O Alimento dos Deuses – Terence Mckenna (pt 1)

Pretendo estar postando uma seqüência de alguns trechos que estou digitalizando do livro “O Alimento dos Deuses” do Terence McKenna, lançado em 1992. Considero um livro extremamente importante para qualquer um que se interesse pelos assuntos ligados a enteógenos, drogas e evolução humana. É uma verdadeira obra de arte. Vou começar pela própria Introdução do livro.

 

Introdução: Manifesto para um novo pensamento sobre drogas

Há um espectro assombrando a cultura planetária: o espectro das drogas. A definição de dignidade humana, criada pela Renascença e elaborada nos valores democráticos da moderna civilização ocidental, parece a ponto de se dissolver. A grande mídia nos informa a todo volume que a capacidade humana para o comportamento obsessivo e o vício realizou um casamento satânico com a farmacologia moderna, com o marketing, com o transporte a grandes velocidades. Formas anteriormente obscuras de utilização de substâncias químicas agora competem livremente num mercado global bastante desregulamentado. Governos e nações do terceiro Mundo são mantidos escravos de entidades legais e ilegais que promovem o comportamento obsessivo.

Esta situação não é nova, mas está ficando cada vez pior. Até recentemente os cartéis internacionais das drogas eram criações obedientes de governos e serviços secretos que buscavam fontes de dinheiro “invisível” com o qual financiar seu próprio tipo de comportamento obsessivo institucionalizado. Atualmente esses cartéis das drogas evoluíram, através do crescimento sem precedentes da demanda por cocaína, transformando-se em elefantes desgarrados diante de cujos poderes até mesmo seus criadores se sentem inquietos.

Somos assediados pelo triste espetáculo das “guerras das drogas” promovidas por instituições governamentais que geralmente são paralisadas pela letargia e ineficiência ou estão em evidente conluio com os cartéis internacionais das drogas – que essas instituições prometem publicamente destruir.

Nenhuma luz poderá ser lançada sobre essa situação de uso e abuso pandêmico das drogas se não fizermos uma dura reavaliação de nossa situação atual e um exame de alguns padrões antigos, praticamente esquecidos, de experiência e comportamento relacionados às drogas. A importância dessa tarefa não pode ser subestimada. Sem a menor dúvida a auto-administração de substâncias psicoativas, tanto legais quanto ilegais, cada vez mais fará parte do desdobramento futuro de uma cultura global.

Uma reavaliação dolorosa

Qualquer reavaliação do uso que fazemos das substâncias deve começar com a noção do hábito, “uma tendência ou prática estabelecida”. Familiares, repetitivos e geralmente não examinados, os hábitos são simplesmente as coisas que fazemos. Segundo um velho ditado, “as pessoas são criaturas de hábito”. A cultura é em grande parte questão de hábito, aprendido com os pais e as pessoas ao nosso redor, e depois lentamente modificados pelas mudanças nas condições e por inovações inspiradas.

Mas, por mais lentas que sejam essas modificações culturais, a cultura apresenta um espetáculo de novidade violenta e contínua quando comparada com a modificação lentíssima das espécies e dos ecossistemas. Se a natureza representa um princípio de economia, a cultura certamente deve exemplificar o princípio de inovação através do excesso.

Quando os hábitos nos consomem, quando nossa devoção a eles excede as normas culturalmente definidas, nós os chamamos de obsessões. Nesses casos sentimos que a dimensão unicamente humana do livre-arbítrio foi violada de algum modo. Podemos ficar obcecados com quase tudo: com um padrão de comportamento como o de ler jornal matutino ou com objetivos materiais (o colecionador), com terras e propriedades (o construtor de impérios) ou com o poder sobre outras pessoas (o político).

Enquanto muitos de nós podem ser colecionadores, poucos têm a oportunidade de se entregar às obsessões a ponto de se tornarem construtores de impérios ou políticos. A obsessões das pessoas comuns tendem a se concentrar no aqui e agora, no âmbito da gratificação imediata através do sexo, da comida e das drogas. Uma obsessão com os constituintes dos alimentos e das drogas (também chamados de metabólitos) é rotulada de vício.

Os vícios e as obsessões são exclusivos dos seres humanos. Sim, existem amplas evidências relatadas sobre as preferências por estados intoxicados entre elefantes, chimpanzés e algumas borboletas. Mas, assim como acontece quando comparamos as capacidades lingüísticas de chimpanzés e golfinhos com a fala humana, vemos que os comportamentos desses animais são enormemente diferentes dos comportamentos humanos.

Hábito. Obsessão. Vício. Essas palavras são marcos de sinalização em um caminho de livre arbítrio decrescente. A negação do poder do livre-arbítrio está implícita na noção de vício, e em nossa cultura os vícios são levados à sério – especialmente os vícios exóticos ou não-familiares. No século XIX o vício do ópio era o “demônio de ópio”, uma descrição que trazia de volta a idéia de uma possessão demoníaca levada a cabo por uma força externa. No século XX a idéia do viciado como uma pessoa possuída foi trocada pela noção do vício como doença. E com a noção do vício como doença o papel do livre-arbítrio finalmente é reduzido até desaparecer. Afinal de contas, não somos responsáveis pelas doenças que podemos herdar ou desenvolver.

Mas hoje em da a dependência humana às substâncias químicas representa um papel mais consciente na formação e manutenção dos valores culturais do que em qualquer época anterior.

Desde meados do século XIX, e com velocidade e eficiência cada vez maiores, a química orgânica vem colocando nas mãos de pesquisadores, médicos e – em última instância – qualquer pessoa uma cornucópia infinita de drogas sintéticas. Essas drogas são mais poderosas, mais eficazes, de maior duração e, em alguns casos, muitas vezes mais viciantes do que seus parentes naturais. (Uma exceção é a cocaína, que, apesar de natural, quando refinada, concentrada e injetada torna-se particularmente destrutiva)

O surgimento de uma cultura global levou à ubiqüidade de informações sobre as plantas recreacionais, afrodisíacas, estimulantes, sedativas e psicodélicas que foram descobertas por seres humanos inquisitivos vivendo em partes remotas e anteriormente desconhecidas do planeta. Ao mesmo tempo em que esta torrente de informações botânicas e etnográficas chegava à sociedade ocidental, enxertando hábitos de outras culturas dentro da nossa e proporcionando-nos mais escolhas do que nunca, foram dados grandes passos na síntese de moléculas orgânicas complexas e na compreensão da mecânica molecular dos genes e da hereditariedade. Essas novas idéias e tecnologias estão contribuindo para um conhecimento muito diferente sobre a engenharia psicofarmacológica. Drogas projetadas em laboratório como o MDMA, o u Ecstasy, e os esteróides anabólicos usados por atletas e adolescentes para estimular o desenvolvimento dos músculos são arautos de uma era de intervenção farmacológica cada vez mais freqüente e eficaz sobre a nossa aparência, nosso desempenho e nosso sentimentos.

A idéia de regulamentar num nível planetário primeiro centenas, e depois milhares de substâncias sintéticas facilmente produzidas, intensamente procuradas, porém ilegais, é estarrecedora para qualquer pessoa que tenha esperança de um futuro mais aberto e menos regimentado.

Um renascimento arcaico

Este livro irá explorar a possibilidade de um renascimento do arcaico – ou da atitude pré-industrial e pré-alfabetizada com relação à comunidade, ao uso de substâncias e à natureza; uma atitude que serviu bem e por muito tempo aos nossos ancestrais nômades pré-históricos, antes do surgimento do estilo de cultura que chamamos de “ocidental”. O termo arcaico refere-se ao paleolítico superior, um período entre sete e dez mil anos atrás, precedendo à intervenção e à disseminação da agricultura. O arcaico foi um tempo de pastoreio nômade e de igualitarismo, de uma cultura baseada na criação de gado, no xamanismo e no culto à Deusa.

Organizei a discussão numa ordem mais ou menos cronológica, com as últimas seções, mais orientadas para o futuro, retomando e revendo os temas arcaicos dos primeiros capítulos. A argumentação segue de acordo com as linhas de progresso de uma peregrinação farmacológica. Assim chamei as quatro sessões do livro de “Paraíso”, “Paraíso Perdido”, “Inferno” e, espero que sem ser exageradamente otimista, “Paraíso Reconquistado”. Um glossário de termos especiais é dado no final do livro.

Obviamente, não podemos continuar pensando como antigamente sobre o uso de drogas. Sendo uma sociedade global, devemos encontrar uma nova imagem orientadora para nossa cultura, uma imagem que unifique as aspirações da humanidade com as necessidades do planeta e do indivíduo. Uma análise da imperfeição existencial que nos leva a formar relacionamentos de dependência e vício com plantas e drogas mostrará que, no início da história, perdemos alguma coisa preciosa, cuja ausência nos tornou doentes de narcisismo. Somente uma recuperação do relacionamento que des

envolvemos com a natureza através do uso de plantas psicoativas antes da queda na história pode nos oferecer a esperança de um futuro humano e aberto.

Antes de nos comprometermos irrevogavelmente com a quimera de uma cultura livre de drogas, comparada ao preço de um abandono completo dos ideais de uma sociedade planetária livre e democrática, devemos nos fazer perguntas duras: por que, como espécie, somos tão fascinados por estados alterados de consciência? Qual tem sido o impacto deles sobre nossas aspirações estéticas e espirituais? O que perdemos ao negar a legitimidade do impulso de cada indivíduo para o uso de substâncias visando experimentar pessoalmente o transcedental e o sagrado? Minha esperança é de que a resposta a essas perguntas vai nos forçar a enfrentar as conseqüências de negar a dimensão espiritual da natureza, de ver a natureza como nada mais que um “recurso” a ser dominado e esgotado. A discussão bem-informada sobre esses temas não dará conforto a quem é obcecado pelo controle, não dará conforto ao fundamentalismo religioso ignorante, a qualquer forma de fascismo.

A pergunta de como, enquanto sociedade e indivíduos, nos relacionamos com as plantas psicoativas no final do século XX, levanta uma questão mais ampla: como, com o passar do tempo, fomos moldados pelas alianças mutáveis que formamos e rompemos com vários membros do mundo vegetal enquanto caminhávamos pelo labirinto da história? Esta é uma questão que irá nos ocupar detalhadamente nos próximos capítulos.

O grande mito de nossa cultura se inicia no Jardim do Éden, quando foi comido o fruto da Árvore do Conhecimento. Se não aprendermos com o passado, essa história pode terminar com um planeta intoxicado, suas florestas sendo apenas uma lembrança, sua coesão biológica despedaçada, nosso legado um deserto de ervas daninhas. Se deixamos de perceber alguma coisa em nossas tentativas anteriores de compreender nossas origens e nosso lugar na natureza, será que agora estamos em condições de olhar para trás e compreender não somente o passado, mas também o futuro, de um modo inteiramente novo? Se pudermos recuperar o sentimento perdido da natureza como um mistério vivo poderemos ter confiança em novas perspectivas na aventura cultural que certamente nos espera adiante. Temos a oportunidade de nos afastar do triste niilismo histórico que caracteriza o reino de nossa cultura profundamente patriarcal e dominadora. Estamos em posição de recuperar a avaliação arcaica de nossa relação praticamente simbiótica com as plantas psicoativas como uma fonte de idéias e coordenação fluindo do mundo vegetal para o mundo humano.

O mistério de nossa consciência e de nosso poderes de auto-reflexão está de algum modo ligado a este canal de comunicação com a mente invisível que os xamãs afirmam ser o mundo vivo da natureza. Para os xamãs e as culturas xamânicas a exploração desse mistério sempre foi uma alternativa crível à vida numa cultura materialista confinadora. Nós, que pertencemos às democracias industriais, podemos escolher explorar agora essas dimensões estranhas ou podemos esperar até que a destruição cada vez maior do planeta vivo torne irrelevante qualquer outra exploração.

Um novo manifesto

Portanto chegou o tempo, no grande discurso natural que é a história das idéias, de repensar totalmente nosso fascínio pelo uso habitual das plantas psicoativas e fisioativas. Temos de aprender com os excessos do passado, especialmente da década de 1960, mas não podemos simplesmente advogar o “Diga não”, do mesmo modo que não podemos advogar o “Experimente, você vai gostar”. Nem podemos apoiar uma visão que deseje dividir a sociedade entre usuários e não-usuários. Precisamos de uma abordagem ampla a essas questões, uma abordagem que envolva as implicações evolucionárias e históricas mais profundas.

A influência da dieta em induzir mutações nos primeiros humanos e o efeito de metabólitos exóticos na evolução de sua neuroquímica e sua cultura ainda é um território não estudado. A adoção de uma dieta onívora por parte dos primeiros hominídeos e a descoberta do poder de certas plantas foram fatores decisivos para afastá-los da corrente da evolução animal, levando-os para a maré acelerada da linguagem e da cultura. Nossos ancestrais remotos descobriram que certas plantas, quando auto-administradas, suprimem o apetite, diminuem a dor, proporcionam jorros de energia súbita, conferem imunidade contra patogenes e sinergizam atividades cognitivas. Essas descobertas levaram-nos à longa jornada para a auto-reflexão. Assim que nos tornamos onívoros usuários de ferramentas, a própria evolução de um processo de modificação vagarosa para uma rápida definição de formas culturais através da elaboração de rituais, linguagens, escrita, capacidades mnemônicas e tecnologia.

Essas mudanças imensas ocorreram em grande parte como resultado das sinergias entre os seres humanos e as várias plantas com as quais eles interagiram e co-evoluíram. Uma avaliação honesta do impacto das plantas sobre as bases das instituições humanas descobriria que elas são absolutamente fundamentais. No futuro, a aplicação de soluções estáveis botanicamente inspiradas, como o crescimento zero de população, a extração do hidrogênio da água do mar e os programas maciços de reciclagem podem ajudar a reorganizar nossas sociedades e nosso planeta em termos mais holísticos, conscientes do meio ambiente, neo-arcaicos.

A supressão do natural fascínio humano com relação aos estados alterados de consciência e a atual situação de perigo por que passa toda a vida na terra estão íntima e causalmente conectadas. Quando suprimos o acesso ao êxtase xamânico represamos as águas refrescantes da emoção que flui de um relacionamento profundamente ligado, quase simbiótico, com a terra. Em conseqüência disso se desenvolvem e se mantêm os estilos sociais mal-adaptados que encorajam a superpopulação, o mau uso dos recursos e a intoxicação ambiental. Nenhuma cultura na terra é tão profundamente narcotizada, em termos de se acostumar às conseqüências do comportamento mal-adaptado, quanto o ocidente industrializado. Buscamos uma atitude tranqüila numa atmosfera surreal de crise cada vez maior e contradições irreconciliáveis.

Como espécie, precisamos reconhecer a profundidade de nosso dilema histórico. Continuaremos a jogar com um baralho pela metade enquanto continuarmos a tolerar os cardeais do governo e da ciência que pretendem ditar onde a curiosidade humana pode se concentrar e onde não pode. Essas restrições à imaginação humana são aviltantes e absurdas. O governo não somente restringe a pesquisa sobre substâncias psicodélicas que poderiam talvez produzir valiosas idéias psicológicas e médicas; ele pretende impedir também seu uso religioso e espiritual. O uso religioso das plantas psicodélicas é uma questão de direitos civis; sua restrição é a repressão de uma legítima sensibilidade religiosa. De fato, não é uma sensibilidade religiosa que está sendo reprimida, mas a sensibilidade religiosa, uma experiência da religio baseada no relacionamento entre plantas e seres humanos que existe desde muito antes do advento da história.

Não mais podemos adiar uma reavaliação honesta dos verdadeiros custos e benefícios do uso habitual das plantas e das drogas versus os verdadeiros custos e benefícios da supressão de seu uso. Nossa cultura global corre o risco de sucumbir a um esforço orwelliano de acabar com o problema através do terrorismo militar e policial contra os consumidores de drogas em nossa população e os produtores de drogas no Terceiro Mundo. Essa resposta repressiva é alimentada em grande parte por um medo não examinado que é produto de desinformação e ignorância histórica.

Preconceitos culturais profundamente arraigados explicam porque a mente ocidental torna-se subitamente ansiosa e repressiva com relação às drogas. As mudanças de consciência induzidas por substâncias revelam dramaticamente que nossa vida mental tem fundamentos físicos. Assim, as drogas psicoativas desafiam a suposição cristã da da inviolabilidade e do status ontológico especial da alma. De modo semelhante, elas desafiam a idéia moderna do ego, de sua inviolabilidade e de suas estruturas de controle. Resumindo, os contatos com as plantas psicodélicas questionam toda a visão de mundo da cultura dominadora.

Abordaremos frequentemente esse tema do ego e da cultura dominadora nesse reexame da história. De fato, o terror que o ego sente ao contemplar a dissolução de fronteiras entre o Eu e o mundo não está somente por trás da supressão dos estados alterados da consciência, mas, de modo mais geral, explica a supressão do feminino, do estrangeiro e exótico e das experiências transcedentais. Nos tempos pré-históricos, porém pós-arcaicos, de cerca de 5000 a 3000 a.C., a supressão da sociedade igualitária pelos invasores patriarcais arrumaram o cenário para a supressão da investigação experimental e aberta da natureza, feita pelos xamãs. Em sociedades altamente organizadas essa tradição arcaica foi substituída por uma tradição do dogma, da politicagem clerical, das guerras e, finalmente, dos valores “racionais e científicos” ou dominadores.

Até aqui usei sem explicação os termos “igualitários” e “dominadores” para falar de estilos de cultura. Devo essas expressões úteis a Riane Eisler e sua importante revisão da história no livro The Chalice and the Blade. Eisler desenvolveu a noção de que os modelos de sociedade “igualitária” precederam e mais tarde competiram e foram oprimidos pelas formas de organização social “dominadora”. As culturas dominadoras são hierárquicas,, paternalistas, materialistas e de domínio masculino. Eisler acredita que a tensão entre as organizações igualitárias e dominadoras e a superexpressão do modelo dominador são responsáveis pelo nosso afastamento da natureza, de nós mesmos e ins dos outros.

Eisler escreveu uma brilhante síntese do surgimento da cultura no antigo Oriente Próximo e do desdobramento do debate político relativo à feminização da cultura e à necessidade de superar padrões de domínio masculino para a criação para a criação de um futuro viável. Sua análise política dos sexos eleva o nível do debate para além dos que saudaram estridentemente um ou outro “matriarcado” ou “patriarcado” antigo. The Chalice and the Blade introduz a noção de “sociedades igualitárias” e “sociedades dominadoras” e usa os registros arqueológicos para argumentar que, sobre vastas áreas e durante muitos séculos, as sociedades igualitárias do Oriente Médio antigo não tinham guerras nem levantes. A guerra e o patriarcado chegaram com o aparecimento de valores dominadores.

A herança dominadora

Nossa cultura, auto-intoxicada pelos subprodutos venenosos da tecnologia e pela ideologia egocêntrica, é a infeliz herdeira da atitude dominadora que diz que a alteração da consciência através do uso de plantas ou de substâncias é errada, onanística e perversamente anti-social. Irei argumentar que a supressão da gnose xamânica, com sua confiança e insistência na dissolução extática do ego, roubou-nos o significado da vida e tornou-nos inimigos do planeta, de nós mesmos e de nossos netos. Estamos matando o planeta para manter intactas as suposições equivocadas do estilo cultural dominador do ego.

É tempo de mudança.

Gaia – Fritjoff Capra

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Texto retirado do livro “O Ponto de Mutação” (1982) de Fritjof Capra.

“Os sistemas estratificados evoluíram a par dessas formas superiores de vida, renovando-se em todos os níveis e assim mantendo os ciclos contínuos de nascimento e morte para todos os organismos, de uma extremidade a outra da estrutura da árvore. E esse desenvolvimento leva-nos a indagações sobre o lugar dos seres humanos no mundo vivo. Como nós também nascemos e estamos destinados a morrer, isso significa que somos partes integrantes de sistemas maiores que continuamente se renovam? Com efeito, parece ser esse o caso. À semelhança de todas as outras criaturas vivas, pertencemos a ecossistemas e também formamos nossos próprios sistemas sociais. Finalmente, em nível ainda maior, há a biosfera, o ecossistema do planeta inteiro, do qual nossa sobrevivência é profundamente dependente. Não consideramos usualmente esses sistemas mais extensos organismos individuais – à semelhança de plantas, animais ou pessoas -, mas uma nova hipótese científica faz profundamente isso no mais amplo nível acessível. Estudos detalhados do modo como a biosfera parece regular a composição química do ar, a temperatura da superfície da terra e muitos outros aspectos do ambiente planetário levaram o químico James Loverlock e a microbióloga Lynn Margulis a sugerir que tais fenômenos só podem ser entendidos se o planeta, como um todo, for considerado um único organismo vivo. Reconhecendo que sua hipótese representa o renascimento de um poderoso mito antigo, os dois cientistas chamaram-lhe a hipótese de Gaia, do nome da deusa grega na Terra.

A percepção consciente da Terra como algo vivo, que desempenhou um papel importante no nosso passado cultural, foi dramaticamente revivida quando os astronautas puderam, pela primeira vez na história humana, ver nosso planeta a partir do espaço exterior. A visão que eles tiveram do planeta em toda sua refulgente beleza – um globo azul e branco flutuando na profunda escuridão do espaço – impressionou-os e comoveu-os profundamente; como muitos deles têm declarado desde então, foi uma imensa experiência espiritual que mudou para sempre suas relações com a Terra. As magníficas fotos da “Terra inteira” que esses astronautas trouxeram ao voltar tornaram-se um novo e poderoso símbolo para o movimento ecológico e podem muito bem ser o resultado mais significativo de todo o programa espacial.

O que os astronautas e inúmeros homens e mulheres na Terra antes deles perceberam intuitivamente está sendo confirmado por investigações científicas, conforme é descrito em detalhes no livro de Loverlock. O planeta está não só palpitante de vida, mas parece ser ele próprio um ser vivo e independente, toda a matéria viva da Terra, juntamente com a atmosfera, os oceanos e o solo, forma um sistema complexo com todas as características de auto-organização. Permanece num estado notável de não-equilíbrio químico e termodinâmico, e é capaz, através de uma gigantesca variedade de processos, de regular o ambiente planetário a fim de que sejam mantidas condições ótimas para a evolução da vida.

Por exemplo, o clima da Terra nunca foi totalmente desfavorável à vida desde que apareceram as primeiras formas de vida, há cerca de 4 bilhões de anos. Durante esse longo período de tempo, a radiação proveniente do sol aumentou, pelo menos, 30 por cento. Se a Terra fosse simplesmente um objeto sólido inanimado, a temperatura de sua superfície acompanharia a produção de energia solar, o que significa que a Terra inteira seria uma esfera gelada durante mais de 1 bilhão de anos. Sabemos, pelas informações geológicas, que essas condições adversas nunca existiram. O planeta manteve uma temperatura razoavelmente constante em sua superfície durante toda a evolução da vida, tal como um organismo humano mantém constante a temperatura do corpo, apesar de condições ambientais variáveis.

Exemplos semelhantes de auto-regulação podem ser observados com relação a outras propriedades ambientas, como a composição química da atmosfera, o conteúdo salino dos oceanos e a distribuição de vestígios de elementos entre plantas e animais. Tudo isso é regulado por intrincadas redes cooperativas que exibem as propriedades dos sistemas auto-organizadores. A Terra é, pois, um sistema vivo; ela funciona não apenas como um organismo, mas, na realidade parece ser um organismo Gaia, um ser planetário vivo. Suas propriedades e atividades não podem ser previstas com base na soma de suas partes; cada um de seus tecidos está ligado aos demais, todos eles interdependentes; suas muitas vias de comunicação são altamente complexas e não-lineares; sua forma evoluiu durante bilhões de anos e continua evoluindo. Essas observações foram feitas num contexto científico, porém trancendem largamente o âmbito da ciência. À semelhança de muitos outros aspectos do novo paradigma, elas refletem uma profunda consciência ecológica, que é, em última instância, espiritual.”

Sociedade Psicodélica – Terence Mckenna

por Terence McKenna

Baseado em uma fala dada em um encontro da ARUPA
no Instituto Esalen em junho de 1984.

mckenna1Eu quero falar esta noite a respeito da noção de uma sociedade psicodélica. Quando eu falei em Santa Bárbara em uma conferência sobre psicodélicos em maio de 1983 minhas lentes de contato falharam em um ponto crítico na minha leitura e eu simplesmente tive que improvisar. Mais tarde quando eu ouvi a fita da gravação eu ouvi a frase “sociedade psicodélica.” Eu nunca usei este termo conscientemente em uma conversa. Mas porque eu havia dito, e porque havia acontecido uma ressonância através das pessoas que estavam lá, eu comecei a pensar sobre isso e esta noite irei especular sobre o que isto pode significar para nós.

Quando eu penso em sociedade psicodélica, esta noção implica em criar uma sociedade que vive à luz do Mistério da Existência. Em outras palavras, problemas e soluções deveríam ser retiradas de seu papel central nas organizações sociais, e Mistérios – Mistérios irredutíveis – deveriam estar em seu lugar. Nos anos 20 o entomologista britânico J.B.S. Haldane disse em um ensaio, “O universo pode não ser apenas mais estranho como supomos; ele pode ser mais estranho do que nós podemos supor.”

Eu sugiro que assim como nós olhamos para trás em cada ápice da civilização na história humana – seja ela Maia, ou Greco-Romana, ou a Dinastia Sung – temos acreditado que isso aconteceu graças à posse de uma descrição apurada do cosmos e da relação do homem com ele. Isto parece ir junto com o completo florescimento de uma civilização. Mas, a partir deste ponto de vista da nossa presente civilização, nós consideramos todas estas concepções como se fossem piores, de segunda mão. Nós nos orgulhamos que nossa civilização tem a última e real descrição sobre o que está acontecendo.

Eu considero isto um erro, e que atualmente nos cega, ou torna nosso progresso histórico muito difícil, é nossa falta de atenção que nossas crenças se tornaram obsoletas e deveríam ser colocadas de lado. Uma sociedade psicodélica abandonaria os sistemas de crenças pela experiência direta. É o que eu penso a respeito a do problema do dilema moderno: a experiência direta foi descontada, e no seu lugar todos os tipos de sistemas de crença foram criados.

Eu preferiria um tipo de anarquia intelectual onde não importa o quê fosse pragmaticamente aplicável e fosse trazido de qualquer situação; onde crença fosse entendida como uma função auto-limitante. Porque, veja, se você acredita em alguma coisa você é automaticamente impedido a acreditar em seu oposto; que significa que um grau da liberdade humana foi coisificada no ato de se submeter à esta crença.

Eu insisto que é supérfluo ter crenças, porque o universo é realmente mais estranho do que nós supomos, precisamos retornar para o que no século XVI era chamado de método Baconiano; que não significa a elaboração fantástica de construções de pensamentos que explicam a natureza, mas somente uma catalogação dos fenômenos que nós experimentamos. Redes de computadores e drogas psicodélicas e a crescente disponibilidade de informação no mundo têm tornado possível a evolução de novos estados de informação que nunca existiram anteriormente. Estamos processando estas novas oportunidades em uma razão muito devagar porque estamos sendo impedidos pela ideologia.

Os modelos Freudianos e Junguianos enxergam a experiência psicodélica como um desmantelamento da resistência em revelar emoções, motivos e sistemas de crenças escondidas e complexas. Esta noção, há cinco ou dez anos, foi substituída pelo modelo de experiência alucinógena xamânica. Este modelo sustenta que pessoas arcaicas têm delegado membros especiais de uma sociedade para provar informações de domínio secreto usando drogas psicodélicas. A informação extraída destes domínios são então usadas para guiar e direcionar a sociedade.

Eu estou interessado neste segundo modelo. Tenho gastado algum tempo na Amazônia e estou familiarizado com os mecanismos operacionais do xamanismo e personalidades xamânicas. Acredito que a experiência psicodélica vai além da instituição do xamanismo. Estamos diante de uma oportunidade única de arremessar de lado a crise da cultura mundial.

Nossa habilidade de destruir a nós mesmos é a imagem espelhada da capacidade de nos salvarmos. O que está faltando é uma visão clara do quê deveria ser feito. O que deveria ser feito certamente não é a acumulação cada vez maior de arsenal termonuclear ou a promoção de todo o tipo espetáculos de primatas – que Tim Leary tem muito bem denunciado. O que precisa ser feito é que nossas concepções ontológicas fundamentais de realidade precisam ser refeitas. Precisamos de uma nova linguagem, de modo que para ter uma nova linguagem precisamos de uma nova realidade. É um tipo de equação urobórica, ou uma situação de desvencilhamento. Uma nova realidade gerará uma nova linguagem. Uma nova linguagem fará uma nova realidade se legitimar e ser uma parte desta realidade.

As substâncias psicodélicas podem ser imaginadas como pontos de uma grade de informações. Elas provêm novas perspectivas na realidade, e quando você reconecta todos os pontos de vista que você coletou considerando realidade, então um modelo aplicável de realidade e que faça sentido começa a surgir.

Eu penso que esta realidade aplicável e que faça sentido – o que Wittgenstein nomeou algo como “suficientemente verdadeiro” – é o que estamos procurando. O “suficientemente verdadeiro” mapeando por cima da teoria é o que estanos procurando, mas a experiência deve ser feita primeiro. A linguagem do Eu deve ser feita primeiro.

O que eu estou defendendo é que cada um de nós tome responsabilidade pela transformação cultural, que não é algo que seria disseminado de cima para baixo. É algo que cada um de nós podemos contribuir nos esforçando a viver tão para dentro do futuro quanto possível. Devemos nos livrar das concepções de anos 40, 50, 60, 70, 80, 90. Devemos transcender o momento histórico e tornarmos exemplares de humanidade no Fim do Tempo.

Alguns de vocês que acompanham minha leitura esta tarde se preocupam em saber que eu acredito que liberação – ou vamos dizer “decência” – como uma qualidade humana e antecipação deste estado perfeito da humanidade futura. Podemos ter vontade de aperfeiçoar o futuro nos tornando um microcosmo do futuro perfeito, não mais distribuir culpa para instituições ou hierarquias de responsabilidade ou controle, mas dar-nos conta que a oportunidade está aqui, a responsabilidade está aqui, e os dois nunca se tornem congruentes denovo. A salvação para o nosso espírito imortal depende do quê você faz com as oportunidades que a vida lhe dá.

Então, o que faremos com a oportunidade? O quê significa dizer, em termos operacionais, “Viva tão longe ao futuro quanto puder?” Significa tomar uma posição vís à vis da emergente realidade hiper-dimensional. Isto não significa necessariamente tornar-se um usuário de drogas psicodélicas; mas significa admitir esta possibilidade. Se você sente um potencial heróico dentro de você para ser um dos experimentadores – um dos pioneiros – então você sabe o que fazer. Se por outro lado você se sente perdido no abismo – se você se sente como William Blake chamou de “caindo para a eterna morte,” caindo do espiral da existência que conecta uma encarnação à outra – então oriente-se para a experiência psicodélica como uma fonte de informação.

Uma imagem espelhada da experiência psicodélica emergiu com o hardware e software integrados às redes de computadores. A internet e a www são, paradoxalmente suficientes, uma profunda influência feminilizante na sociedade. Isto está no desenvolvimento de hardware/software que inconscientemente está se tornando consciente. Esse é um pensamento que tomamos do bon mot platônico – “Se Deus não existisse, o homem deveria inventá-lo” – e disse, “se a inconsciência não existe, a humanidade a inventará na forma de vastas redes que serão capazes de transferir e transformar informação.”

Isto é, de fato, onde estamos presos: a transformação de informação. Nós não mudamos fisicamente nos últimos quarenta mil anos. O tipo humano está bem estabilizado antes do fim da última glaciação. Mudanças que foram feitas antigamente no âmbito biológico está acontecendo agora no âmbito cultural. Estamos abrigando presunções culturais e nos preocupando com nossa visão do mistério unitário em uma razão cada vez mais rápida, enquanto tentamos nos acomodar ao desdobrameno daquele mistério que se deita diante de nós no tempo. Este é o processo que está fundindo a vasta sombra de destruição por cima de toda a experiência da história humana.

Anterior à nossa própria era, a única palavra que poderia ser aplicada para esta força que faz as pessoas se unirem, causando nascimento e morte, levantando e derrubando civilizações, era Deus; e isso era imaginado como uma forma auto-consciente que estava aprendendo a respeito do mundo como um gato aprende a respeito do aquário e fazendo as coisas acontecerem. Agora temos uma noção diferente – a noção de um sistema vetor que força uma grande área que está sendo empurrada para um espaço muito pequeno, e este pequeno micro-setor de tempo/espaço é a história. É um ímpeto que os budistas chamam de “o reino densamente empacotado,” um reino onde os opostos estão unificados.

A história é este reino onde o corpo é finalmente interiorizado e a mente exteriorizada. Penso a mente como um órgão da quarta dimensão no nosso corpo. Você não pode vê-lo porque ele está na quarta dimensão, mas você experimenta uma baixa dimensão seccionando-a no fenômeno da consciência. Mas isto é somente uma secção parcial. assim como uma elipse é um desenho parcial de um cone.

O crescimento dos sistemas de informação é somente um reflexo do hardware masculino do que já existe na natureza como um fato. Agora nos resta afiar nossas intuições e nos tornarmos atentos a este sistema preexistente e ligá-lo para que possamos estar um passo a frente dos dualismos que nos separam dos outros e do mundo. Precisamos nos dar conta que há um enxame de genes – e não um grupo de espécies – no planeta; que metade do tempo você está pensando no que está escutando; que idéias são criaturas notavelmente escorregadias que são difíceis de traçar sua origem; e que estamos realmente no mano-a-mano e todos juntos em uma dimensão que não é tão acessível e sólida como você desejaria que fosse (como Joyce comenta em Finnegan’s Wake).

Os psicodélicos são o red-hot, a edição social/ética porque eles são agente descondicionadores. Eles levantarão dúvidas se você é um rabino ortodoxo, um antropólogo marxista, ou um homem de altar porque o seu negócio é dissolver sistemas de crenças. Eles fazem isso muito bem, e depois eles deixam você com uma ferida na experiência, o que William James chamou – tomando uma experiência infantil – “uma confusão florida, barulhenta.”

Fora isso você reconstrói o mundo e precisa entender que esta reconstrução é um diálogo onde suas decisões – a projeção de sua gramática no espaço intelectual em sua frente – irá formar um gel sobre o ser. Nós todos criamos nosso próprio universo porque estamos todos operando com a nossa própria linguagem privada que são somente traduzíveis através da linguagem de outra pessoa. Há ainda um análogo físico a isto que irá promover um reforço desta noção de separação e nossa singularidade.

A imagem do mundo que se forma em seus olhos é feita de fótons. Fótons são minúsculos pacotes de luz tão próximas que podem ser pensadas como partículas. Isto significa que cada fóton que toca o fundo dos seus olhos é diferente dos fótons que tocam o fundo dos olhos de qualquer outra pessoa. Isto significa que eu me baseio em uma seção do mundo 100% diferente da imagem que qualquer um de vocês estão se baseando. E ainda estamos sentados aqui com uma suposição ingênua de que nossas imagens do mundo diferem somente pela nossa perspectiva dentro do espaço desta sala.

Temos inúmeras suposições ingênuas como esta construção do nosso pensamento. Nosso mecanismo explanatório mais venerado – tal como “ciência” – surge também como nosso mecanismo explanatório mais velho. Portanto, eles têm se construídos como a mais ingênua e não-examinada suposição. “Ciência”, por exemplo, podemos demolir em trinta segundos. A “ciência” diz a você um grupo de condições que criará um efeito dado, e a cada momento que o grupo de condições estiver em seu lugar o efeito será obtido. O único lugar que isto acontece é dentro de um laboratório. Nossa experiência não é assim. O contato com uma pessoa é sempre diferente. A experiência de fazer sexo, comer uma refeição, tomar um ônibus – isto penetra no ser – e torna suportável de todo jeito. A “ciência” ainda deseja dizer a você que somente o valor das coisas descritas em um fenômeno podem ser disparadamente repeditas. Isto se dá porque estes são somente os fenômenos que a ciência pode descrever, e é o nome do jogo com o qual ela se preocupa.

Mas nós temos que reivindicar nossa liberdade – tomar vantagem do abismo minúsculo entre o imenso abismo do desconhecimento; seja talvez a morte, ou reencarnação, ou transições para outras formas de vida. Estas coisas nós não sabemos ou entendemos, mas no momento que somos humanos temos a rara oportunidade de descobri-las. E eu tenho fé de que isto é possível – em algum lugar ou em algum momento. Talvez nenhum progresso seria feito até a nona hora em que a realidade pudesse ser literalmente fragmentada em pedaços, para além do ponto de reconstrução.

Existe, definitivamente, uma tendência anti humanista em todos os sistemas, Ludwig von Bertalanfe, que foi o inventor da teoria dos sistemas gerais, disse, “pessoas não são máquinas, mas em toda situação que elas tiverem a oportunidade, elas irão agir como uma.” Estamos todos caindo em padrões. Nós seguramos estes padrôes cada vez mais forte. Eles não podem ser violados; e isto acontece no nível das idéias.

Estamos agora no crista da onda da história, em tipo de aperto que nos devolve ao passado. Espero que tenhamos chegado ao fim desta fase. Queira você comprar minha visão apocaliptica transformadora envolvendo 2012, ou queira você dizer que somente por olhar ao seu redor você tem certeza que, logo, logo, a merda vai ser atirada ao ventilador, eu acho que nós concordamos que estamos diante de um impasse. O que está para acontecer será ou um grande deslocamento da biosfera, causando uma invalidação da inteligência como uma adptação biológica e nossa extinção; ou iremos nos tornar – como James Joyce sonhou – “o homem auto governável;” em outras palavras, a exteriorização do espírito e a interiorização do corpo.

Neste processo, tudo terá de ser desafiado. Toda a noção de humanidade será desafiada. Estamos à beira da manipulação do DNA, ou de tomar controle da forma humana, de sermos capazes de extender a noção de arte para dentro do corpo humano. Somos clássicos? Deveríamos ser Adonis e Perséfone? Ou o que somos nós? Somos surrealistas? Deveria eu ser uma batata ou uma girafa em chamas? Estas são questões que terão de ser enfrentadas. Eu sorrio enquanto falo isto, mas estas questões são importantes.

E a noção de ganho vertical que vemos nas metáforas feitas em relação à experiência psicodélica: expansão da consciência, ficar chapado (getting high – a tradução seria “elevar-se”), viagem psicodélica, vôo xamânico. É como se os alucinógenos fossem o feminino, o software, o formador, o cabo condutor do que está ocorrendo. Seguindo por trás vem o hardware, a mentalidade construtora masculina.

Isto irá continuar até que o cabo condutor das longas distâncias da engenharia contrutora se rompa. Esta é a crença xamânica: que nós podemos encontrar uma maneira de usar químicos em nossos corpos, usar nossas vozes, nossos pensamentos e nossas mãos por sobre nós e sobre os outros; para transformar nós mesmos sem nenhuma tecnologia; para nos movermos no reino da imaginação com uma tecnologia psicofarmacológica interiorizada que nos liberte dentro da nossa imaginação.

Ao mesmo tempo isto está acontecendo com a mentalidade construtora masculina, que irá colocar sociedades humanas na órbita da terra/lua e em planetas próximos. Mas há um porém para a mentalidade construtora, que é um vácuo que envolve os planetas e exemplifica este abismo e o elemento feminino. É o mistério da Mama matrix de Finnegan’s Wake. A misteriosa Mama matrix é o universo, e não há como escapar deste fato. Mas eu penso que a mentalidade construtora, que irá tentar transformar o homem em suas máquinas será desestabilizado pelos psicodélicos, pelo pensamento voltado ao planeta, pelo lado voltado à imaginação de nossa consciência, que irá criar as bases para o casamento espiritual que será a incubação química de um novo formato da humanidade; e isto não está longe.

Não pode estar longe. Esta é uma responsabilidade inerente a todos nós que nos faz criá-la. Há uma obrigação definida para examinar as possibilidades de ação, e para pensar claramente sobre si e sobre o outro, sobre a linguagem e o mundo, sobre o passado e o presente. Por muito tempo nós vivemos em um mundo definido pela geografia. Se você nasceu na Índia, você achará que o cosmos é de uma maneira. Se você nasceu no Brooklyn, você achará de outra. Precisamos transcender estas grades do destino biológico, que nos torna aquilo que nós não queremos ser. Nós podemos clamar por este nível mais alto de liberdade através do simples ato de prestar atenção à existência.

Precisamos começar a exprimir nossas visões ideológicas antes que sejamos consumidores das próprias. Precisamos desligar a nossa TV interna que nos puxa para as suposições culturais ditadas pelo Pentágono, Madison Avenue, e pelo estado corporativo. Precisamos, ao invés disso, ligar nossos modems e começar a interagir como pessoas dotadas de mentalidade pelo mundo afora e estabelecer esta nova ordem intelectual que será a salvação da biosfera, eu acredito firmemente nisto. A internet finalmente concretiza nossa coletividade permitindo que pessoas sintam a interrelação de seus destinos; sentem a interrelação como uma coisa que transcende divisões nacionais, divisões ideológicas. A net permite que cada um de nós recupere a experiência de ser parte de uma família humana.

Nenhuma reconstrução de sociedade pode ser feita sem psicodélicos porquê nós perambulamos durante muito tempo sem eles. Certamente somos produtos de uma sociedade que foi longe demais sem psicodélicos como nenhuma outra cultura no mundo. Isto foi há dois mil anos desde que o Mistério foi real em Eleusis e nestes dois mil anos perambulamos longe na disfunção e na confusão. Mas nós somos filhos pródigos. Podemos reparar a idéia de xamanismo a partir do estase social pré-tecnológico e projetá-lo, aperfeiçoá-lo e viajar com ela para além das estrelas.

E se não fizermos, tudo estará perdido. Há somente riscos e comprometimentos nestas aspirações milenares e nestas metas culturais, metas que têm o potencial de restaurar o significado e a direção para nossa civilização. Se isto não for feito iremos fragmentar nossa oportunidade e deixar o horror e a destruição do típico cenário futuro.

 


Anarquicamente copiado de:
FORTE, Robert. Entheogens And The Future Of Religion. San Francisco, CSP, 1997.

Humildemente traduzido por:
Waver

http://www.cogumelosmagicos.org
http://www.plantasenteogenas.org
Versão copyleft – idéias não têm dono. Espalhe a palavra.

O novo salto quântico da consciência

To postando esse texto escrito pelo Ricardo Kelmer, um excelente escritor que mantém o site http://www.ricardokelmer.net …. confiram para mais textos

Foi uma Crônica que ele fez sobre o livro “The White Hole in Time” (Peter Russel), que tem um filme de mesmo nome que mostra as raízes da crise humana… na verdade uma crise de consciência
Texto muito bom, que ganha aqui mais um canal pra que a informação chegue a mais pessoas

“A cada dia mais e mais pesquisadores ligados ao estudo da consciência, antropologia, psicologia e botânica se debruçam sobre uma possibilidade no mínimo intrigante e polêmica. É provável que as plantas psicoativas (que induzem a mente a funcionar em estados especiais) possam ter contribuído significativamente para o surgimento da autoconsciência, fator decisivo que proporcionou aos nossos ancestrais, num determinado ponto da evolução, as condições para sobreviver e gerar a incrível espécie a qual pertencemos: o Homo sapiens.

Admitir tal hipótese é mexer num vespeiro. Muita gente se indagará: “Quer dizer que nós humanos só existimos porque um bando de macacos comeram umas plantinhas e ficaram doidões?” Imagino os mais religiosos: “Era só o que faltava! Deixa só Deus escutar isso!” Pois infelizmente para muita gente, e até para alguns deuses, essa hipótese vem sendo estudada com seriedade e encontra ressonância positiva no meio científico.

Quem já passou por uma experiência com as tais “plantas sagradas”, como a Ayahuasca, o Peiote e a Jurema, sabe perfeitamente do imenso poder que elas guardam. E sabe também que elas não se prestam a um consumo recreativo, exatamente porque costumam tocar muito fundo em nosso interior, abalando nossa compreensão da realidade e de nós mesmos e nos fazendo emergir da experiência profundamente transformados. Xamãs e pajés do mundo inteiro as utilizam há milhares de anos em contextos religiosos e terapêuticos. Atualmente médicos e pesquisadores de vários países estão unindo medicina acadêmica com antiquíssimas práticas xamânicas que envolvem o uso de plantas psicoativas e, com essa curiosa união, vêm obtendo resultados animadores na cura de muitas doenças como a dependência química.

Atualmente no Brasil proliferam-se seitas e dissidências de seitas que em seus rituais utilizam chás à base dessas plantas, chamando a atenção de estudiosos para o emergente fenômeno. Toma-se o chá para entrar num estado de consciência não ordinário, onde é possível viver experiências sensoriais e cognitivas as mais diversas. Há quem encontre pessoas vivas ou mortas, santos, entidades animais ou espíritos de plantas. Há os que experimentam capacidades psíquicas incomuns ou vivenciam uma intensa sensação de união com a Natureza e tudo que existe. Há quem passe por profundas experiências de auto-investigação psicológica como também de autocura ou seja tocado por revelações importantes que podem mudar toda uma vida. Pode não acontecer nada mas também pode ser prazeroso ou doloroso. Pode ser infernal ou divino mas será sempre construtivo. Depende de cada um e de seu momento. Os religiosos radicais, sempre obcecados, diriam que é coisa do demônio. Alguns psicólogos talvez usassem o termo “terapia de choque”. Talvez nada mais seja que um providencial reencontro consigo mesmo e com sua verdade mais íntima.

Por que a crescente procura atual pelas plantas de poder dos xamãs? Por qual razão tantas pessoas ousam se submeter a uma experiência incerta, largando a segurança de sua mente cotidiana e desafiando o desconhecido de si mesmo? Minha impressão é que isso tudo talvez signifique, em última instância, uma forma de religação à Natureza. Religação sim, porque, na verdade, nós também fazemos parte da Natureza. O que houve é que, infelizmente, passamos a nos ver separados dela e com isso nos distanciamos demais da sabedoria natural do planeta e agora, perdidos num mundo cada vez mais caótico e insano, buscamos com avidez crenças e experiências que nos reconectem ao sentido maior da vida e às nossas verdades mais profundas. Entendo isso como um anseio natural e legítimo de uma espécie adoecida: o anseio de cura, liberdade, totalidade e harmonia com a Mãe Terra.

o que liberta também escraviza

Por minha própria experiência, sei que plantas psicoativas podem ser bastante úteis porque nos fazem olhar para dentro, nos reconectam às leis naturais e ao sagrado de nossas vidas, nos lembram de nosso potencial para a autocura e ajudam a nos libertarmos de medos, culpas e bloqueios. Não há como não se transformar após um profundo encontro consigo mesmo. É por isso que quem passa por tais experiências xamânicas engrossa a legião dos que entendem o mais importante: somente a profunda mudança interior de cada um é que fará finalmente com que o mundo mude para melhor.

Este talvez seja o convite que as plantas sagradas fazem neste momento à nossa espécie: quanto mais pessoas se religarem à sua verdade mais íntima, mais próxima a humanidade estará de seu ponto de equilíbrio. Por outro lado, sei também que a espécie humana está doente e que, na busca angustiada pela cura, é capaz de exagerar no remédio. Por isso, nessa urgente busca por valores espirituais, é preciso, acima de tudo, priorizar a liberdade e atentar para o risco sempre presente de cairmos escravos exatamente daquilo que um dia elegemos como libertador. As plantas sagradas não ficam de fora desse perigo. Tenho amigos que fazem parte de seitas que utilizam tais plantas e certamente discordarão. Respeito o que eles pensam e admiro sua busca pessoal. Porém, como tudo o mais que existe, as plantas sagradas também possuem dois lados. Se um lado liberta, o outro está lá prontinho para escravizar caso você não se mantenha atento, equilibrado e sem apegos excessivos.

Religiões, seitas e gurus funcionam muito bem para os que necessitam de regras ou se sentem mais seguros pertencendo a um certo grupo. Eles estão em seu caminho e isso deve ser respeitado. Mas há pessoas que conseguem beber em todos os ensinamentos e usufruir do melhor que eles lhes oferecem sem ter de se enquadrar em nenhum específico. É um caminho mais solitário, evidente, e exige um contínuo “estar aberto” – mas que exatamente por isso recompensa quem o trilha com a liberdade que nenhum outro caminho pode oferecer. As regras da seita ou as palavras do guru podem até iluminar durante um tempo, sim, mas até mesmo essa luz pode cegar para os horizontes seguintes da jornada. O principal ensinamento das plantas de poder (assim como deveria ser o de todo guru) é este: devemos abandonar todas as muletas e aprender a caminhar por nós mesmos.

O atual processo coletivo de reconectar-se aos valores da Natureza através das plantas psicoativas não significa uma espécie de retrocesso evolutivo e que devemos voltar a saltar pelas árvores. Nada disso. Uma vez ultrapassados, os marcos da evolução da consciência sempre nos impulsionam para o novo, jamais para trás. Acontece que a verdadeira evolução avança em forma de espiral e é por isso que quando o caminho parece retornar a um determinado ponto, na verdade ele está sim passando novamente por lá – porém num novo nível, mais acima, numa nova dimensão.

Talvez essas poderosas plantas, que acompanham nossa espécie desde seu nascimento numa impressionante relação simbiótica, estejam agora nos oferecendo a preciosa oportunidade de mais um salto quântico da consciência, uma intensa transformação da mente e de sua interpretação da realidade – como fizeram nossos peludos antepassados em algum ponto de sua jornada. Agora, porém, diferente deles, possuímos razão e discernimento. Possuímos milênios e milênios de experiência sedimentados no inconsciente comum da espécie e temos nossos próprios erros para nos guiar.

Retornaremos à Mãe Terra e ao sagrado, sim, porque não há outro caminho se quisermos de fato sobreviver como espécie. Mas o faremos num novo nível porque agora estamos mais capacitados para enfrentar o grande mistério da vida, esse mistério que nos maravilha e assombra cada vez que olhamos para o sem-fim do mundo lá fora ou para o infinito interior de nós mesmos.


Ricardo Kelmer é escritor, letrista e roteirista e mora em São Paulo, Terra, 3a. pedra do Sol

O Crepúsculo

O crepúsculo anuncia
A chegada de um novo dia
Os pássaros cantam uma harmonia sutil, como em ritual de agradecimento, celebrando esse momento
A chegada da luz faz a escuridão se dissipar
Revelando as cores vivas daquele lugar
O sol já vai nascer
A nova vida vai começar…
Acenda a luz da sua consciência
E comece a participar

Tentam manipular seus desejos
Para não enchergar o que você realmente precisa
Falsas comodidas entorpecem sua mente
E te tornam alheio ao milagre da vida
Assim os dias parecem iguais
Nem sabes o que quer, mas quer sempre mais
e nunca se satisfás….
Pense na real causa de seu desconforto, e acredite
Os pássaros têm muito a lhe dizer
E o nascer do sol muito a lhe mostrar

Na Teia da Sálvia


Minha Experiência com Sálvia Divinorum

Vou relatar aqui minha experiência com a Salvinorina…. Apesar de curta, foi uma das minhas mais intensas experiências dentre todas, no sentido de ter me provocado mais reações posteriores….. 5 minutos que valeram uma vida!
Mas antes de correr pra arrumar Sálvia, leia o relato e veja que em nenhum momento foi divertido!

Acordei 9:00 na manhã de sol e minha casa estava vazia pois tínhamos combinado de almoçar fora…. Comecei a assistir um filme que logo me encheu o saco. Sabia que precisava fazer alguma coisa diferente…. foi aí que lembrei que minha encomenda, que eu havia feito com o Rafael, já tinha chegado e senti que era hora de experimentar… Tinha ainda 2 horas antes de encontrar a minha família pro almoço.

Fui para o meu quarto, acendi um incenso e coloquei uma música leve. Separei uma dose do extrato de Sálvia e enchi o meu pipe…. já sentado na cama e encostado no travesseiro.
Mandei pra dentro em dois tapas e aguardei….
Esperava passar por uma viagem tranqüila…. mas tudo foi muito sinistro

Senti minha visão se alterando levemente e me senti indo em direção a algum lugar….
De repente, em um instante meu quarto se transformara numa grande “Teia” em espiral, formada por plantas… e senti uma presença muito forte de uma entidade… como se fosse a grande “Aranha-Mãe” da Teia… uma entidade um pouco sádica e não muito bondosa comigo…. (fui racionalizando os sentimentos e dando a minha interpretação à eles: digo isso, pois pra quem experimentar certamente será diferente.)

A “Planta-Rainha” era muito poderosa, mandava naquele lugar. E seu poder era compartilhado por outras entidades que estavam fora da “teia”, mas era possível sentir a suas presenças… o tempo todo elas se comunicando com a “Rainha”….. e ela foi tentando tomar o controle da minha cabeça através do medo.. Senti ela como sendo meu sentimento interior de medo.. e o tempo todo era como se as entidades rissem de mim e me dissessem:
– “ Olha só quem veio brincar com a gente”
– “ Veio Brincar onde não devia?! Agora agüenta!
– “ Agora você tá preso aqui, mané… Não tem pra onde correr ”

e eu sentia claramente isso….

Percebi que de fato era uma brincadeira idiota… ou talvez o idiota fosse eu por querer brincar com uma coisa que se mostrou muito séria!
O sentimento de medo era intenso como eu nunca havia sentido antes…. era forte, pouco confortável e parecia não ter fim…. meu corpo não existia mais, só o sentimento e as zombarias das “entidades-plantas” cada vez rindo mais e querendo me aprisionar naquela “teia”

A “planta-rainha” ficava a minha esquerda e estava sendo responsável pela construção daquele caminho.. as outras entidades se comunicavam com ela, mas eu não as via… O tempo todo parecia que elas queriam me castigar por ter ido brincar onde não devia…. brincar no mundo delas…
Me senti como uma criança no meio de pessoas más que queriam me fazer mal…. Queria chorar, mas lembrava que aquilo ia passar!
Mesmo nunca tendo passado por aquilo, senti que aquela situação não era novidade… como se estranhamente eu já tivesse presenciado aquilo ….

Com o medo tomando conta, minha reação foi me afastar da planta….. agindo por instinto, joguei o pipe com as cinzas na lixeira do meu quarto…. em vão.
As entidades mais uma vez zombaram de mim como se dizendo:
– “Ha Ha Ha ..Garoto idiota!! Você acha que isso vai adiantar??? Isso está acontecendo muito além desse pequeno plano … Você não está no seu quarto e o problema não é a planta!!!”

Quando percebi o óbvio, vi que somente naquele plano eu conseguiria resolver a situação… foi quando alguma coisa interior começou a “argumentar” com a “Planta-Rainha”, dizendo a ela que eu iria agüentar!!! Que não ia mais me sujeitar ao medo… Supostamente havia entendido a origem do medo onde estava se manifestando o mal…

A Planta-Rainha não queria desistir, e junto com as outras entidades começou a “falar” que eu não ia conseguir… mas me mantive forte….
Foi engraçado, porque quando a Rainha percebeu de fato que eu não ia mais ceder, ela simplesmente virou as costas e foi embora junto com as outras presenças me libertando da Teia…

Foi engraçado sentir que as entidades conversavam zombando de mim, como dizendo “pegamos ele” “agora eu quero ver aguentar” e coisas do tipo. Foi como ficar sob o poder delas, no mundo delas! E não existia saída sem encarar a situação de frente…..

No geral, apesar de ter sido meio aterrorizante, me fez um bem enorme…. Saí da trip completamente mudado…
Qualquer coisa que antes me assustava ou me impedia de estar tranqüilo, perderam o peso….  nenhum medo até hoje na minha vida superou o encontro com a “Planta-Rainha”

Infelizmente as palavras são limitadas e não conseguem explicar o que de fato aconteceu.. só dar uma pequena idéia. Foi intenso.

medos são sentimentos… eles não tem causa… eles existem ou não existem… se existem, nós mesmos criamos suas “causas” que na real são só as razões pra nós mesmos assumirmos que ele existe

Forte abraço amigos
Fiquem em Paz.

Dany3l

– Acrescentando informação ao post (em 15/07/2009)

Em virtude da atual popularização da Sálvia Divinorum, acho importante acrescentar que não se trata de uma planta recreativa. A experiência espiritual que advém do seu consumo transcende a realidade ordinária e tradicionalmente é utilizada por nativos mexicanos que a chamam de “los ojos de la pastora”…
Constitui um meio de auto conhecimento cuja experiência surpreende pela peculiaridade e intensidade… Os mais diversos tipos de experiência são relatados, os mais diversos níveis de consciência são atingidos
Sálvia Divinorum é um enteógeno. Deve  ser respeitada como é a Ayahuasca, o Psilocybe Cubensis e tantas outras ferramentas…. portanto, antes da experiência, pesquise sempre mais, busque informação, não limite seu conhecimento, e identifique sempre qual o seu propósito para o uso.

– Informações técnicas importantes (atualizado em 21/03/2010)

Retirado da Comunidade “enteógenos sem dogmas

A Salvia divinorum é a única entre milhares de espécies do gênero Salvia que apresenta efeitos psicoativos (embora suspeite-se que outras espécies possam conter essas propriedades). Originária do México na Sierra Mazateca, é considerada rara, o que torna difícil a sua obtenção. Difícilmente se reproduz por sementes, sendo multiplicada através de cortes enraizados (clones, as famosas mudas).

Seu efeito é extremamente forte, principalmente quando usados extratos potencializados, que nada mais são do que folhas concentradas com a substância psicoativa. É extremamente recomendável que os futuros usuários venham a se informar sobre seus efeitos antes de se aventurarem. Não é uma erva a ser usada em festas, raves ou com multidões, pois exige uma certa discrição da parte do usuário para que o mesmo se sinta a vontade. Não é uma droga recreativa e pode ser traumático quando usada nessas condições.

Até hoje, não existe confirmação de que seu uso é prejudicial a saúde, não acarreta vício e seu uso tende a não ser freqüente. Contudo, bons estudos estão sendo feitos in vivo e in vitro e o uso tradicional está garantido por um conhecimento e histórico de uso centenários.

É considerada LEGAL na maioria dos países, sendo que a Itália, 2 estados dos EUA e a Austrália já proibiram o uso da planta sem antes fazer um estudo sobre a periculosidade da mesma. Tal medida mostra a falta de critério científico por parte dos legisladores quanto aos requesitos usados para se proibir uma substância. Acredita-se que essa medida foi tomada devido a algumas notícias de incidentes nos EUA, sendo que nenhum deles foi comprovado ter sido causado pelo consumo da planta. A única alegação neste sentido teria sido da parte da mãe de um usuário que cometeu suicídio inalando gas de cozinha dentro de uma barraca. Apesar de ele não estar sob o efeito de salvia no momento do suicídio, ela afirmou: “Só pode ter sido culpa dessa planta”.

Tem como pricípio ativo a Salvinorina A, que, no entanto, não se trata de alcalóide, mas de um diterpeno, com ação diferente da maioria das substâncias psicoativas. Pesquisas atuais sobre o efeito da salvinorina no organismo revelaram que esta, além de não ser uma substância que leva à dependência, apresenta propriedades antidepressiva, analgésica e ainda mostra-se promissora para o desenvolvimento de fármacos para o tratamento da esquizofrenia e dependencia química.

É chamada por alguns como o alucinógeno natural mais potente já descoberto, só perdendo para o LSD, o qual não é encontrado na natureza (é um semi-sintético). Por isso, pode conduzir a estados alterados de percepção onde não se recomenda interação com máquinas ou eventos sociais. Daí o uso espiritual étnico entre os Mazatecas e bruxos ancestrais.

Curiosidade

Devido à dificuldade de se obter sementes férteis, sua propagação tem sido feita através de cortes de seus galhos que são enraizados em água, isso vem ocorrendo nas últimas décadas. Suspeita-se que os clones espalhados pelo mundo inteiro têm origem em apenas 3 espécimes, ou seja, os clones espalhados pelo mundo todo são geneticamente idênticos.Uma das mudas mais difundidas foi originada pela muda coletada no Mexico por Albert Hoffman, o mesmo doutor que sintetizou o LSD

Uso Tradicional

Os “curanderos” mexicanos a usam mascando suas folhas, uma pessoa necessita de cerca de 50 a 100 folhas para obter uma experiência visionária. Tal método é ineficiênte, a absorção da Salvinorina ocorre na realidade pelo tecido sublingual durante a mastigação e não pelo estomago, mas ao contrário do uso moderno, em que se fumam as folhas e se obtem um efeito rápido, ao mascar as folhas o usuário obtém efeitos mais prolongados, podendo chegar a até 2 horas após a ingestão.

Uso Moderno

Há, normalmente, 4 métodos que são utilizados para consumir as folhas da Salvia Divinorum: aromatizando os ambientes, mascando as folhas, fumando as folhas e usando tinturas ou essências sublinguais.O uso de várias plantas em rituais sempre foi prática xamânica tradicional. Elas são, geralmente, queimadas na preparação do ambiente em que são celebrados os rituais xamânicos. É dito que a fumaça das folhas inspira o xamã e o ambiente circundante, propiciando o contato com outros mundos e entidades auxiliadoras.É sabido que mascar as folhas de Salvia Divinorum tem sido o método tradicional utilizado pelos xamãs mazatecas (chotachine). Segundo informações colhidas, os xamãs utilizam entre 10 e 60 folhas, aos pares, enroladas umas nas outras (“quid”), formando uma massa compacta, sendo então mascada, sem engolir o sumo das folhas. Para alcoólatras, o xamã chega a utilizar cerca de 100 folhas, o que sugere que o álcool bloqueie os efeitos da salvinorina. Masca-se por cerca de 30 minutos ou até atingir o estado de consciência almejado. Os xamãs afirmam ser essencial manter o sumo das folhas na boca o máximo possível, podendo-se engoli-lo após o uso ou, ir engolindo o sumo bem lentamente, à medida que se for mascando. Em geral, afirma-se que a pessoa precisa de doses maiores nas primeiras vezes, pois, segundo a tradição xamã, ela tem que “soltar as amarras e aprender o caminho”. Caso sejam folhas secas, tem-se recomendado deixá-las de molho na água fria, pouco antes da mascagem, para que amoleçam e possam ser enroladas uma na outra.

Supondo uma pessoa com nível mediano de sensibilidade, tem se afirmado que 12 a 24 folhas frescas de Salvia Divinorum, mascadas por 30 minutos, são suficientes para obter um estado meditativo profundo. Neste método, o elemento psicoativo é assimilado pela língua, gengivas e demais tecidos bucais. Por isso não se deve engolir o sumo imediatamente, mas mantê-lo na boca pelo maior período de tempo possível. Relata-se que, neste método, os efeitos psicoativos iniciais começam após 15-20 minutos, aumentando pelos próximos 30min, quando então, gradualmente, vão se amenizando até terminar uma ou, no máximo, duas horas depois, quando a pessoa estará se sentindo totalmente normal.

No mercado, existem as “folhas fortificadas”, também denominadas extratos. São folhas comuns de Salvia Divinorum banhadas em solução de salvinorina na proporção de 5 vezes mais do que uma folha normal (5X), ou 10 vezes mais forte do que o normal (10X). Tem-se dito que elas são feitas para certas pessoas, denominadas “cabeças duras”, que têm pouca sensibilidade à folha natural da Salvia. Portanto, é importante verificar a sensibilidade de cada um, antes de utilizar as folhas fortificadas para incenso já que, muitas vezes, não seriam necessárias.Há também as tinturas ou essências de Salvia Divinorum, que são um composto alcoólico, assim como são certas gotas homeopáticas, com a diferença de que possuem uma maior concentração de álcool.

O que é um extrato de Salvia?

Extrato de Salvia é quando o princípio ativo, a salvinorina-A, é extraído da planta com o propósito de aumentar a concentração do mesmo. Por exemplo: Você pega 9 gramas de folhas de Salvia divinorume extrái a salvinorina que é depositada de volta em outro 1 grama de folhas. Então, esse outro 1 grama de folhas terá a potência aumentada em 10 vezes (9+1), daí o nome 10X. Resumindo, você terá colocado a quantia de salvinorina que existe em 10g de folhas em apenas 1g de folhas.Geralmente, esses extratos são divididos em Standardized Extracts(extratos padronizados) e Non-Standardized ou Crude Extracts (extratos não padronizados).Standardized Extracts (Extratos padronizados) : É aquele onde o princípio ativo – no caso a Salvinorina-A – é extraído da planta e isolado, pesado e então recolocado nas folhas secas em uma quantia específica. No caso de extratos de Salvia divinorum, 2.4mg é considerada a quantia padrão (standardized) para cada grama de folha seca. Por essa razão, se vc quiser elevar sua folha para 10x, você precisa colocar 24mg de extrato por grama de folha. Entretanto, essa quantidade pode variar de 0,8 a 3,6mg de Salvinorina-A por grama de folhas.

Partindo dessas informações, concluímos a quantidade de Salvinorina-A presente em cada grama de extrato STANTARDIZED (padrão – 2.4mg):

1g de Extrato 5X – 12mg de Salvinorina-A
1g de Extrato 6X – 15mg de Salvinorina-A
1g de Extrato 10X – 24mg de Salvinorina-A
1g de Extrato 15X – 36mg de Salvinorina-A
1g de Extrato 20X – 48mg de Salvinorina-A
Obs.: 1g de Extrato significa 1g de folhas secas picotadas onde foram adicionados de salvinorina.

Obs.: Foram usados os valores 5X, 6X, 10x, 15X e 20x, pois são os mais comumente encontrados. E também por serem os extratos mais seguros para uso, sendo que os mais fortes são perigosos.
Entretanto, como dito acima, a quantidade de Salvinorina-A em cada grama de folhas pode variar de 0,8 a 3,6mg. A maioria dos fabricantes de extratos trabalham com extratos de 3,6mg. Dessa maneira, confira a outra tabela baixo:Quantidade de Salvinorina-A presente em cada grama de extrato 3,6mg:1g de Extrato 5X – 18mg de Salvinorina-A
1g de Extrato 6X – 21mg de Salvinorina-A
1g de Extrato 10X – 36mg de Salvinorina-A
1g de Extrato 15X – 54mg de Salvinorina-A
1g de Extrato 20X – 72mg de Salvinorina-ANON-Standardized Extracts ou Crude Extracts (extratos não-padronizados): É feito socando-se as folhas em uma variedade de solventes para retirar/extrair a Salvinorina-A, e então a mistura é adicionada à outras folhas. Os problemas desse método são: uma boa parte da Salvinorina-A é perdida junto com os solventes; concentra uma grande parte de alcatrão e de outras substâncias nocivas; não queima tão bem quanto um Standardized; e não se tem noção da quantia exata do alcalóide por grama de folha, pois como dito acima varia de folha à folha.Quantidades usadas quando fumada:

Folhas normais de Salvia: de 1/2 a 1 grama.
Folhas de alto nível (High grade leaves): de 1/4 a 1/2 de grama.
Extrato de Salvia 5x: de 1/10 a 1/3 de grama.
Extrato de Salvia 6x: de 1/10 a 1/4 de grama.
Extrato de Salvia 10x: 1/10 de grama.
Extrato de Salvia 15x: 1/20 de grama.
Extrato de Salvia 20x: de 1/25 a 1/20 de grama..

—-> Segue alguns links com mais informações importantes sobre a “divina pastora”


Importante.

A Internet libertou as pessoas da informação tendenciosa e manipulativa que algumas redes de imprensa gostam de impor.
Através de suas revistas e programas de TV, clichês direcionados à parcela da população que busca conforto na ignorância, trata assuntos  recentes e importantes como a Sálvia Divinorum de forma superficial e longe da realidade. Dessa forma constroem “pseudo-verdades” psicológicas que são cuidadosamente inseridas no senso comum sob a máscara de “reportagens informativas”. Enquanto na verdade o que ocorre é o caminho inverso, pois não levam em consideração os fatos e registros de experiências, afastando o espectador da verdade, fazendo um trabalho de desinformação. São matérias arquitetadas com interesses específicos, que se aproveitam do medo que essas pessoas tem daquilo que não conhecem, não compreendem ou querem fingir que não existe.

Portanto, estejam sempre atentos ao que lhes é oferecido.
Pesquise sempre, se informe sempre, não aceite uma só informação, busque sempre mais informação. Questione! Questione até o que você acha que tem certeza. ….. busque sempre a experiência direta.

Entrevista Terence Mckenna – OMNI

x240-uuHTo postando um trecho traduzido de uma entrevista que achei muito interessante. Pra quem não conhece, Terence McKenna foi um pesquisador de plantas psicodélicas de projeção internacional. Nasceu no Colorado (Estados Unidos) em 1946, graduou-se pela Universidade de Berkley e obteve mestrado em Xamanismo e Conservação de Espécies Botânicas. Em 1992 publicou o livro “Food of the Gods” (“Alimento dos Deuses”), onde descreveu a evolução humana a partir do consumo de substâncias como o DMT e a psilocibina, encontrada em cogumelos alucinógenos. McKenna morreu em 2000 e é considerado por muitos como um “cientista da Nova Era”. Esta entrevista foi concedida a revista OMNI em 1993.

A entrevista pode ser encontrada integralmente (sem tradução) aqui: http://deoxy.org/t_omni.htm Inclusive, se alguém tiver disposição e conhecimento pra traduzir tudo, sinta-se à vontade, pois seria um grande prazer postá-la por completo =)

OMNI: Para que servem suas pesquisas com substâncias psicodélicas?

MCKENNA: É uma tragédia pensar que alguém pode ir para o caixão ignorante das possibilidades da vida. E faço analogia com o sexo. Poucas pessoas podem evitar, em suas vidas, uma experiência de natureza sexual, já que sexo é uma das informações de que a condição humana dispõe. Sexo é um grande prazer, sexo liberta. Detesto pensar que alguém pode morrer sem experimentar sexo! O mesmo acontece com a experiência psicodélica. Ela é parte legítima da condição humana. Ela disponibiliza uma infinidade de informações fundamentais que perdemos quando o homem passou a se distanciar da natureza.

OMNI: “Food of the Gods” liga DMT à psilocibina. Qual a relação?

MCKENNA: A psilocibina e o DMT são quimicamente da mesma família. Meu livro é sobre a história das drogas; mostra o impacto cultural e o poder de desenhar a personalidade que elas possuem. As pessoas têm tentado, sem sucesso, responder como nossas mentes e consciências podem derivar do macaco. Já formularam todo o tipo de teoria sobre isso, mas para mim a chave que destranca este grande mistério é a presença de plantas psicoativas na dieta do homem primitivo.

OMNI: O que o levou a concluir isto?

MCKENNA: A teoria ortodoxa da evolução nos diz que pequenas mudanças adaptativas de uma espécie acabam sendo geneticamente impressas em seu DNA. Os descendentes da espécie vão acumulando novas mudanças adaptativas, até que o conjunto de mudanças gere outra espécie. Pesquisas de laboratório mostram que a psilocibina, mesmo ingerida em quantidades muito pequenas, é capaz de imprimir mudanças em nós. Nos anos 60 Roland Fisher, do National Institute of Mental Health, deu psilocibina a voluntários, e então realizou testes oftalmológicos. Os resultados indicaram que a visão periférica aumenta quando havia psilocibina no organismo do voluntário.
Bem, o aumento da visão periférica seria de grande ajuda adaptativa para o hominídeo, pois caçavam com mais sucesso e se defendiam melhor, também!

Então aqui temos o fator químico: quando adicionado à dieta, psilocibina resultou num excelente “artefato” de sobrevivência.Quando os macacos desceram das árvores encontraram cogumelos no solo. Em pequenas quantidades aumentou sua capacidade visual periférica; em maiores quantidades, aumentou as atividades de seus sistemas nervosos centrais, que resulta em maior atividade sexual e, conseqüentemente, descendentes que carregam genes modificados pela psilocibina.

OMNI: Como as informações disponíveis sobre a psilocibina sustentam sua teoria?

MCKENNA: Bem, este é o problema: a psilocibina foi descoberta em 1953, e não foi totalmente caracterizada até ser proibida, em 66. A janela de oportunidade que se abriu para estudá-la foi de apenas nove anos. Quem pesquisava a psilocibina nem sonhava que os estudos seriam proibidos pelo governo americano! Quando o LSD foi apresentado à comunidade psicoterapêutica, e uma grande esperança de estudos dos processos mentais e psicológicos se abriu, o governo suprimiu as pesquisas com drogas psicodélicas. A conseqüência disto é que a comunidade científica está capenga, pois não pôde cumprir sua missão de conhecer profundamente os mistérios da mente humana. A ignorância e o medo do governo atrapalharam o trabalho dos cientistas.

OMNI: Você está dando uma enorme quantidade de poder a uma droga. O que você pode dizer sobre a psilocibina?

MCKENNA: Ainda não sabemos tudo o que a psilocibina e o DMT podem oferecer. É como quando Colombo avistou terra, e alguém disse, “Então você viu terra. Isso é importante?”, e Colombo disse, “Você não entende: este é o Novo Continente”. Então uns marinheiros, como eu, retornaram da viagem dizendo, “Não há bordas no planeta, ele é redondo. E mais: não há monstros marinhos, e sim vales, rios, cidades de ouro”. É duro de engolir, mas caso possam voltar a estudar a psilocibina, os cientistas poderão revolucionar a forma com que lidamos com o ser humano e com o universo. Nos últimos 500 anos a cultura ocidental suprimiu a idéia de inteligências desencarnadas, da presença real de espíritos. Mas trinta segundos de viagem com DMT acabam com a dúvida. Esta droga nos mostra que a cultura é um artefato, que você pode ser um psiquiatra em Nova York ou um xamã em Ioruba, mas que essas realidades são apenas convenções locais que organizam as pessoas em sociedade. A experiência com DMT é universal, pois mostra do mesmo modo, para qualquer pessoa de qualquer cultura, a legitimidade do universo espiritual.

OMNI: Bem, mas a cultura nos dá alguma coisa para fazer, Terence.

MCKENNA: Sim, mas a maior parte das pessoas acha que cultura é o que é real. A psilocibina mostra que tudo o que você sabe está errado. O mundo não está sozinho, não é tridimensional, o tempo não é linear, não existem coincidências. Existe, sim, um nexo interdimensional.

OMNI: Se tudo o que sei está errado, então o que está certo?

MCKENNA: Você precisa reconstruir. É, no mínimo, uma tremenda permissão para sua imaginação. Você não tem que seguir Sartre, Jesus, ninguém. Tudo se esvai, e só o que você pensa é, “Sou apenas eu, minha mente e a Mãe Natureza”. Esta droga mostra que o que existe do outro lado é uma impressionantemente real forma de vida auto-consistente, um mundo que permanece o mesmo toda vez que você o visita.

OMNI: E o que está lá nos esperando? Quem?

MCKENNA: Você cai num espaço. De alguma forma, você pode dizer que é subterrâneo. Existe uma sensação de enclausuramento, mas ao mesmo tempo o espaço é amplo, aberto, caloroso, confortável de uma forma muito sensual, material. Há entidades totalmente formadas, não há dúvidas de que essas entidades estão lá. Enquanto isso você diz, “Batimentos cardíacos? Normais. Pulso? Normal.” Mas sua mente está dizendo, “Não, eu devo ter morrido, é muito radical, muito, muito radical. Não é a droga, drogas não fazem coisas assim”, e você continua vendo o que está vendo. A droga nos tenta revelar qual a verdadeira natureza do jogo. Que a dita realidade é uma ilusão teatral. Então você quer encontrar seu caminho até o diretor que produz a realidade, e discutir com ele o que acontecerá na próxima cena.

OMNI: Você dedicou boa parte de sua vida no mapeamento do DMT e da psilocibina. Como você os interpretaria?

MCKENNA: Estas substâncias podem dissolver numa única viagem toda a sua programação mental até então. Elas te levam de volta à verdade do organismo – a que diz que idioma, condicionamento e comportamento são totalmente desenhados para mascarar. Uma vez dopado, você renasce para fora do envelope da cultura. Você chega literalmente nu neste novo lugar.

OMNI: Você acha que realmente existe algo como uma “bad trip”?

MCKENNA: Uma viagem que acaba te fazendo aprender mais rápido do que você quer é o que as pessoas chamam de bad trip. A maior parte das pessoas tenta dosar o aprendizado inerente às drogas, mas às vezes a droga libera mais informação do que você é capaz de aprender. Para piorar, a mensagem pode ser, “Você trata mal as pessoas!”, e ninguém quer escutar isso.

OMNI: Como você pode defender as drogas com tanto entusiasmo quando elas estão associadas a tanto sofrimento e caos?

MCKENNA: Nós deveríamos falar da palavra êxtase. Em nosso mundo, comandado pela Madison Avenue, êxtase é aquilo que você sente quando compra uma Mercedes e pode bancá-la. Mas este não é o significado certo. Êxtase é uma emoção complexa que contém elementos de medo, triunfo, empatia e pavor. O que substituiu nosso pré-histórico conceito do êxtase é a palavra “conforto”, uma idéia tremendamente asséptica, letárgica. Drogas não são confortáveis, e qualquer um que pense que elas são uma forma de conforto ou escapismo não deveria tomá-las até que tenham coragem de lidar com as coisas como elas realmente são.

OMNI: Que tipo de pessoas não deveria tomar drogas?

MCKENNA: Pessoas mentalmente instáveis, sob enorme pressão, ou operando equipamentos dos quais dependem as vidas de outros seres humanos. Ou pessoas frágeis, ingênuas, superprotegidas. Algumas pessoas foram tão estragadas pela vida que a dissolução de amarras não é boa para elas. Essas pessoas deveriam ser cuidadas com carinho, e não encorajadas a arrebatar limites. Se por fatores genéticos, culturais ou psicológicos as drogas não são para você, então não são para você. Não estou pedindo para que todas as pessoas tomem drogas, mas acredito que assim como uma mulher deve estar livre para controlar sua fertilidade, uma pessoa deveria estar livre para controlar sua própria mente.

Todos deveriam ser livres para tomar o que quisessem, e estar bem informados sobre o que cada opção envolve. Exatamente como acontece com educação sexual. Hoje a forma com que lidamos com informações sobre drogas é a mesma como fazíamos nos anos trinta com sexo. Você aprendia através de rumores! Então as pessoas acabam tendo idéias absurdas sobre as coisas.

OMNI: Onde está sua esperança?

MCKENNA: Está na psicologia e nos jovens. Eles têm o que nunca tivemos: pessoas mais velhas que já tiveram experiências psicodélicas. O LSD tomou, e ainda toma, de assalto nossa sociedade. Dois estudantes de bioquímica podem fazer um pequeno laboratório móvel e produzir, num final de semana, de 5 a 10 milhões de doses de ácido para distribuir em papel pelo mundo. Esta facilidade e discrição criou uma pirâmide de atividade criminal de tanta potência que o governo reage como se um revólver estivesse apontado para sua cabeça. O que, no fundo, é verdade! A estratégia certa é subversão, atenção e discreto não-conformismo contra o tédio e a opressão do mundo.

OMNI: Terence, meu amigo, existe alguma coisa que o deixa com medo?

MCKENNA: Loucura. As pessoas me perguntam, “Posso morrer tomando esta ou aquela droga?”. É a pergunta errada. Claro que sempre existe algum risco em qualquer coisa, mas o que é realmente perigoso é a sua sanidade, porque como a desconstrução da realidade é infinita, você pode se mudar para algum
outro lugar. Tenho medo de não ser capaz de contextualizar essa desconstrução, me perder e não retornar à comunidade humana. Estamos tentando construir pontes, não navegar infinitamente.

OMNI: Como você vê o futuro?

MCKENNA: Se a história seguir futuro adentro, será um futuro de escassez, preservação do privilégio, controle da população através do uso cada vez mais sofisticado de ideologia para acorrentar e iludir as pessoas. Estamos no limite exato. O que também potencialmente nos aguarda é uma dimensão de tanta liberdade e transcendência que, uma vez lá, viveremos de imaginação. Seremos rapidamente irreconhecíveis se comparados ao que somos hoje porque hoje somos definidos por nossas limitações: a lei da gravidade, a necessidade de comer, de ficarmos ricos. Temos o poder de nos expandir indefinidamente para o prazer, atenção, carinho e conexão. Só precisamos nos libertar e nos permitir.

A Dança da Energia – Fritjof Capra

“Os conceitos de espaço e tempo são tão básicos para nossa descrição dos fenômenos naturais que sua modificação radical na teoria da relatividade acarretou uma modificação de todos os conceitos que usamos em física para descrever a natureza. A mais importante conseqüência da nova estrutura relativística foi a compreensão de que a massa nada mais é senão uma forma de energia. Mesmo um objeto em repouso tem energia armazenada em sua massa, e a relação entre as duas é dada pela famosa equação de Einstein, E = m c², sendo “c” a velocidade da luz.

Uma vez aceita como forma de energia, deixa de se requerer que a massa seja indestrutível, já que pode ser transformada em outras formas de energia. Isso acontece continuamente nos processos de colisão de alta energia, em física, nos quais partículas materiais são criadas e destruídas, sendo suas massas transformadas em energia de movimento e vice-versa. As colisões de partículas subatômicas constituem nosso principal instrumento para estudar suas propriedades, e a relação entre massa e energia é essencial para sua descrição. A equivalência de massa e energia tem sido verificada inúmeras vezes, e os físicos estão completamente familiarizados com ela – tão familiarizados, de fato, que eles medem a massa das partículas nas unidades correspondentes de energia.

A descoberta de que a massa é uma forma de energia teve uma profunda influência em nossa representação da matéria e forçou-nos a modificar nosso conceito de partícula de um modo essencial. Na física moderna, a massa deixou de estar associada a uma substância material; por conseguinte, não se considera que as partículas consistam em qualquer “substância” básica; elas são vistas como feixes de energia. Entretanto, a energia está associada à atividade, a processos, o que implica que a natureza das partículas subatômicas é intrinsecamente dinâmica. Para entender isso melhor, cumpre recordar que essas partículas só podem ser concebidas em termos relativísticos, isto é, em termos de uma estrutura conceitual onde espaço e tempo estão fundidos num continuum quadridimensional. Nessa estrutura, as partículas já não podem ser representadas como pequenas bolas de bilhar ou pequenos grãos de areia. Tais imagens são inadequadas, não só porque representam as partículas como objetos separados, mas também porque são imagens estáticas, tridimensionais. As partículas subatômicas devem ser concebidas como entidades quadridimensionais no espaço-tempo. Suas formas têm que ser entendidas dinamicamente, como formas no espaço e no tempo. As partículas são padrões dinâmicos, padrões de atividade que possuem um aspecto espacial e um aspecto temporal. O aspecto espacial faz com que elas se apresentem como objetos com uma certa massa, o aspect temporal, como processos que envolvem a energia equivalente. Assim, o ser da matéria e sua atividade não podem ser separados; são apenas aspectos diferentes da mesma realidade espaço-tempo.

A concepção relativística da matéria afetou drasticamente tanto nossa concepção de partículas como nossa representação das forças entre essas partículas. Numa descrição relativística de interações de partículas, as forças entre elas – sua mútua atração ou repulsão – são apresentadas como a troca de outras partículas. Esse conceito é muito difícil de visualizar, mas é necessário para se entender os fenômenos subatômicos. Liga as forças entre constituintes da matéria e, assim, unifica os dois conceitos, força e matéria, que pareciam tão fundamentalmente diferentes na física newtoniana. Força e matéria são vistas agora como tendo sua origem comum nos modelos dinâmicos a que chamamos partículas Esses modelos de energia do mundo subatômico formam as estruturas nucleares, atômicas e moleculares estáveis que constroem a matéria e lhe conferem seu sólido aspecto macroscópico, fazendo-nos por isso acreditar que ela é feita de alguma substância material. Em nível macroscópico, essa noção de substância é uma útil aproximação, mas no nível atômico deixa de ter qualquer sentido. Os átomos consistem em partículas, e estas partículas não são feitas de qualquer substância material. Quando as observamos, nunca vemos qualquer substância; o que vemos são modelos dinâmicos que se convertem continuamente uns nos outros.

– a contínua dança da energia.

As duas teorias básicas da física moderna transcenderam, pois, os principais aspectos da visão de mundo cartesiana e da física newtoniana. A teoria quântica mostrou que as partículas subatômicas não são grãos isolados de matéria, mas modelos de probabilidade, interconexões numa inseparável teia cósmica que inclui o observador humano e sua consciência. A teoria da relatividade fez com que a teia cósmica adquirisse vida, por assim dizer, ao revelar seu caráter intrinsecamente dinâmico, ao mostrar que sua atividade é a própria essência de seu ser. Na física moderna, a imagem do universo como uma máquina foi transcendida por uma visão dele como um todo dinâmico e indivisível, cujas partes estão essencialmente inter-relacionadas e só podem ser entendidas como modelos de um processo cósmico. No nível subatômico, as inter-relações e interações entre as partes do todo são mais fundamentais do que as próprias partes. Há movimento, mas não existem, em última análise, objetos moventes; há atividade, mas não existem atores; não há dançarinos, somente a dança. “

“O Ponto de Mutação” – Fritjof Capra

 

Psicoativos X Enteógenos

Acho que convém fazer aqui, uma diferenciação entre esses 2 conceitos. Claro que tudo o que eu escrever será apenas minha visão dos fatos, então estejam à vontade para falarem o que pensam também.

Sobre o termo Psicoativos, acredito que nem tenha necessidade de explicação, já que o nome fala por si. Entra nesse grupo qualquer substância que tenha efeito na mente do indivíduo. Café, maconha, cocaína, guaraná, anti-depressivos/calmantes, álcool e milhões de outros.

Os Enteógenos são substâncias que nos colocam em contato com o “sagrado”. Expandem a consciência,  nos levando a  níveis de percepção inacessíveis nos estados normais. É claro que isso acaba ficando subjetivo, pois cada um pode ter sua própria interpretação do tal “contato com o sagrado”. Assim como muitas pessoas frequentam a Igreja Universal, acreditando que doar seu dinheiro à instituição fará sua fé valer, outras podem acreditar até que a cocaína proporciona experiências divinas. E quem sou eu para julgá-los…… Mas o fato é que existem  substâncias que não oferecem riscos físicos ou dependência, e são exatamente estas que são usadas desde os primórdios da humanidade, como ferramentas espirituais. E de fato são as únicas que parecem gerar estes resultados de expansão de consciência. A maioria das pessoas que tomam pela primeira vez a psilocibina (“alucinógeno” presente apenas em cogumelos) relatam intensas experiências místicas/espirituais, de forma a modificar completamente sua visão de mundo. Isso foi comprovado pela matéria que saiu no “Estadão”, sobre a ciência avaliando o poder espiritual dessa substância, na qual já até postamos o link.  Mesmo assim acho que cabe aqui transcrever um pequeno trecho do texto :

” Entre as experiências descritas, houve “senso de pura consciência” e “fusão com a realidade última”, “transcendência do tempo e do espaço”, “senso do sagrado” e emoções como alegria, paz e amor.”

Este tipo de experiência é comum não só com a psilocibina dos cogumelos, mas também com DMT(ayahuasca, e análogos), mescalina (peyote, san pedro), LSA( presente nas sementes de algumas plantas) e o LSD. Alguns não gostam de classificar o LSD como enteógeno, por ser um semi-sintético, mas pra mim isso é um preconceito, pois essa dúvida é facilmente tirada se você tomar um bom doce em meio à natureza. Penso que LSD é enteógeno sim, mas não é tão poderoso quanto os outros, naturais.

Enquanto isso, psicoativos como os da Cocaína e do Ecstasy parecem ir no caminho inverso. Causam dependência, danos físicos e mentais, overdoses ,etc… E além disso, os efeitos dessas substâncias são facilmente entendidos através de lógicas simples de química. Na minha opinião, não há nada de trancedental em se tomar uma “pastilha”.

É por essas e outras que eu acho que é muito conveniente fazer a separação entre Psicoativos e Enteógenos. Todo enteógeno é um psicoativo, mas a grande maioria dos psicoativos NÃO são enteógenos.

Tenham um bom dia, fiquem em paz.

Nem todo mundo fala.

Quando você tinha 8 anos, quantas pessoas você achava que usava maconha? Eu achava que NINGUEM normal usava maconha, apenas os ladrões e assassinos. Pior que isso, eu acha que as pessoas que usavam maconha ficavam agressivas.  O que falar sobre LSD? PIOROU! Minha mãe me disse, quando eu tinha 14 anos, que LSD era a pior DROGA do mundo, que era COMA instantaneo. Tomou comou. Hoje em dia, com 21 anos, vejo que é um pouco diferente. Cada vez mais, vejo como as pessoas mostram que usam psicoativos de forma subiliminar. Irei fazer algumas referencias a obras lisergicas.

Super Mário Bros.

Vcs obviamente se lembram do classico Mario Bros pro NES… Mas poucos tiveram a chance de olhar o encarte do jogo… E tem uma coisa que me faz olha-lo com certa desconfianca… Quando no encarte fala das coisas que ajudam o Mario no jogo esta escrito:

1. “When Mario eats a mushroom he gets HIGHER”… BOm… Considerando que vcs tem um bom nivel de ingles vcs podem notar que NAO esta escrito que ele fica mais alto… Porque se fosse pra ficar mais alto seria “He gets taller”… E “getting High” eh uma giria pra ficar doido… Entao “he gets HIGHER” quer dizer que quando ele come o cogumelo ele fica MAIS doido… E porque ele teria que comer o cogumelo? Pra quem nao sabe, cogumelo nao precisa so fazer cha pra ativar não… Pode ser comendo tb… Hmmmmmmmmm… Muito estranho…

2. “When he gets a flower he can throw fireballs”… Ate que nao acho nada de estranho nisso… A nao ser do simples fato que o Mario NAO come a flor pra jogar bolas de fogo… Porque que ele precisa comer So cogumelo e nao a flor??? Estranho tb… E eu li aqui na comunidade alguem falando que a flor poderia ser a papoula… Nao concordo muito ja que nao eh uma droga tao popular assim pra poder ter essa conexao… Mas minha suposicao eh so um pouco diferente… Pra quem nao sabe, Quando se fuma maconha vc nao fuma as folhas, pode ate fumar mas nao contem tanto THC (a substancia que deixa todo mundo “feliz”) quanto a Flor da maconha… O famoso “Bud”… Entao quando se fuma maconha, vc esta fumando na verdade as flores da planta… Pode ate nao ter relacao nenhuma com o jogo mas a maconha eh a droga mais usada no Mundo e com sua explosao na decada de 60 e 70 nao me impressionaria que um adolescente maconheiro do final da decada de 60 inicio da decada de 70 tivesse algum tipo de “inspiracao” pra esse fantastico jogo na decada de 80…

3. Os cogumelos malvados do jogo… Pra quem prestou atencao as aulas de biologia (ou tomaram muitos cogumelos) sabem que existe uma diferenca entre os cogumelos alucinogenos e os venenosos…

Alice no País das Maravilhas:

Alice mergulha em mundo um fantástico e nada comum, onde perde a essência e a identidade (ao não ter certeza sobre o nome), a noção de tempo. Vivencia um mundo de efeitos e mais efeitos, uma vida que é repleta de devir e de maravilhas. Vivencia o sentido como atributo do estado das coisas.

Smurfs:

Os paranóicos de plantão garantem que o desenho dos Smurfs é sobre psicoativos. Gargamel seria um usuário de LSD e chá de cogumelo (os Smurfs moram em cogumelos) que, em seus delírios, vê homenzinhos azuis com roupas brancas.

Beatles:

A própria música Lucy in the Sky with Diamonds, remete as siglas LSD.

Pink Floyd:

Apenas ouça o CD

Textos adaptados da internet.