Tag etnobotânica

Entrevista: Dennis Mckenna

PARA PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE MINNESOTA, PLANTAS ALUCINÓGENAS OFERECEM MAIS DO QUE O OLHO PODE VER
4 de Junho, 2013
Traduzido do texto original de Dan Olson,
Minnesota Public Radio (Fonte)

 

Dennis McKenna, etnofarmacologista e professor do Centro para a Espiritualidade e Cura da Universidade de Minnesota, Viajou para a Amazônia mais de uma dúzia de vezes para estudar to Plantas alucinógenas e medicinais. Fotografado aqui examindando a psychotria viridis (Chacrona) a planta da ayahuasca que contém DMT, na estufa do campus St. Paul em Minn. Segunda feira, 3 de Junho, 2013. (MPR Foto/Jeffrey Thompson)

ST. PAUL, Minnesota. — Para o olho destreinado, uma certa estufa de plantas  no campus St. Paul da Universidade de Minnesota, pode não parecer nada especial, mas Dennis McKenna, um etnofarmacologista, vê muito além do que isso.

Algumas podem curar doenças, como a pervinca de Madagascar. “Ela é a fonte de dois remédios muito importantes para tratar a leucemia infantil“, disse McKenna. Outras plantas da estufa são a fonte de substâncias psicodélicas que alguns cientistas afirmam ter poder terapêutico.

McKenna, que leciona no na Universidade no Centro para a Espiritualidade e a Cura, é uma autoridade em alucinógenos derivados de plantas como a Ayahuasca,  o chá feito na bacia amazônica da América do Sul e usado como parte de cerimônias religiosas. – “São usadas para buscar informações no mundo do espírito sobre as doenças e sobre que planta pode ser apropriada para usar em um paciente que está doente” diz o cientista.

Dennis McKenna veio para Minnesota 20 anos atrás para trabalhar na Aveda, a famosa companhia de utilização de plantas para produtos de cuidados pessoais. Além de seu trabalho na universidade, ele ensina no Peru e colabora com grupos de pesquisa sem fins lucrativos que investigam os usos terapêuticos dos psicodélicos.

 

EXPERIÊNCIA EM PRIMEIRA MÃO

Aos 16, em sua pequena cidade natal no Colorado, Dennis e um amigo ingeriram sementes de Datura porque ouviram falar que teria algum efeito sobre eles. Esse “algum efeito” se transformou em uma experiência psicodélica de 3 dias que ele confessa ter sido bastante desagradável. – “Especialmente para nossas mães que não sabiam o que estava acontecendo”, disse o professor.

McKenna teve sua primeira experiência com a Ayahuasca em 1991, em uma igreja no Brasil. Ele e centenas de outros se sentaram em um templo circular, enquanto um homem distribuía copos de papel com o que ele chamou de “Líquido marrom de gosto horrível“. Uma hora e duas doses mais tarde, ele disse que sentiu a força da Ayahuasca passar através dele como se estivesse subindo em um elevador de alta velocidade. Dennis disse que se sentiu energizado e estava lúcido e consciente como uma combinação de força e iluminação.

A primeira parte de sua experiência visionária foi de um ponto de vista de milhares de quilômetros ao longo da bacia amazônica, onde podia ver a curvatura da terra e redemoinhos de nuvens. No centro, havia uma enorme videira ancorada à terra lá embaixo.

Ele estava impressionado. Na parte seguinte da visão, ele foi transportado do espaço para debaixo da terra, como uma molécula de água perdida entre as fibras da raiz, onde se podia sentir a temperatura fria do solo. Então ele sentiu o que descreve como uma força osmótica que o espremia no sistema vascular da planta, flutuando, suspenso em um fluxo por um túnel abobadado, com uma luz verde no final, até chegar à folha.

No final ele disse que foi sacudido com uma sensação de tristeza esmagadora misturada com um profundo temor pelo delicado equilíbrio da vida no planeta, os processos frágeis que impulsionam e sustentam a vida. McKenna disse que chorou, sentiu tristeza, fúria e uma raiva direcionada para a nossa voraz espécie destrutiva, pouco consciente do próprio poder devastador.

Ele se lembra de uma voz calma que lhe dizia: “Você macacos só pensam em executar as coisas. Vocês nunca pensam que somos nós que permitimos isso acontecer“.

Ele interpretou a voz como sendo de toda a comunidade de espécies que constituem a biosfera do planeta. Ao fim da visão, que McKenna diz ter durado por volta de 20 minutes e incluiu emoções do desespero ao êxtase, uma sensação de alívio temperada com esperança tomou conta dele.

POUCOS ESTUDOS SOBRE OS EFEITOS

Sua primeira experiência alucinógena com ayahuasca reforçou a sua compreensão intelectual do funcionamento interno das plantas. –  “Foi-me dado um assento na primeira fileira do interior da planta, e começei a observar o processo de fotossíntese“. – disse o professor.

Os estudos com psicodélicos foram atrasados no final dos anos 1960 e início de 1970 quando o Congresso e o presidente Richard Nixon aprovaram a legislação que proibiu o uso de alucinógenos, o que fechou a porta para maioria das pesquisas. Porém, McKenna disse que alguns estudos parecem mostrar que a psilocibina, substância encontrada em uma espécie de cogumelo, ajuda a aliviar a ansiedade em pessoas com doenças terminais. Ele argumenta que pode ajudar o paciente a ter uma nova perspectiva sobre a morte. – ” ‘Sim, eu sei que estou morrendo, mas eu estou vivo agora e o que eu quero fazer é viver cada dia ao máximo‘ “.

McKenna disse também que outro psicodélico parece ajudar alguns alcoólatras e fumantes quebrar seus vícios e pode ajudar pessoas que sofrem de estresse pós-traumático lidar com a vida. – “Há uma dimensão espiritual para a cura. A medicina convencional fica meio desconfortável com esse conceito. É por isso que os psicodélicos são tão importantes. Eles podem trabalhar nessa interface entre farmacologia e espiritualidade“, argumentou o cientista. Segundo ele, menos de 10 por cento das plantas do mundo têm sido pesquisados ​​para possíveis usos medicinais.

 

Entrevista na íntegra (em inglês) para a Minnesota Public Radio