Entrevista: Dennis Mckenna

PARA PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE MINNESOTA, PLANTAS ALUCINÓGENAS OFERECEM MAIS DO QUE O OLHO PODE VER
4 de Junho, 2013
Traduzido do texto original de Dan Olson,
Minnesota Public Radio (Fonte)

 

Dennis McKenna, etnofarmacologista e professor do Centro para a Espiritualidade e Cura da Universidade de Minnesota, Viajou para a Amazônia mais de uma dúzia de vezes para estudar to Plantas alucinógenas e medicinais. Fotografado aqui examindando a psychotria viridis (Chacrona) a planta da ayahuasca que contém DMT, na estufa do campus St. Paul em Minn. Segunda feira, 3 de Junho, 2013. (MPR Foto/Jeffrey Thompson)

ST. PAUL, Minnesota. — Para o olho destreinado, uma certa estufa de plantas  no campus St. Paul da Universidade de Minnesota, pode não parecer nada especial, mas Dennis McKenna, um etnofarmacologista, vê muito além do que isso.

Algumas podem curar doenças, como a pervinca de Madagascar. “Ela é a fonte de dois remédios muito importantes para tratar a leucemia infantil“, disse McKenna. Outras plantas da estufa são a fonte de substâncias psicodélicas que alguns cientistas afirmam ter poder terapêutico.

McKenna, que leciona no na Universidade no Centro para a Espiritualidade e a Cura, é uma autoridade em alucinógenos derivados de plantas como a Ayahuasca,  o chá feito na bacia amazônica da América do Sul e usado como parte de cerimônias religiosas. – “São usadas para buscar informações no mundo do espírito sobre as doenças e sobre que planta pode ser apropriada para usar em um paciente que está doente” diz o cientista.

Dennis McKenna veio para Minnesota 20 anos atrás para trabalhar na Aveda, a famosa companhia de utilização de plantas para produtos de cuidados pessoais. Além de seu trabalho na universidade, ele ensina no Peru e colabora com grupos de pesquisa sem fins lucrativos que investigam os usos terapêuticos dos psicodélicos.

 

EXPERIÊNCIA EM PRIMEIRA MÃO

Aos 16, em sua pequena cidade natal no Colorado, Dennis e um amigo ingeriram sementes de Datura porque ouviram falar que teria algum efeito sobre eles. Esse “algum efeito” se transformou em uma experiência psicodélica de 3 dias que ele confessa ter sido bastante desagradável. – “Especialmente para nossas mães que não sabiam o que estava acontecendo”, disse o professor.

McKenna teve sua primeira experiência com a Ayahuasca em 1991, em uma igreja no Brasil. Ele e centenas de outros se sentaram em um templo circular, enquanto um homem distribuía copos de papel com o que ele chamou de “Líquido marrom de gosto horrível“. Uma hora e duas doses mais tarde, ele disse que sentiu a força da Ayahuasca passar através dele como se estivesse subindo em um elevador de alta velocidade. Dennis disse que se sentiu energizado e estava lúcido e consciente como uma combinação de força e iluminação.

A primeira parte de sua experiência visionária foi de um ponto de vista de milhares de quilômetros ao longo da bacia amazônica, onde podia ver a curvatura da terra e redemoinhos de nuvens. No centro, havia uma enorme videira ancorada à terra lá embaixo.

Ele estava impressionado. Na parte seguinte da visão, ele foi transportado do espaço para debaixo da terra, como uma molécula de água perdida entre as fibras da raiz, onde se podia sentir a temperatura fria do solo. Então ele sentiu o que descreve como uma força osmótica que o espremia no sistema vascular da planta, flutuando, suspenso em um fluxo por um túnel abobadado, com uma luz verde no final, até chegar à folha.

No final ele disse que foi sacudido com uma sensação de tristeza esmagadora misturada com um profundo temor pelo delicado equilíbrio da vida no planeta, os processos frágeis que impulsionam e sustentam a vida. McKenna disse que chorou, sentiu tristeza, fúria e uma raiva direcionada para a nossa voraz espécie destrutiva, pouco consciente do próprio poder devastador.

Ele se lembra de uma voz calma que lhe dizia: “Você macacos só pensam em executar as coisas. Vocês nunca pensam que somos nós que permitimos isso acontecer“.

Ele interpretou a voz como sendo de toda a comunidade de espécies que constituem a biosfera do planeta. Ao fim da visão, que McKenna diz ter durado por volta de 20 minutes e incluiu emoções do desespero ao êxtase, uma sensação de alívio temperada com esperança tomou conta dele.

POUCOS ESTUDOS SOBRE OS EFEITOS

Sua primeira experiência alucinógena com ayahuasca reforçou a sua compreensão intelectual do funcionamento interno das plantas. –  “Foi-me dado um assento na primeira fileira do interior da planta, e começei a observar o processo de fotossíntese“. – disse o professor.

Os estudos com psicodélicos foram atrasados no final dos anos 1960 e início de 1970 quando o Congresso e o presidente Richard Nixon aprovaram a legislação que proibiu o uso de alucinógenos, o que fechou a porta para maioria das pesquisas. Porém, McKenna disse que alguns estudos parecem mostrar que a psilocibina, substância encontrada em uma espécie de cogumelo, ajuda a aliviar a ansiedade em pessoas com doenças terminais. Ele argumenta que pode ajudar o paciente a ter uma nova perspectiva sobre a morte. – ” ‘Sim, eu sei que estou morrendo, mas eu estou vivo agora e o que eu quero fazer é viver cada dia ao máximo‘ “.

McKenna disse também que outro psicodélico parece ajudar alguns alcoólatras e fumantes quebrar seus vícios e pode ajudar pessoas que sofrem de estresse pós-traumático lidar com a vida. – “Há uma dimensão espiritual para a cura. A medicina convencional fica meio desconfortável com esse conceito. É por isso que os psicodélicos são tão importantes. Eles podem trabalhar nessa interface entre farmacologia e espiritualidade“, argumentou o cientista. Segundo ele, menos de 10 por cento das plantas do mundo têm sido pesquisados ​​para possíveis usos medicinais.

 

Entrevista na íntegra (em inglês) para a Minnesota Public Radio

Entrevista Terence Mckenna – O Fim da Divindade Mecânica

Segue abaixo um capítulo do livro FIM DA DIVINDADE MECÂNICA, compilado por John David Ebert, editado no Brasil pela Editora Teosófica.
São entrevistas com grandes pensadores como Terence, Stanislav Grof, Ralph Abraham, etc.

Colocamos aqui o capítulo 05 – Etnobotânica, que é uma excelente entrevista com Terence McKenna.

Vale a pena dá uma lida neste livro, segue a descrição :

“Essa série de conversas com alguns dos principais pensadores do mundo atual descreve e revela a mudança radical que tem alterado a nossa maneira de olhar o mundo. Trata-se de uma transformação cultural revolucionária. No entanto, até agora ela tem ocorrido em grande parte inconscientemente, como se as suas partes não formassem um todo. Essa obra devolve ao leitor a capacidade de enxergar o todo. A visão científica e a visão religiosa, antes separadas, se reencontram. E como resultado disso nós percebemos de outra maneira, nova e abrangente, qual é o nosso lugar no universo. O Fim do Deus Previsível abre um diálogo para que pensadores das mais diferentes áreas expressem suas visões sobre a vida e o mundo, usando suas próprias palavras, e compartilhando o hábito de pensar de modo criativo, multidimensional, inovador e não-dogmático. Deepak Chopra: a ioga do desejo. Ruper Sheldrake: o envelhecimento das células e a física dos anjos. Stanislav Grof: o nascimento, a morte e o que está além. Lynn Margulis: a evolução de Gaia. Ralph Abraham: os alicerces do Caos. Brian Swimme: Deus e o vácuo quântico. Terence McKenna: a etnobotânica. William Irwin Thompson: a imaginação da cultura. São oito conversas profundas, descontraídas. Elas revelam aspectos centrais da civilização humana que surge no século 21″

Terence McKenna e o Jardim dasDelícias Psicodélicas

No que vem a ser um tipo de piada psicodélica interna, os auto­res William Gibson e Bruce Sterling ressuscitam T.H. Huxley, avô do famoso Aldous, para uma cena no romance que escreveram, The Diffe­rence Engine (A Máquina da Diferença). Um paleontólogo que havia acabado de retomar à América dá a Huxley alguns botões de peiote que recebera de um xamã nativo norte-americano. Huxley, recebendo o presente, diz, “Certas toxinas vegetais têm a propriedade de produzir visões.” Depois ele guarda os botões numa gaveta da escrivaninha e diz, “…cuidarei para que sejam devidamente catalogadas depois”. 1

A piada, claro, é que Huxley não fará absolutamente nada com relação aos botões de peiote, até que, com as experiências de seu neto Aldous com mescalina, em meados do século vinte, o valor do peiote seja descoberto. Pois foi em 1955 que Aldoux Huxley ingeriu quatro décimos de grama de mescalina – o princípio psicoativo do peiote – e descobriu que, nas palavras de James Joyce, “qualquer objeto, intensa­mente considerado, pode tomar-se um portal para o incorruptível eon dos deuses.” O livro de Aldous Huxley As Portas da Percepção, no qual ele relata esta experiência, mais tarde cairia nas mãos do menino de 14 anos Terence McKenna, para quem o livro iria prover o ímpeto de toda uma vida de exploração nas profundezas insondáveis da consciên­cia humana.

A atitude de T.H. Huxley, porém – como Gibson e Sterling ima­ginaram – tipifica a atitude do estudioso com relação a esses assuntos: conhecimento bom para as páginas amareladas de volumes desgastados nas estantes das bibliotecas, mas que não tem relação com o mundo da experiência vivida. É extremamente irônico o fato de que o método científico concebido por homens como Leonardo da Vinci e Francis Bacon enfatiza precisamente a validade da experiência individual. A civilização ocidental, aliás, foi moldada pela mitologia da experiência individual, em oposição à ultrapassada noção oriental da confiança na autoridade de outros, e deve seu êxito atual àqueles grandes pioneiros que tiveram a coragem de visitar terras que se pensava estarem apinha­das de estranhas criaturas boschianas que lhes guardavam os portões. É esta mitologia ocidental da experiência pessoal que, por exemplo, im­peliu Vesalius a rejeitar a autoridade de Galeno e a abrir corpos huma­nos, para verificar de uma vez por todas a estrutura da anatomia huma­na; ou a coragem prometeica de Galileu em desafiar aquela encarnação renascentista de Zeus – a própria Igreja Católica – e olhar através do telescópio para o que ninguém jamais ousara olhar antes com tanta in­tensidade; ou as migrações transatlânticas de Colombo (de “columba”, pomba) com o intuito de descobrir por si mesmo se as Índias podiam ser alcançadas navegando-se para além do-pôr-do-sol. Até os vôos espaci­ais da Apollo e nossa atual exploração de Marte, nos dias atuais, o mito permaneceu essencialmente sem mudanças.

Aquele “território transcendental da mente”, porém, que Aldous Huxley descreveu – os labirintos obscuros e desconhecidos da consci­ência humana – ainda permanece, na maior parte, inexplorado pelos ocidentais. A investigação da mente inconsciente só começou com Freud e seus predecessores românticos alemães do século dezenove.

Terence McKenna é um dos tais Magalhães da consciência, e a sua jornada começou com uma viagem à Ásia em 1967 para estudar a iconografia pré-budista dos thangkas tibetanos. Ele descobriu, em vez disso, que as raízes do Budismo tibetano estão no Xamanismo nativo de Bon-Po, no qual alguns praticantes usam haxixe e a figueira-do-inferno, alucinógena, para catalisar suas viagens xamânicas.

Em 1971, Terence e seu irmão Dennis fizeram uma viagem à bacia amazônica em busca de um experiência xamânica autêntica, e no processo encontraram uma espécie de cogumelo que continha psilocybin (Stropharia cubensis) que, diz McKenna, só fica atrás do DMT (dimetiltriptamina) em seu poder de induzir a uma viagem alu­cinógena ao reino dos Ancestrais. E normalmente é este reino que os xamãs contatam para obter conhecimento e informação valiosa capaz de curar as aflições de suas comunidades, ou as desordens de uma pessoa específica. Tais cosmonautas interiores podem, nas palavras de Aldous Huxley, “tornar-se condutores através dos quais alguma influência be­néfica possa fluir daquele outro campo para um mundo de eus obscure­cidos, cronicamente morrendo por falta dessa influência.” As experiên­cias dos irmãos McKenna com a telepatia, a sincronicidade e encontros com OVNIs são descritas com vívidos detalhes no livro de McKenna True Hallucinations (Alucinações Verdadeiras), de 1993.

A maior tarefa que tiveram ao retomarem do submundo xamâ­nico da Amazônia foi, nas palavras de Joseph Campbell, saber “como expressar numa linguagem compreensível para o mundo da luz os pro­nunciamentos do mundo da escuridão que desafiavam a própria capaci­dade de falar”. Desafio a que responderam com um livro intitulado The Invisible Landscape (A Paisagem Invisível), de 1975. Nesta obra estra­nha e poética os autores tentam compreender completamente, através de uma síntese de ciência, filosofia e história, as implicações de suas expe­riências na Amazônia. Na teoria geral da ressonância da natureza que eles expandiram como alguma hélice exótica do DNA cultural, o mi­crocosmo da viagem xamânica aos interiores das consciências humana e cósmica está mapeado no macrocosmo do tempo e espaço através de uma filosofia da história que McKenna chama “A Onda do Tempo.” Nesta teoria, os eventos da história são descritos como uma onda fraci­onada não-linear na qual as épocas distantes influenciam épocas sepa­radas pelo tempo e pelo espaço através de ressonâncias em sua similari­dade estrutural.

Em 1976, os autores deram prosseguimento a esse trabalho com Psilocybin: the Magic Mushroom Grower’s Guide (Psilocybin: Guia do Plantador do Cogumelo Mágico), e em 1991, McKenna juntou uma década e meia de ensaios e entrevistas em The Archaic Revival (O Re­nascimento Arcaico).

Em 1992, apareceu o livro de Terence McKenna Food of the Gods (O Alimento dos Deuses), no qual ele afirma que a sua história das origens da consciência humana foi precipitada pela ingestão de cogumelos psicoativos. Também o livro faz a crônica do longo declínio do uso do cogumelo e sua história insatisfatória de substitutos como o ópio, açúcar, café, e heroína ao longo da evolução humana.

Naquele mesmo ano, o longo intercâmbio de McKenna com o biólogo Rupert Sheldrake e com o teórico do caos Ralph Abraham culminou com o aparecimento do livro deles Trialogues at the Edge of the West (Triálogos nos Limites do Ocidente), ao qual se juntou uma se­qüência, The Evolutionary Mind: Trialogues at the Edge of the Un­thinkable (A Mente Evolucionária: Triálogos nos Limites do Impensá­vel), em 1998.

No momento dessa entrevista, McKenna estava escrevendo um livro em co-autoria com Philippe DeVosjoli, que iria chamar-se Casting Nets into the Sea of Mind (Lançando Redes no Mar da Mente). McKen­na promete uma futura explicitação completa de suas teorias da evolu­ção da consciência humana e sua relação com a linguagem e a tecnolo­gia.

JE: No seu primeiro livro, The Invisible Landscape (A Paisagem Invisível), você e seu irmão Dennis desenvolvem o que parece ser um tipo de teoria geral da ressonância da natureza que inclui a experiência visionária do xamanismo como também as épocas mais elásticas do tempo histórico. Gostaria de discutir como essa teoria surgiu de suas reflexões sobre a natureza do tempo após sua viagem à Amazônia em 1971.

TERENCE MCKENNA: Bem, penso que provavelmente a percepção central em tudo aquilo foi a idéia de que o tempo é realmente, quando você o ana­lisa, metabolismo, que é a única qualidade que se associa com a vida orgânica, por meio do qual a vida cria um sistema aberto longe do equi­líbrio e por aquele meio sustenta-se no tempo e através do tempo. As­sim a estrutura da vida orgânica, especificamente a estrutura do DNA, é, penso eu, uma resposta evolucionária única a este impulso termodi­nâmico em direção ao desequilíbrio que parece caracterizar a biologia. Estudando o metabolismo – o que, em termos práticos, significa olhar para o interior de nossas células – podemos realmente não apenas en­tender o que é o tempo, mas fazer generalizações sobre o tempo que podemos efetivamente estender a outros domínios do universo.

JE: É interessante o modo como você conecta o micro­cosmo com o macrocosmo em True Hallucinations (Alucinações Verdadeiras). Por exemplo, você fala de como construiu toda essa teoria da ressonância em torno do número 64. que você diz ser significativo tanto para o DNA – no qual há 64 seqüências possí­veis de codons – quanto para o I Ching, no qual há 64 hexagra­mas. 2 Você poderia falar um pouco sobre como chegou a essa conclusão meditando sobre esse número?

TERENCE MCKENNA: Sessenta e quatro é um número interessante. São dois para seis e surge a partir do quatro, o que, de acordo com Jung e outros, é uma divisão primária do espaço, do tempo e da realidade. Nós vivemos num universo em quatro dimensões. A minha noção sobre o I Ching era de que se o levássemos a sério – e certamente o levamos – (e por levar a sério quero dizer se o reconhecemos como tendo uma estranha habili­dade para funcionar como anunciado), então parece razoável perguntar, como ele faz isso? Eu creio que o modo como ele deve fazê-lo é sendo, como você mencionou, de algum modo um microcosmo do macrocos­mo maior. E a conclusão de que era diretamente análogo à estrutura do DNA, parecia ser a prova. O I Ching é uma visão primária na estrutura não apenas do universo em que vivemos, mas da Mente na qual estamos incluídos e que observa o universo.

JE: A sua teoria da ressonância do tempo sugere que eventos distantes na história possam ter um efeito ou uma influ­ência sobre eventos presentes através de um tipo de ressonância de suas similaridades estruturais. Por exemplo, você compara o fim do Império Romano com os eventos de hoje em dia. Você pode discutir como ocorre essa ressonância?

TERENCE MCKENNA: Claro. Antes de mais nada relembremos o que pressupõe a teoria histórica convencional: que o momento mais importante em ter­mos de moldar este momento é aquele que imediatamente o precedeu. Eu assumi um ponto de vista diferente, e senti que um determinado momento histórico no tempo é um tipo de onda permanente de padrões de interferência criado por outros momentos no tempo que podem ou não tê-lo precedido imediatamente. Assim, por exemplo, A Idade de Ouro Grega, embora esteja agora situada a 2500 anos de distância no passado, ainda assim continua a moldar nossas idéias a respeito da lei e da sociedade. E em qualquer situação dada há muitas destas influências agindo, algumas delas trivialmente, para dar-nos banheiras com pernas em formas de garras e coisas assim; e algumas muito profundamente, nos querendo passar a durabilidade da democracia ou coisa semelhante.

JE: Você acha que o fato de seu modelo terminar no mesmo ano que o calendário Maia – 2012 d.e – sugere algum tipo de ressonância entre a nossa cultura e a dos Maias? 3

TERENCE MCKENNA: Não tenho certeza do que isso significa. Eu creio que todas as culturas que olhem profundamente no tempo, se chegarem a conclu­sões corretas, terão modelos de algum modo congruentes. Mesmo se olharmos para a civilização ocidental e seus calendários, atravessamos o final de um milênio apenas doze anos antes do fim do calendário Maia. Numa escala de mil anos, esta é uma diferença de ponto doze por cento.
Assim, de modo bastante estranho, a vida inconsciente das cul­turas parece sincronizar-se com estes ritmos cósmicos muito extensos, quer a cultura reconheça estes ritmos ou não. É apenas a canção da pai­sagem temporal, se você quiser.

JE: No lado microcósmico, no seu livro The lnvisible Landscape, você e seu irmão desenvolvem uma teoria de que as experiências visionárias do xamanismo são ativadas quando o psilocybin se liga quimicamente com o DNA neural. Você gosta­ria de discutir esta teoria?

TERENCE MCKENNA: Bem, no metabolismo comum, o psilocybin é um antago­nista, significando um competidor, em relação à serotonina, que é um simples transmissor cerebral na sinapse. Porém, uma percentagem muito pequena de psilocybin chega até o núcleo da célula. Há afinida­des estruturais muito surpreendentes entre o DNA e muitas dessas mo­léculas psicodélicas que aparecem naturalmente. Como você sabe, o DNA pode ser visualizado como uma estrutura tipo escada, enquanto muitas dessas drogas moleculares são chamadas planares, o que signifi­ca apenas achatadas, e são do tamanho e geometria apropriados para permitirem-se encaixar dentro e fora dos espaços entre os nucIeotídeos do DNA. Este processo é chamado intercalação. É bem estudado, mas ninguém sabe qual pode ser o propósito ou as conseqüências deste ajuste perfeito entre as estruturas do DNA e estas drogas moleculares. 4

JE: Karl Pribram fala sobre o paradigma holográfico do armazenamento da memória, mas ele parece estar preocupado com isso do ponto de vista individual, enquanto que você e o seu irmão expandiram a visão sugerindo que algo como a alma do mundo ou o inconsciente coletivo está também de algum modo acessível na experiência psicodélica?

TERENCE MCKENNA: Sim, se aceitarmos o modelo junguiano de um inconsciente coletivo – um conjunto compartilhado de imagens arquetípicas que não são concedidas culturalmente – então nós temos a considerar, como você mencionou, não apenas o problema da memória individual, mas o problema maior dessas memórias raciais ou arquetípicas. Acho que tomamos as coisas difíceis demais para nós nesta área colocando tanta fobia e estresse ao fazermos a pesquisa psicodélica. O nosso medo pre­coniza que qualquer pessoa que escolha se concentrar nas áreas de far­macologia ou biologia molecular está escolhendo uma vida de pura marginalização. É muito difícil obter financiamento, e há muito pouco apoio institucional.

JE: Eu estou curioso acerca do que você pensa sobre o trabalho de Stanislav Grof com o LSD e a teoria dele de que rea­tiva o trauma do nascimento.

TERENCE MCKENNA: Bem, o Stan é meu amigo pessoal, e ele fez um trabalho muito corajoso com o LSD. Quando o LSD tornou-se ilegal, ele desen­volveu um modelo de técnicas respiratórias para levar as pessoas para a mesma área. Tendo dito isso, a minha própria exploração pessoal da psique não tendeu a apoiar a teoria dele sobre as várias matrizes peri­natais. Eu chamaria isso de uma teoria neo-freudiana. Tenho a mente aberta acerca disso, mas não creio que a maioria das pessoas que não ouviram falar da teoria de Grof fariam experiências que realmente pu­dessem ser mapeadas por aquele sistema.

JE: Você poderia discutir, então, o que são, em sua expe­riência, as diferenças nos conteúdos visionários do LSD versus a experiência com psilocybin?

TERENCE MCKENNA: Bem, sim, de certo modo. Cada uma destas coisas, sendo quimicamente única, é como uma lente feita de vidro com coloração ligeiramente diferente. O LSD vai diretamente à estrutura da personali­dade, às estruturas que surgiram através das experiências na vida do indivíduo, de modo que é muito bom para trabalhar através daquilo que eu penso ser assuntos psicoanalíticos normais. É, de modo relutante, um alucinógeno. Em outras palavras, transforma a qualidade dos pensa­mentos, mas não transforma o input no córtex visual tão dramatica­mente quanto o fazem algumas destas outras coisas.

Os compostos que são derivados de plantas, por outro lado ­psilocybin ou DMT – parecem estar cheios de sua própria informação a qual desejam passar adiante. De modo que muitas vezes não se sai com um profundo insight com relação aos próprios relacionamentos ou situ­ação de paternidade, mas em vez disso com um sentido muito mais profundo de conexão com a dinâmica da natureza ou, quase se pode dizer, com o mundo da energia do espírito ou energia mágica. Agora, por que esta diferença deve ser obtida entre o psilocybin e o LSD … A causa pode ser estrutural ou pode haver algo mais profundo.

Por exemplo, a causa pode envolver algo como a noção dos campos morfogenéticos de Sheldrake. O LSD, afinal de contas, foi in­ventado no século vinte, ao final dos anos trinta, e está inteiramente caracterizado pelos europeus e americanos do século vinte. Os com­postos como o psilocybin, por outro lado, usado por milênios pelos po­vos tribais das montanhas do México, teriam, certamente, um tipo de campo morfogenético completamente diferente.

JE: Você mencionou que o psilocybin facilita o contato com o que parece ser uma Mente estranha ou inteligência de al­gum tipo. Você tem uma teoria sobre OVNI’s que sugere que eles poderiam de algum modo ser sugestões desta inteligência fora da psique. Você poderia discutir isso?

TERENCE MCKENNA: A psique, ou consciência, é um conceito muito escorrega­dio. Um pesquisador, Julian Jaynes, sugeriu que a consciência humana mudou sua natureza mesmo nos tempos históricos. Jaynes fala que nos tempos homéricos, o ego como o conhecemos não existia, exceto sob extremo estresse. E então se apresentava quase como uma intrusão exte­rior na consciência, como a voz de um deus. 5 Eu acho que a maior dife­rença entre a consciência materialista moderna e a consciência xamâni­ca arcaica é que esta última interpreta muito de suas percepções como vindas de um Outro inteligente e organizado. E eu, após haver passado pela interpretação extraterrestre durante vários anos, cheguei à opinião de que este Outro que contatamos através destas coisas é nada mais nada menos que um tipo de inteligência integrada que permeia o planeta inteiro. Por falta de uma melhor descrição, vamos simplesmente chamá-la de Supermente de Gaia.

Eu acho que durante muito tempo ao longo da história, as pes­soas estavam totalmente conscientes, totalmente à vontade com a lin­guagem e o teatro e os rituais e a magia, mas estavam no berço, diga­mos assim, ou embutidos num diálogo quase contínuo com o resto da realidade, experienciada como uma consciência contínua a que chama­vam o Grande Espírito, ou os Ancestrais, ou simplesmente Deus. A herança cultural e lingüística do Ocidente tem sido em larga escala uma construção de defesas contra este Outro e uma substituição Dele pelo ego de massa da humanidade, politicamente expresso.

Assim, quando entramos na selva, ingerimos plantas psicodéli­cas e executamos antigos rituais paradigmáticos, se conseguirmos dis­solver o condicionamento e as expectativas de modernidade e materia­lismo. descobrimos que este mistério ainda está lá, ainda vivo, ainda capaz de dialogar conosco. E isso deixa as pessoas absolutamente con­fusas. Elas reagem a isso com o êxtase ou com o medo, ou com histórias de conversão religiosa ou abdução alienígena. Depende inteiramente de como a coisa reage sobre você. Neste caso, a revelação de um homem é o pesadelo de outro. Mas a coisa que jaz por trás de tudo isto é algum tipo de mente natural, viva e inteligente, que é simplesmente uma ex­tensão da biosfera, de Gaia.

JE: Em seu livro Food of the Gods (Alimento dos Deu­ses), você lida com algumas das dimensões históricas do uso dos alucinógenos. Você visualiza a história da cultura como um constante declínio no uso de alucinógenos derivados de plantas e a substituição gradual destes por substitutos insatisfatórios como o álcool, o ópio, o fumo, a cocaína, etc. É possível que se as pes­soas usassem alucinógenos de um modo mais rituailizado e con­trolado, tal como, digamos, duas vezes ao mês, que isso poderia reduzir significativamente o uso abusivo de algumas destas ou­tras drogas?

TERENCE MCKENNA: Deus meu, duas vezes ao mês! Isso seria uma revolução, não seria? Eu acredito que as pessoas sem essa mãozinha da inteligên­cia de Gaia sobre a qual estávamos falando estão simplesmente num mato sem cachorro. Elas têm o marxismo, e a moderna publicidade, e quaisquer que sejam os valores culturais nos quais nasceram para guiá­-los, mas inevitavelmente, como destacou Freud no livro O Mal-estar na Civilização, estas coisas levam à neurose.

Penso que a chave para entender a experiência psicodélica, quer você a ame ou a deteste, é que ela dissolve as fronteiras. Dissolve a programação cultural e a substitui por um tipo de programação muito mais básica que está no animal humano. Todas as culturas nos desviam desta fonte original de autenticação pessoal. E nesse sentido, Freud es­tava certo; toda cultura é neurótica. Assim, no livro que você mencio­nou, e também num outro livro meu chamado The Archaic Revival (O Renascimento Arcaico), eu simplesmente assinalo que quando as civili­zações tornam-se massivamente neuróticas, parecem ter um reflexo instintivo de voltar no tempo em busca de um modelo. 6 Por isso a Re­nascença criou o Classicismo como resposta à falha da igreja medieval. É por isso que no século vinte presenciamos surtos de fenômenos que vão do cubismo e surrealismo ao rock and roll. Estes são impulsos em direção a um estado mental arcaico. No centro deste impulso em dire­ção ao estado mental arcaico está a dissolução da fronteira dos valores culturais que ocorre sob o efeito de psicodélicos. Certamente que se pudéssemos encontrar algum meio de trazer isso às pessoas – e eu acho que duas vezes ao mês soa muito mais freqüente do que o necessário ­na razão de uma vez ao ano e de um modo poderoso, seria suficiente para manter as pessoas operando à luz do conhecimento correto de que há valores estruturais maiores que o conhecimento que lhes está sendo passado através da mídia de massa e das convenções culturais.

As pessoas estão ficando absolutamente famintas por autentici­dade, e nesse meio tempo lhes é oferecida uma seleção interminável de carros alemães, produtos para os cabelos, novos sabores de sorvetes e divertimentos sem graça, e nada disso satisfaz, porque aquilo que as pessoas realmente necessitam é um sentido autêntico de seu próprio ser e de sua própria importância no esquema natural das coisas. A cultura não pode responder a isso a não ser que abra espaço para a transcendên­cia de si mesma.

JE: Em Food of the Gods você sugere que a consciência humana pode ter-se desenvolvido da consciência dos seus ances­trais hominídeos como resultado de os hominídeos haverem in­corporado cogumelos alucinógenos em sua dieta. Qual é a evi­dência primária que temos do uso de cogumelos na história hu­mana?

TERENCE MCKENNA: Eu acho que a mais antiga evidência que eu consideraria como tendo algum peso é um grupo de imagens escavadas na rocha no platô Tassili, ao sul da Argélia. Eles continuam dando idades cada vez mais antigas para essas coisas, mas creio que agora chegaram a cerca de 12.000 anos. Aí vemos xamãs com cogumelos brotando de seus corpos e as mãos cheias de cogumelos. 7 Este tipo de evidência, porém, jamais foi buscado, e nas áreas onde eu acho ser mais provável de se encontrar, nenhuma escavação jamais foi feita – especificamente, no sul da Argé­lia. Poder-se-ia fazer estudos polinológicos em busca de esporos de cogumelos. Poder-se-ia tentar encontrar rochas ainda mais remotas e representações de arte em rocha ainda mais antigas, destes xamãs, con­sumidores de cogumelos. o grande embaraço da teoria comum da evolução, você sabe, é a explosão muito dramática no tamanho do cérebro humano num período muito curto de tempo evolucionário. Um biólogo evolucionário, Lurnholz, o chama de a mais dramática transformação de um órgão importante de um animal superior em todo registro fóssil. Bem, é um grande embaraço para a evolução, porque se pode notar que o cérebro é o órgão que criou a teoria da evolução. Assim, se não podemos dar conta de sua origem subimos por uma escada que não tem degrau para descanso.

Algo extraordinário estava acontecendo com a situação hominí­dea, digamos entre 125.000 e 25.000 anos atrás. Todas as outras teorias falharam. Eu me concentrei no psilocybin mas realmente quando con­verso com os meus pares neste campo, o que estou dizendo é que aquilo para o que precisamos olhar é a dieta. A dieta é um dos principais fato­res que afetam as taxas de mutação em qualquer espécie. A razão por que a maioria das espécies animais têm dietas muito definidas e especi­alizadas é que a dieta é uma estratégia evolucionária conservadora para limitar a exposição a compostos mutagênicos, e daí à mutação. Quando uma espécie está sob pressão nutricional e começa a experimentar ali­mento anteriormente considerado marginal ou inaceitável, ora, isso na­turalmente quer dizer que o genoma vai ficar exposto a nova tensão química através da cadeia alimentar, e que se vai adquirir mais defor­midades no nascimento, cegueira, baixo QI, baixa taxa de natalidade. Mas também se vai adquirir a muito rara e positiva mutação, e a taxa dessas mutações positivas será também concomitantemente elevada um pouco.

Assim, penso que o lugar onde procurar a explicação da ruptura na evolução humana é o período em que deixamos de ser uma criatura que vivia ao relento, sob o céu. A mudança subseqüente na dieta e as comoções pela exposição a vários agentes químicos causaram muitas mudanças nos seres humanos. O psilocybin é simplesmente uma das mais dramáticas. Podemos construir um cenário com o psilocybin que considero muito atrativo para os biólogos evolucionários, porque mostra como o psilocybin, contribuindo crescentemente com pequenas vanta­gens, poderia ter provocado uma importante influência química na evolução da arquitetura do cérebro e da consciência.

JE: Em Food of the Gods você traça um arco de difusão histórica de uma sociedade inspirada por uma deusa, original­mente comedora de cogumelos – o povo Tassili no paleolítico no norte da África – e o segue através da Ásia Menor à medida que viaja para o interior do Catal Huyuk anatoliano, de onde migra para a Creta de Mino. Finalmente. os gregos adotam essa cultura da Deusa na forma muito reduzida dos mistérios eleusianos, nos quais a ferrugem alucinógena das gramíneas pode ter sido usada, do mesmo modo que os cretenses usavam o ópio. A minha per­gunta, então, é, você tem alguma idéia de exatamente onde foi, ao longo deste caminho, e por que motivo foi que o consumo do co­gumelo desapareceu?

TERENCE MCKENNA: Sim, eu o associo inteiramente a lentas mudanças no clima. Em outras palavras, provavelmente de 100.000 a 125.000 anos atrás ocorreu o período mais propício em termos de tamanho e extensão das chuvas, e a sobreposição mais propícia, também, de ecossistemas de cogumelos e de habitats humanos. Toda a África do Norte era um vasto pasto com animais ungulados evoluindo e muitas correntes de água descendo das terras altas. E aquelas pastagens tinham surgido de uma mudança climática. Antes disso, em um tempo ainda anterior, houvera florestas. Mas à medida que as pastagens deram lugar ao deserto ao longo dos milênios, os cogumelos – o seu alcance, a disponibilidade, e a potência – todos sofreram retração ou diminuição. À medida que o pro­cesso continuou, a população humana ou passou sem, ou começou a procurar substitutos. E nenhum substituto tem realmente o mesmo efeito que o original, e assim se tem os cultos da cerveja, a fermentação de sucos de frutas em vinho, experiências com cânhamo e ópio. Mas foi simplesmente uma série de desastres climatológicos, e o que liquidou a coisa toda – que também foi uma resposta a esta mudança climatológica – foi a invenção da agricultura. Eu acredito que Frazer em The Golden Bough (O Ramo Dourado) diz alguma coisa sobre o fato de que, quando os deuses se tornaram alimento, as grandes orgias e celebrações ficaram marginalizadas, porque os valores culturais que se tornaram importantes naquele tempo foram a habilidade de levantar-se de manhã bem cedo, pegar a enxada e ir trabalhar.

JE: Alguns estudiosos têm dito que o consumo de alu­cinógenos é um substituto pobre para a longa e difícil estrada da disciplina espiritual que é necessária, dizem eles, para se tomar verdadeiramente iluminado. Como você responde a este ponto de vista ? 8

TERENCE MCKENNA: Bem, eu não sei, acredito que eles estejam verdadeiramente iluminados. Esse é um assunto difícil de se tocar. Este é um ar­gumento corrente e interminável em todos os níveis da antropo­logia. O grande proponente deste ponto de vista de que eu tenho conhecimento é Mircea Eliade, que assumiu a posição de que o que ele chamava “xamanismo narcótico” era de algum modo de­cadente, e que o verdadeiro xamanismo era passar por provações e perder-se na selva e coisas desse tipo. Eu não acredito que os povos aborígines gostavam mais de desconforto e desprazeres do que nós. Frente a um sem-número de métodos para chegar ao mesmo fim, a maioria de nós escolheria o método mais eficaz e não-destrutivo. Eu realmente acredito que quando o acesso direto ao mistério ou ao espírito se torna problemático por qualquer ra­zão, é então que se tem a codificação do dogma, a nomeação de classes especiais de pessoas para interpretar para o restante de nós as vontades do mundo invisível. E então se tem listas morais do que se deve fazer e não fazer. E tudo se torna religião organi­zada. A fobia que a maioria destas religiões organizadas mostra em relação à experiência psicodélica é simplesmente que elas sentem aí um competidor muito poderoso para seus clientes.

JE: Você mencionou que viajou por um tempo pela Ásia experimentando estas várias técnicas de Ioga e que não fizeram efeito em você?

TERENCE MCKENNA: Bem, não é que não funcionem; elas não produzem a expe­riência psicodélica. Produzem experiências muito interessantes e úteis, e certamente ensinam autodisciplina e tudo o mais. Mas eu acho que com a religião organizada há uma tensão interna porque a religião está no momento e procura responder às aspirações do homem além deste mundo, e ainda inevitavelmente a religião volta-se para os seus esque­mas de investimento, seu próprio auto-engrandecimento, seu desejo de atrair mais pessoas e mais território para sua área de influência. Assim eu sempre senti que a autêntica viagem religiosa era algo que ia aconte­cer entre um simples ser humano e os Espíritos. Eu penso que é uma pena que a religião tenha tanto medo da experiência direta que acabe colocando inevitavelmente um tipo de elite entre o homem comum e o mistério.

JE: Você já tomou psilocybin em conjunção com um tan­que de isolamento?

TERENCE MCKENNA: Na realidade jamais fiz isso num tanque. Não creio que se tenha de ir tão longe, mas o melhor meio para estas coisas é o que eu chamo de confortável escuridão silenciosa. Algumas pessoas querem ouvir música e isso certamente causa arrebatamento. Mas nada pode­mos fazer com a notícia de que Bach é Deus; já sabemos disso. Eu acho que quando as pessoas têm que ter música ou livros de arte empilhados à sua volta, elas já estão se deixando influenciar. As riquezas interiores da silenciosa mente humana estão além de qualquer coisa que já tenha­mos criado em qualquer situação elegante ou em qualquer sociedade esplendorosa que já tenhamos tido neste planeta. E essa notícia em ter­mos existenciais é realmente bastante fortalecedora. Toda a sociedade de consumo de que fazemos parte é na realidade um sistema para causar maravilhas. Brinquedos, roupas, jogos e divertimentos: tudo isso é para deixá-lo atônito e para arrebatá-lo. Bem, se você estivesse cultivando cogumelos no esterco de vaca no seu quintal, você rapidamente desen­volveria um relacionamento completamente diferente com tais maravi­lhas. Você certamente chegaria à conclusão de que há uma infinitude de tais maravilhas, e que a maioria delas está dentro de você.

Assim, novamente eu vejo a cultura oferecendo substitutos ba­ratos da experiência autêntica. A cultura quer que você rejeite o passa­do, antecipe o futuro, e mal perceba a presença sentida da experiência imediata. Do meu ponto de vista, esse é o valor mais tóxico que tolera­mos; a desvalorização de nossos sentimentos à medida que eles ocorrem no ato de viver no momento, num lugar determinado no espaço e no tempo. Isso é o que nós somos, isso é tudo o que sempre seremos, e um mundo feito de esperança e arrependimento é um substituto muito páli­do para aquele sentimento de estar vitalmente conectado e presente no mundo vivo.

JE: As suas idéias sobre a ressonância através do tempo têm muito em comum com a ressonância mórfica de Rupert Shel­drake e com as pesquisas sobre vibrações de Ralph Abraham. Fora os Trialogues (Triálogos), você acha que vocês três seriam capazes de trabalhar juntos num livro?

TERENCE MCKENNA: Estamos muito próximos, e aliás fizemos todo um segundo conjunto de Trialogues. Tudo o que precisamos é de um editor sufici­entemente louco para publicá-los, embora eu não ache que o primeiro livro tenha ido bem em inglês, mas foi muito bem recebido na Alema­nha. Mas sim, me sinto muito próximo a esses caras. Eu acho que anologia à medida que nos movemos em direção a ambientes de comuni­cação assistidos por drogas quase-telepáticas e por máquinas.

JE: Você acredita que a tecnologia de realidade virtual terá influência preponderante em tudo isso, ou apenas vai se tor­nar uma novidade?

TERENCE MCKENNA: Acredito que tem um potencial tremendo porque é real­mente uma tecnologia que nos permitirá mostrar uns aos outros o interi­or de nossas cabeças. Isso é algo que jamais fomos capazes de fazer. Você e eu estamos tendo esta conversa e educadamente pressupondo que temos abertos diante de nós dicionários idênticos, e portanto você entende o que eu quero dizer. Mas nada é mais capaz de trazer a con­versa para uma situação estridente do que alguém dizer para outrem, “você poderia me explicar o que eu acabei de dizer?” E você sabe, em face a esse desafio, a suposição da comunicação é algo bastante rare­feito. 9

Se nós realmente pudéssemos mostrar uns aos outros o que que­remos dizer construindo meios esculturais da nossa intencionalidade em 3-D, seríamos capazes de eliminar a enlouquecedora ambigüidade que acompanha o ruidoso estilo de conversação bucal de baixa freqüência. É surpreendente para mim que tenhamos uma civilização global baseada em ruidosa comunicação bucal, visto que há 500 línguas e ninguém tem o mesmo dicionário, ninguém teve a mesma educação, e todos têm conjuntos diferentes de experiências. Assim, acredito que fizemos um trabalho incrível com o instrumento grosseiro que nos foi dado, mas o futuro da comunicação é o futuro da evolução da alma humana, e à me­dida que nos comunicarmos com maior facilidade, as fronteiras e a ilu­são da diferença simplesmente irão tornar-se indefinidas e desaparece­rão.

NOTAS:

1 Gibson e Sterling (1992), p.II?
2 Veja, por exemplo, The Mayan Factor. de José Arguelles (1987), p.86.
3 De acordo com o software de McKenna, Timewave Zero, a história é composta de uma série de ondas de novidades, na qual novas invenções surgem ao final de um ci­clo. Já que o I Ching é composto de 64 haxagramas, as datas na história podem ser divididas por esse número para produzir pontos de Novidades. Por exemplo, 1.3 bi­lhões de anos atrás marca a invenção da reprodução sexual pelos organismos eucari­óticos. Divida esse número por 64 para produzir um ciclo começando há 18 milhões de anos no período Mioceno no apogeu do período dos mamíferos ( e talvez não co­incidentemente, 15 milhões de anos atrás, uma grande catástrofe teve início pelo im­pacto de algum planetóide). Divida isso por 64 para produzir um número por volta de 200.000, uma data associada com o advento das populações Neanderthal. Nova­mente divida por 64 e chegue a um número por volta de 4.300, que é o começo das invasões Kurgan das civilizações da deusa da Europa antiga, o prólogo do nasci­mento de uma alta civilização após cerca de mil anos ou coisa assim. O último destes ciclos de Novidades começa em 5 de agosto de 1945 – um dia antes do bombardeio de Hiroshima – e termina em 21 de dezembro de 2012 d.e. Veja trabalho publicado, Temporal Resonance em McKenna (1991) pp.104-113. Veja também Arguelles, ibid., embora McKenna diga que ele apresentou a idéia de 2012 a Arguelles.
4 Para observar uma ilustração deste processo de intercalação veja figo 9, p.76 em McKenna, Terence e McKenna, Dennis (1993).
5 Jaynes (1976).
6 A propósito dessa questão, o Mahaa Koot Hoomi, um raja iogue dos Himalaias,
escreveu em 1880 em uma carta ao jornalista inglês Alfred Sinnett: “Temos a ten­dência a crer em ciclos que voltam sempre periodicamente e esperamos poder acele­rar a ressurreição do que já passou e já se foi. Nós não poderíamos impedi-Io ainda que quiséssemos. A ‘nova civilização’ será apenas filha da antiga, e nos basta deixar que a lei eterna siga o seu próprio curso para que os nossos mortos saiam dos seus sepulcros; mas estamos certamente ansiosos por acelerar o desejado acontecimento.” Veja Cartas dos MahaTerence McKennaas, Ed. Teosófica, Brasília, volume I, Carta li, pp. 81-82. No entanto, a filosofia esotérica e a literatura teosófica propõem a expansão da inte­ligência espiritual sem o uso de quaisquer drogas ou substância intoxicantes, que constituem atos de violência contra o corpo e a consciência do indivíduo. ( N. ed. bras. )
7 Veja ilustrações dessas figuras alucinógenas em McKenna ( 992). pp. 72-73. Veja também a ilustração em Campbell (1988a), p. 83, figo 146. Sobre a importância da arte do plateau Tassili, Campbell cita o trabalho do erudito Henri Lhote: “Parece”, diz Lhote ao discutir essas descobertas, “que estamos diante das primeiras obras de arte negra – de fato, somos tentados a dizer isso, em relação à sua origem”.
8 Por exemplo, William Irwin Thompson escreve: “Infelizmente, o modo de vida do hippie californiano ‘” deve-se tomar o consumidor típico americano e pensa que o caminho para a iluminação é através do consumo de cogumelos e curtição da ilumi­nação sem necessidade de todo o trabalho árduo da sadhalla iogue. Veja Thompson (1996), p.189. Sobre o comentário de Ken Wilber veja também nota de fim de página número 6, da entrevista de Grof (Em outro capítulo)
9 Contraste com Thompson: “Eu acho que o problema principal com a realidade virtualé que ela é uma tecnologia tóxica, é uma violação dos seus lobos frontais. Eu acho que vai causar efeitos sobre a saúde das pessoas como faz o mal de Alzheimer no seu início. Quando eu era menino, costumava entrar em sapatarias e colocar os pés nas máquinas de raios-X. O que parecia ser progressista e rotineiro estava na realidade causando câncer nas pessoas.” Veja Brown e McClen (1995), p.297 .

Entrevista Terence Mckenna – OMNI

x240-uuHTo postando um trecho traduzido de uma entrevista que achei muito interessante. Pra quem não conhece, Terence McKenna foi um pesquisador de plantas psicodélicas de projeção internacional. Nasceu no Colorado (Estados Unidos) em 1946, graduou-se pela Universidade de Berkley e obteve mestrado em Xamanismo e Conservação de Espécies Botânicas. Em 1992 publicou o livro “Food of the Gods” (“Alimento dos Deuses”), onde descreveu a evolução humana a partir do consumo de substâncias como o DMT e a psilocibina, encontrada em cogumelos alucinógenos. McKenna morreu em 2000 e é considerado por muitos como um “cientista da Nova Era”. Esta entrevista foi concedida a revista OMNI em 1993.

A entrevista pode ser encontrada integralmente (sem tradução) aqui: http://deoxy.org/t_omni.htm Inclusive, se alguém tiver disposição e conhecimento pra traduzir tudo, sinta-se à vontade, pois seria um grande prazer postá-la por completo =)

OMNI: Para que servem suas pesquisas com substâncias psicodélicas?

MCKENNA: É uma tragédia pensar que alguém pode ir para o caixão ignorante das possibilidades da vida. E faço analogia com o sexo. Poucas pessoas podem evitar, em suas vidas, uma experiência de natureza sexual, já que sexo é uma das informações de que a condição humana dispõe. Sexo é um grande prazer, sexo liberta. Detesto pensar que alguém pode morrer sem experimentar sexo! O mesmo acontece com a experiência psicodélica. Ela é parte legítima da condição humana. Ela disponibiliza uma infinidade de informações fundamentais que perdemos quando o homem passou a se distanciar da natureza.

OMNI: “Food of the Gods” liga DMT à psilocibina. Qual a relação?

MCKENNA: A psilocibina e o DMT são quimicamente da mesma família. Meu livro é sobre a história das drogas; mostra o impacto cultural e o poder de desenhar a personalidade que elas possuem. As pessoas têm tentado, sem sucesso, responder como nossas mentes e consciências podem derivar do macaco. Já formularam todo o tipo de teoria sobre isso, mas para mim a chave que destranca este grande mistério é a presença de plantas psicoativas na dieta do homem primitivo.

OMNI: O que o levou a concluir isto?

MCKENNA: A teoria ortodoxa da evolução nos diz que pequenas mudanças adaptativas de uma espécie acabam sendo geneticamente impressas em seu DNA. Os descendentes da espécie vão acumulando novas mudanças adaptativas, até que o conjunto de mudanças gere outra espécie. Pesquisas de laboratório mostram que a psilocibina, mesmo ingerida em quantidades muito pequenas, é capaz de imprimir mudanças em nós. Nos anos 60 Roland Fisher, do National Institute of Mental Health, deu psilocibina a voluntários, e então realizou testes oftalmológicos. Os resultados indicaram que a visão periférica aumenta quando havia psilocibina no organismo do voluntário.
Bem, o aumento da visão periférica seria de grande ajuda adaptativa para o hominídeo, pois caçavam com mais sucesso e se defendiam melhor, também!

Então aqui temos o fator químico: quando adicionado à dieta, psilocibina resultou num excelente “artefato” de sobrevivência.Quando os macacos desceram das árvores encontraram cogumelos no solo. Em pequenas quantidades aumentou sua capacidade visual periférica; em maiores quantidades, aumentou as atividades de seus sistemas nervosos centrais, que resulta em maior atividade sexual e, conseqüentemente, descendentes que carregam genes modificados pela psilocibina.

OMNI: Como as informações disponíveis sobre a psilocibina sustentam sua teoria?

MCKENNA: Bem, este é o problema: a psilocibina foi descoberta em 1953, e não foi totalmente caracterizada até ser proibida, em 66. A janela de oportunidade que se abriu para estudá-la foi de apenas nove anos. Quem pesquisava a psilocibina nem sonhava que os estudos seriam proibidos pelo governo americano! Quando o LSD foi apresentado à comunidade psicoterapêutica, e uma grande esperança de estudos dos processos mentais e psicológicos se abriu, o governo suprimiu as pesquisas com drogas psicodélicas. A conseqüência disto é que a comunidade científica está capenga, pois não pôde cumprir sua missão de conhecer profundamente os mistérios da mente humana. A ignorância e o medo do governo atrapalharam o trabalho dos cientistas.

OMNI: Você está dando uma enorme quantidade de poder a uma droga. O que você pode dizer sobre a psilocibina?

MCKENNA: Ainda não sabemos tudo o que a psilocibina e o DMT podem oferecer. É como quando Colombo avistou terra, e alguém disse, “Então você viu terra. Isso é importante?”, e Colombo disse, “Você não entende: este é o Novo Continente”. Então uns marinheiros, como eu, retornaram da viagem dizendo, “Não há bordas no planeta, ele é redondo. E mais: não há monstros marinhos, e sim vales, rios, cidades de ouro”. É duro de engolir, mas caso possam voltar a estudar a psilocibina, os cientistas poderão revolucionar a forma com que lidamos com o ser humano e com o universo. Nos últimos 500 anos a cultura ocidental suprimiu a idéia de inteligências desencarnadas, da presença real de espíritos. Mas trinta segundos de viagem com DMT acabam com a dúvida. Esta droga nos mostra que a cultura é um artefato, que você pode ser um psiquiatra em Nova York ou um xamã em Ioruba, mas que essas realidades são apenas convenções locais que organizam as pessoas em sociedade. A experiência com DMT é universal, pois mostra do mesmo modo, para qualquer pessoa de qualquer cultura, a legitimidade do universo espiritual.

OMNI: Bem, mas a cultura nos dá alguma coisa para fazer, Terence.

MCKENNA: Sim, mas a maior parte das pessoas acha que cultura é o que é real. A psilocibina mostra que tudo o que você sabe está errado. O mundo não está sozinho, não é tridimensional, o tempo não é linear, não existem coincidências. Existe, sim, um nexo interdimensional.

OMNI: Se tudo o que sei está errado, então o que está certo?

MCKENNA: Você precisa reconstruir. É, no mínimo, uma tremenda permissão para sua imaginação. Você não tem que seguir Sartre, Jesus, ninguém. Tudo se esvai, e só o que você pensa é, “Sou apenas eu, minha mente e a Mãe Natureza”. Esta droga mostra que o que existe do outro lado é uma impressionantemente real forma de vida auto-consistente, um mundo que permanece o mesmo toda vez que você o visita.

OMNI: E o que está lá nos esperando? Quem?

MCKENNA: Você cai num espaço. De alguma forma, você pode dizer que é subterrâneo. Existe uma sensação de enclausuramento, mas ao mesmo tempo o espaço é amplo, aberto, caloroso, confortável de uma forma muito sensual, material. Há entidades totalmente formadas, não há dúvidas de que essas entidades estão lá. Enquanto isso você diz, “Batimentos cardíacos? Normais. Pulso? Normal.” Mas sua mente está dizendo, “Não, eu devo ter morrido, é muito radical, muito, muito radical. Não é a droga, drogas não fazem coisas assim”, e você continua vendo o que está vendo. A droga nos tenta revelar qual a verdadeira natureza do jogo. Que a dita realidade é uma ilusão teatral. Então você quer encontrar seu caminho até o diretor que produz a realidade, e discutir com ele o que acontecerá na próxima cena.

OMNI: Você dedicou boa parte de sua vida no mapeamento do DMT e da psilocibina. Como você os interpretaria?

MCKENNA: Estas substâncias podem dissolver numa única viagem toda a sua programação mental até então. Elas te levam de volta à verdade do organismo – a que diz que idioma, condicionamento e comportamento são totalmente desenhados para mascarar. Uma vez dopado, você renasce para fora do envelope da cultura. Você chega literalmente nu neste novo lugar.

OMNI: Você acha que realmente existe algo como uma “bad trip”?

MCKENNA: Uma viagem que acaba te fazendo aprender mais rápido do que você quer é o que as pessoas chamam de bad trip. A maior parte das pessoas tenta dosar o aprendizado inerente às drogas, mas às vezes a droga libera mais informação do que você é capaz de aprender. Para piorar, a mensagem pode ser, “Você trata mal as pessoas!”, e ninguém quer escutar isso.

OMNI: Como você pode defender as drogas com tanto entusiasmo quando elas estão associadas a tanto sofrimento e caos?

MCKENNA: Nós deveríamos falar da palavra êxtase. Em nosso mundo, comandado pela Madison Avenue, êxtase é aquilo que você sente quando compra uma Mercedes e pode bancá-la. Mas este não é o significado certo. Êxtase é uma emoção complexa que contém elementos de medo, triunfo, empatia e pavor. O que substituiu nosso pré-histórico conceito do êxtase é a palavra “conforto”, uma idéia tremendamente asséptica, letárgica. Drogas não são confortáveis, e qualquer um que pense que elas são uma forma de conforto ou escapismo não deveria tomá-las até que tenham coragem de lidar com as coisas como elas realmente são.

OMNI: Que tipo de pessoas não deveria tomar drogas?

MCKENNA: Pessoas mentalmente instáveis, sob enorme pressão, ou operando equipamentos dos quais dependem as vidas de outros seres humanos. Ou pessoas frágeis, ingênuas, superprotegidas. Algumas pessoas foram tão estragadas pela vida que a dissolução de amarras não é boa para elas. Essas pessoas deveriam ser cuidadas com carinho, e não encorajadas a arrebatar limites. Se por fatores genéticos, culturais ou psicológicos as drogas não são para você, então não são para você. Não estou pedindo para que todas as pessoas tomem drogas, mas acredito que assim como uma mulher deve estar livre para controlar sua fertilidade, uma pessoa deveria estar livre para controlar sua própria mente.

Todos deveriam ser livres para tomar o que quisessem, e estar bem informados sobre o que cada opção envolve. Exatamente como acontece com educação sexual. Hoje a forma com que lidamos com informações sobre drogas é a mesma como fazíamos nos anos trinta com sexo. Você aprendia através de rumores! Então as pessoas acabam tendo idéias absurdas sobre as coisas.

OMNI: Onde está sua esperança?

MCKENNA: Está na psicologia e nos jovens. Eles têm o que nunca tivemos: pessoas mais velhas que já tiveram experiências psicodélicas. O LSD tomou, e ainda toma, de assalto nossa sociedade. Dois estudantes de bioquímica podem fazer um pequeno laboratório móvel e produzir, num final de semana, de 5 a 10 milhões de doses de ácido para distribuir em papel pelo mundo. Esta facilidade e discrição criou uma pirâmide de atividade criminal de tanta potência que o governo reage como se um revólver estivesse apontado para sua cabeça. O que, no fundo, é verdade! A estratégia certa é subversão, atenção e discreto não-conformismo contra o tédio e a opressão do mundo.

OMNI: Terence, meu amigo, existe alguma coisa que o deixa com medo?

MCKENNA: Loucura. As pessoas me perguntam, “Posso morrer tomando esta ou aquela droga?”. É a pergunta errada. Claro que sempre existe algum risco em qualquer coisa, mas o que é realmente perigoso é a sua sanidade, porque como a desconstrução da realidade é infinita, você pode se mudar para algum
outro lugar. Tenho medo de não ser capaz de contextualizar essa desconstrução, me perder e não retornar à comunidade humana. Estamos tentando construir pontes, não navegar infinitamente.

OMNI: Como você vê o futuro?

MCKENNA: Se a história seguir futuro adentro, será um futuro de escassez, preservação do privilégio, controle da população através do uso cada vez mais sofisticado de ideologia para acorrentar e iludir as pessoas. Estamos no limite exato. O que também potencialmente nos aguarda é uma dimensão de tanta liberdade e transcendência que, uma vez lá, viveremos de imaginação. Seremos rapidamente irreconhecíveis se comparados ao que somos hoje porque hoje somos definidos por nossas limitações: a lei da gravidade, a necessidade de comer, de ficarmos ricos. Temos o poder de nos expandir indefinidamente para o prazer, atenção, carinho e conexão. Só precisamos nos libertar e nos permitir.