Quais são os riscos dos psicodélicos? Coisas a considerar antes de uma experiência psicodélica

Os perigos dos psicodélicos são com frequência  exagerados, mas essas substâncias expansoras da mente podem apresentar problemas se utilizadas sem cautela.
Os perigos dos psicodélicos são com frequência  exagerados, mas essas substâncias expansoras da mente podem apresentar problemas se utilizadas sem cautela. Imagem: Dima Yastronaut – Balance

Psicodélicos possuem muito a oferecer à humanidade, e tem sido utilizados por milênios por culturas ao redor do mundo exatamente por esse motivo. Como toda medicina poderosa, entretanto, essas plantas e químicos expansores da mente nunca devem ser utilizados levianamente, e a aproximação não deve ser feita sem muita pesquisa e cuidado. Ambos os efeitos de cura e perigos potenciais dos psicodélicos não devem nunca ser subestimados, mas como iremos ver, (e ao contrário da concepção de muitas pessoas) os perigos com frequência não estão associados com os psicodélicos por si próprios.

Drogas Impostoras

Provavelmente o maior perigo para alguém que está tomando psicodélicos é, em um ambiente não-médico, ouvir de alguém que uma certa substância é “ácido”, “ecstasy”, quando de fato é algo totalmente diferente. Infelizmente, a ocorrência desse tipo de situação está aumentando, pois traficantes de rua tendem a tentar popularizar seu produto sob um nome popular, quando de fato o que é vendido são research chemicals que oferecem efeitos mais fortes em relação ao seu preço se comparados com os psicodélicos em sua forma pura. Substâncias não psicodélicas que são vendidas como tais incluem heroína, metanfetaminas, e até mesmo sais de banho (metilona e derivados). Essa tendência perturbadora ilustra as consequências mortais que o paradigma da proibição impõe e destaca a importância vital das práticas de redução de danos.

Considerações para desordens mentais não-diagnosticadas

Uma das parábolas mais antigas em relação aos psicodélicos é que consumi-los com frequência irá enlouquecê-lo – não por apenas algumas horas, mas para sempre. Como parte da campanha de pânico levantada contra os psicodélicos na década de 70 e 80, essa história era acreditada por muitas pessoas devido ao clima antagonista sócio-político que a guerra às drogas criou, mas na verdade essa é apenas uma falácia. Inúmeros estudos científicos têm sido feitos com psicodélicos, desde a psilocibina ao DMT e ao Peiote, e foi descoberto que psicodélicos não prejudicam o cérebro sob uso normal e controlado. A única ponta de verdade nessa história é que em uma fração muito pequena de casos, algumas pessoas que foram diagnosticadas como portadoras de distúrbios mentais ou com uma forte predisposição genética à esses distúrbios podem ter tido suas desordens desencadeadas mais cedo pelo psicodélico. E, claramente, não é necessário mencionar que altas dosagens de qualquer substância, legal ou ilegal, podem apresentar perigos reais, que o uso racional não apresenta.

Interações prejudiciais

Enquanto a maior parte dos psicodélicos são relativamente seguros por si mesmos, alguns prejudicam mais o corpo do que outros, e alguns interagem de maneira prejudicial com outras drogas. É por isso que centros de tratamento psicodélico ao redor do mundo requerem uma análise médica prévia. Os indivíduos devem sempre realizar pesquisas por si mesmos, mas alguns exemplos de fatores de risco que devem ser considerados incluem problemas cardíacos com o tratamento com ibogaína, antidepressivos com a ayahuasca, e dextromethorphan (DXM) com MDMA. Pessoas em qualquer tipo de tratamento devem realizar pesquisa extensiva antes de considerar qualquer tipo de experiência psicodélica.

Assegurando que os psicodélicos gerem mais benefícios do que prejuízos

“Bad trips”, ou viagens ruins com psicodélicos podem deixar as pessoas estressadas, mas elas podem ser reduzidas ou até mesmo transformadas em catarses de auto-transformação com set e setting apropriados. Isso significa que as intenções de uma pessoa que está buscando uma experiência psicodélica, combinadas com suas estruturas físicas e sociais, além da rede de apoio e suporte, tem um papel essencial em ajudar os indivíduos a transformar sua experiência em uma jornada psicodélica de aprendizado e enriquecimento pessoal.

Dito isso, se essas condições de suporte vitais são desfavoráveis, ou se uma pessoa não está preparada para enfrentar face a face seus sentimentos, traumas e padrões de comportamento mais profundos, ela pode se sentir oprimida e resistir à experiência, criando uma viagem desconfortável e muitas vezes assustadora, que nega os insights reveladores que os psicodélicos oferecem. A importância do set e setting e do suporte à experiência é a razão pela qual grupos como o Projeto Zendo existem e fornecem esse tipo de serviços a pessoas que estão passando por uma experiência desafiadora em festivais. Seja em um festival ou durante uma sessão de terapia psicodélica, o suporte humano é um componente essencial para assegurar a segurança física e emocional do indivíduo. Leia mais sobre redução de danos na experiência psicodélica aqui.

Fonte

Efeitos Cognitivos de Uma Experiência Psicodélica

Esse guia é uma tentativa de categorizar e descrever em termos simples os efeitos cognitivos específicos que drogas psicodélicas causam. Ele descreve não experiências pessoais, mas a universalidade de efeitos que foram sentidos e reportados pela maioria, senão todos os usuários de psicodélicos.

Ele está dividido em três diferentes seções:

I. Os efeitos visuais da experiência psicodélica.
II. Os efeitos cognitivos da experiência psicodélica.
III. Os efeitos diversos da experiência psicodélica.

O primeiro é uma descrição da experiência visual, o segundo é uma descrição da experiência mental e o terceiro é uma descrição dos componentes sensoriais que não se encaixam nem nos efeitos mentais, nem nos visuais. Ele é em referência a todos os psicodélicos clássicos e à grande variedade de modernos e obscuros “químicos de pesquisa” que estão se tornando cada vez mais prevalecentes. Mais especificamente essa lista inclui, mas não é limitada a: LSD, Cogumelos, DMT, Ayahuasca, LSA, Mescalina, Bufotenina, 5meoDMT, AMT, Harmina, Harmalina, MDA, a família 2Cx e a família DOx.

Este artigo procura destrinchar e descrever os efeitos cognitivos e comportamentais inerentes à experiência psicodélica, apresentando-os em tópicos simples, e de fácil compreensão, seguidos por descrições e sistemas de nivelamento. Aqui o faremos sem utilizar metáforas, analogias, e relatórios de “viagens” pessoais. O artigo seguirá num crescente; inicia-se com os efeitos mais simples, e, à medida que vai se desenvolvendo, abordará experiências mais e mais complexas.

Intensificação do estado mental atual:

A intensificação do estado mental apresentado ao ingerir a substância é um efeito que altera o humor, mas que, diferentemente de certos componentes de efeito subjetivo como a euforia, não costuma levar necessariamente a estados de positividade sem levar em conta o estado de ânimo e a estabilidade mental da pessoa que as utiliza. Ao invés disso, a experiência psicodélica funciona amplificando e intensificando o estado de espírito que o usuário apresenta no momento, o que faz com que os efeitos possam ser positivos ou negativos, dependendo do estado de ânimo que ele apresente ao ingerir as substâncias.

É por esta razão que as pessoas costumam reagir às experiências alucinógenas de formas completamente diferentes. Por exemplo, indivíduos despreparados, ansiosos e mentalmente instáveis, têm grandes possibilidades de terem uma experiência alucinógena avassaladora, cheia de emoções negativas, paranoia e confusão. Este cenário é causado pelo estado emocional do próprio indivíduo, que são enormemente ampliados, a níveis pouco usuais. Por outro lado, pessoas preparadas, positivas, e mentalmente estáveis, ao ingerirem a mesma substância, e a mesma dosagem, tem grandes chances de ficarem extasiados e de serem tomados por estados inefáveis de um bem estar inebriante, seguido de profundas revelações e insights.

A exteriorização de sentimentos reprimidos através de uma explosão de emoções também é um efeito comum. Esta liberação pode ter um viés alegre e divertido na forma de danças e cânticos espontâneos ou podem se manifestar de forma desesperada, histérica, com crises de choro compulsivo e colapsos nervosos. Mesmo nestes casos, aparentemente negativos, o viajante costuma sair da experiência sentindo-se aliviado, como se um peso muito grande tivesse sido tirado de seus ombros.

Há uma diferença muito clara entre as emoções induzidas por substâncias e as emoções genuínas. Este componente não produz nenhuma emoção que não exista, ela meramente aprofunda e intensifica as emoções e sentimentos que já podem ser perceptíveis, em grau menor, sem a substância.

Aceleração da atividade mental:

A aceleração da atividade mental pode ser descrita como o aumento significativo do processamento dos pensamentos. É como se os pensamentos fossem gerados sucessivamente, um após o outro, numa intensa rajada.  Não só a velocidade dos pensamentos aumenta, mas a clareza mental da pessoa parece aumentar tremendamente, resultando em uma vastidão de novas ideias, perspicazes e inspiradoras.

Conectividade dos pensamentos:

A conectividade dos pensamentos pode ser descrita como a sensação de que os fluxos de pensamento passam a se caracterizar por um abstrato fluir de associações e ideias que vagueiam poderosamente e que se conectam profunda e mutuamente, ganhando sentido. Normalmente, a impressão é de que tênues devaneios e ideias aparentemente sem sentido se conectam uns aos outros por meio da incorporação de uma ideia ou conceito que já existia em pensamentos prévios, mas que agora são vistos por um ângulo completamente diferente.

Quando experimentado por longos períodos de tempo este efeito permite que a mente abarque todas as áreas da vida, não apenas as grandiosas e mais significativas, mas também as menores e menos importantes ou evidentes. É um processo que leva a uma intensa introspecção e ao aumento considerável dos níveis de criatividade e habilidades artísticas, já que o que a substância psicodélica faz, em essência, é remover os bloqueios criativos, permitindo que os pensamentos sigam seu fluxo, livremente.

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Sensações de fascínio, importância e espanto:

Sensações de fascínio, importância e espanto atribuídas ao ambiente externo e a tudo a ele relacionado são uma das características que mais bem definem as experiências psicodélicas e elas costumam ser bastante intensas. Estas manifestações são bem variadas, mas podem ser comparadas com a reação de fascínio que as crianças têm com as novas descobertas, só que com a noção de que tudo tem uma profundidade e uma importância avassaladoras, seja a natureza, o universo, ou objetos comuns do cotidiano de cada um de nós.

É esse tipo de efeito que faz com que as pessoas compreendam, considerem e apreciem as coisas a sua volta de uma forma muito mais profunda, com um nível de detalhes sem paralelo, se levarmos em conta a maneira que estamos acostumados a ver as coisas, quando sóbrios.

Em seu grau mais elevado, essas sensações podem se tornar tão intensas e profundas que algumas pessoas sentem como se a vida inteira delas tivesse vindo desenvolvendo-se com o intuito de desembocar neste instante e que, a partir de então, nada será como antes. Algumas pessoas costumam se referir a essas sensações dizendo que é como se elas tivessem passado a vida toda andando em um trem e agora finalmente poderão descer. É realmente uma perspectiva incrivelmente marcante e que costuma ser induzida durante estados positivos de geometria visual escala 7A.

Distorção do Tempo: 

efeitos_cognitivos_2Distorção do tempo é um efeito que faz com que seja difícil precisar quanto tempo se passou já que a percepção do tempo fica bastante alterada. Esta sensação pode ser sentida de duas formas distintas: ampliação do tempo ou compressão do tempo.

A mais comum delas, a ampliação do tempo, pode ser descrita como aquela sensação de que o tempo diminuiu o seu ritmo, consideravelmente. Esta distorção na percepção se deve ao fato de que, durante uma experiência alucinógena, a pessoa passa por uma quantidade anormal de experiências em um período relativamente curto de tempo. Isso faz com que a pessoa pense que muito mais tempo se passou do que na verdade ocorreu. Por exemplo, no final de certas experiências, a pessoa pode sentir que se passaram vários dias, semanas, meses ou anos e em casos mais agudos de expansão do tempo, pode parecer que o tempo simplesmente parou, o que é conhecido como um momento de eternidade.

O segundo tipo de distorção é a compressão do tempo. Ela é mais comum em substâncias estimulantes do que nas alucinógenas, mas ainda assim, é totalmente possível de ser sentida. É a sensação de que o tempo acelerou de forma notável e que está passando bem mais depressa do que deveria.

Introspecção:

Introspecção pode ser definida pelo estado de espírito que consiste em direcionar a atenção para uma profunda contemplação e análise a respeito da própria vida, seja como um todo ou em relação às partes que a integram. Isto promove uma capacidade incrível de dissecar e analisar racionalmente os problemas, permitindo um nível de resolução lógica e/ou de aceitação dos eventos passados; da situação atual; das possibilidades futuras, das inseguranças, medos, traumas e outros demônios pessoais.

O resultado comumente observado é a aparição de uma abundante quantidade de ideias, insights e conclusões capazes de mudar a forma de enxergar a vida e a relação da pessoa com os seres que ama e que fazem parte de sua jornada. Este fator é extremamente eficiente como agente facilitador do auto-aperfeiçoamento, e do crescimento pessoal, catalisando transformações sem paralelo em experiência congêneres, do dia-a-dia.

É importante ressaltar, porém, que nem todo mundo está pronto para encarar seus próprios fantasmas, resolver suas questões e seguir em frente. Algumas pessoas preferem ignorá-los e reprimi-los. É justamente a vontade da pessoa em encarar a verdade a respeito de sua própria vida que funciona como um fator determinante sobre se a pessoa será capaz de curtir e aproveitar a experiência que os alucinógenos podem oferecer. Algumas pessoas não se sentem bem com esta reação introspectiva, pois o mergulho em si mesmo traz à tona as inseguranças, os arrependimentos, traumas reprimidos, expondo-os à luz da consciência. Lutar contra essas revelações através da negação ou tentando reprimi-las costuma ser a receita certa para as experiências negativas, que podem ser evitadas, ou amenizadas quando o usuário não oferece resistência e se predispõe a se conhecer profundamente.

Outrospecção:

Outrospecção é um efeito subjetivo que pode ser considerado como o oposto da introspecção. Podemos descrever a outrospecção como a experimentação de um estado de espírito que constantemente direciona o foco da atenção para o ambiente externo, entrando numa profunda contemplação e análise daquilo que o cerca, seja abarcando-o como um todo ou focando de forma compartimentada, analisando as partes que formam este ambiente.  O resultado desta experiência são abundantes ideias inspiradoras e conclusões grandiosas pertencentes ao que podemos chamar de “The bigger picture”, em outras palavras, como se caísse a ficha em relação à vida ou a uma situação específica de modo que agora a pessoa é capaz de abarcá-la, de uma forma mais ampla.  Essas ideias geralmente envolvem (ainda que não se limitem a elas) uma visão diferenciada sobre temas filosóficos, a espiritualidade, a sociedade, o progresso universal, a humanidade e como todas essas coisas se encaixam através da história e no momento atual, assim como suas possibilidades futuras.

Rejuvenescimento:

Rejuvenescimento e sensações de extremo revigoramento são quase que uma reação universal nos dias e semanas que sucedem uma experiência alucinógena positiva. Elas podem ser mental e fisicamente revigorantes. O rejuvenescimento pode ser descrito como uma sensação duradoura de clareza mental, aumento da motivação, e da sensação de calma acompanhada de efeitos aqui citados, comomindfullness, aumento de motivação, supressão de filtros culturais e aumento do foco e da concentração. A sensação é a de que as conexões feitas no cérebro foram restauradas, fazendo com que alguns preconceitos e inclinações que definem o falso “Eu”, sejam “resetadas”.

Em um grau mais elevado, a sensação de rejuvenescimento pode se tornar tão intensa que ela começa a se manifestar como uma sensação profunda de renascimento. Esta sensação pode durar tanto algumas semanas como para o resto da vida, após uma experiência psicodélica intensa.

 Déjà-Vu:

Déjà-vu  é aquela expressão francesa que pode ser traduzida literalmente como “Já visto”. Trata-se de um fenômeno já bem documentado que pode ocorrer durante a sobriedade ou em estado alterados de consciência, sob efeito de alucinógenos. Em resumo, o Déjà-vu pode ser descrito como a sensação de que o evento atual ou a situação que está se passando agora, já foi vivida exatamente da mesma forma anteriormente, quando, na verdade, não foi.

Algumas substâncias costumam ser capazes de induzir o indivíduo a espontâneos e prolongados episódios de déjà-vu, tanto intensos quanto suaves. Este efeito faz com que o psiconauta possa ter uma sensação arrebatadora de já ter estado “ali” antes. Quando isso ocorre, é comum uma falsa sensação de familiaridade com os efeitos da substância em si, com o ambiente no qual a substância está sendo consumida, com as ações que estão sendo feitas, e com a situação como um todo.

O Déjà-Vu costuma ser desencadeado e sentido pelo viajante mesmo que ele esteja racionalmente ciente de que as circunstâncias de uma experiência prévia como aquela (quando, onde, e como o evento ocorreu) são incertas e mesmo que ele acredite que seria impossível aquele evento ter ocorrido alguma vez no passado.

Mindfullness (Atenção Plena):

O Mindfullness enquanto conceito psicológico é definido como as práticas contemplativas que integram corpo e mente colocando o foco da atenção e da consciência no aqui e agora, e se baseia no conceito de consciência plena e não-julgadora da meditação budista.

O primeiro componente da atenção plena pressupõe que o foco da atenção esteja completamente direcionado para as experiências imediatas, acalmando, desse modo, a narrativa interna, com a intenção de permitir o aumento da percepção dos eventos mentais do momento presente.

O segundo componente envolve adotar uma orientação pessoal em relação às próprias experiências no aqui e agora, cuidando para que esta relação com o momento presente seja caracterizada pela curiosidade, abertura, aceitação e ausência de julgamento.

Na meditação, este estado de consciência é praticado deliberadamente e é mantido por longos períodos de tempo, nos quais o foco manual e da consciência é colocado em um ponto focal específico, evitando dispersar-se em mil direções. No contexto dos alucinógenos, entretanto, este estado é induzido forçosamente por longos períodos de tempo sem nenhum esforço consciente e sem a necessidade de dominar os conhecimentos das técnicas meditativas.

Múltiplos fluxos de pensamento:

efeitos_cognitivos_3Múltiplos fluxos de pensamento podem ser definidos como o estado em que a pessoa tem mais do que uma narrativa interna ou mais que um fluxo de consciência acontecendo ao mesmo tempo dentro da mente.  Este estado pode gerar um sem número de fluxos de pensamento diferentes, cada um dos quais pode ser controlado da mesma maneira que um fluxo de pensamento normal de nosso dia-a-dia. Esta experiência permite que a pessoa pense, reflita e analise vários temas e conceitos diferentes, simultaneamente, o que pode ser uma fonte incrível de grandes insights.

Remoção do filtro cultural:

A Remoção do filtro cultural pode ser descrita como a supressão de uma série de preconceitos e ideias que não evoluem, determinadas pela cultura local e pelas tradições que são mantidas ao longo da vida inteira.

Estes preconceitos e o modo automático de levar a vida afetam nossa capacidade de avaliar o mundo a nossa volta de uma forma muito mais perniciosa do que a maioria das pessoas gostaria de admitir. Parece que a maneira de encarar o mundo é construída a partir de uma complexo conjunto de filtros, que se baseia em crenças pré-estabelecidas, experiências anteriores, medos, preconceitos, estereótipos, símbolos culturais, etc. Isto faz com que nós tenhamos tendências rígidas e modos inconscientes de perceber e dar significado àquilo que observamos e que confirmam nossas crenças culturais já existentes, à medida que vamos filtrando e racionalizando as observações que não confirmam nossas crenças culturais pré-existentes. Os filtros culturais nos forçam a olhar para o mundo, não como seres humanos, mas como uma falsa versão de nosso verdadeiro “Eu” – seja sendo uma mãe judia conservadora, uma dona de casa muçulmana, um aborígene, ou um homem europeu cínico e materialista, de criação cristã, com crenças ateístas.

Muitos têm dito que nós não vemos as coisas como elas são, e sim, como nós somos. A experiência de remoção dos filtros culturais, entretanto, parece dissolver completamente esses preconceitos culturais geográficos, mostrando às pessoas que a cultura é apenas uma forma engessada de se enxergar as coisas, e uma forma normalmente ilusória, diga-se de passagem, e não a realidade objetiva em si. Portanto, esta experiência pode gerar mudanças profundas naquela velha maneira de encarar o mundo, que a pessoa tem usado a vida inteira, à medida que vai fazendo-a entender que elas não são de fato aquilo se tornaram a partir da maneira com a qual foram criadas.

Sensações de pré-determinismo:

Sensações de pré-determinismo podem ser definidas como a sensação ou perspectiva repentina de que todos os eventos, incluindo as ações humanas, já estão pré-definidas ou pré-programadas por um agente causal prévio.

Esta é uma perspectiva que pode ser desencadeada de forma espontânea e pode ser sentida através de uma mudança inegável na forma em que os pensamentos são processados. Em termos de como é sentida, a perspectiva pode ser descrita como uma sensação de que o “livre-arbítrio” que o ego ou a narrativa interna parecem ter, estão agora suspensas, removidas e reveladas como ilusórias.

Esta revelação não se dá como um resultado de um insight cognitivo que leva a pessoa a entender isso na teoria, mas sim, uma compreensão que ocorre à força, por meio de uma repentina mudança de perspectiva. Isto cria uma sensação inegável de que suas escolhas pessoais, suas ações físicas, sua perspectiva atual diante das situações, e cada assunto subjetivo de seu fluxo de pensamento tem sido completamente pré-determinado e fora de seu controle. A essa altura fica claro que essas coisas não são alcançadas por meio de um processo consciente de tomada de decisão, ou que são frutos do planejamento do ego, e que na verdade, nunca foram em momento algum. Em vez disso, eles são revelados como sendo um amplo e complexo conjunto de atividades eletroquímicas instantaneamente decididas, pré-programadas e internamente armazenadas, que respondem aos estímulos sensoriais sobre os quais o sujeito não possui nenhum controle consciente.  Além disso, há uma sensação física muito intensa que faz com que o arranjo preciso do ambiente externo e os objetos a ele relacionados sejam percebidos como sendo a força que de fato está decidindo como você está se relacionando fisicamente com ele. Isto é feito instantaneamente desencadeando suas respostas e decisões em relação a esses objetos através da simples percepção da existência deles. Isto pode fazer com que você sinta, por exemplo, que não é você que está decidindo levantar a mão e pegar um objeto, mas sim que você precisa fazê-lo (independente de você ter colocado ou não alguma intenção em pegá-lo).

Quando a experiência está chegando ao fim, o usuário começa a restabelecer seu senso de liberdade e independência. Porém, o que acontece normalmente, é que ele retém muitas daquelas informações e percepções e assim, a experiência costuma ser interpretada como uma profunda revelação a respeito da ilusória natureza do livre-arbítrio.

Pensamento conceitual:

O Pensamento conceitual pode ser descrito como uma mudança forçada na percepção, a qual liberta o fluxo consciente de pensamentos da limitação de estar restrito apenas ao conteúdo linguístico, formado por palavras e rótulos. Este efeito permite ao usuário pensar não apenas por meio de descrições verbais, mas diretamente, por meio de conceitos armazenados internamente, e que estão por trás das palavras e rótulos. Por exemplo, se alguém pensar na palavra “internet”, durante este estado, ela não ouviria apenas a palavra como parte do seu fluxo mental, mas também, sentiria em um nível de detalhes bem abrangente, todos os códigos, dados e informações não-linguísticos que ela possa ter armazenada nela, internamente e que estão comprimidas naquele rótulo que específica o conceito que a pessoa tem para o vocábulo “internet”.

É como se os conceitos por trás das palavras e rótulos que surgem em nosso fluxo de pensamentos pudessem ser sentidos cognitivamente, em cada ponto de si mesmos concomitante ao pensamento relativo ao rótulo ou palavra que nós atribuímos a cada um desses conceitos. Além disso, esses conceitos também são percebidos simultaneamente através de manifestações visuais na forma de animações internas parciais ou completas.

Esta experiência promove a impressão de que é possível sentir precisamente quais as limitações, consequencias e posição de cada conceito em particular. Estas sensações costumam ser descritas como um “nível superior de entendimento” e provavelmente assim são sentidas, por revelarem a linguagem humana como sendo intrinsecamente autolimitada na maneira com a qual se expressa, afinal as palavras podem atuar apenas como meros atalhos para os conceitos que estas mesmas palavras tentam descrever.

Em níveis menos intensos, esses estados de pensamentos conceituais, podem ser descritos especificamente como fluxos de pensamentos. O que significa que os conceitos que estão sendo sentidos, vistos e “entendidos” são exclusivamente relevantes para as palavras que você está pensando naquele momento. Isso será sentido de forma idêntica, em termos de comportamento estilístico, quer o conceito tenha surgido por um simples vagar dos pensamentos ou se tiverem sido desencadeados por meio da experiência de um conceito ou objeto percebido no ambiente externo.

Talvez, o exemplo mais comum desta sensação, e com a qual qualquer pessoa poderá se identificar, é a experiência de olhar para uma planta de qualquer tipo e sentir internamente (assim como a percebe visualmente) tudo que você sabe sobre plantas, fotossíntese, e evolução dos vegetais, (não importa quão vagas sejam as suas noções sobre cada um desses temas).

Em níveis mais avançados, esses estados de pensamento conceitual deixam de ser especificamente relacionados às palavras contidas em seu fluxo de pensamento e começam a abranger cada pedacinho de conhecimento que o usuário tenha armazenado em seu acervo interno até então.

Essa sensação faz com que o usuário sinta algo que comumente é interpretado como um novo nível de “total e completo entendimento”, à medida que as consequencias, limitações, e posições dentro deste universo, formado por cada conceito que o usuário antes conhecia apenas na teoria, por meio de descrições, pudessem agora ser sentidas por uma perspectiva emocionalmente intuitiva e inegavelmente real.

Talvez, o exemplo mais comum com o qual a comunidade de psiconautas possa se relacionar seja a sensação de total e profundo entendimento em relação (mas não limitado a isso) aos temas e arquétipos listados abaixo:

  • Princípios científicos gerais
  • Cuidados com a própria saúde
  • Seu papel na natureza e nos sistemas de ordem superiores
  • As consequencias de suas ações e sua responsabilidade em relação a elas
  • A civilização humana como o maior avanço da complexidade física
  • Viver em equilíbrio com a natureza com o melhor de suas habilidades
  • A inevitabilidade da morte
  • A completa improbabilidade da própria existência

efeitos_cognitivos_4É através da direta experiência dos conceitos por trás de nosso conhecimento linguístico que uma nova vida com mudanças de perspectiva podem ser sentidas de uma maneira inequívoca. Esses novos pontos de vista – que surgem da experiência – raramente são considerados pelo usuário como a criação proveniente de uma nova ideia individual ou de um insight criativo. Em vez disso, eles nada mais são do que a integração de conhecimentos prévios, que já haviam sido entendidos intelectualmente, na teoria, e que agora são absorvidos por um sistema que os sente diretamente em um formato que permite experimentá-los física e emocionalmente, de uma nova maneira, de modo que esses pontos de vista podem ser claramente compreendidos.

Comunicação direta com o subconsciente:

A comunicação direta com o subconsciente pode ser definida genericamente como aquela em que a pessoa se engaja em uma conversação linguística articulada e cheia de significado com uma voz alheia e incorpórea, de origem desconhecida, e que vive dentro da mente do usuário. De um modo geral, no que diz respeito à coerência e a inteligibilidade linguística em termos de detalhes, o estilo de conversação que ocorre entre a voz e o indivíduo que a hospeda, pode ser descrita como sendo essencialmente idêntica a uma conversa propriamente dita, que ocorre corriqueiramente na vida cotidiana.

Existem, porém, algumas diferenças sutis, mas identificáveis, entre esta conversa psicodélica e as que são frutos da interação humana diária. Cada uma delas resulta do importante fato de que o conjunto específico de conhecimento, memórias e experiências particulares de um indivíduo é idêntico aos da voz com a qual ele se comunica. Este importante fator permite que a conversa seja de tal maneira, que ambos participantes compartilham de um vocabulário pessoal notavelmente idêntico, seja nas gírias e coloquialismos ou nas sutilezas dos maneirismos individuais. Além disso, é importante salientar que diferentemente das conversas do dia-a-dia, não importa quão profunda ou detalhista a conversa se torne, nenhuma informação completamente nova é trocada entre os dois interlocutores. Em vez disso, a discussão foca primeiramente em construir um incrível, extremo e profundamente intuitivo e criativo conjunto de novas opiniões ou perspectivas a partir de velhas ideias, ou seja, em relação ao conteúdo previamente estabelecido durante a vida do indivíduo. Essas opiniões normalmente ganham uma nova abordagem, destituída de apegos emocionais, preconceitos, e irracionalidades que normalmente contaminam os processos cognitivos de tomadas de decisão, típicos de nosso estado de consciência comum.

Todos esses resultados provem da interação com uma consciência outra que não a do usuário, e que, por isso, costuma ser percebido como uma figura que assume o papel de guia espiritual, mestre, xamã ou algo do gênero. Para corroborar com esse objetivo de se apresentar como algo além da própria consciência do indivíduo, a voz muitas vezes é capaz de manipular diretamente vários aspectos e os níveis de intensidade da viagem e, ou vão explicar claramente a lógica por trás de suas decisões ou irão mantê-la em segredo, como mistério.

De um modo geral, o efeito como um todo pode ser dividido em 4 níveis de intensidade progressiva, cada um dos quais, está listado abaixo.

  1. Sentir a presença de uma outra consciência – este nível pode ser definido como a sensação característica de que uma nova forma de consciência está presente internamente, ao lado daquela que o indivíduo normalmente identifica como sendo a sua própria consciência.
  1. Respostas internas geradas mutuamente – Este nível pode ser definido como respostas linguísticas, internas, que interagem com os pensamentos e sentimentos do psiconauta, que são sentidos como se fossem parcialmente gerados pelo próprio fluxo de pensamento, e, ao mesmo tempo, gerados por um fluxo de pensamentos separado.
  1. Respostas internas geradas separadamente – Este nível pode ser definido por respostas linguísticas internas ao fluxo de pensamentos e sentimentos do usuário, que são sentidas por ele como sendo geradas por uma outra fonte de pensamentos, completamente separada da dele.
  1. Respostas internas audíveis geradas separadamente – Este nível pode ser definido como as respostas linguísticas internas, que são sentidas como sendo provenientes de outro fluxo de pensamentos, a parte daquele do indivíduo, e que são ouvidos claramente, de forma bem definida, como uma voz que fala dentro de sua cabeça. Esta voz pode tomar uma variedade de tons, sotaques e dialetos, mas normalmente soam de forma idêntica à própria voz do usuário. Dependendo do tom, a voz que se comunica com o usuário pode ser percebida como sendo a voz do próprio subconsciente; a voz da própria substância ingerida; ou até mesmo como sendo proveniente de seres conceitualmente sobrenaturais, como Deus, espíritos ou de ancestrais.

Supressão, perda ou morte do ego:

Supressão, perda ou morte do ego, é um componente extremamente profundo e abrangente. O ego pode ser definido como o conceito ou o senso de identidade que uma pessoa tem, normalmente confundido com o próprio Ser, o “Eu”, como agente separado do ambiente externo. É essencialmente, a consciência do indivíduo ou a capacidade de ser auto-consciente, possibilitado pela sua habilidade de recordar e manter um entendimento geral e o reconhecimento dos conceitos que se tem arquivado internamente, e que servem para preservar aquilo que é considerado como a própria identidade.

Com quaisquer alucinógenos, a habilidade individual de reter, recordar, sentir e entender conceitos como o próprio sentido do eu, assim como outras noções fundamentais pertencentes à existência básica do ser humano, são parcialmente ou completamente atenuadas, dependendo da dosagem. Este é o resultado de um estado progressivo e abrangente de supressão da memória. É um processo que podemos destrinchar em três níveis básicos:

  1. Supressão do ego – Pode ser descrita como um colapso parcial e provisório da memória recente. Normalmente, pode ser sentida pelo aumento da distração, perda de foco e pela dificuldade de processar qualquer pensamento que não seja ligada ao presente, ao aqui e agora.
  1. Perda do ego – Este é o colapso completo, mas provisório, da memória de curto prazo. Pode ser descrito como se a pessoa se tornasse completamente incapaz de se recordar de quaisquer detalhes específicos relacionados à presente situação, por mais de um ou dois segundos. Esta sensação geralmente resulta numa desorientação, repetição de pensamentos, perda do controle e confusão para os que não estão acostumados a ingerir substâncias enteógenas. A memória de longo prazo, entretanto, permanece quase que inteiramente intacta, e o indivíduo é perfeitamente capaz de lembrar-se do próprio nome, a data de aniversário, onde estudou na infância, etc.
  2. Morte do ego – Este nível se caracteriza pelo completo (mas provisório) colapso da memória de longo prazo. A morte do ego pode ser descrita como a total perda de controle, na qual a pessoa se torna completamente incapaz de se recordar até mesmo dos mais fundamentais conceitos armazenados em sua memória de longo prazo, o que inclui o próprio nome, quem você é, onde nasceu; não sabe que ingeriu alguma substância, não sabe o que são drogas, o que são seres humanos, o que é a vida, o que é a existência, ou qualquer outra coisa. A morte do ego permite a profunda experimentação de que não existe mais o “eu”, o indivíduo que está sob efeito de uma intensa viagem provocada por uma substância, mas apenas a própria viagem em si. A própria viagem é tudo que existe.

Regressão pessoal:

Regressão pessoal é um estado mental incomum e espontâneo que frequentemente acompanham a morte do ego. Pode ser descrita como o estado mental no qual o indivíduo adota a personalidade idêntica, os maneirismos e o comportamento de quem ele já foi, em fases pregressas da vida. Esta sensação costuma ser capaz de fazer a pessoa acreditar que é uma criança, por exemplo, e a agir como tal.

Pensamentos repetitivos:

Os loops de pensamento podem ser descritos como a experiência de ficar preso em uma corrente de sensações, ações e pensamentos repetitivos, em um ciclo que segue um determinado padrão que se repete. Este componente é mais comum em estados de perda do ego, nos quais a memória recente entra em colapso. Isso significa que os padrões repetitivos de pensamento são o resultado da incapacidade dos processos cognitivos de se manterem por períodos de tempo apropriados devido a lapsos de memória recente, resultados por sua vez, das tentativas do processo de pensamento de recomeçarem lá do início, para mais uma vez se confirmarem incapazes de chegar ao fim, e então, dando início a mais um ciclo perpétuo. Esta sensação pode ser extremamente desorientadora e pode desencadear estados de progressiva ansiedade, em indivíduos que não estiverem familiarizados com a experiência. A melhor maneira de interromper esses ciclos é simplesmente sentar, se acalmar, e deixar que eles cessem, naturalmente.

Sensação de opostos interdependentes:

Sensação de opostos interdependentes é o estado mental que normalmente acompanha a morte do ego. Ela pode ser descrito como uma sensação poderosa na qual o indivíduo vê, entende e sente fisicamente que a realidade se baseia em um sistema na qual a existência ou a identidade de todos os conceitos e situações dependem da co-existência de pelo menos duas condições, que são antagônicas entre si, ainda que dependentes uma da outra, à medida que as pressupõe como equivalentes logicamente necessários. Esta experiência costuma proporcionar um profundo mergulho na natureza fundamental da realidade e resulta na percepção de que conceitos como vida, morte, alto e baixo, luz e trevas, bom e ruim, matéria e antimatéria, prazer e sofrimento, sim e não, ser e não-ser, etc., existem como estados necessários e harmônicos para o contraste de sua força antagônica, ou seja, de que os opostos são interdependentes.

Delírios:

Delírios são sensações espontâneas mantidas internamente como grandes convicções. No contexto das drogas alucinógenas os delírios são perspectivas temporárias nas quais o indivíduo pode adentrar durante viagens com altas dosagens. Elas são mais fáceis de ocorrer durante estados de ego-perda ou morte do ego, mas de nenhuma forma, são permanentes como nos casos de delírios esquizofrênicos, ainda que tenham alguns temas e elementos em comum. Esses delírios podem ser desfeitos quando se tem evidências que provam o contrário ou quando a pessoa já está sóbria o suficiente para analisar a situação com o filtro da lógica.

Tipos

Os delírios podem ser divididos em quatro grupos:

  • Delírios bizarros: Este tipo de delírio é bastante estranho e completamente implausível. Um exemplo de delírio bizarro é achar que alienígenas retiraram o cérebro do usuário.
  • Delírios não-bizarros: Este é um delírio que, embora falso, é ao menos possível, uma vez que o usuário acredita equivocadamente, que está, por exemplo, sob vigilância policial contínua.
  • Delírio de humor-congruente: Este é qualquer delírio que tenha um conteúdo congruente com um estado depressivo ou de ansiedade. Por exemplo, uma pessoa deprimida pode acreditar que o âncora do jornal televisivo está explicitamente desaprovando-o, ou, uma pessoa em estado maníaco, ou de euforia, pode acreditar que ela é uma poderosa deidade.
  • Delírio de humor-neutro: Este delírio ocorre sem levar em consideração o estado emocional do usuário. Por exemplo, suponhamos que o indivíduo acredita que um membro extra está nascendo atrás de sua cabeça, esta impressão independe de a pessoa estar em euforia ou em depressão. Ou seja, não, é necessariamente, fruto de um estado, nem de outro.

Temas

Além dessas categorias, os delírios costumam se manifestar de acordo com temas recorrentes. Ainda que os delírios possam ter temáticas muito variadas, certos temas são frequentemente descritos. Alguns deles são:

  • Delírio de controle: caracterizado pela falsa percepção de que outra pessoa, um grupo de pessoas, ou uma força externa está controlando seus pensamentos, impulsos,sensações e o comportamento de um modo geral.
  • Delírios de morte: Esta é uma falsa impressão de que se está pra morrer, de que está morrendo, de que jã não mais existe ou de que já está morto.
  • Delírios relativos à culpa ou pecado (ou delírio de auto-acusação): Este é um sentimento de remorso sem fundamento, ou um sentimento de culpa desmedido, de intensidade delirante, na qual a pessoa se julga culpada por ter desempenhado um ato antiético.
  • Delírios de que a mente está sendo lida: trata-se da falsa impressão de que outras pessoas estão lendo seus pensamentos.
  • Delírios com inserção de pensamentos: Aqui, a impressão é a de que outra pessoa pensa por meio da sua mente. Esta sensação faz com que o usuário não consiga distinguir entre seus próprios pensamentos e aqueles inseridos em sua mente.
  • Delírios de referência: A pessoa tem a falsa impressão de que comentários, eventos ou objetos insignificantes do ambiente em que o usuário se encontra, possuem um significado ou uma importância que eles não têm. Por exemplo, a pessoa sob efeito da substância psicodélica pode achar que as pessoas que a aparecem na televisão ou no rádio estão falando especificamente com elas e pra elas.
  • Delírios com extravagâncias de viés religioso: Nesse caso, o usuário acredita ser uma espécie de deus ou que foi escolhido para atuar como um deus. A pessoa pode se convencer de que tem poderes, habilidades ou talentos especiais. Às vezes, o indivíduo pode achar que é uma pessoa famosa ou influente como Jesus Cristo. Por outro lado, pode ser também que a pessoa tenha insights filosóficos ao se alcançar altos níveis num estado de unidade e interconexão o qual não é necessariamente um delírio, mas uma perspectiva metafísica discutível.

Sensação de Unidade e interconectividade:

Estados de unidade e interconexão começam com uma mudança de perspectiva que normalmente é interpretada como a remoção de uma ilusão bem abrangente e bastante arraigada. A destruição desta aparente ilusão costuma levar o usuário a sensações que normalmente são interpretadas como um tipo de profundo “despertar” ou como se estivessem “iluminados”.  Uma vez removida, esta ilusão de separação é sentida como se sempre estivesse em vigor, forçando uma visão de mundo baseada em conceitos como “Eu”, “Mim”, “Meu”, com a qual ela se identificava, e que era responsável por perpetuar duas leis fundamentais. A primeira delas é que o “Eu” está inerentemente separado do ambiente externo e que não pode se estender ou mesclar-se com ele. A segunda é que o “Eu” é especificamente limitado não apenas ao corpo físico, mas exclusivamente às narrativas e imagens internas de sua própria personalidade, as quais foram construídas através das interações sociais com outras pessoas.

A ausência desta aparente ilusão leva as pessoas a sensações que normalmente são descritas como estados de completa unidade, de união com o todo, de interconectividade entre sua percepção do Eu e os conceitos ou sistemas externos, que antes eram percebidos como partes inerentemente separadas de sua própria identidade, de si mesmo.

Dependendo do grau de colapso desta ilusão de separação, a pessoa pode atingir cinco níveis de intensidades cognitivas com efeitos cuja complexidade aumentam progressivamente. Cada um desses níveis é perfeitamente capaz de sustentar espontaneamente suas perspectivas por semanas, meses ou até mesmo por anos após a experiência psicodélica em si. Este níveis podem ser descritos da seguinte maneira:

Unidade entre sistemas externos específicos

Podemos nos referir ao nível mais baixo e menos complexo como um estado de união entre “sistemas externos específicos”. Este é o único nível de intensidade no qual a experiência subjetiva de unidade não envolve um estado de interconectividade entre o self e o externo. Em vez disso, ele pode ser descrito como uma sensação de unidade entre dois ou mais sistemas dentro do ambiente externo, os quais – durante a vida cotidiana – costumam ser vistos como sendo separados, tanto do Eu, quanto um em relação ao outro.

Este efeito pode se manifestar de uma variedade de formas diferentes, mas os exemplos mais comuns incluem:

  • Um senso de unidade entre seres vivos específicos, como a unidade entre animais ou plantas e os ecossistemas que os cercam.
  • Um senso de unidade entre certos seres humanos e os objetos com os quais eles interagem.
  • Um senso de unidade entre uma quantidade qualquer de objetos animados agora perceptíveis.
  • Um senso de unidade entre o Homem e a Natureza.
  • Um senso de unidade entre o Eu e, literalmente, qualquer combinação de sistemas e conceitos externos.

O segundo desses níveis pode ser descrito como um estado de “união entre o Eu e  sistemas externos específicos”. Ele pode ser definido como a experiência de dissolução de fronteiras que antes separavam o senso pessoal de identidade do mundo externo, que agora passam a incluir o ponto central do foco cognitivo.
Este efeito pode se manifestar em um sem número de formas diferentes, mas alguns exemplos comuns são:

  • Se tornar um com um objeto especifico com o qual você está interagindo
  • Se tornar um com uma pessoa especificamente, com a qual você está interagindo. (particularmente comum, quando se está tendo relações sexuais ou amorosas, com esta pessoa)
  • Se tornar um com a totalidade de seu corpo físico
  • Se tornar um com uma enorme quantidade de pessoas, (particularmente, em raves e festivais de música)
  • Se tornar um com o ambiente externo, mas não com as pessoas nele presentes

Isto cria a sensação que normalmente é descrita pelas pessoas como a experiência de se tornar inextricavelmente conectadas, ou de se tornarem “um com”, “o mesmo que”, ou “unificadas com” seja lá qual for o sistema ou ambiente que é normalmente percebido como sendo externo, separado de nós.

União entre o “Eu” e todos os sistemas externos perceptíveis 
[O terceiro desses cinco níveis de intensidade pode ser descrito como um “estado de unidade entre o “Eu” e todos os sistemas externos perceptíveis”. Costuma-se referir a este estado como se as fronteiras entre o senso pessoal do “Eu” e todo o resto do ambiente externo perceptível fossem dissolvidas. A experiência, de um modo geral, se encaixa na frase comumente ouvida de que a pessoa “se tornou um com o entorno”.

Isto acontece quando o senso central do “Eu” passa a não estar mais atribuído apenas à narrativa interna do Ego, mas, na mesma medida, ao corpo e a tudo aquilo que está fisicamente conectado com ele através dos sentidos. Quando esta sensação é sentida, ela cria uma perspectiva inegável de que você é o ambiente externo, que se auto-experimenta, através de um ponto específico dentro dele, e no qual esta percepção sensorial física e os pensamentos conscientes do corpo na verdade residem dentro do ambiente externo, como sendo parte dele.

É nesse nível que um componente-chave da experiência de unidade se torna um fator extremamente notável. Uma vez que o senso de “Eu” da pessoa passa a ser atribuído ao todo que o cerca, esta nova perspectiva transforma completamente como ele interage com aquilo que antes era para ele um ambiente alheio, externo. Por exemplo, ao interagir com um objeto no dia-a-dia, é muito comum achar que nós somos o agente central, organizando o mundo a nossa volta. Entretanto, quando se está vibrando em um estado de unidade com o ambiente, e o entrono, a interação com um objeto normalmente passa a ser sentido como se o sistema como um todo estivesse autonomamente se organizando e se desenvolvendo e que você não é mais um agente central operando o processo de interação. Mas sim, que o processo, de repente, se torna totalmente descentralizado e mútuo diagonalmente, conforme o ambiente de maneira autônoma, mecânica e harmoniosa responde a si mesmo, para desempenhar as funções pré-determinadas de uma interação em particular.

União entre o Ser e todos os sistemas externos

Podemos nos referir ao quarto, desses cinco níveis de intensidade como o “estado de unidade entre o Ser e todos os sistemas externos”. Ele pode ser definido como o colapso entre todas as fronteiras existentes entre o “Eu”, o ambiente externo perceptível, e tudo aquilo que a pessoa sabe existir fora dele por meio do modelo de realidade que ele tem armazenado dentro dele. A sensação é de que seu senso de identidade não é atribuído apenas ao ambiente externo, mas a toda a humanidade, a natureza, e o universo, na forma com que eles se apresentam em sua totalidade.  A sensação normalmente é descrita com a frase “senti como se eu fosse um com o universo”.

Quando experimentada, esta perspectiva cria a sensação repentina e inegável de que você é – quase que literalmente – o universo inteiro, experimentando a si mesmo e atuando naquele ponto específico no espaço no qual o seu ego e a percepção consciente hoje reside. Geralmente, todos que passam por esta experiência imediata, universalmente sentem que esta sensação é inata e inegavelmente verdadeira!

União entre o Ser e a Criação de todos os ambientes Externos

O quinto nível de intensidade, o mais profundo deles, pode ser descrito como o “estado de unidade entre o Ser e a Criação de todos os sistemas externos”. Ele pode ser explicado como a experiência de colapso das fronteiras perceptíveis entre o senso de identidade da pessoa e todos os sistemas de comportamento externos. Isto inclui não apenas os sistemas conforme eles se apresentam no momento presente, mas como também, como cada ponto da existência através dos tempos – passado, presente e futuro – de acordo com o modelo de realidade que a pessoa tenha armazenado dentro de si.

Quando experimentado, este estado faz com que o seu senso de identidade passe a ser vinculado a todo o espaço e tempo incluindo todo e qualquer evento passado e futuro, como a criação do universo e a destruição da existência. Esta é uma perspectiva que costuma levar o viajante a sentir uma revelação que o torna consciente de que você, em termos do seu verdadeiro “Ser” (tudo que existe) é responsável pessoal e conscientemente, por tudo que é criado e desenvolvido no próprio universo.

É nesse estado em que algumas pessoas costumam reportar sub-perspectivas que se intrincam e se mesclam e em que, intrinsecamente, conclusões de natureza religiosa ou matafísica começam a surgir. Este estado inclui, mas não se resume a:

  • A aceitação completa e repentina em relação à morte, como um componente fundamental da vida da pessoa. Isto ocorre, pois a morte passa a não ser a destruição do Eu (do self), mas em vez disso, apenas o fim deste ponto específico de consciência, que em sua ampla maioria sempre existiu e continuará existindo, em todas as outras coisas no qual esta consciência reside.
  • Uma perspectiva na qual a pessoa se sente pessoalmente responsável por desenvolver, planejar e implementar cada detalhe específico e cada elemento da própria vida, da história da humanidade e do universo como um todo. Isto normalmente inclui uma sensação de culpa pela humanidade estar sofrendo e cometendo tantas falhas, mas também incluem atos de amor e de ter alcançado grandes feitos.
  • A realização espiritual e religiosa que a pessoa tinha formado para si por meio de suas noções pré-concebidas e por conceitos que tem de Deus, ou da Essência Divina, passam agora por uma total e forçosa transformação na maneira que é percebida, assim como muda a natureza interna da pessoa que passou por esta experiência. Esta nova percepção é normalmente alcançada por meio de uma conclusão subconsciente de que os conceitos quase que antagônicos do “Eu” e de “Deus” passam a ser, ambos, definidos de forma idêntica, já que tudo é criação onisciente, onipresente e onipotente, que sustenta toda a existência.

A Segunda Revolução Psicodélica, Parte 2 – Sasha Shulgin, O Padrinho Psicodélico

Esse artigo é a segunda parte de uma série de 6. Para ler a primeira parte, clique aqui.

sasha_shulgin_1[su_quote]Eu explorei pela primeira vez a mescalina em 1950, 350-400mg. Eu aprendi que havia algo muito importante dentro de mim.” – Alexander Shulgin, LA Times, 1995[/su_quote]

Se houvesse um Hall da Fama psicodélico, a seção dos químicos seria bem pequena, uma vez que existiram realmente somente dois gigantes nesse campo – Albert Hofmann, que primeiro sintetizou o LSD-25 e a psilocibina (e logo após isolou esse componente de espécies de cogumelos mágicos fornecidos por R. Gordon Wasson), e Alexander “Sasha” Shulgin, que parece ter inventado todo o resto. (As sombras do trabalho desses dois homens são tão importantes que estátuas gêmeas dos dois uma de frente para a outra deveriam estar na entrada do Hall). Entretanto, quando o remarcável livro “PiHKAL; Uma História de Amor Químico”[1] apareceu pela primeira vez em 1991, poucas pessoas fora da comunidade psicodélica na Califórnia sabiam sobre Sasha e sua existência quieta que ele e sua esposa Ann (a co-autora de ambos PiHKAL e TiHKAL) viviam; e aqueles que sabiam dele sabiam mais pelo fato de ele ser um “popularizador” do empatógeno MDMA.

O MDMA foi sintetizado pela primeira vez em 1912; ele foi usado posteriormente no projeto MK-ULTRA da CIA em 1953-54; esses estudos foram desclassificados em 1973; Shulgin então sintetizou o composto e o experimentou em 1976 pela primeira vez após escutar relatos de seus efeitos pelos seus estudantes na Universidade da Califórnia, Berkeley. Shulgin gostava de chamá-lo de “martini de baixa caloria”, e o apresentou para inúmeros amigos e colegas, incluindo o psicoterapeuta Leo Zeff, que ficou tão impressionado com o componente que ele voltou de sua aposentadoria para treinar psicoterapeutas no seu uso.

O MDMA ganhou popularidade nos anos 1980 entre psicólogos e terapeutas até que ele foi feito ilegal em 1985 devido à sua crescente popularidade como uma droga recreativa, mais conhecido pelo seu nome de rua, Ecstasy. Pelos anos 1980, o uso de MDMA se tornou prevalente no cenário de música eletrônica ou “Acid House”, com o logotipo da carinha sorridente identificando tanto a droga como a nova cultura jovem. Apesar de ter sido feito ilegal mais de 20 anos antes (uma outra prova contra a ineficiência da “guerra contra as drogas”), estima-se que entre 10 e 25 milhões de pessoas usaram MDMA em 2008.

Um artigo inteiro poderia ser escrito sobre as similaridades e diferenças entre empatógenos (também chamados de entactógenos), e psicodélicos (também chamados de enteógenos), e ainda que essa seja uma conversa importante para nossa comunidade, é território que eu não pretendo cobrir nesse artigo.[2] O que é importante para os propósitos desse artigo entretanto é que empatógenos como o MDMA e talvez o psicodélico mais velho conhecido, a mescalina, são ambos feniletilaminas, que por assim dizer, são variações em torno do mesmo anel estrutural feniletilamínico. Graças a esse fato simples, quando Shulgin escreveu PiHKAL e o lançou no mundo em 1991, Sasha providenciou não só a melhor fonte sobre o MDMA e seu primo mais antigo MDA (a “droga do amor” de 1960), mas também revelou um catálogo de mais de 200 psicodélicos e empatógenos anteriormente desconhecidos que ele descobriu, incluindo a família 2-C inteira, que incluía os psicodélicos 2C-B e 2C-I, e os empatógenos 2C-E e 2C-T-7 entre outros.

Sasha é um grande homem, tanto fisicamente quanto intelectualmente, com grande reputação. No início de sua carreira ele desenvolveu o primeiro pesticida biodegradável para a DOW Chemicals, uma patente que fez seus empregados milionários e forneceu para ele um certo grau de independência, permitindo que ele movesse seu laboratório para sua casa próximo a Lafayette, Califórnia, em 1965.

 

Em seu laboratório caseiro remarcável, Shulgin descobriria, sintetizaria e faria o bio-ensaio de mais de 260 compostos psicoativos durante os 35 anos seguintes, publicando com frequência os resultados em jornais e revistas como a Nature e o Jornal de Química Orgânica.

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Enquanto claramente um libertário em suas visões, Shulgin paradoxalmente desenvolveu uma relação profissional com o DEA, que forneceu para ele uma licença especial para sintetizar componentes controlados e o usaram como um consultor e especialista legal em determinados casos, e em 1988, Shulgin publicou o volume definitivo em drogas ilegais [3] para aplicações legais pelo qual ele recebeu inúmeros prêmios.

Então em 1991, em um esforço para garantir que as descobertas de Sasha não seriam perdidas ou oprimidas por causa da proibição social contemporânea dos psicodélicos, os Shulgins lançaram seu livro PiHKAL. Ele conta a história de amor de Sasha e Ann, e possui um manual detalhado de como sintetizar cerca de 200 componentes psicodélicos que refletem as crenças de Sasha que drogas psicodélicas podem ser ferramentas valiosas para a auto-exploração.

Na história da literatura, existem poucos atos bravos como a publicação do PiHKAL pelos Shulgins, e ironicamente isso só poderia ter acontecido nos Estados Unidos – o país que efetivamente fez os psicodélicos ilegais no mundo inteiro [4]- graças à proteção da primeira emenda. (A mera posse do PiHKAL em vários outros países é um crime). Quando cópias do PiHKAL começaram a aparecer em laboratórios confiscados ao redor do mundo, o DEA ficou ultrajado ao descobrir que um de deus próprios empregados (e especialista legal ocasional) publicou o que eles consideraram como sendo um “livro de receitas para drogas ilegais” (completado com uma escala de classificação do próprio Shulgin). Em resposta, em 1994 o DEA invadiu a casa e o laboratório de Shulgin, aplicando uma multa de $25.000 pela posse de amostras anônimas que o próprio DEA tinha enviado, e revogando a sua licença para substâncias controladas.[5] Os Shugins responderam com a publicação do “TiHKAL, a Continuação”, em 1997, o trabalho seminal de Sasha na família das triptaminas que incluem o LSD, DMT e 5-MeO-DMT.

Invadir o laboratório de Shulgin após a publicação do PiHKAL foi algo como fechar a porta do celeiro depois de ter os cavalos roubados, e pelos anos 1990 um número de compostos anteriormente raros ou desconhecidos e o mais importante, não regulamentados começaram a estar disponíveis nas ruas e – em um novo desenvolvimento para a cultura psicodélica – online através de websites de “empresas de pesquisa química”. No período da “seca” do LSD dos primeiros anos do século 21 (e durante um período de considerável atenção da mídia sobre a baixa pureza de pílulas de Ecstasy), muitos desses compostos e especialmente a família do 2C estavam bem estabelecidos como os psicodélicos de escolha para uma nova geração que nunca teve a chance de experimentar mescalina, psilocibina, DMT, ou até mesmo LSD.

Enquanto a Lei Federal Análoga tinha sido aprovada em 1986 como uma resposta a essas “designer drugs”, o grande número de compostos diferentes e ambiguidades na Lei fizeram com que fosse difícil conter esses novos compostos, justamente quando as autoridades federais e estaduais estavam lutando com o novo fator internacional da Internet.

Em Julho de 2004, uma operação do DEA chamada de Web Tryp prendeu 10 pessoas nos Estados Unidos associadas com 5 diferentes “empresas de pesquisa química”, fechando efetivamente todas as empresas restantes ou as afundando muito bem. (Mais recentemente, o website Silk Road). Em um interessante ato de sincronicidade, por volta do mesmo período, o website de informações Erowid.org publicou (com a permissão dele) todas as fórmulas de Shulgin contidas no PiHKAL e TiHKAL, um ato que efetivamente permitiu a qualquer um ao redor do mundo ter acesso a elas, e virtualmente garantir que elas nunca serão perdidas ou reprimidas.

Quando tentando avaliar o legado e a importância de Alexander para a cultura psicodélica e underground, é impossível calcular a importância da popularização do MDMA (Ecstasy) à ascensão global da Música Eletrônica, exceto para notar que a droga e a cultura da dança eletrônica eram sinônimos na Inglaterra por pelo menos uma década, e enquanto a música era originalmente chamada Acid House, foi o logotipo da cara sorridente que a definiu, assim como o LSD definiu o rock dos anos 60.

Não podemos negar o fato de que depois da apreensão do silo de LSD em 2000 e durante os cinco anos da ausência de LSD nos anos seguintes, graças às visões libertárias de Sasha e a brava publicação do PiHKAL uma década atrás, o 2C-B se tornou o psicodélico preferido (e disponível), enquanto um número de outras criações de Shulgin como o 2C-E, 2C-I e 2C-T-7 (somente para apontar alguns) se tornaram proeminentes, abrindo a caixa de Pandora de análogos psicodélicos e garantindo que a Segunda Revolução Psicodélica não ficasse dependente dos 4 primeiros componentes que iniciaram a Primeira – mescalina, psilocibina, LSD e DMT, como definido por Leary, Metzner e Alpert em “A Experiência Psicodélica” – mas via uma sopa de letrinhas de novos componentes, todos baseados na estrutura dos “clássicos” originais.

Para essas duas considerações sozinhas, a importância de Sasha para a cultura psicodélica moderna seria óbvia e sem comparações. Mas incrivelmente, pode haver mais do que é comumente conhecido, o que significa que a Cultura Psicodélica deve a Alexander Shulgin um débito ainda maior que nós jamais imaginamos. A história completa é algo assim:

Em um jantar de homenagem para os Shulgins em 2010 na conferência do MAPS [7] em San Jose, CA, o químico underground Nick Sand (que tinha sido recentemente libertado da prisão) e a quem (juntamente com Tim Scully, que foi o químico de Owsley) é dado o crédito pela “invenção” do LSD Orange Sunshine, revelou que em 1966, depois que o LSD foi feito ilegal na Califórnia graças ao novo governador Ronald Reagan, os precursores necessários para produzir o LSD, nos métodos da época, e por um curto período de tempo o LSD desapareceu, de uma forma muito semelhante ao que ocorreria 24 anos depois em 2000, pareceu como se fosse um “fim do ácido”.

De acordo com o registro histórico, Sand e Scully começaram então a fabricar DOM (nome de rua: STP), uma feniletilamina psicodélica extraordinariamente potente inventada por Shulgin em 1964. Cinco mil “doses” desse novo componente foram dadas para o primeiro Human Be-In em São Francisco (14 de Janeiro de 1967), em um esforço para promover a nova droga como uma “substituta” ao LSD, mas aparentemente Sand e Scully desenvolveram uma tolerância ao DOM, e fizeram as dosagens muito altas. Isso combinado ao fato de que o início dos efeitos do DOM foi muito mais lenta que a do LSD, com muitas pessoas tomando uma segunda dose após uma hora de poucos efeitos, causando overdose em inúmero usuários e enviando os hippies para as salas de emergência. A imprensa logo demonizou o LSD informando que esse havia sido o componente responsável.

Talvez devido às consequências do desastre do Human Be-In, foi dado a Nick Sand e Tim Scully uma fórmula para um novo método de manufaturar LSD que contornou os problemas do antigo método; foi dito a eles que era de um “amigo”, um aliado que acreditava no que eles estavam fazendo, mas não podia ser revelado no momento. No jantar do MAPS em 2010, um uma revelação surpreendente que passou despercebida pela maioria da audiência e até onde eu saiba nunca havia sido informada, Nick Sand identificou o misterioso “amigo” como sendo Sasha.

Assumindo que isso seja verdade – e obviamente Nick Sand não teria nenhuma razão para inventar uma história como essa – isso significa que juntamente com a popularização do MDMA, e à invenção de literalmente centenas de substâncias psicodélicas e empatógenas que surgiram com regularidade crescente no século 21, Alexander Shulgin foi também o inventor do LSD Orange Sunshine, que é de longe o LSD mais fabricado dos anos 60 até agora (estima-se que o Orange Sunshine seja 75% de todo o LSD do mundo). Ou para colocar de outro modo, enquanto Albert Hofmann inventou o LSD, pode ser dito que graças a Sasha (e à bravura de Nick Sand, Tim Scully e a irmandade do Eternal Love [8]) ele está disponível desde 1967!

Pelo que me lembro, Sasha ficou lá sentado com um brilho evidente em seus olhos e um sorriso perverso durante o testemunho de Nick como que dizendo, “O que eles podem fazer comigo agora!” Mas esse é o Alexander Shulgin clássico, olhando para uma platéia que o adorava, no que talvez foi uma das noites mais felizes de sua vida incrível, com a mesma mistura singular de humor e intelecto que o fez nosso único e especial Padrinho Psicodélico, e o arquiteto insubstituível da cultura psicodélica atual.

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Na próxima parte dessa série eu examinarei as diferentes e ainda assim igualmente importantes contribuições de Terence McKenna.

Correção do autor: Um exame mais cuidadoso dos comentários de Nick Sand no jantar do MAPS revela que eu estava enganado na minha compreensão do envolvimento exato de Sasha no desenvolvimento da síntese do LSD Orange Sunshine por Owsley, Nick Sand, Tim Scully e a Irmandade do Eternal Love. Enquanto dizendo à audiência como ele (Nick Sand) tinha uma “síntese para o LSD” que era desafiadora e então falando sobre pegar uma “síntese” com Sasha, o que permitiu que seu projeto de LSD prosseguisse, Nick então disse que a Irmandade deu a ele uma “síntese” que eles adaptaram da pesquisa de Sasha e que com “aquela síntese eu fui capaz de fazer quantidades de DOM suficientes para angariar os fundos para fazer o projeto Orange Sunshine acontecer”

http://www.maps.org/videos/source2/video13.html

Aparentemente as restrições do precursor que vieram como resultado do LSD se tornar ilegal resultou em um aumento no preço dos precursores assim como uma disponibilidade limitada, e a Irmandade do Eternal Love simplesmente não tinha os fundos para manufaturar o LSD como eles queriam. Mas assim como Nick aponta, a fabricação do DOM (vendido nas ruas como STP) gerou os fundos necessários para a síntese do LSD Orange Sunshine, fazendo com que o papel de Sasha no caso fosse muito mais periférico e limitado do que eu anteriormente afirmei. Também não parece que houve uma conexão direta entre Owsley e a Irmandade e Sasha, uma vez que Owsley foi preso em 1967 por 100 gramas de LSD e uma quantidade de DOM em pílulas de 20mg comprimidas – e aparentemente alheio ao fato que essa quantidade era duas a seis vezes mais potente – Owsley colocou a culpa em Shulgin. “Ele tinha esse material, e nós achamos que poderia ser bom. Na verdade não foi”.

Meus agradecimentos a Jon Hanna por sua pesquisa rigorosa e conhecimento sem fim.

NOTAS

[1] “Feniletilaminas Que eu Conheci e Amei”

[2] Veja “O que os Enteógenos podem nos Ensinar?

[3] Shulgin, Alexander (1988). Substâncias Controladas: Guia Químico e Legal para Leis de Drogas Federais. Ronin Publishing, ISBN 0-914171-50-X

[4] Através do U.N, os Estados Unidos criaram efetivamente as leis de droga globais.

[5] Duas revisões internas pelo DEA subsequentes pelos 15 anos que se seguiram à publicação do PiHKAL falharam em encontrar qualquer atividade ilegal por Sasha.

[6] “Triptaminas Que eu Conheci e Amei”

[7] MAPS: Associação Multidisciplinar Para as Ciências Psicodélicas.

[8] A Irmandade do Eternal Love era um grupo de surfistas contrabandistas de haxixe que se dedicaram à distribuição mundial do LSD como um método de mudança social. Depois de abrigar Timothy Leary por um tempo, e logo após para The Weatherman para retirar Leary da cadeia, a Irmandade se tornou a maior rede de distribuição global de LSD e foi grandemente responsável por manter o preço do LSD a $1 dólar a dose por mais de 30 anos uma vez que eles não tiveram nenhum lucro de suas vendas de LSD. Nick Sand e Tim Scully eram os mais famosos químicos da Irmandade; enquanto acredita-se que Leonard Pickard, o químico preso em 2000 na apreensão do silo Wamwego, seja o último.

Fonte

Os Efeitos Visuais de Uma Experiência Psicodélica

Esse guia é uma tentativa de categorizar e descrever em termos simples os efeitos subjetivos específicos que drogas psicodélicas causam. Ele descreve não experiências pessoais, mas a universalidade de efeitos que foram sentidos e reportados pela maioria, senão todos os usuários de psicodélicos.

Ele está dividido em três diferentes seções:

I. Os efeitos visuais da experiência psicodélica.
II. Os efeitos cognitivos da experiência psicodélica.
III. Os efeitos diversos da experiência psicodélica.

O primeiro é uma descrição da experiência visual, o segundo é uma descrição da experiência mental e o terceiro é uma descrição dos componentes sensoriais que não se encaixam nem nos efeitos mentais, nem nos visuais. Ele é em referência a todos os psicodélicos clássicos e à grande variedade de modernos e obscuros “químicos de pesquisa” que estão se tornando cada vez mais prevalecentes. Mais especificamente essa lista inclui, mas não é limitada a: LSD, Cogumelos, DMT, Ayahuasca, LSA, Mescalina, Bufotenina, 5meoDMT, AMT, Harmina, Harmalina, MDA, a família 2Cx e a família DOx.

Foi tentado manter o guia o mais preciso e bem escrito possível, mas a maioria desses efeitos não podem ser descritos somente com palavras, especialmente quando passamos de dosagens baixas ou moderadas.

Esse guia fornece exemplos na forma de imagens sempre que possível tal, quebrando as alucinações visuais em quatro categorias básicas, tais quais: melhora na visão, distorções, geometria visual e estados alucinatórios. O guia iniciará com os efeitos mais básicos, adentrando para efeitos mais complexos. A maioria das imagens exemplificatórias foram encontradas na internet. Porém a maioria foi retirada deste Tumblr.

Primeira Categoria de Efeitos Visuais: Aumento na capacidade visual

A primeira categoria de efeitos visuais pode ser classificada como um aumento geral da visão. Isso é reportado consistentemente nos níveis mais baixos das experiências psicodélicas. Pode ser definido genericamente como um aumento na taxa de entrada visual, atribuído ao ambiente externo que uma pessoa experimenta, e é manifestado através de 3 sub-componentes separados.

1. Acuidade visual aumentada:
A acuidade visual é definida pela literatura médica como uma agudeza ou claridade da visão, que é dependende da nitidez do foco da retina no olho e na sensibilidade da faculdade interpretativa do cérebro. O nível mais baixo de uma experiência psicodélica reportado foi de um aumento na nitidez e na acuidade, que pode ser descrita como uma nova habilidade de compreender todo o campo visual de uma vez, incluindo a visão periférica. Em comparação, a visão de um humano durante um estado de consciência padrão é somente capaz de perceber a pequena área que o olho da pessoa está focado. Esse aumento na nitidez e na acuidade visual, atribuído ao ambiente externo, é consistentemente intensificado ao ponto em que as bordas dos objetos se tornam extremamente focadas, claras e definidas. Esse efeito visual não muda necessariamente a aparência do ambiente externo, mas sim o nível de detalhamento que o mesmo é percebido. Até mesmo em uma viajem de baixa dosagem é comum que as pessoas percebam de repente padrões e texturas que nunca antes haviam apreciado, ou prestado atenção. Por exemplo, quando olhando para cenários, a natureza e as texturas do dia-a-dia, a complexidade e a beleza da entrada visual se torna de repente extremamente óbvia.

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2. Melhoramento da cor

Juntamente com o efeito anterior é constantemente reportado que durante uma experiência psicodélica de baixo nível as cores começam a se destacar, se tornando extremamente brilhantes e vívidas. Vermelhos ficam “mais avermelhados”, verdes mais “esverdeados”; todas as cores se tornam muito mais distintas, poderosas e intensas do que poderiam possivelmente ser durante todos os dias, sob um estado sóbrio. Um meio consistente de reproduzir esse efeito é de estar em meio à natureza.

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3. Aumento na capacidade de reconhecimento de padrões

A habilidade de uma pessoa de reconhecer figuras (usualmente faces) em qualquer estímulo vago é aumentado muito durante uma experiência psicodélica de baixo nível. Essa habilidade nata que seres humanos possuem no dia-a-dia é referido na literatura científica como pareidoilia e é muito bem documentado. Exemplos comuns na vida diária incluem descobrir faces em objetos comuns, e visualizar nuvens como objetos imaginários. Esse efeito pode se tornar extremamente intenso durante uma experiência de baixo nível. Por exemplo, todas as folhas de uma árvore podem se assemelhar a pequenos rostos verdes, o cenário pode se tornar muito parecido com pessoas ou objetos, e nuvens podem ser facilmente reconhecidas como objetos imaginários, sem nenhuma mudança visual acontecendo realmente.

Segunda Categoria de Efeitos Visuais: Distorções

A segunda categoria de efeitos visuais encontrados em uma experiência psicodélica é conhecida como distorção ou alteração visual. Essas podem ser facilmente descritas como mudanças na percepção atribuídas ao ambiente externo que está sempre, obviamente, fixo na realidade. Esses efeitos são manifestados através de 6 subcomponentes separados.

1.Flutuação visual

Flutuação na visão é de longe a distorção de olhos abertos mais comum experimentada durante uma experiência psicodélica. Ela pode ser descrita como a sensação de que objetos e o cenário estão parecendo se tornarem cada vez mais deformados e fundidos no campo visual. Essas alterações aumentam gradativamente à medida que a pessoa fixa o olhar, mas são completamente não permanentes – significando que eles voltam ao nível normal quando a pessoa analisa duas vezes a distorção.

O estilo particular desse efeito depende da continuidade da mudança de direção, velocidade e ritmo da distorção, resultando em uma pequena variedade de diferentes manifestações. O vídeo abaixo demonstra esse efeito em uma intensidade moderada e em um nível de detalhes extremamente preciso.

 

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Tranformações – Esse efeito é completamente desorganizado e espontâneo, tanto para ritmo quanto para direção. Ele pode ser descrito como objetos ou cenários aparentarem uma mudança gradual de tamanho, forma, configuração e aparência geral em uma infinidade de maneiras.

Respiração – Esse efeito faz com que objetos ou cenários aparentem expandirem ou contraírem ritmicamente, como se o objeto estivesse respirando de uma maneira semelhante à pulmões de seres vivos.

Derretendo – Não é incomum que objetos e cenários parecerem derreter completamente ou parcialmente. Os efeitos começam em baixas dosagens sob a forma de uma liquidificação gradual de objetos que faz com que eles comecem a inclinar, oscilar e lentemante perderem a sua integridade estrutural. Isso aumenta gradativamente até que se torne impossível ignorar como as linhas, texturas e cores dos objetos sólidos parecem se fundir umas com as outras, de uma maneira extremamente líquida.

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Fluindo – Superfícies fluindo, deslocando-se ou ondulando são um efeito visual forte que parece ocorrer quase que exclusivamente em texturas, particularmente se elas são muito detalhadas, complexas ou ásperas. Um exemplo clássico disso pode ser um piso de madeira fluindo como um rio em uma animação em loop. Um modo consistente de reproduzir esse efeito visual é olhar para um piso de madeira e desfocar a visão.

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Os efeitos acima que compreendem a flutuação visual como um todo se fundem e se misturam constantemente um com os outros. Eles são capazes de se manifestarem através de quatro níveis de intensidade visual que podem ser descritos como:

1. Periférico – A forma de distorção mais básica pode ser descrita como uma agitação de linhas retas no ambiente externo que ocorre exclusivamente dentro do campo de visão periférica e que não pode ser olhado diretamente.

2. Direto – Nesse nível, as distorções não aumentam em intensidade visual necessariamente, mas podem ser diretamente vistas no campo visual de uma pessoa. Esse altera parcialmente a aparência e forma de objetos e cenários no ambiente externo, fazendo com que ele delineie sutilmente, dobre-se e derreta-se.

3. Distinto – Esse é o nível em que as distorções se tornam visualmente poderosas o suficiente para alterar e transformar drasticamente a forma de objetos específicos no ambiente externo, até o ponto em que eles se tornem irreconhecíveis em comparação à sua forma original.

4. Abrangente – No nível mais alto de flutuação visual, a intensidade se torna poderosa o suficiente para distorcer não somente objetos específicos reconhecíveis, mas todo e qualquer ponto da visão de uma pessoa e a totalidade do ambiente externo.

2.Troca de Cores
Frequentemente as cores de vários objetos, particularmente aqueles que possuem uma cor que se destaca das demais, serão submetidas a um efeito que troca as cores através de um ciclo repetido de matizes em um movimento fluido em toda a sua superfície. Por exemplo, musgo em uma pedra pode trocar fisicamente de verde, para vermelho, para azul e então para verde novamente em um curto período de tempo.

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3.Distorções na Percepção de Profundidade
É muito comum experienciar ambas intensas e leves distorções na percepção de profundidade durante uma experiência psicodélica. Aqui é quando as profundidades e camadas do cenário à sua frente podem se tornar exageradas, enviesadas ou completamente bagunçadas. Um exemplo clássico disso é a troca de camadas em um cenário. É quando os objetos no plano de fundo passam para o plano superior e objetos do plano superior passam para o inferior. Outro exemplo de profundidade de campo enviesada é a completa perda dela, quando as diferentes seções de um cenário se aproximam e se distanciam, chegando a virarem uma imagem plana momentaneamente.

4.Rastros
Rastros são a experiência de trilhas sendo deixadas atrás de objetos que se movem, tais como pessoas, pássaros ou carros. Rastros são geralmente muito óbvios e são semelhantes em aparência ao mesmo tipo de trilhas deixadas atrás de objetos em fotografias de longa exposição. Se manifestando como trilhas suaves ou múltiplas camadas da mesma imagem repetida que desaparece gradativamente em cada repetição. As trilhas podem ser exatamente da mesma cor do objeto reproduzido que está se movendo ou podem ser algumas vezes cores randômicas selecionadas do mesmo. Rastros podem ser quebrados em quatro níveis básicos de intensidade visual que podem ser descritos como:

1. Tranparentes – A forma mais básica de rastros pode ser descrita como imagens quase transparentes que desaparecem quase imediatamente e se desenham atrás de objetos em movimento com um comprimento máximo de 4-6 centímetros.

2. Translúcidos – Nesse nível, rastros podem aumentar seu comprimento até aproximadamente metade do comprimento do campo visual em que o objeto seguido está se movendo. Em termos de claridade, os rastros mudam de quase visíveis para distintos e somente parcialmente transparentes em cor.

3. Opacos – Esse é o nível em que rastros se tornam completamente sólidos na aparência e opacos na cor, com bordas distintas e nítidas, que desenham um contraste claro entre o plano de fundo e o próprio rastro. Eles se tornam do mesmo tamanho do campo visual em que o objeto se moveu e podem permanecer por vários segundos.

4. Abrangentes – O nível mais alto ocorre no ponto em que o campo visual de uma pessoa se tornou tão sensitivo à criação de rastros que a totalidade do campo visual mancha-se e borra-se em um único rastro, ao mínimo movimento do olho. Isso pode fazer com que fique extremamente difícil para ver claramente a não ser que os olhos fiquem parados e permaneçam assim por até 20 segundos.

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5.Repetição Simétrica de Texturas
Repetição simétrica de texturas é uma distorção distinta e óbvia que se manifesta especificamente em texturas como grama, carpetes, asfalto, toalhas, macadame, toalhas, tapetes de banheiros, cascalho, vegetação densa, folhas caídas, cascas de árvores e mais.
Pode ser descrita como se a textura se tornasse espelho-repetida na sua superfície e extremamente intrincada e simétrica em si mesma, mantendo um nível alto de detalhes e clareza visual dentro do campo visual de uma pessoa e sua visão periférica. Isso se mantém independentemente de quão perto você olhe para a distorção. Quando essas texturas repetidas estão sendo geradas, elas começam a dar vida para uma grande gama de formas abstratas, figuras, geometria e padrões que são embutidos ao longo da simetria. Algo que é universalmente interpretado como uma maneira complexa de perceber e fisicamente fora do normal de uma maneira indescritível.

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5.Fatiamento do Cenário

O fatiamento de cenário é um efeito que ocorre somente espontaneamente e faz o campo visual aparecer como que cortado muito bem em fatias separadas com uma espécie de lâmina. Essas fatias separadas parecem então se distanciarem lentamente de sua posição inicial e podem ser tão simples quanto três seções, ou tão complexas como múltiplas fatias se movendo em um espiral que foi cortado em seu campo de visão.

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Terceira Categoria de Efeitos Visuais: Geometria

A terceira categoria de efeitos que afetam diretamente a visão podem ser descrita como a sensação de o campo visual de uma pessoa, de olhos abertos e fechados, estar parcialmente ou completamente englobado por padrões geométricos complexos e caleidoscópicos de movimento rápido, formas, fractais, estruturas e cores.

A geometria visual nunca permanece fixa em nenhum ponto e é com frequência extremamente mutável e auto-transformável em termos de suas formas e estilos. Isso acontece enquanto a geometria está flutuando naturalmente lateralmente ou radialmente em relação ao campo visual para criar redes sobreponíveis de muitos padrões geométricos crescentes e decrescentes, que são todos visíveis dentro de um frame perceptivo.

Quando experimentado, cada frame da geometria visual tem de alguma forma um sentido de profundidade e importância atribuído, muitas vezes passando a sensação de que possuem uma geometria que representa perfeitamente o estado mental em que você se encontra.

Existem sete diferentes níveis de visuais psicodélicos, aumentando gradativamente a complexidade e fascínio.

1.Ruído Visual
Esse é o nível mais básico de geometria visual e pode ser experimentado em um estado completamente sóbrio. Ele pode ser descrito como um ruído visual ou estático combinado com luzes aleatórias e regiões vermelho escuras que podem ser vistas sob as pálpebras dos olhos.

2.Movimento e Cores
Esse nível é também facilmente obtido sem psicodélicos e pode ser descrito como o aparecimento de regiões desestruturadas de flashes de luz e nuvens de cores.

3.Geometria Parcialmente Definida
Esse é o nível onde as coisas começam a se tornar distintivamente psicodélicas, e formas complexas indescritíveis e padrões começam a se formar. Nesse nível, entretanto, os padrões podem ser descritos como estritamente bidimensionais. Eles são legais, pequenos, e distantes em tamanho com uma paleta de cores escuras que se limitam a alguns tons diferentes de negros, vermelhos e violetas escuros. Eles se exibem em ambos os campos visuais de olhos fechados e olhos abertos através de um véu de geometria plana, mas significantemente mais detalhados com os olhos fechados em ambientes escuros.

4.Geometria Totalmente Definida
Esse é o nível onde os detalhes em que a geometria se exibe se tornam profundamente complexos mas permanecem estritamente bidimensionais. Nesse ponto os visuais se tornam maiores em tamanho e extremamente intrincados em detalhes com uma paleta de cores sem limites de possibilidade. Eles são dispostos no campo visual de olhos abertos e olhos fechados através de um véu de geometria plana que flutua diretamente em frente aos olhos, se tornando significantemente mais detalhados com os olhos fechados em ambientes escuros.

5.Geometria Tridimensional
Nesse nível a geometria se tornará totalmente tridimensional na sua forma e posições através do campo visual. Isso adiciona uma nova camada de complexidade visual totalmente nova e a deixa espalhada nas superfícies, paredes, objetos e móveis do ambiente, ao invés de ser exibida através de um véu plano.

6.Sobrepondo a Percepção Física
Esse é o ponto em que a geometria se torna tão intensa, vívida e brilhante que ela começa a bloquear e substituir o mundo externo. Nesse nível o ambiente começa a ser substituído por visuais, com os objetos e o cenário se transformando em massas alastradas de geometria. Conforme aumenta, o efeito acaba substituindo completamente o ambiente, criando a sensação que você está participando de outra realidade.

7.Níveis 7A e 7B
Uma vez que a geometria tenha atingido o sétimo e último nível, não há apenas um pináculo da experiência psicodélica mas dois. Parece que dependendo dos fatores subjetivos do ambiente e do psicodélico consumido, os visuais são capazes de se separar em duas versões separadas do seu nível mais elevado possível. O fator decisivo entre as duas opções não é ainda conhecido, mas parece ser completamente randômico, significando que o sétimo nível dos visuais terá de ser separado em duas categorias distintas de intensidade igual. Esses são conhecidos como níveis 7A e 7B. Uma vez que a geometria visual atinge o nível 7A ou 7B, ela começa a se tornar estruturada e organizada de um modo que apresenta informações genuínas para o usuário muito mais avançadas do que os 6 níveis anteriores. Isso é feito através da compreensão de representações geométricas que parecem como se representassem conceitos específicos e componentes neurológicos que existem no cérebro. Nesse ponto, conceitos podem ser vistos não somente embutidos em seu campo visual de olhos abertos ou fechados, mas sentidos simultaneamente através de sensações físicas complexas.

7A.Exposição aos elementos da estrutura neurológica
Esse nível ocorre quando o ambiente foi totalmente substituído por visuais. Quando eles atingem o nível mais elevado possível, a mente se sente como se cada ponto no cérebro se tornasse completamente conectado com cada um dos outros pontos. A sensação é de que você está sendo exposto visualmente e fisicamente a cada conceito armazenado interiormente, a memória e a estrutura neurológica do subconsciente, tudo de uma vez, deixando o usuário com a sensação literal de experimentar tudo que existe no universo simultaneamente; algo que pode ser descrito como um mar infinito de geometria, conceitos, estruturas, memórias e fractais que são percebidos como contenedores de toda a existência, tudo o que já existiu, e tudo o que existirá.

Esse oceano vasto da mente não é só visto na frente dos olhos mas sentido fisicamente em um nível imcompreensível de detalhes através de todo ponto pessoal. A experiência é imediatamente percebida como sendo o “universo inteiro” ou pelo menos “tudo” por quem a experimenta.

Em seus níveis mais baixos esse efeito é algo que flutua descontroladamente, levando os usuários para dentro e fora do quarto de um modo que muitos acham extremamente desorientador. Em vez de permanecer constante e estático, ele é disparado pela presença de um conceito. Por exemplo, se alguém dissesse a palavra “Internet” para uma outra que está nesse estado, ela veria o conceito da mente sobre Internet imediatamente manifestado em uma geometria perfeitamente encaixada no centro de seu campo visual. Essa forma rapidamente se espalha como uma espécie de diagrama em árvore, envolvendo os conceitos que você associa com a Internet e então ramificando novamente para incluir os novos conceitos que você associa com esses. Isso se espalha exponencialmente e dentro de 2-3 segundos se transforma em um flash para incluir cada um dos conceitos dentro de todo o universo, desconectando completamente o usuário do ambiente externo antes de o re-inserir novamente, até que algo inicie o processo novamente, normalmente logo em seguida. O usuário é retirado e colocado novamente no quarto enquanto o processo é gerado continuamente.

Entretanto, esse processo pode ser barrado com o movimento físico constante, impedindo o processo de se ramificar não dando tempo para ele permanecer em um único conceito.

Mas com o aumento da dose, contudo, o processo se torna mais fácil de iniciar se estendendo em duração e comprimento – resultando eventualmente em um estado estável de completa desconexão do ambiente externo e um senso permanente de unidade com o universo.

7B.Exposição aos elementos mecânicos da consciência humana
Esse nível pode ser descrito como o sentimento profundo de se tornar completamente desligado do ambiente externo e indo para um lugar que é universalmente interpretado por qualquer um que passe pela experiência como “os mecanismos de funcionamento do universo”. Esse é um lugar em que parece realmente que você entrou nos mecanismos da realidade ou o centro mais profundo da existência por ela mesma, com a programação fundamental do universo e a natureza real por trás da nossa consciência, se apresentando ao usuário em uma série de formas geométricas legíveis.

Ele pode ser divido em dois subníveis básicos:

-Se tornando os mecanismos internos da mente consciente

No nível mais baixo da geometria visual 7B, a experiência se manifesta se tornando e se sentindo a organização e estrutura de seu pensamento atual. Isso é representado aos usuários na forma de uma rede de geometria condensada infinita e de rápidos movimentos que se ramifica em um nível de organização e interconexão que nunca poderia ser possivelmente experimentado dentro do mundo físico real.

A rede de mudança constante segue o ritmo e a cadência de seu diálogo interno perfeitamente. Isso cria e manifesta novas conexões de um modo que é fisicamente sentido através de uma sensação poderosa, e visto embutido em seu campo visual a cada vez que qualquer peça ou novo insight de conhecimento é obtido.

Essa vasta rede de visuais que representam o pensamento contém representações geométricas de conceitos específicos e abstratos compreendidos naturalmente, embutidos dentro de cada um dos pontos conectores ao longo dela mesma. A experiência da leitura dessas representações geométricas leva a mente a visualizar o conceito perfeitamente em um campo visual interno que existe separadamente desse.

-Se tornando os mecanismos internos da mente subconsciente

Em um nível mais elevado da geometria visual 7B, a experiência se manifesta como uma habilidade recém encontrada de sentir, ver e se tornar um com a arquitetura da mente subconsciente. Isso é apresentado aos usuários na forma de mecanismos auto-mutáveis extremamente vastos e complexos que são imediatamente interpretados por qualquer um que passa pela experiência como os métodos de funcionamento do universo e da realidade.

Esse estado é capaz de inserir peças de informações específicas nos usuários sobre a natureza da realidade e da consciência humana, através da simples experiência deles. Essas peças específicas de informação são sempre sentidas imediatamente e entendidas como sendo uma descoberta profunda inegável no momento, mas que após são consideradas inexpressivas, por causa das limitações humanas de linguagem, ou sem sentido devido à desorientação dos efeitos cognitivos que a acompanham.

Ocasionalmente, entretanto, lições genuínas ou mensagens coerentes são interpretadas através da experiência de se tornar e alcançar as faculdades subconscientes do cérebro. É extremamente importante ressaltar, contudo, que a validade científica dessas lições são extremamente incertas e nunca devem ser aceitas imediatamente como fatos sem uma análise sóbria e minuciosa.

Abaixo há uma coleção de exemplos que podem ser considerados precisos de alguma forma. Porém, a vastidão e complexidade da verdadeira geometria psicodélica é enormemente mais intrincada, significando que na realidade nenhuma imagem física poderia se tornar remotamente próxima à experiência real.

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Clique nos exemplos abaixo para exemplos antropológicos de visuais psicodélicos. Os Shipibos são uma grande tribo na floresta amazônica cuja cultura está pesadamente envolvida com o uso ritualístico da ayahuasca. Esses padrões texturais são feitos deliberadamente pelos Shipibos como artefatos alucinatórios da Ayahuasca, capturando os estilos específicos de formas repetidas de uma forma muito melhor que a maior parte da arte psicodélica moderna.

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Um outro componente extremamente comum na geometria visual são os fractais. São conceitos que existem na matemática e podem ser descritos como padrões complexos que se repetem infinitamente sobre si mesmos permitindo para a mesma imagem similar ser encontrada não importando o quão longe você se afaste de qualquer parte da imagem. Abaixo está uma coleção de fractais psicodélicos similares em aparência àqueles que são encontrados na geometria visual.

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Quarta Categoria de Efeitos Visuais: Estados Alucinatórios

O quarto efeito sensorial é talvez o mais profundamente subjetivo que a experiência psicodélica têm a oferecer. Eles são manifestados como 3 efeitos distintos que vêm em uma variedade de intensidades diferentes.

Imagens

Estados alucinatórios começam em baixas dosagens como imagens embutidas na geometria visual. Essas podem ser descritas como cenas espontâneas que se movem ou não, objetos, animais, pessoas, conceitos, lugares ou qualquer coisa que você possa imaginar. Elas são com frequência formadas fora dos visuais e são exibidas em variados níveis de detalhe abrangendo desde tipos cartunistas até completamente realistas, raramente segurando a forma por mais de alguns segundos antes de sumirem ou se transformarem em outra imagem.

Em certos psicodélicos, as imagens são manifestadas como representações visuais exatas de qualquer coisa que você esteja pensando dentro de sua visão mental, tornando ideias abstratas em imagens concretas e permanecendo consistentemente ilimitadas em suas habilidades. Essa é uma experiência que também é sentida por algumas pessoas durante a hipnagogia (o estado entre o sono e o despertar) ou privação de sono e é conhecida pela comunidade científica como “auto-simbolismo”.

Transformações

Transformações psicodélicas são essencialmente imagens de olho aberto. Elas são progressivas por natureza, o que significa que elas se formam surgindo de padrões ou objetos, então curvando, movendo-se ou ficando com uma aparência totalmente nova de objetos, pessoas, animais, conceitos, lugares ou qualquer coisa que você possa imaginar, fixos ou móveis. Isso é aprimorado e alimentado pelo efeito visual separado de reconhecimento de padrões, causando um vago estímulo que já parece vagamente como conceitos abstratos graças ao nosso senso inerente de paredoilia, as transformando em versões mais detalhadas do que elas já haviam sido percebidas.

O processo de movimento ou de bloqueio, no qual as transformações parecem ser geradas, requere uma certa concentração e foco para se manter. Perder a concentração por um instante pode fazer com que a imagem desapareça ou se torne outra imagem.

Segurar os olhos fixos irá aumentar a intensidade da transformação progressiva.

Alucinações

Quando esses estados de imagens e transformações se tornam gradativamente mais elaborados (proporcionalmente à dosagem), eles eventualmente se tornam alucinações 3D totalmente abrangentes. Elas podem ser qualquer coisa mas geralmente permanecem em arquétipos como contato com identidades autônomas, paisagens imaginadas, dimensões espirituais, e situações que parecem ser tão improváveis com o que foi experimentado anteriormente que são, em todas as probabilidades, impossíveis de expressar com linguagem. Alucinações são descritas com frequência como sendo transcendentais, místicas, espirituais e religiosas em sua natureza, independentemente da religião do usuário. Não é incomum para as pessoas relatarem que alucinações psicodélicas parecem ser infinitamente mais reais do que qualquer coisa que a pessoa experimentou em um estado sóbrio anteriormente.

Em termos de sua aparência estilística geral elas podem variar de alucinações que são estilizadas e compostas de um material com geometria visual condensada, ou elas podem ser completamente sólidas e realísticas em como parecem. Esse estado particular pode ser quebrado em quatro subcomponentes distintos.

Entidades Autônomas

Contatos com entidades autônomas são muito comuns. Essas entidades geralmente parecem ser habitantes de uma realidade independente percebida – elas são expectantes da sua visita e gostam de interagir com você de diversas maneiras. O comportamento de uma entidade típica é de um ser amável, inteligente, professor ou curandeiro que simplesmente quer mostrar a você o espaço dimensional particular deles, concedendo peças de conhecimento específicas para você o mais depressa possível antes que você perca os efeitos ou passe para outra alucinação. Uma vez que a perda dos efeitos inevitavelmente começa a acontecer, eles ficam genuinamente tristes por seu desaparecimento, muitas vezes acenam uma despedida, e o encorajam a visitá-los com mais frequência.

Entidades podem realmente assumir qualquer forma mas arquétipos Junguianos (Carl Jung) são definitivamente presentes, esses incluem:

humanóides super-inteligentes imateriais, alienígenas, elfos, esferas gigantes, insetóides, felinos, seres de luz, plantas, máquinas robóticas, deuses, deusas, demônios, seres humanos e mais.

Essas entidades e criaturas se comunicam com os usuários através de uma combinação de telepatia, linguagem visual, matemática e estruturas coloridas mutantes de diferentes texturas. Essa linguagem visual complexa é capaz de expressar significado puro e conceitos de um modo que nosso sistema atual de classificar conceitos com pequenos sons vocais nunca será capaz de expressar.

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Paisagens, Cenários e Ambientes

Um componente intrínseco de níveis alucinatórios elevados é a experiência de paisagens imaginárias extremamente detalhadas, ambientes e cenários de uma variedade infinita. Esses são manifestados espontaneamente, cercando o usuário e agindo como o ambiente em que a viagem ocorre. Em outros pontos elas agem como algo que seja sobrevoado mas também são muitas vezes experimentadas através do ato de entidades autônomas, manipulando diretamente o que você pode ver, direcionando os usuários em diferentes direções em velocidades desorientadas, os forçando a ver ou passar diretamente através de configurações macro e microscópicas, incluindo tanto paisagens anteriormente experimentadas quanto paisagens nunca vistas antes. Comumente incluem:

sistemas planetários, galáxias, quasares, selvas, florestas amazônicas, desertos, geleiras, cidades, ambientes naturais, cavernas, habitats espaciais, estruturas vastas, civilizações, utopias tecnológicas, ruínas, salas de máquinas, quartos e outros ambientes interiores, neurônios, DNA, átomos, moléculas, mitocôndrias e mais.

Conceitos

Esse componente particular de estados alucinatórios é extremamente comum por todo o imaginário psicodélico típico. Ele pode ser descrito como a experiência visual de uma série infinita de conceitos armazenados interiormente que podem incluir tanto objetos do dia-a-dia, conceitos subjetivos, conceitos não experimentados antes e misturas impossíveis dos três.

Em níveis mais baixos eles são manifestados como imagens espontâneas mas em níveis mais altos eles se tornam embutidos como objetos dentro do cenário, ou como objetos que são apresentados a você por entidades autônomas. Esses conceitos comumente incluem:

objetos do dia-a-dia, coisas vivas, plantas, animais, insetos, arquitetura, estruturas, formas, átomos, moléculas, conceitos e fórmulas matemáticas complexas, conceitos linguísticos, mecanismos, tecnologia, criaturas maquinárias, máquinas auto-replicantes, pessoas, faces, olhos, partes do corpo, órgãos, comida, referências culturais, personagens fictícios, logotipos, simbolismo religioso, criaturas, monstros, demônios, mitologia, móveis e mais.

É importante notar que a experiência alucinatória de conceitos que contém escritos tais como livros imaginários, documentos, sinais de trânsito, websites ou texto flutuante são usualmente representados através de símbolos alienígenas borrados ou dispersos. Entretanto, eles são ainda capazes de conter ocasionalmente linguagem coerente e mensagens legíveis em um nível de detalhe suficiente mas irão sempre resetar, mudar, ou simplesmente desaparecer se uma pessoa tentar lê-los duas vezes. Isso é consistente com o modo em que o comportamento do texto é relatado pela comunidade dos sonhos lúcidos.

Cenários e Enredos

Cada um dos componentes acima pode ser randomicamente trocado e dividido em qualquer um dos infinitos enredos que são capazes de serem experimentados sob a influência de experiências psicodélicas de altas doses. Eles são difíceis de definir mas podem ser divididos em arquétipos extremamente básicos que geralmente implicam em visitar algum tipo de realidade alternativa, ou um número delas as quais contém entidades interativas, múltiplas, ou solitárias entre uma série de conceitos e objetos organizados dependendo do enredo específico.

Os enredos podem ser lineares mas também podem ser completamente sem sentido.

Em termos da perspectiva através da qual eles são percebidos, as alucinações podem ser experimentadas em quatro diferentes formas.

  • Primeira Pessoa: Essa é a forma mais comum de alucinação e pode ser descrita como a experiência completamente normal de perceber a alucinação da perspectiva pessoal.
  • Segunda Pessoa: Pode ser descrita como a experiência de perceber a alucinação da perspectiva de uma fonte externa de consciência tal como outros seres vivos, um animal ou um objeto inanimado.
  • Terceira Pessoa: É essencialmente uma experiência extra-corporal e pode ser descrita como perceber a alucinação de uma perspectiva que está flutuando acima, abaixo, atrás, ou na frente do corpo físico do usuário.
  • Quarta Pessoa: É particularmente rara mas totalmente possível e pode ser descrita como a experiência de perceber a alucinação de uma perspectiva de múltiplos pontos de vantagem e, ocasionalmente, infinitos números de vidas alternadas.

Em termos da quantidade de tempo em que eles são experimentados, enredos alucinatórios e cenários parecem como se estivessem sendo experimentados em tempo real. Isso significa que quando 20 segundos são sentidos na alucinação, a mesma exata quantidade de tempo passou no mundo real.

Em outros pontos, entretanto, distorções temporais podem ocorrer, resultando em enredos e cenários que podem parecer como se durassem dias, semanas, meses, anos, ou até mesmo períodos infinitos de tempo. Quando isso ocorre, contudo, não é sentido como se milhares de anos de experiência tenham se passado dentro dos 15 minutos do tempo no mundo real, mas como se a memória ou sensação de milhares de anos que tenham se passado fosse formada depois da experiência e não durante.

Quanto ao conteúdo desses cenários e enredos alucinatórios, eles podem conter experiências tão diferentes do que existe no mundo real que são completamente impossíveis de traduzir em linguagem, mas eles podem também conter memórias experimentadas anteriormente de qualquer ponto na vida de uma pessoa que parecem verdadeiramente idênticas às que ocorreram. Essas reproduções de memórias são com frequência cenas esquecidas da infância, pessoas que você não viu ou pensou por anos, e a visita a importantes edifícios, lugares e ambientes da vida de uma pessoa. Em outros pontos, porém, o conteúdo dessas alucinações podem ficar entre uma repetição de memória e uma experiência completamente nova, contendo aspectos da vida real mas desviando facilmente do enredo original em que realmente ocorreram. Os efeitos acima podem ser quebrados em cinco níveis simples:

1.Melhoria da visualização mental
O nível mais baixo de alucinação pode ser descrito como um melhoramento poderoso da habilidade de uma pessoa de visualizar conceitos mentalmente. Essa visualização interna parece como uma divagação extremamente vívida, e segue o pensamento de uma pessoa de um modo que pode ser visto como um nível de detalhe moderado dentro do olho da mente.

2.Alucinações parcialmente definidas
Esse nível de alucinação geralmente consiste de movimentos na visão periférica e imagens mal definidas e desbotadas nos visuais, assim como transformações ou vislumbres na visão periférica que desaparecem assim que uma pessoa checa novamente.

3.Alucinações totalmente definidas
Assim que a vividez e a intensidade aumenta, as imagens se tornam eventualmente totalmente definidas na sua aparência e dentro do campo visual direto do usuário. Tranformações irão também se manifestar como totalmente definidas e dentro do campo visual direto de uma pessoa.

4.Avanços parcialmente definidos
Esses começam com flashes randômicos de cenários psicodélicos. São capazes de se tornarem totalmente fixos e duradouros, mas não são completamente definidos na sua aparência. Com frequência se apresentando borrados parcialmente ou totalmente e transparentes, com o corpo do usuário parecendo estar ainda parcialmente conectado com o mundo real.

5.Avanços totalmente definidos
Uma vez que as alucinações se tornem suficientemente elaboradas elas se tornam eventualmente abrangentes, aumentando para realidades alternadas permanentes que parecem ser completamente realísticas, extremamente detalhadas, e altamente vívidas em sua aparência juntamente com uma completa desconexão do corpo físico.

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Efeitos visuais mistos, únicos e raros

Apesar de haverem componentes visuais universalmente experimentados de uma experiência psicodélica, você não deve deixar esse guia lhe dar noções pré-concebidas por duas razões separadas. A primeira razão é que embora essas descrições tenham sido cuidadosamente trabalhadas e pensadas, textos e imagens nunca chegarão perto da experiência real, a coisa real é incompreensível, desafiadora da lógica e impossível de traduzir em imagens e palavras bidimensionais. O fator da ausência de linguagem é uma das poucas coisas que todos os psiconautas podem concordar quando se trata da experiência psicodélica.

A segunda razão é que a experiência psicodélica é ainda uma experiência subjetiva e de modo algum confinada e limitada a esses componentes visuais. Efeitos visuais espontâneos que não são descritos em lugar algum desse artigo irão se manifestar em viagens em ocasiões estranhas. Esses efeitos podem ser qualquer coisa e ocorrem geralmente em dosagens elevadas. Efeitos visuais únicos são completamente pessoais e são algo que ninguém mais no planeta viu anteriormente ou irá experimentar alguma vez. Então lembre, não limite a sua percepção aos componentes descritos acima, porque há mais coisas na experiência psicodélica que palavras nunca irão ser capazes de expressar.

A Situação Humana – Terence McKenna

Trecho da palestra “Eros & Eschaton”, onde o etnobotânico e psiconauta Terence McKnenna introduz diversas idéias sobre a situação humana

Explora a relação entre diversas questões, entre elas:

O Mistério da mente e corpo humanos
Psicodélicos, Imaginação e Sexualidade
O fracasso da cultura ocidental e a crise global
A Mente de Gaia e o renascimento arcaico

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Experiência Cósmica com LSD

Stanislav Grof, psiquiatra tcheco, nascido em 1 de Julho de 1931, na cidade de Praga, desenvolveu nos EUA pesquisas sobre os estados alterados de consciência (EAC), através de experiências utilizando o ácido lisérgico, LSD, como meio de atingir tais estados. Segundo ele isso propiciava que os pacientes atingissem outros estados conscienciais tidos como anormais, mas que eram importantes para a recuperação da saúde mental. Quando o paciente voltava da “viagem” era capaz de ter outras compreensões (insights) que ajudavam na sua recuperação. Mais tarde desenvolveu uma técnica chamada Respiração Holotrópica, através da qual é possível atingir os mesmos estados de consciência através da respiração sem o uso do LSD como gatilho.

Neste Vídeo, Grof descreve a experiência que marcou sua vida e inspirou toda a sua carreira profissional.

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A Mente de Gaia e o Renascimento Arcaico

momentos finais da palestra “Under The Teaching Tree”

Mckenna fala sobre o processo de alienação a respeito de uma inteligência central da natureza, há muito tempo conhecida pela humanidade, mas levada ao esquecimento há pelo menos 10 mil anos, ignorada e ofuscada por métodos científicos, incapazes de mensurá-la ou catalogá-la.

Levanta questões sobre: Como podemos reencontrar essa conexão deixada de lado e ignorada por tanto tempo? Como nossas ideologias e conceitos materialistas nos levaram ao estado no qual estamos hoje? O que cada um de nós está fazendo para tornar o mundo um lugar novamente regido pela unidade, que brilha sob uma inteligência central do planeta? Qual o papel dos psicodélicos nesse processo de re-conhecimento?

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Termostato da Realidade

Trecho do documentário “Manifesting the Mind”

A experiência psicodélica como fonte de conhecimento; a função do DMT no metabolismo humano comum; cérebro e consciência; o significado da “morte do ego”; a experiência humana e as “drogas” são alguns dos temas abordados no vídeo.

Em ordem de aparição:
Dr. Dennis McKenna
Dr. Rick Strassman
Alex Grey
Nick Herbert
Mike Crowley
Clark Heinrich

 

 


 

 

Evolução Psicodélica – Terence Mckenna

Trecho do vídeo “Psychedelics in The Age of Intelligent Machines” – palestra realizada em Seattle, em 1999.

O etnobotânico Terence McKenna explica brevemente como o cogumelo Stropharia cubensis pode ter influenciado o desenvolvimento espantoso do cérebro humano no período de transição entre os primatas superiores e a nossa atual espécie. Sua teoria é descrita em maiores detalhes no livro “O Alimento dos Deuses“.

Nas pradarias africanas, onde estima-se que se deu nosso processo evolutivo, também se proliferavam várias espécies de animais ungulados, dos quais o esterco é o ambiente ideal para a ocorrência de cogumelos coprófilos. Um dos comportamentos dos primatas insectívoros, como éramos nós algum dia, é investigar os velhos estercos de vaca em busca de grupos de insetos. Nesses mesmos estercos brotam suculentos cogumelos, muitos deles contendo psilocibina. O Stropharia cubensis é pandêmico, ocorrendo em todas as regiões tropicais onde existe gado.. Quais seriam os impactos de uma química tão extraordinária na dieta dos primatas em evolução? A psilocibina possui características singulares, que a fazem um pefeito candidado para disparar muitos dos processos que nos diferenciam dos primatas superiores.

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Logos

Especulações de Terence Mckenna sobre a natureza alienígena do transe provocado pelo cogumelo Stropharia cubensis, o fenômeno das “vozes na cabeça” e seu papel na história humana. Trecho do livro/áudio “True Hallucinations” (“Alucinações Reais”)

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