Archives julho 2013

Cogumelos Mágicos Podem Apagar o Medo em Camundongos

Fonte: Live Science – Tia Ghose

O princípio ativo dos cogumelos alucinógenos pode apagar memórias assustadoras e incentivar novo crescimento de células cerebrais em ratos, sugere um novo estudo.

Camundongos que receberam um choque elétrico, em seguida, uma baixa dose de psilocibina, perderam a sua resposta ao medo de um som associado a um choque elétrico doloroso muito mais rapidamente do que os ratos que não receberam o medicamento.

Cogumelos Psilocybe cubensis, onde a Psilocibina é encontrada na natureza.

“Eles pararam de congelar, pois eles perderam o medo”, disse o co-autor Dr. Juan Sanchez-Ramos, professor de distúrbios de movimentos da Universidade do Sul da Flórida.

Os resultados, publicados na edição de junho da revista Experimental Brain Research, aplicam-se apenas aos ratos, mas eles levantam a possibilidade de que as baixas doses da substância, podem um dia ser usadas para tratar o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Hipocampo

Estudos anteriores descobriram que a psilocibina, a substância psicoativa dos cogumelos mágicos, poderia induzir experiências místicas que podem elevar o humor, atitude e comportamento e até mesmo alterar permanentemente a personalidade para melhor. Outros estudos mostram que a psilocibina diminui a atividade cerebral. [Trippy Tales: The History of 8 Hallucinogens]

Mas Sanchez-Ramos e seus colegas se perguntam sobre o papel da psilocibina na formação de memórias de curto prazo. Como a substância se liga a um receptor no cérebro, que estimula o crescimento de células nervosas cerebrais e a formação da memória de curto prazo, os pesquisadores queriam investigar como foi afetada a formação das memórias relacionadas ao medo. Eles esperavam que a psilocibina ajudaria camundongos a formar memórias assustadoras mais rapidamente.

Para testar essa hipótese, os pesquisadores tocaram um tom(som) auditivo e deram aos ratos um choque doloroso. Os ratos logo associaram o tom com o choque e congelavam quando ouviam isso.

Mas alguns dos ratos receberam uma dose baixa de psilocibina – provavelmente muito baixa para causar efeitos psicoativos, porém não há nenhuma maneira de ter certeza, Sanchez-Ramos disse.

“Os ratos não podem lhe dizer se eles estão tendo alucinações ou experienciando estados alterados de consciência:” Sánchez-Ramos contou a nosso site.

Depois, os pesquisadores tocaram os sons várias vezes, sem chocar os ratos. No início, os ratos congelaram quando ouviram, mas aos poucos, eles começaram a se movimentar normalmente, indicando que o som não está mais associado ao choque.

Os ratos que tomam o alucinógeno voltaram ao comportamento normal mais rapidamente do que aqueles que não tinham, sugerindo que superaram seu medo com maior rapidez. Ao mesmo tempo, seus cérebros mostraram um significativo crescimento de novas células.

 

Eliminando a memoria negativa?

“O estudo em ratos indica que a psilocibina, (possivelmente também em doses moderadas) pode ajudar a extinguir a memória relacionada ao medo em casos de TEPT ou outros grupos de pacientes com ansiedade,” Franz Vollenweider, o diretor do Instituto de Pesquisa Heffter em Zurique, na Suíça, escreveu em um e-mail .

A pesquisa de Vollenweider tem mostrado que a psilocibina pode reduzir o quanto os pacientes deprimidos respondem ao negativo, mas não positivamente ou com expressões faciais neutras.

“Assim, a psilocibina pode muito bem mudar o processamento de emoções positivamente em pacientes deprimidos”, disse Vollenweider, que não esteve envolvido no estudo atual.

E no tratamento de TEPT por exemplo, os veteranos poderiam levar o medicamento para desassociar barulhos altos ou espaços lotados com o trauma de um bombardeio, Sanchez-Ramos acrescentou.

Por lei, a psilocibina é uma substância ilegal, ou uma droga perigosa, sem usos médicos legítimos. Então, fazer a pesquisa para testar seus efeitos nos Estados Unidos será um desafio, disse Sanchez-Ramos.

O Poder dos Cogumelos para Salvar o Planeta

Em uma pequena fazenda de cogumelos aninhada há cerca de uma hora de distância de Seattle, Paul Stamets põe a mão na massa. Abaixo do solo em todo lugar da Terra está a maior rede de comunicação organismo-organismo: A internet natural, como ele a chama. Stamets é um dos principais micologistas (que estudam os cogumelos e sua estrutura raiz conhecida como micélio) do mundo. Há um imenso poder no micélio, ele diz, para coisas tais como aumentar a imunidade humana, limpar vazamentos de óleo, e nos proteger contra surtos de doenças. Mas mais do que qualquer coisa, Paul Stamets adora sentir o cheiro dele.

O fato de que cogumelos possuem poder próprio é uma surpresa-pelo menos para mim. Muitas pessoas imaginam os cogumelos como pragas de jardim, ou como alimento. Em uma TED Talk que Stamets deu em 2011, ele tentou mostrar que cogumelos possuem potencial para fazer mais pelo planeta do que qualquer outra forma de vida, incluindo a humana. É tempo, ele argumentou, de libertar os cogumelos das garras dos gourmets e senhores das guerras psicodélicas.

Cogumelos Morel, conhecidos por serem difíceis de crescerem fora de um laboratório, nasceram na fazenda de Stamets.
Cogumelos Morel, conhecidos por serem difíceis de crescerem fora de um laboratório, nasceram na fazenda de Stamets.

O que faz os fungos tão únicos é o fato de que suas células são feitas de uma molécula chamada quitina, em vez de celulose, como ocorre com as plantas. A quitina é maleável, mas também resistente. A sua habilidade de defender-se de patógenos externos faz com que ela adquira valor na medicina e como alimento. Talvez o melhor de tudo, ela cresce rápido. Algumas raças se iniciam do tamanho de uma unha e se tornam 90 toneladas de biomassa em apenas alguns meses.

Corpulento e barbudo, Stamets têm a aparência de um homem que realmente sabe do que está falando. A maneira que ele fala-largando termos como “formação de amilóides” e “extratos pré-esporulantes”- faz com que eu lembre que não sei. Ele dirige uma empresa chamada Fungi Perfecti e divide o tempo entre sua fazenda em Shelton, Washington, e viajar o mundo procurando por novos cogumelos que ele pode trazer de volta para o laboratório para analisar e cultivar.

Quantos micologistas existem atualmente no mundo, eu perguntei para ele quando caminhávamos pela sua floresta-quintal que aparentava estar repleta de micélio. “Cerca de 50.000″, ele disse. “Mas somente 5.000 estão empregados”.

Isso faz dele um dos sortudos. Sua estrutura é uma fazenda em escala completa para o cultivo de micélio. As placas de “Não Ultrapasse” e avisos que você está sendo gravado fazem parte do plano de Stamets para manter a fazenda segura, tanto de futuros ladrões procurando por raças de cogumelos valiosas, e, ocasionalmente, do governo. Alguns anos atrás, Stamets disse que  um helicóptero Blackhawk sobrevoou a fazenda suspeitando de atividades ilegais. Isso é algo a que os micologistas estão acostumados. Ele diz que não tem nada a esconder, mas ainda assim ele não confia nos policiais, então ele disse para todos os empregados pegarem amostras de diferentes raças que poderão ser replicadas mais tarde, e então se espalharem. Acabou por ser um grande mal-entendido.

Nós temos acesso ao entendimento do que cogumelos e suas raízes podem fazer. Cogumelos Shiitake são conhecidos por aumentarem a imunidade e abaixarem o colesterol. Cogumelos white button possuem antioxidantes que reduzem o risco de problemas de coração.

Mas são espécies menos conhecidas como turkey tail , oyster e agarikon que Stamets deseja estudar para meios que, nas palavras dele, podem salvar o planeta. Cogumelos oyster em particular estão sendo testados por sua habilidade de limpar vazamentos de óleo. Uma raça que Stamets ajudou a desenvolver é tolerante à água salgada e pode metabolizar hidrocarbonetos. Um teste mostrou que uma raça do cogumelo oyster pode reduzir contaminantes de óleo diesel do solo de 10.000 partes por milhão para somente 200 em apenas alguns meses. O processo não é uma solução instantânea para o desastre, mas mostrou eliminar o óleo completamente organicamente, sem usar os tipos de dispersantes químicos controversos usados no Golfo do México após o vazamento de 2010.

Stamets segura diversos cogumelos lions mane que ele cultivou. Estudos mostraram que eles podem ter pistas na luta contra doenças como alzheimer, esclerose múltipla e demência.
Stamets segura diversos cogumelos lions mane que ele cultivou. Estudos mostraram que eles podem ter pistas na luta contra doenças como alzheimer, esclerose múltipla e demência.

Outros cogumelos como os Mycena alcalina, têm o potencial de quebrar Bifenilpoliclorados, um agente causador de câncer utilizado uma vez na fabricação de latas. Stamets explicou como os cogumelos, se dado a eles tempo de ativarem seus próprios sistemas de defesas, podem ser uma defesa contra armas químicas que podem espalhar doenças infecciosas como Varíola.

“Aqui, cheire isto”, disse Stamets, aproximando um punhado de micélio do meu nariz. Parecia com salada de repolho, mas tinha cheiro de terra rica, viva; Terra ligeiramente picante que eu não pude fazer nada senão cheirar novamente. “Não é incrível, ahh, eu poderia cheirar isso o dia inteiro”.

Apesar de mais de quatro décadas estudando cogumelos, Stamets é um homem que parece genuinamente apreciar falar de suas qualidades. Ele mesmo vai todos os anos para o festival Burning Man, o festival na Nevada do Norte, só para falar deles.

Ser um expert em um campo tão pequeno tem suas vantagens também. Em um quarto Stamets nos mostrou diversos vidros de extratos líquidos de cogumelos, elixires potentes que contêm raças avançadas de alguns micélios. “As empresas farmacêuticas querem muuuuito isso”, ele nos contou. Uma semana antes de nossa visita, de fato, uma empresa que ele não quis identificar ligou e pediu para ele dar o preço que ele quisesse por algumas de suas raças mais raras de se encontrar, que possuem potencial para novas drogas.

Ele prefere descobrir os segredos futuros dos cogumelos por ele mesmo. Ele disse pra eles que não, obrigado.

Traduzido de: National Geographic