“BAD TRIPS” podem ser as Melhores Trips – Walter Clark

 

MundoCogumelo de volta ao ar, e para marcar nosso retorno, escolhemos um artigo de 1976 de Walter Houston Clark que ilustra uma questão que vem sendo pouco debatida com a profundidade necessária. A Bad Trip, e se ela deveria ser evitada, contornada ou apreciada com a atenção que doamos a todo professor que algo possa nos ensinar.

Tendo em vista algumas abordagens perigosas de reducionismo químico, em sites e páginas de ufanismo farmacológico, que contrariam a psicologia, a redução de danos e negam a própria experiência humana enquadrando como meros desequilíbrios químicos as profundas questões psicológicas que envolvem as experiencias mais difíceis, conhecidas popularmente como “bad trips”, este artigo nos leva a debater essas experiências como momentos-chave de uma reestruturação pessoal, psicológica e social das mais impactantes que podemos alcançar. Apesar de antigo, o texto não é obsoleto e remonta, com todas as ressalvas que o tempo trouxe de atualizações, uma questão profunda e muitas vezes negligenciada.


 

“BAD TRIPS” podem ser as Melhores Trips
Walter Houston Clark
Revista FATE, Abril de 1976

Uma mistura única de análise freudiana e xamanismo mexicano
pode representar um avanço para a psicoterapia.

 

Quase um século se passou desde que Sigmund Freud revolucionou nossa compreensão das doenças mentais e seu tratamento. Muitos pensadores importantes – como Carl Jung – foram consideravelmente além de Freud ao canalizar as profundezas da psique humana. Mas nenhuma das inúmeras técnicas psicoterapêuticas desenvolvidas durante essas décadas de pesquisa conseguiu cumprir completamente sua promessa teórica em termos de resultados práticos. A psicoterapia para a maioria das pessoas continua sendo um empreendimento duvidoso, arriscado e caro.

Um médico mexicano pouco conhecido desenvolveu uma técnica que chega tão perto de cumprir sua promessa quanto qualquer outra com a qual eu esteja familiarizado. Combina várias formas de psicoterapia ocidental com a sabedoria dos xamãs indígenas mexicanos. Essas abordagens foram combinadas com a genialidade do Dr. Salvador Roquet, um eminente médico mexicano de saúde pública cujas realizações incluem banir a febre amarela do México. As responsabilidades do Dr. Roquet o colocaram em contato com os índios mexicanos e, consequentemente, com suas abordagens incomuns em relação à saúde, incluindo o uso de plantas alucinógenas para pesquisar a alma, a fim de curar a mente.

Quando o Dr. Roquet soube do meu interesse no uso de drogas psicodélicas para a reabilitação de prisioneiros, ele me convidou para a Cidade do México para investigar sua técnica. No início de 1974, visitei o “Instituto de Psicosintesis Robert S. Hartman”, nome de sua clínica na Cidade do México. O Instituto é um dos três ramos da Associação Albert Schweitzer; os outros são uma missão médica para indígenas e uma escola baseada nos desdobramentos psicológicos descobertos pelo Dr. Roquet em seu trabalho psiquiátrico. O Dr. Roquet me convenceu de que a melhor maneira de observar sua técnica era participar pessoalmente das sessões. Dessa forma, acredito que a melhor introdução à sua psicoterapia altamente original é relacionar minhas próprias experiências com ela.

Me dirigi ao Instituto às 22h em uma noite de fevereiro, junto com vários outros pacientes. Recebemos um teste psicológico chamado “Questionário de Valores Hartman”. Depois disso, mais pacientes chegaram e nos reunimos em uma sala adjacente para nos familiarizarmos entre si. Como não sei falar espanhol, me senti um pouco isolado até que um dos participantes me pediu em inglês para dizer algo sobre mim. Enquanto ele traduzia minhas observações para os outros, senti-me mais à vontade e mais um membro do grupo. Eventualmente, havia cerca de 25 de nós.

Entre meia-noite e uma hora da manhã, fomos levados a uma sala com menos de 30 por 40 pés. Cerca de 1.000 pés quadrados foram reservados como área de tratamento para os pacientes. Durante as próximas 20 horas, nenhum paciente teve permissão para deixar a área de tratamento, exceto para ir ao banheiro adjacente. Um espaço de 10 por 30 pés alocado para o corpo médico e equipamentos eletrônicos foi dividido da área de tratamento por uma mesa na qual o Dr. Roquet, sua equipe e alguns observadores estavam sentados. Seus casacos brancos os distinguiam dos pacientes. As paredes estavam cobertas com quadros bizarros pintados por ex-pacientes e imagens de Freud, Gandhi e o ex-presidente chileno Salvador Allende, além de um crucifixo pendurado em uma parede.

Após um breve período de exercícios semelhantes à ioga, cada um de nós foi autorizado a selecionar uma esteira como uma espécie de base para o período do tratamento. Os pacientes se deitaram e uma música repousante foi ligada. Logo depois, as luzes foram apagadas e uma série de filmes sonoros foi exibida. Eram cenas de violência, morte e pornografia grosseira, aparentemente projetadas para chocar e perturbar a sensibilidade do paciente comum. Em contrapartida, na sequencia exibiram outras cenas que refletiam beleza natural, amor, ternura e afins, de modo que toda a paixão e experiência humanas fossem representadas. Em outras partes da sala, imagens paradas com temas semelhantes foram projetadas contra as paredes. Coforme esse show de variedades continuava, a música aumentou gradualmente em volume e cacofonia. Os pacientes podiam assistir as cenas ou não como quisessem, mas era difícil ignorar o ataque aos nossos ouvidos. No entanto, a equipe nos impediu de adormecer.

Durante esse período, um paciente após o outro foi chamado à mesa, pesado e examinado por um médico. O médico que me examinou observou que meu coração estava forte o suficiente para o tratamento, mas que eu não deveria abusar. A altitude da Cidade do México me trouxe de volta uma irregularidade cardíaca que estava sob controle antes de eu deixar os Estados Unidos. Esta notícia, acentuada por algumas das cenas do vídeo, ajudou a transformar meus pensamentos em morte e problemas associados. Os outros pacientes pareciam igualmente perturbados.

Por volta das quatro ou cinco horas, a equipe começou a administrar as substâncias psicodélicas, a droga e a dosagem foram personalizadas para cada paciente. (Meu relógio havia sido retirado de mim, para que meu senso de tempo fosse desorientado.) Minha própria vez chegou no que julguei que eram cerca de seis horas e recebi 250 microgramas de LSD-25. Logo após todas as dosagens terem sido administradas, a sobrecarga sensorial atingiu seu pico. A música cacofônica e uma alternância de luzes brilhantes e escuridão total pontuada por estranhos efeitos neon criaram uma atmosfera extremamente estranha.

A essa altura, a sala começou a se assemelhar a um poço de cobras do século XIX ou mesmo a uma confusão do século XVIII. Muitos de nós chorávamos, outros rolavam no chão e gritavam angustiados, outros vomitavam, alguns olhavam para o espaço e outros ainda faziam movimentos hostis em direção ao equipamento eletrônico. Às vezes, eu tinha medo de que alguns pacientes pudessem atacar o Dr. Roquet, sentado impassivelmente, dirigindo os efeitos da experimentação responsável por essa violência e perturbação.

Eu próprio fiquei possuído por uma noção confusa de que as pessoas de jaleco branco eram atormentadores deliberados nomeados pela Inquisição para me tirar da razão. Todos pareciam tão imperturbáveis com a confusão que estavam criando que eu andei até a mesa e os denunciei violentamente por sua presunção, um ato dificilmente característico no meu estado mental normal. Com minha rápida alternância entre preocupações com a aproximação da morte, a ansiedade que me assustava sobre a experimentação com psicodélicos e a angústia por muitas coisas que pretendia, mas deixei de fazer, toda a experiência pode ser descrita como uma descida ao inferno. Eu mal conseguia distinguir o que era externo do que era interno.

No final desta fase do tratamento, a música e outros estímulos sensoriais foram diminuídos ou desligados e as luzes acesas. Referindo-se a registros individuais quando necessário, o Dr. Roquet convocou vários pacientes à mesa em sucessão e os questionou sobre seus problemas e experiências enquanto o resto de nós ouvia. Os tradutores interpretaram as várias línguas para os outros pacientes. Alguns pacientes foram convidados a ler passagens curtas apropriadas para seus problemas, talvez algo pessoal ou talvez escolhido pelos médicos, geralmente com expressões de angústia pungente. Uma jovem leu uma passagem do romance de Flaubert, Madame Bovary, que lhe externou uma identificação dolorosa com a personalidade de Emma, descrita no romance.

Durante esta fase do tratamento, certos indivíduos receberam uma injeção de cloridrato de ketamina, uma nova e poderosa droga usada pelo Dr. Roquet. Seus efeitos variavam com pessoas diferentes, mas geralmente produzia uma ab-reação¹ violenta. Um jovem que recebeu a injeção estava dando seu relato quando, de repente, caiu no chão em uma demonstração violenta de angústia e terror, vomitando e se contorcendo em tormento.

¹ ab-reação

PSICOLOGIA

descarga emocional pela qual um indivíduo se liberta do afeto que acompanha a recordação de um acontecimento traumático [Pode ser provocada, por exemplo, por hipnose, ou ocorrer de forma espontânea no decorrer do processo psicoterápico.].

Nesse momento, dois funcionários com sacolas e toalhas vieram em seu auxílio, demonstrando infinita gentileza e compaixão. Essa cena me impressionou com tanta força quanto minha convicção anterior de que os funcionários eram perseguidores. Percebi que toda a provação havia sido fabricada para o benefício dos pacientes e que o que parecia um inferno tinha se convertido em um paraíso. Essa percepção chamou minha atenção para os aspectos positivos do tratamento e me ajudou a voltar à normalidade.

Depois de mais ou menos uma hora, esta fase do tratamento terminou, as luzes foram apagadas novamente, música suave voltou a ser tocada e fomos convidados a descansar por várias horas. No final deste período, as janelas foram abertas, deixando entrar a luz do sol. Não tínhamos permissão para sair da sala, mas fomos convidados a nos exercitar e nos expressar dançando, se quiséssemos. A essa altura, senti-me intensamente sensível aos meus colegas e grato aos funcionários. Como não conseguia me comunicar na língua deles, me vi expressando meus sentimentos na dança improvisada.

Após o período de descanso, os poucos pacientes não processados receberam atenção. A equipe distribuiu a cada paciente fotos significativas de seus próprios arquivos – geralmente fotografias de família, fotos do próprio paciente em várias idades ou fotos de amigos e amantes. Por vezes, isso desencadeou mais cenas emocionais. Mas no final da tarde, cerca de 20 horas depois de eu ter chegado ao Instituto, todos haviam retornado a um estado normal de consciência. A essa altura, os respectivos parentes começaram a chamar pelos pacientes e senti grande consolo ao ver minha esposa. Por volta das nove horas, tivemos a cerimônia final; uma rosa foi dada de presente a cada sujeito. Nas minhas três semanas de permanência na Cidade do México, todos os pacientes que encontrei como observador ou como participante haviam retornado à consciência normal ao final do tratamento.

Alguns dias depois, os membros do meu grupo se reuniram para sessões de terapia em grupo de cinco horas ou, para alguns indivíduos, sessões privadas de menor duração. Cada paciente compôs um relato escrito de sua sessão para sua ficha. Essas sessões de acompanhamento continuaram até que a equipe decidisse que o paciente se beneficiaria com outra sessão longa, às vezes um mês depois, embora o espaço de tempo fosse maior à medida que o paciente melhorava. A melhora foi medida pelo teste de Hartman e também pelas impressões clínicas dos psiquiatras.

Como eu não era propriamente um paciente e como minha estadia no México seria breve, não participei de todo esse acompanhamento, mas participei de uma segunda longa sessão, cerca de duas semanas após a minha primeira.

Eu esperava tomar cloridrato de ketamina durante a minha segunda sessão, mas a irregularidade do meu coração persistiu e os médicos julgaram isso desaconselhável. Esta decisão mais uma vez voltou a minha mente para o tema da morte. Na minha segunda sessão, havia apenas 10 pacientes, um número mais gerenciável e ainda suficiente para uma interação valiosa entre os pacientes. Em todo caso, o procedimento foi semelhante à primeira vez, exceto que agora eu havia ingerido cogumelos Psilocybe frescos enviados em meu benefício pela própria Maria Sabina, uma curandeira de Huautla.

Dessa vez, re-experimentei o fenômeno da morte, mas em vez de descer ao inferno, a experiência assumiu quase o caráter de um festival, embora num contexto de solenidade alimentada pelas tensões do Requiem de Brahms. Não apenas obtive insights deliciosos e comoventes sobre minha própria vida subjetiva, mas também pude ver aspectos engraçados associados à minha morte, o que trouxe risos refrescantes. Eu também percebi como a cacofonia e a sobrecarga sensorial que foram projetadas para “me assustar completamente” têm um paralelo na sociedade em que a ocorrência perfeitamente natural da morte é transformada em um evento assustador que provoca medo na mente das pessoas comuns.

No geral, essa segunda sessão foi a mais rica das minhas 10 a 15 experiências com materiais psicodélicos. Foi a primeira experiência desse tipo em que a culpa não teve papel consciente. Não credito o resultado feliz dessa “trip” aos cogumelos, mas o importante condicionamento da minha “descida ao inferno” (a bad trip) anterior.

A eficácia da técnica do Dr. Roquet é evidente em meu estado de espírito desde que minhas experiências com ele ocorreram. Há quase dois anos, meu entusiasmo pela vida tem sido mais positivo do que nunca. Minha apreciação pela música cresceu quase a um vício e outros aspectos da minha vida foram igualmente enriquecidos. Naturalmente, isso me deu uma visão subjetiva do que o tratamento pode realizar para pessoas cuja saúde mental não está tão bem estabelecida quanto a minha.

Quais são as implicações da emocionante técnica do Dr. Roquet para o campo da saúde mental? Com base nas minhas três semanas de intenso envolvimento com seu programa, sinto que o que o psicanalista médio realiza em cinco ou seis anos,  Salvador  alcança com frequência em meses – e melhor, com custo de 10 a 20 vezes menor! O Dr. Roquet trouxe a psiquiatria para o século XX. Sem dúvida, um dia, seus métodos serão aprimorados, mas não duvido que sejam considerados um avanço crucial no progresso da psiquiatria.

Em minha pesquisa com drogas psicodélicas, muitas vezes descobri que as “bad trips” são as melhores trips, especialmente quando lidamos adequadamente com elas. O Dr. Roquet induz deliberadamente uma viagem ruim para trazer à tona os piores medos e problemas do paciente, embora isso possa significar, e geralmente significa, uma visita ao seu submundo particular, onde a ‘loucura’ se esconde. Por essa razão, o Dr. Roquet se refere à sua técnica como “psicodisléptica”, que significa “temporariamente perturbadora das funções da mente”. O objetivo específico dessa técnica é sobrecarregar as defesas cuidadosamente construídas que muitas vezes tornam a neurose ou psicose do paciente invulnerável ao médico. Muitos psiquiatras convencionais podem argumentar que esses métodos violentos podem prejudicar a psique. O resultado bem-sucedido de quase 3.000 pacientes tratados no Instituto obviamente responde melhor a essas objeções.

Qual a importância das substâncias no tratamento? Roquet diz que os medicamentos não representam mais de 10% do total do tratamento. Eu poderia concordar, mas também argumentaria que são 10% muito importantes. As substâncias psicodélicas parecem multiplicar a força da experiência e permitir que ela penetre nos níveis do inconsciente raramente visitados na psicoterapia comum.

Entre os outros fatores importantes na técnica estão os relacionamentos interpessoais. A naturalidade da equipe e a falta de alarme garantem ao paciente que o Dr. Roquet e seus colegas estão completamente no controle da situação. Mais importante, sua atitude ativamente compassiva durante as fases finais da terapia atua como uma influência vital de cura. Tão importante quanto é a interação entre os próprios pacientes – incluindo o toque de apoio e a consciência de que cada própria angústia é acompanhada pela de outra pessoa do outro lado da sala.

O Dr. Roquet desenvolveu uma teoria intuitiva e perspicaz subjacente à sua terapia, mas isso é muito complexo para ser apresentado aqui. Sem dúvida, ele eventualmente falará por si mesmo na tradução para o inglês.


Em 21 de novembro de 1974, o Dr. Salvador Roquet, seus assistentes e 25 pacientes foram presos durante uma sessão de terapia em grupo pela polícia mexicana, que invadiu o Instituto brandindo pistolas e metralhadoras. O ataque foi instigado por Guido Belasso, diretor ‘Centro Mexicano de Independência das Drogas’, de acordo com a revista mexicana “Tiempo”.

Os pacientes foram presos apenas brevemente, mas o Dr. Roquet e seu assistente, o Dr. Pierre Favreau, foram presos por vários anos devido à gravidade das acusações de crimes relativos à drogas. O Dr. Roquet operava sua clínica em total abertura por mais de seis anos tendo ganho a gratidão de oficiais do governo por sua ajuda na contenção de distúrbios na Universidade do México, tratando com sucesso um líder estudantil radical.

Uma organização dos ex-pacientes de Roquet, liderada por influentes mexicanos, veio em defesa do doutor e vários ilustres psiquiatras americanos testemunharam a validade e a eficácia de seus métodos. Por fim, os drs. Roquet e Favreau foram liberados das acusações e autorizados a reabrir o Instituto.

 

Traduzido diretamente de Psychedelic Libraby

O que o Ecstasy faz ao seu corpo?

A ciência por trás da droga mais controversa do cenário musical


Separar música e o cenário de festas de uso drogas não é fácil. Apenas pergunte para o donos da Fabric, uma famosa balada em Londres, que teve sua licença revogada nessa quarta-feira por autoridades locais preocupadas com o uso de drogas no local. Ou os organizadores do Eletric Daisy Festival, Hard Summer e outros eventos que destacaram as manchetes de jornais pelos seus usuários que morreram pelo uso de drogas.

Em muitos desses casos, a droga primária envolvida era ecstasy ou vários químicos misturados vendidos como comprimidos de ecstasy. Apesar de ser considerado menos aditivo que cocaína e heroína; ecstasy está ganhando uma má reputação entre os políticos. O exemplo mais óbvio é o Redução e Vulnerabilidade para o ecstasy da América ( RAVE) Act, que passou no congresso em 2003 como o Ato de Anti-Proliferamento de Drogas.

Deixando os fechamentos de clubes ou a aplicação da lei de lado, há uma terceira opção que está ganhando força silenciosamente , — usando a educação e defendendo medidas de redução de danos para evitar tragédias relacionadas ao ecstasy.

Saiba o que você está tomando. Em um estudo experimental a três anos atrás, a maior balada de Londres, Warehouse Project, convidou uma pesquisadora de criminologia da Universidade de Durham para ir uma vez a cada mês para testar drogas encontradas na festa, tanto confiscadas pelas autoridades ou entregues anonimamente. Se a pesquisadora achasse algum ingrediente preocupante nas amostras, ela notificará os donas da festa, e a mensagem seria espalhada pela mídia social e sinais de LED seriam colocados nas festas para alertar os consumidores. Pela Europa, testagem de drogas no local da festa é bem comum, diz Adam Auctor, fundador do Bunk Police, um serviço de testagem de drogas sediado em Denver, no Colorado; que começou a testagem na Europa esse ano.

Nos Estados Unidos, a testagem no local ainda é muito rara. DanceSafe e Bunk Police oferecem kits de testagem de substâncias em eventos no norte do país. Mas por que as festas e os promotores não querem bater de frente com o Ato de Anti- Proliferamento de Drogas, que bane “manutenções de instalações envolvendo drogas”, a maioria recusa permitir esses serviços de testagem no local uma vez que isso pode ser percebido pelos promotores como encorajamento de uso de drogas.

DanceSafe ainda frequenta um punhado de eventos para fornecer testagem gratuita onde é permitido, mas esses eventos são na maioria menores e mais desorganizados que a maioria dos festivais realizados por promotores empresariais, que estão mais preocupados com a responsabilidade, diz Mitchell Gomez, diretor nacional de divulgação do DanceSafe, uma organização sem fins lucrativos, de Denver. O Bunk Police não faz mais testagem em tempo real, diz Auctor, mas eles ainda vão em festas para vender kits de testagem com descontos, embora nem sempre com a permissão dos organizadores dos eventos.

Ambos os grupos vendem kits de testagem de drogas online por 20 dolares para um teste único e 150$ para ampolas de testes validas para 60 análises. Gomez avisa que esses testes são limitados no que eles podem revelar sobre a droga. Enquanto esses testes podem mostrar se a droga em questão tem MDMA ou Catinona ( vendidos como “sais de banho”), muitas vezes eles não conseguem mostrar se tem certos adulterantes ou outros aditivos, ele disse. Gomez sonha poder mandar um laboratório completo para testagem em tempo real, mas enquanto as leis federais de drogas não são alteradas, ele não vê isso acontecendo.

” Nas ruas, pode ser difícil conseguir compostos puros,” diz Dr. Itau Danovich, presidente do Departamento de Psiquiatria e Neurociências de Comportamento no Cedars- Sinais Medical Center em Los Angeles. ” A cada passo na cadeia de distribuição, tende a haver um corte”.

Tanto Gomez e Auctor acreditam que a chave para implementar medidas para impedir emergências médicas encontram-se  na alteração do Ato Americano de Anti-Proliferamento de Drogas, que permita explicitamente promotores e donos de festas a tomarem um passo no quesito de redução de danos. Dede Goldsmith, cuja a filha morreu em 2013 de hipertermia em uma festival de música eletrônica, após ter tomado ecstasy; ela está entre os defensores da mudança da lei porque “Isso está impedindo a implementação de medidas de senso comum de segurança nesses eventos.” A partir dessa semana, Goldsmith juntou mais de 16,300 assinaturas através de seu site online.

” Não existe tal coisa como uso de droga seguro,” diz Gomez. ” Mas há maneiras que nós podemos reduzir os riscos, educando as pessoas sobre o que elas estão tomando e providenciando condições que as façam serem menos danosas.”

Para evitar problemas, em primeiro lugar, é bom entender como a droga afeta seu corpo. Quimicamente, o ecstasy é a forma pura de 3,4-metilenodioxi-metanfetamina, ou MDMA. Mas há muitas variantes de ecstasy no mercado, e a quantidade de MDMA nessas substâncias podem ser altamente variável.

Gomez, que tem uma organização que vem testando drogas e seus componentes químicos em festas há 17 anos, estima-se que 40% das drogas vendidas hoje como ecstasy é na verdade MDPV, metilona ou mefedrona, vendido nas ruas mascaradamente como “sais de banho”.

Uma vez em seu corpo, o MDMA entra na sua corrente sanguínea e começa a fazer seu caminho para o cérebro. Depois de escapar pela sua barreira hematoencefálica destinada a proteger seu cérebro de neurotoxinas, o MDMA desencadeia a liberação de três neurotransmissores: dopamina, norepinefrina e a serotonina, diz Dr. Danovich. É como se você pegasse uma laranja e expresse todo o suco.

Dopamina, é associada com o prazer e resposta de recompensa, é responsável pela euforia e energia que você sente quando toma MDMA. Norepinefrina é uma adrenalina que aumenta seu batimento cardíaco e pressão sanguínea. Enquanto isso, a serotonina libera uma sensação de bem estar, felicidade e conexão emocional (empatia).

Na maioria dos casos, o efeito dura de 3 a 6 horas. Depois disso, muitas pessoas sentem a “síndrome de esgotamento”, de acordo com Danovitch. ” É o chamado crash(bad/deprê). As pessoas se sentem desanimadas, irritadas, depressivas, têm dificuldades de dormir, sentem ansiedade e tem problemas com foco.”

Na maioria dos casos, os efeitos indesejados terminam por aí; Em outros, no entanto, as coisas podem dar muito errado. Entre as reações potencialmente catastróficas estão a hipertermia, rabdomiólise, falência de órgãos, aumento intenso da ansiedade ou ataque de pânico, diz Cathy Lee Rogowski, médica de sala de emergência em San Diego, que tem visto muitos desses sintomas e até mais.
O efeito a longo prazo mais nocivo é o possivel dano cerebral. Porque o MDMA só começou a ser uma droga recreacional popular no meio dos anos 80, pesquisadores ainda estão começando a entender como afeta o cérebro a longo prazo.

Porém, há um aumento de evidências que apoiam a probabilidade que o uso crônico de ecstasy pode causar um dano cerebral duradouro.

Uma das maneiras que o ecstasy prejudica, tem a ver com a forma de como o corpo tenta lidar com o fluxo artificial de substâncias neuroquímicas liberadas pelo MDMA.
” Se há muitos neurotransmissores para o corpo lidar do jeito que ele normalmente metaboliza esses tipos de químicos, então ele usa uma via secundária,” uma que pode deixar metabólitos tóxicos que acumulam com o tempo, diz Dr. Jeffrey Lieberman, presidente de Psiquiatria para Centro Medicinal da Universidade da Columbia do Hospital Presbiteriano de Nova York. O perigo é que esses metabólitos tóxicos tem o potencial de destruir células cerebrais de um jeito parecido com o mal de Parkinson, diz Lierberman.
Em um artigo — “A Psicobiologia Humana do MDMA ou ‘ecstasy’: uma visão geral de 25 anos de pesquisa empírica”– publicada no jornal Psicofarmacologia Humana, de Andrew Parrot do Departamento de Psicologia da Universidade de Swansea, mostrou um déficit significativo na memória e prejuízos sobre uma série de tarefas cognitivas incluindo “processamento executivo, raciocínio lógico, resolução de problemas e inteligência emocional.”

Para adolescentes e jovens adultos, as consequências a longo prazo ainda são desconhecidas. “O cérebro não está totalmente desenvolvido até que você está nos 20 a 30 anos,” Lieberman diz. “Há muito pouca pesquisa em cérebros mais novos. Presumidamente, há um efeito diferente, mas ainda não sabemos.”

O risco é ainda maior quando se trata de gestantes que tomam MDMA. EM 2012, um estudo feito por Lynne Singer, et al., crianças de mães que tomaram ecstasy durante a gravidez, tiveram qualidade de coordenação motora significativamente mais pobre em 4 meses de idade. Levará anos até que os pesquisadores sejam capaz de descobrir como o MDMA afetará essas crianças a longo prazo.
Embora o ecstasy seja frequentemente chamado de a “droga do amor”, seus efeitos psicológicos nem sempre são positivos. Em sua análise de 25 anos como pesquisa medicinal no MDMA, Parrot conclui que “o MDMA é essencialmente um intensificador de humor” que também pode aumentar estados de emoções negativas, assim como as positivas.

Quando combinado com outras drogas, o resultado pode ser fatal. Emily McCaughan tinha tomado uma combinação de MDMA e ácido gama-hidroxibutírico (GBH), antes de contar a seus amigos que ela estava sendo seguida, e pulou do 20º andar do seu hotel em Las Vegas em 2012. Kyle Haigis morreu em 2011 depois de começar a agir irracionalmente, pulando de um carro em movimento e em seguido ser atingido por outro.

Os efeitos mais comuns são calor excessivo do corpo ou hipertermia. A serotonina que ajuda a regular o núcleo da temperatura pelo hipotálamo, age como termóstato do corpo. “Serotonina enerva o hipotálamo” diz Lieberman. “É como setar a temperatura do seu termóstato mais alto.”
Ao mesmo tempo a norepinefrina, o segundo neurotransmissor lançado no seu cérebro pelo MDMA, que faz você sentir energizado, então você acaba dançando e se mexendo muito. Isso cria mais calor no corpo. Agora adicione um lugar quente e abafado como uma balada pouca ventilada ou festival quente com o chão cozinhando, e o seu corpo logo terá dificuldade de resfriar.

O que há de errado com isso? Muita coisa.
Calor corporal em excesso causa a morte das células dos músculos. Os músculos estão tão estressados pelo excesso de adrenalina bombardeado no corpo, graças a norepinefrina lançadas pelo ecstasy. Os músculos ficam tensos e rígidos para a preparação da luta-ou-fuga em resposta para a adrenalina que está sendo lançada.
Pessoas que tomam ecstasy frequentemente dizem que suas mandíbulas ficam tensas. Essa tensão, se constante, ocasiona danos para as fibras musculares, chamadas de rabdomiólise.
A dor no músculo que é relatada por muitos no dia depois de terem tomado ecstasy, é um caso leve de rabdomiólise.

Rabdomiólise sustentada é problemática porque pode de repente se tornar um trem desgovernado que leva à falência de órgãos. Quando as células dos músculos morrem, elas liberam um número de subprodutos no sangue, incluindo íons de potássio, íons de fosfato, mioglobina, creatina quinase e ácido úrico. “Seu fígado tenta filtrar para fora todos esses químicos” diz Lieberman. “Mas seu sangue se torna muito viscoso com todo esse material. É como se fosse um lodo, que entope seu fígado.”
Enquanto isso, o excesso de ácido úrico pode formar cristais nas túbulas do seu fígado, que futuramente pode comprometer seu fígado “Quando começa, é difícil parar,” diz Lieberman. “ Quando os músculos morrem, eles liberam essas substâncias corrente sanguínea. Não tem jeito reverso uma vez que eles estão na sua corrente sanguínea. Pode acontecer muito rápido, em questão de algumas horas.”

Apesar de não ser muito provável, insuficiência cardíaca pode acontecer se existe uma predisposição a problemas do coração que podem ser agravados nos efeitos do MDMA. De 6 dos 24 relatos de mortes relacionados a ecstasy pelo Los Angeles Times, eram de parada cardíaca.
“Seu corpo não pode tolerar um batimento cardíaco rápido por muito tempo.” Rogowski diz. “Ele irá se esgotar.”

“Tudo fica muito acelerado” diz Rogowski. “ Mas na verdade o coração não funciona bem quando está vibrando tão rápido assim, e o resto do seu corpo não recebe o oxigênio que precisa.”

Outro efeito possível a longo prazo causado pelo uso prolongado de ecstasy é hepatite aguda e falha hepática. “Você pode oprimir a habilidade do fígado de quebrar o MDMA, levando a hepatite aguda. ” diz Danovitch.
Agora que você sabe como o MDMA afeta seu corpo e o que pode dar errado, aqui vai uma lista do que você pode fazer para reduzir os risco de emergências e diminuir os danos para seu corpo.

Faça intervalos de descanso com frequência. Isso ajuda o seu corpo a esfriar e minimizar o risco ao seus músculos. Se você é daqueles que gosta de festivais outdoors, procure sombras e tendas com ar condicionado. Se você está em uma balada quente, vá para a área externa para respirar melhor. DanceSafe pressionou os promotores para eles colocarem de 5 a 10 minutos de intervalos entre os DJs, ao invés de fazê-los tocar sem parar horas a fio, diz Gomez.

Se hidrate e coma bem. Dar ao seu corpo fluido suficiente é importante pois você sua para seu corpo esfriar. Mas não beba muito pois tem o risco de você ter uma intoxicação de água, uma condição rara, mas potencialmente fatal. O excesso de água pode oprimir a capacidade do corpo de manter seu balanço eletrolítico. Também não esqueça de comer. Como outros estimulantes, MDMA pode suprimir apetite, mascarando a necessidade do seu corpo por nutrição para seu sustentar, Rogowski diz.

Fique com um amigo de confiança. Faça um pacto com o seu amigo que se, um passar mal, o outro vai ficar cuidando.“ Se você está com seu amigo e ele passar mal, não o deixe sozinho.” diz Danovich. “ Eles poderiam ser vítimas se você deixar ele sozinho. Eles também poderiam precisar atenção médica imediata, especialmente se você não consegue acordá-lo.”

Preste atenção nos sinais de alerta que o seu corpo está te mostrando. Se você está se sentindo muito quente e não está suando é um sinal que o seu corpo não está conseguindo se esfriar sozinho. Dores de cabeça, confusão mental, dificuldade de respirar, náusea, batimento cardíaco forte e delírio também são sinais de alerta. Se você ou um dos seus amigos tiver algum desses sintomas, vá diretamente para tenda médica para ter atendimento imediato.“É incrível a diferença que 10 minutos pode fazer quando se trata de uma socorro médico.”

FONTE BILLBOARD

 


Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaboradora Gabriela Lie.
Seja você também um colaborador, entre em contato:

equipemundocogumelo@gmail.com

Cartazes de Redução de Danos

O maior perigo dos psicodélicos, não são eles em si.

E sim a desinformação sobre eles.

Adulterações, erros de dosagem, experiências em lugares tumultuosos, são muitos aspectos a serem pensados para organizar com sucesso uma experiência segura e integrativa. Estudar e prevenir cada um destes aspectos é parte de um conjunto de ações chamado Redução de Danos.
Em parceria com o nosso amigo e artista Kaio Shimanski elaboramos três cartazes que visam espalhar consciência e informação. Junto com cada cartaz deixamos um texto explicativo para você driblar a proibição e cuidar da sua saúde.
Fique a vontade para baixar, imprimir e espalhar estes cartazes por onde quiser!

Tenha uma boa viagem!

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LSD

Até pouco tempo atrás era muito difícil de se adulterar LSD, isso porque ele é comumente vendido em forma de gotas liquidas, ou um pedaço minúsculo de papel. Até 2003 era impossível colocar outra substância dentro de um pequeno blotter, a dosagem em microgramas não era suficiente para você sentir os efeitos psicodélicos de qualquer molécula impostora.

Se fosse uma gota, era LSD. Se você um pequeno papelzinho, era LSD!

Até que então, pesquisando sobre as Feniletilaminas Psicodélicas, Ralf Hein cria uma derivação 16 vezes menor da família 2C-X,  dando nascimento a serie NBOMe. Molécula pequena suficiente para ser aplicadas em cartelas absorventes (blotters), a cena das drogas psicodélicas muda para sempre. Quem nunca colocou um quadrado de papel (vendido como LSD) e sentiu sua língua amargar e até amortecer?

É caro leitor, este é o pior dos testes, LSD-25 não tem gosto algum. Então você acabou de consumir uma substância que ainda é muito desconhecida pela ciência psicodélica. E infelizmente existe risco de overdose e outros possíveis danos mais graves com a família dos NBOMes. Imitando os efeitos psicodélicos e visuais, a grande maioria das pessoas passou anos comprando gato por lebre, porém alguns efeitos negativos não desejados como dores musculares, confusão mental, vasoconstrição, náuseas, vômitos, dor de cabeça e uma possível ressaca no dia seguinte. Deixa claro que aquele inofensivo papel não era LSD. Ou pior, durante um curto tempo moléculas como DOB e DOI eram usadas como substitutos nas cartelas, levando o curioso buscador psicodélico a uma viagem de até 20 horas. Este teste: se o papel amargar na língua não funciona mais, pois existem cartelas impregnadas de NBOH sem gosto algum.

Então o que fazer?

LSD

Compre um kit de testagem! O teste é na verdade uma ampola com um reagente químico, neste caso o Ehrlich.

Para fazer a testagem é fácil: você corta um micro pedaço da sua amostra de papel ou fração da gota, coloca em uma porcelana branca ou na embalagem descartável que vem junto ao kit, pinga uma ou duas gotas do reagente e espera com a tabela em mãos. Imediatamente você verá uma reação química acontecer, se ficar roxo temos LSD! Se ficar amarelo ou verde é um adulterante perigoso!

Infelizmente a senhora ANVISA em conjunto com a Policia Federal complicam a entrada destes testes aqui no Brasil, e só agora nos últimos meses micro empresas nacionais estão aparecendo e vendendo os reagentes pelo Brasil. Faça uma boa busca no Google e adquira já a seu.

lsd-test-ehrlich-color-reactions

Mesmo seu teste dando positivo para o que procura, lembre-se que a dosagem prometida por um vendedor de uma substância ilegal, nunca é 100% de se acreditar. Sempre questione, mesmo se quem te vendeu for seu amigo, ele mesmo pode ter sido enganado pelo mercado ilegal.
Então comece baixo, corte seu papel em 3 ou 4  partes iguais, e comece tomando pequenas doses, depois de conhecer bem este lote, vá aumentando até a dose desejada. Sempre tenha cuidado com a dosagem. Não faça deste momento tão especial, uma roleta russa.

Para mais estudos sobre LSD, visite nossa Biblioteca de Substâncias.


 

MDMA

Poucos sabem, mas o Ecsatasy é a droga mais adulterada do mundo. Um levantamento (2012) feito pela Superintendência da Polícia Técnico-Científica de São Paulo em parceria com a Fapesp revela que apenas 45% dos comprimidos apreendidos no Estado em 2011 contêm traços de MDMA.

MDMA é o que buscamos, aquela sensação de pura empatia, conversação sem barreiras, uma euforia que só te deixa com mais vontade de respirar fundo e sentir como a nossa existência é um presente. Infelizmente isso pode ser adulterado com muitas outras substâncias.

Anfetaminas, cocaína, cafeína, metanfetamina, psudo efedrina, quetamina, são as substâncias mais usadas para adulterar os comprimidos que são vendidos com a promessa de 100% MDMA. Algumas não tão danosas, porem tomar uma substância quando se quer outra, é algo que confunde mais ainda o seu plano para a noite. E algumas bem perigosas como PMA, que recentemente mataram alguns jovens pela Europa.

Então o que fazer?

MDMA

Compre um kit de testagem! O teste é na verdade uma ampola com um reagente químico, neste caso o Marquis.

Para fazer a testagem é fácil: você raspa uma fração minúscula de seu comprimido, coloca em uma porcelana branca ou na embalagem descartável que vem junto ao kit, pinga uma ou duas gotas do reagente e espera com a tabela em mãos. Imediatamente você verá uma reação química acontecer, se ficar roxo escuro quase preto temos MDMA! Se ficar amarelo, laranja ou  verde é um adulterante perigoso!

Infelizmente a senhora ANVISA em conjunto com a Policia Federal complicam a entrada destes testes aqui no Brasil, e só agora nos últimos meses micro-empresas nacionais estão aparecendo e vendendo os reagentes pelo Brasil. Faça uma boa busca no Google e adquira já a seu.

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Mesmo seu teste dando positivo para o que procura, lembre-se que a dosagem prometida por um vendedor de uma substância ilegal, nunca é 100% de se acreditar. Sempre questione!
Então comece baixo, nunca tome um comprimido novo inteiro, nos últimos tempos laboratórios europeus de ecstasy produziram comprimidos de alta qualidade e altas dosagens. Chegando até 250mg de MDMA, e mesmo sendo esta substância a nossa querida amada molécula procurada, muito nunca é bom. Comece tomando pequenas partes quebradas do comprimido, depois de conhecer bem este lote adquirido, vá aumentando até a sua dose desejada.

Sempre tenha cuidado com a dosagem. Não faça deste momento tão especial, uma roleta russa.

Para mais estudos sobre MDMA, visite nossa Biblioteca de Substâncias.

E o site  RollSafe.


 

COGUMELOS MÁGICOS

Epa! Pera aí, de Ácido a Ecstasy, como fomos parar em algo da natureza que não tem adulteração? Sim, os cogumelos mágicos não tem um mercado ilegal no Brasil para ser adulterado, porém devemos sempre nos informar, para não acabarmos machucando nosso corpo e estragando uma experiência que pode ser tão especial.

Aqui no Brasil todo ano entre novembro a março, temos a temporada de caça dos Psilocybe cubensis. Eles crescem no esterco de rulminantes, lindos cogumelos dourados portadores de Psilocibina. Porém você precisa de um treinamento básico para saber identificar os cogumelos certos.

COGUMELOS

Baixe agora mesmo nosso Guia de Caça e Identificação de cogumelos P.cubensis.

No fórum Cogumelos Mágicos você encontra o tópico de espécies tóxicas do Brasil em Fungos tóxicos com ocorrência no Brasil, para quem se interessar.


Não tome uma substância simplesmente porque leu aqui, este conteúdo foi produzido exclusivamente para reduzir os riscos e danos de quem já está procurando e planejando estas auto experiências.
Nós do Mundo Cogumelo acreditamos que sofremos pela falta de informações corretas e claras.

Vamos deixar todo esse tabu de lado, e conversar cada vez mais sobre uso seguro e responsável de substâncias psicodélicas. Para assim juntos mudarmos o cenário atual da proibição. Se cuide!

Se quiser conversar mais com a gente

equipemundocogumelo@gmail.com

Primeiros socorros psicodélicos em um festival na Costa Rica

Já era algum tempo após as duas horas da manhã e eu estava sentado na frente de uma estrutura feita de bambu e pano no Festival Envision em Costa Rica. Estava quente o suficiente que eu estivesse vestida com um top e um colar havaiano rosa, levemente brilhante, em volta do meu pescoço. Havia um cheiro de salvia queimada no ar tropical e eu podia ouvir o violino de Emancipador tocando de forma alegre e mesmerizante vindo do palco principal. O espaço parecia tranquilo e suave, que era exatamente o motivo pelo qual estávamos alí. Eu havia embarcado com o Zendo Project, um grupo com sede em Santa Cruz, Califórnia, que fornece um espaço seguro para as pessoas que têm difíceis experiências psicodélicas e outros desafios emocionais ou pessoais durante festivais. O espaço foi montado junto ao espaço medico perto da entrada do evento.

O Zendo Project treina e supervisiona voluntários que auxiliam festivaleiros em apuros com os “Primeiros Socorros Psicodélico” – Trabalho que pode soar parecido com algum tipo de terapia “manêra” interdimensional para aventureiros torturados e alucinados no plano astral, para orientá-lx com segurança através de suas visões intensas. A minha experiência, no entanto, foi totalmente diferente de muito mais gratificante.

Meu turno tinha acabado de começar e eu estava sentado com Yashpal, um doutor de Medicina Natural da Costa Rica, quando eu recebi o meu primeiro chamado da noite. A pedido de um amigo preocupado, Yashpal e eu fui para o campo para acolher um jovem de uma rede de balanço, perto da Palco Lotus. Confidencialidade para os convidados é muito importante para o Projeto Zendo então vamos chamá-lo de “Charlie”. Charlie estava fixado em histórias complicadas sobre as políticas de várias agências do governo de seu país natal, com seus dedos contraídos como garras de frango – mas, com a sua permissão, nós o acompanhamos de volta para o Zendo para acomodá-lo em uma das camas na estrutura temporária, decorada delicadamente. Yashpal imediatamente me chamou de lado para me treinar antes de eu começar.

“O truque é não intervir ou alterar a trajetória de sua viagem de qualquer maneira”, disse Yashpal, parecendo um pouco como Merlin com uma barba grisalha encaracolada e um brilho reconfortante, porém levemente travesso em seus olhos. . “Você não quer engajár-lo. Seja neutro, fale o menos possível e simplesmente deixe-o passar pelo processo. A experiência trará a cura. – Mesmo que não pareça no momento. Confie. Não permita ser puxadao para a sua viagem, segure a sua própria energia. Dê-lhe água, e leve-o ao banheiro se precisar. Concentre-se em sua respiração. Seu trabalho é de manter o espaço para que ele tenha sua experiência. “

Yashpal enfatizou o conceito de “espaço de holding”, ou seja, sentar, manter ao invés de guiar, um dos quatro pilares da abordagem de apoio psicodélico do Zendo. Com isto em mente, sentei-me com Charlie e, ao invés de tentar acalmá-lo, eu simplesmente o observei passar pela experiência. Eu concentrei minha energia e atenção em minha própria respiração e permaneci muito calmo. Eu criei um centro de gravidade que o manteve aterrado sem forçá-lo de qualquer forma. Ouvi atentamente as suas lamúrias e simplesmente sorri e acenei com a cabeça em afirmação de sua necessidade de reafirmação.

Depois de algum tempo se contorcendo no tapete ele me pediu para ajudá-lo a chegar aos banheiros móveis. No caminho, ele parou e voltou seu olhar para as estrelas. Sem o meu treinamento no Zendo, eu poderia tê-lo incentivado a continuar andando para realizar a tarefa em mãos, mas ao invés disso, simplesmente ficamos lá juntos por quase uma hora, enquanto ele me contou sobre seu sonho de ser um astronauta e ver a Terra do espaço. O início de sua experiência foi uma desesperada incoerência, mas com o tempo tornou-se uma nostalgia forte, profunda. Eu não fiz nada para guiá-lo. Eu permaneci perto e mantive-o seguro. Conforme ele aceitou e sentiu sua dor existencial e desejos de viajar ao espaço, Charlie tornou-se muito calmo. Depois de usar o banheiro, ele me disse que estava pronto para voltar ao festival.

Como que aconteceu, de eu conversar sobre astronautas e estrelas na selva da Costa Rica, com uma pessoa que eu havia conhecido?

Os 4 Pilares de Apoio Psicodélico do Zendo

Nas práticas xamânicas tradicionais, a experiência psicodélica é considerada sagrada. Mesmo uma experiência difícil é uma oportunidade para crescimento, cura e revelação. Esta é a abordagem adoptada pela MAPS, a Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos, que conduz a pesquisa que informa o Zendo Project e seus quatro pilares, pelo qual o Zendo orienta seus eventuais voluntários e participantes do festival, no início de cada evento no qual a organização participa. Leia o manual de Treinamento do Zendo Project completo aqui.

1. Crie um espaço seguro

Ambientes de festivais são projetados para serem altamente estimulantes: sistemas de som bombasticos, intens espetáculos de luz e cacofonia geral criam um paraíso surreal para uma aventura. Mas quando as coisas começam a sobrecarregar, estes efeitos dinâmicos podem aumentar a ansiedade. Zendo é projetado para proporcionar tranquilidade e conforto. Além de sentirem-se fisicamente seguros, os convidados devem sentir-se também emocionalmente seguros, o que requer que voluntários exalem uma atitude acolhedora e sem julgamentos.

As condições para este sistema de segurança, de acordo com Sara Gael, Coordenadora de Redução de Danos do MA MAPS, psicoterapeuta holística liderança da Zendo Envisio, são conhecidas como “set” e “setting“.

‘Set’ Refere-se ao estado interno de um indivíduo e inclui o estado emocional e humor, condições mentais pré-existente, estresse, conforto e estágios de desenvolvimento”, ela explica. “‘Setting’ refere-se a condições externas de um indivíduo, incluindo aonde a pessoa está, com quem está, dosagem e interações medicamentosas”.

Gael enfatiza que o set e setting não são mutuamente exclusivas, e afetam e informam uma a outra. Quando sitters prestam atenção ao set e setting de um indivíduo, um sistema de segurança – feito exclusivamente sob medida para aquele indivíduo – pode então ser criado, para que ele ou ela possam entregar-se à experiência, mesmo em caso de surgimento de desconforto ou medo.

2. Sentar, Não Guiar

Ao invés de usar uma intervenção direta, o objetivo é de um sitter é de permitir que ocorra a cura de forma natural. As ferramentas que usamos foram respirar, validação, espelhamento e afirmação. A importância de não intervir na experiência do visitante foi enfatizado repetidamente ao longo de todo o final de semana.

De MAPS: Como trabalhar com experiências psicodélicas difíceis: “Há sempre a tendência de dominar o outro com o nosso conhecimento, sabedoria e insights. Portanto, abra mão de todo o conhecimento sobre a experiência que a pessoa está tendo. Apenas esteja junto, ouça e observe”.

Isto significa que o sitter deve ser rígido e evitar engajar com o visitante a todo momento?

“Pode ser útil providenciar uma reafirmação suave ou reenquadramento da experiência”, explica Chelsea Rose, coordenadora voluntária do Zendo. “Estes métodos de apoio refletem o que já está acontecendo para o indivíduo, ao mesmo tempo garantindo-os que as suas experiências são aceitáveis”.

3. Acompanhe, sem impor

Sitters são ensinados a entender que há um processo natural acontecendo na mente do visitante afetado. Assim, não há esforços para terminar a viagem psicodélica prematuramente; sitters deve simplesmente deixar o visitante experienciar isto com o máximo de segurança e conforto possível.

Linnae Ponté, Diretora de Redução de Danos na MAPS e Fundadora do Projeto Zendo repete o mantra de “Confie. Deixe ir. Seja aberto. Respire. Renda-se.”

Ponté diz que um quando se re-experienta emoções de um trauma passado, (que ocorre as vezes com psicodélicos) ter o espaço para sentir o grau de dor e sofrimento pode ser fundamental para a oportunidade de cura do hóspede. O sitter deve reconhecer que todas as emoções que vêm à superfície durante uma experiência psicodélica muitas vezes são, com frequência, fortemente carregadas e podem levar os visitantes ao limiar de sua consciência.

“Nosso trabalho não é de intervir, mas de confiar em tudo o que está acontecendo para eles, e tudo o que isso desperta em nós, e saber que é tudo temporário,” Ponté continua. “Vivemos em um mundo onde o desconforto emocional é suprimido com todos os tipos de drogas e comportamentos, e oferecemos aos visitantes a oportunidade de ao invés disso ir em encontro com o desconforto, e descobrir o que está por baixo dele”.

4. Difícil não é sinônimo de ruim

A suposição de que uma experiência difícil é “ruim” pode de fato contribuir para a ansiedade e desconforto geral de uma viagem. “A mentalidade evidente na expressão ‘bad trip’ ajuda a esclarecer sobre os métodos ultrapassados e prejudiciais pelas quais muitas vezes essas experiências são freqüentemente abordadas, incluindo a internação e o envolvimento da aplicação da lei”, explica Sara Gael. Esta abordagem de lidar com alguém que tem um difícil experiência psicodélica é comum em eventos e muitas vezes piora ou agrava a situação. São métodos que tentam acabar ou interromper a experiência do indivíduo e pode enviar uma mensagem para o indivíduo de que algo está errado com elx ou que elx não está segurx”.

Claramente, esta não é a abordagem apropriada para alguém que já está sentindo-se sobrecarregado ou amendrontado.

Para uma explicação mais completa sobre como apoiar os indivíduos que estão experimentando uma intensa experiência psicodélica, inclusive sobre preocupações éticas importantes, vá para o recém-compilado: Manual de Apoio Psicodélico. Este incrível recurso foi o resultado de uma colaboração entre pesquisadores, artistas, psiquiatras, terapeutas, psiconautas, e produtores de festivais e está livremente disponível sob uma licença Creative Commons.

De Tendas de Bad Trip à Santuários

Festivais têm uma longa história de frequentadores que necessitam de apoio psicológico. Isso pode ser o resultado do uso de substâncias ou por um festival com ambiente estimulante. O primeiro grupo conhecido pela prática de primeiros socorros psicodélico foram The Hog Farmers, uma comuna hippie associada ao Grateful Dead e os Merry Pranksters. Em 1969 Woodstock Music & Art Fair, os Hog Farmes, liderado por um palhaço afável chamado Wavy Gravy, gerenciou a segurança com “tortas de creme e garrafas Seltzer (spray)” Eles tripularam o que ficou conhecido como a “Tenda da Bad Trip”, apoiando as pessoas que acreditavam ter recebido LSD mal fabricado. Quando participantes se recuperavam, tornavam-se praticantes que ajudavam a novos pacientes. Este processo continua até hoje, com os participantes que recebem atendimento em espaços seguros muitas vezes retornando como voluntários nos festivais seguintes.

Grupos informais prestando zonas de apoio continuaram em shows do Grateful Dead nos anos 70 e 80. Outros notáveis profissionais de primeiros socorros psicodélicos ao longo dos anos incluem os Voluntários CALM que têm apoiado o Rainbow Gathering desde 1972; White Bird, um grupo que oferece serviços gratuitos no Oregon Country Fair; e Rock Med, uma organização voluntária na área da Baía de San Francisco.

Esta tradição continuou com os Green Dot Rangers and Sanctuary no Burning Man, que são guiados pelo modelo similar, o FLAME: Descubra, Ouça, Analise, Medie e Explique (Find out, Listen, Analyze, Mediate and Explain). Joseph Pred, fundador do Departamento de Serviços de Emergência do Burning Man e dos Green Dot Rangers, e agora um consultor de gerenciamento de emergência de eventos, foi inspirado em 1998 por equipes de intervenção de crise municipais e modelo “Space Tent” (ou “Tenda Espacial”) do Rock Med para criar um quadro combinado de profissionais e conselheiros de pares que permita que o apoio no campo para a equipe de emergência, bem como a criação de um espaço tranquilo e seguro para aqueles que precisem.

Desde descriminalização das drogas, em 2001, Portugal tem sido uma força de liderança na redução de danos. O espaço psicodélico mais seguro e sofisticado do mundo existe no Boom Festival. O que começou como uma pequena cúpula chamado The Ground Central Station (A Estação Central da Terra) em 2002, desde então, evoluiu para o Kosmicare Cluster, que inclui uma tenda anexa para os participantes em situações extremas e um “Kiva” nativo americana tradicional para aqueles que experimentam algo semelhante a uma viagem xamânica tradicional. Kosmicare é descrito como “um lugar seguro para aterrar as energias galácticas e experiências intensas.” Trata-se de uma colaboração entre o festival, MAPS, Universidade Católica do Porto e de várias instituições governamentais. Por conta do ambiente ser tão aberto e colaborativo, houve também pesquisas avaliativas significativas realizadas em seus programas.

Também em 2001, a MAPS começou a reunir profissionais médicos e voluntários para oferecer assistência e apoio para os indivíduos submetidos a difíceis experiências psicodélicas. Tem desde então trazido seus conhecimentos para ajudar a desenvolver e apoiar modelos psicodélicos de redução de danos ao Boom Festival, Envision, Bicycle Day, AfrikaBurn na África do Sul, e Burning Man.

Fundada pelo MAPS, o Projeto Zendo foi lançado em 2012 por Linnae Ponte. O projeto recebeu financiamento e orientação do MAPS, bem como o financiamento privado, e os organizadores têm planos para lançar outra campanha Indiegogo neste verão para ajudar a cobrir os seus custos. Além do Envision, o Projeto Zendo vai criar um espaço seguro na Lightning in a Bottle, AfrikaBurn e Burning Man, em 2015. Para as festas, este tipo de serviço pode provar ter um valor inestimável.

Eu tornei-me pessoalmente ciente de primeiros socorros psicodélico depois de visitar um espaço seguro de redução de danos chamado de Sanctuary no Shambhala Music Festival em 2014. De acordo com seu site “O Sanctuary fornece serviços e apoio sem julgamentos e acolhe à todos que sintam que precisam de um lugar tranquilo e seguro, para descansar em qualquer momento durante o festival. Se você está se sentindo estressado, sobrecarregado, isolado, frio, molhado, precisa sair do sol por um tempo, só precisa relaxar ou precisar de alguém para conversar, nossos voluntários do Sanctuary ficarão felizes em ajudar”.

Shambhala é outro festival conhecido por seu compromisso radical para os cuidados na comunidade, bem como seus sofisticados esforços para garantir a segurança dos participantes. Além do Sanctuary, estas iniciativas incluem a política do álcool zero, testes de drogas no local, uma equipe de divulgação, serviços de saúde sexual e um espaço seguro para as mulheres.

Espaço de Holding para a Tribo

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Foto por Galen Oakes

Além de para fornecer um espaço seguro e treinamento para voluntários, parte da missão do Zendo é demonstrar ao público como as comunidades de festivais podem tomar medidas proativas para garantir que participantes do evento tenham apoio psicológico, a fim de reduzir o número de internações e de detenções relacionadas com a drogas. Isso envolve trabalhar em colaboração com outros departamentos do serviço de emergência no local, incluindo médicos e equipe de segurança.

Stacette Lockdown, Gerente de Redução de Danos de Shambhala, salienta que a comunicação interdepartamental com todas as entidades de segurança pública é muito importante. “Segurança trabalhando com médicos, medicos trabalhando com espaços seguros”, ela explica. “Estamos todos conectados e quando permanecemos conectados a esse nível, isto aumenta a segurança do festival.”

Joseph Pred concorda. “Ter a redução de danos abertamente integrado com serviços de segurança e médicos é fundamental para triagem apropriada aqueles que no passado acabaram parando na cadeia ou em hospitais de forma desnecessaria à terem melhores resultados, concedendo-lhes apoio no início de seu processo.”

Investir em um espaço seguro também envia uma mensagem de que os produtores estão fazendo da segurança de seus participantes uma prioridade. De acordo com Diogo Ruivo, fundador do Boom Festival, “Os promotores tornam-se os responsáveis por “manter o holding da tribo “, ainda mais quando o evento atrai dezenas de milhares de pessoas. Por isso, é obrigatório incluir na produção do evento a construção de um ou mais espaços dedicados a lidar de forma responsável com tais ’emergências’, independentemente das atitudes manifestadas pelo governo hospedeiro”

Cameron Bowman, “O Advogado de Festivais”, diz: “Não há nada contra a lei sobre festivais que prestam este tipo de serviço de “primeiros socorros psicodélico”. É claro que os produtores podem não achar que isso valha o investimento ou o governo anfitrião poderá não sentir que é valioso. Mas é perfeitamente legal”.

Kai Chotard, Diretor de Segurança da Envision, expressou sua gratidão pelo apoio de Zendo. “A assistência imensurável que foi dirigido por Zendo no Festival Envision vai além das palavras”, diz Chotard. “A presença de Zendo preenche as necessidades experimentais de certos freqüentadores do festival com um programa altamente profissional que permite que as pessoas sintam-se seguras e protegidas enquanto exploram novas formas em um novo lugar”.

Apesar do apoio Às “necessidades experimentais de certos freqüentadores do festival” é algo pelo qual o Zendo é reconhecido, as lições que aprendi mostraram-se imediatamente valioso em uma situação onde o meu convidado não estava sob o efeito de qualquer substância.

Me disseram que eu poderia vir aqui e conversar”

Foto Courtesia de Boom Festival
Foto Courtesia de Boom Festival

Eram 07h30 e meu turno terminaria às 10:00. Parecia improvável que teríamos quaisquer outros hóspedes, então eu esperava poder tirar um cochilo e meu líder de turno Bette Carson poderia me acordar, caso ela precisasse. Naquele momento, uma mulher com os olhos marejados e sem fôlego aproximou-se do espaço Zendo. Vou chamá-la de “Emily.” Ela estava em seus vinte e poucos anos. Ela disse para ninguém em particular: “Sinto muito incomodá-los. Eu preciso de ajuda. Eu não ingeri qualquer tipo de droga. Eu estou tendo um colapso. Está tudo tão fodido. Eu estou simplesmente exausta. Alguém me disse que eu poderia vir aqui e falar com alguém.” Bette fez algumas anotações em sua prancheta e virou-se para mim. “Você quer ajudar?”. Sem dúvidas.

Primeiramente fomos ao posto médico para ter certeza que ela tinha tudo que precisava. Depois de ser brevemente atendida por um enfermeiro local, Emily foi dada água eletrólita e um lugar à sombra para se sentar. Respirando profundamente, eu sentei com ela e ouviu a sua história. Ela estava sóbria há quatro anos e estava viajando com dois amigos que estavam passando por uma separação tóxica. O ambiente negativo com seus amigos espelhou um ambiente familiar desafiador e representou exatamente o motivo pelo qual ela estava viajando para fugir. Ela me disse que ela tinha chegado a Envision para ter uma experiência espiritual.

Embora dela não estar passando por uma crise psicodélica, eu usei as técnicas que aprendi com Zendo e simplesmente ouvi, respirei e contive um espaço para ela. Foram muito poucos os momentos no qual me senti obrigado a dar uma opinião e por isso, quando o fiz, isso significava muito mais. Ela disse que estava envergonhada e sentia-se fraca; Sugeri que permanecer sóbria e ter vindo buscar ajuda foi uma atitude poderosa. Ela disse que queria apenas ter uma experiência espiritual na Costa Rica. Disse-lhe que, no meu ponto de vista, ela estava de fato tendo um.

Quando Emily se acalmou nós verificamos o cronograma em conjunto e consideramos algumas experiências enriquecedoras e workshops que ela pudesse assistir sozinha, a fim de tornar o último dia do festival realmente algo dela. Quando meu plantão terminou às 10:00 Eu a ajudei a mudar para outro sitter para que ela pudesse sentir-se apoiada até estar descansada e pronta para sair.

Espaço de Holding para nós mesmos

Courtesia de Shambhala
Courtesia de Shambhala

As drogas psicodélicas estão retornando para o mainstream, para além do seu uso em determinados eventos e encontros. Em 09 de fevereiro de 2015, o New Yorker publicou um artigo inovador por Michael Pollan, autor amplamente respeitado que escreveu “O Dilema do Onívoro” (The Omnivore’s Dilemma, em inglês), sobre o tema das drogas psicodélicas. O artigo The Trip Treatment discute o uso da psilocibina, a substância química ativa em “cogumelos mágicos”, para aliviar a ansiedade de fim de vida em ensaios clínicos na Universidade de John Hopkin e Universidade de New York. Enquanto o artigo focava em aplicações médicas para substâncias psicodélicas, a conclusão de Pollan ofereceu apoio à ideia controversa que as experiências espirituais disponibilizadas por psicodélicos poderiam funcionar para “o aperfeiçoamento de pessoas saudáveis.”

O artigo de Pollan foi rapidamente seguido por explorações semelhantes em The Atlantic e Forbes. Além da investigação voltada para aplicações médicas, os resultados publicados no Journal of Psychopharmacology demonstraram que o uso de drogas psicodélicas “não aumentam o risco de problemas de saúde mental.” Com o interesse renovado a partir de um ponto de vista científico e tanta atenção popular, é mais relevante do que nunca que técnicas de redução de danos sejam disponibilizadas aonde for necessário, e que profissionais bem informados sejam capazes de oferecer uma abordagem unificada e calculada para os desafios psicodélicos.

O Projeto Zendo oferece um serviço incrível para aqueles que experimentam uma crise. Há também grande valor para os festivais do ponto de vista de produção, liberando os recursos de equipes médicas e de segurança tradicionais e enviando a mensagem de que o zelo dos participantes é uma prioridade. Menos óbvio são as experiência profundamente transformadoras providas pelos próprios voluntários. É uma crença comum de que quando você dá aos outros, você recebe em troca o tanto quanto deu. Isto é especialmente verdadeiro quando se trata de holding para a crise psicológicas dos outros.

O que eu encontrei no Zendo foi uma maneira de colocar o meu ego de lado e simplesmente testemunhar a transformação de um outro ser humano. Sempre levei uma abordagem assertiva quando os amigos estavam em crises; quero aliviar o seus sofrimentos com uma enxurrada de conselhos ou levar o problema e devolvê-lo como um “Cubo Mágico” solucionado. Zendo me ajudou a perceber que, embora as vezes seja útol, fixar questões às pessoas pode acabar usurpando seu poder.

Durante o sitting com meus convidados eu experimentei o que significava simplesmente segurar o espaço – ao invés de tentar ser um herói – e simplesmente testemunhar a cura ocorrendo. Observando essa transformação na minha própria maneira de pensar, percebi que no ato de segurar o espaço para outro a crescer, eu também estava segurando espaço para mim mesmo.

Eu gostaria de agradecer a todos os meus conselheiros generosos deste projeto: Sara Gael, Yashpal e Linnae Ponté do Projeto Zendo; Cameron “O Advogado de Festivais” Bowman; Joseph Pred;os Irmãos Justin e toda a equipe do Festival Envision; meus colegas voluntários intrépidos do Zendo; e aquelas almas corajosas que vieram obter a ajuda que precisavam.


FONTE FEST300

Agradecemos imensamente a tradução feita pelo colaborador Gabriel Pedroza.
Seja você também um colaborador, entre em contato:

equipemundocogumelo@gmail.com

Nós não podemos erradicar as drogas, mas podemos fazer que as pessoas parem de morrer por causa delas

Há algo muito especial sobre as drogas ilícitas. Se elas nem sempre fazem o usuário se comportar irracionalmente, elas certamente fazem muitos não-usuários se comportarem dessa maneira. – Leister Grinspoon, Professor de Psiquiatria em Harvard.

O Jornal Four Corner da noite passada focou nas drogas usadas em festas e nas políticas que a Austrália está implementando para combater seu uso. Não só o que estamos fazendo não funciona, como nós(EUA) estamos ficando para trás do resto do mundo e as evidências mostram que é melhor assegurar que tenhamos menos mortes devido ao uso de drogas ilícitas.

Voltando algumas décadas nas atitudes globais, drogas eram ruins, usuários eram maus e as mortes dos consumidores eram a prova do perigo inerente das drogas e um inevitável resultado das pessoas insistirem em violar a lei.

Agora, se nós observarmos as políticas de drogas de outros países, Cannabis medicinal e recreacional tem sido aceitas, tanto como salas seguras de injeção e uso.

A união europeia continua a desenvolver programas de testes de drogas (onde drogas recreativas são testadas em relação a seus efeitos em festivais de música eletronica e outros ambientes onde são consumidas). Em abril, a sessão especial da Assembleia Geral da ONU considerou descriminalizar o uso pessoal de drogas.

Enquanto isso, Austrália continua trabalhando com ideais punitivas e proibicionistas, apesar das mudanças no resto do mundo. Quer seja com uso de cães farejadores em festivais (o que se mostra ineficaz em detectar traficantes), ou testes de drogas em beira de estrada (para os quais não há evidência de prevenção de acidentes), nós parecemos felizes em adotar intervenções que tenham poucas comprovações em detrimento das que as possuem.

A mudança mais fundamental na política de drogas mundial foi de mudar o foco do moralismo em relação ao uso para manter os jovens seguros. Mais pessoas estão começando a aceitar que jamais estaremos “livre de drogas”. Uma década depois, a especialista em política de drogas Marsha Rosenbaum em “Segurança em Primeiro Lugar” ensina aos pais substituir “Apenas diga não” (just say no) por “apenas diga que sabe” (just say know).

A guerra mundial contra as drogas

Embora muitos tenham sido convencidos de que seria uma questão de saúde pública, o início da guerra às drogas foi amplamente ideológico. Isso ficou muito claro tanto na Austrália como no resto do mundo.

Cães farejadores de drogas em festivais são ineficazes e potencialmente perigoso. Então, por que ainda insistem em seu uso? Tracey Nearmy / AAP
Cães farejadores em festivais são ineficazes e potencialmente perigoso. Então, por que ainda insistem em seu uso? Tracey Nearmy / AAP

A comissão nacional para o abuso de Maconha e Drogas, também conhecida como o Relatório Shafer de 1972, foi abandonada pois concluiu que havia “poucas provas de dano físico ou psicológico devido à experimentação ou uso intermitente de preparações naturais de Cannabis”. Isso não era o que o presidente Nixon queria ouvir.

Quando o MDMA foi proibido, o professor de psiquiatria da Universidade de Harvard argumentou com sucesso que teria utilidade como um medicamento, até que o presidente Ronald Reagan forçou a proibição por uma ação executiva. E então a política continuou a prevalecer sobre a ciência.

Desde que a guerra às drogas começou, o mercado inteiro mudou. Drogas agora são procuradas pela internet, encomendada de químicos industriais produzindo com pureza farmacêutica, pagas usando criptomoedas e entregues pelo correio. As mais novas nunca são identificadas nem por cães nem por testes toxicológicos de rotina.

Isso não quer dizer que o mercado seja seguro – longe disso. Mas drogas são atualmente mais fáceis de obter e muitas não podem ser detectadas.

Porque não mudamos?

Há alguma sugestão que em New South Wales (Austrália), ao menos, todo capital político que existia para ser gasto já foi utilizado para a maconha medicinal, então não há motivos para abrir um outro front no combate a “guerra às drogas”.

Mais precisamente, políticos australianos estão temerosos pelas suas carreiras – eles temem que uma guinada perceptível na política de drogas possa levantar questões sobre sua capacidade de julgamento.

Entretanto, com significantes mudanças provavelmente emergindo da sessão especial da Assembleia Geral da ONU sobre drogas de abril de 2016, questões difíceis serão provavelmente feitas àqueles que historicamente perseguiram, contra toda evidência em contrário, a guerra mundial contra as drogas.

A mais provável e desapontadora razão para os políticos australianos estarem envergonhados em fazer qualquer debate sobre a política de drogas é o “custo afundado” da ordem de vários bilhões de dólares da guerra contra as drogas. Tanto foi gasto na atual e falida abordagem que eles são pressionados a manter o status quo, independente das evidências.

Cães farejadores em festivais – o que o Ombudsman de New South Wales classificou como desperdício de dinheiro e mesmo potencialmente perigoso – custam em torno de um milhão de dólares australianos por ano em cada jurisdição. Com essa quantidade de dinheiro, dez programas de checagem de drogas podem ser implantados na Austrália dentro de semanas obtendo muito mais efeito que o já observado com cães farejadores.

Se nossos políticos desejam continuar com uma pequena credibilidade em política de drogas, agora seria um excelente e politicamente recompensador momento para começar a escutar as evidencias.

FONTE


Agradecemos imensamente a tradução feita pela colaborador Antonio Dias.
Seja você também um colaborador, entre em contato:

equipemundocogumelo@gmail.com

Quais são os riscos dos psicodélicos? Coisas a considerar antes de uma experiência psicodélica

Os perigos dos psicodélicos são com frequência  exagerados, mas essas substâncias expansoras da mente podem apresentar problemas se utilizadas sem cautela.
Os perigos dos psicodélicos são com frequência  exagerados, mas essas substâncias expansoras da mente podem apresentar problemas se utilizadas sem cautela. Imagem: Dima Yastronaut – Balance

Psicodélicos possuem muito a oferecer à humanidade, e tem sido utilizados por milênios por culturas ao redor do mundo exatamente por esse motivo. Como toda medicina poderosa, entretanto, essas plantas e químicos expansores da mente nunca devem ser utilizados levianamente, e a aproximação não deve ser feita sem muita pesquisa e cuidado. Ambos os efeitos de cura e perigos potenciais dos psicodélicos não devem nunca ser subestimados, mas como iremos ver, (e ao contrário da concepção de muitas pessoas) os perigos com frequência não estão associados com os psicodélicos por si próprios.

Drogas Impostoras

Provavelmente o maior perigo para alguém que está tomando psicodélicos é, em um ambiente não-médico, ouvir de alguém que uma certa substância é “ácido”, “ecstasy”, quando de fato é algo totalmente diferente. Infelizmente, a ocorrência desse tipo de situação está aumentando, pois traficantes de rua tendem a tentar popularizar seu produto sob um nome popular, quando de fato o que é vendido são research chemicals que oferecem efeitos mais fortes em relação ao seu preço se comparados com os psicodélicos em sua forma pura. Substâncias não psicodélicas que são vendidas como tais incluem heroína, metanfetaminas, e até mesmo sais de banho (metilona e derivados). Essa tendência perturbadora ilustra as consequências mortais que o paradigma da proibição impõe e destaca a importância vital das práticas de redução de danos.

Considerações para desordens mentais não-diagnosticadas

Uma das parábolas mais antigas em relação aos psicodélicos é que consumi-los com frequência irá enlouquecê-lo – não por apenas algumas horas, mas para sempre. Como parte da campanha de pânico levantada contra os psicodélicos na década de 70 e 80, essa história era acreditada por muitas pessoas devido ao clima antagonista sócio-político que a guerra às drogas criou, mas na verdade essa é apenas uma falácia. Inúmeros estudos científicos têm sido feitos com psicodélicos, desde a psilocibina ao DMT e ao Peiote, e foi descoberto que psicodélicos não prejudicam o cérebro sob uso normal e controlado. A única ponta de verdade nessa história é que em uma fração muito pequena de casos, algumas pessoas que foram diagnosticadas como portadoras de distúrbios mentais ou com uma forte predisposição genética à esses distúrbios podem ter tido suas desordens desencadeadas mais cedo pelo psicodélico. E, claramente, não é necessário mencionar que altas dosagens de qualquer substância, legal ou ilegal, podem apresentar perigos reais, que o uso racional não apresenta.

Interações prejudiciais

Enquanto a maior parte dos psicodélicos são relativamente seguros por si mesmos, alguns prejudicam mais o corpo do que outros, e alguns interagem de maneira prejudicial com outras drogas. É por isso que centros de tratamento psicodélico ao redor do mundo requerem uma análise médica prévia. Os indivíduos devem sempre realizar pesquisas por si mesmos, mas alguns exemplos de fatores de risco que devem ser considerados incluem problemas cardíacos com o tratamento com ibogaína, antidepressivos com a ayahuasca, e dextromethorphan (DXM) com MDMA. Pessoas em qualquer tipo de tratamento devem realizar pesquisa extensiva antes de considerar qualquer tipo de experiência psicodélica.

Assegurando que os psicodélicos gerem mais benefícios do que prejuízos

“Bad trips”, ou viagens ruins com psicodélicos podem deixar as pessoas estressadas, mas elas podem ser reduzidas ou até mesmo transformadas em catarses de auto-transformação com set e setting apropriados. Isso significa que as intenções de uma pessoa que está buscando uma experiência psicodélica, combinadas com suas estruturas físicas e sociais, além da rede de apoio e suporte, tem um papel essencial em ajudar os indivíduos a transformar sua experiência em uma jornada psicodélica de aprendizado e enriquecimento pessoal.

Dito isso, se essas condições de suporte vitais são desfavoráveis, ou se uma pessoa não está preparada para enfrentar face a face seus sentimentos, traumas e padrões de comportamento mais profundos, ela pode se sentir oprimida e resistir à experiência, criando uma viagem desconfortável e muitas vezes assustadora, que nega os insights reveladores que os psicodélicos oferecem. A importância do set e setting e do suporte à experiência é a razão pela qual grupos como o Projeto Zendo existem e fornecem esse tipo de serviços a pessoas que estão passando por uma experiência desafiadora em festivais. Seja em um festival ou durante uma sessão de terapia psicodélica, o suporte humano é um componente essencial para assegurar a segurança física e emocional do indivíduo. Leia mais sobre redução de danos na experiência psicodélica aqui.

Fonte

Psicodélicos – Uso Responsável e Evitando Bad Trips

Esse artigo está escrito com ênfase em psicodélicos, mas é relevante para qualquer experiência com qualquer substância. Ele é dedicado a providenciar um guia de instruções compreensivas nas variedades de fatores que devem ser considerados antes de ter uma experiência com substâncias psicoativas de uma maneira segura e responsável. Esses fatores individuais são listados abaixo:

Efeitos dos Psicodélicos

É importante saber com antecedência e de forma detalhada e compreensível, a duração, farmacologia, efeitos subjetivos e potenciais efeitos adversos que a substância ou a mistura de substâncias poderá induzir. Existem muitas fontes online para o aprendizado e referências em relação a esse aspecto do uso de psicodélicos. Se uma análise completa de sua substância específica foi escrita, você irá encontrá-la na Biblioteca de Substâncias. Você também pode pesquisar alguns relatos de viagens em fóruns e grupos na internet.

Se você já conhece os efeitos exatos da droga com antecedência, então você já sabe o que esperar. Isso é algo que reduz significativamente as chances de uma experiência negativa através da prevenção de circunstâncias não esperadas.

Dosagem dos Psicodélicos

Uma regra extremamente importante quando se trata de usar psicodélicos com responsabilidade é evitar ao máximo dosagens com as quais você não está familiarizado ou confortável. Um usuário sem experiência deve sempre começar com baixas dosagens com o objetivo de aumentar para dosagens maiores gradativamente, assim que ele se sentir confortável para tanto. Isso deve ser feito aumentando levemente a dosagem em cada experiência separada, e não dando passos grandes para o desconhecido. Agir dessa maneira permite que as pessoas tenham uma sensação da substância que elas estão utilizando em um setting controlado antes que elas mergulhem em estados mais profundos. Isso minimiza o risco acidental de uma experiência negativa enormemente, e embora guias de dosagens existam, todo mundo reage de uma maneira diferente para cada substância dependendo de sua tolerância pessoal e neuroquímica.

Setting

Esse com certeza é um ótimo setting :)
Esse com certeza é um ótimo setting 🙂

Escolher um local apropriado e seguro para uma pessoa ter a experiência com a substância é extremamente importante e lidera um grande fator em determinar o resultado da viagem. O melhor local para um usuário sem experiência é um ambiente familiar, seguro e abrigado que é completamente livre de alguns fatores que podem causar uma influência negativa direta. Esses fatores incluem:

  • Ter certeza que o usuário esteja completamente livre de responsabilidades durante a experiência e no dia seguinte, uma vez que a tarefa mais simples irá se tornar extremamente difícil e algumas vezes estressantes sob a influência de certas substâncias. O usuário deve estar relaxado e permanecer confortável, sem realizar nenhuma atividade que exige concentração. Isso inclui dirigir e operar maquinaria pesada por razões óbvias.
  • Evitar pessoas que são irrelevantes e que não devem estar presentes durante a experiência. Isso inclui pais que estão dormindo na mesma casa e amigos que não são de extrema confiança e compreensão. A mera presença de pessoas pode ser uma indutora de ansiedade para muitos indivíduos.
  • Evitar ambientes potencialmente perigosos, barulhentos, não familiares, e ambientes públicos. Essa medida é muito óbvia, porém com frequência ignorada. Você como um usuário não-experiente não deve estar sob a influência de substâncias alteradoras da mente em um centro urbano, festas ou em bares sob nenhuma circunstância.
  • Evite vibrações negativas de qualquer tipo. Isso pode parecer óbvio, mas não assista a filmes assustadores ou desagradáveis, e não escute música desagradável. Se vibrações negativas estão envolvendo a experiência, elas podem ser suprimidas mudando-se rapidamente o ambiente. Por exemplo, se alguém estiver com a luz apagada, levante-se e ligue as luzes, mude a música ou mova-se para uma área diferente e pensamentos negativos serão imediatamente reduzidos.

Uma vez que a pessoa tenha se tornado familiar com a sua substância de escolha e consciente de seus próprios limites,  cabe inteiramente a ela como indivíduo decidir se elas estarão confortáveis viajando em ambientes mais recreativos como a natureza, encontros sociais, festar, raves, etc. O usuário sem experiência, entretanto, deve sempre procurar um quarto seguro e confortável, em sua própria casa ou na de amigos. A experiência deve ser privada, com músicas calmas, assentos confortáveis e comida/água disponíveis.

Estado da Mente

Um dos fatores mais importantes para serem considerados como um usuário inexperiente é o seu estado de mente atual. Muitos psicodélicos aumentam o estado mental, emoções e perspectiva geral do mundo do indivíduo, de formas que muitas vezes podem ir em uma direção positiva e eufórica, ou em uma direção negativa, terrível e cheia de ansiedade. É por causa disso que muitas substâncias não devem ser utilizadas pelo usuário sem experiência durante períodos estressantes ou negativos de sua vida, e os eles devem estar completamente conscientes dos meios em que psicodélicos e outras drogas, particularmente alucinógenos, consistentemente forçam a pessoa a encarar e lidar com os problemas introspectivos pessoas com os quais todos os seres humanos são atormentados.

Durante a experiência em si o usuário deve deixar ir e permitir que os efeitos tenham o controle. O usuário deve tomar o assento metafórico do passageiro, e nunca tentar controlar qualquer parte da experiência. É extremamente importante que as pessoas simplesmente relaxem e absorvam as coisas na medida em que surgem. O usuário deve entender que o ato de viajar é com frequência inefável e incompreensível em dosagens elevadas, o que significa que a aceitação de não ser capaz de entender o cenário completo do que está acontecendo deve estar presente todo o tempo. Deve-se abraçar o fato que os processos de pensamento, embora mais perspicazes em locais físicos, serão sempre prejudicados, juntamente com o controle motor, habilidades de conversação e funcionamento geral. Isso é algo que o usuário deve visualizar como normal e não se sentir auto-consciente ou inseguro na presença de outros.

Acompanhantes das viagens

A presença de um acompanhante sóbrio e responsável é fortemente recomendada quando um indivíduo inexperiente ou um grupo de indivíduos inexperientes experimentam com um psicodélico não-familiar. É responsabilidade dessa pessoa auxiliar o indivíduo ou o grupo mantendo um estado mental racional e responsável. Isso deve ser feito simplesmente assistindo os viajantes e calmamente os tranquilizando se eles experimentarem qualquer ansiedade ou estresse, ao mesmo tempo em que eles são prevenidos de acidentes ou ferimentos. Muitas vezes, acompanhar usuários de psicodélicos se assemelha muito a cuidar de crianças como uma babá, pois é uma responsabilidade que deve ser levada com a mesma seriedade.

Um bom acompanhante de viagens deve estar seguro de uma série de coisas durante a experiência. Eles devem permanecer sóbrios e devem ser capazes de simpatizar com a situação dos membros do grupo através de experiências pessoais com o psicodélico, substâncias similares ou pelo menos muita pesquisa sobre seus efeitos. É importante entender que quando uma pessoa está viajando, ela muitas vezes não poderá se comunicar como geralmente fazem. Além disso, o equilíbrio e localização espacial podem estar prejudicados, então dar assistência na realização de tarefas físicas pode reduzir a ansiedade.

Uma vez que o indivíduo tenha se familiarizado com a experiência, cabe a ele decidir se se sente confortável o suficiente para viajar sem a presença do acompanhante.

Âncoras

 

Algumas âncoras são visíveis em torno de Terence Mckenna.
Algumas âncoras são visíveis em torno de Terence Mckenna. Âncoras são objetos ancestrais na cultura dos psicodélicos.

Uma âncora, no contexto do uso de alucinógenos pode ser definida como uma atividade ou objeto físico que mantêm o indivíduo conectado à realidade durante momentos de alta supressão e distorção do senso de tempo, espaço, linguagem, ego e memórias de curto/longo prazo. Em dosagens mais elevadas, isso pode resultar em extrema desorientação e confusão. Âncoras são geralmente usadas para evitar esse fenômeno e manter o conceito de “situação real” , ou seja, mostrar para o viajante que ele está em outra realidade. Alguns exemplos de âncoras incluem:

Música familiar e animadora.

Um objeto ou gravura extremamente pessoal.

Repetição contínua de uma palavra ou som como um mantra.

Escrever um lembrete legível em um pedaço largo de papel e deixá-lo perto do campo de visão durante a viagem. Lembretes comuns incluem o nome da substância juntamente com a sua dosagem e frases como “Você está apenas viajando”. O mesmo princípio pode ser usado para escrever no corpo ao invés de pedaços de papel.

Um item da vestimenta ou acessório que somente é utilizado durante as viagens psicodélicas, e portanto está associado com o ato de viajar.

Tolerância e abuso

Se uma pessoa for utilizar um psicodélico responsavelmente, a frequência que ele utiliza deve ser monitorada com atenção, embora muitos dos psicodélicos clássicos são fisicamente benignos independentemente da frequência de uso, por que vêm com uma tolerância embutida que previne o uso mais frequente que uma vez por semana. Porém, isso não ocorre com todos os alucinógenos, delirantes e dissociativos e alguns psicodélicos podem vir com efeitos adversos na saúde. Esses psicodélicos por sua vez devem ser individualmente pesquisados antes do consumo. Sem mencionar que qualquer psicodélico pode causar problemas na saúde psicológica do indivíduo se usado com frequência. Lembre que o uso de substâncias se torna um vício quando os efeitos negativos começam a ofuscar os positivos, mas mesmo assim o usuário continua a utilizá-la.

É importante notar que o indivíduo deve prestar mais atenção em não somente ter a certeza que as drogas não fiquem no caminho de suas responsabilidades. O abuso de substâncias pode ser evitado entendendo que a vide não deve ser composta por um único interesse. Se a vida de uma pessoa se torna exclusivamente dedicada para qualquer coisa, incluindo drogas e tudo o mais, ela começa a se tornar sem sentido. O objetivo é se manter interessado nessas substâncias ao mesmo tempo garantindo que hobbies e interesses sejam ampliados para outras áreas, tais como a pessoal, intelectual e criativa. As drogas devem ser auxiliadoras na apreciação das coisas que já existem na vida, e não substituir as coisas que existem na vida.

Conclusão

Em resumo, uma consideração cuidadosa deve ser tomada antes de ingerir qualquer tipo de psicodélico. Seguindo essas instruções simples minimiza os riscos de uma forma efetiva, permitindo que as pessoas viajem responsavelmente e com pouca sensação de medo.

Usos Não Terapêuticos do LSD – Stanislav Grof

Traduzido do original de Stanislav Grof, M.D.
Capítulo 8, Psicoterapia do LSD, ©1980, 1994 by Stanislav Grof

Sessões de treinamento de profissionais da saúde mental

O extraordinário valor do LSD para a educação dos psiquiatras e psicólogos se tornou evidente nos primeiros estagios iniciais de sua pesquisa. Em seu trabalho pioneiro, publicado em 1947, Stoll enfatizou que um autoexperimento com estas substâncias oferece aos profissionais uma oportunidade única de experimentar em primeira mão os mundos alienígenas que se deparam no seu trabalho diário com pacientes psiquiátricos. Durante a fase de “modelo de psicose” da pesquisa do LSD, quando o estado psicodélico foi considerado uma esquizofrenia induzida quimicamente, sessões de LSD foram recomendadas como viagens reversíveis para o mundo experiencial de psicóticos que tiveram um significado didático único. A experiência era recomendada para psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e estudantes de medicina como um meio de aquisição de insights sobre a natureza da doença mental. Rinkel (85), Roubicek (90) e outros pesquisadores que conduziram experimentos didáticos deste tipo informaram que uma única sessão de LSD pode mudar radicalmente o entendimento de que os profissionais de saúde mental têm de pacientes psicóticos, e resultar em uma atitude mais humana em relação a eles.

O fato do conceito de “modelo de psicose” advindo do estado alterado por LSD ter sido finalmente rejeitado pela maioria dos pesquisadores não diminuiu o valor educativo da experiência psicodélica. Embora as mudanças mentais induzidos pelo LSD não são, obviamente, idênticas a esquizofrenia, a ingestão da droga ainda representa uma oportunidade muito especial para os profissionais e estudantes vivenciarem muitos estados mentais que ocorrem naturalmente no contexto de várias perturbações mentais. Estes envolvem distorções perceptivas nas áreas óptica, acústica, tátil, olfativa e gustativa; distúrbios quantitativos e qualitativos dos processos de pensamento; e qualidades emocionais anormais de extraordinária intensidade.

Sob a influência do LSD é possível experimentar ilusões sensoriais e pseudo alucinações, retardo ou aceleração do pensamento, interpretação delirante do mundo, e toda uma gama de intensas emoções patológicas, como depressão maníaca, a agressão, o desejo autodestrutivo, e agonizantes sentimentos de inferioridade e culpa, ou, inversamente, a experiência extática, paz transcendental e serenidade, e um senso de unidade cósmica. A experiência psicodélica também pode se tornar uma fonte de revelação e visões estéticas, científicas, filosóficas ou espirituais.

Autoexperimentação com LSD não esgota o seu potencial didático. Outra experiência de aprendizagem de grande valor é a participação nas sessões de outros assuntos. Isto oferece uma oportunidade para os jovens profissionais de observar toda uma gama de fenômenos anormais e serem expostos e se familiarizar com os estados emocionais extremos e padrões de comportamento incomuns. Isto ocorre sob circunstâncias especialmente estruturadas, em um momento conveniente, e no contexto de uma relação existente com o experimentador. Todos estes fatores tornam esta uma situação mais adequada para o aprendizado do que para a ala de admissão ou unidade de emergência de um hospital psiquiátrico. De uma forma mais específica, o aprofundamento em sessões de LSD tem sido recomendado como um treinamento inigualável para futuros psicoterapeutas. A intensificação do relacionamento com os assistentes, que é característica de sessões de LSD, apresenta uma oportunidade rara para um profissional iniciante observar fenômenos de transferência e aprender a lidar com eles. O uso de LSD no contexto de um programa de formação de psicoterapeutas futuros foi discutido em um artigo especial por Feld, Goodman, e Guido. (26)

Um estudo amplo e sistemático do potencial didático de sessões de LSD foi realizado no Maryland Psychiatric Research Center. Neste programa, até três sessões de altas doses de LSD foram oferecidos a profissionais de saúde mental para fins de treinamento. Mais de cem pessoas participaram neste programa entre 1970, quando começou, e 1977, quando foi encerrado. A maioria destes indivíduos estavam interessados na experiência psicodélica porque era intimamente relacionado com as suas próprias atividades profissionais. Alguns deles realmente trabalharam em unidades de intervenção de crise ou com pacientes que tinham problemas relacionados ao uso de drogas psicodélicas. Outros eram praticantes de várias técnicas psicoterápicas e queriam comparar a psicoterapia do LSD às suas próprias e especiais disciplinas, psicoanálises e psicodramas, terapias de Gestalt, psicossínteses, ou bioenergéticas. Poucos foram os pesquisadores envolvidos no estudo de estados alterados de consciência, a dinâmica do inconsciente, ou a psicologia da religião. Um pequeno grupo era composto por profissionais que estavam especificamente interessados em se tornar terapeutas do LSD. Eles geralmente passaram vários meses conosco, participando de reuniões de equipe, assistindo vídeos de prática terapêutica com LSD, ou orientavam sessões psicodélicas sob supervisão. Eles, então, tiveram a oportunidade de submeter-se a suas próprias sessões de LSD como parte da programação de treinamento. Todos os participantes do programa de LSD para os profissionais concordaram em cooperar em testes psicológicos pré e pós-sessão, e preencher um questionário de acompanhamento seis meses, 12 meses e dois anos após a sessão. As perguntas deste seguimento foram centradas em mudanças observadas após a sessão de LSD em seu trabalho profissional, filosofia de vida, os sentimentos religiosos, a sua condição física e emocional, e ajustamento interpessoal. Embora tenhamos muita evidência anedótica de valor neste programa de treinamento, os dados do teste psicológico pré e pós-sessão e dos questionários de acompanhamento ainda não sessão processados e avaliados sistematicamente.

Como salientei anteriormente, sessões de treinamento com LSD são uma qualificação essencial para qualquer terapeuta do LSD. Devido à natureza única do estado psicodélico é impossível chegar a um entendimento real da sua qualidade e dimensões, a menos que a pessoa possa experimentá-lo diretamente. Além disso, a experiência de enfrentar as diversas áreas no próprio inconsciente é absolutamente necessária para o desenvolvimento da capacidade de ajudar outras pessoas com competência e serenidade no seu processo de autoexploração profunda. Sessões de treinamento de LSD também são altamente recomendadas para enfermeiros e todos os outros membros da equipe em unidades de tratamento psicodélico que entram em contato próximo com os clientes em estados incomuns de consciência.

 

Administração de LSD para indivíduos criativos

Um dos aspectos mais interessantes da pesquisa LSD é a relação entre o estado psicodélico e o processo criativo. A literatura profissional sobre o assunto reflete considerável controvérsia. Robert Mogar (71), que analisou os dados experimentais existentes sobre o desempenho de várias funções relacionadas com o trabalho criativo, considerou os resultados inconclusivos e contraditórios. Assim, alguns estudos com foco no aprendizado instrumental demonstraram uma diminuição durante a experiência com drogas, enquanto outros indicaram uma melhoria definitiva da capacidade de aprendizagem. Resultados conflitantes também foram relatados na percepção das cores, lembranças e reconhecimento, conceitos de discriminação, concentração, pensamento simbólico, e precisão perceptual. Estudos utilizando vários testes psicológicos projetados especificamente para medir a criatividade normalmente não demonstraram melhora significativa como resultado da administração do LSD. No entanto, o quão relevantes estes testes são em relação ao processo criativo e quão sensível e específico que eles são para detectar as alterações induzidas pelo LSD permanecem ainda questões em aberto. Outro fator importante a considerar foi a falta de motivação geral em voluntários para participar e cooperar nos procedimentos formais de teste psicológico, enquanto eles estavam profundamente envolvidos em suas experiências interiores. Em vista da importância do “set & setting”, a relação entre experimentador e seu contexto/ambiente em uma experiência psicodélica, também deve ser mencionado que muitos dos estudos acima descritos foram realizados sob a abordagem do “modelo de esquizofrenia”, e portanto, com o intuito de demonstrar a disfunção psicótica de desempenho .

O resultado geralmente negativo de estudos da criatividade está em nítido contraste com a experiência cotidiana de terapeutas do LSD. O trabalho de muitos artistas-pintores, músicos, escritores e poetas que participaram da experimentação com LSD em vários países do mundo tem sido profundamente influenciados por suas experiências psicodélicas. [1] A maioria deles encontrou o acesso a fontes profundas de inspiração em sua mente inconsciente, experimentaram um aumento marcante e um desencadeamento da fantasia, e chegaram a uma extraordinária vitalidade, originalidade e liberdade de expressão artística. Em muitos casos, a qualidade de suas criações melhorou consideravelmente, não só de acordo com seu próprio julgamento ou a opinião dos pesquisadores de LSD, mas pelos padrões de seus colegas de profissão. Em exposições, que cronologicamente mostram o desenvolvimento do artista, geralmente é fácil de reconhecer quando ele ou ela teve uma experiência psicodélica. Pode-se ver geralmente um salto quântico dramático no conteúdo e estilo das pinturas. Isto é particularmente verdadeiro com pintores que, antes da sua experiência de LSD, eram convencionais e conservadores em sua expressão artística.

No entanto, a maior parte da arte nas coleções dos terapeutas psicodélicos vem de indivíduos que não eram artistas profissionais, mas tiveram sessões de LSD para fins terapêuticos, didáticos, ou outros. Freqüentemente, os indivíduos que não apresentavam quaisquer inclinações artísticas sob nenhum aspecto antes da experiência com LSD puderam criar imagens extraordinárias. Na maioria dos casos, é a intensidade do efeito que está ligada à natureza incomum e ao poder do material que emerge das profundezas do inconsciente, e não as habilidades artísticas. Não é incomum, no entanto, até mesmo para os aspectos técnicos de tais desenhos ou pinturas serem muito superiores às criações anteriores dos mesmos assuntos. Algumas pessoas realmente prosseguiram a sua vida cotidiana com as novas habilidades que eles descobriram em suas sessões psicodélicas. Em casos excepcionais, um verdadeiro talento artístico de extraordinário poder e alcance, pode surgir durante o procedimento de LSD. Um de meus pacientes em Praga, que tinha nojo de desenho e pintura toda a sua vida e teve de ser forçado a participar de aulas de arte na escola, desenvolveu um notável talento artístico dentro de um período de vários meses. Sua arte acabou encontrando aceitação entusiástica entre os pintores profissionais e ela teve exposições públicas bem-sucedidas. Em casos como este, é preciso assumir que o talento já existia nesses indivíduos em uma forma latente, e que sua expressão foi bloqueado por fortes emoções patológicas. A liberação afetiva através de terapia psicodélica tinha permitido sua manifestação livre e plena.

É interessante essa tendência que a experiência de LSD tem de aumentar a apreciação e compreensão da arte em indivíduos previamente insensíveis e indiferentes. A observação característica em uma pesquisa psicodélica é o desenvolvimento súbito de interesse em vários movimentos na arte moderna. Indivíduos que eram indiferentes ou mesmo hostis em relação a formas de arte não-convencionais podem desenvolver uma visão profunda sobre suprematismo, pontilhismo, cubismo, impressionismo, dadaísmo, surrealismo, ou super realismo, após uma única exposição ao LSD. Há certos pintores cuja arte parece ser particular e intimamente relacionada com as experiências visionárias induzidas pelo LSD. Assim muitos participantes de estudos desenvolveram profunda compreensão empática das pinturas de Hieronymus Bosch, Vincent van Gogh, Salvador Dali, Max Ernst, Pablo Picasso, René Magritte, Maurits Escher, ou HR Giger.

 

Outra consequência típica da experiência psicodélica é uma dramática mudança de atitude em relação a música; muitos participantes descobriram em suas sessões novas dimensões da música e novas formas de ouví-la. Um número de nossos pacientes, que eram alcoólatras e viciados em heroína, com má formação educacional, desenvolveram tão profundo interesse em música clássica, como resultado de sua única sessão de LSD que eles decidiram usar seus magros recursos financeiros para a compra de um aparelho de som e iniciaram uma coleção própria. O papel dos psicodélicos no desenvolvimento da música contemporânea e seu impacto sobre os compositores, intérpretes e público é tão óbvio e notório que ele não exige ênfase especial aqui.

Embora a influência do LSD na expressão artística é mais evidente nas áreas de pintura e música, a experiência psicodélica pode ter um efeito fertilizante semelhante em alguns outros ramos da arte. Estados visionários induzidas pela mescalina e LSD tiveram um significado profundo na vida, arte e filosofia de Aldous Huxley. Muitos de seus escritos, incluindo ‘Admirável Mundo Novo’, ‘A Ilha’, ‘Céu e Inferno’ e ‘As Portas da Percepção’ foram diretamente influenciados por suas experiências psicodélicas. Alguns dos mais poderosos poemas de Allen Ginsberg foram inspirados por sua autoexperimentação com substâncias psicodélicas. O papel do haxixe na arte francesa do fin de siècle também poderiam ser mencionados neste contexto. O arquiteto canadense-japonês Kiyo Izumi foi capaz de fazer uso exclusivo de suas experiências com LSD na concepção de instalações psiquiátricas modernas. (40)

Uma vez que o LSD é mediador de um acesso ao conteúdo e a dinâmica do profundo inconsciente, em termos psicanalíticos, para o processo primário, não é particularmente surpreendente que as experiências psicodélicas podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento criativo dos artistas. No entanto, muitas observações da pesquisa psicodélica do LSD indicam que também pode ser de valor extraordinário para várias disciplinas científicas que são tradicionalmente consideradas domínios da razão e da lógica. Dois aspectos importantes do efeito LSD parecem ser de particular importância neste contexto.Em primeiro lugar, a droga pode mediar o acesso aos vastos repositórios de informações válidas e concretas do inconsciente coletivo e disponibilizá-los para o experimentador. De acordo com minhas observações, o conhecimento revelado pode ser muito específico, preciso e detalhado; os dados obtidos deste modo podem ser relacionados a muitos campos diferentes. Em nosso programa de treinamento de LSD relativamente limitado para os cientistas, insights relevantes ocorreram em áreas tão diversas como cosmogênese, a natureza do espaço e do tempo, física subatômica, etologia, psicologia animal, história, antropologia, sociologia, política, religião comparada, filosofia, genética, obstetrícia, medicina psicossomática, psicologia, psicopatologia e tanatologia. [2] 

O segundo aspecto dos efeitos do LSD que é de grande relevância para o processo criativo é a facilitação de novas e inesperadas sínteses de dados, resultando em resoluções pouco convencionais de problemas. É um fato bem conhecido que muitas idéias importantes e soluções para os problemas não se originaram no contexto do raciocínio lógico, mas em vários estados mentais incomuns, em sonhos, ao adormecer ou despertar, nos momentos de cansaço físico e mental extremo ou durante uma doença com febre alta. Há muitos exemplos famosos deste. Dessa maneira, o químico Friedrich August von Kekulé chegou à solução final da fórmula química do benzeno em um sonho em que ele viu o anel de benzeno na forma de uma serpente que morde a cauda. Nikola Tesla construiu o gerador elétrico, uma invenção que revolucionou a indústria, depois que o projeto completo apareceu para ele em grande detalhe em uma visão. O projeto para a experiência que conduz ao prêmio Nobel de descoberta da transmissão química dos impulsos nervosos ocorreu o fisiologista Otto Loewi enquanto ele dormia. Albert Einstein descobriu os princípios básicos de sua teoria da relatividade especial em um estado incomum de espírito; de acordo com a sua descrição, a maioria das idéias vieram a ele na forma de sensações cinestésicas.

Poderíamos citar muitos exemplos de um modelo semelhante, onde um indivíduo criativo lutava sem sucesso a um longo tempo com um difícil problema em usar a lógica e a razão, em que a solução real emergiu inesperadamente do inconsciente nos momentos em que a sua racionalidade foi suspensa. [3] Na vida cotidiana, eventos desse tipo acontecem muito raramente, e de uma forma elementar e imprevisível. As drogas psicodélicas parecem facilitar a incidência de tais soluções criativas para o ponto em que elas podem ser deliberadamente programadas. Em um estado de LSD, as velhas estruturas conceituais se quebram, barreiras cognitivas culturais se dissolvem, e o material pode ser visto e sintetizado em uma maneira totalmente nova que não era possível dentro dos antigos sistemas de pensamento. Este mecanismo pode produzir não apenas articulando novas soluções para os vários problemas específicos, mas trazendo novos paradigmas que revolucionam disciplinas científicas inteiras.

Embora a experimentação psicodélica tenha sido drasticamente controlada antes que estes caminhos pudessem ser explorados de forma sistemática, o estudo da resolução criativa de problemas conduzido por Willis Harman e James Fadiman (36) no Instituto de Pesquisa de Stanford trouxe evidências interessantes o suficiente para incentivar a investigação futura.

O medicamento utilizado neste experimento não era LSD mas a mescalina, o ingrediente ativo do cacto mexicano Anhalonium lewinii [Lophophora williamsii], ou peyote. Devido à semelhança geral dos efeitos destes dois medicamentos, resultados comparáveis devem ser esperado com o uso de LSD; várias observações acidentais de nosso programa de treinamento de LSD para os cientistas e para o uso terapêutico da droga parecem confirmar isso. Os sujeitos do estudo Harman-Fadiman eram vinte e sete homens envolvidos em uma variedade de profissões. O grupo foi composto por dezesseis engenheiros, um engenheiro-físico, dois matemáticos, dois arquitetos, um psicólogo, um designer de móveis, um artista comercial, um gerente de vendas, e um gerente de pessoal. O objetivo do estudo foi verificar se sob a influência de 200 miligramas de mescalina estes indivíduos mostrariam aumento da criatividade e na produção de soluções concretas, válidas e viáveis para os problemas, julgado pelos critérios da indústria moderna e da ciência positivista. Os resultados desta pesquisa foram muito encorajadores; muitas soluções foram aceitas para construção ou produção, outras poderiam ser mais desenvolvidas ou levaram a novos caminhos para a investigação. Os voluntários de mescalina consistentemente relataram que a droga gerou neles uma variedade de mudanças que facilitaram o processo criativo. Baixou a inibição e as ansiedades, aumentou a fluência e flexibilidade de ideação, aumentado a capacidade de imaginação visual e de fantasia, e aumentou a capacidade de se concentrar no projeto. A administração de mescalina também facilitou a empatia com pessoas e objectos, gerou informação subconsciente mais acessível, aumentou a motivação para a obtenção de conclusões e, em alguns casos, permitiu a visualização imediata da solução completa.

É evidente que o potencial do LSD para aumentar a criatividade será directamente proporcional à capacidade intelectual e sofisticação do experimentador. Para a maioria dos insights criativos, é necessário conhecer o estado atual da disciplina envolvida, ser capaz de formular novos problemas relevantes e encontrar os meios técnicos de descrever os resultados. Se este tipo de pesquisa for repetido no futuro, os candidatos lógicos seriam proeminentes cientistas de várias disciplinas:. Físicos nucleares, astrofísicos, geneticistas, fisiologistas do cérebro, antropólogos, psicólogos e psiquiatras [4]

 

Experiências Místico-Religiosas Quimicamente Induzidas


O uso de substâncias psicodélicas para fins rituais, religiosos e mágicos remonta às tradições xamânicas antigas e é provavelmente tão antigo quanto a humanidade. O lendário soma, a poção divina preparada a partir de uma planta ou fungo de mesmo nome, cuja identidade já está perdida, desempenhou um papel crucial na religião védica. Preparações de Cannabis indica e sativa têm sido utilizados na Ásia e África durante muitos séculos sob diferentes nomes: haxixe, charas, bhang, ganja, kif, tanto em cerimônias religiosas como na medicina popular. Eles têm desempenhado um papel importante no Bramanismo, têm sido utilizados no contexto das práticas Sufi, e representam o principal sacramento dos rastafáris. O uso religioso-mágico de plantas psicodélicas foi generalizado nas culturas pré-colombianas, entre os astecas, maias, Olmecas e outros grupos indígenas. O famoso cacto mexicano Lophophora williamsii (peyote), o Psilocybe mexicana cogumelo sagrado (teonanacatl) , e diversas variedades de sementes de morning glory (Ololiuqui) estavam entre as plantas utilizadas. Uso ritual do peiote e do cogumelo sagrado ainda sobrevive entre várias tribos mexicanas; a caça ao peyote e outras cerimônias sagradas dos índios Huichol e rituais de cura Mazatecas usando os cogumelos, podem ser mencionados aqui como exemplos importantes. O Peyote também foi assimilado por muitos grupos indígenas norte-americanas e cerca de cem anos atrás, tornou-se o sacramento da sincretista Igreja Nativa Americana. Curandeiros sul-americanos (ayahuasqueiros), e tribos amazônicas pré-letradas, como o Amahuaca e o Jivaro usam yagé, extratos psicodélicos do “cipó visionário”, Banisteriopsis caapi. A mais conhecida planta alucinógena africana é a Tabernanthe iboga (iboga), em que dosagens menores servem como um estimulante e é usado em grandes quantidades como um fármaco de iniciação. Na Idade Média, poções e pomadas contendo plantas psicoativas e ingredientes de origem animal foram amplamente utilizados no contexto do Sabbath das Bruxas e os rituais de magia negra. Os constituintes mais famosos das poções das bruxas eram a Beladona (Atropa Belladonna), o Mandrake (Mandragora officinarum), a Trombeta (Datura Stramonium), meimendro (Hyoscyamus niger). Da pele do sapo cururu (bufo alvarius) a chamada bufotenina (ou dimethylserotonin) também tem propriedades psicodélicas. As plantas psicodélicas mencionados acima representam apenas uma pequena seleção daqueles que são os mais famosos. De acordo com o etnobotânico Richard Schultes, do Departamento de Botânica da Universidade de Harvard, existem mais de uma centena de plantas com propriedades psicoativas distintas.

A capacidade de substâncias psicodélicas para induzir estados visionários de natureza religiosa e mística está documentado em muitas fontes históricas e antropológicas. A descoberta do LSD, e a ocorrência bem divulgada dessas experiências em muitos temas experimentais dentro de nossa própria cultura, trouxe esta questão à atenção dos cientistas. O fato de que as experiências religiosas poderiam ser desencadeadas pela ingestão de agentes químicos instigou uma discussão interessante e altamente controversa sobre a “química” ou “misticismo instantâneo.” Muitos cientistas comportamentais, filósofos e teólogos se envolveram em polêmicas ferozes sobre a natureza desses fenômenos, o seu significado, validade e autenticidade. As opiniões logo cristalizaram-se em três pontos de vista extremos. Alguns experimentadores viram a possibilidade de induzir experiências religiosas por meios químicos como uma oportunidade para transferir fenômeno religioso do reino do sagrado para o laboratório, e portanto, eventualmente, para explicá-los em termos científicos. Em última análise, não haveria nada de misterioso e santo sobre religião, e as experiências espirituais poderiam ser reduzidas à fisiologia do cérebro e à bioquímica. No entanto, outros pesquisadores tomaram uma postura muito diferente. Segundo eles, o fenômeno místico induzido pelo LSD e outras drogas psicodélicas é genuíno e estas substâncias devem ser consideradas sacramentos, porque eles podem mediar o contato com realidades transcendentes. Esta era essencialmente a posição assumida pelos xamãs e sacerdotes de culturas psicodélicas onde as plantas visionárias, como soma, peyote e teonanacatl eram vistas como materiais divinos ou como divindades em si. Ainda outra abordagem para o problema foi a considerar experiências com LSD como fenômenos “quase-religiosos”, que apenas simulam ou superficialmente se assemelham a espiritualidade autêntica e genuína que vem como “a graça de Deus”, ou como resultado de disciplina, devoção e práticas austeras. Neste quadro, a aparente facilidade com que essas experiências podem ser desencadeadas por uma substância química inteiramente desacreditaria seu valor espiritual.

No entanto, aqueles que argumentam que as experiências espirituais induzidas por LSD não podem ser válidas porque são muito facilmente disponíveis e sua ocorrência e distribuição dependem da decisão do indivíduo, não compreendem a natureza do estado psicodélico. A experiência psicodélica não é nem fácil nem uma forma previsível de chegar a Deus. Muitos indivíduos não têm elementos espirituais em suas sessões, apesar de muitas exposições ao fármaco. Aqueles que têm uma experiência mística com freqüência se submetem a provas psicológicas que são pelo menos tão difíceis e dolorosos como aqueles associados com vários ritos aborígines de passagem ou disciplinas religiosas rigorosas e austeras.

A maioria dos pesquisadores concorda que não é possível diferenciar claramente experiências místicas espontâneas e quimicamente induzidas, com base na análise fenomenológica ou abordagens experimentais. [5] Esta questão é ainda mais complicada pela relativa ausência de efeitos farmacológicos específicos do LSD e pelo fato de que algumas das situações propícias ao misticismo espontâneo estão associados a mudanças fisiológicas e bioquímicas dramáticas no corpo.

O jejum prolongado, a privação do sono, uma estadia no deserto com a exposição à desidratação e extremos de temperatura, manobras respiratórias contundentes, estresse emocional excessivo, o esforço físico e torturas, o canto longo monótono e outras práticas populares de “tecnologias do sagrado” causam alterações de tão longo alcance na química do corpo que é difícil traçar uma linha clara entre o misticismo espontâneo e química.

A decisão se experiências induzidas quimicamente são genuínas e autênticas ou não reside, portanto, no domínio de teólogos e mestres espirituais. Infelizmente, os representantes de diferentes religiões têm manifestado um amplo espectro de opiniões conflitantes; continua a ser uma questão em aberto que deve ser considerada uma autoridade nesta área. Alguns destes especialistas religiosos fizeram seus julgamentos sem nunca ter tido uma experiência psicodélica e dificilmente podem ser considerados autoridades sobre LSD; outros fizeram amplas generalizações com base em uma única sessão. Sérias diferenças de opinião existem entre os principais representantes de mesma religião – padres católicos, ministros protestantes, rabinos e santos-hindus que tiveram experiências psicodélicas. Actualmente, depois de trinta anos de discussão, a questão de saber se LSD e outros psicodélicos podem induzir experiências espirituais genuínas ainda está aberta. As opiniões negativas de pessoas como Meher Baba ou RC Zaehner se mantém firmes contra as de vários mestres do budismo tibetano, uma série de xamãs das culturas psicadélicas, Walter Clark, Huston Smith, e Alan Watts.

Se as experiências produzidas por LSD são revelações místicas genuínos ou simulações apenas muito convincentes do mesmo, elas são certamente fenômenos de grande interesse para os teólogos, pastores e estudantes de religião. Dentro de poucas horas, os indivíduos ganham profundos insights sobre a natureza da religião, e em muitos casos, a sua compreensão formal e uma crença puramente teórica são vitalizadas por uma profunda experiência pessoal dos reinos transcendentais. Esta oportunidade pode ser particularmente importante para os ministros que professam uma religião, mas ao mesmo tempo abriga sérias dúvidas sobre a verdade e relevância do que eles pregam. Vários padres e teólogos que se voluntariaram para o nosso programa de treinamento de LSD no Maryland Psychiatric Research Center eram céticos ou ateus que se envolveram com sua profissão por uma míriade de razões externas. Para eles, as experiências 

espirituais que tiveram em suas sessões de LSD foram uma prova importante de que a espiritualidade é uma força real e profundamente relevante na vida humana. Essa percepção libertou-os a partir do conflito que tiveram sobre a sua profissão, e da carga de hipocrisia. Em vários casos, os parentes e amigos desses indivíduos relataram que seus sermões Após a sessão de LSD mostraram um poder incomum e autoridade natural.

As experiências espirituais em sessões psicodélicas freqüentemente se vestem com o simbolismo do inconsciente coletivo e podem, assim, ocorrer sob aspectos de outras culturas e tradições religiosas que estão além do próprio experimentador. Sessões de treinamento de LSD são, portanto, de interesse especial para aqueles que estudam religião comparada. Ministros filiados a uma igreja específica às vezes são surpreendidos quando eles têm uma profunda experiência religiosa no contexto de um credo totalmente diferente. Devido à natureza basicamente unificadora da experiência psicodélica, isso geralmente não desqualifica sua própria religião, mas a coloca em uma perspectiva cósmica mais ampla.

 

O Papel do LSD no Crescimento Pessoal e na Auto Realização

Durante os anos de pesquisa intensiva sobre o LSD, o principal foco foi a investigação básica psicopatológica, a terapia psiquiátrica, ou alguns usos muito específicos, como o reforço da expressão artística ou a mediação de uma experiência religiosa. Relativamente pouca atenção foi dada ao valor que as experiências psicodélicas poderiam ter para o desenvolvimento pessoal dos indivíduos “normais”. Em meados dos anos sessenta, esta questão surgiu de uma forma elementar e explosiva em uma onda de enorme autoexperimentação não supervisionada.

Na atmosfera de histeria nacional que se seguiu, os prós e contras foram discutidos de forma apaixonada, exageradamente enfáticas, e, finalmente, confusa. Os prosélitos do LSD apresentaram a droga bastante acriticamente como uma panaceia fácil e segura para todos os problemas que afligem a existência humana. Autoexploração psicodélica e transformação da personalidade foram apresentadas como a única alternativa viável para a aniquilação súbita em um holocausto nuclear ou morte lenta entre os resíduos de produtos industriais. Foi recomendado que tantas pessoas quanto possível, deveriam tomar LSD sob quaisquer circunstâncias e tão freqüentemente quanto podiam, a fim de acelerar o advento da Era de Aquário. Sessões de LSD eram vistas como um rito de passagem que deveria ser obrigatória para todos os que atingiram sua adolescência.

A falta de informação ao o público sobre os perigos e armadilhas da experimentação psicodélica e de instruções para minimizar os riscos e danos, resultou em manchetes de jornais apocalípticos descrevendo os horrores e acidentes relacionados com a droga e provocou, em resposta, uma caça às bruxas encabeçada por políticos, educadores e muitos profissionais. Ignorando os dados de quase duas décadas de experimentação científica responsável, a propaganda anti-droga mudou para o outro extremo e apresentou o LSD como a droga do diabo totalmente imprevisível que representava um grave perigo para a sanidade da geração atual e para a saúde física das gerações a vir.

Neste momento, quando a carga emocional dessa controvérsia parece ter diminuído, é possível ter uma visão mais sóbria e objetiva dos problemas envolvidos. Evidências clínicas sugerem fortemente que as pessoas “normais” podem se beneficiar mais do processo do LSD e estão menos sujeitos a riscos ao participar em um programa psicodélico supervisionado. Uma única sessão de LSD em altas doses pode freqüentemente ser de valor extraordinário para aquelas pessoas que não têm quaisquer problemas clínicos graves. A qualidade de suas vidas pode ser consideravelmente reforçada e a experiência pode movê-los no sentido de auto realização e auto atualização. Este processo parece ser comparável em todos os sentidos ao que Abraham Maslow havia descrito para os indivíduos que tiveram espontâneas “experiências de pico.”

A propaganda proibicionista oficial é baseada em uma compreensão muito superficial das motivações para o uso de drogas psicodélicas. É verdade que, em muitos casos, a droga é usada por diversão ou no contexto de rebelião juvenil contra a autoridade parental ou o estabelecimento. No entanto, mesmo aqueles que tomam LSD sob as piores circunstâncias freqüentemente obtém um vislumbre do verdadeiro potencial da droga, e isso pode se tornar uma força poderosa no uso futuro. O fato de que muitas pessoas tomam LSD em uma tentativa de encontrar uma solução para os seus dilemas emocionais ou a partir de uma profunda necessidade de respostas filosóficas e espirituais não deve ser subestimado. O desejo de contato com as realidades transcendentes pode ser mais poderoso do que o desejo sexual. Ao longo da história humana inúmeros indivíduos estão dispostos a correr enormes riscos de vários tipos e sacrificar anos ou décadas de suas vidas para atividades espirituais. Todas as medidas razoáveis que venham a regular o uso das drogas psicodélicas devem tomar esses fatos em consideração.

Muito poucos pesquisadores sérios ainda acreditam que a experimentação de LSD puro representa um risco genético. Em circunstâncias adequadas, os perigos psicológicos que representam o único posssivel risco grave, pode ser reduzida a um mínimo. Na minha opinião, não há nenhuma evidência científica que se opõe à criação de uma rede de instalações em que aqueles que estão seriamente interessados em auto exploração psicodélica poderiam praticá-la com substâncias puras e sob as melhores circunstâncias. Muitos deles seriam indivíduos que estão tão profundamente motivados que de outra forma seriam sérios candidatos a autoexperimentação ilegal se envolvendo em um risco muito maior. A existência de centros deste tipo patrocinados pelo governo teria um efeito inibidor sobre as motivações imaturas de pessoas para quem as atuais proibições rigorosas representam um desafio especial e uma tentação. Uma vantagem adicional dessa abordagem seria a oportunidade de acumular e processar de uma forma sistemática todas as informações valiosas sobre os psicodélicos que foram perdidas na experimentação sem supervisão elemental e caótica. Isso também iria resolver a situação absurda existente, na qual quase nenhuma pesquisa profissional séria está sendo realizada em uma área onde milhões de pessoas têm vindo a experimentar por conta própria.

 

O Uso do LSD no Desenvolvimento de Habilidades Paranormais

Muitas evidências históricas e antropológicas e numerosas observações casuais de pesquisa clínica sugerem que substâncias psicodélicas ocasionalmente podem facilitar a percepção extra-sensorial. Em muitas culturas, plantas visionárias foram administradas no contexto de cerimônias de cura espiritual como meios para diagnosticar e curar doenças. Igualmente freqüente foi a sua utilização para outros fins mágicos, como a localização de pessoas ou objetos perdidos, projeção astral, a percepção de eventos remotos, precognição, e clarividência. A maioria dos medicamentos utilizados para estes fins foram mencionados anteriormente em conexão com rituais religiosos. Eles incluem a resina ou as folhas de cânhamo (Cannabis indica ou sativa) na África e Ásia; cogumelos amanitas entre várias tribos da Sibéria e índios norte-americanos; a planta Tabernanthe iboga entre certos grupos étnicos africanos; o cohoba snuffs (Anadenanthera peregrino) e epena (Virola theidora) da América do Sul e Caribe; e os três psicodélicos básicos das culturas pré-colombianas; o cacto peiote (Lophophora williamsii), o cogumelos sagrados teonanacatl (Psilocybe mexicana) e as sementes de Morning Glory Ololiuqui (Ipomoea violacea). De especial interesse parece ser o Yage ou Ayahuasca, uma bebida preparada a partir da trepadeira Banisteriopsis caapi, usada por índios sul-americanos no vale do Amazonas. A Harmina, também chamado yagéine ou banisterina, um dos alcalóides activos isolados da planta banisteriopsis, na verdade, tem sido referido como “telepatina”. Os estados psicodélicos induzidas pelos extratos dessas plantas parecem ser amplificadores especialmente poderosos de fenômenos paranormais. O exemplo mais famoso das propriedades incomuns do Yagé pode ser encontrada nos relatórios de McGovern (69), um dos antropólogos que descreveram esta planta. De acordo com sua descrição, um curandeiro local viu em detalhe notável a morte do chefe de uma tribo distante no momento em que estava acontecendo; a precisão da sua conta foi verificada muitas semanas depois. Uma experiência semelhante foi relatado por Manuel Cordova-Rios (53) que viu com precisão a morte de sua mãe em sua sessão yagé e mais tarde foi capaz de verificar todos os detalhes. Todas as culturas psicodélicas parecem partilhar a crença de que não só é percepção extra-sensorial reforçada durante a intoxicação por plantas sagradas, mas o uso sistemático dessas substâncias, que facilita o desenvolvimento de habilidades paranormais na vida cotidiana.

Muito material anedótico recolhidos ao longo dos anos por pesquisadores psicodélicos apóiam as crenças acima. Masters e Houston (65) descreveram o caso de uma dona de casa que em sua sessão de LSD viu a filha na cozinha de sua casa procurando o pote de biscoitos. Ela ainda relatou ter visto a criança bater em um açucareiro na prateleira e derramá-lo no chão. Este episódio foi mais tarde confirmado por seu marido. Os mesmos autores também apontaram um relato de LSD onde o indivíduo viu “um navio capturado em blocos de gelo, em algum lugar nos mares do norte.” De acordo com o assunto, o navio tinha na proa o nome de “França”. Mais tarde, foi confirmado que o “França” tinha realmente ficado preso no gelo perto da Groenlândia, no momento da sessão de LSD do sujeito. O famoso psicólogo e pesquisador parapsicológico Stanley Krippner (49) visualizou, durante uma sessão de psilocibina, em 1962, o assassinato de John F. Kennedy, que teve lugar um ano depois. Observações semelhantes foram relatados por Humphrey Osmond, Duncan Blewett, Abram Hoffer, e outros pesquisadores. A literatura sobre o assunto foi revisada criticamente em um artigo sinóptico por Krippner e Davidson. (50)

Na minha própria experiência clínica, vários fenômenos que sugerem percepção extra-sensorial são relativamente frequentes na psicoterapia com LSD, particularmente em sessões avançadas. Eles variam de uma antecipação mais ou menos vaga de eventos futuros ou de uma consciência de acontecimentos remotos em cenas complexas e detalhadas que vem na forma de visões clarividentes e vivas. Isto pode estar associado com sons apropriados, tais como palavras faladas e frases, ruídos produzidos por veículos automotores, sons de carros de bombeiros e ambulâncias, ou o sopro de cornetas. Algumas dessas experiências podem mais tarde ser avaliadas em correspondência com diferentes graus de eventos reais. Verificação objetiva nesta área pode ser particularmente difícil. A menos que estes casos sejam relatados e claramente documentados durante as sessões psicodélicas reais há um grande perigo de contaminação dos dados. Interpretação livre de eventos, as distorções da memória, bem como a possibilidade de fenômenos de deja vu durante a percepção de ocorrências posteriores são algumas das principais armadilhas envolvidas.

Os fenômenos paranormais mais interessantes que ocorrem em sessões psicodélicas são as experiências fora do corpo e as instâncias de viagem clarividente e clariauditiva. A sensação de sair do próprio corpo é bastante comum em estados induzidos por drogas e pode ter várias formas e graus. Algumas pessoas experimentam-se como completamente separados de seus corpos físicos, pairando acima deles ou observando-os de outra parte da sala. Ocasionalmente, os indivíduos podem perder completamente a consciência do ambiente físico real e sua consciência pode se mover em reinos experimentais e realidades subjetivas que parecem ser totalmente independentes do mundo material. Eles podem, então, se identificar inteiramente com as imagens do corpo dos protagonistas dessas cenas, sejam pessoas, animais ou entidades arquetípicas. Em casos excepcionais, o indivíduo pode ter uma experiência complexa e vívida de se mudar para um lugar específico no mundo físico, e dar uma descrição detalhada de um local remoto ou evento. As tentativas para verificar tais percepções extra-sensoriais às vezes podem resultar em confirmações surpreendentes. Em casos raros, o sujeito pode controlar ativamente esse processo e “viajar” à vontade para qualquer local ou momento ele ou ela escolhe. Uma descrição detalhada de uma experiência deste tipo que ilustra a natureza e complexidade dos problemas em causa foi publicado no meu livro ‘Reinos do Inconsciente Humano’, p. 187. (32)

Testes objetivos, sob os padrões técnicos laboratoriais utilizados na investigação parapsicológica tem sido geralmente bastante decepcionantes e não conseguiram demonstrar um aumento de percepção extra-sensorial como um aspecto previsível e constante do efeito do LSD. Masters e Houston (65) testaram indivíduos com o uso de um baralho de cartas especial, desenvolvido no laboratório de parapsicologia na Universidade de Duke. O baralho contém vinte e cinco cartões, cada um dos quais tem um símbolo geométrico: uma estrela, círculo, cruz, quadrado ou linhas onduladas. Os resultados dos experimentos em que os voluntários de LSD tentaram adivinhar a identidade destes cartões foram estatisticamente não significativos. Um estudo semelhante realizado por Whittlesey (102) e um experimento de adivinhação de cartão num estudo sobre psilocibina, relatado por van Asperen de Boer, Barkema e Kappers (6) foram igualmente decepcionantes, embora uma descoberta interessante no primeiro desses estudos foi uma diminuição marcante da variância; os sujeitos realmente chegaram significativamente mais perto de adivinhar do que a expectativa prevista matematicamente. Resultados inéditos da pesquisa parapsicológica de Walter Pahnke no Maryland Psychiatric Research Center sugerem que a abordagem estatística para esse problema pode ser enganosa. Neste projeto, Walter Pahnke usaram uma versão modificada dos cartões da Universidade de Duke, na forma de painéis de teclado eletrônico. O voluntário tinha que adivinhar a chave que tinham sido acesa em um painel em uma sala adjacente manualmente ou por um computador. Embora os resultados para todo o grupo de testados não tenham sido estatisticamente significativos, certos indivíduos atingiram notavelmente altas pontuações em algumas das medições.

Alguns pesquisadores manifestaram objeções à abordagem desinteressante e sem imaginação para o estudo de fenômenos parapsicológicos representados por adivinhação de cartões repetitivos. Em geral, esse procedimento não tem muita chance na competição pela atenção do indivíduo em comparação com algumas das experiências subjetivas emocionantes que caracterizam o estado psicodélico. Na tentativa de tornar a tarefa mais atraente, Cavanna e Servadio (19) utilizaram materiais com conteúdo emocional, em vez de cartões; fotografia impressa com cores, pinturas incongruentes que foram preparadas para o experimento. Embora um sujeito tenha se destacado, os resultados gerais não foram significantes. Karlis Osis (73) administrou LSD a uma série de “médiuns” que receberam objetos e pediu para descrevessem os proprietários. Um médium foi especialmente bem sucedido, mas a maioria dos outros se tornaram tão interessados nos aspectos estéticos e filosóficos da experiência, ou tão presos em seus problemas pessoais, que acharam difícil manter a concentração na tarefa.

De longe, os dados mais interessantes surgiram a partir de um estudo piloto projetado por Masters e Houston (65) que usou imagens emocionalmente carregadas com sessenta e dois voluntários de LSD. Os experimentos foram realizados nos períodos de término das sessões, quando se é relativamente mais fácil de se concentrar em tarefas específicas. Quarenta e oito dos indivíduos testados se aproximaram da imagem alvo, pelo menos, duas vezes em cada dez, enquanto que cinco indivíduos fizeram suposições de sucesso, pelo menos, sete em cada dez vezes. Por exemplo, um indivíduo visualizou “mares agitados” quando a imagem correta era um navio Viking em uma tempestade. O mesmo indivíduo sugeriu “vegetação exuberante” quando a imagem foi de florestas tropicais na Amazônia”, um “camelo” quando a imagem era um árabe em um camelo, “os Alpes”, quando o quadro era o Himalaia, e “uma mulher negra colhendo algodão em um campo” quando o alvo era uma plantação no Sul.

O estudo de fenômenos paranormais em sessões psicodélicas apresenta muitos problemas técnicos. Além dos problemas de conseguir voluntários interessados que mantenham a sua atenção na tarefa, Blewett (12) também enfatizou o fluxo rápido de imagens eidéticas que interferem na capacidade do indivíduo para estabilizar e escolher a resposta que poderia ter sido desencadeada pelo alvo. As dificuldades metodológicas para estudar o efeito de drogas psicodélicas em percepção extra-sensorial ou outras habilidades paranormais e a falta de evidência nos estudos existentes não invalida, no entanto, algumas observações bastante extraordinários nesta área. Todo terapeuta de LSD com experiência clínica suficiente recolheu observações desafiadoras o suficiente para levar este problema a sério. Eu mesmo não tenho nenhuma dúvida de que os psicodélicos podem, ocasionalmente, induzir elementos de percepção extra-sensorial genuínos no momento do seu efeito farmacológico. Na ocasião, a ocorrência de certas habilidades paranormais e fenômenos podem se estender além do dia da sessão. A observação fascinante que está intimamente relacionada e merece atenção neste contexto é o acúmulo freqüente de coincidências extraordinárias nas vidas de pessoas que tinham experimentado fenômenos transpessoais em suas sessões psicodélicas. Tais coincidências são fatos objetivos, e não apenas interpretações subjetivas de dados perceptual; eles são semelhantes às observações que Carl Gustav Jung descritos em seu ensaio sobre sincronicidade. (44)

A discrepância entre a ocorrência de fenômenos parapsicológicos em sessões de LSD e os resultados negativos dos estudos laboratoriais específicos parece refletir o fato de que um aumento na Percepção extra sensorial não é um padrão e aspecto constante do efeito do LSD. Estados psicológicos favoráveis para vários fenômenos paranormais e caracterizadas por uma extraordinariamente alta incidência de Percepção extra sensorial estão entre as muitas condições mentais alternativas que podem ser facilitados por esta droga; em outros tipos de experimentos com LSD as habilidades de percepção extra sensorial parecem estar no mesmo nível que eles se encontram no estado de consciência diário, ou mesmo ainda mais reduzida. Pesquisas futuras terão de avaliar se a incidência de outra forma imprevisível e elemental de habilidades paranormais em estados psicodélicos podem ser aproveitadas e sistematicamentes cultivadas, como é indicado na literatura xamânica.

NOTAS

  1. O leitor interessado encontrará discussão abrangente sobre o assunto no excelente livro de Robert Masters e Jean Houston “Arte Psicodélica” (66). A influência do LSD e psilocibina na criatividade de pintores profissionais também foi documentada exclusivamente no livro “Psicoses Experimentais” (90) pelo psiquiatra tcheco, J. Roubicek. Coleção inédita de Oscar Janiger de pinturas profissionais feitos sob a influência do LSD também merece ser mencionado neste contexto.

    2. Alguns exemplos concretos de insights relevantes deste tipo são descritos no meu livro “Reinos do Inconsciente Humano. (32)

    3. Muitos outros exemplos desse fenômeno podem ser encontrados no livro de Arthur Koestler “ato de criação”. (48)

    4. O leitor interessado encontrará mais informações sobre o assunto no Artigo de Stanley Krippner “Criatividade e drogas psicodélicas”. (51)

    5. O estudo mais interessante desse tipo era (75) “Good-friday experiment” de Walter Pahnke realizada em 1964 na Capela de Harvard em Cambridge, Massachusetts. Neste estudo, dez estudantes de teologia cristãs receberam 30 miligramas de psilocibina, e dez outros que funcionavam como um grupo de controle recebeu 200 miligramas de ácido nicotínico como placebo. A atribuição para os dois grupos foi feito em uma base double-blind. Todos eles escutaram um serviço religioso de duas e meia-hora que consistiu de música de órgão, solos vocais, leituras, orações e meditação pessoal. Os indivíduos que receberam a psilocibina foram muito bem cotados no questionário de experiência mística desenvolvido por Pahnke, enquanto a resposta do grupo de controle foi mínima.

Minha experiência como guia no projeto de pesquisa de psilocibina da Johns Hopkins

Universidade Johns Hopkins

Por Mary Cosimano

A universidade Johns Hopkins iniciou seus estudos psilocibina no ano de 2000. Desde então, eu tenho estado amplamente envolvida com a investigação e componentes clínicos de todos os seis estudos sobrepsilocibina e outros alucinógenos que estiveram em pauta por lá. Eu também tenho orientadopessoalmente mais de 300 sessões de estudo e tenho participado de mais de 1.000 encontrospreparatórios e de integração.

Com base na minha perspectiva clínica, eu gostaria de compartilhar o que eu pessoalmente acredito serum dos resultados mais importantes deste trabalho: a de que a psilocibina pode oferecer um meio de se reconectar à nossa verdadeira natureza, ao nosso autêntico self, e assim, ajudar a encontrar sentido nasnossas vidas. As experiências contadas para mim pelos participantes do estudo, bem como minhajornada pessoal, juntamente com os nossos resultados do estudo, representam uma grande massa dedados a partir da qual eu derivam minhas conclusões.

Quando eu tenho dificuldade em me expressar, eu lembro do que Ernest Hemingway escreveu em “Paris é uma festa” sobre o que ele fez quando teve tempos difícieis no início de sua carreira como escritor. Tudo o que você tem a fazer é escrever uma frase verdadeira. Escreva a frase mais verdadeira que você conhece.

O que vem a mim, agora é uma frase muito curta – na verdade, não uma frase, mas uma palavra: amor. Eu acredito que o que os humanos realmente querem é receber e dar amor.Eu acredito que o amor é o que nos liga uns aos outros e que tal ligação é provocada por sermos íntimos com os outros,através da partilha de nós mesmos com os outros. Eu acredito que a natureza do nosso eu verdadeiro é o amor.

Eu acredito que este tema, o amor, a necessidade de se reconectar com o nosso verdadeiro eu, abriga os resultadossubjacentes de nossos estudos com a psilocibina. No entanto, muitas vezes, temos medo de nos abrir para essa conexão e então colocamos barreiras e usamos máscaras. Se somos capazes de remover as barreiras, para baixar nossas defesas, podemos começar a conhecer e aceitar a nós mesmos, permitindo-nos assim receber e dar amor.

Em seu TED Talk sobre “O Poder da Vulnerabilidade, Brene Brown, Ph.D., nos ajuda a entender o quão importante é esse senso de conexão em um nível profundo. Em resumo, ela afirma que essa conexão é o motivo por estarmos aqui. É o que dá propósito e significado para as nossas vidas. A maneira de se conectar é ser vulnerável, o que significa ter a coragem de enfrentar nossos medos/temores de quepoderíamos falhar, medo que os outros vão perceber que não somos perfeitos, os temores de que somos de alguma forma indigna dessa conexão. Por acharmos que esta honestidade poderia pôr em risco uma conexão, nos fechamos, encobrimos, oufakeamos’.  A resposta da Dra. Brown para superar esses medos é a coragem. Ela ressalta que a coragem vem da palavra latina cor (coração), e que o significado original de coragem era para contar a sua história com todo o seu coração.

Como podemos ajudar os participantes do estudo psilocibina a alcançarem um estado de espírito em queé possível para eles se reconectar com seu verdadeiro eu e enfrentar os seus medos? Eu acredito que éuma combinação de nossas reuniões preparatórias com os efeitos da própria psilocibina.

Em nossas reuniões preparatórias, pretendemos criar um espaço onde os participantes se sintam seguros e protegidos. Acreditamos que este ambiente positivo e de paz é necessário para que eles tenham a coragem de contar a história de quem eles são. Trabalhamos para criar um profundo sentimento deconfiança, para que os participantes se sintam confortáveis para compartilhar tudo e qualquer coisa, os seus medos, alegrias, decepções e vergonhas, sem medo de ser rejeitado. Uma conversa íntima é uma das práticas mais importantes para ajudar a esta auto-revelação, e alguns dos nossos participantescompartilharam que suas sessões foram a primeira vez em que eles sentiram totalmente visualizados.Uma vez que eles se abriram e se compartilham, estão agora muito mais propensos a deixar as coisas fluirem e progredirem em suas experiências com psilocibina, gerenciando os momentos difíceis com mais facilidade, e eventualmente, restaurando a sua conexão profunda e intrínseca com seu verdadeiro eu.

Sala de tratamento para os estudos com psilocibina da Universidade Johns Hopkins

Depois de sua história ter sido contada e a confiança estabelecida, a sessão de psilocibina seguiu. A fim de alcançar o máximo benefício dessas sessões epara acessar estes estados de um profundo sentimento de amor e conexão, eu acredito que é necessárioestar relaxado tanto no corpo quanto namente. Quando estamos estressados, ansiosos ou com medo, nóspermanecemos tensos em nossos corpos. Estes estados de espírito e essas posturas nos impedem de ser capaz de relaxar e expandir nossa consciência. A fim de relaxar, um ambiente seguro e de confiança é necessário. Dessa forma, nossasreuniões de preparação têem permitindo os participantes relaxarem em uma experiência mais profunda eexpansiva. Esta expansividade muitas vezes leva a um profundo sentimento de amor e conexão consigo e com todos; tanto esta expansividade e este senso de conexão são temas recorrentes nas experiênciaspsilocibina.

Após uma sessão, um participante escreveu: “Eu estava me deleitando com os sentimentos inegáveis doamor infinito. Eu disse [a mim mesmo]: ‘Eu sou o amor, e tudo que eu sempre quero ser é o amor. Eu repeti isso várias vezes e estava sobrecarregado com a intensidade do amor. Eu estava ciente das lágrimas que inundavam meus olhos naquele momento. Todos os outros objetivos na vida pareciam completamente estúpidos.

Barbara Fredrickson, Ph.D., escreveu: “O amor é muito mais onipresente do que você jamais imaginou ser possível pelo simples fato que esse amor é conexão.

Outro participante disse: “Em certo momento eu estava passando pela escuridão, eu comecei a sentir um sentimento crescente de paz e união um intenso sentimento de amor e alegria emanava de todo o meu corpo e eu não podia imaginar como me sentir mais feliz. Eu sabia que as preocupações da vida cotidiananão tinham nenhum sentido e que “tudo o que importava eram as minhas conexões com as pessoas maravilhosas que são minha família e amigos.

Os dois primeiros estudos realizados psilocibina na Universidade Johns Hopkins (2008 Griffiths et al., 2011) mostraram que psilocibina, ocasionalmente, conduz a experiências místicas pessoal e espiritualmente significativos que produzem mudanças positivas nas atitudes, temperamento, altruísmo, comportamento e satisfação com a vida. Uma análise mais aprofundada (MacLean et al. 2011)encontraram aumentos significativos na abertura após uma alta dose de psilocibina em participantes que tiveram experiências místicas.

Acredito que esses resultados sugerem que o aumento do significado pessoal, um senso de significado espiritual, e um aumento na abertura são os fatores que permitem que os seres humanos se conectem aoseu verdadeiro eu que é, em sua essência, o amor.

Observei como os participantes de nosso estudo assistido com psilocibina para a ansiedade do câncermuitas vezes vinham para a sessão se sentindo “desconectados“, não apenas sobre o seu lugar nomundo, mas também, mais importante, desconectados de si mesmos, devido ao fato de que suas vidastinham mudado dramaticamente desde o seu diagnóstico. Muitos estavam fracos demais para continuar a trabalhar, e muitos perderam seus empregos. As aparências também mudaram, uma vez que perdiam peso, tônus muscular, e muitas vezes seus cabelos. Seus pensamentos e sentimentos que uma vez os definiram, já não são mais precisos. O que uma vez deu propósito e significado para suas vidas parecia sem sentido.

Um participante disse: “Uma vez que você tenha um diagnóstico de câncer, você é como um mortos-vivo.“Outra participante nos disse que ela estava vivendo como se já tivesse morrido.

Nossas entrevistas psiquiátricas estruturadas incluem duas questões que têm como alvo esse sentimento de desconexão:

1. Houve alguma mudança repentina no seu senso de quem você é e onde você está indo?

2. Você ocasionalmente se sente vazio por dentro?

Entre os nossos participantes com câncer, houve uma alta taxa de resposta positiva a estas duasquestões, que eu acredito, foi devido a sua perda de um senso de si próprio e de um significado em suas vidas. Nosso estudo de câncer, muitas vezes permite que os nossos participantes voltem a essa conexãocom seu verdadeiro eu, a acreditar que eles são dignos de amor e conexão. Um participante escreveu em seu relatório de seis meses que a depressão desapareceu completamente“, e que ela era “capaz de sairdo” mundo do câncer e voltar para si … e se sentiu capaz de se conectar com outras pessoas e cuidarmelhor de seu parceiro.

Duas citações adicionais de nossos voluntários resumem bem meus pensamentos sobre a importância da recuperação do amor, do verdadeiro self, e do significado durante e após as sessões:

“Tudo é varrido em uma epifania culminante do amor como a essência universal e como significado de todas as coisas. A jornada de espírito que vem de si mesmo, revelando a si mesmo seu próprio mistério interior, não é senão a auto-realização do amor.

“O objetivo de todos nós aqui juntos é servir constantemente de lembrete uns aos outrosde quem realmente somos.

É interessante refletir sobre as diferenças e semelhanças entre nossos estudos psilocibina da JohnsHopkins e estudos de psicoterapia assistida com MDMA, promovidos pelo MAPS. Os estudos JohnsHopkins têm caracterizado a fenomenologia da experiência psilocibina em voluntários saudáveis, e explorou o uso terapêutico da psilocibina no tratamento da ansiedade associada com o diagnóstico de câncer onde há risco de vida, e no tratamento de vício no cigarro. Embora os parâmetros terapêuticosdiferem entre os estudos da psilocibina (ansiedade do câncer e dependência) e do MDMA (transtorno de estresse pós-traumático ou PTSD), ambas as abordagens destacam a importância da confiança e relacionamento entre participante e seus guias/terapeutas. Uma diferença notável é que os estudos de psilocibina têm se caracterizado por experiências do tipo místico, e sugeriram que essas experiênciaspodem ser a base dos efeitos terapêuticos e outros efeitos positivos e duradouros. Seria produtivo evalioso determinar se mudanças semelhantes também ocorrem em resposta às sessões guiadas deMDMA.

Eu gostaria de reconhecer e agradecer a equipe de pesquisa com psilocibina da Johns Hopkins, os participantes do nosso estudo, e os nossos financiadores.

 

REFERÊNCIAS

Hemingway, Ernest; A Moveable Feast. Scribner Classics: New York, 1996.

Fredrickson, B. L. 2013. Love 2.0: How Our Supreme Emotion Affects Everything We Feel, Think, Do, and Become.

Brown, Brené 2010. TEDx talk: The Power of Vulnerability June 2010

Griffiths, R.R., Richards, W.A., Johnson, M.W., McCann, U.D., Jesse, R. 2008. “Mystical-type experiences occasioned by psilocybin mediate the attribution of personal meaning and spiritual significance 14 months later.”Journal of Psychopharmacology, 22(6), 621-632.

Johnson, M.W., Garcia-Romeu, A., Cosimano, M.P., and Griffiths R.R. 2014. “Pilot study of the 5-HT2AR agonist psilocybin in the treatment of tobacco addiction.” Journal of Psychopharmacology, 28(11), 983-92.

Griffiths, R.R., Johnson, M.W., McCann, U., Richards, W.A., Richards, B.D., and Jesse, R.. 2011. “Psilocybin occasioned mystical-type experiences: immediate and persisting dose-related effects.” Psychopharmacology, 218(4), 649-665.

MacLean, K.A., Johnson, M.W., and Griffiths, R.R. 2011. “Mystical experiences occasioned by the hallucinogen psilocybin lead to increases in the personality domain of openness.” Journal of Psychopharmacology, 25(11), 1453-1461.


Mary Cosimano, M.S.W., está atualmente com o Departamento de Psiquiatria e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins e serviu como guia de estudo e coordenadora de pesquisa para os estudos de psilocibina por 15 anos. Durante esse tempo, ela tem servido como guia de sessão para os seis estudospsilocibina e outros estudos alucinógenos e já realizou mais de 300sessões. Ela já trabalhou como clínica ensinando meditação individual e em grupo para pacientes com câncer de mama em pesquisa na Universidade Johns Hopkins, foi conselheira comportamental para perda de peso, e tem 15 anos de experiência com assistência direta aos pacientescomo voluntária em uma instituição de saúde mental

I Seminário sobre Psicodélicos – RJ

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Aconteceu no dia 26/11/2014 o primeiro Seminário sobre Psicodélicos do Rio de Janeiro

Organizado pelo Mestre em Psicologia (PUC-SP) Fernando Beserra, o Seminário foi mobilizado, em primeiro lugar, pelas recentes discussões em torno da adulteração de psicodélicos, notadamente do LSD e do MDMA e os múltiplos danos decorrentes da política de drogas proibicionista.

Foi realizado no Instituto ISERJ – Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro e contou com mesas que debateram a redução de riscos e danos relacionada aos psicodélicos e, finalmente, um assunto ainda pouco discutido: as políticas de drogas relativas a estas plantas e substâncias.

 

– ÁUDIO DA 1ª MESA – PSICODÉLICOS E REDUÇÃO DE DANOS

Mediador: Denis Petuco
Participantes: Sandro Rodrigues, Tiago Coutinho, Danyel Sylvestre e Rafael Beraldo

 

– ÁUDIO DA 2ª MESA – PSICODÉLICOS E POLÍTICA DE DROGAS

Mediadora: Thamires Regina
Participantes: Fernando Beserra, Rodrigo Mattei e Renato Cinco


Audios Generosamente gravados e disponibilizado pela Cooperativa Jerimundo filmes

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http://jerimundofilmes.wordpress.com/
https://www.facebook.com/jerimundofilmes

 

e pelo programa (((VibeSom)))

 

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https://www.facebook.com/programavibesom?pnref=story

 

 


A seguir uma breve descrição dos participantes:

1ª Mesa – Psicodélicos e Redução de Danos

Mediador:

Denia-petuco

Participantes:

Sandro

tiago

dan

Rafael-Beraldo


2ª Mesa – Psicodélicos e Política de Drogas

Mediadora:

thamires

Participantes:

fernando

mattei

renato-cinco