Category Redução de Danos

Primeiros socorros psicodélicos em um festival na Costa Rica

Já era algum tempo após as duas horas da manhã e eu estava sentado na frente de uma estrutura feita de bambu e pano no Festival Envision em Costa Rica. Estava quente o suficiente que eu estivesse vestida com um top e um colar havaiano rosa, levemente brilhante, em volta do meu pescoço. Havia um cheiro de salvia queimada no ar tropical e eu podia ouvir o violino de Emancipador tocando de forma alegre e mesmerizante vindo do palco principal. O espaço parecia tranquilo e suave, que era exatamente o motivo pelo qual estávamos alí. Eu havia embarcado com o Zendo Project, um grupo com sede em Santa Cruz, Califórnia, que fornece um espaço seguro para as pessoas que têm difíceis experiências psicodélicas e outros desafios emocionais ou pessoais durante festivais. O espaço foi montado junto ao espaço medico perto da entrada do evento.

O Zendo Project treina e supervisiona voluntários que auxiliam festivaleiros em apuros com os “Primeiros Socorros Psicodélico” – Trabalho que pode soar parecido com algum tipo de terapia “manêra” interdimensional para aventureiros torturados e alucinados no plano astral, para orientá-lx com segurança através de suas visões intensas. A minha experiência, no entanto, foi totalmente diferente de muito mais gratificante.

Meu turno tinha acabado de começar e eu estava sentado com Yashpal, um doutor de Medicina Natural da Costa Rica, quando eu recebi o meu primeiro chamado da noite. A pedido de um amigo preocupado, Yashpal e eu fui para o campo para acolher um jovem de uma rede de balanço, perto da Palco Lotus. Confidencialidade para os convidados é muito importante para o Projeto Zendo então vamos chamá-lo de “Charlie”. Charlie estava fixado em histórias complicadas sobre as políticas de várias agências do governo de seu país natal, com seus dedos contraídos como garras de frango – mas, com a sua permissão, nós o acompanhamos de volta para o Zendo para acomodá-lo em uma das camas na estrutura temporária, decorada delicadamente. Yashpal imediatamente me chamou de lado para me treinar antes de eu começar.

“O truque é não intervir ou alterar a trajetória de sua viagem de qualquer maneira”, disse Yashpal, parecendo um pouco como Merlin com uma barba grisalha encaracolada e um brilho reconfortante, porém levemente travesso em seus olhos. . “Você não quer engajár-lo. Seja neutro, fale o menos possível e simplesmente deixe-o passar pelo processo. A experiência trará a cura. – Mesmo que não pareça no momento. Confie. Não permita ser puxadao para a sua viagem, segure a sua própria energia. Dê-lhe água, e leve-o ao banheiro se precisar. Concentre-se em sua respiração. Seu trabalho é de manter o espaço para que ele tenha sua experiência. “

Yashpal enfatizou o conceito de “espaço de holding”, ou seja, sentar, manter ao invés de guiar, um dos quatro pilares da abordagem de apoio psicodélico do Zendo. Com isto em mente, sentei-me com Charlie e, ao invés de tentar acalmá-lo, eu simplesmente o observei passar pela experiência. Eu concentrei minha energia e atenção em minha própria respiração e permaneci muito calmo. Eu criei um centro de gravidade que o manteve aterrado sem forçá-lo de qualquer forma. Ouvi atentamente as suas lamúrias e simplesmente sorri e acenei com a cabeça em afirmação de sua necessidade de reafirmação.

Depois de algum tempo se contorcendo no tapete ele me pediu para ajudá-lo a chegar aos banheiros móveis. No caminho, ele parou e voltou seu olhar para as estrelas. Sem o meu treinamento no Zendo, eu poderia tê-lo incentivado a continuar andando para realizar a tarefa em mãos, mas ao invés disso, simplesmente ficamos lá juntos por quase uma hora, enquanto ele me contou sobre seu sonho de ser um astronauta e ver a Terra do espaço. O início de sua experiência foi uma desesperada incoerência, mas com o tempo tornou-se uma nostalgia forte, profunda. Eu não fiz nada para guiá-lo. Eu permaneci perto e mantive-o seguro. Conforme ele aceitou e sentiu sua dor existencial e desejos de viajar ao espaço, Charlie tornou-se muito calmo. Depois de usar o banheiro, ele me disse que estava pronto para voltar ao festival.

Como que aconteceu, de eu conversar sobre astronautas e estrelas na selva da Costa Rica, com uma pessoa que eu havia conhecido?

Os 4 Pilares de Apoio Psicodélico do Zendo

Nas práticas xamânicas tradicionais, a experiência psicodélica é considerada sagrada. Mesmo uma experiência difícil é uma oportunidade para crescimento, cura e revelação. Esta é a abordagem adoptada pela MAPS, a Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos, que conduz a pesquisa que informa o Zendo Project e seus quatro pilares, pelo qual o Zendo orienta seus eventuais voluntários e participantes do festival, no início de cada evento no qual a organização participa. Leia o manual de Treinamento do Zendo Project completo aqui.

1. Crie um espaço seguro

Ambientes de festivais são projetados para serem altamente estimulantes: sistemas de som bombasticos, intens espetáculos de luz e cacofonia geral criam um paraíso surreal para uma aventura. Mas quando as coisas começam a sobrecarregar, estes efeitos dinâmicos podem aumentar a ansiedade. Zendo é projetado para proporcionar tranquilidade e conforto. Além de sentirem-se fisicamente seguros, os convidados devem sentir-se também emocionalmente seguros, o que requer que voluntários exalem uma atitude acolhedora e sem julgamentos.

As condições para este sistema de segurança, de acordo com Sara Gael, Coordenadora de Redução de Danos do MA MAPS, psicoterapeuta holística liderança da Zendo Envisio, são conhecidas como “set” e “setting“.

‘Set’ Refere-se ao estado interno de um indivíduo e inclui o estado emocional e humor, condições mentais pré-existente, estresse, conforto e estágios de desenvolvimento”, ela explica. “‘Setting’ refere-se a condições externas de um indivíduo, incluindo aonde a pessoa está, com quem está, dosagem e interações medicamentosas”.

Gael enfatiza que o set e setting não são mutuamente exclusivas, e afetam e informam uma a outra. Quando sitters prestam atenção ao set e setting de um indivíduo, um sistema de segurança – feito exclusivamente sob medida para aquele indivíduo – pode então ser criado, para que ele ou ela possam entregar-se à experiência, mesmo em caso de surgimento de desconforto ou medo.

2. Sentar, Não Guiar

Ao invés de usar uma intervenção direta, o objetivo é de um sitter é de permitir que ocorra a cura de forma natural. As ferramentas que usamos foram respirar, validação, espelhamento e afirmação. A importância de não intervir na experiência do visitante foi enfatizado repetidamente ao longo de todo o final de semana.

De MAPS: Como trabalhar com experiências psicodélicas difíceis: “Há sempre a tendência de dominar o outro com o nosso conhecimento, sabedoria e insights. Portanto, abra mão de todo o conhecimento sobre a experiência que a pessoa está tendo. Apenas esteja junto, ouça e observe”.

Isto significa que o sitter deve ser rígido e evitar engajar com o visitante a todo momento?

“Pode ser útil providenciar uma reafirmação suave ou reenquadramento da experiência”, explica Chelsea Rose, coordenadora voluntária do Zendo. “Estes métodos de apoio refletem o que já está acontecendo para o indivíduo, ao mesmo tempo garantindo-os que as suas experiências são aceitáveis”.

3. Acompanhe, sem impor

Sitters são ensinados a entender que há um processo natural acontecendo na mente do visitante afetado. Assim, não há esforços para terminar a viagem psicodélica prematuramente; sitters deve simplesmente deixar o visitante experienciar isto com o máximo de segurança e conforto possível.

Linnae Ponté, Diretora de Redução de Danos na MAPS e Fundadora do Projeto Zendo repete o mantra de “Confie. Deixe ir. Seja aberto. Respire. Renda-se.”

Ponté diz que um quando se re-experienta emoções de um trauma passado, (que ocorre as vezes com psicodélicos) ter o espaço para sentir o grau de dor e sofrimento pode ser fundamental para a oportunidade de cura do hóspede. O sitter deve reconhecer que todas as emoções que vêm à superfície durante uma experiência psicodélica muitas vezes são, com frequência, fortemente carregadas e podem levar os visitantes ao limiar de sua consciência.

“Nosso trabalho não é de intervir, mas de confiar em tudo o que está acontecendo para eles, e tudo o que isso desperta em nós, e saber que é tudo temporário,” Ponté continua. “Vivemos em um mundo onde o desconforto emocional é suprimido com todos os tipos de drogas e comportamentos, e oferecemos aos visitantes a oportunidade de ao invés disso ir em encontro com o desconforto, e descobrir o que está por baixo dele”.

4. Difícil não é sinônimo de ruim

A suposição de que uma experiência difícil é “ruim” pode de fato contribuir para a ansiedade e desconforto geral de uma viagem. “A mentalidade evidente na expressão ‘bad trip’ ajuda a esclarecer sobre os métodos ultrapassados e prejudiciais pelas quais muitas vezes essas experiências são freqüentemente abordadas, incluindo a internação e o envolvimento da aplicação da lei”, explica Sara Gael. Esta abordagem de lidar com alguém que tem um difícil experiência psicodélica é comum em eventos e muitas vezes piora ou agrava a situação. São métodos que tentam acabar ou interromper a experiência do indivíduo e pode enviar uma mensagem para o indivíduo de que algo está errado com elx ou que elx não está segurx”.

Claramente, esta não é a abordagem apropriada para alguém que já está sentindo-se sobrecarregado ou amendrontado.

Para uma explicação mais completa sobre como apoiar os indivíduos que estão experimentando uma intensa experiência psicodélica, inclusive sobre preocupações éticas importantes, vá para o recém-compilado: Manual de Apoio Psicodélico. Este incrível recurso foi o resultado de uma colaboração entre pesquisadores, artistas, psiquiatras, terapeutas, psiconautas, e produtores de festivais e está livremente disponível sob uma licença Creative Commons.

De Tendas de Bad Trip à Santuários

Festivais têm uma longa história de frequentadores que necessitam de apoio psicológico. Isso pode ser o resultado do uso de substâncias ou por um festival com ambiente estimulante. O primeiro grupo conhecido pela prática de primeiros socorros psicodélico foram The Hog Farmers, uma comuna hippie associada ao Grateful Dead e os Merry Pranksters. Em 1969 Woodstock Music & Art Fair, os Hog Farmes, liderado por um palhaço afável chamado Wavy Gravy, gerenciou a segurança com “tortas de creme e garrafas Seltzer (spray)” Eles tripularam o que ficou conhecido como a “Tenda da Bad Trip”, apoiando as pessoas que acreditavam ter recebido LSD mal fabricado. Quando participantes se recuperavam, tornavam-se praticantes que ajudavam a novos pacientes. Este processo continua até hoje, com os participantes que recebem atendimento em espaços seguros muitas vezes retornando como voluntários nos festivais seguintes.

Grupos informais prestando zonas de apoio continuaram em shows do Grateful Dead nos anos 70 e 80. Outros notáveis profissionais de primeiros socorros psicodélicos ao longo dos anos incluem os Voluntários CALM que têm apoiado o Rainbow Gathering desde 1972; White Bird, um grupo que oferece serviços gratuitos no Oregon Country Fair; e Rock Med, uma organização voluntária na área da Baía de San Francisco.

Esta tradição continuou com os Green Dot Rangers and Sanctuary no Burning Man, que são guiados pelo modelo similar, o FLAME: Descubra, Ouça, Analise, Medie e Explique (Find out, Listen, Analyze, Mediate and Explain). Joseph Pred, fundador do Departamento de Serviços de Emergência do Burning Man e dos Green Dot Rangers, e agora um consultor de gerenciamento de emergência de eventos, foi inspirado em 1998 por equipes de intervenção de crise municipais e modelo “Space Tent” (ou “Tenda Espacial”) do Rock Med para criar um quadro combinado de profissionais e conselheiros de pares que permita que o apoio no campo para a equipe de emergência, bem como a criação de um espaço tranquilo e seguro para aqueles que precisem.

Desde descriminalização das drogas, em 2001, Portugal tem sido uma força de liderança na redução de danos. O espaço psicodélico mais seguro e sofisticado do mundo existe no Boom Festival. O que começou como uma pequena cúpula chamado The Ground Central Station (A Estação Central da Terra) em 2002, desde então, evoluiu para o Kosmicare Cluster, que inclui uma tenda anexa para os participantes em situações extremas e um “Kiva” nativo americana tradicional para aqueles que experimentam algo semelhante a uma viagem xamânica tradicional. Kosmicare é descrito como “um lugar seguro para aterrar as energias galácticas e experiências intensas.” Trata-se de uma colaboração entre o festival, MAPS, Universidade Católica do Porto e de várias instituições governamentais. Por conta do ambiente ser tão aberto e colaborativo, houve também pesquisas avaliativas significativas realizadas em seus programas.

Também em 2001, a MAPS começou a reunir profissionais médicos e voluntários para oferecer assistência e apoio para os indivíduos submetidos a difíceis experiências psicodélicas. Tem desde então trazido seus conhecimentos para ajudar a desenvolver e apoiar modelos psicodélicos de redução de danos ao Boom Festival, Envision, Bicycle Day, AfrikaBurn na África do Sul, e Burning Man.

Fundada pelo MAPS, o Projeto Zendo foi lançado em 2012 por Linnae Ponte. O projeto recebeu financiamento e orientação do MAPS, bem como o financiamento privado, e os organizadores têm planos para lançar outra campanha Indiegogo neste verão para ajudar a cobrir os seus custos. Além do Envision, o Projeto Zendo vai criar um espaço seguro na Lightning in a Bottle, AfrikaBurn e Burning Man, em 2015. Para as festas, este tipo de serviço pode provar ter um valor inestimável.

Eu tornei-me pessoalmente ciente de primeiros socorros psicodélico depois de visitar um espaço seguro de redução de danos chamado de Sanctuary no Shambhala Music Festival em 2014. De acordo com seu site “O Sanctuary fornece serviços e apoio sem julgamentos e acolhe à todos que sintam que precisam de um lugar tranquilo e seguro, para descansar em qualquer momento durante o festival. Se você está se sentindo estressado, sobrecarregado, isolado, frio, molhado, precisa sair do sol por um tempo, só precisa relaxar ou precisar de alguém para conversar, nossos voluntários do Sanctuary ficarão felizes em ajudar”.

Shambhala é outro festival conhecido por seu compromisso radical para os cuidados na comunidade, bem como seus sofisticados esforços para garantir a segurança dos participantes. Além do Sanctuary, estas iniciativas incluem a política do álcool zero, testes de drogas no local, uma equipe de divulgação, serviços de saúde sexual e um espaço seguro para as mulheres.

Espaço de Holding para a Tribo

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Foto por Galen Oakes

Além de para fornecer um espaço seguro e treinamento para voluntários, parte da missão do Zendo é demonstrar ao público como as comunidades de festivais podem tomar medidas proativas para garantir que participantes do evento tenham apoio psicológico, a fim de reduzir o número de internações e de detenções relacionadas com a drogas. Isso envolve trabalhar em colaboração com outros departamentos do serviço de emergência no local, incluindo médicos e equipe de segurança.

Stacette Lockdown, Gerente de Redução de Danos de Shambhala, salienta que a comunicação interdepartamental com todas as entidades de segurança pública é muito importante. “Segurança trabalhando com médicos, medicos trabalhando com espaços seguros”, ela explica. “Estamos todos conectados e quando permanecemos conectados a esse nível, isto aumenta a segurança do festival.”

Joseph Pred concorda. “Ter a redução de danos abertamente integrado com serviços de segurança e médicos é fundamental para triagem apropriada aqueles que no passado acabaram parando na cadeia ou em hospitais de forma desnecessaria à terem melhores resultados, concedendo-lhes apoio no início de seu processo.”

Investir em um espaço seguro também envia uma mensagem de que os produtores estão fazendo da segurança de seus participantes uma prioridade. De acordo com Diogo Ruivo, fundador do Boom Festival, “Os promotores tornam-se os responsáveis por “manter o holding da tribo “, ainda mais quando o evento atrai dezenas de milhares de pessoas. Por isso, é obrigatório incluir na produção do evento a construção de um ou mais espaços dedicados a lidar de forma responsável com tais ’emergências’, independentemente das atitudes manifestadas pelo governo hospedeiro”

Cameron Bowman, “O Advogado de Festivais”, diz: “Não há nada contra a lei sobre festivais que prestam este tipo de serviço de “primeiros socorros psicodélico”. É claro que os produtores podem não achar que isso valha o investimento ou o governo anfitrião poderá não sentir que é valioso. Mas é perfeitamente legal”.

Kai Chotard, Diretor de Segurança da Envision, expressou sua gratidão pelo apoio de Zendo. “A assistência imensurável que foi dirigido por Zendo no Festival Envision vai além das palavras”, diz Chotard. “A presença de Zendo preenche as necessidades experimentais de certos freqüentadores do festival com um programa altamente profissional que permite que as pessoas sintam-se seguras e protegidas enquanto exploram novas formas em um novo lugar”.

Apesar do apoio Às “necessidades experimentais de certos freqüentadores do festival” é algo pelo qual o Zendo é reconhecido, as lições que aprendi mostraram-se imediatamente valioso em uma situação onde o meu convidado não estava sob o efeito de qualquer substância.

Me disseram que eu poderia vir aqui e conversar”

Foto Courtesia de Boom Festival
Foto Courtesia de Boom Festival

Eram 07h30 e meu turno terminaria às 10:00. Parecia improvável que teríamos quaisquer outros hóspedes, então eu esperava poder tirar um cochilo e meu líder de turno Bette Carson poderia me acordar, caso ela precisasse. Naquele momento, uma mulher com os olhos marejados e sem fôlego aproximou-se do espaço Zendo. Vou chamá-la de “Emily.” Ela estava em seus vinte e poucos anos. Ela disse para ninguém em particular: “Sinto muito incomodá-los. Eu preciso de ajuda. Eu não ingeri qualquer tipo de droga. Eu estou tendo um colapso. Está tudo tão fodido. Eu estou simplesmente exausta. Alguém me disse que eu poderia vir aqui e falar com alguém.” Bette fez algumas anotações em sua prancheta e virou-se para mim. “Você quer ajudar?”. Sem dúvidas.

Primeiramente fomos ao posto médico para ter certeza que ela tinha tudo que precisava. Depois de ser brevemente atendida por um enfermeiro local, Emily foi dada água eletrólita e um lugar à sombra para se sentar. Respirando profundamente, eu sentei com ela e ouviu a sua história. Ela estava sóbria há quatro anos e estava viajando com dois amigos que estavam passando por uma separação tóxica. O ambiente negativo com seus amigos espelhou um ambiente familiar desafiador e representou exatamente o motivo pelo qual ela estava viajando para fugir. Ela me disse que ela tinha chegado a Envision para ter uma experiência espiritual.

Embora dela não estar passando por uma crise psicodélica, eu usei as técnicas que aprendi com Zendo e simplesmente ouvi, respirei e contive um espaço para ela. Foram muito poucos os momentos no qual me senti obrigado a dar uma opinião e por isso, quando o fiz, isso significava muito mais. Ela disse que estava envergonhada e sentia-se fraca; Sugeri que permanecer sóbria e ter vindo buscar ajuda foi uma atitude poderosa. Ela disse que queria apenas ter uma experiência espiritual na Costa Rica. Disse-lhe que, no meu ponto de vista, ela estava de fato tendo um.

Quando Emily se acalmou nós verificamos o cronograma em conjunto e consideramos algumas experiências enriquecedoras e workshops que ela pudesse assistir sozinha, a fim de tornar o último dia do festival realmente algo dela. Quando meu plantão terminou às 10:00 Eu a ajudei a mudar para outro sitter para que ela pudesse sentir-se apoiada até estar descansada e pronta para sair.

Espaço de Holding para nós mesmos

Courtesia de Shambhala
Courtesia de Shambhala

As drogas psicodélicas estão retornando para o mainstream, para além do seu uso em determinados eventos e encontros. Em 09 de fevereiro de 2015, o New Yorker publicou um artigo inovador por Michael Pollan, autor amplamente respeitado que escreveu “O Dilema do Onívoro” (The Omnivore’s Dilemma, em inglês), sobre o tema das drogas psicodélicas. O artigo The Trip Treatment discute o uso da psilocibina, a substância química ativa em “cogumelos mágicos”, para aliviar a ansiedade de fim de vida em ensaios clínicos na Universidade de John Hopkin e Universidade de New York. Enquanto o artigo focava em aplicações médicas para substâncias psicodélicas, a conclusão de Pollan ofereceu apoio à ideia controversa que as experiências espirituais disponibilizadas por psicodélicos poderiam funcionar para “o aperfeiçoamento de pessoas saudáveis.”

O artigo de Pollan foi rapidamente seguido por explorações semelhantes em The Atlantic e Forbes. Além da investigação voltada para aplicações médicas, os resultados publicados no Journal of Psychopharmacology demonstraram que o uso de drogas psicodélicas “não aumentam o risco de problemas de saúde mental.” Com o interesse renovado a partir de um ponto de vista científico e tanta atenção popular, é mais relevante do que nunca que técnicas de redução de danos sejam disponibilizadas aonde for necessário, e que profissionais bem informados sejam capazes de oferecer uma abordagem unificada e calculada para os desafios psicodélicos.

O Projeto Zendo oferece um serviço incrível para aqueles que experimentam uma crise. Há também grande valor para os festivais do ponto de vista de produção, liberando os recursos de equipes médicas e de segurança tradicionais e enviando a mensagem de que o zelo dos participantes é uma prioridade. Menos óbvio são as experiência profundamente transformadoras providas pelos próprios voluntários. É uma crença comum de que quando você dá aos outros, você recebe em troca o tanto quanto deu. Isto é especialmente verdadeiro quando se trata de holding para a crise psicológicas dos outros.

O que eu encontrei no Zendo foi uma maneira de colocar o meu ego de lado e simplesmente testemunhar a transformação de um outro ser humano. Sempre levei uma abordagem assertiva quando os amigos estavam em crises; quero aliviar o seus sofrimentos com uma enxurrada de conselhos ou levar o problema e devolvê-lo como um “Cubo Mágico” solucionado. Zendo me ajudou a perceber que, embora as vezes seja útol, fixar questões às pessoas pode acabar usurpando seu poder.

Durante o sitting com meus convidados eu experimentei o que significava simplesmente segurar o espaço – ao invés de tentar ser um herói – e simplesmente testemunhar a cura ocorrendo. Observando essa transformação na minha própria maneira de pensar, percebi que no ato de segurar o espaço para outro a crescer, eu também estava segurando espaço para mim mesmo.

Eu gostaria de agradecer a todos os meus conselheiros generosos deste projeto: Sara Gael, Yashpal e Linnae Ponté do Projeto Zendo; Cameron “O Advogado de Festivais” Bowman; Joseph Pred;os Irmãos Justin e toda a equipe do Festival Envision; meus colegas voluntários intrépidos do Zendo; e aquelas almas corajosas que vieram obter a ajuda que precisavam.


FONTE FEST300

Agradecemos imensamente a tradução feita pelo colaborador Gabriel Pedroza.
Seja você também um colaborador, entre em contato:

equipemundocogumelo@gmail.com

NBOMes: Problemas Psicodélicos Potentes

Julhol de 2013
Originalmente Publicado em Erowid Extracts #24

nbome_article1-1Nós geralmente nos encontramos recebendo pedidos de não publicar sobre uma nova planta ou composto psicoativo. As vezes é um crítico que pensa que glorificamos seu uso. Outras vezes é um advogado que acredita que estamos enfatizando muito os riscos de saúde. Pode ser alguém expressando preocupação que a informação pública sobre uma droga vá afetar suas chances de ser utilizada para fins terapêuticos, ou organizadores de festivais preocupados que mencionar novas drogas disponíveis em eventos pode atrair atenção legal. Nós continuamos convencidos que uma informação aberta, honesta e completa deve estar acessível para as drogas que chegam às mãos do público.

Um improcedente de 233 novas drogas recreativas foram identificadas pelo Centro Europeu de Monitoramento de Drogas e Vício nos últimos cinco anos. Enquanto que a última onda inclui primariamente estimulantes eufóricos e canabinóides sintéticos, os compostos NBOMe se tornaram os psicodélicos definitivos de 2013. Porque eles são fortemente ativos com doses menores que 1 mg, são relativamente fáceis de sintetizar, e tem efeito e duração semelhante ao LSD, eles parecem estar tomando o lugar do LSD em uma porção significativa de cartelas vendidas esse ano. E como sempre, isso causa confusão entre a mídia e agentes da lei, que falsamente acusam o LSD pelos incidentes de saúde envolvendo NBOMe.

Básico

Os mais populares dos NBOMes são o 25I-NBOMe (25I), 25C-NBOMe (25C) e 25B-NBOMe (25B). Eles são todos derivados da N-Benzil-Oxi-Metila (portanto “NBOMe”) de fenitilaminas anteriormente conhecidas como 2C-I e 2C-B. Um anel extra na estrutura ligada ao químico de origem resulta em um aumento de 10-20x na potência assim como mudanças nos efeitos causados.
Depois da descoberta por Ralf Heim em 2003, o laboratório do Dr. David Nichols na Universidade de Purdue pesquisou as relações estrutura-atividade dos NBOMes. Os compostos apareceram primeiro nos mercados recreativos em 2010, e tinha se tornado popular o suficiente para ser mencionado na edição de Junho de 2011 de Erowid Extracts. Até Dezembro de 2012, os compostos NBOMe tinham atraído tanta atenção dos agentes da lei que a DEA publicou uma “caracterização” analítica.
“25I não é 2C-I”: Existem 2 nomenclaturas principais pros compostos NBOMe. Se utilizar o modelo de nomenclatura de Alexander Shulgin, 25I-NBOMe e 25B-NBOMe seriam chamados 2C-I-NBOMe e 2C-B-NBOMe. Apesar disso, após uma notificação errônea da mídia de uma fatalidade causada por 25I-NBOMe sendo noticiada como causada por 2C-I, escolhemos regularizar todas as menções para 25I-NBOMe. Esperamos que isso acabe com a tendência entre usuários, repórteres e agentes da lei de encurtar o nome inapropriadamente.

Efeitos

Doses de 750 – 1000 microgramas (0,75 – 1 mg) de 25I ou 25C podem causar uma experiência psicodélica forte com efeitos rasamente comparáveis aos do LSD ou fenitilaminas 2C. Muitas pessoas dizem gostar dos efeitos, alguns até preferem 25I a LSD. A maioria das descrições que os NBOMes levam a uma introspecção menos complexa que a de LSD, mas produzem visuais fortes e efeitos sensoriais, com a expressão “olho de doce” ocasionalmente sendo usada. Assim como a maioria dos psicodélicos, algumas pessoas descrevem sentir náusea quando os efeitos começam.
Um dos efeitos mais preocupantes é a vasoconstrição, incluindo aumento da pressão sanguínea, suor periférico e câimbras. A vasoconstrição também é associada com altas doses de outras drogas, como LSD, bromo-dragonfly, anfetaminas e MDMA.
A duração do 25I é um pouco mais curta que do LSD em efeitos comparáveis. Se a duração normal de LSD é considerada 10-12 horas, a do 25I é em torno de 8-10 horas. Um número de usuários relata sentir menos estimulação prolongada após os efeitos primários terem passado que com LSD.

Formas

Os NBOMes foram primariamente vendidos como pó na sua forma freebase. Devido a debates sobre a biodisponibilidade oral dos compostos, tornou-se prática comum tomá-los bucalmente (presos na boca, sem engolir). Os fabricantes às vezes aplicavam um procedimento para “complexar” os NBOMes com “HPBCD” (uma molécula ciclodextrina de açúcar em formato de anel), que os ajuda a passar pelas membranas corporais. Muitas pessoas relatam que as formas complexadas com HPBCD são mais potentes que NBOMes não complexados. Devido a dificuldade de preparações bucais e orais, algumas pessoas escolheram utilizar NBOMe na forma líquida. Desde junho de 2013 ainda existe uma confusão substancial sobre a efetividade/potência das diferentes formas (freebase, sal de HCL, freebase complexada) e rotas de administração.

Reações Idiossincráticas

Um número de histórias sobre 25I e 25C indicam ou uma reação idiossincrática forte em algumas pessoas, ou um aumento pontudo, não-linear, na intensidade dos efeitos conforme aumenta a dose. Um indíviduo nos contou que lhe foi dado uma pequena garrafa de 25I-NBOMe líquido, escrito que era 500 ug (0,5 mg) por gota. Ele e dois amigos decidiram testar, dois tomaram uma gota e um deles tomou três gotas. Aqueles que tomaram uma gota gostaram da experiência, tiveram boas memórias e disseram que fariam de novo. O terceiro, depois de três gotas, se tornou incoerente e frenético, então saiu da casa e dirigiu para longe no seu carro. Ele bateu em uma árvore e acordou no hospital dois dias depois sem memória de nada que aconteceu depois que os efeitos começaram. Há numerosas histórias de pessoas tendo delírios em doses acima de 1,5 mg de 25I e 25C, apesar de ter também histórias de pessoas tomando mais de 2 mg e não se sentindo impressionado pelos efeitos.

Sydney Newspaper, by Mark Pesce In early June 2013, Henry Kwan took something he believed was LSD and later jumped to his death from a third floor balcony in Sydney, Australia. Two newspapers carried it as front page stories the next day, with one proclaiming "boy "'thought he could fly'", in clear reference to past media treatments of LSD-related deaths. Both papers indicated LSD was not likely involved, with the Sydney Morning Herald stating it was either 25B- or 25I-NBOMe.
Sydney Newspaper, by Mark Pesce
In early June 2013, Henry Kwan took something he believed was LSD and later jumped to his death from a third floor balcony in Sydney, Australia. Two newspapers carried it as front page stories the next day, with one proclaiming “boy “‘thought he could fly'”, in clear reference to past media treatments of LSD-related deaths. Both papers indicated LSD was not likely involved, with the Sydney Morning Herald stating it was either 25B- or 25I-NBOMe.

Roleta Russa de cartelas, desenhos e simbolos

Depois do sucesso da DEA em romper a distribuição mundial de LSD no começo dos anos 2000, ácido se tornou incrivelmente raro. De acordo com a pesquisa Monitorando o Futuro de 2011, o uso de LSD por jovens de 18 anos no ano anterior caiu de 8,1% em 1999 para 1,9% após uma década. Isso criou uma abertura para outros psicodélicos super potentes serem depositados em papel de cartela. Às vezes os compradores são informados corretamente sobre a identidade da droga, mas geralmente é vendido falsamente como “ácido” ou até mais especificamente como “LSD”. Como um contribuidor do Erowid disse “cartelas de papel são um jeito fácil e prático de distribuir 500 microgramas de um químico. O que você acha que vende mais, cartelas vendidas como ‘25I-NBOMe’ ou cartelas vendidas como ‘ácido’?” Essa continua sendo uma tendência famosa de substituir uma droga por outra menos conhecida, assim com o clássico exemplo de LSD sendo vendido como “mescalina”.
FOTO: Jornal de Sydney, por Mark Pesce.
No início de junho de 2013, Henry Kwan tomou algo que ele acreditava ser LSD e depois pulou para sua morte de uma sacada no terceiro andar de um prédio em Sydney, Austrália. Dois jornais colocaram isso como primeira página no dia seguinte, com um deles dizendo “garoto ‘achou que conseguia voar’”, em uma referência clara aos tratamentos anteriores de mortes relacionadas à LSD. Ambos os jornais indicavam que o LSD provavelmente não estava envolvido nisso, com o Sydney Morning Herald dizendo que foi ou 25B- ou 25I-NBOMe.
Antes de 2013, outras drogas tinham sido encontradas em cartelas, mas nenhuma delas ocupou tanto o mercado quanto o 25I ocupa hoje. Entre 2007 e 2010, bromo-dragonfly (um psicodélico relacionado às fenitilaminas) apareceu em cartelas, e foi notícia quando causou algumas mortes nos EUA e Europa. Mas ele só foi vendido como LSD um curto período de tempo, parcialmente devido à impopular duração de seu efeito (substancialmente mais longo que o LSD), e por seu processo de síntese ser tecnicamente difícil. DOB, DOI e DOC também apareceram em cartelas nos últimos 40 anos, mas eles nunca foram muito comuns, e devido a ser necessária uma dose maior, eles geralmente eram colocados em papéis maiores que o padrão.
Uma diferença detectável entre LSD e os compostos NBOMe encontrados em cartelas é o gosto. Cartelas de LSD genuíno ou não tem gosto ou tem um gosto levemente metálico, enquanto a maioria das pessoas descreve um amargo intenso quando colocam papéis de 25I ou 25C na boca. Isso é geralmente porque uma dose dessas contem de 5 a 10 vezes mais químico. O gosto amargo levou alguns distribuidores a adicionar sabores de menta ou frutas para NBOMe líquido e em cartelas.
25I-NBOMe e 25C-NBOMe ganharam popularidade nos últimos 3 anos devido em parte à facilidade que um único grama pode ser mandado internacionalmente. Drogas super potentes, ativas a doses de menos de um miligrama, atravessam a alfândega com mais facilidade. Uma dose (750 microgramas) é do tamanho de seis grãos pequenos de sal. O material evaporado deixado numa mancha causada por um copo no vidro pode pesar um miligrama. Um grão grande de sal pode pesar até 5 miligramas. Isso significa que uma pequena cápsula pode conter centenas de doses de um químico como 25I-NBOMe e um pacote do tamanho de uma lata de refrigerante pode conter mais de cem mil doses.
Essa rara potência alta faz com que overdoses aconteçam mais. Infelizmente, os riscos de altas doses de 25I (e talvez outros NBOMes) incluem delírios, comportamento perigoso (com alguns acidentes resultando em mortes), assim como a possibilidade de morte diretamente pelos efeitos farmacológicos. Doses perigosas podem ser tão baixas quanto 3-5 miligramas. É uma acusação poética da Guerra às Drogas que o LSD, o primeiro psicodélico sintético, demonizado por décadas e o alvo de operações policiais caríssimas, parece ser bem mais seguro que seus substitutos.

Manuseie com cuidado

Uma grande quantidade de 25I e 25C é vendida aos usuários finais como um pó puro, o que cria uma situação inerentemente perigosa. A maioria das pessoas (especialmente experimentadores de 16 a 25 anos de idade) não sabe os procedimentos de segurança necessários para manusear químicos super potentes. Pesar e manusear compostos puros super potentes como LSD e 25I-NBOMe deve ser feito utilizando proteção para os olhos, luvas e uma máscara. Mesmo assim, essas precauções raramente são seguidas.
Talvez o maior risco da disponibilidade de puro pó de NBOMe é confundir um pó branco com outro, ou simplesmente não entender a diferença entre uma droga psicodélica e uma droga estimulante ou outras. Muitas pessoas têm experiências anteriores cheirando pequenas linhas ou doses de um psicodélico ou estimulante. É um fenômeno razoavelmente novo que a mesma quantidade pequena de droga pode levar à morte. Mais de uma das mortes documentadas de 25I ou 25C foram devido a cheirar 10 vezes ou mais a dose apropriada.

Mídia dizendo que “as mortes são causadas por LSD”

Um aspecto agravante da venda de 25I e 25C como ácido é que a mídia desinformada e fontes governamentais reportaram várias mortes como sendo relacionadas à LSD. Esses relatos raramente levam em consideração que essencialmente não existem mortes causadas pelo efeito farmacológico do LSD, e geralmente não tem nenhuma menção que outras substâncias poderiam estar envolvidas.
Depois de uma morte que culparam o LSD em março de 2013, Jacob Sullum de Reason.com escreveu um artigo fazendo piada dos repórteres e promotores, e apontando que a revisão mais recente de mortes causadas por LSD na literatura (Passie ET al 2008) concluiu que houve zero mortes documentadas claramente relacionadas a uma overdose de LSD.

nbome_article1-3Na natureza

Desde 1 de julho de 2013 nosso projeto de testes EcstasyData analisou quatro amostras contendo compostos NBOMe. Erowid recebeu 314 relatos de uso de NBOMe: 5 em 2010, 35 em 2011, 148 em 2012 e 126 nos primeiros 6 meses de 2013. Bluelight, um fórum de discussão sobre drogas, tem mais de 8000 postagens contendo a palavra “NBOMe”. O mercado negro digital Silk Road tem 241 resultados para produtos NBOMe, a maior parte em cartelas, alguns “complexados” como freebase e outros como sal HCl.
Os preços do Silk Road para o pó puro de 25I, 25C e 25B-NBOMe atualmente variam de $90 a $200 o grama. As listagens mais problemáticas são vendedores com cartelas que pedem para serem revendidas como ácido: quadrados pequenos perfurados em cartelas de 100 doses com imagens do tipo a viagem de bicicleta de Albert Hoffman e o Yellow Submarine dos Beatles, junto com outras imagens do passado. Um vendedor diz “cada quadrado é do tamanho de doses de ácido, sem grandes papéis”. Outro oferece doses supostamente contendo 1 miligrama de 25I e 1 miligrama de 25B-NBOMe cada! Doses variam de 500 microgramas a 2 miligramas por dose de quadrado pequeno, com a maior parte variando em torno de 1 miligrama. No Silk Road, cartelas de LSD são de 5 a 10 vezes mais caras que as cartelas de NBOMe.

NBOMes e a lei

Os NBOMes estão começando a ser controlados legalmente. O primeiro banimento que sabemos foi na Rússia em outubro de 2011, e o segundo foi no estado da Virginia em abril de 2012. Na primeira metade de 2013, Arkansas, Flórida, Louisiana, Israel e o Reino Unido todos passaram algum tipo de controle criminoso.
Nos últimos 50 anos, foi demonstrado que criminalizar uma droga popular irá resultar em novas substâncias para substituir, e as vendas mudam de fontes legais ou semi-legais para os mercados negros. De acordo com o Relatório Mundial de Drogas de 2013, feito pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, “assim que uma substância entra pra lista de controladas, outra a substitui, dificultando então os estudos no impacto em longo prazo do efeito da substância na saúde.” A proibição de psicodélicos, empatógenos e estimulantes previamente criados levou à distribuição em massa do 25I-NBOMe. Nisso começa a questão, “o que vai proceder se controlarmos o 25I-NBOMe?”

Gosto levemente amargo do futuro

Os NBOMes são precursores das coisas que virão. Os problemas e dificuldades que eles demonstram são problemas que a atual estrutura regulatória proibicionista vai naturalmente continuar a gerar. Por exemplo, novos psicoativos em desenvolvimento são relatados como 10 vezes mais potentes, com 10.000 doses por grama.

O novo modelo da Nova Zelândia

A melhor esperança no horizonte para parar com esse ciclo recorrente de criminalização e desenvolvimento de novas drogas vem da Nova Zelândia. Um novo “Projeto de lei de Substâncias Psicoativas” foi desenvolvido por meio de uma colaboração entre o Ministério de Saúde da Nova Zelândia, agentes da lei, e Stargate International, uma organização de redução de danos que começou como um distribuidor de “baratos legais”. Se for implementada como esperado, essa lei não precedente irá criar uma estrutura em que vendedores serão permitidos de distribuir produtos contendo substâncias ainda não controladas e usadas recreativamente, para aqueles com 18 anos de idade ou mais. Será exigido que os vendedores paguem uma taxa inicial de registro, demonstrem a segurança básica de seus produtos e monitorarem reações adversas após o início das vendas.

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25I-NBOMe a venda na Silk Road

Como Matt Bowden (fundador da Stargate International) descreveu no início de 2012, enquanto esse projeto de lei estava sendo escrito, medicamentos com a intenção de tratar uma doença devem atender um padrão maior que esses baratos legais: eles devem mostrar que são tanto seguros quanto efetivos ao tratamento de certa doença. Para as drogas “sociais”, a definição de efetivo é simplesmente se as pessoas gostam de tomar a droga, essencialmente eliminando o passo custoso de provar efetividade. As primeiras drogas a serem aprovadas por esse novo projeto de lei terão que ser mais seguras que outras drogas usadas recreativamente (um padrão substancialmente mais baixo para a “segurança” do que é requerido para medicamentos comprados sem receita). O custo do teste para demonstrar o nível de segurança de cada droga é em torno de um milhão de dólares.
Esse modelo está chamando atenção de outros países também. Um relatório do Conselho de Oficiais de Saúde da Columbia Britânica (Canadá), Perspectivas de Saúde Pública para Regulamentar Substâncias Psicoativas, discute a direção que a Nova Zelândia está tomando e nota “proibir uma substância manda a mensagem de desaprovação social do uso, […] mas o valor de usar a proibição para mandar uma mensagem de dissuadir o uso deve ser comparado com as consequências prejudiciais de se implementar a proibição, e a utilidade de outros métodos que sejam menos prejudiciais ao individuo que a criminalização.”
Tudo indica que o Projeto de Lei de Substâncias Psicoativas da Nova Zelândia será aprovado entre meio e fim de 2013, após o qual serão finalizadas as regulações específicas. Alguns dos críticos mais cínicos da Guerra as Drogas expressão dúvidas que isso vai representar real mudança, mas nós do centro Erowid nos mantemos esperançosos, com a visão que essa é a reforma na política de drogas mais emocionante e progressiva acontecendo no mundo.

Referências

  1. Passie T, Halpern JH, Stichtenoth DO, et al. “The Pharmacology of Lysergic Acid Diethylamide: A Review“. CNS Neurosci Ther. 2008;14(4):295-314.

Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaboradora Raphaela Lancellotti.
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Nós não podemos erradicar as drogas, mas podemos fazer que as pessoas parem de morrer por causa delas

Há algo muito especial sobre as drogas ilícitas. Se elas nem sempre fazem o usuário se comportar irracionalmente, elas certamente fazem muitos não-usuários se comportarem dessa maneira. – Leister Grinspoon, Professor de Psiquiatria em Harvard.

O Jornal Four Corner da noite passada focou nas drogas usadas em festas e nas políticas que a Austrália está implementando para combater seu uso. Não só o que estamos fazendo não funciona, como nós(EUA) estamos ficando para trás do resto do mundo e as evidências mostram que é melhor assegurar que tenhamos menos mortes devido ao uso de drogas ilícitas.

Voltando algumas décadas nas atitudes globais, drogas eram ruins, usuários eram maus e as mortes dos consumidores eram a prova do perigo inerente das drogas e um inevitável resultado das pessoas insistirem em violar a lei.

Agora, se nós observarmos as políticas de drogas de outros países, Cannabis medicinal e recreacional tem sido aceitas, tanto como salas seguras de injeção e uso.

A união europeia continua a desenvolver programas de testes de drogas (onde drogas recreativas são testadas em relação a seus efeitos em festivais de música eletronica e outros ambientes onde são consumidas). Em abril, a sessão especial da Assembleia Geral da ONU considerou descriminalizar o uso pessoal de drogas.

Enquanto isso, Austrália continua trabalhando com ideais punitivas e proibicionistas, apesar das mudanças no resto do mundo. Quer seja com uso de cães farejadores em festivais (o que se mostra ineficaz em detectar traficantes), ou testes de drogas em beira de estrada (para os quais não há evidência de prevenção de acidentes), nós parecemos felizes em adotar intervenções que tenham poucas comprovações em detrimento das que as possuem.

A mudança mais fundamental na política de drogas mundial foi de mudar o foco do moralismo em relação ao uso para manter os jovens seguros. Mais pessoas estão começando a aceitar que jamais estaremos “livre de drogas”. Uma década depois, a especialista em política de drogas Marsha Rosenbaum em “Segurança em Primeiro Lugar” ensina aos pais substituir “Apenas diga não” (just say no) por “apenas diga que sabe” (just say know).

A guerra mundial contra as drogas

Embora muitos tenham sido convencidos de que seria uma questão de saúde pública, o início da guerra às drogas foi amplamente ideológico. Isso ficou muito claro tanto na Austrália como no resto do mundo.

Cães farejadores de drogas em festivais são ineficazes e potencialmente perigoso. Então, por que ainda insistem em seu uso? Tracey Nearmy / AAP
Cães farejadores em festivais são ineficazes e potencialmente perigoso. Então, por que ainda insistem em seu uso? Tracey Nearmy / AAP

A comissão nacional para o abuso de Maconha e Drogas, também conhecida como o Relatório Shafer de 1972, foi abandonada pois concluiu que havia “poucas provas de dano físico ou psicológico devido à experimentação ou uso intermitente de preparações naturais de Cannabis”. Isso não era o que o presidente Nixon queria ouvir.

Quando o MDMA foi proibido, o professor de psiquiatria da Universidade de Harvard argumentou com sucesso que teria utilidade como um medicamento, até que o presidente Ronald Reagan forçou a proibição por uma ação executiva. E então a política continuou a prevalecer sobre a ciência.

Desde que a guerra às drogas começou, o mercado inteiro mudou. Drogas agora são procuradas pela internet, encomendada de químicos industriais produzindo com pureza farmacêutica, pagas usando criptomoedas e entregues pelo correio. As mais novas nunca são identificadas nem por cães nem por testes toxicológicos de rotina.

Isso não quer dizer que o mercado seja seguro – longe disso. Mas drogas são atualmente mais fáceis de obter e muitas não podem ser detectadas.

Porque não mudamos?

Há alguma sugestão que em New South Wales (Austrália), ao menos, todo capital político que existia para ser gasto já foi utilizado para a maconha medicinal, então não há motivos para abrir um outro front no combate a “guerra às drogas”.

Mais precisamente, políticos australianos estão temerosos pelas suas carreiras – eles temem que uma guinada perceptível na política de drogas possa levantar questões sobre sua capacidade de julgamento.

Entretanto, com significantes mudanças provavelmente emergindo da sessão especial da Assembleia Geral da ONU sobre drogas de abril de 2016, questões difíceis serão provavelmente feitas àqueles que historicamente perseguiram, contra toda evidência em contrário, a guerra mundial contra as drogas.

A mais provável e desapontadora razão para os políticos australianos estarem envergonhados em fazer qualquer debate sobre a política de drogas é o “custo afundado” da ordem de vários bilhões de dólares da guerra contra as drogas. Tanto foi gasto na atual e falida abordagem que eles são pressionados a manter o status quo, independente das evidências.

Cães farejadores em festivais – o que o Ombudsman de New South Wales classificou como desperdício de dinheiro e mesmo potencialmente perigoso – custam em torno de um milhão de dólares australianos por ano em cada jurisdição. Com essa quantidade de dinheiro, dez programas de checagem de drogas podem ser implantados na Austrália dentro de semanas obtendo muito mais efeito que o já observado com cães farejadores.

Se nossos políticos desejam continuar com uma pequena credibilidade em política de drogas, agora seria um excelente e politicamente recompensador momento para começar a escutar as evidencias.

FONTE


Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaborador Antonio Dias.
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Testando as substâncias encontradas em um festival

Escrito por Michael Segalov

Aterrizando na Ilha de Wight, peguei um táxi com mais dois caras de Londres. Íamos todos para o Bestival, o último grande festival britânico do verão, e meus colegas que cada um tinham tomado umas pílulas antes de cruzar o Solent (um estreito que separa Wight da Grã-Bretanha) estavam ansiosos.

“Ainda temos mais um monte sobrando”, me disse com orgulho um deles. “Vou esconder os comprimidos no meio das bolas. Faço isso todo ano. Funciona que é uma beleza.”

Chegando no festival numa sexta-feira, um dia depois de ter começado, e próximo dos portões, passei pelos “amnesty bins” , umas latas parecidas com essas de lixo onde as pessoas deveriam jogar suas drogas e não sofreriam penalidades legais. A maioria deles estavam vazios, ou cheios de papelão. Claramente, aqueles que planejavam esgotar suas reservas de serotonina durante o fim de semana estavam dispostos a se arriscar ao passar pelos seguranças que olhavam as bolsas e pelos cães farejadores.

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Eu também estava interessado naquilo que as pessoas estavam trazendo amarrados aos genitais, mas não pela mesma razão que os policiais e seguranças postos à entrada. Eu trouxe comigo vários kits de testar drogas, que te permitem medir a pureza dos narcóticos e ver com o que mais eles estão misturados. Qual a razão: eu queria descobrir exatamente o que os jovens estão colocando em seus organismos frenéticos durante os festivais de música britânicos, e se eles se importam que as drogas estejam cheias de outros agente químicos que são usados até como vermicidas em bois.

Depois de armar minha barraca, fui em direção aos acampamentos, pronto para convencer estranhos de ressaca a me dar um pouco das drogas que estavam usando para que eu pudesse estragá-las colocando dentro de um tubo de teste.

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“Você é um policial?” era a maioria das respostas que me davam. “Porque se for, pode dar o fora.”

“Não, não sou policial,” o que convencia – de uma forma surpreendentemente fácil – as pessoas de que eu era confiável; que eu não iria os algemar e confiscar todas as drogas que eles tinham conseguido depois de uma semana no Whatsapp procurando por um traficante e convencê-lo a te encontrar no estacionamento de um supermercado.

Cocaína não parecia muito popular, sendo encontrada com apenas seis grupos dos 35 abordados. Três das amostras eram de Londres, e todas eram exatamente da qualidade que eu esperava – isto é, não muito boa, uma vez que a coca encontrada em Londres é quase nunca de alta qualidade. Cada amostra indicava “conteúdo médio de cocaína”, o que, de acordo com os especialistas que desenharam os testes, corresponde a cerca de 40% de pureza.

Na maioria das amostras, a cocaína estava misturada com benzocaína, uma droga farmacêutica usada para anestesia dental e sprays de garganta. É regularmente misturada com a cocaína porque deixa a gengiva dormente, o que, de acordo com o que se vê na televisão, é um bom sinal de que o produto que você adquiriu é de alta qualidade.

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Um cara que olhou o resultado de sua cocaína ficou desagradavelmente surpreso quando viu sua amostra ficar verde, o que indica a presença de Levamisol na farinha que ele tinha comprado por 120 libras a grama. Em 2014, um ministro alegou que ate 80% da cocaína no Reino Unido era misturada com remédio usados na veterinária como vermicida para cavalos e vacas. Os produtores da América Latina o utilizam para aumentar o volume da sua produção porque é mais barato e apresenta efeitos semelhantes quando usados em humanos. O problema é que o medicamento também inibe a nossa produção de leucócitos e faz com que nossa pele apodreça.

“Eu compro desse traficante já fazem meses, e se eu tivesse testado essa merda antes nunca teria chegado perto de novo”, disse o cara da cocaína com Levamisol. “Provavelmente ainda vou usar mais esse fim de semana porque já trouxe, mas assim que eu voltar, vou procurar por algo novo.”

Encontrar outras amostras de cocaína com baixa pureza é bastante comum não só na Ilha de Wight mas em toda a região fora da capital Londres; os outros testes mostraram baixo teor de cocaína e níveis substanciais de lidocaína, que assim como a benzocaína, causa dormência na pele e gengiva. Benzocaína e lidocaína podem ser compradas por 15 libras o quilo, e revendidas a valores que chegam a 77 mil libras quando vendidas como cocaína – o que desperta o interesse dos traficantes.

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Quando testei as pílulas, queria saber se elas eram puro ecstasy ou se tinham algum outro composto químico. Três grupos de Brighton apareceram com uns comprimidos amarelos bem coloridos, e que ficaram roxos no tubo de teste, confirmando altos níveis de ecstasy. Duas amostras de Manchester também pareciam estar limpas.

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Todos estes gostaram da ideia de que tivesse alguém verificando a qualidade de suas drogas.

Mas nem todo mundo foi assim.

Um tal de Harry de Catford conseguiu uns comprimidos tarde da noite anterior. “Peguei dum cara na Big Top [uma barraca] noite passada enquanto Action Bronson fumava um baseado no palco,” ele me disse.

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Pelo preço de 30 libras, suas pílulas tinham o preço mais salgado o que levava a pensar que eram de alta qualidade, mas depois ele tomou uma e disse que não teve efeito nenhum. Depois de vários testes (testei cada amostra do fim de semana três vezes para ter certeza de que estava tendo resultados precisos; só essa, testei seis vezes) e uma visita à farmácia, concluímos que metade era um Rennie sabor laranja, uma espécie de Estomasil da Inglaterra e que nunca fez ninguém abraçar loucamente um desconhecido declarando amor pelo cosmos.

“Para ser honesto, tinha um pouco de gosto de Rennie” admitiu Harry, antes de seguir caminho rumo à multidão na tentativa de revender seu produto.

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Um outro comprimido que mostrou uma mistura de ecstasy e DXM (dextrometorfano), o que é um pouco preocupante – DXM é uma substância encontrada em xarope para gripe e que, em altas doses, podem te deixar um pouco mais exaltado, e que quando misturado com ecstasy em uma noite de agito podem te deixar propensos a um ataque cardíaco.

“Para ser honesto, eu certamente não tomarei isso”, disse Sarah de Portsmouth, cujo teste deu positivo para ecstasy e o que pareceu ser traços de PMA – um químico que pode ser responsável por mais de 100 mortes no Reino Unido, três delas no começo deste ano. PMA é bem mais forte, e bem mais tóxico que o composto MDMA (a molécula que você teoricamente encontra no ecstasy), já provado letal em doses baixas. Outro problema é que o PMA pode demorar a bater, o que significa que as pessoas geralmente tomam outra pílula antes de sentir os efeitos da primeira, aumentando o perigo.

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Tendo testado 15 amostras ao redor do Reino Unido, a pureza da maioria do MDMA em pó foi alta. Dois grupos vindos de Wales traziam baixo nível de MDMA, mas nenhum dos testes conseguiu detectar o que mais estava misturado ali.

A amostra de Alice que veio de Cornwall não mostrou nenhum traço de MDMA. “Estou um pouco preocupada agora,” ela disse enquanto olhava que o líquido teste não indicava sua droga. “Tomei meio grama disso noite passada e eu senti algo, mas agora não tenho a menor ideia de que porra estou tomando.”

Ao contrário de algumas pessoas com quem conversamos, Alice conhecia bem seu traficante, então ela tirou seu celular do bolso e começou a mandar vários snapchats brava.

Havia anfetaminas numa amostra de MDMA, o que aparentemente fez o dono “reconsiderar” se tomaria ou não – apesar dele não parecer tão convincente.

Planejei testar também cetaminas enquanto estava lá, mas somente duas pessoas que abordei admitiram ter um pouco da droga. Será que os frequentadores do Bestival estavam com vergonha de admitir que ainda tomavam isso? Ou talvez a seca de cetamina de 2014 ainda afeta a disponibilidade de 2015? Ou será que o pessoal que tinha trazido estava ocupado demais usando dentro de suas barracas?

Nunca saberei. No entanto, um coisa que sei é que as duas amostras que testei pareceram não reagir, o que pode significar que elas eram 100% puras ou eram apenas giz moído. Ou que os testes não estavam funcionando. Ou que eu não fiz o teste corretamente. Explicando de forma detalhada e resumida: O teste para cetamina foi um fiasco.

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Enquanto forneciam alguma ideia sobre que tipo de drogas as pessoas estavam tomando, meus testes não podem ser encarados de maneira geral, e estes kits que usei são apenas o início; máquinas que custam uma fortuna podem ser usadas para descobrir exatamente o que está em cada composto. De fato, o doutor Adam Winstock do Global Drug Survey argumenta que estes testes caseiros como o que eu estava usando, não são adequados para uma leitura totalmente precisa. “Existem grandes limitações sobre o que ele pode lhe dizer,” ele disse .

Deveriam então os festivais estarem fazendo mais para que os testes acontecessem, providenciando locais específicos para que as pessoas se certificassem de que aquilo que tomam é seguro?

Nick Jones, o diretor do EZTest – a empresa que nos forneceu os kits – sugere que o que ele e outros podem fazer sobre isso ainda é uma área complicada. “Eles poderiam estar disponíveis muito mais rapidamente, mas não investimos tanto com medo que isso nos coloque em risco,” me falou pelo telefone. Disse também que vender testes que explicitamente minimizam os riscos podem ser “considerados como contrários à lei.”


Quando perguntei a Jones o por quê deles não fazerem testes nos festivais do Reino Unido, ele disse que as pessoas não querem perder suas licenças e que conversas tidas com as autoridades locais e a polícia levaram os organizadores a dar um passo atrás. “Ao admitir que se tem um local que se testam drogas, estamos admitindo que temos drogas no festival, o que incomoda a polícia e demais dirigentes,” ele me disse.

É claro que independente do que agrada a polícia ou as autoridades, sempre existiu esse empecilho das drogas e sempre existirá – as pessoas continuarão colocando químicos nos seus organismos que os fazem sentir estranhos, vibrantes ou cheios de amor. E elas vão continuar fazendo isso em festivais em todo o Reino Unido, assim como têm feito há décadas. E sem a existência de algum método de prevenção de danos no lugar, algumas pessoas irão passar por momentos difíceis.

Este ano no Kendal Calling – um festival de três dias para 12 mil pessoas em Lake District – um jovem de 18 anos morreu depois de ter tomado umas pílulas duvidosas. O mesmo lote deixou oito pessoas hospitalizadas. No total, só testamos 22 amostras diferentes, o que corresponde à droga ingerida por 100 participantes do Bestival. Mas mesmo neste número pequeno encontramos resultados alarmantes.

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Os kits podem ser comprados de forma direta e legal pela internet por poucas libras. Eles podem até mesmo salvar vidas, e eu encorajo todos os aqueles que consomem alguma droga a adquiri-los antes de engolirem um punhado de comprimidos misteriosos de uma vez.

Mas algo também precisa ser feito pelos organizadores, seguindo o exemplo duma boate em Manchester no chamado Warehouse Project realizado dois anos atrás, que permitia com que os frequentadores passassem com suas drogas pela segurança para que fossem realizados testes de pureza por profissionais. O fato é que a atitude tomada atualmente pelas autoridades responsáveis são o exemplo da ineficiência do controle de drogas no Reino Unido: fazer as pessoas terem medo de falar sobre drogas; fingir que não sabem do assunto; e não fazer nada para apoiar e proteger as pessoas dos potenciais danos ao ingeri-las.

As pessoas com quem conversei se mostraram agradecidas por saberem o que estavam tomando. Alguns jogaram suas compras fora, e sim, alguns usaram de qualquer jeito, mas pelo menos agora eles sabiam o que estavam fazendo e estavam em condições de tomar decisões com embasamento.

Aprendi algumas coisas este ano no Bestival. Os festivais britânicos precisam reconsiderar sua abordagem ao teste de drogas e seguir o exemplo de alguns festivais americanos, os quais já permitem que este tipo de teste. Empresas como a EZTest também precisam saber que não serão processadas por distribuírem kits como este, umas vez que pode prevenir certas mortes.

E não, nunca compre nada de um maluco numa barraca qualquer às três da manhã a menos que esteja com sérios problemas de má digestão.

FONTE VICE

Agradecemos imensamente a tradução feita pelo colaborador Pedro Reis.
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Assista abaixo um ótimo documentário sobre festivais e testagem de drogas.
(ainda sem legenda, estamos trabalhando nisso)

COMO CULTIVAR COGUMELOS MÁGICOS

Se você já está nesta jornada dos enteógenos, tenho certeza que este programa de aulas irá lhe agradar. Aprenda a cultivar Cogumelos Mágicos com itens simples que você já tem em casa. O programa todo está em português, e aborda a mais simples das técnicas de cultivo, do inicio ao fim.

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A  missão deste canal é espalhar conhecimento, conscientização sobre a medicina dos cogumelos sagrados e seus potenciais terapêuticos. Fica claro que o maior perigo em relação a estes cogumelos é a desinformação!
A intenção é iluminar o caminho de quem já está nessa jornada até a psilocibina.

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Guia de Caça e Identificação – Psilocybe cubensis

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Cogumelos Mágicos? Cogumelos Venenosos? Brisa? Droga?

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Na verdade estes cogumelos são realmente mágicos, e em muitas culturas ritualísticos, por serem portadores de Psilocibina. Estes cogumelos tem um histórico de uso xamânico e ritual de cerca de 9 mil anos, pelos povos da América Central. Com o passar do tempo e devido a nossa atual política de drogas, este conhecimento foi ficando difuso e rodeado de preconceitos quase ao ponto de o perdermos, e hoje este assunto virou uma espécie de lenda urbana, ficando de lado na sociedade. Esse fator acabou se tornando perigoso, pois os cogumelos são muito poderosos e devem ser lidados com cuidado e muito conhecimento. Se você é um curioso ou já estava procurando eles, você está no lugar certo. Este guia tem como exclusiva intenção a educação. Ensinar o público qual cogumelo coletar, quando, e o quanto ingerir para evitar enganos ou acidentes.

 

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Durante todo o guia iremos introduzí-lo a termos e nomes usados no meio dos estudos dos fungos, para melhor entendimento e aprendizado. Não saia à caça antes de ler completamente este guia! Isto é muito importante, tenha paciência, a sua saúde depende dos seus estudos aqui iniciados.
Iremos nos aprofundar no cogumelo do gênero Psilocybe e a da espécie cubensis, ou mais
conhecido como Psilocybe cubensis. Antigamente também conhecido: Stropharia cubensis.
Fique a vontade para imprimir e compartilhar este guia.

 

 

 

 

 

De caráter apenas informativo, este material vem para sanar dúvidas e educar os interessados no assunto. Não estamos incentivando o abuso de drogas, pelo contrário, nossa intenção é conscientizar e informar.
O idealizador deste guia ou os membros dos fóruns de forma alguma incentivam o consumo de cogumelos sem prévio estudo e plena consciência do que se está fazendo. Todas as suas decisões após a leitura desse conteúdo, são sua responsabilidade. Novamente, este material é apenas educacional, para aprendizado e redução de danos. Todo o conhecimento aqui apresentado é resultado da combinação da experiência dos usuários do fórum:

www.cogumelosmagicos.org

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No Brasil, a Psilocibina e a Psilocina são substâncias controladas. No entanto, o cogumelo Psilocybe cubensis não é proibido no Brasil. Logo, a posse de Psilocibina ou Psilocina na forma extraída ou pura é crime, mas o porte e o cultivo de Psilocybe cubensis ou In Natura, não. Mas todo cuidado é pouco, o aprofundamento neste tema e requer comprometimento, maturidade, respeito e zelo.

Podemos muito bem sofrer algum acidente, que chame atenção da mídia, e logo esta lei pode ser alterada. E este guia trabalha para isso, educar quem está a procura desta experiência e clarear o caminho da melhor forma possível. Cuide bem deste conhecimento, o uso responsável, consciente e sagrado é a chave para conservarmos este bem cultural. Hoje, após dezenas de estudos clínicos, a psilocibina está sendo introduzida oficialmente como ferramenta no processo de psicoterapia. Devemos cuidar dos avanços já alcançados, para não darmos nenhum passo para trás.

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Quais são os riscos dos psicodélicos? Coisas a considerar antes de uma experiência psicodélica

Os perigos dos psicodélicos são com frequência  exagerados, mas essas substâncias expansoras da mente podem apresentar problemas se utilizadas sem cautela.
Os perigos dos psicodélicos são com frequência  exagerados, mas essas substâncias expansoras da mente podem apresentar problemas se utilizadas sem cautela. Imagem: Dima Yastronaut – Balance

Psicodélicos possuem muito a oferecer à humanidade, e tem sido utilizados por milênios por culturas ao redor do mundo exatamente por esse motivo. Como toda medicina poderosa, entretanto, essas plantas e químicos expansores da mente nunca devem ser utilizados levianamente, e a aproximação não deve ser feita sem muita pesquisa e cuidado. Ambos os efeitos de cura e perigos potenciais dos psicodélicos não devem nunca ser subestimados, mas como iremos ver, (e ao contrário da concepção de muitas pessoas) os perigos com frequência não estão associados com os psicodélicos por si próprios.

Drogas Impostoras

Provavelmente o maior perigo para alguém que está tomando psicodélicos é, em um ambiente não-médico, ouvir de alguém que uma certa substância é “ácido”, “ecstasy”, quando de fato é algo totalmente diferente. Infelizmente, a ocorrência desse tipo de situação está aumentando, pois traficantes de rua tendem a tentar popularizar seu produto sob um nome popular, quando de fato o que é vendido são research chemicals que oferecem efeitos mais fortes em relação ao seu preço se comparados com os psicodélicos em sua forma pura. Substâncias não psicodélicas que são vendidas como tais incluem heroína, metanfetaminas, e até mesmo sais de banho (metilona e derivados). Essa tendência perturbadora ilustra as consequências mortais que o paradigma da proibição impõe e destaca a importância vital das práticas de redução de danos.

Considerações para desordens mentais não-diagnosticadas

Uma das parábolas mais antigas em relação aos psicodélicos é que consumi-los com frequência irá enlouquecê-lo – não por apenas algumas horas, mas para sempre. Como parte da campanha de pânico levantada contra os psicodélicos na década de 70 e 80, essa história era acreditada por muitas pessoas devido ao clima antagonista sócio-político que a guerra às drogas criou, mas na verdade essa é apenas uma falácia. Inúmeros estudos científicos têm sido feitos com psicodélicos, desde a psilocibina ao DMT e ao Peiote, e foi descoberto que psicodélicos não prejudicam o cérebro sob uso normal e controlado. A única ponta de verdade nessa história é que em uma fração muito pequena de casos, algumas pessoas que foram diagnosticadas como portadoras de distúrbios mentais ou com uma forte predisposição genética à esses distúrbios podem ter tido suas desordens desencadeadas mais cedo pelo psicodélico. E, claramente, não é necessário mencionar que altas dosagens de qualquer substância, legal ou ilegal, podem apresentar perigos reais, que o uso racional não apresenta.

Interações prejudiciais

Enquanto a maior parte dos psicodélicos são relativamente seguros por si mesmos, alguns prejudicam mais o corpo do que outros, e alguns interagem de maneira prejudicial com outras drogas. É por isso que centros de tratamento psicodélico ao redor do mundo requerem uma análise médica prévia. Os indivíduos devem sempre realizar pesquisas por si mesmos, mas alguns exemplos de fatores de risco que devem ser considerados incluem problemas cardíacos com o tratamento com ibogaína, antidepressivos com a ayahuasca, e dextromethorphan (DXM) com MDMA. Pessoas em qualquer tipo de tratamento devem realizar pesquisa extensiva antes de considerar qualquer tipo de experiência psicodélica.

Assegurando que os psicodélicos gerem mais benefícios do que prejuízos

“Bad trips”, ou viagens ruins com psicodélicos podem deixar as pessoas estressadas, mas elas podem ser reduzidas ou até mesmo transformadas em catarses de auto-transformação com set e setting apropriados. Isso significa que as intenções de uma pessoa que está buscando uma experiência psicodélica, combinadas com suas estruturas físicas e sociais, além da rede de apoio e suporte, tem um papel essencial em ajudar os indivíduos a transformar sua experiência em uma jornada psicodélica de aprendizado e enriquecimento pessoal.

Dito isso, se essas condições de suporte vitais são desfavoráveis, ou se uma pessoa não está preparada para enfrentar face a face seus sentimentos, traumas e padrões de comportamento mais profundos, ela pode se sentir oprimida e resistir à experiência, criando uma viagem desconfortável e muitas vezes assustadora, que nega os insights reveladores que os psicodélicos oferecem. A importância do set e setting e do suporte à experiência é a razão pela qual grupos como o Projeto Zendo existem e fornecem esse tipo de serviços a pessoas que estão passando por uma experiência desafiadora em festivais. Seja em um festival ou durante uma sessão de terapia psicodélica, o suporte humano é um componente essencial para assegurar a segurança física e emocional do indivíduo. Leia mais sobre redução de danos na experiência psicodélica aqui.

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