“O fim do mundo não é um evento cataclísmico de cujo terror do julgamento final nos aproximamos cada vez mais. O fim do mundo acontece todos os dias para aqueles cuja introspecção espiritual lhes permite ver o mundo como ele é, transparente para a transcendência, um sacramento do mistério ou, como escreveu o poeta William Blake, “infinito”. O fim do mundo é, portanto, a metáfora de nosso começo espiritual e não o nosso fim cruel e ígneo.”
“Isto és Tu”, obra organizada por Eugene Kennedy, é uma seleção de conferências e ensaios de Joseph Campbell que aborda a tradição judaico-cristã, seus símbolos e metáforas e os interpreta à luz de seus notáveis conhecimentos da mitologia mundial. Principalmente, estabelece a diferença entre a interpretação literal e a metafórica da religião e reexamina a função essencial dos símbolos judaicos como chave para a compreensão da espiritualidade e da revelação mística.
O foco dirigido ao estudo da tradição judaico-cristã é expandido pela amplitude de conhecimentos de Joseph Campbell, o que o leva a se mover com leveza pela história religiosa e mitológica, e o falar com uma igual voz calorosa de quem se absorve, esquecido de si mesmo, na contemplação do que fala e na identificação com o tema que discorre. “Ressurge”, como indica Kennedy, “a vitalidade do que parece ser, mesmo para muitos judeus e cristãos, relíquias mortas e quebradiças da crença. Ele evoca, por exemplo, a qualidade viva do povo judeu e a riqueza simbólica do Velho Testamento, e com sensibilidade e respeito genuínos ilumina a majestade da crença e história judaicas”.
“De modo idêntico”, continua Kennedy, “Joseph Campbell refamiliariza cristãos com a aura de significados que pairam sobre as narrativas religiosas do Novo Testamento. Como é nesta aura, isto é, nas conotações que, por sua natureza, se desenvolvem das metáforas, que na abordagem da história judaica deve ser encontrada a mais profunda significação das histórias da vida e obra de Jesus. Descrever os Testamentos como mito não é, com destaca Campbell, expor afirmações falsas ou exageradas neles contidas. A noção contemporânea dos mitos como falsidade tem levado as pessoas a concebê-los como fantasias que passam por verdade. Entretanto, a mitologia é um receptáculo da verdade muitíssimo mais confiável do que números de recenseamentos e de almanaques, os quais, estando sujeitos ao tempo, o que não ocorre com o mito, tornam-se desatualizados tão logo são impressos. O propósito de Joseph Campbell ao explorar os mitos bíblicos não é descartá-los como inacreditáveis, mas expor mais uma vez seu núcleo vivo e nutriente”.
O nome que Eugene Kennedy dá a esta obra, “Isto és Tu”, é uma sentença emblemática trazida do hinduísmo e que Shopenhauer invoca em sua obra como expressão detentora de um significado central: a identificação da unidade fundamental que atravessa toda a vida e que alguém, tomada de uma percepção singular, reconhece haver entre si e todas as coisas existentes. As consequências e riquezas significativas desse aforismo hindu são amplas. Aparece citado com frequência nesta obra de Campbell, e revela, entre outras coisas, sua percepção da mitologia como expressão dessa unidade da vida e dessa fonte original comum humana que se expressam metaforicamente nos símbolos da mitologia. De fato, para Campbell, o que parece ser uma tradição religiosa diferente e diversa é na verdade expressões de uma experiência única que é compartilhada por todos os povos.
Joseph Campbell se tornou um estudioso respeitado, e sua obra fascina leitores os mais variados. O “Poder do Mito”, editado no Brasil, obteve extraordinário sucesso junto ao público brasileiro.
A edição de “Isto és Tu” é mais uma obra que se torna disponível ao público brasileiro, o que revigora e afirma o fascínio que Joseph Campbell exerce no amplo público que conquistou por sua capacidade extraordinária de tornar acessível o conhecimento dos significados profundos expressos nos símbolos da mitologia e da religião.
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