Uma Viagem de Cura: Como as Drogas Psicodélicas Podem Ajudar a Tratar a Depressão

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Voluntários em um estudo a ser realizado no ano que vem irão experimentar a euforia típica de sonhos, quando as cores, odores e sons forem sentidos de forma potencializada; a percepção do tempo for distorcida e a identificação com a própria persona começar a se dissolver. Foto: Fredrik Skold/Alamy

Se tudo correr como o previsto, doze pacientes com depressão clínica serão convidados a ir a um laboratório do Reino Unido onde receberão psilocibina – o ingrediente psicodélico encontrada nos cogumelos mágicos. Nas quatro ou cinco horas seguintes muitos desses voluntários vão experimentar a euforia típica de sonhos, quando as cores, odores e sons forem sentidos de forma potencializada, a percepção do tempo for distorcida e a identificação com a própria persona começar a se dissolver. Alguns poderão sentir uma onda de eletricidade através de seus corpos, uma súbita clareza de pensamento e alegria repentina. Outros poderão sentir ansiedade, confusão ou paranóia. Estes efeitos alucinógenos serão de curta duração, mas o impacto da droga sobre os voluntários pode ter uma duração bem mais longa.

Há evidências experimentais de que a psilocibina, junto com outras drogas psicodélicas, pode “redefinir” o funcionamento anormal do cérebro se dado de forma segura e controlada, como parte da terapia. Para quem foi criado com o dogma pós-década de 60, de que os cogumelos mágicos e LSD poderiam desencadear doenças mentais, flashbacks e causar alterações na personalidade, a idéia de que eles podem curar distúrbios do cérebro é, realmente, arrebatadora.

O estudo piloto envolverá pacientes que não responderam ao tratamento convencional e será comandado pelo professor David Nutt e pelo Dr. Robin Carhart-Harris, no Centro de Neuropsicofarmacologia do Imperial College, em Londres. Eles argumentam que as drogas psicodélicas podem ser benéficas para milhões de pessoas e que é hora de acabar com o estigma de 50 anos que impossibilita seu uso terapêutico. Nutt e Carhart-Harris já usaram ressonância magnética para estudar mudanças no cérebro de 15 voluntários, a quem foi dado psilocibina. Um estudo similar, com 20 voluntários que tomaram LSD, acaba de ser concluído.

“Como um não-médico, eu estava convencido só de ver, como a psilocibina afeta o cérebro”, diz Carhart-Harris. “Foi bastante flagrante como era semelhante aos tratamentos existentes para a depressão.” Os cientistas do Imperial College estão na vanguarda de um renascimento de pesquisa alucinógena e dizem que têm 50 anos de ciência para pôr em dia. Nos anos 50 e 60, mal se podia abrir uma revista psiquiátrica sem encontrar um trabalho sobre LSD. Em seguida, o LSD se tornou a última “substância da vez”, com potencial para tratar a depressão, vício e dores de cabeça. Entre o final da década de 1940 – quando foi disponibilizado para pesquisadores com o nome Delysid – e meados dos anos 60, haviam sido escritos mais de 1.000 trabalhos acadêmicos investigando seus efeitos em 40.000 pessoas.

Mas conforme a droga cresceu em popularidade entre os usuários recreativos – e tornou-se ligado à revolução contracultural e de protesto contra a guerra do Vietnã – a reação começou. No final dos anos 60, o LSD estava no centro de um completo pânico moral institucionalizado, e o governo dos EUA o reprimiu.

Nutt, que em 2009 foi controversamente demitido do cargo de presidente do Conselho Consultivo Sobre Má-utilização de Drogas do governo do Reino Unido por afirmar que a equitação era mais perigosa do que o Ecstasy (MDMA), afirma que a justificativa para a proibição de LSD e alucinógenos em geral era uma “mistura de mentiras” sobre o seu impactos na saúde, combinados com uma negação de seu potencial como ferramentas de pesquisa e como auxiliar em tratamentos.

“Foi, sem dúvida, uma das peças mais eficazes de desinformação na história da humanidade”, diz Nutt. “Isso fez com que um monte de pessoas acreditassem que essas drogas são mais prejudiciais do que de fato são. Elas não são drogas triviais, mas em comparação com as drogas que matam milhares de pessoas por ano, como o álcool, o tabaco e heroína, eles têm um histórico muito mais seguro e,até onde sabemos, ninguém morreu.”

Em 1971, entretanto, a convenção das Nações Unidas sobre substâncias psicotrópicas classificou o LSD e outros alucinógenos, e a maconha como uma droga de nível 1, ou seja: substâncias perigosas com nenhum benefício médico. Em contraste, a heroína – uma droga muito mais perigosa e que vicia – foi classificada como nível 2, menos restrito, porque a substância tem notórios efeitos analgésicos.

A fim de estudar uma droga nível 1, acadêmicos do Reino Unido precisam de uma licença especial para operar fora dos hospitais, que custa £ 3,000 e anos de preenchimento de formulários e burocracias. Eles também devem adquirir e fornecer suprimentos lícitos, e não podem adquirir quantidades da droga com valores elevados. A burocracia – e a necessidade de persuadir os céticos do comitê de ética da universidade – revelaram-se sufocantes para a pesquisa. “É um beco sem saída”, diz Carhart-Harris. “É difícil estudar o LSD e a psilocibina para ver se eles têm uso médico, porque eles são classificados como drogas de nível 1. E eles só são classificados como nível 1 porque são considerados como não tendo uso médico.”

Mas as coisas estão mudando. Os dois primeiros artigos sobre experiências de LSD desde os anos 1970 foram publicados este ano: um pela equipe do Imperial College; o outro por pesquisadores suíços, e que diz respeito a diminuir a ansiedade entre pacientes com câncer em estado terminal. No Reino Unido, o renascimento da pesquisa acadêmica entorno das drogas “recreativas” está sendo conduzido pelos cientistas do Imperial College em trabalho conjunto com a Fundação Beckley, uma instituição de caridade dirigida pela aristocrata inglesa Amanda Feilding, a Condessa de Wemyss. Depois de tomar LSD na década de 1960, ela tornou-se fascinada com o seu potencial para aumentar a criatividade e a mútua compreensão.

Sua Fundação apoia e promove pesquisas sobre substâncias psicoativas – incluindo o LSD, cogumelos mágicos e a cannabis, planta usada na medicina há milhares de anos. “Ao proibir a investigação sobre esta categoria de substância, por causa de um equívoco social, estão privando as pessoas doentes de um tratamento potencial que tem uma história muito longa”, diz ela. Os cientistas do Imperial College ressaltam que estão estudando drogas psicodélicas em ambientes seguros para reduzir o risco de experiências negativas. As drogas utilizadas são quimicamente puras e administradas em doses controladas.

“A automedicação é definitivamente algo desaconselhável, na minha perspectiva”, diz Carhart-Harris. “Essas drogas são poderosas e o modelo terapêutico que vamos aderir é bastante específico, e ele enfatiza que a droga deve ser tomada no ambiente certo e com o apoio certo. Temos psicoterapeutas profissionais lá que são treinados para compreender todas as eventualidades que poderiam acontecer, e por isso, eu acho que seria imprudente para as pessoas, tentar fazê-lo por si mesmos”.

LSD (dietilamida do ácido lisérgico)

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O químico suíço Albert Hoffman criou o LSD em 1938 a partir de uma substância no fungo parasita chamado de Ergot. Depois que suas propriedades alucinógenas foram descobertas por Hoffman em 1943, ele foi usado como uma ferramenta para modelagem de esquizofrenia em voluntários saudáveis e tomada por alguns psiquiatras para obter insights sobre essa doença mental. Até o início dos anos 60 ele estava sendo dada a pacientes que se tratavam com psicoterapia.

Muitos dos mais de 1.000 artigos acadêmicos escritos nesta época tratavam do uso da substância nos tratamentos contra a depressão. Mesmo assim, o Dr. Robin Carhart-Harris diz que a evidência da pesquisa histórica pode ser considerada fraca.

“A maior parte deste material era anedótico”, diz ele. “As sessões eram feitas sem um grupo de apoio e de controle e os resultados eram meio imprecisos”. Há evidências muito mais fortes de que o LSD pode tratar dependência química. Uma meta-análise feita em 2012, a partir de seis estudos controlados dos anos 50 e 60 demonstrou a eficiência clínica do LSD para o tratamento da dependência de álcool e revelou que a substância é tão eficaz quanto qualquer tratamento desenvolvido desde então. A substância mostrou-se eficiente também em ajudar os pacientes que estão em estado terminal a lidar melhor com a ideia de perecer. Os mecanismos do LSD, porém, ainda são pouco conhecidos. Ele parece imitar algumas ações da serotonina no cérebro, que está ligada à formação da memória, ao humor e a recompensa, porém não está claro ainda como ele desencadeia esses efeitos alterados tão poderosos. A pesquisa feita conjuntamente pela Imperial / Beckley com ressonância magnética mostrou que os cérebros dos voluntários sob os efeitos do LSD se tornam momentaneamente menos organizados e mais caóticos, enquanto partes do cérebro que normalmente não iriam se comunicar uns com os outros, acabam fazendo conexões. Neste estado de sonho desorganizado, o cérebro está aberto para novos saltos de criatividade e vôos de fantasia. O Dr. Carhart-Harris acredita que os alucinógenos podem temporariamente “afrouxar” as estruturas rígidas do cérebro, que se desenvolvem à medida que envelhecemos. Uma viagem de ácido é um pouco como sacudir um daqueles globos de neve comuns no natal norte-americano. Este afrouxamento poderia ajudar o cérebro a quebrar os ciclos da dependência e da depressão.

Há riscos envolvidos na utilização de LSD, é claro, mas o professor David Nutt diz que eles são muitas vezes exagerados. Os efeitos de tomar LSD são imprevisíveis: os usuários podem perder o senso de julgamento – e colocar-se em situações de risco. Uma minoria pode experimentar flashbacks algum tempo depois de utilizarem; em outros, a experiência pode desencadear problemas de saúde mental que já haviam passado despercebidos.

Cannabis

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A Cannabis foi usada medicinalmente durante milhares de anos. Foi usado no século 19 para tratar dores, espasmos, asma, distúrbio do sono, depressão e perda de apetite, e foi até recomendado pelo médico da rainha Victoria. Dois produtos químicos na cannabis atraem o interesse dos cientistas – o tetrahidrocanabinol (THC), principal composto psicoativo da planta, que tem algumas propriedades analgésicas, e o canabidiol (CBD), que parece conferir benefícios à saúde sem os efeitos psicoativos da droga.

Mais de 100 experimentos com a cannabis ou substâncias derivadas da maconha têm ocorrido desde os anos 1970. Um extrato da cannabis para pulverização via oral, comercializado com o nome de Sativex foi aprovado para uso no tratamento de esclerose múltipla em 2011 depois que um estudo demonstrou que a substância melhorava o sono, reduzia a espasticidade e o número de espasmos. Nos anos 1970 e 80, estudos mostraram que drogas derivadas da cannabis podem ajudar a atenuar náuseas em pacientes com câncer submetidos à quimioterapia. Na década de 1990, a pesquisa mostrou que poderia impedir a anorexia em pacientes com HIV. Há também evidências de que a maconha pode aliviar a dor crônica, quando tomado com outros medicamentos. Nos EUA, 20 estados permitem a posse e uso de cannabis por razões médicas, enquanto dois estados – Colorado e Washington – descriminalizaram a substância. Na Holanda, a maconha é legalizada para uso médico há mais de 25 anos.

Alguns pesquisadores acreditam que a cannabis tem potencial para tratar déficit de atenção e hiperatividade, estresse pós-traumático e insônia.

Uma das dificuldades com a pesquisa da cannabis é que a natureza da droga de rua mudou ao longo das últimas décadas – em parte em resposta à demanda dos usuários por um efeito, uma “onda”, mais forte. Estudos do Instituto de Psiquiatria do King College de Londres mostraram que o THC aumenta a ansiedade e sintomas psicóticos de curto prazo, enquanto a CBD – que parece ter a maior parte dos benefícios médicos – tem o efeito oposto. Variedades modernas de cannabis, ou skunk, que circulam nas ruas, são ricos em THC e apresentam níveis extremamente baixos de CBD.

Cogumelos Mágicos (Psilocibina)

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Como o LSD, cogumelos mágicos são alucinógenos. O composto ativo é a psilocibina e, como o LSD, pode ser útil no tratamento da depressão. Um estudo com 15 voluntários desenvolvido pelo Dr. Robin Carhart-Harris mostraram que o composto ajuda a suprimir a região do cérebro, muitas vezes hiperativa na depressão, chamada de córtex pré-frontal medial. Esta região está ligada à introspecção e ao pensamento obsessivo.

No entanto, ainda é muito cedo para dizer se os cogumelos mágicos podem tratar a depressão. Em 2013, os cientistas do Imperial College, foram premiados com uma bolsa do Conselho de Pesquisa Médica para estudar os efeitos da psilocibina em uma dúzia de pacientes com depressão. O estudo está sendo dificultado pela burocracia, mas deve começar no ano que vem.

A Psilocibina pode ser útil também no tratamento de dependência química. Um estudo financiado pela Fundação Beckley na Universidade Johns Hopkins deu a 15 pessoas que estavam tentando deixar de fumar, 2 a 3 rodadas da droga. Seis meses mais tarde, 12 permaneceram longe do cigarro – uma taxa de sucesso de 80%. Os melhores medicamentos para deixar de fumar são 35% eficazes. Embora promissor, é necessário um estudo muito maior. Alguns usuários de cogumelos mágicos afirmam que a psilocibina os ajuda a atenuar o transtorno obsessivo compulsivo. Até agora, houve apenas um ensaio clínico, envolvendo nove pessoas. Os resultados foram novamente promissores – mas são necessários estudos mais aprofundados.

Há também algumas evidências de que os cogumelos podem ajudar pacientes com câncer a aceitarem a sua condição. Segundo o professor David Nutt, os riscos associados ao uso de cogumelos mágicos são relativamente baixos em comparação com drogas como o álcool, tabaco ou heroína. Em uma escala de risco publicada no Lancet em 2010, cogumelos mágicos tinham risco inferior a 20 dos medicamentos mais comumente usados.

MDMA (Ecstasy)

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Primeiramente sintetizado há 100 anos, o MDMA foi usado na década de 1970 durante sessões de psicoterapia, mas explodiu na consciência pública, com a chegada da cultura da dança no final dos anos 1980.

Ele age aumentando a atividade de três neurotransmissores, ou mensageiros químicos, no cérebro: a serotonina, a dopamina e a noradrenalina. Os altos níveis de serotonina geram uma sensação de euforia,afeição e boa vontade.

Ele age aumentando a atividade de três neurotransmissores, ou mensageiros químicos, no cérebro: a serotonina, a dopamina e a noradrenalina. Os altos níveis de serotonina geram uma sensação de euforia,afeição e boa vontade.

Um pequeno estudo controlado feito nos EUA mostrou que 80% das pessoas com PTSD (Síndrome de Estresse Pós-Traumático) se beneficiaram com o uso de MDMA durante o tratamento terapêutico. O tratamento atual para a síndrome estimula os pacientes a revisitarem suas experiências estressantes e traumáticas. O MDMA parece funcionar, aumentando artificialmente o humor dos pacientes, e tornando mais fácil para elas se lembrar e discutir as experiências que causaram o PTSD. O Professor David Nutt diz que o MDMA também pode ter benefícios, como auxiliar nos tratamentos contra a ansiedade em pacientes terminais; e em terapia de casais. Ele também poderia ajudar a tratar a doença de Parkinson. Entretanto, mais pesquisas são necessárias sobre os riscos do uso do MDMA. Estudos em animais sugerem que a substância pode causar danos em longo prazo nos cérebros de ratos, mas a evidência nas pessoas é inconclusiva. Entre 1997 e 2012, 577 mortes foram ligadas ao ecstasy na Inglaterra e no País de Gales – principalmente de insolação, problemas cardíacos ou excesso de consumo de água.

Fonte: The Guardian

Cogumelos mágicos promovem mudanças permamentes na personalidade

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Apenas uma dose forte de cogumelos alucinógenos pode alterar a personalidade de uma pessoa por mais de um ano e, talvez de forma permanente, diz estudo.

As pessoas que receberam a psilocibina, o componente ativo dos “cogumelos mágicos” que provocavisões e sentimentos de transcendência, demonstraram uma personalidade mais aberta”, após suas experiências, um efeito que persistiu por pelo menos 14 meses. Essa “Abertura” é um termo psicológico referindo-se a uma apreciação por novas experiências. As pessoas que estão mais abertas tendem a terimaginação mais ampla e valorizam a emoção a arte e a curiosidade.

Essa mudança de personalidade é incomum, disse a pesquisadora Katherine MacLean, porque a personalidade raramente muda muito após os 25 ou 30 anos.

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Escola de Medicina Johns Hopkins, em Baltimore

A raiz da mudança parece não ser a substância em si, disse a pesquisadora à LiveScience, mas sim as experiências místicas que a psilocibina frequentemente desencadeia. Estes profundossentimentos transcendentais não são menos reais para as pessoas que os vivenciaram só por terem sido induzidos quimicamente, disse ela.“Este é um dos primeiros estudos que mostra que você realmentepode mudar a personalidade adulta“, disse MacLean, pesquisadora de pós-doutorado na Escola deMedicina da Universidade JohnsHopkins.

Muitos anos mais tarde, as pessoas estão dizendo que foi uma das experiências mais profundas de suas vidas“, disse MacLean. “Se você pensar sobre isso nesse contexto, não é surpreendente que pode serpermanente.

 

Viajando pela ciência

Pesquisas sobre alucinógenos são geralmente associados a figuras da contracultura dos anos 1960, comoKen Kesey e suas festas do “Acid Test” movidas a LSD. Mas na última década, emergiu uma abordagemsóbria, que busca passo-a-passo estudar o efeito dos alucinógenos, disse MacLean. Os experimentos são rigidamente controlados – não é fácil de obter permissão para dar a voluntários drogas ilegais – mas elesestão revelando que essas substâncias, que normalmente são mais associadas aos shows do Grateful Dead do que o escritório do psiquiatra, podem afinal ter uma série de usos médicos.

mapsEm Massachusetts, a organização sem fins lucrativos MAPS(Associação Multidisciplinar para o Estudo de Psicodélicos), está investigando, dentre outros estudos, a possibilidade de usar o MDMA para tratar o transtorno de estresse pós-traumático. Ambos LSD e psilocibinaestão sob investigação para a sua utilização no tratamento da ansiedade; O Orientador de pós-doutorado de MacLean na Universidade JohnsHopkins, Roland Griffiths, está conduzindo um estudo para descobrir se psilocibina pode aliviar a ansiedade e depressão em pacientes com câncer. Outro dos estudos de Griffiths se concentra no uso de psilocibinapara quebrar a dependência da nicotina.

No estudo atual, MacLean e seus colegas analisaram questionários de personalidade a partir de 51 pessoas que tinham tomado a psilocibina como parte de dois estudos separados da Johns Hopkins. Os voluntários eram todos novatos para drogas alucinógenas.

Cada pessoa compareceu entre duas a cinco sessões de oito horas com a droga, em que se sentava com os olhos vendados em um sofá ouvindo música uma forma de incentivar a introspecção. Durante uma das sessões, os voluntários receberam uma dose de moderada a alta de psilocibina, mas nem eles nemos pesquisadores sabiam se seriam de uma pílula de psilocibina ou um placebo em cada dia.

Em um experimento, os participantes entraram no laboratório duas vezes. Em uma visita que lhes foi dada psilocibina de fato e na outra vez lhes deram ritalina que lhes daria efeitos colaterais sem as alucinações.

Em outro experimento, ao longo de um curso de cinco sessões, os participantes receberam ou um placebo ou uma dose variável do fármaco. Para as finalidades deste estudo, os investigadores concentraram-se na sessão de dose elevada, que foi a mesma dose administrada durante o primeiroexperimento.

Antes das sessões com a psilocibina, os participantes preencheram o questionário de personalidade que media ‘abertura’. Eles também preencheram o mesmo questionário algumas semanas mais tarde e, em seguida, novamente cerca de 14 meses após a sua alta dose de alucinógeno.

 

Transcendência em uma pílula

Pill1Os resultados, publicados em setembro de 2011 no Journal of Psychopharmacology,revelou que, apesar de outros aspectos da personalidade permanecerem os mesmos, a ‘abertura’ aumentou após uma experiência de psilocibina. O efeito foi especialmentepersistente para aqueles que relataram umaexperiência mística” com sua dosagem. Estasexperiências místicas foram marcados por um sentimento de profunda conexão, juntamente com sentimentos de alegria, reverência e paz,disse MacLean.

Provavelmente não é apenas psilocibina que provoca alterações como esta, mas outras substânciasmais que desencadeiam esses tipos de experiências de mudança profunda de vida, qualquer sabor queelas tenham”, disse ela. Para muitas pessoas, a psilocibina lhes permitiu transcender as suas formas de pensar sobre o mundo.”

Cerca de 30 dos 51 voluntários tiveram uma experiência mística, disse MacLean. As mudanças deabertura’ nestes participantes foram maiores do que essas alterações são tipicamente observadas ao longo de décadas de experiência de vida em adultos.

MacLean alertou para não tentar fazer este experimento em casa. Os participantes do estudo estavam sob estrita supervisão durante a sua sessão com psilocibina. O apoio psicológico e preparação ajudaram a manter transtornos e bad trips a um nível mínimo, mas muitos participantes ainda relataram medo,ansiedade e angústia depois de tomar psilocibina.

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“Eu posso imaginar como em um cenário sem supervisão, esse tipo de medo ou ansiedade em conjunto, a clássica bad trip, poderia ser muito perigosa”, disse MacLean

Não é ainda claro se o uso sem supervisão resultaria nas mesmas alterações na abertura da personalidade como pode ser visto no estudo, disse MacLean. O grupo de estudo era pequeno, e já estava mais propenso a uma abertura do que a população em geral.

MacLean está agora investigando os efeitos da combinação da psilocibina com a meditação. Ela diz que poderia haver muitos benefícios terapêuticos para aumentar a abertura, inclusive ajudando a pessoa a romper com padrões de pensamentos negativos. Esses estudos também poderão iluminar a conexão anedótica entre alucinógenos e a arte, disse ela: “No lado mais especulativo, isto sugere que pode haver uma aplicação da psilocibina para a criatividade ou outras obras intelectuais que realmente ainda não têm sido exploradas a fundo.”

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Dra. Katherine MacLean
Dra. Katherine MacLean

Efeitos da Psilocibina da Comunicação Cerebral

shrooms_brainOs cogumelos mágicos contêm psilocibina, uma substância que faz com que os usuários experimentem experiências assustadoras, e talvez esclarecedoras. Um novo estudo revelou que a psilocibina produz essas fantásticas experiências, alterando a forma como o cérebro se comunica com ele mesmo.

Pesquisadores da King’s College no Reino Unido usaram ressonância magnética funcional (fMRI em inglês) para tirar imagens do cérebro de dois grupos de participantes: indivíduos que receberam uma dose de 2 mg de psilocibina, e aqueles que receberam um placebo.

A atividade cerebral segue geralmente vias neurais específicas, e os exames mostraram inicialmente aumento da atividade aleatória em todo o cérebro. A equipe olhou mais de perto para o que parecia ser a atividade cerebral esporádica e descobriram que a substância estava realmente formando diferentes conexões no cérebro, e depois que a substância se foi, a atividade do cérebro voltou ao normal.

Os resultados, publicados no Journal of the Royal Society, sugerem que novas conexões permitam que as partes do cérebro que não costumam falar um com o outro,  se comuniquem. Estes percursos alterados podem desencadear uma experiência como ver sons ou cheirar cores.

Imagine a informação em seu cérebro sendo compartilhada em um sistema interligado e com um sistema de rodovias de tráfico pesado, diz Eric Brodwin do Business Insider. “Nesse exemplo, a psilocibina não é a remoção das rodovias. Em vez disso, ela simplesmente constrói novas.

 

 

Esta nova visão do que a psilocibina faz para o cérebro podem ajudar a explicar anos de descobertas anteriores sobre os efeitos psicológicos da psilocibina, incluindo como os cogumelos mágicos parecem reduzir os sintomas de depressão. Estudos anteriores mostraram que a droga pode aumentar o otimismo, melhorar a saúde psicológica, e até mesmo ajudar uma pessoa a parar de fumar.

Em um estudo de 2012, Imperial College London neurocientista David Nutt descobriu que em pessoas sob efeito da psilocibina, a  comunicação cerebral nas áreas tradicionais do cérebro fora silenciada, inclusive em uma região que se pensava desempenhar um papel na manutenção nosso senso de self. Em pessoas deprimidas, Nutt acredita, que as conexões entre os circuitos cerebrais nessa região sensode-si são fortes demais. “As pessoas que entram em pensamento depressivo, seus cérebros são sobrecarregados de conexões”, disse Nutt à “Psichology Today”. Pensamentos e sentimentos de auto-crítica negativa se tornam obsessivos e avassaladores. Dissolver essas conexões e criar novoa, acredita Nutt, pode proporcionar alívio intenso.

Psicólogos da Johns Hopkins chegaram a conclusões semelhantes quando induziram experiências fora do corpo, em um pequeno grupo de voluntários com doses de psilocibina. Imediatamente após as sessões, os participantes disseram que se sentiam mais abertos, mais imaginativos e mais capazes de apreciar a beleza. Quando os investigadores entrevistaram os voluntários, um ano depois, quase dois terços disseram que a experiência tinha sido uma das mais importantes em suas vidas.

Nick Fernandez, um ex paciente de câncer e estudante de pós-graduação de psicologia que tomou psilocibina como parte de um estudo da Universidade de Nova York, experimentou esses mesmos sentimentos de liberdade e positividade.

“Pela primeira vez na minha vida, eu me senti como se houvesse uma força maior do que eu“, disse Fernandez Aeon Magazine. Algo dentro de mim estalou e eu experimentei uma mudança que me fez perceber que todas as minhas ansiedades, defesas e inseguranças não eram algo com que se preocupar.”

Fonte : SienceAlert / BusinessInsider

Cogumelos Mágicos ajudam fumantes a largar o hábito

Magic Mushroom

Os resultados mostram uma pesrpectiva rara neste primeiro estudo de psilocibina para o vício de cigarro, que pode levar a novas abordagens para tratar outros tipos de vício

Apenas duas ou três experiências com a psilocibina, presente nos cogumelos mágicos, ajudaram uma dúzia de fumantes de longo prazo a parar com o hábito, obtendo sucesso em um estudo onde inúmeras outras abordagens falharam.

Os voluntários tomaram uma pílula que contém psilocibina, o ingrediente ativo dos cogumelos alucinógenos de gênero psilocybe, como parte de um programa de terapia de comportamental cognitiva na Universidade Johns Hopkins em Baltimore. Seis meses depois, 12 dos 15 participantes permaneceram livres do cigarro, de acordo com os resultados do estudo publicado esta semana (11/09) no Journal of Psychopharmacology.

Medicamentos já existentes, como Champix da Pfizer Inc. (PFE), a mais poderosa ajuda para o abandonodo tabagismo, tem uma taxa de sucesso de cerca de 35 por cento ao sexto mês. Adesivos e chicletes de nicotina obtém bem menos sucesso, disse Matthew Johnson, uma pesquisador do estudo e professor associado de psiquiatria e ciências comportamentais na Universidade Johns Hopkins. Os resultadosmostram uma pesrpectiva rara neste primeiro estudo de psilocibina para o vício de cigarro, que pode levar a novas abordagens para tratar outros tipos de vício, disse Johnson.

“As taxas de abandono do cigarro foram tão altas, duas vezes maior que o que você costuma ver com a medicação padrão ouro“, disse ele em uma entrevista por telefone. “É um estudo muito pequeno, mas éuma indicação de que algo muito forte está acontecendo aqui. Ele responde à questão de saber seestamos em um caminho que vale a pena perseguir .

O estudo com fumantes está entre uma variedade de projectos iniciados nos últimos anos para pesquisaro potencial uso terapêutico de alucinógenos para condições como dores de cabeça crônicas, câncer edepressão.

 

Terapia Comportamental

Em consequência da pílula de psilocibina ter sido administrada em combinação com a terapia demodificação comportamental, incluindo aconselhamentos e relatórios diários, não está claro quanto dobenefício para os fumantes veio do alucinógeno. Estudos futuros estão sendo planejados para incluir um grupo de comparação que não receberá o composto alterador de consciência, e todos os participantes irãotirar imagens do cérebro para ajudar os pesquisadores a identificar e estudar onde ocorre o efeito.

cigarUma vasta gama de voluntários participaram do estudo, incluindo um professor, um advogado e um funcionário do museu. Todos estavammais interessados ​​em parar de fumar do que em tomar uma drogapsicodélica, disse Johnson. Realização da pesquisa em um ambientecuidadosamente controlado permitiu aos investigadores para protegeros voluntários e evitar a ansiedade aguda que pode ocorrer, a experiência que é geralmente conhecida como “bad trip”, disse ele.

A terapia ocorreu ao longo de duas ou três sessões. Os voluntárioschegaram a um laboratório montado como se fosse uma sala de estar, cada um tomou um comprimido de 20 mg de psilocibina, tiveram seus olhos cobertos e relaxaram com música durante várias horas enquanto o efeito psicodélico se manifestava. Aqueles que tiveram uma experiência transcendental, onde as pessoas dizem que entram em um estado místico que os ajuda a sentir a unidade com eles mesmos e do universo, tiveram maior tendência de sucesso, disseram os pesquisadores.

 

Segunda Dose

Psilocybin_chemical_structureTodos os voluntários retornaram duas semanas mais tarde para mais uma rodada com uma dose mais elevada da substância. À todos foi oferecido uma terceira experiência, embora vários tenham recusado, como disse o pesquisador. O tratamento não envolve troca de uma droga por outra, disseJohnson, que apontou que os alucinógenos não são viciantes.

A última coisa que as pessoas querem fazer é usar isso de novo no dia seguinte“, disse ele. “É uma experiência de sair da caixa. Quando uma droga desse tipo entra no corpocorpo, ela tem um efeito, e quando ele deixa o corpo o efeito desaparece. O que é fascinante é que asexperiências com estes compostos alucinógenos podem realmente mudar as pessoas.

 

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Aqueles que tiveram uma experiência transcendental, onde as pessoasdizem que entram em um estado místico que os ajuda a sentir a unidade deles mesmos e do universo, tiveram maior tendência de sucesso, disseram os pesquisadores.

 

 

Fonte:
Bloomberg.com
Hopkinsmedicine.org

A Segunda Revolução Psicodélica, Parte 2 – Sasha Shulgin, O Padrinho Psicodélico

Esse artigo é a segunda parte de uma série de 6. Para ler a primeira parte, clique aqui.

sasha_shulgin_1[su_quote]Eu explorei pela primeira vez a mescalina em 1950, 350-400mg. Eu aprendi que havia algo muito importante dentro de mim.” – Alexander Shulgin, LA Times, 1995[/su_quote]

Se houvesse um Hall da Fama psicodélico, a seção dos químicos seria bem pequena, uma vez que existiram realmente somente dois gigantes nesse campo – Albert Hofmann, que primeiro sintetizou o LSD-25 e a psilocibina (e logo após isolou esse componente de espécies de cogumelos mágicos fornecidos por R. Gordon Wasson), e Alexander “Sasha” Shulgin, que parece ter inventado todo o resto. (As sombras do trabalho desses dois homens são tão importantes que estátuas gêmeas dos dois uma de frente para a outra deveriam estar na entrada do Hall). Entretanto, quando o remarcável livro “PiHKAL; Uma História de Amor Químico”[1] apareceu pela primeira vez em 1991, poucas pessoas fora da comunidade psicodélica na Califórnia sabiam sobre Sasha e sua existência quieta que ele e sua esposa Ann (a co-autora de ambos PiHKAL e TiHKAL) viviam; e aqueles que sabiam dele sabiam mais pelo fato de ele ser um “popularizador” do empatógeno MDMA.

O MDMA foi sintetizado pela primeira vez em 1912; ele foi usado posteriormente no projeto MK-ULTRA da CIA em 1953-54; esses estudos foram desclassificados em 1973; Shulgin então sintetizou o composto e o experimentou em 1976 pela primeira vez após escutar relatos de seus efeitos pelos seus estudantes na Universidade da Califórnia, Berkeley. Shulgin gostava de chamá-lo de “martini de baixa caloria”, e o apresentou para inúmeros amigos e colegas, incluindo o psicoterapeuta Leo Zeff, que ficou tão impressionado com o componente que ele voltou de sua aposentadoria para treinar psicoterapeutas no seu uso.

O MDMA ganhou popularidade nos anos 1980 entre psicólogos e terapeutas até que ele foi feito ilegal em 1985 devido à sua crescente popularidade como uma droga recreativa, mais conhecido pelo seu nome de rua, Ecstasy. Pelos anos 1980, o uso de MDMA se tornou prevalente no cenário de música eletrônica ou “Acid House”, com o logotipo da carinha sorridente identificando tanto a droga como a nova cultura jovem. Apesar de ter sido feito ilegal mais de 20 anos antes (uma outra prova contra a ineficiência da “guerra contra as drogas”), estima-se que entre 10 e 25 milhões de pessoas usaram MDMA em 2008.

Um artigo inteiro poderia ser escrito sobre as similaridades e diferenças entre empatógenos (também chamados de entactógenos), e psicodélicos (também chamados de enteógenos), e ainda que essa seja uma conversa importante para nossa comunidade, é território que eu não pretendo cobrir nesse artigo.[2] O que é importante para os propósitos desse artigo entretanto é que empatógenos como o MDMA e talvez o psicodélico mais velho conhecido, a mescalina, são ambos feniletilaminas, que por assim dizer, são variações em torno do mesmo anel estrutural feniletilamínico. Graças a esse fato simples, quando Shulgin escreveu PiHKAL e o lançou no mundo em 1991, Sasha providenciou não só a melhor fonte sobre o MDMA e seu primo mais antigo MDA (a “droga do amor” de 1960), mas também revelou um catálogo de mais de 200 psicodélicos e empatógenos anteriormente desconhecidos que ele descobriu, incluindo a família 2-C inteira, que incluía os psicodélicos 2C-B e 2C-I, e os empatógenos 2C-E e 2C-T-7 entre outros.

Sasha é um grande homem, tanto fisicamente quanto intelectualmente, com grande reputação. No início de sua carreira ele desenvolveu o primeiro pesticida biodegradável para a DOW Chemicals, uma patente que fez seus empregados milionários e forneceu para ele um certo grau de independência, permitindo que ele movesse seu laboratório para sua casa próximo a Lafayette, Califórnia, em 1965.

 

Em seu laboratório caseiro remarcável, Shulgin descobriria, sintetizaria e faria o bio-ensaio de mais de 260 compostos psicoativos durante os 35 anos seguintes, publicando com frequência os resultados em jornais e revistas como a Nature e o Jornal de Química Orgânica.

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Enquanto claramente um libertário em suas visões, Shulgin paradoxalmente desenvolveu uma relação profissional com o DEA, que forneceu para ele uma licença especial para sintetizar componentes controlados e o usaram como um consultor e especialista legal em determinados casos, e em 1988, Shulgin publicou o volume definitivo em drogas ilegais [3] para aplicações legais pelo qual ele recebeu inúmeros prêmios.

Então em 1991, em um esforço para garantir que as descobertas de Sasha não seriam perdidas ou oprimidas por causa da proibição social contemporânea dos psicodélicos, os Shulgins lançaram seu livro PiHKAL. Ele conta a história de amor de Sasha e Ann, e possui um manual detalhado de como sintetizar cerca de 200 componentes psicodélicos que refletem as crenças de Sasha que drogas psicodélicas podem ser ferramentas valiosas para a auto-exploração.

Na história da literatura, existem poucos atos bravos como a publicação do PiHKAL pelos Shulgins, e ironicamente isso só poderia ter acontecido nos Estados Unidos – o país que efetivamente fez os psicodélicos ilegais no mundo inteiro [4]- graças à proteção da primeira emenda. (A mera posse do PiHKAL em vários outros países é um crime). Quando cópias do PiHKAL começaram a aparecer em laboratórios confiscados ao redor do mundo, o DEA ficou ultrajado ao descobrir que um de deus próprios empregados (e especialista legal ocasional) publicou o que eles consideraram como sendo um “livro de receitas para drogas ilegais” (completado com uma escala de classificação do próprio Shulgin). Em resposta, em 1994 o DEA invadiu a casa e o laboratório de Shulgin, aplicando uma multa de $25.000 pela posse de amostras anônimas que o próprio DEA tinha enviado, e revogando a sua licença para substâncias controladas.[5] Os Shugins responderam com a publicação do “TiHKAL, a Continuação”, em 1997, o trabalho seminal de Sasha na família das triptaminas que incluem o LSD, DMT e 5-MeO-DMT.

Invadir o laboratório de Shulgin após a publicação do PiHKAL foi algo como fechar a porta do celeiro depois de ter os cavalos roubados, e pelos anos 1990 um número de compostos anteriormente raros ou desconhecidos e o mais importante, não regulamentados começaram a estar disponíveis nas ruas e – em um novo desenvolvimento para a cultura psicodélica – online através de websites de “empresas de pesquisa química”. No período da “seca” do LSD dos primeiros anos do século 21 (e durante um período de considerável atenção da mídia sobre a baixa pureza de pílulas de Ecstasy), muitos desses compostos e especialmente a família do 2C estavam bem estabelecidos como os psicodélicos de escolha para uma nova geração que nunca teve a chance de experimentar mescalina, psilocibina, DMT, ou até mesmo LSD.

Enquanto a Lei Federal Análoga tinha sido aprovada em 1986 como uma resposta a essas “designer drugs”, o grande número de compostos diferentes e ambiguidades na Lei fizeram com que fosse difícil conter esses novos compostos, justamente quando as autoridades federais e estaduais estavam lutando com o novo fator internacional da Internet.

Em Julho de 2004, uma operação do DEA chamada de Web Tryp prendeu 10 pessoas nos Estados Unidos associadas com 5 diferentes “empresas de pesquisa química”, fechando efetivamente todas as empresas restantes ou as afundando muito bem. (Mais recentemente, o website Silk Road). Em um interessante ato de sincronicidade, por volta do mesmo período, o website de informações Erowid.org publicou (com a permissão dele) todas as fórmulas de Shulgin contidas no PiHKAL e TiHKAL, um ato que efetivamente permitiu a qualquer um ao redor do mundo ter acesso a elas, e virtualmente garantir que elas nunca serão perdidas ou reprimidas.

Quando tentando avaliar o legado e a importância de Alexander para a cultura psicodélica e underground, é impossível calcular a importância da popularização do MDMA (Ecstasy) à ascensão global da Música Eletrônica, exceto para notar que a droga e a cultura da dança eletrônica eram sinônimos na Inglaterra por pelo menos uma década, e enquanto a música era originalmente chamada Acid House, foi o logotipo da cara sorridente que a definiu, assim como o LSD definiu o rock dos anos 60.

Não podemos negar o fato de que depois da apreensão do silo de LSD em 2000 e durante os cinco anos da ausência de LSD nos anos seguintes, graças às visões libertárias de Sasha e a brava publicação do PiHKAL uma década atrás, o 2C-B se tornou o psicodélico preferido (e disponível), enquanto um número de outras criações de Shulgin como o 2C-E, 2C-I e 2C-T-7 (somente para apontar alguns) se tornaram proeminentes, abrindo a caixa de Pandora de análogos psicodélicos e garantindo que a Segunda Revolução Psicodélica não ficasse dependente dos 4 primeiros componentes que iniciaram a Primeira – mescalina, psilocibina, LSD e DMT, como definido por Leary, Metzner e Alpert em “A Experiência Psicodélica” – mas via uma sopa de letrinhas de novos componentes, todos baseados na estrutura dos “clássicos” originais.

Para essas duas considerações sozinhas, a importância de Sasha para a cultura psicodélica moderna seria óbvia e sem comparações. Mas incrivelmente, pode haver mais do que é comumente conhecido, o que significa que a Cultura Psicodélica deve a Alexander Shulgin um débito ainda maior que nós jamais imaginamos. A história completa é algo assim:

Em um jantar de homenagem para os Shulgins em 2010 na conferência do MAPS [7] em San Jose, CA, o químico underground Nick Sand (que tinha sido recentemente libertado da prisão) e a quem (juntamente com Tim Scully, que foi o químico de Owsley) é dado o crédito pela “invenção” do LSD Orange Sunshine, revelou que em 1966, depois que o LSD foi feito ilegal na Califórnia graças ao novo governador Ronald Reagan, os precursores necessários para produzir o LSD, nos métodos da época, e por um curto período de tempo o LSD desapareceu, de uma forma muito semelhante ao que ocorreria 24 anos depois em 2000, pareceu como se fosse um “fim do ácido”.

De acordo com o registro histórico, Sand e Scully começaram então a fabricar DOM (nome de rua: STP), uma feniletilamina psicodélica extraordinariamente potente inventada por Shulgin em 1964. Cinco mil “doses” desse novo componente foram dadas para o primeiro Human Be-In em São Francisco (14 de Janeiro de 1967), em um esforço para promover a nova droga como uma “substituta” ao LSD, mas aparentemente Sand e Scully desenvolveram uma tolerância ao DOM, e fizeram as dosagens muito altas. Isso combinado ao fato de que o início dos efeitos do DOM foi muito mais lenta que a do LSD, com muitas pessoas tomando uma segunda dose após uma hora de poucos efeitos, causando overdose em inúmero usuários e enviando os hippies para as salas de emergência. A imprensa logo demonizou o LSD informando que esse havia sido o componente responsável.

Talvez devido às consequências do desastre do Human Be-In, foi dado a Nick Sand e Tim Scully uma fórmula para um novo método de manufaturar LSD que contornou os problemas do antigo método; foi dito a eles que era de um “amigo”, um aliado que acreditava no que eles estavam fazendo, mas não podia ser revelado no momento. No jantar do MAPS em 2010, um uma revelação surpreendente que passou despercebida pela maioria da audiência e até onde eu saiba nunca havia sido informada, Nick Sand identificou o misterioso “amigo” como sendo Sasha.

Assumindo que isso seja verdade – e obviamente Nick Sand não teria nenhuma razão para inventar uma história como essa – isso significa que juntamente com a popularização do MDMA, e à invenção de literalmente centenas de substâncias psicodélicas e empatógenas que surgiram com regularidade crescente no século 21, Alexander Shulgin foi também o inventor do LSD Orange Sunshine, que é de longe o LSD mais fabricado dos anos 60 até agora (estima-se que o Orange Sunshine seja 75% de todo o LSD do mundo). Ou para colocar de outro modo, enquanto Albert Hofmann inventou o LSD, pode ser dito que graças a Sasha (e à bravura de Nick Sand, Tim Scully e a irmandade do Eternal Love [8]) ele está disponível desde 1967!

Pelo que me lembro, Sasha ficou lá sentado com um brilho evidente em seus olhos e um sorriso perverso durante o testemunho de Nick como que dizendo, “O que eles podem fazer comigo agora!” Mas esse é o Alexander Shulgin clássico, olhando para uma platéia que o adorava, no que talvez foi uma das noites mais felizes de sua vida incrível, com a mesma mistura singular de humor e intelecto que o fez nosso único e especial Padrinho Psicodélico, e o arquiteto insubstituível da cultura psicodélica atual.

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Na próxima parte dessa série eu examinarei as diferentes e ainda assim igualmente importantes contribuições de Terence McKenna.

Correção do autor: Um exame mais cuidadoso dos comentários de Nick Sand no jantar do MAPS revela que eu estava enganado na minha compreensão do envolvimento exato de Sasha no desenvolvimento da síntese do LSD Orange Sunshine por Owsley, Nick Sand, Tim Scully e a Irmandade do Eternal Love. Enquanto dizendo à audiência como ele (Nick Sand) tinha uma “síntese para o LSD” que era desafiadora e então falando sobre pegar uma “síntese” com Sasha, o que permitiu que seu projeto de LSD prosseguisse, Nick então disse que a Irmandade deu a ele uma “síntese” que eles adaptaram da pesquisa de Sasha e que com “aquela síntese eu fui capaz de fazer quantidades de DOM suficientes para angariar os fundos para fazer o projeto Orange Sunshine acontecer”

http://www.maps.org/videos/source2/video13.html

Aparentemente as restrições do precursor que vieram como resultado do LSD se tornar ilegal resultou em um aumento no preço dos precursores assim como uma disponibilidade limitada, e a Irmandade do Eternal Love simplesmente não tinha os fundos para manufaturar o LSD como eles queriam. Mas assim como Nick aponta, a fabricação do DOM (vendido nas ruas como STP) gerou os fundos necessários para a síntese do LSD Orange Sunshine, fazendo com que o papel de Sasha no caso fosse muito mais periférico e limitado do que eu anteriormente afirmei. Também não parece que houve uma conexão direta entre Owsley e a Irmandade e Sasha, uma vez que Owsley foi preso em 1967 por 100 gramas de LSD e uma quantidade de DOM em pílulas de 20mg comprimidas – e aparentemente alheio ao fato que essa quantidade era duas a seis vezes mais potente – Owsley colocou a culpa em Shulgin. “Ele tinha esse material, e nós achamos que poderia ser bom. Na verdade não foi”.

Meus agradecimentos a Jon Hanna por sua pesquisa rigorosa e conhecimento sem fim.

NOTAS

[1] “Feniletilaminas Que eu Conheci e Amei”

[2] Veja “O que os Enteógenos podem nos Ensinar?

[3] Shulgin, Alexander (1988). Substâncias Controladas: Guia Químico e Legal para Leis de Drogas Federais. Ronin Publishing, ISBN 0-914171-50-X

[4] Através do U.N, os Estados Unidos criaram efetivamente as leis de droga globais.

[5] Duas revisões internas pelo DEA subsequentes pelos 15 anos que se seguiram à publicação do PiHKAL falharam em encontrar qualquer atividade ilegal por Sasha.

[6] “Triptaminas Que eu Conheci e Amei”

[7] MAPS: Associação Multidisciplinar Para as Ciências Psicodélicas.

[8] A Irmandade do Eternal Love era um grupo de surfistas contrabandistas de haxixe que se dedicaram à distribuição mundial do LSD como um método de mudança social. Depois de abrigar Timothy Leary por um tempo, e logo após para The Weatherman para retirar Leary da cadeia, a Irmandade se tornou a maior rede de distribuição global de LSD e foi grandemente responsável por manter o preço do LSD a $1 dólar a dose por mais de 30 anos uma vez que eles não tiveram nenhum lucro de suas vendas de LSD. Nick Sand e Tim Scully eram os mais famosos químicos da Irmandade; enquanto acredita-se que Leonard Pickard, o químico preso em 2000 na apreensão do silo Wamwego, seja o último.

Fonte

Psilocibina e o relato de um paciente

Um estudo em Nova York está utilizando a psilocibina presente em cogumelos psicodélicos para ajudar pacientes de câncer a superar o medo da morte

24 de abril, 2014  |   Fonte

Quando O.M. tinha 21 anos, foi diagnosticado com Linfoma de Hodgkin. Ele era um estudante de medicina na época. Sua primeira reação foi de negação, seguida por uma intensa e duradoura ansiedade, como descrito em artigo da revista Atlantic de 22 abril, por Roc Morin. Mesmo depois de seis rodadas de quimioterapia ajudarem O.M. a chutar o câncer, ele foi atormentado com um medo devastador que a doença pudesse voltar. Ele checou seus nódulos linfáticos tão frequentemente para ver se eles tinham crescido que ele desenvolveu calosidades em seu pescoço.

Ele experimentou uma debilitante ansiedade de fim de vida do momento em que foi diagnosticado até o dia que ingeriu psilocibina, extraída de cogumelos alucinógenos, enquanto deitava em um divã psiquiátrico durante um Estudo da Universidade de Nova York. O.M. é um dos 35 participantes do estudo, que em todos os casos, foram abatidos por severa ansiedade devido ao câncer.

O estudo piloto “Double-blind placebo-controlado”, que ainda está em curso, olha para os potenciais usos da psilocibina para tratar a ansiedade e outros distúrbios psicológicos decorrentes de câncer avançado. A segunda metade do estudo será analisar o efeito da psilocibina na “percepção da dor, depressão, angústia existencial / psicoespiritual, atitudes em relação à progressão da doença, qualidade de vida, e os estados espirituais / místicos de consciência.”

O.M. disse a Revista  Atlantic que, quando ele comeu os cogumelos,  foi como “um interruptor para ir além.”

“Eu fui de um estado de estar ansioso, para analisar a minha ansiedade do lado de fora”

“Eu percebi que nada estava realmente acontecendo comigo de forma objetiva. Era real, porque eu deixava que se tornasse real. E logo quando eu tive esse pensamento, eu vi uma nuvem de fumaça negra sair do meu corpo e flutuar embora”.

Gabrielle Agin-Liebes, a gerente da pesquisa para o estudo da NYU, disse à Atlantic que O.M. tinha um dos maiores índices de ansiedade possíveis antes do estudo. No dia seguinte, no seu tratamento, O.M. marcou um zero. Ele não tinha absolutamente nenhuma ansiedade, e ficou assim durante os sete meses de tratamento.

Como o artigo de Morin para a Atlantic apontou, a psilocibina foi usada para fins medicinais durante séculos por povos indígenas antes da globalização ocidental cristã que reprimiu seu uso naturalizado. Na esteira da Segunda Guerra Mundial, alucinógenos utilizados como medicina foram motivo de debate entre os psiquiatras. Quando as substâncias psicoativas ganharam popularidade recreativa como drogas de rua, a administração Nixon travou sua guerra contra as drogas, passando Lei de Substâncias Controladas de 1970. Para a psilocibina foi dada Programação restritiva e classificação junto com LSD, maconha e outras substâncias psicoativas. A guerra de Nixon sobre drogas ainda sobrevive hoje, em muitos países, enchendo as prisões de infratores não violentos e criminalizando populações minoritárias.

Políticas dos anos 70 também suprimiram a maioria das pesquisas de psicodélicos por décadas, mas graças aos esforços dos cientistas determinados e grupos de pesquisa como a Associação Multidisciplinar para o Estudo de Psicodélicos (MAPS), estudos em humanos aprovados pelo governo de substâncias psicodélicas controladas estão germinando novamente. Enquanto o governo federal ainda considera os psicodélicos perigosos e desprovidos de finalidade médica, a investigação continua a revelar um potencial médico promissor de várias substâncias psicoativas para o tratamento de questões que vão desde a dor e a ansiedade ao vício e ao câncer. Um estudo aprovado pelo FDS recentemente analisou o LSD no tratamento de ansiedade de fim de vida. Foi o primeiro estudo controlado de LSD em seres humanos em 40 anos, e os resultados foram extremamente positivos, com todos os relatos de redução da ansiedade do paciente e sem efeitos colaterais negativos.

Sala no Bluestone Center, onde os pacientes tomam psicodélicos para tratamento psicoterápico em NY

O estudo com psilocibina NYU não é o primeiro de seu tipo. Charles Grob realizou um estudo com medidas semelhantes no Harbor-UCLA. No entanto, o estudo da NYU utiliza doses mais elevadas de psilocibina e examina 32 indivíduos, em vez de 12 examinados por Grob. Os resultados do estudo atual com a psilocibina ainda estão sendo analisados​​, mas o principal investigador Stephen Ross disse à revista Atlantic que “a grande maioria dos seus pacientes têm demonstrado uma redução imediata e constante na ansiedade. Consistente com estudos semelhantes envolvendo a psilocibina, cerca de três quartos dos participantes classificam a sua experiência com a droga como sendo um dos cinco maiores eventos mais significativos de suas vidas “.

O.M. está entre os casos de sucesso mais esmagador.

“No hospital me deram Xanax para a ansiedade. Xanax não te livra de sua ansiedade. Xanax diz que você não vai senti-la por um tempo até que para de funcionar e você vai tomar o próximo comprimido. A beleza da psilocibina é: não é medicação. Você não vai tomá-la e ela resolve o seu problema. Você toma e você mesmo resolve seu problema sozinho. “

Podem os Cogumelos Mágicos Estimularem a Neurogênese?

Pesquisadores descobrem que cogumelos psicodélicos podem estimular a neurogênese

O hipocampo é a peça central da formação de memória no cérebro e apresenta taxas elevadas de neurogênese até mesmo em adultos. Neurônios pigmentados de um rato.
O hipocampo é a peça central da formação de memória no cérebro e apresenta taxas elevadas de neurogênese até mesmo em adultos. Neurônios pigmentados de um rato.

De acordo com um estudo conduzido na University of South Florida, baixas dosagens de cogumelos mágicos (que contém psilocibina) podem apagar a resposta de medo em ratos – que, segundo os pesquisadores sugerem, pode guiar para um tratamento potencial do Transtorno de Estresse Pós-Traumático.

Baixas doses de uma droga psicodélica apagaram a resposta condicional ao medo em ratos, sugerindo que o princípio ativo pode ser um tratamento para transtornos de estresse pós-traumáticos e condições relacionadas, segundo um estudo pela University of South Florida.

O achado inesperado foi feito por uma equipe da Universidade estudando os efeitos da psilocibina no nascimento de novos neurônios no cérebro e no estudo de formação de memórias de curto prazo. O estudo foi disponibilizado online no dia 2 de Junho no jornal Experimental Brain Research, antes da publicação impressa.

A psilocibina pertence a uma classe de componentes que estimulam os receptores de serotonina no cérebro. Ela ocorre naturalmente em certos cogumelos que têm sido utilizados por milhares de anos por culturas  não-ocidentais em suas cerimônias religiosas.

Enquanto estudos anteriores indicam que a psilocibina pode alterar a percepção, pensamento e elevar o humor, as substâncias psicoativas raramente causam alucinações no sentido de ver ou escutar coisas que não estão ali, particularmente em dosagens baixas ou moderadas.

Têm havido um interesse renovado na medicina em explorar o potencial clínico benéfico da psilocibina, MDMA e outras drogas psicodélicas através de pesquisa monitorada e baseada em evidências.

“Os pesquisadores querem encontrar por quê, em baixas dosagens, essas drogas podem ser aditivos seguros e efetivos na psicoterapia para o tratamento de desordens psiquiátricas resistentes ao tratamento comum ou tratamentos adjuntos para certos tipos de condições neurológicas,”, disse o doutor PhD Juan Sanchez-Ramos, professor de neurologia.

O resumo do estudo, “Efeitos da psilocibina na neurogênese no hipocampo e extinção do condicionamento do medo” foi publicado no Experimental Brain Research, em Agosto de 2013.

Note que a organização MAPS – Associação Multidisciplinar Para Estudos Psicodélicos – já está investigando o uso da psilocibina para o transtorno de estresse pós-traumático.

Psicodélicos não prejudicam a saúde mental e podem melhorá-la

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‘Psicodélicos como o LSD e os cogumelos com psilocibina, não apenas não causam problemas de saúde mental, como na verdade podem aumentá-la’
Essas são as conclusões dos pesquisadores de neurociência da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, em Trondheim, que relataram que o LSD, a psilocibina e mescalina não só não causam problemas de saúde mental a longo prazo, mas que, em muitos casos, o uso de psicodélicos é associado a uma menor taxa de problemas de saúde mental.

O estudo colheu dados da ‘Pesquisa Nacional dos EUA sobre Uso de Drogas e Saúde’, observando-se 130.152 respondentes selecionados aleatoriamente a partir da população adulta de os EUA. 13,4% desse grupo (21.967 indivíduos) relataram uso na vida de drogas psicodélicas. Comparando esses dados para medidas de triagem padronizados para a saúde mental, os pesquisadores descobriram que, nem o uso vitálicio de psicodélicos, nem o uso dentro do último ano, foram fatores de risco independentes para problemas de saúde mental e que, de fato, os usuários de psicodélicos tiveram menores taxas de problemas de saúde mental.

Os pesquisadores noruegueses, Teri S. Krebs e Pal-Ørjan Johansen também observaram que “plantas psicodélicas têm sido utilizados para fins comemorativos, religiosos ou de cura por milhares de anos” e que “psicodélicos, muitas vezes provocam profundas experiencias, pessoal e espiritualmente significativas, além de produzir efeitos benéficos”. O LSD e a psilocibina são consistentemente classificados em avaliações de especialistas como causando menos danos a usuários individuais e à sociedade do que o álcool, o tabaco, e a maioria das outras drogas recreativas comuns. Dado que milhões de doses de drogas psicodélicas foram consumidas todos os anos, por mais de 40 anos, relatos de casos bem documentados de problemas de saúde mental a longo prazo após o uso destas substâncias são raros

O estudo também não observou absolutamente nenhuma evidência de que “flashbacks” realmente afligiam os usuários de psicodélicos, matando outra superstição normalmente realizada em torno do uso psicodélico.

psilocybinOs pesquisadores noruegueses trazem uma boa notícia para os mais de 30 milhões de americanos que usaram drogas psicodélicas (em comparação com 100 milhões que usaram maconha). E enquanto a mídia vem comentando sobre a revelação do Dr. Sanjay Gupta que ele “mudou sua mente por causa da maconha”, pode ser hora para as substâncias psicodélicas obterem uma retratação similar.Enquanto psicodélicos ainda evocarem imagens da era dos 60, bad trips, como a filha de Art Linkletter saltar de uma janela em ácido (um mito superestimado, como diz Snopes), poucos arriscam submetê-los a uma investigação significativa e tiveram um lento progresso em direção a aceitação clínica nas últimas décadas. Os pesquisadores ainda trabalham sob a imagem negativa da era de Timothy Leary a respeito dos psicodélicos, mas aos poucos está se desfazendo o impasse cultural criado pelo que muitos vêem como o abuso irresponsável de drogas psicodélicas durante os anos 1960 e 70.

De pé e em contraste com os aspectos negativos desse tempo no entanto, são os imensos benefícios clínicos que psicodélicos estão constantemente se mostrando capazes de oferecer. Outro estudo recente da Universidade do Sul da Flórida , por exemplo , descobriu que a psilocibina apaga respostas de medo condicionado em ratos, sugerindo que poderia ser usado para curar PTSD e que a psilocibina pode até mesmo gerar um crescimento rápido de células cerebrais.

Vários estudos estão sendo conduzidos ( na escola de medicina da Universidade de Nova York e na Johns Hopkins Bayview Medical Center) em usar psicodélicos para aliviar o medo em pacientes com estágio avançado terminal de doença , facilitando a experiência de morte e permitir que as pessoas terminam suas vidas em estados de aceitação em vez de terror.  LSD e psilocibina também surgem com uma promessa para o tratamento da Cefaléia em Salvas(Cluster headache), uma condição tão debilitante e dolorosa que muitas vezes leva os doentes a considerar o suicídio .

Enquanto a maconha degusta a sua estadia no centro das atenções, pode ser hora de seus irmãos mais potentes e ainda mais potencialmente benéficos, participarem da festa.

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—> Estudo

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Cogumelos Mágicos Podem Apagar o Medo em Camundongos

Fonte: Live Science – Tia Ghose

O princípio ativo dos cogumelos alucinógenos pode apagar memórias assustadoras e incentivar novo crescimento de células cerebrais em ratos, sugere um novo estudo.

Camundongos que receberam um choque elétrico, em seguida, uma baixa dose de psilocibina, perderam a sua resposta ao medo de um som associado a um choque elétrico doloroso muito mais rapidamente do que os ratos que não receberam o medicamento.

Cogumelos Psilocybe cubensis, onde a Psilocibina é encontrada na natureza.

“Eles pararam de congelar, pois eles perderam o medo”, disse o co-autor Dr. Juan Sanchez-Ramos, professor de distúrbios de movimentos da Universidade do Sul da Flórida.

Os resultados, publicados na edição de junho da revista Experimental Brain Research, aplicam-se apenas aos ratos, mas eles levantam a possibilidade de que as baixas doses da substância, podem um dia ser usadas para tratar o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

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Estudos anteriores descobriram que a psilocibina, a substância psicoativa dos cogumelos mágicos, poderia induzir experiências místicas que podem elevar o humor, atitude e comportamento e até mesmo alterar permanentemente a personalidade para melhor. Outros estudos mostram que a psilocibina diminui a atividade cerebral. [Trippy Tales: The History of 8 Hallucinogens]

Mas Sanchez-Ramos e seus colegas se perguntam sobre o papel da psilocibina na formação de memórias de curto prazo. Como a substância se liga a um receptor no cérebro, que estimula o crescimento de células nervosas cerebrais e a formação da memória de curto prazo, os pesquisadores queriam investigar como foi afetada a formação das memórias relacionadas ao medo. Eles esperavam que a psilocibina ajudaria camundongos a formar memórias assustadoras mais rapidamente.

Para testar essa hipótese, os pesquisadores tocaram um tom(som) auditivo e deram aos ratos um choque doloroso. Os ratos logo associaram o tom com o choque e congelavam quando ouviam isso.

Mas alguns dos ratos receberam uma dose baixa de psilocibina – provavelmente muito baixa para causar efeitos psicoativos, porém não há nenhuma maneira de ter certeza, Sanchez-Ramos disse.

“Os ratos não podem lhe dizer se eles estão tendo alucinações ou experienciando estados alterados de consciência:” Sánchez-Ramos contou a nosso site.

Depois, os pesquisadores tocaram os sons várias vezes, sem chocar os ratos. No início, os ratos congelaram quando ouviram, mas aos poucos, eles começaram a se movimentar normalmente, indicando que o som não está mais associado ao choque.

Os ratos que tomam o alucinógeno voltaram ao comportamento normal mais rapidamente do que aqueles que não tinham, sugerindo que superaram seu medo com maior rapidez. Ao mesmo tempo, seus cérebros mostraram um significativo crescimento de novas células.

 

Eliminando a memoria negativa?

“O estudo em ratos indica que a psilocibina, (possivelmente também em doses moderadas) pode ajudar a extinguir a memória relacionada ao medo em casos de TEPT ou outros grupos de pacientes com ansiedade,” Franz Vollenweider, o diretor do Instituto de Pesquisa Heffter em Zurique, na Suíça, escreveu em um e-mail .

A pesquisa de Vollenweider tem mostrado que a psilocibina pode reduzir o quanto os pacientes deprimidos respondem ao negativo, mas não positivamente ou com expressões faciais neutras.

“Assim, a psilocibina pode muito bem mudar o processamento de emoções positivamente em pacientes deprimidos”, disse Vollenweider, que não esteve envolvido no estudo atual.

E no tratamento de TEPT por exemplo, os veteranos poderiam levar o medicamento para desassociar barulhos altos ou espaços lotados com o trauma de um bombardeio, Sanchez-Ramos acrescentou.

Por lei, a psilocibina é uma substância ilegal, ou uma droga perigosa, sem usos médicos legítimos. Então, fazer a pesquisa para testar seus efeitos nos Estados Unidos será um desafio, disse Sanchez-Ramos.

Podem os Cogumelos Mágicos Serem Usados no Tratamento da Ansiedade e da Depressão?

Matéria traduzida do blog do Smithsonian Institute

Nos anos de 1960 e início dos anos 70, pesquisadores como Timothy Leary, de Harvard, promoveram entusiasticamente o estudo dos tão conhecidos cogumelos “mágicos” (denominados formalmente como cogumelos psilocibínicos) e defenderam os benefícios em potencial dos mesmos para a psiquiatria. Por um breve momento, pareceu que experimentos controlados com cogumelos e outros psicodélicos entrariam para a corrente científica.

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Poderia ser a experiência psicodélica um tratamento psiquiátrico?

Mas recentemente, através dos últimos anos, o pêndulo balançou de volta para a outra direção. E agora, novas pesquisas com a substância alteradora da mente, a psilocibina – o ingrediente “mágico” nos cogumelos – indicam que controladas com cuidado, baixas dosagens dela podem ser um meio efetivo de tratar pessoas com depressão clínica e ansiedade. Então, tudo mudou. A repercursão contra a cultura de drogas de 1960 – inclusive contra o próprio Leary – que foi preso por posse de drogas – tornaram a pesquisa quase impossível. O governo federal criminalizou os cogumelos, e a pesquisa parou por cerca de 30 anos.

O último estudo, publicado semana passada no Experimental Brain Research, mostrou que administrando a roedores uma dose purificada de psilocibina reduziu os sinais exteriores de medo dos mesmos. Os roedores no estudo foram condicionados a associar um som em particular com a sensação de serem submetidos a choques elétricos, e todos os ratos do experimentos paralisavam de medo quando o som era tocado, mesmo quando o aparato elétrico estava desligado. Ratos que ingeriram baixas dosagens da droga, entretanto, mantiveram-se calmos muito mais cedo, indicando que eles foram capazes de desassociar o estímulo e a experiência negativa da dor mais facilmente.

É difícil perguntar para um rato torturado porque exatamente ele sente menos medo (e possivelmente ainda mais difícil quando um rato está no meio de uma viagem de cogumelos). Mas diversos outros estudos demonstraram efeitos promissores da psilocibina em um grupo de indivíduos mais comunicativos: Humanos.

Em 2011, um estudo publicado no Archives of General Psychiatry por pesquisadores da UCLA e outros lugares encontrou que baixas doses de psilocibina melhoraram os humores e reduziram a ansiedade de 12 pacientes com câncer terminal por um longo período. Esses eram pacientes de 36 a 58 anos que sofreram com depressão e não responderam às medicações convencionais.

Foi dada a cada paciente uma dose pura de psilocibina ou um placebo, e eles foram questionados sobre os seus níveis de depressão e ansiedade diversas vezes nos meses seguintes. Os que foram administrados com psilocibina tiveram níveis de ansiedade reduzidos começando entre um e três meses, e níveis reduzidos de depressão começando entre duas semanas após o tratamento e continuando por seis meses seguidos, o período inteiro coberto pelo estudo. Adicionalmente, administrando cuidadosamente baixas dosagens e controlando o ambiente preveniu qualquer participante de ter uma experiência negativa sob a influência da psilocibina. (coloquialmente conhecida como “bad trip”.)

Cogumelos Psilocybe cubensis, uma das espécies que contém psilocibina mais conhecidas mundialmente.
Cogumelos Psilocybe cubensis, uma das espécies que contém psilocibina mais conhecidas mundialmente.

Um grupo de pesquisadores de John Hopkins conduziu o estudo controlado dos efeitos da psilocibina mais longo, e as descobertas podem ser as mais promissoras de todas. Em 2006, eles deram a 36 usuários saudáveis (e que nunca tinham experimentado alucinógenos antes) uma dose da droga, e 60% reportaram “uma experiência mística completa”. 14 meses depois, a maioria reportou níveis maiores de bem-estar que antes, e classificaram tomar a psilocibina uma das cinco experiências mais significativas em suas vidas. Em 2011, a equipe conduziu um estudo com um grupo separado, e quando os membros desse grupo foram questionados um ano depois, os pesquisadores encontraram que de acordo com testes de personalidade, a abertura dos participantes para novas ideias e sentimentos aumentou significativamente – uma mudança muito rara em adultos.

Assim como muitas questões envolvendo o funcionamento da mente, cientistas estão ainda nos estágios iniciais de descobrir se e como a psilocibina desencadeia esses efeitos. Nós sabemos que logo após a ingestão da psilocibina (seja ela na forma pura ou através de cogumelos), ela é quebrada em psilocina, que estimula os receptores da serotonina, um neurotransmissor que acredita-se promover pensamentos positivos (também estimulados por anti-depressivos convencionais.)

“Psicodélicos são proibidos pois eles dissolvem as estruturas da opinião e dos modelos de comportamento culturalizados e até mesmo a forma como se processa informações.” -Terrence McKenna
“Psicodélicos são proibidos pois eles dissolvem as estruturas da opinião e dos modelos de comportamento culturalizados e até mesmo a forma como se processa informações.” -Terrence McKenna

O escaneamento do cérebro humano sob o efeito da psilocibina está somente nos estágios iniciais. Um estudo de 2012 em que voluntários foram administrados enquanto estavam em uma máquina de ressonância magnética de imagem funcional, que mede o fluxo de sangue para várias partes do cérebro, indicou que a droga diminuiu a atividade em um par de áreas de “hub” (o córtex pré-frontal médio e o córtex singulado posterior) que possuem densas concentrações de conexões com outras áreas do cérebro. “Esses “hubs” formam a experiência do mundo e a mantêm em ordem,” disse na época David Nutt, um autor e neurobiologista do Imperial College London. “Nós sabemos que desativando essas regiões somos levados a um estado em que a experiência do mundo ao nosso redor é estranha.” Não é claro como isso pode ajudar na ansiedade e na depressão, ou se é apenas uma consequência não relatada da droga que não tem nada a ver com os efeitos positivos.

Independentemente, o impulso para mais pesquisas nas aplicações potenciais de psilocibina e outros alucinógenos está claramente em andamento. A Wired recentemente citou os cerca de 1600 cientistas que participaram do Terceiro Encontro Anual da Ciência Psicodélica, muitos dos quais estão estudando a psilocibina – conjuntamente com outras drogas como o LSD (conhecido como ácido) e o MDMA (conhecido como ecstasy).

É claro, há um problema óbvio ao se usar cogumelos psilocibínicos como medicina – ou até mesmo pesquisá-los em um ambiente laboratorial. Atualmente, nos Estados Unidos, eles são listados como uma substância controlada, significando que é ilegal comprar, possuir, usar ou vender, e não podem ser prescrevidos por um doutor, porque eles não tem uso médico aceito. A pesquisa que ocorreu foi sob supervisão estrita do governo, e conseguir aprovação para novos estudos é visivelmente difícil.

Dito isso, o fato de a pesquisa estar ocorrendo acima de tudo é um sinal de que as coisas estão mudando lentamente. A ideia de que o uso medicinal da maconha poderia ser um dia permitido em dezenas de estados, o que antes parecia impossível, não é absurdo sugerir que os cogumelos medicinais podem vir em seguida.

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