Esse guia é uma tentativa de categorizar e descrever em termos simples os efeitos cognitivos específicos que drogas psicodélicas causam. Ele descreve não experiências pessoais, mas a universalidade de efeitos que foram sentidos e reportados pela maioria, senão todos os usuários de psicodélicos.
Ele está dividido em três diferentes seções:
I. Os efeitos visuais da experiência psicodélica.
II. Os efeitos cognitivos da experiência psicodélica.
III. Os efeitos diversos da experiência psicodélica.
O primeiro é uma descrição da experiência visual, o segundo é uma descrição da experiência mental e o terceiro é uma descrição dos componentes sensoriais que não se encaixam nem nos efeitos mentais, nem nos visuais. Ele é em referência a todos os psicodélicos clássicos e à grande variedade de modernos e obscuros “químicos de pesquisa” que estão se tornando cada vez mais prevalecentes. Mais especificamente essa lista inclui, mas não é limitada a: LSD, Cogumelos, DMT, Ayahuasca, LSA, Mescalina, Bufotenina, 5meoDMT, AMT, Harmina, Harmalina, MDA, a família 2Cx e a família DOx.
Este artigo procura destrinchar e descrever os efeitos cognitivos e comportamentais inerentes à experiência psicodélica, apresentando-os em tópicos simples, e de fácil compreensão, seguidos por descrições e sistemas de nivelamento. Aqui o faremos sem utilizar metáforas, analogias, e relatórios de “viagens” pessoais. O artigo seguirá num crescente; inicia-se com os efeitos mais simples, e, à medida que vai se desenvolvendo, abordará experiências mais e mais complexas.
Intensificação do estado mental atual:
A intensificação do estado mental apresentado ao ingerir a substância é um efeito que altera o humor, mas que, diferentemente de certos componentes de efeito subjetivo como a euforia, não costuma levar necessariamente a estados de positividade sem levar em conta o estado de ânimo e a estabilidade mental da pessoa que as utiliza. Ao invés disso, a experiência psicodélica funciona amplificando e intensificando o estado de espírito que o usuário apresenta no momento, o que faz com que os efeitos possam ser positivos ou negativos, dependendo do estado de ânimo que ele apresente ao ingerir as substâncias.
É por esta razão que as pessoas costumam reagir às experiências alucinógenas de formas completamente diferentes. Por exemplo, indivíduos despreparados, ansiosos e mentalmente instáveis, têm grandes possibilidades de terem uma experiência alucinógena avassaladora, cheia de emoções negativas, paranoia e confusão. Este cenário é causado pelo estado emocional do próprio indivíduo, que são enormemente ampliados, a níveis pouco usuais. Por outro lado, pessoas preparadas, positivas, e mentalmente estáveis, ao ingerirem a mesma substância, e a mesma dosagem, tem grandes chances de ficarem extasiados e de serem tomados por estados inefáveis de um bem estar inebriante, seguido de profundas revelações e insights.
A exteriorização de sentimentos reprimidos através de uma explosão de emoções também é um efeito comum. Esta liberação pode ter um viés alegre e divertido na forma de danças e cânticos espontâneos ou podem se manifestar de forma desesperada, histérica, com crises de choro compulsivo e colapsos nervosos. Mesmo nestes casos, aparentemente negativos, o viajante costuma sair da experiência sentindo-se aliviado, como se um peso muito grande tivesse sido tirado de seus ombros.
Há uma diferença muito clara entre as emoções induzidas por substâncias e as emoções genuínas. Este componente não produz nenhuma emoção que não exista, ela meramente aprofunda e intensifica as emoções e sentimentos que já podem ser perceptíveis, em grau menor, sem a substância.
Aceleração da atividade mental:
A aceleração da atividade mental pode ser descrita como o aumento significativo do processamento dos pensamentos. É como se os pensamentos fossem gerados sucessivamente, um após o outro, numa intensa rajada. Não só a velocidade dos pensamentos aumenta, mas a clareza mental da pessoa parece aumentar tremendamente, resultando em uma vastidão de novas ideias, perspicazes e inspiradoras.
Conectividade dos pensamentos:
A conectividade dos pensamentos pode ser descrita como a sensação de que os fluxos de pensamento passam a se caracterizar por um abstrato fluir de associações e ideias que vagueiam poderosamente e que se conectam profunda e mutuamente, ganhando sentido. Normalmente, a impressão é de que tênues devaneios e ideias aparentemente sem sentido se conectam uns aos outros por meio da incorporação de uma ideia ou conceito que já existia em pensamentos prévios, mas que agora são vistos por um ângulo completamente diferente.
Quando experimentado por longos períodos de tempo este efeito permite que a mente abarque todas as áreas da vida, não apenas as grandiosas e mais significativas, mas também as menores e menos importantes ou evidentes. É um processo que leva a uma intensa introspecção e ao aumento considerável dos níveis de criatividade e habilidades artísticas, já que o que a substância psicodélica faz, em essência, é remover os bloqueios criativos, permitindo que os pensamentos sigam seu fluxo, livremente.
Sensações de fascínio, importância e espanto:
Sensações de fascínio, importância e espanto atribuídas ao ambiente externo e a tudo a ele relacionado são uma das características que mais bem definem as experiências psicodélicas e elas costumam ser bastante intensas. Estas manifestações são bem variadas, mas podem ser comparadas com a reação de fascínio que as crianças têm com as novas descobertas, só que com a noção de que tudo tem uma profundidade e uma importância avassaladoras, seja a natureza, o universo, ou objetos comuns do cotidiano de cada um de nós.
É esse tipo de efeito que faz com que as pessoas compreendam, considerem e apreciem as coisas a sua volta de uma forma muito mais profunda, com um nível de detalhes sem paralelo, se levarmos em conta a maneira que estamos acostumados a ver as coisas, quando sóbrios.
Em seu grau mais elevado, essas sensações podem se tornar tão intensas e profundas que algumas pessoas sentem como se a vida inteira delas tivesse vindo desenvolvendo-se com o intuito de desembocar neste instante e que, a partir de então, nada será como antes. Algumas pessoas costumam se referir a essas sensações dizendo que é como se elas tivessem passado a vida toda andando em um trem e agora finalmente poderão descer. É realmente uma perspectiva incrivelmente marcante e que costuma ser induzida durante estados positivos de geometria visual escala 7A.
Distorção do Tempo:
Distorção do tempo é um efeito que faz com que seja difícil precisar quanto tempo se passou já que a percepção do tempo fica bastante alterada. Esta sensação pode ser sentida de duas formas distintas: ampliação do tempo ou compressão do tempo.
A mais comum delas, a ampliação do tempo, pode ser descrita como aquela sensação de que o tempo diminuiu o seu ritmo, consideravelmente. Esta distorção na percepção se deve ao fato de que, durante uma experiência alucinógena, a pessoa passa por uma quantidade anormal de experiências em um período relativamente curto de tempo. Isso faz com que a pessoa pense que muito mais tempo se passou do que na verdade ocorreu. Por exemplo, no final de certas experiências, a pessoa pode sentir que se passaram vários dias, semanas, meses ou anos e em casos mais agudos de expansão do tempo, pode parecer que o tempo simplesmente parou, o que é conhecido como um momento de eternidade.
O segundo tipo de distorção é a compressão do tempo. Ela é mais comum em substâncias estimulantes do que nas alucinógenas, mas ainda assim, é totalmente possível de ser sentida. É a sensação de que o tempo acelerou de forma notável e que está passando bem mais depressa do que deveria.
Introspecção:
Introspecção pode ser definida pelo estado de espírito que consiste em direcionar a atenção para uma profunda contemplação e análise a respeito da própria vida, seja como um todo ou em relação às partes que a integram. Isto promove uma capacidade incrível de dissecar e analisar racionalmente os problemas, permitindo um nível de resolução lógica e/ou de aceitação dos eventos passados; da situação atual; das possibilidades futuras, das inseguranças, medos, traumas e outros demônios pessoais.
O resultado comumente observado é a aparição de uma abundante quantidade de ideias, insights e conclusões capazes de mudar a forma de enxergar a vida e a relação da pessoa com os seres que ama e que fazem parte de sua jornada. Este fator é extremamente eficiente como agente facilitador do auto-aperfeiçoamento, e do crescimento pessoal, catalisando transformações sem paralelo em experiência congêneres, do dia-a-dia.
É importante ressaltar, porém, que nem todo mundo está pronto para encarar seus próprios fantasmas, resolver suas questões e seguir em frente. Algumas pessoas preferem ignorá-los e reprimi-los. É justamente a vontade da pessoa em encarar a verdade a respeito de sua própria vida que funciona como um fator determinante sobre se a pessoa será capaz de curtir e aproveitar a experiência que os alucinógenos podem oferecer. Algumas pessoas não se sentem bem com esta reação introspectiva, pois o mergulho em si mesmo traz à tona as inseguranças, os arrependimentos, traumas reprimidos, expondo-os à luz da consciência. Lutar contra essas revelações através da negação ou tentando reprimi-las costuma ser a receita certa para as experiências negativas, que podem ser evitadas, ou amenizadas quando o usuário não oferece resistência e se predispõe a se conhecer profundamente.
Outrospecção:
Outrospecção é um efeito subjetivo que pode ser considerado como o oposto da introspecção. Podemos descrever a outrospecção como a experimentação de um estado de espírito que constantemente direciona o foco da atenção para o ambiente externo, entrando numa profunda contemplação e análise daquilo que o cerca, seja abarcando-o como um todo ou focando de forma compartimentada, analisando as partes que formam este ambiente. O resultado desta experiência são abundantes ideias inspiradoras e conclusões grandiosas pertencentes ao que podemos chamar de “The bigger picture”, em outras palavras, como se caísse a ficha em relação à vida ou a uma situação específica de modo que agora a pessoa é capaz de abarcá-la, de uma forma mais ampla. Essas ideias geralmente envolvem (ainda que não se limitem a elas) uma visão diferenciada sobre temas filosóficos, a espiritualidade, a sociedade, o progresso universal, a humanidade e como todas essas coisas se encaixam através da história e no momento atual, assim como suas possibilidades futuras.
Rejuvenescimento:
Rejuvenescimento e sensações de extremo revigoramento são quase que uma reação universal nos dias e semanas que sucedem uma experiência alucinógena positiva. Elas podem ser mental e fisicamente revigorantes. O rejuvenescimento pode ser descrito como uma sensação duradoura de clareza mental, aumento da motivação, e da sensação de calma acompanhada de efeitos aqui citados, comomindfullness, aumento de motivação, supressão de filtros culturais e aumento do foco e da concentração. A sensação é a de que as conexões feitas no cérebro foram restauradas, fazendo com que alguns preconceitos e inclinações que definem o falso “Eu”, sejam “resetadas”.
Em um grau mais elevado, a sensação de rejuvenescimento pode se tornar tão intensa que ela começa a se manifestar como uma sensação profunda de renascimento. Esta sensação pode durar tanto algumas semanas como para o resto da vida, após uma experiência psicodélica intensa.
Déjà-Vu:
Déjà-vu é aquela expressão francesa que pode ser traduzida literalmente como “Já visto”. Trata-se de um fenômeno já bem documentado que pode ocorrer durante a sobriedade ou em estado alterados de consciência, sob efeito de alucinógenos. Em resumo, o Déjà-vu pode ser descrito como a sensação de que o evento atual ou a situação que está se passando agora, já foi vivida exatamente da mesma forma anteriormente, quando, na verdade, não foi.
Algumas substâncias costumam ser capazes de induzir o indivíduo a espontâneos e prolongados episódios de déjà-vu, tanto intensos quanto suaves. Este efeito faz com que o psiconauta possa ter uma sensação arrebatadora de já ter estado “ali” antes. Quando isso ocorre, é comum uma falsa sensação de familiaridade com os efeitos da substância em si, com o ambiente no qual a substância está sendo consumida, com as ações que estão sendo feitas, e com a situação como um todo.
O Déjà-Vu costuma ser desencadeado e sentido pelo viajante mesmo que ele esteja racionalmente ciente de que as circunstâncias de uma experiência prévia como aquela (quando, onde, e como o evento ocorreu) são incertas e mesmo que ele acredite que seria impossível aquele evento ter ocorrido alguma vez no passado.
Mindfullness (Atenção Plena):
O Mindfullness enquanto conceito psicológico é definido como as práticas contemplativas que integram corpo e mente colocando o foco da atenção e da consciência no aqui e agora, e se baseia no conceito de consciência plena e não-julgadora da meditação budista.
O primeiro componente da atenção plena pressupõe que o foco da atenção esteja completamente direcionado para as experiências imediatas, acalmando, desse modo, a narrativa interna, com a intenção de permitir o aumento da percepção dos eventos mentais do momento presente.
O segundo componente envolve adotar uma orientação pessoal em relação às próprias experiências no aqui e agora, cuidando para que esta relação com o momento presente seja caracterizada pela curiosidade, abertura, aceitação e ausência de julgamento.
Na meditação, este estado de consciência é praticado deliberadamente e é mantido por longos períodos de tempo, nos quais o foco manual e da consciência é colocado em um ponto focal específico, evitando dispersar-se em mil direções. No contexto dos alucinógenos, entretanto, este estado é induzido forçosamente por longos períodos de tempo sem nenhum esforço consciente e sem a necessidade de dominar os conhecimentos das técnicas meditativas.
Múltiplos fluxos de pensamento:
Múltiplos fluxos de pensamento podem ser definidos como o estado em que a pessoa tem mais do que uma narrativa interna ou mais que um fluxo de consciência acontecendo ao mesmo tempo dentro da mente. Este estado pode gerar um sem número de fluxos de pensamento diferentes, cada um dos quais pode ser controlado da mesma maneira que um fluxo de pensamento normal de nosso dia-a-dia. Esta experiência permite que a pessoa pense, reflita e analise vários temas e conceitos diferentes, simultaneamente, o que pode ser uma fonte incrível de grandes insights.
Remoção do filtro cultural:
A Remoção do filtro cultural pode ser descrita como a supressão de uma série de preconceitos e ideias que não evoluem, determinadas pela cultura local e pelas tradições que são mantidas ao longo da vida inteira.
Estes preconceitos e o modo automático de levar a vida afetam nossa capacidade de avaliar o mundo a nossa volta de uma forma muito mais perniciosa do que a maioria das pessoas gostaria de admitir. Parece que a maneira de encarar o mundo é construída a partir de uma complexo conjunto de filtros, que se baseia em crenças pré-estabelecidas, experiências anteriores, medos, preconceitos, estereótipos, símbolos culturais, etc. Isto faz com que nós tenhamos tendências rígidas e modos inconscientes de perceber e dar significado àquilo que observamos e que confirmam nossas crenças culturais já existentes, à medida que vamos filtrando e racionalizando as observações que não confirmam nossas crenças culturais pré-existentes. Os filtros culturais nos forçam a olhar para o mundo, não como seres humanos, mas como uma falsa versão de nosso verdadeiro “Eu” – seja sendo uma mãe judia conservadora, uma dona de casa muçulmana, um aborígene, ou um homem europeu cínico e materialista, de criação cristã, com crenças ateístas.
Muitos têm dito que nós não vemos as coisas como elas são, e sim, como nós somos. A experiência de remoção dos filtros culturais, entretanto, parece dissolver completamente esses preconceitos culturais geográficos, mostrando às pessoas que a cultura é apenas uma forma engessada de se enxergar as coisas, e uma forma normalmente ilusória, diga-se de passagem, e não a realidade objetiva em si. Portanto, esta experiência pode gerar mudanças profundas naquela velha maneira de encarar o mundo, que a pessoa tem usado a vida inteira, à medida que vai fazendo-a entender que elas não são de fato aquilo se tornaram a partir da maneira com a qual foram criadas.
Sensações de pré-determinismo:
Sensações de pré-determinismo podem ser definidas como a sensação ou perspectiva repentina de que todos os eventos, incluindo as ações humanas, já estão pré-definidas ou pré-programadas por um agente causal prévio.
Esta é uma perspectiva que pode ser desencadeada de forma espontânea e pode ser sentida através de uma mudança inegável na forma em que os pensamentos são processados. Em termos de como é sentida, a perspectiva pode ser descrita como uma sensação de que o “livre-arbítrio” que o ego ou a narrativa interna parecem ter, estão agora suspensas, removidas e reveladas como ilusórias.
Esta revelação não se dá como um resultado de um insight cognitivo que leva a pessoa a entender isso na teoria, mas sim, uma compreensão que ocorre à força, por meio de uma repentina mudança de perspectiva. Isto cria uma sensação inegável de que suas escolhas pessoais, suas ações físicas, sua perspectiva atual diante das situações, e cada assunto subjetivo de seu fluxo de pensamento tem sido completamente pré-determinado e fora de seu controle. A essa altura fica claro que essas coisas não são alcançadas por meio de um processo consciente de tomada de decisão, ou que são frutos do planejamento do ego, e que na verdade, nunca foram em momento algum. Em vez disso, eles são revelados como sendo um amplo e complexo conjunto de atividades eletroquímicas instantaneamente decididas, pré-programadas e internamente armazenadas, que respondem aos estímulos sensoriais sobre os quais o sujeito não possui nenhum controle consciente. Além disso, há uma sensação física muito intensa que faz com que o arranjo preciso do ambiente externo e os objetos a ele relacionados sejam percebidos como sendo a força que de fato está decidindo como você está se relacionando fisicamente com ele. Isto é feito instantaneamente desencadeando suas respostas e decisões em relação a esses objetos através da simples percepção da existência deles. Isto pode fazer com que você sinta, por exemplo, que não é você que está decidindo levantar a mão e pegar um objeto, mas sim que você precisa fazê-lo (independente de você ter colocado ou não alguma intenção em pegá-lo).
Quando a experiência está chegando ao fim, o usuário começa a restabelecer seu senso de liberdade e independência. Porém, o que acontece normalmente, é que ele retém muitas daquelas informações e percepções e assim, a experiência costuma ser interpretada como uma profunda revelação a respeito da ilusória natureza do livre-arbítrio.
Pensamento conceitual:
O Pensamento conceitual pode ser descrito como uma mudança forçada na percepção, a qual liberta o fluxo consciente de pensamentos da limitação de estar restrito apenas ao conteúdo linguístico, formado por palavras e rótulos. Este efeito permite ao usuário pensar não apenas por meio de descrições verbais, mas diretamente, por meio de conceitos armazenados internamente, e que estão por trás das palavras e rótulos. Por exemplo, se alguém pensar na palavra “internet”, durante este estado, ela não ouviria apenas a palavra como parte do seu fluxo mental, mas também, sentiria em um nível de detalhes bem abrangente, todos os códigos, dados e informações não-linguísticos que ela possa ter armazenada nela, internamente e que estão comprimidas naquele rótulo que específica o conceito que a pessoa tem para o vocábulo “internet”.
É como se os conceitos por trás das palavras e rótulos que surgem em nosso fluxo de pensamentos pudessem ser sentidos cognitivamente, em cada ponto de si mesmos concomitante ao pensamento relativo ao rótulo ou palavra que nós atribuímos a cada um desses conceitos. Além disso, esses conceitos também são percebidos simultaneamente através de manifestações visuais na forma de animações internas parciais ou completas.
Esta experiência promove a impressão de que é possível sentir precisamente quais as limitações, consequencias e posição de cada conceito em particular. Estas sensações costumam ser descritas como um “nível superior de entendimento” e provavelmente assim são sentidas, por revelarem a linguagem humana como sendo intrinsecamente autolimitada na maneira com a qual se expressa, afinal as palavras podem atuar apenas como meros atalhos para os conceitos que estas mesmas palavras tentam descrever.
Em níveis menos intensos, esses estados de pensamentos conceituais, podem ser descritos especificamente como fluxos de pensamentos. O que significa que os conceitos que estão sendo sentidos, vistos e “entendidos” são exclusivamente relevantes para as palavras que você está pensando naquele momento. Isso será sentido de forma idêntica, em termos de comportamento estilístico, quer o conceito tenha surgido por um simples vagar dos pensamentos ou se tiverem sido desencadeados por meio da experiência de um conceito ou objeto percebido no ambiente externo.
Talvez, o exemplo mais comum desta sensação, e com a qual qualquer pessoa poderá se identificar, é a experiência de olhar para uma planta de qualquer tipo e sentir internamente (assim como a percebe visualmente) tudo que você sabe sobre plantas, fotossíntese, e evolução dos vegetais, (não importa quão vagas sejam as suas noções sobre cada um desses temas).
Em níveis mais avançados, esses estados de pensamento conceitual deixam de ser especificamente relacionados às palavras contidas em seu fluxo de pensamento e começam a abranger cada pedacinho de conhecimento que o usuário tenha armazenado em seu acervo interno até então.
Essa sensação faz com que o usuário sinta algo que comumente é interpretado como um novo nível de “total e completo entendimento”, à medida que as consequencias, limitações, e posições dentro deste universo, formado por cada conceito que o usuário antes conhecia apenas na teoria, por meio de descrições, pudessem agora ser sentidas por uma perspectiva emocionalmente intuitiva e inegavelmente real.
Talvez, o exemplo mais comum com o qual a comunidade de psiconautas possa se relacionar seja a sensação de total e profundo entendimento em relação (mas não limitado a isso) aos temas e arquétipos listados abaixo:
- Princípios científicos gerais
- Cuidados com a própria saúde
- Seu papel na natureza e nos sistemas de ordem superiores
- As consequencias de suas ações e sua responsabilidade em relação a elas
- A civilização humana como o maior avanço da complexidade física
- Viver em equilíbrio com a natureza com o melhor de suas habilidades
- A inevitabilidade da morte
- A completa improbabilidade da própria existência
É através da direta experiência dos conceitos por trás de nosso conhecimento linguístico que uma nova vida com mudanças de perspectiva podem ser sentidas de uma maneira inequívoca. Esses novos pontos de vista – que surgem da experiência – raramente são considerados pelo usuário como a criação proveniente de uma nova ideia individual ou de um insight criativo. Em vez disso, eles nada mais são do que a integração de conhecimentos prévios, que já haviam sido entendidos intelectualmente, na teoria, e que agora são absorvidos por um sistema que os sente diretamente em um formato que permite experimentá-los física e emocionalmente, de uma nova maneira, de modo que esses pontos de vista podem ser claramente compreendidos.
Comunicação direta com o subconsciente:
A comunicação direta com o subconsciente pode ser definida genericamente como aquela em que a pessoa se engaja em uma conversação linguística articulada e cheia de significado com uma voz alheia e incorpórea, de origem desconhecida, e que vive dentro da mente do usuário. De um modo geral, no que diz respeito à coerência e a inteligibilidade linguística em termos de detalhes, o estilo de conversação que ocorre entre a voz e o indivíduo que a hospeda, pode ser descrita como sendo essencialmente idêntica a uma conversa propriamente dita, que ocorre corriqueiramente na vida cotidiana.
Existem, porém, algumas diferenças sutis, mas identificáveis, entre esta conversa psicodélica e as que são frutos da interação humana diária. Cada uma delas resulta do importante fato de que o conjunto específico de conhecimento, memórias e experiências particulares de um indivíduo é idêntico aos da voz com a qual ele se comunica. Este importante fator permite que a conversa seja de tal maneira, que ambos participantes compartilham de um vocabulário pessoal notavelmente idêntico, seja nas gírias e coloquialismos ou nas sutilezas dos maneirismos individuais. Além disso, é importante salientar que diferentemente das conversas do dia-a-dia, não importa quão profunda ou detalhista a conversa se torne, nenhuma informação completamente nova é trocada entre os dois interlocutores. Em vez disso, a discussão foca primeiramente em construir um incrível, extremo e profundamente intuitivo e criativo conjunto de novas opiniões ou perspectivas a partir de velhas ideias, ou seja, em relação ao conteúdo previamente estabelecido durante a vida do indivíduo. Essas opiniões normalmente ganham uma nova abordagem, destituída de apegos emocionais, preconceitos, e irracionalidades que normalmente contaminam os processos cognitivos de tomadas de decisão, típicos de nosso estado de consciência comum.
Todos esses resultados provem da interação com uma consciência outra que não a do usuário, e que, por isso, costuma ser percebido como uma figura que assume o papel de guia espiritual, mestre, xamã ou algo do gênero. Para corroborar com esse objetivo de se apresentar como algo além da própria consciência do indivíduo, a voz muitas vezes é capaz de manipular diretamente vários aspectos e os níveis de intensidade da viagem e, ou vão explicar claramente a lógica por trás de suas decisões ou irão mantê-la em segredo, como mistério.
De um modo geral, o efeito como um todo pode ser dividido em 4 níveis de intensidade progressiva, cada um dos quais, está listado abaixo.
- Sentir a presença de uma outra consciência – este nível pode ser definido como a sensação característica de que uma nova forma de consciência está presente internamente, ao lado daquela que o indivíduo normalmente identifica como sendo a sua própria consciência.
- Respostas internas geradas mutuamente – Este nível pode ser definido como respostas linguísticas, internas, que interagem com os pensamentos e sentimentos do psiconauta, que são sentidos como se fossem parcialmente gerados pelo próprio fluxo de pensamento, e, ao mesmo tempo, gerados por um fluxo de pensamentos separado.
- Respostas internas geradas separadamente – Este nível pode ser definido por respostas linguísticas internas ao fluxo de pensamentos e sentimentos do usuário, que são sentidas por ele como sendo geradas por uma outra fonte de pensamentos, completamente separada da dele.
- Respostas internas audíveis geradas separadamente – Este nível pode ser definido como as respostas linguísticas internas, que são sentidas como sendo provenientes de outro fluxo de pensamentos, a parte daquele do indivíduo, e que são ouvidos claramente, de forma bem definida, como uma voz que fala dentro de sua cabeça. Esta voz pode tomar uma variedade de tons, sotaques e dialetos, mas normalmente soam de forma idêntica à própria voz do usuário. Dependendo do tom, a voz que se comunica com o usuário pode ser percebida como sendo a voz do próprio subconsciente; a voz da própria substância ingerida; ou até mesmo como sendo proveniente de seres conceitualmente sobrenaturais, como Deus, espíritos ou de ancestrais.
Supressão, perda ou morte do ego:
Supressão, perda ou morte do ego, é um componente extremamente profundo e abrangente. O ego pode ser definido como o conceito ou o senso de identidade que uma pessoa tem, normalmente confundido com o próprio Ser, o “Eu”, como agente separado do ambiente externo. É essencialmente, a consciência do indivíduo ou a capacidade de ser auto-consciente, possibilitado pela sua habilidade de recordar e manter um entendimento geral e o reconhecimento dos conceitos que se tem arquivado internamente, e que servem para preservar aquilo que é considerado como a própria identidade.
Com quaisquer alucinógenos, a habilidade individual de reter, recordar, sentir e entender conceitos como o próprio sentido do eu, assim como outras noções fundamentais pertencentes à existência básica do ser humano, são parcialmente ou completamente atenuadas, dependendo da dosagem. Este é o resultado de um estado progressivo e abrangente de supressão da memória. É um processo que podemos destrinchar em três níveis básicos:
- Supressão do ego – Pode ser descrita como um colapso parcial e provisório da memória recente. Normalmente, pode ser sentida pelo aumento da distração, perda de foco e pela dificuldade de processar qualquer pensamento que não seja ligada ao presente, ao aqui e agora.
- Perda do ego – Este é o colapso completo, mas provisório, da memória de curto prazo. Pode ser descrito como se a pessoa se tornasse completamente incapaz de se recordar de quaisquer detalhes específicos relacionados à presente situação, por mais de um ou dois segundos. Esta sensação geralmente resulta numa desorientação, repetição de pensamentos, perda do controle e confusão para os que não estão acostumados a ingerir substâncias enteógenas. A memória de longo prazo, entretanto, permanece quase que inteiramente intacta, e o indivíduo é perfeitamente capaz de lembrar-se do próprio nome, a data de aniversário, onde estudou na infância, etc.
- Morte do ego – Este nível se caracteriza pelo completo (mas provisório) colapso da memória de longo prazo. A morte do ego pode ser descrita como a total perda de controle, na qual a pessoa se torna completamente incapaz de se recordar até mesmo dos mais fundamentais conceitos armazenados em sua memória de longo prazo, o que inclui o próprio nome, quem você é, onde nasceu; não sabe que ingeriu alguma substância, não sabe o que são drogas, o que são seres humanos, o que é a vida, o que é a existência, ou qualquer outra coisa. A morte do ego permite a profunda experimentação de que não existe mais o “eu”, o indivíduo que está sob efeito de uma intensa viagem provocada por uma substância, mas apenas a própria viagem em si. A própria viagem é tudo que existe.
Regressão pessoal:
Regressão pessoal é um estado mental incomum e espontâneo que frequentemente acompanham a morte do ego. Pode ser descrita como o estado mental no qual o indivíduo adota a personalidade idêntica, os maneirismos e o comportamento de quem ele já foi, em fases pregressas da vida. Esta sensação costuma ser capaz de fazer a pessoa acreditar que é uma criança, por exemplo, e a agir como tal.
Pensamentos repetitivos:
Os loops de pensamento podem ser descritos como a experiência de ficar preso em uma corrente de sensações, ações e pensamentos repetitivos, em um ciclo que segue um determinado padrão que se repete. Este componente é mais comum em estados de perda do ego, nos quais a memória recente entra em colapso. Isso significa que os padrões repetitivos de pensamento são o resultado da incapacidade dos processos cognitivos de se manterem por períodos de tempo apropriados devido a lapsos de memória recente, resultados por sua vez, das tentativas do processo de pensamento de recomeçarem lá do início, para mais uma vez se confirmarem incapazes de chegar ao fim, e então, dando início a mais um ciclo perpétuo. Esta sensação pode ser extremamente desorientadora e pode desencadear estados de progressiva ansiedade, em indivíduos que não estiverem familiarizados com a experiência. A melhor maneira de interromper esses ciclos é simplesmente sentar, se acalmar, e deixar que eles cessem, naturalmente.
Sensação de opostos interdependentes:
Sensação de opostos interdependentes é o estado mental que normalmente acompanha a morte do ego. Ela pode ser descrito como uma sensação poderosa na qual o indivíduo vê, entende e sente fisicamente que a realidade se baseia em um sistema na qual a existência ou a identidade de todos os conceitos e situações dependem da co-existência de pelo menos duas condições, que são antagônicas entre si, ainda que dependentes uma da outra, à medida que as pressupõe como equivalentes logicamente necessários. Esta experiência costuma proporcionar um profundo mergulho na natureza fundamental da realidade e resulta na percepção de que conceitos como vida, morte, alto e baixo, luz e trevas, bom e ruim, matéria e antimatéria, prazer e sofrimento, sim e não, ser e não-ser, etc., existem como estados necessários e harmônicos para o contraste de sua força antagônica, ou seja, de que os opostos são interdependentes.
Delírios:
Delírios são sensações espontâneas mantidas internamente como grandes convicções. No contexto das drogas alucinógenas os delírios são perspectivas temporárias nas quais o indivíduo pode adentrar durante viagens com altas dosagens. Elas são mais fáceis de ocorrer durante estados de ego-perda ou morte do ego, mas de nenhuma forma, são permanentes como nos casos de delírios esquizofrênicos, ainda que tenham alguns temas e elementos em comum. Esses delírios podem ser desfeitos quando se tem evidências que provam o contrário ou quando a pessoa já está sóbria o suficiente para analisar a situação com o filtro da lógica.
Tipos
Os delírios podem ser divididos em quatro grupos:
- Delírios bizarros: Este tipo de delírio é bastante estranho e completamente implausível. Um exemplo de delírio bizarro é achar que alienígenas retiraram o cérebro do usuário.
- Delírios não-bizarros: Este é um delírio que, embora falso, é ao menos possível, uma vez que o usuário acredita equivocadamente, que está, por exemplo, sob vigilância policial contínua.
- Delírio de humor-congruente: Este é qualquer delírio que tenha um conteúdo congruente com um estado depressivo ou de ansiedade. Por exemplo, uma pessoa deprimida pode acreditar que o âncora do jornal televisivo está explicitamente desaprovando-o, ou, uma pessoa em estado maníaco, ou de euforia, pode acreditar que ela é uma poderosa deidade.
- Delírio de humor-neutro: Este delírio ocorre sem levar em consideração o estado emocional do usuário. Por exemplo, suponhamos que o indivíduo acredita que um membro extra está nascendo atrás de sua cabeça, esta impressão independe de a pessoa estar em euforia ou em depressão. Ou seja, não, é necessariamente, fruto de um estado, nem de outro.
Temas
Além dessas categorias, os delírios costumam se manifestar de acordo com temas recorrentes. Ainda que os delírios possam ter temáticas muito variadas, certos temas são frequentemente descritos. Alguns deles são:
- Delírio de controle: caracterizado pela falsa percepção de que outra pessoa, um grupo de pessoas, ou uma força externa está controlando seus pensamentos, impulsos,sensações e o comportamento de um modo geral.
- Delírios de morte: Esta é uma falsa impressão de que se está pra morrer, de que está morrendo, de que jã não mais existe ou de que já está morto.
- Delírios relativos à culpa ou pecado (ou delírio de auto-acusação): Este é um sentimento de remorso sem fundamento, ou um sentimento de culpa desmedido, de intensidade delirante, na qual a pessoa se julga culpada por ter desempenhado um ato antiético.
- Delírios de que a mente está sendo lida: trata-se da falsa impressão de que outras pessoas estão lendo seus pensamentos.
- Delírios com inserção de pensamentos: Aqui, a impressão é a de que outra pessoa pensa por meio da sua mente. Esta sensação faz com que o usuário não consiga distinguir entre seus próprios pensamentos e aqueles inseridos em sua mente.
- Delírios de referência: A pessoa tem a falsa impressão de que comentários, eventos ou objetos insignificantes do ambiente em que o usuário se encontra, possuem um significado ou uma importância que eles não têm. Por exemplo, a pessoa sob efeito da substância psicodélica pode achar que as pessoas que a aparecem na televisão ou no rádio estão falando especificamente com elas e pra elas.
- Delírios com extravagâncias de viés religioso: Nesse caso, o usuário acredita ser uma espécie de deus ou que foi escolhido para atuar como um deus. A pessoa pode se convencer de que tem poderes, habilidades ou talentos especiais. Às vezes, o indivíduo pode achar que é uma pessoa famosa ou influente como Jesus Cristo. Por outro lado, pode ser também que a pessoa tenha insights filosóficos ao se alcançar altos níveis num estado de unidade e interconexão o qual não é necessariamente um delírio, mas uma perspectiva metafísica discutível.
Sensação de Unidade e interconectividade:
Estados de unidade e interconexão começam com uma mudança de perspectiva que normalmente é interpretada como a remoção de uma ilusão bem abrangente e bastante arraigada. A destruição desta aparente ilusão costuma levar o usuário a sensações que normalmente são interpretadas como um tipo de profundo “despertar” ou como se estivessem “iluminados”. Uma vez removida, esta ilusão de separação é sentida como se sempre estivesse em vigor, forçando uma visão de mundo baseada em conceitos como “Eu”, “Mim”, “Meu”, com a qual ela se identificava, e que era responsável por perpetuar duas leis fundamentais. A primeira delas é que o “Eu” está inerentemente separado do ambiente externo e que não pode se estender ou mesclar-se com ele. A segunda é que o “Eu” é especificamente limitado não apenas ao corpo físico, mas exclusivamente às narrativas e imagens internas de sua própria personalidade, as quais foram construídas através das interações sociais com outras pessoas.
A ausência desta aparente ilusão leva as pessoas a sensações que normalmente são descritas como estados de completa unidade, de união com o todo, de interconectividade entre sua percepção do Eu e os conceitos ou sistemas externos, que antes eram percebidos como partes inerentemente separadas de sua própria identidade, de si mesmo.
Dependendo do grau de colapso desta ilusão de separação, a pessoa pode atingir cinco níveis de intensidades cognitivas com efeitos cuja complexidade aumentam progressivamente. Cada um desses níveis é perfeitamente capaz de sustentar espontaneamente suas perspectivas por semanas, meses ou até mesmo por anos após a experiência psicodélica em si. Este níveis podem ser descritos da seguinte maneira:
Unidade entre sistemas externos específicos
Podemos nos referir ao nível mais baixo e menos complexo como um estado de união entre “sistemas externos específicos”. Este é o único nível de intensidade no qual a experiência subjetiva de unidade não envolve um estado de interconectividade entre o self e o externo. Em vez disso, ele pode ser descrito como uma sensação de unidade entre dois ou mais sistemas dentro do ambiente externo, os quais – durante a vida cotidiana – costumam ser vistos como sendo separados, tanto do Eu, quanto um em relação ao outro.
Este efeito pode se manifestar de uma variedade de formas diferentes, mas os exemplos mais comuns incluem:
- Um senso de unidade entre seres vivos específicos, como a unidade entre animais ou plantas e os ecossistemas que os cercam.
- Um senso de unidade entre certos seres humanos e os objetos com os quais eles interagem.
- Um senso de unidade entre uma quantidade qualquer de objetos animados agora perceptíveis.
- Um senso de unidade entre o Homem e a Natureza.
- Um senso de unidade entre o Eu e, literalmente, qualquer combinação de sistemas e conceitos externos.
O segundo desses níveis pode ser descrito como um estado de “união entre o Eu e sistemas externos específicos”. Ele pode ser definido como a experiência de dissolução de fronteiras que antes separavam o senso pessoal de identidade do mundo externo, que agora passam a incluir o ponto central do foco cognitivo.
Este efeito pode se manifestar em um sem número de formas diferentes, mas alguns exemplos comuns são:
- Se tornar um com um objeto especifico com o qual você está interagindo
- Se tornar um com uma pessoa especificamente, com a qual você está interagindo. (particularmente comum, quando se está tendo relações sexuais ou amorosas, com esta pessoa)
- Se tornar um com a totalidade de seu corpo físico
- Se tornar um com uma enorme quantidade de pessoas, (particularmente, em raves e festivais de música)
- Se tornar um com o ambiente externo, mas não com as pessoas nele presentes
Isto cria a sensação que normalmente é descrita pelas pessoas como a experiência de se tornar inextricavelmente conectadas, ou de se tornarem “um com”, “o mesmo que”, ou “unificadas com” seja lá qual for o sistema ou ambiente que é normalmente percebido como sendo externo, separado de nós.
União entre o “Eu” e todos os sistemas externos perceptíveis
[O terceiro desses cinco níveis de intensidade pode ser descrito como um “estado de unidade entre o “Eu” e todos os sistemas externos perceptíveis”. Costuma-se referir a este estado como se as fronteiras entre o senso pessoal do “Eu” e todo o resto do ambiente externo perceptível fossem dissolvidas. A experiência, de um modo geral, se encaixa na frase comumente ouvida de que a pessoa “se tornou um com o entorno”.
Isto acontece quando o senso central do “Eu” passa a não estar mais atribuído apenas à narrativa interna do Ego, mas, na mesma medida, ao corpo e a tudo aquilo que está fisicamente conectado com ele através dos sentidos. Quando esta sensação é sentida, ela cria uma perspectiva inegável de que você é o ambiente externo, que se auto-experimenta, através de um ponto específico dentro dele, e no qual esta percepção sensorial física e os pensamentos conscientes do corpo na verdade residem dentro do ambiente externo, como sendo parte dele.
É nesse nível que um componente-chave da experiência de unidade se torna um fator extremamente notável. Uma vez que o senso de “Eu” da pessoa passa a ser atribuído ao todo que o cerca, esta nova perspectiva transforma completamente como ele interage com aquilo que antes era para ele um ambiente alheio, externo. Por exemplo, ao interagir com um objeto no dia-a-dia, é muito comum achar que nós somos o agente central, organizando o mundo a nossa volta. Entretanto, quando se está vibrando em um estado de unidade com o ambiente, e o entrono, a interação com um objeto normalmente passa a ser sentido como se o sistema como um todo estivesse autonomamente se organizando e se desenvolvendo e que você não é mais um agente central operando o processo de interação. Mas sim, que o processo, de repente, se torna totalmente descentralizado e mútuo diagonalmente, conforme o ambiente de maneira autônoma, mecânica e harmoniosa responde a si mesmo, para desempenhar as funções pré-determinadas de uma interação em particular.
União entre o Ser e todos os sistemas externos
Podemos nos referir ao quarto, desses cinco níveis de intensidade como o “estado de unidade entre o Ser e todos os sistemas externos”. Ele pode ser definido como o colapso entre todas as fronteiras existentes entre o “Eu”, o ambiente externo perceptível, e tudo aquilo que a pessoa sabe existir fora dele por meio do modelo de realidade que ele tem armazenado dentro dele. A sensação é de que seu senso de identidade não é atribuído apenas ao ambiente externo, mas a toda a humanidade, a natureza, e o universo, na forma com que eles se apresentam em sua totalidade. A sensação normalmente é descrita com a frase “senti como se eu fosse um com o universo”.
Quando experimentada, esta perspectiva cria a sensação repentina e inegável de que você é – quase que literalmente – o universo inteiro, experimentando a si mesmo e atuando naquele ponto específico no espaço no qual o seu ego e a percepção consciente hoje reside. Geralmente, todos que passam por esta experiência imediata, universalmente sentem que esta sensação é inata e inegavelmente verdadeira!
União entre o Ser e a Criação de todos os ambientes Externos
O quinto nível de intensidade, o mais profundo deles, pode ser descrito como o “estado de unidade entre o Ser e a Criação de todos os sistemas externos”. Ele pode ser explicado como a experiência de colapso das fronteiras perceptíveis entre o senso de identidade da pessoa e todos os sistemas de comportamento externos. Isto inclui não apenas os sistemas conforme eles se apresentam no momento presente, mas como também, como cada ponto da existência através dos tempos – passado, presente e futuro – de acordo com o modelo de realidade que a pessoa tenha armazenado dentro de si.
Quando experimentado, este estado faz com que o seu senso de identidade passe a ser vinculado a todo o espaço e tempo incluindo todo e qualquer evento passado e futuro, como a criação do universo e a destruição da existência. Esta é uma perspectiva que costuma levar o viajante a sentir uma revelação que o torna consciente de que você, em termos do seu verdadeiro “Ser” (tudo que existe) é responsável pessoal e conscientemente, por tudo que é criado e desenvolvido no próprio universo.
É nesse estado em que algumas pessoas costumam reportar sub-perspectivas que se intrincam e se mesclam e em que, intrinsecamente, conclusões de natureza religiosa ou matafísica começam a surgir. Este estado inclui, mas não se resume a:
- A aceitação completa e repentina em relação à morte, como um componente fundamental da vida da pessoa. Isto ocorre, pois a morte passa a não ser a destruição do Eu (do self), mas em vez disso, apenas o fim deste ponto específico de consciência, que em sua ampla maioria sempre existiu e continuará existindo, em todas as outras coisas no qual esta consciência reside.
- Uma perspectiva na qual a pessoa se sente pessoalmente responsável por desenvolver, planejar e implementar cada detalhe específico e cada elemento da própria vida, da história da humanidade e do universo como um todo. Isto normalmente inclui uma sensação de culpa pela humanidade estar sofrendo e cometendo tantas falhas, mas também incluem atos de amor e de ter alcançado grandes feitos.
- A realização espiritual e religiosa que a pessoa tinha formado para si por meio de suas noções pré-concebidas e por conceitos que tem de Deus, ou da Essência Divina, passam agora por uma total e forçosa transformação na maneira que é percebida, assim como muda a natureza interna da pessoa que passou por esta experiência. Esta nova percepção é normalmente alcançada por meio de uma conclusão subconsciente de que os conceitos quase que antagônicos do “Eu” e de “Deus” passam a ser, ambos, definidos de forma idêntica, já que tudo é criação onisciente, onipresente e onipotente, que sustenta toda a existência.