excremento onde possam florescer. Certos fungos encontram substratos totalmente inesperados: Cladosporium resinae, originalmente encontrada em resinas de árvores, desenvolveu um gosto pela gasolina do avião, causando a obstrução de canos de combustível.(9) Alguns prejudicam um hospedeiro enquanto vivem felizes com outro: Puccinia graminis cria laços com o arbusto bérberis e alimenta moscas com seu néctar para produzir os esporos que as matarão à medida que crescem no trigo.(10)

Apetites fúngicos são sempre ambivalentes em sua benevolência, dependendo do seu ponto de vista. A capacidade dos fungos para degradar a celulose e a lignina da madeira morta, tão temida na proteção de casas de madeira, é também a maior dádiva dos fungos para a regeneração das florestas. Caso contrário, a floresta ficaria atrolhada de madeira morta e os demais organismos teriam uma base de nutrientes cada vez menor. O papel dos fungos na renovação do ecossistema torna mais do que óbvio que os fungos são sempre companheiros de outras espécies. A interdependência de espécies é um fato bem conhecido ‒ exceto quando se trata de seres humanos.

O excepcionalismo humano nos cega. A ciência herdou das grandes religiões monoteístas histórias sobre a dominação humana. Tais histórias alimentam pressupostos acerca da autonomia humana e direcionam questões para o controle humano da natureza, por um lado, ou para o impacto humano sobre a natureza, por outro, em detrimento da interdependência entre espécies.(11)

Uma das muitas limitações desta herança é que ela tem nos dirigido a imaginar o ser da espécie humana, isto é, as práticas de ser uma espécie, como dotadas de uma auto manutenção autônoma, e portanto constantes através da cultura e da história. A ideia de natureza humana foi entregue aos conservadores sociais e sociobiólogos, que usam esses pressupostos de constância e autonomia humanas para endossar ideologias autocráticas e militaristas das mais extremas.

E se imaginássemos uma natureza humana que muda historicamente em conjunto com teias variadas de dependências inter espécies? A natureza humana é uma relação entre espécies. Longe de questionar a genética, uma abordagem inter espécies para a nossa espécie abre possibilidades para trajetórias de pesquisa tanto biológicas quanto culturais. Poderemos entender mais, por exemplo, sobre as várias teias de domesticação em que nós, humanos, nos enredamos.

A domesticação é entendida normalmente como o controle humano sobre outras espécies. Costuma ser ignorado que tais relações também possam atingir os humanos.(12) Além disso, a domesticação tende a ser vista como uma fronteira brusca: Ou você está dentro do curral dos humanos, ou está fora, na natureza. Uma vez que essa dicotomização decorre de um compromisso ideológico com a dominação humana, ela respalda as fantasias mais ultrajantes de controle doméstico, por um lado, e de autonomia existencial das espécies selvagens pelo outro. Por meio de tais fantasias, os domesticados são condenados à prisão perpétua e à padronização genética, enquanto as espécies selvagens são “preservadas” em bancos de genes, ao mesmo tempo em que suas paisagens multi espécies são destruídas.

No entanto, apesar desses esforços imensos, a maioria das espécies, de ambos os lados da fronteira ‒ incluindo os humanos ‒ vivem em relações complexas de dependência e interdependência. A atenção a essa diversidade pode representar o início de um entendimento positivo do que significa seruma espécie dentro de um contexto inter espécies.

Os fungos são espécies indicadoras da condição humana. Poucos fungos encontraram espaço nos esquemas de domesticação humanos, e apenas alguns desses ‒ como os fungos usados na produção industrial de enzimas – sofreram grandes ajustes em seus genomas (os botões de cogumelos do supermercado são os mesmos Agaricus bisporus que brotam nos campos.) Mesmo assim, os fungos são onipresentes e acompanham todas as loucuras e experimentos humanos.

Tomemos como exemplo o Serpula lacrymans, o fungo xilófago (chamado “podridão seca”), outrora encontrado somente no Himalaia.(13) Durante suas conquistas no sul asiático, a marinha britânica o incorporou a seus navios. O S. lacrymans proliferava nas madeiras não tratadas que eram frequentemente usadas em navios nas campanhas navais, e desse modo viajou ao redor do mundo. No início do século XIX, a deterioração da madeira em navios de guerra britânicos foi chamada de “calamidade nacional” e o pânico seguiu até a introdução de navios de guerra revestidos de ferro na década de 1860.(14)

O fungo xilófago, no entanto, apenas continuou se espalhando à medida que ia encontrando novas moradas nas vigas dos porões úmidos e nos dormentes das ferrovias da civilização patrocinada pelos britânicos. A expansão britânica e a podridão seca se moviam juntas. Como neste exemplo, a presença de fungos muitas vezes nos diz algo a respeito das práticas cambiantes do ser humano.

A domesticação dos seres humanos é um lugar por onde podemos começar.

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A origem da família, da propriedade privada e do estado

(15) Os cereais domesticaram os seres humanos. O caso de amor entre as pessoas e os cereais é um dos grandes romances da história humana. Uma das suas formas mais extremas teve início cerca de dez mil anos atrás no Oriente Próximo, onde as pessoas começaram a cultivar trigo e cevada.

Nessa nascente domesticação, as pessoas transferiram sua afeição por paisagens multi espécies para derramar toda sua intimidade sobre um ou dois cultivos em particular.(16)

O mais curioso a respeito da domesticação de grãos no Oriente Próximo é que na maior parte daquela região costumava ser muito fácil colher grandes quantidades de trigo e cevada selvagens sem o trabalho duro do cultivo. Mesmo na década de 1960, grandes áreas repletas de grãos selvagens facilitavam o forrageamento.(17A história que contamos a nós mesmos sobre a “conveniência” e a “eficácia” de cultivar lavouras perto de casa não passa de uma grande mentira; o cultivo, em quase toda parte, requer mais trabalho do que forrageamento.

Devem ter havido muitas razões ‒ da religião à escassez local ‒ para se tentar experimentos de domesticação, mas o que manteve e ampliou o cultivo de grãos foi o surgimento de hierarquias sociais ‒ e a ascensão do Estado. Se existe uma coisa que a agricultura intensiva de cereais pode fazer melhor do que outras formas de subsistência é: apoiar elites. Os Estados institucionalizam o confisco de uma parte da colheita.

Por toda a Eurásia, o surgimento de estados e suas civilizações especializadas está associado com a propagação da agricultura intensiva de cereais. Em alguns lugares, Estados vieram após a agricultura, em outros, a agricultura veio após os Estados. Em cada caso, os Estados promoveram a agricultura através de seus símbolos e exércitos. Às vezes os Estados criminalizavam outras formas de subsistência; apenas criminosos recusariam a dádiva da fertilidade do Estado, e, para aqueles dentro do coração do Estado, essa dádiva da fertilidade poderia se manter, pelo menos nos bons tempos, através do amor.(18)

A transformação biológica de pessoas e plantas que acompanhou a agricultura intensiva de cereais é melhor compreendida, assim, por meio da crescente onda de acordos sociais hierárquicos e do emaranhamento do estado. Estados encorajaram as fazendas sedentárias e estáveis. Estados incentivaram as casas de família e garantiram os modelos de propriedade e herança familiares que traçavam as linhas entre famílias e dentro delas.

O pater familias era o representante do Estado no nível doméstico e do trabalho; foi ele quem garantiu que os impostos e dízimos fossem retirados da colheita para a subsistência das elites.

É dentro dessa configuração política que tanto mulheres e grãos foram confinados e gerenciados para maximizar a fertilidade.(19)

Os grãos selecionados através da domesticação tinham sementes grandes, altamente carboidratadas; dietas ricas em carboidratos permitiram que as mulheres tivessem mais filhos. Em vez de trabalhar para limitar a fertilidade, como a maioria das forrageiras fazem, as pessoas de repente queriam tantos filhos quanto possível ‒ não só por causa do fetiche da fertilidade, mas também porque a família precisava de mais trabalhadores para os cereais.

Os cereais não se importavam se o trabalho familiar ou não familiar os havia criado, e não houve escassez de pessoas; mas a propriedade apoiada pelo Estado incentivou o trabalho dentro da família, ou seja, crianças. Ter muitos filhos não era apenas a natureza seguindo seu curso. Nem todos os animais trabalham para maximizar a reprodução.

A reprodução humana fora de controle e não sustentável é característica de um tipo específico de domesticação humana: o caso de amor entre as pessoas e os grãos de cereais.

Essa obsessão com a reprodução limitou, por sua vez, a mobilidade e as oportunidades da mulher para além do cuidado com as crianças. Não obstante todas as suas possibilidades matriarcais, parece justo chamar esse caso de amor interespécies, ecoando Frederick Engels, de “a derrota histórica mundial do sexo feminino.”(20)

À medida que os agricultores intensificam seus esforços para alimentar uma população humana cada vez maior, eles recorrem a uma gama cada vez mais estreita de cultivos e modelos familiares. Apesar disso, a padronização dos cultivos e das famílias humanas não está completa. Onde quer que o poder do Estado se atenue, paisagens de maior biodiversidade e de maior diversidade social continuam a florescer. Ainda assim, o idealizado modelo de confinamento sedentário tem exercido, sozinho, força suficiente para manter as margens marginalizadas. Durante minha pesquisa com agricultores itinerantes de Kalimantan, na Indonésia, algumas mulheres disseram da minha riqueza e privilégios: “Se eu tivesse o que você tem, meus pés nunca tocariam o chão.” O confinamento das mulheres é o centro de um belo sonho de ordem e abundância.

Fungos são inimigos de fazendeiros e fazendas de monocultura. Desde que antigos Estados passaram a encorajar uma agricultura intensiva, houveram muitas e variadas pressões para padronizar cultivos. Desde o século XIX, a agricultura científica já ultrapassou esforços de domesticações anteriores na padronização de cultivos; ela fez da própria padronização o “padrão moderno.”(21) Hoje, apenas a padronização permite que os agricultores vendam suas colheitas. No entanto, a padronização torna as plantas mais vulneráveis a todos os tipos de doenças, incluindo ferrugens e cravagens de origem fúngica; sem a possibilidade de desenvolver variedades resistentes, as colheitas podem todas ir por água abaixo ao mesmo tempo. O surgimento de vastos campos de grãos ofereceram aos fungos parasitários das plantas um banquete ‒ e a reputação de inimigo da civilização e, mais tarde, do progresso. Como o cultivo de outros tipos de colheitas foi modelado nos ideais da agricultura intensiva de cereais, elas também sucumbiram a todo tipo de mofos e pragas: uma advertência para todos nós.

A mais famosa catástrofe fúngica talvez seja a praga da batata irlandesa. Batatas foram cultivadas na Irlanda com zelo de monocultura ‒ mas um zelo forjado na imagem invertida da expansão dos grãos liderada pelo Estado. A colonização britânica tinha conduzido a Irlanda às terras mais marginais; incursões militares queimavam e confiscavam plantações de grãos; apenas tubérculos subterrâneos permitiam a sobrevivência dos irlandeses.

Ao final do século XVIII, as batatas tinham se tornado o trunfo irlandês. Quando os proprietários de terra politicamente motivados liberaram novas terras para cultivo arrendado, pequenas fazendas proliferaram. Os arrendatários familiares resultantes, sustentados pelas batatas, casavam-se mais cedo e tinham mais filhos. A população humana cresceu de 5 para 8 milhões em cinquenta anos, mesmo com a economia cambaleando sob controle colonial, reforçando a dependência das batatas.(22)

O monocultivo cobra um preço. Os europeus haviam importado, estima-se, apenas duas das várias milhares de variedades de batatas crioulas domesticadas pelos sul-americanos.(23) Phytophthora infestans, um fungo da batata, foi relatado pela primeira vez em torno de 1835 como um problema local na Inglaterra. O fungo desenvolveu-se lentamente até o chuvoso e abafado verão de 1845, quando de repente cada planta irlandesa foi infectada, bem como todos os tubérculos em estoque. O resultado foi a escassez; um milhão de pessoas passou fome, e aproximadamente dois milhões imigraram para os Estados Unidos.(24)

À medida que a manipulação genética e a clonagem vão afetando outras espécies cultiváveis, o alarme fúngico continua soando. Pensemos nas plantações de acácia que os nossos sábios administradores julgaram poder substituir as florestas tropicais do Bornéu: geradas a partir de um único clone, elas são uniformemente suscetíveis a uma doença fúngica chamada “heart rot” que torna ocos seus centros.(25) Por que alguém sequer pensaria em cultivá-las é uma outra história ‒ uma história que nos leva para as dinâmicas de conquista e expansão europeias.

As plantações foram o motor da expansão européia. Elas produziram a riqueza ‒ e o modus operandi ‒ que permitiram aos europeus assumirem o controle do mundo. Costumamos ouvir falar em tecnologias e recursos superiores; mas foi o sistema de plantação que tornou possíveis as frotas navais, as ciências e, a partir de certo momento, a industrialização. Plantações são sistemas de cultivo ordenados que usam a força de trabalho de não proprietários e são concebidos tendo como objetivo a expansão. Plantações aprofundam a domesticação, reintensificando dependências de plantas e forçando a fertilidade.

Partindo do modelo da agricultura de cereais endossada pelo estado, as plantações investem tudo na superabundância de uma única lavoura. Mas um ingrediente fica faltando: elas removem o amor. Em vez do romance que conecta pessoas, plantas e lugares, os colonizadores europeus introduziram o cultivo através da coerção.(26) As plantas eram exóticas; o trabalho foi forçado através de escravidão, escritura e conquista.

Só é possível que algo floresça nesse contexto através de ordem e controle extremos; mas com hierarquia e gestão do antagonismo, lucros enormes (e pobrezas complementares) puderam ser obtidos. Uma vez que as plantações moldaram a organização do agronegócio contemporâneo, tendemos a pensar em tais arranjos como a única maneira de cultivar. Mas esse arranjo teve de ser naturalizado, até que deixássemos de questionar a alienação das pessoas daquilo que cultivam.

Pensemos na cana-de-açúcar, uma participante crucial. Ninguém ama plantações de cana-de- açúcar. Trabalhadores da cana porto-riquenhos íam à plantação para “defender-se” (se defienden) e “fazer batalha” (bregando) com a cana.(27) No entanto, entre os séculos XVII e XIX, as plantações de cana-de-açúcar produziram grande parte da riqueza que abasteceu a conquista européia e seu desenvolvimento. A cana foi levada às zonas quentes, redefinindo regiões; e assim também vieram proprietários, gerentes e os trabalhadores.(28) Escravos foram enviados da África Ocidental para o Novo Mundo. Os coolies, trabalhdores braçais contratados da Índia e da China, se deslocaram para o Pacífico.

Os camponeses foram conquistados e coagidos nas Índias. E assim, ao forjar um novo antagonismo com as plantas da monocultura, os humanos mudaram a própria natureza de ser da espécie. As elites estabeleceram seu senso de autonomia em relação a outras espécies; eles eram senhores, e não amantes, de seres não humanos, das espécies Outras que vieram a definir a auto-atribuição humana.

No caso dos donos de plantação, porém, isso só foi possível na medida em que subespécies de humanos eram formuladas e produzidas à força: alguém tinha que trabalhar a cana. A biologia veio para assinalar a diferença entre proprietários livres e trabalhadores forçados. Pessoas de cor trabalhavam a cana; pessoas brancas eram suas proprietárias e administradoras. Não havia lei ou ideal racial que pudesse impedir a miscigenação, mas eles podiam garantir que somente aqueles da raça branca herdassem as propriedades. As divisões raciais foram produzidas e reproduzidas em cada dote de casamento e herança.(29)

Desde o início, os fungos estavam lá, prontos para preencher nichos. Os fungos afastaram a cana dos pequenos agricultores; após o corte, a cana deve ser processada imediatamente para evitar fermentação fúngica. A enorme escala das plantações de cana e sua disciplina selvagem de trabalho são em parte uma resposta aos temores da fermentação, que cria a necessidade de engenhos locais de custo elevado ‒ e o desejo de mantê-los funcionando sem interrupção.

No entanto, a fermentação por fungos acabou se revelando uma dádiva para os proprietários. Não demorou para os canavieiros caribenhos observarem que o melaço, um subproduto da extração do açúcar, se dava bem com onipresentes esporos de fungos locais que o transformavam rapidamente em álcool. Assim nasceu o rum e o mortífero, porém lucrativo, “comércio triangular”, que ofertava rum por mais escravos africanos, o que aumentava a produção de açúcar, o que, por sua vez, fazia surgirem mais destilarias e financiadores na Inglaterra ou Nova Inglaterra.

Muito antes do açúcar tornar-se um objeto e símbolo do consumo de massa (assim cimentando a expectativa de públicos autônomos com relação a outras espécies, cujos alimentos irreconhecíveis pareciam surgir misteriosamente de longe), o rum fermentado de fungos tornou o açúcar das plantações rentável ‒ espalhando-o por todo o campo da conquista europeia.(30)

Nos limites da respeitabilidade, o rum abasteceu masculinidades marítimas por meio das quais o comércio se converteu em aventura. Desse modo, a fermentação desviou a atenção da crueldade da domesticação em terra firme, no que se referia tanto a humanos quanto a não-humanos.

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As mulheres brancas se tornaram agentes da higiene racial.

Ao dividir-nos firmemente em raças, as plantações remodelaram o ser da espécie humana, a prática de ser humano. As separações raciais – dependentes como são do casamento e da organização familiar ‒ exigiram transformações adicionais de gênero. Nas zonas de plantação, com sua instável mistura de nativos e estrangeiros, livres, amarrados e escravizados, selvagens e domesticados, doença e abundância, as coisas podiam facilmente sair do prumo. Aqui entram as mulheres brancas, que se tornaram responsáveis por preservar as fronteiras – dos lares, das famílias, das espécies e da raça branca.

Os fungos tropicais eram uma pequena parte do seu problema; mofo e infecções podiam sair do controle. Mantendo suas casas livres de mofo, mosquitos e miscigenação, as mulheres brancas nos trópicos tornaram-se modelos de alienação de espécies e subespécies.(31)

Ao final do século XIX, os discursos de higienismo científico e eugenia influenciaram as mulheres brancas na segregação de espécies. A teoria dos germes de Pasteur foi testada e impulsionada nos trópicos, onde espaços controlados por brancos podiam ser organizados como laboratórios, commicrorganismos detidos nas fronteiras dos lares brancos. Mulheres brancas foram chamadas para acompanhar seus maridos aos trópicos a fim de manter as coisas limpas.(32)

Reimportada à metrópole, tal higiene pública e privada aditivou dicotomias de classe, determinando distinções entre as mulheres que Barbara Ehrenreich and Dierdre English contrastaram como as “doentes” e as “repugnantes.”(33) Mulheres vulneráveis da classe alta se tornavam os anjos do lar; mulheres pobres foram responsabilizadas como agentes da infecção. Ambas receberam novas ordens para se reproduzir. As famílias pobres precisavam de mais mão de obra, especialmente nos lugares onde o trabalho infantil mantinha muitos adultos vivos.(34) Famílias privilegiadas foram encarregadas do avanço da raça. E às mulheres gerar os herdeiros.

Os limites do lar tornaram-se os limites esperados do amor.

Com a fetichização do lar como um espaço de pureza e interdependência, as intimidades extra-domésticas, sejam intra ou entre espécies, pareciam fantasias arcaicas (a comunidade, o pequeno agricultor) ou assuntos passageiros (feminismo, direitos dos animais). Fora do lar, reinavam o domínio da racionalidade econômica e os conflitantes interesses individuais. Além disso, esse tipo de fetiche familiar reapareceu na cultura de massa dos EUA em meados do século XX ‒ e reaparece agora em nosso tempo – no momento em que os Estados Unidos assumiram uma liderança global que lhes permitiu adotarem aspectos dos regimes mais antigos de cultura colonial.

Aqui o amor simplesmente não está previsto fora dos muros da família. No seio familiar, outras espécies podem ser aceitas. Os animais de estimação são modelos de devoção familiar. Só que o modelo do pet amado e amoroso não dissemina o amor, e sim o mantém aprisionado dentro da família.

Cidadãos dos Estados Unidos aprendem a se imaginar como um povo piedoso e moral porque amam seus filhos e seus animais de estimação. Aprendem que esse amor os torna “pessoas boas”‒ ao contrário dos terroristas, que só odeiam. Eles imaginam que esse amor os qualifica para tomar decisões em nome do mundo inteiro, criando uma hierarquia moral em que a “bondade” norte-americana serve de qualificação para a liderança global.

Outros povos, e outras espécies, são julgados de acordo com sua capacidade de viver à altura das normas norte-americanas de intimidade doméstica. Caso se dediquem adequadamente ao amor da família, talvez mereçam viver. Os outros correm o risco de se tornarem “danos colaterais” nosprojetos dos EUA para melhorar o mundo; eliminá-los pode ser lamentável, mas não é “desumano”.

Sob essa tutela, o modo de ser da espécie é reconfigurado para barrar os Outros na porta de casa.

Levando em conta o poder e a infiltração desse plano biossocial, surpreende que ainda exista sobre a terra uma rica diversidade de espécies e populações. Mas tal riqueza já não pode ser tomada como garantida.

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Colhendo cogumelos nas costuras do império

A diversidade biológica e social se amontoa, defensiva, nas margens negligenciadas. Dentro das selvas urbanas, bem como nos remansos rurais, o amontoado de diversidade que os dirigentes imperiais tendem a considerar excessivo ainda prolifera. As pequenas fazendas apresentam, na grande maioria dos casos, maior diversidade biológica do que as fazendas grandes voltadas ao capital intensivo ‒ e não apenas em termos de variedades de cultivo. Mesmo os fungos do solo e outros microrganismos preferem pequenas fazendas.(35)

Apesar do ritmo frenético da genética comercial, o processo evolutivo em zonas de negligência continua a superá-la em muitas ordens de magnitude na geração de espécies e interações entre espécies úteis. Fungos são representativos. O que pode dar um jeito de florescer em minas contaminadas? Muitos cogumelos micorrízicos ‒ da iguaria Laccaria laccata ao perturbador “pé de morto” (Pisolithus tinctorius) ‒ acumulam metais pesados, protegendo seus parceiros florestais, as plantas, da contaminação.(36)

Novos fungos radioativos colonizaram as paredes da sala do reator nas ruínas em Chernobyl; se alguém decidir sequestrar a radioatividade, essas espécies serão necessárias.(37)

Claro que nem todos os desenvolvimentos das espécies são benignos, mas apenas na folia da diversidade a adaptação é possível. Apesar disso, na maioria dos lugares existe uma correlação negativa entre a diversidade e a intensidade do investimento de capital e controle do Estado! Para aqueles que amam a diversidade, talvez um projeto de desmapeamento do Capital-Estado seja necessário.

Tais projetos operam melhor na obscuridade que procuram disseminar. Para um trabalho que almeja publicidade, deveríamos nos comprometer a buscar algum conhecimento sobre o ponto de vista das margens desordenadas, porém produtivas: as costuras do império.

Os cogumelos que comemos se congregam nas margens. Os fungos são onipresentes, mas cogumelos comestíveis e medicinais crescem apenas em poucos lugares. Muitos cogumelos apreciados florescem nos traçados das costuras agrárias: entre campos e florestas, e nas margens das zonas de cultivo.

Os reis boletos e os cantarelos são espécies florestais e de beira de estrada; eles gostam de luz, mesmo crescendo com árvores. Outros, como o cogumelo do prado, preferem terras de pousio. Cogumelos como esses ainda são bons lembretes dos prazeres da variedade para além do doméstico. Enquanto isso, muitas espécies são abundantes nas florestas e montanhas que cercam vales intensamente agrários.

Desde os tempos antigos, coletores de cogumelos têm vasculhado margens montanhosas e florestais de reinos alimentados com grãos: no sudoeste da China e no adjacente Sudeste Asiático; na Coreia; dentro da Europa Oriental e no norte da Eurásia. Na América do Norte contemporânea, imigrantes dessas margens agrárias tendem a ser os maiores coletores de cogumelos que se encontram nos mercados.

Enquanto isso, o mercado mundial de cogumelos distribuiu a coleta por todo o mundo. O matsutake, iguaria japonesa, leva coletores não só para as margens asiáticas tradicionais, mas também para as margens das montanha do outro lado do Pacífico: a Colúmbia Britânica, o Noroeste dos EUA e as montanhas de Oaxaca.

A coleta comercial de cogumelos nos permite enxergar as costuras do capitalismo mundial. Os lugares são diferenciados e os produtos são específicos, mas não se trata apenas disso: as formas de conhecimento e gestão de recursos são também muito divergentes e conectadas de maneira tênue na cadeia produtiva do cogumelo.

Famílias do sudeste asiático competem por territórios em Oregon; especialistas japoneses desenvolvem hierarquias regionais de sabor. Há muitas contingências e variações aqui para imaginar um cálculo simples de oferta e procura. A imersão nesse espaço não remove o indivíduo do mundo do capital, da classe e da regulação. Este não é o lugar para procurar uma utopia. Mas perceber as costuras é um bom começo.

Nos lares protegidos de todo o império, seres humanos têm se aninhado em suas poltronas, com seus animais de estimação e seus lanches de espécies simuladas, para assistir à destruição do resto do mundo na TV. É difícil saber se os seres humanos vão sobreviver a tais sonhos domésticos.

Os fungos não estão escolhendo nenhum lado. Mesmo os bravos líquens estão morrendo por causa da poluição do ar e da chuva ácida.

Quando absorvem a radioatividade de acidentes nucleares, os cogumelos a fornecem como alimento para as renas, que por sua vez alimentam os humanos que cuidam dos rebanhos. Podemos ignorá- los, ou podemos refletir sobre o que estão nos dizendo a respeito da condição humana.

Fora da casa, entre as florestas e campos, a abundância ainda não se esgotou.


Notas de rodapé:

1. Donna Haraway. Manifesto das espécies camaradas: cães, pessoas e significativos outros. Chicago: Prickly Paradigm, 2003. Haraway expande a expressão de amantes de animais “Animal de companhia” para falar sobre relacionamentos interespécies.
2. Em nome de Deus, o mais abundante e o mais misericordioso.
3. D. H. Jennings; G. Lysek. Biologia fúngica. 2. ed. Oxford: Bios Scientific Publishers, 1999, p. 75. Estudos recentes de mutualismos interespécies enfatiza o trabalho ativo e estratégico de todas as espécies envolvidas. Por exemplo, estudos de bactérias fixadoras de nitrogênio nos nódulos radiculares de soja mostram que a soja desencoraja estirpes bacterianas que oferecem menos nitrogênio-limitando seu oxigênio (E. Toby Kiers, Robert Rousseau, Stuart Oeste, R. Ford Denison, 2003. “Host Sanctions and the Legume-Rhizobium Mutualism”,Nature 425 (4 set.). p. 78-81).
4. Orquídeas eram uma moda botânica do século XIX; os micorrízicos foram apreciados em primeiro lugar por cientistas ocidentais, quando se verificou que muitas orquídeas dependem de parceiros fúngicos. G. C. Ainsworth. Introdução à História da Micologia. Cambridge: Cambridge University Press, 1976, p. 102-4. Indian Pipes: Clyde M. Christensen.
5. Nicholas Money, Mr. Bloomfield Orchard. Oxford: Oxford University Press, 2002, p. 60.
6. Ibid, p. 85.
7. Termo fungos refere-se a uma classificação biológica maior (um reino contrastado com plantas e animais, entre outros), dos quais cogumelos formam uma parte. Todos os cogumelos são fungos; nem todos os fungos são cogumelos.
8. Money, p. 25.
9. Jennings and Lysek, p. 67, 138.
10. Money, p. 172-79.
11. Uma importante exceção a essa generalização é a literatura médica e ecológica sobre doenças e parasitas humanos, em que a coexistência de espécies é de preocupação central. No entanto, essa exceção sublinha o problema. Enquanto outras espécies relevantes são encontradas ‒ pelo menos às vezes ‒ dentro do corpo humano, podemos estudá-las nas relações de convivência e dependência. Se as outras espécies estão do lado de fora do corpo humano, isto é, formam parte do “ambiente” para os humanos, de repente a análise muda para um discurso de impacto humano, gestão e controle.
12. Trabalho de Haraway em cães é, naturalmente, uma interrupção-chave.
13. Jennings and Lysek, p. 138.
14. Ainsworth, p. 90-93.
15. A clássica história de  Engels enfatiza o papel da pecuária no desenvolvimento de noções de propriedade privada; a primeira propriedade, argumenta ele, foi em rebanhos (Frederick Engles. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Nova york: International Publishers, 1972). Noções de propriedade usadas para regular a reprodução de rebanhos inspiraram o controle masculino da reprodução em famílias humanas, inaugurando “a derrota histórica do mundo do sexo feminino.” Pensadoras feministas como Eleanor Leacock e Evelyn Reed trouxeram esse clássico de volta a circulação em 1970, em vivas discussões da longa história da desigualdade social, particularmente na antropologia feminista. (Ver, por exemplo, Rayna Reiter; Ed. Toward.Uma antropologia da Mulher. New York: Monthly Review, 1975; Michelle Rosaldo; Louise Lamphere, eds.Mulher, Cultura e Sociedade. Stanford: Stanford University Press, 1974; Mona Etienne; Eleanor Leacock, eds.Mulheres e Colonização: perspectivas antropológicas. Nova Iorque: Praeger, 1980; Eleanor Leacock. “Introdução”, Engels, Origem, op.cit., p. 7-67.) Em meados da década de 1980, a antropologia feminista voltou-se para a especificidade da pesquisa etnográfica para aprender mais sobre a construção cultural do gênero. Enquanto isso levou a muitas percepções importantes, também deixou o campo numa longa duração narrativa para misóginos, incluindo sociobiólogos, médicos, e s-f escritores, a maioria dos quais não são bem lidos em história e antropologia. Talvez seja a hora para as feministas re-adentrarem a briga.
16. A transição de um foco em paisagens para um foco em culturas pode ser longa e incompleta: a gestão de paisagens multi-espécies para favorecer determinado jogo ou plantas silvestres tem sido muitas vezes um passo para a domesticação de culturas (Harold Brookfield. Explorando diversidade agrícola. New York: Columbia University, 2001, p. 64-69). Além disso, um amplo espectro multi-espécies de forrageamento focado pode ser visto como um produto histórico. No Oriente Próximo, uma mudança na direção reunindo vários pequenos grãos gramíneos está associada com os 10.000 anos antes da domesticação (Ehud Weiss; Wilma Wetterström; Dani Nadel; Ofer Bar-Yosef. O Broad-Spectrum Revisited: evidências de restos vegetais, Proceedings of the Academic Nacional de Ciências, EUA 101 (26, 29 de junho de 2004): 9551-9555). Também não é completamente justo imaginar a domesticação como limitando a atenção dos agricultores para apenas uma ou duas culturas; domesticações orientais próximas produziram legumes, as culturas de fibras e vegetais verdes bem como vários grãos de cereais. Algumas delas chamaram a atenção dos agricultores pela primeira vez como fazendas de ervas, e eles tendem a manter uma posição secundária na gestão de campo.  O trigo e a cevada estabeleceram precedentes e mantiveram um lugar de destaque nos corações dos agricultores.
17. Cientista Jack Harlan realizou um experimento de colher trigo selvagem do Oriente Próximo usando uma foice de lâmina de sílex modelado como as ferramentas antigas. Ele recolheu o equivalente a um quilograma por hora de grão limpo e altamente nutritivos (Harlan, 1975, p. 12,172).
18. Richard O’Connor (1995, p. 968-996) argumenta que a agricultura intensiva de arroz foi o elemento fundamental para permitir a formação do Estado no Sudeste Asiático. Negara, de Clifford Geertz (1980), ilustra a prática autônoma da agricultura intensiva de arroz na Bali pré-colonial. Em Bali o poder do Estado não significou controle nos arranjos de irrigação, mas sim da estrutura estética de poder e amor. Eu mesma mostrei como a expansão do Estado criou paisagens intensivas de grãos no Sudeste da Ásia (Greenough; Tsing, 2003, p. 124-169).
19. A natureza ambígua desta forma de amor é sugerida pelo fato de que antigos plantadores de grãos do Oriente Próximo terem sido associados com a aproximação de uma religião “matriarcal” sugerida por muitos historiadores. A fetichização de reprodução tornou mulheres férteis ícones do sagrado. Outros talentos potenciais das mulheres não devem ter sido, entretanto, igualmente apreciados, levando ao sofrimento as mulheres estéreis.
20. Ver nota 15. Seria incorreto imaginar que o confinamento das mulheres associado à agricultura cerealista iniciou um tempo de maior facilidade para o sexo feminino. Pelo contrário, para o trabalho de processamento da colheita, especialmente de grãos, seja para comida ou para armazenamento, foram necessários cada vez mais investimentos da mão de obra feminina.
21. Jan van der Ploeg (1993, p. 209-227) descreve o ponto de partida da moderna ciência agrícola como um “tipo ideal de planta”. Esse ideal estabelece um padrão de superioridade, organiza a reprodução, e exige um refazer de toda a operação agrícola para atender as suas necessidades. Van der Ploeg contrasta a ciência da padronização de batatas com o conhecimento local sobre batatas nos Andes que, em contraste, permite a heterogeneidade.
22. Redcliffe Salaman. The History and Social Influence of the Potato. Cambridge: Cambridge University Press, 1985 [1949], Chapters XI-XVI.
23. Salaman (1985) [1949]), no Capítulo X de sua obra, elabora um relato sobre as importações europeias e as variedades desenvolvidas a partir delas. Após a fome irlandesa, novas variedades foram multiplicadas pelos criadores europeus buscando maior resistência. No entanto, o objetivo sempre foi o de encontrar a melhor variedade, em vez de incentivar a diversidade no campo. Em contraste, Jonathan Sauer (1993, p. 145-155), discute os cultivares sul-americanos. Observando a ainda grande diversidade varietal na agricultura de subsistência, ele escreve: “Uma aldeia pode ter mais de 100 clones com nomes reconhecidos por toda a aldeia” (p. 148). Sobre o míldio da batata, ele comenta: “Assim como outros parasitas de sucesso, o fungo não é, aparentemente, fatal, onde ele e seus hospedeiros têm um tempo longo de coexistência. A praga foi reconhecida como um problema na América do Sul somente após o desenvolvimento da monocultura da batata comercial, por exemplo, no Chile e no Peru, em cerca de 1950”. (p. 152).
24. A praga afetou toda a Europa, mas apenas a Irlanda foi devastada, porque somente a Irlanda era completamente dependente das batatas (Salaman, 1985 [1949], Capítulo XVI; Jennings e Lysek, 1999, p. 136; Money, 2002, p. 184-186; Christensenet, 1965, p. 98-103).
25. Harold Brookfield; Leslie Potter; Yvonne Byron. Place of the Forest: Environmental and Socioeconomic Transformations in Borneo and the Eastern Malay Penninsula. New York, United Nations Press, 1995, p. 105.
26. Sistema de plantation patrocinado pelos europeus também transferiu a força do controle da expansão agrícola dos Estados para os interesses do Capital, estabelecendo assim o primeiro contexto para a hegemonia política do Capital. Este foi um processo longo e confuso e a maioria das histórias do mundo imperial do século XVI ao século XIX é repleta de debates entre monocultores, mercantilistas, traficantes de escravos, administradores coloniais e proponentes de “livre comércio”. Por meio de tais debates é que  tal mudança foi tortuosamente negociada. Cada vez mais o lucro, ao invés do Estado, tornou-se o objetivo do desenvolvimento agrícola.
27. Sidney Mintz (1985) traça a história do açúcar, mostrando como ele se tornou um objeto de consumo disseminado na Inglaterra apenas no século XVIII, bem depois que o “comércio triangular”, estimulado pelo rum, foi estabelecido. Ele também mostra como os canaviais caribenhos formaram um modelo de trabalho protoindustrial que moldou a nascente industrialização na Europa, com as suas formas sociais, bem como a sua riqueza.
28. Sauer (1993, p. 236-250) traça as viagens dos humanos e não humanos pelo mundo na história do cultivo da cana. Formaram-se novas geografias de tipos de cana e tipos humanos. Pragas fúngicas foram participantes importantes destas jornadas: em 1882, por exemplo, a “podridão vermelha” foi introduzida nas plantações das Índias Ocidentais de forma episódica, com o recebimento de uma amostra de cana enviada das Ilhas Maurício. (Galloway, 1989, p. 141).
29. Verena [Stolcke] Martinez-Alier (1989) detalha como tal sistema foi desenvolvido em Cuba em resposta aoboom do açúcar do século XVIII, que multiplicou as fortunas dos monocultores e levou um grande número de escravos para a ilha. A raça, argumenta ela, veio para ficar na divisão de trabalho das plantations da Cuba do século XIX.
30. Sidney Mintz (1985) traça a história do açúcar, mostrando como ele se tornou um objeto de consumo disseminado na Inglaterra apenas no século XVIII, bem depois que o “comércio triangular”, estimulado pelo rum, foi estabelecido. Ele também mostra como os canaviais caribenhos formaram um modelo de trabalho protoindustrial que moldou a nascente industrialização na Europa, com as suas formas sociais, bem como a sua riqueza.
31. Como “os trópicos” passaram a ser definidos em termos de problemas médicos e de higiene racial, as mulheres brancas foram requisitadas a assumirem um papel maior na manutenção de famílias saudáveis, além da manutenção da raça branca. Arnold (1996) discute a formação colonial nos trópicos. Ann Stoler (2002) mostra como a transformação de gênero foi chave para as ideologias emergentes sobre raça e sobre medicina.
32. Como explica Bruno Latour (1986), o principal problema para demostrar a importância da teoria pasteuriana dos germes foi a necessidade da criação das condições de higiene como as de laboratório nas quais as pessoas e seus seres domesticados poderiam ser mantidos longe do ambiente geralmente saturado de microorganismos patogênicos. Latour sugere que os exércitos coloniais nos trópicos, onde as doenças corriam desenfreadas, limitando a conquistas coloniais, foram os primeiros laboratórios vivos para a medicina pasteuriana. Warwick Anderson (2003) discute a aplicação das teorias higienistas no governo colonial nos trópicos. Ann Stoler (2002) mostra a centralidade da importação de mulheres brancas para os trópicos como parte da nova eugenia do período colonial tardio.
33. Barbara Ehrenreich; Deirdre English. Complaints and Disorders: The Sexual Politics of Sickness (Old Westbury, NY: The Feminist Press, 1973).
34. Nos canaviais baseados em trabalho camponês das Índias Orientais Holandesas, por exemplo, as famílias precisavam de trabalho tanto para produção de arroz para subsistência quanto para o trabalho contratado da cana. O tamanho das famílias rapidamente disparou em resposta a tais demandas de trabalho coloniais. Havia muita gente, mas por conta das famílias serem unidades de trabalho compulsório, cada família precisava de sua própria mão de obra. O trabalho infantil geralmente era a base de toda família. Benjamin White (1982, p. 18-31) resume sua pesquisa e a dos outros sobre essa questão em Agricultural Involution’s and its Critics: Twenty Years After, no sentido de que as explosões populacionais em todo o Sul colonial devem ser consideradas em relação às demandas extorsivas das plantations.
35. John Vandermeer; Ivette Perfecto. Breakfast of Biodiversity: The Truth about Rain Forest Destruction (Oakland: Institute for Food and Development Policy, 1995).
36. John Dighton. Fungi in Ecosystem Processes. New York: Marcel Dekker, 2003, p. 323-39.
37. Dighton, Fungi. p. 350-51. Some fungi have developed ‘radiotropism’: they direct their growth to sources of radioactivity!

Ensaio escrito pela antropóloga Anna Tsing, traduzido por Luiza Só, com revisão de Daniel Galera e fotografias de Ieve Holtsausen. Edição por Vânia Möller e Caroline Barrueco.

PESQUISAS PSICODÉLICAS: PASSADO, PRESENTE, FUTURO

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Este texto foi traduzido de Undergrowth #8: “The Journeybook: Travels on the frontiers of consciousness” sob permissão da licença creative commons.

Importante contribuição e tradução feita pelo pesquisador Eduardo Schenberg e originalmente postado em 2009 no site parceiro Plantando Consciência .  

Nós do Mundo Cogumelo acreditamos que este conteúdo merece uma nova leitura.


O uso de substâncias psicodélicas pode ser rastreado por milênios, desde o surgimento da história humana. Desde tempos imemoriais, materiais de plantas contendo compostos poderosos capazes de expandir a consciência eram usados para induzir estados de consciência não-ordinários, ou mais especificamente, um subgrupo importante que eu chamo de “holotrópicos”. Estas plantas desempenham papel importante na prática xamânica, em cerimônias de cura aborígene, ritos de passagem, mistérios da morte e renascimento e várias outras tradições espirituais. As culturas nativas anciãs que usavam materiais psicodélicos os tinham em grande estima e os consideravam sacramentos, “carne dos deuses” (Schultes, Hofmann and Raetsch 2001).

Grupos humanos que tinham a disposição plantas psicodélicas se aproveitaram de seus efeitos enteogênicos e as usaram como principais veículos de seus rituais e de suas vidas espirituais. As preparações feitas com estas plantas mediavam para estas pessoas contato experiencial com as dimensões arquetípicas da realidade: divindades, reinos mitológicos, animais poderosos, forças numinosas e aspectos da natureza.

Outra área importante na qual estados induzidos por psicodélicos desempenharam papel crucial foi no diagnóstico e na cura de diversas desordens. A literatura antropológica também contém muitos relatos indicando que as culturas nativas usavam psicodélicos para melhorar a intuição e a percepção extra sensorial para uma variedade de objetivos divinatórios e práticos, como encontrar pessoas e objetos perdidos, obter informação de pessoas em locais remotos e seguir os movimentos dessas pessoas durante a caça. Experiências psicodélicas também serviram como fonte importante de inspiração artística, fornecendo idéias para rituais, pinturas, esculturas e músicas.

Na história da medicina Chinesa, relatos sobre substâncias psicodélicas podem ser encontrados por aproximadamente 3 mil anos. A lendária poção divina chamada haoma no texto Persa Zend Avesta e como soma nos Vedas na Índia foi usada por tribos Indo-Iranianas a milênios. Os estados místicos de consciência induzidos pelo soma foram provavelmente a principal fonte das religiões Védica e Hindu. Preparações de diferentes variedades de erva foram fumadas e ingeridas sob vários nomes: hashish, charas, bhang, ganja, kif e marijuana – na Ásia, na África e no Caribe para recreação, prazer e durante cerimônias religiosas. Representavam um importante sacramento para grupos diversos como os Indianos Brahmans, algumas ordens de Sufis, anciãos Scythians e os Jamaicanos Rastafaris.

O uso cerimonial de várias substâncias psicodélicas também têm história longa na América Central. Plantas alteradoras de consciência altamente eficazes eram bem conhecidas em várias culturas indígenas Pré-Colombianas – entre os Astecas, Maias e Olmecas. As mais famosas destas são o cacto mexicano Peyote (Anhalonium lewinii), o cogumelo sagrado teonanacatl (Psilocybe mexicana) e a ololiuqui, ou sementes de morning glory (Rivea corimbosa). Estes materiais são usados como sacramentos até hoje por diversas tribos indígenas mexicanas (Huichols, Mazatecas, Cora entre outros) e pela Native American Church.

A famosa yajé ou ayahuasca da América do Sul é uma decocção de um cipó da selva (Banisteriopsis caapi) com outros aditivos de plantas. A área amazônica também é conhecida por uma variedade de rapés psicodélicos (Virola callophylla, Piptadenia peregrina). Preparações do arbusto iboga (Tabernanthe iboga) são usados por tribos Africanas em baixas dosagens como estimulante durante caça a leões e longas canoagens e em altas doses como sacramento ritualístico. Esta lista representa apenas uma pequena fração dos compostos psicodélicos que foram usados por muitos séculos em diversos países do mundo. O impacto das experiências vivenciadas nestes estados na vida cultural e espiritual de sociedades pré-industriais foi enorme.

A longa história do uso ritual de plantas psicodélicas contrasta marcantemente com a relativamente curta história de esforços científicos para identificar seus alcalóides psicoativos, purificá-los e estudar seus efeitos. A primeira substância psicodélica sintetizada quimicamente pura e sistematicamente explorada em condições de laboratório foi a mescalina, o alcalóide ativo do cacto peyote. Experimentos clínicos conduzidos com esta substância nas primeiras três décadas do século XX focavam na fenomenologia da experiência com a mescalina e seus interessantes efeitos sobre a percepção artística e a expressão criativa (Vondráek 1935, Nevole 1947, 1949). Surpreendentemente, eles não revelaram os potenciais terapêuticos, heurísticos e enteogênicos desta substância. Kurt Beringer, autor do influente livro Der Meskalinrausch (Inebriação com Mescalina), publicado em 1927, concluiu que a mescalina induzia um estado de psicose tóxica (Beringer 1927).

Após estes experimentos pioneiros com a mescalina, muito pouca pesquisa foi feita nesta área fascinante até a intoxicação acidental de Albert Hofmann e sua descoberta serendipituosa das propriedades psicodélicas do LSD-25, ou dietilamida do ácido lisérgico, que marcou época. Após a publicação do primeiro artigo clínico sobre o LSD por Walter Stoll no final dos anos 40 (Stoll 1947), este novo composto semissintético derivado do ergot, ativo em quantidades incrivelmente minúsculas de microgramas ou gammas (milionésimo de uma grama) tornou-se uma sensação praticamente da noite pro dia no mundo científico.

A descoberta de poderosos efeitos psicodélicos de doses minúsculas de LSD começou o que se chama “era dourada da psicofarmacologia”. Durante um período relativamente curto, o esforço conjunto de bioquímicos, farmacologistas, neurofisiologistas, psiquiatras e psicólogos foi bem sucedido em estabelecer os fundamentos de uma nova disciplina científica que pode ser chamada “farmacologia da consciência”. As substâncias ativas de diversas outras plantas psicodélicas foram identificadas quimicamente e preparadas em forma pura. Após a descoberta dos efeitos psicodélicos do LSD-25, Albert Hofmann identificou os princípios ativos do cogumelo mágico mexicano (Psilocybe mexicana), psilocibina e psilocina, e também do ololiuqui, ou as sementes de morning glory (Ipomea violacea), que é a monoetilamida do ácido lisérgico (LAE-32), muito próximo ao LSD-25.

O armamentário de substâncias psicodélicas foi então enriquecido pelos derivativos psicodélicos da triptamina: DMT (dimetiltriptamina), DET (dietiltriptamina) e DPT (dipropiltriptamina) – sintetizados e estudados pelo grupo de químicos de Budapeste chefiados por Stephen Szara; o princípio ativo do arbusto africano Tabernanthe iboga, a ibogaína; e o alcalóide do principal ingrediente da ayahuasca, o Banisteriopsis caapi, conhecido pelos nomes de harmalina, yageína e telepatina, também isolados e identificados no século XX.

Nos anos 50, havia disponível aos pesquisadores uma grande variedade de alcalóides psicodélicos em forma pura. Era então possível estudar suas propriedades no laboratório e explorar a fenomenologia de seus efeitos clínicos e potenciais terapêuticos. A revolução iniciada pela descoberta serendipituosa do LSD por Albert Hofmann estava a caminho.

Durante esta época excitante o LSD permaneceu o centro das atenções dos pesquisadores. Nunca antes uma única molécula ofereceu tantas possibilidades em tamanha variedade de áreas de interesse. Para psicofarmacologistas e neurofisiologistas a descoberta do LSD significava o começo de uma era dourada de pesquisa que poderia elucidar mistérios envolvendo neuroreceptores, transmissores sinápticos, antagonismos químicos e as intricadas reações bioquímicas subjacentes aos processos cerebrais.

Psiquiatras experimentais viram no LSD uma oportunidade única para criar um modelo de laboratório para as psicoses naturais, endógenas, que ocorrem naturalmente. Eles esperavam que a “psicose experimental” induzida por minúsculas doses desta substância poderia fornecer insights sem precedentes sobre a natureza dessas desordens misteriosas e abrir caminhos para tratamento. Era repentinamente concebível que o cérebro ou outras partes do corpo pudessem em certas circunstâncias produzir pequenas quantidades de alguma substância com efeitos similares ao LSD. Isto significava que desordens como esquizofrenia não seriam desordens mentais, mas aberrações metabólicas passíveis de se modificar com intervenção química específica. A promessa dessa pesquisa era nada menos que atingir o sonho de clínicos biologicamente orientados, o Santo Graal da psiquiatria – uma cura de tubo de ensaio para a esquizofrenia.

LSD também era altamente recomendado como uma possibilidade de aprendizagem que possibilitaria psiquiatras clínicos, psicólogos, estudantes de medicina e enfermeiras a passar algumas horas num mundo semelhante ao de seus pacientes e como resultado se tornarem mais aptos a entendê-los melhor, a comunicar-se melhor com eles e esperançosamente tratar-los mais eficientemente. Milhares de profissionais de saúde mental se aproveitaram desta oportunidade única. Estes experimentos trouxeram resultados surpreendentes e fascinantes. Não apenas forneceram insights profundos sobre o mundo dos pacientes psiquiátricos, mas também revolucionaram o entendimento da natureza e das dimensões da psique humana e da consciência.

Muitos profissionais envolvidos nestes experimentos descobriram que o modelo atual, limitando a psique a biografia pós-natal e ao inconsciente individual de Freud era superficial e inadequado. Meu próprio mapa pessoal da psique que emergiu destas pesquisas adicionou dois grandes campos transbiográficos – o campo perinatal, relacionado a memória do nascimento biológico, e o nível transpessoal, colhendo os domínios arquetípicos e históricos do inconsciente coletivo como visualizado por C. C. Jung (Grof 1975, Jung 1959). Os primeiros experimentos com LSD também mostraram que as raízes das desordens emocionais e psicossomáticas não eram limitadas a memórias traumáticas da infância, como assumido tradicionalmente por psiquiatras, mas que estas raízes iam muito mais fundo na psique, até as regiões perinatal e transpessoal (Grof 2000). Esta revelação surpreendente foi acompanhada pela descoberta de novos e potentes mecanismos terapêuticos operando nestes níveis da psique.

Usando LSD como um catalizador, se tornou possível estender o alcance da aplicabilidade da psicoterapia para categorias de pacientes outrora difíceis de alcançar – distúrbios sexuais, alcoólatras, viciados em narcóticos e reincidentes criminais (Grof 2001). Particularmente valiosos e promissores foram os primeiros esforços para usar LSD em psicoterapia de pacientes com câncer terminal. Pesquisas com esta parcela da população revelaram que o LSD era capaz de aliviar a dor severa, por vezes até em pacientes irresponsivos a tratamentos com narcóticos. Em grande porcentagem desses pacientes também era possível diminuir ou mesmo eliminar sintomas emocionais e psicossomáticos complicados como depressão, tensão generalizada e insônia, aliviar o medo da morte, melhorar a qualidade de vida durante os dias remanescentes e transformar positivamente a experiência da morte (Cohen 1965, Kast and Collins 1966, Grof 2006).

Para historiadores e críticos de arte, os experimentos com LSD forneceram novos e extraordinários insights sobre a psicologia e psicopatologia da arte, particularmente pinturas e esculturas de várias culturas nativas chamadas “primitivas”, e também de pacientes psiquiátricos, assim como de vários movimentos modernos como abstracionismo, impressionismo, cubismo, surrealismo e realismo fantástico (Roubíček 1961). Para pintores profissionais que participaram de experimentos com LSD, a sessão psicodélica por vezes marcou uma mudança radical em suas expressões artísticas. A imaginação tornou-se mais rica, as cores mais vívidas e seu estilo consideravelmente mais livre. Eles também se tornaram mais capazes de aprofundar-se no inconsciente e abordar fontes arquetípicas de inspiração. Por vezes, pessoas que nunca haviam pintado se tornavam capazes de produzir peças de arte extraordinárias.

A experimentação com LSD também trouxe a tona observações fascinantes, de grande interesse também a líderes espirituais e acadêmicos de religiões comparativas. As experiências místicas frequentemente observadas em sessões de LSD ofereceram um entendimento radicalmente novo de uma variedade de fenômenos do domínio espiritual, incluindo xamanismo, ritos de passagem, mistérios anciãos de morte e renascimento, as religiões e filosofias orientais e as tradições místicas do mundo (Forte 1997, Roberts 2001, Grof 1998).

O fato de que o LSD e outras substâncias psicodélicas eram capazes de desencadear uma grande variedade de experiências espirituais se tornou tema de calorosos debates científicos. Eles se concentravam no problema fascinante sobre a natureza e o valor deste misticismo “instantâneo” ou “químico” (Grof 1998). Como demonstrado por Walter Pahnke em seu famoso experimento da sexta-feira santa, experiências místicas induzidas por psicodélicos são indistinguíveis das demais descritas na literatura (Pahnke 1963). Este achado que foi recentemente confirmado por um estudo meticuloso de pesquisadores da Johns Hopkins University (Griffith et al. 2006) tem implicações teóricas e legais importantes.

Pesquisa psicodélica envolvendo LSD, psilocibina, mescalina e os derivados da triptamina pareciam seguir bem seu rumo de alcançar as promessas e expectativas quando foram subitamente interrompidas pela experimentação maciça e indiscriminada entre a jovem geração nos EUA e outros países ocidentais. No famoso caso de Harvard, os professores de psicologia Timothy Leary e Richard Alpert perderam suas posições acadêmicas e tiveram que abandonar a universidade após sua excessiva proselitização das promessas do LSD. As medidas repressivas que se seguiram em meios administrativos, legais e políticos tiveram muito pouco efeito no uso de rua do LSD e de outros psicodélicos, mas drasticamente terminaram com as pesquisas clínicas legítimas. Entretanto, enquanto os problemas associados a este aumento no uso foram desproporcionalmente aumentados por jornalistas sensacionalistas, os riscos possíveis não eram a única razão para a rejeição do LSD e de outros psicodélicos na cultura de massa Euro-Americana. Um fator importante que contribuiu para isso foi a atitude de sociedades tecnológicas para com os estados holotrópicos de consciência.

Como mencionado antes, todas as sociedades anciãs e pré-industriais mantinham estes estados em alta estima, fossem eles induzidos por plantas psicodélicas ou por muitas das poderosas “tecnologias do sagrado” que não usam drogas – jejum, privação de sono, isolamento social e sensorial, dança, música, percussão ou dor física. Membros desses grupos sociais tinham a oportunidade de experienciar repetidamente os estados holotrópicos de consciência durante suas vidas em uma variedade de contextos sagrados. Comparativamente, a civilização industrial tornou tais estados holotrópicos patologias, rejeitou ou mesmo proibiu os contextos e as ferramentas que os facilitam e desenvolveu métodos de suprimi-los quando ocorrem espontaneamente. Por causa da resultante ingenuidade e ignorância sobre estados holotrópicos, as culturas ocidentais estavam despreparadas para aceitar e incorporar as extraordinárias e poderosas capacidades de alterar a mente fornecidas pelo LSD e outros psicodélicos.

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antiga arte maia jaguar xamã: artista desconhecido

A emergência súbita do elemento Dionisíaco das profundezas do inconsciente e das alturas do superconscien
te era muito ameaçadora para a sociedade Euro-Americana. Ainda mais, a natureza irracional e transracional da experiência psicodélica desafiava seriamente as própria bases da visão de mundo materialista da ciência ocidental. A existência e a natureza destas experiências não podiam ser explicadas no contexto das teorias dominantes e seriamente solapavam os preceitos metafísicos da prioridade da matéria sobre a consciência, sobre a qual a cultura ocidental está construída. Também ameaçava o principal mito do mundo industrial ao mostrar que a verdadeira realização não vêm de atingir objetivos materiais, mas sim de uma profunda experiência mística.

Não era apenas a cultura em geral que estava despreparada para a experiência psicodélica, isto também era verdade para as profissões de saúde. Para a maioria dos psiquiatras e psicólogos, psicoterapia significava discussões disciplinadas cara a cara ou associações livres no divã. As emoções intensas e as dramáticas manifestações físicas das sessões psicodélicas pareciam para eles próximas ao que classificavam como psicopatologia. Era difícil para eles imaginar tais estados como sendo cura e transformação. Como resultado, eles não acreditaram nos relatos sobre os extraordinários poderes da psicoterapia psicodélica vindo dos colegas que tiveram coragem suficiente para aproveitar a chance da psicoterapia psicodélica, ou mesmo de seus clientes.

Para complicar ainda mais a situação, muitos dos fenômenos que ocorrem nas sessões psicodélicas não podiam ser compreendidos dentro do contexto das teorias que dominavam o pensamento acadêmico. A possibilidade de se reviver o nascimento ou experiências da vida embrionária, obter informações precisas sobre a história mundial e mitologia do inconsciente coletivo, vivenciar realidades arquetípicas e memórias kármicas ou perceber eventos remotos em estados fora do corpo eram simplesmente muito fantásticos para serem acreditados por um profissional mediano. Ainda assim, aqueles que tiveram a chance de trabalhar com o LSD estavam dispostos a radicalmente mudar o entendimento teórico da psique e prático da terapia e foram capazes de apreciar o enorme potencial dos psicodélicos, tanto como ferramentas terapêuticas como substâncias de extraordinário valor heurístico.

Em um de meus livros anteriores, eu sugeri que o potencial do LSD e de outros psicodélicos para a psiquiatria e a psicologia era comparável ao valor do microscópio para a biologia e a medicina ou do telescópio para a astronomia. Minha experiência posterior com psicodélicos apenas confirmou esta impressão inicial. Estas substâncias funcionam com amplificadores inespecíficos que aumentam a catexia (carga energética) associada ao conteúdo profundo e inconsciente da psique, tornando-os disponíveis para processamento consciente. Esta propriedade única dos psicodélicos torna possível estudar correntes psicológicas subjacentes que governam nossas experiências e comportamentos em um nível que não pode ser igualado por nenhum outro método ou ferramenta disponível na moderna psiquiatria e psicologia. Também oferece oportunidade única para tratamento de desordens emocionais e psicossomáticas, para transformações pessoais positivas e evolução da consciência.

Naturalmente, ferramentas com tamanho poder carregam com elas riscos maiores que as ferramentas mais conservadoras e muito menos eficazes correntemente aceitas na psiquiatria, como a psicoterapia verbal ou medicações tranquilizantes. Pesquisa clínica mostrou que estes riscos podem ser minimizados pelo uso responsável e cuidadoso controle do set e do setting (o sujeito e o ambiente, N.T.). A segurança da terapia psicodélica quando conduzida em ambiente clínico foi demonstrada pelo estudo de Sidney Cohen baseado em informação de mais de 25.000 sessões psicodélicas. De acordo com Cohen, a terapia psicodélica revelou-se mais segura que muitos outros procedimentos usados rotineiramente uma hora ou outra na psiquiatria, como choque eletroconvulsivo, terapia de coma por insulina e psicocirurgia (Cohen 1960). Entretanto, legisladores respondendo ao uso maciço e não supervisionado de psicodélicos não buscaram informações em publicações científicas, mas nas histórias de jornalistas sensacionalistas. As sanções legais e administrativas contra os psicodélicos não detiveram o uso indiscriminado, mas terminaram com as pesquisas científicas legítimas sobre estas substâncias.

Para os que tiveram a oportunidade de experimentar o potencial extraordinário dos psicodélicos, esta foi uma perda trágica para a psiquiatria, psicologia e psicoterapia. Sentimos que estes acontecimentos desafortunados desperdiçavam o que era provavelmente a mais importante oportunidade na história destas disciplinas. Se tivesse sido possível evitar a desnecessária histeria das massas e continuar as pesquisas responsáveis sobre os psicodélicos, eles poderiam sem dúvida ter radicalmente transformado a prática e a teoria da psiquiatria. Acredito que as observações desta pesquisa têm potencial para iniciar uma revolução no entendimento da psique humana e da consciência comparável ao cataclisma conceitual que os físicos modernos vivenciaram nas primeiras três décadas em relação as suas teorias sobre a matéria. Este novo conhecimento poderia se tornar parte integral de um compreensível novo paradigma científico para o século XXI.

Atualmente, passadas mais de três décadas desde que as pesquisas oficiais com psicodélicos foram efetivamente encerradas, posso tentar avaliar a história passada dessas substâncias e palpitar sobre seu futuro. Após conduzir pessoalmente mais de 4.000 sessões psicodélicas nos últimos 50 anos, eu desenvolvi grande admiração e respeito por estes compostos e seus potenciais positivos e negativos.
São ferramentas, e como qualquer ferramenta, podem ser usados de maneira habilidosa, inepta ou destrutivamente. O resultado será criticamente dependente do set e do setting. A questão de se o LSD é uma medicina fenomenal ou uma droga demoníaca faz pouco sentido, assim como um questão similar sobre o potencial positivo ou negativo de uma faca. Naturalmente, iremos receber relatos muito distintos de um cirurgião que baseia seu julgamento em operações bem sucedidas e do chefe de polícia que investiga assassinatos cometidos com facas em becos de NY. Uma dona de casa veria a faca primeiramente com um útil utensílio de cozinha e um artista a usaria em esculpir madeira. Faria pouco sentido julgar a utilidade e os perigos da faca observando crianças brincando com ela sem a necessária habilidade e maturidade. Similarmente, a imagem do LSD irá variar conforme o foco seja em resultados do uso espiritual e clínico responsável, uso maciço ingênuo pela geração jovem ou uso deliberadamente destrutivo pelos círculos militares ou polícia secreta.

Até ser entendido de maneira clara que os resultados da administração de psicodélicos são criticamente influenciados pelos fatores de set e setting, não haverá esperanças para decisões racionais sobre a política de drogas psicodélicas. Eu firmemente acredito que os psicodélicos podem ser usados de maneira que os benefícios superam em muito os riscos. Isto está amplamente provado por milênios de uso seguro de psicodélicos em práticas espirituais e rituais por gerações de xamãs, curandeiros individuais e culturas aborígenes inteiras. Entretanto, a civilização ocidental industrializada abusou de quase todas suas descobertas e há pouca esperança de que os psicodélicos serão uma excessão, a não ser que possamos evoluir como grupo para um nível superior de consciência e maturidade emocional.

Se os psicodélicos vão ou não vão retornar para a psiquiatria e se tornar parte do armamentário terapêutico é uma questão complexa e sua solução provavelmente não será determinada apenas pelos resultados da pesquisa científica, mas também por uma série de questões e fatores políticos, legais, econômicos e da psicologia de massa. Entretanto, eu acredito que a sociedade ocidental está no presente muito melhor equipada para aceitar e assimilar os psicodélicos do que nos anos 50. Quando psiquiatras e psicólogos começaram a experimentar com LSD, a psicoterapia era limitada a trocas verbais entre terapeuta e clientes. Emoções intensas e comportamento ativo eram referidos como problemáticos e vistos como violações das regras básicas da terapia.

Sessões psicodélicas estavam do outro lado do espectro, evocando emoções dramáticas, excitação psicomotora e mudanças perceptuais vívidas. Pareciam mais com estados que os psiquiatras consideravam patológicos e tentavam suprimir com todos os métodos disponíveis do que algo a que se atribuiria valor terapêutico. Isto está refletido nos termos “alucinógenos”, “delirógenos”, psicotomiméticos” e “psicose experimental”, inicialmente usados para psicodélicos e estados induzidos por eles. De qualquer maneira, sessões psicodélicas lembravam mais cenas de filmes antropológicos sobre rituais de cura de culturas “primitivas” e cerimônias aborígenes do que o esperado para um consultório psiquiátrico.

Muitas das experiências psicodélicas e observações de sessões psicodélicas pareciam desafiar seriamente a imagem da psique humana e do universo desenvolvidas pela ciência Newtoniana-Cartesiana, consideradas descrições precisas e definitivas da “realidade objetiva”. Sujeitos ao experimentar psicodélicos relatavam empatia com outras pessoas, animais e vários aspectos da natureza, durante o qual ganhavam acesso a novas informações sobre áreas que nunca tiveram contato intelectual. O mesmo era verídico para excursões a vidas de ancestrais humanos e animais, assim como memórias raciais, coletivas e kármicas.

Por vezes, esta nova informação era retirada de experiências envolvendo reviver o nascimento biológico e memórias da vida pré-natal, encontros com seres arquetípicos e visitas a reinos mitológicos de várias culturas do mundo. Em experiências fora do corpo, sujeitos experimentais eram capazes de testemunhar e descrever com precisão eventos ocorrendo em locais remotos que estavam fora do alcance de seus sentidos. Nenhum destes acontecimentos era considerado possível no contexto da ciência materialista tradicional, e ainda assim eram observados com frequência em sessões psicodélicas. Naturalmente isto causava profundo distúrbio conceitual e confusão nas cabeças de experimentadores treinados da maneira clássica. Sob estas circunstâncias, muitos profissionais escolheram afastar-se desta área para preservar sua respeitada visão científica do mundo, sua reputação profissional e proteger seu senso comum e sanidade.

As últimas três décadas trouxeram muitas mudanças revolucionárias que influenciaram profundamente o clima da psicoterapia mundial. A psicologia humanista e transpessoal desenvolveu técnicas experimentais poderosas que enfatizam a regressão profunda, expressão direta de emoções intensas e um trabalho levando a liberação de energias físicas. Entre as novas abordagens para auto-exploração estão a prática Gestalt, bioenergética e outras técnicas e métodos neo-Reicheinianos, terapia primal, renascimento e “holotropic breathwork”. As experiências internas e as manifestações externas, bem como as estratégias terapêuticas nestas terapias guardam grande semelhança com o observado nas sessões psicodélicas. Estas estratégias sem droga envolvem não apenas um espectro similar de experiências, mas também desafios conceituais comparáveis. Como resultado, para terapeutas destas linhas, a introdução de psicodélicos representaria o próximo passo lógico, ao invés de mudanças dramáticas em suas práticas.

Ademais, o pensamento científico Newtoniano-Cartesiano, que nos anos 60 gozava grande autoridade e popularidade tem sido progressivamente minado por desenvolvimentos impressionantes em uma variedade de disciplinas. Isto tem acontecido a tal ponto que um número crescente de cientistas sente como urgente a necessidade de uma visão de mundo totalmente diferente, um novo paradigma científico. Exemplos salientes deste desenvolvimento são as implicações filosóficas do relativismo quântico na física (Capra 1975, Goswami 1995), a teoria de David Bohm do holomovimento (Bohm 1980), a teoria holográfica do cérebro, de Karl Pribram (Pribam 1971), a teoria de estruturas dissipativas de Ilya Prigogine (Prigogine 1980), a teoria de campos morfogenéticos de Rupert Sheldrake (Sheldrake 1981), a síntese brilhante da teoria da informação e de sistemas, cibernética, antropologia e psicologia de Gregory Bateson (Bateson 1979) e particularmente o conceito de Ervin Laszlo sobre o campo PSI (campo akáshico), sua hipótese da conectividade e sua “teoria integral de tudo” (Laszlo 1993, 2004). É muito encorajador ver que todos estes novos modelos, que estão em conflito irreconciliável com a ciência tradicional, parecem ser compatíveis com as descobertas da pesquisa psicodélica e da psicologia transpessoal. Esta lista jamais estaria completa sem mencionar o esforço memorável de Ken Wilber para criar uma síntese compreensível de uma variedade de disciplinas científicas em sua filosofia perene (Wilber 2000).

Ainda mais encorajador que as mudanças no clima geral da ciência é o fato de que, em alguns poucos casos, pesquisadores da nova geração nos EUA, Suíça e outros países conseguiram nos últimos anos permissão oficial para começar programas de terapia envolvendo LSD, psilocibina, dimetiltriptamina (DMT), metileno-meta-anfetamina (MDMA) e ketamina. Espero que seja o começo do renascimento do interesse na pesquisa psicodélica que irá eventualmente trazer estas ferramentas extraordinárias de volta as mãos de terapeutas responsáveis.

Stanislav Grof, M.D., Ph.D. é psiquiatra com mais de 40 anos de experiência de pesquisa em estados de consciência não ordinários (induzidos por substâncias psicodélicas ou não) e um dos fundadores e principais teóricos da psicologia transpessoal e da Respiração Holotrópica.

 www.stanislavgrof.com

Este artigo é publicado com o espírito de exploração intelectual e expansão de consciência. As idéias contidas neste texto são apenas isso: idéias. Plantas alucinógenas e substâncias psicodélicas podem ser perigosas e ilegais em muitas partes do mundo e usuários as tomam sob sua própria responsabilidade. Plantando Consciência e os colaboradores individuais não endossam o uso de psicodélicos por pessoas não qualificadas e não podem ser julgados responsáveis por aventuras perigosas resultantes do mal uso desta informação.
Viajante, conheça a ti mesmo.

Nas palavras de Timothy Leary:

“Eu sou 100% a favor do uso inteligente de drogas e 1.000% contra o uso impensado delas, seja cafeína ou LSD. Drogas não são centrais em minha vida”

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MDMA e Seus Efeitos – Análise Completa da Substância

Agrademos ao leitor Pedro Reis pela tradução do texto! Quer ajudar o blog? Solicite um texto para traduzir através do email equipemundocogumelo@gmail.com

molecula_mdma
A molécula de MDMA

MDMA – Tudo sobre a molécula

Duração:

Início dos efeitos: 20 – 70 minutos
Duração: 3 – 5 horas
Duração dos efeitos perceptíveis após o pico: até 24 horas

Dosagem:

Dosagem limiar: 30mg
Leve: 40 – 75 mg
Comum: 75 – 100 mg
Forte: 100 – 200mg
Pesada: 200mg +

MDMA (3,4-metilenodioxi-N-metilanfetamina) é uma droga entactogênica (isto é, uma classificação de drogas psicoativas capazes de aumentar o sentimento de empatia) da família da fenetilamina e anfetamina. Foi sintetizado pela primeira vez em 1912 pelo químico Anton Kollisch como um potencial medicamento para a supressão de hemorragia anormal. Pelos 65 anos seguintes, o MDMA foi em grande parte deixado de lado, com os primeiros relatos de uso para fins recreativos por volta de 1970. Foi finalmente classificada como uma substância controlada em 1985, quando seu uso começou a espalhar-se pela a sociedade mainstream e pelas raves.

O MDMA atua como um agente de liberação dos neurotransmissores conhecidos como serotonina, dopamina e norepinefrina, que são responsáveis pelo prazer, motivação e foco. Isso ocorre através da inibição da recaptação e reabsorção dos neurotransmissores depois realizarem sua função de transmissão de um impulso neural. Essencialmente, ele permite que os neurotransmissores sejam acumulados e reutilizados, causando efeitos estimulantes tanto físicos quanto eufóricos.

Muitas pessoas dentre as comunidades psicodélicas on-line pensam que os relatos de efeitos psicodélicos do MDMA não passam de mito, por nunca terem vivenciado a experiência em si. Ele produz efeitos psicodélicos bastante poderosos e alucinações sob as circunstâncias corretas, particularmente em doses elevadas e especialmente quando combinada com maconha. Estes efeitos são similares a cogumelos e LSD, mas diferentes de qualquer outro psicodélico comumente usado. Os efeitos não aparecem de forma consistente mas são rapidamente percebidos por qualquer pessoa, mesmo que não esteja acostumada com os psicodélicos mais tradicionais. Estes podem acontecer durante qualquer ponto da trip, porém são mais comuns durante a “aterrizagem”.

A experiência com MDMA contempla um conjunto complexo e amplo de efeitos que podem ser encontrados aqui , e vou descrevê-los melhor a partir de agora.

Efeitos físicos:

Os efeitos físicos do MDMA podem ser divididos em cinco componentes que se intensificam progressivamente proporcionalmente à dosagem. Estes estão descritos abaixo e incluem geralmente:

  • Sensações táteis espontâneas – a sensação corporal sob efeito de MDMA pode ser descrita como um formigamento eufórico que vai de moderado a extremo e que abrange todo o corpo. É capaz de se tornar extremamente agradável nas doses mais elevadas. Esta sensação se mantém consistente e aumenta constantemente logo no início e atinge o seu limite uma vez que o pico tenha sido atingido.

  • Toque mais perceptivo

  • Estímulos – em termos de seus efeitos sobre os usuários, os níveis de energia físicas do MDMA é comumente considerado extremamente estimulante e enérgico, o que encoraja atividades como corrida, escalada e dança fazendo do MDMA uma escolha popular para eventos musicais, como festas e raves. O estímulo particular do MDMA pode ser descrito como forçoso, isto é, significa que em doses mais elevadas torna-se difícil ou impossível de se manter relaxado, como um apertamento da mandíbula e tremores e vibrações involuntárias pelo corpo, resultando em uma instabilidade extrema das mãos e uma falta geral de controle motor.

  • Visão vibrando – os globos oculares de uma pessoa podem começar a se mexer espontaneamente num movimento rápido, para frente e para trás, deixando a visão embaçada e temporariamente fora de foco; a isso se dá o nome de nistagmo.

  • Desidratação – boca seca e desidratação são uma experiência universal com MDMA causando um aumento da frequência cardíaca e uma forte motivação a se envolver em atividades físicas extenuantes. Embora seja MUITO importante evitar a desidratação, especialmente quando se dança num ambiente quente, um número de usuários já sofreram de intoxicação por água por beber demais. Por isso é aconselhável que os usuários bebam água, mas sem grandes exageros.

  • Dificuldade de urinar – altas doses de MDMA resultam em uma dificuldade geral em urinar, um efeito completamente temporário e inofensivo, devido à promoção da liberação do hormônio antidiurético (ADH), responsável por regular a micção. Este efeito pode ser reduzido ao se relaxar, mas pode ser aliviado significativamente colocando uma flanela quente sobre os órgãos genitais para aquecê-los e incentivar o fluxo de sangue.

Efeitos cognitivos:

Os efeitos cognitivos do MDMA podem ser divididos em dez componentes que se intensificam progressivamente proporcionalmente à dosagem. O efeito geral do MDMA é descrito por muitos como uma estimulação mental extrema, sentimentos de amor ou empatia e poderosa euforia. Ele traz um grande número de efeitos típicos psicodélicos, entactogênicos e estimulantes cognitivos.

Os mais proeminentes destes efeitos cognitivos incluem geralmente,

  • Euforia – forte euforia emocional e sentimentos de felicidade estão presentes, ocasionadas provavelmente por uma liberação de serotonina e dopamina.

  • Pensamentos acelerados

  • Aumento da empatia, amor e sociabilidade – este efeito terapêutico em particular é o mais evidente e poderoso dentre os provocados pelo MDMA, mais do que qualquer outra substância conhecida. É o efeito mais predominante e perceptível de qualquer experiência de MDMA. No entanto, com o passar do tempo e o uso repetido, este efeito torna-se severamente diminuído por passar a se tratar de um lugar comum, logo as pessoas se sentem apenas estimuladas e eufóricas, porém sem a necessidade de comunicar suas novas sensações com os outros. Alguns usuários relatam que o MDMA “perde a sua magia” com apenas 10 experiências, enquanto outros relataram centenas de utilizações antes das qualidades empáticas desaparecerem. No entanto, isto parece não ser verdade para todos os usuários, com muitos relatando que não sofreram qualquer redução na qualidade da experiência após dezenas ou mesmo centenas de vezes.

  • Atenção Plena

  • Distorção do tempo – fortes sentimentos de encurtamento e aceleração do tempo são comuns com MDMA.

  • Estados de unidade e interconexão – experiências de unidade, unicidade e de interconexão são comuns entre os níveis de 2-3. Este componente se manifesta mais consistentemente com altas dosagens, em meio a grandes multidões como raves e eventos musicais de forma que a pessoa “se torna um com o todo”.

Efeitos visuais:

Os efeitos visuais do MDMA ocorrem de forma mais seletiva e menos consistente do que qualquer outro psicodélico tradicional e é por isso que muitas pessoas consideram relatos de outros com MDMA como sendo um “mito” ou um “rumor”. Os efeitos podem nunca se manifestar, mas são mais prováveis de ocorrer em doses altas de MDMA puro, e se o usuário fumar maconha mais ao fim da experiência. Também são mais prováveis de ocorrer caso o usuário tenha alguma experiência prévia com outros psicodélicos, mas nada impede de que os efeitos apareçam para qualquer um.

Aprimoramentos

O MDMA apresenta uma série de aprimoramentos visuais suaves em comparação aos demais psicodélicos tradicionais, mas ainda são facilmente perceptíveis.

Incluem principalmente:

  • Aperfeiçoamento de cores
  • Maior facilidade em reconhecer padrões

Distorções

O MDMA apresenta apenas uma alteração visual:

  • Rastros – este efeito raramente se manifesta além do nível 1-3.

Geometria

A geometria visual presente durante a trip pode ser descrita como mais próxima da psilocina do que do LSD. Pode ser descrita como uma organização estruturada, orgânica do estilo geométrico, intrincada em complexidade, de tamanho grande, com movimentos rápidos e suaves, predominando tons de azul e cinza, de cor brilhante, com bordas borradas e nítidas e cantos arredondados e angulares. Em doses mais elevadas é comum atingir estados de Nível 7A até o Nível 7B. Muitos usuários relatam um sentimento de leve ameaça, seguido de um estilo sinistro com um esquema de cores que geralmente abrange o cinza e o azul.

Estados Alucinatórios

O MDMA é capaz de produz um leque único de estados alucinatórios sutis a altos e de uma forma significativamente menos consistente e reprodutível do que a de muitos outros psicodélicos comumente usados.

Estes efeitos incluem:

  • Alucinações internas – as alucinações internas induzidas pelo MDMA só acontecem espontaneamente em dosagens extremamente elevadas. A forma mais comum em que se manifestam são através de cenários hipnagógicos, os quais o usuário se encontrar como se estivesse caindo no sono após uma noite de uso e que geralmente podem ser descritos como uma reprodução de uma memória ocorrida várias horas anteriores. São curtos e fugazes, mas frequentes e bastante realistas e convincentes quando acontecem. Geralmente tomam a forma de uma conversa com as pessoas que estiveram com você naquele momento ou podem também se tornar histórias bizarras e completamente sem sentido.

  • Alucinações externas – são semelhantes aos efeitos encontrados em delirantes mas normalmente são replays de memória e eventos esperados semi realistas. Por exemplo, as pessoas poderiam aparecer casualmente segurando objetos ou executar ações que você esperaria na vida real até que de desaparecem e se dissolvem caso haja uma interação mais concreta com elas. Os exemplos comuns disto incluem ver pessoas usando óculos quando na verdade não estão e confundir objetos na visão periférica com seres humanos. Em doses mais elevadas no entanto, elas são capazes de permanecerem presentes e de natureza delirante.

Efeitos auditivos:

Os efeitos auditivos de MDMA são comuns e exibem uma gama parcial de efeitos que inclui normalmente:

  • Aprimoramentos

  • Alucinações – ocorrem geralmente no final da noite, e quase sempre consiste em repetições de memória de horas anteriores. São comumente manifestadas como vídeos da música que foi tocada e vozes distorcidas das pessoas que falaram. Podem tornar-se tão alto em volume como o nível de ruído de qualquer rave ou festa e ocasionalmente podem se tornar complexas o suficiente para se manifestarem como músicas ou sinfonias complicadas, inéditas e completamente coerentes independente do estilo.

Dicas sobre como induzir esses efeitos:

Se você quiser induzir esses efeitos, sugiro que pegue o que considere ser uma dose moderado-forte (150mg). Certifique-se de que você tem MDMA puro e não pílulas variadas de natureza indeterminada. Se for combinado com um bong e uma boa quantidade de maconha, os efeitos psicodélicos quase sempre ocorrem
Isso geralmente parece ser o suficiente para a maioria das pessoas, mas umas vez que o MDMA possui características seletivas, pode não funcionar para outras. Outras pessoas e eu já sentimos de vez em quando os efeitos mesmo sem fumar maconha, porém tivemos fortes brisas consistentemente toda vez que fumamos.

Conclusão:

O MDMA é antes de tudo um entactógeno, e depois, uma substância psicodélica. É melhor usado para a resolução de problemas interpessoais, fortalecer os laços afetivos e para dar aquela turbinada na festa. Suas propriedades psicodélicas são extremamente singulares, interessantes e algo que tento induzir toda vez que tomo esta substância.

É importante ter em mente, no entanto, que sua utilização excessiva pode resultar em grave depleção do neurotransmissor e síndrome da serotonina. É por isso que eu recomendo que você faça sua própria pesquisa antes de considerar o uso desta droga. Vindo de uma experiência pessoal, ele nunca deve ser usado mais de uma vez por mês ou, de preferência não mais do que duas vezes por ano.

Fonte

O Renascimento do LSD e Outros Psicodélicos

Assista o vídeo abaixo, legendado! Aprenda um pouco mais sobre a jornada dos psicodélicos, desde a seu surgimento, proibição e controvérsias no século passado, que perduram até os últimos anos, e as novas fronteiras da pesquisa científica sobre os potenciais benéficos dessas substâncias.

 

Em centros de pesquisa respeitados nos Estados Unidos e em outros países, os cientistas passaram muito tempo de suas vidas profissionais em programas de reabilitação de drogas. Mas não por que eles tenham um problema com o vício. O que eles estão tentando fazer é reabilitar as próprias drogas.

O foco deles está em substâncias alteradoras da mente que entraram na obscuridade devido à proibição, cerca de meio século atrás, e o LSD está entre elas. Juntamente com outros psicodélicos, o LSD foi amaldiçoado como sendo uma substância de alto potencial de abuso e que não oferece nenhum benefício medicinal e psiquiátrico. Mas nos últimos anos, pesquisadores têm procurado resgatar os alucinógenos do exílio examinando sua eficácia no tratamento de certas desordens da mente, e talvez até mesmo no seu papel importante para compreender a natureza da consciência e da espiritualidade.

O trabalho desses cientistas agora foi compilado no vídeo acima, que examina as principais características históricas desse psicodélico tão famoso.

Substâncias psicoativas, geralmente extraídas de cogumelos mágicos, têm sido parte da cultura humana das Américas Central e Sul, e até mesmo do Saara, por milhares de anos. Mas não é preciso olhar tão longe no passado: 1938 já é suficiente. Esse foi o ano em que Albert Hofmann, um químico suíço pesquisando por uma combinação química para combater problemas de circulação, acabou sintetizando a dietilamida do ácido lisérgico: o LSD, ou o ácido, como é popularmente conhecido.

Cinco anos depois, o Dr. Hofmann, que morreu no ano de 2008 na idade de 102 anos, ingeriu acidentalmente uma pequena dose de sua criação e descobriu seus potenciais expansores da mente na primeira viagem de LSD conhecida. Muitas outras jornadas se seguiriam, para ele e diversos outros indivíduos.

Nos anos 50 e 60, os pesquisadores exploraram o LSD como uma ferramenta para o tratamento de doenças mentais e diversos vícios.  Alguns segmentos do governo americano tinham suas próprias ideias. A CIA testou as possibilidades do ácido como uma poção da verdade, ou talvez como um veículo para o controle da mente. O exército quis saber se o LSD poderia ser utilizado para desorientar as tropas inimigas.

Então surge a aurora que todos se lembram quando pensam nos anos 60: a era de aquário, com hippies amorosos, roupas tie-die, óculos gigantescos e sons psicodélicos. O LSD estava disponível amplamente. Muitas pessoas jovens se convenceram que uma sociedade inteira baseada em psicodélicos poderia atingir uma consciência elevada – “a revelação mística do cristal e a libertação real da mente” – relembrando a banda “Hair”.

Muitas pessoas foram influenciadas por Timothy Leary, um psicólogo clínico na Universidade de Harvard, que se tornou o guru das viagens de ácido, pregando de maneira apaixonada sobre os psicodélicos. “Turn on, tune in, drop out”, dizia Leary, que morreu em 1996. A recomendação foi infinitamente citada. Seus discípulos fervorosos o seguiram ao pé da letra, e muitas vezes, o seguiram em seus excessos.

Entre aqueles cujo foco era o estudo da mente humana, uma visão compartilhada pela maioria era a de que Leary tinha ido longe demais, dando à ciência um nome ruim no processo. Preocupações políticas ficaram ainda piores. Oficiais eleitos do presidente temeram que a juventude da américa estavam escorregando em um precipício de drogas.

Histórias abundaram sobre suicídios, assassinatos e outros horrores cometidos por jovens sob efeitos do LSD, ou durante um flashback. Nem todas as lendas eram verdade. Naturalmente, as autoridades federais concluíram que o comportamento perigoso já era suficiente para eles entrarem em ação.

Proibições contra LSD e outros alucinógenos, como a psilocibina e a mescalina, foram codificadas no Ato de Substâncias Controladas de 1970. Nos anos 1980, o MDMA, ou ecstasy – se juntou à lista 1 de substâncias controladas, as que, segundo a lei, são as mais perigosas e que não apresentam uso médico algum.

Logo em seguida, as pesquisas científicas e exploração dessas substâncias se tornaram escassas. Qualquer aproximação do LSD, que Albert Hofmann chamou de sua “criança problema”, era um pedido para ter sua carreira totalmente destruída.

Nos anos recentes, entretanto, drogas psicodélicas estão entrando novamente nas mídias de massa.

Essencialmente, cientistas modernos estão continuando os que os dos anos 50 e 60 já haviam feito. Eles estão estudando o potencial dos alucinógenos para auxiliar os fumantes a largarem o vício, a se livrarem de problemas com álcool e outras drogas, na diminuição de cefaléias em salva e a depressão, e no tratamento de transtornos como o obsessivo compulsivo e os estresses pós-traumáticos. Instituições em que tais pesquisas estão em andamento incluem a New York University, a Johns Hopkins University, a University of California, o Psychiatric University Hospital em Zurique, e o Imperial College of London.

O interesse da pesquisa sobre a psilocibina é muito aguçada na américa. Esse é um ingrediente psicoativo nos fungos conhecidos como cogumelos mágicos. O que auxilia nesse processo é a ausência da carga negativa que continua assombrando o LSD, disse Matthew W. Johnson, um professor de psiquiatria e ciência comportamental na Johns Hopkins.

O que também ajuda é o fato de que os cientistas trabalham em uma nova situação legal para algumas drogas. A maconha, por exemplo, é uma substância controlada 1, mas já está legalizada em alguns estados americanos.

A psilocibina e outros alucinógenos, embora não viciantes, permanecem um tabu em todas as partes. Os pesquisadores precisam de uma autorização legal da FDA (Food and Drug Administration) e a aprovação de comitês profissionais. Seus experimentos não se assemelham em nada ao uso livro do ácido dos anos 60. Os pacientes são introduzidos  e preparados no que eles podem esperar da experiência, e então são monitorados com cuidado.

Considerando que a morte nos aguarda, um objetivo intrigante do uso dos psicodélicos para aliviar a ansiedade profunda – estresse existencial, alguns a chamam – naqueles que estão próximos de enfrentá-la. Elas são pessoas como Sherry Marcy, uma mulher de Ann Arbor, que descobriu que tinha câncer endometrial.

Ela sucumbiu à depressão. Quatro anos atrás, Marcy, que agora tem 73 anos, foi para Johns Hopkins para duas sessões de tratamento com psilocibina. O alívio que ela sentiu continua com ela.

“Não foi algo psicodélico para mim”, ela disse em uma entrevista com a Retro Report. “Era somente eu – de volta. Eu não sei como eu fiz aquilo, exatamente. É como se você levantasse a cabeça e olhasse por um longo período de tempo, e então você começa a ver as coisas novamente”.

Os cientistas estão tentando descobrir como exatamente a droga ajuda esses pacientes a se livrarem do medo. Além disso, eles têm observado efeitos positivos permanentes, e até mesmo despertares espirituais em alguns casos. Se administrados com cuidado, eles dizem, os psicodélicos podem reorientar as percepções dos pacientes do seu lugar no universo e colocá-los longe de pensamentos negativos. Em um artigo do New Yorker de 2015, um pesquisador inglês, Robin Carhart-Harris, chamou o fenômeno de “sacudir o globo de neve”.

Os estudos têm sido em escala pequena, e os resultados, enquanto encorajadores, são preliminares. É necessário cuidado, o Dr. Johnson da Hopkins informou à Retro Report, tanto pelo rigor científico, quanto pelos potenciais perigos dos psicodélicos.

A senhora Marcy, que agora está livre do câncer, diz que Timothy Leary acertou em um terço de sua frase. “O “turn on” não deve ser enfatizado, ela disse. “O “drop out” é um erro absoluto. Mas o crucial é o “tune in”.

“Eu entrei em sintonia”, ela disse. “Em sintonia com o mundo, comigo mesma, com as coisas que eu costumava amar, com os meus relacionamentos, com a minha família. Sintonize-se: tudo se trata disso”.

Fonte

Primeiros socorros psicodélicos em um festival na Costa Rica

Já era algum tempo após as duas horas da manhã e eu estava sentado na frente de uma estrutura feita de bambu e pano no Festival Envision em Costa Rica. Estava quente o suficiente que eu estivesse vestida com um top e um colar havaiano rosa, levemente brilhante, em volta do meu pescoço. Havia um cheiro de salvia queimada no ar tropical e eu podia ouvir o violino de Emancipador tocando de forma alegre e mesmerizante vindo do palco principal. O espaço parecia tranquilo e suave, que era exatamente o motivo pelo qual estávamos alí. Eu havia embarcado com o Zendo Project, um grupo com sede em Santa Cruz, Califórnia, que fornece um espaço seguro para as pessoas que têm difíceis experiências psicodélicas e outros desafios emocionais ou pessoais durante festivais. O espaço foi montado junto ao espaço medico perto da entrada do evento.

O Zendo Project treina e supervisiona voluntários que auxiliam festivaleiros em apuros com os “Primeiros Socorros Psicodélico” – Trabalho que pode soar parecido com algum tipo de terapia “manêra” interdimensional para aventureiros torturados e alucinados no plano astral, para orientá-lx com segurança através de suas visões intensas. A minha experiência, no entanto, foi totalmente diferente de muito mais gratificante.

Meu turno tinha acabado de começar e eu estava sentado com Yashpal, um doutor de Medicina Natural da Costa Rica, quando eu recebi o meu primeiro chamado da noite. A pedido de um amigo preocupado, Yashpal e eu fui para o campo para acolher um jovem de uma rede de balanço, perto da Palco Lotus. Confidencialidade para os convidados é muito importante para o Projeto Zendo então vamos chamá-lo de “Charlie”. Charlie estava fixado em histórias complicadas sobre as políticas de várias agências do governo de seu país natal, com seus dedos contraídos como garras de frango – mas, com a sua permissão, nós o acompanhamos de volta para o Zendo para acomodá-lo em uma das camas na estrutura temporária, decorada delicadamente. Yashpal imediatamente me chamou de lado para me treinar antes de eu começar.

“O truque é não intervir ou alterar a trajetória de sua viagem de qualquer maneira”, disse Yashpal, parecendo um pouco como Merlin com uma barba grisalha encaracolada e um brilho reconfortante, porém levemente travesso em seus olhos. . “Você não quer engajár-lo. Seja neutro, fale o menos possível e simplesmente deixe-o passar pelo processo. A experiência trará a cura. – Mesmo que não pareça no momento. Confie. Não permita ser puxadao para a sua viagem, segure a sua própria energia. Dê-lhe água, e leve-o ao banheiro se precisar. Concentre-se em sua respiração. Seu trabalho é de manter o espaço para que ele tenha sua experiência. “

Yashpal enfatizou o conceito de “espaço de holding”, ou seja, sentar, manter ao invés de guiar, um dos quatro pilares da abordagem de apoio psicodélico do Zendo. Com isto em mente, sentei-me com Charlie e, ao invés de tentar acalmá-lo, eu simplesmente o observei passar pela experiência. Eu concentrei minha energia e atenção em minha própria respiração e permaneci muito calmo. Eu criei um centro de gravidade que o manteve aterrado sem forçá-lo de qualquer forma. Ouvi atentamente as suas lamúrias e simplesmente sorri e acenei com a cabeça em afirmação de sua necessidade de reafirmação.

Depois de algum tempo se contorcendo no tapete ele me pediu para ajudá-lo a chegar aos banheiros móveis. No caminho, ele parou e voltou seu olhar para as estrelas. Sem o meu treinamento no Zendo, eu poderia tê-lo incentivado a continuar andando para realizar a tarefa em mãos, mas ao invés disso, simplesmente ficamos lá juntos por quase uma hora, enquanto ele me contou sobre seu sonho de ser um astronauta e ver a Terra do espaço. O início de sua experiência foi uma desesperada incoerência, mas com o tempo tornou-se uma nostalgia forte, profunda. Eu não fiz nada para guiá-lo. Eu permaneci perto e mantive-o seguro. Conforme ele aceitou e sentiu sua dor existencial e desejos de viajar ao espaço, Charlie tornou-se muito calmo. Depois de usar o banheiro, ele me disse que estava pronto para voltar ao festival.

Como que aconteceu, de eu conversar sobre astronautas e estrelas na selva da Costa Rica, com uma pessoa que eu havia conhecido?

Os 4 Pilares de Apoio Psicodélico do Zendo

Nas práticas xamânicas tradicionais, a experiência psicodélica é considerada sagrada. Mesmo uma experiência difícil é uma oportunidade para crescimento, cura e revelação. Esta é a abordagem adoptada pela MAPS, a Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos, que conduz a pesquisa que informa o Zendo Project e seus quatro pilares, pelo qual o Zendo orienta seus eventuais voluntários e participantes do festival, no início de cada evento no qual a organização participa. Leia o manual de Treinamento do Zendo Project completo aqui.

1. Crie um espaço seguro

Ambientes de festivais são projetados para serem altamente estimulantes: sistemas de som bombasticos, intens espetáculos de luz e cacofonia geral criam um paraíso surreal para uma aventura. Mas quando as coisas começam a sobrecarregar, estes efeitos dinâmicos podem aumentar a ansiedade. Zendo é projetado para proporcionar tranquilidade e conforto. Além de sentirem-se fisicamente seguros, os convidados devem sentir-se também emocionalmente seguros, o que requer que voluntários exalem uma atitude acolhedora e sem julgamentos.

As condições para este sistema de segurança, de acordo com Sara Gael, Coordenadora de Redução de Danos do MA MAPS, psicoterapeuta holística liderança da Zendo Envisio, são conhecidas como “set” e “setting“.

‘Set’ Refere-se ao estado interno de um indivíduo e inclui o estado emocional e humor, condições mentais pré-existente, estresse, conforto e estágios de desenvolvimento”, ela explica. “‘Setting’ refere-se a condições externas de um indivíduo, incluindo aonde a pessoa está, com quem está, dosagem e interações medicamentosas”.

Gael enfatiza que o set e setting não são mutuamente exclusivas, e afetam e informam uma a outra. Quando sitters prestam atenção ao set e setting de um indivíduo, um sistema de segurança – feito exclusivamente sob medida para aquele indivíduo – pode então ser criado, para que ele ou ela possam entregar-se à experiência, mesmo em caso de surgimento de desconforto ou medo.

2. Sentar, Não Guiar

Ao invés de usar uma intervenção direta, o objetivo é de um sitter é de permitir que ocorra a cura de forma natural. As ferramentas que usamos foram respirar, validação, espelhamento e afirmação. A importância de não intervir na experiência do visitante foi enfatizado repetidamente ao longo de todo o final de semana.

De MAPS: Como trabalhar com experiências psicodélicas difíceis: “Há sempre a tendência de dominar o outro com o nosso conhecimento, sabedoria e insights. Portanto, abra mão de todo o conhecimento sobre a experiência que a pessoa está tendo. Apenas esteja junto, ouça e observe”.

Isto significa que o sitter deve ser rígido e evitar engajar com o visitante a todo momento?

“Pode ser útil providenciar uma reafirmação suave ou reenquadramento da experiência”, explica Chelsea Rose, coordenadora voluntária do Zendo. “Estes métodos de apoio refletem o que já está acontecendo para o indivíduo, ao mesmo tempo garantindo-os que as suas experiências são aceitáveis”.

3. Acompanhe, sem impor

Sitters são ensinados a entender que há um processo natural acontecendo na mente do visitante afetado. Assim, não há esforços para terminar a viagem psicodélica prematuramente; sitters deve simplesmente deixar o visitante experienciar isto com o máximo de segurança e conforto possível.

Linnae Ponté, Diretora de Redução de Danos na MAPS e Fundadora do Projeto Zendo repete o mantra de “Confie. Deixe ir. Seja aberto. Respire. Renda-se.”

Ponté diz que um quando se re-experienta emoções de um trauma passado, (que ocorre as vezes com psicodélicos) ter o espaço para sentir o grau de dor e sofrimento pode ser fundamental para a oportunidade de cura do hóspede. O sitter deve reconhecer que todas as emoções que vêm à superfície durante uma experiência psicodélica muitas vezes são, com frequência, fortemente carregadas e podem levar os visitantes ao limiar de sua consciência.

“Nosso trabalho não é de intervir, mas de confiar em tudo o que está acontecendo para eles, e tudo o que isso desperta em nós, e saber que é tudo temporário,” Ponté continua. “Vivemos em um mundo onde o desconforto emocional é suprimido com todos os tipos de drogas e comportamentos, e oferecemos aos visitantes a oportunidade de ao invés disso ir em encontro com o desconforto, e descobrir o que está por baixo dele”.

4. Difícil não é sinônimo de ruim

A suposição de que uma experiência difícil é “ruim” pode de fato contribuir para a ansiedade e desconforto geral de uma viagem. “A mentalidade evidente na expressão ‘bad trip’ ajuda a esclarecer sobre os métodos ultrapassados e prejudiciais pelas quais muitas vezes essas experiências são freqüentemente abordadas, incluindo a internação e o envolvimento da aplicação da lei”, explica Sara Gael. Esta abordagem de lidar com alguém que tem um difícil experiência psicodélica é comum em eventos e muitas vezes piora ou agrava a situação. São métodos que tentam acabar ou interromper a experiência do indivíduo e pode enviar uma mensagem para o indivíduo de que algo está errado com elx ou que elx não está segurx”.

Claramente, esta não é a abordagem apropriada para alguém que já está sentindo-se sobrecarregado ou amendrontado.

Para uma explicação mais completa sobre como apoiar os indivíduos que estão experimentando uma intensa experiência psicodélica, inclusive sobre preocupações éticas importantes, vá para o recém-compilado: Manual de Apoio Psicodélico. Este incrível recurso foi o resultado de uma colaboração entre pesquisadores, artistas, psiquiatras, terapeutas, psiconautas, e produtores de festivais e está livremente disponível sob uma licença Creative Commons.

De Tendas de Bad Trip à Santuários

Festivais têm uma longa história de frequentadores que necessitam de apoio psicológico. Isso pode ser o resultado do uso de substâncias ou por um festival com ambiente estimulante. O primeiro grupo conhecido pela prática de primeiros socorros psicodélico foram The Hog Farmers, uma comuna hippie associada ao Grateful Dead e os Merry Pranksters. Em 1969 Woodstock Music & Art Fair, os Hog Farmes, liderado por um palhaço afável chamado Wavy Gravy, gerenciou a segurança com “tortas de creme e garrafas Seltzer (spray)” Eles tripularam o que ficou conhecido como a “Tenda da Bad Trip”, apoiando as pessoas que acreditavam ter recebido LSD mal fabricado. Quando participantes se recuperavam, tornavam-se praticantes que ajudavam a novos pacientes. Este processo continua até hoje, com os participantes que recebem atendimento em espaços seguros muitas vezes retornando como voluntários nos festivais seguintes.

Grupos informais prestando zonas de apoio continuaram em shows do Grateful Dead nos anos 70 e 80. Outros notáveis profissionais de primeiros socorros psicodélicos ao longo dos anos incluem os Voluntários CALM que têm apoiado o Rainbow Gathering desde 1972; White Bird, um grupo que oferece serviços gratuitos no Oregon Country Fair; e Rock Med, uma organização voluntária na área da Baía de San Francisco.

Esta tradição continuou com os Green Dot Rangers and Sanctuary no Burning Man, que são guiados pelo modelo similar, o FLAME: Descubra, Ouça, Analise, Medie e Explique (Find out, Listen, Analyze, Mediate and Explain). Joseph Pred, fundador do Departamento de Serviços de Emergência do Burning Man e dos Green Dot Rangers, e agora um consultor de gerenciamento de emergência de eventos, foi inspirado em 1998 por equipes de intervenção de crise municipais e modelo “Space Tent” (ou “Tenda Espacial”) do Rock Med para criar um quadro combinado de profissionais e conselheiros de pares que permita que o apoio no campo para a equipe de emergência, bem como a criação de um espaço tranquilo e seguro para aqueles que precisem.

Desde descriminalização das drogas, em 2001, Portugal tem sido uma força de liderança na redução de danos. O espaço psicodélico mais seguro e sofisticado do mundo existe no Boom Festival. O que começou como uma pequena cúpula chamado The Ground Central Station (A Estação Central da Terra) em 2002, desde então, evoluiu para o Kosmicare Cluster, que inclui uma tenda anexa para os participantes em situações extremas e um “Kiva” nativo americana tradicional para aqueles que experimentam algo semelhante a uma viagem xamânica tradicional. Kosmicare é descrito como “um lugar seguro para aterrar as energias galácticas e experiências intensas.” Trata-se de uma colaboração entre o festival, MAPS, Universidade Católica do Porto e de várias instituições governamentais. Por conta do ambiente ser tão aberto e colaborativo, houve também pesquisas avaliativas significativas realizadas em seus programas.

Também em 2001, a MAPS começou a reunir profissionais médicos e voluntários para oferecer assistência e apoio para os indivíduos submetidos a difíceis experiências psicodélicas. Tem desde então trazido seus conhecimentos para ajudar a desenvolver e apoiar modelos psicodélicos de redução de danos ao Boom Festival, Envision, Bicycle Day, AfrikaBurn na África do Sul, e Burning Man.

Fundada pelo MAPS, o Projeto Zendo foi lançado em 2012 por Linnae Ponte. O projeto recebeu financiamento e orientação do MAPS, bem como o financiamento privado, e os organizadores têm planos para lançar outra campanha Indiegogo neste verão para ajudar a cobrir os seus custos. Além do Envision, o Projeto Zendo vai criar um espaço seguro na Lightning in a Bottle, AfrikaBurn e Burning Man, em 2015. Para as festas, este tipo de serviço pode provar ter um valor inestimável.

Eu tornei-me pessoalmente ciente de primeiros socorros psicodélico depois de visitar um espaço seguro de redução de danos chamado de Sanctuary no Shambhala Music Festival em 2014. De acordo com seu site “O Sanctuary fornece serviços e apoio sem julgamentos e acolhe à todos que sintam que precisam de um lugar tranquilo e seguro, para descansar em qualquer momento durante o festival. Se você está se sentindo estressado, sobrecarregado, isolado, frio, molhado, precisa sair do sol por um tempo, só precisa relaxar ou precisar de alguém para conversar, nossos voluntários do Sanctuary ficarão felizes em ajudar”.

Shambhala é outro festival conhecido por seu compromisso radical para os cuidados na comunidade, bem como seus sofisticados esforços para garantir a segurança dos participantes. Além do Sanctuary, estas iniciativas incluem a política do álcool zero, testes de drogas no local, uma equipe de divulgação, serviços de saúde sexual e um espaço seguro para as mulheres.

Espaço de Holding para a Tribo

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Foto por Galen Oakes

Além de para fornecer um espaço seguro e treinamento para voluntários, parte da missão do Zendo é demonstrar ao público como as comunidades de festivais podem tomar medidas proativas para garantir que participantes do evento tenham apoio psicológico, a fim de reduzir o número de internações e de detenções relacionadas com a drogas. Isso envolve trabalhar em colaboração com outros departamentos do serviço de emergência no local, incluindo médicos e equipe de segurança.

Stacette Lockdown, Gerente de Redução de Danos de Shambhala, salienta que a comunicação interdepartamental com todas as entidades de segurança pública é muito importante. “Segurança trabalhando com médicos, medicos trabalhando com espaços seguros”, ela explica. “Estamos todos conectados e quando permanecemos conectados a esse nível, isto aumenta a segurança do festival.”

Joseph Pred concorda. “Ter a redução de danos abertamente integrado com serviços de segurança e médicos é fundamental para triagem apropriada aqueles que no passado acabaram parando na cadeia ou em hospitais de forma desnecessaria à terem melhores resultados, concedendo-lhes apoio no início de seu processo.”

Investir em um espaço seguro também envia uma mensagem de que os produtores estão fazendo da segurança de seus participantes uma prioridade. De acordo com Diogo Ruivo, fundador do Boom Festival, “Os promotores tornam-se os responsáveis por “manter o holding da tribo “, ainda mais quando o evento atrai dezenas de milhares de pessoas. Por isso, é obrigatório incluir na produção do evento a construção de um ou mais espaços dedicados a lidar de forma responsável com tais ’emergências’, independentemente das atitudes manifestadas pelo governo hospedeiro”

Cameron Bowman, “O Advogado de Festivais”, diz: “Não há nada contra a lei sobre festivais que prestam este tipo de serviço de “primeiros socorros psicodélico”. É claro que os produtores podem não achar que isso valha o investimento ou o governo anfitrião poderá não sentir que é valioso. Mas é perfeitamente legal”.

Kai Chotard, Diretor de Segurança da Envision, expressou sua gratidão pelo apoio de Zendo. “A assistência imensurável que foi dirigido por Zendo no Festival Envision vai além das palavras”, diz Chotard. “A presença de Zendo preenche as necessidades experimentais de certos freqüentadores do festival com um programa altamente profissional que permite que as pessoas sintam-se seguras e protegidas enquanto exploram novas formas em um novo lugar”.

Apesar do apoio Às “necessidades experimentais de certos freqüentadores do festival” é algo pelo qual o Zendo é reconhecido, as lições que aprendi mostraram-se imediatamente valioso em uma situação onde o meu convidado não estava sob o efeito de qualquer substância.

Me disseram que eu poderia vir aqui e conversar”

Foto Courtesia de Boom Festival
Foto Courtesia de Boom Festival

Eram 07h30 e meu turno terminaria às 10:00. Parecia improvável que teríamos quaisquer outros hóspedes, então eu esperava poder tirar um cochilo e meu líder de turno Bette Carson poderia me acordar, caso ela precisasse. Naquele momento, uma mulher com os olhos marejados e sem fôlego aproximou-se do espaço Zendo. Vou chamá-la de “Emily.” Ela estava em seus vinte e poucos anos. Ela disse para ninguém em particular: “Sinto muito incomodá-los. Eu preciso de ajuda. Eu não ingeri qualquer tipo de droga. Eu estou tendo um colapso. Está tudo tão fodido. Eu estou simplesmente exausta. Alguém me disse que eu poderia vir aqui e falar com alguém.” Bette fez algumas anotações em sua prancheta e virou-se para mim. “Você quer ajudar?”. Sem dúvidas.

Primeiramente fomos ao posto médico para ter certeza que ela tinha tudo que precisava. Depois de ser brevemente atendida por um enfermeiro local, Emily foi dada água eletrólita e um lugar à sombra para se sentar. Respirando profundamente, eu sentei com ela e ouviu a sua história. Ela estava sóbria há quatro anos e estava viajando com dois amigos que estavam passando por uma separação tóxica. O ambiente negativo com seus amigos espelhou um ambiente familiar desafiador e representou exatamente o motivo pelo qual ela estava viajando para fugir. Ela me disse que ela tinha chegado a Envision para ter uma experiência espiritual.

Embora dela não estar passando por uma crise psicodélica, eu usei as técnicas que aprendi com Zendo e simplesmente ouvi, respirei e contive um espaço para ela. Foram muito poucos os momentos no qual me senti obrigado a dar uma opinião e por isso, quando o fiz, isso significava muito mais. Ela disse que estava envergonhada e sentia-se fraca; Sugeri que permanecer sóbria e ter vindo buscar ajuda foi uma atitude poderosa. Ela disse que queria apenas ter uma experiência espiritual na Costa Rica. Disse-lhe que, no meu ponto de vista, ela estava de fato tendo um.

Quando Emily se acalmou nós verificamos o cronograma em conjunto e consideramos algumas experiências enriquecedoras e workshops que ela pudesse assistir sozinha, a fim de tornar o último dia do festival realmente algo dela. Quando meu plantão terminou às 10:00 Eu a ajudei a mudar para outro sitter para que ela pudesse sentir-se apoiada até estar descansada e pronta para sair.

Espaço de Holding para nós mesmos

Courtesia de Shambhala
Courtesia de Shambhala

As drogas psicodélicas estão retornando para o mainstream, para além do seu uso em determinados eventos e encontros. Em 09 de fevereiro de 2015, o New Yorker publicou um artigo inovador por Michael Pollan, autor amplamente respeitado que escreveu “O Dilema do Onívoro” (The Omnivore’s Dilemma, em inglês), sobre o tema das drogas psicodélicas. O artigo The Trip Treatment discute o uso da psilocibina, a substância química ativa em “cogumelos mágicos”, para aliviar a ansiedade de fim de vida em ensaios clínicos na Universidade de John Hopkin e Universidade de New York. Enquanto o artigo focava em aplicações médicas para substâncias psicodélicas, a conclusão de Pollan ofereceu apoio à ideia controversa que as experiências espirituais disponibilizadas por psicodélicos poderiam funcionar para “o aperfeiçoamento de pessoas saudáveis.”

O artigo de Pollan foi rapidamente seguido por explorações semelhantes em The Atlantic e Forbes. Além da investigação voltada para aplicações médicas, os resultados publicados no Journal of Psychopharmacology demonstraram que o uso de drogas psicodélicas “não aumentam o risco de problemas de saúde mental.” Com o interesse renovado a partir de um ponto de vista científico e tanta atenção popular, é mais relevante do que nunca que técnicas de redução de danos sejam disponibilizadas aonde for necessário, e que profissionais bem informados sejam capazes de oferecer uma abordagem unificada e calculada para os desafios psicodélicos.

O Projeto Zendo oferece um serviço incrível para aqueles que experimentam uma crise. Há também grande valor para os festivais do ponto de vista de produção, liberando os recursos de equipes médicas e de segurança tradicionais e enviando a mensagem de que o zelo dos participantes é uma prioridade. Menos óbvio são as experiência profundamente transformadoras providas pelos próprios voluntários. É uma crença comum de que quando você dá aos outros, você recebe em troca o tanto quanto deu. Isto é especialmente verdadeiro quando se trata de holding para a crise psicológicas dos outros.

O que eu encontrei no Zendo foi uma maneira de colocar o meu ego de lado e simplesmente testemunhar a transformação de um outro ser humano. Sempre levei uma abordagem assertiva quando os amigos estavam em crises; quero aliviar o seus sofrimentos com uma enxurrada de conselhos ou levar o problema e devolvê-lo como um “Cubo Mágico” solucionado. Zendo me ajudou a perceber que, embora as vezes seja útol, fixar questões às pessoas pode acabar usurpando seu poder.

Durante o sitting com meus convidados eu experimentei o que significava simplesmente segurar o espaço – ao invés de tentar ser um herói – e simplesmente testemunhar a cura ocorrendo. Observando essa transformação na minha própria maneira de pensar, percebi que no ato de segurar o espaço para outro a crescer, eu também estava segurando espaço para mim mesmo.

Eu gostaria de agradecer a todos os meus conselheiros generosos deste projeto: Sara Gael, Yashpal e Linnae Ponté do Projeto Zendo; Cameron “O Advogado de Festivais” Bowman; Joseph Pred;os Irmãos Justin e toda a equipe do Festival Envision; meus colegas voluntários intrépidos do Zendo; e aquelas almas corajosas que vieram obter a ajuda que precisavam.


FONTE FEST300

Agradecemos imensamente a tradução feita pelo colaborador Gabriel Pedroza.
Seja você também um colaborador, entre em contato:

equipemundocogumelo@gmail.com

NBOMes: Problemas Psicodélicos Potentes

Julhol de 2013
Originalmente Publicado em Erowid Extracts #24

nbome_article1-1Nós geralmente nos encontramos recebendo pedidos de não publicar sobre uma nova planta ou composto psicoativo. As vezes é um crítico que pensa que glorificamos seu uso. Outras vezes é um advogado que acredita que estamos enfatizando muito os riscos de saúde. Pode ser alguém expressando preocupação que a informação pública sobre uma droga vá afetar suas chances de ser utilizada para fins terapêuticos, ou organizadores de festivais preocupados que mencionar novas drogas disponíveis em eventos pode atrair atenção legal. Nós continuamos convencidos que uma informação aberta, honesta e completa deve estar acessível para as drogas que chegam às mãos do público.

Um improcedente de 233 novas drogas recreativas foram identificadas pelo Centro Europeu de Monitoramento de Drogas e Vício nos últimos cinco anos. Enquanto que a última onda inclui primariamente estimulantes eufóricos e canabinóides sintéticos, os compostos NBOMe se tornaram os psicodélicos definitivos de 2013. Porque eles são fortemente ativos com doses menores que 1 mg, são relativamente fáceis de sintetizar, e tem efeito e duração semelhante ao LSD, eles parecem estar tomando o lugar do LSD em uma porção significativa de cartelas vendidas esse ano. E como sempre, isso causa confusão entre a mídia e agentes da lei, que falsamente acusam o LSD pelos incidentes de saúde envolvendo NBOMe.

Básico

Os mais populares dos NBOMes são o 25I-NBOMe (25I), 25C-NBOMe (25C) e 25B-NBOMe (25B). Eles são todos derivados da N-Benzil-Oxi-Metila (portanto “NBOMe”) de fenitilaminas anteriormente conhecidas como 2C-I e 2C-B. Um anel extra na estrutura ligada ao químico de origem resulta em um aumento de 10-20x na potência assim como mudanças nos efeitos causados.
Depois da descoberta por Ralf Heim em 2003, o laboratório do Dr. David Nichols na Universidade de Purdue pesquisou as relações estrutura-atividade dos NBOMes. Os compostos apareceram primeiro nos mercados recreativos em 2010, e tinha se tornado popular o suficiente para ser mencionado na edição de Junho de 2011 de Erowid Extracts. Até Dezembro de 2012, os compostos NBOMe tinham atraído tanta atenção dos agentes da lei que a DEA publicou uma “caracterização” analítica.
“25I não é 2C-I”: Existem 2 nomenclaturas principais pros compostos NBOMe. Se utilizar o modelo de nomenclatura de Alexander Shulgin, 25I-NBOMe e 25B-NBOMe seriam chamados 2C-I-NBOMe e 2C-B-NBOMe. Apesar disso, após uma notificação errônea da mídia de uma fatalidade causada por 25I-NBOMe sendo noticiada como causada por 2C-I, escolhemos regularizar todas as menções para 25I-NBOMe. Esperamos que isso acabe com a tendência entre usuários, repórteres e agentes da lei de encurtar o nome inapropriadamente.

Efeitos

Doses de 750 – 1000 microgramas (0,75 – 1 mg) de 25I ou 25C podem causar uma experiência psicodélica forte com efeitos rasamente comparáveis aos do LSD ou fenitilaminas 2C. Muitas pessoas dizem gostar dos efeitos, alguns até preferem 25I a LSD. A maioria das descrições que os NBOMes levam a uma introspecção menos complexa que a de LSD, mas produzem visuais fortes e efeitos sensoriais, com a expressão “olho de doce” ocasionalmente sendo usada. Assim como a maioria dos psicodélicos, algumas pessoas descrevem sentir náusea quando os efeitos começam.
Um dos efeitos mais preocupantes é a vasoconstrição, incluindo aumento da pressão sanguínea, suor periférico e câimbras. A vasoconstrição também é associada com altas doses de outras drogas, como LSD, bromo-dragonfly, anfetaminas e MDMA.
A duração do 25I é um pouco mais curta que do LSD em efeitos comparáveis. Se a duração normal de LSD é considerada 10-12 horas, a do 25I é em torno de 8-10 horas. Um número de usuários relata sentir menos estimulação prolongada após os efeitos primários terem passado que com LSD.

Formas

Os NBOMes foram primariamente vendidos como pó na sua forma freebase. Devido a debates sobre a biodisponibilidade oral dos compostos, tornou-se prática comum tomá-los bucalmente (presos na boca, sem engolir). Os fabricantes às vezes aplicavam um procedimento para “complexar” os NBOMes com “HPBCD” (uma molécula ciclodextrina de açúcar em formato de anel), que os ajuda a passar pelas membranas corporais. Muitas pessoas relatam que as formas complexadas com HPBCD são mais potentes que NBOMes não complexados. Devido a dificuldade de preparações bucais e orais, algumas pessoas escolheram utilizar NBOMe na forma líquida. Desde junho de 2013 ainda existe uma confusão substancial sobre a efetividade/potência das diferentes formas (freebase, sal de HCL, freebase complexada) e rotas de administração.

Reações Idiossincráticas

Um número de histórias sobre 25I e 25C indicam ou uma reação idiossincrática forte em algumas pessoas, ou um aumento pontudo, não-linear, na intensidade dos efeitos conforme aumenta a dose. Um indíviduo nos contou que lhe foi dado uma pequena garrafa de 25I-NBOMe líquido, escrito que era 500 ug (0,5 mg) por gota. Ele e dois amigos decidiram testar, dois tomaram uma gota e um deles tomou três gotas. Aqueles que tomaram uma gota gostaram da experiência, tiveram boas memórias e disseram que fariam de novo. O terceiro, depois de três gotas, se tornou incoerente e frenético, então saiu da casa e dirigiu para longe no seu carro. Ele bateu em uma árvore e acordou no hospital dois dias depois sem memória de nada que aconteceu depois que os efeitos começaram. Há numerosas histórias de pessoas tendo delírios em doses acima de 1,5 mg de 25I e 25C, apesar de ter também histórias de pessoas tomando mais de 2 mg e não se sentindo impressionado pelos efeitos.

Sydney Newspaper, by Mark Pesce In early June 2013, Henry Kwan took something he believed was LSD and later jumped to his death from a third floor balcony in Sydney, Australia. Two newspapers carried it as front page stories the next day, with one proclaiming "boy "'thought he could fly'", in clear reference to past media treatments of LSD-related deaths. Both papers indicated LSD was not likely involved, with the Sydney Morning Herald stating it was either 25B- or 25I-NBOMe.
Sydney Newspaper, by Mark Pesce
In early June 2013, Henry Kwan took something he believed was LSD and later jumped to his death from a third floor balcony in Sydney, Australia. Two newspapers carried it as front page stories the next day, with one proclaiming “boy “‘thought he could fly'”, in clear reference to past media treatments of LSD-related deaths. Both papers indicated LSD was not likely involved, with the Sydney Morning Herald stating it was either 25B- or 25I-NBOMe.

Roleta Russa de cartelas, desenhos e simbolos

Depois do sucesso da DEA em romper a distribuição mundial de LSD no começo dos anos 2000, ácido se tornou incrivelmente raro. De acordo com a pesquisa Monitorando o Futuro de 2011, o uso de LSD por jovens de 18 anos no ano anterior caiu de 8,1% em 1999 para 1,9% após uma década. Isso criou uma abertura para outros psicodélicos super potentes serem depositados em papel de cartela. Às vezes os compradores são informados corretamente sobre a identidade da droga, mas geralmente é vendido falsamente como “ácido” ou até mais especificamente como “LSD”. Como um contribuidor do Erowid disse “cartelas de papel são um jeito fácil e prático de distribuir 500 microgramas de um químico. O que você acha que vende mais, cartelas vendidas como ‘25I-NBOMe’ ou cartelas vendidas como ‘ácido’?” Essa continua sendo uma tendência famosa de substituir uma droga por outra menos conhecida, assim com o clássico exemplo de LSD sendo vendido como “mescalina”.
FOTO: Jornal de Sydney, por Mark Pesce.
No início de junho de 2013, Henry Kwan tomou algo que ele acreditava ser LSD e depois pulou para sua morte de uma sacada no terceiro andar de um prédio em Sydney, Austrália. Dois jornais colocaram isso como primeira página no dia seguinte, com um deles dizendo “garoto ‘achou que conseguia voar’”, em uma referência clara aos tratamentos anteriores de mortes relacionadas à LSD. Ambos os jornais indicavam que o LSD provavelmente não estava envolvido nisso, com o Sydney Morning Herald dizendo que foi ou 25B- ou 25I-NBOMe.
Antes de 2013, outras drogas tinham sido encontradas em cartelas, mas nenhuma delas ocupou tanto o mercado quanto o 25I ocupa hoje. Entre 2007 e 2010, bromo-dragonfly (um psicodélico relacionado às fenitilaminas) apareceu em cartelas, e foi notícia quando causou algumas mortes nos EUA e Europa. Mas ele só foi vendido como LSD um curto período de tempo, parcialmente devido à impopular duração de seu efeito (substancialmente mais longo que o LSD), e por seu processo de síntese ser tecnicamente difícil. DOB, DOI e DOC também apareceram em cartelas nos últimos 40 anos, mas eles nunca foram muito comuns, e devido a ser necessária uma dose maior, eles geralmente eram colocados em papéis maiores que o padrão.
Uma diferença detectável entre LSD e os compostos NBOMe encontrados em cartelas é o gosto. Cartelas de LSD genuíno ou não tem gosto ou tem um gosto levemente metálico, enquanto a maioria das pessoas descreve um amargo intenso quando colocam papéis de 25I ou 25C na boca. Isso é geralmente porque uma dose dessas contem de 5 a 10 vezes mais químico. O gosto amargo levou alguns distribuidores a adicionar sabores de menta ou frutas para NBOMe líquido e em cartelas.
25I-NBOMe e 25C-NBOMe ganharam popularidade nos últimos 3 anos devido em parte à facilidade que um único grama pode ser mandado internacionalmente. Drogas super potentes, ativas a doses de menos de um miligrama, atravessam a alfândega com mais facilidade. Uma dose (750 microgramas) é do tamanho de seis grãos pequenos de sal. O material evaporado deixado numa mancha causada por um copo no vidro pode pesar um miligrama. Um grão grande de sal pode pesar até 5 miligramas. Isso significa que uma pequena cápsula pode conter centenas de doses de um químico como 25I-NBOMe e um pacote do tamanho de uma lata de refrigerante pode conter mais de cem mil doses.
Essa rara potência alta faz com que overdoses aconteçam mais. Infelizmente, os riscos de altas doses de 25I (e talvez outros NBOMes) incluem delírios, comportamento perigoso (com alguns acidentes resultando em mortes), assim como a possibilidade de morte diretamente pelos efeitos farmacológicos. Doses perigosas podem ser tão baixas quanto 3-5 miligramas. É uma acusação poética da Guerra às Drogas que o LSD, o primeiro psicodélico sintético, demonizado por décadas e o alvo de operações policiais caríssimas, parece ser bem mais seguro que seus substitutos.

Manuseie com cuidado

Uma grande quantidade de 25I e 25C é vendida aos usuários finais como um pó puro, o que cria uma situação inerentemente perigosa. A maioria das pessoas (especialmente experimentadores de 16 a 25 anos de idade) não sabe os procedimentos de segurança necessários para manusear químicos super potentes. Pesar e manusear compostos puros super potentes como LSD e 25I-NBOMe deve ser feito utilizando proteção para os olhos, luvas e uma máscara. Mesmo assim, essas precauções raramente são seguidas.
Talvez o maior risco da disponibilidade de puro pó de NBOMe é confundir um pó branco com outro, ou simplesmente não entender a diferença entre uma droga psicodélica e uma droga estimulante ou outras. Muitas pessoas têm experiências anteriores cheirando pequenas linhas ou doses de um psicodélico ou estimulante. É um fenômeno razoavelmente novo que a mesma quantidade pequena de droga pode levar à morte. Mais de uma das mortes documentadas de 25I ou 25C foram devido a cheirar 10 vezes ou mais a dose apropriada.

Mídia dizendo que “as mortes são causadas por LSD”

Um aspecto agravante da venda de 25I e 25C como ácido é que a mídia desinformada e fontes governamentais reportaram várias mortes como sendo relacionadas à LSD. Esses relatos raramente levam em consideração que essencialmente não existem mortes causadas pelo efeito farmacológico do LSD, e geralmente não tem nenhuma menção que outras substâncias poderiam estar envolvidas.
Depois de uma morte que culparam o LSD em março de 2013, Jacob Sullum de Reason.com escreveu um artigo fazendo piada dos repórteres e promotores, e apontando que a revisão mais recente de mortes causadas por LSD na literatura (Passie ET al 2008) concluiu que houve zero mortes documentadas claramente relacionadas a uma overdose de LSD.

nbome_article1-3Na natureza

Desde 1 de julho de 2013 nosso projeto de testes EcstasyData analisou quatro amostras contendo compostos NBOMe. Erowid recebeu 314 relatos de uso de NBOMe: 5 em 2010, 35 em 2011, 148 em 2012 e 126 nos primeiros 6 meses de 2013. Bluelight, um fórum de discussão sobre drogas, tem mais de 8000 postagens contendo a palavra “NBOMe”. O mercado negro digital Silk Road tem 241 resultados para produtos NBOMe, a maior parte em cartelas, alguns “complexados” como freebase e outros como sal HCl.
Os preços do Silk Road para o pó puro de 25I, 25C e 25B-NBOMe atualmente variam de $90 a $200 o grama. As listagens mais problemáticas são vendedores com cartelas que pedem para serem revendidas como ácido: quadrados pequenos perfurados em cartelas de 100 doses com imagens do tipo a viagem de bicicleta de Albert Hoffman e o Yellow Submarine dos Beatles, junto com outras imagens do passado. Um vendedor diz “cada quadrado é do tamanho de doses de ácido, sem grandes papéis”. Outro oferece doses supostamente contendo 1 miligrama de 25I e 1 miligrama de 25B-NBOMe cada! Doses variam de 500 microgramas a 2 miligramas por dose de quadrado pequeno, com a maior parte variando em torno de 1 miligrama. No Silk Road, cartelas de LSD são de 5 a 10 vezes mais caras que as cartelas de NBOMe.

NBOMes e a lei

Os NBOMes estão começando a ser controlados legalmente. O primeiro banimento que sabemos foi na Rússia em outubro de 2011, e o segundo foi no estado da Virginia em abril de 2012. Na primeira metade de 2013, Arkansas, Flórida, Louisiana, Israel e o Reino Unido todos passaram algum tipo de controle criminoso.
Nos últimos 50 anos, foi demonstrado que criminalizar uma droga popular irá resultar em novas substâncias para substituir, e as vendas mudam de fontes legais ou semi-legais para os mercados negros. De acordo com o Relatório Mundial de Drogas de 2013, feito pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, “assim que uma substância entra pra lista de controladas, outra a substitui, dificultando então os estudos no impacto em longo prazo do efeito da substância na saúde.” A proibição de psicodélicos, empatógenos e estimulantes previamente criados levou à distribuição em massa do 25I-NBOMe. Nisso começa a questão, “o que vai proceder se controlarmos o 25I-NBOMe?”

Gosto levemente amargo do futuro

Os NBOMes são precursores das coisas que virão. Os problemas e dificuldades que eles demonstram são problemas que a atual estrutura regulatória proibicionista vai naturalmente continuar a gerar. Por exemplo, novos psicoativos em desenvolvimento são relatados como 10 vezes mais potentes, com 10.000 doses por grama.

O novo modelo da Nova Zelândia

A melhor esperança no horizonte para parar com esse ciclo recorrente de criminalização e desenvolvimento de novas drogas vem da Nova Zelândia. Um novo “Projeto de lei de Substâncias Psicoativas” foi desenvolvido por meio de uma colaboração entre o Ministério de Saúde da Nova Zelândia, agentes da lei, e Stargate International, uma organização de redução de danos que começou como um distribuidor de “baratos legais”. Se for implementada como esperado, essa lei não precedente irá criar uma estrutura em que vendedores serão permitidos de distribuir produtos contendo substâncias ainda não controladas e usadas recreativamente, para aqueles com 18 anos de idade ou mais. Será exigido que os vendedores paguem uma taxa inicial de registro, demonstrem a segurança básica de seus produtos e monitorarem reações adversas após o início das vendas.

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25I-NBOMe a venda na Silk Road

Como Matt Bowden (fundador da Stargate International) descreveu no início de 2012, enquanto esse projeto de lei estava sendo escrito, medicamentos com a intenção de tratar uma doença devem atender um padrão maior que esses baratos legais: eles devem mostrar que são tanto seguros quanto efetivos ao tratamento de certa doença. Para as drogas “sociais”, a definição de efetivo é simplesmente se as pessoas gostam de tomar a droga, essencialmente eliminando o passo custoso de provar efetividade. As primeiras drogas a serem aprovadas por esse novo projeto de lei terão que ser mais seguras que outras drogas usadas recreativamente (um padrão substancialmente mais baixo para a “segurança” do que é requerido para medicamentos comprados sem receita). O custo do teste para demonstrar o nível de segurança de cada droga é em torno de um milhão de dólares.
Esse modelo está chamando atenção de outros países também. Um relatório do Conselho de Oficiais de Saúde da Columbia Britânica (Canadá), Perspectivas de Saúde Pública para Regulamentar Substâncias Psicoativas, discute a direção que a Nova Zelândia está tomando e nota “proibir uma substância manda a mensagem de desaprovação social do uso, […] mas o valor de usar a proibição para mandar uma mensagem de dissuadir o uso deve ser comparado com as consequências prejudiciais de se implementar a proibição, e a utilidade de outros métodos que sejam menos prejudiciais ao individuo que a criminalização.”
Tudo indica que o Projeto de Lei de Substâncias Psicoativas da Nova Zelândia será aprovado entre meio e fim de 2013, após o qual serão finalizadas as regulações específicas. Alguns dos críticos mais cínicos da Guerra as Drogas expressão dúvidas que isso vai representar real mudança, mas nós do centro Erowid nos mantemos esperançosos, com a visão que essa é a reforma na política de drogas mais emocionante e progressiva acontecendo no mundo.

Referências

  1. Passie T, Halpern JH, Stichtenoth DO, et al. “The Pharmacology of Lysergic Acid Diethylamide: A Review“. CNS Neurosci Ther. 2008;14(4):295-314.

Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaboradora Raphaela Lancellotti.
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